A Divina Festa do Espírito Santo - Uma manifestação da religiosidade popular em Mogi das Cruzes...

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 25, pp. 89 - 108, 2009 A DIVINA FESTA DO ESPÍRITO SANTO: UMA MANIFESTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE POPULAR EM MOGI DAS CRUZES, SP Neusa de Fátima Mariano* *Doutora em Geografia pelo Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected] RESUMO: São muitas as manifestações da religiosidade popular no Brasil que, uma vez trazidas pelos colonizadores portugueses, aqui foram traduzidas em diferentes linguagens, conforme a realidade de cada localidade. Este processo histórico nos fornece um leque de questões e possibilidades de investigação visto que tais manifestações tidas hoje como tradicionais, folclóricas ou religiosas, persistem articulando contraditoriamente o passado e o presente. Com o objetivo de estudar a Festa do Divino Espírito Santo que acontece em Mogi das Cruzes, no contexto do processo de urbanização, entende-se a Festa do Divino como um ritual dinâmico no tempo e no espaço, ajustando- se à realidade a qual se insere, mas mantendo alguns de seus aspectos mais essenciais, entre eles, o caráter popular. PALAVRAS-CHAVE: Cultura; Tradição; Popular; Religiosidade; Festa. ABSTRACT: There are many popular religiousness manifestations in Bazil that, once brought by the Portuguese colonizers, here were translated to different languages, according to the reality of each place. This historical process offers us a lot of questions and possibilities of investigation, due to the fact that such manifestations, nowadays considered as traditional, folkloric or religiousness, persists articulating in a contradictory way the past and the present. With the objective of studying the Holy Ghost Party that happens in Mogi das Cruzes, in the context of urbanization process, the Divine Party is understantood as a dinamic ritual in the time and in the space, adjusting itself to the reality of which it is inserted, but keeping some of its more recent aspects, among them, the popular character. KEY WORDS: Culture; Tradition; Popular; Religiousness; Party. Palavras introdutórias Este artigo é resultado de pesquisa realizada para a tese de doutorado (defendida em 2007). Foram quatro anos (2003-2006) de acompanhamento da Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes (SP), sendo que as entrevistas foram realizadas, na sua maioria, durante o ano de 2006. A escolha do tema resultou do afunilamento de uma preocupação mais ampla, que abarcava a cultura caipira, sobretudo no que diz respeito à religiosidade popular, presente na região metropolitana de São Paulo. Desta forma, toda festa popular, de vários

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A DIVINA FESTA DO ESPÍRITO SANTO: UMA MANIFESTAÇÃO DARELIGIOSIDADE POPULAR EM MOGI DAS CRUZES, SP

Neusa de Fátima Mariano*

*Doutora em Geografia pelo Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]

RESUMO:São muitas as manifestações da religiosidade popular no Brasil que, uma vez trazidas peloscolonizadores portugueses, aqui foram traduzidas em diferentes linguagens, conforme a realidadede cada localidade. Este processo histórico nos fornece um leque de questões e possibilidades deinvestigação visto que tais manifestações tidas hoje como tradicionais, folclóricas ou religiosas,persistem articulando contraditoriamente o passado e o presente. Com o objetivo de estudar aFesta do Divino Espírito Santo que acontece em Mogi das Cruzes, no contexto do processo deurbanização, entende-se a Festa do Divino como um ritual dinâmico no tempo e no espaço, ajustando-se à realidade a qual se insere, mas mantendo alguns de seus aspectos mais essenciais, entreeles, o caráter popular.PALAVRAS-CHAVE:Cultura; Tradição; Popular; Religiosidade; Festa.

ABSTRACT:There are many popular religiousness manifestations in Bazil that, once brought by the Portuguesecolonizers, here were translated to different languages, according to the reality of each place. Thishistorical process offers us a lot of questions and possibilities of investigation, due to the fact thatsuch manifestations, nowadays considered as traditional, folkloric or religiousness, persistsarticulating in a contradictory way the past and the present. With the objective of studying theHoly Ghost Party that happens in Mogi das Cruzes, in the context of urbanization process, theDivine Party is understantood as a dinamic ritual in the time and in the space, adjusting itself to thereality of which it is inserted, but keeping some of its more recent aspects, among them, thepopular character.KEY WORDS:Culture; Tradition; Popular; Religiousness; Party.

Palavras introdutórias

Este artigo é resultado de pesquisarealizada para a tese de doutorado (defendidaem 2007).

Foram quatro anos (2003-2006) deacompanhamento da Festa do Divino EspíritoSanto de Mogi das Cruzes (SP), sendo que as

entrevistas foram realizadas, na sua maioria,durante o ano de 2006.

A escolha do tema resultou doafunilamento de uma preocupação mais ampla,que abarcava a cultura caipira, sobretudo noque diz respeito à religiosidade popular,presente na região metropolitana de São Paulo.Desta forma, toda festa popular, de vários

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municípios, requereria muita atenção ededicação, podendo, inclusive, inviabilizar aprópria pesquisa. Seria necessário, portanto,restringir a problemática, apontando uma festa,localizada em um município da metrópole.

A Festa do Divino de Mogi das Cruzesfoi, finalmente, escolhida como tema central, porcausa de suas proporções, pela mistura de umcerto luxo com a simplicidade advinda da fortepresença popular, que a diferenciava das demaisfestas até então observadas.

Assim, apresentamos um pouco sobre aFesta do Divino de Mogi, trazendo alguns deseus aspectos do passado e, principalmente,mostrando a articulação entre o tradicional e omoderno, além de apontar para a relação rural-urbano que a Festa revela.

A Festa

Há, nas festas da religiosidade popular,elementos remotos, que datam de temposantigos e nos remetem aos rituais de reverênciaà natureza. Referimo-nos aos cultos pagãos, deforte relação e diálogo com os elementos danatureza, cultos estes que traziam a garantiade fartura, de fertilidade e de proteção contracatástrofes naturais. A festa era, portanto, omomento oportuno para agradecer à naturezapela colheita recente e farta, a alegria e aenergia do encontro e da atividade coletiva.

A festa não aparece como ruptura com ocot idiano, mas antes, como o seuengrandecimento, momento em que energiasacumuladas “explodem” e toda a alegria, aexuberância, a beleza, a quebra das regras, oexagero são manifestados (LEFEBVRE, 1958).O tempo da festa é aqui, marcado pelo tempocíclico da natureza, assim como o tempo dotrabalho, realizado para suprir necessidadesimediatas, e não, a partir da lógica daacumulação de capital.

Com o crescimento do poder da IgrejaCatólica sobre a sociedade, a festa pagã (da epara a natureza) começou a representar uma

ameaça à moral, à ordem, segundo os preceitoscristãos. A prática da festa deveria ser, portanto,absorvida pelos seus dogmas, sendo ocalendário religioso um dos instrumentos destacooptação.

A Igreja alterou os dias santificados paraque coincidissem com os meses de trabalho maisleves, do inverno à primavera, do Natal àPáscoa, unindo o calendário católico ao agrário.Assim, a Igreja poderia ter o controle sobre avida do homem na sociedade. Explica Thompson(1998: 51):

Em geral, o clero que exerce suas funçõespastorais com desvelo sempre encontramaneiras de coexistir com as superstições pagãse heréticas de seu rebanho. Por mais deploráveisque essas soluções de compromisso pareçamaos teólogos, o padre aprende que muitas dascrenças e práticas do “folclore” são inofensivas.Se anexados ao calendário religioso anual,podem ser assim cristianizadas, servindo parareforçar a autoridade da Igreja. [...] O maisimportante é que a Igreja devia, nos seusrituais, controlar os ritos de passagem da vidapessoal e anexar os festivais populares a seupróprio calendário.

A Igreja, ao permitir a permanência dealguns elementos (os considerados“inofensivos”) das manifestações festivaspagãs, foi caracterizando-os como “folclóricos”.Tal fato segue a favor dos festejos religiososdo catolicismo popular, na medida em que ofolclore, entendido como um dos aspectos dacultura popular, ou da sabedoria do povo,preserva determinados valores e códigos moraise éticos, desempenhando, desta forma, umafunção social (FERNANDES, 1998). Assim,

[...] as manifestações folclóricas podem ser“sobrevivências” de um passado mais ou menosremoto. Nem por isso elas devem ser concebidascomo algo universalmente vazio de interessesou de ut ilidade para os seres humanos.Reciprocamente, as manifestações folclóricaspodem inserir-se entre os elementos maispersistentes e visíveis de certas formas deatuação social. Nem por isso se deve supor que

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elas desempenham, universal einvariavelmente, determinadas funções sociais.Tudo depende da relação existente entre asmanifestações folclóricas e o fluxo social.(FERNANDES, 1998: 56)

O folclore pode desempenhar umafunção social também no momento dasfestividades da religiosidade popular, através datransmissão de crenças e costumes, na medidaem que se realiza como elo entre o passado(remoto) e o presente (atualizado), e vislumbrao futuro (devir).

As festas pagãs, conhecidas como Maiasou Janeiras por causa dos meses, na Europa,referentes ao fim das colheitas e menos trabalho(ANDRADE, 1937), tornaram-se reminiscênciasno interior das festas da religiosidade popular.As homenagens ao Espírito Santo, por exemplo,têm início cinqüenta dias após a Páscoa(ressurreição de Jesus Cristo), coincidindo como mês de maio ou, o mais tardar, com o início dejunho. É Pentecostes1, o dia da descida doEspírito Santo na Terra, em forma de línguas defogo aos apóstolos e à Virgem Maria, conformeJesus havia anunciado (Atos dos Apóstolos 1,8e 2,1-4). Uma pomba branca representa oEspírito Santo, porque foi desta forma que Elebatizou Jesus Cristo (Evangelho Segundo SãoJoão 1,31-34). Associando as línguas de fogocom a pomba, temos como ícone dashomenagens ao Espírito Santo, uma bandeiravermelha com uma pomba branca ao centro.

Portanto, as festividades emhomenagem ao Espír ito Santo misturamcostumes pagãos antigos com a fé e devoçãoao Divino, constituindo-se numa manifestaçãoda religiosidade popular.

Em meio à união entre o religioso e opagão, as homenagens ao Espír ito Santoencontram fundamento também na utopia doabade italiano Joaquim de Fiore (1145-1202).Para ele, o mundo estaria dividido em três Eras:a do Pai, a do Filho e a do Espírito Santo. A Idadedo Pai, a qual tem origem com a criação domundo, está relatada no Antigo Testamento daBíblia. Com o nascimento de Jesus Cristo, teria

iniciado a Era do Filho registrada no NovoTestamento, que terminaria no século XIII,dando passagem à Era do Espírito Santo, quetraria igualdade, caridade, justiça, abundânciae harmonia para a humanidade. Serianecessário, porém, que um novo “chefe”, assimcomo foi Jesus Cristo, substituísse os bispos daIgreja Católica e levasse a paz e a harmoniaaos povos, acabando com a pobreza e asdoenças que aterror izavam os europeus(BRANDÃO, 1978).

Os franciscanos, por sua vez, associarama figura do novo “chefe” a Francisco de Assis(falecido no início do século XIII), dandosustentação à profecia de Joaquim de Fiore edifundindo-a, apesar de perseguições eacusações de heresia (BRANDÃO, 1978).

Em Portugal, as homenagens festivasao Espírito Santo foram incentivadas pelaRainha Dona Isabel, esposa do Rei DomDin iz, no in íc io do sécul o XIV, com aconstrução da capela do Espírito Santo, emAlenquer (CASCUDO, 2001). Conta a lendaque quando o re ino de Por tuga l estavapassando por uma terr ível crise, a RainhaDona Isabel ofereceu ao Espír ito Santo ocetro e a coroa reais, deixando o reino dePor tuga l sob Seus cu idados. A Ra inharet i rou-se em um convento, retornandodepois de o seu reino ter superado a crise.

Em agradecimento ao Espírito Santo,e la promoveu uma festa em suahomenagem, que se tornou trad ição. Naocasião havia a coroação de um mendigo porum sacerdote, que tornava-se imperador porum dia, acompanhada pela distribuição dealimentos aos pobres – os “vodos2”.

Em Por tuga l , os “ vodos ” fo ramproibidos em fins do século XV e início doXVI, por Dom Manuel, que apenas permitiua sua prática nas Festas do Divino EspíritoSant o. Ta lv ez tenha s ido e ste ato umahomenagem de Dom Manuel à Rainha DonaIsabel, a grande devota do Paráclito (ETZEL,1995).

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Francisco Manuel Esperança, citado porVieira Fazenda (1920), descreve a Festa doEspírito Santo que acontecia em Portugal:

[...] no domingo, pela manhã, entrava na egrejado Convento de São Francisco o que havia deservir de imperador, assistido de dous reis, eseguido de nobreza e povo, com três pagens,que lhes levavam as côroas (uma das quaesera a que deixou para a festa a mesma SanctaRainha); e sendo estas offerecidas no altar, umreligioso, com vestes sacerdotaes, coroava comestas aos três suppostos monarchas que, assimcoroados accompanhavam a procissão. Á tarde,saía o imperador da egreja do Espírito Sancto,com muitas festas, trombetas e multidão degente, com cannas verdes nas mãos e douspagens adeante com a coroa, e outro com oestoque, e assim entrava na egreja de S.Francisco. O sacristão ahi dava ramilhetes anobres, que dançavam com duas donzellashonestíssimas que accompanhavam oimperador, na qualidade de damas, a título dese lhes dar parte do dote para casamento. Estamímica era precedida de nova coroação; depoisvoltava o imperador á egreja do Espírito Sanctoe lá depunha a coroa nas mãos de um sacerdote.

Nos dous domingos seguintes continuava afesta, e no último entrava muito pela meia noite,e por isso se lhe chamavam domingo dosfogaréos, em conseqüência das luzes. Asvésperas eram solemníssimas, e depois dellasse fazia uma apparatosa procissão chamada dacandeia, de que a mesma Sancta Rainha foiauctora, e saía de S. Francisco, accompanhadade um homem com umas madeixas de cera, deque ficava ardendo uma ponta no altar, e o maisse estendia pela villa até chegar á egreja daTriana. (FAZENDA, 1920: 367)

Até hoje, festas do Divino Espírito Santosão realizadas em Portugal, e, assim como noBrasil, cada localidade possui sua especificidade.Porém, alguns de seus elementos se mantêm,const ituem o que poderíamos chamar deelementos primordiais para a realização dafesta, tais como: Império do Divino, Festeiro (ouImperador ou ainda, Mordomo), a

comensalidade, as procissões, asornamentações etc., como veremos na Festa doDivino de Mogi das Cruzes.

A Divina Festa de Mogi das Cruzes

Apesar de a imprensa (principalmenteescrita) divulgar que a Festa do Divino acontecena cidade de Mogi das Cruzes3 há cerca detrezentos anos, o documento mais antigo destamanifestação popular, encontrado para estapesquisa, data de 1822. O registro4 refere-se auma solicitação da Paróquia de Santana àArquidiocese de São Paulo, de autorização paraexposição do Imperador de Mogi. Isso significadizer que, no mínimo, havia uma celebração,provavelmente com procissão pelas ruascentrais de Mogi, com uma representação doImperador do Divino.

Conforme relatos colhidos durante apesquisa, na segunda metade do século XIX,havia a figura do Bandeireiro compondo um dosmomentos de preparação para a Festa do Divinode Mogi. A sua função era sair pelos bairrosrurais e pelas ruas da cidade, levando umaBandeira do Divino que abençoaria as famíliasvisitadas. A Bandeira teria, inclusive, poder decura. O Bandeireiro, espontaneamente, seguiasozinho o seu trajeto, antes do período daFesta, arrecadando prendas para a mesma. Aospoucos, esse personagem foi desaparecendode Mogi das Cruzes.

As famílias do meio rural chegavam paraa Festa na véspera do dia de Pentecostes, eeram recepcionadas pelos Festeiros5, com oAfogado – uma espécie de ensopado de carne,rico em gordura e servido quente, com farinhade mandioca no fundo do prato. A Festa, paraesta população, era uma oportunidade para oexercício da troca e do comércio, em que oexcedente produzido na roça era escoado nacidade e/ou trocado por produtos processados,como sal, querosene e tecidos. Os carros debois, meio de transporte utilizado na época,eram forrados com folhas de palmito, sobre asquais era colocada a produção excedente,

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costume que veio a ser um dos fundamentos,mais tarde, do cortejo chamado Entrada dosPalmitos, sobre o qual trataremos mais adiante.

Mário de Andrade (2002) registrou, já nadécada de 1930, a presença de grupos deCongada, Moçambique6 e Cavalhada7, que seapresentavam durante a Festa do Divino deMogi das Cruzes. Demonstrava, desta forma, aFesta como um grande acontecimento na cidade,reunindo pessoas de vários setores dasociedade. Nesta época, os palmitos, entãoabundantes na zona rural, eram cortados pelaraiz e trazidos para a cidade em carros de boise depois, fincados nas ruas centrais, de dez emdez metros, em alusão a este passado descritoanter iormente. Os Festeiros mantêm adistr ibuição do Afogado na véspera dePentecostes, mas agora, muito mais em nomede uma tradição, uma representação dopassado.

Embora tenha havido interrupções nasua realização, a homenagem ao Divino EspíritoSanto é uma das festividades religiosas quepermaneceu mais fortemente arraigada em Mogidas Cruzes, sendo hoje, considerada uma dasmaiores do estado de São Paulo, o que nos levaa pensar na sua importância, seja religiosa, sejaeconômica ou política, ou no âmbito da culturapopular.

Para arcar com as despesas da Festa,os Festeiros precisavam ser bem relacionadossocialmente, sendo que até a década de 1980costumava-se passar um “Livro de Ouro”, paraangariar recursos para a Festa8. No Livro deOuro, empresas e pessoas físicas assinavamdoando à Festa aquilo que estivesse ao seualcance, desde dinheiro até porcos, galinhas,grãos, etc.

Após várias ameaças de a Festa doDivino de Mogi das Cruzes sucumbir, houve um“movimento” para evidenciar o seu aspectochamado folclórico, que vinha na contramão dodiscurso do “progresso” da cidade9. Em 1985, aFesta entrou no calendário turístico10 de Mogidas Cruzes, chamando a atenção depesquisadores do folclore, da mídia e da

população, e, aos poucos convocando o poderpúblico e as empresas a contribuir para aperpetuação da tradição.

Hoje, a Festa do Divino de Mogi dasCruzes conta com a dedicação da AssociaçãoPró-Festa do Divino (Pró-Divino), fundada em1994 por iniciativa de um grupo de ex-Festeiros.A Pró-Divino possui sede própria, desde 1997,quando a Prefeitura Municipal doou terreno paraa sua instalação; é constituída por uma diretoriacom mandato bianual, por coordenações esubcoordenações.

O objetivo inicial da Associação, que eraguardar e conservar o acervo da Festa, acaboupor ampliar-se. De auxílio aos Festeiros,facilitando o acesso ao material utilizado naFesta, tornou-se, hoje, executora da mesma. AAssociação não tem poder de decisão, apenasde execução e orientação dos Festeiros que,por sua vez, devem acatar as determinaçõesdo Bispo Diocesano11. A Pró-Divino auxiliatambém na arrecadação de recursos para aFesta, através da coordenação de marketing,que busca patrocínio junto a empresaslocalizadas em Mogi das Cruzes e região. Oslogotipos destas empresas são impressos emcartazes, faixas de divulgação da Festa doDivino, em cadernos de cânticos e orações, eainda, em uniformes dos voluntár ios quetrabalham na quermesse: camisetas, aventais,bonés...

Os preparativos para a Festa – que duraonze dias, principalmente por causa da Novena- começam cerca de um ano antes da suarealização, logo que termina a do ano corrente,quando os novos Festeiros são escolhidos.Durante nove meses que antecedem a Festasão realizados chás-bingo com o intuito deangariar fundos para a mesma. Estes sãoorganizados pelos Festeiros e Capitães deMastro, com apoio da Associação Pró-Divino.

Já no início do ano, ou seja, cerca dequatro meses que antecedem a Festa, asrezadeiras principiam a missão evangelizadora.Seu trabalho consiste em visitar casas dedevotos que solicitarem, por agendamento

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prévio. A imagem da Pomba Branca visita, sobos cuidados das rezadeiras, de uma a duascasas por dia, onde é rezada a Coroa do Divino12.Também são entoadas canções ao Divino, e lidosalguns Salmos da Bíblia, conforme orientaçãoda Igreja. Terminadas as orações, a todos ospresentes são oferecidos chá, café, bolo, pão...

Cada rezadeira – hoje somam cerca desessenta em Mogi das Cruzes – “cobre” o seubairro e, em cada casa que visita, agregavizinhos, parentes e amigos. As rezadeirastornam-se “guardiãs” de pedidos ao Divino,escritos em pequenos pedaços de papel edepositados em uma caixa. Estes pedidos sãoincinerados na noite de Pentecostes, num ritualrealizado pouco antes de finalizada a Festa.Também é costume, durante a visita dasrezadeiras, doar alguma quantia em dinheirocomo contribuição para a Festa.

Pode-se dizer que o papel dasrezadeiras hoje seja uma atualização daqueleexercido pelo Bandeireiro ou pela Folia do Divino.De origem portuguesa, a Folia consiste em umpequeno grupo formado por váriosinstrumentistas que saem pelos bairros ruraisa pedir prendas para a Festa do Divino. Levaconsigo uma Bandeira do Divino, que garante abênção sobre a família que a recebe e, às vezes,a acolhe dando-lhe pouso.

Martha Abreu (1999) descreve bem apresença e o papel da Folia do Divino no Rio deJaneiro, no século XIX. O grupo era constituídopor um Bandeireiro, aquele que carrega aBandeira do Divino, seguido por músicosbarbeiros13, geralmente negros (escravos oulivres), contratados pela Irmandade do EspíritoSanto, então provedora da Festa. Tocavam ecantavam os seguintes versos, conforme VieiraFazenda (1923: 372-373):

Oh Divino Espírito SanctoPae dos pobres, amoroso,Ponde senhor, no meu peito,Um coração fervoroso.

O Divino Espírito SanctoÉ Sancto Consolador,

Consolae a nossa alma,Quando deste mundo for.

O Divino pede esmola,Mas não é por carecer,É só para experimentarQuem seu devoto quer ser.

Tantas moças na janellaNão fazem sinão olhar;O Divino pede esmolaMas ellas não sabem dar.

A bandeira se despedeCom toda a sua folia;Viva a dona desta casaE toda sua companhia.

Na Festa do Espírito Santo de Mogi dasCruzes, a Folia do Divino nunca exerceu estepapel; apenas representa a peregrinaçãodurante a Passeata das Bandeiras, nos dias deFesta, visitando brevemente algumas casas docentro da cidade, previamente agendadas14. Asrezadeiras, por sua vez, levam o Divino nascasas, mas individualmente e organizadas pelaAssociação Pró-Divino.

A Festa tem início em uma quinta-feira(dia da Ascensão do Senhor) com o Encontrode Bandeiras em frente à casa dos Festeiros.As pessoas trazem suas bandeiras vermelhas,enfeitadas com sete fitas de variadas cores,sendo que cada uma delas simboliza um domdo Divino Espírito Santo, dons estes atribuídospor Isaías (11, 2)15: “Sobre ele [Messias]repousará o espírito de Javé, espírito desabedoria e inteligência, espírito de conselho eforça, espírito de ciência e temor a Javé e elerespirará o temor de Javé.”

Não se sabe como, desde quando enem por quê foram atr ibuídas cores aosdons, conforme segue: azul – sabedoria;prata – entendimento ou inteligência; verde– conselho; vermelho – fortaleza; amarelo– ciência ou conhecimento; azul escuro –piedade; roxo – temor a Deus. Porém muitos

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devotos atr ibuem as cores aos dons semseguir essa ordem oficial, “seguindo o que ocoração mandar, assim cada cor de fita teráum dom diferente, e as fitas terão significadosdiferentes para cada devoto16”.

Em procissão, os devotos seguempara o Império do Divino, abrigo do altar doEspírito Santo (a pomba branca) construídoespecialmente para este fim, localizado naPraça Coronel Almeida, em frente à Catedralde Santana.

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Neste local acontece o hasteamento dasbandeiras da Paz, do município de Mogi dasCruzes e da do Divino Espírito Santo, querecebem as bênçãos do Bispo Diocesano deMogi das Cruzes. Em seguida é realizada aAbertura do Império, um ritual com a participaçãoda Folia do Divino de Biritiba Ussu17, que toca ecanta no momento.

A cada ano o Império do Divino EspíritoSanto é montado quando começa, edesmontado quando termina a Festa; é o localonde algumas Bandeiras são guardadas,principalmente as dos Festeiros e Capitães deMastro, e onde também ficam o cetro e a coroareais, levados nas procissões que compõem aFesta, assim como as Bandeiras. O Império ficaaberto à visitação pública durante o dia todo,onde as pessoas rezam, beijam as Bandeirasdos Festeiros e Capitães de Mastro, fazem nósnas fitas coloridas em sinal de algum pedido aoEspírito Santo, ou fazem tais pedidos por escrito.Estes últimos são depositados em uma urna e,juntamente com as fitas com nós e com ospedidos recolhidos pelas rezadeiras, serãoqueimados no Dia de Pentecostes, ao final daFesta.

Em procissão, após a bênção dasBandeiras, os Festeiros, os Capitães de Mastroe os devotos seguem para o local daQuermesse, abrindo-a of icialmente no seuSubimpério18. Atualmente há muitos Subimpériosdurante a Festa do Divino que, segundocoordenadores da Associação Pró-Festa doDivino, tiveram início em apenas três escolas(começo dos anos 1990), a fim de ensinar, àsnovas gerações, a tradição da Festa. Hoje, cercade cem Subimpérios são montados em escolas(públicas e privadas), além daqueles montadosem estabelecimentos comerciais e prédiospúblicos.

Desde 200319, a Quermesse é realizadano Centro de Iniciação Profissional MaurícioNajar (CIP), local distante da Praça CoronelAlmeida onde fica o Império do Divino. Um poucodistante da igreja de Santana, e próximo à sededa Pró-Divino, o CIP é grande o suficiente para

abrigar as barracas de comidas, bebidas edoces, além de um conjunto de diversões comoo bingo, o karaokê, shows, etc. Torna-se, porisso mesmo, uma outra centralidade da Festa.Atividade de todas as noites, a Quermesseconta com o trabalho voluntário dos devotos nasbarracas oficiais da Festa, organizadas pelaAssociação Pró-Divino.

A Quermesse é o espaço de arrecadaçãode recursos para pagamento da própria Festa,pois são muitos os gastos, pr incipalmenteestruturais, desde o Império até a Entrada dosPalmitos. Mas a Quermesse é também um meiode auxílio às entidades assistenciais. Estas, quesomam cerca de quinze, montam suas barracasde doces, salgados, bebidas, etc, e ficam com75% do que arrecadam. O restante é destinadoà Associação que, após acertar todas as contas,repassa o saldo à Mitra Diocesana de Mogi dasCruzes20. Cabe observar que a Quermesse étambém um espaço de aparente igualdade, poismembros da elite trabalham como voluntáriosao lado de uma população menos abastada,l igeiramente fazendo desaparecer adesigualdade social. Entretanto, a imprensa osrevela, os evidencia mais ainda, oferecendo-lhes status, na qualidade de humildes,voluntários em nome do Espírito Santo.

A partir do segundo dia de festa é iniciadaa Novena, às 19:00h, na Catedral de Santana,celebração eucarística com a participação doBispo Diocesano, de padres da Diocese de Mogidas Cruzes e de fiéis em geral. Logo após amissa da Novena21, é realizada a Passeata dasBandeiras que, com a participação da Folia doDivino, acompanhada por cerca de cem a centoe cinqüenta pessoas, percorre as ruas do centroda cidade, em visita a algumas casas,principalmente as de ex-Festeiros.

Porém, tem sido freqüente a Passeatavisitar o jornal O Diário de Mogi, a TV Diário,afi liada à Rede Globo de Televisão, e aUniversidade de Mogi das Cruzes, já que sãoparceiras da Festa, e contr ibuem com adivulgação da mesma. Para chegar à TV Diárioe à Universidade de Mogi das Cruzes, o percurso

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é feito por ônibus, geralmente dois, modificandoo ritual que consiste em rezas e cantos durantea caminhada.

Quando a Passeata chega ao localprogramado pe los coordenadores daAssociação Pró-Divino, a Folia do Divino, sobo comando do Mest re, canta o verso dechegada após o cetro, a coroa e a Bandeiraserem passados para os donos da casa. Emfrente a um Subimpério, o dono da casa fazuso da palavra, agradece, reza, e todos rezamjuntos. Os versos cantados pela Folia variamconforme a casa, o estabelecimento, a família,as imagens que estiverem no altar ou ainda,a bebida (alcoólica ou não)22.

Quando vir em sua casaUma bandeira chegarÉ o Divino Espírito SantoQue veio lhe visitar....Abençoada foi a mãoque acendeu aquela velaSerá abençoadopor essa bandeira donzela....As imagens que aqui estãoE todas elas são sagradasEm nós lançai a santa bençãoPor a grande caridade.(Folia do Divino de Biritiba Ussu)

Após a distribuição de comes e bebes,oferec idos pelos donos da casa, a Fol iacanta o agradecimento e a despedida, etodos voltam em procissão ao Império doDivino.

O Senhor e sua famíliaLicença queira nos darO meu Divino vai emboraE nós queremos acompanhar, ehh!! (CAMPOS, 2001: 18)

A Alvorada acontece durante nove dias,sempre às 5:00h da madrugada. Trata-se deuma caminhada ao amanhecer, para receber os

primeiros raios de sol do dia, ou seja, a luz doEspírito Santo. A procissão sempre parte doImpério do Divino, com a participação da Foliado Divino, e percorre várias ruas do centro,invocando as bênçãos do Divino Espírito Santopara a cidade que desperta. À frente estão os“lanterneiros”, que carregam lanternas rústicasfeitas de madeira, com velas acesas, queiluminam o caminho da procissão, do mesmomodo como nas Passeatas das Bandeiras.

Destacam-se dois dias da Alvorada,por apresentarem suas especificidades: naprimeira segunda-feira da Festa, a Alvoradase dirige ao Cemitério de São Salvador ondeo Bispo aguarda os devotos para celebraruma missa em intenção de Festeiros, deCapitães de Mastro e de devotos falecidos.Esse é um d i a bas tante espec ia l nafestividade, pois foge ao ritual comum daAlvorada, contando com a participação demuita gente, apesar de ser segunda-feira,dia normal de trabalho; no últ imo dia daAlvorada, ou se j a, no Dom ingo dePentecostes, acontece o ritual da fogueira,em que a procissão é recebida pelas pessoasque f i caram em v ig í l ia na igre ja NossaSenhora do Carmo. Em frente a essa igrejaé f e i ta uma ce lebração d i ante de umafogue i r a. Bastan te s i gni f i cat i vo e stemomento para os devotos porque, nesteritual, o Padre invoca o Espírito Santo e pedepara que as pessoas coloquem as mãossobre as cabeças de outras e orem para queo Espírito Santo ilumine suas vidas.

A Alvorada, durante os nove dias,sempre termina no Império, onde a Folia doDivino finaliza, cantando mais um verso emagradecimento ao Espírito Santo. Em seguida,todos vão para o Salão Paroquial da Catedral,onde é servido café e pão com mortadela, alémdos chamados biscoitos de Mogi, ou biscoitosde Santo Antonio, garant ia de fartura seguardados junto aos mantimentos da casa.

A tarde do primeiro domingo da Festa éreservada para as cr ianças, pois no CIPacontece a Tarde dos Folguedos Infantis: corrida

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do saco, corrida do ovo na colher e outrasbrincadeiras, sob os cuidados de voluntários,especialmente estudantes das UniversidadesBraz Cubas e de Mogi das Cruzes. Assim,acreditam os organizadores da Festa, há umprocesso de aprendizado da tradição, que seinicia desde criança; portanto, a Festa reservaespaço com vistas ao seu futuro, à perpetuaçãoda tradição.

Um dos momentos que mais chamaatenção na Festa do Divino é a Entrada dosPalmitos que acontece no sábado, a partir de9:00h, véspera do Dia de Pentecostes,momento este registrado e estudado por Máriode Andrade na década de 1930. Segundo ele, aEntrada dos Palmitos tem origem nas festaseuropéias realizadas durante o mês de maio -as festas Maias - e apresenta-se comoreminiscência do culto vegetal da primavera.Mário de Andrade (1937: 62) entende que opalmito e os carros de bois não são meras

adaptações, mas “produtos derivados maisprofundamente da tradição”. Para o autor, háforte ligação entre a Entrada dos Palmitos e astradições européias como, por exemplo, aprática de se plantar uma árvore-de-maio diantede cada casa, ou a de conduzir, de porta emporta, uma árvore com o objetivo de trazer osbenefícios que o espírito da árvore concede,durante as festas realizadas no mês de maio.

As ruas do centro de Mogi das Cruzes,enfeitas com folhas de palmeira, ficamtotalmente tomadas, durante a Entrada dosPalmitos, pelas pessoas que desfilam emgrupos, com suas bandeiras, pagandopromessas, e também por aqueles que vãoapenas assistir. Algumas casas das ruas poronde passa o cortejo são decoradas combandeiras, altares, flores, colchas coloridas nasjanelas, e as pessoas jogam pétalas de rosase aplaudem quando passam os Festeiros e osCapitães de Mastro.

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Participam do desfile, devotos combandeiras do Divino, Festeiros e ex-Festeiros,Capitães e ex-Capitães de Mastro, casal decrianças representando o Imperador e aImperatriz do Divino, Banda de Música SantaCecília, grupos de Congada e Moçambique,Banda de Clarins da Cavalaria da Polícia Militar,irmandades e paróquias, carros de bois,carroças, cavaleiros, etc. Algumas alas - vamoschamar assim - se manifestam com música, comoa Banda Santa Cecília, grupos escolares, Foliado Divino dos Açores, etc.; outras cantam e

dançam como os grupos de Congada eMoçambique; ou tocam berrante como oscavaleiros; há ainda as que rezam e outras queapenas desfilam em silêncio, carregando aBandeira do Divino.

A charola, primeiro carro de boi que trazalimentos diversos numa armação redonda dearame (legumes, grãos, cereais e demaisalimentos não perecíveis), e representa osvegetais vindos do campo para a cidade, dáinício à seqüência de carros de bois.

Depois do desfi le, os alimentos sãodoados às instituições de caridade: creches,asilos e afins.

Os carros de bois vêm de fora domunicípio de Mogi das Cruzes; eles chegam àcidade na tarde de sexta-feira, para o desfiledo dia seguinte. Eles ficam instalados numterreno sob os cuidados da Associação Pró-Festa do Divino onde, no sábado pela manhã,

são enfeitados com flores de papel crepom ounaturais, e folhas de palmeiras, representandoo palmito. Crianças, organizadas pelas escolas,sob a coordenação da Associação, desfilamdentro dos carros de bois. Todas as criançassão ident if icadas com crachás e seusprofessores caminham próximos a elas, dando-lhes água ou qualquer outro tipo de assistência,durante o cortejo.

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Em seguida aos carros de bois, ascharretes são exibidas e, logo depois, oscavaleiros. Estes últimos vêm da zona rural deMogi das Cruzes ou de outros municípiospróximos, porém, diferentemente do que ocorrecom os carros de bois, os cavaleiros não sãocontatados previamente pela Associação; elesvão para a Entrada dos Palmitos de formaespontânea. Por último, a Banda de Clarins daPolícia Militar, montada em cavalos, participa doevento. Pouca importância parece ser dada aosgaris, que participam trabalhando, pois logo queo cortejo passa, as ruas vão sendo limpas e, aotérmino da Entrada dos Palmitos, quase não hávestígios do ocorrido.

A Entrada dos Palmitos termina na PraçaCentral, em frente ao Império do Divino. De láhá a dispersão dos grupos para evitar tumultoe liberar as vias públicas do centro da cidade.

Após a Entrada dos Palmitos é distribuídoo Afogado – chamado carinhosamente deAfogadão23 - aos devotos e “grupos folclóricos”no CIP, e ao pessoal dos carros de bois noacampamento onde se concentram desde o diaanterior. O Afogadão começa a ser preparadona noite de sexta-feira por cerca de trintavoluntários e a fila para se conseguir um pratodo alimento considerado sagrado, inclusive compoderes curativos, é bem extensa, chegando apopulação a esperar até cerca de uma a duashoras. São distribuídos, hoje, uma média decinco mil pratos de Afogado aos devotos.

Ainda no sábado, o ritual dolevantamento do Mastro24 tem início às 17:00hcom a concentração das bandeiras na casa dosCapitães de Mastro. Em procissão, os devotos,alguns deles carregando o Mastro, seguem atéa Praça da Catedral, acompanhados pelos“lanterneiros” e pelos “grupos folclóricos”. Aochegar à Catedral de Santana, o padre benze,aspergindo água benta na Bandeira do Divinolevada pelos Capitães de Mastro; em seguida élevantado o Mastro com a respectiva Bandeirado Divino e servido, ali mesmo, o “licor rosa-sol”, feito com cravo e canela. Alguns grupos deCongada e Moçambique dançam em frente à

Bandeira hasteada, outros o fazem em frenteao Império do Divino enquanto na igrejaacontece a última missa da Novena do EspíritoSanto.

No dia de Pentecostes, pela manhã, asescolas e demais instituições iniciam a confecçãodo Tapete Ornamental nas ruas centrais de Mogidas Cruzes, com pó de quartzo e serragemcoloridos. A confecção do Tapete Ornamental éfeita desde 1994 que, mesmo sendo tradiçãodos festejos de Corpus Christi, foi introduzidoà festividade do Espírito Santo, com o objetivode torná-la mais incrementada25.

Os quadros do tapete são padronizadose cada escola escolhe o seu desenho e o seutema, que pode ser: os dons do Divino EspíritoSanto, a Quermesse, a Entrada dos Palmitos, acampanha da fraternidade, entre outros.Intercalando os quadros temáticos há aspassadeiras que são quadros mais simples dedesenho único, também confeccionados poressas instituições. Participam escolas públicasestaduais e municipais, e privadas, além dealgumas paróquias e instituições como a APAE– Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.

O Bispo, como autoridade máxima daIgreja no local, é o primeiro a pisar no tapetedurante a Procissão de Pentecostes. Nasmargens das ruas há duas faixas livres, semtapete, para que todos os que estão antes doBispo possam passar em fila única, uma de cadalado da via. Após a passagem do Bispo, todospodem caminhar pelo tapete, desfazendo asimagens. Alguns fiéis recolhem um pouco domaterial do tapete, acreditando ser sagrado porestar benzido, após a passagem da Procissão.

Na Procissão de Pentecostes, realizadano domingo, estão presentes os grupos deCongada e Moçambique, as Irmandades de SãoBenedito, do Sagrado Coração de Jesus, deSantana e do Santíssimo Sacramento, além daVenerável Ordem Terceira do Carmo; em seguidaestão as rezadeiras, uniformizadas com saia ecasaco azuis, carregando os pedidos dosdevotos dentro de caixas fechadas. Seguem-se o Bispo Diocesano e os padres; o Imperador

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e a Imperatriz (casal de crianças); os Festeirose Capitães de Mastro; os casais de ex-Festeiros

e ex-Capitães do Mastro; o andor do Divinocarregado por rapazes do Tiro de Guerra;

A Banda Santa Cecília, e os devotos emgeral. Há variação nesta ordem, dependendodos organizadores da Procissão.

No percurso do cortejo são colocadossete altares com a Pomba Branca, um de cadacor, representando os dons do Divino EspíritoSanto. Ali, a procissão pára, reza-se um mistérioda Coroa do Divino Espírito Santo e uma pombabranca, que estava engaiolada, é libertada. A

procissão parte da Catedral de Santana,chegando à igreja do Carmo, daí até a igreja deSão Benedito. Segue para onde se encontra umpainel em homenagem à igreja de NossaSenhora do Rosário, demolida em 1966(GRINBERG, 1986: 107), e termina na Catedralde Santana, onde é celebrada a última missada Novena, pelo Bispo Diocesano de Mogi dasCruzes.

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Mais uma vez, para mostrar a eficiênciana limpeza das vias públicas, assim que aprocissão passa e se distancia, os garis vãoatrás, recolhendo os materiais do tapete jádesfigurado, e jogando seus restos nocaminhão de limpeza.

Logo após a missa ocorre a queima dospedidos simbolizando a sua ascensão aoEspírito Santo e conta com a presença do Bispo,dos Festeiros e devotos em geral. Meia-Noite,os Festeiros, após uma prece, fecham as portasdo Império do Divino que será reaberto somenteum ano depois, na próxima Festa. Geralmentedurante as celebrações de Corpus Christi éanunciado o nome dos novos Festeiros peloBispo Diocesano. E tudo começa outra vez.

Palavras finais

O processo de industr ialização eurbanização de São Paulo alcançou Mogi dasCruzes, não só com a instalação de indústriasnas décadas de 1950 e 1960, mas também pelastransformações ocorridas no modo de vida deseus moradores. Até então, predominava aeconomia de excedentes que foi dando lugar àde mercado, processo anunciado com ainstalação da ferrovia que, em fins do séculoXIX e início do XX, já cortava a cidade.

A ferrovia trazia consigo a possibilidade dedinamização da economia local, com o escoamentoda produção (agrícola principalmente) de Mogi dasCruzes, e a instalação de fábricas de beira de linha,atraindo mão de obra das proximidades. Mogi dasCruzes foi se tornando uma “continuidade” de SãoPaulo, pela instauração de um modo de vida urbanoe pela valorização do espaço urbano que seexpandia cada vez mais.

O processo de industrialização provoca anegação da cidade na medida em que há umaimposição de um novo cotidiano, regido pelo capital.Segundo Lefebvre, a indústria, uma vez implantadanas cidades, provoca a ruptura com as suascaracterísticas mais antigas, prevalecendo asrelações de troca em detrimento do uso e do valorde uso (LEFEBVRE: 1972).

A industrialização traz consigo a negaçãoda cidade porque segrega, fragmenta e adissolve, porque traz a racionalidade daprodução, a divisão do trabalho, a regulação dotempo. Provoca um crescimento desordenadoda cidade, uma tendência à homogeneizaçãodos elementos do cotidiano e, por fim provocaa sua explosão. O urbano, produzido pelasociedade capitalista, nasce com a explosão dacidade, com os problemas e a deterioração davida na cidade (LEFEBVRE, 1986).

Desta forma, temos a multiplicação e adispersão de centros na cidade, novos centros decomércio, de produção, de decisão política, de poder.E o espaço se apresenta fragmentado e tende a seperder sob o domínio crescente da troca e do valor.

Há algumas peculiaridades tanto napaisagem urbana quanto no cotidiano que nos fazempensar mais atentamente sobre o processo deurbanização de Mogi das Cruzes, sugerindo queaspectos do mundo rural estejam presentes em umespaço que é, hoje, considerado urbano.

A festa pode ser entendida como umamanifestação rural-urbana uma vez que se realizano espaço urbano, e traz elementos erepresentações do espaço rural (do presente e dopassado). Segundo Martins (2002: 221), o rural, pormeio da cultura, pode permanecer durante muitotempo fora da economia agrícola, pois “[...] o ruralpode subsistir culturalmente por longo tempo forada economia agrícola. Pode subsistir como visão demundo, como nostalgia criativa e autodefensiva,como moralidade em ambientes moralmentedegradados das grandes cidades [...]”.

A organização da Festa do Divino deMogi acompanha o seu tempo, o tempomoderno, a informatização, a logística eficazque controla os acessos às ruas tomadaspelas procissões, o patrocínio e o marketingindispensáveis para a sua realização. Diantedeste espetáculo em que a festa dareligiosidade popular tende a se transformar,resta buscar permanências, menos materiais,acima de tudo, que permitem a manifestaçãoda ruralidade do homem urbano.

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Notas

A festa, esse momento intenso docotidiano, permite certos acontecimentos jamaisrepetidos durante o decorrer do ano, como porexemplo, a distribuição de alimentos comodádiva. A fartura, tão presente na Festa, comodemonstra a distribuição do afogado para osdevotos, remonta a um passado distante (os“vodos” europeus) e, mais recentemente emMogi das Cruzes, quando o festeiro oferecia oalimento aos moradores do meio rural quechegavam na véspera para festejar o EspíritoSanto. Esta era também uma oportunidade detrocar alimentos que eles traziam da roça, porquerosene, sal, tecidos, na cidade, ou seja, paraa prática do comércio da produção excedente,nem sempre mediada pelo dinheiro.

O alimento está presente em muitosmomentos da Festa: quando as rezadeirasvisitam as casas antes da festa, sãorecepcionadas com café, bolo, pão...; naPasseata das Bandeiras, após a Novena, sãodistribuídos os mesmos alimentos para osdevotos que seguem a Folia do Divino e osFesteiros; após as Alvoradas, o café da manhãé ofertado nas dependências da Catedral deSantana; durante os onze dias de festa, osFesteiros e Capitães de Mastro visitaminstituições assistenciais e distribuem, além deconforto espiritual, bolos, doces, balas; naEntrada dos Palmitos, estão lá os alimentos

expostos na charola, e, finalmente, o Afogadãoé distribuído após o cortejo.

Em meio à fragmentação da vidacotidiana, a Festa hoje, ainda que tambémfragmentada, não só espacialmente, mastambém na sua organização racionalizada,proporciona o encontro e o bem-estar; traz,através da representação que é a Entrada dosPalmitos, a vida rural e o sentimento decontinuidade de uma tradição. O elo entre ourbano e o rural em Mogi das Cruzes ainda nãofoi completamente rompido, a relação do homemcom a natureza é sempre lembrada,proporcionando um resgate das raízes dohomem, mesmo que suti lmente. Assim, opassado e o presente se apresentamentrelaçados, mas voltados para o futuro, paraa utopia, a promessa de um mundo melhor,trazido pelo Espírito Santo.

O mundo rural, conforme Martins (2002),é o que resta de uma urbanização emodernização aceleradas, transformando a vidacotidiana da cidade, expandida pela ocupaçãodo espaço antes rural, e fragmentada nesteprocesso. Desta forma, o descompasso detempos permite a manifestação desse mundorural, fortemente “protegido”, por umapopulação que sente e vive tais vínculos e osfazem emergir durante uma fest ividadetradicional da religiosidade popular.

1 Para os judeus, Pentecostes é o dia em que secelebra a colheita e a fartura, realizada cinqüentadias após a chagada de Moisés e seu povo naTerra Prometida (ARAÚJO, 2005).

2 Os “vodos” eram uma prática do século X,promovida pelos imperadores germânicos(dinastia dos Othons), que se difundiu por váriospaíses da Europa (LIRA, 1950 apud PIAZZA,1953), tendo sido associados às festividades docalendário católico.

3 Mogi das Cruzes tornou-se vila em 1611, quandoera conhecida por Santana de Mogi Mirim.Pertencente à Região Metropolitana de São Paulo,

o município de Mogi das Cruzes, com área de714 Km2, e população de 372.419(www.ibge.gov.br, acesso em abril de 2007) estálocalizado a 60 Km do centro da cidade de SãoPaulo no sentido Leste.

4 Conforme Registro de Provisões 1818-1827, doArquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.

5 São Festeiros o casal responsável pela realizaçãoda Festa, muitas vezes, escolhidos por sorteio.Os Festeiros têm o direito de escolher um casalde amigos para auxiliá-lo, os Capitães de Mastro.Os Festeiros geralmente são pessoas com certopoder aquisitivo e bem relacionados socialmente.

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É preciso que o casal tenha tempo para se dedicaraos preparativos da Festa, angariar recursos eparticipar de todos os momentos do períodofestivo.

6 Grupos de Congada e Moçambique têm origem emmanifestações religiosas dos escravos no Brasil,quando lhes era permitido seguir ao final de algumasprocissões, depois das quais dançavam ao som debatuques em terreno nos fundos de uma igreja(MORAES, 1995).

7 A Cavalhada é uma representação da luta travada entrecristãos e mouros, e remonta à Idade Média.

8 Conforme Livro de Ouro de 1938, do Acervo do ArquivoHistórico e Pedagógico de Mogi das Cruzes.

9 Segundo O Diário de Mogi, meses de maio e junho, dadécada de 1980.

10 Lei n. 2.890 de 25/02/1985 (RODRIGUES Filho; DECARLO Filho, 2004: 6).

11 Até 2003, a Associação possuía maior responsabilidadena Festa do Divino do que a que possui hoje, pois ascontratações de serviços que o evento demandapassaram a ser executadas pela Mitra Diocesana, quese tornou o órgão responsável pela Festa. Ou seja, éa Mitra Diocesana que autoriza ou não a realizaçãoda Festa (segundo depoimento da coordenação daPró-Divino, em 2006).

12 A Coroa do Divino é um tipo de terço, composto porsete Mistérios, sendo invocado em cada um, um dossete dons do Espírito Santo, atribuídos por Isaías (11,2). Depois de invocar sete vezes o Espírito Santo, emcada Mistério, faz-se uma invocação a Maria.Completados os sete Mistérios, para finalizar, são feitasmais três invocações a Maria.

13 Os músicos barbeiros tinham a função de divulgartodo e qualquer evento, não só a Festa do Divino.Com o tempo, os músicos foram sendoincorporados à Folia do Divino (ABREU, 1999).

14 Sobre o papel atual da Folia do Divino em Mogidas Cruzes, trataremos mais adiante.

15 A piedade, sétimo dom atribuído ao Espírito Santo,encontra-se no Livro de Paulo aos Coríntios, jáno Novo Testamento. Porém, ele o trata por“caridade”, o dom supremo do amor (Coríntios12 e 13).

16 Conforme relatos de participantes da Passeata das

Bandeiras, durante a Festa do Divino em Mogidas Cruzes no ano de 2005.

17 Esta Folia é composta por cinco membros: o Mestre,o Contramestre, um tiple (voz mais aguda), umcontralto (voz mais grave); os instrumentosutilizados são: viola, violão, pandeiro e caixa. Paraentrar no grupo da Folia do Divino é precisopossuir um instrumento e saber tocá-lo, teraptidão para o canto, e participar dos ensaios,realizados quando necessário. O papel do Mestreé estar sempre à frente, “puxando” a música paraque o restante do grupo o acompanhe; é ele quemdá o comando, escolhendo os versos a seremcantados. Diferente da Folia descrita por Abreu(1999), a de Biritiba Ussu não carrega nenhumabandeira e não sai pelas ruas a angariar recursospara a Festa (conforme entrevista realizada como Mestre da Folia do Divino de Biritiba Ussu, em2006).

18 Todo e qualquer altar do Espírito Santo éconsiderado um Subimpério, pois o Império é sóum, aquele montado na Praça da Catedral deSantana.

19 Primeiramente, a Quermesse era realizada naPraça da Catedral de Santana, sendo transferidapara o Largo Bom Jesus (em frente à igreja deSão Benedito) em 1974. Apenas dois anos maistarde passou a ser realizada em um galpão daPrefeitura, alternando entre estes três lugaresaté a sua transferência para o CIP.

20 Segundo coordenadores da Associação Pró-Divino,em entrevista em 2006.

21 A Novena consiste em nove missas, sendo que acada noite, uma Paróquia diferente é convidadapara ministrar a celebração que acontece semprena Catedral de Santana.

22 Informações obtidas em maio/2005, durante aFesta do Divino.

23 Afogadão refere-se somente ao Afogado distribuídoà população. O prato típico que é vendido naQuermesse é o Afogado.

24 No ano de 2007, o levantamento do Mastro ocorreuno primeiro dia da Festa do Divino, logo após aAbertura do Império.

25 Conforme a coordenação do Tapete Ornamental,da Pró-Divino, em entrevista realizada em 2006.

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www.festadodivino.org.br

Trabalho enviado em julho de 2008

Trabalho aceito em fevereiro de 2009

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