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A Economia Ecológica e sua contribuição para as discussões de desenvolvimento
rural sustentável: Agroecologia e Economia Solidária como evidência empírica de
socioeconomias alternativas
Francisco Eduardo de Oliveira Cunha1
Francisco Casimiro Filho2
Resumo
Hodiernamente tem-se observado que o modo de produção capitalista expandiu-se no
meio rural numa voracidade sem precedentes, sob a égide da chamada Revolução Verde.
No entanto, ao passo que contribui para a modernização da agricultura, tal revolução
corrobora para a devastação acentuada das áreas cultiváveis, bem como a afetação dos
ecossistemas locais. Ademais, na busca incessante pelo crescimento econômico no
campo, verificou-se que dois entes pertencentes ao mesmo sistema vivo e complexo
foram postos em lados antagônicos: homem e natureza. Há, portanto, uma visível
percepção de um ponto crítico nesse relacionar, a fim de atender ao crescimento
insustentável do capitalismo. Diante deste cenário de crise – a ambiental –, referido artigo
se lança em discutir o papel da Agroecologia e Economia Solidária na busca de se
legitimar evidências empíricas de caminhos alternativos, na perspectiva de um relacionar
harmônico entre economia e natureza, a partir de uma abordagem teórica da Economia
Ecológica. Com efeito, busca-se contribuir para a discussão acerca de uma outra
racionalidade produtiva, que reconheça a natureza como limitante das relações
econômicas, sobretudo em áreas rurais, as quais ainda apresentam características que
favorecem a prática de relações entre os homens e a natureza, de forma mais harmoniosa
e menos degradante.
Palavras-chave: Desenvolvimento Rural Sustentável. Economia Ecológica.
Socioeconomias Alternativas.
1 Introdução
A economia inexiste sem a natureza. O meio ambiente é a fonte primária de
todos os bens naturais – animais, vegetais e minerais. É nele que se verificam as fontes
matrizes de energia – como a luz e o calor solar, quedas d’água, os ventos, as marés, entre
outras.
No processo produtivo de um determinado bem final, o homem comumente
recorre à natureza no intuito de extrair dela os recursos necessários (matéria prima) para
a realização de tal produção. É da natureza que se retiram uma boa quantidade de
subprodutos e produtos finais consumidos no mercado de alimentos. Ademais, uma
1 Professor Substituto do Departamento de Teoria Econômica – DTE da Universidade Federal do Ceará – UFC,
Fortaleza-Ce-Brasil, e-mail: [email protected]
2 Professor Adjunto do Centro de Ciências Agrárias – CCA da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza-Ce-
Brasil, e-mail: [email protected]
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grande quantidade de dejetos gerados pela produção e consumo são costumeiramente
despejados no meio ambiente.
Destarte, é indiscutível a afirmação de que toda e qualquer manifestação
econômica do homem, seja ela na esfera produtiva, de consumo e, sobretudo de
destinação de resíduos, ocorre no meio ambiente, ou seja, interage-se com ele. O (sub)
sistema econômico opera dentro de um sistema maior e bem mais complexo: o sistema
ecológico. A economia se limita à natureza. Noutra percepção, a natureza é condicionante
e limitante do sistema econômico (CECHIN, 2010).
Figura 1. Sistema econômico como subsistema do ecológico.
Fonte: O próprio autor.
As ciências econômica e ecológica apresentam suas raízes comuns, não somente
do ponto de vista etimológico observado no termo grego oikos (eco), que significa casa
ou lugar comum, mas também quando voltamos nossos olhares para a inter-relação dos
agentes pertencentes a esta casa com os recursos fornecidos por ela. Os processos
econômicos estão intimamente e intrinsecamente associados aos processos ecológicos,
uma vez que estes estabelecem as possibilidades e limites para a manifestação da vida
econômica. Dessa forma, uma tarefa das mais complexas é a compreensão das interações
mútuas entre economia e natureza a partir de olhares restritos, específicos e separados das
ciências (econômica e ecológica), em vez de visões inter, multi e trans disciplinares.
Entretanto, ao passo que tão próximas, íntimas e mutuamente necessárias,
economia e ecologia encontram-se tão distantes. A natureza e seu papel nos sistemas
econômicos têm sido sistematicamente ignorados nos livros de macroeconomia
(PENTEADO, 2008). A integração entre homem e natureza é dificilmente aceita por
economistas, sobretudo aqueles que objetivam perpetuar os padrões estabelecidos de
crescimento e desenvolvimento à luz da economia neoclássica. Ao mesmo passo, também
é uma tarefa árdua para um grande número de ecologistas aceitarem o homem e suas
Sistema Ecológico
Fornece recursos naturais
(matéria prima e energia) Sistema
Econômico
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relações econômico-sociais como parte integrante dos ecossistemas. Ao contrário, os
homens comumente são tidos como intrusos e rompedores de uma ordem natural e de
equilíbrio das relações na natureza.
Porém, é seguro afirmar que o grande desafio do século é discutir e procurar
(re)estabelecer um diálogo entoado entre a economia e sua relação com a natureza,
rompendo paradigmas, construindo e trilhando novos caminhos. Trata-se da necessidade
de uma cultura emergente, de uma nova ética, de uma nova visão da realidade não
somente econômica, social e ambiental, mas holística, sistêmica e multidisciplinar que se
baseia na consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial de todos os
fenômenos (CAPRA, 2007).
É diante desse emaranhado de pensares e visões, que repousa a necessidade da
reflexão da relação entre economia e natureza sob outras proposições, ou seja, analisar e
discutir os atuais paradigmas produtivos e de consumo de nossa sociedade a partir de
abordagens teórico-metodológicas não convencionais. Com efeito, suscitar a discussão –
e vivência – de novas experiências econômicas e sociais, quer seja, novas relações entre
os homens e estes com o meio ambiente.
Neste ínterim, a discussão acerca de sustentabilidade se instala e se expande
numa força e velocidade sem precedentes. Trata-se de um termo ecológico que, mesmo
em parte vulgarizado e dissimulado quando utilizado pela economia, incita à tão premente
questão ambiental – a crise que o capital atribui como sendo da natureza –, conseguindo
contribuir para uma tentativa de aproximação entre diversos atores envolvidos nessa
discussão, sobretudo economistas e ecologistas. De acordo com Leff (2011),
A sustentabilidade é o tema do nosso tempo, do final do século XX e da
passagem para o terceiro milênio, da transição da modernidade truncada e
inacabada para uma pós-modernidade incerta, marcada pela diferença, pela
diversidade, pela democracia e pela autonomia (LEFF, 2011, p. 9).
Entretanto, nesse kairós3 da discussão e (re)compreensão do diálogo entre
economia e natureza, a combinação de desenvolvimento econômico e sustentabilidade é
questionada, sobretudo quando pensada sob os paradigmas do modo de produção vigente,
no qual se volta para a incessante busca pelo lucro. Com efeito, refletir as relações entre
a economia e o meio ambiente deve ir além da visão estritamente economicista aplicada
ao desgastante e retórico discurso acerca de o que é ou não sustentabilidade
hegemonizado pelo pensamento econômico neoclássico. Portanto, o desafio posto é
3 Termo grego que expressa “momento oportuno”.
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refletir desenvolvimento econômico (e ecológico), sobre outras bases e outras
proposições.
2. Economia Ecológica
Em contraposição a ideia hegemônica e disseminada de compreensão do sistema
econômico no relacionar com o sistema ecológico, a Economia Ecológica, comumente
tratada por Eco-eco, se apresenta como uma abordagem mais crítica-reflexiva do papel
da natureza nas relações econômicas (ou do papel da economia nas relações ecológicas),
compreendendo tais relações como um processo decorrente da própria natureza,
conforme elucida Jacobs (2001) quando afirma que a produção de bens e serviços são
quase que como funções biológicas e, como tal, inerentes à própria natureza do ser
humano. Com efeito, as manifestações da economia deveriam ser regidas pelos fatores
limitantes da própria natureza, sua capacidade de suporte4, principalmente dentro de um
escopo local.
Acerca dessa ideia de complementaridade entre sistemas econômicos e
ecológicos, Amazonas (2011) afirma que,
A Economia Ecológica funda-se no princípio de que o funcionamento do
sistema econômico, considerado nas escalas temporal e espacial mais amplas,
deve ser compreendido tendo-se em vista as condições do mundo biofísico
sobre o qual este se realiza, uma vez que é deste que derivam a energia e
matérias-primas para o próprio funcionamento da economia. Uma vez que o
processo econômico é um processo também físico, as relações físicas não
podem deixar de fazer parte da análise do sistema econômico, o que a tornaria
incompleta. Com isso, a natureza do problema envolve elementos tanto
econômicos quanto biofísicos. Por sinal, o descaso ou pouca relevância
atribuída aos atributos biofísicos da economia nos modelos da economia
convencional veio sendo assim um principal ponto de crítica e motivação da
Economia Ecológica. (AMAZONAS, 2011)
Entretanto, mesmo com essa preocupação de inserir elementos biofísicos e de
demais disciplinas nas análises econômicas, o grande desafio da Economia Ecológica
repousa em confrontar a racionalidade econômica predominante que se vale dos aparelhos
ideológicos5 que compõem a sociedade, para se manterem hegemônicos, reprodutores e
perpetuadores do modelo de produção e consumo da sociedade vigente, e que põem em
risco a vida no planeta, sobretudo da espécie humana. De acordo com Cavalcanti (2010):
4 A natureza determinaria a economia, valendo-se do conceito de capacidade de suporte, pertencente às ciências
ambientais, ao qual expressa a quantidade máxima de indivíduos que podem explorar determinado ambiente, sem por
em risco a capacidade regenerativa da natureza. 5 Segundo Louis Althusser na obra Ideologia e aparelhos ideológicos do estado, a educação seria um exemplo claro de
um desses aparelhos aos quais são utilizados para produzir e reproduzir a ideologia a qual está submetida a sociedade.
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A crescente percepção de que o sistema ecológico de sustentação da vida
encontra-se cada vez mais ameaçado constitui, deveras, o ponto de partida da
reflexão que deu origem formal à economia ecológica. Há um enfrentamento
constante entre natureza e sociedade, meio ambiente e economia, com
incertezas, percalços, urgências e novas fronteiras. Conflitos aparecem
desafiando a tendência à valoração puramente monetária (como a do
“mercado”, por exemplo) de situações essenciais para a vida humana.
(CAVALCANTI, 2010).
Dessa forma, nesse contexto de enfrentamento de elementos pertencentes a um
mesmo sistema, a eco-eco vislumbra uma outra forma de compreender a economia dentro
da natureza – sobretudo dentro dos ecossistemas locais –, num olhar crítico na perspectiva
de superação para uma nova racionalidade produtiva, se mostrando uma abordagem
questionadora e que se coadune com o pensamento de Leff (2010; 2011), quando referido
autor aponta que:
Esse paradigma de produtividade ecotecnológica contrasta com a
racionalidade econômica dominante, na qual a natureza foi externalizada do
processo de produção e, ao mesmo tempo, desnaturalizada, ao ser reduzida a
um insumo produtivo de recursos naturais e matérias-primas; por esse motivo
ignora-se a entropia como lei limite do processo econômico e o potencial
neguentrópico que emerge de uma nova racionalidade produtiva;
ecologicamente sustentável, culturalmente diferente e socialmente justa.
(LEFF, 2010, p. 15).
A economia ecológica lança um olhar crítico sobre a degradação ecológica e
energética resultante dos processos de produção e consumo, tentando sujeitar
o intercâmbio econômico às condições do metabolismo geral da natureza.
(LEFF, 2011, p. 44).
Com efeito, Leff (2011), eleva a discussão da natureza dentro da Economia
Ecológica como uma entidade que transcende o mero papel de recurso natural disponível
ao processo produtivo, somando-se à análise e método de abordagem de Nicholas
Georgescu-Roegen6, ao qual baseada na segunda lei da termodinâmica – a Lei da
Entropia –, se apresenta como elemento universal de regulação e determinação das mais
diversas relações entre os seres, não somente em sua dimensão estritamente ecológica,
mas também cultural, política, econômica, social e, sobretudo química e biofísica.
2.1. As raízes da Economia Ecológica e a contribuição de Georgescu-Roegen
A Economia Ecológica surge institucionalmente enquanto corrente de
pensamento econômico a partir do estabelecimento da Sociedade Internacional de
Economia Ecológica, fundada em 1988 e com o periódico Ecological Economics, surgido
6 Matemático, estatístico e economista não-convencional, tido como referência maior do pensamento econômico-
ecológico.
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em 1989. Traz consigo a ideia básica de que os processos econômicos devem ser vistos
também como processos de transformação biológica, física e química (CECHIN, 2010),
considerando principalmente o fluxo de energia e matéria manifestado na natureza.
É seguro afirmar que a Economia Ecológica tem seu alicerce no pensamento do
romeno Nicholas Georgescu-Roegen, nascido na cidade de Constanza, em 1906.
Matemático e Estatístico por natureza, fora introduzido na economia enquanto
doutorando de Joseph Schumpeter (1883-1950), economista este que influenciou
relevantemente o pensamento de Georgescu-Roegen, sobretudo na compreensão de que
as mudanças fundamentais no sistema econômico são de ordem qualitativa, e não podem
ser compreendidas estritamente com números (CECHIN, 2010).
Apesar de profundo conhecimento em matemática, Roegen propôs novas
análises e reflexões acerca das ciências econômicas, como ocorreu em sua obra Analytical
Economics de 1966, uma coletânea de artigos escritos entre 1936 e 1960. Em referida
obra, mais especificamente na introdução dessa coletânea, Georgescu-Roegen consegue
transpor as análises excessivamente formais e economicistas das escolas de pensamento
dessa ciência, concluindo que muitas questões com as quais os economistas se deparavam
não eram específicas de sua disciplina, mas surgiam também de outras, principalmente
das ciências físicas conforme reforça Cechin (2010):
A inquietação de Georgescu era que, enquanto na Física os maiores autores passaram a filosofar sobre sua ciência, na economia o debate
epistemológico era muito pouco efetivo. Assim, essa introdução explorou o
divisor de águas de cada questão de maneira mais intensa e extensa do que já
havia sido feito no passado. Mais especificamente, extrapolou as questões
epistemológicas para além das fronteiras da economia. Como resultado,
chegou à conclusão de que, contrariamente ao que se pensava, muitas questões
com as quais deparam os economistas não são específicas dessa disciplina, elas
surgem também nas ciências físicas. São questões que dizem respeito às
mudanças qualitativas que são estruturais, em contraposição às mudanças que
só envolvem variação de quantidade. (CECHIN, 2010, p. 57).
A partir da inspiração experimentada na introdução do livro Analytical
Economics, Georgescu-Roegen apresenta no ano de 1971 o que seria considerada sua
contribuição mais robusta para o pensamento econômico ecológico que se desenvolvia
embrionariamente: o livro The Entropy Law and the Economic Process. Nele, o autor
apresenta uma profunda crítica ao pensamento neoclássico, tomando como análise a
diferença existente entre a física mecânica, adotada por referida escola de pensamento, e
a segunda lei da termodinâmica – a lei da entropia –, considerada pelo autor como
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revolucionária e a base de toda construção teórico-metodológica para a corrente de
pensamento da Economia Ecológica.
Dessa forma, pode-se afirmar que Roegen antecipou tanto questões referentes à
sustentabilidade ambiental, quanto à critica da concepção mecânica do processo
econômico (KUHN, 1995). Ademais, suas proposições acerca das análises dos processos
econômicos são consideradas um real rompimento dos padrões estabelecidos pela
economia convencional. Na visão de Kuhn (1995), uma verdadeira revolução científica,
pois sugere uma compreensão da economia sob outras bases, outros caminhos, conforme
Cechin & Veiga (2010) apresentam:
Nenhuma outra escola de pensamento considerou a economia como um
sistema materialmente aberto. Por isso, sua visão constitui realmente um
rompimento com o paradigma da Economia, no próprio sentido dado por Kuhn
ao termo. Apesar de todas as divergências entre as diversas escolas de
pensamento econômico — dos marxistas aos neoclássicos, dos keynesianos
aos schumpeterianos, passando pelos institucionalistas etc. — todas elas
compartilham uma visão de sistema econômico isolado do ambiente natural.
Não podia ser diferente, pois desde os fisiocratas a Economia tem focado na
circulação de mercadorias. Assim, a visão do sistema econômico como sendo
circular e fechado orientou as mais diversas escolas e teorias, muitas vezes
antagônicas entre si. Nesse sentido, todas estão de baixo de um mesmo
"guarda-chuva". O pensamento de Georgescu-Roegen representa uma
revolução científica exatamente por ter saído do paradigma que delimita as
fronteiras do processo econômico onde a circulação de mercadorias pode ser
observada. (CECHIN & VEIGA, 2010, p. 451)
2.2. A Lei da Entropia – bases metodológicas da Economia Ecológica
A economia convencional desconsidera as relações econômicas de produção e
consumo como fenômenos intrínsecos à natureza. Dessa forma, na ótica neoclássica, o
sistema econômico se apresenta como um sistema fechado e circular, sem relações
externas (com os sistemas ecológicos), e que por si só consegue se “sustentar”, a cargo
das leis de mercado (oferta e demanda) e gerenciando os recursos escassos disponíveis na
natureza, de forma otimizada e eficiente.
De acordo com Cechin & Veiga (2010), baseado em Georgescu-Roegen (1971),
tal erro de abordagem é induzido pelo simples ato de adotar o modelo de fluxo circular
como a base do estudo da economia, ao qual limita a tentativa de compreender as relações
econômicas de forma isolada e alheia a outras relações não necessariamente econômicas,
bem como, estas serem analisadas de forma exclusiva por sua ciência específica.
Dada essa “isolabilidade” da análise dos fenômenos econômicos, Georgescu-
Roegen (1971) apresenta (ao passo que critica) a estreita relação dos processos
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econômicos com os fenômenos mecânicos, na perspectiva da economia neoclássica,
conforme aponta Cechin (2010):
Até meados da década de 1960, nenhuma escola de pensamento econômico
considerava explicitamente a entrada de recursos naturais necessários para a
produção e a saída necessária dos resíduos da produção. Esse é um exemplo
do sistema econômico entendido como um fenômeno mecânico, em que os
processos são revertidos a qualquer momento, apenas alterando a posição em
que o dinheiro se encontra no sistema. (CECHIN, 2010, p. 43)
A propósito dessa analogia entre a física e a economia, sobretudo da física
mecânica, Cavalcanti (2010) amparado em Georgescu-Roegen (1971) acrescenta que:
(...) os fundadores da ciência econômica tinham como única aspiração
enquadrá-la nos parâmetros da mecânica. Na física, a mecânica conhece
apenas locomoção, e esta, além de reversível, não contempla mudança de
qualidade, o contrário do que acontece na natureza, em que prevalecem
fenômenos irreversíveis. Admitir que o fluxo circular da renda seja o único
aspecto que interessa da vida econômica equivale a admitir que, na economia,
o que importa é o fato de que dinheiro passa de mão em mão, continuamente,
e não sofre mudança qualitativa. (CAVALCANTI, 2010, p. 56).
Dessa forma, com Cechin (2010) e Cavalcanti (2010), percebe-se que a
compreensão mecanicista da economia, ou seja, a percepção dos fenômenos econômicos
enquanto fenômenos mecânicos traz como característica principal a desconsideração de
tempo e lugares históricos (admitindo-os constantes), ignorando mudanças qualitativas
nestas variáveis, bem como a admissão da reversibilidade desses fenômenos, tornando-
os eventos meramente causais, contínuos e previsíveis, logo, que podem ser reduzidos a
funções matematizadas e relacionais de causa e efeito.
Dado esse olhar limitado da ciência econômica, Georgescu-Roegen em The
Entropy Law and the Economic Process tenta mostrar que mesmo aproximando a
economia de uma visão à luz da física, esta não teria como ignorar o tempo e lugares
históricos, pois a produção econômica é necessariamente uma transformação entrópica
(CECHIN, 2010).
A entropia é um conceito que vem da termodinâmica7. Seu conceito está
estreitamente relacionado a calor, entendido na Física como energia em trânsito, que
passa de um corpo (de maior temperatura) a outro (de menor temperatura). Na Física, essa
transferência de energia de um corpo a outro, é entendida como trabalho. No entanto, no
processo de realização de trabalho, ou seja, na transferência de energias entre corpos
7 Disciplina na Física que se propõe a estudar o calor, observando suas causas e efeitos relacionados à
temperatura, pressão e volume.
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físicos na natureza, parte desse calor é “perdido” (transferido para trabalho inútil),
inutilizado ou degradado, conforme afirma a primeira lei da termodinâmica a ser vista nas
linhas seguintes.
A entropia, portanto, busca mensurar a energia transformada em inutilidade ou,
desperdiçada nos fenômenos biofísicos na natureza que se propõem à produção de
trabalho útil. Segundo Odum (1983), refere-se à energia degradada e que está relacionada
a um processo necessariamente irreversível.
Dessa forma, a partir da Física e da Termodinâmica, é possível afirmar que todos
os processos que ocorrem na natureza determinantemente são processos que envolvem
transferência e/ou transformação de energia. Todos eles, segundo referida disciplina,
obedecem a duas leis básicas e gerais. A primeira delas rege que “a energia do universo
é constante”, portanto, não se cria, nem se perde, mas apenas se transforma. A segunda
lei da termodinâmica (objeto que oferece o suporte metodológico à teoria de Georgescu-
Roegen) rege que “a entropia do universo tende a um máximo”, que significa dizer que a
cada transferência de energia (no processo de trabalho) há uma degradação da qualidade
desta, ou seja, a energia passa de uma forma mais organizada e concentrada a uma menos
organizada e mais dispersa. Conforme Cechin (2008):
(...) a 2ª Lei diz que a qualidade da energia num sistema isolado tende a se
degradar, tornando-se indisponível para a realização de trabalho. Portanto, a
forma embrionária da entropia está na ideia de que as mudanças no caráter da
energia tendem a torná-la inutilizável. A energia desperdiçada ou “perdida”,
ou seja, a energia que não pode mais ser usada para realizar trabalho, é
considerada a produção de entropia de um sistema (CECHIN, 2008, p. 57)
Referida lei pode ser verificada num esquema básico de fluxo de energia na
natureza, conforme Figura 2, adaptada de Odum (1983). Nela observamos que a energia
luminosa é captada pelas plantas e transformada em energia química ao longo da cadeia
alimentar, ao passo que é também transformada em energia degradada, ou seja, num
processo irreversível o calor é irradiado/dissipado para o espaço, não convertido a
propósito de trabalho útil. Com efeito, verifica-se nesse contexto a hipótese de que a
natureza (os ecossistemas) é um sistema aberto, ou seja, de relações interdependentes
entre seus elementos constitutivos.
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Figura 2. Fluxo energético.
Fonte: O próprio autor, baseado em Odum (1983)
Com base fundamental sob a lei da entropia, a economia ecológica vê as relações
econômicas como um subsistema, parte integrante de um sistema maior – a natureza –
logo, condicionada aos limites impostos por esse organismo mais complexo. Com efeito,
concebe as relações econômicas como um sistema aberto e que troca energia com o meio
ambiente, recebendo-a deste, utilizando parte dessa energia na produção de trabalho útil
e outra parte dessa energia é retornada ao meio ambiente de forma dissipada/degradada,
no caso, resíduos, ou seja, a economia como um fluxo entrópico de energia e de materiais
(MARTÍNEZ-ALIER, 1998, p. 53).
Numa análise mais específica, a economia recebe os recursos disponíveis na
natureza, assim como recebe a energia, transforma-os em trabalho útil (verificado nos
processo de produção e consumo das diversas atividades econômicas), devolvendo para
a natureza o trabalho não útil, o lixo desses processos, ou seja, energia “perdida”,
conforme Figura 3. Com isso, às leis da termodinâmica – à luz de uma visão ecológica da
economia – é possível verificar que nas relações econômicas ocorrem transformações de
energia (como nas demais relações na natureza), de baixa entropia (a partir dos recursos
extraídos da natureza) para transformações de alta entropia, materializado em lixo ou
resíduos despejados no meio ambiente, conforme expressado na adaptação do diagrama
sugerido por Cavalcanti (2010), a observar.
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Figura 3. Adaptação do Modelo Biofísico do Sistema Econômico.
Fonte: Cavalcanti, 2010
Portanto, toda e qualquer atividade econômica se nutre de energia para produzir
(transformar, não criar) matéria. Segundo Leff (2009), toda produção de valores de uso
implica um processo social de transformação de matéria e energia acumuladas no planeta.
A economia, dessa forma, a fim de satisfazer as necessidades humanas, requer matéria e
energia. No entanto, referida energia tem que ser capaz de se realizar trabalho (baixa
entropia), não podendo, portanto, ser energia degradada (ou de alta entropia).
A termodinâmica estabelece com suas leis que, uma vez dissipada, a energia não
é capaz de ser reutilizada para produzir trabalho útil. Trata-se de um processo irreversível,
ao contrário do pensamento mecânico de que os processos podem ser reversíveis. Sob
essa ótica, a energia de alta entropia é ineficaz na produção de matéria dentro das
atividades econômicas, conforme pensou Georgescu-Roegen (1966), quando afirmou que
uma dada quantidade de recursos de alta entropia não pode ser usada mais que uma vez
pelos homens para a realização de matéria. Em contraste, temos a transformação de
energia de baixa entropia como condição sine qua non para a satisfação das necessidades,
conforme elucida Cechin (2010):
A energia dissipada em forma de calor pela máquina não pode ser utilizada
novamente. Por isso, o surgimento da Termodinâmica constituiu uma
verdadeira Física do valor econômico, uma vez que distingue energia útil de
energia inútil para propósitos humanos. Pode-se dizer, portanto que baixa
entropia é uma condição necessária, mesmo que não suficiente, para que algo
seja útil para a humanidade. (CECHIN, 2010, p. 72).
Dessa forma, a ideia de que a natureza é a única limitante do processo
econômico, se fundamenta na Física, quando verificamos que,
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A Lei da Entropia assegura que não se pode usar a mesma energia
indefinidamente, queimando o mesmo carvão ad infinitum. Se isso fosse
possível, não haveria escassez de fato nem haveria resíduos do processo
produtivo uma vez que se poderia reciclar 100%. Um país pobre em recursos
naturais como o Japão não precisaria importar matérias-primas, e muitas
populações não teriam sido forçadas a migrar por causa da exaustão do solo.
(CECHIN, 2010, p. 73)
Com tal constatação, cabe expressar uma profunda e fundamentada crítica às
presunçosas teorias do crescimento econômico, aos discursos acerca de sustentabilidade
da economia convencional, bem como aos atuais debates sobre economia verde,
observados recentemente na conferência Rio +20, em 2012. Em todos eles, produção e
consumo não seriam empecilhos à preservação dos recursos naturais, uma vez que, com
o gerenciamento otimizado dos mesmos, associado ao uso de energias alternativas e
renováveis, agregadas a utilização de novas tecnologias, seria possível corrigir tais falhas
de mercado8, corroborando para um possível relacionamento mais harmonioso entre
economia e natureza.
Capra (2007), também enfatizando esse lado sombrio do crescimento
econômico, alertou que a expansão da economia recorre a processos de alta entropia,
expressando o desperdício de energia que poderiam estar voltados para a produção de
matéria necessariamente útil, corroborando, assim, para consequências catastróficas ao
homem e à natureza, conforme lê-se:
O consumo excessivo e nossa preferência pela alta tecnologia não só criam
quantidades enormes de coisas inúteis como requerem, em sua fabricação,
gigantescos montantes de energia. A energia não-renovável, derivada de
combustíveis fósseis, aciona a maior parte de nossos processos de produção, e
com o declínio desses recursos naturais a própria energia tornou-se um recurso
escasso e dispendioso. Em suas tentativas para manter, e até aumentar, seus
níveis correntes de produção, os países industrializados do mundo tem
explorado ferozmente os recursos disponíveis de combustíveis fósseis. Esses
processos de produção energética podem vir a causar perturbações ecológicas
e um sofrimento humano sem precedentes. (CAPRA, 2007, p. 228-229).
Penteado (2008) apresenta ainda o crescimento como uma busca quase que
unânime pelos teóricos econômicos, que se propõe de maneira obsessiva, infinita e
ininterrupta, como única forma de se resolver os problemas humanos relacionados ao seu
bem-estar, consequente, à felicidade. Acerca dessa discussão entre crescimento e
preservação ambiental, em contraposição à visão neoclássica, a Economia Ecológica
considerando a natureza como única limitadora do processo econômico, se mantém com
8 De acordo com a teoria econômica convencional, falhas de mercado se dão quando ocorrem ineficiências
na alocação de bens e serviços na economia, com o mercado agindo de forma livre.
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radical ceticismo a tais discussões, acreditando que aos níveis atuais de crescimento
econômico não se chegará a soluções satisfatórias para referida crise ambiental.
Com isso, autores como Daly9 acreditam na ideia de manutenção de um estado
estacionário da economia, aos quais os recursos extraídos da natureza serviriam apenas
para manter a produção e consumo em níveis constantes. Autores dessa corrente
acreditam que referida situação seria uma condição fundamental para se iniciar uma
mudança de postura nas relações de produção e consumo vigentes, na perspectiva de uma
relação sustentável com o meio ambiente.
Entretanto a ideia da condição estacionária foi bastante criticada pelo próprio
Georgescu-Roegen, considerando um “mito de salvação ecológica”, uma vez que tal
proposição, mantendo produção e consumo constantes, continuaria degradando o meio
ambiente, mesmo que em menor quantidade, diminuindo a entropia das atividades
econômicas. Ademais, como a condição estacionária se relacionaria com as variações
qualitativas de tempo e lugar? Com efeito, para Georgescu, os argumentos a favor da
condição estacionária funcionariam melhor para a condição de uma economia em níveis
decrescentes de crescimento (CECHIN, 2010).
Discussões acerca de crescimento ou decrescimento da economia a parte, a
Economia Ecológica procura entender as relações econômicas caracterizando-as como
uma manifestação ou fenômenos entrópicos, do ponto de vista da física, uma vez que não
criam e nem consomem energia e matéria, mas tão somente transformam baixa em alta
entropia. Com efeito, não se diferem dos processos físicos da natureza. Os fenômenos
econômicos são análogos aos fenômenos físicos.
3. Agroecologia e Economia Solidária: convergências para socioeconomias
alternativas e evidências empíricas de economia ecológica
Os atuais debates aos quais questionam o paradigma de relacionamento entre
economia e meio ambiente promovem um ambiente favorável para a contestação social e
econômica do modo de produção capitalista, bem como incitam a discussão, construção
e vivência de alternativas socioprodutivas. Com efeito, a Agroecologia e a Economia
Solidária (ES) naturalmente se inserirem neste debate apresentando diálogos e
convergências entre si.
9 Herman Daly, economista ecológico norte-americano, defensor da ideia de condição estacionária para o crescimento
da economia, acreditando ser possível desenvolvimento econômico sem necessariamente crescimento material, ou seja,
melhorias qualitativas a níveis de crescimento zero.
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Schmitt (2010) aponta a importância da manifestação simultânea de ambos os
fenômenos, quando se voltam para a construção desses novos espaços socioeconômicos
nesse contexto de crise e contestação da relação economia e natureza, quando afirma que:
As experiências vivenciadas pelos empreendimentos de economia solidária e
pelos camponeses e agricultores familiares que hoje manejam seus sistemas
produtivos a partir de um enfoque agroecológico, com seus desafios e
contradições, apontam para estratégias criativas de mobilização de recursos,
capacidades e vínculos, na produção de novas formas de organização do
trabalho e de relação da atividade agrícola com os ecossistemas locais. Estas
práticas, ao mesmo tempo em que possuem elementos de crítica às formas de
organização social dominantes, buscam garantir a sobrevivência de alguns
milhares de trabalhadores no contexto de uma economia capitalista. Elas
ampliam seu significado se forem pensadas na perspectiva histórica de uma
sociedade que começa a enfrentar visíveis impasses nas relações dos homens
entre si e destes com a natureza, em uma trajetória na qual períodos de
crescimento econômico não foram capazes de alterar, de forma substantiva, a
estrutura de direitos de propriedade sobre recursos e serviços ambientais.
(SCHMITT, 2010, p. 56)
Dessa forma, ambas se apresentam como importantes espaços de reflexão acerca
de novos caminhos e experiências produtivas, de comercialização, de geração de renda,
disseminação de saberes e, sobretudo de resgate de culturas tradicionais das populações
campesinas, mesmo cientes de que essa junção ainda encontra-se processo de articulação
e organização social e política sendo, portanto timidamente experimentadas SCHMITT
(2010).
Como se observam, as convergências não se limitam ao aspecto crítico e
contestador das injustiças e desigualdades socioeconômicas promovidas pelo capitalismo.
O diálogo e o atuar cooperado entre a agricultura ecológica e economia solidária,
observado hegemonicamente no meio rural, tem contribuído para a promoção de um outro
espaço socioprodutivo que valorize o ser humano e a natureza, ao propósito de outros
princípios diferentes dos observados no modo de produção vigente.
Destarte, tanto a agroecologia como a economia solidária engloba em seus ideais
o relacionar harmonioso entre os homens e estes com a natureza, corroborando pra outras
práticas socioeconômicas, mais equânimes. É exatamente nesses pontos que se fundam a
aproximação natural entre a Agroecologia e Economia Solidária, ao qual apresentamos e
sugerimos essa junção amparada num tripé de compreensão, conforme observado no
esquema que segue:
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Figura 4. Tripé de junção Agroecologia e Economia Solidária
Fonte: O próprio autor
A economia solidária, no propósito de discutir alternativas de produção e consumo
mais justas, traz consigo a análise de longo prazo, compreendendo que tais relações
socioeconômicas devam ser sustentáveis. Com efeito, a ES transcende os aspectos
estritamente econômicos das relações entre os homens e estes com o meio ambiente,
estando explícita em suas manifestações a importância com as gerações futuras e com a
natureza, sua preservação, manutenção e desenvolvimento. A agroecologia, por sua sorte,
traz em seus princípios a produção fundada nas potencialidades oferecidas pela natureza,
bem como o respeito de seus limites, ambos em suas dimensões locais.
Dessa forma, a prática da agricultura ecológica nos ideais experimentados pela
economia solidária concorrem para o desenvolvimento da natureza, esta sendo
compreendida como elemento essencial que possibilita as práticas econômicas,
consecutivamente sociais da raça humana.
Referida junção concorre ainda para o desenvolvimento humano, uma vez que a
Agroecologia e a Economia Solidária fomentam a preservação e disseminação dos
saberes e culturas locais, bem como possibilitam aos seres humanos a experimentações
de relacionares que não se fundem exclusivamente em valores mercantis, mas solidários
e cooperativos. De acordo com Boff (2003, apud BASSANI, 2010), tais ações convergem
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para a proposição de uma nova ética que se origina localmente, e que tem a necessidade
de se tornar planetária. Ainda segundo Boff (2003 apud BASSANI, 2010), a ética é um
parâmetro necessário para sedimentar a relação confiável dos homens e deles com a
natureza.
Diante dessa busca mútua, ou seja, a união dos esforços entre agricultura ecológica
e economia solidária, no intuito de promover o ser humano e a natureza, tem-se a
justificação da cooperação. Segundo Pereira & Faria (2009), pressupõe-se que
cooperação esteja relacionada com a espontaneidade, voluntariedade e tolerância. Com
efeito, a interação homem-natureza, nestes termos, deve-se se distanciar das interações
baseadas em valores de troca.
Portanto, mesmo verificando a ação predominante da agroecologia em sua
dimensão produtiva, ao passo que a economia solidária age predominantemente na esfera
distributiva e de consumo, ambas se complementam. Nelas se verificam um conjunto de
iniciativas inspiradas em valores que colocam o homem e a natureza como sujeitos
centrais da atividade econômica, e não estes subsumidos ao capital.
4. Considerações Finais
A análise de evidências empíricas de fenômenos que se apresentem como
alternativas aos padrões hegemônicos, ao passo que é desafiadora, assume-se também
como instigante. Diante disso, as práticas observadas em experiências agroecológicas e
de economia solidária, trazem-nos uma diversidade de percepções, sentimentos e
compreensões acerca de novos relacionares entre economia e natureza, mesmo cientes
dos limites econômicos e sociais verificados em ambas práticas sociais produtivas.
O arcabouço teórico trazido à discussão pela Economia Ecológica teve o intuito
de refletir metodologias de análises para o relacionamento economia e natureza, que
rompessem com os padrões mecanicistas das ciências, sobretudo a econômica. A
agroecologia e a economia solidária assumiram, portanto, o papel prático na tentativa de
se concretizar a discussão sugerida por Georgescu-Roegen, a saber: refletir a
possibilidade dos fenômenos econômicos como meros fenômenos químicos, físicos e
biológicos, consequentemente pertencentes aos fenômenos da natureza em que estão
inseridos e sendo vivenciados.
Diante disso, observa-se nas práticas agroecológicas uma mais estreita
aproximação com as bases metodológicas da economia ecológica, uma vez que estas se
justificam por serem práticas predominantemente produtivas e também nos aspectos
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cíclicos das trocas de matéria e energia, sobretudo na destinação dos resíduos, sem
desprezar na análise seus aspectos de alcance social e cultural.
A agroecologia traz consigo o ideal de relação econômica pautada na base
fundamental da economia ecológica, ao qual visa praticar transformações de energia com
a mais baixa entropia possível em seus fenômenos e processos produtivos. Portanto,
compreende-se nela um caminho possível para se estabelecer uma nova socioeconomia,
que possibilite o diálogo entre agricultura (economia) e ecologia, homem e natureza,
numa perspectiva de novas experiências de promoção do desenvolvimento rural e local,
uma vez que tal relação apresenta-se bastante degradada em face das práticas da
agricultura moderna. Com efeito, a agroecologia aspira ser uma oportunidade de se
praticar novas relações sociais e econômicas locais, dialogando com o meio ambiente,
aproximando-se, enfim, das propostas de interação da economia ecológica, entre
economia e natureza.
Na economia solidária, a aproximação com a economia ecológica se identifica
sobretudo no aspecto de rompimento dos padrões mecânicos de análise das relações
econômicas de produção (organização produtiva) e consumo/comercialização, a
propósito de rompimentos com a lógica predominante da economia neoclássica. Com
efeito, a economia solidária, tende a contribuir para caminhos mais harmoniosos no
relacionar do homem com o meio ambiente, concorrendo para uma potencial economia
de baixa entropia.
Enfim, a Economia Solidária assim como a Agroecologia, tratam-se e
legitimam-se como outros caminhos sendo (e a serem) experimentados, sobretudo em
áreas rurais. Diante disso, entende-se que ambas têm sinalizado para práticas produtivas
divergentes das convencionais, sobretudo do ponto de vista de sua finalidade máxima: a
busca incessante pelo lucro. Pode-se, dessa forma, verificar que a agricultura ecológica e
solidária não somente é uma prática que se limita a uma dimensão produtiva, mas também
se manifesta na dimensão sócio cultural e que tem corroborado para o processo de
transformação de valores, principalmente nas sociedades rurais.
Com o artigo, procurou-se evidenciar que caminhos alternativos existem, estão
sendo experimentados e vivenciados e que podem ser compreendidos de forma dissociada
das análises mecanicistas das ciências econômicas, em detrimento de uma visão
interdisciplinar.
Por fim, acreditando que a economia e sociedade estejam num momento crítico.
Ambas experimentam uma mudança de época (e não uma época de mudanças), referida
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provocação traz consigo uma despretensiosa contribuição, refletindo e discutindo acerca
de uma outra racionalidade produtiva que reconheça a natureza como limitante das
relações econômicas, sobretudo em áreas rurais, aos quais compreendemos existir
elementos que favorecem a prática de relações entre os homens e estes com a natureza,
de forma mais harmoniosa e menos degradante.
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ANALISE DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E SUSTENTAVEL COM O
TURISMO RELIGIOSO EM JUAZEIRO DO NORTE-CE
Dionizia de Melo Jacó1
Maria Leticia Soares Caldas2
Luciana Duarte da Costa3
Ricardo Alves da Silva4
RESUMO:
Este trabalho tem como principal objetivo analisar a influencia do turismo religioso em
Juazeiro do Norte – CE e a sua ligação com o Padre Cicero, uma vez que o turismo vem
se configurando como uma importante fonte econômica na região do cariri cearense.
Contribuído para o seu desenvolvimento socioeconômico e local, onde essa religiosidade
cresce diariamente, atraindo milhares de romeiros para essa localidade durante todo o
ano. Foi realizado através de um levantamento bibliográfico, onde foram focados pontos
considerados pertinentes no trabalho. Com análises das condições naturais e específicas
da região e o processo histórico das atividades humanas desenvolvidas na mesma, onde
permitiram elaborar um diagnostico sobre a situação da área, e o seu potencial
produtivo. A partir dos resultados alcançados nas pesquisas, da análise do
desenvolvimento no turismo religioso em Juazeiro do Norte, averígua-se a conotação
dessas atividades ligada diretamente na economia local, à qual é centrada no turismo, na
pessoa do Padre Cícero Romão. Impulsionado pelo fluxo de romeiros, estes visitam
Juazeiro duas vezes ou até mesmo durante as três romarias do ano. São eles que deixam
boa parte de capital na cidade, distribuído em vários setores durante sua estadia. O turismo
religioso do Padre Cícero vem se revelando numa das principais fontes de emprego,
perspectiva de melhoria de vida e maior investimento em atrativos O resultado nos
mostra um grande salto econômico e as contradições sociais que atualmente passa o
município de Juazeiro do Norte- CE.
PALAVRAS CHAVES: Turismo religioso, Juazeiro do Norte, Padre Cicero.
1. Introdução
Desde o final da década de 1980, o Brasil vem passando por mudanças que
atingem a indústria, a política e a cultura, resultado da crise do modelo de produção
fordista que acarretou novas formas de organização da produção em escala global. Essa
1 Especialista em docência do ensino superior. Universidade Regional do Cariri. Crato/Brasil.
2 Geografa. Universidade Regional do Cariri. Crato/Brasil. [email protected]
3 Geografa. Universidade Regional do Cariri. Crato/Brasil. [email protected]
4 Geografia Universidade Regional do Cariri. Crato/Brasil. [email protected]
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crise atingiu os países capitalistas, tanto os “centrais” como os “periféricos”, ocasionando
transformações bruscas na esfera da produção, da circulação e do consumo dos produtos.
Com efeito, essas mudanças implicaram em uma nova organização do espaço, ou seja, a
criação de políticas alternativas visando uma saída para essa crise.
Durante o ano, milhares de romeiros se dirigem a Juazeiro do Norte, a maioria
com o objetivo de visitar os locais que estão vinculados à vida de Pe. Cícero,
conhecido como santo milagreiro evidenciando, assim, para o povo, a importância do seu
nome e influência para a cidade que era um pequeno povoado pertencente ao
município vizinho de Crato e que posteriormente foi elevado à categoria de cidade.
Juazeiro do Norte é a segunda maior cidade do interior do Ceará, com 246.515
mil habitantes (Censo de 2008, IBGE). Atualmente, é representada por um parque
industrial considerável. Impulsionado pelo turismo religioso, Juazeiro vive desta
atividade e do comércio que abastece as cidades da região, sendo visitada por romeiros e
turistas do Brasil e do exterior, numa média anual de dois milhões e meio de visitantes.
Dessa forma, a análise das condições naturais específicas de uma região e
o processo histórico das atividades humanas desenvolvidas na mesma, permitem
elaborar uma diagnose sobre a situação da área, seu potencial produtivo e
consequentemente, as informações básicas para traçar uma política de ocupação para o
seu desenvolvimento.
Uma dessas alternativas foi o turismo religioso que vem se configurando como
um importante segmento do mercado econômico, gerando empregos, empreendimentos e
lucros. Nesse processo turístico religioso, destaca-se o município de Juazeiro do Norte –
CE, com uma forte religiosidade em torno da figura carismática de Padre Cícero, atraindo
anualmente milhares de romeiros para a região do Cariri cearense.
É inegável a importância que a figura do Padre Cicero exerce para essas
transformações, principalmente, no desenvolvimento agroindustrial, comercial e turístico
na região.
Dessa forma, partindo dessa visão do turismo religioso e desenvolvimento de
Juazeiro do Norte, esse trabalho debruça-se em fazer uma analise da importância do
turismo religioso para o desenvolvimento econômico de Juazeiro do Norte. Tendo como
principal objetivo analisar a influencia do turismo religioso em Juazeiro do Norte – CE e
sua ligação com o Padre Cicero, uma vez que o turismo vem se revelando como uma
importante fonte econômica em nossa região.
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2.Algumas características geoambientais e históricas da área em estudo
A região em estudo foi descoberta no início do século XVIII, quando
criadores de gado provenientes da Bahia e de outras áreas de Pernambuco ali se
fixaram, atraídos pela fertilidade do solo e pela presença de maiores recursos
hídricos. Assim, o Cariri cearense impunha-se como um oásis no meio da imensa
área seca dos sertões nordestinos.
As atividades dominantes passaram a ser a pecuária altamente extensiva e, nos
vales mais úmidos, a lavoura canavieira. Fisiograficamente caracteriza uma microrregião
com feições típicas, representadas principalmente pela Bacia Sedimentar do Araripe,
que ocupa parte dos Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Entre Ceará e
Pernambuco constitui uma Chapada relativamente alta (1000m), alongada no sentido
leste/oeste denominada Chapada do Araripe, a qual funciona como divisor de águas
das bacias hidrográficas dos rios Jaguaribe e São Francisco.
A Chapada do Araripe é formada por rochas sedimentares de idade
cretácea; na camada superior dominam os arenitos e siltitos pertencentes à formação
Exu. Os estratos sedimentares “mergulham” suavemente em direção norte e leste, o que
possibilita a ocorrência de inúmeras nascentes responsáveis pela presença de brejos
de pé de serra evidenciados na Região do Cariri cearense.
As condições climáticas da região apresentam características semelhantes às
do litoral e das serras, com precipitações mais significativas e com melhor distribuição
do que outras áreas do Nordeste. Verificam-se algumas diversificações influenciadas
por fatores locais, onde a penetração dos ventos úmidos, as altitudes e as
chuvas orográficas se constituem no mais importante elemento climático.
O município de Juazeiro do Norte–Ceará/Brasil está localizado na Micro-Região
do Cariri, posicionado na região sul do Estado do Ceará entre as coordenadas geográficas
de 39º 55” de longitude oeste de Greenwich, 7º 12’ 47” de latitude sul, com uma área de
235,4 Km² O seu contexto histórico mudará com a chegada do Padre Cícero Romão
Batista em 11 de abril de 1872.
Ao se instalar em Juazeiro, recém ordenado, o sacerdote põe em prática no
pequeno povoado de Juazeiro uma concepção de vida religiosa contemplando a o
ração, o trabalho e a caridade.
Assim, difundiu a devoção na protetora da localidade , a mãe dos sertanejos –
Nossa Senhora das Dores.
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A cidade do Crato no final do século XIX, dominava a vida regional do
Cariri. Um outro aglomerado à apenas doze quilômetros, surgia em torno da pessoa
do referido padre, que daria origem à cidade de Juazeiro do Norte.
Com a expansão em torno dos milagres, a fama do Pe. Cícero atraiu para o
local numerosos nordestinos, em busca de conselho e trabalho, o que ocasionou o
crescimento do pequeno aglomerado, adquirindo fisionomia urbana.
Serra do Horto, monumento do Pe. Cícero.
FONTE: Movimento lojista – Ano 1 – Nº. 2 – Junho, 2001.
Historicamente era criado pela lei estadual nº. 1.028, de 22 de julho de
1911, o município de Juazeiro elevando o povoado à categoria de vila, que se instalava
a 04 de
outubro desse mesmo ano. A vila se transformava em cidade pela Lei
estadual nº. 1.178 de 23 de julho de 1914, ano em que seu prestígio chegava ao
auge, com o Pe. Cícero Romão Batista e Sr. Floro Bartolomeu influindo decisivamente
na revolucionária deposição do presidente do Estado do Ceará, o General Marcos Franco
Rabelo.
Nesse sentido, Juazeiro do Norte, apresenta-se no período atual como a
segunda maior cidade do Estado do Ceará, inserida na Região Metropolitana do Cariri e
com um importante polo calçadista do Brasil, além das romarias que movimentam dois
milhões e meio de romeiros ao ano.
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3.A Importância do Turismo Religioso para o Desenvolvimento Econômico de
Juazeiro do Norte- Ceará, Enfocando a Sustentabilidade.
Ao ser o desenvolvimento sustentável aquele que tem a capacidade de
permanecer ao longo do tempo, e ser um modelo de desenvolvimento que visa
essencialmente desenvolver-se sustentavelmente, engloba -se a atividade turística, no
contexto do turismo religioso, uma vez que, considera -se a sustentabilidade de
suma importância para a análise do turismo religioso com ênfase no desenvolvimento
econômico.
Assim, “o turismo sustentável do ponto de vista do meio ambiente demonstra a
importância dos recursos naturais e culturais para a economia de uma comunidade
e seu bem -estar social, e pode ajudar a preserva-los; como também, intensifica a
autoestima da comunidade local e oferece a oportunidade de uma maior compreensão e
comunicação entre os povos de formações diversas.” (GLOBO 90, 1992).
Ressalta SWARBROOKE, (2000, p.19) “O turismo sustentável enfatiza os
elementos ambientais, sociais e econômicos do sistema. Isso poderia levar a uma
definição de que turismo sustentável significa turismo que é economicamente viável,
mas não destrói os recursos dos quais o turismo no futuro dependerá, principalmente
o meio ambiente físico e o tecido social da comunidade local”.
Dessa forma, o turismo assegura uma distribuição mais justa de benefícios e
custos, além de gerar empregos diretos e indiretos em outros setores de suportes da gestão
de recursos. É importante ter em mente que o turismo sustentável não diz respeito
apenas ao ambiente, mas também está ligado diretamente à igualdade social e à
visibilidade econômica.
4. Metodologia
Esse trabalho foi realizado através de um levantamento bibliográfico, onde
foram focados pontos considerados pertinentes para as coletas de dados.
5. Desenvolvimento
Juazeiro do Norte é a principal cidade da Região Metropolitana do Cariri,
localizada no Sul do Estado do Ceará, é a 3ª maior cidade Cearense em relação à
população, com 249,936 habitantes (Censo 2010). Sabemos que esta população não é
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totalmente nascida na cidade, este volume enorme de pessoas constitui-se de imigrantes,
que vem das cidades circunvizinhas, de outros estados do Brasil e até de outros países,
esses imigrantes são constituídos basicamente de trabalhadores e investidores. Sua
economia é estimulada entre outros fatores pela a atuação da indústria calçadista, pelo
turismo religioso que movimenta praticamente todos os setores da economia local, dentre
estes podemos destacar o comércio.
Atualmente apresenta-se como um cenário turístico apoiada na religiosidade
popular em torno da figura mítica, religiosa e política do Padre Cícero.
O município de Juazeiro do Norte era inicialmente um distrito pertecente a
cidade vizinha de Crato, até que o jovem Padre Cícero Romão Batista se fixou como
pároco no povoado. Devido aos chamados milagres religiosos, quando a hostia que o
pároco deu a beata Maria Araújo se transformou em sangue, sua figura assumiu
caracteristicas simbolicas e desde então passou a ser tido pela população como um santo
milagroso, ganhando renome internacional e atraindo pessoas das mais diversas
localidades para a região do Cariri cearense.
Segundo (OLIVEIRA, 1969), é inegável a importância que a figura do Padre
Cicero exerce para essas transformações, principalmente, no desenvolvimento
agroindustrial, comercial e turístico na cidade de Juazeiro do Norte – CE. Para Barreto
(1998) Juazeiro se firmou como centro de romaria, não foi devido ao milagre, mais sim
pela liderança natural de Padre Cícero. Segundo GUIMARÃES e DUMOULIN (1983):
Fonte: Dionizia de Melo¹. Julho, 2014.
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Nenhum padre em todo o Brasil causou e continua causando tanto impacto
sobre a população quanto o Padre Cícero. Nenhum sacerdote conseguiu
despertar o interesse de grande número de estudiosos no grau com que o padre
de Juazeiro o fez (GUIMARÃES e DUMOULIN, 1983).
Atualmente Juazeiro do Norte representa o segundo maior polo religioso do
Brasil, sendo um Santuário Religioso do Nordeste brasileiro, centrado na pessoa do Padre
Cícero. Enquanto a origem dos romeiros, segundo Alves (2010), a maioria são dos estados
nordestinos, muitos de classe média baixa. Pernambuco e Piauí são os que mais se
destacam com maior número de romeiros.
E deixar de ver que a todo o momento tinha certa economia do local, dando uma
percepção a cidade e o crescimento local e que os bispos e a igreja católica tem um olhar
mais denso, com o que está nova peregrinação tava fazendo.
E com este progresso e de uma historia decorrente ao numero de romeiro que se
estender, na cidade do Juazeiro do Norte, neste momento se faz com que o silêncio de
alguns esteja a torna ai um crescimento do contexto brasileiro para o com catolicismos
em que a hierarquia da diocese, vem se acabando com o funcionamento de tantos
romeiros. Dai a visão desta romaria seria um ponto estatístico de uma evolução
constitucional deste lugar fazendo que o ensinar, deles muitas vezes era frustrante só que
quando se buscar os pontos desta comunidade suas práticas de católicos.
Neste período foi de mudanças em que a virtude, de várias seqüências que existia
os depoimentos, que se era os relatores que sobre tudo existia o conhecimento da historia
padrinho Cícero Romão dos interesses que as beatas e o povo sempre acreditavam em
Deus e depois do padre Cícero, em que neste momento se estendia com a santíssima
santidade mais mesmo assim existia as duvida que o “padim “ era um homem de grande
santidade.
Fonte: Fonte: COSTA L. 23 de novembro, 2014.
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De acordo com (CAVA, 1970) o fanatismo religioso tornou-se uma importante
força politica e econômica do Cariri cearense, atraindo os olhares do Estado para essa
região. Vários projetos são direcionados para o desenvolvimento turístico do Cariri
cearense, uma vez que o turismo vem se configurando como um importante setor
econômico. Pois de acordo com Alves (2010) “o turismo assegura uma distribuição mais
justa de benefícios e custos, além de gerar empregos diretos e indiretos em outros setores
de suportes e de gestão de recursos.”
SOUZA (2000) caracteriza o turismo religioso sendo:
A ida a locais que possuam conotação fortemente religiosa: visita às igrejas e
santuários seja por peregrinação, romarias e congressos eucarísticos. É o
conjunto de atividades com utilização de visitas a receptivos que expressam
sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou
pessoas vinculadas às religiões. (SOUZA, 2000. P.150)
Criam-se cada vez mais mercadorias que são estratégias e políticas, como no
caso do espaço, que se torna uma mercadoria manipulável (CARLOS, pg. 174, 1996).
Havendo a existência de vários espaços, que se fragmentam de acordo com o seu uso e
ocupação, encaixando-se dentro desta perspectiva a atividade turística. Segundo Carlos
(1996):
O turismo apresenta a conquista de uma importante parcela do espaço que se
transforma em mercadoria (e que entra no circuito da troca), tornando-se um
novo e rentável ramo da atividade produtiva, sob essa determinação.
(CARLOS, 1996. Pag. 179.)
Fonte: Fonte: COSTA L. 23 de janeiro, 2015.
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Dessa forma, cria-se uma simbologia. Recorrendo a Corrêa (2007), em relação
à simbologia o autor destaca:
As formas simbólicas estão, em muitos casos, associadas a eventos e
personagens cujos significados extrapolam a escala local, regional ou nacional,
podendo referir-se a eventos e personagens de expressão internacional e global.
(CORRÊA, 2007, p. 14).
Refletindo diretamente nas relações territoriais estabelecidas e em construção. A
partir das romarias, se estabelece e se cria novos vínculos de relações espirituais,
econômicas, sociais e culturais.
Fato que atualmente estamos presenciando em Juazeiro do Norte, um roteiro da
fé, quando os romeiros chegam, já existe todo um percurso a ser traçado, com visitas a
igrejas, santuários, e a centros comerciais, com vendas de lembrancinhas e imagens
religiosas, movimentando assim, também o setor econômico, ou seja, o comercio local.
A atividade do turismo religioso vem viabilizando o crescimento da cidade de
Juazeiro do Norte, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e principalmente
que o turismo se desenvolva, mas de forma planejada, bem administrado, respeitando os
recursos humanos, culturais e principalmente ambientais como define a Lei
Orgânica Municipal. O necessário é que o turismo realmente seja uma atividade
que proporcione a sua população emprego com boa remuneração, não desperdício da mão
de obra local, valorização do patrimônio cultural, religioso e ambiental atingindo
aos anseios da população e de toda sociedade.
Notamos isso quando observamos a grande variedade de datas para as romarias,
o município está organizado em torno dos eventos mais importantes, tais como as
romarias de Nossa Senhora das Candeias (Fevereiro), Aniversario de falecimento de
Padre Cícero (20 de Julho), Nossa Senhora das Dores (15 de setembro) e dia de finados
(02 de Novembro), percebe-se, portanto que as romarias são presentes em Juazeiro do
Norte a maior parte do ano.
Sendo assim, notamos contradições nesse processo de desenvolvimento de
Juazeiro, pois recursos são destinados, no entanto, são concentrados nas áreas turísticas,
centrais. Ficando as regiões mais periféricas excluídas desse processo de
desenvolvimento econômico, havendo, o surgimento de vários “juazeiros do Norte”.
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12%3%
23%
2%
3%
49%
4% 2% 2% Barbalha
Caririaçu
Crato
Farias Brito
Jardim
Juazeiro do Norte
Missão Velha
Nova Olinda
Santana do Cariri
Fonte: Dionizia de Melo¹. Julho, 2014.
Juazeiro do Norte do turismo religioso, o do comércio, o da indústria de calçados,
entre outros. Em que por meio a ser transforma um ritual do comércio do Juazeiro do
Norte, visando sua comercialização em que crenças se estabelecerem de um fluxo,
iminente a está cidade fazendo – se presente a cidade crescendo com milagres e suas
crenças em que a cada dia 20 existisse um poderoso estilo sagrado ao padre Cícero
Romão, das suas promessas.
Neste período houve um crescimento da vida do padre Cícero para o juazeiro do
norte a sua forma de vivencia que e a forma do artesão faz – se desenvolver as suas
características, os habitantes do juazeiro do norte sempre causa medo ao cratense com a
sua grande religiosidade das novas crenças e seus milagres em que neste movimento,
existia muita época de translação peregrina da luta contra a política e certas oligarquias.
Juazeiro do Norte é a principal cidade da RMC, o seu PIB corresponde a quase
50% do PIB da região, como pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1: Participação dos municípios no PIB da RMC
Fonte: Criação própria a partir dos dados do IBGE (2010)
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1165066
5327
209414
831133
119193
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
Juazeiro do Norte
PIB Total
Agropecuária
Indústria
Serviço
Impostos
É o menor município em termos de extensão 249 Km², mas possui a maior
população, em 2009 esta era de 249.829 mil habitantes, seu PIB em 2007 foi de R$
1.165.066 tendo o setor de serviços e a indústrias com maior participação. (gráfico 2) Seu
PIB per capita foi de R$ 4.812. (IBGE, 2010)
Gráfico 1: PIB de Juazeiro do Norte em 2007.
Fonte: IBGE (2010)
Sua economia se baseia nos setores industriais e de serviços, na indústria se
destaca nos ramos calçadistas, sendo este o maior pólo Norte/Nordeste e o terceiro do
país, têxtil, folheados, artesanato, bebidas, máquinas, construção civil e metalurgia.
No setor de serviços o comércio se destaca como o principal ramo, se destacando
tanto no varejo quanto no atacado, tornando esta cidade um centro regional, além do
turismo religioso, por conta das romarias que acontecem por todo o ano e pólo científico,
no que concerne ao número de cursos superiores existentes na cidade. (IBGE, 2010).
6. Resultado
A partir desta pesquisa e da análise do desenvolvimento turístico de Juazeiro do
Norte evidencia-se o desenvolvimento da atividade turística como um meio econômico
centrado na figura religiosa de Padre Cícero.
Impulsionada pelas romarias, que são constantes durante quase todo o ano, a
economia local vem se fortalecendo em torno deste turismo religioso, que gera emprego,
movimenta o comércio e em alguns casos com uma valorização de patrimônios culturais.
É evidente que projetos industriais implantados na região do cariri, em especial
na cidade de Juazeiro do Norte, onde teve um significativo crescimento em relação a sua
economia, transformam a dinâmico sócio espacial desta região.
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Ao enfocar a sustentabilidade para o turismo religioso, buscamos subsídios
em literatura específica para enfatizar a sua importância, para a realização da
atividade turística bem planejada e com visão de longo prazo, não apenas uma
atividade imediatista, mas que tenha perspectivas, metas propostas para a realização
de suas atividades, como propõe o próprio conceito de desenvolvimento sustentável.
A partir dos resultados alcançados nas pesquisas, na análise do desenvolvimento
do turismo religioso em Juazeiro do Norte, evidencia - se a conotação dessa atividade
desde a influência diretamente na economia local, à qual é centrada no turismo,
na pessoa do Padre Cícero Romão.
Impulsionado pelo fluxo de romeiros, estes visitam Juazeiro duas vezes ou
até mesmo durante as três romarias do ano. São eles que deixam boa parte de
capital na cidade, distribuído em vários setores durante sua estadia.
Assim, com esse desenvolvimento, impactos sociais também podem ser
verificados, onde estes espaços tornam mais competitivos e pouco acessíveis à população
mais carente. O esforço de governos locais em qualificar, promover e atrair novos
negócios para a região metropolitana do Cariri, atuando quase como um poder autônomo,
é um processo perverso, uma vez que é desigual, não beneficia toda a população, pois
podemos perceber claramente as divergências entre a infraestrutura dos bairros centrais,
aqueles onde o fluxo de pessoas, de romeiros é maior, entre os bairros mais periféricos.
Pelo contrário, da fé a cada momento o surgimento de outros fatos começa
aparecer para que neste caso todos possam ver que realmente há sentido tantas histórias
ditas e realizadas com o milagre que a muitos acreditam. Por tanto, tudo isso foi de um
grande crescimento ao meio deste lugar fazendo com que as pessoas cada vez mais sigam
esta fé oculta, observou as diversas transformações, em que os estudos de longo prazos
que se possa existe uma ligação intima com a historia, as romarias foram vinculadas
modos simbólicos da peregrinações de vários formas que a igreja se pensava, da pensava
da apropriação deste método formados, por longos anos.
7. Referencias Bibliográfica
ALVES, Cícera Cecília Esmeraldo. Um olhar no desenvolvimento do turismo
religioso em Juazeiro do Norte – Ceará – Brasil: um enfoque na sustentabilidade. VI seminário Latino Americano de geografia física. Universidade de Coimbra, Maio de
2010. Disponível em: <http://www.uc.pt> acesso em: 11 de setembro de 2014.
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BARRETO, Francisco Murilo de Sá, Testemunho, Serviço e Fidelidade. Juazeiro do
Norte: Paróquia de Nossa Senhora das Dores, 1998.
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CORRÊA, Roberto Lobato. Formas Simbólicas e Espaço – algumas considerações.
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5709.
GLOBO 90. Conferência Turismo Sustentável. Vancouver, Canadá, 1992.
GUIMARÃES, Therezinha Stella; DUMOULIN, Anne. O Padre Cícero por Ele
Mesmo. Petrópolis: Vozes, 1983.
IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuário Estatístico do Brasil.
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IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Regiões de Influência, 2007. Rio
de Janeiro, 2010.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Populacional 2010.
Disponível em: www.ibge.bov.br. Acesso em 12 de janeiro de 2011.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero Que Eu Conheci. Rio de Janeiro:
Olímpica Editora Ltda., 1969.
SOUZA, Arminda M. & CORRÊA, Marcus Vinícius M. Turismo – Conceitos,
Definições e Siglas. 2ª ed. Manaus: Editora Valer, 2000.
SWARBROOKE, John. Turismo Sustentável: Conceitos e Impacto Ambiental. Vol.
1. São Paulo: Aleph, 2000.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUAS RELAÇÕES COM A
SUSTENTABILIDADE
Francisco Adjedam Gomes Oliveira1
Resumo Problemas relacionados ao meio-ambiente gerados pela intervenção constante do homem
surgem a todo instante, no entanto, soluções para tais problemas necessitam de uma nova
forma de agir em sociedade que pode partir dela própria, a fim de tornar o ambiente em
que vive sustentável. Desta forma, este trabalho tem como objetivo principal estudar as
relações existentes entre a Educação Ambiental e Sustentabilidade, assim como, a
socialização destes conhecimentos, contribuindo para a educação ambiental em
sociedade. Para atingir tais objetivos será utilizada como metodologia de pesquisa uma
abordagem bibliográfica. Concluímos com base nos estudos realizados e reflexões que
para tornar um ambiente sustentável é necessário primeiramente, despertar nos cidadãos
inseridos neste meio uma visão crítica, torná-los mais ativos e participativos, na busca
por políticas públicas ambientais, que a escola tem papel fundamental na formação destes
cidadãos socialmente participativos e que políticas públicas ambientais existem, o que
falta é a disseminação e prática destas políticas. Assim, a educação ambiental tem relação
direta com a sustentabilidade, é com práticas educativas voltadas para a conservação que
se pode chegar a um ambiente mais agradável e benéfico, ou seja, um ambiente
sustentável.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Sustentabilidade. Sociedade.
1 Introdução
Problemas relacionados ao meio-ambiente gerados pela intervenção constante
do homem surgem a todo instante. A população mundial que em de acordo com
Worldometers (2015) está acima de 7,3 bilhões de pessoas, gera um consumismo
exacerbado e como conseqüência disso a degradação do meio-ambiente. Por este motivo
várias instituições estão cada vez mais empregando o termo sustentabilidade na
designação de suas ações.
Muito se estuda e pesquisa a fim de explicar e prever situações ambientais
geradas pelas questões sociais e econômicas. Problemas como o aquecimento global,
doenças, desequilíbrio no regime de chuvas, aumento de furacões, tornados, alagamentos,
secas, etc., que se desenvolvem a partir do uso intenso dos recursos naturais devido à
necessidade social de cada pessoa. Assim, é visível a busca da humanidade por
mecanismos que ajudem a reduzir o ritmo ou até mesmo reverter às ações que
prejudiquem o equilíbrio ambiental.
1 Graduado em Ciências Econômicas, Universidade Regional do Cariri – URCA, Brejo Santo/Brasil. E-
mail: [email protected]
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Sobre o uso do termo sustentabilidade e seu vínculo com as necessidades sociais
o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV – CES, 2008,
p.1) afirma que:
Esta necessidade deriva da percepção de que a sociedade não mais aceita que
externalidades negativas sejam lançadas sobre ela impunemente. Este cenário
mais complexo aponta para inevitabilidade da integração de princípios de
sustentabilidade na espinha dorsal das estratégias de negócio das companhias.
É no contexto de degradação permanente do meio ambiente, fruto das
necessidades crescentes do homem, que surge a educação ambiental e assume uma função
transformadora, na qual os indivíduos têm papel essencial para promover o
desenvolvimento sustentável.
De maniera geral o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades.
A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo Relatório Brundtland,
de 1987, pode-se perceber que tal conceito não diz respeito apenas ao impacto da
atividade econômica no meio ambiente, se refere principalmente às consequências dessa
relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura.
Atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico no
qual se apóia a idéia de desenvolvimento sustentável.
Pressupõe-se então que o conhecimento e prática da educação ambiental de
maneira eficiente servem para a melhoria não só na qualidade de vida e no bem-estar da
sociedade, mais também para contribuir para um ambiente sustentável.
Desta forma, o presente trabalho tem os objetivos de estudar as relações
existentes entre a Educação Ambiental e Sustentabilidade através de uma abordagem
bibliográfica, assim como, a socialização destes conhecimentos, contribuindo para a
educação ambiental em sociedade.
Esse trabalho está dividido em 5 (cinco) seções. A primeira seção trata da parte
introdutória do trabalho, onde é evidenciada a contextualização e objetivos a serem
atingidos.
Na segunda seção é iniciado o referencial teórico, abordando a sustentabilidade
de maneira ampla desde a sua origem que se deu com o questionamento sobre o
crescimento populacional, passando pela sua evolução ao longo do tempo e finalizando
com um aprofundamento sobre as práticas sustentáveis mais utilizadas atualmente.
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A terceira seção discorre por literaturas conceituadas sobre a educação ambiental
e as relações que esta mantém com sustentabilidade, pois se sabe que em uma sociedade
consumista é inevitável e indispensável à associação com a educação voltada para a
preservação do meio ambiente.
Na seção seguinte, abordam-se as principais políticas públicas voltadas a
educação ambiental existentes no Brasil, fazendo uma análise por estado das principais
prioridades de acordo com as Secretarias Estaduais de Educação.
Na quinta seção são apresentadas as considerações finais, sintetizando o
levantamento realizado. Aqui fica evidenciado que a pesquisa possui limitações às quais
se caracterizam pela abordagem apenas bibliográfica, ou seja, que não possibilita
experimentação ou quantificação de dados. No entanto, espera-se que como houve a
difusão de várias definições e características de sustentabilidade e educação ambiental,
seja possível a utilização deste para trabalhos futuros.
2 Sustentabilidade: conceitos e ações
Conforme Dalf (2010), a sustentabilidade é um termo usado para definir ações e
atividades humanas que visam suprir às necessidades atuais dos seres humanos, sem
comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente
relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente,
usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.
Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável.
Ao longo do tempo o termo sustentabilidade sofreu um grande desgaste, pois se
tornou a própria expressão do "absurdo lógico": desenvolvimento e sustentabilidade
seriam logicamente incompatíveis (ALTVATER, 1995, p. 305).
Podemos explicar tal incompatibilidade se levarmos em consideração o conceito
de sustentabilidade e a explicação de Vasconcelos e Garcia (1998) sobre o que é
desenvolvimento:
O desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento
econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou seja, deve
incluir “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos
diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-
estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de
saúde, alimentação, educação e moradia)” (VASCONCELLOS e GARCIA,
1998, p. 205).
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Ou seja, se desenvolvimento é melhoramento das condições sociais, para
Altvater é ilógico que se possa conseguir este desenvolvimento e ser sustentável. E ele
tem uma parcela de razão. Para que haja mais riqueza, emprego, igualdade social, mais
saúde, alimentos e moradia, é necessário construir mais indústrias, hospitais, escolas e
residências e, ai entra a questão: como fazer isto sem utilização dos recursos naturais?
Atualmente está muito mais difícil buscar o desenvolvimento sendo
verdadeiramente sustentável, ou seja, sem agredir o meio ambiente.
Neste contexto, surgem os questionamentos sobre desenvolvimento e
sustentabilidade.
Segundo Benfica (2012) o conceito de desenvolvimento sustentável foi utilizado
pela primeira vez na Assembléia Geral das Nações Unidas em 1979, indicando que o
desenvolvimento poderia ser um processo integral que inclui dimensões culturais, éticas,
políticas, sociais, ambientais, e não só econômicas. Esse conceito foi disseminado
mundialmente pelos relatórios do Worldwatch Institute na década de 80 e particularmente
pelo relatório “Nosso Futuro Comum”, produzido pela Comissão das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987.
Se considerarmos a sustentabilidade na perspectiva de muitos autores atuais,
onde sustentabilidade é mais do que um qualificativo do desenvolvimento, ou seja, uma
perspectiva que vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um
desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente, implicando em integração harmônica
consigo mesmo, com o outro e com o ambiente, podemos fecundar a
compreensão da educação com o novo conceito de sustentabilidade (BENFICA, 2012, p.
3)
Segue então a cronologia sintética de Gadotti que nos dá uma idéia histórica da
relação sustentabilidade e educação:
“A Unesco patrocinou em 1997 na Tessalônica (Grécia) uma conferência
internacional sobre ‘meio ambiente e sociedade’, centrada no tema da
educação. A Conferência da Tessalônica seguiu os passos das reuniões
anteriores da Unesco - Tbilisi (1977), Jomtien (1990), Toronto (1992),
Istambul (1993) - e a série de conferências das Nações Unidas iniciada em
1992 com a Rio-92, seguida pelas de 1994 no Cairo (população), em 1995em
Copenhague (desenvolvimento social) e Beijing (sobre a mulher) e de1996 em
Istambul (assentamentos humanos). Três anos antes, a Unesco havia lançado
a iniciativa internacional sobre ‘educação para um futuro sustentável’,
reconhecendo que a educação era a ‘chave’ do desenvolvimento sustentável e
autônomo.” (GADOTTI, 2000, p. 87) Elmar Aitvater considera a teoria do “desenvolvimento sustentável” do Relatório
Brundtland – “um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem colocar
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em risco a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras” – uma
“fórmula vazia” (1995, p. 282).
Segundo ele o sonho de um capitalismo ecológico é insustentável. O conceito de
“desenvolvimento” não é um conceito neutro. Ele tem um contexto bem preciso dentro
de uma ideologia do progresso, que supõe uma concepção de história, de economia, de
sociedade e do próprio ser humano. O conceito foi utilizado numa visão colonizadora,
durante muitos anos, na qual os países do globo foram divididos entre “desenvolvidos”,
“em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”, remetendo-se sempre a um padrão de
industrialização e de consumo. Ou seja, existe uma incompatibilidade de princípios entre
sustentabilidade e capitalismo.
Quanto às práticas ou ações sustentáveis, existem dois instrumentos importantes
para a implementação de “ações sustentáveis” são eles a Agenda 212 e a Carta da Terra3.
Eles foram gerados na ECO 92 e a Agenda 21 foi subscrita por 179 países. A expressão
“Agenda” tem o sentido de planejar a participação de toda a sociedade civil, setor privado
e governo, convocando-os para participar e assumir compromissos que visem solucionar
problemas a curto, médio e longo prazo. A Agenda 21 prevê a implantação de uma
Agenda 21 Nacional (em andamento), Estadual e municipal, além disso, pode ser aplicada
em escolas, empresas, bairros e comunidades sendo um ótimo instrumento para o
enraizamento de práticas sustentáveis onde vivemos, estudamos e trabalhamos
(ENLAZADOR, 2007, p.4).
Enlazador (2007), em seu trabalho Almanaque para práticas sustentáveis,
escrito com a participação e colaboração de muitas organizações, autores anônimos,
donas de casa e sugestões de órgãos ambientais do poder público, enumera várias ações,
que se aplicadas, contribuem para uma vida mais sustentável. As práticas sustentáveis
começam no cotidiano, são dicas de manejo sustentável de lâmpadas, papéis, reciclagem
do lixo, aparelhos elétricos e produtos descartáveis.
Depois, são dadas sugestões para a substituição de produtos de limpeza que na
maioria não são biodegradáveis e contaminam o solo, água e ar, por receitas caseiras,
econômicas e sustentáveis para o planeta e para a saúde humana. Para adequar e
racionalizar o consumo de combustível e conseqüentemente emitir menos gases
2 instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases
geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. 3 uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa,
sustentável e pacífica.
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poluentes, cuidados que se deve ter com os alimentos, faz um alerta e demonstra
alternativas para um consumo racional de produtos destinados aos bebês, uso consciente
da água e políticas públicas para minimizar a poluição das águas, entre outras.
Existem ainda práticas de incentivo a desenvolvimento de produtos voltados à
sustentabilidade que alguns institutos realizam.
É o caso das práticas sustentáveis incentivadas através de concursos
patrocinados pela Confederação Nacional da Indústria – CNI (Prêmio Gestão do Design
Ecológico: iniciativas que estimulem processos ambientalmente sustentáveis) e da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP (Prêmio Ecodesign - estimula
o uso de princípios ecológicos e tecnologias limpas no design de produtos, de embalagens
e gráfico, como uma forma de competividade. (FIESP, 2003; CNI, 2003).
No entanto, Chaves (2002) diz que na sua maioria, os designers brasileiros,
desenvolvem seus projetos dentro do paradigma do custo (apenas econômico e não
ambiental), da estética e das tendências do mercado. Conforme demonstrou a pesquisa
feita com 12 dos designers mais atuantes no mercado moveleiro do Estado do Paraná e
Santa Catarina, na sua maioria, estes não compreendem o termo sustentabilidade,
apresentando definições pouco aprofundadas e confusas, sem a noção que este conceito
ultrapassa pressupostos já definidos no saber fazer ecodesign. A pesquisa também
demonstra que mesmo que o conceito estivesse incorporado, estes profissionais declaram-
se limitados para tomarem decisões diante das regras do mercado que impõem posturas
como a de seguir tendências e reduzir os custos de produção.
3 A educação ambiental como precursora da sustentabilidade
A partir da Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, em Estocolmo (1972), verificou-se que o planeta vive uma emergência
socioambiental, que aponta para a necessidade de compatibilizar as atividades humanas
e o crescimento econômico com a manutenção ecossistêmica (VEIGA, 2007). Surgem
assim, inúmeras reflexões que colocam em tela as formas de relações sociais, meio
ambiente e produção.
Mesmo diante de tantas evidências da ação do homem e suas conseqüências
sobre o meio ambiente, ainda é pequeno o número de ações para implementação de
políticas públicas, projetos e diretrizes que fomentem a consciência ambiental. Um
grande avanço que precisa ser incorporado pelos estados e municípios foi a Lei que
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instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental. O artigo 1º da Lei nº 9.795/99
define o conceito de Educação Ambiental:
“Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.” (LEI 9.795, 1999, p. 1)
A educação ambiental na escola constitui um caminho para promover mudanças
necessárias nas práticas socioeconômicas, ilustrando, certos hábitos e visões individuais
ou coletivos, independentemente das culturas, valores e hábitos existentes nos diversos
países do planeta (BRASIL, 2007; TRAJBER; MENDONÇA, 2006; UNESCO, 2003).
Desta forma, uma importante estratégia necessária constitui trabalhar
interdisciplinarmente novas propostas e políticas educacionais, de modo a formar
cidadãos mais responsáveis e conscientes, na busca de soluções para as questões da
degradação, preservação e sustentabilidade ambientais. Tais ações contribuirão para a
garantia de vida das futuras gerações da fauna e flora planetárias (SANTOS; JÚNIOR,
2013).
Sabe-se que “a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do
planeta, mas certamente é condição necessária para tanto” Parâmetros Curriculares
Nacionais (2001).
Neste contexto, Pelicioni (1998) diz que: “a escola, na medida em que possibilita
a realização de um trabalho de intervenção sistemático, planejado e controlado, constitui
um espaço privilegiado para o desenvolvimento da Educação Ambiental.”
Cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função
transformadora, na qual a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo
essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento
sustentável (JACOBI, 2003, p.193).
Para tanto é preciso que se criem todas as condições para facilitar o processo,
suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores e tornando transparentes os
procedimentos por meio de práticas centradas na educação ambiental que garantam os
meios de criar novos estilos de vida e promovam uma consciência ética que questione o
atual modelo de desenvolvimento marcada pelo caráter predatório e pelo reforço das
desigualdades socioambientais (JACOBI, 2003, p.193).
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Segundo Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas
pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento,
desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos
educandos.
Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são,
de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança,
respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o
estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque
interdisciplinar que resgate e construa saberes.
Os temas predominantes nas atividades feitas em relação à educação ambiental
são lixo, proteção do verde, uso e degradação dos mananciais, ações para conscientizar a
população em relação à poluição do ar. A educação ambiental que tem sido desenvolvida
no país é muito diversa, e a presença dos órgãos governamentais como articuladores,
coordenadores e promotores de ações é ainda muito restrita (JACOB, 2003, p.198).
A educação ambiental transformadora, articulada com a mudança social,
transforma a pedagogia em uma prática política, como sugere Giroux (2003), com uma
cooperação entre educadores/as e outros sujeitos culturais engajados na lutas sociais e
ambientais, criando espaços críticos de aprendizagem dentro e fora da escola, buscando
a união com movimentos sociais organizados. Assim, as mudanças não ocorrerão de cima
para baixo, mas com a participação direta de alunos/as, professores/as, comunidade, meio
ambiente, numa dinâmica complexa (TRISTÃO, 2007).
No âmbito de participação social, a educação ambiental na modernidade
reflexiva também pode favorecer uma “vida democrática de alta intensidade” (SANTOS,
2003), promovendo espaços de (inter)locução e participação – como forma de ampliar a
democracia – e de intervenção sócio-política, para enfrentamento coletivo da crise
ambiental, como também com o intuito de prevenir, atenuar ou eliminar riscos.
Para Mota (2004) quando gestores públicos compreendem a importância desses
espaços dialógicos e participativos, os princípios da legitimidade, eficiência e cidadania
adquirem visibilidade na governança democrática.
De acordo com o Barbosa (2008), os princípios e o plano de ação propostos pelo
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
apontam para esse novo paradigma e uma outra governança, pautada numa ética e estilos
de vida que conduzam à construção de “sociedades sustentáveis”, a partir de uma
educação voltada para a cidadania ambiental e a responsabilidade global.
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A utilização da expressão “sociedades sustentáveis”, ao invés da difundida idéia
de desenvolvimento sustentável, supõe uma alteração substantiva do modo de conceber
as formas de produção e de consumo que geram desigualdades sociais e acentuam a
pobreza. Essa elaboração fortalece a perspectiva e as práticas de uma educação ambiental
popular, participativa, crítica, transformadora e emancipatória, como também vem
influenciando largamente a elaboração de políticas públicas socioambientais no Brasil.
Assim, o meio ambiente é pensado como espaço relacional. E o ser humano nele
presente é tido como agente que interage no interior de uma complexa teia de relações e
significados.
4 Políticas públicas e ações para a sustentabilidade
Quanto à participação do governo na implantação de uma política de educação
ambiental nos espaços educacionais, verifica-se que a Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA) – instituída pela Lei nº 9.795/99 – e seu decreto de regulamentação
em 2002 têm contribuído para acelerar o processo de institucionalização da Educação
Ambiental no país, cujo marco inicial, pelo menos para o ensino formal, foi a Lei nº
6.938/81, a qual, ao instituir a Política Nacional de Meio Ambiente, determinou a inclusão
da EA em todos os níveis de ensino 4.
O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que tem a missão de
contribuir com a educação para a sustentabilidade, para uma sociedade educada
ambientalmente, após a regulamentação da PNEA em 2002, vem fortalecendo o Sistema
Nacional de Meio Ambiente com a implementação desta política em regime de
colaboração com os entes da Federação.
O MEC, por meio da Coordenação-Geral de Educação Ambiental (CGEA), e o
Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Educação Ambiental
(DEA), coordenam a PNEA e o ProNEA. Mas, em razão da transversalidade da educação
ambiental, outras instituições públicas federais (ministérios, autarquias, estatais etc.) vêm
desenvolvendo ações neste campo (BARBOSA, 2008, p.9).
O governo sabe que quanto mais pessoas envolvidas e engajadas no
enraizamento de educação ambiental as chances de sucesso serão bem maiores. E no
sentido de gestão compartilhada entre os sistemas de ensino e de meio ambiente, criou-se
4 A criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973, ligada à Presidência da República representou
o começo da institucionalização da EA no âmbito do governo federal. A EA é proposta como política pública a partir
da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. A partir de então houve pressões internacionais para a introdução de
políticas públicas ambientais na agenda de governo dos países.
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os chamados Coletivos Educadores que têm o papel de articular as instituições que já
atuam com processos formativos no município, com o intuito de desenvolver um processo
continuado de formação de educadores ambientais e auxiliar na implementação de
políticas públicas e as Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-Vidas)
que por sua vez, estimulam o diálogo escola/comunidade com foco na educação
ambiental, articulando saberes e ações que a modernidade, com suas instituições
disciplinares, fragmentou e dissociou.
Há um entendimento de que as políticas públicas de educação ambiental devem
induzir à produção de ações transformadoras que contribuam na prevenção e
enfrentamento dos riscos globais, apoiadas numa governança democrática mais intensa,
que estimule a reflexividade e a cidadania ambiental (BARBOSA, 2008, p.14).
Percebe-se que são muitos os esforços governamentais para instigar uma adesão
da sociedade à questão ambiental através da educação. E neste cenário, Luciano Chagas
Barbosa em sua pesquisa sobre Políticas Públicas de Educação Ambiental, realizada no
ano de 2008 com as Secretarias de Educação dos Estados Brasileiros, apresenta os
principais desafios das SEDUCs no que se refere às políticas estaduais de educação
ambiental e agrupa de modo hierárquico, as prioridades informadas por gestores e
técnicos responsáveis pela coordenação da EA nos estados e no Distrito Federal. As
prioridades apresentadas são:
Fonte: Barbosa (2008, p. 16)
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Destacam-se nesta pesquisa a formação continuada dos professores em educação
ambiental que é prioritária para 23 estados, ou seja, 85% (oitenta e oito por cento) das
UFs e a inserção curricular qualificada e fortalecimento de Com-Vidas, que obtiveram,
respectivamente, 17 (63%) e 10 (37%) das indicações de UFs entre as três principais
prioridades identificadas.
Barbosa faz ainda uma análise dos desafios da educação ambiental nos sistemas
estaduais de ensino de acordo com a seqüência prioritária de cada UF, de modo a
especificar as três maiores prioridades identificadas pelas SEDUCs relacionadas às
atividades e projetos no ensino. É o que se pode observar abaixo:
Fonte: Barbosa (2008, p. 17)
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Fazendo uma análise especificamente do estado do Ceará, percebe-se que as
prioridades em ordem de importância são:
1. Inserção curricular qualificada, estimulando a abordagem da EA no projeto
político-pedagógico das escolas;
2. Formação continuada dos professores de educação ambiental;
3. Monitoramento e avaliação das ações e projetos de EA.
5 Considerações finais
Contudo, conclui-se que é necessário colocar o direito a um ambiente saudável
no mesmo nível de direito ao acesso a renda, saúde, habitação, educação e lazer.
A globalização estimula o super-consumo e gera pressões sobre os recursos
naturais sem contabilizar os custos sociais e ambientais da produção.
Maiores incentivos a pesquisas científicas podem transformar elementos da
biodiversidade em produtos de mercado, em áreas como de medicamentos, alimentos,
cosméticos, fertilizantes, pesticidas e solventes naturais.
A parceria entre sociedade civil, poder público e setores privados é a tônica
principal para o enriquecimento e materialização dos debates. Todos podem e devem se
envolver com a temática socioambiental. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é
um bem de uso comum do povo e fundamental para a sadia qualidade de vida. Assim é
válido o artigo 225 da nossa Constituição Federal, citando o poder público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
É sabido que a Educação Ambiental, quando bem aplicada, leva a muitas e
perceptíveis mudanças no comportamento pessoal, atividades e valores de cidadania que
trazem mudanças de ordem sociais.
Isso se concretiza pela adoção de uma abordagem metodológica interdisciplinar,
da complexidade do conhecimento baseado em valores e práticas sustentáveis,
indispensáveis para estimular o interesse e o engajamento de cidadãos e cidadãs na ação
e na responsabilização.
A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente
aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com
consciência local e planetária.
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O papel dos professores (as) é essencial para impulsionar as transformações de
uma educação que assume um compromisso com a formação de valores de
sustentabilidade.
A educação ambiental é essencial para despertar nas pessoas a responsabilidade
que cada um deve ter na construção de uma sociedade mais eqüitativa e ambientalmente
sustentável.
As políticas públicas de educação ambiental existem e são muitas as pessoas e
entidades envolvidas. Os principais desafios destas políticas públicas de educação
ambiental no Brasil identificados pelos gestores estaduais e os compromissos assumidos
pelo Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, em regime de
colaboração com os entes federados, apontam para uma proposta político-pedagógica de
educação para a sustentabilidade capaz de formar pessoas e coletividades responsáveis
pela melhoria da qualidade de vida e do ambiente em que vivem.
Todo o esforço realizado para atingir os objetivos a cerca dos desafios e
compromissos têm produzido políticas públicas que estimulam a participação cidadã, a
solidariedade no sentido da prevenção e enfrentamento dos riscos globais do mundo
contemporâneo e a valorização da diversidade biológica e cultural.
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Educação ambiental no ensino profissional: Impactos na atuação profissional
Luanna Pereira de Morais1
Maria Aniele da Silva2
Lorena Pereira de Morais3
Carla Herica Linhares Figueiredo Alencar4
Resumo
O presente artigo tem como objetivo identificar como os alunos do ensino
profissionalizante, participantes dos cursos Assistente de Recursos Humanos e do
Programa Jovem Aprendiz compreendem a relação da educação ambiental com a
formação profissional, e o impacto no mercado de trabalho com o aprofundamento que
estes terão do meio ambiente associado com questões como o consumismo, desperdício
e de como usar de forma consciente os recursos naturais. A metodologia se valeu de
revisão da literatura a fim de recorrer a autores para o melhor entendimento do tema, com
pesquisa qualitativa de caráter descritivo, para a obtenção dos dados utilizou-se de
questionário. Os resultados mostram que os atores envolvidos entendem a importância e
a necessidade do estudo da educação ambiental e a influência nas empresas para sua
melhor atuação profissional, seja qual segmento venha a optar.
Palavras-chave: Educação ambiental. Formação profissional. Mercado de trabalho.
Abstract
This paper aims to identify how students of vocational training , participants in the
Human Resources Assistant courses and Youth Apprentice Program understand the
relationship of environmental education with vocational training, and the impact on the
labor market with the deepening they will the environment associated with issues like
consumerism , waste and how to use consciously the natural resources. The methodology
drew upon review of the literature in order to appeal to authors for better understanding
of the theme , with descriptive qualitative research , to obtain the data we used
questionnaire. The results show that those involved understand the importance and the
need to study the environmental education and the influence on companies to their best
professional practice , regardless of segment will choose .
Key words: Environmental education. Professional qualification. Labor market.
1. Introdução
A questão ambiental é uma problemática que passou a fazer parte do dia a dia das
empresas, governo e sociedade que tem uma parcela para contribuir no uso consciente
dos recursos naturais.
1 Graduanda em Ciências Econômicas, Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato/Brasil e email:
2 Graduanda em Ciências Econômicas, Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato/Brasil e email:
3 Graduanda em Geografia, Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato/Brasil e email:
4 Docente,Universidade Estadual Vale do Acarau- UVA, Crato/Brasil e email: [email protected]
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Para Marcatto, o atual modelo de desenvolvimento que é desigual, excludente e
esgotante dos recursos naturais, está levando à produção de níveis alarmantes de poluição
do solo, ar e água, além da destruição da biodiversidade animal e vegetal e ao rápido
esgotamento das reservas minerais e dos demais recursos não renováveis em praticamente
todo planeta (2002).
Assim, formar indivíduos que tenham bases de ensino e conhecimento nas
questões ambientais faz toda a diferença, diante da sociedade e do mercado de trabalho
que deve contribuir para diminuir a degradação ambiental causada pelos
empreendimentos.
O objetivo desta pesquisa é correlacionar a importância da educação ambiental
na formação de profissionais conscientes nas diferentes áreas de atuação. E
especificamente objetivou-se identificar o conhecimento acerca do meio ambiente, da
educação ambiental, do consumismo, do desperdício e o uso dos recursos naturais.
Na pesquisa, foi trabalhado com metodologias qualitativas de cunho descritivas
e investigação bibliográfica.
O trabalho está divido em três seções, além desta introdução e conclusão. A
seção seguinte apresenta a revisão de literatura pertinente ao objetivo do trabalho. Na
segunda seção são apresentados os procedimentos metodológicos. A última seção
apresenta, a discussão sobre os resultados.
2. Revisão de literatura
A degradação ambiental tornou-se um grande problema devido ao uso excessivo
dos recursos naturais, sendo estes, o aumento da utilização do carvão nas máquinas e nos
transportes, a grande retirada de matérias primas para a fabricação dos produtos; o êxodo
rural gerou o aumento desordenado nas cidades e também o crescimento populacional
que ampliou a quantidade de resíduos sólidos que até então gerados devido ao consumo
dessa nova população que passou a ser formada.
As autoridades passaram a atentar-se para os problemas ambientais, desde o
relatório Nosso Futuro Comum, em 1987, desenvolvido na Comissão Brundtland,
acordos e conferências vêm sendo realizadas, na busca de amenizar ou extinguir
problemas causados pela ação do homem, pautado no desenvolvimento sustentável.
“Garantindo as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de gerações
futuras também o fazerem” (VEIGA, P. 196, 2010).
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Diante disso, na atualidade são verificados os mesmos problemas estruturais que
segundo Manfrinato, “situações de extrema desigualdade e exclusão social podem ser
observadas na maioria das cidades onde há falta de infraestrutura básica, transporte
público e onde se nota uma privatização elitista de meios naturais” (P.20, 2006).
A revolução industrial foi um processo que aconteceu na Europa, sendo a
Inglaterra a precursora, onde o trabalho artesanal foi substituído pelo assalariado e a
utilização de máquinas no processo produtivo. Diante dessas mudanças o trabalhador e o
meio ambiente passaram a ser explorados.
De acordo com Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável
preparada na Comissão da Câmara do Comercio Internacional, em 10 de abril de 1991,
com o objetivo de ajudar a melhor às ações das empresas com relação ao meio ambiente,
com a ligação do desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente.
Assim segundo Veiga, “as sociedades industriais estão entrando em uma nova fase de sua
evolução” ( P.208, 2010)
De acordo com a Lei nº 9394, de 20/12/1996 no Art. 1º define a educação como
aquela que “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.
Segundo o Decreto 5.154 de 23 de julho de 2004, no Art. 1º “A educação
profissional, regida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”, observadas as
diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, será
desenvolvida por meio de cursos e programas de: I - qualificação profissional, inclusive
formação inicial e continuada de trabalhadores; II - educação profissional técnica de nível
médio; e III - educação profissional tecnológica de graduação e de pós-graduação.
O processo de educação profissional tem ligação direta com os métodos de
gestão que são o taylorista/fordista e toyotismo que foram definidos em diferentes fases
da economia e desta forma influenciaram o ensino dos trabalhadores, mas essas
transformações na educação continuam até os dias atuais com focos em novos contextos
que foram inseridos na sociedade.
Com a proposta de preparar trabalhadores mais especializados deu
inicio em 1994 com a reforma Capanema que regulamentou os cursos
técnicos profissionalizantes e criação do sistema S que é uma instituição
privada formado por de escolas como o SENAI e SENAC que são
destinadas a formação profissionalizante em larga escala da população.
(BATISTA E MÜLLER et al., pag.79, 2013).
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Neste contexto, o sistema de ensino passou por constantes transformação como
foi explanado anteriormente, com isso, o debate atual é como a educação ambiental deve
ser introduzido nos módulos de ensino para que influencie o trabalhador nas empresas
para ser colocado em prática e esse venha perceber a importância da responsabilidade
socioambiental para a sobrevivência das futuras gerações dos recursos naturais e que
impactos devem ser evitados para conservação dos recurso naturais
O ensino profissionalizante tem papel fundamental na formação para o mercado
de trabalho que ao selecionar um nova mão de obra busca nele habilitadas para serem
acrescentadas e desenvolvidas no quadro de funcionários.
Na Lei nº 9795/1999 da Política Nacional de Educação Ambiental no Artigo 1º:
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.
Segundo Marcatto, a educação ambiental tem a função de uma das ferramentas
existentes de sensibilizar e capacitar a população diante dos problemas ambientais.
Assim, desenvolve técnicas e métodos que auxiliam na conscientização e na necessidade
de serem realizadas medidas efetivas de mudança dando-se maior atenção a essa
problemática (2002).
Na lei nº 10.097/2000, ampliada pelo Decreto Federal nº 5.598/2005, está
determinada que todas as empresas de médio e grande porte contratem um número de
aprendizes equivalente a um mínimo de 5% e um máximo de 15% do seu quadro de
funcionários cujas funções demandem formação profissional. Assim na lei, aprendiz é o
jovem que estuda e trabalha, recebendo, ao mesmo tempo, formação na profissão para a
qual está se capacitando.
O órgão de recursos humanos tem sua criação no século 20 com o
fortalecimento dos sindicatos que lutavam pela melhoria do ambiente de trabalho, assim
surge com a necessidade de organizar as situações negativas geradas pela revolução
industrial (MORALES, 2002).
Sendo uma área que influencia diretamente a eficácia dos resultados que
as empresas desejam alcançar, pois contribui para o desenvolvimento dos funcionários
dentro da empresa com a melhoria das relações interpessoais.
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Neste sentido, percebe-se o desempenho para a contribuição
socioambiental das empresas que buscam incluir os funcionários para ampliar e
disseminar as ações que serão realizadas e assim aumentar a visibilidade da sua
instituição.
A partir do contexto apresentado podem ser implantados meios de capacitação
na área de educação ambiental pautados na preservação e conservação ambiental na busca
de minimizar e extinguir problemas futuros.
A questão ambiental é um tema amplamente debatido em todos os campos
econômicos, sociais e até religiosos, por isso merece atenção especial, pois meio ambiente
e desenvolvimento econômico fazem parte do panorama da sociedade que atualmente e
pautada em uma economia de certa forma consciente e que deve pensar nas gerações
futuras.
Segundo o Movimento Empresarial pela Biodiversidade (meb), a
manutenção de um meio ambiente saudável e seguro são fundamentais
para não ocasionar a perda da biodiversidade gerando consequências
sobre a economia, pois a conservação assegura a continuação das
atividades humanas e com isso a geração de riquezas e o suprimento de
matérias primas, além de ter seu valor econômico reconhecido e
incorporarem o tema aos investimentos, produção e consumo por ser
fator essencial para a sustentabilidade em todos os países. (2010)
Ainda, de acordo com o meb (2010), tem conhecimento e reconhecem que as
empresas, a sociedade e o Estado têm responsabilidades compartilhadas pela conservação
dos biomas brasileiros e pela busca de oportunidades econômicas para a gestão
sustentável dos recursos naturais. Demonstrando que os mecanismos para formação de
mudanças dependem que todos compartilharem os mesmos desejos e nesse sentido o meio
se torna mais amplo para as empresas porem suas ações em práticas em um movimento
alicerçado com funcionários e mesmo os consumidores.
No entanto, para que esses novos processos sejam colocados em prática é
necessário uma transformação em todos os grupos sociais, e uma adaptação, visando
esquecer velhos hábitos e adquirir novos. Uma mudança constante, onde a educação
ambiental deverá englobar o homem e a natureza, sua responsabilidade e seu modo de
agir ética e ecologicamente.
3. Metodologia
O presente estudo foi realizado com fontes bibliográficas e pesquisa de natureza
qualitativa com características descritivas. Para Gil, “têm como objetivo primordial a
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descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis” (p.42, 2002). Assim, foi aplicado um
questio-nário para essa abordagem.
No questionário foram feitas perguntas relacionados a idade, sexo, nível de
escolaridade e localização por bairro, é os temas fundamentais como o meio ambiente, a
educação ambiental, consumismo, desperdício e a contribuição no mercado de trabalho.
A Instituição que serviu para a realização da aplicação dos questionários tem
suas bases devido o processo de expansão das indústrias e a carência de mão de obra
qualificada, de acordo com Manfrinato, “diante de tal realidade e necessidade, o Governo
criou um ensino paralelo ao sistema oficial, organizado em convênio com as indústrias e
com a mediação da Confederação Nacional das Indústrias” (p.53, 2006).
Os cursos do sistema S, especificamente aqueles do SENAI e SENAC,
visavam possibilitar a maior qualificação de pessoal em várias áreas de
trabalho, procurando obter maior diversificação e ampliação dos seus cursos
com objetivo de desenvolver melhor e amplamente esses profissionais
anteriormente formados (MANFRINATO, P.57, 2006).
As instituições criadas para o ensino profissionalizante são importantes, pois
capacitam, treinam e aperfeiçoam os indivíduos que desejam se especializar e aumentar
seus conhecimentos para serem mais valorizados no mercado de trabalho.
A pesquisa teve como público, estudantes do ensino profissional, onde foi
aplicado questionário em duas turmas dos cursos de Assistente de Recursos Humanos
com carga horária de 160h e Aprendizagem em Serviços Administrativos de Comércio
(Jovem Aprendiz) com carga horária de 1.040h, onde pode-se observar um nível variado
de escolaridade que vai entre adolescentes de ensino médio e graduados em diversos
cursos de nível superior, onde foram questionados temas pertinentes a atuação
profissional do público alvo.
4. Resultados e Discussões
A seguir é traçado o perfil da população dos cursos de Assistente de Recursos
Humanos e do Jovem Aprendiz:
De acordo com os gráficos 1 e 2 a maioria das turmas é formadas por indivíduos
do sexo feminino, sendo característico da crescimento das mulheres no mercado de
trabalho.
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A tabela 1 mostra o crescimento dos jovens em busca de cursos que aumentem
suas chances no mercado de trabalho, o mesmo se explica na tabela 2. Essa porcentagem
demonstra que cada vez mais cedo à juventude procura formas de inserção para conseguir
um emprego.
No gráfico 3 os dados demonstram que no curso de Assistente de Recursos
Humanos a maioria, ou seja, 64% tem o ensino médio completo e que 18% estão no
ensino superior. Buscam com o curso uma colocação mais rápida no mercado de trabalho.
Comparando com os dados do gráfico 4 que refere-se ao curso do Jovem
aprendiz, verifica-se o inverso em que 43% estão no ensino superior e que 36% tem
somente o ensino médio completo. Desta forma, busca uma formação mais completa, ao
mesmo tempo em que objetivam um trabalho para colocar em prática o aprendizado
adquirido.
21%
79%
Gráfico 1: Distribuição por
sexo no Curso do Jovem
Aprendiz
Masculino Feminino
18%
82%
Gráfico 2: Distruição por sexo
no curso de Assistente de
Recursos Humanos
Masculino Feminino
Tabela 1: Distribuição por idade no curso
de Assistente de Recursos Humanos
Idade Freq. Absoluta Freq. Relativa
17-18 5 45,45%
20-23 3 27,27%
24-38 3 27,27%
Total 11 100,00%
Tabela 2: Distribuição por idade no curso
do Jovem Aprendiz
Idade Freq. Absoluta Freq. Relativa
17-18 8 57,14%
19-23 6 42,86%
Total 14 100,00%
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 918
14%
36%
7%
43%
Gráfico 4: Distribuição do nível de escolaridade no curso do Jovem
Aprendiz
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio
Completo
Ensino Técnico
Ensino superior
Incompleto
9%
64%
9%
18%
Gráfico 3: Distribuição do nível de escolaridade no curso de
Assistente de Recursos Humanos
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio
Completo
EnsinoTécnico
Ensino Superior
Incompleto
Com relação a localização das residências dos alunos do curso de Assistente de
Recursos Humanos (gráfico 5), 37% ficam no bairro Ossian Araripe e 27% no Centro da
cidade, já as do curso do Jovem aprendiz (gráfico 6), 25% estão no bairro Seminário e
17% no centro, neste caso existindo maior quantidade de bairros envolvidos nos dados.
Assim, evidencia-se que a procura pelo curso como base para uma atuação profissional
mais qualificada.
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4. 1. O Ponto de vista dos alunos sobre o meio ambiente e a educação ambiental
No atual contexto, o desgaste causado pelos humanos ao meio ambiente tornou-
se irreversível, porém amenizado. Nessa busca por abrandar tais problemas foram
elaboradas estratégias de conscientização, educação e transformação socioambiental. As
pessoas passaram a ter um novo olhar para as questões ambientais, onde a educação
ambiental teve espaço e uma maior importância na sociedade.
9%
9%
9%
37%
9%
27%
Gráfico 5: Distribuição por bairro no Curso de Assistente de Recursos
Humanos
Seminário
Vila Lobo
Vila Alta
Ossian Araripe
Alto da Penha
Centro
25%
9%
17%
9%
8%
8%
8%
8%
8%
Gráfico 6: Distribuição por bairro no curso do Jovem Aprendiz
Seminário
Vila Lobo
Pinto Madeira
Alto da Penha
Lameiro
São Bento
Belas Artes
Vila Alta
Centro
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Ao serem questionados sobre o que entendiam por meio ambiente tanto na turma
de Assistente de Recursos Humanos, quanto na turma do Jovem Aprendiz as respostas
foram diversas e esclarecedoras.
Entre as respostas do curso de Recursos Humanos está “é o local que devemos
preservar e respeitar”, “ manter a qualidade de vida e a natureza em harmonia com as
pessoas” . Diante dessas duas respostas é possível verificar que esses indivíduos
abordados tem a consciência que o meio ambiente é de fundamental importância para o
ser humano.
No curso do Jovem Aprendiz as respostas foram bem amplas, dentre elas, “ é o
meio em que vivemos e trabalhamos, ou seja, é tudo que nos rodeia”, “ preservar a
natureza, ter consciência e fazer nossa parte como cidadão”, “precisamos cuidar para mais
tarde não sofrermos com as consequências”, “ temos que pensar no amanha”. Assim, foi
verificado que os indivíduos em questão sabem da necessidade e importância de preservar
o meio ambiente.
A educação ambiental é a construção do conhecimento na prática no dia a dia,
que se realiza através de um processo educativo contínuo, e exige a prática
diária de atenção voltada as questões ambientais, uma vez que a formação
profissional deve preparar os aprendizes para o desenvolvimento técnico
competente, mas primeiramente para o desempenho profissional consciente,
pautado em ética e cidadania (MANFRINATO, P.86, 2006).
Os alunos do curso de Assistente de Recursos Humanos falaram de formas
diferentes sobre a compreensão da educação ambiental, entre as respostas está “é um
processo de educação responsável por formar indivíduos preocupados com os problemas
ambientais que busquem a conservação e prevenção dos recursos naturais”. Também está
a de que “é manter os locais limpos, não jogar lixo na rua” e “é ter consciência que o meio
ambiente, é vida”
O entendimento da educação ambiental no curso de Jovem Aprendiz ilustra
questões mais amplas. Nas Respostas de dois questionários está: “Ação educativa que
contribui para a formação de cidadãos” e “Educação ambiental é uma forma de usar a
consciência para a preservação do meio”.
De acordo com as respostas atribuídas, os alunos veem a educação ambiental
como ferramenta de proteção e consciência e na construção social do individuo por meio
de valores ligados as questões ambientais para a formação de uma nova sociedade.
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4.2. Sobre a necessidade da questão ambiental nas empresas
As empresas com a visão de lucro e maior produtividade estão ainda mais
interligadas com as questões ambientais, essa maior “preocupação” aumenta a
credibilidade do cliente com a organização, assim, as empresas que estão comprometidas
com o desenvolvimento sustentável têm maior aceitação e duram mais no mercado.
Após a Revolução Industrial, onde o processo de produção ganha um novo
modelo com a implantação de máquinas e equipamentos; as empresas tornam-se mais
produtivas, essa maior produtividade com o decorrer do tempo expandiu os problemas
antes solucionáveis. A implantação de um sistema educacional comprometido com a
responsabilidade ambiental de forma consciente é uma das ferramentas necessárias para
o desenvolvimento sustentável das organizações.
Em relação à educação ambiental em âmbitos profissionalizantes, as questões
empresa-meio ambiente estão diretamente interligadas.
Os profissionais devem ter sua formação profissional pautada em uma nova
ética nas relações sociais e estas com a natureza, visando muito mais do que
atitudes pautadas em discursos ou frases do tipo: “ecologicamente corretas” ou
“reciclagem de lixo”, mas um enfoque centrado no ser humano como parte da
natureza de maneira que este busque um equilíbrio do meio ambiente, obtendo
como resultado melhor qualidade de vida (MANFRINATO, 2006, P. 86).
É importante destacar que as empresas são transformadoras e exercem grande
influência sobre a sociedade e o meio ambiente; juntamente com as atribuições de
responsabilidade que a sociedade atribui por meio de criação de leis ou por obrigação.
Portanto, necessita investir na responsabilidade da empresa para desenvolver a
capacidade de ouvir os diferentes seguimentos: público, governo, acionista e proprietários
para conseguir integrá-los no planejamento de suas atividades visando atender as
demandas de todos sem prejuízo dos recursos financeiros e com especial atenção a
questão ambiental.
Em relação ao posicionamento nas questões ambientais, a empresa deve
desenvolver práticas de conscientização dos colaboradores por meio de palestras e
desenvolver meios de reciclagem e tratamento desses resíduos e a utilização dos mesmos.
No ambiente profissional, o sujeito passou a ter uma nova visão sobre tais
questões e como lidar com elas na empresa que trabalha ou irá trabalhar.
Os alunos do curso de Assistente de Recursos Humanos ao serem questionados
sobre a importância da sua formação na questão ambiental da empresa responderam
“desenvolver políticas que favorecem o meio ambiente quanto ao uso correto dos bens
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naturais” e “é fundamental para conscientização dos colaboradores, através de projetos,
treinamentos e palestras”. De acordo com os dois alunos, a importância dos Recursos
Humanos para empresa está ligada ao desenvolvimento do colaborador de forma
consciente nas questões ambientais e a integração do mesmo com o sistema político da
organização.
De acordo com as respostas dadas ao falar sobre a ligação da questão ambiental
com o Jovem Aprendiz e a importância da questão ambiental na empresa, se colocaram;
1ª resposta: “Sim, pois estamos vivendo em uma sociedade onde a sustentabilidade tem
grande importância. Assim os jovens, no caso, a nova geração tem que cuidar do meio
ambiente da sustentabilidade desde cedo/é importante para estabelecer a sustentabilidade
e o crescimento da empresa. Trazendo assim maior credibilidade e ampliando a visão que
a sociedade tem da empresa”; 2ª resposta: “sim, pois quando conhecemos e entendemos
sobre essa questão podemos cuidar do meio em que vivemos, tanto no trabalho como na
vida pessoal/a qualidade de vida melhorar no ambiente de trabalho, visando adaptações
sustentáveis nesse meio”; 3ª resposta: “sim. Questão de aprender como o indivíduo pode
contribuir para o aprendizado, preservação de produção/Uma série de atividades que deve
ser ministradas para formular estratégias de administração no meio ambiente”.
Segundo esta visão, os alunos entendem que a questão ambiental está
inteiramente ligada ao bom desempenho da empresa e principalmente com a sua função
atual, na qual visam o melhor entendimento dessas questões como aprendizado para
melhor qualidade de vida.
4.3. A importância do módulo de meio ambiente para a formação de profissionais
mais conscientes
Segundo Manfrinato, as transformações mundiais com a mudança na
mentalidade com relação ao meio ambiente e ao uso consciente, fazem com que os
currículos sejam mais diversificados englobando habilidades e competências de maneira
a formar cidadãos e trabalhadores mais preocupados e com uma visão mais critica e
racional de como gerir os recursos naturais (2006).
Diante desse novo quadro econômico que busca a consciência socioambiental,
nos cursos foram realizadas visitas técnicas, como também uma oficina de reciclagem,
com o objetivo de ampliar a visão dos futuros profissionais, proporcionando um ambiente
em que a teoria é colocada na prática e principalmente a troca de experiências, agregando
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valores pessoais e profissionais que servirão para o exercício de atividades futuras no
ambiente de trabalho e familiar.
A turma de Assistente de Recursos Humanos realizaram visitas (figuras 1, 2, 3 e
4) em uma conhecida cerâmica, uma rede de supermercado e no Metrô do Cariri, nos
quais aprenderam os impactos ambientes causados com os resíduos sólidos, o
desmatamento, a grande quantidade de água usada de forma diferenciadas por esses
empreendimentos e o que é realizado em prol de minimizar e reduzir, garantindo um meio
ambiente em sintonia com a sociedade.
No último momento foi realizada uma oficina de reciclagem (figura 5) em que
aprenderam com reutilizar garrafas PET, Latas de leite, caixas de margarina, frascos de
shampoo, sendo confeccionadas pelos alunos como cadeiras e porta papel higiênico de
garrafa PET, com as tampinhas foram feitas cestinhas de docinhos, o frasco de shampoo
se tornou um lindo porta celular.
Figura 1 e 2: Visita a uma conhecida cerâmica
Figura 3 e 4: Visita ao Metrô do Cariri e a uma conhecida Rede de Supermercado
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Figura 5: Oficina de Reciclagem
No curso do Jovem Aprendiz para o módulo de meio ambiente as visitas técnicas
(figura 6 e 7) foram realizadas no Parque de exposição no período da ExpoCrato, onde
passarem a ter conhecimento de como era tratado os resíduos sólidos gerados pelas
barracas, como também o óleo utilizado no preparo das comidas que seriam destinados
para uma usina sendo transformado em biodiesel. E no Mêtro do Cariri para verificar os
entornos da passagem do transporte que foi possível ver grande quantidade de resíduos
sólidos e as desigualdades sociais.
Figura 6 e 7: Visita ao Evento da ExpoCrato e ao Mêtro do Cariri
Com relação à pergunta do questionário sobre o módulo de meio ambiente o
curso de Assistente de Recursos Humanos tiveram respostas como “adquirir
conhecimento e me conscientizei sobre a importância da preservação do meio ambiente”
e “ é porque geralmente as pessoas não se conscientizam do desperdício e acabam levando
esse costume ao local de trabalho”.
Para o curso do Jovem Aprendiz as respostas foram as seguintes: “Aprimorar
conhecimentos e mudar costumes errados”, “ ajudou para melhorar a postura, ter mais
conscientização, não desperdiçar e nem consumir em excesso, sendo assim jovens mais
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sustentáveis” e “ a preservação do meio ambiente começa por nós e se fizéssemos nosso
papel no dia a dia veríamos que faz a diferença”.
Portanto, é possível verificar a formação de profissionais mais conscientes e
dispostos a contribuir com ideias e formas mais ecológicas e sustentáveis tanto no
ambiente de trabalho, quanto na garantia de uma sociedade em que uma pessoa faz toda
a diferença na preservação do meio ambiente. E assim ajudar a influenciar mais cidadãos
para evitar o desperdício e o consumismo sem a real necessidade.
5. Conclusão
Esta pesquisa objetivou mostrar a percepção dos alunos no que concerne ao meio
ambiente e a educação ambiental para a formação de valores que proporcionam uma visão
mais ampla da sociedade e do mercado de trabalho em que esses temas estão intimamente
ligados.
Os resultados obtidos demonstram que é preciso impulsionar mais maneiras para
expor essa temática que alcance mais indivíduos na busca de uma consciência ambiental
global em que a sociedade, as empresas e órgãos públicos estejam envolvidos. No
ambiente empresarial formar funcionários que entendam e consigam desenvolver
atividades que contribuíam para o meio ambiente.
O mercado de trabalho está cada dia mais exigente, cabe as instituições de
ensino, sejam elas de capacitação ou regular, qualificar os antigos e futuros profissionais
e nesse processo de aprendizagem desenvolver habilidades e competências, pois precisam
de diversos conhecimentos para aplicar nas áreas que atuam ou atuaram.
Desta forma, a questão ambiental trás mudanças nos ponto de vista das pessoas
com relação ao desperdício, consumismo e aos recursos sólidos, para formar com isso
gerações futuras preocupadas e capazes de desenvolver novos modelos de sociedade em
que a qualidade de vida e o meio ambiente sejam prioridades.
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Sociedade de consumo e o descarte de resíduos sólidos urbanos: reflexões a partir
de um estudo de caso em Pau dos Ferros/RN
Ana Clecia de Queiroz Fernandes 1
Franciclézia de Sousa Barreto Silva 2
Rafaela Sonally Cunha Moura 3
Resumo
O trabalho aborda a problemática dos resíduos sólidos urbanos na cidade de Pau dos
Ferros/RN, revela aspectos espaciais, sociais e ambientais; permite reflexões importantes
diante do grave problema ambiental agravado pelo tipo de sociedade que promove e
encoraja um estilo de vida consumista. Trata-se de uma cidade que tem sido observada
em crescimento, tanto populacional e do seu espaço urbano, quanto de influência, na
medida em que abrange e mobiliza uma população advinda de diversas cidades
circunvizinhas. Ao mesmo tempo em que cresce, incorpora problemáticas vivenciadas
por cidades grandes, como a grande produção de resíduos sólidos e seu desfecho
inadequado. Tal realidade interfere nas condições do meio ambiente e na qualidade de
vida da população. Trata-se de um estudo de caso que requereu pesquisa bibliográfica,
documental e de campo. Os resultados evidenciaram que a destinação inadequada de
resíduos constitui um grande desafio para os países em desenvolvimento, bem como para
os gestores municipais que precisam incrementar meios, assumir atitudes que acarretem
sensibilização por parte da população a fim de extinguir esta problemática. Os desafios
são enormes e as ações desenvolvidas estão longe do ideal, para o meio ambiente e para
a população; muitas ainda se encontram no nível do discurso.
Palavras-chave: Consumo. Consumismo. Resíduos Sólidos.
1 Introdução
No mundo cuja população ultrapassa os 7 bilhões de habitantes, maioria que vive
nos grandes centros urbanos, questionamentos em torno dos impactos da crescente
urbanização surgem pertinentemente. Esse crescimento urbano associado a aspectos
econômicos e culturais tem acelerado o ritmo da deterioração dos recursos naturais, é
muito lixo sendo produzido cotidianamente. É importante frisar, que a quantidade de
resíduos sólidos produzidos diariamente se relaciona não somente ao nível de renda do
1 Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus CAMEAM, Pau
dos Ferros-RN. E-mail: [email protected]
2 Economista. Doutoranda pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ. Docente do
Departamento de Economia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN, Campus de Pau dos Ferros-
RN. E-mail: [email protected]
3 Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus CAMEAM, Pau
dos Ferros-RN. E-mail: [email protected]
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indivíduo, que se reflete na capacidade de consumir, mas também com hábitos de vida
obtidos no curso da vida, o que determina o grau de disposição para consumo.
Na sociedade contemporânea as pessoas compram coisas que necessariamente
não precisam. Considerando a pouca durabilidade, são jogadas rapidamente no lixo e
destinadas a lixões muitas vezes a céu aberto, em ambientes totalmente inadequados.
Grandes quantidades de lixo são geradas dia após dia, e esses resíduos precisam ser
acondicionados, coletados, transportados de forma adequada para que haja assim um
menor dano ao meio ambiente e ao homem. Essa é mais uma das contradições existentes
na sociedade moderna, desenvolver e/ou criar soluções apropriadas para a destinação de
seus rejeitos. E esse tem sido um dos grandes desafios da sociedade na atualidade.
Dessa forma, a problemática dos resíduos sólidos urbanos envolve não somente
o lado econômico e ambiental, mas integra, também, o fator social quando se constata
que existem pessoas sobrevivendo do que recolhem e vendem dos lixões, aquilo que é
descartado. Gonçalves (2003, p.20) aborda que o lixo não é apenas tudo aquilo que não
presta, e “que no lixo há valores a serem resgatados através do não desperdício, da
separação na fonte e do fomento à cadeia produtiva da reciclagem”. Ela distingue o lixo
de acordo com sua classificação, considerando “[...] recicláveis (ou reutilizáveis) aqueles
resíduos que constituem interesse de transformação, que possuem mercado ou processo
que viabilize sua transformação”.
Diante do exposto, o presente trabalho foi construído a partir de um estudo de
caso4, em que discute a temática resíduos sólidos urbanos na cidade de Pau dos
Ferros/RN, cidade que recebe diariamente um número significativo de pessoas oriundas
das cidades vizinhas. Esse fato advém da centralidade que Pau dos Ferros exerce na
microrregião do Alto Oeste Potiguar, na oferta de comércios e serviços variados. Em se
tratando do setor de Serviços, o IBGE (2010), apresenta este setor representando mais de
80% do PIB municipal, demonstrando suma importância para a economia local.
Diante do interesse pela temática proposta, se questionou: como se apresenta a
problemática dos resíduos sólidos urbanos numa cidade polo do Alto Oeste Potiguar,
como Pau dos Ferros, quais as particularidades? Como desdobramento: Como se dá o
gerenciamento dos resíduos, de quem é a responsabilidade? Quais os impactos sociais e
ambientais, vista a partir da observação sistemática do pesquisador, dos órgãos públicos,
4 O artigo apresenta, parte dos resultados do trabalho de conclusão de curso da autora, monografia defendida junto ao
Departamento de Economia da UERN, que aqui ganha outras contribuições de análise. A referida monografia foi uma
das premiadas no prêmio RN de Economia – CORECON/2014.
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das pessoas envoltas na coleta, e de quem trabalha no lixão? E por fim, qual a relação
entre a geração de lixo com o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo?
O objetivo que permeou o estudo foi identificar e analisar a questão dos resíduos
sólidos urbanos na cidade, lócus da pesquisa, em meio às limitações existentes e diante
dos desafios impostos pela Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS.
Propõe-se também adentrar no complexo “mundo” que está por trás do processo de coleta
e desfecho final dos resíduos, na medida em que buscou averiguar o dia a dia dos agentes
envolvidos, abordando com isso aspectos sociais e econômicos da atividade de coleta de
resíduos na cidade e, a lógica de consumo que permeia o desenvolvimento capitalista
hoje. A partir dos resultados obtidos, que serão aqui expostos, se desdobram também
neste texto, reflexões que apareceram posteriormente a pesquisa propriamente dita, que
se configuram como novas contribuições de análise. Embora o objetivo não seja esgotar
a temática, o que não se poderia na verdade, prima-se aqui com o presente texto, por
aquiescer o debate, mantendo discussões que possibilitem e mobilizem a sociedade a
buscar ações mais efetivas para minimizar os efeitos da alta geração de lixo nas diversas
cidades.
Sendo assim, e diante de uma expansão urbana e redução da população da zona
rural na cidade de Pau dos Ferros, e os aumentos crescentes provenientes das atividades
econômicas principalmente do setor de serviços, discutir à problemática da produção de
lixo, desde sua geração até o desfecho final, torna-se pertinente. Trata-se de um aspecto
que infelizmente tem acompanhado de uma maneira negativa o “desenvolvimento” das
cidades. Spósito (2004, p. 64), enfatiza que “a cidade é o lugar onde se reúnem as
melhores condições para o desenvolvimento do capitalismo”. E, portanto, é nela que se
concentra a força de trabalho e os meios necessários à produção em larga escala
(SPOSITO, 2004).
2 Resíduos sólidos: população, consumo e descarte.
É nítido que a Revolução Industrial, trouxe consigo o fortalecimento da
acumulação de riqueza, associada ao crescimento populacional e as mudanças culturais,
a produção de bens de consumo se intensificou, concomitantemente a problemática da
geração e descarte de Resíduos Sólidos (RS) se ampliou pelo mundo.
Não é novidade o fato de que o padrão atual de desenvolvimento do capitalismo
tem provocado resultados desastrosos para o meio ambiente, “[...] seguimos um sistema
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econômico voltado para a produção, lucro e acumulação de riquezas. Lucro em curto
prazo, e acumulação de riquezas nas mãos de poucos”, fato (DIAS E MORAES FILHO,
2006, p.10).
Diante desse contexto Baudrillard (2005) sustenta que:
À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo e
da abundância, criada pela multiplicação dos objetos, dos serviços, dos bens
materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na
ecologia da espécie humana. Para falar com propriedade, os homens da
opulência não se encontram rodeados, como sempre acontecera, por outros
homens, mas mais por objetos. (BAUDRILLARD, 2005, p. 15.).
Na abordagem de Barbosa (2004, p. 07), “consumir, seja para fins de satisfação
de ‘necessidades básica’ e/ou ‘supérfluas’, é uma atividade presente em toda e qualquer
sociedade humana”. Sociedade de Consumo define-se como aquela na qual as pessoas
compram produtos, isso difere do ato de consumo de produtos supérfluos, não necessários
à subsistência. A esse último atribui-se o termo “consumismo”. Na descrição de Bauman
(2008) consumismo é:
[...] um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e
anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ‘neutros quanto
ao regime’, transformando-os na principal força propulsora e operativa da
sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a
estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos,
desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-
identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de
políticas de vida individuais (BAUMAN, 2008, p. 41).
O fato é que cresce o número de pessoas que compram por insatisfação,
ansiedades, pelo prazer da compra, pensam unicamente no consumo final, e não no
necessário, essas são as características do chamado “consumo moderno”. Campbell (apud
BARBOSA, 2004, p. 49), esclarece que o que caracteriza hoje a sociedade de consumo é
a instabilidade dos consumidores, estes impulsionados pelo acesso e direito de escolha,
compram produtos de rápida descartabilidade. Tal problemática instiga os seguintes
questionamentos: Das coisas que se compram, quais são realmente necessárias? Compra-
se na maioria das vezes por impulsos desnecessários, porque somos
estimulados/induzidos pela simples ilusão de que possuir certas coisas nos remete a
felicidade e status? Ou compram pela simples influência diária da propaganda?
Para falar desse tema Bauman (2008, p. 31) nos apresenta o termo “sociedade de
consumidores” e relata ser esta uma sociedade na qual os consumidores desvalorizam a
durabilidade, “igualando ‘velho’ a ‘defasado’, impróprio para continuar sendo utilizado
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e destinado à lata de lixo”. E acrescenta, “[...] a sociedade de consumidores é impensável
sem uma florescente indústria de remoção de lixo. Não se pode esperar dos consumidores
que jurem lealdade aos objetos que obtém com a intenção de consumir”.
Se por um lado torna-se viável o desenvolvimento, por outro, é dever de todos à
busca do equilíbrio entre o progresso e a preservação ambiental, o que no momento se
apresenta como única forma de conseguir esse equilíbrio é a ampla e absoluta adoção da
responsabilidade com o consumo.
Segundo os termos da lei n. 12.305/10, as pessoas físicas e jurídicas, de direito
públicos ou privadas são responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos
sólidos, caracterizando a definição de resíduos sólidos, contida no artigo XVI, como;
Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólidos ou
semissólidos, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d´água, ou exijam para isso soluções técnicas ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível
(MILARÉ, ÉDIS; MILARÉ, et all. 2012, p. 212).
Nesta concepção, é importante criar formas de responsabilizar os indivíduos e
entes que fazem parte do ciclo que vai da fabricação de um produto até a sua destinação
apropriada (ou de sua embalagem), como uma das saídas a serem seguidas para minimizar
(e tentar eliminar) os danos ambientais decorrentes da destinação inadequada de resíduos
sólidos. A finalidade principal é comprometer os fabricantes como responsáveis pelo
ciclo global de vida dos seus produtos (DIAS; MORAES FILHO, 2006, p.30). Diante do
abordado, torna-se pertinente enfatizar as palavras de Silva Filho (2012, p. 376) para
quem “o desafio para a bem-sucedida gestão de resíduos sólidos nos centros urbanos é
um dos que mais demandam medidas da sociedade, cuja existência ainda está regulada
pelo processo de consumo e descarte de bens, materiais e produtos”.
O problema da geração de lixo está essencialmente agregado aos atuais modos
de produção e consumo, uma espécie de causa e efeito que tenta desencadear o
crescimento econômico, mesmo que programados ao processo consumista, onde tudo fica
ultrapassado, antiquado, impróprio em um curto período de tempo tendo como
consequências a enorme geração de resíduos. Nesse ínterim, é importante destacar que a
produção e o consumo estão interligados. Karl Marx (1859, p. 06) explica que sem
“produção não há consumo; mas sem consumo, também não há produção, pois, nesse
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caso, a produção seria inútil”. Ou seja, uma coisa esta diretamente interligada a outra, “a
produção fornece ao consumo a sua matéria, o seu objeto. Consumo sem objeto não é
consumo; neste sentido, a produção cria, produz o consumo”. Vivencia-se uma cultura
em que o consumo desenfreado, ou consumo extravagante, está associado a uma prática
de ações desrespeitosas causadas por ações humanas e suas atitudes, em que os indivíduos
ou grupos, são induzidos cada vez mais ao descarte de resíduos sólidos, acarretando
efeitos negativos a sustentabilidade da vida no planeta.
Surge, então, um dos grandes desafios para vários municípios brasileiros:
concretizar a gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, e organizar a coleta,
transporte e disposição final desses resíduos, o que não é uma tarefa fácil, e alguns
administradores públicos se veem um tanto quanto “perdidos” nos aspectos que envolvem
questões sociais, ambientais, sanitárias, legais e econômicas que rodeiam essa
problemática dos lixões e aterros sanitários.
Nesse contexto do descompasso da produção de resíduos atrelado ao
crescimento das cidades, e às facilidades do mundo moderno, surge uma estratégia
intensificada através da regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos –PNRS
– Lei 12.305, regulamentada pelo Decreto n. 7.404/10, que reúne “princípios, objetivos,
instrumentos, diretrizes, metas, ações que serão adotadas pelos Estados e Municípios
visando à gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado aos resíduos
sólidos”.
Nas áreas urbanas o jogar o lixo em qualquer lugar tem aumentando o volume
de resíduos em locais inadequados. Segundo a Agenda 21, durante a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), promovida pela
Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, em 1992 (ECO 92),
“aproximadamente 5,2 milhões morrem por ano de doenças relacionadas com o lixo.
Metade da população urbana dos países em desenvolvimento não tem serviços de despejo
de lixo sólido” (RIBEIRO; MORELLI, 2009, p. 05). Assim os lixões, que representam o
destino mais comum desses resíduos, “são ambientes onde proliferam os vetores que
causam endemias e enfermidades infecto-parasitárias, que propagam a dengue, a febre
amarela, a leptospirose e diversas outras doenças” (DIAS; MORAES FILHO, 2006,
p.11).
De acordo com Dias e Moraes Filho:
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O problema agravou-se demasiadamente nos últimos anos com o advento da
chamada “cultura do descartável”, quando passamos a seguir os atuais padrões
de consumo dos países capitalistas avançados, que dão preferência às
embalagens descartáveis por constituírem uma comodidade para os usuários e
uma grande fonte de lucro para as empresas, e, desde então, os produtos
descartáveis foram incorporados ao nosso cotidiano pela facilidade que nos
proporcionam (DIAS E MORAES FILHO, 2006, p.11).
Os lixões e aterros sanitários passaram a receber um volume de lixo muito maior,
com toneladas e mais toneladas de latas e garrafas de refrigerante, embalagens longa vida,
garrafas plásticas, lâmpadas, pilhas e baterias de celulares, tornando insuficiente o serviço
de coleta oferecido pelo Poder Público (DIAS; MORAES FILHO, 2006, p.11).
No Brasil é nítido o crescimento de resíduos sólidos. O Panorama dos Resíduos
Sólidos no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais (Abrelpe, 2013), revela um aumento inferior a meio ponto
percentual no índice per capita de Geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e um
acréscimo de 4,1% na quantidade total gerada, como apresentado na tabela 01 a seguir.
Tabela 01 – Geração de RSU
Regiões 2012 2013
RSU Gerado
(t/dia) / Índice
(Kg/hab./dia)
População
Total (hab.)
RSU Gerado
(t/dia)
Índice
(Kg/hab./dia)
Norte 13.754 / 0,841 17.013.559 15.169 0,892
Nordeste 51.689 / 0,959 55.794.707 53.465 0,958
Centro-Oeste 16.055 / 1,113 14.993.191 16.636 1,110
Sudeste 98.215 / 1,204 84.465.570 102.088 1,209
Sul 21.345 / 0,770 28.795.762 21.922 0,761
BRASIL 201.058 / 1,037 201.062.789 209.280 1,041
Fontes: Pesquisa Abrelpe e IBGE
Segundo a Abrelpe (2013) e, considerando os números diários de produção de
RSU no Brasil, ver-se que em todo o ano de 2013, a geração total de RSU chegou a
76.387.200 toneladas, “[...] o que representa um aumento de 4,1%, índice que é superior
à taxa de crescimento populacional no país no período, que foi de 3,7%”. Abaixo
apresenta-se o crescimento diário da produção de RSU de 2012 para 2013, total e per
capita.
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Figura 01 – Geração de RSU
Fontes: Pesquisa Abrelpe e IBGE (2013).
Em se tratando da região Nordeste, os 1.794 municípios dos nove estados da
região geraram, em 2013, a quantidade de 53.465 toneladas/dia de RSU. Os dados
indicam um aumento de 3,4% na geração de RSU em relação ao ano anterior (ABRELPE
2013). Como se pode observar na figura 02 a seguir.
Figura 02 - Quantidade de RSU Gerada na região Nordeste.
Fontes: Pesquisa Abrelpe e IBGE (2013).
O estado do Rio Grande do Norte acompanha a tendência nacional, já que
também apresenta crescimento da geração de resíduos sólidos urbanos, conforme se pode
observar abaixo.
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Tabela 02 – Coleta e Geração de RSU no Estado do Rio Grande do Norte
População Total
RSU Coletado
RSU Gerado
(t/dia) (Kg/hab./dia) (t/dia)
2012 2013 2012 2013 2012 2013 2012 2013
3.228.198 3.373.959 0,753 0,759 2.432 2.561 2.795 2.912
Fontes: Pesquisa Abrelpe e IBGE
Na verdade, os dados apresentados são o retrato do que acontece em todo o país,
o volume de lixo cresce em proporção maior que a população, e acrescente-se o fato grave
da destinação inadequada. Uma reportagem do jornal o Globo (2013) já apresentava a
problemática do volume de lixo gerado no Brasil, em 2012, como sendo de 24 milhões
de toneladas descartadas inadequadamente, volume suficiente para encher 168 estádios
de futebol do tamanho do Maracanã. A reportagem ainda faz referência ao fato do
Nordeste ser a região que tem o maior volume de resíduos descartados em lugares
impróprios. O fato é que nos últimos anos houve um acréscimo significativo do consumo,
o comércio varejista se viu aquecido em todo o país, principalmente em estados do
Nordeste, sendo assim, quem consume mais, gera mais lixo.
Diante do abordado, o desafio se faz presente: gerenciar esses resíduos de forma
adequada, haja vista que eliminar a produção não é possível. Silva Filho (2012, p. 369),
explica que à gestão integrada de RSU “surgiu no início dos anos de 1990, e o primeiro
passo para essa concepção foi classificar os serviços relacionados com a gestão desse
resíduo como públicos, que passaram a ser chamado de serviços de limpeza urbana”.
É necessário que o cidadão adote uma postura de consumo responsável, tentando
minimizar o volume de resíduos que produz diariamente e encaminhando o que for
produzido para a adequada coleta, seja ela comum ou seletiva, além de outras ações que
precisam ser tomadas no âmbito da produção.
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3 Gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil e a Política Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS.
Todos produzem lixo, independentemente da posição social, não importando
cor, raça, cultura todos contribuem direta ou indiretamente para a produção de lixo.
Atualmente, as pessoas desfazem-se das “coisas indesejadas” com uma rapidez incrível,
superlotam as lixeiras com tudo que é considerado inútil. A busca pela praticidade e
rapidez diante das transformações ocorridas desde a Revolução Industrial, tem feito as
pessoas adotarem um ritmo de vida acelerado, tanto quanto as inovações tecnológicas,
embora em proporções diferentes.
Sinteticamente e segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT
2004), resíduos sólidos são aqueles;
[...] resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da
comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola,
de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lados
provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados
líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos d`água, ou exijam para isso soluções técnica e
economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível
(RIBEIRO; MORELLI, 2009, p. 19).
Observa-se ao longo de muitos anos uma “disputa” existente entre toneladas e
toneladas de resíduos sólidos por espaços nos lixões, em outros casos em lixeiras
superlotadas, “contribuindo” nesse caso de uma maneira negativa e afetando a qualidade
de vida de bilhões de pessoas no mundo, e tudo em decorrência do crescimento excessivo
dos resíduos, sobretudo nos países em desenvolvimento. Diante da problemática, torna-
se pertinente, conhecer um pouco mais sobre os resíduos, na descrição de Ribeiro e
Morelli (2009, p.20-22) os resíduos são classificados como apresentado no quadro 1;
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Quadro 01 – Classificação dos Resíduos Sólidos
Quanto à sua composição física
Secos Papéis, plásticos, metais, e etc.
Molhados Restos de alimentos, casca de bagaços de frutas e
verduras e etc.
Quanto à sua composição química
Orgânicos Restos de alimentos, cascas de bagaços de frutas e
verduras, etc.
Inorgânicos Vidros, borrachas, metais, lâmpadas, pedras, cerâmicas e
etc.
Quanto à origem, o lixo pode ser
Urbanos (RSU) Gerados das atividades humanas que advém em centros
urbanos, classificados como: Domiciliares, comerciais,
serviços públicos e serviços de saúde.
Domiciliares Originados das residências (restos de alimentos, jornais,
embalagens em geral, fralda descartáveis e etc).
Comerciais São aqueles oriundos dos diversos estabelecimentos
comerciais e serviços (papéis, plásticos entre outros).
Serviços Públicos São todos os resíduos de varrição das vias públicas,
limpeza de praias, galerias, restos de podas de plantas e
etc.
Serviços de Saúde (RSS) São os lixos descartados por hospitais, farmácias,
clínicas veterinárias (algodão, agulhas, restos de
remédios, luvas e etc).
Industriais (RSI) São aqueles procedentes nos diferentes ramos das
atividades da indústria, tais como: o metalúrgico, o
químico, e etc. São Classificados como:
Radioativos Resíduos provenientes da atividade nuclear, só devem
ser manuseados com equipamentos adequados e sob a
tutela da Comissão De Energia Nuclear (CNEN).
Agrícolas Oriundos das atividades agrícola e pecuária como a
ração, restos de colheita, etc.
Resíduos da Construção
Civil (RCD).
Oriundos das demolições e restos de obras, solos de
escavações.
Fonte: Dados disponíveis em Ribeiro e Morelli (2009).
Ainda segundo os autores Ribeiro e Morelli (2009, p.26), “[...] a classificação
dos resíduos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem e de
seus constituintes e características”. Os Resíduos Sólidos são classificados de acordo com
a NBR 10.004/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em classes:
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Classe I – Perigosos; São aqueles que em função de suas características de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade ou patogenicidade,
apresentam riscos a saúde e ao meio ambiente.
Classe II – Não perigosos;
Classe II A – Não inertes. Apresentam características de combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade apresenta riscos à saúde e ao meio
ambiente, não se enquadram na classe I.
Classe II B – Inertes: São aqueles que podem apresentar características
intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e que não apresentam constituintes
solúveis (ABNT, 2004).
Os resíduos sólidos podem ser classificados de diversas formas. Segundo a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os resíduos dividem-se em classes:
Classe A – são os Resíduos Potencialmente Infectantes; agentes
biológicos, sangue e hemoderivados, que apresentam risco a saúde pública e ao meio
ambiente;
Classe B – Resíduos químicos; resíduos que contém substâncias químicas
que põem em risca a saúde pública e o meio ambiente, por exemplo, medicamentos
contaminados, vencidos, impróprios ao consumo;
Classe C – Rejeitos Radioativos; materiais radionuclídeos superior aos
limites especificados pela norma da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);
Classe D – Resíduos Comuns, todos os resíduos gerados nos serviços e
que não precisam de processos diferenciados para o acondicionamento;
Classe E– Perfurocortantes; são instrumentos ou objetos que são capazes
de cortar ou perfurar, tais como, lâminas, agulhas, bisturis, etc.
A questão do lixo urbano torna-se cada vez mais preocupante em decorrência
das disposições finais que lhe são impostas, quando esses rejeitos são conduzidos para
um mesmo local, sem a separação adequada, são colados em lugares totalmente
inadequados como os lixões ou depósito a céu aberto.
Segundo Leite (2012, p.340), “esse cenário de abundância de produtos indo para
o mercado com variedades muito grandes e com ciclos de vida cada vez menores resulta
em quantidades de produtos cada vez maiores que se tornam obsoletos
mercadologicamente falando”.
O fato é que essas diversificadas produções de resíduos existentes no mundo, na
concepção de Grippi (2006, p.21), é que “[...] a pressão do homem sobre a Terra é cada
vez maior, causando desequilíbrio em seus ecossistemas, afetando, inclusive, a
biodiversidade de espécies”. E reafirma o autor “a falta de avaliação de impactos
ambientais para a instalação de aterros contribui e omite este grave problema”. E como
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ressalta Silva Filho (2012, p. 371), “a gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), é
essencialmente uma atribuição local e, em geral representa o conjunto mais importante
de atividades sob-responsabilidade dos municípios”. Ou seja, os municípios são
responsáveis pela geração de resíduos e pelos serviços de limpeza urbana. “[...], isso
porque a gestão integrada de resíduos é um processo e, como tal, é composta de sistemas
conectados, que só funcionam adequadamente quando integrados”.
A gestão integrada de resíduos sólidos segundo a lei n. 12.305/2010, “é o
conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a
considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social” (SILVA
FILHO, 2012 p. 371). Atualmente, um dos problemas mais sérios enfrentados pela
sociedade é a inevitável produção de resíduos. Esse problema se relaciona diretamente
com o crescimento populacional e econômico de um país, aliado ao estilo de vida das
pessoas, exigindo mais produção de alimentos e industrialização de matérias-primas,
contribuindo, assim, para o aumento dos resíduos sólidos.
Yoshida (2012, p.10), explica que a PNRS “constitui a corresponsabilidade pela
gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos entre os poderes estatais dos diferentes níveis
federativos e entre os atores econômicos e sociais”. A autora ressalva que a PNRS procura
auxiliar e impulsionar o sistema ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, “[...]
mediante a mobilização e participação direta e efetiva da sociedade, instituindo a
responsabilidade compartilhada, entre todos os elos da cadeia geradora dos produtos,
serviços e respectivos resíduos”.
Após anos de inúmeros debates, diversos comissões foram aprovada e
regulamentada em 2010 a Lei 12.305 que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) que reúne princípios, meta, objetivos, diretrizes, ações que serão
adotados pela União, Estados e Município tendo em vista a gestão integrada dos resíduos
sólidos regulamentada pelo Decreto 7.404, em 23 de dezembro de 2010. A Lei n. 12.305,
constitui importante instrumento que possibilita o avanço necessário ao país em
decorrência dos impactos ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo
impróprio dos resíduos sólidos. Segundo Yoshida (2012, p.14), a PNRS “preocupa-se em
estruturar um sistema de gestão e de gerenciamento integrado desses resíduos”.
A gestão integrada e o gerenciamento dos resíduos sólidos é responsabilidade do
poder público, dos consumidores e dos geradores, que se tornam responsáveis dos seus
atos perante a participação dos seus ideais perante a geração de resíduos na sociedade. A
PNRS se articula com a PNEA e incorpora a educação ambiental como um de seus
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instrumentos, estabelecendo que à gestão integrada de resíduos promovam programas e
ações ambientais, como a não geração, a reutilização e a reciclagem desses resíduos
(YOSHIDA, 2012).
Diante disso, verifica-se que a gestão de resíduos tem por objetivos: a redução,
a reciclagem, o tratamento dos resíduos desde a coleta até seu desfecho final adequado.
O instrumento segundo a PNRS dar-se através da coleta seletiva, da separação nos locais
onde são gerados. Pelo sistema de logística reversa ou em ações, procedimentos e meios
de coleta dos resíduos e o que pode ser reaproveitado e reciclado voltam-se ao mercado
empresarial.
4. A questão dos resíduos sólidos em Pau dos Ferros/RN: aspectos espaciais, sociais
e ambientais.
4.1 Procedimentos metodológicos da pesquisa
Foram realizadas visitas sistemáticas ao lixão municipal e a algumas ruas de
maior movimento da cidade, no período de novembro a dezembro de 2013, o objetivo foi
identificar localidades e a atividade dos agentes envolvidos na coleta de resíduos
domiciliares, além da busca de identificação de aspectos que caracterizassem o dia a dia
dos catadores no lixão.
Procedeu-se em seguida, o processo das entrevistas principal instrumento de
coleta de campo, a mesma foi aplicada em três situações/momentos, junto aos catadores,
coletores e prefeitura municipal (secretaria de Meio Ambiente e de Infraestrutura). A
mesma envolveu perguntas de livre escolha, fechadas e abertas, moldadas ao momento
da entrevista, o que significa dizer que algumas informações adicionais foram possíveis
de se identificar e coletar no ato da aplicação.
Importante ressaltar que a pesquisa considerou todo o universo dos catadores,
não extraiu amostra. Foram 16 (dezesseis) catadores identificados a partir de informação
repassada pelo vice-presidente da Associação e averiguada no período de observação
sistemática. Dos dezesseis, dez estariam ligados a Associação e, seis atuando
individualmente. No entanto, no período escolhido para entrevista, dezembro de 2013 só
pode ser efetivada entrevista com 12 (doze), 09 catadores da associação e 3 (três) que não
atuam via Associação. Infelizmente no momento escolhido para entrevista 04(quatro)
catadores não se encontravam no local.
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O segundo momento foi direcionado aos coletores5 de resíduos domiciliares: 55
garis ao todo, subdividindo-se em funções distintas como coleta de resíduos domiciliares,
sistema de podas, de varrição entre outras, informação repassada Pela Secretaria de
Infraestrutura (SEINFRA). Para ampliar as informações no que se refere à coleta do lixo
na cidade, foi direcionada entrevista aos órgãos públicos do município de Pau dos Ferros:
a Secretaria de Infraestrutura (SEINFRA) e a Secretaria do Meio Ambiente.
4.2 Resultados e discussões
Como já destacado ao longo do trabalho, o Lixo urbano é um problema grave, e
o modo como se consume e as consequências do consumo desenfreado contribuem para
agravar ainda mais esse problema, expandindo a criação de resíduos sólidos. No entanto,
a produção de lixo é inevitável, e as excessivas quantidades de resíduos gerados,
constituem-se em um dos grandes problemas da sociedade moderna e que ameaça os
espaços no planeta causados por atos irresponsáveis.
Em Pau dos Ferros no total são 55 garis, destinados a coleta de resíduos urbanos
na cidade, divididos em funções. O sistema conta com 1 operador de máquina e 2
motoristas, e outros dois motoristas da empresa terceirizada (Compact Construtora Ltda),
da cidade de Sousa no estado da Paraíba (SEINFRA, 2013). Trata-se de um número de
garis extremamente baixo em se tratando de uma cidade que ocupa uma área de 259,959
km² (IBGE 2010). Seria esse o motivo de tantos resíduos sólidos acumulados em lixeiras
superlotadas, “contribuindo” nesse caso de uma maneira negativa e afetando a qualidade
de vida das pessoas, em decorrência do crescimento da produção de lixo excessivo, que
infelizmente tem acompanhado de uma maneira negativa o “desenvolvimento” das
cidades.
Em relação ao questionamento da pouca mão de obra para a coleta desses
materiais na cidade, a entrevista junto à Secretaria do SEINFRA comprovou tal fato e
necessidade. A Secretária, inclusive, relatou que já havia solicitado isso ao prefeito e que
aguardava resposta ao pleito. A mesma foi enfática ainda em relatar que alguns coletores
5 Infelizmente não foi possível utilizar o mesmo instrumento de coleta usado com os catadores, a entrevista individual.
Algumas situações limitaram esse processo: o fato de os mesmos estarem em constante movimento e, no momento do
descanso, quando se agrupam, o receio dos mesmos em aceitarem repassar informações individuais e disso implicar o
emprego deles, pesou muito. Sendo assim, foi necessária a permanência no nível da conversa coletiva em meio ao
desempenho da atividade dos mesmos, o que tornou possível captar algo, mesmo diante da limitação de que as respostas
tendiam a serem as mesmas; um falava e os outros concordavam muitas vezes com a cabeça, ocasionando respostas
iguais/repetidas.
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de resíduos exercem seus trabalhos desestimulados, apresentando pouco empenho.
Apesar de não aprofundar a questão, acredita-se que o ponto forte é a sobrecarga de
trabalho, ademais, é perceptível que em alguns bairros como Nações Unidas e Chico Cajá,
essa coleta se dá de forma precária, revelando o problema existente de falta de mão de
obra.
Em Pau dos Ferros, o serviço de limpeza urbana do município é de
responsabilidade da prefeitura municipal. A coleta dos resíduos urbanos é feita
regularmente, sendo dividida por setores: bairros e centro, em dias alternados. No centro,
a coleta é feita três vezes por semana, pelo carro compactador e pelas caçambas, já nos
bairros periféricos onde não existe pavimentação, a coleta é feita em caçambas duas vezes
por semana. É aí que surgem os “atores principais”, o coletor de lixo ou gari, que de
acordo com Santos (1999, p. 16), se definem como “aquele trabalhador que faz a coleta
de lixo domiciliar, geralmente trabalham em equipes compostas por outros elementos (um
motorista e quatro coletores)”. Seguem realizando seu trabalho de recolher os lixos postos
nas calçadas ou nas portas das residências, como se pode observar nas fotografias 01 e
02.
Fotografias 01 e 02 – Pau dos Ferros/RN: Coletores de Resíduos Domiciliares Urbanos.
Fonte: Fernandes (2013).
Durante o carregamento de resíduos sólidos domiciliares na cidade de Pau dos
Ferros, observou-se que alguns garis não estão usando os equipamentos necessários, os
(EPI´s), como as roupas sinalizadoras, utilização de calçados apropriados (botas), bem
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como os acessórios indispensáveis quanto as luvas e máscaras. Evidencia-se também a
quantidade de resíduos coletados, e o risco para esses coletores que tentam se equlibrar
em meio a diferentes tipos de resíduos, pondo em risco sua saúde. Por isso é de suma
importância o uso dos equipamentos por essa classe trabalhadora, e também que a
população adote medidas, como: acondicionar de forma correta seu lixo, separando-o e
ensacando-o devidamente.
Diariamente esses carros transportam até o lixão toneladas e mais toneladas de
resíduos, para registrar dados mais específicos informados pela própria Secretaria, a
capacidade de cada caçamba equivale a, aproximadamente, 3.000kg; e as mesmas fazem
um trajeto de três vezes ao dia até o lixão, o que corresponde a 36 toneladas de lixo até
seu despejo final todos os dias. O Caminhão Compactador tem capacidade para 15.000
kg de resíduos, ou seja, transporta diariamente cerca de 45 toneladas de lixo até o seu
destino final. Portanto, são coletados diariamente em Pau dos Ferros, cerca de 81
toneladas de lixo. As fotografias abaixo mostram as quantidades de resíduos acumulados
em determinados pontos da cidade.
Fotografias 03, 04, 05, 06 – Pau dos Ferros/RN: Resíduos acumulados nos Bairros,
Manoel Domingos, Princesinha do Oeste, Centro e Nações Unidas.
Fonte: Fernandes (2013).
Em Pau dos Ferros esses resíduos são dispostos em um lixão inadequadamente,
que localiza-se a cerca de 4 km do bairro São Geraldo e 3 km do rio Apodi/Mossoró.
Define-se lixão como uma forma inadequada de disposição final dos resíduos sólidos; no
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entanto, esses depósitos de lixo sem tratamento estão com os dias contados segundo a Lei
da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a extinção de todos os lixões
até agosto de 2014.
Mais recentemente (2014), período posteriormente a pesquisa, voltou-se a
indagar à Secretária do Meio Ambiente da cidade de Pau dos Ferros, se seria possível a
extinção do lixão ainda em 2014 conforme a orientação dada pela Política Nacional dos
Resíduos Sólido. A mesma relatou que à implementação do plano da construção do aterro
sanitário na cidade, mediante consórcio, plano este já relatado no período da pesquisa
pela secretária, ainda estava envolto em questões de ordem burocrática, portanto não se
extinguiu o lixão da cidade, a parte burocrática ainda estava sendo providenciada junto a
consultoria da Secretaria do meio ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH). Ou seja, o
problema continua.
O estudo também envolveu os catadores de produtos recicláveis, revelou
aspectos do âmbito social. Definem-se catadores de materiais recicláveis como
“trabalhadores que atuam com a coleta, classificação e destinação dos resíduos,
permitindo o seu retorno à cadeia produtiva”. É através do trabalho que os mesmos
desenvolvem que “[...] aumenta a vida útil dos aterros sanitários, diminui a demanda por
recursos naturais, e fomenta a cadeia produtiva das indústrias recicladoras com geração
de trabalho” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE).
Na cidade de Pau dos Ferros/RN, os catadores se subdividem em 9 homens e 3
mulheres, com idades que variam entre 18 a 59 anos. A maioria dos catadores de materiais
recicláveis depende da atividade que exercem, e os mesmos ressaltaram que destinam
100%, de suas rendas para a renda familiar. Independente do sexo, de sua idade e do seu
grau de escolaridade, cada um tem um ideal, uma busca pela sobrevivência.
A respeito do surgimento da Associação dos catadores da cidade de Pau dos
Ferros, deu-se a partir dos próprios catadores, quando participaram de uma conferência
do meio ambiente realizada na cidade de Pau dos Ferros, no ano de 2013. A partir desta
conferência, foi sugerida a criação de uma Associação ou Cooperativa, e os mesmo
optaram por uma Associação, em virtude de que para se formar uma Cooperativa
precisava-se de vinte e três catadores, sendo que no lixão só existem dezesseis realizando
a atividade de catação. Antes da implementação da Associação, existiam trinta catadores
de materiais recicláveis no lixão do município, só que houve uma rejeição por parte de
alguns catadores quanto à criação da Associação e alguns não quiseram participar. Abaixo
de pode visualizar o lixão da cidade e os catadores recolhendo o material.
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Fotografia 07 – Pau dos Ferros/RN: Realidade dos Catadores de materiais recicláveis no
lixão da cidade.
Fonte: Fernandes (2013).
É nítido que o mercado de materiais recicláveis está aumentando em decorrência,
principalmente, do aumento na geração de resíduos, o que torna o problema mais grave,
e em meio a essas tempestades de mais e mais produtos sendo lançados no mercado, faz-
se necessário o incentivo direto a esses trabalhadores, uma vez que os resíduos que eles
recolhem e separam como os plásticos, cobre vidro, alumínio, borrachas, papel,
amenizam os impactos causados ao meio ambiente.
Foi possível identificar algumas dificuldades no âmbito do desenvolvimento de
suas tarefas, como: o preconceito para “alguns” por trabalharem com lixo, a falta de
reconhecimento do poder municipal e da sociedade, o desgaste físico, e as chuvas no
inverno. Uma das maiores dificuldades está relacionada à venda dos diferentes tipos de
resíduos que são coletados e separados, e são vendidos a quem primeiro chegar, não tem
uma empresa responsável pela compra desses materiais. As transações comerciais desses
materiais foram tidas como não satisfatórias pelos informantes, já que a venda não se dá
diretamente a uma empresa específica de reciclagem. O ato da venda pelos atravessadores
(compradores informais) desvaloriza os “frutos” da atividade, muitas vezes com preços
bem abaixo do que realmente valem. Os materiais que não podem ser reciclados são
queimados no lixão mesmo. Os resíduos oriundos da construção civil são dispostos no
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lixão da cidade. Já o desfecho final, dos resíduos sólidos de saúde dar-se a sessenta metros
do lixão, onde os mesmo são colocados em valas (covas) e queimados.
Diante dessas análises, resta aguardar o desfecho da implementação da Lei da
PNRS e a desativação desses lixões que tanto geram impactos ao meio ambiente, como
também afetam a saúde das pessoas que vivem e sobrevivem da catação desses materiais
recicláveis. Espera-se que esses trabalhadores sejam de alguma forma, recompensados e
motivados a exercerem esse trabalho de suma importância.
5 Considerações finais
O estudo de caso na cidade de Pau dos Ferros/RN enfocou os principais impasses
que envolvem a problemática dos resíduos sólidos urbanos, visto sob a responsabilidade
dos órgãos públicos, privados e da sociedade em geral.
As abordagens dessa problemática, trazem à tona o modo como o capital se
reproduz e os inúmeros ‘problemas’ urbanos advindos da rápida industrialização que
contribuíram para que o lixo urbano se tornasse um problema, agravado pela lógica do
modo de produção capitalista, hoje sob bases de um consumo “desenfreado”. Corrobora-
se com Bauman (2008, p. 64) para quem o método explícito de atingir um efeito perpétuo
de não satisfação por parte das pessoas é “[...] depreciar e desvalorizar os produtos de
consumo logo depois de terem sido promovidos no universo dos desejos dos
consumidores”. O que na verdade começa com esforço para satisfazer a necessidade,
termina por sendo compulsão e vício. Surgem com isso, problemas relacionados à forma
inadequada de disposição dos resíduos urbanos gerados nas cidades e, em Pau dos Ferros
não é diferente, as fotos acima retratam a enormidade de resíduos nas ruas e a forma
inadequada de despejo nos lixões.
Nesse contexto de resíduos urbanos, surgem os “atores” principais, os coletores
de resíduos e os catadores de materiais recicláveis, que lidam diariamente com a
problemática e são desafiados pelas dificuldades oriundas do exercício da profissão. A
pesquisa de campo revelou não somente o processo de coleta e desfecho final dos resíduos
na cidade, como também identificou a precarização no âmbito dos serviços de limpeza
urbana e os desafios dos coletores de resíduos domiciliares e dos catadores de materiais
recicláveis existentes no lixão da cidade de Pau dos Ferros/RN.
Em se tratando dos coletores de resíduos domiciliares, observou-se que os
mesmos lidam diariamente com o desgaste físico oriundo do excesso de trabalho,
decorrência da falta de mão de obra em quantidade adequada para exercício do trabalho,
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vez que são muitos bairros para poucos coletores. Soma-se a isso, a prática da profissão
de gari, sem proteção adequada; apesar dos órgãos responsáveis advogarem a importância
do uso de equipamentos e de afirmarem fiscalizar o uso de tais equipamentos, foi
verificado que em alguns momentos os coletores exerciam suas funções com o mínimo
de equipamentos necessários, por vezes, não usavam sequer os famosos EPI’s.
Sobre os catadores de materiais recicláveis, a pesquisa revelou o dia a dia dos
mesmos e a forma precária de trabalho. Igualmente importante foi revelar o lado
econômico/comercial, a franca “concorrência” existente no âmbito dessa atividade e os
problemas adicionais de funcionamento da Associação.
A existência do lixão a céu aberto na cidade aponta a problemática e revela os
desafios frente às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos, além de reforçar
a preocupação em decorrência do destino final inadequado dos resíduos sólidos.
Diante do exposto, é evidente que a destinação inadequada desses resíduos
constitui um grande desafio para os países em desenvolvimento, bem como para os
gestores municipais que precisam incrementar meios, assumir atitudes que acarretem
sensibilização por parte da população a fim de extinguir esta problemática. Desafio
redobrado se considerado o tipo de sociedade que estamos inseridos, a “sociedade dos
consumidores” que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma
estratégia existencial consumista (BAUMAN, 2008, p. 71).
Essa abordagem se torna relacionada à reflexão de Giacomini Filho (2008, p.14):
“As pessoas esquecem que são hóspedes temporários deste planeta, e que a ordem
lastreada no “eu” e no “ter” é efêmera. E provoca com isso, impacto holístico e de longo
prazo”. Trata-se de “[...] um ter sem cuidar, em que a posse é motivo, não um meio de
usufruir as coisas”. Dessa forma, é nítido que as pessoas compram coisas que
necessariamente não precisam, fazendo com que as coisas mais antigas percam a validade
rapidamente, e sejam jogadas fora descartadas indo para a lata do lixo e tendo, muitas
vezes, um destinado inadequado, como os lixões a céu aberto.
Considerando os resultados adquiridos em campo, considera-se que é preciso
mudar os hábitos excessivos de consumo e que o plano de gerenciamento de resíduos
urbanos vem em meio à conscientização de que é preciso adotar os 3 R’s: Reduzir,
Reutilizar e Reciclar, ou Repensar, Refletir e Reaproveitar em meio à era do descartável.
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SUSTENTABILIDADE, CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E CIDADE:
ENTRE CRISES E POSSIBILIDADES
Ângela Kerley Pereira Lima 1
Resumo
A crise ambiental costuma ser tratada a nível de catástrofes geofísicas e os aspectos como
as vulnerabilidades sociais são colocados nos debates políticos como se o meio ambiente
e política fossem dissociados. Uma das vulnerabilidades, atualmente, refere-se ao
crescimento populacional por indicador da migração, principalmente, a permanente,
devendo este crescimento ser visto com um olhar mais peculiar quando se trata de
impactos socioespacial e ambiental. Antes, nas primeiras teorias demográficas havia-se a
preocupação de justificar ou combater o crescimento demográfico como um dos vilões
que causaria mal ao planeta, pois comprometeria os recursos naturais e a produção
econômica. Contudo, houveram novos desafios de refletir a demografia como um estudo
contribuinte para os impactos que a população sofreria com as mudanças climáticas, em
ênfase, a população urbana, bem como, acreditando na sustentabilidade como um
caminho, sobretudo, político mitigador à crise ambiente que atinge a população global.
Desse modo, o artigo sintetiza o debate entre sustentabilidade, crescimento populacional
e cidade, com atenção especialmente dirigida a interconectividade entre estas três partes.
Palavras chaves: Sustentabilidade. Crescimento Populacional. Cidade.
1 Introdução
Quando se começou a discutir as questões demográficas no planeta a
preocupação seria o aumento populacional e as formas de contê-lo diante da oferta dos
recursos naturais. Tal aumento demográfico comprometeria o processo de produção
capitalista e este debate repercutiu por muito tempo entre cientistas que defendiam a
perspectiva das causas do crescimento como um fenômeno transitório, e outros: ativistas
e cientistas ambientais, que unânime acreditavam no aumento populacional como um
caos ambiental, principalmente porque alegavam ser os países subdesenvolvidos o maior
lócus ameaçador de utilização e apropriação dos recursos naturais.
Resumidamente, sabe-se que as teorias demográficas tiveram sua primeira tese
formulada por Tomás Malthus (1776-1834). Um economista inglês que publicou o livro
Ensaio sobre o princípio da população em 1789. A ideia segundo Malthus seria que a
população mundial cresceria em um ritmo rápido, comparado por ele a uma progressão
1 Professora do Instituto Federal do Sertão Pernambucano – IF Sertão PE, Licenciada em Geografia
(URCA) e Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável (UFCA), [email protected]
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geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32, 64...), e a produção de alimentos cresceria em um ritmo
lento, comparado a uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6...). Ao final de um período
de apenas dois séculos, o crescimento da população teria sido 28 vezes maior do que o
crescimento da produção de alimentos. Os alimentos acabariam, uma situação
catastrófica, e a humanidade morreria de inanição. Malthus sugeriu como medida de
controle da natalidade a “sujeição moral” em que a própria população deveria adotar uma
postura de privação voluntária dos desejos sexuais, com o objetivo de reduzir a natalidade
equilibrando o crescimento demográfico com a possibilidade de expansão da produção
de alimentos.
Como primeira evolução continuada da teoria de Malthus, a Teoria
Neomalthusiana começa a se desenvolver nas primeiras décadas do século 20, baseada
no pensamento de Malthus, razão pela qual passou a ser denominada de neomalthusiana.
Esta somente se firmou entre os estudiosos da demografia após a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) em função da explosão demográfica ocorrida nos países
subdesenvolvidos o que provocou redução de mortalidade sem declínio na natalidade. Os
neomalthusianos analisam essa aceleração populacional segundo uma ótica alarmista e
catastrófica, argumentando que, se esse crescimento não for impedido, os recursos
naturais da Terra se esgotarão em pouco tempo.
Associado a esta teoria alguns cientistas apresentaram soluções de contenção
populacional benéficas, ao mesmo tempo maléficas quanto os direitos humanos. Medidas
adotadas por entidades mundiais (ONU, FMI, Banco Mundial, UNICEF, entre outros)
nos países subdesenvolvidos. Estas soluções foram exemplos de políticas de controle de
natalidade como: esterilização em massa de populações pobres (como foi feito na Índia e
na Colômbia); distribuição gratuita de anticoncepcionais; assistência médica para uso de
dispositivos intrauterinos (DIUs) e divulgação do modelo de família bem-sucedida, com
no máximo dois filhos, em programas de televisão, na publicidade e no cinema.
Depois nasceu a Teoria Reformista ou Marxista que atribui aos países ricos ou
desenvolvidos a responsabilidade pela intensa exploração imposta aos países pobres ou
subdesenvolvidos, que resultou em um excessivo crescimento demográfico e pobreza
generalizada. Segundo a Teoria Reformista, a fome e o crescimento populacional são
consequências do subdesenvolvimento e defendem a adoção de reformas
socioeconômicas para superar os graves problemas.
Por último, final do século XX no auge da defesa do meio ambiente em
conferencias internacionais como ocorrida em 1992, quando da realização da Conferência
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das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Ecomalthusianismo surge
com seus defensores alertando para os riscos ambientais decorrentes do crescimento
exagerado da população, renascendo a teoria de Malthus sob a justificativa de assim
colocar em prática a ideia de desenvolvimento sustentável como ocorreu nos debates da
conferencia Rio-92.
O controle da natalidade tornar-se-ia o ponto chave para retenção dos impactos
ambientais. Mas, para o ecomalthusianismo, a população ameaçadora seria a dos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento que planejavam medidas para chegar ao nível
dos países desenvolvidos. Sendo seu processo de urbanização célere; a industrialização
necessitaria de maior utilização dos recursos e, portanto, maior contingente populacional
se formaria em seus territórios. Haveria uma oposição quanto as teses desta teoria, os
países ricos possuem pequena população, mas utilizam a maior parte dos recursos naturais
disponíveis e são também os maiores responsáveis pela poluição do planeta.
Percebe-se que no início das reformulações das teorias demográficas a
preocupação atribuía-se aos impactos ambientais que o aumento da população causaria
ao meio ambiente e não ao contrário. Segundo Hogan (2005, p.325, apud, HOGAN, 1998)
“apesar de sempre presente na discussão de processos de distribuição populacional, a
questão dos recursos naturais apenas recentemente tornou-se o centro das atenções na
investigação sobre regiões específicas.” Ainda sobre a tese deste autor “de maneira geral,
existe considerável desacordo sobre a relevância da mudança ambiental para a migração.
Alguns pesquisadores caracterizam as condições ambientais como simplesmente mais um
dos push factors que influenciam as decisões de migrar.” (HOGAN, 2005, p.325-326).
Demonstra, este último posicionamento, que há resistência diante de uma
abordagem inovadora dos estudos demográficos como uma contribuição para se entender
e repensar medidas que combatam as vulnerabilidades sociais, especialmente, dos países
pobres com maior fragilidade tecnológica e financeira.
Neste artigo discute-se a interconectividade relacional entre sustentabilidade,
crescimento populacional e cidade da qual a mesma revela as crises principalmente
ambientais e sociais, mas provoca possibilidade de intervenção que garanta harmonia para
realidade atual, como é o caso da sustentabilidade. Sob a hipótese de o espaço urbano é
inelástico e o crescimento populacional dinâmico. O primeiro trata-se de limites
territoriais e o segundo de um fenômeno humano alterado por fatores econômicos,
ambientais, culturais, políticos e sociais, o que se faz pertinente a sustentabilidade como
uma categoria de análise para ambos; embora, as políticas públicas voltadas para o
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planejamento, organização e manutenção, principalmente espacial e socioambiental do
espaço urbano, norteiem o processo de crises e possibilidades sustentáveis entre cidade e
população.
Isto se conduziu ao objetivo central de entender o papel da sustentabilidade
diante do crescimento populacional e da dinâmica espacial e ambiental na cidade. Para
essa estruturação se propôs construir um diálogo entre sustentabilidade, cidade e
crescimento populacional apresentando o papel da sustentabilidade como intermediador
das crises e possibilidades entre estes três eixos temáticos.
Como a pesquisa bibliográfica “ é aquela que se realiza a partir do registro
disponível [...] Os textos tornam-se fontes e temas a serem pesquisados”. Possibilitam ao
pesquisador uma pesquisa com base nas “contribuições dos autores dos estudos analíticos
constantes dos textos.” (SEVERINO, 2007, p.122) e, por se tratar de uma pesquisa
voltada à compreensão dos discursos acadêmicos acerca dos conceitos propostos:
sustentabilidade, crescimento populacional e cidade, bem como, suas relações conceituais
e impactos na materialidade, sobretudo, social, espacial e ambiental, buscou-se fazer uma
abordagem qualitativa utilizando como modalidade metodológica a pesquisa
bibliográfica sobre a obras dos principais autores que citamos na obra.
2 DEBATE ENTRE SUSTENTABILIDADE, CRESCIMENTO POPULACIONAL
E CIDADE
O surgimento das cidades historicamente é marcado por fenômenos que
paralelamente foram influenciando sua materialidade, como urbanização, capitalismo,
industrialização e crescimento demográfico. Pode-se dizer que existe uma relação
simbiótica entre todos estes modais principalmente quando compreendidos sob o modo
de produção enquanto categoria de análise. Portanto, no momento em que se admiti o
espaço geográfico como um objeto material socialmente construído, também pode-se
analisar suas categorias espaciais a exemplo, cidade, a partir do modo de produção
capitalista elevando-a à categoria de objeto de consumo. Mas, segundo Ojima (2005, p.5)
é preciso entender o conjunto de valores individuais da sociedade do século XX, para
poder compreender as formas de consumir a cidade; debate que não se aprofundará neste
artigo, porém, torna-se relevante como ponto de reflexão.
A cidade enquanto um lugar civilizado e moderno é parte dos fundamentos
ideológicos da burguesa francesa contra o modelo socioeconômico medieval do século V
a XV. Titulada pelo slogan “o ar da cidade é o ar da liberdade” (SPOSITO, 2010), a
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cidade, tornou-se o espaço das possibilidades. Claro que este traduzia um interesse
político com conotação de espaço das mudanças sociais e culturais contrárias a
estagnação proposta pela estruturação política da Idade Média.
O surgimento da cidade corresponde a uma delimitação histórica e hoje é preciso
associar a realidade dos impactos sociais e ambientais causados pela urbanização
acelerada que atingi a população global e singularmente a população das regiões
ambientalmente vulnerável. Como se disse inicialmente, a constituição das cidades é
marcada por aqueles fenômenos que lhes deu materialidade, e entre eles as implicações
no dinamismo populacional em relação a espacialidade urbana.
Quando se diz: “o mundo é urbano”, é importante levar em consideração
mudanças na distribuição populacional no espaço, em particular no urbano, associado ao
perfil econômico, que estritamente afeta os recursos naturais e a qualidade de vida social
nos países, ou melhor, as dinâmicas territoriais, sociais e ambientais de um lugar estão
estritamente vinculadas as conceituações de: países desenvolvidos, subdesenvolvidos ou
em desenvolvimento, dos quais possuem um quadro populacional e este é impactado pela
economia e desenvolvimento humano. Falar de aumento populacional é compreendê-lo
no contexto de impactos sociais, econômicos, ambientais, culturais e políticos; dimensões
inseparáveis defendidas pela teorização da sustentabilidade.
Conforme UN Population Division (2002), houve uma considerável mudança no
perfil populacional urbano mundial. Em 1957 30% da população viviam em áreas
urbanas; no ano 2000 o número aumentou para 47% e a probabilidade para 2030 será de
60%. Um aumento que poderá chegar a 30% da população urbana em menos de 100 anos.
Para Ojima (2005, p.1):
Este crescimento se dará, sobretudo, entre os países em desenvolvimento, pois
os países desenvolvidos já passaram por esta transição urbana e atingem uma
média de 75% de sua população nas áreas urbanas, tornando urgente a
necessidade de um avanço conceitual sobre a reestruturação espacial urbana,
principalmente no caso brasileiro e latinoamericano, que apresenta indicadores
de urbanização de países desenvolvidos (em torno de 70%), mas não se
encontram entre eles.
Classificar os países por tipologia econômica e, consequentemente, por
desenvolvimento social é um indicador proposto pelas organizações mundiais pós o
advento da Revolução Industrial fortalecido pela globalização. Estas organizações
passaram a dividir o espaço mundial por blocos e o indicador classificatório principal foi
o econômico, ou seja, o Produto Interno Bruto – PIB. O fato é que os investimentos
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econômicos em um lugar seja ele de influência global ou local exerce um poder de atração
e uma das consequências são os movimentos migratórios: migração pendular, definitiva
ou sazonal, somados ao êxodo rural. Mas, outros fatores como: naturais, políticos, étnicos
e religiosos são causas destes movimentos e estes concretizam-se em quantitativos que
enquadra o crescimento ou decrescimento populacional de um determinado lugar.
Ver-se as pontuações de Rekacewicz (2008, p.2):
No total, os países chamados em desenvolvimento acolhem mais de 80% dos
refugiados. E são as nações mais pobres que recebem os contingentes mais
importantes: a República Democrática do Congo abriga até 300 mil pessoas, e
1,7 milhão se acrescentarmos a população deslocada; a Síria, mais de um
milhão; o Iêmen, cem mil; a Tanzânia, cerca de 500 mil; o Paquistão, mais de
um milhão e a Jordânia, entre 2,3 e 2,5 milhões.
Estes refugiados são vítimas de catástrofes ambientais, como as 400 mil pessoas
refugiadas do furacão Katrina (EUA). De perseguições políticas, pobreza e fome,
conflitos étnicos e religiosos e, do processo de desterritorialização silencioso abafado no
clamor das populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e sertanejas que são
OBRIGADAS, para não descaracterizar o discurso maquiado de: serem “convidados a
sair” em nome de uma indenização fraudulenta de suas terras para dar lugar ao
“desenvolvimento”. Isto aconteceu no Brasil com a Transposição do Rio São Francisco
(Nordeste), a construção da usina termoelétrica do Belo Monte (Norte) e a construção do
açude Castanhão em Jaguaribara (Ceará – Nordeste).
Segundo Rekacewicz (2008), o Centro de Estudos sobre os Deslocamentos
Internos do conselho norueguês (IDMC) [...], a maior autoridade na matéria, a instituição
avalia que existam hoje 25 milhões de deslocados no mundo. "Esse número contabiliza
apenas as populações vítimas de conflitos, de ondas de violência políticas ou de violações
dos direitos humanos". (KOK, apud, REKACEWICZ, 2008, p.2). Relatado por
Rekacewicz (2008, p.2), para o especialista na área Frédérik Kok,
‘a principal dificuldade é escolher uma definição que leve em conta as
múltiplas causas das migrações’. E acrescenta: ‘os grandes projetos de
desenvolvimento (barragens, centros industriais e plantações), por exemplo,
forçam o deslocamento de 10 a 15 milhões de pessoas anualmente. Nas
mudanças vinculadas a problemas ambientais, as escalas de grandeza são ainda
mais espetaculares: em 2006, 145 milhões de pessoas foram atingidas, de
acordo com o Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (Centro
de pesquisas sobre a epidemiologia dos desastres). Nós enfrentamos
dificuldades para obter os números precisos, mas pode-se considerar que os
deslocamentos vinculados aos grandes projetos de desenvolvimento e aos
desastres naturais são de cinco a dez vezes mais significativos do que aqueles
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gerados por conflitos. No total, quaisquer que sejam suas causas, envolvem
entre 100 e 200 milhões de pessoas’.
São diversos fatores que impactam os recursos naturais, as estruturas físicas da
terra e a população mundial produzindo vulnerabilidades ambientais e sociais. Uma
realidade de insustentabilidade que faz emergir uma crise ambiental e civilizatória.
Concernente a população, ela migra para o espaço urbano porque a cidade passa a ser o
espaço do refúgio, razão de exercer o papel de lugar da modernidade, produção e
oportunidade. A cidade é obra da sociedade moderna, por isto, tornou-se um espaço em
crise.
No contexto capitalista, a cidade sofreu transformações a nível de estruturação e
inchaço populacional e vários problemas de saneamento, transporte e moradia
acentuaram-se. O espaço urbano, a partir de então se tornará o espaço da periferia, outro
problema de reflexo do crescimento populacional. A população pobre procura a
autoconstrução como forma de sobrevivência e passa a ocupar as áreas periféricas
(vulneráveis) de morros e depressões. As ocupações na maioria dos casos são invasões
como expressão da necessidade e do direito à cidade. De modo em que, se faz pertinente
agora perguntar: o mundo é urbano?
Davis (2009, p.191) disse:
A Terra urbanizou-se ainda mais depressa do que previra de início o Clube de
Roma em seu relatório sabidamente malthusiano de 1972, Limits of growth
[Limites do crescimento]. Em 1950, havia 86 cidades no mundo com mais de
um milhão de habitantes; hoje, são 400 e, em 2015, serão pelo menos 550. Na
verdade, as cidades absorveram quase dois terços da explosão populacional
global desde 1950 e crescem hoje no ritmo de um milhão de bebês e migrantes
por semana. A população urbana atual (3,2 bilhões de pessoas) é maior que a
população total do planeta em 1960. Enquanto isso, no mundo todo o campo
chegou a sua população máxima (3,2 bilhões de pessoas) e começará a
encolher a partir de 2020. Como resultado, as cidades serão responsáveis por
todo o crescimento populacional futuro da Terra – espera-se que seu ponto
máximo, cerca de 10 bilhões de habitantes, seja atingido em 2050.
E, interconectando a esta realidade se traz o exemplo brasileiro que, segundo a
Organização das Nações Unidas – ONU, até 2025 mais de 90% da população viverá em
áreas urbanas. Isto poderá ser um colapso espacial, social e ambiental? Acredita-se que
sim tendo em vista a inelasticidade do espaço, a degradação dos recursos pelo modo de
produção e distribuição desigual de renda, no entanto, admite-se: “ independentemente
do que isso queira significar por conta dos critérios utilizados, evidências apontam para
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uma irreversibilidade do urbano enquanto tendência demográfica nacional. ” (OJIMA,
2005, p.12-13).
Se o mundo possui está tendência, então, dois pontos devem ser colocados: o
espaço urbano será um colapso e a cidade será sinônimo de pobreza. “Os pesquisadores
do Observatório Urbano da ONU alertam que, em 2020, ‘a pobreza urbana no mundo
chegará a 45% a 50% do total de moradores de cidades’”. (Slums of the world, apud,
DAVIS, 2009, p.202-203). Todos os dados apresentados e geradores dos debates das
interconexões entre a cidade como materialidade do espaço urbano e o crescimento
demográfico fomentado pelas migrações, provoca o discurso da sustentabilidade como
contraproposta à crise.
A sustentabilidade é um conceito que nos debates políticos, econômicos, sociais,
culturais e ambientais da sociedade contemporânea tem se tornado pertinente e retórico,
no entanto, complexo na prática popular e política tendo em vista a controvérsia das ações
de ambos. Se por um lado a sustentabilidade tem legitimado os discursos da gestão
pública e da economia, por outro concorda-se com Neves (2013, p. 16) no momento em
que se refere a sustentabilidade “como palavra de ordem, inserida nos discursos
paradigmáticos politicamente corretos que buscam conciliar crescimento econômico e
preservação ambiental”. Ou seja, é preciso mudar comportamentos e ações.
Assim, sustentabilidade trata-se da harmonia entre todos os aspectos no que diz
respeito a sociedade e meio ambiente. A sociedade, simultaneamente, interagindo com a
natureza e dando prioridade a sua preservação. Uma construção relacional a partir do
saber científico e do saber local. (LIMA, 2014; LEFF 2010). O termo passou a ser
incorporado a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano
United Nations Conference on the Human Environment - UNCHE, realizada na Suécia,
na cidade de Estocolmo em 1972. (UNCED, 2002).
Com isto admite-se que “a sustentabilidade é uma proposta ousada à dinâmica
planetária do momento, portanto, qualquer revisão das definições de sustentabilidade, no
momento atual, estará sempre ultrapassada” (LOPES, 2009 p. 115). Um conceito em
estado de evolução pois a relação homem-natureza é dinâmica. E, como tratamos do
contexto urbano, o mesmo não é inseto das raízes rurais – um processo transitório espacial
– hoje com uma imensa desarmonia territorial, onde o rural é desterritorializado
diariamente de forma legitima pelo poder público para dar lugar ao processo de
urbanização.
Nada melhor que provocar a reflexão com a sustentabilidade. O significado do
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termo sustentabilidade é de origem da biologia, aonde os elementos da natureza devem
se integrar, compartilhar e harmonizar entre si a fim de garantir sustento natural.
Utilizando-se de observações das populações de algumas espécies que atingiram défices
reprodutivos causados pela extração e exploração de recursos naturais pela indústria,
alguns cientistas passaram a monitorando e controlar o ciclo reprodutivo (VEIGA, 2008).
No mesmo caso, a ecologia observava o equilíbrio entre a cadeia alimentar, interação e
interdependência entre as partes.
Evidentemente que o modelo conceitual de sustentabilidade nasce das ciências
naturais, mas foi introduzido nas ciências humanas e aplicadas, pois a sociedade entra em
colapso de espacialidade, moradia, pobreza, doenças, entre outros. Repensar o modelo
econômico foi um dos passos que atingiu diretamente não apenas a produção econômica,
mas a economia enquanto ciência que pronunciava ser capaz de resolver todos os
problemas sociais. Segundo Lima (2014), “a sustentabilidade passa a ser problematizada
na esfera epistemológica no campo da economia como reflexões inovadoras a fim de
confrontar o pragmatismo da economia que ocasionou a gênese e as causas dos maiores
impactos ambientais e sociais do planeta”. As concepções científicas da economia
provocaram irreversibilidades ambientais e, consequentemente, sociais, culturais e
espaciais pontuais em épocas diferentes.
A maior parte das consequências acumularam-se de um século para outro (séc.
XIX ao XX) e estavam direcionadas pelo cientíssimo positivista, cartesiano e tecnológico
gerando uma crise ambiental trágica que nos dias atuais se intensifica. A crise ambiental
gerada pela intervenção da ciência positivista e cartesiana, como da técnica,
contaminaram a natureza e aumentaram a miséria e doenças. (LIMA, 2014). Problemas
que a economia se isentou como responsável. “Mas, para os economistas, os problemas
estariam para além de valores extras à ciência econômica, no entanto, ligados diretamente
a sua própria sustentabilidade.” (Ibidem, 2014, p.76). O futuro apresentaria
concretamente as consequências, sobretudo, nos aspectos sociais, ambientais e espaciais
como demonstra Bursztyn no quadro 1.
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Quadro 01: perspectivas do século XIX e XX.
Fim do século XIX Fim do século XX
Expectativa geral
para o futuro
Otimismo Pessimismo
Papel da ciência e da
tecnologia
Forte crença na capacidade
de resolução dos
problemas
Desencanto e consciência da
necessidade de precaução
Condições de vida Perspectivas de bem-estar
(welfare)
Um mal-estar pelo
agravamento de carências
Instância reguladora Crescentemente o Estado Crescentemente o mercado
Relação entre os povos Paz Guerras
Relações entre grupos
sociais
Maior igualdade Maior desigualdade
Economia Forte crescimento Crescimento lento e
estagnação
Progresso Promotor de riqueza Causador de impactos
ambientais
Mundo Interdependência
(mercados) e
complementariedade
Globalização e exclusão de
regiões “desnecessárias”
Fonte: Bursztyn (2002, p. 10).
Do otimismo ao pessimismo. Provavelmente esta visão global baseia-se na crise
ambiental e civilizatória que vem depositando vulnerabilidades socioambientais
preocupantes das quais levam a cogitações: o fim do planeta e simultaneamente da
humanidade. Porém, isto realmente se concretizará? O mundo não é suficientemente
resiliente? Alguns cientistas acreditam que a crise ambiental é apenas um discurso
político, de modo que o planeta possui uma capacidade natural de equilíbrio ao
desiquilíbrio e vice e versa, tendo neste século XXI da Revolução Técnica Científica
Informacional a ciência e tecnologia como principais aliadas capazes de solucionar todos
os problemas. O centro do mundo pertence a estas duas.
O século XIX propôs perspectivas progressivas sob a base do capitalismo, algo
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não diferente dos dias atuais. Oferecendo um mundo de prosperidade, bem-estar e
igualdade sob a égide do Estado. Mas, o que o século XX nos trouxe é uma perspectiva
de vida e condição planetária inversamente contrária. Não há bem-estar para a massa
populacional, não há distribuição de renda igualitária. O Estado cumpre mais com o papel
de parceiro dos grandes capitalistas do que interventor das causas sociais. A globalização
foi um movimento desterritorializante não apenas de espaço, mas de culturas. E o
neoliberalismo firmou-se como o rei da economia.
Sendo necessário salientar que o modelo de sociedade atual que vive a
tecnologia, o consumo e o individualismo como base de suas relações, sendo o dinheiro
em sua mais pura essência de valor e o centro único impulsionador da busca insensata
pelas coisas, ganharam novas proporções de impactos negativos no ínterim ambiental e
social. O que passou a exigir uma nova postura, particularmente, da economia e da
política mundial.
As cidades, principalmente médias e globais, devido sua concentração material,
populacional e produção econômica são espaços mais impactado do território global.
Reuni em suas delimitações territoriais um número alto populacional vulnerável a
escassez espacial e de serviços públicos, das quais, “poucas vezes pensamos na
sustentabilidade urbana como aquela que garante a manutenção da qualidade de vida da
população, talvez por essa perspectiva pouco se diferenciar dos problemas já existentes
(Hogan, 1995; Ojima e Marandola Jr., 2012, apud, OJIMA, 2013). Teriam sido as cidades
deste século e vigor (XXI) moldadas por este modelo do século XIX e produtor do que
indica o século XX.
A cidade é o lugar onde vislumbramos a implantação da ciência e tecnologia,
nesta monta-se o palco da modernidade. Desse modo, seu espaço é constantemente
produzido e reproduzido com o objetivo de expansão. Revelando que tal aplicação de
modernidade está para o poder de consumo em todas as demandas sociais. Os recursos
naturais pertencentes ao espaço urbano e são levados a condição de objeto manipulado,
invadido e descartável, executado nas ações públicas quando omitem e desrespeitam o
planejamento urbano, zoneamento e ordenamento territorial.
Inicialmente, apresentou-se um modelo de mundo urbanizado e
tendenciosamente povoado. Uma crise de espacialização entre o espaço urbano e rural,
pois a população deste último, é fato, migrou para o urbano. Esta migração, no primeiro
momento, ocorreu no contexto global no período de transição entre o sistema feudal e
capitalista, e no caso brasileiro, tendo o seu maior índice de êxodo entre as décadas de 60
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a 80.
A relação cidade-campo-população entraria adiante em uma crise muito mais
complexa: cidade-campo-população-meio ambiente. Ou seja, o mundo visto sob a ótica
populacional deveria transpor a primeira relação e perceber a contribuição dos estudos
populacionais para a complexidade de impacto entre fatores ambientais, saúde social,
produção e população (HOGAN, 2005).
As primeiras teorias demográficas defenderam como objetivo de análise o
crescimento populacional enquanto uso dos recursos naturais do qual impactaria o modo
de produção capitalista. O discurso dos primeiros demógrafos era provar que o
crescimento populacional seria o maior caos do planeta, pois este tornar-se-ia o principal
fator dos impactos na natureza advindo, sobretudo, dos países subdesenvolvidos. Criando
as Teorias malthusianas e reformista, pois partiam destes princípios.
O capitalismo, a industrialização, urbanização e crescimento demográfico
andavam de mãos dadas e todos causavam a má condição ecológica. A partilha dos
impactos ambientais seria compartilhada a partir do século XX pela população global,
contudo, a parcela da população pobre é quem sofre os maiores infortúnios das mudanças
climáticas e vulnerabilidade sociais.
Na contracorrente ao mundo urbanizado nos moldes de mais cidades e elevado
índice de crescimento populacional nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
sob a forma de natalidade e fecundidade, Hogan (2005, p.323) defende que existe uma
tendência a declividade de ambas categoriais. No caso do crescimento demográfico torna-
se “mais evidentes a cada censo de população. As taxas de crescimento populacional têm
declinado em todos os países latino-americanos, frequentemente a ritmos históricos sem
precedentes.” Veja-se, para Hogan (2005) a fecundidade em países latinos americanos se
equipará a da Europa em que as mulheres passaram a gerar 2,1 filhos até que a taxa de
crescimento demográfico poderá chegar a 0 antes do esperado. Estar-se dizendo que assim
como países europeus chegaram a uma população envelhecida os países da américa
Latina também chegaram.
Conforme Hogan (2005) segundo estudos da ONU as taxas de declínio também
correram para o urbano. Na América Latina houve redução da velocidade do crescimento
urbano acompanhado por mudanças na estrutura familiar, acessão da mulher no mercado
de trabalho e padrões de consumo. Com isto o autor afirma que:
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A taxa de crescimento dos domicílios é hoje maior que a taxa de crescimento
da população. A mudança nos padrões de consumo que isso representa terá
importantes efeitos ambientais. As taxas declinantes de crescimento
populacional não são nenhuma panaceia para a qualidade ambiental. Essa
desativação da bomba populacional, há muito esperada pelos demógrafos,
levou a uma atitude de laissez-faire em relação aos problemas de população e
ambiente. (HOGAN, 2005, p.335)
Na verdade, a demografia como um estudo avançado populacional não esperava
que o declínio do crescimento populacional por fecundidade e natalidade exigisse um
novo olhar. O olhar às migrações permanentes, sazonais e pendulares, principalmente, a
primeira destas. As migrações alteram o fluxo urbano e aumentam as demandas dos
serviços públicos tornando pontual elaborar um planejamento urbano com bases
sustentáveis.
A pobreza urbana destaca-se nos países subdesenvolvidos, muitos na América
Latina, inúmeros na África e outros na Ásia. Fala-se de um climatério problemático social
preocupante. Pobreza não é um fator determinante para o espaço, mas em alguns lugares
ela é vista nitidamente por números quantitativos. Nem todo pobre mora em favelas e
muito menos todo favelado é pobre. Porém, coloca-se uma observação importante: a
periferização célere nestes continentes ocorre com as classes pobres e miseráveis. As
periferias ganharam espaço continuo. Para Hogan (2005) estes continentes
experimentaram um processo de consequências ambientais e sociais fortíssimas:
Degradação dos recursos naturais e da qualidade do ambiente;
descontinuidades na rede de infraestrutura urbana; o agravamento dos
problemas sociais na periferia; o comprometimento das finanças públicas com
os crescentes custos da urbanização; o estabelecimento de espaços segregados
dirigidos exclusivamente à população de baixa renda, entre outros. Estas
populações são aquelas com menores recursos para se protegerem dos riscos
ambientais. (HOGAN, 2005, p. 333)
A crise ambiental, por outro lado, despertou uma epistemologia contraria aquela
implantada pelo positivismo (ordem e progresso; cartesianismos, etc.) conduzindo a
outros paradigmas. Faz-se imaginar o que teria de novo no discurso da sustentabilidade
em relação ao produzido pelo cartesianismo a fim de fortalecer o capitalismo? Observa-
se o quadro 2.
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Quadro 02: Paradigma cartesiano versus paradigma sustentável
Cartesiano Sustentável
Reducionista, mecanicista e tecnocêntrico Orgânico, holístico e participativo
Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionado
Preceitos éticos desconectados das
práticas cotidianas
Ética integrada ao cotidiano
Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e subjetivo
Seres humanos e ecossistemas separados,
em relação de dominação
Seres humanos inseparáveis dos
ecossistemas, em uma relação de sinergia
Conhecimento compartimentado e
empírico
Conhecimento, indivisível, empírico e
intuitivo
Relação linear de causa e efeito Relação não linear de causa e efeito
Natureza entendida como descontinua, o
todo formado pela soma das partes
Natureza entendida como um sistema
inter-relacionado, o todo maior que a
soma das partes
Bem-estar avaliado na relação de poder
(dinheiro, influência e recurso)
Bem-estar avaliado pela qualidade das
inter-relações entre os sistemas ambientais
e sociais
Ênfase na quantidade (renda per capita) Ênfase na qualidade (qualidade de vida)
Analise Síntese
Centralização de poder Descentralização de poder
Especialização Transdiciplinaridade
Ênfase na competição Ênfase na cooperação
Pouco ou nenhum limite tecnológico Limite tecnológico medido pela
sustentabilidade Fonte: Seifert (2009)
Surge a necessidade de formas alternativas à economia, a um outro discurso
político e outro modo de construir os conhecimentos. Em que tudo aponta às ações
sustentáveis porque os seus percursos devem ser sustentáveis. Buscar a sustentabilidade
é defender que função perpassa o aspecto ambiental, ela só funcionará quando interligada
ao político, cultural, econômico e social. Pensar em cidades sustentáveis que promovam
qualidade de vida para a população é considerar o dito por Ojima (2013, p.49):
As medidas de adaptação devem ser, portanto, ações pró-ativas que antecipem
os desafios a serem enfrentados, pois só assim poderão ser respeitados os
interesses da justiça socioambiental. As cidades são os espaços privilegiados
dessas transformações, pois nelas é que poderemos encontrar as melhores
condições para dar acesso aos serviços sociais e de cidadania que garantam a
negociação política. Construir cidades resilientes passará pela compreensão
das especificidades de cada contexto e, do ponto de vista do papel das
mudanças demográficas nas cidades, é necessário entender como as tendências
da mobilidade espacial, do processo de envelhecimento, dos arranjos
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domiciliares, etc., contribuem ou não para este desafio que só tende a se tornar
mais complexo.
A cidade deve ser pensada em sua totalidade para que possa alcançar todos os
espaços e todas as pessoas que nela especializa, garantindo um desenvolvimento
sustentável que representa desenvolvimento humano. O crescimento populacional
centralizado por migrações inclui-se neste processo de garantias de direitos.
3 Considerações Finais:
Ficou claro o víeis dado ao percurso cientifico das teorias demográficas que
devem avançar em profundidade de intervenção e contribuição a crise ambiental e
civilizatória. Os protestos dos movimentos sociais passam a ser os principais
coadjuvantes para que a conjuntura da política do crescimento econômico implante outros
indicadores que contemplem práticas de produção que pensem no desenvolvimento
humano e conservação ambiental.
Só os conflitos entre os grupos fomentadores de tais movimentos e o tipo de
economia implanta no mundo deram impulsos a uma convocatória de eventos
institucionalizados a nível mundial, entre alguns deles: Estocolmo 72; a noção do
Desenvolvimento Sustentável; Rio 92; Rio +10; Conferência de Copenhague- COP 15 e
COP 16. Uma nova reflexão ambiental, traçando diretrizes para a economia mundial que
minimize os impactos no meio ambiente, na população e fomentem novas formas e meios
de produção. A nova filosofia relacional homem-natureza trata-se de implantar ações no
hoje sendo ao mesmo tempo visionário para o futuro no que diz respeito a priorizar a
qualidade ambiental, garantir os direitos sociais, valorizar a cultural, bem como,
proporcionar uma economia justa e criativa. Leff (2010, p.33): “A sustentabilidade é uma
maneira de abrir o curso da história, um devir que se forja recriando as condições da vida
no planeta e os sentidos da existência humana.”
Pode-se assim dizer que a grande façanha da modernidade foi implantar na
sociedade global o fundamentalismo do consumo exacerbado ligado a uma pseuda
infinidade dos recursos naturais e do poder da ciência e da tecnologia em restaurar e
recriar o que é natural desenvolvido em um processo evolutivo de eras. Contudo, o que
provocou foi uma crise ambiental planetária exigindo uma nova referência de ações
gestoras mundiais com ações conjuntas locais e globais.
Ser sustentável, basicamente, é estar com as ações políticas, econômicas, sociais
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e ambientais harmoniosas ao seu meio. É pensar no hoje com uma utopia possível, pois
as cidades em um contexto global possuem um ambiente dos mais conflituosos tanto
espacial como social. Os serviços básicos necessários para garantir a qualidade de vida
dos que usufruem este espaço requer de grandes investimentos econômicos, logo porque
as cidades cresceram e crescem sem planejamento sustentável fazendo surgir grandes
impactos ambientais e sociais na infraestrutura e distribuições de serviços.
Desse modo, os maiores atingidos pelas mudanças climáticas, globalização
excludente, miséria, falta de moradia, de saneamento básico e tantos outros serviços é a
população que migra de suas cidades por variados motivos, seja eles econômicos,
religiosos, étnicos, de conjuntura política ou mudanças climáticas promotoras da seca,
tsunami, terremotos ou vulcanismos. Não podendo deixar de citar Ojima (2005, p.49)
quando enfatiza que: “[...] o desenvolvimento deve ser sustentável para todos, em
quaisquer contextos urbanos. [...] mas que se não forem planejados da maneira adequada
pagarão a conta, sem ao menos terem sido convidados a se sentar à mesa para o almoço.
Portanto, se discute a possibilidade de uma nova ordem de vivência urbana na
apresentação do Programa Cidade Sustentável e o desafio de sua implantação na
conjuntura de políticas públicas urbanas atuais porque se acredita em mitigações,
inovações e planejamentos públicos como forma de dirimir e prevenir tantas
vulnerabilidades sociais.
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VALORAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA SANTA
TEREZA NO MUNICÍPIO DE ALTANEIRA/CE
JOSE ADEVANILTON DA SILVA1
PEDRO JOSE REBOUÇAS FILHO2
RESUMO:
A presente pesquisa objetiva fazer uma revisão bibliográfica em torno do tema Valoração
Ambiental, acerca dos conceitos e principais métodos, mostrando a importância dessa
ferramenta, por meio do estudo de caso da Lagoa Santa Tereza, localizada no município
de Altaneira/CE, a qual encontra-se em uma situação crítica de poluição e abandono,
tendo em vista que foi às suas margens que esse munícipio se originou. A pesquisa
apresenta-se de caráter exploratório, de natureza qualitativa, à qual realizou-se a pesquisa
bibliográfica, e a pesquisa de campo. Neste sentido utilizando-se o Método de Valoração
Contingente (MCV), com a medida de valoração DAP (Disposição A Pagar), a partir da
aplicação de questionário, identificou-se, dentre outras características, a opinião dos
altaneirenses acerca da Lagoa e a intenção destes no que diz respeito à sua DAP. Os
resultados mostraram que 81,32% dos altaneirenses estariam dispostos a pagar, obtendo
assim uma DAP mensal média de R$ 8,69. Dessa forma, a partir da média atribuída, o
valor estimado da Lagoa Santa Tereza corresponde a R$ 714.943,68/ano. Conclui-se
então que esse valor se arrecadado e depois aplicado de forma correta se tornaria um
grande investimento para o município de Altaneira, tanto econômico como ambiental.
Palavras-chaves: Valoração Ambiental; Lagoa Santa Tereza; Valoração Contingente.
1 INTRODUÇÃO
A crescente ação das atividades econômicas e a busca desenfreada do
capitalismo por novos espaços provocam danos muitas vezes irreversíveis ao meio
ambiente, pois as atividades econômicas são desenvolvidas sem considerar as
externalidades negativas em termos ambientais. Porém não foi sempre que se teve essa
preocupação com o meio ambiente, pois antes da Revolução Industrial (século XVIII) os
recursos naturais pareciam ilimitados e os danos causados ao meio ambiente quase
inexistente. Os debates sobre as questões ambientais somente se intensificaram apenas na
década de 1970, até então era preocupação de poucos, o desenvolvimento centrava-se na
1 Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri – URCA, Crato-CE/Brasil.
E-mail: [email protected].
2 Mestre em Economia do Setor Público pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Professor adjunto do
departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA-CE/Brasil.
E-mail: [email protected].
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expansão de fronteiras, a qualquer custo, independente das externalidades negativas
geradas ao meio ambiente e dos custos futuros a serem resgatados (ORLANDINI, 2009).
Dessa forma muitos dos danos causados ao meio ambiente não são levados em
consideração, quando se faz uma avaliação socioeconômica das atividades que os geram,
por que esses bens e serviços ambientais não possuem valor de mercado, assim como os
demais produtos. Para minimizar essa problemática surgem os métodos de Valoração
Econômica Ambiental, com esse principal objetivo de valorar os bens e serviços
ambientais.
Diante dos diversos impactos ambientais causados ao meio ambiente, nos remete
a questionar o valor econômico dos bens ou serviços expostos a esses impactos. Dessa
forma muitos desses bens e serviços são de fácil precificação por estarem relacionados ao
mercado. Porém a grande maioria dos recursos naturais requer aplicação de métodos de
Valoração, como o que será utilizado na pesquisa em relação a Lagoa Santa Tereza, a
qual encontra-se hoje em péssimo estado de conservação, com sérios problemas de
assoreamento e vegetações em grande parte das suas águas, além do lançamento do esgoto
oriundos do escoamento das casas. Sendo assim, uma das questões básicas a ser levantada
é: qual valor monetário os habitantes de Altaneira estariam dispostos a pagar para ter a
lagoa revitalizada e urbanizada?
Às margens da Lagoa Santa Tereza os primeiros habitantes de Altaneira foram
atraídos pelo seu potencial hídrico, pouco comum nessa região, construíram casas, e então
posteriormente fundaram a vila Santa Tereza, daí então a vila foi crescendo e passou a
ser município, e a lagoa ficou de certa forma esquecida, tornando-se necessário fazer uma
reflexão acerca dessa problemática, tendo em vista o grau de relevância que a lagoa tem
como patrimônio-histórico-ambiental (CIDRÃO, 2005). Dessa forma a presente pesquisa
visa além de apresentar um valor econômico para a lagoa, trabalhar a consciência crítica
dos altaneirenses, como também proporcionar tomadas de decisão.
Esta pesquisa justifica-se pelo fato de que projetos de revitalização e urbanização
da lagoa foram elaborados para resolver esse problema, porém nenhum foi colocado em
prática. Assim com essa pesquisa, apresentando o ponto de vista econômico, trará novas
perspectivas para que mobilizem autoridades e a população em geral a tomarem atitudes
frete a situação com formulação de políticas. Por outro lado a presente pesquisa também
servirá de subsídio para posteriores pesquisas como forma de facilitar e inovar novos
estudos, contribuindo para novos procedimentos de ensino-aprendizagem de um assunto.
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Além disso, justifica-se ainda pelo fato de que o tema a ser trabalhado é de
grande relevância nos dias atuais, sendo um assunto novo e que requer novas
abrangências e aplicações. Ao paço que os métodos de valoração econômica, contribuem
para redução da negligência ou subvalorizarão dos recursos ambientais por partes dos
gestores ambientais, geralmente pelos órgãos públicos, possibilitando assim que suas
ações sejam mais eficazes, e que não considerem os recursos ambientais simplesmente
como custo zero, pois assim como os outros bens serviços, eles também possuem valor
de mercado e por meio desses métodos, esses valores podem ser calculados.
Nesta perspectiva a presente pesquisa teve como objetivo principal Valorar em
termos monetários a Lagoa Santa Tereza em Altaneira-CE. Os objetivos secundários
foram: Revisar os conceitos e principais métodos de Valoração Econômica Ambiental;
Demonstrar, através do contexto histórico a importância da Lagoa Santa Tereza, para o
Município de Altaneira-CE e por fim determinar o valor monetário que os cidadãos
altaneirenses estariam dispostos a pagar para revitalizar e urbanizar a Lagoa Santa Tereza,
Altaneira-CE.
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa toma como base o Manual para Valoração Econômica dos
Recursos Ambientais, desenvolvido pelo autor Ronaldo Seroa da Motta (1998), cujos
principais métodos serão apresentados na próxima seção. O método a ser aplicado será o
Método da Valoração Contingente (MVC), devido às especificidades do objeto de estudo,
e os objetivos da pesquisa. Então de acordo com a literatura esse método será o ideal para
realizar a valoração. A medida de valoração a ser utilizada será a Disposição a Pagar
(DAP) e a escolha dicotômica, onde é dado o valor na pergunta, através da pergunta: Você
estaria disposto a pagar R$ X por mês para revitalização e urbanização da Lagoa Santa
Tereza?
Para construção da referida pesquisa foram utilizados aspectos metodológicos
de natureza qualitativa, onde realizou-se revisão de literatura sobre o assunto em questão,
o tema valoração econômica ambiental, por meio de consultas de artigos acadêmicos,
monografias, livros, dissertações, revistas, sites e dentre outros. Além disso, realizou-se
pesquisa de campo com a aplicação de questionários, feitas entrevistas pessoais e em
domicílio, para a partir dos dados coletados, evidenciar opiniões relacionadas a aspectos
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 970
socioeconômicos e ambientais, como também obter os valores da DAP e realizar a
valoração da Lagoa Santa Tereza, seguindo um rígido controle amostral.
Através do MVC, o valor que os alteneirenses estariam dispostos a pagar pode
ser estimado, por meio de surveys, que é caracterizado pelo questionamento direto as
pessoas sobre qualquer assunto que se pretende conhecer. No caso da presente pesquisa
busca-se que as pessoas demonstrem suas preferências pelo bem ambiental, a Lagoa Santa
Tereza, construindo assim um mercado hipotético para o bem/serviço natural, conforme
metodologia apresentada por MOTTA (1998).
2.1 Área de estudo
A área de estudo compreende o município de Altaneira, localizado no sul do
estado do Ceará, mais precisamente na Região do Cariri, distante (em linha reta) 389 km
da capital cearense. Limita-se ao norte com Farias Brito e Assaré, ao Sul com Santana do
Cariri e Nova Olinda e ao Leste com Farias Brito e ao Oeste Assaré. Possui uma área de
73,3 Km, com temperatura variando de 24° a 26° (IPECE, 2014), e possui uma população
de 6.856 habitantes segundo o censo 2010 (IBGE, 2010). O bem ambiental a ser valorado
será a Lagoa Santa Tereza, que encontra-se dentro do perímetro urbano da cidade, com
uma extensão de aproximadamente 0,10 Km2 e volume de água desconhecido (SOARES,
2007).
2.2 Tamanho da amostra
Para realizar as entrevistas utilizou-se a fórmula estatística abaixo para calcular
o tamanho da amostra, com base na metodologia proposta por Gil (1995) para população
abaixo de 100.000 pessoas:
n= ∂2.p.q .N
e2.(N-1)+ ∂2.p.q Onde:
N= universo
n=amostra que será calculada
∂=nível de confiança
e= erro amostral
p.q=porcentagem pelo qual o fenômeno ocorre.
Números usados na fórmula:
N = 6856 habitantes (IBGE, 2010)
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Margem de erro - utilizara-se o erro 7%.
Nível de confiança – será utilizado 95,5% = 2.
Probabilidade de ocorrência do evento (p.q) = “p” = 0,50 e, consequentemente para
“q” também 0,50.
Neste caso fazendo as devidas substituições temos:
n= ∂2.p.q .N = ____(2)2*50*50*6856 = 68560000 = 198 pessoas
e2.(N-1)+ ∂2.p.q (7)2*(6856-1)+(2)2*50*50 345895
Neste caso serão aplicados 198 questionários na modalidade presencial, com
perguntas diretas, para que o entrevistado possa melhor compreende-las. As pessoas serão
entrevistadas de forma aleatória, independentemente de sexo, posição social e demais
características de qualquer natureza, para efeitos de não tendenciamento dos resultados,
cumprindo assim os critérios para uma pesquisa seja de qualidade.
2.3 Pesquisa piloto
A pesquisa piloto conforme MOTTA (1998) é realizada antes da pesquisa final,
onde aplica-se um questionário piloto à uma pequena parcela da amostra, com o objetivo
de testar o questionário para que se seja possível detectar algum tipo de erro em sua
construção e aplicação que deixem o entrevistado confuso e venha a prejudicar os
resultados. Por outro lado a pesquisa também serve de subsídio para captar o intervalo de
variação da DAP, através da pergunta chave: Qual o valor máximo mensal que o s.r.(a)
estaria disposto a pagar para que a Lagoa Santa Tereza seja revitalizada e urbanizada?
Assim os o intervalo da DAP é a média dos valores respondidos.
Nesta perspectiva optou-se por aplicar o questionário piloto a 15 % da amostra,
ou seja, a 30 pessoas. O mesmo foi aplicado nos dias 18, 19 e 20 de junho de 2014. Com
a Pesquisa Piloto pôde-se observar que as perguntas estavam claras e objetivas, e de fácil
entendimento do entrevistado, não necessitando de alterações para a Pesquisa Final. Além
disso, com a pesquisa Pôde-se coletar os valores da DAP para o cálculo do intervalo da
DAP, como podemos observar na Tabela 01:
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Tabela 01 – Intervalo da Disposição A Pagar (DAP)
VALORES DA DAP (R$) FREQUÊNCIA ABSOLUTA
10,00 8
5,00 6
20,00 4
2,00 3
4,00 2
8,00 2
0,25 1
1,00 1
8,00 1
15,00 1
60,00 1
TOTAL 133,25 30 FONTE: Elaboração Própria a partir de dados da pesquisa piloto
Neste caso, feita a média, obtêm-se um valor médio de R$ 10,00. Onde,
seguindo a metodologia apresentada, o intervalo da DAP para a realização da pesquisa
final compreende-se: R$ 5,00/R$ 10,00/R$ 15,00. Valores indagados aos entrevistados
na pesquisa final.
2.4 Pesquisa final
Na Pesquisa Final concentra-se a essência da Pesquisa, pois é através dela que
serão encontrados os valores da DAP, para então realizar a valoração da Lagoa Santa
Tereza. Nesta perspectiva, aplicou-se o questionário final para toda a amostra, durante os
meses de janeiro e fevereiro de 2015, seguindo criteriosamente a metodologia
apresentada. As entrevistas foram realizadas pessoalmente e em domicílio, como sugere
a literatura. Responderam as perguntas uma pessoa da família maior de 18 anos de forma
aleatória, independentemente de características de qualquer natureza. A pesquisa
possibilitou colher informações dos entrevistados tanto aspectos socioeconômicos, como
também seu ponto de vista sobre o meio ambiente, e a Lagoa Santa Tereza.
A pesquisa final também permitiu obter os valores da DAP, de acordo com o
intervalo calculado na Pesquisa Piloto e a partir dos valores da DAP, realizou-se o cálculo
da DAP mensal média, que representa o valor mensal que os alteneirenses atribuíram a
Lagoa Santa Tereza. O valor total do bem ambiental foi calculado através da
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multiplicação da DAP mensal média pela população afetada pela alteração na
disponibilidade do recurso ambiental, no caso toda população altaneirense. Os resultados
da Pesquisa Final serão apresentados na seção Resultados e discussões.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Valoração econômica ambiental: surgimento, definição e principais métodos
Até a década de 1960 não se tinha uma preocupação pelo meio ambiente como
nos dias atuais, os recursos naturais pareciam ser ilimitados e assim eram utilizados sem
nenhuma restrição. Dessa forma não existiam estudos e muito menos uma parte da ciência
econômica interessada em discutir os assuntos relacionados ao meio ambiente, os
problemas que aconteciam nesse, eram considerados como exceções. Como afirma
Mueller (2000):
Até fins da década de 1960, o mainstream da teoria econômica, de tradição
neoclássica, não reconhecia que problemas ambientais pudessem,
sistematicamente, interferir no funcionamento eficiente de mercado. No
começo deste século, Pigou (1932) chegou a oferecer elementos para análise
desse tipo de falhas, que denominou ‘externalidades’, entretanto conforme
mostram Ayres e Kneese (1969, 282-283), as externalidades ambientais eram
tratadas como exceções (MUELLER, 2000).
Posteriormente grandes acontecimentos na área ambiental despertaram o
interesse de alguns economistas, como cita ANDRIUCCI (2006, p.109): “[...] o alto
índice de problemas causados pela poluição nas grandes cidades (problemas respiratórios,
inversão térmica, entre outros); a crise do petróleo em 1970; o relatório do Clube de Roma
em 1972; contribuíram, entre outras coisas, para o fortalecimento da preocupação com o
meio ambiente”. Esses acontecimentos além de outros provocaram cada vez mais o
surgimento de grupos de estudos questionando os danos causados ao meio ambiente pelo
crescimento econômico desordenado, pensando em novas perspectivas como o
desenvolvimento sustentável. Nesse sentido as externalidades que antes eram
consideradas como exceções, passaram a ser bastante questionadas por diversos autores.
Essas externalidade para May (1995) apud Narzetti (2006) são custos socioambientais
gerados pelas atividades econômicas, devido a forma inadequada do uso dos recursos,
provocando grandes prejuízos a todos que usufrui da qualidade do meio ambiente. Essa
definição dada por Peter Herman May é considerada para muitos autores como
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 974
externalidades negativas, considerando que também existem as externalidades positivas
sendo que essa última é pouco comum em relação à outra.
Em meio a essas discussões surge a Economia Ambiental quando uma
organização independente, “Resources for the future” realizou diversas pesquisas na área
ambiental. Os interesses nessa área foram crescendo, necessitando encontrar formas de
quantificar as perdas associadas à sua utilização e à degradação. Deste interesse
apareceram os vários métodos de valoração econômica do meio ambiente (GAZONI,
2007 apud FALCO, et al., 2011).
3.1.1 A valoração ambiental e a busca pela preservação dos recursos ambientais
Segundo MOTTA (1998) estabelecer um valor monetário para um recurso
natural é estimar seu valor em relação a outros bens e serviços presentes na economia,
isso por que os recursos ambientais não são transacionados nos mercados e por isso não
tem seu valor de mercado. Dessa forma a valoração econômica ambiental busca trazer
um valor para esses bens ambientais, visando despertar o interesse e a preocupação das
pessoas com a conservação desses recursos. Como afirma FINCO (2002):
A valoração econômica do meio ambiente surge quando da crescente
preocupação mundial com a preservação / conservação dos recursos naturais.
Essa preocupação deriva, sobre tudo, do aumento da demanda pela qualidade
dos bens e serviços gerados por esses recursos, ao mesmo tempo em que há
uma enorme perda de bem-estar com a variação na quantidade e na qualidade
desses serviços, por parte da geração presente, e, pela presente preocupação
com a geração futura. A valoração econômica aparece como uma ferramenta
utilizada para atribuir valores aos bens e serviços providos pelo meio ambiente,
como forma de captar os custos e benefícios oriundos das variações na
quantidade e na qualidade desses bem e serviços (FINCO, 2002).
Neste sentido a valoração econômica dos recursos ambientais trás essa novidade
de se estabelecer relações com os bens que são transacionados no mercado, e que possuem
valor próprio. Assim esse valor dado ao bem ambiental através da sua valoração,
possibilitará não só uma nova visão acerca desse recurso, mas também ajudará na sua
gestão, como subsídio para tomada de decisões de projetos e estratégias de
desenvolvimento econômico, tanto em âmbito local, quanto regional ou nacional
(ORTIZ, 2003, apud Portugal Júnior, 2008).
É importante salientar que valorar economicamente um recurso ambiental não
significa que ele será transformado num produto de mercado e ser colocado à venda, mas
sim fazer uma mensuração para que esse valor represente a importância econômica desse
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bem ambiental e seus reflexos no bem-esta social, como também estabelecer um valor
acerca das preferências dos indivíduos sobre as alterações em seu ambiente.
3.1.2 Valor do bem ambiental
O valor de um bem é associado a suas atribuições, no caso dos recursos naturais,
esses atributos podem ou não estar relacionados a um uso. Como ressalta MOTTA (1998,
p. 11):
No caso de um recurso ambiental, os fluxos de bens e serviços ambientais, que
são derivados do seu consumo, definem seus atributos. Entretanto, existem
também atributos de consumo associados à própria existência do recurso
ambiental, independentemente do fluxo atual e futuro de bens e serviços
apropriados na forma
do seu uso. Assim, é comum na literatura desagregar o valor econômico do
recurso ambiental (VERA) em valor de uso (VU) e valor de não-uso (VNU).
Esses valores de uso e de não uso segundo podem ser divididos em Valor de Uso
Direto (VUD), o qual a pessoa obtém o recurso de forma direta, como por exemplo,
extraindo, visitando ou outra atividade de consumo direto; Valor de Uso Indireto (VUI),
quando se utiliza de forma indireta, por exemplo, a estabilidade do solo, o ar que respira,
dentre outros; Valor de Opção (VO) se refere ao uso direto e indireto que o indivíduo
atribui, e que poderão ser escolhidos em futuro próximo. O valor de não uso ou valor
passivo designa o valor de existência que está relacionado com valores culturais, morais,
éticos e morais, que levem a preservação do recurso ambiental, mesmo que este não
represente uso para o indivíduo (MOTTA, 1998).
Na realidade o que importa para a valoração é admitir que as pessoas atribuem
valores independentemente da utilização do bem ambiental hoje ou no futuro, pois o valor
de existência é alvo de controvérsia, por representar a vontade de preservar determinado
bem ambiental, pelo fato de que seus herdeiros também possam usufruir desse bem
(MOTTA,1998). Independentemente do valor ser ou não de uso, o bem ambiental
proporciona uma série de benefícios aos indivíduos, o que faz da valoração uma
importante ferramenta utilizada para mostrar a importância econômica desse bem.
3.1.3 Principais Métodos de Valoração Ambiental
A cada dia os pesquisadores se interessam por questões ambientais e
buscam sempre desenvolver novas técnicas para determinar a importância desses recursos
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 976
naturais. Neste sentido vários métodos de valoração vêm sendo desenvolvidos para que
esses recursos melhor possam ser mensurados e para proporcionar maiores tomadas de
decisão. Porém a valoração econômica torna-se difícil devido a vários aspectos
principalmente devido as grandes diferenças entre os recursos ambientais, pois cada um
possui suas especificidades e que precisa de casos particulares para ser realizada sua
valoração. Como afirma MOTTA (2011, p.5): “a adoção de cada método dependerá do
objetivo da valoração, das hipóteses assumidas, da disponibilidade de dados e do
conhecimento da dinâmica ecológica do objeto que está sendo valorado”. Dessa forma
MOTTA (1998) apresenta os principais métodos de Valoração Econômica Ambiental,
onde dividem-se em dois grupos, métodos da função de produção e métodos da função
de demanda.
3.1.4 Métodos da função de produção
Estes métodos são direcionados à recursos naturais que são utilizados em alguma
atividade econômica como insumo, e seu valor é medido de acordo com sua contribuição
para determinado produto. Como afirma MOTTA:
Neste método, observa-se o valor do recurso ambiental E pela sua contribuição
como insumo ou fator na produção de um outro produto Z, isto é, o impacto
do uso de E em uma atividade econômica. Assim, estima-se a variação de
produto de Z decorrente da variação da quantidade de bens e serviços
ambientais do recurso ambiental E utilizado na produção de Z. Este método é
empregado sempre que é possível obterem-se preços de mercado para a
variação do produto Z ou de seus substitutos. Duas variantes gerais podem ser
reconhecidas: método da produtividade marginal e método dos bens
substitutos (MOTTA, 1998, p.15-16).
Neste sentido o método da produtividade marginal tanto o preço do produto Z
(pz), quanto o valor econômico do recurso ambiental E (VEE) de uso direto ou indireto,
são conhecidos, sendo assim: VEE = PZ F / E, Ou seja, o valor econômico do recurso
ambiental é igual ao preço do produto Z multiplicado pela variação de Z quando varia E.
O método de bens substitutos consideram variações marginais de quantidade de
Z devido a variação de E, de acordo com o mercado dos bens substitutos desses bens,
utilizado quando os preços no mercado são de difícil cálculo do valor, como por exemplo
se Z também fosse um bem ambiental, e que todos consumiam de forma gratuita. Por
exemplo, uma redução no nível de qualidade Q das praias representa uma redução de uma
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 977
amenidade E que é o serviço de uso gratuito que os consumidores adquirem de forma
recreativa. Motta acrescenta:
Embora a provisão de E seja gratuita, a perda da sua qualidade ou escassez
pode induzir ao uso de outros bens para realizar substituições de E. Ou seja,
aumenta a demanda por substitutos perfeitos (S) de E. Substitutos perfeitos são
aqueles em que o decréscimo de consumo de uma unidade pode ser
compensado pelo uso de outro recurso por uma magnitude constante. Logo: Z
= F(X,E+S). Assim, para manter o produto de Z constante, uma unidade a
menos de E será compensada por uma unidade a mais de S. Logo a variação
de E será valorada pelo preço de S (PS) observável no mercado (MOTTA,
1998, p. 18).
Com base nesse método de bens substitutos, podem ser generalizados em três
métodos, conforme Motta (1998):
Custo de reposição: Utilizado quando o custo tem relação com os gastos oriundos
dos consumidores dos bens substitutos visando a permanência do nível almejado
de Z ou E;
Gastos definidos ou custos evitados: Quando o custo tem relação com os gastos
provenientes dos consumidores dos bens substitutos para não mudar o bem Z que
depende de E;
Custo de controle: Neste método os custos de controle seriam oriundos dos
próprios usuários para que a variação de E seja evitada.
As críticas e erros chamados de viés apresentados aos métodos de função de
produção segundo Motta (1998) são: Cobertura do valor econômico, onde são
questionados os valores de opção e existência, cujos são subestimados, pois esse método
consegue estimar apenas os valores de uso direto e indireto; Mensuração das variações de
bem estar, essas variações são subestimadas como também superestimadas, isso por que
os ajustes nos preços dos bens substitutos ou complementares, assim como os excedentes
do consumidor e produtor só seriam possíveis em modelos de equilíbrio; Qualidade das
estimativas, nesse viés é questionado o preço de eficiência, cujo valor de uso torna-se
incorreto devido as distorções dos preços dos bens correlatos.
3.1.5 Métodos da função de demanda
Os métodos da função de demanda ao contrário dos métodos da função de produção:
[...]admitem que a variação da disponibilidade do recurso E altera o nível de
bem-estar das pessoas e, portanto, é possível identificar as medidas de
disposição a pagar (ou aceitar) das pessoas em relação a estas variações.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 978
Identificada a função de demanda D para E , o valor econômico de uma
variação de E seria dada pela variação do excedente do consumidor ( EC)
[...] duas variantes deste método podem ser generalizadas: métodos dos bens
complementares (preços hedônicos e custo de viagem) e método da valoração
contingente. (MOTTA, 1998, p.22).
Os métodos de mercados de bens complementares se aplicam para aqueles bens
ambientais que possuem um complementar que é comercializado, neste caso sabe-se que
os bens complementares perfeitos são aqueles que possuem proporção nos consumos
entre si, assim essas informações geradas sobre a demanda do bem ou serviço ambiental
que possuem essa relação com bens e serviços privados proporcionam uma análise do seu
valor. Neste sentido dois métodos traduzem melhor a aplicação desse método, o método
dos preços hedônicos e o método do custo de viagem (MCV).
O método dos preços hedônicos busca identificar as atribuições ou
características do bem ou serviço privado que seja complementar do bem ou serviço do
recurso ambiental, em seguida pode-se mensurar o preço implícito do atributo ambiental.
Motta (1998) exemplifica:
O exemplo mais associado à valoração ambiental é relativo aos preços de
propriedade. Diferentes unidades de propriedade terão diferentes níveis de
atributos ambientais (qualidade do ar, proximidade a um sítio natural, etc.) e,
portanto, se estes atributos são valorados pelos indivíduos, as diferenças de
preços das propriedades devido à diferença de nível dos atributos ambientais
devem refletir a disposição a pagar por variações destes atributos (MOTTA,
1998, p. 23).
Neste sentido esse método busca avaliar o preço oculto do bem natural através
do preço de um produto composto. Portugal Júnior (2012) resume:
Em suma, trata-se de um sistema de preços de mercados substitutos ou
complementares, que permitiria uma valoração meio ambiente, lembrando que
é restrito apenas aos dados referentes do mercado de imóveis, sendo assim um
método muito específico. Como todo método, este possui algumas dificuldades
e limitações, como a definição das variáveis a serem levantadas, especificação
de dados, dentre outras, porém o que não o desqualifica como metodologia de
estudo do meio ambiente (PORTUGAL JÚNIOR, et al., 2012, p.6).
O Método do Custo de Viagem (MCV) busca estabelecer um valor para demanda
com base nas atividades recreativas, como por exemplo, os sítios naturais de visitação
públicas, neste caso o valor do recurso pode ser estimado pelos gastos dos visitantes para
se deslocar ao sítio, onde quanto mais longe o sítio maior será o custo para se deslocar e
consequentemente menores serão as visitas ao sítio. Neste caso basta aplicar questionários
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 979
a uma amostra e diagnosticar o número de visitas, o custo da viagem, e outras informações
que subsidiaram o calculo do valor econômico do bem a ser valorado.
A outra variante do Método de função de demanda é o Método de Valoração
Contingente (MVC), onde difere dos demais métodos apresentados principalmente por
não se basear em preços de mercado de bens privados que se relacionam com o bem
ambiental, mas sim baseia-se na teoria do consumidor, onde as pessoas têm diferentes
graus de preferência por diversos bens ou serviços, fazendo elas pagarem determinados
valores quando vão ao mercado (NOGUEIRA et al., 2000 apud PAIVA, 2006).
Assim o MVC estima os valores de disposição a pagar (DAP) e disposição a
aceitar (DAA) relativas a alterações da disponibilidade de um recurso ambiental (Q) com
base em mercados hipotéticos. MOTTA (1998, p.32) explica: “A simulação destes
mercados hipotéticos é realizada em pesquisas de campo, com questionários que indagam
ao entrevistado sua valoração contingente (DAA ou DAP) face a alterações na
disponibilidade de recursos ambientais (Q)”. Assim reforça MOTTA (1998):
Neste sentido, busca-se simular cenários, cujas características estejam o mais
próximo possível das existentes no mundo real, de modo que as preferências
reveladas nas pesquisas reflitam decisões que os agentes tomariam de fato caso
existisse um mercado para o bem ambiental descrito no cenário hipotético. As
preferências, do ponto de vista da teoria econômica, devem ser expressas em
valores monetários. Estes valores são obtidos através das informações
adquiridas nas respostas sobre quanto os indivíduos estariam dispostos a pagar
para garantir a melhoria de bem estar, ou quanto estariam dispostos a aceitar
em compensação para suportar uma perda de bem-estar (MOTTA, 1998, p.
32).
Dessa forma esse método é o mais utilizado pelos pesquisadores para realizar a
valoração econômica de bens ambientais, pois proporcionam a captação direta dos valores
dos indivíduos, onde tanto os valores de uso como também os de existência dos bens
ambientais podem ser estimados (ROMEIRO E MAIA, 2003).
Apesar de ser bastante utilizado o MVC possui muitas críticas por produzir
resultados duvidosos, devido sua limitação em captar valores ambientais que as pessoas
não entendem, além de apresentar vários erros, chamados de viés, os principais são “o
viés hipotético, o viés do subdesenvolvimento, o viés estratégico, o viés da influência da
informação, o viés do ponto de partida, o viés da parte-todo e o viés do entrevistado-
entrevistador” (FONSECA, 2003 apud PAIVA, 2006, p.4). Porém para que esses vieses
sejam evitados deve-se fazer uma pesquisa bastante criteriosa. Para isso Motta (1998)
apresenta dois estágios para realizar a valoração utilizando o MVC:
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 980
1º Estágio: Definindo a Pesquisa e o Questionário. Neste estágio deve ser
apresentado o bem ambiental a ser valorado; a variação se é DAP ou DAA; a
forma de aliciação, ou seja, como serão coletados os valores das disposições a
pagar, se serão lances livres, com a pergunta: Quando você está disposto a pagar?
Ou escolha dicotômica, onde é dado o valor, ou apresentado mais uma pergunta
após a original, se pagaria a metade do valor ou o dobro, por exemplo; Os
instrumentos de pagamento, se serão criados novos impostos, tarifas ou taxas, ou
maiores alíquotas nos existentes, cobrança direta pelo uso, ou doação para um
fundo de caridade ou uma organização-não governamental, no caso da DAP; e a
forma de entrevista, se pessoal, por telefone ou de outras formas.
2º Estágio: Cálculo e Estimação. Neste estágio deverão ser feitas a pesquisa piloto
e a pesquisa final, essa pesquisa piloto será utilizada para testar algumas
alternativas que poderão vim a prejudicar a pesquisa final; Calculo da medida
monetária, que será feita de acordo com a forma de aliciação a ser escolhida; e a
agregação dos resultados, onde será feita a média da DAP e depois multiplicada
pela população afetada pela disponibilidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos da pesquisa de campo,
onde aplicou-se o questionário final (apêndice 2). Neste questionário foram apresentados
aspectos socioeconômicos e ambientais aos entrevistados, de forma a evidenciar opiniões
destes em relação a importância da Lagoa Santa Teresa, sua situação atual, Disposição A
Pagar (DAP), dentre outros aspectos que serviram de subsídios para realizar a valoração
da Lagoa, através dos valores da DAP, conforme a metodologia apresentada em seções
anteriores.
Os questionários foram aplicados durante os meses de janeiro e fevereiro
de 2015, seguindo criteriosamente a metodologia apresentada. As entrevistas foram
realizadas em domicílio, onde responderam as perguntas um dos membros da família, de
forma aleatória, com idade superior a 18 anos. Inicialmente apresentou-se ao entrevistado
o objetivo do questionário, e o objeto, a Lagoa Santa Tereza, com fotografias da Lagoa,
para que as perguntas tornassem claras e que não restassem dúvidas. A seguir serão
apresentados os resultados da pesquisa de campo, onde está dividido em quatro subseções
para melhor compreensão, primeiramente serão apresentadas as características
socioeconômicas dos entrevistados, em seguida os aspectos ambientais, seguida da
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 981
disposição a pagar dos entrevistados e por fim a valoração da Lagoa Santa Tereza por
meio da DAP.
4.1 Características socioeconômicas dos entrevistados
Observa-se na Tabela 02 que em relação ao gênero sexual dos entrevistados, uma
maioria expressiva é do sexo feminino, 55,56%, e o restante, 44,44%, do sexo masculino.
Vale ressaltar que a pessoa entrevistada na família foi escolhida de forma aleatória, para
que não houvesse interferências nos resultados, porém na maioria das casas nos dias das
entrevistas encontravam-se somente as mulheres ou os homens não tiveram interesse em
responder o questionário.
TABELA 02- Gênero sexual dos entrevistados
Sexo Freq. Absoluta Freq. Relativa
Masculino 88 44,44%
Feminino 110 55,56%
Total 198 100% Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
A faixa etária dos entrevistados, obviamente devido a aleatoriedade, variou entre
18 e 79 anos, a idade média obtida foi de 40 anos.
Na em relação à ocupação dos entrevistados, coletou-se um total de 35
ocupações, onde a maioria dos entrevistados respondeu ter ocupação como servidor
público (35,86%), seguida do percentual de agricultores com 24,75%, o que já é esperado
em municípios pobres do interior, como é o caso de Altaneira. Outro dado expressivo é
percentual de aposentados que foi de 14,65%. O restante dos entrevistados (24,74%) se
enquadraram e outras ocupações. Esses resultados demonstram a falta de oportunidades
no município, a qual se dar por ser de pequeno porte, que não têm se quer dez mil
habitantes, com ausência de indústrias, grandes comércios e outros setores que propiciem
a geração de empregos, prevalecendo o funcionalismo público e o trabalho na agricultura.
Obteve-se a partir da variável escolaridade que um número relevante de
entrevistados, cerca de 49%, não possuem pelo menos o ensino médio completo e
considerando os níveis de escolaridades aferidos, o maior número encontrou-se no nível
3, ensino fundamental Incompleto (26,26%), seguido do nível Ensino Médio Completo
(18,69), e os níveis que se referem ao ensino superior completo possuem um valor bem
baixo, como observa-se no Gráfico 01. Depreende-se que o grau de instrução dos
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 982
entrevistados encontra-se de uma forma relativa baixa, levando-se a uma menor
compreensão das questões relacionadas ao meio ambiente, bem como de suas ações
provocadas ao mesmo.
Gráfico 1 – Grau de Instrução dos Entrevistados
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
Na entrevista indagou-se ao entrevistado sobre sua renda bruta, sendo registrado
o valor informado, sem representa-lo em intervalos, dessa forma realizando-se o calculo
da média da renda destes, resultou-se em R$ 828,87. Esse valor demostra que a maioria
dos entrevistados são funcionários públicos, e recebem em média um salário mínimo (R$
788,00), ao passo que grande parte dos entrevistados são aposentados (14,65%) também
com esse valor.
Em relação ao estado civil dos entrevistados, o maior percentual foi o de casado
com 51,01%, seguido de solteiro com 38,38%, viúvo e divorciado com 6,57% e 4,04%
respectivamente.
4.2 Aspectos Ambientais
Os entrevistados foram indagados quanto ao seu grau de interesse por assuntos
ambientais, os resultados mostraram que quase 100% dos entrevistados, responderam que
se interessavam por assuntos ambientais (Tabela 03). Esse resultado leva uma reflexão
no que se refere ao interesse pelo meio ambiente frente as atitudes dessas pessoas para
sua conservação. Pois é notória a ausência de mobilizações em prol do meio ambiente, a
alta produção de lixo, as queimadas provocadas pelos agricultores, dentre outras atitudes
que implicam na degradação do meio ambiente.
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Tabela 03 - Grau de interesse por assuntos ambientais
Grau de interesse Freq. Absoluta Freq. Relativa
1- Muito 195 98,48%
2-Não se interessa 0 0,00%
3-Pouco 3 1,52%
TOTAL 198 100,00% Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
Quando indagados sobre a importância da Lagoa Santa Tereza para Altaneira,
197 entrevistados (99,5%), responderam que ela é muito importante e apenas um dos
entrevistados (0,5%) considerou pouco importante. Muitos entrevistados comentaram
que na maneira que ela se encontra não significa nenhuma importância para o município,
somente quando for concretizado o projeto, porém considerando o fator histórico, a lagoa
é muito importante.
Nesta mesma lógica indagou-se aos entrevistados uma nota que ele daria de um
a cinco para a importância da Lagoa, sabendo que 1 é muito ruim e 5 é muito bom, a
maioria, 79,80%, responderam que daria nota máxima (Nota 5), 16,67% daria nota 4 e
3,53% nota 3. Os entrevistados que não deram nota máxima falaram que a Lagoa Santa
Tereza seria mais importante se ela tivesse revitalizada e trazendo retornos para a cidade,
tanto financeiro (turismo) como em forma de lazer. Contudo a real intenção da pergunta
era justamente observar o posicionamento dos altaneirenses em relação à importância da
Lagoa através do seu contexto histórico, frente a atual situação de poluição e abandono
em que ela se encontra. Neste sentido um valor expressivo de entrevistados atribuiu nota
máxima a Lagoa, demostrando assim que ela é muito importante para Altaneira, pois
através dela, como já foi salientado, que surgiram os primeiros habitantes dessa cidade.
Outro questionamento feito aos entrevistados foi a quem eles atribuiriam a culpa
por a Lagoa está nesta situação crítica de poluição e abandono. O Gráfico 02 mostra que
cerca 67% deles responderam que a culpa é de todas as pessoas, 32% responderam que a
prefeitura é culpada e apenas 1% atribuíram a culpa ao governo do estado. Os resultados
mostraram que as pessoas consideram que cada um tem uma parcela de culpa, pois a falta
de mobilização da própria comunidade contribui para a negligência das autoridades.
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Gráfico 02 - Culpa pela atual situação da Lagoa Santa Tereza Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
Em seguida os entrevistados foram questionados se considerava importante e
necessária a revitalização e urbanização da Lagoa, 100% responderam que sim, nenhum
entrevistado mostrou dúvida em responder essa questão, todos comentaram que se esse
projeto realmente fosse colocado em prática, só iria trazer benefícios de modo geral.
Ainda ligada a essa pergunta, os entrevistados foram indagados que setor na opinião deles
seria mais favorecido caso o projeto fosse efetivado, dessa foram apresentadas quatro
opções, os resultados são apresentados no Gráfico 03.
Gráfico 03 – Setor mais favorecido com a revitalização e urbanização da Lagoa Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
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No gráfico acima pôde-se observar que o setor que mais seria beneficiado com a
revitalização e urbanização da Lagoa, na opinião do entrevistados seria o turismo
(40,91%). Tendo em vista que a região do Cariri possui uma reta turística, e com a
efetivação desse projeto, Altaneira com certeza entraria nesta rota, sem falar que esse
setor traria enormes benefícios para a economia deste município. A prática de atividades
físicas apareceu em segundo com 40,40%, um valor também expressivo, percebe-se então
que os Altaneirenses necessitam de um local de Lazer, para realizar caminhadas, e demais
esportes. Em seguida está o comércio com 18,69%, outro setor que certamente será
favorecido com a realização da revitalização, principalmente com a efetivação do turismo.
4.3 Disposição a pagar dos entrevistados
Para obter esse resultado os entrevistados foram indagados através de uma
pergunta aberta se eles estariam dispostos a pagar a quantia X (referente aquele
questionário) mensalmente para revitalização e urbanização da Lagoa, taxa essa que seria
cobrada em conta de água ou de luz. Observou-se que do total de entrevistados, 161
pessoas estariam despostas a pagar para revitalização e urbanização da Lagoa Santa
Tereza, que corresponde a 81,32% do total de pessoas entrevistadas. Um valor bem
elevado, que reflete a grande importância desse bem ambiental, e o alto interesse dos
altaneirenses em sua revitalização e urbanização, os quais não mediram esforços em pagar
uma taxa extra, direcionada exclusivamente para a realização desse projeto, tendo em
vista os inúmeros impostos que já pagam, frente a 18,68% que rejeitaram pagar pelo valor
questionado.
Analisando a frequência da disponibilidade a pagar (DAP) apresentada na
Tabela 04 e tendo o Valor da DAP como referencial, depreende-se que dos entrevistados
que estão dispostos a pagar alguma quantia, 42,24% responderam que pagariam R$ 5,00
para a revitalização e urbanização da Lagoa, 41,61% responderam que pagariam R$ 10,00
e 16,15% pagaria R$ 15,00. Percebe-se que a DAP diminuiu à medida que o valor
questionado aumentava. Porém mesmo assim, observa-se que há conscientização das
pessoas, pois mesmo vendo a obrigação do governo em realizar o projeto, que já arrecada
muitos impostos, esses entrevistados estariam dispostos a pagar mensalmente uma taxa
especificamente para concretização do projeto.
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Tabela 04 - Frequência da disponibilidade a pagar x Valor da DAP
Valor da DAP
(R$)
Disposição a pagar
(Sim)
(%)
5,00 68 42,24%
10,00 67 41,61%
15,00 26 16,15%
TOTAL 161 100,00%
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
O Gráfico 04 mostra a relação entre o grau de instrução dos entrevistados e o
valor da DAP. Esperava-se o alto grau de instrução das pessoas contribuísse para o
aumento da consciência ambiental e, consequentemente, um maior número de pessoas
dispostas a pagar.
Gráfico 04 – Grau de instrução dos entrevistados x DAP Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
A hipótese pôde ser confirmada visto que as pessoas com nível superior estão
mais dispostas a pagar em relação as que possuem nível menos elevado. Observa-se ainda
que a maior rejeição na DAP ocorreu no nível ensino médio incompleto, essa ocorrência
pode ser justificada pelo fato de os questionários apresentarem valores diferenciados,
aplicados ao acaso entre os entrevistados, sem que houvesse uma relação entre o grau de
instrução das pessoas e o valor da disposição a pagar em cada questionário.
Comparando as variáveis sexo e DAP (Gráfico 05) observa-se que as mulheres
estão mais dispostas a pagar que os homens, dado que 21,59% dos homens não aceitaram
o valor questionado, frente a 16,36% das mulheres que rejeitaram.
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Gráfico 05 – Sexo dos Entrevistados x DAP Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
Outra análise observada nos resultados, é a relação entre a renda dos
entrevistados e a DAP, como observa-se no Gráfico 06. Os resultado mostram que não há
relação direta entre a renda e a disposição a pagar, tendo em vista que a menor rejeição
(0%) ocorreu com entrevistados que possuem renda de 2 a 3 salários mínimos, e essa não
aceitação pela DAP passa a aumenta em seguida com entrevistados que recebem mais de
3 salários mínimos, incusive a maior rejeição (27%), seguido da rejeição dos que recebem
até um salário mínimo (20%) e dos que recebem de um a dois salários minimos (15%),
assim não se pode afirmar que há relação direta entre essas variáveis.
Gráfico 06 – Renda do Entrevistados x DAP Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
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Outro resultado que pode ser abordado é o que fornece os principais motivos
usados pela população que responderam pela não disposição a pagar, o qual corresponde
a 18,68% do total de entrevistados. De todos os motivos, o argumento mais respondido
por quase metade desse grupo de entrevistados (48,65%), foi o fato de que consideram
que a obrigação é do governo, principalmente a prefeitura local, pois já arrecadam muito
dinheiro, e tem condições para isso. Outro valor expressivo foi que 27,03% não
concordaram em pagar por considerar a taxa um valor alto, e não terem condições
financeiras para pagá-la. Outros entrevistados (5,41%) argumentaram ainda que o
problema não é financeiro, mas sim de conscientização, comentando que a população é
quem deve se conscientizar e se mobilizar para realização do projeto, sem necessidade de
arrecadação de dinheiro. Além desses motivos, 5,41% das pessoas responderam não ter
confiança que o valor arrecadado seria realmente repassado por completo para quem fosse
de direito, argumentado ainda que desacreditam no destino de mais recursos para o
governo, tendo em vista a má utilização dos impostos que já são pagos.
4.4 Valoração da Lagoa Santa Tereza
Conforme a literatura já apresentada realizou-se a média da DAP através do
somatório das frequências relativas, que corresponde ao valor a ser pago pelo entrevistado
disposto a pagar, multiplicado pela porcentagem de pessoas que pagariam pelo valor que
lhe foi indagado durante a aplicação dos questionários (Tabela 05). Neste sentido a DAP
mensal média encontrada foi de R$ 8,69, como mostra o esquema:
Valor da DAP média = (0,4224 * 5,00) + (0,4161*10,00) + (0,1615*15,00) = 2,11 + 4,16
+ 2,42 = R$ 8,69.
Tabela 05 - DAP mensal média para revitalização e urbanização da lagoa
Valores da
DAP (R$)
Quantidade de
entrevistados
dispostos a pagar pelo
valor questionado
Entrevistados
dispostos a pagar
pelo valor
questionado (%)
Frequência da DAP
em relação ao total
de entrevistados
dispostos a pagar
(R$)
5,00 68 42,24% 2,11
10,00 67 41,61% 4,16
15,00 26 16,15% 2,42
TOTAL 161 100,00% DAP média R$ 8,69
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa
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Nesta perspectiva encontrando a DAP média de R$ 8,69, o valor da Lagoa Santa
Tereza pode ser calculado, conforme Motta (1998), multiplicando a DAP pela população
afetada com a alteração do bem ambiental. Ou seja: DAP total = população * DAP média
da amostra.
Neste caso se concretizado o projeto de revitalização e urbanização da Lagoa,
toda população se beneficiará com essa alteração, tendo em vista que além da
revitalização, a urbanização também se encontra no projeto, que é justamente a
construção de pista para prática de atividades físicas, clubes de esporte, dança, cultura,
parques infantis, dentre outros que envolve as mais diversas idades. Assim multiplicando
a DAP média por toda população afetada pela disponibilidade que é 6.856 (IBGE, 2010),
o valor da Lagoa corresponde a R$ 59.578,64 mensais ou R$ 714.943,68 anuais. Esse
valor se arrecadado e depois aplicado de forma correta na revitalização e urbanização da
Lagoa, seria um grande investimento para o município de Altaneira, tanto econômico
como ambiental.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões em torno do meio ambiente nunca foram tão intensas como nos
dias atuais, e a cada dia torna-se mais preocupante os desequilíbrios no ecossistema,
causados pelos impactos das ações das atividades econômicas, que geram poluição e
degradação ambiental. A população ainda não tem total consciência de suas atitudes
buscando cada vez mais satisfazer suas necessidades, com bens que aumentem seu
conforto, os bens supérfluos, provocando o aumento do volume de materiais a serem
descartados no meio ambiente.
Os resultados da pesquisa mostraram que no município de Altaneira, a realidade
não é diferente da vivenciada pelos municípios pequenos e pobres do interior. O nível de
renda é pouco mais que um salário mínimo (R$ 788,00), onde a grande maioria sobrevive
através do funcionalismo público, ou de uma aposentadoria, e uma boa parte se ocupa na
atividade agrícola. Ao paço que o nível de escolaridade é relativamente baixo, onde dos
entrevistados, quase metade não têm o ensino básico completo. Pôde-se observar também
que quase 100 % dos entrevistados responderam, nas perguntas relacionadas ao meio
ambiente, que se interessam por assuntos ambientais, e que consideram a Lagoa Santa
Tereza muito importante, porém esse dado permite fazer um questionamento, acerca da
consciência dos altaneirenses e as suas atitudes para mudar a realidade, pois o que
percebe-se é que muitos dizem ter consciência da importância do meio ambiente e da
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necessidade de preserva-los, porém suas atitudes e mobilizações são inexistentes,
tornando uma contradição.
O estudo buscou medir o valor da Lagoa, considerando a sua existência frente
ao contexto histórico do município de Altaneira. Neste sentido, muitos outros benefícios
que viriam a ser gerados, se o projeto de revitalização e urbanização da Lagoa venha a
ser concretizado, não foram levados em consideração, como a valorização imobiliária das
propriedades privadas na sua vizinhança, o valor de uso, o turismo e os impactos no
comércio. Futuros estudos poderiam vir contribuir para o aprimoramento do
conhecimento do valor total da Lagoa, mensurando um ou mais desses benefícios.
Os estudos voltados a área ambiental torna-se cada vez mais necessário, visando
a tomada de decisões para acabar com a degradação do meio ambiente, garantindo a sua
preservação, pois é uma questão de sobrevivência e a garantia das futuras gerações. Porém
faz-se necessário a diminuição da negligência do poder público e das indústrias, e
principalmente a conscientização ambiental das pessoas.
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Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 992
APÊNDICE 1 – QUESTIONÁRIO
DATA:____/____/_____ HORA: _____/_____
1 - Sexo: ( ) 1 - M ( ) 2 - F 2 - Idade: _____ anos
3 - Profissão: ________________________________________________
4 – Nível de escolaridade:
( ) Nível 1 – Analfabeto ( ) Nível 2 - Ens. Fund. Incom. ( ) Nível 3 - Ens. Fund.
Com. ( ) Nível 4 – Ens. Médio Incompleto ( ) Nível 5
– Ens. Médio Completo
( ) Nível 6 – Ens. Superior Incompleto ( ) Nível 7 – Ens. Superior Completo
( ) Nível 4 – Ens. Médio Incompleto ( ) Nível 8 – Pós graduação
5 - Nível de renda mensal: R$ ___________
6- Estado Civil
( ) 1- Solteiro ( ) 2 - Casado ( ) 3- Divorciado ( ) 4 - Viúvo ( ) 5 -
Outros
7- Qual seu grau de interesse por assuntos relacionados ao meio ambiente?
( ) 1 - Muito ( ) 2 - Não se interessa ( ) 3 - Pouco
8- Você considera a Lagoa Santa Tereza importante para Altaneira?
( ) 1 - Sim ( ) 2 - Não ( ) 3 - pouco
9- Que nota você daria de 1 a 5, sabendo que 1 é muito ruim e 5 é muito bom, para a
importância da Lagoa para a cidade? _________
10- Na sua opinião, de quem é a culpa por a Lagoa está nessa situação crítica de
poluição e abandono?
( ) 1- Prefeitura ( ) 3 - Comerciantes ( ) 2 - Governo estadual ( ) 4 - Todas as
pessoas
11- Você considera importante e necessária a revitalização e urbanização da lagoa?
( ) 1 - Sim ( ) 2 - Não ( ) 3 - Indiferente
12 - Na sua opinião se a lagoa fosse revitalizada e urbanizada iria favorece
principalmente:
( ) 1- O comércio ( ) 3 - A prática de atividades físicas pelos altaneirenses
( ) 2- O turismo ( ) 4 – Não traria nenhum benefício
13 a- O s.r.(a) estaria disposto a pagar R$________ por mês para que a Lagoa Santa
Tereza seja revitalizada e urbanizada? ( ) 1- Sim ( ) 2- Não
13 b-
Motivo:_______________________________________________________________