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IV Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 708 Internacionalização Comercial: O Agronegócio Globalizado da Castanha de Caju do Rio Grande do Norte e Ceará Dário Dárvin de Oliveira Ribeiro Alves 1 Amanda de Almeida Lopes 2 Estevani Pereira de Oliveira 3 Suely Xavier dos Santos 4 RESUMO: O trabalho analisa a inserção internacional da Castanha de Caju do Rio Grande do Norte e do Ceará. Trata-se de uma atividade de suma importância para a economia destes estados e tem contribuído ao longo dos anos para o saldo da balança comercial. O processo de abertura comercial promovido pela economia brasileira nos anos 90 teve efeitos no Estado, favorecendo a busca pela consolidação de mercados existentes bem como a exploração de novos nichos a serem explorados no cenário internacional. A sistematização da análise dos dados de comércio do Estado apontam que as exportações de castanha de caju desses estados estão concentradas nos Estados Unidos e na União Europeia, demonstrando que o comércio exterior da região vem passando por oscilações, contudo vem se mantendo consolidado, ou seja, essa concentração demonstra que este comércio se desenvolve sobretudo com os países desenvolvidos. No entanto, percebemos certa dependência mercadológica, o que sugere que há nichos de mercados ainda a serem explorados pela atividade no cenário internacional. Nesse contexto, o incremento das relações comerciais do Rio Grande do Norte e do Ceará com o mundo perpassa por fatores que incluem desde o incentivo ao desenvolvimento de produtos que garantam uma inserção comercial sustentável no mercado internacional bem como o fortalecimento de nichos de mercados já existentes e/ou a busca por novos mercados que permitam uma diversificação do comércio exterior desses estados, para que estas atividades sejam de fato promotora do desenvolvimento regional. Palavras chaves: Castanha de Caju, Agronegócio Globalizado, Internacionalização. INTRODUÇÃO 1 Bolsista graduando em Relações Internacional Laureate Internacional Universities 2 Graduanda em Relações Internacionais Laureate Internacional Universities 3 Mestre em Economia UFRN Prof. Msc Escola de Gestão e Negócios, Laureate Internacional Universities 4 Mestre em Engenharia da Produção UFRN Profa. Msc Escola de Gestão e Negócios, Laureate Internacional Universities

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Internacionalização Comercial: O Agronegócio Globalizado da Castanha de Caju

do Rio Grande do Norte e Ceará

Dário Dárvin de Oliveira Ribeiro Alves1

Amanda de Almeida Lopes2

Estevani Pereira de Oliveira3

Suely Xavier dos Santos4

RESUMO: O trabalho analisa a inserção internacional da Castanha de Caju do Rio Grande do

Norte e do Ceará. Trata-se de uma atividade de suma importância para a economia destes estados e

tem contribuído ao longo dos anos para o saldo da balança comercial. O processo de abertura

comercial promovido pela economia brasileira nos anos 90 teve efeitos no Estado, favorecendo a

busca pela consolidação de mercados existentes bem como a exploração de novos nichos a serem

explorados no cenário internacional. A sistematização da análise dos dados de comércio do Estado

apontam que as exportações de castanha de caju desses estados estão concentradas nos Estados Unidos

e na União Europeia, demonstrando que o comércio exterior da região vem passando por oscilações,

contudo vem se mantendo consolidado, ou seja, essa concentração demonstra que este comércio se

desenvolve sobretudo com os países desenvolvidos. No entanto, percebemos certa dependência

mercadológica, o que sugere que há nichos de mercados ainda a serem explorados pela atividade no

cenário internacional. Nesse contexto, o incremento das relações comerciais do Rio Grande do Norte e

do Ceará com o mundo perpassa por fatores que incluem desde o incentivo ao desenvolvimento de

produtos que garantam uma inserção comercial sustentável no mercado internacional bem como o

fortalecimento de nichos de mercados já existentes e/ou a busca por novos mercados que permitam

uma diversificação do comércio exterior desses estados, para que estas atividades sejam de fato

promotora do desenvolvimento regional.

Palavras chaves: Castanha de Caju, Agronegócio Globalizado, Internacionalização.

INTRODUÇÃO

1Bolsista graduando em Relações Internacional – Laureate Internacional Universities 2Graduanda em Relações Internacionais – Laureate Internacional Universities 3Mestre em Economia – UFRN – Prof. Msc Escola de Gestão e Negócios, Laureate Internacional Universities 4Mestre em Engenharia da Produção – UFRN – Profa. Msc Escola de Gestão e Negócios, Laureate Internacional

Universities

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Na década de 1980, os países capitalistas desenvolvidos passaram por um processo de abertura

comercial e financeira, que ficou conhecido como o fenômeno da globalização, e que suscitou uma

aceleração no número de transações (comerciais e financeiras) bem como elevou o grau de sua

magnitude, e passou-se a assistir uma maior interdependência entre as economias. No entanto, nesse

período países em desenvolvimento, sobretudo da América Latina, ficaram à margem desses

acontecimentos em razão de problemas de instabilidade econômica.

Na década de 1990, os países em desenvolvimento passaram a integrar tanto o sistema

financeiro internacional, sobretudo enquanto receptores de fluxos de capitais, bem como a fazer parte

do comércio mundial de forma mais intensa. Assim seguindo esta lógica o Brasil passou de um

modelo pautado na substituição de importações – no qual procurava importar máquinas e

equipamentos para poder produzir internamente e fornecer ao mercado interno produtos elaborados no

próprio país –, para um modelo de caráter neoliberal, ao adotar a abertura econômica do país

(comercial e financeira), visando absorver as transformações advindas do processo de globalização,

que tornou o cenário mundial cada vez mais competitivo. Esse fato forçou as empresas a uma

reestruturação produtiva, conduzindo-as a busca de novas estratégias para enfrentar a concorrência do

mercado global exigente. Tornou-se imprescindível que empresas passem a desenvolver e/ou possuir

vantagens competitivas que lhes permitisse uma inserção comercial importante em seu setor de

atuação e, em alguns casos no cenário internacional.

A reestruturação produtiva ocorrida no país adentrou todos os setores da economia, forçando

os mesmos a estarem sempre em busca de inovações, tecnológica e/ou organizacional, dado o cenário

mais competitivo que se desenhou após as transformações ocorridas na década de 1990, cujo resultado

permitiu o fortalecimento de empresas no comércio internacional.

Assim, o processo de abertura comercial trouxe a necessidade de adequação a esse novo

contexto, sobretudo das empresas que também desenvolvam atividade no mercado internacional.

Logo, as empresas presentes no Rio Grande do Norte também buscam se adequar a esse ambiente

competitivo. Com base nesse cenário as firmas que produzem e processam a castanha de cajú do

estado enquanto agente econômico passou a acompanhar o processo de inserção comercial.

Nesse sentido o objetivo desse trabalho é mapear a inserção internacional do agronegócio da

castanha de caju do Rio Grande do Norte, uma vez que a partir da potencialização da globalização

torna-se importante ressaltar tanto o Brasil como o Rio Grande do Norte no que se refere ao

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crescimento da exportação de produtos agropecuários, que são os mais representativos da pauta de

exportação do Estado.

Pois, sabe-se que há muito as atividades agrícolas deixaram de ser improdutivas e ineficientes,

e incorporaram o incremento tecnológico a as inovações, sobretudo a partir da evolução do comércio e

das tecnologias da informação, e passaram a tornar-se produtos primários “high-tec”, com parcelas

maiores de conteúdo inovacionais em seus produtos e processos. Com este avanço de tecnologia tem-

se percebido um volume de equipamentos e tecnologias direcionadas ao mapeamento geológico de

territórios, fatores climáticos, tratos e manejos de solo com defensivos ambientalmente corretos, além

do desenvolvimento da biotecnologia e dos transgênicos, sobretudo, no que se refere aos países

desenvolvidos.

Vale salientar que neste processo a inovação é encarada como motor do desenvolvimento e

deve ser incorporada ao território local para que possam contribuir para o desenvolvimento de P&D

em várias frentes potencializando os espaços de natureza destinados a produção dessas culturas.

O agronegócio ao longo dos anos vem despontando como, atividade importante na economia

do país, e sua inserção externa vem apresentando expansão relevante no cenário internacional, dentro

da atividade do agronegócio, a castanha de caju, é considerada uma atividade relevante para o

desenvolvimento do estado, e também apresenta um crescimento no mercado internacional, que

acompanha a tendência de expansão do país em outras atividades relacionadas ao agronegócio,

resguardadas a devidas proporções. Nesse contexto, faz-se necessário analisar a situação atual da

castanha do caju do Rio Grande do Norte, ressaltando o impacto do processo de inserção internacional

para esta atividade.

.

Internacionalização: uma revisão teórica

O capítulo tem como objetivo fazer uma revisão teórica da problemática acerca do

Processo de Internacionalização, colocando em evidencia os principais teóricos que

discutiram esta temática na literatura econômica. Ademais faz-se a justificativa da

necessidade de compreensão da internacionalização e abertura comercial, afim de perceber a

urgência, do ponto de vista das atividades produtivas do setor primário na entrada no cenário

internacional.

Há muito se discute a questão da eficiência na teoria econômica, e sobretudo, no

comércio internacional, pois sabe-se que desde que os povos se organizaram, nos primórdios

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das civilizações o comércio passou a gerar benefícios mútuos. E como o papel central deste

processo está na garantia da necessidade humana ilimitada, a corrida por novos mercados e

acumulação de capital parece-nos há muito já ter iniciado. Dentro deste contexto fica fácil

identificar que as populações no decorrer dos séculos, foram moldando seus hábitos

deconsumo a medida em que novos territórios foram sendo conquistados, e as trocas entre os

povos da antiguidade avançaram de grau e interatividade.

A discussão da Teoria Geral do Comércio Internacional é sempre fascinante e cheia de

controvérsias e riquezas históricas, uma vez, que o próprio “Comércio Exterior” é composto

em sua essência por uma dicotomia, pois de um lado verificamos a existência de benefícios

em termos de aquisição de novos produtos, costumes e riqueza, e por outro a preocupação

com o mercado doméstico e as medidas protecionistas. (CAPARROZ, R. p.26)

Dentro deste contexto é salutar fazer referência ao “Comércio Ultramarino”, o qual

pode ser dinamizado, outrora, a partir de um processo de inovações nos transportes com a

construção de navios mercantes de portes avantajados, que permitiram o descobrimento de

novas rotas e contribuíram para o crescimento do volume de trocas comerciais a partir da

ligação entre os continentes Americano, Europeu e Asiático.

Entretanto, foi com a exploração espanhola das ricas minas de ouro e prata no

México e no Peru que o Comércio Internacional da época ganhou consistência. A

Europa finalmente detinha a propriedade de commodities amplamente aceitas em

todo o Oriente, o que impulsionou as transações de longa distância e permitiu a

aproximação econômica de culturas tão distintas (CAPARROZ, R p. 27).

Esta época foi marcada pelo “Mercantilismo” onde o ponto crucial era a acumulação

de riquezas, principalmente o outro e a prata, no qual o bem estar da população só poderia ser

alcançado a partir do fortalecimento do poder estatal pautado no nacionalismo. E dentro deste

contexto nasce a primeira “Teoria do Comércio Internacional”, a Teoria das Vantagens

Absolutas. Esta foi escrita por Adam Smith em 1776 em sua obra a Riqueza das Nações, onde

o mesmo afirmava que as nações deveriam intercambiar a partir da existência de vantagens, as

quais foram caracterizadas por ele como sendo “absolutas”. Pois, segundo este autor só

existira comércio voluntário se ambas as nações pudessem ganhar. Em sua lógica, o autor

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considerava que cada nação deveria ter uma vantagem em relação a outra no que tange as

commodities que produzisse no comércio internacional, e que a vantagem absoluta estava

ligada ao fator de produção “trabalho” incorporado em cada uma das commodities associado

ao seu custo de produção. Assim, a nação obtém a vantagem absoluta naquela commodity em

que é mais eficiente e se especializa na sua produção. (SALVATORI, S. p. 21)

Anos depois em 1817, David Ricardo ampliou as ideias de Adam Smith, com a

publicação da obra “Princípios de Economia Política e Tributação” afirmando que mesmo que

uma nação tenha desvantagens em relação a ambas as mercadorias, esta tem condições de

realizar suas trocas comerciais no mercado internacional. O referido autor considera que a

nação que tem desvantagem absoluta, deve procurar manter suas relações de trocas com a

“outra nação” fornecendo a commodity que tem menor desvantagem absoluta, de modo que

esta “menor desvantagem”, representa para a nação uma Vantagem Comparativa. Assim, a

nação poderia exportar a commodity que tem vantagem comparativa e importar a commodity

que tem maior desvantagem absoluta. (SALVATORI, S. p. 23)

Outro importante autor que contribuiu para as discussões acerca do comércio

internacional foi Eli Heckscher, o qual publicou em 1919 a obra O Efeito do Comércio

Internacional em Relação à Distribuição de Renda, e que posteriormente teve suas ideias

ampliadas por Bertil Ohlin em 1933, o qual representou grande avanço em relação aos

modelos anteriores de Smith (1776) e Ricardo (1817).

Os referidos autores consideram para a análise a abundância relativa dos fatores de

produção entre as várias nações, afirmando que as nações procurarão intercambiar a aquela

mercadoria que exige a utilização mais intensiva do fator mais abundante e barato dentro da

nação e irão importar aquela mercadoria em que exige a utilização intensiva do fator mais

caro e escasso.

Contudo, percebe-se que as teorias clássicas não conseguem explicar em toda a sua

totalidade o comércio internacional, uma vez que são estáticas, se consideradas as variáveis

externas de uma economia dinâmica e globalizada como a atual. Sendo assim, algumas

contribuições foram sendo realizadas no decorrer dos anos afim de englobar nestas teorias

itens como “Economias de Escala”, “Diferenciação de Produtos”, “Custos de Transportes” e

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“Difusão Tecnológica” elementos estes que não são interpretados em um único arcabouço

teórico, e foram considerados em análises posteriores.

De um outro modo em 1977, coube a Dunnig construir um Paradigma Eclético que

sistematizasse as contribuições acerca do comércio internacional que já haviam sido discutidas no

meio acadêmico, de forma a ampliar os horizontes de análise tendo a aproximação com a realidade.

Este autor considera que o processo de internacionalização da produção é resultado do grau de

envolvimento internacional conquistado pela firma e pode ocorrer de diversas maneiras, que podem

ser substitutas ou complementares.

Assim, a internacionalização pode resultar do investimento direto estrangeiro, da transferência

de tecnologia ou da inserção comercial e a busca por um espaço fora das fronteiras domésticas é uma

estratégia adotada por empresas capitalistas, que visam sobretudo a valorização do capital, na qual a

maximização do lucro e condição necessária para tal fim.

Assim, o Paradigma Eclético procura oferecer uma estrutura analítica geral capaz de permitir

compreender a extensão e o padrão da produção. O autor chama a atenção para o fato de que não é

possível obter uma teoria geral sobre o processo de internacionalização da produção.

Segundo SILVA (2002), o requisito básico para que ocorra a busca pela inserção no mercado

externo realizada pelas firmas, uma vez que recursos não são acessíveis a todas as firmas que

participam do processo. O processo de internacionalização – qualquer que seja o tipo, é que as

empresas que tencionam realizá-lo detenha algum tipo de vantagem sobre os seus concorrentes. A

ideia subjacente neste processo é entender o “quando”, “onde” “porque” e o “que” das características

da internacionalização. Vários foram os estudos que tentaram responder a essas questões e coube ao

referido autor a sistematização em um único arcabouço teórico as diversas contribuições acerca do

tema.

Assim, por se tratar de um arcabouço teórico que envolveu diversas teorias, o paradigma

eclético permite explicar os vários tipos de envolvimento internacional perseguido pelas firmas. O uso

dessa estrutura analítica faz sentido quando se leva em consideração as vantagens específicas

possuídas por firmas e países, que permitem explicar as atividades fora das fronteiras domésticas

incluindo aí o fluxo de comércio.

As vantagens que DUNNING (1993) se refere ao tratar da possibilidade das firmas

decidirem atuar no mercado externo, estão vinculadas ao aproveitamento, das vantagens de

propriedade (Ownership) que são possuídas pelas firmas e que, em geral, estão circunscritas a marca,

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domínio de tecnologia, capacidade gerencial; as vantagens de localização, que são oferecidas pelos

países como recursos naturais, infraestrutura, mão-de-obra; e, as vantagens de internalização, que diz

respeito a decisão da firma entre conceder licença para terceiro e explorar sua produção ou ela mesmo

se encarrega disso.

Essas vantagens (OLI) ficaram conhecidas na literatura como sendo a base do paradigma

eclético de Dunning. Tal paradigma que permite que o significado de cada uma das vantagens

referendadas acima bem como a configuração entre elas, apresenta variações importantes entre

empresas, setores, regiões, países. Assim, regiões e/ou países periféricos apresentam tipos de

vantagens OLI distintos das regiões e/ou países mais desenvolvidos.

Associados as vantagens OLI, as empresas também apresentam motivos que explicitaram o

envolvimento internacional das mesmas. Esses motivos estariam vinculados a implantação de

estratégias por parte das firmas.

Assim, as firmas se internacionalizam por que buscam explorar mercados; buscam recursos;

buscam racionalizar a produção e/ou buscam adquirir ativos estratégicos.

A compreensão de vantagens e motivos, que firmas possuem enquanto critério importante

para o processo de internacionalização, sinaliza para o fato de que o Paradigma Eclético de Dunning

tenta analisar as atividades das empresas com atuação fora do mercado doméstico.

Embora não se proponha a ser uma teoria geral da internacionalização da produção, o seu uso

enquanto arcabouço teórico é satisfatório pois as razões especificas de cada investimento variam

muito.

Assim o paradigma eclético não pode ser algo que ofereça uma explicação completa

dos diversos tipos de produção internacional; mas, antes deve ser visto como algo

que aponta para uma metodologia e para um conjunto genérico de variáveis que

contém os elementos necessários para qualquer explicação específicas de tipos

particulares de atividades produtivas no exterior. SILVA (2002), p. (6) apud

DUNNING, (1993)

A próxima sessão procurar fazer uma análise da inserção internacional da “Castanha

de Cajú”, a fim de verificar como se processa a busca por novos mercados pelos produtos

potiguares, busca-se fazer uma primeira aproximação desta inserção através da análise dos

dados disponíveis no sitio do Ministério do Desenvolvimento da Industria e do Comércio

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Exterior, além de fazer uma rápida análise do histórico da atividade no estado do Rio Grande

do Norte.

O Agronegócio da Castanha de Caju e sua Inserção Internacional

Assim como as demais atividades agrícolas brasileiras, o agronegócio da castanha de

caju veio tendo que ser reestruturar no cenário nacional e internacional, sobretudo, após a

abertura comercial ocorrida na década de 1990. O que forçou esta atividade a buscar pela

competitividade pautada na incorporação de inovações que potencializem suas vantagens no

mercado mundial. Logo esta cessão pretende fazer uma rápida análise da inserção

internacional do agronegócio da Castanha de Caju do RN e do CE entre os anos de 2005 a

2014.

Incialmente é importante frisar que o agronegócio da “Castanha de Cajú” tem como

base a produção do fruto, “caju” que é do ponto de vista agronômico, um pseudofruto

constituído de duas partes, sendo a primeira, o fruto, conhecido também como a castanha e o

pedúnculo floral, que é seu ‘’corpo’’, parte que muitas vezes é amarelada. O caju é muito

importante para a economia do Brasil, principalmente da região Nordeste, possuindo cerca de

710 mil ha na região, assim representando 99,5% da área com caju do Brasil (IBGE, 2006).

Já, a castanha que é derivada do caju é comercializada em grande quantidade para o mercado

externo. Mas, essa atividade não é vista apenas no Brasil, o Vietnã, Índia, Nigéria são também

grandes produtores de castanha.

Sabe-se que sua importância remete à história do Brasil, pois o cajueiro é uma árvore

que os indígenas já conheciam antes da invasão dos portugueses, e foi levada para a Ásia e

África por estes colonizadores, e que nos últimos séculos teve sua expansão por outras regiões

do globo e hoje já é encontrada também na Oceania.

No que se refere ao comércio internacional, o primeiro país a importar a Castanha do

Caju foi os Estados Unidos, e a partir dai, outras nações começaram a se interessar por esta

commodity. Já do ponto de vista do Brasil, as exportações deste produto são geralmente sem

casca, classificadas como amêndoas, o que acaba sendo caracterizada como um produto

industrializado. Portanto, o que acaba por diferenciar-se da castanha produzida no continente

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africano, uma vez que o produto brasileiro possui um valor agregado que o diferencia em

termos de preço final. O mercado norte americano e Canadense são os maiores responsáveis

pelas importações das amêndoas brasileiras, Norte Rio-grandense e Cearense. Assim, a

castanha é muito consumida como aperitivo em ambos os países e também na composição de

alguns chocolates.

O caju tem um alto poder nutritivo e um gosto agradável o que facilita na

comercialização do produto e seus derivados, sendo um importante produto da pauta de

exportação da região nordeste. Além disso, o ‘’corpo’’ do caju é utilizado para outros fins,

como suco, sorvete, doce fazendo com que a cadeia produtiva se torne mais extensa,

agregando valor ao produto.

Para se ter ideia de volume, o representante de uma das empresas potiguar que é

responsável por uma parcela significativa de participação no mercado internacional desta

commodity, afirmou que a atividade principal da empresa era baseada no processo de corte

manual que possuía inicialmente 50 empregados e produzia 400 toneladas anualmente. Após

cinco anos da sua abertura passou a contar com mais 300 funcionários e a produção aumentou

para 2.500 toneladas por ano. Esse crescimento também foi visto na fabricação, pois na

primeira exportação da empresa foi gasto dois meses para encher um container, hoje em dia,

em uma semana consegue encher 5 contêineres. Em entrevista de campo realizado junto à

indústria AFICEL com seu administrador Ademos Ferreira da Silva Júnior no ano de 2014.

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Figura 1 - COMPARATIVOS DA EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE CASTANHA DE CAJU

PARA O NAFTA

Fonte: Adaptada a partir do MDIC/SECEX

Dessa forma, a atividade tem como foco o mercado internacional, o qual representa

80% da produção, tendo entre os maiores compradores os EUA e o Canadá. Vale salientar que

estes países não compram a castanha assada e sim, crua ou semi crua, pois, ela é consumida

basicamente como aperitivo. Entretanto, a atividade também é direcionada para o mercado

interno, sendo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro os maiores compradores nacionais.

Todavia, além de vários tipos de amêndoas exportadas também é produzido nas fábricas o

óleo LCC que é muito utilizado na indústria de tintas automotivas.

Com base nas informações na figura 1, percebe-se que entre os estados do Rio Grande

do Norte Ceará, ambos tiveram um impacto no volume de vendas para o NAFITA, sobretudo,

no ano de 2008, que pode ser explicado pela crise em que os EUA enfrentou. Ademais,

percebe-se uma queda significativa para ambos os estados na comercialização da commodity

com os EUA, provavelmente em decorrência de barreiras protecionistas.

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Figura 2 - COMPARATIVOS DA EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE CASTANHA DE CAJU

PARA UNIÃO EUROPEIA

Fonte: Adaptada a partir do MDIC/SECEX

Com base na Figura – 2 percebe-se que a atividade vem buscando uma diversificação

mercadológica, sobretudo, com a Europa, que apesar de passado por uma crise nos últimos

anos, com ênfase em 2010 e 2011, Atualmente, as empresas potiguares e cearenses vêm

buscando estabelecer parcerias comerciais com o Mercosul e a Europa tendo em vista que a

atividade já está consolidada no mercado do NAFITA, principalmente, nos Estados Unidos e

Canadá.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que o referencial proposto pelo trabalho auxilia na análise da questão de

partida, pois o esforço inovativo e suas vantagens de localização confirma a sua importância

da atividade para os estados do Rio Grande do Norte e Ceará, sobretudo, no que ser refere a

representatividade na pauta de exportação desses estados.

Além do esforço inovativo, ressalta-se a importância das vantagens de localização dos

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produtores do APL, pois o RN e o CE são região historicamente voltada para a produção de

frutas, através de um legado deixado pela MAISA e a FRUNORTE entre outras empresas nos

anos 1980 e 1990, as quais foram responsáveis pela formação de uma mão-de-obra vasta em

conhecimento agrícola voltado para a fruticultura, ou seja, agrônomos, químicos e

pesquisadores.

Outrossim, é uma região dotada de qualidades específicas e adequadas que fazem com

que as atividades agrícolas apresentem um diferencial no mercado internacional, em razão do

solo, clima e localização geográfica, o que acaba garantindo a inserção internacional a partir

de fatores endógenos, elementos de ordem natural, aspectos ambientais. Que acabam

enfatizando o seu enraizamento local.

Além do mais, o atual estágio conquistado pelo agronegócio da Castanha de Caju,

reflete o dinamismo da economia regional em geral e dos estados do RN e CE. Esta posição

de realce pode ser sintetizada pela análise dos seguintes pontos: destacada condição nacional

de produtor castanha de caju; expressivo volume de produtos comercializados, especialmente

nos mercados internacionais.

Além disso, outro aspecto merece atenção especial, trata-se da infraestrutura, pois

existe a necessidade de investimento continuado no modal rodoviário, sobretudo nas estradas

municipais de acesso as fazendas. Complementarmente, ainda no quesito; infraestrutura; a

atividade ainda se ressente, no caso do Rio Grande do Norte, da carência de portos e estradas

de ferro eficientes que possibilitem o escoamento da produção de forma rápida para o

mercado comprador, que em grande parte encontra-se na América do Norte e Europa.

Todas estas são proposições relevantes para que a atividade consiga se manter

competitivo nos próximos anos e alcançar patamares ainda mais elevados no mercado

internacional, além de uma maior capacidade de sustentabilidade do ponto de vista ambiental

e trabalhista. Acredita-se que novas pesquisas podem explorar mais detalhadamente estes

aspectos.

REFERÊNCIAS

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