A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR: AVALIANDO … · a Distância, vinculada à...

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ISSN 2176-1396 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR: AVALIANDO O PROCESSO Nathália Savione Machado 1 - UFPR Marina Lupepso 2 - UFPR Marineli Joaquim Meier 3 - UFPR Eixo Avaliação da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A avaliação de curso é essencial para conhecer o perfil dos cursistas e avaliar o processo ensino e aprendizagem. A Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD), vinculada à Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), elaborou e aplicou um instrumento de avaliação em vários cursos a distância. O presente artigo objetiva analisar os resultados da avaliação final dos cursos de educação a distância na referida instituição. O referencial teórico apresenta um breve contexto da EaD no Brasil a partir das legislações nacionais relacionadas à temática (BRASIL, 1996; BRASIL, 2015 e BRASIL, 2017). Nos procedimentos metodológicos descreve-se como a pesquisa foi realizada. Desenvolveu-se um instrumento semiestruturado de avaliação, utilizando a ferramenta GoogleDocs, para o preenchimento das respostas e tabulação pelo software Excel. A avaliação final foi respondida por 1300 estudantes de 23 cursos no período de 2014 e 2016. Os resultados foram compilados em gráficos e encaminhados para os coordenadores dos respectivos cursos. A avaliação apresentou o panorama atual dos cursos a distância na instituição e aponta melhorias a serem feitas nos cursos ofertados em várias dimensões: pedagógicas, tecnologias educacionais, tecnologias de informação e comunicação, de organização, dos atores da EaD, entre outros. Os resultados foram analisados a partir dos pressupostos de pesquisadores sobre EaD como Mattar (2012), Moore e Kearsley (2012) e Machado e Moraes (2015). Espera-se que os resultados auxiliem coordenadores de cursos e professores a conhecer o perfil dos atores envolvidos no processo, as possíveis lacunas e 1 Mestranda em educação e novas tecnologias na UNINTER. Especialista em gestão do trabalho pedagógico pela Faculdade Internacional (UNINTER). Pedagoga pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Técnica em assuntos educacionais UFPR. E-mail: [email protected] 2 Mestranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Educação a Distância pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pedagoga na UFPR. Email: [email protected]. 3 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1998). Especialista em Educação a distância. Graduada em Enfermagem com Habilitação em Licenciatura pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1984). Atualmente é professora Associada I da Universidade Federal do Paraná, Graduação e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Mestrado e Doutorado. E-mail: [email protected].

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ISSN 2176-1396

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR: AVALIANDO

O PROCESSO

Nathália Savione Machado1 - UFPR

Marina Lupepso2 - UFPR

Marineli Joaquim Meier3 - UFPR

Eixo – Avaliação da Educação

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

A avaliação de curso é essencial para conhecer o perfil dos cursistas e avaliar o processo ensino

e aprendizagem. A Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD),

vinculada à Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD) da Universidade

Federal do Paraná (UFPR), elaborou e aplicou um instrumento de avaliação em vários cursos a

distância. O presente artigo objetiva analisar os resultados da avaliação final dos cursos de

educação a distância na referida instituição. O referencial teórico apresenta um breve contexto

da EaD no Brasil a partir das legislações nacionais relacionadas à temática (BRASIL, 1996;

BRASIL, 2015 e BRASIL, 2017). Nos procedimentos metodológicos descreve-se como a

pesquisa foi realizada. Desenvolveu-se um instrumento semiestruturado de avaliação,

utilizando a ferramenta GoogleDocs, para o preenchimento das respostas e tabulação pelo

software Excel. A avaliação final foi respondida por 1300 estudantes de 23 cursos no período

de 2014 e 2016. Os resultados foram compilados em gráficos e encaminhados para os

coordenadores dos respectivos cursos. A avaliação apresentou o panorama atual dos cursos a

distância na instituição e aponta melhorias a serem feitas nos cursos ofertados em várias

dimensões: pedagógicas, tecnologias educacionais, tecnologias de informação e comunicação,

de organização, dos atores da EaD, entre outros. Os resultados foram analisados a partir dos

pressupostos de pesquisadores sobre EaD como Mattar (2012), Moore e Kearsley (2012) e

Machado e Moraes (2015). Espera-se que os resultados auxiliem coordenadores de cursos e

professores a conhecer o perfil dos atores envolvidos no processo, as possíveis lacunas e

1 Mestranda em educação e novas tecnologias na UNINTER. Especialista em gestão do trabalho pedagógico pela

Faculdade Internacional (UNINTER). Pedagoga pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Técnica

em assuntos educacionais UFPR. E-mail: [email protected]

2 Mestranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Educação

a Distância pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pedagoga na UFPR. Email: [email protected].

3 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Mestre em Tecnologia pela

Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1998). Especialista em Educação a distância. Graduada em

Enfermagem com Habilitação em Licenciatura pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1984).

Atualmente é professora Associada I da Universidade Federal do Paraná, Graduação e Programa de Pós-Graduação

em Enfermagem - Mestrado e Doutorado. E-mail: [email protected].

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necessidades, tornando possível encontrar soluções de acordo com as especificidades de cada

perfil.

Palavras-chave: Avaliação Educacional; Educação a Distância; Ensino Superior.

Introdução

A Educação a distância - EaD ao longo do seu desenvolvimento e crescimento, alcançou

diversos estudantes em lugares e tempos distintos. Um processo de avaliação amplo é

fundamental para permitir o planejamento e possibilitar o repensar da prática pedagógica no

processo de ensino e aprendizagem.

O artigo relata a análise do processo da educação a distância na Universidade Federal

do Paraná - UFPR, bem como suas diversas possibilidades enfrentadas e as estratégias adotadas

diante de seu resultado. Desenvolveu-se um instrumento semiestruturado de avaliação, voltado

à prática avaliativa contínua, formativa e mediadora do processo ensino e aprendizagem.

Será apresentado o contexto da educação a distância no Brasil e sua expansão, o papel

da avaliação final na educação a distância, o método da pesquisa, os resultados, a discussão e

as considerações.

Espera-se que o resultado auxilie coordenadores, professores e outros atores da EaD a

conhecerem o perfil dos atores envolvidos no processo, as possíveis lacunas e necessidades que

mobilizam a busca de soluções no processo ensino aprendizagem.

Educação a Distância no contexto do Ensino Superior

O contexto histórico da educação a distância no Brasil parte de uma trajetória social e

tecnológica, tendo seu marco institucional com a entrada em vigor da Lei nº 9.394/96,

conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (BRASIL, 1996).

Esta Lei caracteriza a educação a distância como uma modalidade de educação, bem como traz

outros avanços significativos e democráticos. Em seu artigo 80, normatiza o credenciamento,

regulamentação e emissão de diplomas estabelecendo as normas de controle e avaliação da

EaD. Recentemente foi homologado o Decreto n. 9057/2017 que compreende a educação a

distância de forma mais ampla, tendo a seguinte redação:

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modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de

ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação

e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com

acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades

educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e

tempos diversos. (BRASIL, 2017 p.1).

A democratização e o reconhecimento da EaD como modalidade de ensino permitiu o

seu crescimento junto ao surgimento de novas tecnologias. Entre os anos 1980 e 1990, com o

avanço da internet e a formalização desta modalidade, novas formas de ensinar e aprender

começaram a integrar o cotidiano da educação favorecendo o modelo de educação on line que

alcança um público numericamente significativo e em diversas localidades (KENSKI, 2012).

O Brasil está em processo de consolidação da EaD e há um crescimento expressivo desta

modalidade, principalmente na Educação Superior. Segundo o censo do ensino superior, em

2014, foram contabilizadas 1,34 milhões de matrículas na EaD, representando 17,1% do total

de matrículas da educação superior (BRASIL, 2015).

O Ensino Superior tem um papel fundamental na sociedade, estimulando a criação de

bens culturais e desenvolvendo o pensamento reflexivo e científico. A educação a distância

permite sua expansão por meio da mediação didático-pedagógica e tecnológica.

Neste contexto, a UFPR atua na articulação contínua com todos os setores, favorece a

oferta de cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamento, de extensão e, ainda, tem

qualificado docentes, tutores e técnicos-administrativos para atuarem na modalidade a

distância.

O papel da Avaliação na Educação a Distância

O crescimento da educação a distância, demanda a avaliação da consolidação desta

modalidade na UFPR analisando os elementos que compõem esse processo que envolve

aspectos pedagógicos, tecnológicos, tecnologias de informação e comunicação, tecnologias

educacionais, atores do ensino, entre outros. Os resultados dessa avaliação sugerem adequações

em várias dimensões, considerando ainda o perfil de cada turma.

Entende-se que, a avaliação na educação a distância é um processo sistemático, que

diagnostica as necessidades, fornece subsídios para o aperfeiçoamento do processo de ensino e

aprendizagem, (BRASIL, 2007) considerando o perfil dos alunos, professores, tutores e

coordenadores dos cursos e todos os demais envolvidos na EaD.

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Os Referenciais de qualidade para a educação a distância devem nortear o processo de

avaliação sendo orientado que as instituições planejem e implementem sistemas de avaliação

institucional, que produzam melhorias de qualidade nas dos cursos e no processo pedagógico

(BRASIL, 2007). No âmbito educacional, a avaliação tem a incumbência de indicar os

resultados dos objetivos estabelecidos, mas, além disso, ela perpassa todo o processo e todos os

envolvidos, gera transformações positivas diante das dificuldades encontradas, com o intuito

de atingir a excelência (LUCKESI, 2005). Seu papel é fundamental para reorientar e renovar as

ações pedagógicas em uma instituição, como auxiliar no planejamento da gestão, sendo

considerada como a soma de diversos fatores que se unem a um objetivo comum. Neste mesmo

sentido, Casanova (1995 apud ARREDONDO e DIAGO, 2009, p. 36) entende a avaliação

como:

Um processo sistemático e rigoroso de coleta de dados, incorporando ao processo

educacional desde o início, de maneira que seja possível dispor de informação

contínua e significativa para conhecer a situação, formar juízos de valor com respeito

a ela e tomar as decisões adequadas para prosseguir a atividade educacional,

melhorando-a progressivamente.

Entre 2014 e 2016 a UFPR teve 140 ofertas de cursos na modalidade a distância,

ofertando 58 desses cursos em programas de formação continuada voltado para professores da

educação básica. Foram ofertados cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamento e de

extensão. Mais de 16 mil cursistas se matricularam em algum curso a distância da UFPR neste

período. Assim, mediante esses números surge a demanda de avaliar os cursos ofertados em

todos os seus aspectos.

Metodologia

Foi desenvolvido, pela equipe da Coordenação de Integração de Políticas de Educação

a Distância, vinculada à Pró-Reitoria de Graduação e educação Profissional da UFPR, um

instrumento de avaliação final do curso, semiestruturado utilizando a ferramenta Googleforms,

para o preenchimento das respostas e tabulação (UFPR, 2014).

O instrumento foi aplicado com a finalidade de mapear o grau de satisfação dos cursistas

sobre o material didático, a tutoria a distância e presencial, o professor, equipe de coordenação

e sobre o ambiente virtual de aprendizagem - AVA. Foram elaboradas 33 questões objetivas e

três questões abertas. O formulário foi disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem

dos cursos pela equipe da CIPEAD com anuência da coordenação dos cursos e/ou enviados por

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e-mail aos coordenadores que encaminharam aos respectivos cursistas. Obteve feedback de 23

cursos (vinte e três) entre maio de 2014 e maio de 2016, totalizando 1300 respostas. Os

resultados das avaliações foram compilados em gráficos e encaminhados para os coordenadores

dos cursos.

Resultados

A maioria dos cursistas, 65,2%, eram professores da rede pública de ensino, público

alvo dos programas de formação continuada.

Gráfico 1: Área de atuação profissional dos participantes

Fonte: as autoras (2017)

A avaliação apontou que a maior parte dos cursistas está satisfeita com o material

didático, tutoria, docência, ambiente virtual de aprendizagem e coordenação, mas apontam

melhorias em alguns desses elementos.

Quanto ao conteúdo foi questionada a pertinência dos assuntos abordados, a adequação

dos conteúdos ao objetivo do curso, a relação entre o conteúdo e a carga horária e a objetividade

dos textos. Nesses aspectos, em média 90% dos respondentes se dizem satisfeitos ou muito

satisfeitos. Ainda apareceram avaliações que indicam que o conteúdo pode melhorar (8,1%),

ou que havia excesso de textos (6,3%).

Quanto à organização do material 56% consideram ótimo e 38,9% satisfatório. Quanto

ao layout do material e quanto as video-aulas o resultado ótimo e satisfatório se predominam.

A tutoria a distância tem o papel da mediação entre o estudante e o conteúdo cabendo a

ela a orientação, apoio, indicação de materiais complementares, suporte técnico-pedagógico,

dentre outras funções. Quanto a atualização do tutor em relação aos conteúdos 89% estão

satisfeitos ou muito satisfeitos, e 7,5% apontam que pode melhorar. Um total de 61% dos

estudantes afirmam que o tutor sempre disponibiliza materiais para complementação dos

estudos, 27,9% mencionam que só acontece às vezes e 6% comentam que nunca aconteceu.

Sobre o acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem pelo ambiente virtual pelo

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tutor, 81,7% dos cursistas afirmaram que aconteceram sempre, 14,4% que aconteceu às vezes

e apenas 1,5% apontou que nunca aconteceu. Mais de 80% afirmam que o tutor sempre

esclarece dúvidas e responde as mensagens pela plataforma. Menos de 10% afirmaram que só

aconteceu às vezes. Quanto à correção das tarefas 92,2% afirmaram que os tutores sempre

corrigiram as tarefas.

O tutor presencial é o tutor que fica no polo de apoio presencial e dá suporte ao curso,

principalmente nos encontros presenciais e nas aplicações de avaliações. Ele é a pessoa que

geralmente está mais próxima do estudante pela proximidade física. Porém, nem todos os cursos

têm o tutor presencial.

Quanto ao atendimento do estudante pelo tutor presencial nos horários estabelecidos,

69% afirmam sempre serem atendidos, 25,6% apontam não saber opinar e 4,3% apontam que

nunca foram atendidos. Quanto ao auxílio no desenvolvimento das atividades e ao uso do

ambiente virtual de aprendizagem mais de 68% afirmaram que sempre foram atendidos e 22%

afirmam não saber opinar.

O professor elabora ou seleciona o conteúdo, propõe as atividades, ainda, grava ou

indica vídeos e orienta os tutores no desenvolvimento das tarefas. Sobre o domínio de conteúdo

pelo docente, 73% dos cursistas apontam estarem satisfeitos e 8,3% acham que pode melhorar.

A maioria, 82% afirma que as atividades propostas contribuem para o aprendizado e 11,4% não

souberam opinar. Sobre a participação dos professores no ambiente virtual de aprendizagem a

avaliação demonstra que a participação docente pode ser estimulada. Mais da metade dos

respondentes (60,4%) afirmam que os docentes sempre participam e 20,3% afirmam que a

participação aconteceu às vezes. Sobre a indicação de materiais complementares 65,4%

mencionam que os docentes sempre indicam e 23,5% indicam que só acontece às vezes. Quanto

a disponibilização de videoaulas 51,7% pontuaram que sempre foram disponibilizadas e 24,4%

que somente às vezes foi disponibilizado.

Sobre a aula inaugural, questionando se o primeiro encontro atendeu as expectativas

quanto à resolução de dúvidas e instruções iniciais, 56,6% dos respondentes informaram que

foi satisfatório, 21,7% indicaram que foi ótimo e para 13,4% foi razoável. Quanto ao retorno

de problemas ou dificuldades encontradas durante o curso 73,3% se consideram satisfeitos.

Gráfico 2: grau de satisfação dos estudantes quanto ao retorno dos problemas e/ou dificuldades encontradas

durante o curso

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Fonte: as autoras (2017)

Sobre a interação por meio do ambiente virtual de aprendizagem percebeu-se que há

relevante interação entre os tutores e alunos, 87% mencionam utilizar o ambiente virtual de

aprendizagem - AVA como meio de interação e que a mesma acontece por meio da plataforma

MOODLE. Entre os cursistas a interação é considerada alta, 78% afirmam sempre usam a

plataforma para interação. Segundo os cursistas a comunicação entre estudantes e docentes, por

meio da plataforma sempre acontece (65,8%) e para 20% dos estudantes essa comunicação só

acontece às vezes.

Gráfico 3: interação no AVA entre os estudantes e tutores, professores e cursistas

Fonte: As autoras (2017)

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Nas questões abertas foi solicitado que os discentes comentassem sobre a vivência no

curso e fizessem sugestões. Muitas críticas apareceram sobre a atuação do tutor, a interação,

falta de correção e feedback das atividades.

Outros aspectos sobre a aula presencial foram destacados nas falas. Apontaramse

críticas sobre a ausência das aulas presenciais, a falta de organização das aulas, o objetivo

pedagógico e a didática docente.

Alguns aspectos positivos como a oportunidade de formação continuada e a importância

das temáticas dos cursos para a para a prática docente, a flexibilidade da EaD e gratuidade do

curso foram os mais relevantes e recorrentes.

A percepção dos cursistas

As questões objetivas relacionadas à percepção dos estudantes ao final do curso

referiam-se às seguintes categorias: conteúdos, textos, materiais, tutor a distância, tutor

presencial, professor e ambiente virtual de aprendizagem. Em todas as categorias o grau de

satisfação dos cursistas foi de 50% ou mais.

Quadro 1: categorias das respostas da avaliação final dos cursos

Conteúdo Atual, pertinente, está adequado aos objetivos e à carga horária do curso.

Textos São claros e concisos.

Material É organizado.

Tutor a distância Está atualizado quanto aos conteúdos, fomenta o interesse dos alunos nos fóruns e

debates, disponibiliza materiais para complementação dos estudos, acompanha o

processo de ensino e aprendizagem no AVA, esclarece dúvidas, responde as mensagens

no AVA e corrige as tarefas.

Tutor presencial Atende os estudantes nos horários pré-estabelecidos, auxilia os cursistas no

desenvolvimento das atividades individuais ou em grupos nos encontros presencias,

orienta quanto ao uso do AVA, estabelece comunicação permanente com os cursistas

durante o curso.

Professor Nas aulas presenciais o professor domina o conteúdo, propõe atividades que

contribuem para o aprendizado, participa dos fóruns no AVA, propõe avaliações

compatíveis com os conteúdos disponibilizados no AVA, indica materiais de leitura

complementar da disciplina.

AVA De fácil utilização e possibilita a interação.

Fonte: UFPR (2014).

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O conteúdo dos cursos e os textos de estudo disponibilizados no AVA foram bem

avaliados. Mesmo apresentando um ótimo grau de satisfação, alguns cursistas relataram

sugestões de melhoria. O participante 9 sugere que os conteúdos sejam disponibilizados em

mais de uma mídia “como por exemplo, em pdf e em video-aulas [...]. Isso poderia melhorar o

curso ainda mais”. Já para o participante 42 o conteúdo é muito extenso e a “linguagem muito

difícil de ser compreendida”. Também foi relatado pelo participante 37 que houve “excesso de

conteúdo” incompatível com a carga horária do curso (UFPR, 2014).

De um modo geral, mesmo que o conteúdo tenha sido bem avaliado na maioria, é

relevante considerar as ponderações dos cursistas. Rever a maneira como os conteúdos foram

abordados e a linguagem adotada favorecem o processo de ensino e aprendizagem. Bawa (2016)

sugere algumas recomendações para melhorar a retenção em curso online, como programas de

orientação obrigatória para estudantes e outros atores da educação, aprimoramento da interação

e da comunicação mediada por computador, desenvolvimento de classes de aprendizagem

colaborativa e uma estrutura tecnológica e de recursos humanos com expertise para a oferta de

cursos online de qualidade.

Os materiais utilizados nos cursos foram avaliados positivamente. Para Machado e

Moraes (2015, p. 77) o material didatico e a “base de estudo para o aluno na educacao a

distancia”. Segundo os autores, o material deve possibilitar a interacao e a relacao teoria e

pratica, alem de apresentar uma linguagem clara e concisa, estar em consonancia com o plano

de ensino da disciplina, apresentar uma sequencia nos conteudos, servindo de base para a

elaboracao do banco de questoes avaliativas.

Dentre as ponderações relacionadas aos materiais, alguns cursistas manifestaram o

interesse na versão impressa do material, além da virtual. O participante 954 relata que

considera necessário o material impresso, “visto que no nosso ambiente de trabalho (sala de

aula), não temos acesso ao computador”. O participante 964 também se manifesta a favor da

disponibilização do material impresso. “Talvez o material didático poderia ser impresso e

entregue ao aluno no início do curso. Isso facilitaria o estudo” (UFPR, 2014).

A necessidade de alguns cursistas no acesso ao material impresso corrobora com a

proposição de Moore e Kearsley (2012, p. 78), de que “o texto e, sem margem de duvida, a

midia mais comum empregada na educacao a distancia” e pode ser apresentado sob diversas

formas como “livros didaticos, livros que reproduzem artigos ou capitulos” ou ate mesmo em

guias de estudo.

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Entretanto, detectaram-se relatos que sugerem variedade de materiais e das mídias

utilizados no decorrer do curso. De acordo com o participante 488, “seria interessante se no

decorrer do curso fossem disponibilizados outros meios de aprendizagem (vídeos, áudios,

imagens, etc.) pois 90% do material é texto e a leitura excessiva é cansativa e isto além da

desmotivação ocorre uma queda no rendimento” (UFPR, 2014).

O relato do participante 488 elucida a necessidade de refletir sobre os formatos de

materiais e mídias utilizados, e, ainda atividades que contemplem os diferentes estilos de

aprendizagens (ALONSO e GALLEGO, 2002). As turmas são heterogêneas, portanto, há uma

diversidade de estilos de aprender entre os estudantes que precisam ser considerados ao elaborar

ou selecionar os materiais que serão adotados em um curso a distância.

Outro ponto mencionado pelos cursistas sobre a diversificação das mídias é a

disponibilização de mais video-aulas. Segundo Moore e Kearsley (2012, p. 82), o vídeo é uma

“midia poderosa para atrair e manter a atencao”, uma vez que “consegue mostrar a sequencia

de acoes envolvidas; pode mostrar closes, movimento lento ou acelerado, perspectivas

multiplas, e assim por diante”.

Em relação à tutoria e docência dos cursos, as avaliações foram, em sua maioria,

positivas. Para o participante 94

o contato com tutores e com a coordenação do curso sempre esteve presente desde o

começo do curso, os tutores sempre manifestaram interesse em manter contato com

os alunos, tirar dúvidas, conversar pela plataforma sobre suas possíveis dificuldades

com as matérias e verificar andamento de conteúdos por parte dos alunos (UFPR,

2014).

Ao tutor compete favorecer a aprendizagem e instigar o desenvolvimento da autonomia

dos estudantes, atendendo o mais breve possível às dúvidas e demais demandas dos cursistas

(MACHADO e MORAES, 2015).

No que diz respeito à tutoria a distância as principais considerações foram em relação

ao retorno dos tutores nas solicitações feitas pelos estudantes e o feedback das atividades. O

participante 139 relata que “o curso proporcionou maior integração com as minhas colegas de

equipe, os contatos com a Tutora foi sempre correspondido”. Já o participante 347 afirma que

“o tutor deve participar mais e trocar experiências e fazer comentários nas avaliações para

que o educador cresça profissionalmente melhorando seus olhares a respeito do assunto”

(UFPR, 2014).

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Analisando as afirmações dos estudantes é importante ter clareza do papel do tutor a

distancia. De acordo com Machado e Moraes (2015, p. 45), o tutor a distancia, apesar de estar

fisicamente distante dos cursistas, e quem acompanha o processo de ensino e aprendizagem.

Dentre suas principais funcoes deve “dinamizar a interacao entre os alunos, aperfeicoar a

experiencia de aprendizagem planejada para as disciplinas, estimular a participacao em debates

on-line e extrapolar a transmissao do conhecimento” sanando tambem as duvidas dos

estudantes por meio do AVA.

O tutor presencial, por sua vez, tem a incumbência de motivar o processo de ensino e

aprendizagem e organizar os encontros presenciais nos polos de apoio dando suporte técnico-

pedagógico e promovendo o engajamento dos estudantes (MACHADO e MORAES, 2015). A

participante 117 declara sua satisfação com o curso e a tutoria presencial: “fiquei muito

satisfeita com o curso que fiz e quero deixar o meu agradecimento em especial á minha tutora

presencial, que ela sempre estava disposta a explicar e ensinar” (UFPR, 2014).

O relato da participante 117 evidencia o papel e a importancia do tutor presencial. Para

Machado e Moraes (2015, p. 47) o tutor presencial “e um elo muito importante no processo de

ensino e aprendizagem na modalidade a distancia”, uma vez que e ele o responsavel em

reconhecer as necessidades dos estudantes, assegurar a legalidade do processo e aproximar os

cursistas de suas realidades culturais.

Para integrar os principais agentes promotores do processo de ensino e aprendizagem,

o professor merece papel de destaque. Na educação a distância o professor precisa se reinventar,

uma vez que ele assume novas funções como elaborar o material didático, saber se posicionar

frente às câmeras, bem como acessar e realizar interações no AVA (MACHADO e MORAES,

2015). Bawa (2016) reforça a atualização e a formação específica desses profissionais que

atuam na educação online como imprescindível para a qualidade do ensino.

O participante 523 relata que sentiu falta dos professores no AVA. Já o participante

1213 sugere mais aulas presencias. “Apesar do curso ser a distância, senti falta de mais aulas

e contato com professores na forma presencial, trabalhando o conteúdo de forma mais

aprofundada”. O participante 1059 também sente essa necessidade. “Sugiro que sempre tenha

essa aula expositiva, pois a presença e as informações que o/a professora dá na aula presencial

nos motivam e sempre acrescentam e muito em nossos estudos” (UFPR, 2014).

A partir dos relatos supracitados, percebe-se a importância da atuação do professor nao

só nos encontros presenciais, mas no ambiente virtual de aprendizagem. Para Machado e

1239

Moraes (2015, p. 40), o docente que atua na EaD precisa desenvolver a “habilidade da

comunicacao escrita”, “perceber minuciosamente cada detalhe ou ausencia do aluno no

ambiente virtual de aprendizagem”. O docente que atua na EaD precisa desenvolver seu

trabalho de forma ativa, dando todo o suporte necessário aos discentes e tutores.

Em relação ao ambiente virtual de aprendizagem ele deve ser de fácil utilização e

promover a interação, o que corrobora com os pressupostos de Machado e Moraes (2015) de

que o AVA deve possibilitar diferentes formas de interação. A maioria dos cursistas considerou

o ambiente virtual de aprendizagem de fácil utilização. Entretanto, há que se considerar que

existe uma parcela de estudantes que nunca realizaram um curso a distância e que possuem

algumas dificuldades em manusear as tecnologias, conforme demonstra o relato do participante

410. “A primeira coisa que tinha que ser feito é informar o aluno de como utilizar a plataforma.

Eu quase perdi o curso porque não sabia nem como entrar e utilizar o Moodle” (UFPR, 2014).

Bawa (2016) pontua que as dificuldades no manuseio das tecnologias é frequente, bem

como as limitações na compreensão dos ambientes de aprendizagem. Como na EaD o AVA é

o principal canal de comunicação entre cursistas, tutores e professores, é fundamental que todos

se sintam aptos a navegar pelo ambiente e conheçam suas principais funcionalidades. Machado

e Moraes (2015, p. 66) elucidam que os estudantes devem ser estimulados a frequentar o AVA

e interessarem-se “pelos conteudos, pelas informacoes e pela possibilidade de criar novos

conhecimentos” para que percebam que sao coautores de seu processo de ensino e

aprendizagem. É previsto e recomendado que todos os cursos que utilizam o AVA propiciem

um período de ambientação (uma semana a um mês), no qual são propostos exercícios para uso

do AVA em suas funções básicas, viabilizando a continuidade no curso.

No que diz respeito ao processo de interação no AVA muitos cursistas fizeram diversas

observações. De acordo com o participante 401 “poderia ter um chat para que os colegas

pudessem interagir melhor, e também horários marcados com o professor no ambiente virtual

para que pudéssemos esclarecer as dúvidas”. Em relação aos fóruns, o participante 488 relata

que suas expectativas foram atendidas, pois os fóruns “permitem conhecer outras realidades,

conhecimentos e ideias” aplicáveis ao contexto profissional (UFPR, 2014).

Partindo do pressuposto de que “a interacao decorre do encontro de pessoas que

estabelecem relacoes e discutem posicoes, englobam ideias e ate sentimentos comuns”

(MACHADO e MORAES, 2015, p. 62), o relato do participante 401, ao sugerir a inclusão de

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um chat, ilustra a necessidade que alguns estudantes sentem em aprofundar e manter o processo

interativo dentro do AVA.

O processo de interação pode ocorrer de diversas maneiras, seja estudante/estudante,

estudante/tutor ou estudante/professor. No que diz respeito a interação entre os cursistas, Mattar

(2012) esclarece que ela pode ser síncrona ou assíncrona, favorece o processo de aprendizagem

colaborativa e cooperativa e o sentimento de compor um grupo, além de desenvolver a

criticidade e auxiliar no desenvolvimento da capacidade de trabalhar em equipe.

Em relação à interação entre estudante/professor e estudante/tutor, Mattar (2012) afirma

que independente de ser síncrona ou assíncrona, deve-se promover a motivação dos estudantes

e fornecer um feedback constante que contribua no aprendizado.

Abramenka (2015) reforça em sua pesquisa a valorização da interação com os

instrutores e colaboração como elementos importantes, destaca ainda a interação assíncrona

como a preferida.

Sendo uma das atividades mais comuns na EaD (MATTAR, 2012), o fórum foi o

recurso mais utilizado nos cursos participantes da pesquisa. De acordo com Mattar (2012), os

fóruns de discussões permitem a interação de forma assíncrona entre os participantes sobre um

determinado tema. Permite que o professor e/ou tutor acompanhem o processo de discussão e

promovam o debate entre os cursistas. Os tutores mediam debates e não devem assumir as

discussões (MATTAR, 2013), entretanto precisam ter presença suficiente para que os

estudantes não se sintam abandonados.

Considerações

A avaliação final representou o panorama atual dos cursos a distância na instituição

pesquisada e aponta melhorias a serem feitas nos cursos ofertados em várias dimensões:

pedagógicas, tecnologias educacionais, tecnologias de informação e comunicação, de

organização, dos atores da EaD, entre outros.

O resultado das avaliações foi enviado aos coordenadores dos cursos e acredita-se que

a partir dele será possível planejar os próximos cursos adaptando as unidades de acordo com o

perfil do aluno. Avalia-se o retorno dos instrumentos como positivo e pretende-se incorporar a

avaliação dos cursos como uma política institucional. Acrescenta-se que os instrumentos

elaborados serviram de modelos para outros instrumentos que foram adaptados para diversos

cursos da instituição.

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REFERÊNCIAS

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