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Universidade Metodista de São Paulo Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação PENSACOM BRASIL – São Bernardo do Campo, SP – 16 a 18 de novembro de 2015 1 A estetização no design como força de comunicação nas embalagens de água mineral 1 Marina Jugue, CHINEM 2 Universidade Metodista de São Paulo, SBC - SP Universidade Municipal de São Caetano do Sul, SCS – SP Marcelo, FLÓRIO 3 Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo - SP RESUMO A proposta do artigo é analisar por meio de estudo de caso o design das embalagens de água mineral no Brasil. Estudar os produtos que possuem um design que denotam sofisticação e que são capazes de envolver o consumidor, diferenciando-se dos concorrentes, e que criam uma experiência emocional positiva para quem os adquire. Observar como design das embalagens remetem os objetivos da marca e o posiciona- mento e desta forma alinham-se aos valores e expressam a essência e os diferenciais. A estetização no design é um canal de experiência emocional e de extrema importância para comunicar os atributos e elementos funcionais e informacionais. Os valores estéticos das embalagens de água mineral tornam-se cada vez mais relevantes, principalmente em mercados onde exigem aspectos sintáticos além das necessidades básicas de consumo. As diferenciações do produto pela sua estética e design são uma estratégia importante no marketing e posicionamento das marcas em criar um diferencial e destaque no mercado. PALAVRAS-CHAVE: Design de embalagem; Estetização; Comunicação. 1 Trabalho apresentado no GT 5- Comunicação e Consumo, do PENSACOM BRASIL 2015. 2 Marina Jugue Chinem, docente da Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP e na Escola de Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Estética e História da Arte- PGEHA – USP. Pesquisadora do COLABOR-ECA-USP. Email: [email protected] 3 Marcelo Flório é pós-doutor em História (PUC/SP- 2010), Doutor em Ciências Sociais na área de concentração em Antropologia (PUC/SP – 2004), mestre em História (PUC/SP – 1995), graduado em História (PUC/SP – 1992). É professor da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) desde agosto de 2001. Email: [email protected]

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A estetização no design como força de comunicação nas embalagens de água mineral1

Marina Jugue, CHINEM2 Universidade Metodista de São Paulo, SBC - SP

Universidade Municipal de São Caetano do Sul, SCS – SP

Marcelo, FLÓRIO3 Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo - SP

RESUMO A proposta do artigo é analisar por meio de estudo de caso o design das embalagens de água mineral no Brasil. Estudar os produtos que possuem um design que denotam sofisticação e que são capazes de envolver o consumidor, diferenciando-se dos concorrentes, e que criam uma experiência emocional positiva para quem os adquire. Observar como design das embalagens remetem os objetivos da marca e o posiciona-mento e desta forma alinham-se aos valores e expressam a essência e os diferenciais. A estetização no design é um canal de experiência emocional e de extrema importância para comunicar os atributos e elementos funcionais e informacionais. Os valores estéticos das embalagens de água mineral tornam-se cada vez mais relevantes, principalmente em mercados onde exigem aspectos sintáticos além das necessidades básicas de consumo. As diferenciações do produto pela sua estética e design são uma estratégia importante no marketing e posicionamento das marcas em criar um diferencial e destaque no mercado. PALAVRAS-CHAVE: Design de embalagem; Estetização; Comunicação.

1 Trabalho apresentado no GT 5- Comunicação e Consumo, do PENSACOM BRASIL 2015. 2 Marina Jugue Chinem, docente da Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP e na Escola de Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Estética e História da Arte- PGEHA – USP. Pesquisadora do COLABOR-ECA-USP. Email: [email protected] 3 Marcelo Flório é pós-doutor em História (PUC/SP- 2010), Doutor em Ciências Sociais na área de concentração em Antropologia (PUC/SP – 2004), mestre em História (PUC/SP – 1995), graduado em História (PUC/SP – 1992). É professor da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) desde agosto de 2001. Email: [email protected]

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Introdução

A relação entre design, comunicação e publicidade é muito tênue, pode-se

encontrar emoções e atitudes onde se cria possibilidades para realizar novos diálogos e

novos desejos. A publicidade, design e arte são diferentes, mas dividem o ideal clássico

da beleza, e essas referências artísticas voltam a permear nos dias atuais. No design de

embalagem utiliza-se de conceitos estéticos como método de persuasão e pode ser

considerado um tipo diferenciado de linguagem que se utiliza de todas as outras formas

de expressão estética para atingir o receptor. Se o conceito de estética de Platão for

usado como referência, proporção e harmonia são necessárias para determinar a

qualidade de uma obra, definição do que é belo, uma herança da filosofia grega.

A arte representa o modo de vida e valores da sociedade, nela se observa a

relação com a cultura, e estética no contexto sócio econômico cultural. O design da

embalagem deve indicar as qualidades e valores associados à marca, além de estética e

função. Nos dias atuais, os conceitos estéticos como método de persuasão, vêm

utilizando todas as outras formas de expressão artística para atingir o público e sua

fidelização.

A embalagem representa a identidade de uma empresa, é considerada uma

poderosa estratégia de marketing e em muitos casos o único meio de comunicação do

produto. Por meio da linguagem visual, se estabelece um diálogo entre a embalagem e o

consumidor, uma intersemiose na sensorialidade e percepção neste processo de

comunicação. As embalagens dos produtos de consumo precisam chamar a atenção no

ponto de venda, informar as características e atributos do produto, e despertar o desejo

de compra no consumidor.

Nas embalagens verifica-se de como o design pode representar o diferencial na

escolha da compra do produto. E o consumidor obtém ainda seu prazer estético?

Na publicidade o ato de publicizar as ideias para atingir o consumidor utiliza-se do

discurso que possui mensagens verbais e não verbais, com atributos estéticos formais

expressivos para atrair o receptor.

Desta forma, o design da embalagem é concebido com o intuito de tornar os

produtos mais competitivos, evidenciando suas qualidades no ponto de venda. Cria-se a

partir daí, novos conceitos sígnicos onde a visualidade das embalagens estabelece uma

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linguagem, e uma interlocução com o design e novas significações, cria uma relação

emocional com o consumidor. Neste sentido a pesquisa tem como objetivo identificar e

analisar as imbricações, e as correlações entre design, arte e na comunicação.

A embalagem no Brasil

As embalagens vêm sendo consideradas como o maior veículo de venda e de

construção da marca e da identidade de um produto, já que elas são o primeiro contato

do consumidor com o produto, sendo fundamentais para a escolha e a compra (Della

Lucia et al., 2007). A embalagem à medida que os produtos se movimentam na cadeia

de valor auxilia as empresas a se comunicarem com os consumidores e a fornecerem

proteção, armazenagem e conveniência. Alguns especialistas no assunto consideram que

uma embalagem corresponde a um comercial de cinco minutos na gôndola do

supermercado. Se considerarmos que cerca de 20 mil novos produtos chegam ao

mercado anualmente e que a grande maioria não tem comunicação de qualquer espécie,

a embalagem cresce em importância.

O mercado de embalagens no Brasil tem sido alvo de grandes investimentos e é

um dos mais promissores. Os consumidores estão exigindo embalagens mais funcionais

em termos de comunicação de informações e mais facilidades para segurar, carregar e

usar (ABIA, 2001). A cada semana o consumidor encontra, nos pontos de venda, novas

embalagens, um desafio das indústrias em oferecer produtos diferenciados. Os

resultados são materiais mais resistentes a rasgos e ao impacto, barreiras ao oxigênio

(garantem maior vida de prateleira), substratos de maior “printabilidade” e embalagens

com melhor apelo visual. No entanto, no projeto da embalagem, três aspectos se

destacam: o técnico, o arquitetônico e o comunicacional, sendo esse último de grande

importância (IPT, 2002).

O papel da comunicação é fundamental não só na divulgação de um produto,

mas também como agente ativo na criação de demandas. Em todos os produtos o seu

consumo está cada vez mais associado à quantidade e à qualidade das informações

presentes na mente dos consumidores, fazendo com que as pessoas consumam não

apenas por necessidade, mas por valores e identificação. O design de embalagem

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trabalha com muita desenvoltura as estratégias de comunicação eficientes, destinando

de forma crescente um volume considerável de recursos às campanhas publicitárias.

No mercado 70% dos produtos existentes tem embalagem, 90% não tem outro suporte

promocional no PDV, dependem única e exclusivamente da embalagem para competir

no mercado. Nos supermercados os produtos semelhantes são colocados lado a lado e a

embalagem constrói ou reafirma algo importante para a marca. A embalagem faz a

ligação entre a experiência com o produto e a marca do fabricante.

Tendências no mercado de embalagens

Muitas das exigências determinadas pelo mercado consumidor têm sido

atendidas por alterações no conceito das embalagens. Para isto, durante o processo de

desenvolvimento das embalagens, é essencial combinar conveniência e praticidade com

impacto visual atraente e integrado ao cenário do ponto de venda.

Os consumidores estão cada vez mais exigentes, cujo desejo nunca é satisfeito,

numa consequência da cultura de massa, busca qualidade e mostra-se mais infiel às

marcas. Tais características geram a competição de mercado pelos fabricantes dos

produtos, que exigem do designer, estratégias como o apelo visual para vender. Pois

além da exigência do usuário, existe o problema da similaridade visual do produto, a

embalagem acaba sendo um ponto de diferenciação durante a compra.

O desenvolvimento da embalagem vai além da criação, envolvem conhecimento,

pesquisa, arte e tecnologia, e os aspectos artístico-estéticos das embalagens tem um

conceito e criam uma identidade visual. A embalagem é a apresentação do produto, o

rótulo sua “roupa”, tem o objetivo de atrair o consumidor, dizer o que o produto é.

A embalagem reflete o comportamento de consumo

A embalagem é um sistema e o design é o componente integrador do processo,

atuando em todas as fases desde a concepção industrial da embalagem até a sua relação

com o consumidor. A linguagem visual da embalagem faz com que ela agregue valor e

significado ao produto tornando-o atraente e desejado.

- FORMA: é a expressão e atributo do conteúdo que é exclusiva, patenteável,

diferencial e chama a atenção do consumidor.

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- COR: a cor age no sistema nervoso, é uma sensação.

- IMAGEM: as imagens são recheadas de significados e sempre devem ser utilizadas.

- LOGOTIPO: é a assinatura do produto

Todos estes elementos informam o conteúdo e o diferencial do produto,

despertam o desejo de compra e agregam valor ao produto. A embalagem é resultado da

ação de um sistema complexo e multidisciplinar. O design de embalagem é uma

atividade que consolida e integra a ação deste sistema. Conforme Steven Rose,

neurocientista britânico da Universidade de Cambridge, o cérebro do século 21: “O

cérebro humano não trabalha com informação, mas com significados”.

A comunicação visual a serviço da marca tem por objetivo resgatar a

importância do design de embalagens como mídia fundamental na comunicação de

marca, explorar suas potencialidades e limites a partir de uma abordagem estratégica,

onde o design ganha um escopo de atuação ampliado não restrito à manipulação de

recursos visuais ou a uma função exclusiva do designer, bem como contribuir para um

melhor emprego do design de embalagens a partir dos profissionais e estudiosos das

áreas de marketing, comunicação e design. Assume a sua importância pois fornece

subsídios para que esses aspectos possam inovar de maneira integrada e competitiva.

A embalagem ideal, segundo Lautenschläger (2001), deve apresentar certo

equilíbrio entre custo-benefício das funções que lhes são atribuídas, a partir das

condições impostas:

1. Contenção – refere-se à capacidade da embalagem em conter o produto,

servindo como recipiente. Portanto, deverá considerar, além das características do

produto e dos fatores econômicos, as prováveis consequências de um acondicionamento

inadequado.

2. Proteção – refere-se à capacidade da embalagem em proteger o produto contra

danos causados tanto pela manipulação, movimentação, estocagem e transporte quanto

pelas condições atmosféricas, até o uso final, garantindo as qualidades e características

iniciais. Existem dois tipos de proteção: mecânica (contra choque, vibração, aceleração,

compressão ou empilhamento) e físico-química (contra oxidação, temperatura, umidade,

radiação solar, etc.).

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3. Utilidade – refere-se à capacidade de interagir com as condições de manuseio,

especialmente dos produtos de consumo, tais como: facilidade de abertura, fechamento

ou dosagem. Embora todas estas funções devam ser observadas, em algumas

embalagens pode haver uma função com menor ênfase e isso se deve ao fato de que o

principal custo está relacionado ao balanço entre as funções e o planejamento de cada

uma delas.

4. Comunicação – referem-se à capacidade de transmitir a informação, através

dos elementos visuais, tais como: forma, dimensão, cor, gráficos, símbolos e

impressões.

Neste contexto, vem crescendo de forma significativa a preocupação do

consumidor com relação à embalagem, seus reflexos sobre a vida e sobre o meio

ambiente. Cada vez mais produtos que exploram atributos ligados a estas preocupações

vêm ganhando espaço no mercado e a preferência dos consumidores.

Diante de um mercado consumidor cada vez mais exigente, a busca pela

“embalagem ideal”, que atenda as necessidades do produto como conter, proteger e

transportar, além de conservar, expor e vender passou a ser um desafio para

profissionais de diferentes áreas.

Tudo isso pode ser alcançado através do design da embalagem que deve refletir

as qualidades e valores associados à marca. Além disso, uma embalagem pode durar

além de seu conteúdo, sendo usada como item colecionável ou souvenir, criando uma

relação emocional com o consumidor. A embalagem é a identidade da empresa a qual

ela representa e em muitos casos é o único meio de comunicação do produto.

A interlocução da arte, design, publicidade nas embalagens

Esta prática de conciliar arte, design e a publicidade pode-se remeter a Belle

Époque, através das artes gráficas, que a contextualidade e a narrativa inerentes à

criação e processo estético atestam as interações entre arte e publicidade, tornando-as

mais aparentes e visíveis. Na passagem entre os séculos XVIII e XIX, a Revolução

Industrial motiva o consumo de bens e serviços por meio de mecanismos publicitários.

Cartazes, rótulos e outros produtos gráficos são os instrumentais mais recorrentes nessa

ordem industrial regida pelo consumo.

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Nas primeiras décadas do século XX que correspondem ao período de

emergência das vanguardas, as relações entre publicidade e arte tornam-se claras, mas

tomam força a partir dos anos finais de 1950 e por todos os anos de 1960, justamente

quando os meios de comunicação de massa se consolidam e explode o consumo de bens

relacionados à indústria cultural.

O mundo está em efervescência: revoluções de todos os tipos e em diversos

lugares; as guerras de socialistas e de capitalistas; a paz dos hippies; a conquista do

espaço; a liberdade sexual por meio da pílula anticoncepcional; o auge de Hollywood e,

o rock in roll. Nesse cenário, emerge a estética pop que traça uma ligação mais direta

com a publicidade e com os meios oferecidos pela indústria cultural até aquele

momento. A arte pop abusa dos objetos do cotidiano, principalmente, aqueles desejados,

como a Coca-Cola, ou astros da música e do cinema, tais como Marylin Monroe e Elvis

Presley – a ideia mestra está em transformar o dia-a-dia em obra de arte.

Na pop art, o meio urbano, os signos estéticos massificados da publicidade, os

quadrinhos, as ilustrações, o cinema e a fotografia são mesclados à tinta acrílica,

poliéster, látex e produtos dotados de cores fortes e brilhantes. Os objetos da indústria

cultural são selecionados e têm sua escala alterada, ocasionando a passagem de sua

condição real para uma hiper-real. Há, nessa simbiose, uma dialética entre a arte, o

design e o consumo. Em contrapartida, a publicidade passa a utilizar, cada vez mais, os

recursos da ilustração, da fotografia e das novas linguagens midiáticas – o que a

aproximava ainda mais da arte pop. O próprio Andy Warhol desenvolve projetos,

naquela época, em agências de publicidade, assim como outros artistas.

Por fim, até aqui se colocam, resumidamente, elementos que transitam entre arte,

design e publicidade. Pontuam-se circunstâncias que demonstram as conexões sobre

essas expressões comunicativas, porém, tem-se a consciência que essa pequena reflexão

não dá conta de toda a extensão e complexidade dos processos de interações presentes

entre a arte, a publicidade e inclusive o design.

A estética pode representar o diferencial no design de embalagem

A embalagem existe para atender as necessidades e anseios da sociedade e com

ela evolui. Seu design é uma expressão da cultura material de um povo, e podemos

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considerar a embalagem um ícone da cultura de consumo. A aproximação da arte na

comunicação, onde há uma mescla de emoções e atitudes, presenciam-se novas formas

de dialogar com a arte e o design. A publicidade, design e arte são diferentes, mas

dividem o ideal clássico da beleza, e essas referências artísticas voltam a permear nos

dias atuais. No design de embalagem utiliza-se de conceitos estéticos como método de

persuasão e pode ser considerado um tipo diferenciado de arte que se utiliza de todas as

outras formas de expressão artística para atingir o receptor. Se o conceito de estética de

Platão for usado como referência, proporção e harmonia são necessárias para determinar

a qualidade de uma obra definições do que é belo bom e verdadeiro nasceram na

filosofia grega, surgiram os conceitos de estética, ética e lógica.

A embalagem representa a identidade de uma empresa, é considerada uma

poderosa estratégia de marketing e em muitos casos o único meio de comunicação do

produto. Desta forma, o design da embalagem é concebido com o intuito de tornar os

produtos mais competitivos, evidenciando suas qualidades no ponto-de-venda, criando-

se novos conceitos sígnicos onde a visualidade das embalagens estabelece uma

linguagem, uma interlocução com a arte e as novas significações, criando uma relação

emocional com o consumidor.

As embalagens dos produtos de consumo precisam chamar a atenção no ponto

de venda, informar as características e atributos do produto e despertar o desejo de

compra no consumidor, o design da embalagem deve refletir as qualidades e valores

associados à marca envolvem os estudos representando além de estética e função,

fatores sociais, culturais. As forças de mercado afetaram essa simbiose provocando uma

espécie de ciclo envolvendo o uso de uma arte (ou artista) mais popular para

impulsionar a comunicação de um serviço ou um produto. O design atribui valores às

embalagens, estimulando a emoção do consumidor, em um mercado competitivo e

padronizado, cujas gôndolas parecem exibir o mesmo produto. Este diferencial é um dos

pontos positivos para o produto,

Em A estrutura ausente, Eco (1976) traça um verdadeiro “mapa retórico da

publicidade”, afirmando que há uma ideologia em qualquer comunicação, a “ideologia

do consumo”, de acordo com as “condições econômicas que governam a existência da

mensagem publicitária”. (Eco, 1976:165-184).

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Tal mapa é formado por mensagens textuais e visuais codificadas, que consistem

em “convidar” o público a consumir o que quer que seja. Dessa forma, a comunicação

do produto vai além da simples informação, há um discurso que impõe modelos de

ideias, conceitos e comportamentos. Isso envolve desde o projeto, até a colocação do

produto na gôndola, ações que geralmente não são percebidas.

O mercado de água mineral alcançam 7 bilhões de litros

A pesquisa é baseada em um estudo exploratório focado no levantamento de

fontes literárias e no estudo de cases de embalagens de água mineral. O Brasil é 4º

maior produtor de água engarrafada; o setor cresce 7,6% ao ano no mundo e já bate o de

refrigerantes. Os dados da Associação Internacional de Águas Engarrafadas indicam

que o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de produtores que consome mais água

engarrafada que países como Itália, Alemanha, França e Espanha. Fica atrás dos Estados

Unidos, México (que crescem, em média, 8,5% ao ano) e da China, cuja demanda

aumenta 17,5% a cada ano. A taxa média de crescimento mundial é de 7,6% ao ano. Água mineral4 é a água que tem origem em fontes naturais ou artificiais e que possui componentes químicos adicionados, como sais, compostos de enxofre e gases que já vêm dissolvidas na água, portanto são invisíveis a olho nu. Toda água mineral, por mais pura que seja, possui certa quantidade de sais.

O consumidor e a estetização do design das embalagens

Nas embalagens são um exemplo de como a estética pode representar o

diferencial na escolha da compra de um produto. Para uma nova visão em que a

embalagem só é capaz de trabalhar a serviço da marca se for gerida segundo uma

mentalidade estratégica de design, suportada por uma abordagem do projeto associada

aos objetivos de marketing e de planejamento de marca que amplia o raio de atuação do

designer e do executivo de marketing.

Abordará o desenvolvimento da embalagem de produtos pelo viés da

comunicação visual, o processo criativo do produto voltado à emoção, estimulada

dentro das expressões humanas. O intuito dessa análise é fazer uma conceituação teórica

4 www.significados.com.br/agua-mineral/, acesso dia 15 de novembro de 2015.

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da comunicação da embalagem por meio desta estetização do design, com base no

design que incorpora emoção ao projeto na interface entre o homem.

Conforme Lipovestsky, Serroy: O consumo com componente estético adquiriu uma relevância tal que constitui um vetor importante para a afirmação identitária dos indivíduos (...)

Análise dos cases de embalagens de água mineral

Seguem alguns cases, que foram escolhidos com a proposta principal de avaliar

o design, e sua estetização como força de comunicação.

A água mineral francesa Evian

A marca EVIAN investe pesado no marketing, além disso, a água EVIAN está

associada à saúde, bem-estar, juventude e beleza. Seus sites oficiais têm visual clean,

“puro” e garrafas muito atrativas. Existe até mesmo um serviço de personalização de

garrafas, o “My EVIAN”, com designs variados, além de parcerias com nomes como

Jean Paul Gaultier e Issey Miyake.

Garrafa de Evian by Kenzo é lançada em edição limitada

A Evian e a Kenzo se uniram para criar uma garrafa de água. A edição limitada

de 2015 da água Evian é assinada pelos diretores de criação da Kenzo Fashion House,

Carol Lim e Humberto Leon. As linhas roxas simbolizam os Alpes franceses, enquanto

o verde limão representa a fonte de água da Evian na cordilheira. O padrão geométrico

das linhas utilizado na coleção de outono/inverno 2014 da Kenzo é inspirado em

referências do cineasta David Lynch. O novo design foi levado para as garrafas de vidro

e de PET da marca de água francesa.

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Figura 1: Garrafa de Evian by Kenzo é lançada em edição limitada.

Fonte: http://www.embalagemmarca.com.br/2014/09/garrafa-de-evian-kenzo-e-lancada-em-edicao-limitada/Publicado em 29/09/2014, acesso dia 12 de novembro de 2015.

Conforme Lipovestsky, Serroy: (...) estabelecer para si suas próprias regras visando uma vida bela, intensa, rica em sensações e em espetáculos.

Figura 2- Dentre os nomes que já criaram para a marca estão: Christian Lacroix, Issey Miyake, Jean Paul Gaultier e Paul Smith.

Fonte: http://www.cristinamello.com.br/?p=18564, acesso dia 12 de novembro de 2015.

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Bioleve adota garrafa cor de rosa

A Bioleve, empresa do Grupo Flamin, lançou uma embalagem rosa com o

objetivo de se aproximar mais do público feminino. Na cor rosa, a garrafa de PET de

510 mililitros envasa a água mineral sem gás da marca. A embalagem é produzida na

própria empresa, que centraliza em seu parque industrial todas as etapas da produção. O

design e a concepção da embalagem também foram desenvolvidos pela Bioleve.

Figura 3- Embalagem rosa para aproximar o público feminino.

Fonte: http://www.embalagemmarca.com.br/2015/09/bioleve-lanca-garrafa-cor-de-rosa-para-agua-mineral/, acesso dia 12 de novembro de 2015.

Garrafa de água mineral é inspirada em pedras preciosas

O Grupo Coroa, do Espírito Santo, investe no reposicionamento da marca de

água mineral Campinho, a proposta, que trouxe embalagem e rótulos totalmente

renovados, é agregar valor ao produto e, consequentemente, conquistar novos públicos.

Para produzir a nova embalagem, o departamento de marketing do Grupo Coroa se

inspirou em pedras preciosas e criou uma garrafa de PET que remete à lapidação de

joias, a cor vermelha remete ao rubi e o azul com a inspiração na safira.

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Figura 4- A água com gás tem embalagem vermelha que remete ao rubi, e a garrafa azul com inspiração na safira.

Fonte: http://www.embalagemmarca.com.br/2014/02/nova-garrafa-da-agua-mineral-campinho-e-inspirada-em-pedras-preciosas/, acesso dia 12 de novembro de 2015.

Bonafont desenvolve garrafa exclusiva para linha premium

A água Bonafont, marca da Danone, ampliou seu portfólio de produtos e lançou

nova embalagem de 330 mililitros, em 2014. Esta linha premium, trouxe mais

sofisticação e contemporaneidade para a marca.

A nova embalagem trouxe formas mais quadradas e esguias que facilitam o

encaixe nas mãos. O lançamento tem o objetivo de ampliar a rede de atendimento da

Bonafont com foco nas redes varejistas, em especial bares e restaurantes. O grande

desafio do novo design era tornar a garrafa mais atraente para tal finalidade, além de

oferecer ao consumidor uma opção mais leve de água mineral e prática para consumir

no dia a dia.

Conforme Lipovestsky, Serroy:

(...) A estetização do mundo econômico corresponde a uma estetização do ideal de vida, uma atitude estética em relação à vida.

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Figura 5- Bonafont Vip traz mais sofisticação para a marca.

Fonte: http://www.embalagemmarca.com.br/2014/08/bonafont-desenvolve-garrafa-exclusiva-para-linha-premium/, acesso dia 12 de novembro de 2015.

Considerações finais

Diante de um mercado consumidor cada vez mais exigente, a busca pela

“embalagem ideal”, que atenda as necessidades do produto como conter, proteger e

transportar, além de conservar, expor e vender passou a ser um desafio para

profissionais de diferentes áreas. Afinal, a estetização do design de embalagens não se

restringe a atividades de senso estético, mas a uma função que implica na gestão de

informações, que começa e termina no marketing e que se expressa por meio da

comunicação visual.

O design das embalagens remetem os objetivos da marca e o posicionamento e

desta forma alinham-se aos valores e expressam a essência e os diferenciais do produto.

A estetização no design é um canal de experiência emocional e de extrema importância

para comunicar os atributos e elementos funcionais e informacionais. Os valores

estéticos das embalagens de água mineral tornam-se cada vez mais relevantes,

principalmente em mercados onde exigem aspectos sintáticos além das necessidades

básicas de consumo. As diferenciações do produto pela sua estética e design são uma

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estratégia importante no marketing e posicionamento das marcas em criar um

diferencial e destaque no mercado.

Cria-se a partir daí, novos conceitos estéticos onde a visualidade das embalagens

estabelece uma linguagem, e a interlocução com o design busca novas significações, e

esta simbiose estética nas embalagens cria uma nova relação emocional entre o

consumidor e a marca.

REFERÊNCIAS AAKER, David A. Criando e Administrando Marcas de Sucesso. São Paulo: Futura, 1996.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2007.

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