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1 Conferência Económica BIM “Moçambique – Ambiente de Investimento” A Evolução da Economia Nacional Carlos Nuno Castel-Branco Professor Auxiliar da Faculdade de Economia da UEM) 14-09-2005

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1

Conferência Económica BIM“Moçambique – Ambiente de Investimento”

A Evolução da Economia Nacional

Carlos Nuno Castel-BrancoProfessor Auxiliar da Faculdade de Economia da UEM)

14-09-2005

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Estrutura da Apresentação

• Introdução

• Crescimento e dependência

• Investimento e dependência

• Crescimento e instabilidade – balanços externos

• Conclusões

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Introdução• Análise da evolução da economia será feita olhando

para alguns dados agregados seleccionados.

• Foco será crescimento económico:– Tempo limitado para discutir tudo

– Outras intervenções irão complementar análise

– Preocupação principal é olhar para dinâmicas de mudança, e este tipo de análise é mais bem feita se for focada em crescimento e agregados associados (investimento e comércio).

• Dados oficiais – não são os melhores, mas são oficiais. Mais análise e menos controvérsia sobre a origem dos dados. Fontes dos dados: “Quadro Fiscal de Médio Prazo” e “Balança de Pagamentos”.

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Crescimento e Dependência (1)

• Os gráficos que se seguem mostram o seguinte:– Nos últimos 15 anos, o PIB cresceu a uma

média de 7% ao ano…– …mas as taxas de crescimento são muito

irregulares, o que pode ser evidência de vários problemas estruturais da economia –vulnerabilidade a pequenos choques, dependência de fluxos externos, desarticulação de dinâmicas de crescimento, concentração do investimento e dinâmicas de crescimento em torno de um número muito reduzido de projectos de grande dimensão, factores aleatórios a influenciarem o crescimento, etc…

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Evolução do PIB (US$ Milhões)

0

500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

3,500

4,000

4,500

5,000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

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Taxa de crescimento do PIB (em %)

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

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Crescimento e dependência (2)

• Como seria de esperar, o crescimento da economia é muito associado com o que acontece com o fluxo de recursos. Assim:– O crescimento do PIB é muito sensível ao fluxo de ajuda

externa…

– …e os fluxos de investimento directo estrangeiro (IDE) são particularmente importantes para moldar o padrão de crescimento do PIB

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PIB e fluxos de recursos (1) (Escala Logarítmica)

1

10

100

1,000

10,000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

PIB

Investimento Total

Fluxos Totais de Capitais Externos

9

PIB e investimento na economia (escala logarítmica)

PIB e Investimento na Economia(Escala Logarítmica)

1

10

100

1,000

10,000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

PIB Investimento Total Investimento Público Investimento Privado

10

PIB, ajuda externa e investimento directo estrangeiro (escala logarítmica)

1

10

100

1,000

10,000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

PIB

Ajuda Externa

Investimento Directo Estrangeiro

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Variação do PIB em função da ajuda externa (ln)

7.4

7.6

7.8

8.0

8.2

8.4

8.6

5.4 5.6 5.8 6.0 6.2 6.4 6.6

Ln Ajuda Externa

Ln P

IB

Coeficiente = 0,75

R-Squared Ajustado = 0,60 t-Stat = 4,60

12

Variação do PIB em função do IDE (ln)

7.2

7.4

7.6

7.8

8.0

8.2

8.4

8.6

2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0

Ln IDE

Ln P

IB

Coeficiente = 0,25R-squared ajustado = 0,81 t-Stat = 7,90

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Variação do PIB em função dos fluxos externos de capital – ajuda+IDE – (ln)

7.4

7.6

7.8

8.0

8.2

8.4

8.6

5.5 5.7 5.9 6.1 6.3 6.5 6.7 6.9

Ln FEC

Ln P

IB

Coeficiente - 0,60R-squared Ajustado = 0,73 t-Stat = 6,28

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Investimento e Dependência (1)

• Olhando em mais detalhe para os padrões de investimento, quatro pontos saltam à vista:– O investimento tem crescido, nos últimos 8 anos

sobretudo impulsionado pelo crescimento do investimento privado;

– o investimento público continua a jogar um papel muito importante;

– o padrão de investimento (tanto público como privado) é altamente dependente de fluxos de capitais externos, e…

– …por consequência, o sistema financeiro nacional ainda tem um papel muito pequeno na mobilização e alocação de recursos de investimento.

• Será que este padrão poderá ser alterado com a penetração do capital financeiro sul-africano no sistema financeiro nacional?

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Investimento total (público e privado) realizado (US$ Milhões)

0

200

400

600

800

1,000

1,200

1,400

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Investimento Privado Investimento PúblicoInvestimento Total

16

Investimento privado realizado (US$ Milhões)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Investimento Directo Nacional Investimento Directo EstrangeiroEmpréstimos Investimento Privado

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Investimento total realizado e fluxos de capitais externos privados (US$ Milhões)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fluxo de capitais privados externos Investimento Privado

18

Investimento público e ajuda externa (US$ Milhões)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Ajuda Externa Investimento Público

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Investimento total e fluxo total de capitais externos (US$ Milhões)

0

200

400

600

800

1,000

1,200

1,400

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Fluxo Total de Capitais Externos Investimento Total

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Investimento e Dependência (2)

• Há, ainda, um aspecto interessante a notar no que respeita ao investimento público:– Dada a inelasticidade da despesa pública corrente,

fundamentalmente derivada do peso dos salários…

– …e o impacto dinâmico do investimento em nova despesa corrente em cada novo ciclo de actividade económica,…

– …quando o montante de ajuda externa diminui os cortes de despesa fazem sentir-se sobre o investimento público.

• Quer dizer, o investimento público é dependente de a ajuda externa ultrapassar um certo threshold, abaixo do qual o investimento como proporção da ajuda cai em flecha.

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Ajuda externa e despesa pública (em % do PIB)

8%

10%

12%

14%

16%

18%

20%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Ajuda % do PIB Despesa Corrente % do PIBDespesa de Investimento % do PIB

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Investimento e Dependência (3)

• Um padrão de investimento tão dependente como o nosso chama a atenção para a necessidade de estratégias e políticas industriais muito específicas e selectivas para lidar com a questão do investimento, pois o risco é que o presente e o futuro da economia nacional sejam completamente ditados do exterior;

• Outro aspecto que tem que ser tratado em profundidade é como interessar o capital nacional a investir massivamente no desenvolvimento da capacidade produtiva nacional;

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Investimento e Dependência (4)

• Finalmente, é preciso que as políticas e estratégias industriais e de investimento também ajudem a estabelecer ligações mais fortes entre capitais nacionais e estrangeiros, tanto no que se refere à mobilização de finanças, como no que diz respeito às ligações de cadeias de produção, tecnologias e mercados.

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Crescimento e Instabilidade – balanços externos (1)

• Os dados que se seguem mostram quatro tendências fundamentais e inter-relacionadas do actual padrão de crescimento da economia nacional:– À medida em que o investimento (e a economia como um

todo) expande o défice da conta corrente, mega projectos excluídos, agrava-se…

– … porque a base de exportação não se diversifica e altera profundamente com a actividade produtiva (excluindo os mega projectos) e…

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Crescimento e Instabilidade – balanços externos (2)

– … a fraqueza das ligações internas da economia torna a expansão económica muito dependente de importações, pelo que…

– … a capacidade de importação da economia não tem aumentado de forma sustentável.

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Investimento e saldo da conta corrente (US$ Milhões)

-1,000

-750

-500

-250

0

250

500

750

1,000

1,250

1,500

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Investimento Total Saldo da conta correnteInvestimento público Investimento privado

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Conta corrente (depois de donativos) e exportações, com e sem mega projectos (US$ Milhões)

-1,500-1,250-1,000

-750-500-250

0250500750

1,0001,2501,5001,750

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Exportações incluindo mega projectosExportações excluindo mega projectosConta corrente incluindo mega projectosConta corrente excluindo mega projectos

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Cobertura das importações pelas exportações (com e sem mega projectos) – rácio X/M

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Incluindo mega projectos

Excluindo mega projectos

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Crescimento e Instabilidade – balanços externos (2)

• À priori, estes dados parecem indicar que a economia deve apostar massivamente em mega projectos. No entanto, sem deixar de reconhecer o mérito dos mega projectos, é importante salientar que:– Sem muito significativamente aumentar as ligações fiscais,

de emprego e com fornecedores dentro da economia, muito pouco do que os mega projectos produzem pode ser efectivamente retido pela economia – portanto, o seu contributo para a balança comercial fica uma ilusão;

– Sem massivamente apostar na diversificação da base produtiva, tecnológica e de mercados, não haverá condições para que os mega projectos aprofundem as suas ligações com a economia pois não haverá muito com que ligar.

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Crescimento e Instabilidade – balanços externos (3)

– Uma aposta ainda maior em mega projectos poderá reduzir, ou impedir o desenvolvimento, da competitividade de outras actividades económicas devido a efeitos macroeconómicos nocivos (apreciação da moeda, etc.);

– Uma maior concentração em mega projectos (ou em qualquer outra actividade) aumenta a vulnerabilidade da economia a choques e o risco de volatilidade macroeconómica; e

– Não é tão óbvio que a economia possa sustentar um número de mega projectos muito maior do que aquele que já tem, dados os constrangimentos institucionais, de qualificações e macroeconómicos enfrentados.

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Conclusões (1)• A nossa preocupação não deve ser apenas com

quanto é que a economia cresce, mas sobretudo com como é que a economia cresce e o que é que faz a economia crescer. O padrão de crescimento é tão ou mais importante do que a taxa de crescimento, principalmente porque esse padrão determina a sustentabilidade, direcção e impacto socio-económico do crescimento a médio e longo prazos.

• A dependência externa tem que começar a ser enfrentada mais agressivamente. Não será eliminada a curto prazo, mas… o futuro começou a ser construído ontem.

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Conclusões (2)• Para enfrentar a dependência externa, temos que

aproveitar todas as dinâmicas positivas ou que possam ser positivamente aproveitadas. Por exemplo:– Sinergias com mega projectos e exploração das

capacidades assim geradas num contexto mais amplo do desenvolvimento nacional;

– Melhor exploração e enquadramento de dinâmicas regionais e internacionais – por exemplo, oportunidades tecnológicas, financeiras, cadeias de produto e valor, etc.

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Conclusões (3)

– O investimento e a despesa pública mais geral têm que estar mais directa e efectivamente relacionadas com o desenvolvimento da capacidade produtiva directa – a ajuda externa, que financia cerca de 50% do OGE, deve apoiar a acabar com a dependência em relação à ajuda, ajudando a criar mais e melhores capacidades institucionais e produtivas, serviços de apoio à produção e comércio que sejam acessíveis, baratos e de qualidade.

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Conclusões (4)

• As nossas estratégias e políticas económicas têm que ser orientadas para a diversificação da base produtiva, mas em torno de metodologias que maximizem o aproveitamento e desenvolvimento das capacidades e recursos nacionais e aumentem as probabilidades de sucesso – programas multi-sectoriais, cadeias de produto e valor e clusters, pesquisa e inovação tecnológica.

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Conclusões (5)• É preciso tratar, mais frontalmente, da questão da

mobilização de recursos nacionais para o financiamento do desenvolvimento da base produtiva nacional – política monetária não e só para estabilizar, é também para desenvolver. Não queremos estabilizar em torno da pobreza e da dependência;

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Conclusões (6)

• As nossas empresas e indústrias têm que aprender o sentido estratégico da inovação e da parceria. Temos que competir menos uns contra os outros e, em vez disso, cooperar estrategicamente mais uns com os outros, para competirmos com, e vencermos, o inimigo comum de todos nós – o nosso atraso, ignorância e falta de competitividade.

• Temos que confiar mais em nós próprios e nas nossas capacidades e, sobretudo, temos que desenvolver mecanismos para acelerar a aprendizagem e aplicação das lições tanto sobre o que fazemos bem, como sobre o que fazemos mal.