A fabula dos feijoes cinzentos

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A fábula dos feijões cinzentos Em tempos que já lá vão existia um reino chamado “Jardim - à - Beira - Mar - Plantado”, que era Portugal. Neste reino todos se conheciam pelos seus nomes e viviam em paz e sossego uns com os outros.

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José Vaz

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A fábula dos feijões cinzentos

Em tempos que já lá vão existia um reino chamado

“Jardim-à-Beira-Mar-Plantado”, que era Portugal.

Neste reino todos se conheciam pelos seus nomes e

viviam em paz e sossego uns com os outros.

Tudo aconteceu porque

o feijão Carrapato tomou

conta do Sol, que para

ele simbolizava a

liberdade de criar. O

feijão Fidalgo desviou a

Água, que deveria ser

distribuída por todos. O

feijão Frade tomou

conta do Ar, que deveria

dar o direito de pensar.

Certo dia, ao lavarem

a cara nas gotas de

orvalho, os feijões

deram um grito de

aflição, ao verem-se

estragados e doentes.

Tristes e coitados,

viveram assim durante

48 anos.

O tempo ia passando, sem que nada mudasse a cor

do reino, até que o feijão Vermelho, que era o mais

refilão, começou a falar baixinho aos ouvidos dos

outros, dizendo que o Sol, a Água e o Ar eram de

todos eles.

O feijão Canário semeou no vento canções

proibidas no reino que falavam de liberdade,

igualdade, fraternidade, justiça e democracia.

O feijão Catarino escrevia nas folhas de couves que

eram os jornais do reino.

Os feijões Fidalgo e Carrapato sentiam-se

ameaçados e pediram apoio ao feijão Frade. E

quando estes três mandões berravam, alguns feijões

ficavam com medo.

Os mandachuvas do reino tinham ao seu serviço os

feijões Rajados e Verdes que eram os seus olhos e

ouvidos a quem prometeram um raio de sol e uma

gota de água de vez em quando.

As vozes dos que discordavam

começaram a engrossar e os

mandachuvas cada vez ficavam

mais fraquinhos e desesperados.

O feijão Carrapato inventou um lápis com dentes

afiados e azuis que se divertia a abocanhar as

palavras proibidas que se encontravam nos livros,

nas músicas, nos jornais e levou-as amarradas de

pés e mãos para a prisão.

O feijão Carrapato não gostou

dessa reação e mandou muitos

feijões brancos e rajados para

combater os primos dos feijões

pretos nas terras de além do

mar. Muitos morreram nessa

guerra em África.

No reino, alguns feijões calaram-se com medo, mas

na terra do avô do feijão Preto, os seus primos

levantaram a voz contra os que mandavam no reino

porque estes também queriam mandar na sua terra

.

Alguns desses feijões rajados decidiram deixar de trabalhar para

os ladrões do Sol, da água e do ar e reuniram-se nas noites sem

lua. Como as raízes dos feijões Carrapato, Frade e Fidalgo

estavam cada vez mais podres, deram-lhes um empurrão que os

fez cair por terra e nunca mais se levantaram. A partir desse

momento ninguém mais roubou o Sol e o Ar aos outros e a Água

começou a ser repartida por todos.

Daí nasceu a revolução dos Cravos.