A FÁBULA

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A FÁBULA "O VELHO, O MENINO E O BURRO" Merlânio Maia Conta tradição antiga Que um velho camponês Precisando de dinheiro Em certa altura do mês E manda o filho caçula Buscar o burro ou a mula Para vender dessa vez O menino vem ligeiro Trazendo o belo burrinho Seguiram os três pra cidade Logo de manhã cedinho Ninguém montou no animal Pra ele não dar sinal De cansaço do caminho Porém numa feia curva Daquela feia estrada Viram feio viajante Que falou: - “Que “besteirada”! O animal vai vazio E o pobre velho senil Vai a pé na caminhada” - “Vejam, só, que grande asneira É promessa ou penitência?” E o velho lhe deu razão Dado a sua obediência E foi no burro montando E o menino foi puxando Na mais pura inocência E foi dizendo o velhote - “Só assim ninguém reclama E tapo a boca do mundo!” Sem saber que o mundo trama Logo à frente as lavadeiras Lavando nas corredeiras Gritaram: - “Mas que burrama!” - “Um marmanjão com saúde Muito contente montado E um pobre menininho Puxando o burro! Ah, malvado!... Este mundo está perdido Desça daí seu bandido Que o menino está cansado!” Depois dessa, o pobre velho Indignado acenou E na garupa do burro O seu menino montou E disse ali sem demora: - “Quero ver quem fala agora!?” E o seu caminho tomou Mas não deu nem dez minutos Desponta ali na frente Montado na bicicleta Um roceiro e diz: - “Oxente! O pobre desse animal Não vai chegar ao final Com esse peso em dia quente!” Disse isso e foi-se embora

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A FÁBULA "O VELHO, O MENINO E O BURRO" Merlânio Maia

Conta tradição antigaQue um velho camponêsPrecisando de dinheiroEm certa altura do mêsE manda o filho caçulaBuscar o burro ou a mulaPara vender dessa vez

O menino vem ligeiroTrazendo o belo burrinhoSeguiram os três pra cidadeLogo de manhã cedinhoNinguém montou no animalPra ele não dar sinalDe cansaço do caminho

Porém numa feia curvaDaquela feia estrada Viram feio viajanteQue falou: - “Que “besteirada”!O animal vai vazioE o pobre velho senilVai a pé na caminhada”

- “Vejam, só, que grande asneiraÉ promessa ou penitência?”E o velho lhe deu razãoDado a sua obediênciaE foi no burro montandoE o menino foi puxandoNa mais pura inocência

E foi dizendo o velhote- “Só assim ninguém reclamaE tapo a boca do mundo!”

Sem saber que o mundo tramaLogo à frente as lavadeirasLavando nas corredeirasGritaram: - “Mas que burrama!”

- “Um marmanjão com saúdeMuito contente montadoE um pobre menininhoPuxando o burro! Ah, malvado!...Este mundo está perdidoDesça daí seu bandidoQue o menino está cansado!”

Depois dessa, o pobre velhoIndignado acenouE na garupa do burroO seu menino montouE disse ali sem demora:- “Quero ver quem fala agora!?”E o seu caminho tomou

Mas não deu nem dez minutosDesponta ali na frenteMontado na bicicletaUm roceiro e diz: - “Oxente!O pobre desse animalNão vai chegar ao finalCom esse peso em dia quente!”

Disse isso e foi-se emboraE o velho concordandoDesce, deixando o meninoE sai na frente puxandoMas encontra outro sujeito

Que ao menino curva o peito:- “Majestade!” O vai saudando.

Logo pergunta o menino:- “Por que falas: majestade?”- “Porque somente os príncipesTem servo na tua idadePuxando as montariasNão fosses rei não teriasLacaio à tua vontade!”

- “Lacaio, eu?” – Diz o velho- “Mas que grande desaforo!”Desça ligeiro meninoPra não ouvir este coroVamos com o burro nas costasPra ver se o mundo assim gostaE não faça mais agouro

E os dois com o burro nas costasQual estranho ritualEncontram alguns rapazesQue fazem tal carnavalGritando: - “Vejam três burrosSó falta soltarem zurrosQuem é o mais burro afinal?”

E o velho grita: - “Sou eu!Burro de orelha tambémQuerendo escutar o mundoSendo aconselhado alémQuem segue o mundo malucoVai morrer doido e caducoSem nunca agradar ninguém!”

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CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO RELATO DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS(SET/2009)

Kátia Lomba Bräkling1

RELATO DE EXPERIÊNCIA VIVIDA: CARACTERÍSTICAS GERAIS

CLASSIFICAÇÃO DOLZ E SCHNEUWLY2

DOMÍNIO SOCIAL DA COMUNICAÇÃO Memorização e documentação de ações humanas.

CAPACIDADES DE LINGUAGEM DOMINANTES

Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo.

ASPECTOS TIPOLÓGICOS PREDOMINANTES

Relatar.

A SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

PRODUTOR DO TEXTO

Uma pessoa – ou um grupo - que relata fatos vivenciados por ela (individualmente ou não), a fim de compartilhar experiências ou para organizar registros que organizem a memória de aspectos da vida relacionados com situações específicas, tempos e temas determinados.

INTERLOCUTOR

Leitores que se interessarem pelo compartilhamento das experiências em questão.

PORTADORES POSSÍVEIS

Livros, revistas, blogues, diários, memoriais, dossiês.

FINALIDADEConstruir uma memória escrita de situações vivenciadas, compartilhando experiências vividas.

CONTEÚDO TEMÁTICO

Situações vivenciadas por uma pessoa (individualmente ou não), relacionadas com períodos específicos da sua vida (infância, adolescência, férias na escola, segundo ano de escolaridade...), espaços determinados (acontecimentos ocorridos no sítio, tempo de residência no interior, tempo vivido na cidade grande, tempo de vida num apartamento), temas pontuais (travessuras, situações engraçadas, situações tristes, momentos de medo, demonstrações de amizade, situações de bullling, p. e.).

1 Kátia Lomba Bräkling Pedagoga e Mestre em Lingüística Aplicada pela PUC de SP; Professora da Pós-Graduação ISE Vera Cruz (São Paulo – SP); Coordenadora de Língua Portuguesa do Colégio Hebraico-Renascença (São Paulo); Assessora da Secretaria Estadual de Educação – e outras instituições - na Área de Ensino da Linguagem.

2 A partir da classificação de Dolz, Joaquim & Schneuwly, Bernard; Gêneros e Progressão em Expressão Oral e escrita; Universidade de Genebra, Suíça; mimeo.

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Pedro Bandeira

Escritor brasileiro de livros infanto-juvenis

Biografia de Pedro Bandeira:Pedro Bandeira (1942) é escritor brasileiro de livros infanto-juvenis. Destacou-se

com a obra "A Droga da Obediência". Recebeu, entre outros, o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro em 1986, e a Medalha de Honra ao Mérito Bráz Cubas, da cidade de Santos, em maio de 1012.

Pedro Bandeira (1942) nasceu em Santos, São Paulo, em 9 de março de 1942. Estudou o curso primário no Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo. O ginásio e o curso científico no Instituto de Educação Canadá. Dedicou-se ao teatro amador, até mudar para a capital, onde estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Casou-se com Lia, com quem teve três filhos: Rodrigo, Marcelo e Maurício.

Além de professor de Literatura Brasileira e Portuguesa, para o ensino médio, trabalhou em teatro profissional até 1967 como ator, diretor, cenógrafo e com teatro de bonecos. Mas, desde 1962, já trabalhava também na área de jornalismo e publicidade, começando na revista "Última Hora" e depois na "Editora Abril", onde escreveu para diversas revistas e foi convidado a participar de uma coleção de livros infantis.

Em 1972 começou a escrever histórias para crianças, publicadas em revistas e vendidas em bancas de jornal. Em 1983 publica seu primeiro livro "O Dinossauro Que Fazia Au-Au", voltado para as crianças, que fez um grande sucesso. Mas foi com "A Droga da Obediência", voltado para adolescentes, que ele considera seu público alvo, que se consagrou.

Desde 1983, Pedro Bandeira dedicou-se inteiramente à literatura. Ele garante que a experiência em jornais e revistas o ajudaram como escritor, uma vez que o jornalista é obrigado a estar preparado para escrever sobre quase tudo. Ele escrevia para revista de adolescente e para publicações técnicas. Foi aprendendo a criar um estilo para cada público.

Estudou psicologia e educação para entender em que faixa etária a criança acha o pai herói, com qual idade acha ele um idiota e quando está pronta para questionar tudo e todos. "Sem esse conhecimento é impossível criar um personagem com o qual o leitor que você pretende atingir se identifique". A inspiração para cada história, segundo o autor, vinha de livros que leu e nos acontecimentos de sua própria vida.

Criatividade nunca faltou ao santista, mas quando isso acontece, Pedro abre o e-mail de seu computador e começa a ler mensagens e cartas que recebe semanalmente de seus leitores de todo Brasil. "As vezes tiro idéias das cartas porque o conteúdo das mensagens são os mais diversos. Tem quem pede conselho sentimental, outros dizem que não se dão bem com os pais e já recebi até carta de presidiário. Tento responder a todas".

Pedro Bandeira é o autor de Literatura Juvenil mais vendido no Brasil e, como especialista em técnicas especiais de leitura, profere conferências para professores em todo o Brasil.