A Filosofia e o Cinema, Para Uma Nova Imagem Do Pensamento (Claudio Ulpiano)

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7/30/2019 A Filosofia e o Cinema, Para Uma Nova Imagem Do Pensamento (Claudio Ulpiano) http://slidepdf.com/reader/full/a-filosofia-e-o-cinema-para-uma-nova-imagem-do-pensamento-claudio-ulpiano 1/22 A filosofia e o cinema, para uma nova imagem do pensamento Claudio Ulpiano Aula de 18/07/1995 http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=114 (…) [Este curso de Filosofia e Cinema] traz uma suposta presunção… uma ilusão,  – no sentido de que parece que a filosofia pode fazer uma reflexão sobre o cinema, que o cineasta não poderia fazer. Isso é absolutamente… incoerente. Não é isso que está se??? acontecendo??? É… Para se compreender o porquê dessa associação filosofia e cinema, eu vou começar o curso falando sobre como eu penso a filosofia…  – ou melhor  – como Deleuze pensa a filosofia. A filosofia seria um modo de pensar. Logo, se eu digo que a filosofia é um modo de pensar, eu estou supondo a existência de outros modos de pensar, que não os filosóficos. Mas isto aqui já entra numa certa crise, que eu retorno para explicar. O que eu chamo de filosofia é a potência do pensamento de criar e inventar conceitos. Vou repetir: a filosofia seria alguma coisa inteiramente associada ao que eu estou chamando de  pensamento e, nessa associação  – pensamento e filosofia  – o que ocorreria seria a invenção e a criação do que eu estou chamando de conceito. (Vamos melhorar isso daqui:) O que é que eu estou chamando de conceito? Ou melhor  –  quem eu estou chamando de filósof o? Porque quando vocês abrirem ou… se vocês abrirem um livro acadêmico de história da filosofia, vocês vão encontrar uma carreira de determinados homens que, ao longo da história, são chamados de filósofos. Mas, no momento em que eu digo que a filosofia é uma prática do pensamento que inventa e cria conceitos,  – [e] não [afirmo] que a filosofia inventa e cria conceitos nesta ou naquela área  – simplesmente que a filosofia inventa e cria conceitos… na hora em que eu me referir a um determinado pensador de cinema  – pode ser, indiferentemente, Godard, Bazin, pouco importa!  – o que esses pensadores de cinema fazem, continuamente, é inventar conceitos  – eles estão continuamente inventando conceitos! Se vocês estudarem, por exemplo, a obra do Orson Welles, vocês vão encontrá-lo utilizando o conceito de  profundidade de campo.  Logo, o que eu estou chamando de ―invenção de conceitos‖ não pressupõe que [o conceito em questão] tenha sido [inventado] por um filósofo clássico. Qualquer tipo de pensador de cinema, mesmo [um] autor de filmes [como] o Orson Welles, o Goddard, o Tarkovsky, por exemplo  – pouco importa qual seja  – seriam inventores de conceitos. Então, a invenção de conceitos seria a produção de alguma coisa  – que é o conceito  – com o qual nós vamos investir nas imagens que determinados autores inventaram. Eu estou dizendo, então, que se de um lado a filosofia se pretende inventora de conceitos, de outro lado o cinema se pretende inventor de imagens. E… é feita então essa associação. Mas o titulo deste curso  – Filosofia e Cinema  – parece que

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A filosofia e o cinema, para uma nova imagem do pensamentoClaudio Ulpiano

Aula de 18/07/1995http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=114 

(…) [Este curso de Filosofia e Cinema] traz uma suposta presunção… e uma ilusão,  – no sentido de que parece que a filosofia pode fazer umareflexão sobre o cinema, que o cineasta não poderia fazer. Isso éabsolutamente… incoerente. Não é isso que está se??? acontecendo???É… Para se compreender o porquê dessa associação filosofia e cinema, euvou começar o curso falando sobre como eu penso a filosofia…  – oumelhor  – como Deleuze pensa a filosofia.A filosofia seria um modo de pensar. Logo, se eu digo que a filosofia éum modo de pensar, eu estou supondo a existência de outros modos depensar, que não os filosóficos. Mas isto aqui já entra numa certa crise,que eu retorno para explicar.O que eu chamo de filosofia é a potência do pensamento de criar einventar conceitos. Vou repetir: a filosofia seria alguma coisainteiramente associada ao que eu estou chamando de pensamento e,nessa associação  – pensamento e filosofia  – o que ocorreria seria ainvenção e a criação do que eu estou chamando de conceito. (Vamos melhorar isso daqui:)O que é que eu estou chamando de conceito? Ou melhor  –  quem euestou chamando de filósof o? Porque quando vocês abrirem ou… sevocês abrirem um livro acadêmico de história da filosofia, vocês vão

encontrar uma carreira de determinados homens que, ao longo dahistória, são chamados de filósofos.Mas, no momento em que eu digo que a filosofia é uma prática dopensamento que inventa e cria conceitos, –  [e] não [afirmo] que afilosofia inventa e cria conceitos nesta ou naquela área  – simplesmenteque a filosofia inventa e cria conceitos… na hora em que eu me referir aum determinado pensador de cinema  – pode ser, indiferentemente,Godard, Bazin, pouco importa!  – o que esses pensadores de cinemafazem, continuamente, é inventar conceitos  – eles estão continuamenteinventando conceitos! Se vocês estudarem, por exemplo, a obra doOrson Welles, vocês vão encontrá-lo utilizando o conceito de profundidade de campo. Logo, o que eu estou chamando de ―invenção de conceitos‖ nãopressupõe que [o conceito em questão] tenha sido [inventado] por umfilósofo clássico. Qualquer tipo de pensador de cinema, mesmo [um]autor de filmes [como] o Orson Welles, o Goddard, o Tarkovsky, porexemplo  – pouco importa qual seja  – seriam inventores de conceitos.Então, a invenção de conceitos seria a produção de alguma coisa  – queé o conceito  – com o qual nós vamos investir nas imagens quedeterminados autores inventaram. Eu estou dizendo, então, que se deum lado a filosofia se pretende inventora de conceitos, de outro lado o

cinema se pretende inventor de imagens. E… é feita então essaassociação. Mas o titulo deste curso  – Filosofia e Cinema  – parece que

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privilegia a filosofia. De modo nenhum! Seria cômico, seria ridículo, umcineasta esperar [a chegada] do filósofo para poder fazer o seu filme.Não tem nada a ver. [Há], inclusive, um enunciado do Deleuze em queele diz  –  ―imagine se um matemático, para constituir as suas questões,telefonasse para o filósofo: vou começar a pensar nos meus problemas,

por favor, venha para minha casa‖. De modo nenhum!Essa associação que a filosofia faz com o cinema pressupõe…  – agora jáestou dando aula, (tá?) -…pressupõe uma nova imagem do pensamento.Então, o que eu estou constituindo com vocês é exatamente o que euvou passar a chamar de uma nova imagem do pensamento. Ao dizer  –  uma nova imagem do pensamento  – eu estou, nesse momento, mereferindo ao fato de que existem determinadas imagens do pensamentoque serão recusadas pelo meu trabalho. Eu não vou apontar para elas… porque isso aqui não é… Não importa neste instante! O que importa éque filosofia, dentro deste curso, quer dizer inventar e criar conceitos.(Tá?)E a invenção…  – o conceito de invenção…- pode imediatamente serassociado à arte  – no sentido de que a arte é uma prática inventiva.(Certo?) Eu aqui não estou fazendo nenhuma avaliação da qualidade dainvenção; dizendo, apenas, que o conceito de invenção se associa àprática artística, pouco importa qual…  – plástica, musical  – no sentidode que o artista é aquele que tem como função na vida ou como questão do seu modo de existência a produção e a invenção de determinadasobras. E, de outro lado, esse conceito de… essa noção de que a filosofiaé invenção e criação - [o que] eu já associei com a arte  – e, agora,associo com a matemática  – no sentido de que a invenção e a criação de

conceitos tem que ter a qualidade inventiva do artista e o rigor domatemático. (Certo?) Então, não é simplesmente… Claro que, depois, vocês poderão me perguntar  – quais são osinstrumentos que eu tenho para avaliar a qualidade da invenção e a força do rigor? Isso vai aparecer, mas, neste instante, o que eu possoafirmar é que o que estou chamando de filosofia é  –  rigorosamente - ainvenção e a criação de conceitos. (Tá?) Conceitos estes que vão,imediatamente…imediatamente.. . se associar com a prática do cinema.Então, neste momento, a filosofia e o cinema não fazem uma relaçãohierárquica, [em que] a filosofia seria uma prática de reflex[ão] sobre ocinema. Não! A filosofia e o cinema fazem uma… conjugação; fazemuma… conexão. São como duas sombras que se tocam, sem que umaseja mais do que a outra, mas que, uma e outra, ressoem dentro decada uma. (Certo?) Então, quando o filósofo faz [sua] marcha sobre ocinema, a vida [dele] está definitivamente atingida pelos movimentos,pelas linhas e pelas cores, pelas músicas –  que o cinema produziu.E, de outra forma, quando o cineasta se envolve com a filosofia, jamais poderá deixar de conviver com a produção de conceitos. Então, é comose eu estivesse dizendo pra vocês que nós iniciamos essa aulaconstituindo uma epidemia  – aepidemia da conjugação filosofia ecinema. 

Bom… [n]estas três primeiras aulas, conforme está marcado aqui  – até[a aula] número três  – que seriam, então, terça,quarta e quinta. .. vai

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haver [de minha parte] uma flexibilidade. Essas três primeiras aulas vãoser fluídicas, no sentido de que se eu me mantiver dentro daconstituição desses planos de uma maneira excessivamente rigorosa, euprejudicarei a nossa composição. (Certo?) Então, eu vou começar aqui,nessa primeira [aula], de número 1  – que é Física e Semiótica,

Movimento, Tempo Possível  – mas poderei juntar a número 2 e anúmero 3. (Certo?) Porque, isso daí, seria… uma espécie de território que eu constituo para nós  – não um território só para mim  – umterritório móvel; ou melhor… eu vou fazer uma espécie dedesterritorialização dos modos acadêmicos de pensar. Eu vou comoque… jogar uma torrente… uma torrente  – seja de palavras… umatorrente de imagens…  – que faça uma quebra dos limites acadêmicossobre os quais nós fomos constituídos.Eu inicialmente vou chamar [essa prática]…  – depois, se fornecessário… ou se alguém solicitar… eu explico!  – eu vou chamar [essaprática], de uma prática de desterritorialização. Mas quando eu uso essenome  – desterritorialização (não eu, é claro)  – eu passei a entrar naprática da filosofia. Ou seja, acabou de ser inventado um conceito.(Entenderam?) O conceito começa a surgir  –  surgir.. .  – qual o conceitoque surgiu? Surgiu o conceito de desterritorialização. Por exemplo  – sevocês forem ver um filme, como o Providence, do Resnais,necessariamente… necessariamente, se vocês não fizerem uma práticade desterritorialização dentro do modo ordinário e comum deassistirmos um filme, vocês não vão entender aquele filme.

 Então, a desterritorialoização, o que eu estou chamando dedesterritorialização, é nós fazermos juntos uma prática de quebra doslimites acadêmicos que a nossa educação constitui na nossasubjetividade. (Certo?) É como se eu começasse a processar um cursode cinema e simultaneamente armasse uma guerrilha contra o modo desubjetivar do século XX. O modo de subjetivar que é a produção deextratos ou de… espécies de quistos, espécies de endurecimento da

maneira de pensar.

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[Portanto,] para pensar filosofia e cinema dentro dessa proposição  –  [de]que a filosofia seria invenção e criação de conceitos  – se não fizermos[uma] desterritorialização, nada poderá ser feito. E essadesterritorialização vai começar [pelo] esquema que eu arranjei aqui  –  mas que de repente pode mudar: não tem nenhuma importância!  – a

partir do que eu chamei de… o que é a filosofia, (não é?)  – eu expliquei oque é a filosofia. Já falando no cinema, eu vou começar, então, usando aquilo que necessariamente está no cinema  – o movimento. O movimento aqui émuito fácil de ser pensado, é dizer…  – o movimento das imagens. Agente compara a imagem do cinema e a imagem fotográfica…  – aimagem do cinema tem movimento. Então, o movimento…  – o conceito de movimento, o conceito de imagem e o conceito de luz: esses três conceitos; então, essas três idéias…  – aidéia de luz, a idéia de imagem e a idéia de movimento. E vou fazer… euvou começar a dar a aula e  – ao dar a aula  – eu estarei simultaneamente fazendo uma experimentação. Essa experimentação está associada  –  vouinventar um conceito, aliás, não sou eu que estou inventando: foiDeleuze que inventou  – está associada ao que vou chamar de nossos devenires –  anotem: Devenires! Nossos devenires. De-ve-nires! Vocêencontra essa palavra, devenir, [no Aurélio]. Esse nome [não era]dicionarizado  – só devir  – mas hoje [devenir] já está dicionarizado.Devenires… Nossos devenires…  –  ―Nossos devenires‖ quer dizer o quê?  –  são processos… processos altamente estranhos que nós iremos fazer.Processos altamente estranhos…  – e o conceito de estranho, que euestou usando aqui, é um conceito de literatura…  – quando em literatura

se opõe estranhamento a hábito. Você lê, por exemplo, um contoacadêmico e nada ali te surpreende; ai você lê um conto, vamos dizer,do Jorge Luis Borges ou um conto do Henry James,aí você fica todotomado por um estranhamento. Então, o conceito de devenir quer dizer um agenciamento, umacomposição (tinha que ter um microfone!) uma composição que nósvamos fazer, mas é uma composição inteiramente original. Se vocêsquiserem ter, em termos de imagem, alguma experimentação nessacomposição, [procurem], salvo equívoco, [o] canal 2… ou [o] canal 17  –  eu não compreendo bem quais os canais que passam filmes sobreetologia. Etologia é a ciência do comportamento animal…  – Abelhas, vespas,tigres, morcegos, flores…  – para vocês compreenderem e começarem aentender o que serão esses devenires que nós vamos fazer. Então, euvou chamar [de] devenires (nós vamos usar esse nome…)  – olha acriação do conceito, hem!…. Não é meu  – é do Deleuze: eu sou apenasporta-voz! Então, o nome desse conceito é ‖ núpcias contra-natura ―, ―núpcias contra-natura‖. Nós vamos fazer umas núpcias contra-natura.Quem fazia muitas núpcias contra-natura  – olha o perigo, hem!  – era oMarquês de Sade. (Risos…) Isso daí já anuncia essas núpcias contra-natura como alguma coisa terrivelmente perigosa. E… nós vamos

começar então a fazer o trabalho do que eu chamei (não é?)  – a entrada nos nossos devenires.

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Em primeiro lugar, uma idéia,  – a idéia de re - presentação. O que vocêstêm que fazer, em primeiro lugar, é [ter uma] preocupação com oprefixo… (hem?) -… o prefixo re. Representação, quer dizer - estar presente outra vez  – ou seja, reproduzir a sua presentidade. É algumacoisa que está presente e a sua presença é re produzida… reproduzida!

Por exemplo, é… a minha presença num espelho:A imagem que aparece no espelho é uma representação, no sentido deque ela desdobra a minha presença. (Certo?) Então, o que eu estouchamando de representação é  –  literalmente, rigorosamente,invariavelmente – o desdobramento de alguma coisa. Vejam, então, quea natureza é constituída de processos de representação a o s m o n t es!Os ecos. ..  – quando eu digo: os ecos são representações, logo eu estoudizendo, da mesma forma, que a representação não é apenas umprocesso de imagem visual; também pode ser sonora. Agora… nósconhecemos perfeitamente as representações em termos visuais, ou seja – uma imagem no espelho, uma imagem na água, a sombra de umanuvem na terra, ou… Narciso,olhando a sua imagem nas águas.(Certo?)Então, esse conceito de representação… [Bom,] eu vou partir… para começarmos a trabalhar, e assim nóscomeçamos a entrar na questão do cinema. Eu vou dizer que… se esseconceito cair com uma dificuldade extrema… ou vocês esperam umpouco… (Bom! Eu vou precisar do microfone. É impossível dar essa aula assim,é impossível!) O que que eu estava dizendo?… (Alguém fala…) 

Ah, sim. A representação… Eu vou partir da seguinte noção…- ela podeser até um pouco falha, mas é um ponto de partida absolutamente necessário: o vivo, o ser vivo…  – mas como as pessoas têm dificuldadeem trabalhar com essa noção de ser vivo, eu vou fazer um corte ou umparêntese e falar  –  o homem. Ou seja, somente o homem… (certo?) Nãoestou dizendo o ser vivo  –  [mas] o homem. O homem é um ser que tem a capacidade de representar as coisas queestão no mundo. O homem… é como se fosse um espelho sofisticado.Por exemplo [aponta um aluno]: eu olho para ele fecho os olhos e eutenho a imagem dele diante de mim. Então, essa imagem que eu tenho,quando fecho os olhos…  – porque nem é isso, isso é só para vocêscompreenderem!…  – quando eu olho para ele e fecho os olhos e emergeuma imagem em mim… essa imagem chama-se… re. ..  – presentação –  no sentido de que ele foi desdobrado, ele foi redobrado: ele está ali e estáaqui, em mim também. Nós podemos usar uma noção, que é a invençãode um conceito  – e esse conceito vai fortalecer-se na frente  – sempre quealguma coisa for representada por mim… por exemplo: eu olho paraC…. O ato de olhar para C. e apreendê-la… Apreendê-la - já é umprocesso de representação. Então, eu vou chamar a representação de fantasma sensível. Por que fantasma sensível? Porque é evidente, é claro, que aquilo que eu

apreendo… não é a própria coisa  – é uma imagem da coisa. E se é umaimagem da coisa… é um?…  – Al: fantasma!  – É um fantasma!

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Fantasma, como se usa classicamente. É como se as coisas tivessem opoder de emitir fantasmas…  – as coisas emitissem. .. -as coisas fossemcomo uma televisão, que estivesse constantemente emitindo imagens. Eeu, então, apreenderia essa imagem e essa imagem se chamaria r e p re s e n t a ç ã o.

(Está bem? Quando vocês não concordarem, não aceitarem ou nãoentenderem, é só levantar o dedo… que eu retomo).Al.:  — ??  — que você repetisse… Cl.: Ainda não. Espera lá, (tá?) Se eu repetir agora… não dou conta  –  agüenta um pouco!O primeiro investimento da filosofia  – esse investimento… [vai fazer comque vocês mergulh[em] agora em alguma coisa que vai quebrar oacademicismo de vocês, ou não, no seguinte sentido: pelo que acabei dedizer, eu nunca poderei entrar em contato…  – vou usar estes óculoscomo exemplo, -…eu nunca poderei entrar em contato com a imagemem si destes óculos. Eu nunca poderei entrar em contato com estesóculos presentes  – eu só poderei ter a representação destes óculos. -Vocês conseguiram dar conta disso?  – Ou seja: o sujeito humano… osujeito humano…  – agora eu vou precisar  – anotem:O sujeito humano é dotado de uma prática chamada percepção. E estaprática  – chamada percepção  – ainda de uma maneira muito simplória,lhe permite fazer processos representativos. Então, todo sujeitohumano, seja ele qual for, quando entra em contato com o mundo, fazum desdobramento  –  faz um processo de representação. Esse processode representação, que é feito pelo sujeito humano, é que gera…  –  atenção novamente! Se for difícil, dedo levantado, tá? -…é esse processo

de representação que gera um par teórico que tem, assim, um sucessoimenso na história do pensamento  – gera o par sujeito e objeto. O que é [esse par] sujeito e objeto? ―Sujeito e objeto‖ é a presença de umelemento, desse par, que representa; e um elemento, desse par, que érepresentado. (Tá?) Se vocês quiserem ver alguma coisa sobre isso eu osaconselho a verem um quadro do Velázquez chamado As Meninas ( Las niñas) , [onde] vocês [verão esse processo] com uma certa clareza.Então, o par que constitui a representação é… sujeito. .. e objeto.(Entenderam?) O par que constitui a representação! Então, quando vocêtem o processo da representação, esse processo de representação geradois elementos: orepresentante e o representado. (Tá?) Quer dizer: orepresentado é constituído pelo representante.[Ou seja:] eu estou dizendo que o objeto não é uma entidade que possaexistir independente do sujeito. Da mesma forma que o sujeito não é uma entidade que possa existir independente do objeto. Então… sujeitoe objeto chamam-se  – elementos correlatos. [Quer dizer:] quando osujeito entra em contato com o mundo… ao entrar em contato com omundo, ele representa esse mundo… e essa representação, que ele faz  –  é exatamente a constituição de objetos. (É agora que vai começar aclarear… vai começar a clarear.)Por exemplo, eu pego… (Deixa… eu vou tomar um café…) 

Eu pego este copo… e [coloco] diante dele…  – uma hipótese louca, hem?-…um homem, um cavalo, uma vaca, uma mosca e… uma cobra. [Eu

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coloco] o copo [diante] [d]essas quatro ou cinco espécies [de animais]diferentes, que eu citei, a fim de que eles passem a observar o mesmoobjeto. Cada um desses seres vai fazer uma representação diferentedeste copo, porque a representação – enunciado fundamental  – arepresentação é sempre um efeito da função e do órgão daquele que está

representando. Então, a representação é sempre um efeito das funçõese órgãos do representante. (Vocês estão conseguindo acompanhar?) Oque implica em dizer… que o mundo que eu vejo é uma projeção dosmeus órgãos e das minhas funções. (Vocês entenderam?) É umaprojeção dos meus órgãos e das minhas funções. E aqui é muito claropara se entender isso. Porque o vivo tem uma relação complexa e velozcom o mundo. E essa relação complexa e veloz com o mundo pressupõeuma percepção interessada e utilitária, para que o vivo possa dar umaresposta imediata. Por isso, ao perceber o mundo, ele percebe apenasaquilo que lhe interessa. Só.(Vocês entenderam?)O que eu acabei de dizer…  – que toda percepção é interessada  – temque ser gravado. Não pode mais sair. Vai ser trabalhado nas próximasaulas: toda percepção é necessariamente interessada.O que quer dizer  – toda percepção é necessariamente interessada? Querdizer que a percepção é uma conseqüência dos órgãos e das funções doórgão daquele que está percebendo.(Compreendido?)Então, o que implica em dizer aqui… é que quando aparece umpercipiente – percipiente é aquele que percebe  – na hora em que apareceum percipiente, o que ele faz ao perceber o mundo é apreender, do

mundo, aquilo que é do seu interesse. Se ele apreende do mundo aquiloque é do seu interesse, significa que a percepção – enunciado poderoso,hem?  – que a percepção é um ato de diminuição do mundo. Ela é umato de diminuição, no sentido de que a função da percepção não é apreender o mundo na sua inteireza  – mas apreender aquilo que é doseu interesse.Por causa disso, eu vou colocar a percepção como interessada ediminuidora. Ela diminui. Prestem atenção nisso daí porque essaquestão vai retornar muito forte no cinema do Pasolini… - (Viu?) Euestou dizendo aqui, então, que a percepção… -… e, até mais do que isso –  isso daqui é que vai centrar o modelo do Vertov, do cinema-olho. (Nãosei se hoje tem alguma coisa…do Vertov, tem?) Bom… é o quê?Percepção interessada… interessada… Certo?… Como é que falei?… Diminuidora. Vocês entenderam diminuir? Não? Diminuir parece que éum negócio confuso… 

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 O Homem com uma Câmera  – Dziga Vertov (1929) 

Eu queria explicar uma coisa para vocês  – um conceito de filosofia  –  logo, uma invenção, (não é?) A palavra necessário… e a palavracontingente. Contingente quer dizer: pode ser. Necessário quer dizer:

tem que ser.Então, a percepção é interessada e diminuidora  –  necessariamente! Nãoquer dizer que se amanhã [aponta um aluno] ele, por exemplo, resolverter uma percepção desinteressada, que ele vai conseguir. Não: é impossível! O ser da percepção, aessência da percepção é interessar-s e e diminuir, invariavelmente. Al.: ―Desculpe, eu não entendi o que quer dizer o conceito de necessárioe contigente‖. Cl.: Necessário, C., quer dizer… por exemplo… Vamos fazer umahipótese necessária, uma hipótese… não filosófica  – se um filósofoouvisse isso iria sentir uma terrível dor nos ouvidos!… Mas vamos dizerque… que eu possa dizer isso. Por exemplo, [se alguém] bota a mão nofogo, necessariamente, [se] queima. Então, qualquer um que botar amão no fogo, a mão… queimar. Isso chama-se necessário (tá?) Agora… se, por acaso… eu for numa cidade, numa cidade qualquer, é possível, –  quem sabe? -, quem sabe é possível… que alguma pessoa dessa cidadegoste de mim. Quer dizer, isso é uma prática inteiramente contingente.Ou melhor, é inteiramente contingente o fato de você estar com a mãoaqui [coloca a mão em algum lugar]. Você poderia estar com essa mão… você poderia estar assim… [vai criando gestos com a mão]… Então, ocontingente e o necessário… quer dizer, o contingente. .. pode ser assim;

e o necessário. .. tem que ser assim. Anánke (??????) em grego. Tem queser assim! (Tá?)Al.: Então, quando você diz que a percepção é interessada edestruidora…. é… Cl.: Necessariamente. Necessariamente.Então, na hora em que um ser vivo  – não é só o homem, isso não éantropológico, é ontológico  – na hora que um ser vivo entrar em contatocom o mundo, esse mundo, necessariamente é apreendido interessada e―diminuidamente‖, em função dos órgãos… do organismo e da funçãodo organismo. (Tá?) Então, na verdade, todo ser vivo recorta o mundosegundo os seus órgãos e segundo as suas funções.

Agora  – o que é isso exatamente? É [aí] que vem a beleza! … Agora agente começa a abandonar os projetos fisiológicos e entrar na beleza.

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O que quer dizer exatamente essa percepção interessada e diminuidora?Quer dizer que… há alguma coisa que a percepção está apreendendoque não é exatamente igual àquilo está [sendo apreendido]. E isso quenão é exatamente igual àquilo que a percepção está apreendendo eu vouchamar de imagem em si. O que é imagem em si? A imagem em si e… a

representação.A representação é sempre a representação de uma imagem no processodo interesse e da diminuição. E a imagem em si é… a imagem menos apercepção. A imagem em si é ela como ela é e não como éapreendida.(Tá?)Então, a filosofia  – a filosofia que é uma espécie assim, de…  – de quê?  –  de… Orson Welles: cheia de audácia!… - resolveu compreender o que é aimagem em si. Mas ela pode compreender o que é a imagem em si pelapercepção? Pode?? Não, p orque pela percepção ela desfigura, elarecorta, ela produz interesse, ela produz a diminuição. .. Então, a únicamaneira de se poder entender a imagem em si… é pela prática dopensamento.(Vocês entenderam?)Então, vocês aqui começam a compreender o que é exatamente o  pensamento. O pensamento é alguma coisa que só emerge forçado. Ele éforçado! Então, eu não consigo compreender o que é a imagem em si…  –  aí, o meu pensamento começa a despertar do seu sono eterno, do seucansaço insuportável.O que eu estou dizendo para vocês é que, por natureza, o homem jamaispensará! Jamais pensará! Nós não pensamos por natureza. Pornatureza  – nós somos preguiçosos e cansados. (Certo?) Ou seja, nós só

pensamos quando alguma coisa que vem de fora… marca. Vamosinventar um conceito…  – alguma coisa que vem de fora…- chama-se… encontro:acaso dos encontros  – Aqui eu estou gerando um filósofochamado Espinoza. O acaso dos encontros! Alguma coisa se encontracomigo e aquela coisa é tão forte, tão poderosa, que o meu pensamentodesperta e quer invadir aquilo. E essa coisa poderosa  – que invadiu  –  chama-se, agora, imagem. O meu pensamento quer compreender, não o que é a imagemrepresentada, mas o que é a imagem em si. (Tá?) Então, na hora que euvou invadir o que é a imagem em si…  já sei de alguma coisa: eu já seique o processo da percepção ou o processo da representação é umprocesso que… diminui a imagem  – porque é um processo interessado –  e esse processo de diminuição… o meu pensamento descobre que oprocesso de percepção é um processo de isolamento - a percepção isola.Se eu for passar para o cinema…  – a percepção enquadra.A percepção é o enquadramento: ela produz o enquadramento. E quandoa gente produz o enquadramento, os limites desse enquadramento sãosombreados, são sombras. Ou seja: você só apreende aquilo que forenquadrado! Isso vai me mostrar que a imagem, quando é enquadrada pelo processo da percepção, eu [a] retirei do seu real encadeamento. Oque é que estou dizendo? Tudo o que existe na natureza, em si,

independente da percepção, está encadeado com tudo que existe.(Vou repetir:)

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A natureza é um encadeamento em velocidade infinita. Ou seja, todas equaisquer coisas que existem na natureza estão em comunicação comtodas e quaisquer coisas  – é como se a natureza fosse feita de uma luz de velocidade infinita…Então, tudo se encadeia com tudo. Tudo seencadeia com tudo. E isso daí é que vai ser cortado pelo processo da

percepção – porque o processo da percepção faz um recorte nesseencadeamento. Esse recorte no encadeamento chama-seenquadramento. Se eu tirasse o recorte do enquadramento… eu teria aimagem em si. A imagem em si seria…o quê? Seria uma imagem queestaria em contato com todas as imagens.Cl.: O que vocês acharam? Muito difícil?Alª.: Achei contraditório… Cl.: Contraditório, não! Usa outro nome. Vamos lá: o que é?Alª.: Não? Pode ser que eu não esteja usando o termo certo. Mas se vocêfo.. quer dizer, o pensamento é uma tentativa de ver de forma… derepresentar diferente… não seria?Cl.: O pensamento? Não. O pensamento, não. O pensamento… Alª.: Se você força… se entra em contato com alguma coisa e você é… é… forçado a pensar… Cl.: Forçado a pensar!Alª.: Forçado a pensar… Então, não seria uma outra re-presentação?Cl.: Não, não! Exatamente, não! Eu não comecei dizendo que opensamento inventa e cria? Você já esqueceu!… Você já esqueceu ocomeço da aula… O pensamento não representa, ele inventa e cria. Vocêperdeu o começo da aula… O começo da aula foi……. Você jáesqueceu… Esse pensamento é invenção e criação. A percepção é

representação. É completamente diferente.Alª.: ―…‖???? ‖ Cl.: Não senhora! Eu não disse que as pessoas pensam por natureza, eunão disse isso… Eu disse que o pensamento é forçado a aparecer, ele éforçado a aparecer! Por exemplo, deixa eu explicar para você: a pessoa,a pessoa. ..  – vou usar esse conceito que você usou: a pessoa, apessoa… ela só tem um poder: representar. Ou seja, agora…  – éviolentíssimo o que eu vou dizer  – para você pensar, você tem quequebrar a pessoa. (É difícil, não é?)Alª.: É… Cl.: Você tem que romper com a pessoa. Por exemplo, se vocêsestudarem um poeta português chamado Fernando Pessoa… Ó acontradição – aí tem uma contradição: Fernando Pessoa… Ele não criouuma figura chamada heterônimo? O heterônimo do Fernando Pessoa é adestruição da personalidade. Porque a personalidade – a pessoa, osujeito pessoal que nós somos, a minha história pessoal, os meusamores, as minhas tristezas, as minhas alegrias, as minhas saudades,os meus projetos, é… os meus fantasmas, é… as minhas traições  –  fazem parte do sujeito que eu sou. Todos nós somos um sujeito, quecarrega consigo uma biografi a, uma história pessoal, um passado, umfuturo e um presente… Nós constituímos um modelo de tempo, e assim

por diante. Esse sujeito pessoal, ele jamais poderá pensar. Jamais!Pensar não é uma propriedade do sujeito pessoal, não é uma

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propriedade dele. Porque ele só tem um poder. Qual é? R e p r e s e n ta r.Então, para que você atinja o pensamento… Ou melhor, essa palavraestá mal colocada, viu?… Mas eu coloquei para dizer  – o que se tem afazer é quebrar o poder que o sujeito pessoal exerce sobre a minha vida.

Exemplo: novamente, Fernando Pessoa, exemplo melhor. O FernandoPessoa se considerava um mártir da sociedade ou um mártir dahumanidade. Por quê? Porque a experimentação que ele fazia paraescrever os seus poemas era quebrar dentro dele o que se chama apersonalidade – quebrar a pessoa.Alº.: Deixa só eu ver se estou entendendo… Com isso você estáquebrando o conceito de Descartes – o penso, logo existo?  Cl.: Completamente! Completamente! Só que… eu teria que ir muitolonge pra atingir isso que você está dizendo… mas eu estou quebrando oconceito de Descartes: claro, claro! Essa tolice está sendo desfeita. (Tá?)Eu estou dizendo pra vocês… agora, com a pergunta que ela fez… Umapergunta magnífica! Eu estou dizendo para vocês… Por exemplo  –  vamos pegar um autor, vamos pegar um autor do século XX, vamospegar o… quem? Um bem conhecido…Henry Miller - todo mundoconhece, não é? O Henry Miller escreveu um livro sobre Rimbaud quese chama ―O tempo dos assassinos‖. (É esse o titulo?) Tem emportuguês, tem em português. É uma associação… é um devenir, é umaassociação contra-natura. (Tá?) É um louco e um traficante ou… umninfomaníaco e um traficante… Não, o traficante é o Rimbaud, e oninfomaníaco ou o hetero-maníaco é o Henry Miller (não é?). Então, elesfazem uma associação… Nessa associação o que se quebra é a história

pessoal… quebra-se a historia pessoal  – que é um conceito ainda duropara vocês entenderem. Nós estamos começando a entrar nele  – parapoder emergir o pensamento. Porque o pensamento não é uma entidadeque pertença ao sujeito Cláudio ou ao sujeito Renata… Ele não é umaentidade pertence[nte] a um sujeito enquanto tal. Vamos melhorar… Osujeito humano é constituído de uma série de faculdades. Por exemplo,vamos ver as faculdades que… três faculdades que nós temos… Temmais, mas vamos ver três para vocês entenderem. Memória, é umafaculdade que nos permite recuperar…o quê? A memória… o que elarecupera? (Vozes…) Hem? (―Passado…‖) Antigos presentes! A memórianão recupera o passado, não. Recupera antigos presentes! É isso que amemória recupera. (Tá?) Nós temos uma outra faculdade. Vamos veroutra: a inteligência. O que é a inteligência, exatamente? A inteligênciaé aquilo que ela pressupôs que eu tinha aniquilado, no momento emque ela disse que era contraditório o que eu tinha feito. A inteligência éaquela que tem horror à contradição. A inteligência é aquela que querfazer organizações lógicas. Então, na nossa sociedade, por exemplo, afaculdade mais prestigiada, qual é? A inteligência! Essa é a mais… ―Ele é inteligente!…‖ Ninguém diz: ―Ele tem boa memória!…‖ (Risos…) Aí elefica lá em cima porque a inteligência é uma faculdade de alto destaqueno nosso mundo…  – e a inteligência é um sistema lógico: Todo homem é

mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal.  – Mas se eu fizesseda inteligência o que ela disse, eu não diria Sócrates é mortal, eu diria  –  

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―As galinhas são verdes‖. Sócrates é mortal, então as galinhas sãoverdes. (Entendeu?)Agora, o pensamento não é sinônimo de inteligência. Então, é esse omovimento mais difícil  – pensamento e inteligência não são a mesmacoisa! E vocês vão conhecer no percurso da aula… porque a primeira

complexidade do pensamento que eu dei para vocês foi a potência dopensamento de inventar e de criar. ..  – então, vocês vão ver quepensamento e inteligência não são a mesma coisa. Por exemplo, aopensamento nada impede que ele lide com aquilo que a inteligênciadetesta - por exemplo  – a inteligência detesta os paradoxos; e opensamento é apaixonado por eles.O pensamento é apaixonado pelos paradoxos: ―Um  paradoxo?. .. Onde? ‖ (Risos…) A inteligência: ‖ Um  paradoxo?…Manda a polícia!‖ Então, não estou identificando inteligência a pensamento. A inteligênciaé alguma coisa que pertence ao sujeito humano e que tem variação quantitativa. Por exemplo, eu tenho 32 de inteligência. É… O BillClinton… Não é Bill Clinton?  Tem… 87. .. O presidente dos EEUU…  –  eu não sou presidente dos EEUU  – tem mais inteligência do que eu.Agora, o pensamento, não. O pensamento sequer pode ser avaliadoquantitativamente. Então, o que eu estou dizendo… não é que ainteligência  – que seria uma parte… (Atenção!)… uma parte… (Atenção!)Eu disse que a percepção é o processo representativo, não foi isso queeu disse? E agora…  fecha: a inteligência é um dos membros mais ativos do congresso chamado percepção –  a inteligência faz parte dapercepção. Então, a inteligência somente… representa.(Ficou muito difícil? Choque, não é? Mas… é… o que vou fazer?… Tem x

aulas… dez aulas, não é? Até lá a gente vê.)Então, neste instante, o que eu estou chamando de pensamento,… oúnico processo… o único meio que eu vou ter com vocês, para vocêsaceitarem o que eu vou dizer… é da seguinte forma  –  tudo o que for da c o n s c i ê n c i a - a palavra é difícil também… (virada de fita…) LADO B(Fala…) Beleza. .. Eu nunca mais vou esquecer! Está vendo o que é o acaso dosencontros?… Eu falei em… pensamento… O que eu fiz… o que eu fiz, na perguntadela  – às vezes vocês pensam que eu sou agressivo… Eu nunca souagressivo, nunca sou (tá?), nunca sou… em momento nenhum eu souagressivo. Porque… é… é… eu posso ser tomado de uma tristeza e deuma alegria  – agora eu vou falar como um filósofo do século XVIIchamado Espinoza  – uma tristeza e alegria não da percepção, não daconsciência, mas uma tristeza e uma alegria do inconsciente,umatristeza e uma alegria do pensamento. .. E essa tristeza e alegria do pensamento ou do inconsciente é  – quando são cortados os devenires eos agenciamentos. Al;: ―Os devenires e os?…‖ 

Cl.: Agenciamentos.Al.: Agenciamentos?..

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Cl.: Por exemplo, se nesse instante chegasse um ET e impedisse esseagenciamento rápido que nós dois estamos fazendo, você se sentiriaimediatamente triste. Você entendeu?Al.: Contingentemente?Resposta: É…é…  pode ser contingentemente… Eu acho que não, eu

acho que é necessariamente, (não é?)Al.: Devenir é… é… um agenciamento?Cl.: Devenir…  para entender, toma inicialmente como agenciamento,.Bem… vamos voltar à questão do pensamento e da imagem em si. Aimagem em si… a imagem em si… É… Agora eu vou mudar a hipótesede trabalho, pela dificuldade que vocês estão tendo. Vejam bem o queestou fazendo. Vejam bem! Nós estamos falando sobre cinema. E cinemaé o lugar onde habita… a imagem. A imagem!Pergunta: E o movimento!?… Resposta: E o movimento! (Certo?) Depois vocês vão ter conhecimentode uma outra coisa que habita a imagem. Essa outra coisa, que habita aimagem, chama-se  –  tempo. Então, imagem, movimento e tempo  – sãopraticamente a mesma coisa.O que eu estou dizendo pra vocês é que existe uma imagemrepresentada. Isso é fácil! Neste instante, por exemplo, eu estou melembrando de um aluno meu, de quem eu gosto muito, chamado Ls  – arepresentação dele está dentro de mim. Mas, aí, alguém que conhece oLs pergunta pra mim  – então, existe um Ls em si? Eu direi: não, não.Por quê? Porque as representações são constituidoras da relação sujeito-objeto. Você faz cortes dentro da realidade. Você corta dentro darealidade. A natureza… (-) menos a representação – chama-se imagem 

em si. Então, agora eu vou fazer o seguinte, vou fazer uma…  – como se fosseuma ficção: vamos pensar a natureza antes da aparição do ser vivo. Euposso fazer esse pensamento? Eu posso levantar essa idéia? Posso… levantar essa idéia da natureza antes do ser vivo. A natureza existiaantes do ser vivo? Sim. Se ela existia, ela é uma… imagem -independente da representação que se faz dela. Então, a imagem em si éexatamente isso: a imagem em si é a natureza  –  independente doespelho, duma água que reflete ou de um sujeito humano querepresenta. É como ela é - nela mesma!…Vamos outra vez:Vamos dizer que eu estou diante de um oceano  – um oceano imenso. Eo meu processo de representação me leva, quando eu [apreendo] ooceano, [a fazer] um recorte nele  – eu só vejo um pedaço do oceano.Então, a representação me daria um pedaço do oceano  – mas eu nãoapreenderia o oceano na sua inteireza. A natureza  –  menos arepresentação – é uma combinatória de blocos de luz!… Combinatória deblocos de luz! É como se fosse… tudo que existisse na natureza fosseconstituído de luz… e essas luzes estivessem em comunicaçãopermanente. (O que vocês acharam? Acharam muito difícil o que eudisse!?…) 

(É… [projeta] aqui uma imagem de… célula, de… de… neurônio!  – nãoprecisa apagar a luz, não, não é?… Tem que apagar, não é?)

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Deixem eu explicar uma coisa pra vocês:Nós… nós… temos um cérebro, (tá?) E o cérebro é constituído por umsistema celular, onde as células chamam-se neurônios, (tá?) Essesneurônios têm componentes, [sobre os quais] eu vou evitar de falar,para não trazer nenhuma complexidade. Então, os neurônios têm

componentes. Eu vou chamar os componentes dos neurônios… eu vouusar apenas um componente: axônio, (tá?) Então, [aponta para aimagem na tela] aqui está um neurônio, aqui está outro neurônio e aquiestá outro neurônio. O nosso cérebro é constituído de bilhões deneurônios, bilhões… que são células que não se… reproduzem – querdizer, não há câncer de neurônio, (não é?)  – elas não se reproduzem.Agora, quando eu recebo uma informação do mundo, quando ainformação do mundo chega a mim, essa informação chega em forma deátomos de luz. Quando eu estou recebendo as informações do mundo,de vocês  – são átomos de luz que estão entrando em mim. Ou seja: éuma quantidade imensa de luz que está entrando em mim  – que euestou recebendo do mundo. E o meu neurônio vai pegar essas luzes evai começar a territorializar essas luzes, esses blocos de luz… Ele vai[constituir] pequenos territórios [com esses] blocos de luz. Mas ele vaiter a função de comunicar essa informação que recebeu – e isso numavelocidade assustadora!  – comunicar essa comunicação que recebeu doexterior… ele vai comunicar para outro neurônio  – para que todos osneurônios formem uma rede, (não é?) Formem uma rede!.. E essa redeneuronal de informação cai sobre você e você vai entender o processoque está se dando ali dentro.Então, o que eu estou dizendo pra vocês é que aqui vai acontecer um

processo, que os pensadores de cérebro só conseguiram compreenderhá pouco tempo  – é que um neurônio e outro neurônio não têm contatoentre [si]. Eles não têm contato, eles estão separados por uma…  fenda.Há uma fenda entre os neurônios  – essa fenda pode estar na base dapsicose, esta fenda que está aqui pode estar na base da psicose. Porquenessa fenda  – muito da luz que é mandada para aqui… esse neurôniorecebe luz e vai passar essa luz para esse neurônio de cá  – 99,9% da luzque esse neurônio passa para cá, cai nessa fenda. Então, ao cair nessafenda… eu estou dizendo para vocês, que o nosso processo deconhecimento do mundo é infinitamente mais pobre do que aquilo que omundo é. (Vocês entenderam?). Porque uma quantidade imensa de luzse perde… nós não conseguimos apreendê-la, ela se perde no que sechama fenda sináptica. Ela se perde nessa fenda.Eu, hoje, vou tentar mostrar para vocês um filme do John Huston que éem cima de um romance do Malcolm Lowry chamado À sombra do vulcão - que é a história de uma personagem feita pelo Albert Finney,que, no filme se chama O Cônsul. Trabalha Jaqueline Bisset, tem outropersonagem que não sei o nome… E… o Albert Finney é umapersonagem que está vivendo intensamente essa dramaticidade. Qualdramaticidade? Ao invés de estar convivendo com os territóriosneuronais, ele está envolvido com a fenda. Estar envolvido com a fenda

quer dizer o quê? Ele está inundado de luz, ele está fazendo umaexperiência…uma experiência que quebra a humanidade dele… (Vocês

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estão entendendo, ou está muito difícil?) Quebra a humanidade dele… eo sentido de quebra da humanidade quer dizer o quê? Quebra os limitesfuncionais e orgânicos dele. Ele mergulha no fundo da luz  – elemergulha na imagem em si. E esse mergulho vai levá-lo ao alcoolismo(Eu não vou explicar o problema de alcoolismo aqui, claro, não tem

nada a ver…) (Tá?) Mas, o alcoolismo está muito ligado a isso. Então, euestou criando pra vocês uma figura chamada fenda. Vocês podem usarfenda, fissura, crack up - usem o nome que vocês quiserem… Essafenda é o momento em que nós saímos da organização funcional dosnossos órgãos, do organismo. E mergulhamos no inferno de luz que é anatureza. (Certo?) É como se quebrasse a nossa percepção… elasilenciasse e toda essa enormidade de luz, que é a natureza, começasse a bater em nós como se fosse uma ventania paradisíaca ou infernal. Al.: Esquizofrenia?… Cl.: Seria uma esquizofrenia?. .. É possível, é possível que sim. Mas aívocê já está começando a colocar a esquizofrenia como um devenir.Porque… no momento em que você quebra as dominações dos órgãos edas funções dos órgãos…  – é o momento em que você entra nosdevenires.Os devenires então… fica muito difícil, (não é?) O que eu estou dizendopra vocês é… é que o homem… o homem dentro da tradição teórica doocidente  – uma tradição teórica banhada pelos modelos religiosos  – ohomem é considerado como o achimé da… criação. Como o momentomais elevado da criação. E… isso não é verdade! O homem é umapassagem…  – da mesma forma que uma lacraia é uma passagem, queuma formiga é passagem; da mesma forma que uma rosa é uma

passagem. Não há nenhuma superioridade do homem [sobre] a rosa(Certo?) Cada um dentro da sua especificidade.Então, o que eu estou dizendo para vocês é que a arte… a arte  – no casovocê tentou colocar a esquizofrenia  – o que a arte tenta construir é aquebra da humanidade em nós. É quebrar o homem.O que quer dizer quebrar o homem? Quer quebrar tudo aquilo que éconstituído pelos órgãos e pelas funções. Que nos torna o homemnormal, o homem médio. (Certo?) O homem médio é constituído poresses órgãos, é constituído pelas funções. Então, se o homem fizer omergulho nessa fenda aqui, nessa fenda… é… ele está fazendo uma…. marcha para… a morte… Fazendo uma marcha para a morte. Mas nãose assustem nem considerem horroroso, porque o organismo e a funçãodos órgãos também fazem uma marcha para a morte. (Tá?)Alº: Essa luz que cai nessa fenda…  – ela é perdida?Cl.:: Ela… ela… ela não é perdida porque ela não ganha, não é? Ela nãotem o que ganhar… Você quer dizer, ela é perdida para o organismo!?… Alº.: É!Cl.: Ah, perdida, completamente perdida!!!Alª::…..a fenda, você entra em contato com essa luz… Cl.: Se você entrar em contato com essa luz da fenda, você vai pirar,você vai enlouquecer! Vai enlouquecer! Porque ali… é como se você

entrasse num mundo de uma televisão indefinida.Alª: É como se fosse sobra de informações, assim?… 

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Cl.: Não é sobra de informações, não é sobra de informações. Porquenão é isso daqui… esta luz daqui, ela não é conseqüência - e a gentepode usar um pouco Paulinho Moska  – ela é causa. Ela é a causa danatureza, é a causa da natureza. Cada organismo vivo se prepara paraabocanhar um pouquinho dessa luz, (tá?) Cada organismo vivo vai

apanhar um pouquinho. Não quer dizer que a mosca apanhe menos queo homem! De forma nenhuma! A mosca apanha um pedacinho… ooutro apanha um pedacinho… Então, o artista  – muita gente pensa isso – então vamos… ser artistas… adquirindo a percepção da mosca. Não! Vamos ser artistas destruindo a percepção do vivo. (Vocês entenderam?)E mergulhando nesse caos enlouquecido de luz.Alª: A marcha para entrar na fenda é necessariamente pra a morte oucontingente?Cl.: Necessariamente… O que eu estou dizendo agora… é que eu estouincluindo, muito complexamente  – não sei se vai dar para eu dizer maisisso nessa aula  – eu estou associando a morte com o desejo, estouassociando a morte com o desejo. Mas, atenção, porque é teu campo…  –  Eu não estou dizendo que a morte é objeto do desejo. A morte não é objeto do desejo  –  objeto… como fiz a distinção sujeito e objeto  – mas amorte é componente do desejo. Componente do desejo. Foi uma respostadifícil… porque é a área dela  – que é a Psiquiatria, (não é?)  – Eurespondi dessa maneira.Agora, o que eu estou dizendo para vocês é que esse… esse universo deluz que está aqui na fenda  – eu chamei de fenda sináptica. .. isso daquié o nome cerebral… (Certo?)  –  fenda sináptica. Mas vocês podem usar onome fissura. Usem esse nome… fissura  – esse nome vai retornar na

nossa aula.Então, a fissura. .. você só entra nela se você quebrar o poder doorganismo e da função dos órgãos. Senão, você não entra! Então, oorganismo e a função dos órgãos nos protegem do inferno de luz. (Vocêsentenderam?) Eles nos protegem do inferno de luz. Então, estar vivo épertencer a uma determinada espécie. Pertencer a uma determinadaespécie é constituir uma espécie de proteção para você. Você constróium sistema de proteção. Muralhas. .. O organismo é uma muralha - éuma função que você constrói para você. É como se esse mundo daquifosse repousante e tranqüilizante - ele não é! Ele é um inferno de luz! Nós estamos mergulhados no inferno de luz  – nós estamos mergulhadosno caos… nós estamos mergulhados no caos. Mas, nós estamos sempre – atenção, esse enunciado é poderosíssimo - nós estamos crivando  –  crivar quer dizer peneirar!  – estamos peneirando esse caos com asnossas funções e órgãos. Então, peneirar o caos com as funções eórgãos é personalizar o caos. (Vocês conseguiram ou ficou dificílimo?)Personalizar o caos… O que quer dizer isso? Você constrói um tipo demundo… um tipo de mundo… segundo a personalidade.Alª.: Quando você falou inconsciente, eu liguei à causa, não é isso?Você queria… Cl.: Pode… você pode falar… você pode dizer que o inconsciente é a

força que mergulha nesse caos, mergulha nesse caos e vai fazer  – vamosusar uma linda palavra latina? Vamos?… Não custa nada!…  – vai fazer

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um cribatio… (se escreve com t i) vai fazer um cribacio… porque opensamento vai fazer alguma coisa nesse caos  – o que ele faz é construirnovos mundos, ou seja: o pensamento nunca naufraga no caos porque,quando ele entra no caos, ele produz um diferencial.(Está muito difícil — aqui?)(Certo?)

Esse diferencial é exatamente aquilo que o Fernando Pessoa fez na obradele. O heterônimo é uma obra do pensamento. Ele produz umdiferencial, por exemplo… Eu vou repetir o meu mestre, o Deleuze! É… um diretor de cinema, dos mais magníficos, chamado Robert Bresson.Bresson. .. O Robert Bresson, no filme dele chamado Pickpocket, quevocês vão ver… vão ver pedaços aqui do Pickpoket, o Bresson constróium espaço tátil. Um espaço tátil… Espaço é o quê? Espaço não é tátil,espaço é… outra coisa, é visual, é auditivo… Ele constrói um espaço… tátil. Construir um espaço tátil é mergulhar aqui e inventar algumacoisa ali dentro. (Vocês conseguiram entender? Não, C.? Não?…) 

Clique na imagem 

Pickpocket – 

Robert Bresson (1959) Alª.: Não entendi apenas a parte da fenda… Cl.: A fenda, você não entendeu? Vou voltar, então. Vamos voltar àfenda.Vamos voltar aqui… vou voltar a uma teoria atomista de um filósofochamado Lucrécio, século I a.C. (que alguma coisa disso a C. conhece  –  que são os simulacros teológicos, eróticos e oníricos, tá?)Esse filósofo disse que a natureza é constituída  – eu vou ser o maislento possível, me detenham se eu for muito veloz, (tá?)  – a natureza éconstituída de duas coisas: vazio… vazio infinito - (prestem atenção:

vazio não é sinônimo de nada. (Certo?) Vazio não é sinônimo de nada.Por exemplo, você de repente… você vai ver um filme de Antonioni evocê entra em contato com o vazio!  –  vazio e átomos  – são dois infinitos da natureza.O á tomo, para esse filósofo, quer dizer  –  o elemento mínimo da natureza.Elemento esse que jamais, jamais poderá ser cortado. Então, o Lucrécioestá dizendo que essa natureza é constituída de vazio e de elementos mínimos. A noção de elementos mínimos é muito difícil pra nós  – porquenós achamos que a matéria pode ser cortada ao infinito. Ou seja: desdeque você invente uma tecnologia muito poderosa você vai cortando amatéria. O Lucrécio diz, não. Chega a um ponto em que nenhuma

tecnologia pode fazer mais nada  – que chama átomo. E ele, [o átomo,] é

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o elemento chamado insecável.Insecável quer dizer  – ele não pode serdestruído: é assim pela eternidade afora.Então, a natureza é constituída de duas eternidades. Quais? O vazio eos átomos. Ambos infinitos, ambos infinitos. Tanto o vazio quanto oátomo são infinitos. (Tudo bem aqui?)

Alª.: Então, quantos infinitos?Cl.: Dois.Alª.: Dois, não é? O vazio e os átomos.Esses átomos se propagam por esse vazio, eles se propagam por essevazio  – nesse momento não vamos discutir por quê, (tá?)  – e quandoeles se encontram eles formam mundos. O mundo é o encontro deátomos. Então, os átomos se encontram e o mundo se constitui. E omundo se constitui… (Tá?) Então, o mundo está constituído de umconjunto de átomos. ―Isso aqui‖ é um conjunto de átomos. Tudo é umconjunto de átomos,(tá?) Então, esse mundo está constituído! Aí, nessemundo vão aparecer  – eu agora vou botar uma coisa saltando… paravocês entenderem  – aparece o ser vivo que é constituído de… átomos,átomos e… vazio, átomos e vazio! Se você pudesse me olhar com olharmicroscópico, quantos vazios vocês veriam? (Vocês entenderam? Ounão, C.?…) Se você me olhar com olhar microscópico, eu não tenho essasolidez que está aqui, eu sou constituído de brechas. Essas brechas sãoas…  fendas, (tá?) Então, cada organismo tem uma capacidade deapreender o mundo de uma maneira… Então, você vai ter a águia, temo touro, tem o cavalo… cada um apreende o mundo da sua maneira.Mas, o mundo como ele é - é esse mundo que estava aqui agorinhamesmo…  – o mundo como ele é. .. ou seja, os átomos em processo de

velocidade infinita pelo vazio. Esses átomos em velocidade infinita pelovazio… Alº: Essas fendas, então, são… uma salvação, porque senão… As fendassão… a nossa salvação?… Cl.:: São a nossa salvação! !! Se não [fossem] essas fendas, nós nemexistiríamos!… Não existiríamos!  –  Explodiríamos. ..explodiríamos!. ..Porque nós não somos capazes… Nós não temos muita diferença deuma máquina fotográfica. Se você botar uma máquina fotográfica comexcesso de luz, ela explode! Se você jogar um excesso de luz em cima demim e eu quiser apreender aquilo tudo, eu vou explodir! Essas fendas,elas são salvadoras! Mas no momento em que elas se salvam, nós asperdemos. E ao perdê-las, nós perdemos o caos, e ao perder o caos, nósperdemos a gênese danatureza. Numa linguagem sem Deus, ou melhor,sem religião  – nós perdemos… Deus. Essa fenda ficou no lugar de Deus.É a força, é a gênese da natureza.(Ficou muito difícil aqui? Está melhorando?…) É como se nós… Eu estou mostrando pra vocês… provavelmente estoumostrando, ou acredito que esteja…  – Quando eu disse ―eu acredito‖  –  depois eu vou explicar o que quer dizer ―acredito‖, tá?  – eu estoumostrando para vocês que…  pensar nada tem a ver com as práticasbanais que nós fazemos no dia-a-dia. Pensar é uma aventura, é uma

viagem. ..  – uma viagem que Samuel Beckett, por exemplo, fez no teatro;Harold Pinter ainda faz; Bob Wilson faz. Então, pensar pode aparecer em

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qualquer lugar  – mas quando o pensamento está exercendo ouconstruindo as suas fendas de luz  – quando o pensamento estáproduzindo isso  – ele está imediatamente criando novos mundos, novasmaneiras de viver, novas maneiras de sentir. (Certo?)O que a gente tem que começar a compreender nessa aula  – porque ela

não seguiu, (não é?) Quando a aula não segue não quer dizer que elaemperra. Quer dizer que ela não cresceu pelos lados  – ela cresceu paracima e para baixo. É lindo quando uma coisa cresce para cima… e parabaixo!… Porque quem cresce para os lados são os cristais. A vida équecresce para cima e para baixo! Então, foi o que aconteceu com anossa aula. A nossa aula… nós tivemos agora… nós estamos envolvidospelo inferno de luz, a luz está… correndo em nós e nós estamos noscontorcendo diante dela. Eu vou aconselhá-los a verem os auto-retratos  – por favor, anotem  – deum pintor chamado Egon Schiele. Eu vou fazer uma tese que ninguémfez  –  inteiramente minha  – criada neste instante: os auto-retratos doEgon Schiele são convulsões, torsão, dores… porque o Egon Schiele está… vendo esta luz  – está sendo tocado por ela.Vou mais longe! Vocês conhecem Cézanne? Um francês caolho?… (Certo?) Ele dava um nome para essa luz…  – um nome Lindo!  –  Caos irisado. .. Caos irisado! (Acho que o íris aí, em irisado, é com ―s‖ porcausa de íris, não é?) Caos irisado! [Há] um outro, chamado Paul Klee. ..que chamava essa luz  – olha que loucura  – de ponto cinza. Ponto cinza!Ou seja, todo artista - para fazer a sua arte  – parece que está condenadoa mergulhar nesse caos que está aí. Porque, senão, o que ele vai fazersão práticas representativas – para servir o patrão [dele]. Agora eu cito

um diretor de cinema  – vocês devem conhecer…  – chama-se Losey - ―O criado‖ (não é?). Um dos componentes principais [da obra] do Losey émostrar o servilismo da humanidade. Servilismo, quer dizer o quê?Servilismo quer dizer: Ah! Os homens são servis, coitadinhos. . .? Não énada disso, não! Servilismo quer dizer incapacidade e impotência de quebrar as funções e os órgãos. (Entenderam?) Ou seja… Al.: Incapacidade de pensar?… Cl.: Incapacidade de… Ah! O pensamento, como eu disse para vocês… nós temos uma ilusão de que o pensamento é uma coisa que funcionanaturalmente. Ele não funciona naturalmente! O pensamento sófunciona se baixar em cima dele uma força muito grande. Baixa aquela força violenta - e ele começa a sair. Aí quando ele… Alª.: Estímulo, não é?Cl.: Estímulo? Você usou estímulo?… Mas não é o estímulo do Skinner,(hem?). O estímulo do Skinner só movimenta ratos. São estímulos…  –  não sei se vocês entendem estímulos…  — ??  — rir se estivesse aqui. Sãoestímulos… deinfernos de luz. Vou dar um exemplo pra vocês:É… Eu me chamo Swann e namoro uma menina chamada Odette deCrécy. E Odette de Crécy está de namoro com outros. (Certo?) Então,quando eu vejo Odette de Crécy namorando os outros, Odette de Crécyse transforma num signo para mim  – que me chamo Swan. E esse signo

 – Odette de Crécy  – me pega… e me força a pensar.

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Ou seja, o ciúme é uma maneira de o pensamento aparecer. Eu não seise vocês sabem… que o ciumento, quando está diante da ciumada oudo ciumado  – sei lá que nome que eu vou dar  – qualquer gesto que ociumado tem, o ciumento pensa. (Vocês entenderam?) Então, é isso queestou chamando de pensamento.

Pensamento… é alguma coisa que só pode emergir se alguma coisachegar, tocar. .. aí ele é forcado a pensar. Eu… Um filósofo do século V-IV a.C., inventor da filosofia  – chamado Platão  – disse que o homem sópensa quando ele se espanta... Quando ele se espanta! E eu vou dizerque estou de acordo. É espantoso saber que nós estamos envolvidoscom isso. (Certo?) Saber que é espantoso que a nossa vida seja ummergulho direto n o caos… é um mergulho direto no caos e que nósprocuramos… procuramos constituir uma espécie de… de solo, degarantia para nós, para não mergulharmos no caos. Na impressão…. deque é possível abrir um guarda-chuva para se proteger desse inferno deluz. Não adianta! Ele… ele fura o guarda-chuva.O que eu estou dizendo pra vocês é o seguinte (se vocês entenderam aminha aula até agora): eu não estou falando nada de pessimista paravocês ao dizer que nós estamos mergulhados nesse caos. O pessimismoé…  pensar ou acreditar que nós podemos passar a nossa vida sem darconta disso. Isso é que é..  –  isso é que é a tolice.Pergunta: O pensamento é mais  —— ?? —– .Resposta: Não sei… O que que vocês ach… o que que você achou detudo que eu disse?Por exemplo, vocês sabem que a inteligência hoje foi desdobrada no… no computador. (Não é?…) Vocês sabem… inteligência artificial. (Não

é?…) Então, essa inteligência artificial vai atingir níveis inacreditáveis.Nós vamos mandar uma espaçonave para… para o planeta do ET, queeu não sei nem o nome, vamos mandar uma espaçonave para o planetado ET, essa espaçonave vai cheia de computador e vai contar toda ahistória que ocorre lá para nós, sem ninguém ir lá. Mas, jamais.. . jamais. .. um computador vai atingir os ilimites do pensamento. Porqueentre pensamento e computador a diferença é de… natureza. (Entende?)E o pensamento  – são exatamente as forças do inconsciente queproduziram o computador.(Que horas são, hem?  –  São… quinze para as nove.  – Que horas que eutermino…  – nove, não é?)(Bom… eu não fiz nenhuma projeção de filme para vocês. Certo? Esse… Posso fazer uma projeção? Pode? Eu vou pedir a eles que… estáarrumado?)É o seguinte: o filme é do John Huston - vocês conhecem o John Huston? Os grandes filmes dele foram sempre associados com grandes literatos.Por exemplo, o último filme que ele fez foi… um texto do James Joyce.Foi… Os Vivos e os Mortos  Mas ele fez textos associados com Steven Crane  –  O Emblema rubro da Coragem Com Melville  –  Moby Dick. O John Huston é um… Foi ele quetrabalhou naquele filme do Polansky,  –  China Town (Tá?)  –  [em que] ele

era o pai da Faye Dunaway e, ao mesmo tempo, o… amante da FayeDunaway. Pai e amante, (não é?) Então, o John Huston é o diretor

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desse filme… baseado num romance de Malcolm Lowry. L..o..w..r..y.(Tá?) [Há] dois atores [extraordinários nesse filme]  – um é o AlbertFinney, (não é?)  – um magnífico ator, shakespeareano. Albert Finney eela, de joelhos - é a Jaqueline Bisset, nos seus melhores momentos,(não é?)  – é de uma beleza extraordinária, (viu?)

Então, esse filme daqui vai passar da seguinte forma: questão – o JohnHuston entendeu o Malcolm Lowry? (Vocês entenderam a questão queeu [coloquei]?) O John Huston terá entendido o Malcolm Lowry? Seráque John Huston sabia que o problema do personagem principal  – doAlbert Finney  – era o problema do mergulho nessa luz? Mais oumenos… mais ou menos. Talvez soubesse…(Tá?) Então, a personagem é o Albert Finney. Ele é um consul inglês, não é?No México… Americano?… Inglês… No México, no México, ele está noMéxico, no dia dos mortos, no 2 de novembro, lá, dia dos mortos… Alº.: Agora, Cláudio, você diz que o Malcolm Lowry certamente sabia.Cl.: Ah! Meu deus do Céu. Se o Malcolm Lowry estivesse aquicertamente todo mundo aqui estaria de joelhos para ouvir ele falar. Eleentendia tudo disso!Al.: O John Huston  – ?? –  Cl.: John Huston, eu não posso dizer que o John Huston tenha atingidoesse nível altíssimo, mas…  – é um brilhantíssimo diretor! Então, a gentevai ter que aceitar, (não é?) E aceitar com grandeza que o John Hustonestá dentro disso. Então, a personagem é permanentementeembriagada. Essa embriaguez não deu para contar por que éembriaguez, (tá?)  – mas tem relação com o inferno de luz, com a fissura,ou com a fenda sináptica. 

[exibição do filme](Está lá. A sombra do vulcão… Volta, volta… Sg. Prende um pouco essaimagem aí, só para eles voltarem aí. Não… o título. Deixa eles gravaremaí…) (Comentários…) (Vai prender?) Tríptico, (tá?) T r í p t i c o. Tríptico. No sentido de que esses trêspersonagens, na verdade, eles são um desdobrado em três. Eles são umdesdobrado em três, viu? Porque um tríptico… Você tem um tríptico aí, Sg?Ele vai projetar um tríptico de um pintor do século XX, chamadoFrancis Bacon, recentemente morto.Não tem outro, não? Hem? Mas esse aqui não dá idéia… O tríptico éuma mesma personagem, com uma variação qualquer. Isso que é otríptico na pintura, é aqui não ficou… é uma personagem com umavariação qualquer. Que a pintura produz isso, a arte dela produz isso… A variação é uma personagem, mas é uma variação que não é umavariação de… personalidade. Vou utilizar agora uma… uma figuradifícil, um pouco difícil, mas é uma variação de intensidade… umavariação de intensidade. Como se fossem três timbres de uma mesmamúsica. (Certo?) Seria isso o que está acontecendo ali.

Agora, para encerrar essa aula de hoje… Al.:  – ??  — a fenda. Cl.: Ovulcão é fenda, é fenda, exatamente. Eu agora vou indicar um texto pra

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vocês… não sei se já vai dar para vocês lerem… O texto chama-se A  porcelana e o vulcão - de Gilles Deleuze. Guardem o título para a genteler… na frente.E agora eu vou [emitir] um enunciado muito poderoso, que… se oBateson, por exemplo, estivesse aqui, eu teria que pedir licença para

produzir. A… embriaguez  – o alcoólatra tem um relação com o tempo.Vamos [colocar] assim  – uma relação com o tempo. Eu vou ligar [essaquestão] com a arte e com o cinema, (tá?). A relação do alcoólatra com otempo é [de]…endurecimento do presente. É difícil explicar nessemomento, mas [anotem] que depois vocês vão entender… O alcoólatraendurece o presente. Endurecer, quer dizer… ele não quer deixar [opresente] passar.Alº.: É congelar o presente?Cl.: É uma espécie de congelamento do presente.Vamos ter que trabalhar nisso, (não é?), vamos ter que trabalhar… Vocês têm sempre que marcar essas questões porque na próxima aula,por exemplo, eu não vou poder voltar a [esse problema]… porque nãotenho tempo. Mas vocês marquem e a gente volta… Eu vou tentar… [voltar].Na quinta feira, se isso for possível, eu dar uma aula mais longa paravocês juntando [as turmas]… Não sei se é possível fazer isso… (tá?) Parapoder passar alguma coisa… senão não terei tempo para dar tudo o queé necessário para vocês aprenderem -como, por exemplo, [o que eu falei]agora [do] congelamento do presente…  – ele usou congelamento, eu faleiendurecimento.Al.: Tem o mergulho também… 

Cl.: Usar mergulho, A, não é bom… não é bom… Você verá porquenão… Mergulho é outra questão… Aqui é literalmente isso mesmo  –  endurecer o presente. Endurecer o presente, o que seria? Seriaesquecer? É… uma espécie de esquecimento… uma espécie deesquecimento. Parece que é aquele que não quer se lembrar… endureceo presente para esquecer…  – ele não quer se lembrar.Al.:: Parece entrar numa outra dimensão… Cl.: Numa outra dimensão, exatamente! Vamos usar assim… (Tá?)Meu nome é Cláudio Ulpiano, muito prazer!(Palmas…) (Esta aula faz parte de uma seqüência de dez aulas do curso deFilosofia e Cinema I realizado no Centro Cultural Oduvaldo ViannaFilho  – mais conhecido como Castelinho do Flamengo  – na esquina daRua Dois de Dezembro com a Praia do Flamengo  – onde o movimentointenso de automóveis e coletivos dificulta a compreensão de algumaspalavras).