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A FORMAÇÃO DOS PREÇOS E A ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Reinaldo Pacheco da Costa 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ______________________________________________1 2. A TEORIA ECONÔMICA _____________________________________2 3. A ANÁLISE DE MERCADO ___________________________________4 4. AS ESTRUTURAS DE MERCADO______________________________7 5. A FUNÇÃO CUSTOS _________________________________________9 6. A ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO E OS CUSTOS ____________10 7. CONCLUSÕES _____________________________________________11 8. QUESTÕES PARA REFLEXÕES ______________________________12 9. BIBLIOGRAFIA____________________________________________12 1. INTRODUÇÃO Preço é informação que deve ser considerada em função dos objetivos a serem atendidos. Preço de custo, de venda, preço de produção, preço de serviço e preço de mercado. Preço quando a capacidade está saturada e quando a capacidade está ociosa. Preço para penetrar em mercados e preços de produtos diferenciados; preços públicos, preços de importação, etc.; são muitos os sentidos e isto vale também de forma crítica, pois o preço pode ser entendido como epifenômeno que encobre relações de produção, desigualdades sociais, e também imperfeições do sistema de concorrência. Atualmente é um lugar comum considerar que o preço é dado pelo mercado, restando à empresa saber se os custos permitem a negociação, ou nas palavras de [DRUCKER, 1995]: “Estamos vivendo a passagem da formação de preços através dos custos para a formação dos custos através dos preços”. Há, como se vê, dois lados da moeda: primeiro saber quais os 1 Engenheiro Mecânico (PUCRGS - 1975); M.Sc. Projetos Industriais e de Transportes - PIT (COPPE/UFRJ - 1983); Doutor em Engenharia de Produção (EPUSP). Professor do Departamento de Engenharia de Produção (EPUSP) e Consultor de Empresas.

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  • A FORMAO DOS PREOS E A ADMINISTRAO DA PRODUO

    Reinaldo Pacheco da Costa 1

    SUMRIO

    1. INTRODUO ______________________________________________1 2. A TEORIA ECONMICA _____________________________________2 3. A ANLISE DE MERCADO ___________________________________4 4. AS ESTRUTURAS DE MERCADO______________________________7 5. A FUNO CUSTOS _________________________________________9 6. A ADMINISTRAO DA PRODUO E OS CUSTOS ____________10 7. CONCLUSES _____________________________________________11 8. QUESTES PARA REFLEXES______________________________12 9. BIBLIOGRAFIA____________________________________________12

    1. INTRODUO

    Preo informao que deve ser considerada em funo dos objetivos a serem

    atendidos. Preo de custo, de venda, preo de produo, preo de servio e preo de mercado.

    Preo quando a capacidade est saturada e quando a capacidade est ociosa. Preo para

    penetrar em mercados e preos de produtos diferenciados; preos pblicos, preos de

    importao, etc.; so muitos os sentidos e isto vale tambm de forma crtica, pois o preo pode

    ser entendido como epifenmeno que encobre relaes de produo, desigualdades sociais, e

    tambm imperfeies do sistema de concorrncia.

    Atualmente um lugar comum considerar que o preo dado pelo mercado, restando

    empresa saber se os custos permitem a negociao, ou nas palavras de [DRUCKER, 1995]:

    Estamos vivendo a passagem da formao de preos atravs dos custos para a formao dos

    custos atravs dos preos. H, como se v, dois lados da moeda: primeiro saber quais os

    1 Engenheiro Mecnico (PUCRGS - 1975); M.Sc. Projetos Industriais e de Transportes - PIT (COPPE/UFRJ - 1983); Doutor em Engenharia de Produo (EPUSP). Professor do Departamento de Engenharia de Produo (EPUSP) e Consultor de Empresas.

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    preos que o mercado arbitra, e, em segundo lugar, verificar quais os nossos custos, e se estes

    suportam o negcio em questo.

    Em termos histricos, a discusso sobre a formao de preos em ambiente de

    economia de mercado antiga, e cada gerao encara os problemas de seu tempo de uma

    forma peculiar. Como estamos vivenciando hoje de forma intensa a competio generalizada,

    sobre este ponto que nos concentramos abaixo, procurando demonstrar sua relao com a

    administrao dos preos de uma empresa industrial.

    Em termos conceituais a discusso sobre a rationale da formao dos preos vasta e

    transcende a uma determinada rea do conhecimento, possuindo abordagens especficas pelo

    menos nas reas de Economia, Contabilidade de Custos e Marketing; da a necessidade de se

    abordar, mesmo que de forma elementar, como os trs campos do conhecimento tratam a

    questo. E mais, como articular estes conceitos tendo em conta o momento atual pelo qual

    estamos passando no Brasil, onde a estabilidade de preos e a competio generalizada

    causam profundas modificaes nos sistemas de produo, criando e exigindo novas

    tecnologias tambm no campo da gesto empresarial, como o caso de sistemas de

    informaes gerenciais de custos se moldando a sistemas de administrao da produo -

    casos do Just in time (JIT), Flexible Manufacturing Systems (FMS), Management Resources

    Planning (MRP), entre outros. [KAPLAN, 1991]

    Para efeito do presente ensaio procuramos guardar foco no problema de como uma

    firma industrial deve encarar a sua especfica formao de preos; um problema fundamental

    que tambm no caso empresarial se reflete de forma mltipla, envolvendo as funes

    financeira, comercial e de produo, mas sempre com entorno da economia geral, e por esta

    devemos comear.

    2. A TEORIA ECONMICA

    O conjunto das teorias explicativas sobre o funcionamento de uma economia de

    mercado, atualmente aceito de forma consensual, de fundamento chamado neoclssico2,

    entendido este como um dos ramos do tronco principal da cincia econmica - a economia

    clssica. A diferena fundamental entre as doutrinas assinaladas estaria na mudana de foco

    das questes bsicas: O perodo clssico se preocupou com a tica da produo, destacando o

    problema da distribuio da renda entre as classes sociais participantes do processo produtivo;

    a abordagem neoclssica deu nfase para a troca, priorizando a questo da circulao das

    mercadorias. [ROBINSON, 1970]

    A filosofia neoclssica procura explicar como uma economia de mercado desempenha

    as funes alocativas de maneira o mais eficiente possvel. Seu paradigma um universo de

    pequenos produtores e consumidores, livres para maximizar suas preferncias em condies

    de certeza. Destaque-se o termo maximizar, pois a deciso econmica das firmas e dos

    consumidores, nesta concepo, um problema matemtico de ponto de mximo.

    Chamamos a ateno aqui para a importante ligao da economia neoclssica com a

    matemtica - seu principal instrumento de anlise.

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    Os fundadores desta corrente do pensamento econmico consideravam o mtodo

    utilizado para anlise desenvolvido pelas cincias exatas e naturais (fsica e matemtica)

    adequado aos estudos em Economia. Os economistas neoclssicos utilizaram vrios conceitos

    e idias como maximizao dos lucros, equilbrio esttico e dinmico, e maximizao da

    utilidade, possibilitando a teorizao com modelos ricos em combinaes e proposies. Os

    principais nomes desta corrente so contemporneos entre si, e, curiosamente, desenvolveram

    concepes semelhantes sobre a Economia de forma quase simultnea, sem conhecimento um

    do outro no final do sculo passado. Os principais nomes desta corrente do pensamento

    econmico, sempre lembrados, so: William S. Jevons na Inglaterra, Carl Menger na ustria

    e Lon Walras na Frana. Posteriormente, a consolidao da doutrina foi realizada por Alfred

    Marshall em 1890 com a obra Princpios de Economia. O sistema de equilbrio geral por eles

    formalizado, conhecido tambm por fluxo circular da economia neoclssica, pode ser assim

    resumido:

    No longo prazo, uma economia onde todas as indstrias3 so perfeitamente

    competitivas encontra utilizao plena e tima4 para todos os recursos produtivos disponveis.

    Cada recurso utilizado, ao nvel de cada firma, at o ponto em que sua produtividade

    mxima. A renda distribuda entre os consumidores leva-os a exercer uma procura por bens e

    servios que sempre perfeitamente atendida pelas indstrias competitivas. Estas produzem

    de acordo com a escala de preferncia (valores) manifestada pelos consumidores atravs do

    mercado, de modo que, no longo prazo, quando todos os ajustamentos de oferta e procura so

    possveis, os consumidores obtm a produo que desejam ao menor preo de mercado, que

    corresponde ao custo social (custo marginal de longo prazo) de sua obteno. (...) Mercado

    o lugar ou o contexto onde se encontram compradores e vendedores com a finalidade de

    estabelecer um preo comum, e uma quantidade de equilbrio por unidade de tempo..

    [CRTES, 1978].

    O que produtividade, custos de produo, preos de mercado, oferta e procura so

    questes a serem investigadas em cada caso, e so parte do interesse da Economia em sua

    funo aplicada; mas existe um grande complicador nesta anlise, responsvel pela dvida

    sobre a objetividade do mtodo neoclssico: o que uma economia onde as indstrias ou

    firmas so competitivas ?

    Esta ltima questo, competitividade, chama a ateno para o entendimento das

    imperfeies dos mercados e do efeito que podem ter para a plena e tima utilizao de

    recursos na economia; da a importncia de sempre se considerarem as estruturas de

    mercado - monoplio, oligoplio e outras formas concorrenciais na anlise da formao dos

    preos, conforme veremos mais adiante de forma mais detalhada.

    Para ficarmos em enfoque o mais aplicado possvel, e considerando a situao de

    competio acirrada que atualmente define o ambiente econmico geral do pas e tambm

    2 No confundir com o termo neoliberal , uma categoria analtica de Cincia Poltica. 3 Entenda-se setores econmicos ou conjunto de competidores. 4 As palavras grifadas, tima, mxima, menor, marginal, mostra a preocupao com categorias matemticas. O ltimo termo, marginal, denota o sentido de clculo incremental utilizado para verificar variaes na margem. Outro rtulo para os economistas desta escola do pensamento bastante utilizado o de MARGINALISTAS,.

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    internacional, propomo-nos discutir, a seguir, um roteiro bsico para a considerao de

    alternativas existentes para a formao de preos, que, de maneira geral, passa pela discusso

    de dois pontos fundamentais:

    MERCADO: Quais os efeitos da oferta e da procura de produtos e de fatores de produo, e das condies da concorrncia para considerao na formao de preos da firma

    A FUNAO-CUSTOS da empresa: Quais as formas de custeio alternativas ou complementares disponveis e necessrias considerao na formao dos preos da firma ?

    Consideremos cada ponto separadamente.

    3. A ANLISE DE MERCADO

    A diviso da Teoria Econmica em Microeconomia e Macroeconomia obedeceu a uma

    necessidade prtica de se diferenciar a anlise quanto aos nveis de agregao desejados. A

    diviso recente (~1930), pois a Teoria Geral no final do sculo passado se confundia, em

    sua maior parte, com o que hoje se denomina Microeconomia - campo da economia

    neoclssica onde so construdos modelos com variveis altamente desagregadas, como

    produtores e consumidores individuais, preo de um bem ou fator de produo, etc., e

    tambm com conceitos tericos (construtos), como utilidade, indiferena e outros. imensa a

    literatura a respeito do assunto, e destacamos para consulta introdutria o Manual de

    Economia, organizado por PINHO et alli (1992).

    A Microeconomia a rea onde se consideram as aes individuais dos agentes

    econmicos e est formalizada h muito tempo, e, pode-se dizer simplificadamente, divide

    sua preocupao em captulos geralmente assim distribudos: Teoria da Demanda, Teoria da

    Produo e dos Custos, Teoria da Firma e Teoria sobre as Estruturas de Mercado.

    A questo da formao dos preos sob ponto de vista da firma individual em mercado

    setorizado, por ptica estritamente microeconmica, se d pela maximizao de lucros por

    parte da firma ofertante, e pela maximizao da utilidade pelo lado da procura pelos

    consumidores.

    O clculo adequado dos lucros para a firma, e da utilidade para os consumidores,

    envolve, por um lado o conhecimento dos custos de produo, e, por outro lado o

    entendimento do comportamento de sua procura e de seus implcitos preos que depende,

    fundamentalmente, do tipo de estrutura de mercado em que a firma atua: monoplio,

    oligoplio, concorrncia perfeita, concorrncia monopolstica, etc..

    Sendo a procura uma relao multivariada, isto , determinada por vrios fatores

    simultaneamente, tem objetivo a Teoria da Procura determinar os vrios fatores que a afetam;.

    a Teoria tradicional se concentrou em quatro determinantes bsicos da quantidade procurada:

    o preo da mercadoria, preos de bens substitutos e/ou complementares, rendas e gostos.

    [KOUTSOYIANNIS, 1976]

    A Teoria da Oferta formada pelas Teorias da Produo e dos Custos, sendo

    importante iniciar qualquer anlise pela diviso do curto e longo prazo. Na anlise de curto

    prazo, os custos se dividem em fixos e variveis. Os custos fixos so custos de um perodo -

    geralmente calculados por ms; custos variveis so custos associados ao volume de

  • 5

    produo, e so derivados da funo-produo 5. No longo prazo todos os custos podem ser

    considerados variveis, j que inclusive a capacidade da fbrica pode ser ampliada. Aqui

    existe farta polmica sobre as demarcaes limites destes prazos.

    No curto prazo, a diviso dos custos em fixos e variveis no exata e geral, e

    depende da empresa, da indstria (ou setor), das condies legais das relaes do trabalho,

    etc. Tpicos custos fixos so representados por aluguis, pro-labore, custos de superviso e de

    capital; custos variveis so representados por materiais, mo-de-obra direta e energia. A

    Microeconomia fornece modelos de anlise com objetivo de verificar determinadas relaes

    de causa e efeito: O que acontece com os custos totais quando se varia o volume de

    produo? Qual o efeito no custo total de se produzir uma unidade a mais? O que acontece

    com o custo mdio com o aumento ou diminuio da produo? Como calcular custos de

    produtos que competem pelos mesmos fatores de produo ?

    Sob o ponto de vista da firma - centrado agora na Teoria da Firma, o preo, na situao

    hipottica de concorrncia perfeita, dado pelo mercado, ficando a firma com a deciso do

    volume de produo; na situao ideal, a firma regularia a produo ao nvel em que a receita

    marginal obtida se igualasse ao custo marginal de produo. Neste caso estaria havendo

    maximizao dos lucros da firma.

    A frmula fundamental de maximizao dos lucros assim demonstrada:

    LT = RT - CT (1) onde:

    LT = Lucro total

    RT = Receita Total

    CT = Custo Total

    Para se achar o ponto de mximo, tem-se:

    LTQ

    RTQ

    CTQ

    onde

    RTQ

    CTQ

    RTQ

    CTQ

    = =

    =

    =

    =

    0 (2)

    Receita Marginal, e

    Custo marginal

    Portanto,

    (3)

    Ou seja, no ponto onde a receita marginal igual ao custo marginal tem-se mximo

    lucro.

    Tambm de forma grfica, esta concluso pode ser demonstrada. Em termos

    bidimensionais tem-se duas alternativas para considerao do conhecido e bastante utilizado

    diagrama que mostra para a firma o ponto de equilbrio e ponto de lucro mximo em funo

    do volume de produo. Pode-se plotar na abcissa tanto o volume em quantidade, produzido

    5 Relao que mostra qual a quantidade obtida do produto, a partir da quantidade utilizada dos fatores de produo. MANUAL DE ECONOMIA, PG. 137.

  • 6

    de um s tem, como o volume de receitas obtidas pela empresa - o que pode representar a

    produo de mais de um tem.

    "Ponto de Equilbrio"

    Quantidade =>

    $ to

    tal =

    >

    Custo Fixo

    Custo Varivel

    ReceitaTotal

    Custo Total

    Lucro

    A construo do diagrama envolve trs passos principais:

    1. Segregar os custos que variam diretamente com o volume de produo (materiais,

    energia, comisses e impostos sobre vendas, etc.) dos custos fixos (aluguis, depreciaes,

    custo de capital, etc.);

    2. Plotar os custos segregados versus quantidades ou receitas obtidas pela

    comercializao do (s) produto (s) em questo;

    3. Plotar receita total (preos x quantidades).

    Observe-se que a curva de Lucros - como projeo de Receitas menos Custos totais, apresenta um ponto de mximo. Outro ponto a ser destacado o comportamento da curva

    de custos variveis, em forma de um S. Isto se deve ao efeito de economias de escala devido a

    funo produo. Ver [KOUTSOYIANNIS, 1976] .

    O clculo do ponto de equilbrio uma das tcnicas mais destacadas para verificar a

    situao de lucratividade da empresa; um teste de seu mercado (preos) em confronto com

    sua estrutura de custos. Esta uma forma usual e simples de se mostrar a interao de preos

    e custos de uma determinada empresa.

    Quando se considera apenas um produto a anlise bastante simplificada, pois tem-se

    a visualizao do efeito de variaes de volume no lucro total da empresa. Esta tcnica

    chamada de anlise custo - volume - lucro. O problema quando so vrios os produtos da

    empresa; da o uso de anlise em funo no do volume mas em funo da receita total; isto ,

    qual o ponto de equilbrio em relao ao faturamento da empresa. Observe-se que neste

    caso todos os produtos esto considerados no clculo. Neste caso no temos o ponto de

    equilbrio da receita em funo da variao de quantidades de um produto, mas sim, efeito

    da variao da rentabilidade (lucros) em funo do faturamento total. A considerao de mais

    de um produto levaria a existncia de um nmero equivalente de eixos num diagrama n

    dimensional, impossvel de se representar no plano.

  • 7

    4. AS ESTRUTURAS DE MERCADO

    O diagrama abaixo, mostra, segundo STAKELBERG, as estruturas de mercado em

    funo do nmero de compradores e vendedores:

    Pelo lado da procura h que se considerar empiricamente setores dentro da economia

    de forma separada, quando se visa a identificao dos preos de mercado de produtos ou

    servios; da o uso do conceito de indstria , setor, ou mais desagregadamente conjunto dos

    competidores. A dificuldade do conceito de indstria, ou agregado qualquer, surge na medida

    em que produtos no so inteiramente homogneos, exceo quando se fazem certos

    pressupostos para simplificao e anlise, como o caso do estudo dentro de uma estrutura de

    concorrncia perfeita. Neste tipo de estrutura de mercado, o produto assumido como

    sendo homogneo, com perfeita substitutibilidade entre produtos concorrentes, o que leva a

    fixao de um nico preo do produto - o preo de mercado em situao hipottica de

    equilbrio de oferta e procura.

    Outro caso de homogeneidade de produtos seria o de situao de monoplio. Como

    neste caso o produto seria oferecido por apenas um produtor, no haveria dvidas quanto

    homogeneidade em questo. O que acontece na prtica que os produtos possuem, em maior

    ou menor grau diferenas entre si, o que acarreta dificuldades de comparao e anlise entre

    produtos; ou seja, como agrupar em indstrias, para fins de estudos econmicos, produtos

    que no so similares?

    Chamberlin em 1932 sugeriu que a procura por um produto no seria funo somente

    de seu preo, mas tambm do estilo do produto, da localizao dos concorrentes e dos

    consumidores, dos servios associados a sua oferta e tambm das atividades de venda dos

    produtos [LERNER; 1974]. Isto modernamente poderia ser chamado de composto

    mercadolgico

    Essa introduo de variveis faz com que a diferenciao dos produtos leve as firmas a

    terem seu prprio mercado e algum grau de monoplio na determinao dos preos. Este tipo

    de situao faz com que existam elementos de concorrncia perfeita - j que existe algum

    grau de similaridade entre produtos concorrentes, e de monoplio; da a proposta de

    Chamberlin de concorrncia monopolstica, o que hodiernamente poderia ser chamado de

    mercado diferenciado de produtos.

    Vendedores

    Compradores

    grande

    pequeno

    1 nico

    1 nico pequeno grande

    MONOPLIOBILATERAL QUASE MONOPSNIO MONOPSNIO

    QUASE MONOPLIO

    OLIGOPLIO BILATERAL

    OLIGOPSNIO

    MONOPLIO

    OLIGOPLIO

    CONORRNCIA PERFEITA

  • 8

    Como produtos heterogneos no podem receber o mesmo tratamento analtico de

    oferta e procura que produtos homogneos, pois a diferenciao cria dificuldades na

    conceituao de indstria, Chamberlin props, ento, o uso do conceito de grupos de

    produtos, grupos estes que incluem produtos que so de alguma maneira substituveis.

    Grupos com grande nmero de produtores-vendedores levariam a uma situao caracterstica

    de concorrncia monopolstica, enquanto grupos com pequenos grupos de produtores-

    vendedores levariam a uma situao de oligoplio.

    A maneira que a Microeconomia possui para lidar com a evidncia emprica dos

    preos e de seu comportamento frente a uma srie de variveis, so os estudos estatsticos,

    com, inclusive, denominao prpria - a Econometria6. Estes estudos devem enfocar,

    portanto, um certo agrupamento, como se viu, pois os preos na maior parte dos casos so

    dados em determinados mercados setoriais.

    Uma anlise prtica do mercado para fins de entendimento dos preos de mercado

    passa, portanto, pela investigao do nmero e qualidade dos concorrentes e fornecedores, de

    seu market-share7, dos prprios preos e os de seus concorrentes, das localizaes, do mix8 e

    quantidades de produtos, da cadeia distributiva disponvel, etc. V-se a importncia para a

    administrao de uma empresa do entendimento dos fundamentos bsicos da anlise de

    mercado. As tcnicas geralmente utilizadas para previso de mercado (oferta e procura),

    envolvem mtodos quantitativos - geralmente estatsticos, como, por exemplo, sries

    temporais ou cross-section, e mtodos qualitativos do tipo pesquisa de mercado entre outros.

    Ver inventrio de mtodos em [MAKRIDAKIS, 1985].

    Para a efetiva quantificao de custos de produo sob o ponto de vista da firma,

    quando se pretende anlise para tomada de decises - caso da formao dos preos, a

    Microeconomia no oferece soluo pontual, pois lida com modelos gerais da firma, e no de

    uma firma especfica; mas os modelos so de fundamento microeconmico, e, principalmente,

    o entendimento da lgica dos preos nesta disciplina formalizado. [NAYLOR, 1983]

    Esta pesquisa com respeito a MERCADO (oferta, procura e estruturas de mercado) de

    produto (s) e de fornecedores (preos e quantidades), poderia nos ajudar a responder as

    questes fundamentais sobre mercado: Quem ? Por qu ? Para qu ? Para quem ? Como ?

    Quanto ? Quando ? Aonde ? Produzir.

    A relao de competitividade econmica preo/custo nos indicaria o conjunto de

    alternativas de polticas comerciais a cada negcio9. A questo ainda est incompleta, como

    se v, pois como abordar a questo dos custos da firma ?

    Passar da anlise geral para a especfica significa passar do campo da Microeconomia

    para o da Contabilidade de Custos.

    6 Ver Captulo Metodologia Quantitativa da Anlise Econmica - PINHO et alli 7 market share a participao de mercado de cada um dos competidores. 8 mix o conjunto de produtos fabricados/comercializados. 9 Um negcio pode ser definido como o par produto-segmento. Um mesmo produto vendido em segmentos diferentes implicaria diferentes negcios.

  • 9

    5. A FUNO CUSTOS

    Pragmaticamente, preo fruto de uma deciso gerencial. Os preos so determinados

    em parte em funo do mercado e das concorrncias, e em parte em funo dos custos. Preo

    uma varivel sobre a qual a firma deve ter uma poltica.

    Existe uma tcnica histrica e mundialmente adotada de se calcular preos aplicando-

    se um fator sobre os custos diretos ou sob o preo de venda final. O primeiro caso o

    chamado mark-up sobre custos, e o segundo de mark-up sob preos (ou sobre vendas). O

    clculo do custo direto que o problema. Porque custos diretos ? Porque, por definio, os

    custos diretos so identificveis por produto ou servio, o que possibilita identificar o

    sacrifcio incorrido na produo de um tem especfico. Esta questo nos traz um problema

    fundamental da contabilidade de custos - Quais os custos diretos nos produtos ?

    O mark-up sobre custos caracteriza-se por ser uma margem sobre o total de custos

    diretos, implicando uma parcela para cobrir os custos indiretos e/ou fixos da empresa. A

    empresa demonstra poder de mercado se conseguir impor um preo de venda, mesmo que

    formado a partir de seus custos. Trata-se de um price-maker.

    O mark-up sob preos (ou sobre vendas) a aplicao de uma margem sobre o preo

    final (incluindo as despesas variveis de venda - comisses, impostos, etc.). O valor restante,

    residual, uma parcela limite existente para cobrir os outros custos. Como o preo em

    mercado concorrencial dado pelo prprio mercado, a empresa tem visibilidade de sua

    rentabilidade ou prejuzo. Essas empresas so conhecidas como price-takers.

    Desta maneira (...) o mark-up , portanto, no apenas uma expresso numrica ou

    uma taxa, mas um mecanismo que reflete toda uma situao vivida pela empresa em uma

    dada economia. Na origem do mark-up se encontram as condies institucionais da economia,

    as foras que imperam sobre o mercado e seus agentes, o grau de interferncia estatal, o grau

    de monoplio ou oligoplio, as condies tecnolgicas e, at mesmo, a forma e as condies

    em que se do as disputas de classe por parcelas da renda nacional. [MENEZES, 1994]. A questo fundamental que atravessa a discusso sobre a aplicao de um mark-up

    sobre os custos diretos, o de identificar o que custo direto e varivel 10. Para grande parte

    das empresas, os nicos custos realmente variveis so as matrias-primas. Mas geralmente

    um tratamento especial dado questo do custo da mo-de-obra direta, para que ela

    possa ser considerada um custo varivel 11. Isto porque quando existe mais de um produto,

    sobressai a questo de como fazer anlise de ponto de equilbrio quando os custos indiretos

    e/ou fixos da firma no serem identificveis por produto ?

    No caso de indstria onde a participao da mo-de-obra direta significativa no custo

    final, o tratamento da mo-de-obra direta como um custo varivel tem vantagens, pois com

    isto pode-se visualizar melhor o custo de um produto, no caso o custo direto, pois a mo-de-

    obra direta pode ser designada pelos tempos operacionais efetivos, dado um volume de

    produo. Estes tempos tem servido, tambm, como base de rateio para os custos indiretos e

    10 Sobre Custeio Direto MARTINS (1985; pg.194) observa: (...) muito mais conhecido por Custeio Direto, mas preferimos Custeio varivel, porque esse mtodo significa apropriao de todos os custos variveis, quer diretos quer indiretos.

  • 10

    fixos, conhecidos na literatura americana como custos de overhead, nada mais sendo do que o

    tradicional custeio por absoro.

    Argumento importante contra este rateio, que na histria da contabilidade de custos

    considerado ortodoxo, a necessidade de apontamentos (...) extremamente caros, o que

    poderia ser incompatvel com o grau de utilidade da informao obtida, principalmente onde a

    mo-de-obra no um custo dos mais relevantes.12

    6. A ADMINISTRAO DA PRODUO E OS CUSTOS

    Tanto para as pequenas e/ou tradicionais indstrias que so, na maior parte das vezes,

    mo-de-obra intensiva, quanto para empresas onde o custo indireto mais importante, os

    apontamentos ditos caros podem no estar levando em conta uma anlise de necessidades

    da administrao da produo, que exige informaes sobre tempos das mais diversas

    maneiras, inclusive tempos de cada operao em cada produto. Alm de no ser hoje algo

    difcil de se conseguir (a informtica facilitadora), estas informaes sobre tempos tm

    vrias outras utilidades, afora custos, tais como, planejamento, programao e controle de

    produo (PPCPE), clculo de ndices de produtividade, alm de servir para avaliaes

    diversas, como, por exemplo, decises make-or-buy, anlise de valor, anlise de

    investimentos e custos de estoques.

    Isto obriga a firma industrial a realizar levantamentos e documentaes

    fundamentais para sua gesto no s em termos de custos, mas tambm com outras utilidades

    essenciais. Especificamente para se calcular o custo direto por produto necessrio

    documentar:

    as estruturas (rvores) dos produtos - isto , quais subconjuntos e materiais pertencem a quais produtos, dentro de uma codificao estruturada e integrada com o resto do

    sistema de informao; e ,

    o processo de fabricao dos produtos e dos sub-conjuntos, com levantamento das operaes e tempos pertinentes, que exigem estudos detalhados de tempos e mtodos.

    Existem diversos critrios e mtodos para a formao de preos industriais, mas

    sempre se exige o conhecimento dos custos de produo, que so consequncia, antes de

    tudo, da existncia de informaes geradas funcionalmente pela rea de produo: o estado da

    produo - capacidade saturada ou no -, a carta de processos- mltipla e individual, a rvore

    dos produtos e subconjuntos, conforme j mencionado, e os tempos produtivos relevantes,

    como os de mo-de-obra direta e de mquinas e equipamentos na fabricao dos produtos.

    Esta documentao fundamental e de utilizao geral pela empresa. Vale dizer que

    informaes de custos no so inputs da produo, mas sim que existe relao biunvoca entre

    custos e o sistema de produo.

    11 Esta questo grandemente discutida na literatura especializada. Ver [MARTINS, 1985].

    12 ibidem pg. 248

  • 11

    7. CONCLUSES

    Os objetivos de uma empresa so, na maior parte das vezes, conflitantes. Enquanto a

    produo objetiva principalmente menor custo, a rea de comercializao procura mxima

    venda; a direo geral, por sua vez, alm dos objetivos setoriais, tem como meta, sempre, a

    sobrevivncia a longo prazo da empresa. Um elemento que catalisa, por assim dizer, todos

    estes objetivos o preo. A poltica de preos afeta todos os objetivos simultaneamente.

    Dependendo da estratgia mercadolgica, a empresa possui vrias alternativas, no

    excludentes, de formao de seus preos.

    A Administrao da Produo ir lidar com uma rea sensvel para qualquer empresa

    industrial, que so as decises sobre o qu, como e quanto produzir; essas so as questes

    fundamentais tambm sob o ponto de vista econmico-financeiro.Novos mtodos de

    administrao da produo tem exigido integrao entre as reas, principalmente mercado e

    manufatura. Um paradigma atual dos novos sistemas de produo o ajustamento da

    manufatura s necessidades dos mercados. Isto exige gesto integrada antes de tudo. Mais que

    explicar o funcionamento da economia, a formulao de modelos de interpretao e de

    avaliao de custos e preos so valiosos para a tomada de deciso na empresa industrial.

  • 12

    8. QUESTES PARA REFLEXES

    1. O que uma economia de mercado ?

    2. Quais so, de forma resumida, as estruturas de mercado, e porque representam tambm

    imperfeies ?

    3. Porque a importncia de se estudarem as estruturas de mercado na formao dos preos de

    uma firma industrial ?

    4. Independentemente das estruturas de mercado em que se encontram inseridas, as firmas se

    defrontam com custos semelhantes quanto aos seus conceitos e comportamento de curto

    prazo. Explique a lgica dos seguintes custos (Utilize o diagrama de ponto de equilbrio para

    ilustrar os conceitos):

    Custo fixo total, custo varivel total, custo total, receita total e lucro total.

    5 . Construir um grfico representando os valores em termos unitrios, dada mudanas no

    volume de produo, para : Custo fixo mdio, custo varivel mdio, custo total mdio, custo

    marginal, receita mdia e lucro.

    9. BIBLIOGRAFIA

    BERLINER, C. & BRINSON, J. A. Gerenciamento de custos em indstrias

    avanadas, T.A. Queiroz Editor. So Paulo, 1992.

    CRTES, J. G. P. Histria do Pensamento Econmico - COPPE -

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1979 (mimeo).

    DRUCKER, P. Administrando em tempos de grandes mudanas. Editora

    Pioneira. 1995.

    KAPLAN, R. The design of cost management systems. Prentice-Hall

    International Editions. 1991

    KOUTSOYIANNIS, A. Modern Microeconomics. London, McMillan, 1976.

    LERNER, A.P. The concept of monopoly and the measurement of

    monopoly power. IN: Readings in microeconomics. 1974.

    MAKRIDAKIS & WHEELWRIGHT - The Handbook of Forecasting. Wiley &

    Sons. 2nd Ed. 1985.

    MARTINS, E. Contabilidade de Custos. ATLAS, 1985.

    MENEZES, S. Modelos de mark-up. Apostila do curso de Economia de

    Empresas da Fundao Carlos Alberto Vanzolini, 1994.

    NAYLOR, T.H. Managerial economics: Corporations economics and

    strategy. Mc Graw Hill, 1983.

    ROBINSON, J. Liberdade e Necessidade: Uma Introduo ao estudo da

    sociedade. Col. OS PENSADORES. ABRIL CULTURAL. 1976.

    PINHO, D. & VASCONCELLLOS, M.A.S. Orgs. Manual de Economia -

    Professores da FEA-USP. Saraiva/Edusp. 1.992