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A FORMAÇÃO DO GESTOR ESCOLAR NO CURSO DE PEDAGOGIA DE DUAS
UNIVERSIDADES PÚBLICAS INTER-ESTADUAIS
Nathália Delgado Bueno da Silva1 Graziela Zambão Abdian2
Resumo
O presente estudo visa analisar a concepção e o espaço que a gestão escolar assumiu na formação do Pedagogo após a institucionalização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, em 2006, tendo como foco duas universidades públicas, sendo uma do estado do Paraná e outra do estado de São Paulo. Justifica-se a escolha das universidades considerando que os dois estados possuem diretrizes políticas distintas para a forma de provimento do cargo do gestor e seu ingresso no cargo e também para sua função. A importância da pesquisa está na escassez de estudos que estudam as relações entre gestão escolar e formação inicial do pedagogo e, portanto, a contribuição que pode oferecer para o debate. Portanto, pretende-se analisar a concepção de gestão presente nos dois cursos, tensionando-a com as diretrizes específicas da política educacional do estado quanto à forma de provimento do cargo e sua função e o conhecimento teórico da área. Como procedimentos, serão utilizados estudo bibliográfico e pesquisa de campo no sentido de conhecer a percepção de professores e formandos dos cursos de Pedagogia, no que diz respeito à formação inicial do pedagogo e a concepção de gestão presente no curso. A partir disso serão apontados os desafios que se colocam frente à atuação do Gestor e seu papel no contexto escolar. Palavras-chave: Formação inicial do pedagogo; Gestão Escolar; Políticas Públicas educacionais. Introdução
O presente estudo trata de uma pesquisa de mestrado, em andamento,
realizada na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP na cidade
de Marília e faz parte de um projeto integrado desenvolvido junto ao Centro de
Estudos e Pesquisas em Administração da Educação (CEPAE), cujo objetivo geral é
analisar os aspectos históricos e atuais relativos à formação, à função e o provimento
do cargo de administrador escolar, problematizando e estabelecendo relações com a
qualidade do ensino e com a produção do conhecimento na área.
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected] – Marília, São Paulo, Brasil 2 Professora Assistente Doutora do Departamento de Administração e Supervisão Escolar e do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. E-mail: [email protected] – Marília, São Paulo, Brasil.
O foco da pesquisa é analisar o espaço que a gestão escolar assumiu na
formação inicial do pedagogo, após a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Curso de Pedagogia, em 2006. O referido curso, desde a sua criação, tornou-
se interesse de estudo, sobretudo no que diz respeito à identidade profissional e às
diferentes funções destinadas ao Pedagogo. A história deste corresponde,
essencialmente, à história da sua identidade, cuja discussão foi pautada de acordo
com o contexto histórico, político e se baseou na legislação que até então o
regulamentaram. Sobre isso, houve diversas mudanças no âmbito legal para que o
mesmo chegasse a sua configuração atual (SILVA, 2003).
Após a instituição das Diretrizes, houve fortes críticas a esta formação comum
para o desempenho de diversos cargos e, se tratando da gestão, autores apontam
para uma formação simplificada e não consistente (LIBÂNEO, 2006; SAVIAINI, 2007).
Assim como eles, esta pesquisa parte do pressuposto da importância da formação
inicial sólida, que propicie os elementos necessários para a construção do
conhecimento do aluno/profissional enquanto gestor, além de docente, de modo que
este consiga exercer práticas que corroborem os princípios específicos da gestão da
escola e interagir de forma crítica com as diretrizes dos governos nacional e estadual
ao qual pertence.
Para pensar a identidade desse profissional no que diz respeito à gestão, faz-
se necessário compreender anteriormente como historicamente o curso de Pedagogia
de constituiu e se consolidou como referência para a formação de professores no
Brasil.
O Curso de Pedagogia: Breve histórico
Do ponto de vista histórico, o curso de Pedagogia teve seu início em 1939, por
meio do Decreto-Lei nº 1.190, que visava à formação de bacharéis e licenciados. Aos
bacharéis se destinava o trabalho intelectual para o exercício das altas atividades
culturais ou técnica e aos licenciados, o direito de lecionar as disciplinas de Filosofia,
História e Matemática (SILVA, 2003). Ainda era possível cursar estas duas
modalidades no esquema que passou a ser conhecido como “três mais um”, em que o
bacharel, após ter concluído a formação, completava mais um ano dedicado à
licenciatura.
Na década de sessenta, o curso de Pedagogia passou por algumas mudanças
que inviabilizaram a formação de novos profissionais e trouxeram à tona novos
questionamentos acerca da identidade do aluno formado, bem como do curso
propriamente dito. Segundo Brito (2006, p. 52), “a universidade pensada para as elites
se viu confrontada com a necessidade de formação de profissionais habilitados para
atender ao modelo desenvolvimentista.
Em 1962, o curso passou pela primeira reformulação ao garantir alterações em
seu currículo por meio do Parecer nº 251 do Conselho Federal de Educação. A
justificativa apontada pelo professor Valnir Chagas dizia respeito à ausência de
conteúdo próprio do curso, devendo, portanto, ser fixado um currículo mínimo e a
duração do curso de Pedagogia que levaria à formação do técnico em educação e do
professor de disciplinas pedagógicas do curso normal. Os questionamentos a respeito
da identidade do pedagogo mantiveram-se com o mesmo foco após esta
regulamentação, logo que fixaram um currículo mínimo visando à formação de um
profissional ao qual se referem vagamente e sem considerar a existência ou não de
um campo de trabalho que o demandasse (SILVA, 2003).
Por meio da Lei nacional, outra reformulação ocorreu no curso com o Parecer
nº252/69 do Conselho Federal de Educação, que tratou exclusivamente da formação
do Pedagogo. Com ele, é traçado um perfil claro para o curso e para o pedagogo:
licenciado formado para a docência das séries iniciais e do ensino normal e
especialista para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção
das escolas e sistemas de ensino.
Silva (2003) aponta que isso gerou uma fragmentação nestes quesitos, pois
foram criadas habilitações para a formação de profissionais específicos para cada
conjunto dessas atividades. Deste modo, o curso foi dividido em dois momentos,
sendo uma base comum a todos os alunos egressos e, após, a escolha das
habilitações. Neste período, inúmeros estudos acadêmicos foram elaborados no
sentido de discutirem o papel do Pedagogo no contexto escolar e sua contribuição
para a sociedade. Desta maneira, enquanto algumas faculdades retiraram os
especialistas do curso priorizando somente a formação docente, outras optaram pela
integração na formação.
[...] Os registros das discussões deste início de mobilização constituíram-se em importantes documentos a respeito do curso e da identidade do pedagogo, onde se encontra a gênese das entidades representativas do movimento dos educadores até a atualidade (MARTELLI e MANCHOPE, 2004 p.6).
Na medida em que o curso de Pedagogia foi alcançando um lugar preferencial
na formação inicial de professores, outras questões importantes foram colocadas,
como o crescimento do número de estudantes sem experiência docente e formação
prévia, levando esses cursos a enfrentarem, nem sempre com sucesso, a
problemática do equilíbrio entre formação e exercício profissional, bem como a
desafiante crítica de que os estudos em Pedagogia dicotomizavam teoria e prática
(BRITO, 2006).
Na década de 1990, mais especificamente em 1996, é aprovada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96 que traz novas discussões
acerca da formação docente a partir de seu título VI “Dos profissionais da Educação”,
interferindo diretamente no Curso de Pedagogia. Em consonância com esta Lei, foi
sancionada a Lei nº 10.172, intitulada Plano Nacional da Educação (PNE) que teve
como objetivo geral definir diretrizes e metas a serem alcançadas em cada um dos
níveis de ensino, nas diferentes modalidades e para questões de formação de
professores e financiamento da educação com vigência de dez anos a partir da sua
aprovação.
Analisando a trajetória do curso, Silva (2003) a divide tomando por base
algumas datas: de 1939 a 1972 sendo denominado “Período das Regulamentações”;
de 1973 1977, “Período das indicações” por considerar um período de reestruturação
do curso, tendo este sua identidade projetada; e de 1978 a 1999, como “Período das
Propostas”, sendo esses, os anos que o referido curso teve sua identidade em
destaque. O Curso de Pedagogia, desde então, foi ampliando suas possibilidades de
formação, apresentando uma diversidade curricular ampla e oferecendo temas não
vistos anteriormente (BRITO, 2006). Em 2006, após ampla discussão entre a
comunidade acadêmica e sociedade em geral, foram promulgadas as Diretrizes
Curriculares para o curso de Pedagogia, que exigiram a reformulação dos cursos em
âmbito nacional.
Do ponto de vista legal, a Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Educação,
de 15 de maio de 2006, instituiu as Diretrizes que são compostas por quinze artigos
que determinam os Princípios, Condições de Ensino e de Aprendizagem e os
Procedimentos a serem observados e avaliados nos sistemas de ensino das
instituições de educação superior. Desta maneira, a partir desta Resolução3 fica
instituída uma base educacional e regimental para a formação de professores em todo
o país.
O referido documento4 retira as habilitações e propõe uma formação ampla
para o exercício no magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
3 Esse documento toma por base o Parecer n° 776 de 3 de Dezembro de 1997, intitulado “Orientações Gerais para as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação”, que tem como objetivo garantir qualidade e uniformidade mínimas aos cursos que conduzem a um diploma profissional. 4Quanto à organização estrutural, as Diretrizes se dividem em três núcleos: 1) Núcleo de
estudos básicos, que abrange a realidade educacional por meio de reflexão e ação, que de um
fundamental, nos cursos de ensino médio na modalidade normal, educação
profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos.
No que diz respeito à gestão escolar, as Diretrizes recomendam que o
Pedagogo deverá compreender a escola como organização que promove a educação
para cidadania do aluno e a articulação entre a pesquisa, análise e a aplicação dos
resultados de investigações de interesse da área educacional, bem como “[...] a
participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de
sistemas e instituições de ensino e:
Art.4- Parágrafo único: I- planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; II- planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; III- produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares (BRASIL, 2006, p. 2).
Embora a base prevista seja a docência, esse documento amplia a atuação do
pedagogo a qualquer instância que permeie conhecimentos pedagógicos, estando ele
no ambiente escolar ou não. Esta nova configuração possibilita uma abertura maior
em termos de formação profissional, já que propõe conteúdos que anteriormente só
apareciam nas habilitações. Ao indicar a especificidade na formação do Pedagogo e
sua atuação na docência e na gestão escolar e não escolar, destaca também o papel
deste profissional no planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e
avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares e escolares são
mencionadas, além da difusão de pesquisas nestes âmbitos (BRASIL, 2006).
É importante destacar que as Diretrizes apontam as inúmeras
responsabilidades desse profissional não só no contexto escolar, mas não escolar e
na comunidade externa em geral. O gestor, em parceria com o professor e demais
envolvidos no âmbito educacional, deverá estar apto a desenvolver as múltiplas
potencialidades do aluno, bem como promover seu desenvolvimento integral no que
diz respeito aos aspectos psicológicos, físicos e biológicos. Além disso, deverá
promover a articulação entre escola, família e comunidade e estabelecer relação de
cooperação e trabalho coletivo entre estas instituições.
modo geral abarca o desenvolvimento das pessoas, das organizações e da sociedade; 2)
Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos, voltado às áreas de atuação
profissional que tem por finalidade pesquisar o contexto escolar e gestorial; 3) Núcleo de
estudos integradores que traz um enriquecimento curricular através de atividades como
seminários, dentre outros que vão além de sala.
Gestão escolar: Construção teórica e apontamentos para a formação do
profissional
Assim como o Curso de Pedagogia foi influenciado historicamente por
questões políticas, sociais e outros elementos que acabaram alterando sua
configuração com o passar dos tempos, a produção do conhecimento em gestão
escolar também teve sua trajetória histórica constituída frente a inúmeras questões
teóricas que foram influenciando o modo de refletir, agir a até mesmo do provimento
do cargo deste profissional (ABDIAN; HOJAS; OLIVEIRA, 2010).
Desde que se iniciaram os estudos acerca da administração escolar, uma série
de teorias foram debatidas e confrontadas, no entanto, ainda que estes estudos
tenham sido norteados por diferentes embates e influenciados por seu contexto
histórico e político, o questionamento que perpassa durante anos diz respeito à
articulação entre as influências da administração empresarial no ambiente escolar, em
que alguns estudiosos defendem que há relações diretas entre estes sistemas no que
diz respeito à gestão, e outros apontam para a escola como uma instituição de
peculiaridades próprias e que deve buscar elementos que estejam de acordo com o
seu próprio contexto enquanto instituição escolar.
As discussões iniciais, trazidas por Ribeiro (1968), Lourenço Filho (2007) e
Alonso (1976), defendem, ainda que de modo distinto pelos autores, que a
administração escolar seja pautada nos princípios estabelecidos nas empresas.
Oliveira (2013) buscando traçar a trajetória deste campo de estudo, aponta as
especificidades que nortearam os autores supracitados em sua teoria acerca da
administração escolar. Destaca que Ribeiro (1907-1990), apoia-se fortemente na
perspectiva empresarial, colocando esta como norteadora dos indivíduos em suas
práticas, dentro de suas especificidades e funções, porém, buscando os objetivos
comuns da instituição em questão. Na mesma década, apresenta o posicionamento de
Teixeira (1900-1971) e o caracteriza como distinto, logo que este insere à
administração um caráter de mediadora, buscando auxiliar os componentes da escola
na organização de seu trabalho pedagógico e extinguindo o posicionamento de figura
autoritária ao diretor/administrador.
Lourenço Filho (2007) também se pauta em conceitos da administração
empresarial e pontua como função do diretor escolar a busca de informações e
problemas acerca de seu ambiente para em seguida acontecer a tomada de decisões
que visem soluções. Indo ao encontro do que ele propõe, Alonso (1976) entende a
administração escolar como práticas que irão acatar tanto elementos externos à
instituição de ensino, trazendo informações dos níveis superiores e adequando-as ao
seu contexto, quanto internos, averiguando os problemas e buscando a solução dos
mesmos.
Nota-se que quando os autores atribuem funções a apenas um membro da
instituição sobre os demais, esta passa a ter um caráter centralizador, um dos pontos
que será questionado por autores progressistas. Estes defendem a gestão
democrática nas escolas e a participação coletiva na tomada de decisões, dentre
outros aspectos frente à especificidade da escola.
Estas críticas começam a vir à tona a partir da década de 1980, juntamente
com o fato de a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LEI nº 9394/1996) terem consolidada a gestão democrática como
princípio da educação escolar pública. Vale considerar, segundo Oliveira (2011), que
do âmbito teórico para o político, esta consolidação também fez com que vários
estados brasileiros adotassem a eleição como forma de provimento do cargo de diretor
de escola.
A construção teórica em administração escolar vai tomando um novo rumo a
partir de então, não desconsiderando a construção já estabelecida, mas incorporando
elementos mais amplos no que diz respeito às peculiaridades das instituições de
ensino. A este respeito, Paro (1986) aponta que há uma natureza específica no
processo pedagógico o que faz com que ele apresente elementos que o diferem dos
encontrados no âmbito empresarial, sendo assim, que irão influenciar e também
deverão nortear a gestão que será estabelecida.
A própria organização do trabalho pedagógico do professor no processo de
construção do conhecimento por parte do aluno e este enquanto sujeito ativo em sua
prática de ensino e aprendizagem são fatores que não podem ser mensurados em
curto prazo e que, portanto, não trazem resultados imediatistas como o almejado pelas
empresas em suas metas diárias.
Pensar sobre a gestão escolar é pensar sobre as condições materiais a partir das quais se desenvolve a ação educativa, e, nesse sentido, a gestão escolar, em seu sentido clássico, apresenta-se como a mediação necessária. Por essa razão, só faz sentido contemplar a atividade administrativa se os fins a que ela servir forem conhecidos e apropriados pela comunidade educativa, porque, se, no sentido geral, a administração é “a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados” (PARO, 1986, p. 18).
A construção teórica em administração escolar vem sendo consolidada
juntamente com fatores políticos que norteiam esta prática nas instituições de ensino,
bem como, a formação e provimento do cargo deste profissional. Frente a teoria
exposta, é vista a relevância que este gestor possui no âmbito educacional,
influenciando além de outros elementos, a organização do trabalho pedagógico do
professor. Por este motivo, autores como Libâneo (2006) e Saviani (2007) questionam
o espaço que a gestão escolar assumiu nesta formação unificada, que acontece após
a instituição das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia em
2006, prevendo a docência como base e, sendo assim, a gestão escolar como uma
função em segundo plano.
Pressupõe-se que é importante que este aluno em processo de formação entre
em contato com os delineamentos desta teoria, para compreender de forma
significativa, como esta chegou a sua configuração atual, fator este que irá nortear sua
prática ao exercer a função. Em pesquisa realizada por Abdian, Hojas e Oliveira
(2012), que também faz parte do grupo de pesquisa ao qual se insere o presente
trabalho, pode ser averiguada, dentre outras questões, a visão de diversos diretores
de escolas da rede pública do Estado de São Paulo, e também de docentes do Curso
de Pedagogia sobre esta formação do pedagogo gestor frente à instituição das
Diretrizes em 2006. São questionadas as influencias desta formação única do
Pedagogo frente à forma de provimento do cargo, bem como à própria atuação do
diretor na escola.
Dentre os pesquisados, vale destacar a fala de uma docente do Curso de
Pedagogia de uma Universidade pública no interior de São Paulo sobre suas
percepções no que diz respeito a esta formação, que nos dias atuais, se faz sem as
habilitações. Justifica-se esta pertinência, considerando a discussão que se pôs em
parágrafos anteriores sobre o questionamento de alguns autores sobre o espaço da
gestão na nova formação. Diferente das visões teóricas trazidas, a docente enfatiza a
necessidade de o gestor escolar ter o conhecimento teórico acerca do todo que se
constitui as instituições de ensino, afirmando que:
Na verdade, a configuração anterior (com as habilitações) revelava isso. Revelava que você podia formar o docente separado do gestor. Então, uma coisa era a formação do docente, outra coisa era a formação do gestor. Quando nós conseguimos trazer a Gestão como um todo - Administração, Supervisão e Orientação educacional - para o corpo do curso, foi uma conquista importante. Porque, de que adianta nós termos um diretor muito bem formado nos princípios da participação democrática, um técnico muito especialista no âmbito da motivação dos participantes, capaz de envolver os seus docentes nas discussões do projeto pedagógico da escola, envolvimento deles para que eles tenham uma visão da escola como um todo, não só da sua turma, não só da sua disciplina, mas tenham isso, etc., ele não vai conseguir isso se esse profissional, na sua formação, não discutiu essas questões da Gestão e da Administração? (ABDIAN, HOJAS E OLIVEIRA, 2012, p. 5)
A visão desta docente quando colocada frente a de teóricos que discutem a
formação do Pedagogo após a publicação das Diretrizes Curriculares para o Curso de
Pedagogia, demonstra o embate que há nas discussões que se fazem atualmente
sobre a formação do gestor no referido curso.
Ao privilegiar uma formação única a este profissional, nota-se que o Curso de
Pedagogia considera a necessidade de um conhecimento amplo acerca das funções a
serem exercidas, ou seja, o pedagogo formado terá a base teórica de todas as
funções, independente da sua opção de atuação. Sabe-se que estas acabam se
articulando nas instituições de ensino, onde o trabalho do professor bem como o do
gestor visam um objetivo final comum em sua prática. No entanto, ainda que seja
relevante este conhecimento de forma plural, retorna-se a questão: se a docência é
vista como base da formação do pedagogo, qual o espaço que a gestão assumirá?
A presente pesquisa busca contribuir com a área acadêmica, por meio de seus
objetivos, analisando o espaço e a concepção de gestão presentes nos cursos de
Pedagogia de duas universidades públicas que reformularam seus currículos após a
publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais, em 2006. Para isto, serão
referenciados autores clássicos da administração escolar em tensionamento com as
diretrizes políticas educacionais de âmbito nacional e estaduais quanto à formação
inicial, função e forma de provimento do cargo do gestor escolar.
REFERENCIAS
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2 .ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.