A gaiola_interpretação_oracoes_coordenadas

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275 Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães Orações coordenadas Leia o poema a seguir, de Maria do Carmo B. C. de Melo, e responda às questões de 1 a 6. A gaiola E era a gaiola e era a vida era a gaiola e era o muro a cerca e o preconceito e era o filho a família e a aliança e era a grade a filha e era o conceito e era o relógio o horário o apontamento e era o estatuto a lei e o mandamento e a tabuleta dizendo é proibido. E era a vida era o mundo e era a gaiola e era a casa o nome a vestimenta e era o imposto o aluguel a ferramenta e era o orgulho e o coração fechado e o sentimento trancado a cadeado. E era o amor e o desamor e o medo de magoar e eram os laços e o sinal de não passar. E era a vida era a vida o mundo e a gaiola e era a vida e a vida era a gaiola. (Apud Alda Beraldo. Trabalhando com poesia. São Paulo: Ática, 1990. v. 2, p. 17.)

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c) Quero lhe apresentar um velho amigo. amigo de muito tempo, antigo

Nós temos em comum um amigo velho, muito sábio. muito idoso

d) Você deve entregar o requerimento no guichê certo. determinado, adequado, combinado

Certo dia, ele arrumou suas coisas e foi embora. não determinado, algum, qualquer

e) Qualquer pessoa pode participar da campanha. pessoa indeterminada; toda pessoa

Não considerou suas palavras, tratou-a como uma pessoa qualquer. comum, insignificante

4. Leia as frases abaixo, observando as palavras entre parênteses.

As mulheres gritavam. (só)Uma menina pobre batia à porta. (agora)Ela vai ao baile de formatura. (mesmo)

Reescreva cada frase de maneira que, por meio de colocações diferentes da palavra entre parênteses, sejam obtidos dois enunciados de sentidos distintos.

Orações coordenadasLeia o poema a seguir, de Maria do Carmo B. C. de Melo, e responda às questões de 1 a 6.

A gaiolaE era a gaiola e era a vida era a gaiolae era o muro a cerca e o preconceitoe era o filho a família e a aliançae era a grade a filha e era o conceitoe era o relógio o horário o apontamentoe era o estatuto a lei e o mandamentoe a tabuleta dizendo é proibido.

E era a vida era o mundo e era a gaiolae era a casa o nome a vestimentae era o imposto o aluguel a ferramentae era o orgulho e o coração fechadoe o sentimento trancado a cadeado.E era o amor e o desamor e o medo de magoare eram os laços e o sinal de não passar.E era a vida era a vida o mundo e a gaiolae era a vida e a vida era a gaiola.

(Apud Alda Beraldo. Trabalhando com poesia. São Paulo: Ática, 1990. v. 2, p. 17.)

Só as mulheres gritavam. (Apenas as mulheres, entre outras pessoas, gritavam.) / As mulheres só gritavam. (As mulheres não faziam outra coisa senão gritar...) / Agora uma menina pobre... (Neste momento uma menina pobre...) / Uma menina agora pobre... (Uma menina que ficara pobre...) / Mesmo ela vai... (Até ela vai...) / Ela vai mesmo ao baile de formatura. / Ela vai ao baile de formatura mesmo. (Ela vai com certeza ao baile...)

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1. O poema refere-se à vida cotidiana de uma pessoa e ao modo como ela se sente.

a) A pessoa em questão é homem ou mulher, adulto ou criança? Justifique com elementos do texto. Pode ser homem ou mulher; de qualquer forma, trata-se de um adulto, conforme revelam as referências a filhos e a compromissos sociais.

b) A experiência vivida por essa pessoa é apenas particular, pessoal, ou pode também representar uma experiência humana mais geral, de muitas pessoas? Justifique. Representa uma experiência geral, universal — não

que todos vivam desse modo, mas podem passar a viver assim, se não tomarem cuidado.

2. Tanto na 1ª estrofe quanto na 2ª são enumerados vários elementos da vida cotidiana dessa pes-soa. Esses elementos ora se referem à sociedade, ora ao relacionamento entre as pessoas.

a) Identifique no poema elementos ligados à vida social. Entre outros: preconceito, estatuto, lei, vestimenta, imposto, aluguel.

b) Palavras e expressões como orgulho, coração fechado, sentimento trancado a cadeado, amor, desamor, medo de magoar referem-se ao mundo interior, aos sentimentos. Como essa pessoa vive, do ponto de vista emocional? Vive fechada, sem troca de afeto e sem diálogo aberto com as pessoas de seu meio.

c) No final do poema há uma metáfora que resume a forma como essa pessoa vive e se sente. Identifique essa metáfora. A gaiola: “a vida era a gaiola”.

3. Releia o 1º verso do poema:

“E era a gaiola e era a vida era a gaiola”

a) Considerando-se que a gaiola representa o isolamento, a prisão, o que sugere a repetição da forma verbal era e da palavra gaiola? Enfatiza a ideia de que a vida era uma prisão.

b) Considerando-se que a pontuação é um recurso gráfico que serve para criar pausas e tornar mais organizado e claro o texto escrito, o que sugere a falta de pontuação do poema?

c) Observe que a palavra vida aparece entre duas ocorrências da palavra gaiola. A posição dessas palavras no verso confirma ou nega o conteúdo dele? Por quê? Confirma, pois é como se a própria palavra vida estivesse aprisionada pela palavra gaiola.

4. Na construção do poema, destaca-se uma conjunção coordenativa.

a) Identifique-a e classifique-a. É a conjunção coordenativa aditiva e.

b) Que papel essa conjunção cumpre normalmente? O papel de ligar palavras e orações.

c) Reconheça no texto exemplos desse papel desempenhado pela conjunção e.

d) Que efeito de sentido a repetição dessa conjunção produz no texto? Ela enfatiza a ideia de cotidiano massacrante, de que tudo se repete de forma infindável.

5. Ao contrário das conjunções adversativas, que expressam a ideia de oposição, as conjunções aditivas são empregadas para indicar soma, adição, união. Observe o emprego da conjunção e na construção do texto.

a) Nesse texto, a repetição da conjunção e contribui para dar a ideia de integração do ser huma-no com o mundo ou, ao contrário, para mostrar como as coisas do cotidiano se unem para oprimir o ser humano? Justifique.

b) No último verso do poema, mais uma vez é empregada a conjunção e: “e era a vida e a vida era a gaiola”. Contudo, considerando-se o significado da palavra gaiola no poema, que outro valor semântico pode ter a conjunção e, além do aditivo? O valor adversativo, como o de mas: “e era a vida, mas a vida era a gaiola”.

A repetição da conjunção e contribui para dar ao texto um sentido de oposição, de contradição entre o ser humano e seu meio social. Professor: Vale a pena chamar a atenção do aluno para o fato de que normalmente a conjunção e não tem esse valor semântico, mas no texto literário os valores gramaticais são relativizados em virtude da criatividade do autor.

b) Sugere que a vida da pessoa a que o texto se refere é confusa, sem pausas, sem possibilidade de descanso.

c) ligando palavras: “a família e a aliança”; “o orgulho e o coração fechado”; ligando orações: “e era a vida e a vida era a gaiola”

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6. A exemplo da poetisa, escreva você também um poema, fazendo uso constante de uma conjunção coordenativa, com a finalidade de reforçar determinada ideia. Sugerimos mas ou pois, porém escolha outra, se preferir. Professor: Ao final do exercício, peça aos alunos que leiam seu poema para a classe. Esta é uma boa oportunidade para a aplicação da gramática com finalidade estilística.

7. Leia estes versos, de uma canção de Renato Russo:

“Nas favelas, no Senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a Constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação”

O autor não empregou sinais de pontuação para dividir os períodos. Apesar disso, é possível delimitá-los pelo sentido. Levando em conta que há um verbo subentendido, pontue o texto e depois responda:

a) Quantos períodos há nesses versos? dois

b) Quantas orações há em cada período? Uma no primeiro e duas no segundo.

c) Classifique as orações do período composto. A primeira é coordenada assindética, e a segunda, coordenada sindética adversativa.

8. A conjunção mas só pode ser empregada no início de orações. Já outras conjunções adversativas, como porém ou entretanto, admitem mais de uma posição. Veja:

Ninguém respeita a Constituição, entretanto todos acreditam no futuro da nação.

Ninguém respeita a Constituição; todos, entretanto, acreditam no futuro da nação.

Ninguém respeita a Constituição; todos acreditam, entretanto, no futuro da nação.

Reescreva os períodos a seguir, empregando a conjunção adversativa em outras posições possíveis:

a) Sempre gostei de esportes, porém não tenho praticado nenhuma modalidade ultimamente.

b) Pretendíamos ajudá-lo, contudo não há recursos para isso.

9. A palavra nem é resultado da união da conjunção aditiva e e do advérbio não. Veja:

Não vou ao cinema e não vou ao teatro hoje.

Não vou ao cinema nem vou ao teatro hoje.

Observe agora esta frase:

Ele não visitou nossa casa até hoje e nem telefonou!

Com base na informação acima, responda:a) A conjunção e é necessária nessa frase? Não.

b) Por que então você acha que é comum o emprego de e nem em situações como essa? Para enfatizar a ideia.

Sempre gostei de esportes; não tenho, porém, praticado... / Sempre gostei de esportes; não tenho praticado, porém, nenhuma...

Pretendíamos ajudá-lo; não há, contudo, recursos para isso. / Pretendíamos ajudá-lo; não há recursos para isso, contudo.

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