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Universidade Federal do Pará Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós graduação em História Social da Amazônia ANDRÉ DA SILVA LIMA A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647). Belém 2006

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Universidade Federal do Pará Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós graduação em História Social da Amazônia

ANDRÉ DA SILVA LIMA

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Belém 2006

ANDRÉ DA SILVA LIMA

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA, (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Pará, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em História Social da Amazônia. Orientador: Profa. Dra. Magda Ricci e Co-orientador Prof. Ms. Décio Guzmán (DEHIS/UFPA).

Belém 2006

Dados internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca de Pós-graduação do CFCH-UFPA, Belém-PA-Brasil)

Lima, André da Silva “A Guerra pelas Almas: Alianças, Recrutamentos e Escravidão indígena, (do Maranhão ao Cabo do Norte, 1615-1647)” / André da Silva Lima; orientadora, Magda Maria de Oliveira Ricci. – 2006.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia, Belém, 2006. 1. Amazônia - Colonização- séc. XVII. 2. Índios - Colonização - Séc. XVII. 3. Amazônia - História - Séc.XVII. 4. Ecologia humana - Amazônia - Séc.XVII. I. Título.

CDD - 21. ed. 981.1

ANDRÉ DA SILVA LIMA

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Pará, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em História Social da Amazônia. Orientador: Professora Doutora Magda Ricci (DEHIS/UFPA). Co-orientador: Professor Mestre Décio Guzmán.

Data de aprovação ____/____/2006 Banca Examinadora: _________________________________________ Profa. Dra. Magda Ricci (Orientadora – Departamento de História/UFPA) _________________________________________ Prof. Ms. Décio Guzmán (Co-Orientador - Departamento de História /UFPA) _________________________________________ Profa. Dra. Denise Schaan (Departamento de Antropologia / UFPA) _________________________________________ Prof. Dr. Rafael Chambouleyron (Departamento de História /UFPA)

_________________________________________ Prof. Dr. Antonio Otaviano Vieira Júnior (suplente) (Departamento de História /UFPA)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente todas as pessoas que contribuíram diretamente para o desenvolvimento desta dissertação. Gostaria de agradecer, em particular, ao meu orientador e amigo Décio Gúzman pela sua atenção, dedicação e paciência que nesses anos teve comigo. Sem a sua atenção e estímulo desde o início dos trabalhos a pesquisa seria mais difícil e penosa.

Aqui também vai o meu carinho especial aos professores da Linha de História e Natureza: Magda Ricci, Leila Mourão, Aldrin Figueiredo, Rafael Chambouleyron e Antonio Otaviano Vieira Júnior, pelos comentários, dicas, sugestões de leituras, que enriqueceram o meu conhecimento e favoreceram o surgimento de idéias e elementos novos referentes ao meu tema.

Não deixaria de aqui agradecer o meu irmão Alam, que me acompanha, desde a graduação, dentro dessa maravilhosa ciência que é a História. Minha irmã Ana Lúcia pela revisão ortográfica do texto. O meu amigo Rogério Correia pela ajuda técnica na conclusão dos mapas. Além das bibliotecárias: Graça Santana, Edna Pinheiro e Fátima Teles pela paciência em atender os meus pedidos na biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Por fim agradeço a minha família e amigos, pelo incentivo e apoio em concluir esta dissertação.

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SUMÁRIO

Resumo............................................................................................ 7

Abstract ........................................................................................... 8

Lista de ilustrações.......................................................................... 9

Lista de quadros ............................................................................ 11

Introdução ..................................................................................... 12

Capítulo I

Da Colônia francesa à Conquista portuguesa do Maranhão:

As formas de tratamento dispensadas aos Tupis .......................... 19

Capítulo II

A Conquista Ibérica do Grão-Pará (1616-1620). ......................... 61

Capítulo III

Os “Homens do Norte” mudam a paisagem do

Rio das Amazonas....................................................................... 113

Capítulo IV

A Conquista portuguesa do Amazonas ao Cabo do Norte ......... 173

Conclusão.................................................................................... 256

Bibliografia ................................................................................. 262

Anexo

Glossário de palavras Tupi.......................................................... 268

Glossário de termos militares...................................................... 271

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RESUMO

Esta dissertação discute a conquista e colonização da Amazônia do século XVII partindo dos diferentes planos de ocupação da região feitos por franceses, ingleses, irlandeses, holandeses e ibéricos (espanhóis e portugueses). O encontro desses projetos colonizadores na foz do Amazonas transformou o antigo modo de vida dos indígenas, por meio de práticas diferenciadas de tratamento, dentre elas destaco às alianças e o recrutamento para fins militares. O estudo é baseado em documentação manuscrita, algumas de publicações inglesas, outras do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino; documentos impressos dos Anais da Biblioteca Nacional e dos Anais do Arquivo Público do Pará. A dissertação procura explicar as razões pelas quais os grupos indígenas participaram das guerras de conquista e as conseqüências dessa participação para o extermínio, escravidão e migração de alguns grupos ou assimilação de outros no processo de colonização da região. Palavras-chaves: Conquista, formas de tratamento, Indígenas, Amazônia, século XVII, Amazônia, Brasil Colônia.

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ABSTRACT

This dissertation discusses the conquest and settling of the Amazon of XVII century leaving of the different plans of occupation of the region made by Frenchs, English, Irishs, Dutches and Iberians (Spanishs and Portugueses). The meeting of these projects settlers in the estuary of “Amazonas” transformed the old way of life of the aboriginals, by means of practical differentiated of treatment, amongst them I detach to the alliances and the conscription for military ends. The work is based on written by hand documentation, some of english publications, others of the collection of the “Arquivo Histórico Ultramarino”; documents printed matters of “Anais da Biblioteca Nacional” and “Anais do Arquivo Público do Pará”. The dissertation looks for to explain the reasons for which the aboriginal groups had participated of the wars of conquest and the consequences of this participations for the extermination, slavery and migration of some groups or assimilation of others in the process of settling of the region. Word-keys: Conquest, treatment forms, Aboriginal, Amazon, XVII century, Amazon, Brazil Colony.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Execução de prisioneiro no ritual Tupinambá ..................................23

Figura 2

Bordunas ou Clavas Tupis ................................................................25

Figura 3

Flauta de osso humano......................................................................26

Figura 4

Mapa Mundi de Pierre Desceliers de 1546.......................................29

Figura 5

Mapa da expedição de Ravardière contra os Caramapins ................47

Figura 6

Mapa do Maranhão de João Texeira Albernas de 1615 ...................55

Figura 7

Mapa do Atlas de “Le Testu” de 1556..............................................73

Figura 8

Mapa de Pierre des Vaux de 1613 ....................................................74

Figura 9

Gravura de Aldeia Tupinambá .........................................................84

Figura 10

Combate Indígena com armas de fogo .............................................93

Figura 11

Mapa da região entre o Maranhão e o Pará feito por Cochado ......100

Figura 12

Mapa dos Grupos indígenas do século XVII..................................116

Figura 13

Tipos de Bordunas das Guianas......................................................119

Figura 14

Arcos e flechas das Guianas ...........................................................120

10

Figura 15

Mapa de Cantino de 1502 ...............................................................127

Figura 16

Mapa de Walter Raleigh .................................................................130

Figura 17

Tupinambás com “croissants de ouro” ..........................................133

Figura 18

Mapa de Levinus Hulsius de 1599..................................................134

Figura 19

A mais bela paisagem do Mundo....................................................137

Figura 20

Raleigh no Orenoco ........................................................................138

Figura 21

Mapa de Bartolomeu Velho de 1561 ..............................................181

Figura 22

Mapa “Taboa Terceira” de Antonio Cochado de 1623 ..................196

Figura 23

Mapa das batalhas e povoações entre 1612-1623...........................201

Figura 24

Mapas sobrepostos de Antonio Cochado de 1624..........................213

Figura 25

Mapas das colônias e aldeias atacadas entre 1624-25 ....................233

Figura 26

Mapa das colônias e aldeias atacadas entre 1625-46......................243

Figura 27

Mapa chamado: “Marítima Brasiliae Universae”, de 1643............. 250

Figura 28

Mapa do “Atlas Major” de Guilherme Blaeus de 1662........ ..........255

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Aldeias do Maranhão com seus chefes principais e descrição da aldeia, segundo as impressões dos padres D’Abbeville e D’Evreux.................................... .....................26 Quadro 2 Adeias do Cumã com seus chefes principais e descrição do local .............................. 87 Quadro 3 Povoações Inglesas e Holandesas no Amazonas em 1623........................................ 200 Quadro 4 Comparação dos dados de Luiz Figueira e Bernardo Del Carpio ............................. 222

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Introdução

Esta dissertação é fruto de uma grande transformação do meu pensamento sobre o

passado regional, em especial sobre os grupos humanos que habitavam as terras amazônicas

antes do primeiro europeu aqui chegar. Os povos indígenas estavam longe de minha vida

quando imaginei fazer os primeiros esboços de um projeto de pós-graduação. Pensava em

escrever um estudo dentro de uma linha, considerada hoje, por mim, tradicional, estudando as

fortificações estrangeiras entre o Amapá e o Amazonas.

A virada deste meu modo de ver o mundo colonial e os indígenas veio com os

trabalhos arqueológicos na Alça rodoviária do Estado do Pará1, realizados entre 2000 e 2002,

junto aos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi. O contato direto com os vestígios

do passado, escondido sob raízes e camadas de solo, e o desconhecimento das populações que

encontravam ou que pisavam diariamente naqueles materiais cerâmicos e líticos me levou a

refletir como a conquista e colonização mudaram tudo que existia até então, ao ponto de

muitas comunidades não reconhecerem e negarem o seu passado indígena.

Durante a pesquisa bibliográfica e documental encontrei várias divergências,

principalmente entre os autores mais antigos. Poucos citavam os indígenas no processo de

colonização, e acho que isso acabou sendo passado aos estudantes que, de uma forma geral,

vêem os indígenas muito distanciados do seu cotidiano, da sua ancestralidade, e não percebem

a grande contribuição que eles deram para a sociedade brasileira.

A marginalização do indígena na sociedade atual interliga-se a seu

desconhecimento no passado. Não se reconhecendo como descendentes de índigenas, não

cobram o direito às terras em que vivem, ficando a mercê da pressão latifundiária e de

grileiros. Esta postura vem sendo alterada em relação a outros segmentos nacionais também

discriminados, como o negro, cujo engajamento político é mais evidente e cujas lutas têm

levado a um debate nacional sobre os seus direitos na sociedade.

O tratamento dispensado aos indígenas atuais, contudo, vem de longe e pode ser

identificado na forma como nós historiadores e outros pesquisadores em ciências humanas

elaboramos sua história. Alguns autores, que se dedicaram aos estudos indígenas, destacavam

1 A alça rodoviária é uma rodovia que interliga e diminui a distância entre Belém e as regiões do Acará e do Mojú. Dentro do seu percurso foram catalogados inúmeros sítios arqueológicos que foram investigados pelos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi. MARQUES, Luiz Fernando Tavares. Pesquisa Arqueológica na área da Alça Rodoviária do Estado do Pará (Relatório Final). Belém: MPEG, 2004.

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a escravidão e servidão, como formas de tratamento aos chamados “gentios” 2.

Evidentemente, todos esses estudos históricos eram fruto de diferentes correntes de

pensamento historiográfico, inseridos no seu tempo, e aqui não caberia uma discussão mais

profunda sobre os mesmos. Outras formas de tratamento, entretanto, ainda carecem de um

aprofundamento. O “recrutamento”, por exemplo, aparece em alguns artigos e livros sem uma

definição clara do que significa, sendo substituto de outras palavras como “aliança”3. Percebi

então, que com o estudo do contato dos indígenas com os europeus, essas outras formas de

tratamento, principalmente as alianças e o recrutamento, ficariam bem mais definidas e

contribuiriam para uma melhor discussão da temática.

Associá-los era uma idéia, contudo faltavam as fontes. Esse problema foi

resolvido utilizando fontes documentais inglesas, de um livro editado por Joyce Lorimer

sobre as colônias inglesas, holandesas e irlandesas no Amazonas. Juntando essas fontes

escritas com outras, do Projeto Resgate Barão do Rio Branco, que contém o acervo do

Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, e outras avulsas, publicadas pela Biblioteca

Nacional, Biblioteca do Senado Federal, pude montar esta dissertação que discute um tema

central para a história indígena, mutifacetando a história da colonização na região.

O projeto, antes restrito ao Cabo do Norte, passou depois a abranger também o

Pará e Maranhão. Isso porque entendi que um estudo que não visualizasse as formas de

tratamento dos franceses não explicaria satisfatoriamente uma das principais motivações

presentes nas chamadas revoltas indígenas Tupinambás contra os portugueses nos anos

imediatamente posteriores à conquista lusitana da Amazônia.

Como falar sobre as formas de tratamento dadas aos indígenas durante a conquista

do Norte do Brasil? Esta foi a pergunta chave que me inquietou, por algum tempo, antes de

fazer as primeiras linhas desta dissertação. Dentre aquilo que considero formas de tratamento,

que podemos encontrar tanto nas fontes quanto na bibliografia sobre mão-de-obra indígena,

2 Um exemplo desse tipo de pesquisa a qual me refiro foi feita por Beatriz Perone-Moisés, que irei abordar mais adiante, no segundo capítulo. PERONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e Índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI e XVIII). In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. 3 Neste caso refiro-me aos trabalhos de Ricardo Roque “Poder e ação, coisas e sujeitos na pratica cientifica: um caso de antropologia colonial do século XIX”, e de Maria de Nazaré Ângelo-Menezes “Aspectos conceituais do sistema agrário do vale do Tocantins Colonial”, onde a palavra “recrutamento” também é utilizada no tratamento aos grupos indígenas ou nativos. ÂNGELO-MENEZES, Maria de Nazaré. Aspectos conceituais do sistema agrário do vale do Tocantins Colonial. In: Cadernos de Ciência e Tecnologia. Vol.17, n.1, Janeiro-Abril, Brasília, 2000, pp.91-122. Também em: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os Guarani: índios do Sul – religião, resistência e adaptação. In: estudos Avançados, vol.4, n.10, Setembro-Dezembro. São Paulo, 1990, pp.53-90.

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algumas são bastante explícitas e conhecidas, tais como a escravidão. Outras nem tanto, como

as alianças e o recrutamento.

Para entender, todavia, como era esse tratamento diferenciado nas terras do Norte,

tanto por parte dos franceses no Maranhão, quanto por outros europeus, (tais como ingleses e

holandeses, além do dispensado pelos portugueses no Grão-Pará), preferi fazer uma análise

quando possível anterior à chegada dos mesmos na dita região. Tendo como referencial as

pesquisas em antropologia e arqueologia, busco mostrar, no estudo das fontes documentais,

como funcionaram, na prática, os tipos de relacionamentos característicos em cada sociedade

nos seus momentos iniciais4.

Neste sentido, o estudo de Patrícia Seed serviu-me de inspiração no que se refere

ao tipo de abordagem. As cerimônias de posse do novo mundo levaram-na a um

diferenciamento das formas cerimoniais praticadas por franceses, ingleses, espanhóis,

portugueses e holandeses ao aportarem em terras americanas5. No caso de minha dissertação

não são as cerimônias de posse o objetivo primeiro, mas as formas de tratamento dadas pelos

europeus aos grupos indígenas com o objetivo de enquadrá-los no processo de ocupação e

conquista da região amazônica. A meu ver, estas formas são variantes, em maior ou menor

grau, dependendo da região submetida e das culturas em contato.

No capítulo inicial pretendo ater-me às formas de tratamento dos grupos indígenas

presentes na conquista do Maranhão, primeiro com os franceses. Estes se relacionavam com

os Tupinambás (principal grupo contactado), por meio de alianças inconstantes e depois

permanentes com os chefes das aldeias; seguido em paralelo a um recrutamento voluntário e,

ao mesmo tempo, praticando uma escravidão dos grupos indígenas inimigos como nos

atestam os missionários Yves D’Evreux e Claude D’Abbeville, além de outros documentos.

Ainda neste capítulo trato da conquista do Maranhão pelos portugueses e seus

aliados Tupis, originados do Nordeste; no interior deste assunto, viso também o tratamento

dispensado pelos portugueses a esses grupos recrutados oficialmente e a sua postura com

relação às aldeias do Maranhão, as alianças inconstantes e permanentes dos portugueses e

indígenas, mas com diferenciais no recrutamento por eles praticados. A exposição e análise

4 Como comentei na introdução da dissertação as dificuldades de interpretação por conta das barreiras lingüísticas impediram um aprofundamento maior da origem das formas de tratamento empregadas por alguns europeus tais como os Irlandeses e holandeses. Para suprir esta deficiência utilizei as bibliografias disponíveis em inglês ou já traduzidas para o português. 5 SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). São Paulo: Editora UNESP, 1999.

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desses temas serão importantes para entender as causas da derrota militar da França

Equinocial por meio de sua estrutura e funcionamento.

Ao final deste capítulo, tratarei das assimilações e resistências dos indígenas a

outra forma de tratamento a eles dispensado, agora mostrando que ela foi uma estratégia em

parte espanhola e em grande parte portuguesa, já que ambos viviam a fase da União das

Coroas. Tentarei mostrar que também houve contatos importantes entre colonos portugueses e

indígenas, dentre estes especialmente os Tupinambás, antigos aliados dos franceses. Tais

grupos tomaram ora posições conciliadoras, como na reconstrução da fortaleza de São Felipe

(antes São Luis), ora posições de extrema violência, em particular, contra a prática da

escravidão efetuada por colonos portugueses.

No segundo capítulo irei destacar os preparativos da viagem ao Grão-Pará pelos

capitães portugueses encarregados de lutar contra os franceses no Maranhão, desde a escolha

do capitão mor e a sua tripulação, até a forma como deveria ser feita a conquista do território,

e de seus habitantes.

A chegada de Castelo Branco em 1616 e as primeiras alianças e recrutamentos

dos grupos Tupinambás da região do Grão-Pará serão mostrados através da construção da

fortaleza do Pará - conhecida depois como forte do presépio - onde houve grande participação

de indígenas locais. Depois, apresento o uso de recrutas nas companhias militares, onde

destaco os Línguas indígenas, usados para estabelecer os contatos com as tribos do tronco

lingüístico Tupi e das quais eles conheciam o dialeto.

Na segunda parte deste capítulo analiso a escravidão indígena e as primeiras

revoltas Tupinambás, na Conquista do Maranhão ao Grão-Pará, tendo como causas a forma de

tratamento dispensada aos indígenas dentro e fora das companhias militares, destacando a

escravidão dos grupos hostis a presença portuguesa.

As conseqüências dessas revoltas, que puseram em risco a própria conquista do

Pará, até a chegada da companhia militar de Bento Maciel Parente, serão os assuntos finais

desse capítulo. Encarregada de acabar com as lideranças da rebelião no Pará, esta Companhia

utilizará elementos indígenas de dentro e de fora da região nos seus recrutamentos. Neste

conjunto, ainda destaco as revoltas de Jaguará baior e Jaquitingua, antigos aliados dos

capitães portugueses que, partindo de dentro da companhia de Bento Maciel, provocaram o

pavor nas matas e aldeias do Grão-Pará.

Em seguida, faremos uma jornada ao outro lado da foz do Amazonas. Vamos

analisar a relação dos colonos irlandeses, ingleses e holandeses e seus vizinhos indígenas.

Estes estrangeiros colonizaram a Guiana, passando depois para o Cabo do Norte, bem antes

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da efetiva presença da colonização portuguesa, ocorrida a partir de 1616. Além das barreiras

lingüísticas e da carência de bibliografia complementar disponível, tivemos que trabalhar com

fontes de informações muitas vezes divergentes, confusas e pouco precisas.

Primeiramente, temos que entender que neste período o rio Amazonas ainda era

um mistério a ser desbravado. Para alguns navegadores, como Sir Walter Raleigh, o rio das

Amazonas, no início também chamado “Orelhana”, compreendia a região limítrofe da Guiana

- um vasto território que cobria toda a extensão, do Cabo do Norte (hoje Amapá), até o rio

Orenoco (atual território da Venezuela). Alguns cartógrafos confundiam sua foz com a do

Maranhão, ou ligavam os dois rios. Portanto, as fontes localizavam o rio em áreas que hoje

em dia não estamos acostumados a chamá-lo ou identificá-lo6.

Neste sentido, procuro descrever o modo como cartógrafos e geógrafos pensavam

o Amazonas nos séculos XVI, XVII, para oferecer ao leitor a chance de descobrir o modo da

lenta transformação desse pensamento sobre o rio e seus moradores, de acordo com as

explorações e a colonização, bem como as implicações que isso terá na efetiva conquista da

região.

Diversos documentos dos chamados “homens do norte” relatam viagens de

embarcações para o Maranhão com a intenção de explorar o que havia aí e negociar produtos

com as sociedades indígenas, embora muitos deles identificassem a região da Guiana como

pertencente ao rio Amazonas ou ligada a ele por meio de canais. Nestes termos, foram as

viagens exploratórias de Sebastian Cabot em 1553, e depois outras viagens com a mesma

finalidade, realizadas por John Legat em 1604 e 1606, e outros exploradores, até a conclusão

de um projeto de ocupação permanente e a construção de colônias defendidas por

fortificações sólidas, construídas pelas coroas de novas potências comerciais e marítimas

européias como Inglaterra, Holanda e França. Além dos projetos de ocupação oficiais, havia

os projetos particulares, como veremos a seguir.

Para estudar as formas de tratamento desses “estrangeiros” e sua relação

comercial com os grupos indígenas da região, busquei os estudos etnográficos dos grupos

existentes, naquele momento específico, entre o Cabo do Norte e a confluência dos rios

6 Para maiores detalhes destas formas de visualizar o Amazonas e a Guiana: OLIVEIRA, Roberto Monteiro de. Cartografia da Amazônia Colonial. Belém: UFPA, 2000. WHITEHEAD, Neil. Introduction. In: The Discoverie of the Large, Rich and Bewtiful Empyre of Guiana by Sir Walter Ralegh. Manchester: Manchester University Press, 1997, pp.1-117. E do mesmo autor: “The Patamuna Trees: Landscape and History in the Guyana Highlands”. In: IDEM (ed.). Histories and Historicities in Amazônia. Licoln: University of Nebraska Press, 2003, pp.59-77.

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Xingu, Amazonas e Tapajós. Parti primeiramente dos trabalhos de Curt Nimuendajú7, que fez

um mapeamento ainda incontornável dos grupos indígenas da região.

A seguir, fiz uma comparação das informações de Nimuendajú com o que haviam

descrito as fontes de informação etnohistóricas. Muitos nomes eram generalizantes, tais como

“Tapuizos, Tapuios, Tupinambás”. Outros estavam como os ingleses os reconheciam e

identificavam, tais como “Guiana”, “Tisnados”, “Supanes”, etc. Por fim passei a identificar

alguns desses grupos com base nas pesquisas dos etnólogos e antropólogos contemporâneos,

na cartografia comparada de ingleses, holandeses, franceses, espanhóis e portugueses e da

documentação existente nos arquivos das nações envolvidas8.

O tratamento que dispensaram aos grupos indígenas será o objetivo do capítulo,

ainda que a dificuldade com as fontes seja grande. O ponto de partida, retomando o que foi

abordado no primeiro capítulo, acerca da ocupação francesa no Maranhão, são as alianças, os

recrutamentos e a escravidão praticados por esses colonos franceses, ingleses, holandeses e

irlandeses com aval das lideranças indígenas com os quais comercializavam, muitas vezes

agindo contra outros grupos indígenas hostis a eles por serem aliados de portugueses e

espanhóis.

Termino essa parte da dissertação estudando os preparativos para a campanha de

expulsão desses “homens do Norte” (europeus do norte), pelos ibéricos, notadamente pelos

espanhóis sob o regime de Felipe IV, mas executados pelos colonos portugueses. Estudo

também os tratamentos dispensados por eles aos indígenas seus aliados e recrutados, assim

como seus inimigos. Será mantido, no entanto, a tentativa de fazer essa uma história pensando

nos colonizados e não nos colonos, com a certeza de que não se pode fazer uma sem se

desatrelar da outra, ou seja, podemos fazer uma história indígena partindo de fontes coloniais,

mesmo com todas as restrições que ela oferece.

Dentro desse aspecto, as fontes sobre o primeiro contato dos grupos, as trocas de

mercadorias, a construção das casas e fortificações desses colonos, com ou sem, participação

indígena, as formas de controle, treinamento e organização militar descritas, tudo isso foi de

grande valia para analisar as diferentes colonizações e suas implicações no mundo dos

ameríndios.

7 NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981. 8 Neste aspecto, devido a impossibilidade de consultar pessoalmente tais arquivos espalhados em muitos países como Holanda, Inglaterra e Espanha, utilizei principalmente as fontes publicadas pela pesquisadora Joyce Lorimer num trabalho sobre as colônias européias na Amazônia. LORIMER, Joyce (Ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.

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No capítulo final analiso o fim das colônias inglesas, irlandesas e holandesas,

tendo como perspectiva as nações indígenas que apoiavam cada colônia, e a interação desses

povos até a conquista portuguesa definitiva desse território, constituído das ilhas do

arquipélago marajoara, cabo do Norte e rio Amazonas.

Os primeiros ingleses que chegaram à região mostraram-se aventureiros

experientes, indo a lugares desconhecidos e contatando com a participação de vários povos

diferentes, viventes às margens do Amazonas e afluentes, desde o cabo do Norte (Amapá) até

o Xingu. Suas alianças com os povos Palikur e Karipuna eram pautadas no escambo de

mercadorias, como espelhos e contas que trocavam por animais, tabaco e gêneros da terra.

Eram alianças intermitentes ou temporárias onde os ingleses não exerciam papel

preponderante sobre o outro.

Deixavam as aldeias mais livres e as suas culturas bem pouco alteradas pela

ameaça que uma interferência direta poderia resultar na própria colônia e equilíbrio das

relações. Isso não quer dizer que ingleses eram melhores colonizadores que outras nações

como os portugueses, por exemplo. Na verdade, essa liberdade significava justamente o

contrário, uma aversão completa da outra cultura tida como inferior, selvagem, que serviam

apenas para servir a uma estratégica fixação no território e comercialização de seus produtos.

Contudo, a partir da fixação de colonos e da criação da “Amazon Company” essas

alianças tornaram-se permanentes e a interferência inglesa e irlandesa passou a ser constante

nos assuntos indígenas. Prova disso foi a propagação do cristianismo pelos irlandeses, e do

recrutamento de guerreiros contra os inimigos ibéricos (e outros possíveis inimigos como os

holandeses). Desse momento surgiram as primeiras fortificações para proteção das

plantations, dos colonos e como uma forma de pressão sobre os nativos como veremos nos

últimos capítulos mais detalhadamente.

Os principais rivais dos holandeses eram os católicos irlandeses, que se opunham à

criação das colônias holandesas nas suas proximidades. Contudo, após o fim da “Amazon

Company” pelo rei James I, os colonos ingleses e irlandeses que ficaram na região tiveram que

pactuar com os capitães holandeses a venda de suas produções de tabaco e outros gêneros na

Europa. Depois dessa companhia outras surgem com a mesma finalidade exploratória.

Os holandeses foram, por sua vez, os últimos a se estabelecer fixamente na região,

mas, quando o fizeram, logo montaram uma grande estrutura logística que incluía viagens

contínuas de grandes navios armados. Além disso, construíram fortalezas bem aparelhadas e

utilizaram muitas aldeias, notadamente dos grupos Aruã, para o trabalho nas suas plantações.

As mudanças provocadas com a introdução da WIC (Companhia das Índias Ocidentais

19

Holandesas) e as campanhas de ocupação e fixação no nordeste brasileiro também serão

exploradas neste capítulo.

Procuro explicar ao leitor, no último capítulo, mais detalhadamente, o

funcionamento das alianças e dos recrutamentos desses grupos indígenas frente à atuação de

novos elementos na região, com as campanhas militares dos portugueses, identificando as

divergências e as crises existentes entre os ingleses, holandeses, irlandeses e os seus aliados

indígenas, e como isso foi importante para a saída desses colonos do rio Amazonas, no final

da primeira metade do século XVII. Por outro lado, procuro mostrar que as campanhas

portuguesas seguiram lógicas diferentes em três momentos distintos, até conseguirem, na

última fase da guerra, montar uma estratégia de luta que envolvia primordialmente os

indígenas, não mais como “buchas de canhão”, mas como povoadores e defensores de suas

terras, tendo ao seu lado os missionários para libertá-los dos “pagãos” e “hereges”.

Esta dissertação, portanto, busca enfatizar como as disputas entre os colonos

ingleses, franceses, holandeses, irlandeses e os conquistadores ibéricos, acirraram e

influenciaram as lutas intertribais, contribuindo para a extinção e aculturação de vários grupos

indígenas, obrigando migrações de grupos para regiões distantes de sua origem. Portanto esta

dissertação foge ao senso preponderante nos estudos coloniais que chamaríamos de mais

“nacionalistas” (que estudam os portugueses como antecedentes dos brasileiros e da pátria,

formada apenas séculos depois). A dissertação é relevante para se entender que para os povos

indígenas o processo de conquista não foi visto de forma homogênea e suas formas de

exploração do trabalho, embora sempre exploratória utilizavam-se de técnicas muitas vezes

ímpares.

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CAPÍTULO I

Da Colônia Francesa à Conquista Portuguesa do Maranhão: as

formas de tratamento dispensadas aos Tupis:

Atualmente alguns autores, entre os quais Carlos Fausto, discutem a possibilidade

dos Tupinambás citados nas fontes ethnohistóricas serem “sinônimos do tronco lingüístico

Tupi”. Para esses autores as grandes semelhanças culturais e religiosas seriam as causas dessa

generalização. Entretanto, Carlos Fausto admite que, dentre os Tupis, havia tribos que podiam

ser caracterizadas como legitimas tribos Tupinambás9.

Os Tupinambás “ditos legítimos”, para esses autores, viviam margeando o litoral

brasileiro e muito pouco se sabe de seu modo de vida anterior à conquista européia, posto que

são raros os vestígios arqueológicos que podem ser atribuídos a esses grupos. Sabemos,

contudo, que foram identificados na região do Rio de Janeiro e Santos, onde ficaram em

contato com os franceses na época de sua ocupação. No nordeste, foram inimigos de outros

grupos (Potiguar, Caeté, entre outros), e por isso acabaram migrando por causa das guerras

para o norte até a região que compreende o Piauí, Maranhão e Pará. No Maranhão, teriam

estabelecido novamente contato com os franceses que fundaram a França Equinocial na ilha

de São Luis10.

9 Sobre a terminologia Tupinambá, Carlos Fausto a utiliza como forma genérica para designar o conjunto do tronco lingüístico Tupi da costa brasileira. No entanto, para um estudo da distribuição espacial dos grupos acaba separando os Tupinambás dos outros grupos Tupis. De sul para norte identifica os Carijós (Guarani), Tupiniquins, Tupinambás (Tamoios, do norte de São Paulo até Cabo Frio e Vale do Paraíba), Termomino, Tupiniquins, Tupinambás (recôncavo baiano até o São Francisco), Tupinaié, Kaeté, Potiguar, Tupinambás (Maranhão, Pará e Médio Amazonas). O por quê dos colonizadores discriminarem os tupis da costa ainda parece ser uma pergunta difícil de responder. Para Fausto isso acontece por vários fatores citados: as informações contraditórias dos cronistas, desconhecimento da etimologia dos seus nomes (tipo Tabajara), e por fim a propensão dos cronistas em enfatizar as semelhanças e não as diferenças. Contudo, essa discriminação em castas, nações, bandos e gerações, acabou facilitando a dominação européia, que explorou suas rivalidades para obter o seu auxilio contra outros grupos, inimigos comuns. Para Carlos Fausto, isso para os portugueses servia a dois propósitos importantes: a compra de escravos das “nações” amigas e as expedições militares conjuntas. FAUSTO, Carlos. Fragmentos de história e cultura tupinambá: da etnologia como instrumento critico de conhecimento etno-histórico In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, pp.383-85. 10 Existe uma controvérsia sobre as migrações dos grupos Tupis. Para alguns autores, os Tupinambás do Rio de Janeiro não eram os mesmos grupos que ocuparam o nordeste e depois o norte, apesar de terem chefes com idade avançada que afirmavam ter estado naquela região. Sobre esse processo de expansão Tupi existem dois modelos explicativos citados pelo autor Carlos Fausto e que seriam os mais aceitos. O primeiro, proposto inicialmente por Alfred Métreaux em 1927, sugere que a migração desses povos aconteceu do sul para o norte acompanhando a bacia Paraná-Paraguai, onde Tupinambás e guaranis se separaram. O segundo, proposto inicialmente por Brochado em 1984, segue a interpretação dos dados arqueológicos e inverte o sentido da ocupação tupinambá. Nessa hipótese os dois teriam se originado de um nicho comum amazônico, depois rumado por caminhos diferentes: os proto-guaranis rumado pelo sul via Madeira-Guaporé e chegado ao rio Paraguai; e os proto-

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Na época da chegada da missão dos capuchinhos (1613-1615), entre os quais

vieram Yves D’Evreux e Claude D’Abbeville, existiam 27 grupos indígenas em toda a ilha de

São Luis, contando algumas com 200 e outras com 600 habitantes aproximadamente. No total

existiam na época dos franceses morando na ilha entre 10.000 e 10.200 Tupinambás11.

Viviam da pesca no mar aberto e nos rios, onde obtinham pescados e mariscos

diversos. Com a sua penetração para o interior a caça de animais pequenos e médios (pacas,

tatus, veados, capivaras), passou a fazer parte da sua dieta. Sua base alimentar, no entanto,

eram os tubérculos como a mandioca, da qual faziam a farinha (uí), mingau (migan), e beijus

(ionquer), além das bebidas fermentadas (cauim-eté ou Caracu). Das frutas, o caju era

apreciado para fazer outra bebida fermentada (caju-cauim).

Com a chegada dos europeus em 1500 aumentou a variedade de fontes de

informação mostrando os traços de sua cultura, embora salientem os mais sinistros, como a

antropofagia. Uma dessas fontes, Hans Staden artilheiro alemão, esteve como escravo dos

Tupinambás por volta de 1550, no litoral do Rio de Janeiro e descreveu muito das práticas

culturais adotadas, entre as quais, o sacrifício ritual e a antropofagia.

Do ponto de vista etno-histórico, os estudos que melhor definem a sociedade

Tupinambá foram feitos por Alfred Métraux e Florestan Fernandes. Eles agruparam fontes de

informação quinhentistas e seiscentistas que possibilitaram ver alguns de seus traços ainda

não influenciados pela cultura ocidental.

A sociedade Tupinambá era vista por muitos autores, entre os quais Alfred

Métraux, como uma sociedade de guerreiros caçadores que tinham na chamada “vendetta”, as

guerras de vingança, o motivo para as suas vidas e suas mortes12. No entanto, para Florestan

Fernandes, a guerra era muito mais que simples vingança, era uma forma de alcançar o

equilíbrio social quando o seu complexo conjunto de articulações sociais era perturbado13.

Isso geralmente ocorria quando alguém morria pelas mãos dos inimigos. Então a guerra

tupinambá teriam descido o amazonas até a sua foz e expandindo-se pelo litoral no sentido oeste-leste e depois norte-sul até serem barrados no sul pelos Guarani (p.382). Contudo afirma o autor que não há nenhum sitio datado atribuído aos tupinambás entre a foz do Amazonas e o Rio Grande do Norte, apesar de terem relatos de cronistas como D’Abbeville, D’Evreux e outros, o que segundo Fausto “acaba servindo para tornar ainda complicado e movediço esse aspecto migratório” (p.382). Para maiores detalhes sobre a migração dos Tupis ver Carlos Fausto. FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, pp.381-96. 11 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.188. 12 MÉTRAUX, Alfred. A Religião dos Tupinambás e suas relações com a das demais Tribus Tupi-Guaranis. Coleção Brasiliana, série 5ª, vol. 267. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1950. 13 FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambás. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948, p.103.

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(chamada por ele de “reinvidita”), era a única forma de restabelecer “o estado de euforia

social e a normalidade da vida tribal”, ainda que o grupo tivesse que fazer uma série de

arranjos depois para alcançar essa normalidade14.

Sua organização social pedia a preparação dos homens para a guerra e das

mulheres para o casamento e procriação. No caso dos homens estes somente passavam a ser

úas e tinham o direito a se casar quando passavam pelo ritual de sacrifício de um inimigo

capturado, que podia ser preso pelo mesmo ou por um parente próximo como o pai.

O ritual começava com a captura do inimigo e sua escravidão na aldeia. Essa

escravidão permitia a livre circulação do cativo e até permitia que tivesse uma companheira

na tribo até o dia do seu sacrifício, que era marcado pelos mais velhos da aldeia, com base na

germinação de alguma planta ou fruto.

No dia estipulado, o iniciado (sacrificante) vestia o traje ritual: cocar de penas de

araras e diadema também ornamentado de penas, colar, braceleira e perneira também com

penas e cinta ornamentada com penas de emas nas ancas, além de um tacape. Ao chegar no

centro da aldeia, o capturado estava amarrado pelo quadril e seguro por dois outros guerreiros.

Ao contar seus feitos e virtudes, ele dizia que comera em sacrifício muitos daquela aldeia no

passado e prometia que os seus se vingariam também. Ao final, o sacrificante expunha que

vingaria os seus parentes mortos e daí lançava duas ou três pancadas na cabeça da vítima até

quebrar o crânio. Retirava-se para sua maloca e ficava em abstinência total até terminar os

ritos fúnebres. Os outros repartiam o corpo e o moqueavam, exceto a cabeça, que cortavam e

levavam ao sacrificante para extrair os nervos dos olhos e o lábio para usar como adereço. Os

dentes também eram usados em colares. Nesse dia ele escolhia um nome a ser adotado e

também era tatuado com uma figura que identificava quantas vezes fizera esse ritual. Com o

tempo, essas tatuagens serviriam para indicar o número de pessoas que o guerreiro sacrificou,

sendo isso muito importante para o seu prestigio enquanto caçador e guerreiro, para conseguir

novas mulheres jovens e para participar do conselho da aldeia.

14 Dentro dessa lógica de Florestan Fernandes os Tupinambás deviam redefinir suas relações com o morto atribuindo-lhe um novo status nas cerimônias fúnebres. Deviam substituir o morto ou compensar a perda do morto com um escravo para sacrifício compensatório. Restabelecer os laços intragrupais e intratribais de compromissos e solidariedade recíprocos. In: FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambás. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948, p.104-107.

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Figura 1

Execução de prisioneiro no ritual Tupinambá. In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966.

Esse ritual geralmente acontecia quando se capturava um escravo, ou quando, por

ventura, esse escravo tinha um filho com uma das mulheres da aldeia, que era igualmente

sacrificado. Contudo, apenas depois do primeiro rito é que o jovem guerreiro podia casar e

constituir família.

Os Tupinambás eram poligâmicos, podendo ter muitas mulheres, conforme o seu

prestígio na aldeia. Geralmente os tios casavam com as sobrinhas, pois consideravam o tipo

de casamento ideal. Quanto mais filhos tivessem as esposas, mais eram prestigiadas. E

quando mais velhas as mulheres eram substituídas por outras mais novas.

A liderança do grupo cabia aos mais velhos (Gerontocracia), no entanto era uma

liderança apenas nos assuntos mais importantes, como a guerra com outros grupos ou para

definir os rituais. Os pajés normalmente eram idosos que detinham poderes especiais de cura,

vidência e conversavam com os antepassados. Se tivessem êxito, eram bem vistos e

respeitados. Contudo, se erravam, caiam em descrédito perante os outros mais velhos da

aldeia.

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Sendo a guerra a principal atividade de conquista de escravos para o sacrifício dos

ritos de passagem dos jovens guerreiros, as aldeias próximas tenderiam a ser alvo de conflitos.

No entanto, elas aparecem às vezes como aliadas. Um aspecto não explicado da vida

Tupinambá por Florestan é o canibalismo com os grupos não-Tupinambá, pois sendo de uma

outra cultura o escravo não aceitaria ser sacrificado. Poderia nem haver ritual sendo apenas a

guerra uma forma de disputa por territórios15.

Para Florestan, quando havia uma divergência séria entre as famílias, havia a

guerra e os capturados, igualmente sacrificados. Sendo assim, toda aldeia era uma inimiga em

potencial da outra e, portanto, poderia ser atacada16.

Suas armas também foram estudadas por Florestan, bem como a função social da

guerra para os Tupinambás. Na sua tese, as armas foram classificadas dentro das seguintes

categorias: as armas de tiro; armas de choque; armas de proteção, além dos acessórios do

equipamento do guerreiro17.

As armas de tiro: são basicamente os arcos e flechas. Os arcos eram de madeira

negra, de difícil distensão, ornamentados com palmas trançadas em mosaico de palha e

plumas nas pontas. A corda era de algodão ou fibra de tucum pintada de vermelho ou verde.

As flechas tinham 1,60 m e o cabo era de cana sem nós.

As flechas eram perfurantes, incendiárias, lacrimogêneas e envenenadas: as

flechas perfurantes variavam em sua forma, mas no geral eram feitas para furar camadas

espessas de pele como a dos jacarés e queixadas; as flechas incendiárias tinham na ponta um

maço de palha ou algodão, onde ateavam fogo antes de lançarem com a finalidade de expulsar

os inimigos das suas proteções ou casas; as flechas de pimenta, também eram incendiárias,

contudo tinham na ponta folhas de pimenteira que quando queimadas sua fumaça provocava

efeito lacrimogêneo no inimigo fazendo-o deixar sua posição. Por fim, as flechas

consideradas envenenadas, na verdade não tinham bem esse objetivo, posto que se

aproveitavam os esporões de arraias e dentes de tubarão para a feitura de suas pontas. O

ferimento dessas flechas infeccionava gerando o efeito de veneno.

15 Carlos Fausto não concorda com Florestan Fernandes sobre a necessidade da “revindita” como forma de restaurar a unidade espiritual da tribo abalada com a morte de um parente pela tribo inimiga. Para o autor o sacrifício acontece para conseguir “mais valia” que era o prestigio, as mulheres e demais vantagens dadas tanto ao matador quanto aos seus mais próximos. FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, pp. 392-96. 16 FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambá. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948, pp.59-74. 17 FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, pp.21-39.

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As armas de choque: eram os porretes ou clavas, designação dada por Fernandes,

que eram usadas para esmagar o crânio do adversário. Estavam presentes na tradição

ritualística do canibalismo, pois eram as armas usadas para matar o prisioneiro.18

Nas armas de choque não aparecem os machados de pedra dentre os descritos por

Florestan. Há apenas uma menção deles numa nota de pé de página, apesar de aparecerem

muitas vezes na documentação do Arquivo Histórico Ultramarino e do Arquivo Público do

Pará. As lâminas em pedra também aparecem muito nos sítios arqueológicos, mas seu uso na

guerra até então é pouco conhecido, podendo estar mais associado aos trabalhos com madeira

e de uso cotidiano, do que militar.

Figura 2

Bordunas ou Clavas Tupis. In: DAM-MIKKELSEN, Bente & LUNDBAEK, Torben. Ethnographic Objects in The Royal Danish Kunstkammmer 1650-1800, nationalmuseet: Copenhague, 1980, p. 32.

Dentre as armas de proteção: cita Florestan Fernandes, o uso de escudos feitos de

casco de tartaruga e outros materiais, sendo identificados nas gravuras de Hans Staden.

Dos acessórios, temos as plumas de emas e as pinturas corporais, adornos de

dentes dos adversários e de animais como a onça, além de flautas feitas de ossos humanos e

tambores usados nas incursões guerreiras para acompanhar os cânticos de guerra.

18 Segundo Fernandes existem dois exemplares dessas armas em museus da Europa. um no Museu Etnográfico de Berlim e outro no Museu do Trocadero, em Paris. In: FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, p.31. Os exemplares mostrados na figura 2 são provenientes do Royal Danish Kunstkammer, que funcionou de 1650 à 1800. In: DAM-MIKKELSEN, Bente & LUNDBAEK, Torben. Ethnographic Objects in The Royal Danish Kunstkammmer 1650-1800, nationalmuseet: Copenhague, 1980, p32.

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Figura 3

Flauta de osso humano. In: DAM-MIKKELSEN, Bente & LUNDBAEK, Torben. Ethnographic Objects in The Royal Danish Kunstkammmer 1650-1800, nationalmuseet: Copenhague, 1980, p. 20.

Na ilha de São Luis, na época da visita de D’Evreux e D’Abbeville (1613-1615),

existiam as seguintes aldeias e seus respectivos chefes:

Quadro 1

Aldeia Localização/ Descrição Chefes

Timboú

Localizava-se na ponta de terra da ilha de São Luis, próximo ao local do desembarque dos missionários D’Evreux e D’Abbeville.

Tinha dois chefes ou principais: Uaruma-Uaçu (nome da árvore e dos ramos com que fazem peneiras para farinha) e Sauçuacã “cabeça de corça”.

Itapari Local de currais de peixe.

Tinha dois chefes: Metarapua “pedra branca” ou “caranguejo” e Auati “milho negro”.

Carnaupió Local de árvores Carnau.

Seus dois chefes eram Marcoia-Pero (nome derivado de um fruto amargo: morgoiaue) e Araruçaí “cauda de arara”.

Euaíne Local de água velha e turva.

Seus dois principais eram Uíra-Uassupinim (pássaro grande e caçador colorido) e Jereuuaçu (nome de uma ave).

Itaendaue Local cheio de pedras.

Seu único principal era Uaignon-Mondeuue, que significa “lugar onde se apanham pedras azuis”.

Araçuí-Ieuue Tem o nome de um pássaro. Seu principal chamava-se Tamano “pedra morta”.

Pindotuue

Seu principal chefe era Margoia-Pero, pois durante a época de D’Evreux e D’Abbeville teriam se juntado a aldeia Carnapió por isso tem o mesmo chefe.

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Uatimbup Local de raiz de Timbó. Seu principal era Uirapouitan “Brasil”.

Juniparã Local do fruto Jenipapo.

Seu principal era Japi-Uaçu ou Japiaçu “pássaro bonito de várias cores”, importante boruuichaue da ilha grande de São Luis na época dos franceses. Além dele havia outros quatro chefes: Jacupém “faisão”, Tatu-açu “fogo grande”, Tecuare-Ubuí “maré de sangue” e Paquarrabeu “barriga de uma paca cheia de água”.

Toroiepeep

Tinha dois chefes esta aldeia: Peraiuuá “abraço de peixe” e Auapaã “homem que não sabe atravessar”.

Januarém Na tradução de D’Abbeville: “cão fedorento”.

Tinha dois principais: Urubuanpã “corvo inchado” e Taicuiú (nome de pássaro).

Uruarapirã Na tradução “cova vermelha”.

Seu principal era Itapucusã “grilheta ou ferro com que se prende os pés”.

Coieup Literalmente significa “uma cabaça que serve de prato”.

Tinha dois principais na época dos franceses: Mutim “miçanga branca” e Ouíra-uaçu “olho de pássaro grande”, que eram irmãos.

Eussauap

“Local onde se come caranguejo”, na tradução de D’Abbeville. Uma das maiores aldeias da ilha.

Tinha quatro principais: Tatuaçu “tatu grande”, Corassaçu “pescoço comprido”, Mauariaçu (pássaro branco), Taiaçu “javali” e Tapireuíra “coxa de vaca”.

Maracanã-pisip Nome derivado de “ave grande”.

Tinha três principais: Terere, Aiuru-açu “papagaio grande” e Uara-aubuí “pássaro azul”.

Taperuçu Aldeia grande e velha. Tinha como principal Quatiare-Uçu “carta ou letra grande”.

Torupé

Seu nome significava segundo D’Abbeville “a beberagem”.

Tinha dois principais: Uirapapeup “arco chato” e Carautá-uare “comedor de carautá”.

Aqueteuue Local ou praça de peixe. Tinha como chefe Tupiaçu (derivado de nome de cinta onde carregam os filhos).

Caranavue Que significa “palmeira” para D’Abbeville.

Tinha como chefe ou principal Boi, que significa “cobrazinha”.

Ieuireé

Os franceses a chamavam “Iuiret”, que segundo D’Abbeville significa pernas finas.

Tinha um principal chamado Canuaaçu “tintura”.

Eucatu Significa “água boa”. Seu único principal era Januare-auaeté “onça feroz”.

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Jeurieé Pequena aldeia Aldeia com dois chefes: Canuamiri “tintura pequena” e Euuaiuantim “fruto picante”.

Uri-Uaçueupé Local onde existem peixes chamados macorãs.

Seu principal chamava-se Ambuá-açu (nome derivado de uma espécie de baga que tem um pé de cumprimento).

Maiue ou Maioba

Aldeia que tem nome de certas folhas largas e compridas.

Tinha dois chefes principais Jacuparim “faisão adunco” e Jauantim “cachorro branco”.

Pacuri-euue Significa local de árvore de bacuri.

Tinha um principal de nome Taiapuã “raiz grossa”.

Euapar Local de água torcida. Seu principal era Tocaiaçu “galinheiro grande”.

Meuroti-euue

Aldeia cujo nome significa “cacete ou árvore da palmeira”.

Seu principal era Conronron-açu “grande roncador”.

Fonte: D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, pp.184-188.

O interessante em verificarmos esta lista de aldeias é sua relação com os recursos

naturais encontrados no lugar onde elas estavam. Um exemplo disso é a aldeia itaendaue, que

significa local cheio de pedras, provavelmente uma mina de onde se retiravam as pedras que

os adornavam. O seu chefe principal era Uaignon-Mondeuue, que significa “lugar onde se

apanham pedras azuis”, corroborando ainda mais esta hipótese.

Alguns nomes de aldeias Tupinambás foram designações feitas pejorativamente

pelos franceses, como “pernas finas”, sendo, com o tempo, assimiladas pelos Tupinambás.

O nome dos chefes, que variam de aldeia para aldeia em quantidade de um

podendo chegar até quatro “principais” numa mesma aldeia. Eram provavelmente os seus

nomes de guerra, obtidos depois de sacrifícios de inimigos capturados. Contudo podemos

pensar que a influência francesa pode ter contribuído em alguns desses nomes. Como

exemplo disso temos: Itapucusã, na tradução de D’Abbeville: “grilheta ou ferro com que se

prende os pés”; Mutim: “miçanga branca”; Tapireuíra: “coxa de vaca”; Quatiare-Uçu: “carta

ou letra grande”; Jauantim: “cachorro branco”; Tocaiaçu: “galinheiro grande”, todos esses

nomes, variações e traduções de designações dadas pelos franceses não eram muito habituais

aos indígenas e de objetos e animais também não comuns a sua cultura, como vaca, cachorro,

carta, galinha, etc.

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Os franceses no Maranhão: Das alianças inconstantes às alianças

permanentes com os Tupinambás:

Desde muito tempo os franceses comercializavam produtos, ou melhor, trocavam

com os moradores do litoral e das ilhas do Brasil. Desse contato, considerado ainda uma

aliança inconstante posto serem apenas comerciais e rápidas, surgiu uma estreita aliança

permanente que resultou na fundação de duas importantes colônias: a França Antártica, no

litoral do Rio de Janeiro, e a França Equinocial, na região do Maranhão. O mapa francês,

datado de 1546 e feito por Pierre Desceliers, mostra desenhada a costa entre o litoral do

Maranhão e Pará (exceto o rio amazonas), onde lê-se: “Canibales”. Teria sido uma cópia

construída a partir de vários mapas portugueses, encomendados por Henrique II. Por isso

percebemos as mesmas legendas de cartas lusas. Nele, já estão registrados cerca de 42

acidentes geográficos do litoral.

Figura 4

Mapa Mundi de Pierre Desceliers de 1546. Fax-símile do Ministério das Relações Exteriores -

RJ. In: Mapas Históricos Brasileiros.

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Segundo depoimento do Tupinambá chamado Migan, na época da fundação de

São Luis do Maranhão, fazia já cinqüenta anos o comércio e convívio entre indígenas e

franceses19. Desse comércio surgiu o interesse por parte dos capitães franceses Charles

Riffault e Des Vaux numa empresa mais efetiva e que gerassem maiores lucros para eles e

para a Coroa francesa. Conseguiram o apoio do Senhor de La Ravardière que negociou junto

a pessoas importantes o financiamento da empresa. Conseguiu por fim, o apoio da Rainha.

Nessa empreitada, conhecida como França equinocial (devido à proximidade com

esta linha imaginária geográfica), foram confiados cinco padres capuchinhos para a conversão

dos indígenas, dentre eles Claude D’Abbeville e Yves D’Evreux que são as principais fontes

de informação francesas sobre os acontecimentos20. Eles foram selecionados pelos Superiores

da Ordem dos capuchinhos em 1611 atendendo a um chamado da Rainha Maria de Médicis:

“Padre Leonardo – escrito pela Rainha - O senhor de Razily o Lugar-tenente geral

do Rei, senhor meu filho, para as Índias Ocidentais me fez ouvir a esperança que há

de introduzir a fé Cristã naquelas terras, e julgando para isso mui a propósito ele

deverá enviar para lá alguns Religiosos de sua Ordem para lá ficar e os assistir que

eles serão muito capazes ao estabelecimento da dita fé Cristã. E porque você manda

aquele rezar você mandará quatro distintos religiosos que você estima mais dignos e

capazes. Os quais você ordenará se encaminhar com aquele que você enviará para os

receber e dirigir. Assegurando-me que, como eles são pessoas de grande capacidade,

piedade e devoção, que eles farão muitas frutos, e que aumentarão que em mais alto

grau à glória de Deus e a reputação de sua dita Ordem. E no instante sem um outro

assunto, rogo a Deus padre Leonardo, que ele vos mantenha em santa guarda.

Escrito em Fontainebleau, no vigésimo dia de abril de mil seiscentos e onze. Marie

Phelypeaux” 21.

Segundo D’Abbeville, eles avistaram as terras americanas em 11 de julho de

1612, mas somente em 24 de julho conseguiram desembarcar numa ilha pequena e desabitada

19 D’ABBEVILLE, Cláudio. História dos Padres capuchinhos na ilha do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2002, p.159. 20 Os Padres selecionados foram: Yves D’Evreux, Claude D’Abbeville, Ambroise d’Amiens, Padre Arsène de Paris. Segundo Andrea Daher o Superior da Missão ao Brasil era o Padre Yves D’Evrex e não Claude D’Abbeville como afimou Berredo no Annaes Históricos do Estado do Maranhão. In: DAHER, Andréa. Les singularités de la France Équinoxiale: Histoire de la mission des peres capucins au Brésil (1612-1615). Paris : Honoré Champion Éditeur, 2002, p. 48. 21 DAHER, Andréa. Les singularités de la France Équinoxiale: Histoire de la mission des peres capucins au Brésil (1612-1615). Paris : Honoré Champion Éditeur, 2002, pp. 41-48.

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que os indígenas chamavam de Paonmiri e que depois passou a ser chamada pelos franceses

de Santa Anna22.

Dos fatos seguintes à chegada francesa nas terras do futuro Estado do Maranhão o

que me chama a atenção na narrativa de D’Abbeville é o envio de um mensageiro aos

indígenas, no caso o capitão Des Vaux, para verificar “se ainda eram amigos”, e caso o

fossem, tratar de “persuadi-los” a convocarem os principais chefes das aldeias para uma

reunião. Esse francês, portanto, era o principal interlocutor com os indígenas e um profundo

conhecedor de sua língua23.

Destes diálogos transcritos por D’Abbeville, o primeiro mostra o que foi dito pelo

Sr. Des Vaux aos principais na grande ilha de São Luis no intuito de verificar se ainda

estavam em paz com os franceses e pedir permissão para que os demais aportassem na ilha

com os missionários. Teria ele argumentado que, desde muito tempo eles eram amigos e

comercializavam gêneros que necessitavam e que gostariam agora de ficar, ensinar a religião

cristã e defendê-los dos seus inimigos:

“‘Se pensais como dantes’ (como aliados), continuou ele (Des Vaux), ‘irei buscá-los

e traze-los imediatamente aqui (os missionários e demais franceses), e no caso

contrário não há necessidade que tenham tal trabalho, pois temos resolvido eu e eles

regressar a França’” 24.

Ardilosamente Des Vaux procurou atiçar a curiosidade dos indígenas, além de

garantir que com os outros haveria mais comércio, como antes era realizado. A resposta dos

principais das aldeias, segundo D’Abbeville foi a seguinte:

“Admiramo-nos muito que, vivendo tanto tempo conosco, não conheças ainda o

nosso gênio e o modo de proceder, e venha nos fazer tais discursos, como se

costumássemos faltar a nossa palavra. Alegramo-nos muito com a vossa vinda, já

por nos muito esperada conforme fossa promessa, e por isso te pedimos, que nos

22 A obra do padre Claude D’Abbeville foi primeiramente publicada em Paris no ano de 1614. Utilizo a tradução do Dr. César Augusto Marques de 1875 e reimpressa em 2002. In: D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. Coleção Maranhão Sempre. São Paulo: Siciliano, 2002, p. 75. 23 Confesso que fiquei impressionado com os relatos e diálogos transcritos por D’Abbeville, e acho que eles poderiam ter mais estudos, tendo em vista as falas dos indígenas, raramente passadas ao papel pelos portugueses. Contudo, também admito que isso foi um mérito dos missionários habituados nesse tipo de registro e não dos franceses em geral. 24 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. p.76.

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tragas os padres e os buruuichaue, que nos os receberemos com toda bondade, visto

ser de grande desejo que temos de vê-los, e de obedecer as suas ordens” 25.

Como soube D’Abbeville dessas palavras se não estava presente durante o fato?

Como ele soube que foi discutida a presença dos padres nas aldeias? Talvez tenha conseguido

do próprio Des Vaux, na sua volta aos navios.

No entanto, mesmo que esse discurso tenha sido idealizado pelo capuchinho,

como artifício lingüístico da época empregado pelos religiosos, ele tem uma lógica que

confere alguma legitimidade as suas palavras. O modo feito por Des Vaux de discursar aos

chefes indica sua preocupação com a segurança da missão e dos religiosos. Na fala dos chefes

percebemos que eles não estavam preocupados com a chegada dos franceses, pois já estavam

acostumados com eles e já os esperavam, mas o discurso dado por Des Vaux os fez desconfiar

do que realmente queriam os padres, mesmo assim a curiosidade foi maior e eles os recebem

sem percalços.

Nestes termos, a aliança entre as aldeias Tupinambás do Maranhão e os franceses

passava por uma reformulação - de uma aliança inconstante, onde havia apenas comércio e

um curto período de convívio (antes passavam apenas cinco dias), passava-se à aliança

permanente, com maior aproximação entre as partes e convívio contínuo.

A forma de tratamento francês partia, portanto, do princípio da amizade que era

inicialmente conquistada por meio de trocas de mercadorias com as lideranças. No texto dos

padres não há esse registro em sua chegada no Maranhão, pois, aconteceu em viagens bem

anteriores à presença dos capuchinhos, contudo, ao descreverem sua chegada à ilha de São

Luis percebemos que esse início foi suficiente para conquistar a simpatia dos Tupinambás,

principais habitantes da ilha e vizinhanças.

Não sejamos ingênuos, contudo, quanto às intenções dos colonos franceses.

Mesmo mudando os termos de sua aliança, agora permanente com as tribos, não existe um

consenso de todos os franceses e Tupinambás acerca dessa aliança, sendo as coisas

organizadas ao sabor do tempo. Na sua primeira ceia na ilha, na casa de um homem

identificado como “Senhor de Manoir”, percebemos que esse contato não era somente troca

de flores. Somente os principais chefes das aldeias puderam adentrar na casa e participar do

banquete indicando uma hierarquia estipulada entre os capitães franceses, os chefes e os

demais das aldeias:

25 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. p.76.

33

“Não podendo os índios fartarem-se de nos ver, vinham os principais e velhos

(únicos a quem se permitiu entrada) cumprimentar-nos a seu modo e com toda a

bondade que podiam.Os índios, que não tiveram permissão de entrar, olhavam-nos

com atenção através das tabuas de que era construída a casa, sem se admirarem de

nós, (...)”26.

Até esse momento não podemos dizer que estava constituído um recrutamento

francês dos Tupinambás para trabalharem para eles. Apesar de haver uma hierarquia entre os

franceses e os indígenas, não havia ainda um pacto firme com relação aos inimigos comuns

nem qualquer tipo de aliança específica no campo militar, a não ser o ódio comum aos pêros,

tal como os Tupinambás chamavam os portugueses.

O “recrutamento”, tipo de tratamento específico do meio militar, aparece

progressivamente e subentendido nos discursos dos capuchinhos. E o primeiro grande passo

ao recrutamento é a construção do forte idealizado, segundo D’Abbeville, para “segurança

dos franceses e conservação do país” 27.

Por que considero um passo importante à construção do forte? Porque nele estarão

presentes os indígenas não somente como mão-de-obra, mas também como aprendizes de

técnicas de construção de caráter eminentemente militar, por eles até então desconhecidas. Do

mesmo modo, os franceses habituados com o conhecimento tecnológico das tradições de

construção européias puderam interagir com o modo indígena habituado aos rigores do clima

tropical a da natureza do terreno. Segundo os escritos do capuchinho Yves D’ Evreux28 ela foi

feita da seguinte maneira:

“(...) fincada a madeira segundo o plano dado para servir de cercadura do forte e de

sustentar as terras, mandou-se então avisar por todas as aldeias da ilha e da

província de Tapuitapera que viessem índios uns após o outro conduzir a terra tirada

dos fossos para os terraços das cortinas, esporões e plataformas, depois cobertas por

grandes e grossas aparituries, mangues, árvores duras como ferro e incorruptíveis,

26 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.81. 27 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.83. 28 A versão original quase foi totalmente destruída ainda na tipografia em 1615 por motivos políticos e religiosos, sobrando apenas dois exemplares mutilados. A versão comumente utilizada deste livro existe graças ao empenho de Ferdinand Denis que conseguiu os manuscritos e os publicou com suas notas pela primeira vez em 1864.

34

de forma que seria quase inútil o tiro de canhão, e mui difícil a escalada: assim se

fez (...)”29.

O forte francês, apesar de construído com os poucos recursos que a terra tinha,

não deixava a desejar no seu objetivo básico, que era a defesa daquela ilha. As madeiras

nobres cobertas pelo barro e em ângulos inferiores a 90 graus nas suas muralhas, impediam o

estrago que poderiam causar as artilharias inimigas. A terra do fosso ainda completava as

plataformas onde os canhões foram colocados.

O capuchinho ficou impressionado com a tenacidade com que os Tupinambás

serviam na construção sem beber ou comer senão por ordem do seu buruuichaue, levando

mulheres e crianças para trabalhar também, o que faz o padre interpelar um dos chefes a esse

respeito, obtendo a seguinte resposta:

“(...) Temos muito prazer vendo nossos filhos conosco trabalhando neste forte, para

que um dia à seus filhos e estes a seus descendentes: ‘eis a fortaleza, que nós e

nossos pais fizemos para os franceses, que trouxeram padres, que levantaram casa a

Deus, e que vieram defender-nos de nossos inimigos’(...)”30.

A fala deste chefe indígena local indica que não havendo uma escrita que

registrasse os momentos mais importantes da vida do grupo, estes se valiam do que

chamamos de uma tradição oral, onde o testemunho era valiosa ferramenta. Daí explica-se a

presença dos curumins no trabalho da fortaleza para que estes repassassem para a geração

seguinte sua experiência. Isso é algo comum ainda em alguns grupos como, por exemplo, os

Bororos. Segundo o trabalho etnográfico de Sylvia Cauby Novais, utilizando-se dos ritos de

pescaria e cantos de caçada dos Bororos, que falam da paisagem, ela faz um confronto com a

noção de território e demonstra como esse grupo cita os acidentes geográficos e enumera os

recursos desse espaço, indicando como eram formadas as unidades sociais num artifício de

transmissão de conhecimento via oralidade31. Há também aqui a idéia do próprio forte como

um lugar da memória. Olhar para ele era lembrar a aliança entre os indígenas e os franceses.

29 D’EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. Coleção Maranhão sempre. São Paulo: Siciliano, 2002, p. 73. 30 D’EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. Coleção Maranhão sempre. São Paulo: Siciliano, 2002, p. 74. 31 NOVAIS, Sylvia Cauby. Paisagem Bororo - De terra a território. In: ANA MARIA NIEMEYER, EMILIA PIETRAFESA DE GODOI (ORG). Além dos territórios: Para um diálogo entre a etnologia indígena, os estudos rurais e os estudos urbanos. Campinas, SP: Mercado das letras, 1998, p.243. Essa oralidade também servia para perpetuar as rivalidades entre os grupos, e no caso dos Tupinambá perpetuar a sua Revendita contra as demais

35

Assim o recrutamento para a construção da fortaleza francesa não somente

significou o momento de interação das tecnologias, mas também a mentalização e propagação

disso para novas gerações dos grupos Tupinambás envolvidos na construção.

No discurso proferido por Japiaçu, Buruuichaue da ilha do Maranhão, tem-se

confirmado uma aliança permanente entre os capitães franceses e a liderança Tupinambá. Diz

ele num trecho inicial de seu discurso:

“Já começávamos a entristecer-nos vendo que não chegavam franceses guerreiros,

sob o comando de um grande buruuichaue, para habitarem esta terra, e já tínhamos

resolvido deixar esta costa e abandonar este país com receio dos peros

(portugueses), nossos mortais inimigos, e irmos embrenhar-nos pelos matos

longínquos, onde nunca nos visse cristãos algum, passando o resto dos nossos dias

longe dos franceses, nossos bons amigos, sem foices, machados, facas e outras

mercadorias, e reduzidos à vida primitiva e bem triste de nossos antepassados, que

cultivavam a terra e derrubavam as árvores com machados de pedras duras” 32.

O discurso desse chefe indígena aponta o comércio como ponto inicial da aliança

até então praticada entre os Tupinambás e os franceses e nos aponta para a diferença entre ele

e as formas de comércio até então praticadas pelos portugueses em outras áreas do Brasil.

No discurso de Japiaçu percebemos que, na sua aliança permanente com os

franceses buscava-se fazer crescer e ampliar os territórios Tupinambás tomados por seus

inimigos, numa volta aos grandes momentos de sua história. Para ele, o apoio francês era

fundamental no desenvolvimento da tribo, mesmo que isso significasse abrir mão de certas

práticas, permitindo inclusive que os missionários ensinassem sua religião. Digna de ser

mencionada em seu discurso é a diferença que ele diz haver no tratamento dado à religião por

portugueses e franceses. Diz ele:

“Quanto ao mais, estamos bem contentes de nos haveres trazido padres e profetas,

porque os malditos peros (portugueses), tão cruéis para nós, só nos lançavam em

rosto que não adorávamos a Deus.”

nações. In: FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, pp.50-51. 32 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.86.

36

“Desgraçados! Ah! Como havíamos de adorá-lo, se não nos ensinavam antes a

conhecê-lo e a invocá-lo?” 33.

Ainda que tenhamos dúvidas sobre esse depoimento, não podemos negar que nos

domínios portugueses havia uma insuficiência grave de missionários para trabalhar na

evangelização dos “gentios” dessas áreas, além de uma frouxidão das autoridades lusas na

colônia para controlar os excessos quanto à escravidão indígena.

Portanto a aliança referida mais acima por Japiaçu com os franceses era pautada

nos seguintes pontos:

Menor interferência nos traços culturais básicos da tradição Tupinambá percebida

no modo de vestir e usar cabelos compridos e adornos, e também nas danças. Quanto às

danças, a meu ver e também na opinião de D’Abbeville, os franceses pareciam mais “liberais”

que os portugueses. Exemplo disso está no diálogo do buruuichaue Japiaçu e o Senhor de

Razilly transcrita por D’Abbeville:

“Os peros (portugueses) antigamente nos maltratavam, praticando em nós muitas

crueldades, só porque trazíamos os beiços furados, e os cabelos compridos, e

mandavam raspar nossas cabeças como sinal de infâmia. A esse respeito, dize-nos

qual é a tua vontade, nós a ouviremos, e depois nos resolveremos a obedecer-te.”34.

Notemos que os costumes tradicionais eram motivos de preocupação para Japiaçu.

Havia certo temor de que os franceses proibissem tais costumes, como haviam feito os

portugueses. A resposta de Razilly não podia ser mais diplomática, ratificando a maior

liberdade das tradições Tupinambás, ainda que somente em determinados costumes, como as

danças e os cabelos compridos:

“(...) Não me desagrada e, pelo contrário, quero que conserveis os cabelos

compridos: a respeito de vossos beiços furados, desejo que por vos mesmos seja

abandonado este costume tolo; por isso não vos farei mal algum, embora eu aprecie

mais aqueles que os desprezarem por amor de minhas reflexões: finalmente, quanto

a vossas danças eu as aprovo quando feitas como as nossas, para distração” 35.

33 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.86. 34 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.88. 35 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.89.

37

A resposta de Razilly deixa claro que apesar de não simpatizantes de

determinados costumes dos Tupinambás (caso dos beiços furados), eles deixariam que os

praticassem, para que os próprios indígenas o abandonassem com o tempo e o convívio com

os franceses. No entanto, outros costumes foram expressamente proibidos, entre os quais a

execução de escravos e a antropofagia:

“(...) e relativamente aos costumes antigos que praticais por loucura da ignorância,

como sejam o de matar e comer escravos, bens sabeis o que prometeste antes de

nossa vinda, e por aqui não ficarei se não abandonardes este costume

diabólico(...)”36.

Notemos que a escravidão era legalmente permitida, só o sacrifício ou assassinato

do escravo era proibido. Isso, no entanto foi algo que pela necessidade e combatividade foi

deixada de lado por alguns dos próprios militares franceses. Há casos registrados pelos

capuchinhos da continuidade dessas práticas, apesar de proibidas pelos franceses. Um desses

casos foi de uma escrava de Japiaçu encontrada em adultério e por isso executada por um dos

filhos desse chefe. Segundo D’Abbeville: “muitos índios, e particularmente muitas velhas,

esquartejaram o seu corpo, e dizem até ter mandado às escondidas um pedaço para a aldeia

de Carnaupió” 37.

Na viagem exploratória do capitão português Martin Soares Moreno em 1613,

para avaliar as defesas francesas no Maranhão, ele encontra um gentio de nome Mucura que

lhe informa sobre a povoação francesa e o seu forte, diz ele também:

“(...)y que el yndio que se bino á ellos que trahen consigo les dixo como em el

enemigo franzes em la punta de la dicha Isla tenia hecha la populacion da mas de

trezientos vecinos y un forte muy grande con mucha artilleria y que alli hazian nabes

y que el año passado abian hecho seis y que ansi mismo les dijo que el enemigo

andaba por aquel Rio Robando los que pasaban y cautivandolos para servirse de

ellos y entregarlos á los yndios de aquella comarca para que los comiesen.”38.

36 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.89. 37 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.177. 38 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.162-63.

38

Não descarto a possibilidade desse relato ser invenção dos portugueses para terem

como justificar a expulsão dos franceses do Maranhão. Contudo, também poderia ser uma

prática real exercida para dar mais autoridade aos Tupinambás e controlar as informações que

saíam da região, evitando assim alertar as autoridades portuguesas de sua presença.

Outro ponto de aproximação com os franceses: As trocas amistosas de

mercadorias, genericamente conhecidas por escambo. Muitas delas cobiçadas pelos indígenas

como, por exemplo, as ferramentas de metal. As trocas, pelo que indicam as fontes, também

eram mais vantajosas com os franceses do que com os portugueses, como podemos perceber

num debate entre dois proeminentes Tupinambás: Migan e Mamboré-Uaçau:

“Há cinqüenta anos que conheces os franceses e que com eles convives diariamente,

já os vistes praticar o que fizeram os pêros (portugueses)?

Obrigaram eles a tua nação a fazer alguma coisa? Não te pagam os teus gêneros? Se

os tem sustentado ou se lhes fazes alguma coisa, não recebes logo recompensa?

Pensas porventura que há no mundo nação que em bondade se iguale à francesa?

Não e não, porque são os franceses os primeiros que nasceram na Igreja, os

verdadeiros filhos de Tupã, escolhidos para lhes dar sua fé, e ensiná-la aos outros.

Com tais palavras, mostrou-se o dito velho convencido e satisfeito, e declarou nunca

mais falar nisto, visto não ter o que responder a seu compadre Migan” 39.

Não pretendo aqui discutir a noção de troca e compra na sociedade Tupinambá,

mas dentro do que foi observado nas crônicas do capuchinho francês D’Abbeville,

percebemos que a relação comercial desses indígenas e os portugueses eram desiguais e

exploratórias. Como vimos subentendidos nos discursos dos chefes Tupinambás, os “peros”

portugueses, às vezes, não pagavam pelo trabalho dos índios e os tratavam com brutalidade

nas regiões conquistadas, como Pernambuco e Rio Grande do Norte.

A introdução da metalurgia a meu ver é algo muito importante neste processo de

formação de uma aliança permanente. No discurso de Japiaçu citado a seguir, isso aparece

sintetizado, pois mostra um sentido de avanço, de evolução nessa sociedade onde no passado

“primitivo” eles tinham a “vida bem triste”, onde “cultivavam a terra e derrubavam as árvores

com machados de pedras duras”.

A vida material surge também como um elemento modificador dos costumes

tradicionais. Num sincretismo que alia tecnologia e religião o discurso faz alusão ao dilúvio

39 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, pp. 159-60.

39

bíblico e justifica-se através de um mito explicativo o por quê dos indígenas não usarem o

ferro:

“Acreditamos que por maldade dos homens, Deus espalhou o Dilúvio por toda parte

para castigá-los, e reservou deste castigo apenas um bom pai e uma boa mãe, de

quem descendemos, ficando apenas vós e nós.

Depois do dilúvio, Deus enviou seus profetas, que tinham barbas, para instruir-nos

na Lei de Deus.

Apresentaram estes profetas, ao pai de quem descendemos duas espadas uma de pau

e outra de ferro, e lhe pediu que escolhesse.

Ele achou muito pesada a espada de ferro, e por isso escolheu a de pau, e o pai de

quem descendeis tomou a de ferro. Fomos depois disso bem infelizes, porque vendo

os profetas que a nossa gente não acreditava neles, subiram para o céu, deixando

vestígios de sua pessoa e de seus pés gravados em cruz na rocha próxima a Potiiú,

que viste tão bem como eu (dirigindo-se a Migan).

Apareceu depois disto a diversidade de línguas entre nós, que apenas falávamos uma

só” 40.

Na leitura deste mito salto no tempo e volto ao presente, lembro-me das “pedras

de raio”, “pedras de corisco”, como são chamadas pelos caboclos e ribeirinhos as lâminas de

machado de pedra polida, comumente encontradas nos sítios arqueológicos. Às vezes não nos

damos conta de que esses machados são vestígios de uma tecnologia muito eficiente no

passado pré-histórico, embora tivesse algumas desvantagens, como a durabilidade pequena, a

feitura difícil e a matéria prima não encontrada facilmente na região. Ainda assim, foi ela

conhecida e largamente utilizada por centenas de anos41.

Durante este primeiro contato dos Tupinambás com os franceses, a “pedra polida”

passa gradativamente a ser substituída por outro tipo de material, mais eficiente por ser mais

resistente, mais variado nas formas dos utensílios e atraente aos olhares curiosos dos

indígenas. Importante dizer que isso não significou o fim das sociedades indígenas, mas um

grande reformulador da vida material dos Tupinambás, permitindo novos usos e adaptações

àquela novidade trazida pelos europeus.

Nesse momento, com os franceses como aliados, eles tinham um futuro promissor

como leais súditos do Rei da França, pois retomariam sua condição de grande nação,

40 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.87. 41 PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília, DF, Editora UNB, 1992, pp.35-84.

40

subordinando os outros povos que eram seus inimigos, como afirma Japiaçu ao final de seu

discurso aos franceses:

“Depois de tantas misérias, para completarem nossas desgraças, esta maldita raça de

peros tomou nossas terras, destruiu esta grande e antiga nação, e reduziu-a a

pequeno número, como podes saber que é atualmente.

Agora porém, nada tememos, porque tu chegaste,e com tua gente hás de restituir a

nossa nação à sua grandeza primitiva”42.

A introdução do ferro foi útil nesse momento da colonização para todas as partes,

principalmente no corte de toras de madeira bruta. O método antigo demorava mais pela

quebra das lâminas e desgaste do gume, que era ruim para o escambo com novas mercadorias.

No entanto, implicitamente a metalurgia acabou por facilitar uma dependência dos grupos

Tupinambás perante os franceses. No uso dessa tecnologia, os aborígines acabam por ter que

fazer a opção: ou escolhiam ficar com as formas tradicionais líticas, cuja produção era por

eles controlada, ou sujeitar-se às exigências das trocas com os franceses para conseguir os

artigos que eles não tinham o controle de produção. O controle das ferramentas de trabalho

passava então para as mãos dos franceses, sendo importadas da Europa.

Isto fica evidente em determinados momentos dos diálogos transcritos por

D’Abbeville como o debate do principal de 180 anos chamado Mamboré-Uaçau e Des Vaux.

O idoso Mamboré que já havia lutado contra os portugueses em Pernambuco, mostra-se

duvidoso da aliança com os franceses e faz uma comparação das ações destes com os

portugueses, chamados de pêros, pelos Tupinambás:

“Vi o estabelecimento dos peros em Pernambuco e Potiiú, e o seu principio foi

como o vosso agora.

No princípio, os peros só queriam negociar, e não morar aí; dormiam então à

vontade com as raparigas, o que os nossos companheiros de Pernambuco e de Potiiú

reputavam grande honra.

Depois disseram ser-lhes preciso aí morar, que necessitavam construir fortalezas

para guardá-las, edificar cidades para morarem juntos, parecendo assim que só

desejavam ser uma grande nação.

Depois fizeram entender que não podiam ter assim as filhas deles, que Deus

somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento, e que não podiam casar-se

com elas, senão batizadas, e que para isso era necessário um padre.

42 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.87.

41

Vieram os padres, plantaram uma cruz, começaram a instruí-los, e depois foram

batizados.

Depois fizeram ver que tanto eles como os padres precisavam de escravos para

servi-los e trabalhar para eles, e assim eram obrigados a dar-lhes.

Não satisfeitos com os escravos aprisionados na guerra, quiseram também seus

filhos, e finalmente cativaram toda a nação, e com tal tirania e crueldade e trataram

sempre, que a maior dos que escaparam viram-se obrigados, como nós, a deixar o

país.

Assim aconteceu com os franceses.

Quando viestes aqui pela primeira vez, foi simplesmente para negociar conosco,

como os peros não achastes dificuldade de tomardes nossas filhas, e nós nos

julgávamos felizes quando elas tinham um filho vosso.

Nesse tempo não falastes em vir morar aqui, e apenas vos contentáveis de vir aqui

uma vez por ano, e demorar-vos somente quatro ou cinco luas, regressando ao vosso

país com os nossos gêneros para em troca trazerdes o que necessitávamos.

Agora para morardes aqui nos aconselhais fazer fortaleza, dizendo ser para

defendermos-nos de nossos inimigos, para isso trouxestes-nos um buruuichaue e

padres.

É verdade que estamos contentes, porém os peros fizeram o mesmo.

Depois da chegada dos padres, plantastes a cruz, como os peros, como eles

começastes a instruí-los e batiza-los,e como eles ainda dizeis não poderdes possuir

nossas filhas senão em casamento, e depois de batizadas.

A princípio, como os peros, não quisestes escravos, agora pedis e quereis possuí-los

como eles.

Não creio que tenhais os mesmos projetos dos peros e nem receio isto, porque já sou

velho e nada mais temo, porém conto ingenuamente o que vi” 43.

Deste belo discurso de Mamboré-Uaçau nos vem à certeza de que havia críticos

da presença francesa no Maranhão. Sua comparação aos (pêros) portugueses indica a

semelhança nas formas de tratamento dado a pêros e franceses, onde nos primeiros tempos do

contato e início da colonização, trocavam-se mercadorias em contatos esporádicos e formava-

se uma aliança inconstante pautada neste comércio. Depois, aos poucos se fixavam moradias e

eram construídas fortificações, já com adesão das tribos em alianças permanentes, com

recrutamento militar e por fim a escravidão dos inimigos indígenas.

No caso dos portugueses a guerra e escravidão avançaram contra os seus próprios

aliados tupinambás, daí o ódio aos “pêros traidores” e o alerta desse chefe indígena a todos os

43 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.156-57.

42

demais chefes e membros das tribos, como um questionamento junto aos franceses das suas

intenções44.

Na resposta de Des Vaux a Mamboré-Uaçau percebemos sua irritação com a

comparação aos portugueses, que abalou a reunião que os franceses faziam com os gerontes

(conselho de anciãos) em Eussauap, possibilitando uma reflexão por parte dos grupos

indígenas divididos quanto ao apoio ou não às idéias de Mamboré-Uaçau.

Des Vaux, por outro lado, não conseguiu responder as acusações e indiretamente

apontou para a submissão dos indígenas ao apoio francês, o que nos sugere uma sutil ameaça:

“Admira-me muito que tu, que bem conheces os franceses há muito tempo, ouses

compara-los aos peros, como se não conhecesses a diferença entre uns e outros.

Recorda-te bem como os peros se estabeleceram em Pernambuco e Potiiú, e como

trataram seus semelhantes desde que aí entraram. Viste porventura os franceses

fazerem o mesmo? Vai por quarenta ou cinqüenta anos que negociamos convosco.

Tendes alguma queixa de nós? Ao contrário, não sabes quanto seria mais infeliz tua

nação sem o auxilio dos franceses? Constrangida a deixar sua pátria e suas

comodidades para abrigar-se neste lugar onde agora estais, o que seria dela sem o

auxilio dos franceses, que vieram procurar-vos para trazer-vos machados, foices e

outros gêneros que vos são necessários, pois sem eles não podereis preparar vossas

roças, e nem viver?

O que fazíeis se anualmente eles não passassem o mar para vir não só ver-vos, mas

também para trazer-vos novos gêneros para substituir os já velhos e gastos? Onde

procurareis outros?” 45.

A dependência aos materiais em metal trazidos pelos franceses foi a principal

alegação de Des Vaux em seu discurso de defesa da política dos franceses com os

Tupinambás de São Luis. Contudo, não conseguiu convencer todos sobre as diferenças entre

as formas de tratamento deles e a dos portugueses e muito menos convencê-los que no futuro

não haveria uma escravização generalizada dos Tupinambás como o fizeram os portugueses

em Pernambuco e Potiiú (Rio Grande do Norte).

44 No discurso de Mamboré-Uaçau percebemos que não há temor de sua pessoa sobre o futuro da tribo, posto que na mentalidade indígena Tupinambá o futuro pertence somente aos seus descendentes. Isto aparece muito nas obras de D’Evreux e D’Abbeville, daí entendemos a razão para não acumularem riqueza para os seus descendentes. Para eles tinha maior importância a lembrança dos seus feitos em vida do que o legado deixado para os seus descendentes após a morte. Contudo, não podemos negar que a influência européia veio alterar esse pensamento conforme o processo de colonização. 45 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.157-58.

43

Além disso, as relações pessoais mudam conforme a adoção demasiada dos

artigos dos brancos, os fabricantes de machados e ferramentas de pedra ficaram com o tempo,

livres desse trabalho e tiveram que fazer outras atividades. Segundo Serge Gruzinski, isso

aconteceu também no México colonial num período anterior ao ocorrido nas colônias da

América do sul46. A partir de 1540, vinte anos depois da Conquista por Cortez, os ofícios

europeus foram incorporados pelos indígenas que passaram a fazer todos os tipos de objetos,

substituindo suas ferramentas tradicionais por ferramentas européias, de ferro, que não

conheciam antes da conquista. Ainda segundo Gruzinski o uso de novas técnicas modificou a

antiga repartição de tarefas entre homens e mulheres nas sociedades indígenas. A tecelagem

passou a ser uma atividade também masculina, contudo, isso acontecia na vida comunitária,

pois dentro das casas ainda prevaleciam as formas tradicionais.

No Maranhão isso também acontece. Na medida em que não faziam mais suas

ferramentas em pedra alguns homens passam a fazer objetos em cerâmica, coisa que antes era

uma tarefa eminentemente feminina. Outros vão preferir se dedicar exclusivamente à guerra.

Os grupos conhecidos como Miarinenses, originários de um lugar chamado Miari,

eram grupos bem familiarizados com as técnicas e tecnologias francesas. Na descrição de

Yves D’Evreux eles já aparecem portando espadas de ferro que sempre guardam junto de si:

“Gostam de trazer as espadas tão limpas como cristal, e para isso as esfregam com

areia fina e azeite de mamona, amolam-nas repetidas vezes para estarem sempre

cortantes, aguçam as pontas quando estão gastas pela ferrugem, muito comum na

zona tórrida” 47.

Religião e tecnologia estão completamente imbricadas no processo de

mestiçagem. Os portugueses eram bons comerciantes com os árabes, indianos e africanos em

suas viagens para comerciais. Por isso, tratavam as trocas com os indígenas Tupinambás ou

aliados de modo semelhante ao que faziam com os outros povos48. Talvez daí tenha surgido à

46 GRUZINSKI, Serge. Índios construtores de Catedrais: Mestiçagens, Trabalho e Produção na Cidade do México, 1550-1600. In: PAIVA & ANASTASIA (ORGS.). O trabalho Mestiço: Maneiras de pensar e formas de viver-séculos XVII a XIX. São Paulo: ANNABLUME: PPGH/ UFMG, 2002, p.325. 47 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p. 94. 48 Segundo o historiador Charles Boxer, os portugueses na Costa africana da Guiné, fizeram dois fortes (o da Mina em 1482 e o de Axim em 1503) e trocavam tigelas de latão, pulseiras, contas, tecido e outras mercadorias por ouro, marfim e escravos do interior, trazidos por mercadores itinerantes. Ou seja, numa relação de troca desigual semelhante a praticada no Brasil. In: BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português: 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 46.

44

falsa impressão de que os indígenas não sabiam o valor das coisas e eram facilmente

enganados por quinquilharias e contas de vidro.

Além do mais, tais “quinquilharias” eram grandemente valorizadas,

principalmente entre os Tupinambás que eram vaidosos de uma forma geral, segundo os dois

frades: D’Abbeville e D’Evreux. Valorizavam os adornos de orelhas que faziam ou trocavam

com franceses. Também tinham apreço por pedras verdes ou brancas que colocavam no lábio

inferior. Tais objetos em pedra, como os enfeites labiais, continuaram sendo feitos e tendo

grande importância aos Tupinambás, conforme relatos de D’Evreux:

“Os Tupinambás e os Tapuias dão muito apreço a estas pedras: vi por uma pedra

para o beiço dar o valor de mais de vinte escudos de mercadorias um Tupinambá a

um Miarinense, em nossa casa de São Francisco, no Maranhão” 49.

Outro exemplo, dado por D’Evreux, nos revela a importância dada aos objetos,

principalmente os enfeites corporais:

“Um certo Cabelo Comprido veio ter conosco, ornado com seus enfeites mais

lindos, que consistiam em dois chifres de bodes e quatro dentes de corça, muito

compridos, em vez de brincos, de que muito se orgulhava por havê-los alcançado

com indústria (...) A maior, porém, de suas ostentações era uma destas pedras

verdes, de comprimento, pelo menos de quatro dedos, bem redonda, o que me

agradou tanto a ponto de desejar trazê-la para a França. Perguntei-lhe o que queria

que lhe desse por esta pedra, respondeu-me: “dê-me um navio de França carregado

de machados, de foices, de vestidos, de espadas e de arcabuzes” 50.

Aqui trabalho com a hipótese de que eram advindas de comércios com outros

grupos, devido à carência desses minerais na região onde habitavam, e com certeza foram

rapidamente incorporadas nas trocas com os franceses ao perceberem o valor que eles as

davam.

Do lado Tupinambá um produto atraia a atenção dos marujos franceses: as

mulheres mais novas. Sabiam os franceses que, na cultura Tupinambá as mulheres faziam os

trabalhos mais pesados na roça e domésticos. Por isso valorizavam as mulheres Tupinambás e

as requeriam nas trocas com os chefes das aldeias. Daí haver um comércio delas, para 49 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p. 94. 50 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p. 94.

45

servirem de concubinas aos franceses, e ao mesmo tempo trabalharem para eles. Essa prática

de comércio das mulheres foi proibida pelos Capitães Ravardière e Rasilly, em 1612.

“Ordenamos que não se cometa adultério por amor ou violentamente com as

mulheres dos índios sob pena de morte, visto a ruína da alma do criminoso, e desta

colônia, infringindo o mesmo castigo a quem violentar as moças solteiras.

Ordenamos e proibimos a todos que não pratiquem qualquer ato de desonestidade

com as filhas dos índios, sob pena, pela primeira vez, de servir o delinqüente como

escravo na colônia por espaço de um mês, pela segunda, de trazer ferros aos pés por

dois meses, e pela terceira vez, trazidos a nossa presença, mandaremos infringir o

castigo que for justo”51.

Segundo os capuchinhos, esse negócio das mulheres foi continuado de maneira

clandestina por muitos indígenas e franceses, mas, conforme os aprendizados adquiridos pelos

indígenas do catolicismo e do sentido da monogamia, os Tupinambás passaram a denunciar os

transgressores e a diminuir este comércio. O interessante neste aspecto relatado pelo padre

Yves D’Evreux é os Tupinambás chamarem as concubinas dos franceses de “Marie” seguida

do nome do francês a quem estavam unidas:

“Esta hospitalidade ou compadresco é entre eles muito intimada porque estimam

seus hóspedes como se fossem seus próprios filhos, vão caçar e pescar para eles, e,

conforme o seu costume, entregam-lhe as filhas, que desde então se chamam Maria,

e tem por sobrenome o do francês a quem se ligam, de sorte que dizendo-se Maria

de tal, sabe-se logo de quem é concubina.”52.

Depois que foi proibida a concubinagem entre índias e franceses, outras formas de

se conseguir mulheres para o trabalho foram desenvolvidas pelos franceses. Uma delas,

descrita pelo capuchinho D’Evreux, era o casamento de um escravo dos franceses com uma

índia ou índio da aldeia. Dentro dessa prática de compromissos e matrimônio os franceses

ocultavam a escravidão. Os franceses sabiam que os Tupinambás tomavam as mulheres para o

trabalho na casa e cozinha e, às vezes, cediam suas filhas para escravos com esse intento.

51 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.171-72. 52 Nem o capuchinho D’Evreux soube explicar porque eles dão este nome as índias concubinas dos franceses. Uma explicação plausível seria a mistura de fonemas franceses de duas ou três palavras diferentes Marie (Maria) e mariée ou mari (que seria aproximadamente esposa de fulano). In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, pp.70-71.

46

Tendo esse conhecimento, formularam um meio de obterem vantagens. D’Evreux cita

explicitamente como funcionava essa prática num de seus capítulos:

“Praticam o contrário os franceses porque compram homens e mulheres escravas

para casá-los, ficando a mulher com o dever de cuidar no arranjo da casa, e o marido

com o de ir pescar e caçar.

Se acontece um francês comprar alguma rapariga escrava, mostra-a a algum jovem

Tupinambá,(...), depois promete-lhe que será seu genro pois ama sua escrava como

se fosse sua filha, para assim vir o Tupinambá morar com ele, casar com a rapariga e

por esta forma ter por uma escrava dois escravos, a quem trata por filho e genro, e

eles o chamam seu cheru, isto é seu pai.” 53.

Geralmente eram escolhidas as mais jovens entre 15 e 25 anos chamadas

“cunhamuçu”, que estavam na fase de casar:

“Cedo são pedidas em casamento, se seus pais não as destinam para algum francês a

fim de terem muitos gêneros, e no caso contrário são concedidas, e então se chamam

cunhamuçupoare, mulher casada, ou no vigor da idade” 54.

Dos produtos comercializados com os Tupinambás a farinha de mandioca talvez

seja a que mais interessava, visto ser a principal fonte de alimentação na Colônia. Yves

D’Evreux comenta isso numa parte de seu testemunho, onde afirma que durante três anos

ficaram sem produzir nada nas terras próximos à fortaleza de São Luiz por culpa dos Tupis

que às “esterilizaram” por uso contínuo55. Da farinha faziam mingau “ionquer” com sal, água

e pimenta, ou apenas usavam farinha seca com água.

Outro produto comestível era o peixe boi apreciado pela sua carne e gordura.

Também havia o sal encontrado em forma de “gelo duro e reluzente” nas praias 40 léguas do

forte e, segundo o missionário, “de melhor qualidade que o de França e Espanha” 56.

Outro ponto de aproximação com os franceses era o apoio desses a guerra

praticada pelos Tupinambás contra os seus inimigos. Este talvez seja o elo que faltava para o

53 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.105. 54 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, pp.134-35. 55 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.69. 56 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.70.

47

recrutamento dos indígenas iniciado como vimos mais adiante com a construção da fortaleza

de São Luis, posto existir uma cumplicidade de ações contra os inimigos portugueses57.

As primeiras ações conjuntas de franceses e Tupinambás, numa demonstração de

aliança e recrutamento, ainda que voluntário, onde as forças militares indígenas e francesas

vão cada qual a seu modo guerrear, acontece na rápida viagem ao Grão-Pará numa expedição

punitiva contra uns inimigos dos Tupinambá chamados Camarapins, que viviam no rio

Pacajá.

Figura 5

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Rio

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sRio Pará

Rio Pacajá

Ilha do Marajó

Rio Guamá

Rio Capim

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Ilha Cavianade Fora

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Gur

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Camarapins

Expedição d e Ravardi ère: 1613

Tupinambás

Mapa da Expedição de Ravardière ao Pará, em 1613, para combater os Caramapins inimigos dos Tupinambás:

57 Numa cerimônia no dia de todos os santos (1 de novembro), fixou-se os termos de um pacto militar entre franceses e Tupinambás, com a presença dos principais da ilha de São Luiz e dos Capitães franceses Ravardière e Rasilly. Foram erguidas as armas da França e suas bandeiras. In: D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.165-68. Essa aliança militar também foi estudada pela historiadora Patrícia Seed, como um marco francês dentro das cerimônias de posse por eles praticadas. In: SEED, Patrícia. Cerimônias de posse na Conquista Européia do novo Mundo (1492-1640). São Paulo: Unesp, 1999, pp.68-71.

48

Percebo aí um interesse dos Capitães franceses na viagem para um conhecimento

prévio da região, mas não podemos negar que esse conflito está mais para um auxílio do que

para uma exploração dado ser muito mais vantajoso aos franceses fazer explorações sozinhos,

onde podiam conseguir pacificar as nações ali existentes por meio de trocas simples, do que

com guerras. Nesta missão foram 1.200 homens entre Tupinambás e franceses. Já na região

do Pará encontraram mais aldeias aliadas que enviaram reforços ao grupo até chegarem todos

à aldeia inimiga.

Os Camarapins viviam em “iuras”, casas nas árvores ou feitas sobre estacas de

madeira na água. De suas casas lançaram uma saraivada de flechas sobre os atacantes que

revidaram com fogo de mosquetes por três horas, segundo D’Evreux. Em determinado tempo

da luta dispararam tiros de morteiros e canhão nas “iuras” sem que conseguissem fazê-los

descer e desistir de lutar. Os franceses retiram-se da luta, ou por medo de serem cercados ou

por horror, visto a tenacidade com que os Camarapins lutavam. Segundo D’Evreux os

franceses retiraram-se da luta “com intenção de ver se noutra ocasião, tratados com doçura,

podiam ser domesticados” 58.

Do relato do capuchinho podemos obter algumas informações. Em nenhum

momento fala-se de flechas sendo lançadas pelos Tupinambás, apenas menciona-se tiros de

mosquetaria, que pode indicar a adoção das armas de fogo pelos mesmos em boa quantidade e

principalmente com a técnica correta. Mas isso pode também significar que toda a ação fora

planejada e executada pelos franceses para demonstrar o seu poder de fogo aos seus aliados

Tupinambás, incapazes de vencer os inimigos sem ajuda dos europeus. Por outro lado, para os

Tupinambás, tal demonstração de força também era importante para intimidar os seus

inimigos. Demonstração e intimidação foram os objetivos desta missão conjunta.

Enquanto estavam nessa missão, no Grão-Pará os portugueses faziam suas

primeiras investidas nas proximidades de São Luis a fim de investigar a presença francesa na

região, que era conhecida na corte de Madrid já algum tempo. Para o seu comando foi

nomeado Jerônimo de Albuquerque59.

58 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.82-3. 59 Foram nessa expedição três caravelões fortemente armados até o rio Camocim, onde ficaram instalados como porto base por ser mais próximo do Maranhão do que o Ceará. GUEDES, Max Justo. A Expulsão dos Invasores. In: História Naval Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975. p.557.

49

Os militares portugueses vão ao Maranhão: os aliados e

recrutados inconstantes dos portugueses:

O Capitão Martim Soares Moreno foi designado pelo Governador Geral Gaspar

de Sousa para fazer o reconhecimento do Maranhão a bordo da Barca Santa Catarina. Foi ao

Camocim e lá combinou com Jerônimo de Albuquerque o prazo de um mês para a sua volta,

rumando ao Maranhão em agosto de 1613. Segundo o seu depoimento, ratificado por seus

companheiros de viagem, ele saiu do Ceará, por ordem do Governador Geral do Brasil, para

fazer a carta de navegação necessária à entrada segura de navios da esquadra, verificando a

localização dos baixios e vendo qual o melhor tipo de embarcação era necessária para tal

viagem. Tinha também a missão de conhecer a população da área e ver se eram pacíficos60.

No seu depoimento e na descrição de Yves D’Evreux, verificamos o quanto pode

ser diferente as informações dadas para um mesmo fato: segundo Soares Moreno, ele e seus

soldados encontraram um armazém francês e o destruíram:

“(...) fueron fondeando el dicho Rio y tomando el fondo del hasta que llegaron á la

ysla donde el enemigo franzes estaba fortificado que habrá desde la boca doze

léguas y save este testigo que el dicho capitan com su gente de guerra que llevaba

saltaron em tierra y allaron um almazen del enemigo com gran cantidad de garzia y

brea y otros petrechos de guerra y mucha suma de palo y le pegaron fuego(...)”61.

No dito local colocaram uma cruz com a seguinte frase: “aqui llegó el capitan

Martin Xuarez Moreno por el Rey de España” e continuaram a avançar pela costa, até parar

em um local onde deixaram um indígena chamado Balthasar, que eles levavam como língua62.

Pouco depois este Balthasar voltou com um outro Tupinambá de nome Mucura que delatou

uma armadilha de franceses que, com lanchas armadas, preparavam para atacar assim que

tentassem sair do canal. Seguindo, então, o dito Mucura, o capitão levou a embarcação para

uns baixios, onde quase não conseguiu passar, até chegar a mar aberto. Os ventos fortes

60 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.160-61. 61 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.160-61. 62 Língua era um tradutor. Podia ser branco, mestiço ou indígena. No caso de Balthasar este era Tupinambá a serviço dos portugueses. In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.162.

50

contrários e as embarcações avariadas os obrigaram a seguir viagem até a ilha de Santo

Domingo, onde ficaram detidos pelos espanhóis para esclarecimentos63.

No discurso do capuchinho D’Evreux os fatos ditos por Soares Moreno soam de

maneira diferente, em parte por ser missionário com um tipo de escrita mais rebuscada, e em

outra por ser mais conhecedor da área em que os portugueses se encontravam64. Ele indica

com precisão o local aonde eles chegaram, a Ilha de Santa Anna, foi lá que o capitão

português fincou sua cruz. D’Evreux não fala da destruição de nenhum armazém pelos

portugueses como foi dito por Soares Moreno, em seu depoimento. Ainda segundo o

missionário, o navio lusitano passou pelo “porto de Caurs” sempre descendo gente da

tripulação para verificar os locais propícios a plantação de cana e fundação de engenhos de

açúcar. Chamavam os aborígines com “tiros de peças”, mas apenas um foi até eles, o principal

de Itaparis, chamado Metarapua “pedra branca” ou “caranguejo”. Ele recebeu machados e

foices em troca de informações das quais os missionários não souberam quais foram. Nota-se

que até este ponto há poucas divergências dos dois depoimentos, mas nas partes seguintes

D’Evreux distancia-se mais do outro discurso:

“Os portugueses traziam consigo os índios Canibais moradores em Mocuru e

parentes de outros do mesmo nome refugiados no Maranhão, os quais eles

mandaram a terra para tomar conhecimento e informações se na ilha haviam muitos

franceses, se estavam fortificados, e se tinham canhões”65.

Sabemos que, até então, os portugueses levavam “línguas” para conversar com os

Tupinambás, mas com a descrição de D’Evreux sabemos agora que eles eram da aldeia de

Mocuru e que tinham parentes na ilha de Santa Anna. O nome Mucura dado por Soares

Moreno pode ser uma corrupção de Mocuru, significando assim uma mesma localidade.

Um destes “Canibais”, segundo o capuchinho, fez a delação dos franceses

dizendo: “Que fazeis aqui? Fugi depressa para o mar, regressai ao vosso navio, porque os

63 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.153. 64 Isso parece correto ao verificarmos o conhecimento do capuchinho sobre as ilhas, portos e aldeias de São Luis e arredores. D’Evreux sabia exatamente onde aportaram os portugueses (ilha de Santa Anna) e onde passaram. Grande parte desse conhecimento era proveniente das conversas com os indígenas. In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, pp. 89-92. 65 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.90.

51

franceses têm na ilha um belo forte, canoas, navios e canhões” 66. Este fato provoca a fuga

dos portugueses, sendo perseguidos por uma barca artilhada francesa, que não consegue

abordá-los. Pena que os escritos de D’Evreux sejam hoje incompletos, faltando dois capítulos

(XI e XII), justamente seguidos ao deste, onde talvez tratassem justamente dos preparativos

dos militares franceses, com seus aliados recrutados, da defesa da ilha. Mesmo assim, ele

ainda nos traz valiosas informações sobre a construção de dois fortes no local onde

desembarcaram os portugueses (Porto de Caurs).

Os aliados permanentes dos portugueses do Nordeste do Brasil

vão ao Maranhão:

Para expulsar os franceses do Maranhão os militares portugueses foram procurar

nas alianças com as tribos rivais dos Tupinambás uma forma de conseguir mais efetivo militar

para a campanha. No entanto, ainda contaram com seus aliados permanentes do Rio Grande

do Norte e Pernambuco, donde destacam-se as figuras de Felipe Camarão e Jacaúna. Desses

grupos pouco sabemos em termos de relações comerciais com os portugueses, exceto os

poucos registros feitos pelos Capitães portugueses, tais como Jerônimo de Albuquerque e

Alexandre de Moura. Algumas dessas tribos já haviam tido contato com os franceses e

comercializaram com eles antes da chegada dos portugueses, como por exemplo, os Tabajaras

e Potiguares.

Quem eram os Tabajaras ou Tobajaras? Entende-se que podiam ser tanto do

tronco Tupi-Guarani ou não, pois na verdade seria um termo usado para definir os seus

“inimigos”, de uma maneira geral, entre os indígenas, não sendo aplicado aos brancos.

Para Florestan Fernandes os Tabajaras seriam inimigos dos Tupinambás na região

do Maranhão-Pará. No entanto etimologicamente podem ser entendidos como “os do outro

lado”, portanto inimigos, mas pertencentes também à etnia Tupinambá67.

Os Tabajaras aparecem em fontes quinhentistas como aliados dos Potiguares no

litoral Nordeste brasileiro. Divergências entre as tribos teriam desfeito essa aliança e

permitido a sua aproximação junto aos portugueses por volta de 158568.

66 Numa nota do livro feita pelo editor, uma versão em francês citada diz: “(...) il y a plusieurs François em l’Isle qui ont vn beau fort, barques, canons & nauires”. In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.90. 67 FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, pp.384.

52

Outros grupos eram os Tapuias. Seu nome advém de um termo genérico para

tratar os indígenas não-tupis como os Charruas, Goitacás, Aimorés e Tremembés69. Segundo

Ronald Raminelli, os Tapuias são na grande maioria da família lingüística Jê ou grupos

lingüísticos isolados, destacando os Charruas, no estuário do Prata, os Goitacás, na foz da

Paraíba, os Aimorés, no sul da Bahia e os Tremembés entre o Ceará e o Maranhão. Além

destes, destaca os Kariris, Janduís, Paiacus, Canindés, Sucuris, Icós, Tocarubas70. Segundo

Florestan Fernandes, os Tapuias ou Tupinas viviam no litoral da Bahia até serem expulsos

para o interior pelos Tupinambás71.

Outro grupo era os Tremembés. Sua língua era o Tupi-guarani, talvez de um

dialeto mais próximo ao guarani, daí serem identificados como não Tupis. Viviam na costa do

litoral brasileiro.

Segundo Carlos Fausto, o nome Tremembé indica os grupos que viviam entre o

Ceará e o Maranhão72. Eram inimigos dos Tupinambás seguindo a migração destes para a

região do Maranhão-Pará segundo Florestan Fernandes73.

Outros grupos eram Caetés. Designavam Tupi-Guaranis da costa brasileira.

Segundo o Tratado de Soares de Sousa, o grupo dos Caetés vivia do Rio São Francisco até a

Paraíba74. Segundo Florestan Fernandes, os Caetés faziam fronteira com os Tupinambás pelo

lado do Rio São Francisco e também faziam tráfico com os franceses até serem duramente

reprimidos pelas expedições portuguesas entre 1562 e 1574. Onde foram feitos escravos ou

ficaram sob a tutela dos missionários da Companhia de Jesus, que desde 1561 já possuía

diversas aldeias com indígenas desta nação submetidos a evangelização. Eram inimigos dos

Tupinambás e viviam entre a região do Maranhão e Pará. Segundo Florestan Fernandes,

68 MOONEN, Frans e MAIA, Luciano Mariz. Etnohistória dos índios Potiguara : ensaios, relatórios, documentos. João Pessoa, PR/PB-SEC/PB, 1992. 69 FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p.382. 70 RAMINELLI, Ronald. Tapuias. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: editora objetiva LTDA, 2000, pp.544-45. 71 FERNANDES, Florestan. Organização social Tupinambá. São Paulo: Instituto Progresso Editorial S.A, 1948, p.35. 72 FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p.383. 73 FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, pp.44. 74 FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p.383.

53

embora os Tupinambás e Caetés tivessem rivalidades, havia entre eles uma proximidade

cultural maior, isso possibilitou estabelecerem confederações contra os portugueses75.

Os Caetés tinham um modo de vida semelhante ao dos Tupinambás, daí sua

proximidade e afinidade para alguns assuntos como a guerra aos portugueses na Bahia. Os

Caetés daquela região do nordeste, e já recrutados pelos portugueses em alianças

permanentes, podem ter vindo com os soldados portugueses servindo como “línguas” pelo

fato de serem mais íntimos dos Tupinambá e Caeté do Maranhão, como citam D’Evreux e

Alexandre de Moura76.

O último grupo eram os Potiguares. Eram Tupi-guaranis da costa brasileira.

Também foram citados no Tratado Descritivo do Brasil, de Soares de Sousa e que foi

reproduzido por outros autores ao longo do tempo. Viviam numa faixa de terras do extremo

nordeste da Costa até o Ceará77.

Também eram inimigos dos Tupinambás na região do Maranhão e Pará segundo

Florestan Fernandes78. Para Frans Moonen, estes indígenas habitavam o litoral Nordeste do

Brasil entre as atuais cidades de João Pessoa e São Luis, no Maranhão.

Na época colonial os Potiguares lutaram contra os portugueses no Nordeste. Entre

os anos de 1575 e 1599, apoiaram os franceses contra os portugueses na região da baia da

Traição, entreposto comercial de saída de pau-brasil e demais madeiras nobres para a França.

Várias missões portuguesas foram vencidas por este grupo, auxiliados pelos seus aliados da

nação Tabajara. Desentendimentos entre esses grupos puseram fim à aliança contra os

portugueses. Os Tabajaras passaram a apoiar os colonos portugueses. Mas, em 1590 os

portugueses atacaram várias aldeias Potiguares e os remanescentes migraram para o Rio

Grande do Norte. Um ano depois da construção do Forte lusitano dos Reis Magos e uma

75 FERNANDES, Florestan. Organização social dos Tupinambá. São Paulo: Instituto Progresso Editorial S.A, 1948, pp.39-44. 76 Na viagem do capitão Martim Soares Moreno ao Maranhão, em 1613, sob ordens do Capitão-Mor Alexandre de Moura, haviam alguns índios que conheciam a língua e o costume dos nativos daquela região. In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.165. Esses mesmos indígenas trazidos por Soares Moreno são chamados de “Canibais” por Yves D’Evreux. In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.90. 77 FAUSTO, Carlos. Fragmentos de História e Cultura Tupinambá, in: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, p.383. 78 FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, p.44.

54

epidemia de varíola devastadora, os Potiguares finalmente fizeram as pazes com os

portugueses79.

Sobre a sua cultura, pouco se sabe até hoje, contudo os autores afirmam que eles

eram muito próximos dos Tupinambás. O cronista Gabriel Soares de Sousa, por exemplo, diz

terem “a mesma língua, costumes e gentilidades” dos Tupinambá e Caeté80.

Luta pela posse de São Luis e o fim da França Equinocial:

Como Soares Moreno não retornou no prazo, Jerônimo de Albuquerque voltou ao

Ceará, mas antes mudou a posição da expedição para um local chamado “Juruçacoara”

(Jericoacoara) ou Buraco de Tartaruga, onde fez uma fortificação em madeira81. A conclusão

desses preparativos, a vigem da frota e as batalhas já foram muito bem descritas por Max

Justo Guedes. Por essa razão eu me detenho na participação indígena na guerra e suas

conseqüências futuras. Segundo este autor, a força ibérica foi acrescentada por Jerônimo de

Albuquerque de 300 “índios frecheiros” do Rio Grande (do Norte) 82.

Na volta de Martim Soares Moreno ele contou que havia a possibilidade de um

principal da ilha do Maranhão chamado Meratahopa se aliar aos ibéricos na luta contra os

franceses. Por isto, a estratégia dos capitães Alexandre de Moura, Campos Moreno, Vicente

Campelo era levar a força militar até a aldeia deste buruuichaue. Segundo D’Abbeville, este

chefe de Itapari era um dos mais antigos amigos dos franceses, tanto que lhe deram o apelido

carinhoso de “Caranguejo”. Isso nos sugere haver uma negociação entre aldeias Tupinambás e

militares portugueses para mudarem de lado83.

Problemas financeiros impediram momentaneamente essa expedição de zarpar.

Contudo, após esses percalços, logo “fizeram vela” com 300 soldados acrescidos de provisões

vindas do Rio de Janeiro. No percurso, mais indígenas potiguares juntaram-se à tropa por

79 Depois dessa trégua os potiguara voltaram a se rebelar quando se aliaram com os holandeses em 1625. In: MOONEN, Frans e MAIA, Luciano Mariz. Etnohistória dos índios Potiguara : ensaios, relatórios, documentos. João Pessoa, PR/PB-SEC/PB, 1992, pp.93-8. 80 MOONEN, Frans e MAIA, Luciano Mariz. Etnohistória dos índios Potiguara : ensaios, relatórios, documentos. João Pessoa, PR/PB-SEC/PB, 1992, p.111. 81 GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.559. 82 GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.560. 83 Pela escrita e localização dada pelos portugueses podemos identificar esse chefe como o Metarapua “pedra branca” ou “caranguejo” da aldeia Itapari. In: D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.186.

55

ordem de Felipe Camarão que depois retornou ao Ceará84. Entre a região de Mucuripe e

Jericoacoara contava-se, segundo Guedes, com “220 índios flecheiros, incluindo os Potiguares

de Felipe Camarão e Jacaúna” 85. Finalmente, chegaram ao Maranhão, estabeleceram posição

no denominado Quartel de Santiago e deste ponto foram até Guaxenduba, local com água

doce e alimento. Nesta região ficavam algumas aldeias leais aos franceses: Timboú e Itapari,

o que me faz pensar num acordo não comentado nas fontes entre portugueses e os

buruuichaue delas86.

Figura 6

Mapa do Litoral do Maranhão feito por João Teixeira Albernas em 1615. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.567.

84 Felipe Camarão ou Poti era índio potiguar do Rio Grande do Norte. Havia estudado com os jesuítas Latim e sabia até holandês. Foi uma das principais lideranças potiguares do Nordeste, tendo participado com maior destaque na luta contra os holandeses. In: VAINFAS, Ronaldo (dir). Dicionário do Brasil Colonial. Ed. Objetiva: Rio de Janeiro, pp.224-25. 85 GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.564. 86 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, p.186.

56

O relatório de Alexandre de Moura aponta para isso após a tomada do forte de

São Luis. Diz ele o seguinte: “tinha ele setenta pessoas de escravos tapuyas entre machos e

fêmeas, que lhe comprei para serviço de V. Mag.de e cultivar a terra fazendo mantimentos

para os prezidios que todos ficaram entregues ao capitão mor Hieronimo dalbuquerque

(...)”87.

Os fatos comumente narrados pela historiografia sobre a batalha, a meu ver, têm

dados incompletos e muita fantasia. Misturada ao discurso vanglorioso dos vencedores.

Dizem os autores que as forças portuguesas fizeram dois fortes (São José de Itapari e Santa

Maria) conjuntamente, e praticamente num dia, sem que os franceses soubessem ou fizessem

qualquer investida antes de sua realização. Estranhamente, segundo a historiografia

tradicional, estes preferem dar ataque quando os fortes já estão construídos, deixando a

vantagem da defesa para os portugueses. Apesar de conseguirem tomar três naus ibéricas, o

ataque ao forte de Santa Maria fora um desastre, são mortos muitos franceses nesta ocasião,

inclusive o irmão de Ravardière88.

Fato inegável foi o armistício entre os dois lados, justificado por Guedes pelo

medo dos portugueses “que reforços indígenas poderiam apoiar os franceses, ainda com suas

posições intactas” 89. O temor português era mais do que justificado, os Miarinenses, também

chamados de Pedras verdes pelos franceses90, descritos por D’Evreux eram muito bem

treinados na arte da guerra pelos franceses, o que indica serem uns dos poucos recrutados

oficialmente pelos franceses, talvez por terem ódio mortal dos portugueses:

“Estes Miarienses são ordinariamente de boa estatura, bem conformados e valentes

na guerra: sendo bem guiados não recuam e nem fogem como os outros

Tupinambás, explicando-se isto pelo fato de serem criados entre os combates,

sempre travados contra portugueses, aos quais atacaram outrora, tomaram suas

bandeiras e nunca mais abandonaram sua primeira habitação, como nos contou

Tion, seu principal, quando veio do Forte de São Luiz, se a falta de canhões não

87 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p. 199. 88 HURLEY, Jorge. Noções de História do Brasil e do Pará. officinas gráficas do Instituto Lauro Sodré: Belém, 1938, pp. 49-60. 89 GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.539. 90 Segundo D’Evreux eles eram assim chamados por causa de um monte próximo a sua antiga habitação onde se achavam muitas pedras preciosas verdes com as quais eles comercializavam com as nações vizinhas. Tinham boa estatura, bem formados e mais valentes na guerra que os demais Tupinambá. In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, pp. 93-94.

57

obrigasse os franceses, que estavam com eles, a cederem à força e à numerosidade

dos portugueses” 91.

Este depoimento, se verdadeiro, narra a participação dos Miarienses na luta do

forte luso de Santa Maria, fato notável é tomarem a bandeira lusa levando-se em conta que a

bandeira era um símbolo bem protegido e valorizado pelos exércitos da época. Importante

salientar também que os Miarienses guerreavam como franceses, com espadas afiadas, que

“acostumam-se a bem manejá-las, fazendo marchas e contramarchas à maneira dos suíços

quando esgrimam” 92.

Levando-se em conta o depoimento de D”Evreux sobre os Miarienses, que não

fogem da luta “como os outros Tupinambás”, podemos então concluir, que a maior parte do

exército francês que defendia a ilha era composta de recrutas Tupinambá voluntários, que

pouco compreendia das regras de formação dos batalhões, que não sabiam usar das armas

européias. Que fugiam, aos tiros de mosquetaria e artilharia inimiga, deixando seus

comandantes franceses em desvantagem numérica93.

Mas o fato é que a situação no Maranhão estava indefinida após a chegada das

forças portuguesas comandadas por Jerônimo de Albuquerque em 1615, pois estas não

conseguem o seu intento de capturar a principal fortaleza francesa na ilha de São Luiz,

fortemente defendida por vinte canhões grandes bem posicionados, segundo o depoimento do

capuchinho Claude D’D’Abbeville94. No lado francês a espera de reforços era a única forma

de justificar a sua não capitulação por falta de recursos e comida.

Conforme diz Berredo, o Senhor de La Ravardière pediu uma trégua para

negociar sua rendição e ganhar tempo95. Para resolver a guerra em favor dos ibéricos, o

Governador Geral do Brasil nomeia Alexandre de Moura, fidalgo da casa Real e Cavaleiro do

hábito de São Bento de Aviz, como Capitão mor da Conquista do Maranhão com a intenção

de liquidar de vez a resistência francesa e dos seus guerreiros Tupinambás na ilha de São

Luiz. 91 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.94. 92 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.95. 93 Isso desfaz o mito da superioridade militar Tupinambá frente aos portugueses e também explica em parte a derrota francesa em Guaxenduba. In: D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p.94. 94 Segundo D’Abbeville eram vinte canhões grandes erguidos pelos Tupinambá até o forte que situava-se num local alto. In: D’ABBEVILLE, Claude. Historia da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. p. 83. 95 BERREDO, Bernardo Pereira de. Annaes Históricos de Berredo. Terceira edição, Florença, Typografia Barbera, 1905, p.152-53.

58

No seu relatório ao Rei, datado de 24 de outubro de 1616 e escrito já em Lisboa,

Alexandre de Moura faz um resumo detalhado da sua atuação na conquista do Maranhão,

sendo em algumas partes reflexões suas sobre aquilo que devia ser posto em prática para o

bom desenvolvimento da colônia. Com o título pomposo de “Sobre a expedição que fez a ilha

do Maranhão e expulsão dos franceses” 96, ele começa falando de sua partida de Pernambuco

em cinco de outubro de 1615 numa frota composta de “nove velas” com 600 soldados “entre

pagos e aventureiros” e a sua chegada ao Maranhão. Em seguida, descreve como foi

atribulada a sua chegada, em virtude de haver uma trégua entre as forças ibéricas e os

franceses sitiados em suas fortificações. O autor parece bastante contrariado com relação às

atitudes de Francisco Caldeira de Castelo Branco neste momento, pois já havia tido queixas

dele pelo então Capitão Mor Jerônimo de Albuquerque, como consta num anexo que segue ao

documento. Diz Moura que Castelo Branco negociava com os franceses de Monsieur

Ravardière sem ter ordem expressa disso, além de ser negligente no caso da chegada da frota

ao Maranhão, em que não conseguiu práticos para os navios da frota fundear com segurança

em um porto seguro da costa.

Este relatório do Capitão Mor Alexandre de Moura traz vários anexos que são

datados da época da conquista e que atestam algumas informações que ele trata no texto

principal. Muitos reforçam não a suspeita, mas o fato de que Castelo Branco foi enviado ao

Pará como forma de evitar mais desentendimentos entre ele e Jerônimo de Albuquerque. Logo

o primeiro anexo é uma mostra de como Castelo Branco tornou-se uma “persona non grata”

pelo Capitão mor Jerônimo de Albuquerque, por estar atuando de forma livre e sem respeitar

a cadeia de comando no trato com os franceses e com os soldados. Diz ele num

Requerimento, que Castelo Branco chegou à frota enviada pelo Governador Geral do Brasil

Gaspar de Sousa apenas para deixar o socorro e partir, mas “se deixou ficar nestas partes” e

começou a atuar junto a uns “mal intencionados” no sentido de minar a sua autoridade97.

Essa crise entre os dois Capitães chegou a ponto de Jerônimo de Albuquerque ter

que consentir que Castelo Branco negociasse com os franceses para não perder totalmente sua

autoridade. Diz Jerônimo que:

“(...) o dito Francisco Caldeira fez a seu gosto lançando-me fora do que a tanto

tempo trabalho, e sustento com risco de minha vida e sangue de meus filhos e com

96 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.195-242. 97 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.203-05.

59

tanta perda de minha fazenda mostrando-se o dito Francisco Caldeira em seus papeis

dono, e repartidor da Artilharia, e do tempo, e mudança dos franceses e seus

pagamentos prometendo, e assinando pactos com tanta soltura, como se nas matérias

fora cabeça, não tendo poder para nada,(...)”98.

Ainda segundo a queixa, Castelo branco fazia isso e ainda envenenava a

negociação dos franceses com Jerônimo de Albuquerque, pois dizia aos mesmos que o

Capitão Mor não era pessoa de palavra.

Ao final da carta de protesto ele pede que tomem as providências no sentido de

“mandar reter com as guardas” Castelo Branco para “não usar das invenções, que costuma,

visto não ter poderes para nada”. Como podemos ver o clima entre esses dois Capitães não

foi nada amistoso. Castelo Branco conseguiu minar a autoridade de Albuquerque, tanto entre

os soldados quanto entre os franceses, tudo acontecendo em plena guerra pela posse da França

Equinocial, colocando em risco a própria força militar ibérica.

O anexo n.2 do Relatório de Moura é uma Certidão do Capitão francês Daniel

Latousche, datada de quatro de novembro de 1615, no qual confirma os dados de Alexandre

de Moura e Jerônimo de Albuquerque sobre a traição de Castelo Branco e suas negociações

escusas com eles:

“(...), y este recado me traxo um Francisco de Pallares su amigo, el qual me dixo de

palavras, que io no dexasse ir el dixo Caldeira, porque me assegurava, que el senhor

dalbuquerque no me avia de guardar ninguma palabra de todo lo que tênia

prometido de Su Magestad, en los negócios, que tratados teniamos, (...)”99.

Formas de tratamento dos portugueses aos Tupis do Maranhão:

Após a tomada da principal fortaleza da ilha chamada São Luiz, transformada em

fortaleza de São Felipe pelos ibéricos, Alexandre de Moura descreve as ordens que deu ao

engenheiro-mor do Brasil Francisco Frias de Mesquita, que estava com ele na viagem, no

sentido de reformar a mesma segundo os padrões ibéricos. Idealizada anos antes pelos

98 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.204. 99 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.206.

60

franceses, essa fortaleza foi construída com grande participação de mão-de-obra tupinambá da

ilha e arredores, como foi visto no início deste capítulo100.

Nesse documento podemos perceber o quanto era resistente essa construção feita

com braço Tupinambá no tempo da chegada dos franceses. Foram somente acrescentadas pelo

engenheiro-mor português algumas modificações, entre elas a cobertura dos alojamentos e

armazéns de telhas de barro cozidas, no lugar das palhas típicas das malocas. Antes, porém,

construíram fornos de onde fabricaram as telhas e a cal para construção de uma parede

externa em pedra101.

Essas reformas apenas serviram para consertar as áreas mais frágeis do forte, o

que contradiz com qualquer teoria que qualifique como mal acabada e provisória as primeiras

fortificações feitas na região. Construídas pelos Tupinambás da ilha e proximidades, suas

muralhas resistiram a todo o cerco dos ibéricos e ao fogo da artilharia, tendo esta se rendido

mais por incapacidade de lutar sem provisões e suprimentos do que por uma invasão a

fortaleza. A tecnologia bélica trazida pelas forças portuguesas era monumental não somente

contando com as diversas artilharias navais e terrestres, farta munição e pólvora, mas por

contar com soldados vindos da metrópole e de outras partes do Brasil, notadamente de

Pernambuco e por gente experimentada na construção de fortalezas como era Frias de

Mesquita.

Contudo essa tecnologia de origem européia não apagou o conhecimento que os

indígenas passaram aos franceses e ibéricos durante a construção de suas fortificações, pois

apesar de improvisadas aos olhos do colonizador eles valiam-se delas, eram fáceis de

construir num tempo curto, resistentes e baratas não onerando sua construção. Tão pouco os

grupos Tupinambás esqueceram o que haviam aprendido com os franceses e depois com os

ibéricos. Posteriormente o forte construído no Pará seguiu o mesmo traçado, utilizando os

recursos naturais que a região possibilitava e que os grupos indígenas de lá conheciam bem,

além das formas de construção típicas das fortificações desse período do século XVII.

Para os portugueses era imperativo eliminar a influência francesa junto aos

indígenas, para isso contavam com os indígenas recrutados no Nordeste e o apoio dos chefes

aliados que fizeram no Maranhão. As aldeias aliadas e recrutadas pelos franceses em São Luis

foram logo escravizadas, as que mantiveram neutralidade ou um pacto de não agressão aos

portugueses nada sofreram de imediato. A permanência dos franceses como Ravardière e Des 100 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.197-98. 101 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.220-21.

61

Vaux negociando a rendição e depois como prisioneiros, possibilitou aos portugueses uma

vantagem junto aos indígenas no sentido de garantir uma trégua segura com os Tupinambás,

fato que garantiu a sua permanência na região apesar de numericamente inferiores aos

indígenas.

62

CAPÍTULO II

A Conquista Ibérica do Grão-Pará (1616-1620):

Após a vitoriosa campanha contra os franceses e seus aliados das nações

Tupinambás estabelecidos na ilha de São Luis, a atenção dos capitães lusitanos volta-se para

uma possível viagem ao Pará, tanto para conquistar e legitimar a posse dessas terras, quanto

para verificar a presença de franceses ou de outros europeus.

Sobre a viagem feita ao Pará o relatório de Alexandre de Moura diz o seguinte:

“(...) pareceu-me mandar ao grão Pará e Amazonas, pois que com mais facilidade o

podia fazer naquela conjunção pela gente que tinha. E por dar cumprimento a um

capitulo de meu regimento em que se me ordenava e por me dizer o Ravardière e

todos os franceses que tudo o que havia de bom no Maranhão estava naquelas

partes, pus em prática a dita jornada assegurando-me o Ravardière que no dito

distrito não havia que recear como consta de sua certidão nº22 em que se encontra

com Francisco Caldeira e tomando pareceres sobre o particular de que se fez o auto

nº. 23 foram tomados, de acordo se fizesse a dita jornada como no dito auto consta e

assim mesmo dele consta que se deu a Francisco Caldeira a que para a dita jornada

elegi Capitão Mor, tudo o que lhe convinha e ele pediu”102.

Notemos que Alexandre de Moura já tinha ordens para vir ao Pará, ordens essas

expressas “num capítulo do seu regimento”, mostradas em parte no seu anexo n.23103. O

momento era bastante favorável para a viagem, pois com a derrota dos franceses havia no

Maranhão quantidade de soldados e provisões mais do que suficientes. Sob seu comando

havia mais de 600 homens, além de farta quantidade de pólvora, canhões e mosquetes de

diversos calibres, alguns tomados ou comprados dos franceses, além de outros apetrechos,

como lanças e espadas. Ele decidiu por fazer a missão exploratória ao Pará. No entanto,

nomeou outro capitão para o comando. Contudo, por que escolheu Francisco Caldeira Castelo

Branco para ser o comandante da expedição?

A causa para a escolha de Castelo Branco indubitavelmente tinha a ver com os

problemas que o mesmo causara no Maranhão junto com seus comandados. Alexandre de

102 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.200. 103 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.238.

63

Moura mandou a expedição ao Pará, com Castelo no comando, para evitar motins e

desavenças entre os militares.

“E lhe dei cento e cinqüenta soldados de sua parcialidade afora outros repartidos, em

três companhias com seus oficiais pelos tirar a todos de suceder outro motim no

Maranhão os quais foram pagos de soldo e mantimento por cinco meses, adiantados

com dez peças de artilharia entre grandes e pequenas, oito quintais de pólvora.

Armas e munições bastantes, dando-lhe por ordem o regimento junto nº24”104.

Importante nesse ponto referido por Alexandre de Moura é o fato de já ter havido

um motim no Maranhão, talvez com a participação de Castelo Branco e dos 150 homens “de

sua parcialidade”. Demonstra que não os queria no Maranhão a ponto de pagar o soldo e

mantimentos adiantados com a intenção de mantê-los longe de confusão105. Neste aspecto, a

fonte mais consultada sobre o período colonial no Grão-Pará, escrita por Antonio de Berredo

nada fala deste episódio:

“Passados poucos dias nomeou Alexandre de Moura a Jeronymo de Albuquerque

por Capitão mor da conquista do Maranhão, que lhe tocava como própria; e ao

mesmo tempo a Francisco Caldeira de Castello-Branco com igual patente para o

descobrimento do Grão-Pará, famoso rio das Amazonas, de que tinha já bastantes

noticias pelas informações de Ravardière” 106.

Continuando seu relatório, Alexandre de Moura fez observações no sentido de

aconselhar o Rei Felipe sobre como deveria proceder para dar bom andamento às novas

conquistas. Um dos assuntos é a transferência de seiscentos colonos de outras regiões do

Brasil como de Pernambuco, Paraíba e Itamaracá, por “já ter gente em abundância”, e por

estarem nesses locais fazendo “criações (de gado) em terras alheias”. Tudo isso no sentido

de “povoar e descobrir os segredos que em si dizem que encerram” as novas conquistas.

Certamente refere-se aos mitos de riquezas escondidas ou perdidas na floresta como no mito 104 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.200. 105 Meira Filho chega a apontar para tal abordagem da escolha de Castelo Branco, contudo não se refere ao Motim no Maranhão, nem nos depoimentos de Ravardière e de outros sobre o episódio. Prefere considerar Castelo Branco, nas suas palavras: “um rebelde Capitão, sagaz e astuto entre os seus, manhoso e destemido em face do inimigo e que não nos deixou apenas, os fundamentos de nossa formação histórica, mas, também, os exemplos de um político hábil, fixando profundas raízes em nosso meio que se verificam até os nossos dias”. In: MEIRA FILHO, Augusto. Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará. Vol.1, 1ª edição. Belém: Grafisa ed. Globo, 1976, p. 42. 106 BERREDO, Bernardo Pereira de. Annaes Históricos de Berredo. Terceira edição, Florença, Typografia Barbera, 1905, p.160.

64

do “El Dourado”, muito comum entre os espanhóis e com certeza de conhecimento dos

portugueses.

Num outro ponto importante de seu relatório, Alexandre de Moura descreve como

era a região em que esteve (Maranhão) e como seria a melhor forma de defendê-la:

“Não há naquelas partes porto fechado tudo são braços de mar em que podem entrar

e sair por onde quiserem e assim são de pouco efeito as fortalezas. E a maior de

todas é os grandes matos e o estar bem com os naturais para o que importa muito

irem religiosos, a eles tem muito respeito e pelo muito fruto que fizeram nas almas e

farão sempre. E valendo-se de suas canoas, e fragatas que se devem fazer (como

deixei ordenado no Maranhão) e com elas se pode impedir a entrada dos rios aos

navios pequenos e lanchas dos inimigos, e para melhor exercitarem nelas pode V.M.

mandar ir do Rio de Janeiro alguns mamelucos, e índios dos que nelas costumam

pelejar fazendo bons efeitos” 107.

Alexandre de Moura não esteve no Pará, mas diz de forma generalizante que o

uso de fortalezas era inútil e que a melhor forma de guarnecer as conquistas seria preservando

os “grandes matos” costeiros e estar de bem com os grupos indígenas litorâneos. Neste

sentido, de grande valia seria o trabalho dos religiosos junto aos índios, para pacificá-los e

convertê-los ao Cristianismo. Indiretamente, percebemos que os religiosos tinham um peso

maior na pacificação e, consequentemente nas alianças permanentes e no recrutamento ibérico

nesses primeiros tempos.

Sobre os indígenas do Maranhão e Pará ele nos diz brevemente que estão em

quase todas as diversas ilhas do litoral e plantam abundante mantimento. Ele não chega a

explicitar os tipos de mantimentos, só afirma serem abundantes em diversas partes do texto

como esta a seguir: “E entreguei ao Governador Gaspar de Sousa desde o Pereya primeira boca dele até

o Rio das Amazonas, e é tudo um mar coalhado de ilhas de número infinito a que os

mesmos naturais não sabem dar conhecimento. Algumas delas povoadas de infinito

gentio e abundantes de todo o mantimento que plantam” 108.

107 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.201. 108 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.201.

65

Em outro aspecto importante, Alexandre de Moura refere-se ao Catolicismo como

forma de livrar os indígenas do Maranhão da vida pagã e das influências nefastas dos hereges

franceses e de corsários de outras nações que os visitavam:

“São terras que V.M. deve mandar povoar e aproveitar a si para tirar ao Demônio

tantas almas como ali possui e houvera de possuir se estivera em poder de franceses

hereges, como também pelo que se pode esperar de proveito a sua real fazenda, e

quando nenhuma destas, pelas tirar de mãos de estrangeiros, que nela iam fazendo

um novo reino sendo continua escala de corsários que ali iam refazer de suas largas

navegações” 109.

Propõe o povoamento do litoral, como principal forma de efetivar a conquista e

garantir sua posse frente aos estrangeiros, contando com os colonos portugueses vindos de

diversas partes da metrópole e colônias. Deveriam também inserir nesse povoamento os

diversos grupos indígenas litorâneos, catequizando-os como forma de livrá-los das heresias,

dentre as quais a dos protestantes franceses. Notamos então, que Moura tinha a clara

percepção de que não daria para colonizar esse imenso território contando apenas com as

pessoas vindas da metrópole e de outras áreas coloniais. O investimento na catequese dos

indígenas garantiria não somente a mão de obra, mas também elementos colonizadores

locais110.

Abundante em frutas, madeira e animais, a conquista do Maranhão sofre com a

carência de outros tipos de provimentos. Alexandre de Moura pede que mandem oficiais

tanoeiros, carpinteiros de ribeira, calafete e tecelões. Pede que enviem ferro e aço para a

fabricação de munições, salitre para refinar a pólvora que, com a umidade da região “se dana”

e estraga, além de fazendas de pano de lã e linho, estes últimos provavelmente para troca com

os indígenas111.

Outros produtos que faltavam na conquista eram lãs, azeites e vinhos, os dois

últimos indispensáveis à mesa portuguesa desde essa época. Esses produtos eram muito

109 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.202. 110 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.202. 111 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.202.

66

requisitados pelos primeiros colonos e soldados e por isso, alcançavam grande valor na

conquista112.

Ao final de seu relatório, diz que seriam necessários homens na região, que já

serviram com satisfação e com qualidades em outras partes, para que fossem exemplo para

todos os que pretendessem povoar as ditas conquistas. Talvez, esta tenha sido uma forma de

expressar sua insatisfação aos tipos de pessoas que estavam no Maranhão, que fizeram o

motim e aos militares ambiciosos, como o próprio Castelo Branco113.

Entretanto, se há toda uma crítica a postura de Castelo Branco, por que não houve

punição ao dito capitão? Esta é uma pergunta que logo nos vêm ao observarmos tais

documentos. O que podemos supor como provável resposta é que Castelo Branco era um

capitão muito influente entre as tropas que foram para o Maranhão, mas isso não explica o

motivo para a tolerância de sua conduta.

A busca pelo prestígio dentro dos salões da corte metropolitana e

consequentemente de uma ascensão social dentro da colônia, foram os motivos, tanto das

atitudes desse capitão, quanto das críticas a ele. Sua ambição levou-o a passar por cima das

ordens dos dois capitães-mores (Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura) e, quando

quase foi afastado por insubordinação, buscou apoio nas tropas.

O anexo nº. 3 do relatório de Alexandre de Moura é muito importante e muito

negligenciado pela bibliografia da conquista. Ele trata de um requerimento feito por oficiais e

soldados da conquista do Maranhão em 3 de julho de 1615, na Fortaleza de Nossa Senhora da

Ajuda, situada na Igreja dos capuchinhos de São Francisco, pedindo para que o capitão

Castelo Branco atuasse como adjunto do capitão-mor Jerônimo de Albuquerque na conquista

do Maranhão114.

Podemos tirar muitas informações desse documento aparentemente simples. A

primeira delas é que ele trata justamente do tal “motim” referido por Alexandre de Moura e

reafirmado por Jerônimo de Albuquerque em seus escritos. Relembrando o depoimento já

citado anteriormente por Alexandre de Moura em que ele deu a Castelo Branco, “cento e

cinqüenta soldados de sua parcialidade afora outros repartidos, em três companhias com

seus oficiais pelos tirar a todos de suceder outro motim no Maranhão...”, ele dá a entender

112 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.202. 113 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.203. 114 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.206-09.

67

que todos os mencionados neste documento em anexo, eram da parcialidade de Castelo

Branco115.

Podemos supor que muitos destes foram enviados à conquista do Pará na famosa

viagem. Neste anexo há aproximadamente 65 nomes de oficiais e soldados favoráveis a

Castelo Branco. Nele são citados os seguintes nomes:

1. Capitão Martim soares moreno

2. Simão Nuz Correa

3. Alferes João glz baracho

4. Alferes Francisco Novaes campos

5. Alferes Estevão de campos

6. Alferes Christovão Vaz de betancor

7. Paulo da Rocha

8. Sargento Pero do Couto Cardoso

9. Sargento Domingos daraujo

10. P° Lobato, o sargento do descobrimento

11. Sargento Belchior Vaz

12. Sargento Matheus Rodovalho

13. Sargento João de salinas

14. Pero Teixeira

15. Francisco de Medina

16. Domingos henriques

17. Bento Gonçalves

18. Miguel Frz, Tadeo de passos

19. Francisco da Costa Pachequo

20. Manoel pedroso

21. Rafael Mendes

22. Theodósio Teixeira

23. Manoel Calado de Lima

24. Mathias frz farto

25. Jerônimo Guomes

26. Mathias de Lima

115 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.200.

68

27. Luis Novaes de Campos

28. Dionísio ribeiro

29. João de Medina

30. João Dias

31. Amador Álvares

32. Diogo Dares

33. Fernam Vaz dalpoem

34. Antonio frz, João Lourenço

35. Domingos Mouta

36. Domingos Dornelas

37. João Francisco dabreu

38. Salvador Roiz

39. Antonio Carvalho fajardo

40. Miguel freire de Gouvêa

41. Gregório de Crasto

42. Francisco Fernandes de guarate

43. João roiz

44. Diogo roiz carmona

45. Jacinto decasada

46. Roque de Misquita fernam de verdosa

47. Francisco Roiz

48. Guaspar Camelo pereira

49. P° Luis Rodrigo de Leão

50. Domingos homem

51. Bertholameu Carrasquo

52. Lourenço risso

53. João dalmeida

54. P° bastardo

55. Gonçalo frz Teixeira

56. Manoel Glz da silva

57. Antonio Álvares

58. João Pereira

59. Guaspar de Sousa

69

60. Manoel daraujo

61. Antonio frz Marinho

62. Manoel Roza

63. Domingos Batalha dazevedo

64. Bertholomeu do Couto

65. João pereira Fonte: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de

Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.206-09.

Estariam nesta lista os tripulantes das embarcações comandadas por Castelo

Branco que vieram ao Pará? Alguns deles aparecem nos documentos referentes à viagem,

incluindo aí o capitão Pedro Teixeira, que é escrito “Pero Teixeira”, outros mais aparecem na

documentação posterior, como o Alferes Cristóvão Vaz de Bittencourt e Francisco de Medina.

Aparentemente esse documento é acatado pelos capitães-mores, como mostram as

suas conclusões. Entretanto, teve repercussões variadas, para Castelo Branco significava a sua

afirmação em comando e prestígio entre os soldados e oficiais, para o capitão-mor Jerônimo

de Albuquerque era no mínimo um ato de insubordinação por parte da tropa.

No anexo n.4 do Relatório de Moura, está uma certidão de um Alferes chamado

Brás Murzello. Este é o melhor depoimento acerca do motim acontecido no Maranhão citado

por Alexandre de Moura. Diz ele:

“(...) quando chegou Francisco Caldeira de Castelo Branco com o socorro a Santa

Maria deu grandes entendimentos a todos os soldados, e franceses, que trazia largos

poderes, e assim se amotinaram e se alevantaram os mais soldados da sua parte

contra o Capitão Mor Jerônimo de Albuquerque, e não esteve mais o neg.co uma

noite que haver um homem que metesse mão a espada, sendo assim, que nos

perdêramos todos, E chegou a tanto o neg.co que houve uma noite tocar-se caixa da

parte da guarda do Capitão mor Jerônimo de Albuquerque, e andando as coisas desta

maneira começou Francisco Caldeira de tratar do conserto com o general francês

(...)” 116.

Notemos que o fato foi grave e poderia ter resultados desastrosos caso os

franceses quisessem investir na luta, quebrando a trégua estabelecida naquele momento.

Percebemos que a fonte de informação fala em “grandes entendimentos a todos os soldados e

116 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 209-10.

70

franceses”, mas ele não explica quais seriam esses entendimentos e porque isso resultou num

motim contra a pessoa de Jerônimo de Albuquerque.

Ainda que tenha sido somente intriga, por que não houve um inquérito para

averiguar a sua participação no motim? Castelo Branco ficou impune e ainda conseguiu ser

promovido a capitão-mor adjunto. Muitas dúvidas e poucas certezas. Contudo, talvez naquele

momento não fosse a melhor hora para os capitães-mores tomarem uma atitude mais firme,

dado os inimigos franceses ainda estarem em suas fortalezas. Podemos admitir que como

forma de revanche por tais atos, assim que foi possível, mandam Castelo Branco como

capitão-mor da esquadra que vai ao Pará e com ordens de por lá ficar, como veremos adiante.

Ele tornou-se figura importante dentro das milícias coloniais da conquista, mas não iria ficar

no Maranhão com seus homens, porque arranjou muitos desafetos no meio, que em cartas

enviadas ao Governador e ao Rei pediam a sua prisão por seus métodos, tidos como

traiçoeiros.

No anexo nº. 21 do relatório de Moura, datado de dois de janeiro de 1616, há um

regimento ao capitão Martim Soares Moreno nos dando pistas do que realmente fez

Alexandre de Moura como punição aos amotinados do Maranhão. Nele fala-se o seguinte:

“Porquanto sou informado, que da terra do Cumat correndo a costa para Leste estão

os portos de Pacuripana, e Toari, e até a terra de Cagite são províncias habitadas de

infinito gentio Tupinambá, e outras nações bárbaras que tiveram comércio com os

franceses, e outras gentes do Norte nossas inimigas parecendo-me, que para saúde

de suas almas, quietação de suas famílias, era conveniente acudir a este distrito, e

assim com a doutrina espiritual como com as armas pelas partes, e qualidade do

capitão Martim Soares Moreno sargento mor desta conquista, e pelas ter já quietas,

E Reduzidas a obediência de sua Maj.e pela grande afecção, que todos estes ditos

índios lhe mostraram, hei por bem, e serviço de sua Maj. de nomear por Capitão das

terras ditas deste Rio Cumat, até o quasete, para que governando-as, e aquietando os

naturais delas, como em cap.a aparte faça e exercite tudo o que ao serviço de Deus ,

e de sua Maj. e bem dos ditos índios vir,(...)” 117.

Notemos que este capitão Martim Soares Moreno, sargento-mor da Conquista do

Maranhão, foi o primeiro que assinou a lista pedindo a permanência e cargo melhorado de

Castelo Branco no Maranhão, sendo também provável ele estar entre os cabeças do motim

relatado por Alexandre de Moura. Novamente nos deparamos com a mesma pergunta: se ele

117 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 235-37.

71

estava envolvido no motim, por que foi nomeado capitão do distrito de Cumat (Cametá),

mesmo participando de um ato contra o capitão-mor Jerônimo de Albuquerque? Afora os

méritos da conquista do Maranhão esteve com nome no requerimento afrontoso ao poder de

Jerônimo de Albuquerque. Isso novamente nos sugere que fora nomeado capitão de uma

região habitada por um número “infinito de indígenas Tupinambás, e outras nações bárbaras”,

talvez mais como punição do que por mérito.

Seria então a prática de Moura enviar os rebelados de alta patente para lugares

longínquos, como uma forma de ostracismo? Será que havia alguma lei que impedia a

punição com prisão desses capitães? Acho improvável, o que estava em jogo neste caso, a

meu ver, era o bom convívio da tropa que era francamente fiel a Castelo Branco e seus

aliados.

As tropas eram compostas de soldados de dois tipos: pagos e aventureiros. Essa

divisão dentro da tropa dificultava a manutenção da ordem, principalmente entre os

aventureiros, que estavam na guerra por interesses variados, inclusive de conseguir terras

férteis ou riquezas com a exploração das drogas do sertão.

Continuando, no mesmo documento consta o seguinte:

“E assim mesmo possa por dentro dos rios que sou informado, que são navegáveis

até o Pará, e amazonas dar-se a mão com os nossos que lá estão, para que assim com

toda a comodidade se faça o que convém” 118.

A viagem de Castelo Branco ao Pará tinha começado há apenas sete dias e, no

entanto, já se faziam planos de uma ocupação efetiva do território entre o Pará e o Maranhão,

utilizando-se das principais aldeias como locais de fixação e “apoio” aos indígenas. Tal idéia

seria parte de um grande plano idealizado, provavelmente, nos mapas da corte castelhana e

posto em ação por Alexandre de Moura para melhor defender o território dos inimigos da

Europa, e que ele mostra no seu relatório inicial. Uma cadeia de posições ou distritos

governados por tropas ibéricas nas principais aldeias Tupinambás e de outras nações

“bárbaras” para a defesa do litoral contra os inimigos da Europa.

O anexo n.22, ainda do Relatório de Alexandre de Moura, trata da certidão do

capitão francês Ravardière acerca do Grão Pará. Seu texto é breve e contundente: “no ay

118 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.236.

72

fuerte alguno, ni guarnicion de soldados, ni moradores de ninguma parte de Europa...” 119.

Entretanto, cai em contradição logo em seguida, ao afirmar que lembra ter deixado um francês

de nome Rabeau pelas partes do Pará e ter conhecimento que havia um flamengo morando

com os indígenas, que ele afirma não saber como chegou até aquelas bandas.

Eram provavelmente seus línguas, homens treinados para conviver com os

indígenas e aprender os costumes e dialetos das tribos para uma aproximação comercial.

Como foi visto no primeiro capítulo, essa era uma prática dentro da lógica francesa de

aproximação com os indígenas durante o processo de negociação das alianças. O fato de ter

deixado alguns homens no Pará confirma a intenção dos franceses em guarnecer e estabelecer

uma povoação nessa região. Tal empreendimento estava em andamento, como nos relataram

os padres franceses D’Evreux e D’Abbeville, quando as forças militares portuguesas

chegaram ao Maranhão em 1615.

Os navegadores franceses eram conhecedores antigos do rio Amazonas. Suas

primeiras viagens à região tinham o caráter sigiloso e por isso é difícil especificar com

exatidão o seu início. Prova disso é o mapa datado de 1556 do Atlas de Le Testu - O Testudo -

que mostra toda a área Norte do Brasil, nomeando cada acidente geográfico e assinalando a

linha do Tratado de Tordesilhas. A região do Pará está na área dos reinos espanhóis de Leão e

Castela e a região do Maranhão está na parte Lusa. Nesta belíssima carta há a legenda em

letras grandes “PARTIE DES CANIBALLES” mostrando já imagens de indígenas,

provavelmente litorâneos com arcos, flechas, lanças, ivirapema ou cuidaru e escudos lutando

uns contra os outros, além de duas índias: uma carregando igaçaba e a outra um aturá nas

costas com criança ao lado. Aparecem castelos indicando a presença de fortificações no

Maranhão e na parte das terras próximas ao rio Tocantins ou Xingu. Há na carta também uma

grande casa na área entre Porto de Moz e Monte Alegre, comprovando possíveis ocupações

mais antigas ao longo do grande rio, não deixando também de lado a hipótese de serem

apenas ilustrações de ocas indígenas aos moldes europeus120.

119 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.237. 120 GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira; primeiro volume: tomo II, Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1975, p.527.

73

Figura 7

Mapa de 1556 extraído do Atlas de “Le Testu”. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.527.

Em outra cartografia posterior, já precisavam com maior exatidão as formas de

acesso ao rio Amazonas evitando os bancos de areia, baixios e logradouros falsos, que fazem

da área estuarina do Amazonas um labirinto. Esta carta atualmente na Biblioteca de Paris, é

datada de 1613 e foi feita pelo cartógrafo normando Pierre de Vaux. Nesta carta estão

detalhadas a América, Europa e África com informações adicionais dos acidentes geográficos

e das possessões de cada reino.

Na parte referente à América do Sul estão bem visíveis as possessões da “France

Antarctique”, mas o que nos interessa é a precisão da entrada do “Riuiére des Amazones” com

o baixio da Tigioca e barra do Pará, muito bem retratado, que eram e ainda são um risco para

74

a navegação para quem busca entrar no rio. Além disso, apresenta as ilhas do arquipélago

marajoara e todo o curso do Amazonas até o Peru. Na ilha grande de Joanes (Marajó) existem

legendas minúsculas, bem como no cabo Norte, mas diferente do outro mapa não há desenhos

de casas por estas partes.

Figura 8

Mapa de Pierre des Vaux datado de 1613. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, p.537.

Os silvícolas neste mapa aparecem em desenhos no meio do Brasil, entre os

escudos espanhol e português. Um grupo aparece dançando ou extraindo Pau-Brasil. Há um

outro carregando uma tora de madeira para o litoral onde está escrito “Les Canibales”, além

de outros dois carregando um tronco de árvore. Ainda há um deitado em uma rede ao lado da

legenda “Le Bresil”, e por fim, um casal abaixo do tropico de Capricórnio em meio a casas de

madeira121.

Para os ibéricos, cartas náuticas como estas, eram vitais para a continuidade

segura da conquista do litoral Norte. Segundo o historiador Augusto Meira Filho, Ravardière

121 Ver cópia extraída de: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira; primeiro volume: tomo II, Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1975, p. 537.

75

teria negociado seus desenhos com os capitães portugueses como forma de barganha, mas este

fato não foi confirmado nas fontes por mim estudadas 122.

Continuando no anexo n.22 do relatório de Alexandre de Moura, a certidão de

Ravardière, perguntado sobre o rio chamado Grão Pará ele confirma ser uma das barras e

bocas do rio das Amazonas, sugerindo que havia mais de uma. Logo ao final diz que os

pilotos franceses, que estavam no Maranhão naquele momento, não levavam grandes naus por

fora dos baixios e que por dentro só navegavam em barcos menores.

Isso acaba definitivamente com a idéia de que os franceses e depois os ibéricos

desconheciam a entrada mais ao Norte, mais propícia para os grandes navios, e nos deixa dois

problemas:

a) Por que escolheram barcos menores e a entrada mais difícil se podiam navegar

com barcos maiores na entrada por fora dos baixios, ainda que sem conhecimento do lugar ?

b) Eles arriscaram uma viagem por dentro dos baixios só por causa da participação

dos pilotos franceses?

A lógica da guerra os fez ir precavidos de uma possível armadilha francesa. Indo

uma esquadra por rio profundo, mas desconhecido, em grandes barcos poderia resultar numa

catástrofe. Seguiram a máxima de que o caminho mais fácil nem sempre é o caminho mais

seguro e investiram numa viagem com barcos pequenos que podiam passar pelos baixios do

cabo de Saparara e entrar no rio Grão Pará.

No anexo 23 do relatório de Alexandre de Moura está um auto do próprio capitão

em que há algumas informações do regimento mandado pelo Governador Geral Gaspar de

Sousa, ao qual, deveria dar cumprimento. Diz o seguinte:

“(...), que ele trazia em seus regimentos que lhe passara o Sr. Governador geral

Gaspar de Sousa alguns capítulos que ali leram, e continham se fizesse a jornada do

Gram Pará, e Rio das Amazonas, e se botassem deles os estrangeiros que ali

residem, posto que, parece cai na demarcação de Castela, o do Rio das Amazonas,

mandando a ele dito Capitão Mor fizesse a dita jornada ,e porque claramente se sabe

que o Pará é uma das bocas do dito Rio das Amazonas da banda de Leste, (...)” 123.

Isso nos mostra que já havia por parte do governo colonial e da monarquia ibérica

a intenção de ocupar tais posições, e expulsar os estrangeiros de lá, visto, estarem na área 122 MEIRA FILHO, Augusto. Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará. Vol.1, Belém: Grafisa ed. Globo, 1976, p.43. 123 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.238.

76

pertencente à Castela devido o Tratado de Tordesilhas. Isso também mostra a intenção da

coroa ibérica em investir nas suas áreas coloniais independentemente daqueles que faziam a

conquista serem Portugueses. O fato é que não havia, como muitos autores sugerem, um

interesse dos lusos no sentido de garantir possessões para um futuro estado português liberto,

posto que isso poderia muito bem nunca acontecer. E os mesmos lusos estarem sendo

beneficiados pela falta de controle efetivo da coroa na região.

Num primeiro momento, a coroa deixava tudo a cargo dos administradores locais,

o que contribuía para o enriquecimento individual dos fidalgos, principais colaboradores dos

reis filipinos na continuação da união dos estados luso e espanhol. O que também havia, eram

interesses comuns em desvendar e extrair os recursos naturais que nessas áreas existiam e o

lucro que lhes renderiam.

Continuando o seu texto diz Moura:

“(...) vieram os Mestres, e Pilotos dos navios da Armada, e disseram, que não

tinham conhecimento nenhum dela, nem sabiam como se devia navegar, e que certo

perderem-se as naus e a gente nos baixios, que diziam haver nela (...)” 124.

Digno de nota é a falta de interesse dos mestres e pilotos das embarcações

portuguesas em ir à nova região, numa clara demonstração de falta de vontade ou coragem.

Certamente já tinham visto cartas náuticas da região e os perigos nelas assinalados, mas dizer

que certamente iriam perder as naus é algo no mínimo estranho. Em seguida, Moura chama os

pilotos franceses que tinham ficado no Maranhão por ordem sua. Diz ele:

“(...) nenhum deles se atrevia a levar naus por fora, e que por dentro não podiam ir

senão navios pequenos, e que esses não havia de navegar, senão de dia surgindo

todas as noites por não escorrer a terra, e desconhecimentos dela, que sempre

haviam de levar a v.ta” 125.

Seriam os pilotos franceses mais corajosos que os portugueses? Certamente isso

não é o caso aqui, posto o que se discute é a necessidade da viagem. Naturalmente os

portugueses não queriam arriscar suas vidas por terras de Castela, por outro lado era

interessante aos franceses participarem da viagem, por já conhecerem o seu trajeto e qualquer

124 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.238. 125 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.238-39.

77

informação nova seria útil quando retornassem a França. Daí entendermos o interesse do

piloto francês Des Vaux, mais experimentado e que conhecia bem a língua dos indígenas da

região.

Ao final, Alexandre de Moura, argumentando que não podia se ausentar do

Maranhão porque “não lhe convinha”, elegia a Francisco Caldeira de Castelo Branco como

capitão-mor da jornada, podendo o mesmo escolher os cento e cinqüenta homens para ir nas

três embarcações com todo o necessário. Castelo Branco fez o que lhe foi pedido, aparelhando

as naus com mantimentos e provisões para cinco meses, novas amarras adicionais que tiraram

das outras embarcações, além de armas e munições.

No anexo 24 do Relatório de Alexandre de Moura há uma cópia do regimento que

deixou com o capitão Francisco Castelo Branco. Nele comenta o fato do seu regimento o

encarregar de ir ao rio Pará e expulsar os franceses fortificados lá, bem como de outras nações

européias que estavam na embocadura do Rio das Amazonas. Contudo, soube por

informações do capitão-mor francês Ravardière, que não existiam tais fortificações francesas

nem qualquer outro estrangeiro na região, exceto uns dois deixados pelo capitão Des Vaux e

outro fugido do Maranhão. Entretanto, mesmo sabendo disso, ele resolve acatar a ordem:

“(...) para dar cumprimento aos ditos regimentos, pois havia gente a sobejo, e por

reduzir os índios daquelas partes a nossa amizade, que até agora estão a devação dos

franceses, e pelas partes, e qualidade do Capitão mor Francisco Caldeira Castelo

Branco, confiando dele fará neste particular, como convém ao serviço de sua

majestade lhe mandei passar o presente regimento” 126.

Alexandre de Moura nos dá a entender que a viagem de Conquista do Grão Pará

somente acontece naquele momento por dois motivos: a grande quantidade de pessoal e

provisões de guerra no Maranhão, subentendendo novamente que isso acarretava problemas

internos, e pelos indígenas que moravam no Pará e que deveriam ser cooptados para o

convívio amistoso com os ibéricos evitando que ficassem aliados dos franceses.

Dadas justificativas do empreendimento ele faz as seguintes recomendações ao

capitão-mor da viagem, Castelo Branco:

A) Fazer o reconhecimento da costa até o Pará “com o Prumo na Mão”, para

mapear a costa e facilitar as viagens futuras “de Carreira”.

126 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.240.

78

B) Ir até o aldeamento de Cuma e reduzir os indígenas de lá a causa ibérica,

utilizando-se do capitão-mor francês Des Vaux.

C) Entrar no Rio Pará e escolher um “sitio acomodado para fortificar-se”

evitando assim um contato com o inimigo, caso houvesse, e para não por em risco a viagem.

D) Após aprontar a fortificação e colocar as dez peças de artilharia que levava, ele

deveria reduzir os indígenas vizinhos utilizando-se do mesmo método usado em Cumã ou

valer-se das “dádivas” que levava na expedição.

E) Verificar a notícia de que flamengos e ingleses estavam fazendo viagens de

resgate por lá. Caso isso se confirmasse, deveria com a ajuda dos indígenas em canoas,

destruir os barcos enquanto descuidados.

F) Procurar duas roqueiras e um falquão (falcão) de bronze, além de duas peças

pequeninas também de bronze deixadas pelo capitão Des Vaux.

G) Avisar, assim que pudesse dos êxitos da viagem ao Governador Geral do Brasil

para ele acudir as suas necessidades.

Este documento é datado de 22 de dezembro de 1615. Três dias depois do escrito

três velas foram içadas rumo ao Rio Pará. Podemos então dizer que, até a sua saída do

Maranhão no Natal de 1615, ocorreram diversos fatos que concorreram para que a viagem

ocorresse.

O primeiro deles é de ordem geral: o já conhecido interesse da coroa ibérica em

estabelecer o controle efetivo de áreas, até então, não devidamente exploradas e que

pensavam estar em terras de Castela. Notamos nos regimentos enviados pelo Governador

Geral do Brasil, Gaspar de Sousa, ao capitão-mor Alexandre de Moura, que as ordens partiam

primeiramente das cortes de Madrid, preocupadas com a atuação de franceses e a crescente

atuação de outras nações rivais na costa brasileira, em especial no Rio das Amazonas. Vale

ressaltar que em nenhum momento os oficiais portugueses falam na conquista para assegurar

os direitos lusitanos na região, numa possível separação da coroa de Espanha.

O segundo está restrito ao Maranhão. O final da luta com os franceses, em que

teve grande importância à atuação das forças navais e terrestres levadas por Alexandre de

Moura. Este capitão-mor não só vai estabelecer a ordem na conquista, abalada por uma

tentativa de motim e disputas políticas envolvendo os capitães Jerônimo de Albuquerque e

Castelo Branco, como também vai traçar os planos para as futuras investidas na costa Norte.

Montando inclusive um plano de ocupação desse território, como podemos ver no seu

relatório ao monarca ibérico. Para Moura, a melhor defesa da região contra os estrangeiros

não era a construção de fortalezas militares, mas sim o uso da natureza, que por si só fazia

79

uma barreira “de grandes matos” aos não acostumados com ela, além do convívio pacífico

com os grupos indígenas, valendo-se principalmente da fé pregada por missionários que

deveriam vir à região.

Por fim, a decisão da viagem ao Pará foi também de ordem prática. Havia naquele

momento, no Maranhão, farta provisão e armas, bem como mais de 600 soldados entre “pagos

e aventureiros” que estavam sem rumo, por assim dizer, ao final das hostilidades com os

franceses. As disputas e motins podiam voltar com força caso não fosse dada nova meta a

estes soldados. Mandar para a missão ao Pará, alguns que já estavam no seu regimento, e

regiões próximas, foi a melhor opção.

A nomeação do capitão Martim Soares Moreno, sargento-mor da conquista do

Maranhão, como capitão do distrito de Cumat, nos é um indício que Alexandre de Moura não

admitiu as insubordinações ocorridas no Maranhão. Soares Moreno foi o primeiro que assinou

o requerimento em favor de Castelo Branco, para que o mesmo fosse nomeado capitão-mor

adjunto. Acabou mandado ao Cumat junto a um pequeno destacamento de soldados com

ordem de ficar lá e apaziguar os indígenas Tupinambás e outros tidos como “bárbaros”, que

viviam na dita região em contato com os franceses.

A escolha do capitão-mor Castelo Branco para comandar a viagem é entendida

como uma forma de apaziguar os ânimos e talvez uma forma de punição “velada” a este pela

insubordinação ao seu oficial superior Jerônimo de Albuquerque. A tripulação e os homens

para a viagem foram escolhidos por Castelo Branco, sugerindo que também fizessem parte

àqueles que pediram a sua permanência no Maranhão e nomeação como capitão-mor adjunto

a Jerônimo de Albuquerque. Nomes que estão no Requerimento de três de julho de 1615 em

anexo ao relatório de Moura.

Castelo Branco no Pará e os primeiros contatos com os

Tupinambás da região:

Ainda que pouco divulgada, a melhor fonte de informação sobre este momento da

chegada dos ibéricos no Pará é a narrativa do escrivão André Pereira para as cortes de Madrid,

sob o título pomposo de “Relação do que há no grande Rio das Amazonas novamente

80

descoberto” 127. Nesse documento, ele breve e sucintamente, descreve aspectos relevantes da

viagem como o contato com os indígenas do Pará e as notícias sobre os estrangeiros.

Sua narrativa não chega a ser uma Carta como a de Pero Vaz de Caminha, pois

não tem o mesmo ardor poético e grandeza de informações. Acaba por ser negligente em

alguns fatos, como na data da viagem, colocando apenas o dia da saída dos barcos em 25 de

dezembro de 1615 e a chegada em 1616 não dando o dia e o mês da chegada e provocando

com isso uma briga de historiadores posteriores pela data mais precisa. No entanto, afora esse

e outros deslizes podemos ainda tirar dados até intrigantes e pouco ou nem comentados pelos

estudiosos.

O primeiro deles é a participação de Antonio Vicente Cochado como piloto-mor

mandado por Alexandre de Moura. Ora, sabemos pela documentação acima citada, que Moura

diz ter deixado tudo a cargo de Castelo Branco, contudo ele nomeou Cochado como um fiel

homem encarregado de fazer os roteiros da viagem conforme estipulado nas suas

recomendações dadas ao capitão-mor da expedição Castelo Branco. Será que ele não confiava

em Castelo Branco no cumprimento fiel das suas recomendações, apesar de dizer que elas

eram “mais para lhe lembrar algumas coisas”? Ou será que Cochado era o único que podia

fazer um mapa elaborado da Costa litorânea para as futuras viagens?

O certo é que eles vão “150 léguas pela costa” até o Rio que tem água doce e 120

léguas de largura “até entrar no mar 60 léguas”. Ao que parece no transcrito, o maior perigo

da expedição é a “furiosa corrente por ser inverno” até chegarem à ponta que chamam talvez

por meio dos franceses ou dos indígenas pelo nome de Sapanara ou Saparará. Seguiu-se a

recomendação dada pelos pilotos franceses de Ravardière de ir parando à noite e seguir pela

rota onde as águas são mais rasas.

Sobre a forma de como deveria agir no contato com os indígenas, Alexandre de

Moura disse na sua recomendação para utilizarem o capitão Des Vaux que falava a língua

deles e já estivera na região antes, contudo não fez referência de como isso seria feito ou a

maneira de conseguir que os tais indígenas passassem a cooperar. No entanto, vemos na carta

de André Pereira um indício de como isso foi feito na prática. Diz ele:

“(...) fomos sempre por entre ilhas caminhando pelo rio acima e falando com o

gentio que havia naquelas partes, que com boa vontade aceitava nossa amizade,

127 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp.255-259.

81

dizendo que nós éramos os verdadeiros valentes pelo muito que tínhamos feito com

os franceses e mais nações que naquela costa eram nossos inimigos” 128.

A visão do capitão-mor Des Vaux capturado mostrava aos chefes Tupinambás

visitados que realmente os ibéricos tinham vencido os franceses no Maranhão. Significava em

sua cultura a submissão dos franceses como cativos ou escravos. A condição de inferioridade

guerreira dos franceses frente aos ibéricos fazia o indígena Tupinambá do Pará, pensar duas

vezes antes de tomar partido do lado dos franceses, preferindo tratar de forma amistosa os

recém-chegados. Outro ponto importante levantado no relato de Pereira, é que ele não deixa

claro se os franceses eram inimigos desse grupo do Pará, no entanto ficam mais evidentes que

as “demais nações daquela costa” (Maranhão) eram suas inimigas.

Continuando o seu relato André Pereira mostra interesse nas riquezas naturais da

região. Diz ele: “Por todas as partes mostravam as terras serem fertilíssimas de madeira e na

bondade delas cheias todas as ilhas de muita caça; (...)” 129. Mal chegaram e seus olhos já

foram atraídos pelas árvores de valor comercial e também pela caça ainda abundante nas

margens dos rios. No segundo caso, a riqueza em caça propiciava a independência alimentar

da região, sem ter que recorrer a outros locais de abastecimento.

A Construção da fortaleza do Pará:

Enfim achou-se um bom local para a fortificação cujas descrições são inexistentes

no relato de André Pereira. Contudo, se faltam estes dados para uma análise detalhada das

técnicas de construção, como podemos descartar algumas hipóteses comentadas e até de

repercussão, como aquela dada no centenário de Belém em que o forte foi pintado em pedra

pelo artista e pesquisador Teodoro Braga? Sabemos por conta do forte de São Luis que havia

técnicas mais simples de construção que utilizavam poucos recursos o que se contrapõe ao

forte pintado por Teodoro Braga130. Há o estudo de Aldrin Figueiredo sobre esta a tela de

128 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.256. 129 Há variações na tradução do texto de André Pereira que estão postas em notas no pé da pagina. Escolhi a que melhor pareceu fazer sentido. In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.256. 130 Contudo a alegação de Oswaldo Coimbra que o Engenheiro-Mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita teria vindo ao Pará nesta expedição não procede, pois este estava no mesmo período terminando os reparos na Fortaleza de São Felipe, como nos diz em um documento no qual comenta as principais melhorias feitas no local. Sobre a alegação de Frias de Mesquita estar na expedição de 1616 In: COIMBRA, Oswaldo. A saga dos primeiros Construtores de Belém. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 2002, p.29-36.

82

Theodoro Braga onde ele diz que o forte de pedra foi exigência do então Intendente Antônio

Lemos131.

A melhor hipótese é a de que o primeiro forte surgiu sob a forma que todos

conhecemos como “fortaleza”: um ponto elevado e de difícil acesso que possibilita ao

defensor melhor visibilidade dos seus atacantes e, por conseguinte uma vantagem na defesa

daquela região, além de permitir fazer rápidas incursões na área132. Provavelmente era uma

aldeia Tupinambá, cujo Buruuichaue chamavam Paraguaçu. Segundo consta, houve a

participação de muitos indígenas dessa aldeia na construção do edifício, além de aldeias

vizinhas que se aproximaram dos portugueses, num misto de curiosidade, admiração e medo.

A existência desse aldeamento e a posição estratégica dele em relação ao rio seria

o principal responsável pela escolha do local de construção do forte. Tal como aconteceu

anteriormente na fortaleza de São Luis, aliaram-se as técnicas de construção européia às

indígenas, indicando o que chamo de uma aliança permanente, com envolvimento direto das

lideranças Tupinambás no processo de adaptação dos brancos. Suponho que houve um acordo

entre o capitão Castelo Branco e os chefes da aldeia local pautado nas “dádivas”, doação de

mercadorias por trabalho e comida133.

Infelizmente nada restou dessa interferência arquitetônica no forte, devido às

inúmeras reformas que sofreu ao longo dos séculos, exceto talvez pelos vestígios cerâmicos,

típicos da cultura Tupinambá, escondidos um metro abaixo da superfície e encontrados no

fosso e pátio interno durante escavações arqueológicas entre os anos de 2000 e 2003134.

Segundo André Pereira, o forte foi erigido rapidamente, mas não explica os

detalhes de como isso foi possível e a mão-de-obra utilizada135.

131 Segundo Aldrin Moura havia um esboço da famosa pintura onde o forte é feito em taipa e madeira. Na versão final Teodoro Braga o colocou em pedra “inventando um reluzente passado amazônico”. FIGUEIREDO, Aldrin Moura. A gênese do Progresso: Theodoro Braga e a Pintura da fundação da Amazônia. In: NETO, José Maia Bezerra & GUZMÁN, Décio de Alencar (org.). Terra Matura: Historiografia & História Social na Amazônia. Belém: Editora Paka-Tatu, 2002, pp.109-136. 132 Utilizo aqui a definição dada pelo historiador militar John Keegan. In: KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p.155. 133 Dos autores pesquisados, Jorge Hurley diz que “(...) Caldeira Castelo Branco foi auxiliado pelo braço Tupinambá nas construções do forte do Presépio e na ermida de Nossa Senhora das Graças, a qual era dentro do mesmo forte. Belém foi fundada sobre a taba de Parauassú que dirigiu os Tupinambás não só nessas construções como durante todo o ano de 1616 (...)”. In: HURLEY, Jorge. Noções de História do Brasil e do Pará. officinas gráficas do Instituto Lauro Sodré: Belém, 1938, p. 60. Contudo, não encontrei nenhuma fonte do Arquivo Histórico Ultramarino ou do Arquivo Público do Pará que comprove participação ou existência deste chefe. A larga participação indígena, no entanto, foi confirmada por fontes como Berredo. In: BERREDO, Bernardo Pereira de. Annaes Históricos de Berredo. Terceira edição, Florença, Typografia Barbera, 1905, p.161-62. 134 MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Pesquisa Arqueológica no Forte do Castelo (Relatório), em Belém, Pará. Março de 2003. 135 Houve algumas divergências sobre esse período, referentes a temas que não influenciarão no desenvolvimento de uma teoria geral da Conquista. Uma das divergências é a data da chegada dos europeus ao Pará. Alguns historiadores, apoiados no texto de Berredo, apontaram que o fato teria ocorrido em novembro de

83

Na verdade, as outras fontes documentais nos sugerem justamente o contrário. O

forte teria demorado a ser construído, conforme podemos ver numa carta enviada pelo

monarca Felipe, em 18 de setembro de 1616 no qual ele diz:

“Em seis do mês passado se nos avisou do que houve e por bem de resolver, acerca

do socorro, e provimentos do forte que Francisco Caldeira de Castelo Branco

fundou no Rio das amazonas. E por que tenho entendido, que na execução se

procede lentamente, importando tanto como se deixa ver, [que perto das] aviasse

apresse e facilite, nos encomendo muito, que deis tudo o que haver necessário para

não dilatar mais o tempo, advertindo ao conselho da fazenda do grande dano que se

seguiria, de faltarem o Francisco Caldeira os provimentos e munições necessárias se

os inimigos. Que tinham tão vizinhos”136.

Ou seja, em setembro do mesmo ano o forte ainda estava inconcluso. O que fez o

Rei ordenar ao Governador Geral do Brasil que enviasse toda a ajuda que pudesse para

apressar a sua conclusão. O monarca preocupava-se em assegurar a posição da conquista

frente aos inimigos que ele diz estarem tão próximos.

O que nos parece, hipotetizando um pouco além das fontes, é que primeiramente

foram utilizadas as cercas Tupinambás da aldeia ali existente. Acrescentaram-se algumas

modificações técnicas, tais como um fosso mais extenso e a base dos primeiros canhões, com

a terra retirada do fosso.

Sabemos por meio dos desenhos de Hans Staden que as aldeias dos Tupinambás

tinham um cercado em madeira para a defesa da mesma. Nos desenhos de Hans Staden, ele

mostra como eram essas defesas. Inclusive fazendo-nos ver as entradas falsas, criadas para

confundir o inimigo e dar tempo da aldeia preparar-se para lutar137.

1615 e para outros, como Capistrano de Abreu, ratificado por Ernesto Cruz e Arthur Cezar Ferreira Reis que utilizaram como contra-argumento a carta do Arcebispo de Lisboa a D. Luis de Sousa, reconheceram a data mais provável o dia 12 de Janeiro de 1616. In: CRUZ, Ernesto. História do Pará. Vol. 1, Coleção Amazônica, serie José Veríssimo. Belém: UFPA, 1963, p.p.62-64. Outra divergência foi envolvendo o pintor e pesquisador Theodoro Braga e o historiador Arthur Vianna sobre o primeiro forte do Presépio. Para o primeiro o forte já era construído em pedra e para o segundo em madeira. In: COIMBRA, Oswaldo. A saga dos primeiros Construtores de Belém. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 2002. 136 AHU-ACL-CU-013,Cx.1. D.1. 137 FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambá. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948, pp. 59-74.

84

Figura 9

Esta gravura feita à partir dos desenhos de Hans Staden mostra como era visualizada pelos europeus a construção das aldeias Tupinambás. Nota-se a cerca alta em volta da aldeia e uma contra-cerca mais fechada por dentro e com furos, por onde se atacavam os inimigos que tentavam invadi-la. Eram bem localizadas para um acesso mais fácil a água para beber e pescar. In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966.

Isso sugere uma das primeiras interações entre essas duas culturas na região. O

forte começou pela fortificação Tupinambá já existente, que foi sendo gradativamente

adaptada às novas tecnologias trazidas pelos portugueses como canhões e mosquetes. Essas

armas exigiam locais para disparo e uso do modo construtivo europeu, em especial o lusitano,

com fossos, baluartes, paióis e outros acréscimos.

O Papel dos línguas na conquista:

Na carta de André Pereira, sobre a “Redescoberta do Rio das Amazonas”,

podemos verificar que as notícias sobre esses estrangeiros começam logo nos primeiros dias

de construção da Fortaleza. Diz o relato o seguinte:

85

“(...) trabalhando nela (a Fortaleza) se soube de um francês que ali andava fugido a

os do Maranhão como em umas aldeias de gentio que estão pelo rio mais acima

andava uns Flamengos que ali tinham deixado outros para ter aprendido a língua e

adquirido os indígenas para seus tratos, (...)” 138.

Este francês desertor dá uma pista ao capitão Castelo Branco sobre holandeses

também presentes na região. Os “flamengos”, como eram chamados os holandeses,

rapidamente conquistavam a amizade dos indígenas da terra. Tanto os franceses quanto os

holandeses deixavam um dos seus nas aldeias, este logo aprendia o dialeto do grupo e passava

a ser um intérprete (língua) nas negociações com a tribo. Esse francês desertor poderia ser um

desses interpretes, posto que no relato de Ravardière há o comentário de que Des Vaux deixou

um dos seus, sem dar mais explicações do fato e isso nem é citado mais tarde por André

Pereira.

Isso levou a um preparativo de Castelo Branco para dar combate a eles.

Contrariando o que lhe havia dito Alexandre de Moura no seu regimento, Castelo Branco logo

vai ao encontro dos estrangeiros, desconhecendo o seu real poder militar. Segundo o relato de

André Pereira, após a captura do flamengo numa aldeia, ele confessa “que esperava um irmão

seu para povoarem naquela parte onde agora está a nossa fortaleza e donde havia a poucos

dias se tinham ido três embarcações de Flamengos”. Desde então, sabe-se da presença de

inimigos holandeses no Cabo Norte inclusive de sua quantidade aproximada ser de 250 a 300

homens fortificados em duas “fortalezas de madeira” e dois “engenhos de açúcar” 139.

Ao final da carta, André Pereira novamente descreve a natureza e os recursos

naturais de interesse comercial. Ele mostra grande atenção ao relato de uns indígenas a

respeito de serras a 150 léguas da fortaleza portuguesa, onde diziam haver metais preciosos:

“São escavadas sem mato, e alguns homens experimentados dizem que estas são as

serras que ali vem dar no Peru, como muitas cartas de marear também o mostram, e

que há ouro nelas e mais metais” 140.

138 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.256. 139 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.256. 140 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.257.

86

Nas cartas posteriores do rei e de Castelo Branco não se fala mais nessas serras.

Indício de que foi superestimado o seu potencial mineralógico por André Pereira e pelos

“homens experimentados” da expedição.

Fala-se de pérolas que foram dadas aos ibéricos por um índio que comia ostras e

que dizia haver mais a 70 léguas pelo rio acima. Este relato é importante e reforça a existência

de grupos, provavelmente Tupinambás, que tinham dieta baseada em moluscos, tais como os

grupos pré-históricos Sambaquieiros amazônicos141.

André Pereira escreve uma breve história de pedras preciosas conseguidas pelo

capitão Des Vaux. Ele as teria conseguido junto a um capitão inglês, que, por sua vez, as teria

adquirido no Amazonas. A história abreviada por André Pereira, indica que os portugueses

talvez já tivessem conhecimento das atividades inglesas na região. Como veremos mais

adiante, estas atividades estavam em avançado processo de desenvolvimento, onde os ingleses

e holandeses formavam colônias permanentes, na desembocadura do Rio Amazonas.

Também cita a diversidade de madeiras, dentre as quais destaca o “Brasil” (Pau-

Brasil) e outra que os indígenas chamavam de “Cotiara”. Sobre as possibilidades de

plantações, mostra que os seus inimigos holandeses comercializavam com os nativos, além

das madeiras referidas, também o algodão, tinta de urucum e tabaco142.

Os Recrutamentos forçados e as primeiras revoltas Tupinambás

na conquista do Pará:

Após esse início conturbado, podemos dizer que a política de Castelo Branco no

Grão Pará será diferente da que foi estipulada por Alexandre de Moura no seu relatório ao

soberano ibérico. Castelo Branco vai tentar combater os holandeses sem primeiro esperar

ajuda externa do reino e estabelecer uma posição bem formada e defensiva. A ajuda dos

indígenas Tupinambás foi logo solicitada quando sua força militar quase foi derrotada no

primeiro confronto com uma nau holandesa na foz do Xingu143.

141 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.257. 142 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.258. 143 Esse fato nos é amplamente comentado por historiadores como Berredo e Baena. O episódio aconteceu na noite de 09 de agosto de 1616 e era o Comandante da operação Pedro Teixeira. Segundo Jorge Hurley, após terem batido em retirada do convés do navio inimigo, os ibéricos usam as flechas incendiarias dos Tupinambás para queimar a embarcação inimiga. In: HURLEY, Jorge. Belém do Pará sob o domínio Portuguez 1616-1823. Belém: Livraria clássica, 1940, p.23-24.

87

A política de Castelo Branco com os indígenas e com os recursos naturais também

é diferente do estipulado por Alexandre de Moura. Ele logo abre grandes clareiras na margem

do rio em plantações de cana para seu engenho, inclusive constrói fornos de cal próximos à

fortaleza que foram constatados nos trabalhos arqueológicos realizados nessa área144. Seus

oficiais seguem o exemplo e logo a praça toma ares de vila, crescendo rapidamente.

Mas o tratamento que dará aos indígenas será um completo desastre, pois não

conseguirá firmar um pacto seguro com os principais das aldeias Tupinambás e passará a agir

com violência para tê-los como mão-de-obra. O que, logo nos primeiros anos, causará graves

revoltas, pondo em risco o andamento da conquista.

As primeiras revoltas acontecem no final do ano de 1617 no Maranhão e

espraiaram-se ao Pará. Depois, nos idos de 1618 e 1619, surgem novas revoltas no Pará com

grande participação de indígenas do Cumã e Caetés. No governo de Castelo Branco como

capitão-mor do Pará, os indígenas Tupinambás das aldeias do Cumã revoltam-se contra os

contínuos apresamentos forçados por parte dos ibéricos do Pará e do Maranhão.

No Cumã havia, pela época dos franceses, entre 15 a 20 aldeias Tupinambás, que

o capuchinho Abbeville relacionou. As principais, listadas a seguir:

Tabela 2

Aldeia Localização/ descrição Chefes

Coma "lugar para pescar peixe". principal: Itaoc-Miri "casinha de pedra".

Iannuaquare "toca de cão"

principal: Maichuare "nome derivado de

uma arvore".

Tauapiap "aldeia escondida" principal: Cauare"bebedor de vinhos"

Couieup "cabaca preparada" principal: Ingarabui "cantor azul"

Arauipe "lago"

Principais: Tamanduai "elefante" e

Juraeuta-Uacu "paus grandes de um

bofete"

Taeuaio "fruta negra"

principal: Maracapu "som de uma

trombeta"

Bacuripana "folhas de bacuri" principal: Caiaeuue, nome de uma arvore.

144 Sabemos disso através de fontes documentais contidas no AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, Docs. 13 e 25 que são da viúva e herdeiras de Castelo Branco, pedindo a confirmação de suas propriedades no Pará. Além desses documentos temos o registro Arqueológico dos fornos ao lado do forte. In: MARQUES, Fernando Luiz Tavares. Pesquisa Arqueológica no Forte do Castelo (Relatório), em Belém, Pará. Março de 2003.

88

Auaieue "árvore aquática"

principal: Tocoma-Uacu, nome de uma

fruta.

Maeca "frente de alguma coisa" principal: Uiraparacu "arco grande"

Curemaeta

"rio dos curimães", entrada do

rio Cumã. principal: Baureapar "corpo torto".

Iapieuue "árvore do passaro" principal: Uiraruatim "arvore branca" Fonte: D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, pp. 191-92.

Em Cumã as aldeias eram mais povoadas que as da ilha grande do Maranhão, com

as quais eram aliadas, juntamente com as de Tapuitapera. Segundo D’Abbeville, no Caeté

havia mais 20 ou 24 aldeias muito povoadas de Tupinambás145.

Aparentemente, os indígenas estavam já alvoroçados com os desmandos dos

capitães e soldados das vilas, que cativavam aldeias, apesar de estarem em paz com os

portugueses. Mas o estopim da crise começou quando um Tupinambá de nome cristão Amaro,

que sabia ler e escrever por ter estudado com os padres capuchos, espalhou a notícia de que

possuía uma carta enviada por Castelo Branco a Jerônimo de Albuquerque e que nesta dizia

que fossem escravizadas todas as aldeias entre as vilas do Pará e o Maranhão. Segundo

consta, tudo teria sido vingança de Amaro por uma punição dada a mesmo por Mathias de

Albuquerque, filho do capitão-mor do Maranhão. Do Cumã, principal aldeamento Tupinambá

a notícia se espalhou numa velocidade incrível, chegando até as portas da Fortaleza do Pará.

Na carta de Manoel Soares de Almeida para o Rei, em novembro de 1618, ele nos informa a

situação em que se encontrava a conquista e protestava quanto à prisão de Castelo Branco:

“(...) esta conquista está em guerra com o gentio da terra, que tem feito assas estrago

em bandos tem como de cerco esta fortaleza com contínuos rebates, não ousa para

alguém sair dela e assim morrem a fome eu me vou a Pernambuco, pedir socorro, de

gentio, flecheiro e alguns brancos para com muita brevidade se acuda e vendo tudo

bem caro” 146.

A situação nas duas Conquistas estava fora de controle. Sem auxílio externo a

Fortaleza do Pará não resistiria muito tempo com pouco abastecimento de provisões. O

145 D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres Capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002, pp. 191-92. 146 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D. 8.

89

socorro era impossível por terra e por mar, teria que vir de Pernambuco. No pedido de socorro

das autoridades da colônia, eles dizem necessitar de indígenas flecheiros, além de soldados

brancos. O que demonstra que as migrações de tribos do nordeste não ocorreram somente por

fuga dos portugueses, como destacaram alguns autores, entre eles Manuela Carneiro da

Cunha. Houve também migrações de indígenas aliados, recrutados especificamente para

serviços dentro das companhias militares147.

No inquérito, depois da primeira revolta, as culpas recaíram no capitão-mor

Castelo Branco pela má administração frente aos indígenas, e não faltam documentos de

acusação e defesa à sua pessoa. A busca dos culpados estendeu-se por um bom tempo após a

saída de Castelo Branco, preso em grilhões e mandado de volta para Portugal. Foi

considerado o único culpado pelos incidentes, apesar de seus partidários acusarem o capitão-

mor do Maranhão Jerônimo de Albuquerque e seu filho Mathias pelas revoltas, em autos e

cartas enviadas ao Governador Geral do Brasil148.

Devemos manter cautela nesse assunto, pois muito do que foi escrito naquela

época, partiu de pessoas que tinham interesses econômicos e políticos com a saída de Castelo

Branco do comando do Pará. O fato das revoltas iniciarem no Maranhão era um atenuante das

culpas do referido capitão. Contudo, o que pesou na balança do julgamento das autoridades,

foi o fato de que havia se envolvido antes em um motim no Maranhão (eventos de 1615), e

por ter sido conivente com o crime de seu sobrinho Antonio Cabral, no assassinato do capitão

Álvaro Neto. Aliando isso às forças contrarias a ele fora da colônia149.

Também havia atritos do seu governo com os missionários franciscanos que

criticavam o tratamento dado aos indígenas da terra. O que fez muitos deles apoiarem os

indígenas nas revoltas. Um desses missionários, Frei Antonio de Merciana, escreveu ao

monarca Felipe, explicando os motivos da revolta e do que aconteceu para a prisão de Castelo

Branco:

147 A autora cita os foragidos de missões e colonos que viriam hoje em dia a serem considerados grupos “isolados”, cita o caso dos Mura e dos Xavante. Admite, no entanto, que o termo isolamento deve ser usado com cautela, pois “há um contato mediatizado por objetos, machados, miçangas, capazes de percorrerem imensas extensões, mediante o comercio e a guerra, e de gerarem uma dependência a distancia” (p.12). Introdução a uma História Indígena. In:CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992, pp.9-12. 148 O capitão Manoel Soares de Almeida foi um dos defensores de Castelo Branco. Chegou a enviar cartas ao Rei Felipe II com anexos de Manoel Dias Gutierres, Antonio de Amorim, Jerônimo Correa, José de Macedo, Manoel Mendes Aranha e Antonio da Costa, tentando mostrar que as causas da revolta dos Tupinambás foram as capturas de escravos por parte de Jerônimo de Albuquerque e seu filho Mathias de Albuquerque para que livrassem o capitão Castelo Branco da prisão. AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.8. 149 Ainda sobre a prisão de Castelo Branco o documento que melhor cita algumas das causas da sua prisão é de Baltazar Rodrigues de Mello seu substituto no cargo de capitão mor. AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.10.

90

“(...) Recolhidos os soldados a esta fortaleza em 21 de dezembro passado meado de

fevereiro seguinte chegou a ela aviso de se haver levantado o gentio Tupinambá que

era o mais amigo e com este se levantou o mais ficando só com nosso uma pobre

aldeia de Tapuias vizinha a esta fortaleza e o gentio dos Apirapés que estão dela

mais de cem léguas que um de meus companheiros indo a suas aldeias trouxe a

nossa amizade achando os bem arruinados por moléstias que lhe tinham feitas.

O levantamento começou no Caeté matando dois brancos que andavam fazendo

resgate por mandado do dito Capitão mor Francisco Caldeira e dali veio discorrendo

a este Grão Pará onde nos mataram muita gente debaixo de pás e foi lhe fácil pela

muita segurança em que se vivia e muita gente que pelos sertões naquela ocasião por

ordem do dito Capitão mor andavam fazendo resgate de peças (...)” 150.

O Frei não mede esforços em culpar o capitão Castelo Branco pelos incidentes e

revoltas dos indígenas do Cumã e demais aldeias. Faz isso também com intenção de preservar

os indígenas de uma punição mais severa por parte das autoridades coloniais, pois colocando

a culpa em Castelo Branco, ele redime os Tupinambás e tenta justificar os seus atos como

vemos explicitamente adiante:

“(...) Teve este gentio muita causa de se levantar pelas continuas moléstias que lhe

faziam e forçado delas não parou aqui mas com a pouca ordem que houve no

principio onde se puderam abelhar estes danos tomou animo contra nós com que e

os assaltos contínuos tem roubado os escravos desta fortaleza estando todo os

moradores dela com armas nas mãos de noite e de dia impedindo o inimigo

trazerem-nos farinha com que temos todos padecidos muitos trabalhos e fomes e o

que mais se sentia minhas esperanças de remédio pois não avisava a V.Maj. e o

Capitão mor Francisco Caldeira tendo comodidade de poder fazer sendo o meio por

onde pudéramos estar remediados e não no perigo e risco em que fica esta fortaleza

(...)”151.

A situação era muito grave. A fome fragilizava as defesas da Fortaleza. Segundo o

Frei Merciana: “(...) com contínuos assaltos do inimigo a falta de munições é tanta de murrão

que tem os soldados gastadas as redes e dormem no chão (...)”152. As armas de serpentina e

150 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9. 151 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9. 152 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9.

91

os canhões estavam com falta até de pavios (Murrão, também conhecido como Mecha),

levando os soldados a improvisar com as tiras das redes153.

Para evitar um confronto aberto com as autoridades, que queriam uma expedição

punitiva, o frei Merciana tenta ser diplomático, pedindo providências e materiais para pôr

ordem na conquista e firmar novamente a paz com os indígenas:

“(...) O que de presente consiste o remédio desta conquista e inquietação dos índios,

ou seja, por via de paz ou de guerra como V.Maj. ordenar é mandar ao governador

do Brasil que com toda a brevidade mande os índios que desta conquista lhe são

pedidos caso que os não tenha mandado. E com eles soldados sertanejos por serem

os tais de muito efeito nestas partes e como o Maranhão havia daquele gentio do

Brasil e alguns Tapuias gente guerreira e amiga será de muito efeito para nesta

conquista reduzir todos os Tapuias por ser o principal muito conhecido entre eles

parecendo a V.Maj. o Capitão Francisco d’Azevedo que vai a esse reino tem esta

gente debaixo de sua administração ele pode vir trazer a esta conquista e será de

muito efeito porque por esta via se pode acudir com brevidade em que consiste o

remédio correndo na tardança perigo pelo em que fica esta conquista e fará ele este

serviço a V.Maj. sem muito dispêndio da sua real fazenda advertindo contudo que

este gentio inda que será bastante para de presente remediar não os cuja se pede do

Brasil para conquistar pelo que V.Maj. deve ordenar venha um e outro” 154.

Na tentativa de minimizar os estragos, Frei Merciana pede a vinda de Tapuias que

cuidariam da pacificação junto com os soldados. Pelo seu relato, as forças repressivas desses

Tapuias já tinham controlado a situação no Maranhão e seu principal era conhecido por estas

partes, favorecendo um possível diálogo. Mas, mesmo sendo um fervoroso defensor dos

indígenas, Merciana, assim como a população ao redor da Fortaleza do Pará, estava com

armas nas mãos defendendo a sua fé:

“(...) Ao padre Custodio pedi um ou mais Capitães quisesse esclarecer a V.Maj. e

dar lhe relação do sucedido nesta conquista porque além de me não dar lugar os

contínuos assaltos em que estamos com as armas nas mãos pareceu que o faria com

o zelo que ele e seus frades ao serviço da fé e de V.Maj. tem mostrado (...)” 155.

153 Sobre uma analise da evolução das armas de fogo ver: KEEGAN, John. Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.338-44. 154 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9. 155 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.10.

92

Outro vigário, Manuel Figueira de Mendonça, veio ao Pará junto com a força

enviada de Pernambuco para pacificar a revolta. Diz ele, que chegando ao Maranhão em 14 de

janeiro de 1618, no navio de socorro mandado pelo Governador Geral do Brasil, Dom Luis de

Sousa, ele e os soldados “não acharam branco vivo”. A razão eram as revoltas dos indígenas

do Cumã que haviam assassinado 37 homens brancos. Sua chegada frustrou os Tupinambás

de atacarem a cidade com mais força, mesmo assim, faziam ataques ao amanhecer e a noite

como era o seu costume.

“(...) A causa do dito levantamento afirma ser hajo do Capitão mor Jerônimo de

Albuquerque que residia por Capitão do dito presídio pelos muitos e grandes

agravos que o dito tinha feito ao gentio, e por não puder mas passar adiante do

maranhão no pataxo que também havia socorro para esta conquista por não trazer

amarras gastantes foi causa de se não dar aviso a Francisco Caldeira de Castel

branco pela qual causa (...) ateando o levantamento de aldeia em aldeia chegou as

quais fez essa parara de vivido este para aonde mataram pelas aldeias a alguns

soldados do Capitão mor Francisco Caldeira que nela estavam descuidados”156.

Os reforços somente chegaram ao Pará entre 26 e 27 de outubro e se depararam

com os indígenas cercando a Fortaleza e fazendo contínuos assaltos. Nesse período, o capitão

Castelo Branco já se encontrava preso e quem governava interinamente a conquista era

Baltazar Rodrigues de Melo, eleito por uma junta provincial157.

Não sabemos ao certo a extensão dessas revoltas, nem se todas as aldeias

Tupinambás participaram dela. Indícios levantados na época pelo Frei Merciana indicam que

os Tapuias próximos ao povoado estavam a favor dos ibéricos, contudo, eram insuficientes

para dar conta das demais tribos, podendo inclusive ser alvo das tribos rivais, aproveitando-se

dessa revolta. Outros que, segundo o Frei, estavam ao lado dos ibéricos eram os grupos

Apirapés, distantes mais de cem léguas do núcleo do povoado e já muito doentes devido às

epidemias que provinham do contato com os brancos158.

Também não sabemos se houve uma confederação de nações para derrotar os

ibéricos, pois muitos grupos indígenas, além dos Tupinambás, tinham interesse nessa guerra

contra os brancos. O próprio Frei Merciana indica isso, pois no início do mesmo documento

em que relata as revoltas diz que o capitão Manoel de Sousa de Sá tinha, antes do conflito,

156 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.11. 157 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.11. 158 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.09.

93

declarado guerra “a uma nação de Nheenguaíbas por mandado do Capitão mor Francisco

Caldeira Castelo Branco” 159.

O ataque ao forte do Presépio teve apoio indireto de franceses e holandeses,

segundo sugere o frei Merciana160. Esse apoio se dava por meio de armas que eram trocadas

por outros produtos junto aos indígenas.

Figura 10

Combate entre indígenas mostrando a influência das armas de fogo dentro das técnicas de combate indígenas. Obra de André Thevet - La cosmographie universalle, v.2. Paris, 1575. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975. p.463.

Mesmo sendo verdade o uso de armas francesas e holandesas neste ataque, não há

nenhuma fonte inglesa, ou outra fonte portuguesa que corrobore esta afirmação, o que nos

leva a crer que tais armas tenham chegado ao Pará por comércio de longa distância entre os

indígenas Tupinambás e os grupos Aruaks, via ilhas marajoaras ou via rio Tapajós161.

159 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9. 160 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.9. 161 Isto é possivel levando-se em conta que já existia um comércio de “pedras verdes” entre essas regiões conforme aponta André Prous. In: PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Editora Universidade de Brasília: DF, Brasília, 1991, pp.453-54.

94

Segundo as descrições desse povo (Ingahibas), dadas pelo Frei Merciana, eles

viviam em “Giraos ou casas levantadas à maneira de sobrados”, parecidos aos grupos

descritos por Yves D’Evreux e chamados por ele de Camarapins, que viviam em “iuras”,

casas feitas “a imitação das ‘ponts aux changes’ de São Miguel de Paris” 162. Nesta guerra,

que durou trinta dias, morreram aproximadamente quase mil desses índios e foram cativados

360, vendidos como escravos. Nessa luta tem-se o relato de apenas uma morte do lado

português e outros apenas feridos 163. Esses grupos Ingahibas tinham muitos motivos para

buscar uma revanche, tanto quanto os outros grupos perseguidos e cativados pelos escravistas

portugueses 164.

No final dessa guerra sangrenta houve acusações por parte da facção de Castelo

Branco, de que a causa da revolta era toda de Jerônimo de Albuquerque, outros disseram que

a causa das revoltas indígenas foi uma carta de Castelo Branco interceptada pelo dito Amaro.

Ainda no mesmo ano acontecem mais duas sublevações no Pará, nas aldeias

Tupinambás de Caju e Mortigura, que são duramente destruídas165.

Findando o período inicial podemos dizer que durante o governo de Castelo

Branco o que prevaleceu na política da conquista ibérica foram às divergências entre as forças

de ocupação, principalmente entre militares, missionários e colonos. Neste caso uma resposta

a esses problemas foi à deposição de Castelo Branco. Preso por inimigos políticos é enviado a

prisão do Limoeiro em Portugal e julgado por má administração da conquista. Esse fato não

somente é a prova de sua incompetência na gerência da região em lidar com as pressões dos

colonos, mas é também um indicativo que havia mais problemas do que sucessos nas

Colônias do Norte166.

Para tentar sufocar essas revoltas e dar fim aos problemas na região, o Governador

Geral e capitão general do estado do Brasil, Dom Luiz de Sousa, envia para a conquista um

162 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, pp.82-4. 163 AHU-ACL-CU-013-Cx. 1, D.9. 164 AHU-ACL-CU-013-Cx. 1, D.9. 165 Os grupos indígenas frente a essa política de extermínio e servidão passam de uma idolatria ajustada para uma idolatria insurgente, onde adotam uma postura de resistência na defesa de suas tradições ameaçadas como nos sugere Ronaldo Vainfas. In: VAINFAS, Ronaldo. Idolatrias e Milenarismos: a resistência indígena nas Américas. In: ESTUDOS HISTÓRICOS, Rio de Janeiro, vol.5, nº. 9, 1992, p.29-43. 166 Existe uma boa documentação sobre os fatos que resultaram na deposição do Capitão Castelo Branco e o seu envio à prisão do Limoeiro em Portugal. Sua política escravista dos indígenas, mesmo dos aldeados vai de encontro aos missionários já estabelecidos e enfurece as aldeias próximas à Belém que se revoltam por duas vezes. O estopim é a morte do Capitão Álvaro Neto, estimado por todos, pelas mãos de seu sobrinho Antonio Cabral, que não é punido, levando os já descontentes com o seu governo a se rebelarem em 1618. In: CRUZ, Ernesto. História do Pará. Vol. 1, Coleção Amazônica, serie José Veríssimo. Belém: UFPA, 1963, p.37. Na documentação: AHU-ACL-CU-013-Cx. 1, D.8 ,9, 10 e 11.

95

jovem capitão que ficará marcado na história local pela selvageria com que vai tratar dos

assuntos indígenas: seu nome Bento Maciel Parente.

A Companhia Militar de Bento Maciel Parente:

Este capitão foi enviado a conquista do Pará com a missão de declarar guerra às

tribos rebeladas que sufocavam a pequena vila e colocavam em risco a própria conquista,

quando punha em cerco a sua principal fortaleza em fins de 1618167. No regimento escrito

pelo governador geral do Brasil em 22 de Março de 1619 (passados mais de três meses desde

a carta do Frei Merciana pedindo socorro!), estão vinte pontos que teriam que ser acatados por

Bento Maciel na sua íntegra. Os mais interessantes são justamente os que abordam a sua

conduta com os indígenas rebelados:

“Primeiramente porquanto a experiência tem mostrado quanto importa trazer os

soldados reprimidos e disciplinados para que com a demasia da licença e soltura da

guerra se não façam insolentes nem cometam excessos contra o que devem a

obrigação de cristãos, principalmente os do sertão cuja natureza é mais licenciosa

pelas ocasiões ordinárias que se oferecem, procurara ele capitão evitar-lhe todos os

juramentos, encarregando-lhes que vivam bem e sem escândalo e em particular que

não estejam amancebados nem levem índios consigo de que se tenham ruim

suspeita” 168.

Este ponto trata da disciplina que deveria ter o capitão e seus soldados para que

não estivessem e ficassem “amancebados” com as índias, nem que se levassem índios que

tivessem “ruim suspeita”. O documento novamente relata o uso de recrutas indígenas do

nordeste junto à tropa. A má fama dos capitães de resgate dos sertões, que comumente

cometiam excessos, principalmente contra as mulheres, é o fator que leva o Governador a 167 a legislação colonial e como a mesma era oscilante sobre a questão indígena, pois ora garantia a liberdade dos indígenas com ressalvas, ora permitia a sua escravização, depois abolia os casos e depois os restaurava. Havia segundo sua classificação os índios livres, divididos em aldeados e aliados dos portugueses. Segundo a autora estes dois grupos tinham que “lutar nas guerras movidas pelos portugueses contra índios hostis e estrangeiros” (p.121). No regimento de Tomé de Sousa de 1548 fala-se do incentivo que devia ser dado aos aliados, tais como títulos honoríficos e recompensas. Os índios aldeados e aliados seriam encarregados de proteger as vilas e plantações dos ataques de “gentios” e as fronteiras de inimigos europeus. Os aldeados e aliados seriam as “muralhas dos sertões” ou barreira viva a penetração dos inimigos (p.121). PERONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e Índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI e XVIII). In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. 168 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.14.

96

colocar esse aspecto logo como o primeiro ponto do Regimento. Não deveria a tropa dar mais

motivos para os grupos indígenas se insurgirem.

O segundo ponto já é uma complementação deste primeiro, indica como o capitão

Bento Maciel deveria agir com os seus soldados, diz ele entre outros que:

“(...) deve procurar ele capitão que entre os soldados que o acompanham haja boa

correspondência possível, evitado quais quer ocasiões de brigas e disensões entre

eles, compondo-os e apaziguando-os com brandura e suavidade, de maneira que

igualmente o amem como companheiro e respeitem como capitão e superior,

advertindo, porém que sendo o castigo muitas vezes de grande importância para

excusar maiores males deve usar dele quando lhe parecer que convém” 169.

Novamente a hierarquia militar e a conduta dos soldados eram colocadas para que

evitassem brigas, deserções e motins como aquela ocorrida no Maranhão em 1615, desta vez

o governador deixa claro que não iria tolerar a má conduta militar, tendo o capitão Bento

Maciel o poder para usar até de castigos físicos, tais como chibatadas.

O terceiro ponto do seu regimento revela explicitamente a razão para o envio ao

Pará de tal força: dar guerra aos grupos indígenas rebeldes do Pará, diz ele:

“No assento que se deve tomar sobre essa guerra que se deve fazer aos índios

rebeldes do Pará, por causa das mortes que deram aos nossos debaixo de paz e

amizade com que eles tinham, vindo com mão armada por cerco na real fortaleza de

Sua Majestade, tratando-se o modo por que mais lhe convinha fazer-se a dita

guerra” 170.

Nesse aspecto a última frase indica que o capitão tinha carta branca para atuar

livremente contra os insubordinados, sendo isso justificado pelas mortes de muitos colonos e

soldados portugueses que foram pegos nas emboscadas dos Tupinambás.

Vale ressaltar que aos olhos dos colonizadores as táticas desses indígenas eram

traiçoeiras, pois usavam de artimanhas para atrair as presas amistosamente, às vezes faziam

até festas para as mesmas e as matavam quando distraídas ou embebedadas pelo cauim. Ou

faziam emboscadas no meio da mata, em ataques rápidos nos quais as armas de fogo tinham

pouco efeito. O regimento dá aval para o extermínio de várias aldeias e a escravidão de 169 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.14-5. 170 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.15.

97

número indefinido de indígenas, contudo, talvez temendo mais revoltas, além de queixas dos

missionários, a corte de Madrid lhe impõe normas para ditar a guerra e pacificar a região.

Ainda neste ponto Dom Luiz de Sousa diz por onde a marcha deveria começar:

“(...) por terra marchando do Maranhão até o dito Pará para que assim cometidos os

inimigos pelas espaldas desafrontassem os nossos, servindo de diversão para

acudirem suas mulheres e filhos, ficando também castigados da rebelião e mortes

que cometeram (...)” 171.

Estrategicamente atacar as aldeias rebeladas era uma forma de fazer com que os

guerreiros, que naquele momento cercavam a fortaleza do Pará, fossem ao auxílio de suas

aldeias e liberassem a Fortaleza do cerco, possibilitando a chegada por mar dos suprimentos e

socorros necessários para a mesma. Posso dizer que nesse aspecto Bento Maciel cumpriu as

ordens superiores e que a fama a ele atribuída muitas vezes esquece-se disso. As ordens de

atacar as aldeias, praticamente indefesas, partiram do Governador e não somente de uma ação

deliberadamente sua.

No quarto item do regimento de Bento Maciel, fala-se que o Governador tomou

providências para enviar um outro destacamento militar, com recrutas indígenas, para socorrer

a conquista do Pará. Comandada pelo capitão-mor Jerônimo Fragoso, essa expedição de

socorro levaria de barco quarenta soldados e cinqüenta índios do Maranhão até a Fortaleza do

Pará, reforçando suas linhas de defesa, enquanto o capitão Bento Maciel cuidava de combater

os Tupinambás na outra frente de batalha por terra. Notamos o quanto fora brilhante, do ponto

de vista da estratégia militar portuguesa, o sentido de cuidar da revolta indígena que estava

em risco de acabar com a conquista do Pará ao sitiar sua principal Fortaleza e os seus

habitantes. Contudo, uma coisa é o plano no papel. Outra é a ação de verdade.

O quinto item refere-se aos preparativos do capitão Bento Maciel. Deveria ele ir

ao Maranhão e levar oitenta soldados dos presídios e demais áreas, além de recrutar o maior

número de índios que conseguisse. Nesse aspecto não se fala em números de indígenas

recrutados. Ainda no quinto item, o Governador reforça a intenção de dar guerra aos rebeldes

do Cumã, mas adverte que fazendo as pazes com eles deveria o capitão Bento Maciel

rapidamente ir até a Fortaleza do Pará por conta do cerco a ela feito pelos indígenas da região.

Já no item sete a parte mais interessante refere-se à subordinação do capitão Bento

Maciel. Diz o Governador geral Dom Luiz de Sousa: 171 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.15.

98

“(...) não estará ele capitão Bento Maciel no particular desta guerra e suas

dependências ao Capitão-mor Antonio de Albuquerque, que lhe não impedirá em

maneira alguma antes lhe dará toda ajuda e favor como se declara na provisão por

que lhe há de entregar a gente e canoas” 172.

Ou seja, ele não tinha ninguém na região que fosse seu superior, prestaria contas

da guerra somente ao Governador Geral do Brasil e ao Rei, além disso, poderia ainda pedir

materiais e gente ao capitão-mor do Maranhão, obrigado a acatar.

No ponto seguinte, coloca-se culpa do levantamento nos grupos Tupinambás, o

que faz com que eles sejam os mais visados na guerra. Diz o governador:

“(...) procurara ele capitão que a guerra (aos Tupinambá) se faça contra eles mais

viva em razão do maior castigo que merecem, tendo em consideração que com as

outras nações se haja mais remissamente e com menos crueldade conforme a

resistência que fizerem (...)” 173.

Contudo, mesmo dando essas terríveis ordens de agir com severidade e crueldade

com os Tupinambás rebelados, o governador adverte em seguida:

“(...) o intento maior da guerra e o fim ultimo porque se manda dar, a reputação de

Sua Majestade é o castigo dos rebeldes, que tendo castigados deve ele ser o primeiro

que por bons meios trate de fazer as pazes e reduzi-los a nossa amizade, procurando

também conforme a disposição das coisas e do tempo dar-lhes a conhecer o negocio

de sua salvação e a vassalagem que devem a Sua Majestade como a seu Rei e

Senhor. (...)” 174.

Uma carnificina estava sendo preparada com autorização do Governo Colonial.

Embora o próprio Governador talvez temendo criar, ou melhor, incitar novas revoltas acabe

colocando ao final, essas e outras condições ao capitão no intuito muito vago de impedir uma

mortandade generalizada. Diz ele ao final:

172 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, pp.16-7. 173 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.17. 174 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.17-8.

99

“(...) E neste particular da guerra mais viva ou remissa com mais ou menos sangue

hei por encarregado a ele capitão de sua consciência, lembrando-lhe que quanto for

menos sanguinolenta e cruel tanto será mais justificada e Sua Majestade se haverá

por melhor servido, pois o seu intento como Rei tão católico que é tratar da

conversão e conservação dos índios de todas as conquistas.” 175.

Conseguiria Bento Maciel dar conta de fazer essa paz com os indígenas mesmo

fazendo uma guerra de vingança aos Tupinambás?

Uma forma de conseguir a paz com as tribos rebeladas aparece no ponto nove de

seu regimento e consistia em dar “resgates” aos principais das aldeias como forma de ratificar

a amizade e “conciliar os ânimos com os principais”. Esses “resgates” eram comprados com

o dinheiro dado pelo Provedor da fazenda do Maranhão e foram no valor da época, duzentos

mil réis. Não podemos saber com clareza quais tipos de “resgates” eram esses, pois poderiam

ser na forma de objetos de necessidade das aldeias ou escravos. O último caso é reforçado

pelo nome “resgate”, comum nas correspondências para tratar de escravos indígenas, contudo

o mais correto a meu ver é o primeiro, posto que mais adiante a mesma palavra aparecer

sendo empregada para designar mantimentos.

No ponto seguinte o Governador Dom Luiz de Sousa afirma categoricamente ser

proibido ao capitão Bento Maciel dar guerra aos indígenas que não fossem culpados,

cúmplices que mataram os brancos durante a revolta. Para tentar evitar ataques as aldeias que

não tinham nada com a guerra, impõe-se à condição de Bento Maciel fazer autos contra essas

tribos mostrando neles a razão e causa para se dar uma guerra. E apenas seria permitida

depois de julgada por mérito. No décimo terceiro ponto do regimento reforça-se esse

argumento a favor das tribos pacíficas sendo condenado qualquer ato contra elas por parte dos

soldados. Diz ele:

“(...) procurara ele capitão que quando marchar por terras de amigos lhe não façam

dano algum, moléstia nem agravo, tomando-lhes suas filhas e mulheres ou

mantimentos, e em caso que lhes sejam necessários lhos resgatara e pagara ou

haverá por amizade voluntariamente, para que desse modo os obrigue a conservarem

conosco e a não perderem vendo-se oprimidos por quem os deveria favorecer” 176.

175 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.18. 176 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.19.

100

Penso que essa recomendação se faz, por conta de serem práticas comuns dos

soldados da colônia em geral fazerem “agravos” as mulheres das aldeias, e numa situação de

crise na qual vivia a conquista do Pará tais atos poderiam gerar ainda mais conflitos.

Da mesma forma, os soldados deveriam respeitar os guerreiros e demais indígenas

recrutados que acompanhavam a companhia. Como o próprio Governador diz: eles eram “o

nervo principal da guerra”, portanto deveriam ser bem tratados. Um desentendimento com

esses recrutados além de perigoso resultaria num fracasso da missão, posto que a força militar

ficaria reduzida para enfrentar centenas de indígenas.

Nos itens dezesseis e dezessete fala-se do que deveria Bento Maciel fazer quando

chegasse à Fortaleza do Pará. Caso ainda a encontrasse cercada deveria proceder dando guerra

até a suspensão do cerco, depois daria guerra aos grupos vizinhos até a fortaleza estar segura,

ficando ele e seus homens instalados na mesma sob ordens do capitão-mor do Pará Jerônimo

Fragoso ou aquele que estivesse no seu cargo. Ao final da guerra deveria retornar ao Nordeste

com todos os índios e tropas que levava.

Figura 11

Mapa de Antonio Cochado mostrando a região entre Belém e São Luis, foco das revoltas Tupinambás. In: GUEDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: cartografia portuguesa vestutíssima. Edição comemorativa do centenário da Frotilha do Amazonas. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da marinha. 1968.

101

Podemos dizer que esse documento no geral selava um terrível destino aos grupos

Tupinambás do Maranhão e Pará, sem que nada mais pudesse impedir um massacre na região

(a não ser a “consciência” do capitão Bento Maciel). De qualquer forma esse regimento

também reflete o quanto era desesperadora a situação no Pará e ao mesmo tempo a sua

importância para as autoridades. Nos itens dezessete e dezoito do regimento do Governador

Geral fica a dúvida se o capitão Jerônimo Fragoso ainda encontraria a Fortaleza do Pará de pé.

Inclusive no item dezoito fala-se nos procedimentos que ele deveria tomar caso isso

ocorresse:

“Porem porquanto eu tenho ordenado ao capitão-mor Jerônimo Fragoso, como se

contem em um capítulo do seu regimento, em caso de (o que Deus não permita)

ache nova certa no Maranhão que a nossa fortaleza do Pará é perdida, siga sua

viagem com toda a massa de gente, índios e embarcações ao dito Pará sem

desembarcar em terra mais que a fazenda e moradores casados que vão para o dito

Maranhão (...)” 177.

Nesse caso, a tática adotada seria de deixar o capitão Bento Maciel no Pará e ele

continuaria dando combate aos Tupinambás e demais tribos rebeladas até o Maranhão, que a

meu ver seria pacificado pelo capitão mor Jerônimo Fragoso.

Por fim o último item ainda comenta os fatos relativos à prisão de Castelo Branco.

Deveria o capitão Bento Maciel fazer devassa do motim ocorrido com a morte do capitão

Álvaro Neto e prisão de Castelo Branco, levando-o à sede do governo na Bahia junto com os

presos acusados de liderarem o tal motim.

Os fatos ocorridos no Pará e Maranhão daí em diante têm diferentes versões

seguindo linhas paralelas. Na petição ou memorial de Bento Maciel há uma versão dada por

ele das revoltas ocorridas, e o que ele fez para sufocá-las. Diz ele:

“(...) y en esta ocasion reedificó el fuerte de san Ioseph en Tapari, y estuvo por

capitan del, hasta que fue en socorro del Gran Pará, adonde se hallo en algunas

refriegas con los índios rebelados, y por estar la praça muy apretada con el sitio de

los Tupinambás, fue por mar a Pernambuco, adonde el Governador general don Luiz

de Sosa le mando levantar gente a su costa a las Capitanias de Itamaracá, Parahiba,

y Rio Grande, y levar este socorro al Gran Pará, y pesquisar de los alborotadores q

avian preso a su Capitã mayor Francisco Caldera de Castelbranco: y entro con

177 STUDART, Barão de. Documentos para a História do Brasil e especialmente do Ceará. IV volume. Fortaleza: Typ. Minerva de Assis Bezerra, 1921, p.21.

102

ochenta hombres, y quatrocientos índios flecheros en las províncias de los

Tupinambás rebelados, que avian muerto mas de cien Portugueses esparcidos, y

empeçando a castigarlos en las aldeas de Tapuytapera, los fue siguiendo, matando y

destruyendo, hasta el Gran Pará, en que ay mas de cien leguas: y despues de

hazierlos levantar el sitio de la praça de V.M. los fue siguiendo, matando y

prendiendo a muchos dellos, mas de duzientas leguas tierra adentro, con que

quedaron harto castigados, y los indios de aquellas provincias escarmentados, y todo

quieto, particularmiente con las prisiones que hizo en los que hallo culpados en los

alborotos.(...)”178.

Partindo do seu relato posso dizer que a tática dada a ele pelo Governador Geral

dom Luiz de Sousa, de primeiro atacar as principais aldeias rebeladas, foi utilizada com êxito,

com isso ele tirou a atenção do Forte sitiado e passou a dianteira da situação. O recrutamento

segundo Bento Maciel foi feito primeiramente nas tribos do litoral de Itamaracá, Paraíba, e

Rio Grande do Norte, o que indica que ele não confiava nos indígenas Maranhenses ou que

por lá não havia gente suficiente para enfrentar a revolta. A meu ver são conclusões possíveis

posto que, em São Luiz as revoltas de 1617 foram duramente sufocadas e havia poucos

indígenas aptos para a guerra a favor dos portugueses. Por outro lado, muitos indígenas

possivelmente fugiram para o interior quando aumentou o fluxo de resgates de escravos, tanto

da parte do Pará quanto do Maranhão nos meses seguintes a revolta anterior provocada pela

carta lida pelo indígena Amaro.

Contando com oitenta soldados e quatrocentos guerreiros, o capitão Bento Maciel

não teve problemas em suprimir as aldeias existentes entre o Maranhão e Pará, a começar pela

aldeia do Cumã. É impossível calcular o número de mortos, feridos e capturados dentre os

Tupinambás. Mesmo sendo lucrativo o comércio de escravos indígenas com os colonos, havia

muitas mortes durante e após a luta, fora que indígenas rebelados eram pouco aptos à

escravidão.

Seguindo a tradição funesta das guerras em geral, juntamente com os massacres

das aldeias logo surgiram doenças, pelo contato dos nativos com os europeus, o que

contribuiu para o despovoamento de grandes áreas pacificadas.

Outra versão pouco diferente da feita por Bento Maciel nos é dada por Mauricio

de Heriarte na “DESCRIÇAM DO ESTADO DO MARANHAM-PARA-CORUPA-RIO DAS

AMAZONAS”, obra escrita sob encomenda do Governador Geral Ruy Vaz de Siqueira em

178 O documento original desta petição está guardado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas utilizei a cópia fax símile contida em: GUEDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: Cartografia Portuguesa Vetustíssima. Ministério da Marinha: Rio de Janeiro, 1968, p.31-2.

103

1662, mas publicada dois anos depois. Sobre a revolta indígena de 1619 ele faz as seguintes

observações no capítulo XXIII:

“(...) por serem larguíssimas, e de muitos índios, que quando foi povoada de

Portugueses, avia mais de 600 povoações de índios Tapinambas: o Tapuias, que

vendo que eram poucos os Portugueses, se levantaram contra elles, e mataram 222,

sendo seu capitam mor Francisco Caldeira do Castello Branco: mas os q; tiraram,

com muito valor, em que com muito trabalho, deram grandes guerras à os índios, o

destruíram a naçam Tapinamba, que dominava sobre a outra naçam Tapuia.

Morreram muitos índios nessa guerra, e outros se retiraram pella terra dentro, os que

hoje assistem a os Portugueses sam 15 povos, (...)” 179.

Seus escritos aumentam o número de mortos entre os portugueses para 222,

diferente de Bento Maciel que diz apenas serem “mais de cem”. Entretanto ele confirma não

só o massacre dos grupos Tupinambás, quanto aponta que das 600 povoações que existiam

antes da revolta, somente 15 haviam sobrevivido até a sua época.

A campanha de Bento Maciel conseguiu o principal intento de salvar para a Coroa

Ibérica a conquista do Pará libertando-a do cerco em que estava, contudo ele não parou no

Forte do presépio, mas continuou terra adentro, matando e cativando, sendo os prisioneiros

levados ao mercado da vila e vendidos aos donos de engenhos e demais proprietários.

Suponho que neste sentido eles preferiam cativar os mais jovens e as mulheres. Os primeiros

por não terem como fugir e rapidamente estarem domesticados, as mulheres por serem as

produtoras de farinha, cozinheiras e oleiras natas.

Não consegui nenhuma referência sobre a volta dos flecheiros recrutados e vindos

do Nordeste para guerrear contra os rebelados, o que reforça a suspeita destes terem ficado no

Maranhão e no Pará, apesar das ordens do Governador Geral Dom Luiz de Sousa no sentido

do seu retorno. Também não sei, pela falta de informações dessas fontes, se houve

participação de grupos não Tupinambás nessa revolta, o que configuraria uma ampla aliança

indígena. O certo é que muitos grupos indígenas serão apontados como rebeldes pelos

sertanistas para justificar a sua caça e escravidão.

Como resultado das guerras, massacres, fuga forçada para o interior das matas e

epidemias subseqüentes, os Tupinambás entre o Maranhão e Pará diminuíram drasticamente,

a ponto de serem hoje em dia considerados extintos. Entretanto as misturas com etnias

179 HERIARTE, Mauricio de. Descriçam do Estado do Maranham-Para-corvpa-Rio das Amazonas. Faksimile. Akademische Druck –u. Verlagsanstalt: Áustria, 1964, p.26.

104

diferentes em aldeamentos forçados, os fizeram resistir ao tempo sob novas culturas ou

tradições e mascarados pela língua comum, o Tupi.

Seguindo o que lhe fora estipulado por Dom Luiz de Sousa, o capitão Bento

Maciel procurou fazer autos contra aqueles índios que não eram considerados Tupinambás

rebelados. Neste sentido encontrei apenas um auto com muitos testemunhos contra dois

indígenas que aparentemente teriam servido na companhia como “viseiros”, espécie de

batedor que vai à frente do grupo principal. Por causa ignorada passaram secretamente a fazer

uma conspiração dentro dos grupos recrutados. Até que desertaram e passaram a tentar

insurgir as aldeias pacificadas ou liderar as então em guerra com os portugueses.

É interessante observar como havia uma distinção clara a meu ver entre as aldeias

da região. Umas foram pacificadas por meio da guerra, outras foram pacificadas por meio de

acordos com os chefes locais, outras ainda, ficavam no interior e não participavam das guerras

mantendo sua autonomia.

Nesse auto de 1619, percebe-se como era a cadeia de comando dentro de uma

companhia de resgate. Aquilo que se pode afirmar como algo permanente nas outras

companhias semelhantes, dado as poucas informações sobre elas. O líder era sempre o capitão

de guerra (no caso Bento Maciel Parente), depois vinham os oficiais seguidos dos soldados

mais velhos da companhia.

Na companhia liderada por Bento Maciel os oficiais e soldados mais velhos eram:

Alferes Baltazar Roiz, o sargento Manoel Soares Grasses, Sebastiam de Acunha,

Chomefaleiro Domingos da Costa Pretto, Miguel de Lemos, Afonço Teixeira, Marcos Glz.

Correa, Gaspar de Souza, Antonio Holiveira, Gaspar Lourenço, Antonio do Canto, além do

escrivão João da Silva.

Os grupos indígenas recrutados eram liderados por seus chefes subordinados ao

comando do capitão, dos oficiais e dos soldados, neste último caso quando não havia um

oficial presente. Como fora mostrado anteriormente, muitos desses grupos foram recrutados

no Nordeste, mas alguns, provavelmente os que eram línguas e viseiros, foram recrutados em

São Luiz ou aldeias próximas. Foi o que aconteceu com os dois rebelados que Bento Maciel

insiste em prender e que por isso faz um grande auto, revelador dessas práticas e do convívio

na tropa de indígenas e soldados180.

Diz ele ao escrivão da companhia, João da Silva, que esses dois acusados:

Jaguarábaior e Jaguatingua tinham induzido outros indígenas da companhia e das aldeias

180 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14

105

visitadas a fazerem motins contra os portugueses, escapando por fim em duas canoas com

alguns brancos que teriam virado prisioneiros ou mortos. Para dar mais legitimidade ao

documento pede que assinem os chefes que estão na companhia militar e que vieram de

Pernambuco: Francisco Roiz pirarobirá e Joane Maracoani, Thume Guoro, Aundo Felippe

Pitanguão, Gamoquo assú Ejhu Cangado com todos os seus filhos181.

Interessante e ao mesmo tempo intrigante. Ele mostra que entre os rebelados havia

divergências e afinidades, mesmo entre os recrutados e entre os rebelados. O principal

Jaguarábaior era no início aliado português, mas aparentemente voltou-se contra eles de

maneira sutil e sem deixar que percebessem, exceto os indígenas que ele tentava cooptar

fazendo: “práticas secretas” e “dando-lhes dádivas e carícias”, justamente para esse fim.

Mesmo lutando a favor dos portugueses contra os Tupinambás do Caeté ele nutria

um grande sentimento anti-lusitano. Nos depoimentos que estão no auto ele disse a várias

testemunhas o quanto detestava os brancos, na maioria desses testemunhos. No entanto, como

são testemunhos de soldados e oficiais, bem como de línguas, tradutores utilizados para o

contato com os indígenas, o que dizem não nos oferece muita segurança.

Contudo, mesmo sabendo das limitações das fontes elas ainda carregam alguma

informação que devem ser “peneiradas”, principalmente aquelas que tratam de depoimentos

de indígenas. Num dos depoimentos, por exemplo, cita-se a fala do principal de nome

Pirababaquá, onde podemos ver algo comum à cultura Tupinambá que tem a ver com a

transmissão de sua tradição por meio da oralidade:

“(...) E outro si disse ele testemunha que ouvira dizer a gente de sua nação que o pai

do dito Jaguoara baité destruíra uma armada portuguesa que antigamente ao

Maranhão veio E outro si disse ele testemunha que ouvira dizer a gente de sua nação

que ele fora uma das principais cabeças do levantamento que nestas partes e nas do

Maranhão houve do que é publica voz e fama (...)” 182.

Valendo-se do passado, onde seu pai teria destruído duas armadas portuguesas na

época anterior a União Ibérica, fato não confirmado, ele respalda-se para as suas ações anti-

lusitanas. Mas, mesmo que a tal história seja uma invenção, isso não desqualifica o

depoimento do ponto de vista da transmissão por meio da oralidade do grupo de um fato mais

antigo.

181 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14. 182 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

106

Essa oralidade era um fator chave para a continuidade de suas tradições e era

amplamente valorizada e incentivada naquela cultura Tupi, conforme observações feitas por

Evreux183, e também salientadas depois por Florestan Fernandes184.

Neste documento novamente estão presentes os línguas dentro dos depoimentos, o

que sugere a grande importância deles nesse tempo. Já estavam presentes na conquista do

Maranhão e agora eram usados na guerra aos grupos indígenas rebelados. Noto, contudo, que

eram divididos em duas categorias: os Militares e os Recrutados.

Os Militares eram soldados e oficiais que aprenderam a língua geral Tupi com

Missionários ou com os próprios indígenas no contato. Eram muitas vezes sertanistas já

acostumados com os perigos da mata e habituados aos costumes das aldeias. Nesse sentido

eram valorizados dentro da colônia para tratarem dos assuntos com os indígenas, seja para

fazerem negociações de paz ou de gêneros da terra. No documento aparece um língua militar

chamado Francisco Álvares. Ele faz o seguinte depoimento:

“(...) disse ele testemunha que ouvira dizer que os índios tabajares e tapuios

requereram o conteúdo no auto ao dito capitão trouxesse ao dito jagouara baité pelas

razoes no auto contidos e que isso era publico entre os índios moradores o que sabe

ele testemunha por saber muito bem a língua e falar muitas vezes com eles e outro si

disse ele testemunha que ouvira dizer publicamente que o dito Jagouara baité fora

origem principal do levantamento que hora houve no Maranhão, e que mataram a

gente que estava no Presídio de Cuma e tinham a intenção de matar a todos (...)” 185.

Pude constatar que na companhia de Bento Maciel havia muitos soldados e

oficiais que sabiam a língua indígena e, portanto seus depoimentos eram considerados de

grande valia para a acusação dos réus.

Os línguas recrutados eram indígenas ou cafuzos que entendiam bem o português

por terem aprendido com os missionários ou colonos e seguiam nas companhias a serviço de

militares, quando estes iam às aldeias em que não conheciam bem a língua e, portanto

precisavam de intérpretes. Eram geralmente jovens, não raro podiam ser filhos mestiços dos

soldados e oficiais que acompanhavam. Tinham as mesmas funções dos intérpretes militares, 183 D’EVREUX, Ives. Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614. Ed. Siciliano: São Paulo, 2002, p. 121. 184 Segundo Florestan, outra faculdade que impressionou os capuchinhos era a memória. Podiam lembrar-se do que viram e ouviram com todas as circunstâncias do lugar, do tempo, das pessoas, quando o caso se disse ou se executou. Os mais velhos recordavam ocorrências de fatos passados a 120, 140 e até 160 anos de acordo com D’Abbeville. In: FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambá. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948, p. 249. 185 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

107

mas como tinham uma relação ou afinidade mais próxima com os indígenas, não eram muito

confiáveis e podiam ocultar muitas informações dos portugueses. Podemos encontrar no auto

contra Jaguarábaior e Jaguatingua a citação de um língua recrutado chamado Miguel da

Costa, no depoimento do militar Marcos Gonçalves:

“(...) era verdade por ser publico e notório e ele testemunha ouvira dizer muitas

vezes as pessoas linguoas que bem sabiam destingir sua língua e outro si disse ele

testemunha que estando um dia na aldeia do dito Jaguoara baite com um mancebo

linguoa por nome Miguel da Costa o dito Jaguoara baite lhe dissera ainda vos heis

de ser destruídos nesta terra (...)” 186.

Os línguas tinham um papel importante nestas campanhas de pacificação dos

grupos indígenas. Saber bem a língua dos adversários, no entanto, era muito útil para ambos

os lados. Por isso, entre os rebelados, havia gente que sabia bem o português e assim

conseguia saber das armadilhas do inimigo branco e também fazer as suas “arapucas” por

meio dessas. Numa parte do depoimento de uma das testemunhas, ele cita a fala de um

indígena que ouviu o principal Jaguarábaite simplesmente dizer o contrário do que fora

instruído a ele dizer enquanto língua da companhia:

“(...) E outro si disse ele testemunha que o dito Jaguaratingua era da casa do dito

Jaguoara baite e o mais privado vassalo que bem donde se pode suspeitar o conteúdo

nos autos e outro si disse ele testemunha que sabia que o dito Jaguoara baite

mandara um vassalo seu com outro da mesma nação que o dito capitão mandava

fazer pazes a uma aldeia da mesma nação o qual contra a ordem das pazes avisou

dos da dita aldeia que fugissem que as pazes que os brancos lhes mandavam cometer

eram falsas e que se não fiassem deles e assim o fez fugir a todos o que ele

testemunha sabe por ser língua da companhia (...)” 187.

Esse astuto indígena sob ordens dos oficiais de fazer as pazes nas aldeias, acabava

usando o fato deles não conhecerem sua língua para dizer que as intenções portuguesas eram

falsas e que os indígenas deveriam fugir.

Neste auto percebo o quanto era difícil a luta contra grupos já contatados pelos

portugueses ou ibéricos. Estes conheciam as artimanhas, as táticas e muitas vezes podiam

passar por amigos e depois atacar num momento de descuido. Sendo assim, Bento Maciel

186 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14. 187 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

108

teve um inimigo à altura para enfrentar. Astuto, Jaguarábaior lutava uma guerra diferente dos

demais indígenas. Evitava a luta aberta preferindo fazer as sublevações indo as aldeias e

estimulando as revoltas. Primeiro atuando sem suspeita como aliado lusitano, a meu ver

conhecendo suas fraquezas e estimulando secretamente as revoltas por meio das tais “práticas

secreta e dádivas”, provavelmente objetos que ele tentou usar para comprar a ajuda de alguns

chefes. O interessante é que entre os indígenas sabia-se que ele era um rebelde que estava

ajudando os portugueses, o que em certas situações era um risco para ele e trazia conflitos,

como podemos ver numa das falas de um dos depoentes:

“(...) disse ele testemunha que era publica voz e fama ser o dito Jaguoara baité um

dos cabeças principais no consultado levantamento e ouvira dizer ele testemunha

que alguns dos rebelados no encontro que com eles tiveram no Cuma em que o dito

Jaguoara baité se achou com os brancos lhe disseram os inimigos ao Jaguoara se tu

foste deste consentimento e ajudaste a este levantamento como vens a guerra contra

nós(...)” 188.

Talvez por estar sempre agindo nos bastidores ele não foi incriminado nos

levantamentos do Maranhão, e a fala descrita neste sentido torna-se muito comprometedora,

pois como alguém que era líder de revolta no passado passa a agir contra seus antigos

amigos?

Depois quando viu que já havia muita suspeita sobre ele e seu comparsa

Jaguaratingua, fogem em canoas e passam a fazer uma campanha de aldeia em aldeia para

fazer uma resistência aos conquistadores. Sua campanha contra os lusitanos, no entanto, não

admite a paz, e, portanto ele passa a atacar as aldeias pacificadas, por isso algumas tribos

pedem que ele seja preso e entregue a eles pelos seus crimes.

“(...) outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que os principais das nações

tobaiares e tapuias requerem ao dito capitão que trouxesse ao dito Jaguoara baite por

quanto fazia praticas que depois dele dito capitão ser partido lhes havia de matar

suas mulheres e filhos e destruir as aldeias e outro si disse ele testemunha que o

maior principal que na ilha havia e que sempre se tivera má suspeita dele e era

publico e notório ser cabeça principal do primeiro levantamento. E assim disse ele

testemunha que o principal Sarobabe lhe dizem que tinha avisado ao capitão mor

188 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

109

Jerônimo de Albuquerque em como ele dito Jaguoara baior e os de sua parcialidade

se queriam levantar e matar os brancos (...)” 189.

Os Tabajaras e Tapuias, a meu ver eram seus inimigos, não por estarem somente

ao lado dos portugueses, mas porque tinham desavenças com os Tupinambás da região antes

dos portugueses chegarem.

Jaguará baior era um perito das guerras contra os portugueses, quando um dos

principais envolvido nas revoltas é interrogado ele faz a seguinte observação acerca de como

lutavam:

“(...) não deixasse na conquista por quanto tinha já feito pratica com o Obututinga

principal da aldeia do Moni e na mesma forma com Etajuba principal de Urasaji e

outros da mesma nação e que a ordem que o dito Jaguoara baite tinha dada com os

tantos que partimos para a guerra era destruir principalmente a aldeia dos selvagens

que na dita ilha do Maranhão estão em que os portugueses fazem mais cara e logo

nas duas aldeias dos tabaiaras e depois para a cidade e fortaleza em cerco que a

necessidade de se entregarem e que depois de tudo consumido nos haviam receber

ais que fazermos a guerra para nos destruir e com jeito não haver fumo demos nestas

partes de vitimado e não fazendo conta da gente que ora veio de Portugal nos navios

de Jorge de Lemos de Bitencourt dizendo que eram mulheres e meninos e velhos e

que não sabiam o estilo de sua guerra (...)” 190.

Comparando esta referência a anterior, podemos ver que os Tabajaras eram

grupos inimigos que também deveriam ser Tupinambás. Jaguarábaite procura convencer os

principais das aldeias do Moni e do Urasaji de um ataque a São Luiz e a sua principal

fortaleza pondo-a em cerco até sua rendição, contudo ele não leva em consideração os

reforços que vão de navio, pensando tratar-se de mulheres, meninos e velhos. Sua frase no

final do trecho acima mostra que tinha um modo diferente de guerrear, que não era o usual e

que, portanto os lusitanos não eram páreos para ele.

Ele volta aos hábitos considerados “selvagens” como andar nu e comer carne

humana moqueada. Esse fato em si é por sinal digno de nota: as roupas eram o diferencial dos

grupos rebelados e recrutados. Os rebelados vestiam-se para guerra conforme sua cultura,

pintados como onças e com marcas tatuadas no corpo indicando o número de vítimas que

189 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14. 190 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

110

haviam comido das tribos rivais, usando enfeites de penas e enfeites de pedra verde nos

lábios.

Os recrutados eram vestidos com uma camisa de pano simples e um chapéu na

cabeça, como nos diz uma das testemunhas no auto:

“(...) disse ele testemunha que na guerra do Caite indo ele por cabeça de vinte

homens na dianteira com o gentio andando na guerra perto dele testemunha o índio

Jaguoatingua dera com um machado no dito principal Januabosu e acudiu-lhe a

testemunha e o que deu-se fora safando com o machado as costas e o outro estava no

chão vestido com uma camisa e um chapéu na cabeça que era devisa que os nossos

índios da companhia traziam e os inimigos não traziam vestido roupa nenhuma e o

dito Jaguoatingua confessara em presença dele testemunha que lhe dera para que se

entregara(...)” 191.

Isso era importante para que na luta não acabassem matando por engano os seus.

No trecho acusa-se Jaguaratingua de haver tentado matar a machadadas o chefe rebelado

Januabosu a mando de Jaguarábaior. O estranho do atentado é o chefe atacado estar usando as

roupas do atacante. Segundo Jaguaratingua o chefe Januabosu teria recebido a roupa dele para

que se rendesse, o que deixou os oficiais da companhia muito desconfiados.

Não pude saber mais a respeito de Jaguarábaior por conta da falta de informações

nas fontes seguintes. Segundo um dos depoentes, ele era da ilha de São Luiz do Maranhão e

na sua aldeia havia uma igreja devotada a São João, que ficou abandonada após a morte dos

brancos, provavelmente seus missionários. Diz o depoente, citando fala do principal chamado

Caroata pirangua rebelado preso no salto do Garaopi, localidade próxima ao Caeté:

“(...) dizendo-me que desse esperimento nas minhas aldeias e que ele daria nos das

ilhas que come a carne humana que levava assada se iria ver com ele e outro si disse

ele testemunha que a aldeia dele dito Jaguoara baite é a maior que na dita ilha há

alem que os principais das aldeias do Maranhão lhe obedecem e respeitam e que na

dita sua aldeia esta uma igreja da invocação do bem aventurado São João com um

painel de sua imagem posta no altar o qual o dito jaguoara baite e seus vassalos

tiraram o dito retabulo e levaram ao mato e lhe deram umas flechadas e o deixaram

no mato dizendo que o não queria ver pois a gente portuguesa tinha tanta fé nele e

que não queriam professar nossa lei e que quem dava aquelas flechadas em um santo

191 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

111

melhor os daria em um branco e que não havia de descansar ate não matar algum o

que ele testemunha sabe da boca do mesmo Jaguoara baite (...)” 192.

Será que a origem do seu ódio estava relacionada a essa igreja e aos missionários?

A imagem do santo usado como alvo poderia significar a raiva não só aos brancos, mas

também a sua Religião.

O certo é que muitos da aldeia tinham medo das represálias dos portugueses, tanto

é, que fogem da dita aldeia como a testemunha diz no complemento:

“(...) disse ele testemunha que ouvira dizer que dissera um índio por nome Ibaite

principal da mesma aldeia que em vindo o dito Jaguoara baite para a guerra se havia

de sair de sua aldeia e ir morar noutra com sua gente e família porque quando se

soubesse alguma coisa do dito jaguoarabaior não queria ele ser culpado (...)” 193.

Tinham mesmo razão em fugir, pois Bento Maciel atacava as aldeias sem

compaixão alguma, junto com ele Mathias de Albuquerque no Maranhão fazia a mesma coisa.

Um exemplo do que acontecia com os chefes considerados culpados das sublevações, está

num dos depoimentos deste auto. Trata-se da execução do principal Caroata pirangua:

“(...) fazendo-se execução no principal Caroata pirangua, que foi tomado no salto do

Garaopi, um dos principais cabeças do levantamento em o porem na boca de uma

peca mandando-lhe por o fogo pelo dito Jaguoara baite lhe disse o dito penitente

põem (põem) o fogo que o fez ourigente em vir a este estado (...)” 194.

O final trágico desse chefe indígena, despedaçado pela boca de um canhão, nos

faz pensar em como a instabilidade provocada pelas revoltas indígenas tornara a situação

insustentável nas duas conquistas do Maranhão e Pará. Uma paz cada vez mais feita de corpos

sem vida do que de palavras.

As últimas palavras de Caroata pirangua parecem querer dizer que quem colocava

o fogo no murão do canhão era o mesmo que incitava secretamente a rebelião contra os

brancos, ou seja, o próprio Jaguoara baite (Jaguarábaior). Fazendo isso Jaguoara baite parece

estar eliminando lideranças independentes, que não obedeciam a suas ordens, centralizando as

aldeias rebeldes em torno de sua pessoa. Evidentemente isso foi aumentado e valorizado por

192 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14. 193 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14. 194 AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14.

112

Bento Maciel nos documentos para conseguir permissão para caçar os dois rebelados de sua

companhia.

Parece-me que houve por muito tempo um abrandamento em relação ao dito

indígena, tendo ficado livre por muito tempo apesar dos outros rebeldes dizerem em

depoimento que ele havia tramado junto com eles os ataques aos colonos. Talvez Bento

Maciel tenha tentado fazer o que recomendava o Governador em não fazer conflito com os

indígenas da tropa. Somente agiu depois que Jaguarábaite (Jaguarábaior) fugiu com seu

comparsa, e mesmo assim ainda fez um auto das culpas do dito Jaguarábaior e Jaguaratingua,

também conforme o estipulado para não culparem sua conduta neste assunto.

Ao final do auto todos os oficiais e soldados mais velhos da companhia são

unânimes em condenar os dois indígenas à morte, sendo esta comutada para degredo em outra

parte da colônia ou para o reino, como forma de apaziguar os ânimos dos seus parentes e das

aldeias as quais eles controlavam. Nesse aspecto percebo claramente que esse foi o desejo de

Bento Maciel que controlava os soldados e, portanto manipulava o resultado do julgamento.

Sabia ele que matando os dois só continuaria a perpetuar mais as desavenças e guerras, sendo

estes considerados pela oralidade dos grupos Tupinambás, grandes líderes e mártires.

Capturando os dois e enviando-os para outro lugar, aos olhos dos seus, estes ficariam com

dúvidas sobre a morte deles e não os idolatrariam como grandes chefes e, portanto não

haveria motivo para a vingança. A dúvida da morte não levaria a uma vingança por parte dos

Tupinambás dentro de sua tradição.

Sabia também Bento Maciel que o degredo não significava a vida dos

condenados. Estes poderiam “desaparecer” antes de chegarem ao destino. No entanto,

somente o fato de ser aplicado o degredo a esses dois rebelados e não permitir a pena capital

sugere que realmente Jaguarábaior tinha uma grande importância política entre os chefes

indígenas, diferente de outros condenados a morte na boca de canhão. Portanto o seu

desaparecimento pode ser considerado um grande esquema para atenuar os conflitos e evitar

uma vingança maior contra os colonos.

Não encontrei registros do fim que levaram estes dois condenados. Na

correspondência de Bento Maciel ele não toca nos seus nomes e é muito generalizante:

“(...) despues de hazerlos levantar el sitio de la plaça de V.M. los fue siguiendo,

matando, y prendiendo a muchos dellos, mas de duzientas léguas tierra adentro, con

que quedaron harto castigados, y los índios de aquellas províncias escarmentados, y

todo quieto, particularmente con las prisiones que hizo em los que hallo culpados en

113

los alborotos. Com esto se bolvio al Maranon, a fundar um furte en lo interior del rio

Itapicoru(...)”195.

As prisões que cita poderiam ser dos dois rebeldes, contudo também poderiam

referir-se aos presos por causa do motim na conquista, incluindo nela a de Castelo Branco.

O fim das revoltas Tupinambás e os recrutamentos contra os

“estrangeiros”:

A guerra de extermínio dos Tupinambás rebelados não foi executada somente por

Bento Maciel Parente, outros capitães da colônia fizeram ação em aldeias do sertão. No sítio

do Iguape, foram o capitão de infantaria Aires de Sousa Chichorro e Jerônimo de

Albuquerque, conforme notadamente descrito por Berredo. Destas companhias militares não

sabemos qual era a quantidade de recrutas indígenas, e quais as suas origens, apenas sabemos

que tinham grande força militar de brancos.

Com o final das hostilidades indígenas e a campanha de apresamento e destruição

dos rebeldes Tupinambás em vigor, o presídio de Santa Maria de Belém respirava mais

aliviado.

Contudo, tendo com base tudo que foi visto nas documentações, podemos dizer

que neste momento o presídio, mais parecia um grande quartel do que propriamente um

núcleo populacional. Seus moradores eram praticamente militares em serviço na fortaleza ou

os que vinham do combate no interior. O restante eram seus escravos e suas mulheres ou

concubinas, além dos seus filhos. Não esqueçamos os poucos missionários que ficavam na

igreja ou que, vez ou outra, enviavam cartas e depois retornavam ao interior do sertão.

Os indígenas recrutados das aldeias amigas espalhavam suas pequenas malocas

próximas à fortaleza e exerciam diversos trabalhos: no reparo da mesma e em pequenos

serviços aos seus capitães. Havia também indígenas que periodicamente levavam produtos a

serem trocados por pano, ferramentas de ferro ou outros utensílios. A primeira povoação

sobrevive ainda com medo dos ataques dos rebelados e, portanto, seus moradores estavam em

constante vigilância com as notícias vindas do sertão.

195 GUEDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: cartografia portuguesa vestutíssima. Edição comemorativa do centenário da Frotilha do Amazonas. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da marinha, 1968, pp.31-2.

114

E é assim que as notícias de fortificações próximas, feitas por holandeses, ingleses

e irlandeses, circulam do interior e chegam a Belém. Não que isso fosse novidade, desde

muito tempo suas autoridades tinham conhecimento destes estabelecimentos, como revela a

carta de André Pereira ao soberano Rei ibérico.

Contudo o crescimento da atividade desses estrangeiros passa a ser mais vista

pelos que viviam no interior, principalmente entre os indígenas e pelos navegadores que

chegavam à povoação.

As autoridades passam a preocupar-se com os estrangeiros. Agora não tendo mais

a oposição dos rebelados Tupinambás, podem dedicar-se com maior liberdade à questão

desses estrangeiros e a aliança destes com os grupos indígenas da Costa Norte, que eram

diferentes dos Tupinambás na sua cultura, mas não na sua belicosidade. Os Aruãs, a exemplo

disso, eram temidos e evitados, daí nas fontes não haver indícios de envio de soldados para os

combaterem antes de 1620 nas ilhas do Marajó.

115

CAPÍTULO III:

OS “HOMENS DO NORTE” MUDAM A PAISAGEM DO RIO

DAS AMAZONAS:

A pesquisa dos grupos indígenas do Cabo do Norte, atual região compreendida

entre o Amapá e ilhas do arquipélago Marajoara no Pará, na época da chegada dos primeiros

europeus, é uma tarefa complicada, devido aos muitos grupos identificados apenas como

“Guianas”, “Guianianos”, “indígenas”, “povos”, etc. Parti, primeiramente, escolhendo grupos

já pesquisados, que realmente moravam naquela região ou que tiveram uma identificação

positiva em trabalhos etnográficos e arqueológicos, como os contidos no “Handbook of South

American Indians” e “Povos indígenas no Brasil” 196.

Pesquisando mapa etnológico de Curt Nimuendajú pude fazer um novo mapa,

somente com os grupos contactados durante o século XVII, período da chegada dos

europeus197. Além dos Tupinambás na margem oriental do Amazonas, contactados pelos

franceses desde 1613-14, havia outros quatro grandes grupos numerosos e com aldeias

espalhadas pelos arquipélagos marajoaras e na costa do Amapá (Aruãs, ingahibas, Palikures e

Galibis). Outros grupos foram registrados, embora o nome e o grupo lingüístico deles seja um

mistério, pois ou foram extintos ou mudaram de nome, mesclando-se a outros grupos.

196 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983. STEWARD, Julian H (ed.). Handbook of South American Indians. Vol.3. The Tropical Forest Tribes. New York: Cooper Square Publishers, Inc. 1963. 197 NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981.

116

Figura 12

Aruã

Tupinamb á

Ingahiba

Pal iku r

Galib i

Baí

a do

Mar

ajó

Rio T

ocan

t in

s

R io P a rá

R i o P a caj á

Ilha do MarajóRio G ua má

Rio

Aca

r á

R io Amaz on as

Rio

I riri

Rio

Tap

ajós

Ilha Cavianade Fora

Ilha Me xiana

I lha

Gra

nde

do G

urup

á

Mayé: XVI I

Mayé

: 1600

Paracoto : 1558

Marao

n: 16

35

Yao: 1603

Tucuj

ú

Sacaca

Ma rauan á: XVII

GuajaráJoaneAn ajá : XVI I

Caramapin: 1 614A PEHO U: 16 23

Pac ajá: 1613

Uanapú : 1626

YUR

UNA: X

VII

CAMBOCA: XVII

PARACOTO: 1646

Rio Anajás

Ma puá: XVII

Rio C

apim

Rio

Aca r

á Mi r

in

Rio

Mojú

Val ley , Storting v an `T Water

Rio M

a raca -Pu

c ú

Vila N ov a

Arayú: XVII

Rio O

cquaia r i

Makapá: 163 6

LINHA DO EQUADOR

Rio

Cal co

e ne

R io Arr o w ari

MAPA DOS GRUPOS INDÍGENAS DO SÉC. XVII

Mapa etnológico de Curt Nimuendajú, contendo os grupos do Norte Amazônico do século XVII. Extraído de: NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981.

117

Um dos grupos mais atuantes do litoral no século XVI e XVII são os Palikures. A

sua auto denominação é “Paliku’ene”. Mas a auto denominação “Aukwa yene” ou

“Aukuyene”, entre os Palikures é salientada por vários pesquisadores e parece ser a mais

predominante, tendo em vista a geografia da região, pois significa “gente do meio”. O “rio do

meio” seria o rio Urucauá em relação do rio Curipi (kwip em Palikur). Incluem-se eles então

no tronco lingüístico Aruak, pois seu dialeto é aparentado aos de língua Aruak das Guianas e

dos dialetos Aruak do Xingu, segundo alguns antropólogos, como Dreyfus-Gamelon, citados

no: “Povos indígenas no Brasil” 198.

Muitos ainda vivem na reserva junto à fronteira com a Guiana Francesa199. Na

época do contato efetivo, por volta de 1650, sua população foi avaliada em 2.500 indivíduos.

Segundo o mapa Etnológico de Curt Nimuendajú, viviam no rio Calçoene, Caçipore e Uaçá

(1652-1760). No final do século XVII eram menos da metade, e no final do XVIII apenas

271 Palikur, contando com grupos hoje em dia extintos, como os “Mayés”, “Itutans”,

“Marawans” 200.

Desde a época em que são mencionados nos primeiros documentos do século

XVI, os Palikures ocupam a mesma área que corresponde ao litoral do Cabo do Norte, entre a

foz do Rio Amazonas e o Cabo Orange, na foz do rio Oiapoque. Por isso, esta região era

chamada de “Costa Paricuria” em mapas, conforme o relato de Vicente Yanez Pinzon

(1513)201. Viviam junto a outros povos habitantes como eles das várzeas, como os “Mayés” e

“Itutans”, no litoral e os “Marawans ou Maraons” mais no interior.

Em 1604 o explorador francês Jean (Guy) Moquet relatou uma grande guerra

envolvendo os Palikures e os Galibis, que dominavam o litoral norte das Guianas. Segundo

estudos de Grenand202, a guerra foi provocada pelos Galibis, que invadiram o território dos

Palikures para terem acesso aos povos Tupis do baixo Amazonas a fim de comercializar

198 Sobre as semelhanças entre os Aruak das Guianas e do Xingu ver Dreyfus-Gamelon. In: RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983. Também: STEWARD, Julian H (ed.). Handbook of South American Indians. Vol.3. The Tropical Forest Tribes. New York: Cooper Square Publishers, Inc. 1963. 199 GALOIS, Dominique & GRUPIONI, Denise Fajado. Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará: quem são, onde estão, quantos são, como vivem e o que pensam?- São Paulo: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena, núcleo de Historia Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo, 2003. Também o trabalho etnográfico de Eneida Assis. ASSIS, Eneida. As Questões Ambientais na Fronteira Oiapoque/Guiana Francesa: Os Galibi, Karipuna e Paliku. In: MAGALHÃES, Antonio Carlos (org.). Sociedades Indígenas e Transformações Ambientais. Belém: UFPA, Numa, 1993. 200 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983. 201 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.21. 202 GRENAND, P. La Côte d’Amapá, de la Bouche de l’Amazone à la Baie d’Oyapoque, à travers la tradicion orale Palikur. In : Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi. vol.3 (1), serie Antropologia, Belém, 1987.

118

“pedras verdes” (Spleend Stones) que usavam como ornamentos, além de terem outras

finalidades tanto comerciais (moedas), quanto xamânicas (tratamento de doenças). A guerra

terminou no final do século XVII com a expulsão da maioria dos Galibis pelos Palikures e

aliados (Maraons e Yaos). Em 1653 Antoine Biet contatou os Palikures (Palicours) instalados

na costa do Amapá. Durante esse período muitos franceses, ingleses e holandeses estiveram

disputando a região da Guiana, provocando ainda mais conflitos intertribais203.

Depois da guerra, os Palikures passaram a viver mais afastados, no interior-norte

do Amapá, entre os rios Cassiporé e Uaçá. Nesta época, os portugueses começaram a

conquista do cabo do Norte (1653), freqüentado por franceses, holandeses e ingleses com os

quais os Palikur mantinham comércio de peixe-boi e de periquitos204. No século XVIII, os

Palikur foram perseguidos pelos portugueses, o que ficou na memória tribal até os dias atuais.

Contudo, veremos mais adiante que a atuação portuguesa foi anterior a esse período em

virtude das guerras de expulsão dos outros europeus do território considerado seu por direito.

O modo de vida Palikur é baseado no sistema de clãs. Quando Curt Nimuendajú

visitou a região em 1926, constatou a existência de 7 clãs exogâmicos, alguns numerosos

(caso dos clãs dos Wakapuyene e dos Waipuruyene), outros com um ou dois representantes.

Constatou-se com os Palikures que 4 clãs haviam desaparecido totalmente.

Os clãs eram divididos em duas metades, onde cada uma dessas metades enterrava

seus mortos num cemitério exclusivo. Talvez isso indique que, num passado remoto, havia

apenas dois clãs.

As designações desses clãs eram, na sua língua, referências a nome de animais,

plantas ou fenômenos naturais acrescidos do sufixo YENE ou YUNE, que identifica “nação”,

“raça” ou “família”. Tais clãs são patrilineares e a liderança do grupo (chefia) cabia aos

homens mais velhos. O cargo não era hereditário, mas tendia a suceder vários chefes da

mesma família.

Ainda constroem suas aldeias em “tesos”, elevações de terra-firme cercadas de

campos alagados, numa região de várzea. São abertos canais para permitir o acesso de canoas

nestes campos. Durante a seca, são feitas pontes para o acesso ao rio. As casas são construídas

203 Lux Vidal afirma que de 1650 até o século XVIII, os Palikur e outros nativos entre os quais os Maraón, Arikaré, Aruã, Mayé, Tokoyen estiveram envolvidos nas disputas com os portugueses pelo controle do Amapá. VIDAL, Lux B. Mito, História e Cosmologia: as diferentes versões da guerra dos Palikur contra os Galibi entre os povos indígenas da Bacia do Uaçá, Oiapoque, Amapá. In: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v.44, n.1, 2001, p. 120. 204 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.12.

119

sobre estacas com assoalho de tábuas ou Paxiúba, sem paredes. Dormem em esteiras feitas de

junco chamadas siparapa, ou redes compradas.

A arma principal dos Palikures era o arco e flecha, usados com astúcia e

engenhosidade. Também nos relatos da guerra com os Galibis falam do uso de bordunas

(saurú), escudos de madeira e armaduras de entrecasca de árvores, para se proteger nas

batalhas. Dentro do universo da guerra ainda havia os cânticos, onde usavam flautas

decoradas de osso de veado205. Figura 13

Tipos de remos e bordunas saúru, das tribos da Guiana. In: Ethnographic Objects in: DAM-MIKKELSEN, Bente & LUNDBAEK, Torben. Ethnographic Objects in The Royal Danish Kunstkammmer 1650-1800, nationalmuseet: Copenhague, 1980.

205 Havia também uma flauta de barro usada para comunicação a longas distâncias tanto para com os amigos como para chamar para luta os inimigos conforme relatos orais de remanescentes desse grupo. VIDAL, Lux B. Mito, História e Cosmologia: as diferentes versões da guerra dos Palikur contra os Galibis entre os povos indígenas da Bacia do Uaçá, Oiapoque, Amapá. In: Revista de Antropologia. São Paulo, USP, v.44, n.1, 2001, p. 136.

120

Figura 14

Arcos e flechas provenientes das tribos da Guiana. In: DAM-MIKKELSEN, Bente & LUNDBAEK, Torben. Ethnographic Objects in The Royal Danish Kunstkammmer 1650-1800, nationalmuseet: Copenhague, 1980.

Outro importante grupo, vivente nas ilhas Marajoaras, eram os Aruãs. Segundo o

Mapa etnológico de Nimuendajú estes índios falavam a língua geral Aruak. Os contatos com

os brancos começaram no século XVII, no norte da ilha do Marajó; em 1698 foram avistados

no rio Vila Nova, Amapá; em 1729 na fronteira com a Guiana francesa; em 1816 no extremo

da ilha do Marajó206.

Viviam no litoral do estuário Amazônico, no arquipélago Marajoara (incluindo as

ilhas do Marajó, Mexiana e Caviana). A primeira menção ao nome Aruã foi feita por Obrien

Del Carpio, quando viajou pelo estuário do Amazonas em 1621 e os encontrou na ilha de

Caviana ou proximidades dela. Quatro anos depois Joannes de Laet fez um mapa incluindo a

ilha dos Aruãs, que segundo Nimuendajú, seria Curuá ou outra ilha próxima207.

Ainda segundo Nimuendajú, os Aruãs são mencionados pela primeira vez na ilha

do Marajó em 1643 quando atacaram e devoraram os sobreviventes de um naufrágio no litoral

da ilha. Neste episódio, morreu o Padre Luiz Figueira e mais outros missionários da

Companhia de Jesus208.

206 NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981. 207 Curt Nimuendajú refere-se a ilha com seus outros dois nomes colocados nas fontes: Sipinipoco ou Sapanopok. STEWARD, Julian H (ed.). Handbook of South American Indians. Vol.3. The Tropical Forest Tribes. New York: Cooper Square Publishers, Inc. 1963, p.195. 208 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias, in: coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940.

121

Segundo informações de missionários e viajantes, os Aruãs eram canibais, mas

isso não impedia que praticassem intenso comércio com os holandeses, ingleses e irlandeses

no Cabo do Norte. Com os conflitos entre portugueses e holandeses, irlandeses e ingleses,

passaram a ser combatidos pelos portugueses até a sua pacificação. Em parte resultante da

atuação de missionários, como o Jesuíta Antonio Vieira, e os da ordem de Santo Antonio

entre os anos de 1652 e 1659209.

Nas missões e vilas, perderam sua antiga organização social e desapareceram,

mesclando-se com outros grupos aldeados. Alguns, no entanto, foram seguindo a colonização

do estrangeiro, indo parar na fronteira com as Guianas e também mesclaram-se com os povos

dessa região, dando origem aos Galibis do Uaçá210.

Viviam da pesca e da caça de animais existentes nas ilhas. Tinham uma cerâmica

bastante elaborada que herdaram das antigas tradições dessas ilhas, usadas tanto para rituais

funerários em urnas e vasos deixados com o morto, quanto para uso diário no preparo e

guarda de alimentos211.

Outro povo citado nas fontes históricas são os Karipunas. No livro “Povos

indígenas no Brasil”, fala-se que os indígenas Karipunas não seriam próprios dessa região do

Amapá, pois não apareceriam nas fontes quinhentistas e seiscentistas, sendo sua primeira

referência Henry Coudreau, em 1893. No entanto, analisando as fontes inglesas percebemos

uma citação bem anterior a essa e na mesma área, feita por Sir Walter Ralegh em 1596:

“Não há dúvida que aqueles que comerciam no Amazonas retornam com mais ouro

o qual (como supracitado) é trazido pelo comércio da Guiana, por algum braço do

rio que desemboca da região para dentro do Amazonas, pelo rio que passa pelas

nações chamadas Tisnados, ou pelos Carepuna (...)” 212.

O nome Karipuna ou Karipon para Grenand e Nimuendajú seria um termo

utilizado pelos grupos Karibe para designar os inimigos. Para alguns pesquisadores, esse

grupo Karipuna não teria relação com os do rio Madeira, que são do grupo Pano. Seriam

209 Nimuendajú citando Vieira diz que a paz com os portugueses aconteceu “solenemente” no Rio Mapuá, Leste da ilha de Caviana em 1659, onde o chefe Piyé ou Peyhé aceitou não atacar mais os cristãos. Contudo os Aruã e demais tribos Marajoaras migraram para as Guianas. STEWARD, Julian H (ed.). Handbook of South American Indians. Vol.3. The Tropical Forest Tribes. New York: Cooper Square Publishers, Inc. 1963, p.196. 210 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.41-60. 211 Sobre as tradições ceramistas da ilha do Marajó. SCHAAN, Denise Pahl. A linguagem iconográfica na cerâmica Marajoara. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. 212 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 128-32.

122

migrantes de missões jesuítas. Chegaram ao rio Curupi falando o Nheengatu. Depois de três

gerações mudaram sua língua para o Patoá, falando-o até os dias atuais. Outra versão sobre os

Karipunas é descrita por Antônio Porro. Segundo esse autor, o nome provém de um chefe

indígena chamado Arripuna, misturado por um processo de etnônimo com carib ou caraib e o

termo “una”, que significa preto em tupi213.

Os Karipunas moram próximos aos Galibis e Palikur, na bacia do Uaçá

(Oiapoque). De sua história de contato temos apenas relatos imprecisos de suas origens,

algumas dizem que eles eram fugitivos remanescentes da revolução dos cabanos (1835-

1836)214.

Seu sistema social é um mistério devido às dúvidas sobre a sua origem e o

processo de aculturação já adiantado no século XIX. Sabe-se por meio dos grupos recentes

que após o casamento o homem vai morar na casa do sogro por um período de um a três anos.

Apesar da monogamia, existem homens vivendo com duas esposas e são considerados pelos

Galibis e Palikures como polígamos215.Os chefes são considerados o dono do lugar e exercem

essa chefia principalmente no comércio216.

Do grupo lingüístico Karib temos como representantes dentro desse período do

século XVII os Galibis. Para Curt Nimuendajú, os Karibes e os Galibis eram grupos

diferentes. Segundo o etnólogo, os Karibes tiveram os primeiros contatos em 1618 na região

de Calçoene e em meados de 1646 na costa do Amapá, próximos a Macapá e associados ao

nome Tucuju217.

Os Galibis tiveram os primeiros contatos em 1647 na fronteira com Caiena, no rio

Apponague, no século XVII na costa do Amapá, fronteira com Caiena e associados ao nome

Aricari e no século XVIII na região dos rios Uaçá e Caciporé218.

O nome Galibi aparece a partir do século XVII para designar a grande população

indígena que habitava o litoral das Guianas e que falava a língua Carib219.

213 PORRO, Antônio. As Crônicas do Rio Amazonas: notas etno-históricas sobre as antigas populações indígenas da Amazônia. Rio de Janeiro: Editora vozes, 1993, p.72. 214 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.66. 215 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.68-9. 216 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.63-8. 217 NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981. 218 NIMUENDAJÚ, Curt. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú. IBGE, Rio de Janeiro, 1981. 219 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983.

123

Atualmente, a língua Carib caiu em desuso pelos seus remanescentes e foi

substituída pelo Creoule, Patuá e o Português. Galibi foi uma designação dada pelos

colonizadores europeus ao conjunto de povos de fala Carib que habitavam todo o litoral da

Guiana francesa, do rio Iracoubo até o rio Orenoco, na Venezuela. Se autodeterminavam

“Kaliña” ou “Kaliñago” (hoje em dia se autodeterminam “telewuyu” que significa “os de puro

sangue”) 220.

Segundo informações do padre Antoine Biet, em 1650, os Galibis eram a mais

importante nação das Guianas. Construíam habitações a margem dos rios, com largas clareiras

em volta das casas, cujas aldeias detinham 40 famílias ou mais. Ao centro, havia uma grande

casa para reuniões dos homens. E em volta as casas que podiam ser fortificadas com estacas,

que davam duas voltas para impedir a entrada de flechas. Biet relata expedições de guerreiros

Galibis da ilha de Caiena até o território Palikur do Mayacaré no Amapá221. Durante os

séculos XVII e XVIII, lutaram violentamente contra os Palikures e contra os franceses, que se

instalaram em Caiena. Segundo outro relato de La Barre os Galibis imprimiram o terror aos

colonos franceses:

“Os Galibi eram outrora tão poderosos que imprimiram o terror e o medo nos

corações dos franceses que haviam se estabelecido em Caiena. De modo que muitos

destes primeiros colonos haviam se refugiado na Martinique (Martinica)...” 222.

Epidemias e o conflito reduziram drasticamente sua população até serem reunidos

em missões jesuítas, que duraram até a expulsão jesuíta da guiana em 1763. Daí em diante,

houve uma dispersão dos Galibis para outras regiões, incluindo o Suriname e Oiapoque223.

Ainda existem muitas hipóteses para o surgimento do grupo no lado brasileiro,

posto que sua antiguidade remonta ao lado da Guiana francesa. A hipótese mais aceita diz que

seriam descendentes de grupos que falavam o Carib, uma língua geral usada nas missões da

Guiana Francesa e que, após a extinção dessas missões, foram se instalando em vários pontos

220 GALOIS, Dominique; GRUPIONI, Denise Fajado. Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará: quem são, onde estão, quantos são, como vivem e o que pensam?- São Paulo: Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena, núcleo de Historia Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo, 2003. 221 BIET, Antoine. Op.cit, 1664, pp. 371-376. in: RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.92. 222 BARRE, Lefebre de La. Description de la France Équinoxiale. Paris, BN, 1666, p. 35. 223 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.92.

124

do litoral, na região do Oiapoque. Os Galibis do lado brasileiro são resultantes da ocupação e

miscigenação com outros povos224.

Os Galibis do Oiapoque são grupos do tronco lingüístico Carib que vivem no rio

Oiapoque, do lado brasileiro, e na Guiana Francesa. Algumas fontes falam da mistura dos

Galibis com outros povos que fugiram de missões jesuítas portuguesas da costa sul do

Amapá, tais como os Aruãs e os Maraonis225.

Outra variação do grupo são os Galibi-Marwornos. Também conhecidos como os

Galibis do Uaçá, diferenciados dos outros Galibis pela designação Marworno, uma variação

de Maraon ou Maruane, que fizeram uma miscigenação com os Galibis daquela região a partir

do século XVIII. Os Galibis do Oiapoque não identificam os Galibis do Uaçá como

pertencentes aos Galibis. Os Palikur e Karipunas também fazem essa distinção, mas chamam

os Galibis do Uaçá de “Maruane” ou “Maraunu” 226.

Os Galibis do Uaçá (Galibi-Marworno) teriam sido resultados da guerra entre os

Galibis e os Palikures. Na luta para desalojar os Palikures das montanhas, os Galibis travaram

a maior batalha cantada por eles no canto “Turaka”. Nesse canto, os Galibis relembram sua

vitória sobre os Palikures no monte Kayrumairá (Kyrumairá). Os Palikures conseguiram sair

vitoriosos dessa guerra, após o combate no monte Tipock, entre os rios Uaçá e Urucauá. Os

Galibis foram “levados” pelos seus inimigos Palikures até a região de Macorria, que fica

próxima de Caiena, porém uma parte ficou isolada e depois aceitou fazer as pazes com os

Palikures. Daí surgiram os Galibis do Uaçá, que depois se misturaram aos Maraons e Aruãs,

fugidos das missões do baixo Amazonas. A guerra entre os palikures e os Galibis é

relembrada ainda por muitas populações do Uaçá em músicas como o Turé227.

Sobre o armamento Galibi, há dados gerais resultantes de trabalhos em coleções

etnográficas de museus228. Separando-as conforme as categorias propostas anteriormente por

Berta Ribeiro, o antropólogo Carlos Eduardo Chaves as dividiu em armas de arremesso 224 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.92. 225 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p.92. 226 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, pp. 40-60. 227 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, pp.88-96. 228 Um excelente trabalho sobre as armas de guerra dos Carib foi feito por Carlos Eduardo Chaves na coleção etnográfica da reserva técnica do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ainda que seja dos Karib Tiriyó e Kaxuyana do Rio Trombetas este estudo é importante por não haver nada semelhante na região. CHAVES, Carlos Eduardo. Reminiscências das Guerras: estudo das armas das coleções etnográficas dos povos indígenas das Guianas. In: MOREIRA, Eliane (org); AROUCA, Carla; BARROS, Benedita; PINHEIRO, Antonio. Propriedade Intelectual e Patrimônio Cultural: proteção do conhecimento e das expressões culturais tradicionais. Belém: CESUPA/ MPEG, 2005, p.195-209.

125

complexo, contundente de choque e apetrecho de defesa. No caso das flechas identifica dois

tipos básicos “punkato” (feitas para quebrar com o choque, são lanceoladas ou lanceoladas

arqueadas) e “oipantakãn-iye” (tem farpas em pares paralelos e intercalados, também

identificadas como espeque farpado bilateralmente).

Os arcos “Warápa”, na classificação analisada por Carlos Eduardo Chaves, podem

ser de corte transversal, côncavo-convexos, plano-convexos e triangulares. Existem também

os arcos “Kaxuyana” classificados como côncavo-convexos e que estão associados aos mitos

de origem. Todos são feitos de pau d’arco, e no caso dos arcos “Kaxuyana” decorados com

pintura229.

Das armas contundentes de choque descritas na coleção há vários tipos de

bordunas, genericamente chamadas de “Xiwárapa”. Variam em classificação conforme sua

ponta. Tinha uma função secundaria de desviar flechas inimigas. Tinham as circulares lisas

como um bastão, os Xarúman xiwárapa diferentes dos primeiros por terem no cabo um urubu-

rei entalhado e ornamentado de franjas de algodão. Há ainda as bordunas chamadas

“Tupanaken”, classificadas como clava-côncavo-convexa ampulhetada e de madeira

pesada230.

Por fim, armaduras feitas de madeira dura para conter as flechas inimigas e que

atualmente somente estão presentes em coleções arqueológicas, pois não existem mais nos

grupos atuais remanescentes231.

Os Galibi também são especialistas em construção de canoas pequenas (montarias

e ubás). A madeira é extraída das cabeceiras do rio Uaçá e deve ser algo que também remonta

a sua ancestralidade.

Com base nesta lista e nos relatos etnológicos, aprofundei o estudo de cada um

desses grupos a fim de verificar os identificadores culturais deles e assim poder comparar com

os descritos nas fontes documentais quinhentistas e seiscentistas.

A Chegada dos primeiros europeus: 229 CHAVES, Carlos Eduardo. Reminiscências das Guerras: estudo das armas das coleções etnográficas dos povos indígenas das Guianas. In: MOREIRA, Eliane (org); AROUCA, Carla; BARROS, Benedita; PINHEIRO, Antonio. Propriedade Intelectual e Patrimônio Cultural: proteção do conhecimento e das expressões culturais tradicionais. Belém: CESUPA/ MPEG, 2005, pp.195-209. 230 As atuais são de madeiras leves e utilizadas em rituais, danças e festas. CHAVES, Carlos Eduardo. Reminiscências das Guerras: estudo das armas das coleções etnográficas dos povos indígenas das Guianas. In: MOREIRA, Eliane (org); AROUCA, Carla; BARROS, Benedita; PINHEIRO, Antonio. Propriedade Intelectual e Patrimônio Cultural: proteção do conhecimento e das expressões culturais tradicionais. Belém: CESUPA/ MPEG, 2005, pp., p.201. 231 CHAVES, Carlos Eduardo. Guerra entre os Carib: estudo de armas nas coleções etnográficas dos povos indígenas nas Guianas. Trabalho de conclusão de curso/ relatório de Pesquisa. Belém: UFPA/ MPEG, 2003.

126

Enquanto tais grupos Norte-Amazônicos viviam suas vidas conforme suas

tradições em fronteiras móveis e provocando lentas e poucas mudanças no mundo natural.

No outro lado do Atlântico as nações européias disputavam informações sobre esse novo

continente, mobilizando todos os meios para isso.

Uma pergunta que logo nos vem à cabeça ao pensar sobre as viagens dos

navegadores não ibéricos para a América, em especial para o atual norte amazônico: como

tiveram acesso às informações sobre as terras e as riquezas nelas ditas, logradouros, rios,

lagos e população? Certamente temos que lembrar que neste momento não eram somente

navegadores portugueses e espanhóis que iam e vinham da América. O próprio Colombo não

era espanhol e sim Genovês (Por sinal muito dos que conquistaram os mares nesses tempos

eram de cidades italianas).

Foram deles alguns dos primeiros mapas da América, que por um bom preço

podiam ser copiados e contrabandeados para outra nação, como hoje costumamos ver

“produtos pirateados” nas esquinas das grandes cidades.

Um desses mapas “pirateados” foi o chamado “Mapa de Cantino”, datado do ano

de 1502 pelos especialistas. Tem esse nome por que foi conseguido por Alberto Cantino,

espião italiano, subornando um cartógrafo das oficinas reais de Lisboa pela quantia de 12

ducados de ouro232.

232 Existem muitos pontos consideráveis do território presentes no “Mapa de Cantino”, incluindo a linha de Tordesilhas e o litoral norte e nordeste do Brasil com seus acidentes geográficos. Nele especificamente sobre o Amazonas nota-se a ilha de Maracá (Canal do Varador, Canal do Turlui e ilha Jipioca). Nesse mapa não aparece a entrada do amazonas, nem o arquipélago Marajoara, apenas uma reentrância com pequenas ilhas. Seguindo a costa há um golfo com pequenas ilhas que sugere ser a Baia de São Marcos e de São José (São Luiz do Maranhão). De São Luiz o mapa segue uma linha reta até a Ponta do Seixas, extremo Leste do território. Importante mencionar que a linha de Tordesilhas está deslocada e passa pelo Maranhão e não pelo Pará (ver: Mapa na figura 15).

127

Figura 15

Detalhe do Mapa de Cantino de 1502. Fax-símile do Ministério das Relações Exteriores - RJ. In: Mapas Históricos Brasileiros.

Piratear, em amplo sentido era também outra forma de se conseguir as

informações desejadas do litoral das terras americanas.

Os ingleses e franceses disputam o território da Guiana:

Assim acontecem as primeiras “viagens secretas” de ingleses. Estão entre elas às

feitas pelo navegador inglês Sebastian Cabot, que esteve na Guiana, passando pela região

norte do Brasil a serviço do rei Carlos V, em 1553. Nesse período, o maior interesse espanhol

estava em assegurar os domínios das regiões produtoras de ouro e prata do Peru, que eram

cobiçadas pela coroa da França. Esta nação não aceitava a divisão estabelecida para o novo

continente, conforme ele próprio relata:

“(...) quando o embaixador da França esteve aqui, ele e o duque de Notarbelan

(Nothumberlard) perguntaram-me muitas vezes sobre que tipo de país era o Peru,

quais tropas vossa majestade tinha lá e se elas eram tão ricas quanto diziam que era.

128

Eu disse a ele que existiam muitas tropas espanholas boas, muito bem equipadas,

com tudo que é necessário, com armas e cavalos e que era um país abundante em

minas de ouro e prata.

Eu relato ainda para vossa majestade que averigüei de todos os dois dias que eles

desejavam aumentar a expedição no rio das amazonas, e essa expedição era para ser

feita pela França, de onde vinham quatro mil soldados, ao lado dos marinheiros.

Pegaram eles com 12 barcos pequenos para construir um forte na foz do rio das

amazonas, subiam com os barcos pequenos e destruiam e matavam todos os

espanhóis, roubando o território. Considerando que eles poderiam muito facilmente,

usar o rio, capturar os espanhóis sem intenção de espalha-los por todo o Pais, eles

conseguiram alcançar com sucesso suas intenções maldosas, o que havia de ter

vossa majestade um bom prejuízo(...)”. 233

Os franceses, como vimos no capítulo anterior, foram os primeiros a tentar ocupar

o Maranhão (1612-1615), e áreas mais para o oeste, sem ficar mais de quatro anos, antes de

serem expulsos pelos portugueses e gentios. Contudo, permaneceram agindo no litoral,

comercializando com os indígenas em alianças intermitentes234.

Acerca do que ele diz da defesa dos novos territórios de Espanha “com muitas

tropas espanholas boas, muito bem equipadas”, parece mais um aviso. Com isso, eles

desejavam demover os franceses de tentarem invadir as possessões da Espanha. Dentre estas

possessões, o Peru, pela questão das minas de ouro e prata, era o ponto mais atrativo. O rio

das Amazonas, nesse sentido, era um possível caminho para essas minas. Daí o interesse em

garantir a sua posse235.

As viagens desses navegadores serviram de base para incursões mais profundas ao

litoral e logradouros da Guiana. Além disso, as disputas européias envolvendo a posse de

ilhas Caribenhas no final do século XVI aumentaram consideravelmente em decorrência de

vários fatores. Dentre eles podemos apontar o desempenho de novas potências marítimas

(Inglaterra, França e Holanda), a necessidade de entrepostos comerciais, e a descoberta de

metais preciosos236.

233 Extraído da Carta de Sebastian Cabot para Carlos V em 15 de novembro de 1553. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 127-28. 234 HURAULT, Jean-Marcel. Français et indiens en Guyane 1604-1972. Paris : Union Générale d’éditions, 1972. 235 MELO & LEITÃO (trad.). Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña: Descobrimentos do Rio das Amazonas. São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1941. 236 BOXER, Charles. O império marítimo português 1415-1825. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp.120-40.

129

O navegador inglês, Sir Walter Raleigh, trabalhando para a sua coroa, fez o que

seriam as primeiras cartas náuticas inglesas de que se tem notícia, do Litoral Norte da

América do Sul, incluindo o rio Oiapoque (Viapoco ou Viapoque), a Guiana e o Amazonas237.

Por volta de 1595, este corsário inglês comandou o ataque à cidade espanhola de

São José e tomou a ilha de Trinidad. Ele era tão temido pelos espanhóis quanto Sir Francis

Drake. Foi o responsável direto pela conquista inglesa de muitas ilhas, antes sob controle

Castelhano238.

Um ano depois do ataque a Trinidad, Raleigh rumou para a Guiana fazendo

também uma descrição de tudo o que viu e ouviu, incluindo algumas considerações sobre

os antigos habitantes e as possibilidades mercantis deste território:

“(...). Como todos esses rios se cruzam e se encontram, como a região se situa e é

limitada, a passagem de Cemenes, e de Berreo minha própria descoberta e a maneira

que entrei, com todo o resto da nação e rios, Vossa excelência deve receber numa

grande carta ou mapa, a qual ainda não terminei e a qual eu devo mais

humildemente implorar a Vossa Excelência para ocultar, e não permitir passar de

suas próprias mãos: pois tudo isso pode ser impedido por outras nações. Pelo que sei

é procurada pelos franceses.(...)”. 239

No relato de Raleigh, ele afirma que havia feito um mapa, enviado secretamente

ao rei, onde estaria contida a localização das entradas de Cemenes e Berreo. Estes rios seriam

outros caminhos para se chegar ao Rio Amazonas, via Guiana.

237 Segundo Max Justo Guedes a viagem de Raleigh ao Amazonas começou depois de assaltar Trinidad e aprisionar o governador em 1595. Comandando cem aventureiros subiram pelo rio Orenoco em cinco barcos guiados por um nativo. Objetivavam chegar ao Eldorado, mas devido a falta de provisões foram obrigados a retornar. No mesmo ano Raleigh encarregou Lawrence Keymis, seu imediato, para uma nova missão no rio. Este chegou no mês de março de 1596 e fez um reconhecimento do Orenoco e Oiapoque, onde tiveram a informação da existência de uma cidade chamada Manoa e minas de ouro próximas. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975, pp.589-91. 238 HILL, Christopher. Origens intelectuais da Revolução inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 1992, pp.208-224. 239 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 128-32.

130

Figura 16

Mapa da Guiana feito por Sir Walter Raleigh. In: GUEDES, Max Justo. História Naval Brasileira. Primeiro volume; Tomo II. Rio de Janeiro: serviço de documentação da Marinha, 1975.

Também continha informações das nações indígenas que por lá moravam. O

sigilo da missão e da existência do mapa se devia à presença de rivais franceses interessados

na área. Desse interesse francês já falamos no capiltulo anterior. Raleigh completa:

“(...) Já tinha o conhecimento quando deixei a Inglaterra, de que Villiers, o

almirante, estava se preparando para se estabelecer no Amazonas, rio que serviu de

rota para os franceses em várias viagens, retornando com muito ouro e outras

raridades. Eu falei com o capitão de um navio francês que veio daquele lugar. Seu

navio estava ancorado em Falmouth, no mesmo ano em que meus navios chegaram

primeiramente de Virginia. (...)” 240.

Muitos personagens citados por Raleigh, como o Almirante francês Villiers,241

teriam buscado se estabelecer no rio Amazonas. Na verdade, com base nas fontes inglesas e

240 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 129. 241 Foi governador de Rouen e depois indicado para o cargo de Almirante pelo rei Henrique IV, em fins de 1594. In: LORIMER, Joyce. English and Irish Settlement on the River Amazon: 1550-1646. Hakluyt Society: London, 1989, p.129.

131

em outras fontes bibliográficas, podemos afirmar que a chamada França Equinocial seria um

grande projeto abrangendo não somente o Maranhão, mas cobrindo toda a região Norte da

América do Sul, incluindo a Guiana e o Amazonas. Nesse período, a Guiana passa a deter a

atenção de muitos europeus interessados na possível riqueza escondida. Fala-se muito do

“Eldorado” 242.

O fato desses navegadores acharem metais preciosos em regiões aparentemente

próximas, como no Peru e América central, atiçava ainda mais outros exploradores a serviço

dos seus reis, além de eventuais piratas, para visitar a região: “Houve outro navio nesse ano

em Helford, que também veio daquele lugar e que esteve ancorado 14 meses no Amazonas,

ambos muito ricos”. 243

Do rio Amazonas à Guiana, pelo que podemos ver, havia um tráfego de navios

franceses e ingleses, sem o controle de autoridades e dos reinos que se diziam seus donos por

direito: Espanha e Portugal. Segundo a historiadora Patrícia Seed, a diferença cultural entre as

nações favorecia essa diferença de atitude frente ao novo mundo. Para os Ingleses, a posse

sem uso e exploração não fazia sentido, diferente do pensamento Espanhol e Português que

seguiam seus modelos mediante a perspectiva de “descobrir”, “achar”, “conquistar”, que, por

si só, lhes garantia a posse e o direito de subjugar pela força ou pelo convencimento os

habitantes do local244.

Riqueza. Desde essa época a Amazônia será sinônimo dessa palavra. Não somente

pela riqueza e variedade natural como nos dias de hoje, mas também pela abundância de

produtos comercializáveis. Todos os que viajavam até esse rio conseguiam extrair produtos de

grande aceitação no mundo europeu. Entretanto, as principais riquezas das quais muitos

desejavam, incluindo Raleigh, eram ouro e prata. Muitas teorias irão identificar a partir daí,

242 A busca pela terra do rei dourado foi responsável pela conquista e devastação de áreas densamente povoadas espanholas. Em 1528, os Welser de Augsburgo fundaram colônias em Maracaibo e Coro, na Venezuela, a procura de tal cidade de ouro, até serem expulsos pelos espanhóis. No México de Cortés, o vice-rei envia uma expedição ao sul dos Estados Unidos para procurar o Eldorado do Norte. Uma nova expedição em busca do El dorado levou o rei de Espanha a financiar a expedição que chegaria ao Mar do Sul, do outro lado do Panamá. Em 1539 foi a vez de Gonzalo Pizarro tentar alcançar o El dorado por via do rio Napo. As dificuldades e combates com os grupos hostis dessa área levou a uma desistência e divisão da tropa: uma voltou por terra comandada por Pizarro a outra comandada por Francisco Orellana se perdeu e chegou de barco ao Amazonas, na famosa viagem na qual encontrou a tribo composta somente por mulheres guerreiras, em 1542. In: BERNAND, Carmen. História do Novo Mundo: Da Descoberta à Conquista, uma Experiência Européia, 1492-1550. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997, pp.253, 261, 413, 446, 448, 543, 556. 243 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.129. 244 SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). São Paulo: Editora UNESP, 1999.

132

Amazonas como o local de origem do ouro encontrado nas mãos dos indígenas do Caribe e da

Guiana:

“(...) não há duvida de que o comércio de ouro daquele lugar passe por ramais de

rios até o rio Amazonas... Thevet escreve que as pessoas trajam Croissants de ouro,

desta forma os Guianianos mais comumente os fazem: Como de Dominica para o

Amazonas os quais são aproximadamente 250 léguas distantes um do outro, todos

os chefes dos índios em todas as partes usam aquelas lâminas de ouro da Guiana.

Não há dúvida que aqueles que comerciam no Amazonas retornam com mais ouro o

qual (como supracitado) é trazido pelo comércio da Guiana, por algum braço do rio

que desemboca da região para dentro do Amazonas, pelo rio que passa pelas nações

chamadas Tisnados, ou pelos Carepuna. (...) 245”.

Tais placas de ouro “em meia lua”, já haviam sido descritas por franceses

(D’Evreux e D’Abbeville) em capítulos anteriores. Agora aparecem em textos ingleses. Nas

ilustrações do período, podemos ver tais colares adornando indígenas nas gravuras de

Tupinambás do Brasil e outros indígenas sul-americanos246.

Citando o trabalho ilustrativo de André Trevet, o capitão inglês Raleigh conclui

que o ouro encontrado por franceses sai do Amazonas por pequenos braços de rios,

controlados pelas nações chamadas por ele de Tisnados ou Carepuna, indo até a Guiana, de

onde são comercializados. Chegam até Dominica (atual Republica Dominicana) via comércio

de longa distância. Ainda segundo essa explicação de Raleigh, os indígenas Amazônicos

trocavam esse ouro em forma de lâminas por “Pedras hijadas” (Spleenes Stones), muito

estimadas e usadas por caciques e suas mulheres. Neste caso, ele teria visto pessoalmente

muitos índios usando tais adereços na Guiana: “(...). Dessas vi várias em Guiana, e cada rei

ou Casique tinha uma, e suas esposas estimavam ser jóias importantes” 247.

245 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 129-30. 246 “Festa de Índios Brasileiros” In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966, figura 12, p.118. 247 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 129-30.

133

Figura 17

Tupinambás dançando e bebendo o Caxiri. Nota-se que no guerreiro dançando de cuia quebrada e vazia (acima), e no outro agachado com a cuia erguida próximo a boca (centro à direita), adornos em meia lua, como as lâminas descritas por Raleigh. Ver: Helmut Andra – Edgard de Cerqueira Falcão. “Americae Praeterita Eventa”. São Paulo: USP, 1965, figura 12, p.118.

Tudo era um mar de mistérios e boatos. Alguns propagados por marujos e

capitães, que procuravam contar bravatas ou até desviar a atenção dos rivais, espalhando

falsas localizações de minas de ouro.

Sabemos que, das Antilhas até a Guiana, alguns indígenas conheciam o ouro e

tinham adereços feitos com esse metal. Supostamente comercializavam com os povos Maias

da América Central, que realmente já trabalhavam com ouro.

134

Figura 18

Mapa de Levinos Hulsius de 1599 contendo o Lago Parime, a cidade de Manoa (centro do mapa cortado pela escala) e os Tisnados (junto ao rio Aricari), citados por Walter Raleigh como os possiveis locais de origem do ouro das tribos da guiana.

Mas não podemos simplificar o interesse desses homens apenas por conta da

riqueza. O fato de haver populações de culturas diversificadas na América, e que não

constavam nos relatos de povos conhecidos até então, também os instigava. De onde teriam

vindo? Seriam homens?

A origem desses povos de costumes e modos rústicos intrigava os viajantes, mitos

de terras lendárias também. Assim nasce o mito das guerreiras Amazonas.

“(...) era muito desejoso entender a verdade daquelas mulheres guerreiras, pois para

alguns é aceito para outros não: E ainda que eu me desviasse do meu propósito eu

irei registrar a verdade narrada sobre aquelas mulheres, e eu falei com um Cacique

ou Senhor daquele povo que me disse ter estado no rio, e além dele. As nações

dessas mulheres estão no lado sul do rio nas províncias de Topago, e seus chefes

estão nas ilhas situadas no lado sul da entrada, algumas 60 léguas dentro da boca do

mencionado rio. (...)” 248.

248 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 130.

135

Ainda que a viagem de Raleigh às Guianas fosse para encontrar uma passagem

para as minas de ouro, ele desviou-se do seu propósito apenas para verificar a veracidade do

mito das Amazonas. Ele não acreditava naquilo que outros exploradores contavam, mas

achava que na história deles havia um fundo de verdade249.

Estava disposto realmente em descobrir a verdade sobre as guerreiras Amazonas,

e é adentrando no mito delas que ele encontrou povos e costumes novos para os europeus.

Interrogando os grupos Caribes e Aruaks da Guiana e Amapá, teria supostamente encontrado

a localização das aldeias Amazonas, servindo para as incursões vindouras ao rio:

“(...) As nações dessas mulheres estão no lado sul do rio nas províncias de Topago, e

seus chefes estão nas ilhas situadas no lado sul da entrada, algumas 60 léguas dentro

da boca do mencionado rio (...)” 250.

Pensando na geografia atual, tal “Província de Topago” ficaria talvez entre as

atuais cidades de Prainha, Almerim e Porto de Moz. E a morada dos seus “chefes” seriam as

ilhas próximas à ilha grande de Gurupá. Especulando um pouco mais, poderiamos dizer que

talvez fosse a ilha dos Tupinambaranas, descrita anos mais tarde.

Mesmo não querendo acreditar nas histórias fantasiosas sobre as Amazonas,

Raleigh acaba cedendo aos mitos, relacionando-os às antigas histórias afro-asiáticas:

“(...). As lembranças daquelas mulheres são muito antigas, tanto na África como na

Ásia: Na África aquelas que tinham Medusa como Rainha: outros em Scithia perto

dos rios de Tanais e Thermadon: Nós descobrimos que Lampedo e Marthesia eram

Rainhas das Amazonas (rainhas amazonas): em muitas histórias foram tidas como

rainhas, e em muitas épocas e províncias: Mas eles, que não estavam tão longe da

Guiana, realmente seguiram com homens pelo menos uma vez por ano, e pelo

período de um mês, o qual eu concluo pelas suas relações ser em abril. (...)”. 251

Neste depoimento de Raleigh percebemos o quanto tais guerreiras Amazonas

estimulavam a mente dos exploradores. Mais do que simples curiosidade, eles acabavam

249 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 130. 250 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 130-31. 251 The discoverie of the large and bewtifull empire of guiana, by Sir Walter Ralegh 1596. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 131.

136

misturando a realidade da região com a mitologia grega e de outras áreas do mundo conhecido

(a rainha das amazonas na África era chamada Medusa!) 252.

Sir Walter Raleigh não conseguiu encontrar as faladas Amazonas, apesar de voltar

ao Orenoco mais uma vez em 1616. Contrariava a vontade do rei da Inglaterra, fato que

contribuiu para a sua morte dois anos depois253. Contudo, Raleigh deixou a possibilidade

delas existirem rio acima, contribuindo para perpetuar a lenda das guerreiras entre os

exploradores posteriores254.

Em uma gravura feita a partir do depoimento de Raleigh, temos um exemplo de

como esse mundo novo era maravilhoso e perigoso. Na gravura, uma sucuri ataca a

embarcação de Raleigh e leva seu “criado” africano quando tomava banho. Peixes e cobras

gigantes, além de animais exóticos são mostrados junto à imagem dos exploradores

estupefatos255. Nesse caso, podemos ver que o pintor já tinha um conhecimento prévio dos

animais como o macaco, araras e o veado (facilmente vistos nesses tempos nos mercados

europeus e coletados nas viagens a América); outros, porém, pareciam seres mitológicos

como a sucuri e o peixe gigante semelhante ao pirarucu.

252 As descrições de Carvajal, sobre a viagem que fez com Orellana, influenciaram muito os exploradores seguintes como Raleigh. Segundo Antônio Porro o mérito de Carvajal descrever a região antes da efetiva atuação de europeus na região foi ofuscado pelo estigma de ter “inventado” as amazonas americanas, prejudicando a sua credibilidade. PORRO, Antônio. As crônicas do rio Amazonas: notas etno-historicas sobre as antigas populações indígenas da Amazônia. Rio de Janeiro, Petrópolis: Editora Vozes, 1993, p. 40. 253 Sir Walter Raleigh teve durante algum tempo ajuda da Rainha Isabel I, mas com a chegada ao trono inglês de Jaime I a sua posição no Parlamento foi alvo de uma conspiração que o levou a condenação a morte em 17 de novembro de 1603. HILL, Chistopher. Origens intelectuais da revolução inglesa. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 227. 254 Nas viagens de John Ley em 1598 teria também avistado as guerreiras Amazonas. In: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 135-36. 255 “A Mais Bela Paisagem do Mundo” In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966, figura 96, p.202.

137

Figura 19

“A Mais Bela Paisagem do Mundo” In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966, figura 96, p.202.

A imagem deste novo mundo no imaginário europeu causou vastas conseqüências

que levavam certamente ao limite entre a fantasia e a realidade. Fantasia, quando gerava uma

falsa imagem do que realmente era a região. Realidade quando possibilitava questionamentos

e curiosidade por parte daqueles que podiam comprovar a veracidade delas.

Realmente todos os que adentraram neste momento o Amazonas acreditavam nos

relatos dos exploradores anteriores, por isso o rio acaba tendo o nome de suas fantasiosas

moradoras e o nome de seu descobridor ficará praticamente no anonimato256.

Os contatos ingleses com grupos ameríndios estendiam-se na área pertencente ao

que hoje é o rio Orenoco (chamado de Orinoco), na Venezuela indo até a região do Oiapoque

ou Viapoco. Os grupos viventes ali eram basicamente do tronco Karib e Aruak.

256 Em mapas antigos, como o de Joan Martines, datada de 1582, o rio denomina-se OREGLIANARIO, em homenagem a Francisco Orelhana, mas muitos acabam denominando o rio como “Reino das Amazonas”, “Rio das Amazonas”.

138

Figura 20

“Raleigh no Orenoco”. Neste desenho podemos ver os ingleses abismados com o tratamento dado aos mortos naquela região. Ao fundo um grande rio e as casas nas árvores sob a água ou em montes de terra, sendo acessíveis por canoas. In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966, figura 97, p.203.

A expedição de Raleigh do Orenoco ao Amazonas nos revela um pouco da cultura

desses povos. Alguns desses grupos viviam em casas suspensas e penduravam seus chefes

mortos com adereços de penas em abrigos construídos para esse propósito257. Muito

semelhante a essa descrição são as casas dos Palikur, construídas em palafitas nas várzeas,

sendo acessíveis no inverno apenas por barcos ou canoas.

Outro navegador chamado John Ley esteve no Amazonas a serviço do Conde de

Comberland em 1598. Seu relato claro e sem floreios mostra como era até então a

aproximação e contato entre ingleses e indígenas no Amazonas:

“(...) No dia primeiro de junho nós avistamos o Cabo mais a leste e estando na parte

ocidental nós encontramos o melhor do canal, duas pequenas ilhas. Nessa noite dia

dois de junho ancoramos e abaixo da parte mais oriental delas havia uma canoa com

índias pescando. Elas tiveram receio em vir para o lado do nosso navio: nessa ilha

não morava ninguém. Mas para o grande suprimento de peixe nós nomeamos a ilha

de ilha dos peixes; Os índios geralmente em grande número se reuniam lá para

pescar; fora dessa ilha o mar nos apresentou uma ilha muito pequena com um tufo

257 “Raleigh no Orenoco” In: ANDRÄ, Helmut & FALCÃO, Edgard de Cerqueira. AMERICAE PRAETERITA EVENTA, São Paulo, 1966, figura 97, p.203.

139

de árvores nela; estávamos no terceiro dia do mês de junho e ancoramos numa costa

onde construímos nosso Shallop (barco usado para navegação em águas rasas),

período em que os índios vieram em grande quantidade, 300 de uma vez. Com o

nosso Shallop terminado, partimos daquele lugar, para duas outras ilhas. Os índios

foram até nós atrás de contas e bagatelas, nos traziam alguns suprimentos e algumas

pedras (Spleenes Stones). (...)” 258 .

A navegação fluvial necessitava de barcos de casco raso, para não ficarem presos

nos inúmeros bancos de areia que se formam e ainda hoje são perigosos para a navegação

regional, por isso a construção de uma Chalupa (Shallop), barco pequeno e mais apropriado

para a viagem. Até então estavam na boca do Cabo do Norte, muito provavelmente as ilhas

mencionadas fossem a ilha do Bailinque e ilha do Curuá, no Canal do Gurijuba. Foram logo

recepcionados por um grupo grande de indígenas do grupo Aruak (Palikur ou Aruã), já

interessados na troca por “bagatelas e contas”. Tentavam trocar comida (suprimentos), que

sabiam ser de grande importância aos navegantes e pedras (Spleenes Stones), que para tais

grupos tinham valor comercial.

Esse depoimento permite avaliarmos o quanto esses grupos eram comerciantes e o

desconhecimento momentâneo dos europeus as mercadorias que trocavam. Para os ingleses

eram bagatelas e contas, para os indígenas eram mercadorias de grande aceitação no mundo

deles, em trocas intra e intertribais. Ao usarem das mesmas formas de trocas usadas no seu

mundo, podemos então supor que tais pedras (Spleenes Stones) tinam um valor intrínseco,

como “moedas naturais”, àquelas sociedades do cabo do Norte até a Guiana, como indica

Raleigh anteriormente, embora a sua aceitação e profusão seja impossível de calcular nos

tempos atuais.

Continuando a viagem ao interior do Amazonas o Capitão John Ley aproximou-se

das aldeias costeiras e descreveu o modo de vida delas:

“(...) Desse lugar tendo um bom canal subimos o rio Amazonas; os índios

construíram casas de aproximadamente duas braças do chão; fazem pão com um

tipo de fruta; eu fui lá com meu Shallop, mas os índios não nos esperaram, por isso

meus homens estavam desencorajados, especialmente por que nossos suprimentos já

258 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 132.

140

estavam escassos; uma estranha selva de ilhas abria em toda parte; por esta razão

rapidamente voltamos para nosso navio e partimos,(...)” 259.

As casas construídas altas do chão são típicas dos Palikur e Aruãs, povos de

língua Aruak, conforme vimos anteriormente. Pelo que relata não foram trocados suprimentos

suficientes o que preocupava a tripulação do barco. Por outro lado, o temor da mata fechada

em um labirinto de ilhas, forçou o grupo de ingleses a retornar e aportar numa das ilhas,

certamente com a indicação de como sair do rio por meio de alguma carta náutica ou esboço.

“(...) fomos para as duas ilhas e ficamos até o terceiro dia do mês de julho, e durante

esse período, eu fui a muitos lugares onde os índios moravam para nos abastecer de

mantimentos frescos (em algumas dessas moradias havia quinhentas pessoas

morando); enquanto eu estava afastado de meus homens em meu pequeno barco, fui

até uma grande casa perto daquelas, os habitantes vinham em marcha, três em três, e

um líder a frente deles com um grande mastro em sua mão, os demais com seus

arcos e flechas prontos para atirarem, procuramos evitar toda suspeita de desgraça,

pois quando os índios vêm munidos de suas armas não podemos confiar neles (...)” 260.

A troca amistosa de mantimentos caminhava junto ao estranhamento e a

desconfiança de ambas as partes. Por isso os ingleses preferiram ficar num local afastado e

somente entrar em contato quando necessitavam. Estipulou-se logo uma aliança intermitente,

caracterizada pela distância ou pouco envolvimento das partes nos seus assuntos e modo de

vida. Ou seja, as trocas de objetos marcavam a relação entre europeus e indígenas do local:

“(...). Uma noite vi uma nuvem negra trazendo uma terrível tempestade e de repente

meu índio disse “índio travesso traz tempo travesso”, e fez sinais de como se cortava

a garganta de um homem e pronunciou certas palavras como he he, chy, chy. Desse

lugar voltamos para a Ilha dos Peixes e no dia seguinte partimos para cruzar o rio,

que nós devemos retomar a direção poente (...)” 261.

259 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 133. 260 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 133. 261 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 134.

141

A frase dita pelo índio pode ter muitos significados por nós ignorados. O

indígena, provavelmente um intérprete ou língua, poderia estar se referindo aos seus deuses,

ou a um mito. Entretanto para o capitão John Ley (e talvez para a maioria de nós que estivesse

no lugar dele), significou o sinal para ir embora, pois já não era mais seguro ficar junto da

tribo. Tanto que no dia seguinte voltou para a ilha dos peixes (nome dado à ilha Bailinque ou

a ilha Curuá). Depois de um ano rumou de volta para a Inglaterra.

Antes de terminar seu depoimento, ainda descreveu outros povos das margens do

Amazonas:

“(...). Taparawacur: é o povo perto da parte mais oriental do rio Amazonas, eles têm

grande quantidade de pedras verdes, as quais chamamos de spleene Stones (jades ou

pedra nefrítica). Seus lábios inferiores pendem para baixo, tão baixo como seus

queixos, eles bebem sangue e criam seus filhos dessa maneira desde o

nascimento(...)” 262.

Como Joyce Lorimer indica nas suas notas, o uso de pedras verdes, os lábios

compridos devido ao uso de ornamentos e a referência ao canibalismo no “beber sangue”,

indica que tais grupos sejam pertencentes ao tronco lingüístico Tupi, como os Tupinambás.

Menos preciso, mas relevante é dizer que “vivem na parte mais oriental do rio Amazonas”,

onde se localizavam grupos Tupis interioranos, como podemos ver no mapa de Nimuendajú.

“[f.20v]Os Arowa (Aruá) habitam em ambos os lados do rio Amazonas, em uma

ilha maior e em duas menores; eles são todos vermelhos têm moradias muito

grandes; eles fazem uma bebida tirando um caldo de uma certa madeira, e também

fazem um pão da mesma.

[f.20v] Uma descrição de muitos rios e povos que habitam acima deles...

[f.21v] Próximo deles estão os Arowa, eles habitam em ambos os lados do rio

Amazonas nas ilhas de Crowacurri, Warracayew, e Attowa, eles também moram em

um rio chamado Wayapowpa, o qual cai dentro do Amazonas; eles pintam seus

corpos e rostos de vermelho; eles fazem pão de uma grande árvore chamada Anarola

e bebem o suco da mesma, o qual eles moem, e fervem, e comem pouca mandioca,

eles realmente não comem homens, e têm baixa estatura.(...)” 263

262 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 135. 263 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 136.

142

Outro grupo mencionado é o Arowa, mais conhecidos por nós como Aruã, do

tronco lingüístico Aruak. São descritos como vermelhos, ou pintados de vermelho. Faziam

pão de uma árvore chamada Anarola, comiam mandioca e, segundo o Capitão John Ley, não

seriam canibais. O canibalismo, entretanto, não se encaixa no perfil dado por algumas fontes

posteriores que identificam os Aruã como canibais, contudo, vale ressaltar que estamos num

outro período e o canibalismo pode ter sido resultado de fusões com outras tribos inclusive

com os Tupis.

Tais Aruã viviam em grandes aldeias nos dois lados do rio Amazonas, nas três

ilhas, chamadas na língua deles de Crowacurri, Warracayew, e Attowa (provavelmente

Mexiana, Caviana e Marajó), além do rio Wayapowpa.

No relato de outros viajantes ingleses a serviço do Duque de Tuscany (Toscana,

província da Itália) temos outra impressão da região e dos seus habitantes. Esses

acompanharam o capitão chamado Thorton, servindo em seu barco em janeiro de 1597,

quando ficaram prisioneiros do Duque italiano. Tiveram que participar de uma expedição ao

Amazonas à procura das riquezas daquela região em troca de dinheiro e de sua liberdade.

“(...) Nesse momento tudo estava sendo preparado para nossa viagem, aproveitando

para servir num bom navio chamado Santa Lucia, bem tripulado, em direção ao rio

Amazonas, com muitos outros rios, os quais o Duque os conhecera, esperando pelas

riquezas do ouro, mas o país não dispunha de tal coisa. Nessa viagem nós estávamos

quatorze meses fazendo pouco ganho em beneficio do Duque. Não havia nada para

ser ganho (...)” 264.

No relato de Willian Davies, a viagem não rendeu nada para o Duque da Toscana,

pois o ouro tão falado não fora encontrado. Podemos dizer, no entanto, que a maior riqueza

dessa viagem está no depoimento das coisas que viram e vivenciaram, num novo mundo

cheio de surpresas e de povos desconhecidos para a maioria dos europeus.

“(...) A maneira a natureza das pessoas são: todos são nus, tanto homens quanto as

mulheres, tendo uma peça de madeira para cobrir qualquer parte de sua nudez, os

homens têm uma cana em formato cilíndrico, e duas polegadas de comprimento,

através do qual ele puxa o prepúcio, amarrando a pele com um pedaço de casca de

uma árvore. Em cada orelha ele usa uma cana, a qual é perfurada na orelha,

aproximadamente do tamanho de uma pena de cisne, e de comprimento metade de

264 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 141.

143

uma polegada, e igual no meio do lábio inferior: também na parte superior do nariz

ele pendura em uma cana uma pequena conta ou algo parecido com um botão de

vidro, o que se pende diretamente na frente de sua boca que se mexe continuamente

quando ele fala. Ele usa seu cabelo longo, sendo arredondado abaixo para a parte

inferior de suas orelhas, cortados curtos, ou mais propriamente. Suas mulheres não

usam nenhum costume apesar de se apresentarem, mas completamente nuas como

quando nascidas, com seus cabelos muito longos, seus seios muito caídos, pela

razão de nunca terem usados nada sob eles: eles usam em seus corpos tanto os

homens quanto as mulheres um tipo de terra vermelha (urucum), por causa dos

mosquitos não os incomodarem (...)” 265.

Este depoimento revela que estiveram junto a grupos Tupis ou Carib. Pela

descrição dos homens com as orelhas e lábios inferiores furados com adereços em madeira, a

forma de amarrar o prepúcio e os cabelos longos, nos assemelham aos Tupinambás do

Maranhão descritos por Evreux e Abbeville. As contas penduradas sobre o lábio superior, no

entanto fogem aos traços dos mesmos, embora saibamos que havia outros grupos Tupis

espalhados pela região, principalmente no interior. Pena este autor não ter dado nenhuma

pista do local onde estariam tais grupos, pois contribuiria para uma eventual identificação dos

mesmos.

Continuando sua descrição ele fala das armas e acessórios dos indígenas:

“(...) Esse povo é muito engenhoso, astucioso, traiçoeiro, o qual igual nunca tinha

visto, para eles é comum caçar sua própria comida, como animais, aves e peixes,

onde usam seus arcos e flechas para isso. O arco tem aproximadamente duas jardas

de comprimento, a flecha tem sete pés. O arco é feito de pau-brasil, sua corda de um

tipo de casca de uma árvore, situando-se no término do arco, sem nenhuma curva,

sua flecha feita de bambu, e em uma das pontas eles colocam um osso de peixe, eles

matam os animais dessa maneira: parados atrás de uma árvore, ele pega sua pontaria

a uma das bestas, atira uma flecha lesiva, e segue o animal com muito cuidado,

nunca o perde de vista; como anteriormente ele fica às margens do rio, e quando ele

avista um peixe na água, ele logo o atira com uma das flechas, deixando cair seu

arco ele entra na água, nadando até sua flecha a qual ele a traz para a terra com o

peixe fixado nela, tendo caçado sua própria comida, tais como carnes, aves, peixes,

eles comem juntos, em um número de cinqüenta ou sessenta deles, eles fazem um

fogo dessa maneira: eles pegam dois gravetos de pau, esfregando um contra o outro,

até o momento em que eles começam a queimar, então fazem um grande fogo para

265 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 143.

144

preparar a caça, e assim eles comem sem sal ou pão, ou nenhum tipo de bebida que

não seja água e tabaco, tampouco eles saibam o que seja (...)” 266.

Sua descrição é muito generalizante nesses aspectos, pois vários grupos usavam

arcos de pau-brasil como ele indica, bem como a flecha com ponta de osso de peixe. Mas

como indica Florestan Fernandes, os grupos Tupinambá litorâneos, usavam flechas com dente

de tubarão ou rabo de arraia. Aparentemente estes grupos eram diferentes daqueles relatados

por Walter Raleigh e John Ley, do tronco lingüístico Aruak, e tinham pouca coisa para

oferecer em troca:

“(...) Nessas terras não encontramos ouro nem se quer prata, mas grande quantidade

de Hennes (ele se refere aos pássaros domesticados nas tribos tanto para uso com

animal de estimação com para alimento). Eu comprei um casal por uma harpa judia

quando eles recusavam dez Shillings em dinheiro. Essa terra é cheia de deliciosas

frutas, como abacaxi, Plantins, goiabas e raiz de batatas, frutas e raízes que eu

deveria ter trocado por contas de vidro, ou miçangas (...)” 267.

A decepção em não encontrar ouro ou prata frustra os marinheiros, contudo, logo

perceberam outros produtos que compensariam os investimentos da viagem. Os pássaros

coloridos como papagaios, araras e tucanos logo caíram no gosto da aristocracia e nobreza

européia. Aqui vemos a inversão do que aconteceu na viagem de John Ley, agora foi o inglês

que tentou comprar o casal de pássaros por dez Shillings, naquela viagem foi o indígena que

tentou comprar com pedras (spleene Stones). No final, a harpa judia e sua estranha melodia,

acabara servindo para troca.

“(...) A maneira de seus alojamentos é dessa forma: eles têm um tipo de rede feita de

uma casca de árvore a qual eles chamam de Haemac, tendo três jardas de

comprimento e duas de largura unidas em ambas as pontas no comprimento, então

amarram cada ponta em uma árvore aproximadamente uma jarda e meia do solo, e

quando eles querem dormir eles se deitam nelas. O soberano de cada ilha é

conhecido dessa maneira: ele usa sob sua cabeça uma espécie de coroa de penas de

muitas cores que cai até metade de suas costas, ou sob seu pescoço, um cordão de

dentes ou unhas de leão, ou de outros estranhos animais, tendo um tipo de espada de

madeira em sua mão, e por meio disso é conhecido como soberano. Muitas vezes 266 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 144. 267 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 134-45.

145

um soberano luta com outro em suas canowes (canoas) que são botes cortados de

uma árvore inteira, e as vezes o vencedor come o prisioneiro. Até agora dez

semanas já se passaram, e estando em direção a casa, mas não pelo mesmo caminho

que viemos, para nós velejarmos dentro do rio diante do vento, pois ele sopra

continuamente em um único caminho, o que faz com que os navios peguem um

caminho errado(...)” 268.

Este trecho final do depoimento de Willian Davies sobre a viagem do Capitão

Thorton nos faz pensar em tribos Carib, pois Haemac assemelha-se a esteira chamada

Amak269 pelos atuais Galibis, como vimos anteriormente, contudo uma forma denomina rede

e outra significa esteira. No depoimento seguinte de Robert Dudley, outro membro da

expedição do Capitão Thorton, para o Duque italiano fica mais claro que são realmente Carib:

“(...) O capitão foi e voltou muito prospero, e ainda que nunca estivesse estado

nessas partes antes, não nas Índias ocidentais, mesmo assim, por meios de mapas e

instruções feias pelas mãos do próprio autor, ele pela graça de Deus, completou a

viagem sem nenhuma perda, exceto por um homem que morreu por uma

enfermidade; e ele inspecionou a costa da Guiana mais precisamente que ele já

tenha feito antes; e também descobriu o bom porto de Chiana (Cayenne), porto

seguro da família real, não sendo conhecido pelos cristãos; de onde ele trouxe cinco

ou seis índios para presentear sua alteza real em Florença; os quais eram Caraíbas,

que comem carne de gente estes morreram posteriormente em Florença, a maioria

deles de varíola, que para eles era mais violenta que a peste em si, pois em suas

terras eles não tinha, o conhecimento de tal doença. Apenas um deles sobreviveu

que posteriormente serviu sua excelência o cardeal de Médici, na corte por muitos

anos, e aprendeu a falar italiano muito bem(...)” 270.

Citando um mapa ou instruções previas com as quais o capitão Thorton chegou a

Guiana e ao Amazonas o nosso depoente diferente do anterior cita o porto de Caiena e os

Caribs(Caraíbas), que segundo ele seriam antropófagos. Na viagem de retorno levou cinco ou

seis destes Caraíbas, tendo sobrevivido apenas um a peste de varíola. Nesse aspecto imagino

que o envio de indígenas poderia significar um estudo mais aprofundado da língua e costumes

desses para uma eventual permanência na região. E o próprio indígena que sobreviveu às

268 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 145. 269 RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983, p. 1-95. 270 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 146-48.

146

epidemias e viveu por muitos anos na corte dos Médici deve ter dado preciosas informações

sobre a sua antiga vida.

“(...) Esses índios de Cayenne sempre conversavam sobre a fertilidade e as riquezas

do reino da Guiana, e como ele esteve na famosa cidade de Manoa, a metrópole do

reino onde o soberano reside, o qual é chamado de imperador, pois ele tem muitos

reinos sob seu domínio, e essa cidade é rica em ouro e está situada perto de um

grande lago, que fica a oito dias de viagem do porto de Caiena; os índios fazem a

viagem muitos rápidos à pé, cobrindo cinqüenta milhas por dia. Os índios disseram,

além disso, que perto de Caiena (o qual é uma terra montanhosa), que há uma rica

mina de prata a qual eles chamam de Perota, há também alguma matéria prima de

ouro, chamada por eles de Calcari, do qual eles fazem algumas imagens e meias

luas, para ornamentos (...)” 271.

As informações dadas por esses Caribs instigaram a procura da cidade de Manoa,

rica em ouro e que ficaria próxima a um grande lago (talvez os indígenas se referissem ao

lago Pirajatuba no Amapá). Se existia tal cidade cheia de riquezas e ouro como diziam os

europeus acrescentando mitologia greco-latina, isso me parece pouco provável, o certo é que

ela vai estar presente em inúmeros mapas antigos da América do sul, sendo citada também

por muitos viajantes.

Uma certeza é a grande contribuição que os mitos indígenas tiveram para a

viagem de cada vez mais exploradores. Como vimos anteriormente com os Tupinambás,

havia um local chamado “a terra sem males” pelo qual buscavam encontrar, seja pelo

caminho espiritual conseguido numa morte honrada, pelas mãos do inimigo, ou por terra em

migrações.

Contudo, sabemos que Manoa aparece mais na parte mais setentrional do Brasil,

domínio de grupos Carib e Aruak. Um estudo aprofundado dos mitos desses grupos poderia

identificar uma possível associação com a Manoa tão procurada.

Ainda que tal cidade não existisse havia as minas de onde extraiam o ouro para as

imagens e colares em meia lua que tais grupos usavam. A hipótese mais aceita é a troca com

grupos andinos, conhecedores da ourivesaria e que percorriam grandes distâncias até chegar

ao Orenoco e Guiana.

Na área do rio amazonas, apesar desses viajantes informarem ser uma possível

origem desse ouro, não existe comprovação arqueológica do fato, nunca acharam sequer um 271 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 147.

147

colar de ouro ou artefato que comprovasse essa teoria. A principal riqueza dessa região estava

bem mais visível para os ambiciosos comerciantes europeus:

“(...) O acima mencionado capitão Thornton confirmou, que as aranhas daquela terra

fazem fio de seda, e que há muita madeira tintória (legno verzino) a ser encontrada,

a cana de açúcar, uma pimenta branca, legno pardo, Pitta, bálsamo, algodão, e

muitos outros tipos de mercadorias para um abundante comercio implantado pelos

cristãos. Ele disse que o clima era muito saudável, e a entrada para o abrigo era fácil

para fortalecer e comandar o porto; e com outras particularidades sobre a região já

ilustradas pelo autor em 1637, para qual brevidade nos referimos ao leitor (...)” 272.

Embora o ouro e Manoa não tivessem sido localizados tudo que fosse

comercializado era observado, desde aranhas que fazem seda, madeiras tintórias, cana de

açúcar, pimenta, bálsamo, algodão, etc. Por fim fala-se em fortalecer e comandar o porto, que

significaria uma colonização italiana na Guiana e Amazônia. Aparentemente o fraco

desempenho dessa expedição e a atuação das outras nações, como os ingleses, acabaram

resultando no fracasso dessa colonização.

As explorações seguintes de Charles Leigh, já em 1604 foram mais adentro do rio

das Amazonas, que na época constituía o Canal do Norte incluindo também os atuais: Canal

do Gurijuba, Canal de Santa Rosa, Canal perigoso e do Sul, além da Baía de Marajó. Sua

missão, no entanto já não era buscar localizar as Amazonas, mas entrar em contato com os

gentios e descobrir as riquezas que a terra poderia oferecer.

Em outra expedição inglesa agora feita por Sir Thomas Roe em 1610, também

não encontrou-se ouro mas fez-se uma colônia com alguns dos homens da expedição:

“(...) passando treze meses nessa descoberta, isto é do rio Amazonas para o rio

Onoroque, no fim de que não encontrando as Índias Ocidentais cheias de ouro,

como tinha intenção; ele voltou por Trenydado, e ilhas ocidentais, e (...) manteve

vinte homens no rio Amazonas para o benefício dessas terras, que ainda estão

supridos lá” 273.

Deste documento em diante parece confirmar uma intenção maior dos

comerciantes e interessados nas Índias Ocidentais de fazer uma colonização da Guiana a foz 272 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 147-48. 273 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 152-53

148

do Amazonas. Em 1611, o mesmo Sir Thomas Roe numa carta para o Conde de Salisbury,

que era o então alto tesoureiro da coroa inglesa, faz um relatório das atividades na região:

“(...). Eu já passei pelo Wild Coast (nome que os holandeses davam ao litoral do

Amazonas e do Orinoco, no começo do séc. XVII) e cheguei ao Porto d´Espanha na

ilha de Trinidad, onde estão quinze navios fretados de tabaco, ingleses, franceses e

holandeses, se o senhor me der permissão para relatar as poucas novidades e minha

opinião, eu posso me arriscar, os espanhóis aqui estão igualmente arrogantes,

insolentes, necessitados, e enfraquecidos, sua força é reputação (...)” 274

O porto da ilha de Trinidad, de onde ele escreveu, aparece como um entreposto

comercial espanhol que abriga navios de várias nacionalidades inclusive de holandeses, nação

insurgente dos Habsburgos e de quebra da Espanha de Felipe II, nesse tempo em trégua.

Desejoso de investir nas possessões da coroa espanhola, Roe atua como um

verdadeiro espião, contando a fragilidade do inimigo e as possíveis riquezas escondidas:

“(...) há nessas partes um espanhol afastado, para bem tratar que alguns ingleses

caiam em seu poder; seu nome é Don Juan de Gambo: ele com diversos espanhóis,

seus companheiros, fugiram (...) eu soube pelos índios onde ele está, e enviei meu

shallop (chalupa; navio à vela) para busca-lo, se eu falar com ele: eu sei se eu

mesmo puder consulta-lo, o que eu vou arriscar, ele pode oferecer bons serviços

para o senhor (lordship; tratamento usado para falar a um lorde) ele é um grande

soldado dessas partes, e sabe todos os segredos, passagens, pontos fracos e

favoráveis dessa terra, e todo o jeito do fundo da baia: e eu tenho certeza que ele

sabe de minas que não foram descobertas pelos oficiais dos reis, e que para ele e sua

tripulação não são capazes de conquistar” 275.

O interesse inglês pelas riquezas do Orenoco, Guiana e Amazonas parece ter

aumentado no ano de 1610. Pode ter sido resultado das explorações do capitão irlandês

chamado Felipe Porcel (Phillip Purcell), que entre 1608-09 fez sua primeira viagem de

Dartmouth, na Inglaterra, até San Tome de Guiana, no Orenoco junto com outros ingleses.

Mas a efetiva participação inglesa no Cabo do Norte acontece dez anos mais tarde, com a

chegada a Amazônia de Roger North.

274 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 153-55 275 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 155.

149

No entanto antes de 1612 muitas expedições navegaram na foz amazônica, sem

falar daquelas que cruzavam o Orenoco com mercadorias e produtos extraídos junto aos

Caribs. Segundo o relato de um capitão chamado Robert Harcourt, essa região entre o

Orenoco e o Amazonas por não estar dominado e habitado por príncipes e estado cristão,

fazia os indígenas parecerem mais satisfeitos. Talvez a religião tivesse um peso muito grande

nas relações entre indígenas e brancos.

Os protestantes holandeses e ingleses tinham uma relação próspera

comercialmente, pois a aliança que faziam com os chefes era intermitente, trocavam as contas

de colares e “bugigangas” por madeiras de todo tipo, ervas, frutas exóticas e depois partiam.

Alguns criaram vínculos mais próximos, pois fizeram largas plantações de tabaco. Contudo,

não havia proximidade suficiente, tal como acontecia nos contatos dos portugueses e

espanhóis ou até mesmo dos franceses, não que isso fosse uma coisa boa para ambos. A

segregação era o ponto chave, não a união. Todos tinham seu espaço delimitado: os indígenas

a floresta, os europeus as propriedades, controle da produção e os navios.

Uma expedição do irmão Harcourt chamado Michael, junto com o capitão Harvey

descobriu o rio Arrawary (Araguari). Na sua perigosa jornada relatada ele nos indica como

era difícil o contato e aproximação com as tribos do interior, muitas desconhecidas até hoje.

“(...) O número de seus criados fora eles mesmos era de, apenas um homem e um

garoto: Seus grupos de índios eram de 60 pessoas. Sua viagem pelo mar até o rio

Arraway era perto de cem léguas: onde (a propósito) eles encontraram terríveis

ondas arrebatadoras, e tiveram muitos problemas com bancos de areia;

especialmente, no grande cabo ao norte de Arraway, (sic) o qual em respeito ao

perigo que lá eles passaram, eles o nomeou [p.43] Point Perilous (Ponto Perigoso),

sua descoberta do rio foi de cinqüenta léguas mais: onde eles encontraram uma

nação de índios, a qual nunca tivera visto homem branco, ou cristão antes, e que não

podiam ter relações comerciais com nenhum comércio familiar, ou até mesmo

nenhuma relação, nem mesmo com nossos índios, pois eles eram estranhos para

eles, e nem com outra nação. A descoberta desse rio é de grande importância, e de

caráter especial, proporcionando uma entrada mais interessante para a pesquisa e

descobrimento do interior da Guiana, e algum outro rio localizado na costa;

direcionando para parte ocidental na direção da região; descobriríamos todas as

nações ao sul de Arricay, Cooshebery, Morrownia, e Norrack, o qual já havia

mencionado (...)” 276.

276 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 161-62.

150

Uma nação de índios que nunca vira homem branco – qual seria tal nação? Eram

de qual tronco lingüístico? Carib ou Aruak? Se fossem de um desses troncos lingüísticos,

certamente teriam logo entrado em contato com os seus pares lingüísticos. Aparentemente

falavam outra língua e não gostavam de estrangeiros. Talvez pertencessem as antigas

tradições arqueológicas ceramistas como a chamada Mazagão ou até Maracá277.

“(...). Quando os índios perceberam que sua comida estava perto de ser consumida,

e que sua bebida estava para se estragar, eles não podiam pensar em continuar,

tendo nenhuma maneira de suprir suas necessidades entre os Arrawaries, os índios

daquele rio, os quais não podiam comerciar livremente naquele primeiro contato,

mas sempre levantavam guarda no outro lado do rio onde eles habitavam: com o

desejo de obter as nossas mercadorias inglesas, fizeram uma tentativa com os nossos

índios, proporcionaram um pequeno intercambio para suas [p.44] para suas

necessidades mais urgentes durante sua estadia naquele rio: então forçadamente eles

foram obrigados a abandonar sua descoberta, rapidamente irem para sua pátria. (...)” 278.

Chamam tais índios desconhecidos de “Arrawaries”. Tais indígenas arredios

mantinham distância da expedição, mas eram atraídos pelos produtos ingleses. Apesar das

dificuldades do primeiro contato, os “nossos índios” conseguem fazer uma pequena troca

onde conseguem os suprimentos para retornar. Esse termo “seus índios” ou “nossos índios”

permite concluir que tais elementos realmente tinham algum tipo de aliança com os capitães

ingleses, contudo não deixavam de ser índios para eles.

No geral percebemos que essas fontes pouco ou nada falam de relacionamentos

mais próximos com os grupos indígenas. Diferentemente dos franceses no Maranhão eles não

trouxeram religiosos para pregar a nova fé aos pagãos, e tão pouco estavam interessados neste

momento em saber algo mais daquelas culturas, no máximo descreviam suas armas, vestes e

casas. Até sobre as mulheres temos poucas referências, a não ser sobre sua nudez, ou no caso

das Amazonas, pela curiosidade resultante da mitologia clássica, das formas de se

relacionarem com os homens, isso posto que alguns dissessem que elas matavam os mesmos

ou ficavam com eles apenas em certos meses para procriação.

277 Para um estudo comparativo das tradições. GUAPINDAIA, Vera & MACHADO, Ana Lúcia da Costa. O potencial arqueológico da região do rio Maracá/ Igarapé do Lago (AP). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Antropologia, volume 13, número 1, julho de 1997. 278 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 162.

151

No geral, pouco comentam sobre casamentos ou uniões entre ingleses e índias,

diferentemente de Evreux e Abbeville em São Luis.

Por fim, outro ponto diferente do relacionamento entre indígenas e ingleses é a

falta de línguas ingleses para o trabalho com os gentios. Em nenhum momento fala-se que

eles conheciam a língua dos indígenas, mas sim o contrário, eram os indígenas que aprendiam

a língua inglesa. No diálogo entre o capitão John Ley e “seu índio”, ele não entendeu o que o

mesmo dizia na língua nativa, apenas o que o índio falava em inglês: “índio travesso traz

tempo travesso”.

No entanto, não podemos confiar sempre nas fontes escritas. Provavelmente

outros ingleses sabiam bem o Carib e o Aruak, aqueles que tinham um contato mais próximo,

os imediatos, os colonos, aqueles que dependiam das trocas e dos serviços dos índios nas

plantações de tabaco e que em muitos casos não sabiam nem escrever seus nomes.

Tal relação comercial sofreu uma mudança com a criação da “Amazon Company”

em 1619. Tal companhia tinha o objetivo de melhor explorar a região do Amazonas e seus

contatos com os indígenas. Era financiada por vários nobres ingleses, inclusive com

importantes cargos no governo de Jaime I.

Seu principal representante na região será o capitão Roger North. Ele liderou as

primeiras viagens oficiais dessa companhia, formada após conseguir os direitos de exploração

com a coroa inglesa, anteriormente em poder de Robert Harecourt.

“Considerando aquelas bonitas terras próximas do rio Amazonas (limitada na parte

norte pelo rio Wyapoco (Oyapock) e para o sul, como não é habitado por nenhum

soberano cristão ou estado) e pelas diversas viagens nos últimos anos foram feitas

por diversos, (que para seus grandes lucros, encontraram comércio, e tráfico

naquelas partes) muito bem descobertas para se adaptar, e não só para habitação

saudável, mas também pela riqueza de suas mercadorias, como ricas tinturas, drogas

medicinais, goma doce, algodão, cana de açúcar, variedade de tabaco, madeiras

preciosas, arvores de castanha, e outros temperos, plantas benéficas e frutas

pleazant, e terra boa apresentada perante a corte adiante: e do mesmo modo, e com

aparente probabilidades de ter ricas minas e minerais de varias espécies” 279.

Aqui está todo o interesse da “Amazon Company”, conseguir o lucro no tráfico de

mercadorias daquelas partes, para a companhia e para a coroa inglesa. Tais mercadorias

cobiçadas eram as tinturas, as drogas medicinais, algodão, cana de açúcar, tabaco, madeiras 279 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 192.

152

nobres, castanha, as gomas, temperos, frutas e terras boas (fertilizantes). Além disso, podiam

extrair outras riquezas ainda não encontradas como minas de metais preciosos. Outro objetivo

secundário, mas não menos importante era propagar a fé cristã aos infiéis.

“(...) através de cartas de alguns ingleses, e outros súditos de sua majestade

mandaram seis ou sete anos e que ainda residem lá, o mesmo estando bem,

examinado, e considerado por, sua majestade e seu honorável conselho, e por

diversos outros nobres e cavalheiros respeitosos, que demonstraram um sério desejo

de propagar a religião, e a cristandade entre aquelas nações, e para o avanço da

honra de nosso país (...)” 280.

Dadas as condições, a “Amazon Company” se estabelece e recruta aventureiros

que estariam dispostos a viajar até o Amazonas e fazer “plantations”. No documento ainda

cita como era o procedimento de recrutamento dos colonos e o pagamento. Aos colonos

comuns, camponeses pobres e aventureiros, pagava-se muito pouco e em prazos que variavam

de acordo com a companhia. Para os nobres era garantida a sua independência da companhia,

tendo livre voz nos seus negócios, como era praxe nas companhias inglesas.

De 18 a 19 de abril de 1619, Sir Thomas Conventry, um dos membros da

companhia, solicita ao conselho de estado uma carta do rei que daria autorização para a

utilização de navios, homens, armas, munições e coisas necessárias para as viagens. Nela

também foi estipulada uma área para estabelecer os colonos da companhia.

“(...) deve se estender do rio Wyapoco para cinco graus sul, de qualquer parte do rio

Amazonas ou chamado orelhana e para longitude terra a dentro estando limitada

pelo mar (...)” 281.

A autorização é liberada e logo a “Amazon Company” faz uso do que arrecadou

construindo um grande forte em comum acordo com as tribos recrutadas por ela, como os

Supanes. Protegidas pelo forte contra as tribos inimigas e contando com a participação dos

aliados, agora permanentes, eles fazem grandes plantações de tabaco e canaviais.

Os empreendimentos da “Amazon Company” não deixaram de ser notados pelos

rivais dos nobres envolvidos nela, nem tão pouco pelos espanhóis, que no início de 1620

280 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 193. 281 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 195-96.

153

fazem uma representação perante o rei inglês para cessarem as atividades da companhia no

Amazonas e nas outras terras espanholas.

“Representei a vossa majestade as inconveniências as quais podem resultar da

viagem que o capitão North deseja fazer para as Índias Ocidentais, lhe dando o

recente exemplo do sir. Walter Rawleigh não com a posição e toda segurança dada

por ele aqui, não para ter ofertado qualquer prejuízo para nenhum do rei ou

domínios ou vassalos de meu mestre. Todavia estou informado que o dito capitão se

preparou com muita pressa, para ir até tais terras, e levou quatrocentos homens e

muitas armaduras com ele. Razão que humildemente que solicito vossa majestade

que ele ficaria satisfeito em olhar cuidadosamente para esse empreendimento não

permitindo que tal viagem seja feita, sem dúvida que se isso se seguir causará muito

problema e molestamento a vossa majestade (...)” 282.

Citando o caso de Walter Raleigh que sem autorização do rei atacou colônias

espanholas antes de vir a Guiana, viagem pela qual foi preso e depois executado, o

embaixador espanhol mostra-se preocupado com a viagem de Roger North com gente de

guerra.

Essa viagem de North teve de ser suspensa por causa das pressões do embaixador

espanhol Gondomar na corte de Jaime I. Contudo, os investimentos feitos para ela eram altos

nessa época para qualquer nação ou nobreza, e por isso o Capitão North tenta por vias

amistosas demover o rei.

“A qualidade desse empreendimento, no contrario, é nada mais que formar uma

companhia, o Estado tendo primeiro feito uma pausa e rigorosa examinação da

legitimidade do titulo de vossa majestade para aquele país, sem causar danos ou

aborrecimento particularmente ao rei da Espanha. (a partir daí podemos notar que

esses homens nunca ouviram falar sobre os navios espanhóis naquelas partes). (...).

A fundação desse empreendimento era apenas para opor-se os Flemings (flamengos)

que estão recentemente ocupados em se apoderar injustamente e beneficiando-os

dos interesses de nossos compatriotas, que estiveram por oito anos morando perto

do rio, o que fica a setecentos ou oitocentas léguas de qualquer colônia espanhola

(...)” 283.

282 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 198-99. 283 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 202.

154

Para North não havia porque impedir a viagem, pois não havia nenhuma colônia

espanhola na região, contrariando os direitos de posse espanhola da área284. Tal medida

contrariava os acordos formalmente firmados entre a coroa inglesa e a Amazon Company.

Uma de suas alegações para o envio de força militar era a presença de holandeses próximos e

que estariam dispostos a conquistar as “plantations” dos colonos ingleses.

“Como para os quatrocentos homens e as muitas armas para eles, contudo, o agente

diz, que eles estão estimados a olhar mais preparados para roubar os vassalos de seu

mestre que fazer o empreendimento de mercadorias, apesar disso, eles são homens

que tem experiência com as terras, farmacêuticos, tintureiro, carpinteiros de casa,

ferreiros, serrador, e eu pago mais dinheiro para esse tipo de pessoa que para outros.

Estou transportando uma fornalha de ferreiro com tudo necessário, e uma boa

quantidade de outros equipamentos que são particularmente usadas no rio. (...)” 285.

O capitão North contradiz o embaixador espanhol dizendo que seus homens antes

de serem soldados eram colonos, que tinham experiência na agricultura. Outros eram

farmacêuticos, carpinteiros, ferreiros, serralheiros. Diz que gastou muito dinheiro nessa

viagem, inclusive numa fornalha de ferreiro, ferramentas e equipamentos, além do pagamento

das pessoas. Diante dessas afirmações o rei cede e libera a viagem, mas as pressões do

embaixador fazem o conselho de estado e depois o rei ordenar a detenção de North.

Mas, provavelmente com auxílio dos nobres que apoiavam a companhia, o

capitão Roger North conseguiu partir antes de ter recebido a notificação de detenção. Veio

com dois barcos e menor tripulação, o que irritou o soberano inglês Jaime I, que já havia dado

a palavra que tal viagem não ocorreria. Sem relutar muito, o Rei acabou com a “Amazon

Company” e expediu ordens de prender Roger North, assim que parasse em qualquer porto

inglês.

“Uma proclamação seria feita contra ele, declarando-o como traidor ele e quem o

ajudasse. A comissão seria arrancada e a companhia desfeita. era entendido que

Norte ainda não tinha passado da Irlanda. Esse rei já tinha enviado um galeão de sua

284 Segue o que foi analizado por Patrícia Seed sobre as cerimônias de posse. Para o capitão Roger North o fato de as Terras do Amazonas estarem sem ocupação espanhola dava o direito ao ingleses de sua companhia de coloniza-las. Os espanhóis seguiam a máxima do “cheguei primeiro, por isso me pertence”, além de terem como argumento o aval do Papa Alexandre VI. In: SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). São Paulo: Editora UNESP, 1999. 285 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 202.

155

esquadra em busca dele, e trazendo-o de volta, ele (o rei) ordenaria que sua cabeça

fosse cortada, como a de Walter Ralegh (...)” 286.

O fim da “Amazon Company” não significou somente o fim do apoio oficial a

qualquer colônia inglesa no Amazonas. Significou que todos os colonos estavam por sua

própria conta e que o estado inglês não seria responsabilizado pelos seus atos. Para evitar

problemas diplomáticos o rei James I sugeriu ao embaixador espanhol, que fossem feitas

explorações espanholas naquela região para expulsá-los.

“Não parece que o capitão Norte agora possa fazer algum mal apesar que eles não

possam pega-lo, mesmo que ele resolva em se tornar um pirata visto que ele não

possa ter nenhuma ajuda daqui, é certo que ele mesmo se arruinará. Mas ainda

penso que sem perda de tempo vossa majestade deva ordenar que o rio Amazonas

seja explorado. Eles me garantem que há alguns ingleses e holandeses lá, e que

Norte poderia ter chegado, e que seria fácil expulsa-los e puni-los severamente e

assim evitar outro incidente como esse que vimos aqui. (...)” 287.

Realmente North chegou ao Amazonas, apesar de afirmarem ao rei que ele não

conseguiria, pela falta de mantimentos nos navios. Segundo o que foi averiguado pelo

embaixador de Felipe III, o capitão Roger North se aliou aos ingleses e irlandeses que já

cultivavam tabaco na região a mais de doze anos junto aos indígenas, provavelmente os

mesmos Supanes das fontes anteriores. Ao voltar à Inglaterra levou alguns colonos consigo,

que provavelmente também foram presos, além de terem sua produção apreendida junto com

os barcos.

Não obstante o desejo de punição, as pressões do pai (Barão North), de seu irmão

e do Duque de Linox (Lennox), foram suficientes para um perdão de Roger North. Não

podemos dizer o mesmo dos outros evolvidos e dos colonos que ficaram no Amazonas.

“Parece-me que vossa majestade ficaria contente em ordenar um reconhecimento

desse rio Amazonas, pois eles me dizem, em boa autoridade, que há, no presente,

286 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 210. 287 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 282.

156

alguns irlandeses lá e que estão decididos em ir da Holanda para fazer colonização” 288.

Ora as negociações foram levadas amistosamente, inclusive à soltura do capitão

Roger North, mas no que concerne aos produtos trazidos por ele houve muitos debates, pois

para os espanhóis a carga era por direito deles, mas para alguns ingleses incluindo o próprio

North era de posse dos membros da extinta companhia. Tanto que um debate no parlamento

inglês foi justamente em relação a esse direito de posse da carga. Mas acabou seguindo para a

polêmica da posse das terras e rendas dessas partes pelos espanhóis que foram dadas pelo

Papa Alexandre VI, posto que o fato acontecido repercutia na posse de outras áreas

colonizadas por ingleses como a Virginia. Se o Rei James I abriu mão das colônias no rio

Amazonas, o que seria de outras áreas semelhantes na América?

Os colonos ingleses e irlandeses deixados à própria sorte pela “Amazon

Company” foram ajudados por holandeses e passaram a ter esse apoio no transporte do tabaco

produzido junto aos indígenas.

Os irlandeses no Cabo do Norte e as suas relações com os

indígenas e holandeses:

As explorações do capitão Irlandês chamado Felipe Porcel (Phillip Purcell)

começaram por volta de 1608-09. Ele durante dois anos fazia viagens entre a Guiana e

Trinidad, comercializando mercadorias por tabaco, até que resolveu ir mais longe, fretando

um navio holandês e adentrando o rio Amazonas:

“(...). Eles foram dezoito léguas acima desse rio e, encontraram uma boa região,

desembarcaram e começaram a negociar com os índios, os quais eram pardos,

pagãos não civilizados, e todos nus. Eles deram aos índios contas de vidro,

miçangas e outras coisas ensinando-os como produzir maior quantidade de tabaco,

pois os índios sabiam como fazer isso de acordo com sua estranha maneira, e não

com a perfeição que é produzido em San Thomé e da maneira a qual o capitão

Porcel viu em Orenoco. Dessa maneira do ano de 1609 o qual ele fez sua primeira

descoberta ele foi e voltou duas vezes mais (...)” 289.

288 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 218-19. 289 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 157.

157

Nessa primeira expedição logo percebeu as vantagens em negociar com os

indígenas norte-amazônicos. Efetivou-se uma aliança intermitente, mas diferente da feita por

ingleses nos anos anteriores. Ela foi marcada não pela simples troca passageira de objetos por

madeira e animais, mas sim pela troca de novos conhecimentos. Ensinou-se aos indígenas

novas técnicas de fabricação do tabaco, pois a técnica indígena, além de “estranha” aos

brancos, não era em escala comercial.

Aparentemente não houve resistência indígena, a troca pareceu favorável às

partes, pois todos lucraram com a plantação de tabaco. Os indígenas ganhavam o material que

necessitavam: contas de vidro, miçangas e ferramentas em metal para o trabalho (estas

últimas não colocadas nas fontes mas necessárias para uma plantação eficiente). Pelo lado

irlandês os lucros foram bons a ponto de o capitão Porcel fazer mais duas viagens.

“(...) Da ultima vez ele levou quatorze irlandeses que negociaram com os índios até

o ano de 1620, quando o capitão North chegou lá e desembarcou perto de cem

ingleses os quais ele levou com ele, o qual ele (Purcell), pois eles são novos nessas

terras e não tiveram que ajudar com os abastecimentos e outras coisas desde que

chegaram, vai ser muito improdutivo para maior parte deles. (...)” 290.

Os irlandeses, liderados por Porcel, certamente tinham um modo diferente de

tratar os indígenas, por isso investiram mais na região, trazendo mais quatorze irlandeses.

Na chegada de outro capitão, agora inglês, Roger North, com outros cem ingleses

a situação mudou, pois os irlandeses tiveram de ajudar os estabelecimentos ingleses, que não

podiam gerar lucros imediatos e seus colonos passaram por muitas privações antes das

colheitas de tabaco darem o lucro esperado.

Um outro problema era a concorrência de holandeses que aportaram a 50 léguas

da entrada do rio Amazonas, o que fez os colonos irlandeses e ingleses pedirem para o rei

mandar um navio fazer o reconhecimento, verificando suas defesas, para expulsar qualquer

outro povo.

290 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 157.

158

Na viagem que Obrien del Carpio fez ao Amazonas na companhia de ingleses, e

como Roger North, temos algumas importantes observações de como funcionavam as

alianças com os grupos indígenas291.

“(...) Sir Henrique Roe partiu nesse navio no ano de 1621 com 124 pessoas e o

suplicante veio entre eles, sem questionar isso com seus parentes ou amigos, pelo

desejo de ver terras e coisas estranhas.

Eles viajaram a margem do rio Amazonas, e velejaram acima dele cerca de 10

léguas, vieram para a vila e plantation de índios chamada Sipinipoca. Eles

estabeleceram boas relações com eles, se comunicando primeiramente por sinais até

eles virem a entender a língua, o que eles chamam (os índios) de Arrua. Eles foram

cerca de 60 léguas rio acima para estabelecer o que eles chamam de Pataví, desde

então Cocodivae. Aqui o senhor Henrique desembarcou 16 pessoas, 12 irlandeses, e

quatro ingleses que eram servos dos irlandeses, todos católicos, deixando-os para o

suplicante como capitão, e o ordenando a manter uma boa relação com os índios e

se manter lá até ele o enviar ajuda da Inglaterra ou Irlanda. Para isso ele o

disponibilizou grande quantidade de contas, braceletes, facas, espelhos, apitos,

pentes, machados e outras pequenas coisas (...)” 292.

Sua primeira escala no Amazonas foi em Sipinipoca, uma vila com grandes

“plantations”, situada 10 léguas da foz do rio. Seus indígenas eram do grupo Aruã e no início

recebiam instruções por meio de sinais, depois os indígenas aprenderam a língua dos brancos

facilitando o comércio. Esse fato não pode deixar de ser notado, assim como os ingleses os

irlandeses preferiam ter línguas indígenas a aprender a língua deles.

Deixaram o local e fizeram um novo núcleo chamado pelos índios de Pataví,

provavelmente aldeia em sua língua, e para os irlandeses Cocodivae. Neste local ficaram 12

irlandeses e 4 ingleses, seus servos, o que demonstra um grau de riqueza elevado entre esses

colonos, afinal não era qualquer um que podia ter servos nesse período. Obrien ficou como

capitão do lugar, com ordens explicitas de evitar desentendimento com os indígenas e esperar

ajuda da Inglaterra e Irlanda. Para tal relação amistosa com os Aruãs ficou com uma grande

quantidade de objetos (espelhos, contas, apitos, pentes, machados, entre outros).

Desse depoimento de Obrien podemos verificar a mudança de atitude frente aos

indígenas. A aliança de intermitente passou a ser permanente, com indígenas e irlandeses

291 Nessa viagem ao Amazonas e estando com apenas 17 anos, Obrien viajou como capitães Walter Raleigh e Sir Francis Drake. 292 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 264.

159

muito próximos, morando praticamente juntos numa vila e mantendo uma área com plantação

de tabaco. O pagamento por esse trabalho era feito aos chefes das aldeias em mercadorias de

pequeno valor para o mundo europeu, mas de grande valor para os indígenas que

comercializavam tais objetos nas aldeias adjacentes, espalhando assim a área de influência e

interferência européia a grandes distâncias e de certa maneira afetando costumes seculares.

“(...). Sir Francisco retornando no navio dos índios, já pensando que estava

ganhando amizades, construiu, não obstante, para sua própria segurança e dos outros

15 cristãos um forte de madeira e barro, rodeando-o com uma trincheira e para sua

defesa ele tinha 40 mosquetes com pólvora e munição e outras armas. Esses índios

lá seguiam muitos diferentes chefes, os quais eles chamavam de bateros, e eles

tinham continuas rixas e guerras entre eles. Suas armas eram espadas de madeira,

machados de pedra os quais tinham uma alça de uma pesada madeira dois cúbitos de

comprimento, arcos e flechas com pontas de pedra, ou osso ou de uma madeira

muito dura, lanças de madeira maiores do tamanho de um homem e suas pontas

eram formadas como as das flechas e em algumas delas venenosas (...). O suplicante

indo algumas vezes para ajudar os índios, ganhou a vitória para eles com mosquetes

e estratégia, e através disso os ganhou para seu lado, e os obrigou a cultivar tabaco e

algodão para ele, e lhe dar a comida e a bebida daquela terra. (...)” 293.

Aqui podemos ver a aliança permanente chegar a outro ponto da relação entre

europeus e indígenas - O recrutamento com fins militares. Construiu-se um forte de madeira e

barro, além de uma grande trincheira para a defesa dos habitantes da vila. Não podemos

afirmar categoricamente que houve uma participação indígena nessa construção, contudo 16

pessoas não poderiam construir sozinhas tal empreendimento. Portanto o uso de indígenas

parece ser a opção mais lógica nesse empreendimento. Ainda assim temos um recrutamento

voluntário, onde a participação indígena é apenas como mão de obra, não lhes é ensinado o

suficiente para depois utilizarem esse conhecimento no futuro, ou as fontes não revelam isso.

Além disso, a descrição das armas dos Aruãs demonstra não somente interesse no

modo de lutar desse povo, mas também uma preocupação com possíveis combates com

inimigos indígenas ou europeus. Entre os irlandeses havia 40 mosquetes, munição, além de

outras armas (provavelmente sabres, adagas, pistolas, facas). Não relata a existência de

canhões. Mas, apesar de todas essas armas não há relato de haverem dado, ou ensinado aos

293 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 264-65.

160

indígenas o uso delas, reforçando o recrutamento voluntário, onde cada grupo usa as armas

que possui.

Não obstante, vemos que o apoio de irlandeses aos Aruã nas suas guerras as tribos

rivais foi fundamental para garantir não só a vitória deles, mas também implicitamente

revelou uma forma de coerção dupla. Para os aliados indígenas a força militar irlandesa

intimidava possíveis rebeliões e para as tribos subjugadas nas lutas a sua utilização como

servos no trabalho forçado nas plantações. Além de terem de fornecer alimentos e bebidas

para a povoação de Cocodivae.

Já os seus indígenas contavam com um exército variado, dependendo do número

de aldeias em aliança ou sob controle, não obstante, as rixas eram comuns entre os chefes

(Bateros) o que dificultava o aumento de seu exército. Usavam arcos e flechas com pontas de

pedra, osso ou madeira dura. Lanças com pontas iguais as flechas, mas algumas podendo ser

envenenadas. Suas armas de mão eram as bordunas ou clavas de madeira e machados feitos

de lâminas de pedra. Isso reforça também o recrutamento voluntário, pois os indígenas ainda

usavam suas próprias armas de guerra, apesar de haver menção da troca de machados de

metal com os irlandeses.

“(...). Entre os irlandeses havia quatro bons estudiosos e latinistas que resolveram

trazer o conhecimento de Deus para os índios, que não tinham religião nem

adoração a qualquer coisa como um deus ou ídolo. Os cristãos persuadiram mais

que 200 deles que havia um deus, paraíso com assistência, e um inferno com

tormentos após a morte. (...)” 294.

Apesar das diferenças culturais persistirem a aliança permanente levou a uma

aproximação religiosa. Os devotos católicos irlandeses passaram a tentar cristianizar os

indígenas, conseguindo converter 200 Aruãs ao cristianismo. No período em que esteve à

frente da povoação de Cocodivae, Obien fez expedições dentro do Amazonas, com quatro

brancos e mais 50 indígenas. Durante essa viagem teria estado em contato com a famosa tribo

das Amazonas, chamadas pelos Aruãs de Cuna Atenare.

“(...) Depois de o suplicante ter estado lá por um ano ele foi, com quatro outros

carregando cinco mosquetes e boas mercadorias, cerca de 700 léguas acima da

Amazônia pela água e pela terra, levando cerca de 50 índios armados como guias,

294 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 265.

161

ajudantes e interpretes de uma vila para outra, e quatro canoas. Eles encontraram

uma terra onde eles não viram nenhum homem, mas muitas mulheres, as quais os

índios chamam de Cuna Atenare, o que significa mulheres masculinas, para os

cristãos-amazons. Essas tinham o seio direito muito pequeno como homens

retratados por Artistas então eles não cresciam, em ordem para tirar flecha, e os

seios esquerdos eram tão grandes com os de outra mulher. Elas eram armadas como

os índios. Sua rainha, que é chamada de cuna muchu, o que significa grande mulher

ou dama, estava nesse momento numa ilha do rio. O suplicante enviou a ela em sua

canoa uma índia como embaixatriz, e ela a levou um espelho e uma camisa

holandesa de linho como presente e amostra da mercadoria que ele estava

carregando, e ordens que ela deveria dizer que ele não iria ofendê-la ou feri-la;

preferivelmente se isso a agradasse que ela deveria olhar o que ele estava lhe

enviando, e se ela estava satisfeita que ele pode ir e falar com ela; que se ela pudesse

lhe enviar reféns. Ela o enviou três de suas mais distintas mulheres e pediu que ele

fosse e falasse com ela. Então ele o fez. Ela o perguntou se tinha sido ele que lhe

enviara o presente. Ele disse que sim. Ela o perguntou o que ele queria. Ele

respondeu que paz e permissão para passar através de seu reino e comercializar nele.

Ela respondeu que seria um privilegio para ele e deu três de suas escravas em troca

de mercadorias. Ela estava com a camisa de linho o que ela estava bastante contente,

e no final da semana, quando ele levou sua promessa de retornar, ela e suas vassalas

mostraram que estavam ofendidas pela sua partida(...)” 295

Depois desse misterioso encontro seguiu adiante, mas teve de retornar, pois

encontrou grupos interioranos desconhecidos e arredios que não quiseram manter comércio,

apenas à distância, talvez por terem tido alguma experiência negativa com os brancos.

“(...) O suplicante subiu o rio para uma terra onde havia índios tão selvagens que em

nenhum lugar eles os encontrariam nem o desejo deles em falar com ele. Por essa

razão ele abandonou o mesmo rio novamente e por outro rio que sai desse e corre

através de terras chamadas Harauaca, onde há pedras cristalinas e brilhantes as quais

os índios valorizam como bens para tratamentos de melancolia e problemas de raiva,

tédio, eles desceram pelo rio para a costa, onde o rio é chamado de Serenan, de lá

(do norte) eles vieram por terra para a boca do Amazonas, e de lá eles retornaram

para o forte em Cocodivae (...)” 296.

295 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 265-66. 296 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 266.

162

Mesmo não sendo uma viagem feliz, posto que não conseguiram comercializar

muito, nem contatar novos grupos por serem totalmente desconhecidos, Obrien chegou a um

local onde seriam as minas de onde os indígenas extrairiam as Spleene Stones, citadas por

Raleigh e outros exploradores. Dessa área retornaram via Serenan (Suriname) até a foz do

Amazonas e de lá voltaram à vila e forte de Cocodivae.

“(...). Nesse momento um navio da Holanda chegou ao rio Amazonas, o qual o

capitão era chamado de Abstan. Eles perguntaram ao suplicante se ele achava bom

que eles se colonizassem perto, e que ele lhes disponibilizasse um interprete para

comercializar com os índios, e que eles estabeleceriam bons relacionamentos com

ele e entendimentos de acordo com seu elo. Ele respondeu que tinha cerca de 4000

índios guerreiros em sua aliança, e teria mais se fosse necessário. Com eles ele não

estava somente intencionado em manter o rio, mas também em se estender mais

dentro do território e que desse modo os holandeses deveriam partir. Eles foram de

lá par o rio Coropá, perto da conquista do Gran Pará, onde eles começaram suas

colonizações ajuda vinda para eles da Holanda e enviando tabaco e algodão (...)” 297.

Na volta encontrou com um navio holandês pelo caminho. Seu capitão

aparentemente tentou um acordo para estabelecer uma colônia próxima a colônia irlandesa,

mas Obrien recusou. As rivalidades de cunho religioso impediam uma aproximação,

lembremos que os irlandeses eram católicos e holandeses protestantes. Contudo, ainda não era

hora de lutar por religião nesse momento e por isso as partes se retiraram. Os holandeses

foram fixaram-se no Gurupá, onde, ainda segundo Obrien, fizeram “plantations” de algodão e

tabaco.

“(...). Depois que o suplicante esteve lá por três anos fazendo diferentes viagens por

terra, ilhas e rios, chegaram a foz do rio Amazonas, e ele, pensando que o

suprimento estava vindo embarcou e achou que fosse um navio de guerra holandês

que estava vindo e que estava acompanhado por um pinnace. O suplicante,

confiando a autoridade que tinha o outro irlandês chamado capitão Don Philippe

Porzel (Philip Purcell), concordou com o capitão dos holandeses que ele o devesse

levar para o velho mundo com o tabaco e o algodão que ele tinha. O holandês muito

condescente, pois falta de tabaco que tinha a Holanda e a Irlanda naquele tempo, o

eceitaram (...)” 298.

297 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 266-67. 298 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 267.

163

Mas essas rivalidades religiosas não impediram um acordo entre Phillip Purcell e

os holandeses sobre o transporte do tabaco e algodão para a Europa, notadamente Holanda e

Irlanda. Aparentemente concordou-se que a produção de ambos seria transportada pelo navio

holandês. Obrien cita uma falta de tabaco nas duas nações, o que talvez sirva para explicar o

acordo e uma possível divisão dos lucros.

A venda desses produtos rendeu a Obrien 16.000 escudos (ou 10 Reales de prata).

Isso foi suficiente para conseguir retirar seu pai da prisão na Irlanda, prisão esta decretada por

ordem do rei inglês por traição.

No entanto, o rei católico James I, estava com dificuldades com o embaixador

espanhol por causa da “Amazon Company”, criada justamente para atender as necessidades

mercantis dos colonos ingleses no Amazonas. Tal companhia como vimos, foi extinta, e seu

principal agente o Capitão North preso na torre de Londres. Todos os colonos foram

abandonados à própria sorte e tiveram que conseguir meios de exportar seus produtos.

Assim as viagens de navios holandeses cresceram num apoio aos colonos ingleses

e irlandeses que dividiam parte dos lucros com eles.

Os holandeses no Cabo do Norte:

Os holandeses causavam problemas para as autoridades espanholas desde quando

os Países Baixos se rebelaram a monarquia dos Habsburgos. A guerra entre as duas áreas da

Europa minou a riqueza dessas potências até as tréguas entre as duas partes, sem haver acordo

sobre a independência holandesa, ficando um sentimento de guerra eminente. No atlântico o

conflito chegou como guerra de corso, onde os navios da Espanha passaram a ser atacados

pela esquadra holandesa, que assim conseguia recursos em metais preciosos e enfraquecia a

economia da rival.

No entanto seguindo a unificação dos reinos português e espanhol com Felipe II a

costa brasileira passou a ser também alvo dos mercadores holandeses. Nesse sentido a foz do

rio amazonas passa a fazer parte das investidas de holandeses durante a fase de paz com os

espanhóis.

Em 1615 é enviada uma consulta ao rei sobre as intenções dos holandeses “nas

ribeiras do rio das Amazonas”, onde se tem o relato da atividade de holandeses na foz

amazônica:

164

“Avisos tocantes a la Índia ocidental em 4 de Abril de 1615. Em la Haya de Olanda

a parecido Pedro Luis (pieter Lodewycx), un Capitan de la armada naval residente

en Vlissingas con su hijo Juan Pedro (Jan Pieterse) Mar ambos de buelta de la India

ocidental de la ribera de Viapoco en donde han fabricado dos casas y han cogido el

Tabaco, y el dicho Pedro a ydo navegando en el rio de las Amazonas obra de cien

leguas arriba, y a la buelta a traydo consigo mucha ganancia de Tintura Vermeja,

tabaco, y diferentes especiarias, y por quanto alli tomo lengua de los moradores que

en aquel pais de alli adelante ay muchos moradores y naciones donde ay mucha

mayor ganancia para los hombres de negocios, lo qual le a movido con todos los

Vageles Volverse para Via-poco, assi para proveer alli la nueva poblacion que alli

tienen hecha como para passar adelante en el dito rio de las Amazonas a buscar su

resaque, (...)”299.

Dado o documento de 1615 ao rei de Espanha na qual cita-se Pieter Lodewycx e

seu filho Jan Pieterse, supõe-se que as primeiras viagens deles aconteceram bem antes da data

do documento, por volta de 1610. Pieterse navegou 100 léguas rio Amazonas acima voltando

com “tintura vermelha, tabaco e diferentes especiarias” conseguida por meio de trocas com os

indígenas daquela região. Ainda segundo as fontes espanholas, conseguiu muitas informações

sobre a língua das nações ribeirinhas para poder voltar noutra ocasião e fazer uma colônia

como a que construíam no Orenoco. Isso fez teve importante efeito para atrair novos

comerciantes. Provavelmente os contatos de Jan Pieterse foram com as tribos Aruã e Palikur,

localizadas possivelmente na região da Costa do Amapá e Gurupá. Dado serem depoimentos

indiretos, não podemos saber ao certo, como foi feito tal contato e os meios utilizados para

permitir uma aproximação com as tribos.

“(...), y para ello a confirmado cierta compañia con el burgo maestre de Vlissingas

(Flushing) Joan de Moor (Jan de Moor), dos del Almirantazgo el uno dellos llamado

Angelo Lenne, y el otro el Señor de Lodestyn, por cuya mano alcanço de los estados

de Olanda el consentimiento de poder estabelecer la dicha Colonia y poplacion, y

esto sin embargo de la grande y General poblacion que dichos estados pretenden

hacer en aquellas partes de la America en casso la guerra no passara adelante la qual

muchos dessean, y tienen por sigura, y assi toda la compañia del Trato y comercio

por mar ynsisten a los dichos Estados para que acudan con alguna notable ayuda con

299 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 158-59. Foi utilizada a cópia do documento original, em espanhol, extraida do ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 335-37.

165

que puedan yr tomando lenguas y reconocer todo el estenso y largo del dicho rio de

las Amazonas, por donde los dichos Estados havran de saeir gran fruto en lo

porvenir andando el tiempo.

El sobredicho Capitan y su hijo, an relatado por cosa cierta que un

Teodoro Claesvis, siendo Anabatista residente en el burgo de Leyden dentro de

Amsterdama a trocado su Colonia y poblacion de la rivera de caena con todos

quantos menajes alli tenia y puesto sus asientos en la rivera de Surenana y que la

mayor parte dellos estan con mujeres yndianas. En esta rivera ay el mejor palo de

Litre y lo buscan entero, el mejor que se puede ver (...)” 300.

Rapidamente muitas regiões, como o Suriname, passaram ao domínio de

holandeses. Os anabatistas como Teodoro de Claesvis, contribuíram para isso fixando

colônias e até mesmo casando com índias, provavelmente para conseguir maior aproximação

com as tribos Caribes.

O ponto mais importante desse documento está no conhecimento espanhol da

presença de holandeses no Amazonas desde 1615. Isso contraria qualquer afirmativa na qual

havia um desconhecimento dessas atividades holandesas, anteriores a data da primeira

incursão militar na região. Portanto abre-se uma contradição nas ações praticadas pela coroa

ibérica, que em dado momento, deixa holandeses ocuparem seu território (segundo o Tratado

de Tordesilhas), e depois ordena as missões de combate as mesmas ocupações. A estratégia

dessa lógica do governo Filipino parece residir na certeza que havendo uma guerra com a

Holanda, até então em paz com os espanhóis, não haveria apoio militar do Estado holandês

aos seus comerciantes e colonos dessas áreas, apesar de terem consentido oficialmente essas

colônias.

O relatório de 1615 também mostra que não era somente com os espanhóis que os

holandeses tinham de se preocupar:

“(...). Ademas refire el dicho hijo del Capitan que los franceses, que a dos grados

cerca la linea an puesto un fuerte llamado Marani ynexpunable en el qual tienen

veinte y quatro pieças de bronze y alguanas de hierro, y afirman averse hecho por

orden del Rey de Francia donde acuden cada dia muchos vaxeles franceses. (...)” 301.

300 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 158-59. Foi utilizada a cópia do documento original, em espanhol, extraida do ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 335-37. 301 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 158-59. Foi utilizada a cópia do documento original, em espanhol, extraida do ANNAES DA

166

Os franceses, a que se referem os espanhóis, provavelmente eram os liderados por

Ravardière no Maranhão e sua fortaleza de São Luis. Tal confusão foi provocada pelo nome

dos rios parecidos, pela grande imprecisão de alguns cartógrafos reais que confundiam a

entrada da baia do Guajará com a baia de São Marcos e São José. Confusão comum em cartas

de várias nações européias, incluindo a Inglaterra e Holanda.

“(...) Assimismo que un Tomas Rey (Thomas King) tiene puesto un notable fuerte

en la embocadura del rio de las Amazonas, de onde haçe grandes y provechosas

resaques de manera que quando el trato y comercio se fueron llevando por alli con

alguna buena orden, el provecho y consideracion que el de las Indias orientales (...)” 302 .

Um grande forte inglês teria sido erguido na foz do rio Amazonas por Thomas

King a serviço da Companhia das Índias Orientais.

“(...) Mas, dize y afirma que cierto ingles antes que Juan Peeter, hijo la poblacion en

el Rio de Viapoco en el reconocerle se dexo llevar por veinte salbajes y algunas

Canoas dende Viapoco arriba sesenta y ocho baxadas, o, caydas de la ribera y que

de alli adelante hallo un Pays llano y unido sin mas baxadas, y despues una muy

honda y larga ribera y que huvieram por ella navegando mas adelante y por ella

llegado a la grande Ciudad de manoa, de la qual ay tanta fama pero por haverse

huydo los salvajes que vibian a la costa de aquella ribera que dichos salvajes

llamavan noruaca les vino a faltar la vitualla de la raiz de la caravia y toda otra

comida, lo qual le forço con su compañia de volver sin pasar mas adelante y dicho

Juan Peeter pretende tentar la ventura y reconocer dicho pays por el mismo camino

com la ayuda de los dichos Estados de Olanda, como dicho és.”303 .

BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 335-37. 302 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 158-59. Foi utilizada a cópia do documento original, em espanhol, extraida do ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 335-37. 303 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 158-59. Foi utilizada a cópia do documento original, em espanhol, extraida do ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 335-37.

167

O inglês que teria conseguido chegar a região das minas e a cidade de Manoa teria

sido Walter Raleigh. Ele também teria feito algumas colônias na Guiana como vimos

anteriormente. No seu rastro vão os holandeses com Juan Peeter na busca de riqueza fácil.

Franceses e ingleses, também interessados no lucrativo comércio com os

indígenas, agora montavam fortificações para guarnecer suas possessões. Pelo que podemos

observar nestas fontes, os espiões, provavelmente indígenas recrutados pelos espanhóis ou

holandeses funcionavam melhor, pois apenas em 1621 a coroa inglesa vai tomar

conhecimento das colônias holandesas, sem saberem ao certo se havia fortificação ou defesa

nelas:

“Os holandeses se estabeleceram no mesmo rio, trinta léguas mais distante, o que

fica cento e vinte léguas do começo do rio, indo pelo mesmo lado direito.

Ele não sabe se eles fizeram alguma fortificação ou defesa, mas, todavia isso lhe

parece muito necessário que Sua Majestade Católica devesse, sem atraso, um navio

bem suprido para fazer um reconhecimento e expulsar o povo de qualquer nação lá

encontrada, o que no presente momento, parece para ele, que será fácil de ser fito.

Datada em Londres 20 de junho de 1621” 304.

Como foi visto na parte dos Irlandeses o capitão Felipe Porcel começou um

lucrativo comercio e plantação de tabaco junto aos indígenas. No relatório acima de 1621 as

atividades holandesas não agradaram aos ingleses e irlandeses por rivalizar a produção e por

comprometer a passagem segura dos seus navios para as colônias.

As colônias holandesas eram uma realidade na região do Oiapoque (Viapoco),

Guiana e Amazonas. Contavam com o apoio de mais de 4000 guerreiros, provavelmente de

aldeias Aruã aliadas.

Outro documento, em junho de 1615, também relata a interferência holandesa na

região. Redigido e assinado pelo “El Duque” ao Conselho das Índias afirma que os holandeses

pretendem povoar a região entre o Maranhão e a ilha de Margarida:

“ Su Magestad a visto la relaçion y Mapa dende los puertos del Rio de las Amazonas

hasta la ysla de santa Margarita que se tenido aviso que los olandeses pretendem

poblar que van aqui y me a mandado enbiarlo a Vuestra Señoria para que se vea en el

consejo de yndias y en el se tenga entendido lo que se contiene en la declaracion del

304 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 157-58.

168

dicho Mapa y lo que dize y se acuda a lo que combiniere dios guarde a Vuestra

Señoria de Valladolid a 27 de junio 1.615= El Duque =(Hay una rubrica.)

Señor Presidente de yndias”. (...)305.

No mapa que foi com esse relatório também eram destacados em vermelho os

principais nomes dos rios e portos existentes em 1615. Nele estavam todas as informações

sobre as atividades sabidas da companhia de comércio holandesesa, seus portos dentro e fora

do amazonas, de onde pescavam ostras (pérolas), exportavam madeira tintureira vermelha e

preta, ananás e outra frutas, além de tabaco:

“Declarazion de la Mappa dende los puertos del Rio de las Amazonas, hasta la isla

de Santa Margarita donde se pescan las perlas.

Primeramente se aduierte que todos los nombres que en la dicha mappa se hallan

figurados por color vermejo, son en la forma que se nombran por los saluajes

indianos, y son Rios mas principales, que los olandeses dando el tiempo pretenden

poblar começando arriba de las Amaçonas abaxo hasta la margarita y todos los

cabos estan assi mismo puestos, y señalados de color vermejo, y segun estan

conoçidos en las mappas de Hespaña.

Los Rios pequeños nombrados en la dicha mappa, con tinta negra, son tan chicos,

que non pueden dar entrada a Baxeles grandes, sino por chalupas, o barcas

chiquitas.

Los Rios assi nombrados de vermejo como de negro que no estan cerrados y sin

punta al cabo son los que no se sabe quan adelante penetran en el Pays la buelta del

medio dia: aunque por los Rios de orenoque y viapoço an nauegado la buelta de la

linea Equinocial mas de quarenta leguas y particularmente en el de orenoque hasta

el Rio de Caroni y en el de viapoço hasta la terçera baxada o cayda del dicho Rio la

qual en cada uno llega de treçientas pies y se an de subir lleuando acuestas arriba

vnas barcas llamadas canoas con que se nauega de una subida a otra en donde

afirman los saluajes que quedan por bençer otras doçe subidas semejantes a los que

quieren llegar a vna mar que vá para manoa ciudad prinçipal del Reyno de Guiana

en donde el hermano de Atabalipa estabelecio su Reyno, y es mas abundante en oro,

que qualquier otra parte de todo el mundo, y por los Rios chicos a navegando el

sobredicho capitan vna vez, y otra quatro legoas por cada vno dellos conforme la

orden que leuaua de su superiores le año de 1.599 dende el qual el tiempo se a

compuesto la mappa verdadera que an tenido secreta quanto an podido y es la que

va aqui figurada y sacada de la original por donde an empeçado a poner en pratica

305 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p. 339.

169

las colonias arriba dichas por elpreçedente auisso, y por lo que se dira aqui

abaxo.”(...)306.

Nessa guerra de informações valia até falsificar um mapa feito por Pedro Placio

(ministro e cartógrafo oficial das companhias das Índias orientais e ocidentais), para tentar

ludibriar os holandeses e impedir o acesso deles aos portos mais seguros do litoral, já

povoados de Anabatistas, chamados de Caenas:

“(...). Sobre lo qual se a de adbertir, que la mappa ymprimida nueuamente em

Amstradama de la invençion de Pedro Placio ministro, geografico prinçipal, autor de

todas as auegaçiones de las Indias Orientales y Ocidentales, Residente en

Amstradama, está falsificada adrede para que no costen las embarcadurias de los

Rios y puertos prinçipales de los de viapoço y orenoque, reçelando el Rio que ia está

poblado por los anabatistas llamado caena donde el dicho capitan con ochenta

personas a estado ocho meses, donde se carga el heue Retz anoto y tabaco, y es

abundantissima de todos viueres de carnes, pescado, y Annanas y otras frutas

deleitossas. (...)” 307.

Neste texto fica mais clara e evidente a trégua ou paz armada existente entre

holandeses e ibéricos (contando com Portugal e suas colônias). As partes se estudam e

continuamente vigiam a atividade do rival. Neste aspecto o documento revela não somente a

intenção dos holandeses em povoar a região da ilha Margarida ao Rio Amazonas, mas

também de guarnecê-las com fortificações e armamento pesado, que sairia de Amsterdã.

Contudo o documento afirma ser improvável uma ajuda do estado holandês a companhia de

comércio deles pelo fato de estarem financeiramente desgastados e com outras preocupações.

“En quanto toca al trato y comercio sobre la india Oriental se tiene por abiso seguro

que los mayores que tienen a cargo el gasto del dicho trato en Olanda, an

vltimamente en la junta de los Estados de Olanda en la haya en fin del mes de

deçiembre 1.615(?) representado que en el siguimento de aquel tratto auian gastado

desde el año 1.597 hasta dicho dia en lo de la guerra, mas de diez milliones de

florins tanto que no podian mas sustentarla no obstante que los dichos Estados les

hauian socorrido de quando en quando con tres á quatro Bajeles de guerra

goarnecidos de gente, y bastimento naval por onde inssistian para que dichos

306 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 340-41. 307 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 340-41.

170

Estados quissiessen tomar assi dicha guerra con trodo el tratto, y comercio al pie que

Su Magestad catholica lo haçia en Portugal pero sobre ello no se tomó ninguna

resolucion, y se remettió hasta la primera junta, que seria despues de llegados los

embaxadores de los Reyes y Prinçipes confederados de lo qual se tomará lengua, y

se auisara a su tiempo.

Theodoro Claessen morador de Amstradama fuera la puerta vieja de Harlen a la

insignia del burgo de leidin estabeleçe colonia en el Rio de viapoço y en el de Caene

ya empeçado con çien hombres repartidos en ambas partes que juntan alli el

Hicuileri ques çierta seda que naçe sobre cañas, tabaco, y palo de litre vermejo com

manchas negras, y distan entre si dos grados: El dicho hombre partio el penultimo

de deçiembre de 1.614 para la aya de Olanda, pidiendo a los Estados, que tomassen

en si la empressa de estabeleçer colonia en los puertos de las indias occidentales,

auia de tener progresso para que el con su compañia de anabatistas pudiesse accudir

a ella con duzientos mil ducados sobre que dichos Estados le dieron nichil, pero de

boca le ordenaron accudiesse á Reynor ó Paulo Burgo maestre de Amstradama, de

quien entenderia llanamente su intension, el qual relato de boca al dicho Theodoro

que los Estados no podian sobre ello alguna declaraçion por agora hasta ver si en lo

porvenir se auia de continuar la tregua, o no, que quando los Embaxadores de los

Reyes y Prinçipes confederados traerian la resoluçion sobre la cessacion, o

continuaçion de la guerra de julio, que conforme á ello se determinaria igoalmente

el rompimiento de la tregua vniversal, ó continuaçion della, sobre que dicho

Theodoro replico que en essa platica se podia gastar vn año, a que le respondio el

dicho Burgo maestre que mirasse y se acordasse quan poco tiempo de siete semanas

gastó el Almirante General digo de Heserq. en lebantar vna armada de veinte y siete

baxales, haçiendo el effeto con ellos en el estrecho de Gibraltar el año de 1.609. y

insistiendo dicho Theodoro para que los Estados de las dichas islas le otorgase

alguna artilleria, pouora y muniçiones de guerra para poder guarnezerse dichas dos

colonias arriba dichas, tubo por respuesta que no auia logar hasta ber si se an de

romper las treguas, o no, y todo este sabe el sobredicho del proprio Theodoro, y esto

es lo que para la empresa del estabeleçimiento de las colonias para la india

oçidental, todavia el Almirante y cabos de la armada de los auisos preçedentes

quedan en ser con los dineros de las leuas y bastimientos hasta saberse las treguas si

han de continuar, o nó.(...)”308.

308 Ver: Oficio del Duque al Presidente del Consejo de Indias acompañadole un papel donde se avisa los puertos que los holandeses pretenden poblar entre el Maraõn y la Margarida, y explicando el mapa de estas costas que dice acompaña. In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1905, pp.338-43.

171

Estudava-se o movimento do adversário para uma eventual e eminente guerra.

Neste aspecto os espanhóis destacam a figura de Theodoro Claessen, como um dos

interessados nas possessões de Viapoco e Caiena.

As primeiras colônias holandesas:

“No ano de 1616, um Peeter Adriansen no Golden Cock de Vlusinge (Flushing)

velejou para o Amazonas e esteve tão alto da entrada daquele estreito; eles temeram

estar em um canal errado, retornando de novo, e entre os rios Coropatube, e

Ginipape na península por um pequeno rio de um lado, e um braço do Amazonas do

outro, eles construíram um forte, muitas dessas pessoas eram inglesas, algumas de

Vlusing, outras de Ramakins, cidades nas mãos dos ingleses; eles eram cento e trinta

homens e quatorze deles levaram suas famílias para se estabelecerem com eles, eles

tinham pão, ervilhas, carne de boi e de porco, bacon, otmeal, vinagre, e vinte

barricas de conhaque, um estoque para um ano inteiro, além de seus navios,

mantimentos, eles tinham uma feira com uma nação indígena, seus vizinhos

chamados Supanes.(...)”309.

Efetivamente os holandeses chegaram para ficar e montar colônias ao longo do rio

Amazonas no ano de 1616, mesmo ano da chegada dos portugueses. Contudo, o navio

chamado “Golden Cock” não trouxe somente holandeses, mas também ingleses, todos saídos

de Vlusing e Ramakins, cidades holandesas sob controle inglês. Essa ocupação anglo-

holandesa parece ser desconhecida pelos outros ingleses como vimos em outra documentação

do mesmo período. Mostraram que vieram para ficar, pelo grande número de mantimentos,

além de contarem com a ajuda de “Supanes”, indígenas seus vizinhos. Tanto é um fato que

logo após sua chegada montaram um forte para guarnecer a posição:

“(...). O navio ficou lá por quatro meses, até seus suprimentos terem acabado, e

algumas cabanas construídas, tão bem com ou sem mantimentos, os índios

assistiram-nos na plantação de tabaco e Annotta (tintura vermelha; urucum). Coisas

desse tipo, o navio os deixa viajando para Zeeland, mas retorna com um ano, com

um reabastecimento de todas as coisas necessárias, porém pão e carne não eram

esperados, eles carregavam o navio com tabaco, anotta e specklewood (Brosium

Aublettii); o carregamento foi negociado por sessenta mil libras esterlinas. Essas

eram as duas primeiras viagens do almirante De Ruyter, a primeira viagem nos anos

309 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 163-64.

172

dez, e a segunda nos anos doze (exatamente assim) idade de seu nascimento AD.

1618, como eu escutei de sua própria boca; igual aquela da colônia Hopeful, eles

incubiam eles mesmos nos in the Quarels dos índios, assistindo os Supanes contra

outra nação(...)”310.

Percebemos que os colonos holandeses fazem plantações de tabaco em escala

considerável, além de outros tipos igualmente rentáveis no mercado europeu como o urucum.

O que pressupõe o uso de mão-de-obra indígena, e para tanto, uma aproximação maior que as

feitas anteriormente pelos ingleses no Amapá. Portanto, as alianças intermitentes passaram a

ser permanentes, embora não saibamos como era estipulada essa aliança, podemos supor que

a base ainda era o pagamento em utensílios, talvez estipulada pela quantidade da produção.

Outra notável mudança de atitude foi a chamada “assistência” contra nações

inimigas dos Supanes, o que pode ser encarado como um pacto entre as lideranças indígenas e

holandesas para lidar com seus rivais. O recrutamento aparece aqui, ainda que seja um

recrutamento voluntário, baseado no envio de tropas ou guerreiros em caso de necessidade de

uma das partes. Neste caso o recrutamento estava inserido dentro do acordo ou aliança pelas

partes envolvidas.

Essa aliança com os Supanes acabou sendo prejudicada pela atividade guerreira

desse povo, que atacou a fronteira com outras nações aliadas dos portugueses, chamados de

Percotes, o que serviu para os mesmos fazerem suas campanhas militares para destruir a

colônia e expulsar os holandeses e ingleses do Amazonas em 1623.

No geral podemos caracterizar diferentes momentos da colonização praticada por

ingleses, irlandeses, holandeses na Guiana e Amazonas desde 1551 até 1621.

Num primeiro momento temos a chegada de ingleses em viagens exploratórias,

atrás de lendas, de riquezas escondidas e de uma área lucrativa. Nesses termos foram as

viagens de Sebastian Cabot, Walter Raleigh (1596) e John Ley (1598). Também podemos

caracterizar como a época dos contatos com alguns grupos indígenas moradores nas margens

do Amazonas e rios adjacentes como os Palikur, Galibis, Aruãs e Karipunas.

Depois temos a presença inglesa e irlandesa com finalidade comercial, ainda em

viagens esporádicas, mas já com alianças intermitentes com grupos indígenas contatados nas

primeiras explorações. Assim foram as viagens dos ingleses: Capitão Thorton, Willian Davies

e Robert Dudley (1607-08), Sir Thomas Roe (1610-11); e do irlandês Philip Purcell (1609-

310 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 164-65.

173

1621). Nesse mesmo período fora criada a “Amazon Company” (1619-21), cujas viagens ao

Amazonas tiveram como interlocutor o capitão Roger North.

Fora à parte, os holandeses fizeram seus primeiros contatos com os nativos entre

1615 e 1616. Montaram colônia sob o comando de Peeter Adriansen junto a tribos Supanes.

Em princípio tiveram oposição de ingleses e irlandeses, mas com o fim da “Amazon

Company” em 1621, muitos ingleses tiveram que ter apoio dos colonos holandeses para as

suas plantações, apesar de francamente serem opositores de nações não católicas na região.

Na corte inglesa, depois de terem de recuar frente às pressões espanholas no

Amazonas e terem de acabar com a “Amazon Company”, a maior preocupação dos

comerciantes e lordes era com as colônias do novo mundo, como a Virginia, que também

poderia ser reivindicada pela Espanha, dentro dos tratados ratificados pelo Papa Alexandre

VI. Contudo, muitos dentro do estado não desistiram da exploração do Amazonas, incluindo

Roger North, perdoado pelo rei James I por ter viajado ao Amazonas sem autorização.

Em Madrid todos os movimentos estrangeiros eram conhecidos, por meio de

informantes e dos embaixadores. As pressões feitas ao rei inglês deram resultado, mas ficaram

de fora das negociações os holandeses e irlandeses, além de alguns ingleses abandonados.

Depois de conversas entre o ex-governador do Brasil e autoridades espanholas, ficou-se

acertado que os portugueses fariam missões, primeiro exploratórias e depois de cunho militar

para a expulsão dos “estrangeiros” de suas terras. Temos então as missões militares contra os

colonos e um longo conflito pela posse definitiva da região norte.

174

CAPÍTULO IV:

A Conquista Ibérica do Amazonas ao Cabo do Norte:

As fontes portuguesas e espanholas, do período entre 1616 e 1618, parecem falar

de um mundo diferente do descrito pelos outros europeus. Com mais problemas e misérias,

decorrentes da carência de mão-de-obra escrava negra para suas plantações e do convívio,

nada amistoso, com algumas tribos. No entanto, temos que entender que essas diferenças nas

fontes são resultantes da cultura desses povos de origens e línguas diferenciadas, como a

historiadora Patrícia Seed nos aponta em relação às cerimônias de posse 311.

Mas, essas fontes portuguesas e espanholas, também “carregam de tinta”, e

exageram no fantasioso e no idílico, assim como os primeiros colonizadores ingleses. Uma

prova do que afirmo ao leitor é a carta de D. Francisco de Texada y Mendoza, datada de

fevereiro de 1617, e que nos revela como estava a situação nas imediações da conquista do

Pará naquele ano:

“(...). Los españoles an procurado por la guayana, que es una gran província

continuada com el nuevo Reyno de Granada, descubrir el dorado, y el lago ó laguna

grande de Parima que esta debajo de la Equinocial, en cuya Ribera se diçe que esta

la gran cuidad de Manoa, de quien se referen por tradiciones, tan notables cosas de

grandeza, riqueza y abundancia: y en esta porfia se a perdido tanta gente y hacienda

como el Consejo a visto, sin que hasta aora se aya hallado mas que algunos Indios,

que certificavam a los Españoles aver estado en la Ciudad de Manoa y las grandezas

della. (...)” 312.

Após conquistarem os territórios dos Incas, os espanhóis andavam a procura da

grande província de “La Guayana”, associada ao mito do “El dourado”. Também cobiçada e

procurada por eles era a cidade perdida de Manoa, uma cidade que teria grande riqueza em

ouro e que ficaria localizada nas margens de um lago ou lagoa chamada Parime ou Parima.

A cidade de Manoa já havia atraído ingleses, como Walter Raleigh, e gente de

outras nações anos antes. No entanto, agora fixadas as bases da colonização ibérica, com a

construção do forte do presépio na foz da baía do Guajará, a disputa por essas ditas riquezas 311 SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). São Paulo: Editora UNESP, 1999. 312 Carta de L.do D.Francisco de Texada y Mendoza, sobre la poblacion del Rio Marañon...In: ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 367-8.

175

com os outros europeus estabelecidos nas Guianas, impõe aos Espanhóis tomarem uma

atitude com a finalidade de garantir e proteger áreas consideradas suas por direito.

“Los estrangeros, y particularmente yngleses an escrito relaciones de cosas notables

desta província del dorado, y de lo que entendieron entrando por el Rio de las

Amazonas; y el Marques de Salinas, tiene una carta que le dio don Joan de

Mendoça, em que se descrieven estas provincias, y otra vino a la Junta de Guerra

estando yo en la Corte haya en Olanda, aunque diferencia mas de un grado en el

sitio de la ciudad de Manoa, que sigun se muestra por el Globo de Ticobrain, que es

mas nuevo y mejor que ora a venido, está en grado y medio de Altura, y assi si es

verdad lo que entendieron los Portugueses que aora an poblado en el Rio de las

Amazonas tengo por cierto que el fin principal de los estranjeros, de quien se dice

que ay navios e fortificacion El Rio arriba, es hallar esta ciudad; y por lo que

mostran las Cartas y globo, un braço del Rio de las Amazonas, viene a alcanzar

cerca del Lago de Parima, y quando no consiguiren esto (porque podria ser sueño lo

del dorado) con el tiempo y ocassiones entrando por el Rio adelante podrian

ynquietar y dar mucho en que entender a las provincias circunvecinas; pues este Rio

y sus braços atravesan toda la tierra firme y Perú, llegando casi ao mar del

Sur.(...)”313.

De tudo o que foi escrito na fonte documental acima, nos chama a atenção o

conhecimento, por parte do governo espanhol, de tudo o que acontecia nos países estrangeiros

como Holanda, além de terem conhecimento das viagens praticadas pelos ingleses na Guiana.

O contato com os ameríndios parece ter contribuído e até incentivado a busca

pelas cidades perdidas, ao revelarem a existência de Manoa, por exemplo. Mesmo que em

mitos não muito compreendidos pelos brancos.

Os indígenas, nesse aspecto, serviam de informantes e sem perceber contribuíram

para o destino de suas tribos, ao contarem tais histórias fantásticas aos viajantes em cânticos

como o Turé. Nesses cânticos, os Palikur e Galibis contavam (e ainda contam nas poucas

reservas) histórias de riquezas e guerras, que ora fizeram parte do seu passado ou que estavam

associados ao seres míticos que veneravam “neste plano terreno” ou “no outro” 314.

313 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p. 368. 314 Os mitos de guerra entre os Galibi e os Palikur foram estudados por Lux Vidal. Neles, a guerra põe diferentes domínios “este planeta”, dos Palikur e os “do outro mundo”, dos inimigos. In: VIDAL, LB. Mito, História e Cosmologia: as diferentes versões da guerra dos Palikur contra os Galibi entre os povos indígenas da Bacia do Uaçá, oiapoque, Amapá.In: REVISTA DE ANTROPOLOGIA. USP, vol.44, n.1, 2001, p.117-47.

176

Estudar a busca dessas cidades pelos europeus, nos permite compreender melhor

às intenções dessas nações acerca do rio Amazonas e de seus povos. Além da grande busca

dessas riquezas pelo norte amazônico, o fato dos espanhóis conquistarem as cidades dos

povos da chamada mesoamérica, conhecedoras de ouro e prata, contribuíram ainda mais para

uma idéia errônea de que havia ainda mais ouro nessas partes a ser encontrado.

A carta citada, feita em Sevilha, por D. Francisco Texada y Mendoza, também nos

faz revelações acerca de como havia rivalidade entre os grupos indígenas da Guiana, e como

os europeus se valeram delas para fazer alianças com tais grupos:

“Algunas poblaciones de Estranjeros de muy poça consideracion que ay cerca del

Rio Guayapo, ciento e cinqüenta leguas de la Trinidad, y desto se a tenido noticia

por los yndios Aruacas que son amigos de los Españoles y enemigos de los caribes

con quien comercian los estranjeros, y a lo que mas se estiende es a decir que tienen

un fuertezuelo donde ay treinta ó quarenta hombres, que no pueden ser el que dicen

los portugueses, porque a de estar en mucha mayor distancia, y los que hicieron

estas poblaciones no entraron por el rio de las Amazonas, sino costeando por la

vanda del norte como se afirma. (...)”315.

Os grupos Caribes comercializavam com os “estrangeiros” e os Aruacas (variação

de Aruak) com os Espanhóis. Isso acontecia entre o rio Guayapo e a ilha de Trinidad, numa

área grandemente disputada por espanhóis, ingleses, franceses e holandeses. As informações

dadas revelam uma percepção de distância que nos mapas às vezes eram discordantes. Isso

por causa das escalas dos mapas, ainda imprecisas, e que faziam regiões distantes parecerem

mais próximas. A passagem norte do Amazonas, incluindo o Cabo do Norte e o rio Pará, era

algo desconhecido para uns e uma realidade para outros316.

O ano de 1619 ainda não havia terminado e as revoltas dos grupos Tupinambás

contra a presença portuguesa, na porção leste do território continuavam. As aldeias rebeladas

ainda foram atiçadas por elementos de dentro da própria companhia militar que tinha por

finalidade pacificá-las. Caso dos dois principais, Jaguará baior e Jaquitingua, pertencentes à

315 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 367-69. 316 A cartografia da região Norte da América do Sul foi por muito tempo variante e dependente das informações dos viajantes. Geralmente os mapas holandeses e ingleses continham informações precisas da Guiana ao Cabo do Norte e Amazonas, mas não precisavam as áreas limítrofes como o Rio Pará, Tocantins e a Baía do Marajó, entre a ilha do Marajó e o Grão-Pará (exemplo disso é o “Atlas Major” de G. Blaeus, 1662). Já os mapas confeccionados para os portugueses e espanhóis, ainda que mais precisos, tinham problemas no lado do Canal do Norte e Amapá. Para um estudo dos mapas: ADONIAS, Isa. A cartografia da Região Amazônica: catálogo descritivo (1500-1961). Rio de Janeiro, INPA, 1963.

177

companhia militar de Bento Maciel Parente. Esses dois Tupinambás utilizaram práticas não

usuais dentro das sociedades indígenas, mostrando conhecimento das táticas dos brancos. E

fizeram o que puderam para explodir uma revolta ainda maior do que a que já acontecera

anteriormente no Maranhão e Pará, conforme o leitor pôde constatar no segundo capítulo.

No presídio do Pará havia muita necessidade de investimentos, pois tudo faltava,

desde armas e munições para a luta contra os Tupinambás rebelados, até alimentos e

provisões, o que gerou fome e a fuga de várias tribos aliadas para o interior. Houve também

fuga das tribos rebeladas para o interior, privando os colonos portugueses de mão-de-obra

escrava para as plantações. Note leitor, que tanto as tribos consideradas aliadas quanto às

tribos rebeladas eram aprisionadas no sertão, o que geralmente enfurecia os primeiros

religiosos que chegaram ao norte317.

Como vimos a corte espanhola tinha uma ampla visão de tudo o que acontecia

nessa região, apesar de muitos autores como Joaquim Francisco Serrão, fazerem críticas ao

governo dos Felipes por negligenciar as colônias318.

Mas, como o rei poderia ser negligente se esteve totalmente a par das “visitas” da

“Amazon Company”? Esta companhia inglesa foi criada pelos comerciantes e nobres

ingleses, com a finalidade de colonizar e comercializar os produtos obtidos nas terras

amazônicas.

Felipe III, por intermédio de Gondomar, seu embaixador na corte inglesa, vai

conseguir convencer o monarca James I a não dar apoio oficial às viagens ao Amazonas, em

especial, as viagens do capitão Roger North.

Em 1620, North criou um incidente diplomático entre Inglaterra e Espanha ao

viajar trazendo soldados e armamento pesado para a região Amazônica. Sem permissão do

soberano inglês, a “Amazon Company” foi extinta e North preso por ordens do Rei James I,

como vimos mais detalhadamente no capítulo anterior319. Contudo, isso não impediu que

colonos já estabelecidos, ingleses e irlandeses comercializassem sua produção de tabaco, cana

de açúcar e outros gêneros, pactuando com holandeses, fortemente equipados e que garantiam

317 Segundo John Manuel Monteiro ao longo do século XVII os colonos viram que o “remédio para a pobreza” era o cativo indígena, pois oferecia um ponto de partida para os jovens colonos e sertanistas que os caçavam. MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p.85. 318 Segundo palavras de Serrão: “a ‘chama’ que levou os portugueses a se libertarem do domínio espanhol aconteceu primeiro em solo brasileiro devido o seu “calamitoso governo”. SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Do Brasil Filipino ao Brasil de 1640. Coleção Brasiliana n. 336. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968, p.2. 319 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 190-203.

178

viagens para a Europa em suas naus, provavelmente recebendo em troca uma porcentagem

dos lucros, apesar da oposição demonstrada por alguns católicos irlandeses.

Em abril de 1621, as atividades dos comerciantes ingleses na Amazônia são

restabelecidas com o perdão dado ao capitão Roger North e autorização oficial inglesa para

continuarem as colônias nessa região320.

O período seguinte será feito por lordes e comerciantes ingleses independentes,

que por conta própria fizeram investimentos na região do Amazonas, mesmo com o risco de

perderem tudo com um ataque português às suas terras. Alguns tiveram apoio dos colonos

holandeses e de seus capitães, para a defesa conjunta de suas plantações e construção de

defesas contra o inimigo.

No caso holandês, os investimentos a partir de 1621 serão feitos pela WIC

(companhia das Índias Ocidentais Holandesas) 321.

Como resposta, em 28 de julho de 1621, há uma consulta do conselho da fazenda

para o rei Filipe III, sobre a carta do capitão-mor do Pará Manuel de Sousa de Sá, contando a

necessidade de missionários para doutrinarem os indígenas e evitarem “heresias” pregadas

pelos estrangeiros do norte:

“(...) grande necessidade (...) de religiosos que insine ao gentio daquellas partes que

são muitos a nossas da fé cathólica para que também se ata-lhe a falsa doutrina que

os estrangeiros que a elas vão pella parte do norte lhes insignão, (...)” 322.

Novamente a religião é pregoada como solução para a pacificação dos indígenas e

evitar a propagação da fé dos estrangeiros. Na carta especifica que os melhores missionários

seriam aqueles que conhecem a língua dos indígenas. Por isso indica duas ordens religiosas

melhores capacitadas: os padres da Companhia de Jesus e os padres de Santo Antonio. O

leitor deve se perguntar o porquê dessas duas ordens religiosas? Pela carta do capitão-mor,

eles já teriam aceitabilidade entre esses indígenas, o que pode indicar terem anteriormente

feito contato com os mesmos:

320 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 219-22. 321 A Companhia das Índias Ocidentais Holandesas foi criada oficialmente em 3 de Junho de 1621. GONSALVES DE MELLO, José Antonio. Companhia das Índias Ocidentais. In: HERKENHOFF, Paulo (org.). O Brasil e os Holandeses: 1630-1654. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999, pp.42-63. 322 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.20.

179

“(...) e porque as pessoas q entre aquelle gentio tem mor acleridade e crédito são os

padres da Companhia de Jesus e de Sancto Antonio que estão nas partes do Brasil e

há entre elles pessoas de letras e virtude e que sabem bem as línguas que podemos

fazer muito serviço (...)” 323.

A resposta do monarca ibérico, e do conselho, é que se envie o capitão-mor que

estava em Lisboa com dois religiosos de cada ordem para a conquista do Pará. Novamente no

documento escrito, fica claro que a razão de irem tais missionários da Companhia de Jesus e

de Santo Antonio era o bom conhecimento da língua dos indígenas locais:

“(...) ao governador do estado do Brazil a comunique com os gerais das religiões da

companhia de Jesus e da ordem de Sancto Antonio e da parte de VM lhe peça dois

religiosos de cada uma das ordens que saibão bem língoas p companhia do dito

capitão Manoel de Sousa deça vão com elle ao Grão-Pará para que insine aquelles

gentios as nossas da fé cathólica e trate de sua conversão (...)”324.

Ao leitor ficam algumas perguntas: para onde foram esses missionários ao se

estabelecerem no Pará? Quais os indígenas tratados no documento? Quem eram os

estrangeiros que propagavam falsa doutrina? Por que no documento não há qualquer menção

ao combate a esses estrangeiros que propagavam a falsa doutrina? Nesse momento parece ser

uma justificativa para intervenção armada no Cabo do Norte, e não a solução. Apesar das

ordens régias, vieram poucos missionários325. Aqueles que vieram, catequizavam os indígenas

que moravam nos arredores do Presídio do Pará.

O problema religioso não era somente do lado português. Entre os ingleses havia

católicos e protestantes, contudo, o rei James I era católico, assim como os colonos irlandeses,

que como vimos foram os primeiros a tentar converter os indígenas.

Os únicos eminentemente protestantes eram os holandeses, rivais em potencial da

coroa espanhola desde a luta emancipacionista dos estados holandeses, até então estavam em

uma trégua (chamada de trégua dos doze anos).

323 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.20. 324 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.20. 325 O padre Serafim Leite relata que apesar da corte deferir o pedido de Jesuítas ao Pará, o Procurador do Povo, temendo os Jesuítas se oporem ao aprisionamento de indígenas, negou a presença desses missionários. Apenas em 1636 que chegaria ao Pará o primeiro Jesuíta que foi Luis Figueira. LEITE, Serafin. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo III, Livro III, capítulo I, 1945, p.207. Já o historiador João Lucio de Azevedo afirma que em 1653 veio ao Pará o primeiro Jesuíta chamado João de Souto Maior. AZEVEDO, João Lúcio. Os Jesuítas no Grão Pará suas missões e a colonização. Serie Lendo o Pará, n.20. Belém: Secult, 1999, p.35.

180

Contudo, após a morte de Felipe III e a ascensão ao trono de Felipe IV, as

rivalidades entre as duas potencias aumentaram. O conde-duque de Olivares que recebeu

grandes poderes dentro da nova corte não aceitou renovar os tratados de paz com a Holanda.

Em 10 de agosto de 1621, a frota espanhola do almirante Fadrique de Toledo atacou a frota

holandesa em Gibraltar, dando início a uma nova guerra entre essas nações. As batalhas que

se seguiram tomaram um rumo inesperado para a Espanha. Em vez de batalhas navais abertas,

a marinha holandesa optou pela guerra de corso, atacando os comboios de caravelas que

saiam das colônias espanholas e do Brasil326.

A religião entrava como arma para conseguir não somente fieis para as igrejas,

mas também guerreiros e homens de contato com os grupos mais distantes e assim torna-se

um forte elemento de recrutamento dos indígenas, principalmente entre os ibéricos. Segundo

o cronista seiscentista Fernão Guerreiro: “quando algum inimigo ou corsário vem a ela, e

pretendem dar, ou desembarcar em alguma parte, que os índios à sombra dos padres são os

que lhe defendem a desembarcação e os desbaratam com suas flechas mais que os

portugueses com seus pelouros” 327. Todavia, ela ainda não seria a peça fundamental na

campanha, o que em parte justifica o longo período de conflitos com os estrangeiros.

Debates sobre o direito de combater os estrangeiros em Madrid:

As colônias de irlandeses, ingleses e holandeses não passavam despercebidas aos

olhos do rei de Espanha e Portugal. Entretanto, para enviar forças militares tinha primeiro que

ter certeza de qual parte das terras estava os “estrangeiros”, se nas terras pertencentes ao reino

português ou nas terras de Espanha. Isso tinha que ser feito para respeitar os tratados entre os

dois reinos quando da união das coroas ibéricas, após a assembléia das cortes em Tomar no

ano de 1581328. Nesses tratados, Felipe II concordou estrategicamente que garantiria a

independência do aparelho estatal português, de seu escudo e bandeira, até da manutenção das

326 Segundo Charles R. Boxer, os holandeses nas Índias Orientais nunca puseram em prática a trégua e tomaram rapidamente muitas colônias portuguesas. BOXER, Charles R. Os Holandeses no Brasil: 1624-1654. Coleção Brasiliana, n.312. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961, p.6. Sobre as batalhas navais entre espanhóis e holandeses. As Guerras Navais do século XVII. In: Coleções Grandes Veleiros. Barcelona: Edições Altaya, 2000, p.109-10. 327 Relaçam annual das cousas que fizeram os padres da Companhia de Jesus nas partes da Índia oriental e no Brasil, Angola, Cabo Verde e Guinem, nos anos de 1602-1603. Lisboa, 1605, p.114. Citado por: PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec: Editora USP: Fapesp, 2002, p.50. 328 SCHAUB, Jean-Frédéric. Portugal na Monarquia Hispânica (1580-1640). Coleção: Temas de História de Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 2001, p. 20.

181

antigas colônias por um conselho de estado português, embora pudesse nomear pessoas de

confiança para cargos importantes329.

Notemos que o estabelecimento desses “estrangeiros” foi em grande parte

beneficiado por essa divisão e por estarem alojados em áreas limítrofes dos territórios, bem

próximos da linha do tratado de Tordesilhas. Por causa disso, as autoridades lusitanas da

colônia (Maranhão e Pará) não fizeram esforço imediato para lidar com estrangeiros em terras

supostamente espanholas. Porém, isso muda conforme o avanço provocado pela colonização e

a procura de riquezas, além de indígenas para cativar, dada a migração ou fuga deles para o

interior.

Figura 21

Mapa de Bartolomeu Velho, datado de 1561, mostrando a Linha divisória do Tratado de Tordesilhas entre

Portugal e Espanha e o rio Amazonas.

Para resolver esse impasse administrativo, o rei Felipe IV de Espanha (III de

Portugal), convoca em setembro do ano de 1621 representações dos dois reinos, para

decidirem as formas de lidar com o problema. Convoca o Marques de Montes Claros e o ex-

Governador Geral do Brasil Gaspar de Sousa para sugerirem medidas a serem adotadas.

329 Felipe II utilizou vários artifícios para conseguir apoio a sua candidatura ao trono lusitano, inclusive da Imprensa em gravuras, textos e poemas. ÁLVARES, Fernando Bouza. Portugal no tempo dos Filipes: Política, cultura, representações (1580-1668). Lisboa, edições Cosmos, 2000, pp.41-107.

182

“Em uma consulta a qual o conselho fez em 24 de agosto desse ano, representações

foram feitas à sua majestade sobre o que o conde de Gondomar escreveu na

navegação, colonização, e no comércio o qual os irlandeses, holandeses, e ingleses

fizeram no rio Amazonas, a fim de desalojá-los do ponto que eles haviam tomado,

seria conveniente que vossa majestade estivesse satisfeito em comandar; navio bem

suprido fosse enviado para o reconhecimento daquelas costas e posto em fuga (...). E

o conselho estava de opinião, na consulta, que esse assunto pudesse ser considerado

nas assembléias de Portugal e Índias, e através desse tribunal, ou por ambas as

partes, a preparação e o despacho desse navio poderia ser despachada com muito

mais brevidade e vigor. Para o qual vossa majestade estava satisfeito em responder,

que o marques de Montes Claros deveria discutir esse assunto com Gaspar de Sousa,

ex-governador do Brasil, e o que deveria resultar dessa conferencia deveria ser

considerando nesse conselho, como condição que o conselho deveria opinar sobre

tudo (...)” 330.

Pelo documento fica claro o desejo de expulsar todos os colonos ingleses,

irlandeses e holandeses que estivessem nas terras ibéricas. Mais adiante, podemos perceber

que havia um desconhecimento de como estavam sendo defendidas muitas dessas colônias

naquele momento, isso por que as notícias da região chegavam defasadas no reino. Mesmo

assim, sabiam que havia possíveis fortificações holandesas, e que os irlandeses continuavam

os comércios com os indígenas.

“(...) Os irlandeses continuam com o comércio, apesar de que com menos forças; os

ingleses tinham apenas chegado naquelas terras; os holandeses, não se sabe se

fizeram alguma fortificação ou defesas; os franceses forem expulsos pelas armadas

enviadas para essa (objetivo) do Brasil, assim eles pretendiam retornar e ocupar a

foz de outro rio o qual eles chamaram de Gran Pará.(...)” 331.

A Sugestão dada pelos conselheiros ao soberano rei era a guarnição do rio

Amazonas por meio de fortificações. O controle do Amazonas seria feito com a construção de

fortalezas em pontos estratégicos, que guarneceriam a passagem para dentro do mesmo,

inibindo qualquer tentativa de fixação na região e impedindo o socorro de navios aos colonos

estrangeiros já situados rio acima. Além disso, de também possibilitaria o combate as

posições onde estivessem alojados.

330 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 233-36. 331 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.234.

183

“(...) Em todas aquelas as quais deveriam ser de tal largura que a artilharia não

pudesse alcançar de um lado a outro, ambos os lados deveriam ser guarnecidos de

fortes ou fortalezas. Assim não seriam reconhecidas as nações do norte, os portos

que lhes deveria estar aptos em encontrar lá fazendo armadas contra as índias

ocidentais, tão bem quanto os portos os quais, em qualquer ancoradouro daqueles

rios, seriam dados aos piratas para obstruir comercio mercantil de Cumaná,

Cartagena e Santo Domingo, e mesmo impedir as armadas e Flotas de vossa

majestade (...)” 332.

O ponto alto das discussões nesse debate foi sobre, a qual das partes da união

ibérica deveria caber o dever de comandar as expedições contra os estrangeiros: aos espanhóis

ou aos lusitanos? Apesar de ratificarem os direitos da Espanha àquela terra da Guiana pelo

Tratado de Tordesilhas, ficou evidente a falta de recursos dos espanhóis para comandar uma

expedição partindo das conquistas espanholas. Sairia muito caro aos cofres da coroa

expedições partindo de suas colônias no Caribe ou do vice-reinado do Peru.

“(...) Pela demarcação de Papa Alexandro o sexto, na divisão do mundo em duas

coroas, a de Castile e a de Portugal, toda terra e mar que se localiza a 180 graus do

rio Marañón para o ocidente pertence a coroa de Castile e deve ser conquistada e

colonizada. Apesar de, considerando o presente das forças de vossa majestade nas

índias Ocidentais, e da dificuldade e do custo mesmo que seja possível formar uma

armada e aumentar as colônias espanholas nas províncias vizinhas da costa, (...)”333.

O conselho ibérico e o rei Felipe concordaram que a melhor alternativa era que a

expedição ao Amazonas e Guiana deveria continuar pelo lado português, por estar mais

adiantado na colonização de suas terras, inclusive com uma fortificação no lado oriental do rio

Amazonas (Fortaleza do Presépio).

“(...), e considerando que os portugueses tomaram uma atitude bem adiantada, e que

podem continuar fazendo melhor nas redondezas do Brasil, parecia para ele que o

projeto poderia ser proseguido de lá. Visto que como eles já tinham um forte e uma

colônia no rio Amazonas a qual nós chamamos de Orellana e os índios do Grão Pará,

e que as noticias de colonização de ingleses e holandeses está na outra margem do

332 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.234. 333 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.235.

184

rio, seria possível do forte, com um ou dois botes de fundo plano, e pessoas

experientes passando ao longo do outro lado, para viajar ao longo do rio, fazendo uso

da maré, a qual passa cento e noventa léguas ao longo dele. Logo seria possível

ocultar deles o que há lá, pois, além do fato que os estrangeiros que podem ter

chegado lá não estariam preparados para irem mais adiante do ponto que a maré os

ajudariam, pela dificuldade das fortes correntes, é certo que nas margens do rio,

muito antes da colonização, o cultivo de roças e outros sinais poderiam ser

encontrados os quais os advertiriam da presença de estrangeiros (...)” 334.

A missão de expulsar os “estrangeiros” caberia então aos portugueses por estarem

mais adiantados na sua expansão colonizadora, não por descaso do rei espanhol, não pela

aprimorada forma com que os portugueses expandiram sua colônia, como alguns autores

apontam. Mas por consenso entre as autoridades ibéricas, que souberam tirar vantagem de

uma situação proveitosa335.

Antes de enviarem qualquer força militar, foi combinado que primeiro se fizesse o

reconhecimento das posições inimigas, quantos homens brancos tinham e quantos indígenas

aliados, suas defesas e fortalezas. Para tanto utilizariam as marés e barcos pequenos, de baixo

calado, como uma Chalupa, para chegarem próximos sem serem detectados. Somente depois

de observados e mapeados, os militares fariam uma força expedicionária com a finalidade de

destruir as colônias e expulsar os inimigos.

“(...) Tendo descoberto a verdade eles estariam prontos para cruzar o rio e retornar

pela costa pelo lado sul e, saindo da maré e das correntes favoráveis, em um

pequeno tempo eles chegariam ao forte de onde eles partiram informados de tudo

que há em ambas as margens dos rios. Logo seria possível chegar a uma decisão e

providenciar o que seria necessário para desalojar aqueles que estivessem lá. Em

ordem a executar isso com grande facilidade e se direcionar adequadamente para

esse propósito, representantes de ambas as coroas eram necessários, lhe parecia que

Vossa Majestade poderia ordenar que eles trocassem idéias juntos para tal. Logo

tudo viria para conclusão desejada e com a velocidade que estimula as ações

militares das tais províncias distantes (...)”336.

334 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.235. 335 HURLEY, Jorge. Belém do Pará sob o domínio Portuguez 1616-1823. Belém: Livraria clássica, 1940. 336 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp. 235-36.

185

Após a decisão do rei Felipe III em fazer as expedições militares contra os

colonos ingleses, irlandeses e holandeses, partindo do lado português, foi enviado ao

Governador Geral do Brasil ordens com esse objetivo.

Entretanto, alheios ao que acontecia na metrópole portuguesa e na corte em

Madrid, muitos capitães ao chegarem à vila do Pará não sabiam direito suas funções. Como

demonstra o requerimento do capitão do presídio do Grão-Pará, Manuel de Sousa de Sá, ao rei

Filipe III em janeiro de 1623. Pedia até ao Governador Dom Diogo de Carcamo, um

regimento particular, mas como o mesmo desconhecia muitos aspectos da região, acabou

fazendo o capitão pedir seus regimentos diretamente ao monarca ibérico.

O regimento particular, além de ser um guia das principais obrigações que deveria

cumprir, também era garantia de que tudo o que fez estava assegurado em seu regimento,

isentando-o de futuros problemas. O leitor com certeza lembra do regimento analisado no

segundo capítulo, do Governador Geral do Brasil à Bento Maciel Parente, sobre a forma de

como agir na guerra contra os grupos Tupinambá.

No documento agora observado o Capitão Manoel de Sousa de Sá, tendo em vista

a preocupação com os estrangeiros, defende uma proposta de mudança da fortificação de pau

a pique do presídio do Pará (forte do presépio), que estava em ruínas, para outro ponto do

rio337.

O mais importante neste documento é a proposta corajosa de fazer a expedição

pessoalmente contra os estrangeiros do Cabo do Norte:

“Se é VM servido que vá ele suplicante pessoalmente fazer os descobrimentos que

forem de mais importância, maiormente o do cabo do norte para assim desfazer as

feitorias que nele tem os estrangeiros; e expeli-los dele”338.

Prosseguindo, diz ele que a conservação da conquista e o seu aumento dependem

da paz com os indígenas, que se consegue por meio de pagamentos feitos em mercadorias

conhecidas como dádivas:

“(...) que a conservação e aumento da dita conquista consiste na paz com os naturais

dela, principalmente com os capitães e governadores das povoações e que esta se

337 Essa proposta aparentemente é negada por falta de recursos e, no mais, somente repara-se a mesma reforçando suas muralhas e consertando as carretas dos canhões, que por serem de madeira rapidamente estragavam com a umidade local. Para mais detalhes do forte do presépio. COIMBRA, Oswaldo. A saga dos primeiros Construtores de Belém. Belém: Imprensa Oficial do Estado, 2002. 338 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.23.

186

adquire por meio de dádivas, pelo que convém mandar VM sendo servido causa

particular que o capitão da conquista lhes possa dar parte de VM para assim os

obrigar”339.

As dádivas eram os objetos dados aos principais das aldeias em geral, para

conseguir deles a mão-de-obra necessária ao trabalho. O leitor deve notar que isso era válido

para que os indígenas continuassem em paz com os portugueses. Esta forma de aliança

estabelecida com os indígenas era, antes de tudo um pacto. A quebra desse pacto não

significava a guerra como acaba sugerindo a fonte, significava que o seu descumpridor não

era confiável.

Para os portugueses, os indígenas que recebiam as dádivas tinham que trabalhar

para recebê-las, para os indígenas não recebê-las no final do trabalho era o fim do pacto, da

sua ajuda no futuro, em qualquer outro assunto, como por exemplo, a guerra. Daí a prática da

dádiva ser importante ao bom convívio entre as partes e, talvez um precursor da economia de

troca conhecida genericamente por escambo340.

Ainda neste documento, o capitão pede recursos para lutar contra os estrangeiros:

duas embarcações pequenas à vela, botica, cirurgião, bandeira e tambores. Dos pedidos feitos

não sabemos se foram todos atendidos, posto não haver documento de resposta. Contudo,

percebemos que todos os pedidos são de caráter militar com um único objetivo, a campanha

contra os tais “estrangeiros”. As dádivas então, antes de garantir a paz com os indígenas,

possibilitavam garantir o apoio dos principais das aldeias do Pará na campanha que seguiria.

Ainda prevalece a idéia dentro dos governantes da conquista que o domínio e

segurança da mesma dependiam do bom convívio com a população indígena, embora neste

caso utilize as dádivas para se conseguir tal apoio. O uso prático desse mecanismo era comum

entre portugueses, ingleses e holandeses, variando apenas nos tipos de mercadorias e

quantidade.

339 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.23. 340 MARCHANT, Alexander. Do escambo à escravidão: as Relações econômicas de portugueses e índios na colonização (1500-1580). Coleção Brasiliana, vol.225. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943.

187

Primeira fase da Campanha ibérica: Ataques diretos às colônias

anglo-holandesas (1623-1631):

Nesta fase da campanha militar contra os estrangeiros, prevaleceu o ardor

militarista português em reviver as grandes campanhas e batalhas do passado, como nas

cruzadas341. Por isso a tática adotada foi a de ataque direto aos fortes.

Partindo dos documentos do capitão Aires de Sousa Chichorro, podemos ter idéia

dos primeiros combates entre esses estrangeiros e os portugueses na região do Cabo Norte.

Seu depoimento, contraposto ao de outros que estiveram presentes nas contendas, incluindo

os próprios inimigos, ingleses e holandeses, servem para nos mostrar uma nova visão dos

fatos contados, contrapondo com os dados escritos por antigos historiadores como Vianna342.

Os documentos do capitão Chichorro têm muita propaganda de seus feitos, isso

devido ter a intenção de conseguir sua nomeação de sargento-mor da conquista do Pará,

fidalgo e cavaleiro do hábito de Cristo. Resume por isso os seus atributos como forma de

atestar competência para o título que pretendia343. Foi uma falha grave entre os portugueses

tentar usar a guerra como plataforma para as suas carreiras. Isso acabava por expor

desnecessária e perigosamente suas tropas ao fogo inimigo.

Anexo ao seu documento, uma série de certidões dos demais capitães, atestam a

veracidade de seus feitos e também servem de instrumento para a análise dos acontecimentos

relativos à guerra, os índios e os estrangeiros. Um desses militares com os quais serviu, foi o

capitão-mor do Pará Bento Maciel Parente. Na primeira viagem ao rio das Amazonas, para

desalojar os holandeses e ingleses que estavam fortificados em trincheiras e fortes no ano de

1623:

“(...) e por mandato do dito Capitão mor foi elle sup. por duas vezes acompanhado

de seus soldados, a dar nos ditos inimigos olandeses, e ingleses, os quais desalojou,

queimando-lhe duas casa, fortes que tinhão feitas, e tomando-lhes muitos petrechos

de guerra, e algumas mercadorias, e lhes seguiu o alcance; matando-lhes muitos na

retaguarda alguns dos seus, em o que tudo receberão grande dano(...)”344.

341 A morte de D. Sebastião era uma memória ainda dolorida para o orgulho português. Uma vitória contra os estrangeiros recuperaria o orgulho e a vontade feridos e impulsionaria os militares portugueses para uma retomada da época de ouro da monarquia. 342 VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905. 343 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 344 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36.

188

O capitão-mor do Pará Bento Maciel Parente conta que, acompanhado do capitão

Chichorro, foram ao rio das Amazonas com a maior parte da companhia (soldados e índios).

Chegando à região das colônias e possessões inimigas, atacaram os holandeses e ingleses,

estabelecidos em diversos tipos de habitações e defesas:

“(...) foi comigo a dita conquista o Capitão Aires de Sousa Chichorro como mor

parte da gente de sua companhia o qual em todos os encontros que teve em terra

com os inimigos olandeses e ingleses ganhando-lhe casas, fortes, e hua trincheira

nellas se achou o ditto capitão Aires de Sousa Chichorro fazendo em todas ellas o

que convinha o valoroso capitão (...)”345.

Note que os termos casas, fortes e trincheiras aparecem separados por vírgula no

documento original, o que indica a presença real de fortes e não de casas fortes como sugerem

autores antigos. A diferença parece pequena, mas os fortes são armações mais protegidas e de

maior poder de resistência que apenas casas fortes - equivalentes a casamatas modernas -

escondidas e sem as características que definem um forte ou uma fortaleza (fosso, baluarte,

barbeta, paiol, etc.) 346.

“(...) e por duas vezes o mandei a elle pessoalmente com soldados e índios bastantes

a dar no inimigo tomando-lhe duas casas fortes ao inimigo. E indo-lhe no alcance

lhe matou na retaguarda algum gentio do seu aliado q com elles hia, e as casas pos

fogo, queimando-lhe juntamente muitas grangearias de fumais de que lhes recebeu o

inimigo muita perda, tomando-lhe muitos petrechos de armas, e despojos (...)”347.

Nota-se agora o não uso de vírgula, especificando que essas eram casas fortes de

madeira. Isso parece de pouca serventia para o nosso estudo, mas para os antigos

historiadores, acabou sendo um fator para concluírem que essas ocupações não tiveram

importância na colonização da região, daí dedicarem-se muito pouca a elas348.

345 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 346 MOREIRA, Rafael (direção). História das Fortificações Portuguesas no Mundo. Lisboa: Publicações Alfa S/A, 1989. 347 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 348 Apenas alguns poucos perceberam a importância da colonização desses estrangeiros na conquista e fixação portuguesa na Amazônia. Entre eles destaco Vianna e Augusto Meira Filho. MEIRA FILHO, Augusto. Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará. Vol.1, 1ª edição. Belém: Grafisa ed. Globo, 1976. Mas, assim mesmo, Vianna diz no seu estudo das fortificações que deviam ser simples e provisórias, “levantados com os parcos recursos dos colonizadores”. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.229.

189

Apesar de não citar números ele nos dá a entender que os indígenas aliados,

provavelmente Tupis, eram em grande quantidade e suficientes “para dar no inimigo”,

provavelmente Aruãs. Também importante no seu depoimento é a abordagem da tática

adotada por Chichorro no ataque aos indígenas inimigos. Atacava sempre por trás, “na

retaguarda”, mostrando uma possível fragilidade de sua companhia em combates diretos,

compostos por ataques frontais ao inimigo. Ainda que o capitão Chichorro afirme que essa

tática partiu de sua iniciativa, podemos pensar que a mesma partiu dos próprios indígenas

comandados por ele, pois tal tática fortuita entre os Tupinambás era muito comum, conforme

estudos de Florestan Fernandes349.

Os usos de flechas incendiárias e de folhas de pimenta podem ter sido os

instrumentos para a destruição das casas fortes (feitas em madeira e palha) e expulsão dos

seus ocupantes. As flechas de pimenta serviam como o gás lacrimogêneo em ambientes

fechados e pouco ventilados, fazendo os olhos inimigos arderem. Como vimos no segundo

capítulo, era uma arma comum entre os grupos Tupinambás350.

Também foram destruídas as roças de tabaco e plantações de cana, que holandeses

e ingleses plantavam utilizando mão-de-obra indígena e eram os principais produtos

exportados351. “(...) e pela segunda na instancia do Capp.am Cornélio o mandey também em

seguimento do dito inimigo inglês não lhe podendo dar alcance o mandei recolher

por ser noite, e contudo lhe matou na retaguarda outro muito gentio dos aliados dos

ditos ingleses que com eles se hiam, e na ocasião que tive de no mar com hú navio

holandês bem petrechado de gente e munições que nos vinha impedir o passo se

achou o ditto capp.am the o metermos no fundo, he nos assaltos de terra teve muito

grande trabalho (...)” 352.

Agindo sempre pela retaguarda e a noite, Chichorro conseguiu desbaratar as tribos

Palikur e Aruã aliadas dos ingleses, que desta vez fugiram. Notemos que as fontes

portuguesas não contabilizam nem o número total das tropas portuguesas, nem o das tropas

inimigas, dizendo no máximo que eram muitas353. No aspecto numérico, as fontes

349 Segundo Florestan, “apesar do equipamento cultural, os guerreiros defrontavam-se nos combates singulares ou coletivos, com a mentalidade do caçador que presegue uma presa”. In: FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, pp.39-66. 350 FERNANDES, Florestan. A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá. In: Revista do Museu Paulista, Nova Série, vol. VI. São Paulo, 1952, pp.21-39. 351 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 352 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 353 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36.

190

documentais portuguesas quase sempre serão imprecisas, utilizando palavras como “muitos”,

“muitas”, “grande número”, para expressar a quantidade de inimigos354.

No combate fluvial seguinte, Bento Maciel não entra em detalhes quanto à tática

adotada para naufragar um navio grande e bem armado. Segundo os historiadores navais, tais

navios tinham madeira muito seca nos conveses, aliando a isso pólvora, e outros elementos

incendiáveis, tais como as velas de pano. Navios muito grandes, como os galeões eram muito

vulneráveis ao ataque das canoas rápidas e dos exímios arqueiros das companhias militares355.

O Padre Luiz Figueira, a sua maneira, relata esses episódios num documento

intitulado “Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e Grão-Pará, assim de paz

como de guerra, contra o rebelde holandês, ingleses, e franceses e outras nações” 356. Diz ele

que realmente foi o capitão Bento Maciel quem “por várias vezes tomou os holandeses, que

faziam fumo, e outras feitorias”, coincidindo suas informações com as que pude averiguar.

Sobre o afundamento do navio holandês, Luiz Figueira afirma que duas ou três

canoas com 6 ou 7 portugueses atacaram o seu leme de tal forma que obrigou seus ocupantes

a porem fogo na embarcação antes de caírem nas mãos inimigas357. Ainda que confirme a

destruição do navio, as causas de sua destruição variam muito. Luiz Figueira, como

missionário, talvez não quisesse colocar a culpa do incêndio apenas nos indígenas, pelos quais

tinha muito apresso, e não entra em mais detalhes sobre o episódio.

No mesmo ano, Aires Chichorro ajudou o capitão-mor do Pará no castigo aos

Tapuias rebelados e, que segundo o mesmo, pelejavam com setas ervadas. Essa descrição leva

a crer que tais grupos seriam na verdade os Ingahibas, conhecidos pelas “setas ervadas” que

fala o capitão. Novamente Chichorro, comandando a frente das tribos Tupis aliadas, foi

fundamental para vencer os Tapuias:

“(...) E tratando o dito Capitão mor de castigar os gentios dos Tapuizos, agente

belicosa e q peleja com setas ervadas, enviou a elle sup. em quatro canoas com onze

homens para que ajuntasse o gentio amigo q pudesse, e o levasse ao sargento mor

Antonio Teixeira de Mello, para q fosse pelejar com o gentio indolente, e elle sup.

354 Refiro-me aqui as fontes documentais militares dos portugueses. No caso das fontes documentais de religiosos havia uma grande preocupação em detalhar números, datas e nomes. Contudo, nem sempre vão estar presentes nas lutas contra os estrangeiros. 355 Coleções Grandes Veleiros. Barcelona: Edições Altaya, 2000, p.109-10. 356 Sobre Luiz Figueira e sua obra: LEITE, Serafim. Luiz Figueira a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias, 1940, p. 168. 357 O Fato também foi referido por Baena. BAENA, Antonio Ladislau. Compêndio das Eras da província do Pará, p. 28.

191

se houve com tanta diligencia, que levou consigo setenta canoas de gentio, que

entregou ao sargento mor,(...)” 358.

A luta foi em canoas no meio do rio. Sua força contava com o sargento-mor

Antonio Teixeira de Mello, mais onze homens em quatro canoas, além de setenta canoas de

indígenas de nação ignorada, possivelmente Tupis. Também não há total de forças do

inimigo, apenas relata que a sua canoa livrou outras duas do assédio dos rivais, demonstrando

que havia mais inimigos.

Esse combate parece ter uma relação com os estrangeiros, pois aparece nas fontes

junto com a narração dos combates aos mesmos. Entretanto, na certidão de Bento Maciel

Parente, sobre esse mesmo episódio, ele diz que as razões para o ataque seriam a morte de um

língua e alguns índios da nação Xpáo, que eram recrutados da sua companhia:

“(...) sertifico que tendo por nova certa que ho gentio dos Tapuisus avião morto a

nosso língua e a outros índios xpáos que em sua companhia andavão determinei

mandar castigar o atrevimento do dito gentio mandando levantar a gente que estava

no forte do Gurupá com o capp.am e sargento mor Antonio Teixeira de Mello e para

que em mais fervor desse o castigo mandei desta fortaleza mais ao capp.am Aires de

Sousa Chichorro em quatro canoas com onze homens (...)”359.

Do final dessa expedição punitiva, existem poucas informações, exceto o fato de o

capitão Chichorro conseguir levar mais setenta canoas de recrutados para a luta que aconteceu

no meio do rio:

“(...) sendo aquele gentio mui belicoso e de flechas ervadas e por informações foi

que o dito Capp.am com sua canoa livrou duas nossas dos inimigos as quais se

alagavão e o inimigo ouvera de matar a gente dellas sem falta, e nisto e no demais

fez mui grande serviço a sua Magestade (...)”360.

Os Tapuias (ingahibas) foram derrotados e possivelmente fizeram as pazes com os

portugueses, mas a guerra contra os ingleses irlandeses e holandeses estava apenas

começando. Podemos dizer então, que as primeiras escaramuças começaram com o ataque da

companhia de Bento Maciel Parente no ano de 1623. Contudo, as fontes irlandesas, que

358 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 359 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36. 360 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.36.

192

descrevem as ações militares portuguesas do mesmo ano, contam versões diferentes para o

fato, ainda que praticamente com o mesmo desfecho.

Nessas fontes, os portugueses foram atacar os colonos ingleses após terem feito

aliança com indígenas chamados Percotes, em guerra com os Supanes que plantavam tabaco

com os ingleses. Foi o seu apoio aos indígenas aliados que fizeram os portugueses

intervirem361.

“(...). Essas eram as duas primeiras viagens do almirante De Ruyter, a primeira

viagem nos anos dez, e a segunda nos anos doze (exatamente assim) idade de seu

nascimento AD. 1618, como eu escutei de sua própria boca; igual aquela da colônia

Hopeful, eles incubiam eles mesmos nos (...) dos índios, assistindo os Supanes

contra outra nação. Chamados de PERCOTES, que estavam em aliança com os

portugueses, isso fez com que esses índios proporcionassem a eles grande

perturbação; eles acompanharam os portugueses em seus navios para atacá-los,

porém isso não os fez mestres deles mesmos, de seu forte, e sua plantação (...)”362.

O texto, não muito claro, indica que apesar da vitória lusitana, há destruição do

forte e morte de muitos ingleses e holandeses. Os sobreviventes permaneceram nos seus

povoados e forte, demonstrando resistência à fuga e um desejo de permanecer em suas terras.

Esses colonos ficam até a chegada de dois navios que os levaram de volta a Europa.

“(...) ainda muitos ingleses e holandeses mortos e feridos; dois navios vindos no ano

de 1623. Todos embarcaram com o que tinham de volta a Holanda; trazendo com

eles considerável riqueza adquirida pelo comércio com os índios; obtinham grande

quantidade de Amber Greace (sebo de âmbar), e outras coisas de valor, além do

tabaco o que estava com o preço bastante elevado, pelo menos vinte shillings por

pound (medida de peso aprox.453,3g). Assim terminou essa esperançosa colônia

361 Sobre essa guerra existem poucas informações, inclusive sobre os grupos envolvidos. Não existe informação sobre os grupos Supanes e Percotes no Handbook of south american indians nem no Mapa etnológico de Curt Nimuendajú. Contudo, num artigo de Denise Schaan encontrei a referencia a uma guerra envolvendo os Sacacas, que habitavam o centro da ilha do Marajó e os Aruãs. Nessa guerra os Aruãs, possivelmente os referidos Supanes, atacavam constantemente os Percotes (Sacacas), até que estes últimos pediram proteção às autoridades portuguesas. Ainda segundo Denise, os Aruãs mantinham contatos com os holandeses. In: SCHAAN, Denise Pahl. Evidências para a permanência da cultura Marajoara à época do contato Europeu. In: REVISTA DE ARQUEOLOGIA, n.12-13, 1999-2000, p. 37. Vale ainda ressaltar que os Supanes aparecem em fontes documentais nas áreas dos grupos chamados de Caripunas, portanto ainda considero o debate sobre esses grupos em aberto. 362 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 163-65.

193

que partiram com seus vizinhos os índios Supanes, com grande problema; tendo seis

anos juntos. (...)”363.

Foram com toda a sua produção, indicando que nem tudo fôra destruído. Levaram

sebo de âmbar e tabaco, para comercializar na Europa. Porém, tiveram que abandonar seus

aliados de seis anos, os Supanes, como chamavam as tribos Karipunas.

Robert Hartcourt também escreveu sobre esse combate. Mais detalhista que os

demais, ele conta que da Espanha chegaram ao rio Amazonas, três navios de guerra com a

intenção de atacar as colônias inglesas e holandesas. Isso parece estranho, se levarmos em

conta os acordos entre portugueses e espanhóis. Mas, como são fontes inglesas, as rivalidades

comumente eram mais marcantes com os espanhóis nesse lado do Atlântico e nas Antilhas:

“(...) fizeram um despacho para Espanha, para procurar uma força para vencê-los e

arruiná-los: em conseqüência do que três navios foram enviados da Espanha, que

tinha suas direções e procurações para atacar o Brasil, e levar até lá uma força

competente para desempenhar no mesmo; (um tentativa feita pelos espanhóis para

arruinar os ingleses) o qual navios com 300 portugueses e espanhóis acompanhados

com aproximadamente 1500 de seus índios em seus Periagos vieram ao rio na

perseguição desse plano,(...)”364.

Tal expedição contava com uma força de 300 soldados portugueses e espanhóis,

além de 1500 indígenas em canoas chamadas Periagos. Essa informação confirma os dados

escritos por Chichorro, que afirma ter conseguido a adesão de 70 canoas de guerra dos grupos

aliados. Antes de chegarem às povoações e fortes dos ingleses e holandeses foram avistados

pelos indígenas recrutados pelos inimigos:

“(...), mas sendo obrigados a parar muitas marés, e passar muitos canais estreitos,

antes que eles pudessem vir para nossos compatriotas, eles eram observados bem de

perto por eles e seus índios, que muitos de seus mencionados inimigos foram mortos

em emboscadas no caminho, abrigos fechados servindo do nosso lado para uma

bastante redução de pessoas; o qual a vantagem era ainda seguir os inimigos depois

que eles se alojassem (...)”365.

363 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p. 163-65. 364 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42. 365 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42.

194

Não sabemos com quantas tribos indígenas contavam os ingleses e holandeses

neste momento do conflito, no entanto sabemos que eram muitos e que por meio de suas

emboscadas reduziram gradativamente a força ibérica. Para Hartcourt, a melhor hora de

atacar era quando o inimigo parava para descansar, contudo a falta de pessoal e de vontade do

“governo” das colônias prejudicou estas ações:

“(...): mas pela razão da vontade do governo, e pelo nosso pequeno numero que

espalhados, alguns não, e outros que não poderiam convenientemente se reunir, meio

(pelo menos) foi dado para os inimigos, hasteando bandeira mais adiante no país e

nas partes dentro da ilhas (onde eles possam permanecer seguros contra uma grande

força) então os inimigos não teriam audácia para futura tentativa,(...)”366.

Nesta versão dos fatos, narrados por ingleses, os portugueses e espanhóis foram

atacados em emboscadas por indígenas aliados, possivelmente os Aruãs, em número ignorado,

e capitaneados por reduzido número de ingleses e holandeses.

Os portugueses comandados por Bento Maciel Parente se retiraram em

desvantagem, após terem “danificado” algumas casas.

“(...) depois de danificarem algumas casas, foram forçados a se retirarem para seus

navios, e deixar o rio, deixando alguns de seus homens, então para começar a atual

possessão, a qual o conde de Gondomar afirmou a dois anos sendo de interesse de

Vossa Majestade, quando ele obteve a suspense da supracitada patente do

Amazonas, e todos os procedimentos com referencia a isso; o qual seu ato, pode

(talvez) pode ser estimado no numero de suas melhores praticas entre nós”367.

Interessante neste momento é a citação de que alguns homens (portugueses ou

espanhóis) ficaram no rio, para fazerem uma possessão. O que segundo Hartcourt, daria

legitimidade a coroa ibérica de reivindicar as terras ao governo inglês, como anteriormente já

fizera com seu embaixador Gondomar, e que resultou na suspensão da “Amazon Company”,

como vimos no capítulo anterior.

366 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42. 367 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42.

195

“(...) (Os holandeses mortos pelos espanhóis) o planejado plano para nossos

homens, foi dolorosamente, ao mesmo tempo, foi posto em pratica em vários

holandeses, para a perda se suas vidas, pois eles estavam não tão bem assentados, e

mais abertamente expostos aos inimigos nas margens, ou em ilhas do rio principal,

(fortes holandeses de Orange e Nassau no Xingu)”368.

Outro aspecto mencionado por Hartcourt foi o plano inglês e irlandês para

enfraquecer e expulsar os holandeses do rio Xingu. Tal plano consistiu em deixar que os

ibéricos atacassem os fortes de Orange e Nassau, sem dar assistência e socorro aos holandeses.

Vimos que muitos ingleses e, principalmente os irlandeses, tinham sérias divergências com os

colonos holandeses, por causa da mão de obra indígena, pelo comércio de determinados

produtos, como o Tabaco, e também por causa da religião.

“(...), os homens lá deixados pelos espanhóis, foram posteriormente afugentados

pelos ingleses embarcando nos próximos navios holandeses que vieram para o

rio(...)”369.

Por fim, afirma que os espanhóis deixados na região foram afugentados pelos

ingleses e levados pelos navios holandeses que chegaram logo depois das contendas. De tudo

que foi escrito por Hartcourt sobre os acontecimentos entre 1620 e 1623, contrapondo com as

informações dadas pelos portugueses, podemos dizer que as primeiras lutas envolvendo os

colonos e os portugueses não foram totalmente favoráveis aos ibéricos, pois não conseguiram

desalojar todos os colonos, ainda que tenham destruído algumas casas e os dois fortes

holandeses (Orange e Nassau). As plantações destruídas nesse conflito, foram continuadas e as

casas reerguidas370.

Por outro lado, as rivalidades entre ingleses e holandeses foram flagrantes, e

contribuíram para a destruição de muitas possessões holandesas, mais visíveis e vulneráveis

segundo depoimento de Hartcourt, ainda que muitos ingleses tenham sido feridos e mortos

neste ataque.

368 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42. 369 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.239-42. 370 Para Vianna os fortes holandeses derrubados foram Muturú e Mariocay, na margem direita do Amazonas. Sem guarnições suficiente para garantir as posições tomadas, destruíram os fortes “derrotando em vários encontros fluviais os inimigos”. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.233.

196

Fator decisivo nesse equilíbrio de forças foi à participação de várias tribos da

região contra os portugueses. Participaram os Karipunas, chamados nas fontes de Supanes,

usados por holandeses e os Aruãs pelos ingleses, embora não mencionados nas fontes371.

Chama-nos a atenção o fato dos portugueses usarem como aliados tribos Xipaos, do troco

Aruak, oriundos do norte do Amapá nestes combates. Podem ter conseguido isso devido às

rivalidades existentes entre estes e os outros grupos que comercializavam com os ingleses e

holandeses.

Figura 22

Mapas das fortificações portuguesas, inglesas e holandesas feitos por Antonio Vicente Cochado de 1623. Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. In: GUDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: cartografia portuguesa vestutíssima. Edição comemorativa do centenário da Frotilha do Amazonas. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da marinha. 1968.

371 Coloco os Aruã participando ativamente das lutas por já estarem junto aos colonos ingleses desde a formação das primeiras colônias, como pudemos verificar no capítulo anterior.

197

No mapa acima, feito pelo cartógrafo Antonio Vicente Cochado, temos uma visão

de como estava equilibrado o conflito com os ditos “estrangeiros”. Mostra a conformação do

Amazonas após as primeiras batalhas de 1623. Existem quatro fortes bem definidos. O

primeiro na costa do Amapá, está escrito “forte que tomamos dos holandeses: derrubado”. Na

ilha na Província dos Iacarez existe mais um “forte que tomamos dos holandeses: derrubado”.

Na ilha maior, e mais ao meio, chamada de “Província dos Pacajares e Mapuazes” existem

dois fortes, um com a legenda “forte que tomamos aos ingleses: derrubado”, e um outro com a

legenda “Forte nosso derrubado”. Para o historiador Max Justo Guedes, os fortes mostrados no

mapa de Cochado e 1623 seriam o forte de Maturu (ou Orange), Nassau e Mandituba (ou

Manituba). Todos eram holandeses, apesar de ser descrito o de Nassau como sendo inglês.

Sobre o forte português, para Guedes seria o forte de Santo Antonio de Gurupá, construído por

Bento Maciel Parente e atacado em 1623 pelas forças reunidas por Pieter Ariansson372.

Nas fontes portuguesas a destruição das colônias holandesas e inglesas parece

estar acontecendo facilmente. No entanto, as viagens desses estrangeiros para o Amazonas

continuavam. Apesar dos ataques aos fortes, muitas colônias permaneceram intactas, como por

exemplo, as de Sapno e Sapanopoke e outras criadas rapidamente com a ajuda dos aliados

Palikur e Aruã.

Num diário de bordo de um navio da companhia das Índias Ocidentais Holandesas

ao Pará, entre 22 de outubro e 4 de dezembro de 1623, o leitor pode ter uma pequena idéia de

como eram muitas as povoações de ingleses e holandeses no Amazonas, e como algumas delas

eram juntas às aldeias das tribos aliadas.

“(...) No sábado, dia 21 levantamos ancora, viajando ao longo da costa da ilha, tão

perto que poderíamos atirar um pedra sobre ela, o que fizemos, passando por outras

mas não tão perto, até termos vindo para a direita do rio, cruzamos rumo a ilha de

Sapno, construindo uma aldeia. Essa vila tem três longas casas construídas no canto

do rio. Os índios Maraons nos disseram que os espanhóis estavam acima do rio e

que eles tomaram um navio holandês perto de Sapanoke, o que nos determinou a

persegui-los, após termos obtidos mantimentos frescos; mas Pieter Janss se enfadou

372 No caso da fortificação portuguesa ainda existe uma controvérsia quanto a sua origem. Pode ser apenas um posto fortificado, tomado pelos ingleses, e comentado por Hartcourt. Sobre a opinião de Guedes: GUEDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: cartografia portuguesa vestutíssima. Edição comemorativa do centenário da Frotilha do Amazonas. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da marinha. 1968, pp.65-67. Para Arthur Vianna, após a vitória de Bento Maciel, “nasceu um pequeno posto fortificado levantado à margem direita”, que foi destruído pelo capitão holandês Pieter Arinsson em outubro de 1623. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.233.

198

em um banco de areia a leste da vila aproximadamente dois mosquetes atiraram o

que nos forçou a ancorar (...)”373.

Os grupos Maraon, hoje extintos, permitiram aos viajantes saber o que acontecia

rio acima, incluindo a tomada de um navio da companhia holandesa em Sapanoke, provável

nome da colônia atacada. A comunicação era feita por meio de flautas de barro ou de osso de

veado que “transmitiam em linguagem codificada” a posição do inimigo e a forma de melhor

atacá-los374.

“(...) No domingo Pieter Janss enviou seu pinnace em direção a Sapanopoke. Com

alta maré levantamos ancora, mas Pieter Janss encalhara novamente.

Na segunda-feira levantamos ancora novamente, vendo que Pieter Janss estava nos

fazendo perder tempo com o interesse de dar ao seu pinnace uma oportunidade de

comercializar com os ingleses e com os irlandeses (...)”375.

Um navio de comércio, cujo capitão era Pieter Janss, atrasou várias vezes a

expedição contra os atacantes ditos espanhóis pelos Maraon. Para o escrivão do outro navio, o

capitão Janss parava de propósito para comercializar com os ingleses e irlandeses, deixando

seus compatriotas em segundo plano. Isso demonstra desunião entre os próprios colonos

holandeses.

“(...) Em uma alta maré conseguimos nos desencalhar e fomos a vila de

Sapanapoko, viajando todo tempo ao longo da ilha em uma boa profundidade. Lá

ancoramos. Encontramos o Pieter Janss, o qual já tinha desencalhado, e que já tinha

se encontrado com os ingleses e os irlandeses. Eles nos garantiram que Pieter

Arianss de Flixegue fora atacado por um grande navio espanhol que tinha 8 canhões

de bronze e 120 travas de mosquetes, após lutar por um dia e uma noite, tendo

somente 32 homens e dois pequenos canhões e vendo que ele não poderia se salvar

de se encalhar num banco de areia na foz do Okiari, ele pos fogo em seu navio

(...)”376.

373 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.259-63. 374 VIDAL, LB. Mito, História e Cosmologia: as diferentes versões da guerra dos Palikur contra os Galibi entre os povos indígenas da Bacia do Uaçá, oiapoque, Amapá.In: REVISTA DE ANTROPOLOGIA. USP, vol.44, n.1, 2001, pp.135-36. 375 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.259-63. 376 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.259-63.

199

Chegando a colônia chamada Sapanapoko souberam que um grande navio

espanhol atacara o barco de Pieter Arianss, de Flixegue. Com um número maior de canhões e

mosquetes o navio espanhol facilmente venceu a briga fluvial, obrigando o capitão, Pieter

Arianss, atear fogo em seu próprio barco. Este documento nos remete aos acontecimentos

descritos por Chichorro, incluindo o incêndio e naufrágio do navio por forças portuguesas

lideradas pelo capitão Bento Maciel, em 1623. Note o leitor, que nessa fonte documental o

incêndio do navio aconteceu pelo seu capitão e não pelos atacantes377.

“(...) No domingo, dia 5 fomos a Quarmeonaka entre as colônias inglesas, cinco

léguas mais acima da outra no mesmo rio, esse também era um terreno agradável.

Em ambos os lugares os ingleses tinham muitos campos para a plantação de

tabaco”378.

Mais uma colônia aparece nas fontes documentais do capitão de um dos barcos.

Quarmeonaka era provavelmente uma aldeia ou ilha. Localizava-se entre duas povoações

inglesas com muitas plantações de tabaco.

Na terça-feira, dia 7 já de volta ao navio, o mestre nos perguntou se esses lugares

nos agradaram, o que respondemos Não! – não para estabelecer famílias lá, pois os

espanhóis, já estando estabelecidos no Pará, do lugar que ele poderia ir e vir como

quisesse com a ajuda das marés no rio Amazonas, se ele soubesse que havia famílias

lá, não enfraqueceria em visitá-los para matá-los; então foi pensado melhor ir ao

longo da costa em procura de algum rio para o qual o inimigo, se viesse do Pará ou

maranhão, não poderia retornar sem passar por Essores (azores), em busca do vento,

e não poderia trazer índios (...)”379.

Neste precioso documento encontramos descritas algumas povoações inglesas e

holandesas no Amazonas, as únicas que podemos confirmar, além das fortalezas. Abaixo está

uma relação dessas povoações e suas principais características descritas no documento:

377 Na literatura militar é comum esse tipo de divergência entre as fontes rivais. Um exemplo clássico do que me refiro é o caso do encouraçado nazista Bismarck, que para os ingleses fora destruído pela Royal Navy e para os alemães fora afundado pela sua tripulação. Mas, também temos uma regra dentro da pirataria do século XVII e XVIII, que dizia que o capitão queimava o seu navio quando prestes a ser tomado. JOHNSON, Cap. Charles. Piratas: Uma História Geral dos Roubos e Crimes de Piratas Famosos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2004. 378 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.259-63. 379 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.259-63.

200

Tabela 3

POVOAÇÕES INGLESAS E HOLANDESAS NO AMAZONAS: 1623

NOME NAÇÃO LOCALIZAÇÃO

SAPNO HOLANDA Ilha com três casas longas construídas em 1623 SAPANOKE HOLANDA ? SAPANOPOKE HOLANDA ? QUARIANE HOLANDA ?

HODEN HOEC HOLANDA Campina cheia de goiabeiras. Cemitério indígena com urnas funerárias.

TAPERALKA Ilha SAPANAPOKO HOLANDA Vila CAILLEPOKO ?

TILLETILE INGLESA Colônia no rio Okiari. Com bosques e pequenos lagos próximos. Abandonada em 1623.

QUARMEONAKA INGLESA Tem duas colônias inglesas com grandes plantações de Tabaco

VILA AROUEN ? ? Fonte: LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt

Society, 1989.

201

Figura 23

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202

Segunda fase da Campanha ibérica: Ataques diretos, mais

soldados e Fortalezas (1624-1630):

A falha em conseguir destruir todas as povoações dos “estrangeiros” fez com que

o governo da conquista do Grão Pará ficasse preocupado com uma possível invasão ou ataque

à Belém em resposta as hostilidades praticadas pelos portugueses. Numa consulta ao rei

ibérico, datada de 03 de agosto de 1624, o capitão Custódio Valente perguntava sobre as

notícias assombrosas vindas da corte, que quatro naus grandes holandesas haviam partido para

conquistar o Pará. Em seus comentários, nada otimistas, dizia que se isso fosse verdade os

inimigos estrangeiros tomariam com facilidade a conquista:

“(...) por terem juízo do que lá lhes sucedeu aos seus e sabem que a pouca gente que

lá temos, dividida e duas partes, e que não chegam a 150 soldados (...)” 380.

Fala-se que a pouca gente está dividida em duas partes e os soldados não

chegavam a 150. Por que dividida? O que ele quer dizer com isso? Entendo que a divisão que

ele relatava no documento escrito estava a nível administrativo. Tendo a região duas partes,

uma de posse portuguesa e a outra espanhola, as autoridades dos reinos não estavam tendo um

consenso, um acordo, para atacar os estrangeiros de forma conjunta.

O documento dá a entender que a ação holandesa seria uma resposta ao que

aconteceu antes às colônias inglesas e holandesas em 1623. Outro ponto importante defendido

por Custodio Valente era que na região havia muito pouca gente, a maior parte desarmada ou

sem pólvora para enfrentar os inimigos, e por isso pediu o envio de socorro, soldados e

provisões:

“(...) Sua Majestade deve mandar com muita pressa um navio com 150 homens de

socorro e onde que a gente esteja num corpo e com pólvora e munições por não

haver um quartel e o governador estar entretido em Pernambuco de onde gastará a

que leva (...)” 381.

Num outro documento de mesma data, mas com parecer de 6 de agosto do mesmo

ano, discutem-se as informações do memorial do capitão Custódio Valente sobre a ida de naus

holandesas ao Pará. Nele o Conde de Faro, Rui da Silva, Luis Pereira e Roque da Silveira 380 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.28. 381 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.28.

203

pedem o envio de cento e cinqüenta arcabuzes, com munição e quinze quintais de pólvora.

Esse material fora mandado para o governador do Maranhão que, nesse momento,

encontrava-se em Pernambuco.

Num segundo parecer, de Luis da Silva, acha por bem mandar direto uma

caravela com 140 soldados, pólvora e munições ao Pará. Isso porque se o carregamento fosse

primeiro a Pernambuco poderia ficar ali, como comumente acontecia.

Depois desse documento foi feita uma averiguação das informações levadas a

Corte de Lisboa sobre a partida de quatro naus holandesas para tomar o Pará. Datado de 5 de

agosto de 1624.

O capitão Custódio Valente diz ter sido informado em 20 de julho de 1624 por um

mancebo de nome Fernão de Andrade:

“(...) e q averá quinze dias pouco mais ou menos q chegou aqui hu mancebo por

nome Fnão di andrade, o qual partio do Pará e por via das índias veio a Inglaterra

em hua nau ingresa e q encontrandose adita nau na altura da ilha ter.ra com outra de

olanda; tanto q o olandes soube q o dito mancebo ali vinha para este reino com aviso

do Grão-Pará lhe dava dous mil [talentos] porq lhe largasse para o levar a olanda

segurandolhe a vida (...)”382.

Tal mancebo ao chegar à Inglaterra soube que haviam partido mais dez naus

holandesas devido saberem da destruição das quatro anteriores que mandaram ao Pará:

“(...) e q estando em inglaterra, achou por novas q des naus de olanda partião para

aquelas partes, pela nova q tiverao da destruição dos seus no Pará (...)”383.

Buscando saber mais informações a este respeito procuraram o mancebo, mas este

tinha ido ver seu pai em Alentejo.

Outro capitão, Dom Pedro de La Cuena, achou veracidade na história contada e

junto com o marques de Cropani foram até o porto onde estavam uns flamengos vindos do

porto de Hamburgo carregar naus de sal, e lá ratificaram as informações de Custódio Valente:

“(...) e q teve noticia da matéria contenda no memorial porq estando em casa do

Marques de Cropani vierao ali ter hus flamengos q de Hamburgo vierao a poucos

dias carregar naus de sal; e que perguntando a hu delles oq se disia que passava e

382 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.28. 383 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.28.

204

ordenava em olanda, lhe respondeo o flamengo q estavao os holandeses aprestando

quatro naus grandes para vierem ao Pará;(...)”384.

Os motivos para a incursão no Pará seriam a importância daquela conquista, a

carência de gente e munições, e como estava repartida. Sobre este último aspecto não indica

mais detalhes.

Perguntas deixadas por esses documentos: vieram quatro naus ao Pará ou foram

mais? Tinham intenção de conquistar a região? Por que os flamengos carregavam sal do porto

de Lisboa para Hamburgo? Por que dizem que a conquista estava dividida ou repartida?

O fato de ir e vir naus, tanto holandesas quanto inglesas nas águas amazônicas, era

fato muito comum, contudo era preciso boas justificativas para conseguir os recursos

necessários para as guerras. Principalmente com outras regiões também sendo atacadas e

precisando de apoio, como a Bahia, atacada em 1624385.

Tanto que entre 1623 e 1626 novas expedições foram feitas para atacar os fortes

“estrangeiros” sob o comando de Luis Aranha de Vasconcelos.

A campanha de Luis Aranha de Vasconcellos começou quando lhe foram dadas às

ordens de fazer a conquista do cabo do norte, expulsar os “estrangeiros” e fundar uma

fortaleza na região.

Entretanto, como primeiro capítulo dessa empreitada, Luis Aranha não conseguiu

chegar ao Brasil a tempo de embarcar nas Caravelas da armada que vinham em socorro da

região. Por isso o conselho ultramarino mandou que aguardasse a próxima viagem dos navios

para a região e assim poder efetuar as ordens previstas no seu regimento. Esse atraso acaba

por minar os recursos destinados à missão386.

Em junho do ano seguinte (1625), consegue o necessário para a viagem. Uma

Caravela de nome “Sancto Antonio”, fretada pelo período de um ano, doze soldados mais o

capitão, mantimentos, 24 mil reis de soldo por doze meses, 100 mil reis de ajuda de custo, 80

mil reis de resgates de pano de lã, machados, foices, facas, avelórios e outras miudezas, para

serem usados como “dádivas” com os nativos.

Numa carta enviada ao rei pelo capitão-mor do Maranhão Antonio Moniz

Barreiros, ele afirma que Luis Aranha esteve no Pará no ano anterior e deu combate a uns

estrangeiros que estavam no Curupá (Gurupá), e partes do Cabo do Norte, deixando um 384 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.28. 385 Segundo Boxer a expedição holandesa à Bahia em 1624 contava com 26 navios, 3.300 homens e 450 canhões. BOXER, Charles R. Os Holandeses no Brasil: 1624-1654. Coleção Brasiliana, n.312. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961, p.29. 386 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.29.

205

presídio com cinqüenta soldados e um capitão naquela região sem o conhecimento do capitão-

mor do Pará. Foi o tal capitão de nome ignorado, que ficou isolado em território hostil,

necessitando de pólvora e gente no dito presídio, quem informou da situação ao capitão-mor

do Pará.

Antes disso, Luis Aranha de Vasconcelos foi à cidade de São Luis do Maranhão

com alvará real pedindo soldados, mantimentos e “gentios da terra”, possivelmente

Tupinambás das aldeias de Tapuitapera (Alcântara), para voltar a lutar no Gurupá. As

“desordens” de sua tripulação, considerada como “mal doutrinada”, fizeram o capitão-mor

Maranhense ter inimizade com Luiz Aranha. O capitão-mor deu pouco empenho às suas

exigências e ainda reclamou formalmente ao conselho régio do caso. Diz na queixa que Luis

Aranha de Vasconcelos levou dois indígenas a mais do estipulado, quando no Maranhão

faltava essa mão de obra.

“O dito Luis Aranha, que por capp.am de hua caravella foi por orde de V. Mag.de

sondar o Rio das Amazonas, e cabo do norte, chegou ao porto desta cidade, em vinte

de abril do anno passado de seiscentos e vinte três, e aprezentando hu Alvará de V.

Mag.de me pedio soldados, Gentio da terra e mantimentos para dar satisfassão ao

dito Alvará conforme a possibilidade, E Estado da terra, fiz as deligencias q

convinham ao serviço de V.Mag.de como se verá foi feito por hu auto, q com outros

papeis juntos a elle de pareceres q tomey de pessoas graves, fiz; outrossy vão papeis

q por desordem do ditto capp.am Luis Aranha se fizerão, o qual co a mal doutrinada

gente que em sua companhia trazia, (...)”387.

Na informação de Luiz Aranha de Vasconcelos, publicada nos Annais da

Biblioteca Nacional, temos a sua versão dos fatos ocorridos nessa viagem e dos combates

ocorridos no meio da floresta com a participação de tribos Tupis do lado português e Aruaks

do lado anglo-holandês.

O fato de não haver discrepâncias dos valores que recebeu, ditos no documento da

fazenda real e dos que afirma pagar nas despesas da viagem, conforme podemos verificar no

documento que contém os valores (além das miudezas dadas ao gentio), o faz merecedor de

crédito no que se refere à batalha388.

387 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.387. 388 No documento de 30 de junho de 1625 o procurador da fazenda real libera uma Nau de nome Sancto Antonio e 12 soldados. Também libera o soldo de 24 mil reis por 12 meses a toda tripulação, 100 mil reis de ajuda de custo, 80 mil reis de resgates em miudezas aos indígenas (panos de lã, machados, foices, avelórios e outras miudezas). AHU-ACL-CU-013, Cx.01, D.29.

206

Segundo sua versão, a frota saiu de Lisboa indo até Pernambuco onde apanhou o

piloto Antonio Vicente e conseguiu uma lancha, alguns soldados, gente do mar, mantimentos

e apetrechos de guerra e navegação. Nesse local, teve que pagar duzentos mil reis da ajuda de

custo dada pelo rei, uma mostra de como tudo funcionava na colônia por meio de “propinas”,

mesmo com documentos que garantiam sua ajuda sem esses percalços389. Depois rumou para

o Maranhão em 1623, onde conseguiu mais alguns soldados e um bergantin, além de seis

canoas de índios amigos cuja nação não nos é revelada. Podemos supor que eram Tupinambás

posto serem nesse período bastante utilizados, principalmente os aldeados das missões

jesuíticas e os recrutados nas companhias militares locais.

Durante a viagem Luiz Aranha conseguiu a adesão de muitos gentios de guerra -

“e o persuadi a que me acompanhasse com suas canoas e armas” 390. Sua persuasão era fruto

de alianças com os chefes das aldeias e compradas por meio das “dádivas” que levava com

esse objetivo (machados, foices, facas, avelórios, pentes e anzóis).

Notemos que em nenhuma dessas aldeias contatadas havia mais que aliados por

meio desse tipo de prática, nos levando a crer que os chefes das aldeias sabendo do conflito

entre esses e os estrangeiros aproveitavam-se da situação para conseguir vantagens, seja na

obtenção de objetos de necessidade da tribo, seja para dar a guerra a um inimigo comum. Nas

duas situações eles ganhavam algo, mesmo que no desenrolar da ação muitos viessem a

falecer. Isso não era um pensamento corrupto, herdado dos brancos, mas fruto da cultura de

guerra para as sociedades Tupinambás, uma sociedade onde a guerra era parte importante de

suas tradições. As razões para ir à guerra podiam ser as mais simples para nós, mas ela era

feita partindo de um pressuposto local, desde que estivesse o grupo necessitando de um bem

comum.

Ainda segundo a versão de Luiz Aranha de Vasconcelos, ele e seus comandados

(entre soldados, recrutados e aliados) atacaram e tomaram duas fortalezas holandesas: Maturu

(escrita nos mapas holandeses como Matourou) e Nassau, ambas no Rio Amazonas,

“cativando-os a todos e senhoreando-me da artilharia, armas, munições e escravos de Angola

que tinham” 391.

389 AHU-ACL-CU-013, Cx.01, D.29. 390 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392. 391 Note que neste caso aparecem escravos de Angola, embora não diga explicitamente se eram dos ingleses ou dos holandeses. Como os últimos costumavam atacar aquelas possessões portuguesas podemos pensar que eram escravos holandeses. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392.

207

Não entra em detalhes sobre como tomou as duas fortalezas, a estratégia de luta e

quanto tempo durou o combate. Também não afirma o número de mortos e feridos, como

aparece em outros depoimentos mais adiante392. Mas, dentro de seus méritos, que afirma

sempre em primeira pessoa, pôs a pique uma nau “com a morte de muita gente em que

entraram seis fidalgos ingleses e um deles chamado o capitão Parqua (Parker), irmão de um

conselheiro del Rey de inglaterra que nas partes de índias havia saqueado a ilha de Trinidad e

morto ao governador dela”393.

Luiz Aranha deixa escapar no texto que nas duas grandes batalhas que teve, os

inimigos principais eram os indígenas da parte de holandeses e ingleses. Estes saiam dos

matos a dar guerra, sendo segundo sua versão, mortos aos montes 394. Como as Leis Filipinas

exigiam um tratamento ameno com os indígenas, mesmo os rebelados, diz ter agido segundo

instrução de sua Majestade e aponta para os documentos deixados em autos395.

Suas observações sobre os indígenas seus aliados são mais importantes que o seu

relato das lutas. Segundo Luiz Aranha de Vasconcelos, os oitenta mil reis dados para a

viagem, foram gastos com os indígenas e além desses, ainda gastou-se um saldo a mais da sua

própria conta:

“(...), E os oitenta mil rés que nesta cidade se me derão em Resgate despendi Com

os índios; e por seren inumeráveis os serviços que ajudado deles fis tais que parese

que estão escuresendo parte das obras dos antiguos da fama lhe dei mais quatro mil

cruzados meus, parte que levei de minha Caza (pera fazer proveito) E a que coube

dos despojos que ganhei (...)”396.

392 A destruição das fortalezas de Maturu e mariocay, para Arthur Vianna, aconteceu em 1623. Contudo, verificando as fontes não há duvidas que o fato ocorreu de fato em 1624. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.233. 393 Pela descrição do tal Capitão Parqua, pode ser que seja um irmão de Sir Walter Raleigh, por ter sido ele quem saqueou a ilha de Trinidad, como já foi visto antes, no capitulo anterior. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392. 394 Suas palavras exatas para esta ação são: “Com grande numero de Gentio contrario que por parte dos Olandezes e ingleses me sairão a dar guerra em que matei muita copia”. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392. 395 Para uma justificativa ou para livrar-se de criticas futuras Luiz Aranha faz questão de dizer que tudo “é bem notório e se mostra larga e distintamente das relações, autos e certidões e papeis que estão em Madrid”. Deixando as criticas para quem ordenou a ação. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392. 396 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.392-93.

208

Sua frase: “por serem inumeráveis os serviços que ajudado deles fiz tais que

parece que estão escurecendo parte da obra dos antigos da fama”, a princípio pode parecer

estranha, mas acho que foi um hábil recurso de enobrecer os feitos desses indígenas, como

maiores comparando-se aos feitos dos seus antepassados, e garantir sua adesão nas próximas

missões. Para essas sociedades Tupis os feitos de seus ancestrais eram contados largamente

para honrar a memória deles, perpetuar a vingança (ou, nas palavras de Florestan a

“revindita”), e garantir um caminho seguro para a “terra perfeita”, versão comumente

associada pelos missionários ao nosso paraíso397. Colocando seus feitos acima dos de seus

antepassados ele instigava a vaidade guerreira e a certeza de um caminho seguro para essa

“terra perfeita”.

Outro aspecto importante no seu discurso é a evidencia clara do uso das crenças

indígenas para dizer que os brancos portugueses são os legítimos filhos do sol e de Tupãna

para concretizar o seu domínio sobre esses indígenas e fazê-los rejeitar a obediência aos

estrangeiros:

“(...) e não bastando tudo e pera lhe mostrar que os vassalos de V.mag.de somos os

verdadeiros branquos filhos do sol e do Tupana (como se disese de ds) a quem eles

ão de obedecer e Respeitar e não aos olandezes nem ingleses lhe dei qoantos

vestidos e Camisas tinha E as toalhas, guardanapos E pratos de minha mesa ficando

Comendo em hus cabaços sem ter cousa nenhuma Com que me servir ganhando por

isso E outras obras tal fama Com eles que me adoram Como a ídolo o que he bem

notório e se ve dos papeis que estão em poder do sr. fr.co de Lucena (...)” 398.

Luis Aranha dava as “dádivas” aos indígenas, como se fosse um filho de Tupã

(sol) e Tupãna, sendo provável ter conhecimento da crença entre os Tupis, dos mitos que

falavam do infortúnio de terem escolhido objetos de madeira ao invés dos de ferro, quando

lhes foi proposto no inicio dos tempos, e por isso penavam em dificuldade399.

No entanto, mesmo usando habilmente da valorização dos feitos de guerra e do

artifício religioso, Luis Aranha acaba perdendo todos os recursos que tinha em doações de

“dádivas” aos indígenas, ficando praticamente com a roupa do corpo. Esse era um perigoso

artifício, pois podia encarecer o serviço dessas tribos nas viagens futuras para a região,

397 FERNANDES, Florestan. Organização Social dos Tupinambá. Instituto Progresso Editorial S.A.: São Paulo, 1948. 398 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.393. 399 CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992.

209

certamente os chefes das tribos iriam querer o mesmo tratamento ou até mais para as novas

campanhas contra os estrangeiros, que não foram totalmente vencidos, tendo ficado cerca de

250 a 300 ingleses na região do Amazonas, segundo seu próprio relato.

No seu documento fica uma incerteza sobre a atuação de ingleses e holandeses em

suas colônias. Toda a documentação revela povoações estrangeiras com objetivos de defesa

em comum contra ataques externos. Mas, apesar de agirem em conjunto, o ímpeto maior dado

pelos lusitanos parece-me concentrar na luta contra os holandeses com os quais a Espanha

estava em guerra declarada. Não que em combates os lusitanos tenham abdicado de atacar os

ingleses, aconteceu inclusive morte de muitos deles, na maioria afogados no navio que foi

afundado durante a luta.

Acredito nessa ênfase contra os holandeses por duas razões, a primeira delas é que

os fortes atacados eram holandeses, a segunda, extraída do seu depoimento aponta que

ficaram 250 e 300 ingleses, não se referindo aos holandeses livres. Por fim temos nas

conclusões finais de Luis Aranha que “nas duas fortalezas de Maturu e Nassau deixei

prisioneiros no para (Pará) aonde oie estão pera V.Mag.de mandar o que for servido” 400.

Em outras palavras, todos os prisioneiros eram holandeses, e estavam presos no

forte do presépio, aguardando por uma definição do que fazer com eles.

Ao tentar retornar a Lisboa com quatro prisioneiros holandeses dessa campanha,

todos foram capturados por piratas turcos. Luiz Aranha de Vasconcelos consegue fugir com

quatro companheiros de viagem401. Esse fato acaba por tirar as únicas provas dessa campanha,

que foi com poucos soldados e sem conhecimento prévio dos capitães-mores do Pará e

Maranhão.

Outras fontes não descrevem a destruição destes fortes holandeses, uma delas é a

obra de Luiz Figueira intitulada “Relação de vários sucessos acontecidos no Maranhão e

Grão-Pará, assim de paz como de guerra, contra o rebelde holandês, ingleses, e franceses e

outras nações”. Como o próprio título diz, descreve o combate com essas nações

especificando inclusive o ano e os capitães envolvidos. Nessa obra, os fortes destruídos pela

companhia de Luis Aranha de Vasconcelos são ignorados.

400 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p.394. 401 Estranhamente todos os quatro holandeses levados na embarcação fogem ou são libertados e Luis Aranha, com seus homens, ficam presos por vinte e quatro dias com os Turcos. Dos holandeses que escaparam dois eram do navio que tinha afundado na costa. ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p. 394.

210

No seu retorno fez novos requerimentos, datados de 3 e 10 de julho de 1625, onde

Luis Aranha de Vasconcellos pede recursos do reino para continuar a expulsar os estrangeiros

do rio amazonas:

“(...) que seria por bem de lançar fora os estrangeiros que no rio das amazonas

adentro antes que tenham tempo de se ajuntarem mais e de reduzissem ali todo o

gentio e se fortificassem de forte que para depois os desapossar seja necessário

muito cabedal (...)”402.

Aponta três razões para agir o mais rápido possível: A primeira razão seria fazer a

guerra antes que os “estrangeiros” tivessem tempo de se unirem mais e com mais gente.

Sugerindo então que havia divergências entre os estrangeiros e que os portugueses deveriam

explorá-las. A segunda razão para agir logo, seria o fato de evitar que todo o gentio daquela

área ficasse em favor dos “estrangeiros”. A terceira razão seria agir antes que eles

construíssem fortificações sólidas, que para tomá-las exigiria grande cabedal.

Ainda relata no documento escrito que os “estrangeiros” tinham praticado muitos

roubos naquele litoral, na costa da Guiné, no Brasil e nas Índias. Além disso, aponta para “os

lucros que das terras tiram”, indicando a utilização das terras em “plantations” de cana de

açúcar e tabaco.

No documento, Luis Aranha de Vasconcellos pede mais recursos, mesmo tendo

liberdade de agir, ordenada pelo monarca:

“(...) Pois tem VM mandado fazer segunda vez naquelas partes e que depois de

conquistar os inimigos faça uma fortaleza na costa norte para guardar a custodia

daquela terra (...)”403.

Segundo ele, esta seria a sua segunda viagem à região, tendo ordens de depois de

expulsar os inimigos fazer fortaleza na costa norte para guardar a custodia daquela área.

Argumenta que o soberano Filipe III teria ordenado que o mesmo se servisse da armada de

Cristóvão Soares, que estava em luta contra os Holandeses pela Bahia, pois ali teria os

recursos necessários de homens e materiais.

402 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.30. 403 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.30.

211

Demonstra que o conselho estava atrasado nessa liberação de recursos o que

acarretava também atrasos na partida de expedição para a Costa Norte no ímpeto de agir

contra os estrangeiros:

“(...) E para se fazer a dita força evitando deste modo muito trabalho e muita

despesa; sofreu que há muitos dias que no conselho da fazenda estão hus papeis sem

tomar resolução sendo-lhe matéria tão substancial indo tanto na brevidade.(...)”404.

Não há mais campanhas por parte de Luiz Aranha. Contudo, a carta de 3 de

dezembro de 1626 o nomeia como o novo capitão da fortaleza do Pará. O documento de

posse, muito simples do monarca ibérico, apenas diz para que a carta do cargo se registre na

casa da mina, em Lisboa405.

Uma pergunta fica no ar, caro leitor. O mesmo Luis Aranha de Vasconcellos tinha

ordem de fazer uma fortaleza na Costa do Norte e por lá guarnecer a região contra os

estrangeiros depois de expulsá-los. Teria sido falha esta missão, e por isso teve que ficar na

fortaleza do Pará (forte do presépio)? E o presídio que disse ter deixado naquela região hostil,

com alguns soldados, que fim levou?

Pela proximidade das datas dos documentos, pode ser que a mesma fortaleza

indicada no mapa de Cochado, tomada pelos ingleses, seja a que Luis Aranha mandou erguer.

No Grão Pará e Maranhão a preocupação de uma possível invasão das cidades

levaram a uma caça aos estrangeiros residentes, que podiam ser espiões dos inimigos.

Sabemos que só no Pará havia muitos holandeses e ingleses residentes, com permissão dos

governantes. Mas numa provisão de 1626, feita pelo governador e capitão-general do estado

do Maranhão e alcaide-mor da cidade de São Luis, chamado Francisco Coelho de Carvalho,

alterou essa convivência drasticamente.

Ele ordena ao ouvidor geral e provedor da fazenda do Pará, bem como a todos da

milícia e justiça que prendam todos os estrangeiros que na cidade assistem para a conservação

e defesa do estado:

“Faço saber ao provedor da fazenda de sua M da Capitania do Grão Pará, e bem

assim ao ouvidor geral ou a quem seu cargo servir, e a todas as mais pessoas de

milícia, e justiça que pelos avisos de sua M consedirá não o quanto importa a

conservação deste estado, e defesa à lhe segurarem-se os estrangeiros que nelle

404 AHU-ACL-CU-013, Cx.1, D.30. 405 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.33.

212

assistem, e chamando conselho todos os prelados, eclesiásticos, e todos os ministros

de milícia e justiça e fazenda para que bastassem nesta matéria o que mais convinha

para a defesa e segurança de todo este estado (...)”406.

Depois, passou ordem ao ouvidor geral para “mandar bando” (fazer a lei) e

recolher todos os flamengos presos e apreender toda a riqueza que possuíssem. Não temos

registros dos bens dos holandeses residentes neste período, no entanto, devem ter servido para

ajudar no custo da guerra e enriquecer alguns poucos milicianos:

“(...) em virtude da qual mando o dito provedor, e o ouvidor geral mande botar

bando, e de colher os dittos flamengos a essa cidade com todo o cabedal que tiverem

(...)”407.

Apesar do governador do Maranhão dizer que mandaria um regimento, por meio

do capitão-mor da capitania do Pará Sebastião de Sucena de Azevedo, para tratar desse

assunto, acaba pedindo para os demais oficiais e justiças, que colaborassem com o provedor e

ouvidor geral nessa matéria.

O documento indica que tal medida era um caso de segurança do estado. Contudo,

ficam algumas perguntas sem respostas imediatas: onde ficaram todos os estrangeiros presos?

E o que foi feito de sua fortuna? Por que se tomou tal medida, seria um preparativo para a

guerra? Seria uma forma de evitar espionagens sobre o movimento de tropas que iriam ao

Cabo Norte dominado por estrangeiros? Seria represália, a uma ação dos estrangeiros, em

particular os holandeses, que nesse período atacavam o nordeste?

O Padre Luiz Figueira informa que após a chegada do primeiro governador do

Maranhão Francisco Coelho de Carvalho houve a deportação dos prisioneiros holandeses para

as Antilhas408.

406 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.34. 407 AHU-ACL-CU-013-Cx.1, D.34. 408 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p. 170.

213

Figura 24

Mapas sobrepostos contendo a entrada do Amazonas e as fortificações portuguesas, inglesas e holandesas feitos por Antonio Vicente Cochado entre 1623 e 1624. Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Nota-se o encaixe quase simétrico das duas partes do Mapa mostrando a engenhosidade dos cartógrafos portugueses. In: GUEDES, Max Justo. Brasil-Costa Norte: cartografia portuguesa vestutíssima. Edição comemorativa do centenário da Frotilha do Amazonas. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da marinha. 1968.

No requerimento do capitão Aires de Sousa Chichorro, temos mais informações

adicionais sobre outras ações posteriores em que esteve envolvido pelos idos de 1627.

Apesar de contar seus feitos na intenção de conseguir aumento de patente e soldo

(pede ao rei que o nomeie sargento-mor da conquista do Pará e o tome por fidalgo e cavaleiro

do hábito de Cristo), seu depoimento é precioso e acrescido de confirmações dos outros

capitães, para dar maior veracidade ao que conta. Isso por si só não os exime de falsidades ou

214

erros de memória, no entanto serve como uma referência sobre os fatos destacados e é

precioso quanto ao discurso pregado acerca dos indígenas em questão.

Quando o governador Francisco Coelho de Carvalho ordenou que se cortasse o

comércio de holandeses naquela região, foi o capitão Chichorro com as demais tropas para

esse fim:

“(...) o dito governador mandou a elle sup. por cabo de gente q pareceu conveniente

para q fosse descobrir os portos, e paragens, onde os olandezes se costumão

recolher, (...)”409.

Identificar e mapear os portos dos holandeses era a prioridade de sua missão.

Nesse ponto não se fala de ingleses, nem de irlandeses, mesmo sabendo de sua existência na

região, o que também indica uma postura diferencial bem mais agressiva contra os

holandeses. Ainda que os demais fossem incluídos em documentos por frases como “homens

do norte” ou “gente da Europa”, sempre se fala explicitamente: “holandeses” ao inimigo,

acrescido de adjetivos como “rebelados”, “rebeldes”.

Nesta nova campanha há uma clara tentativa de cortar o contato, ou as relações

comerciais entre holandeses e demais “estrangeiros” com os indígenas Aruãs. Na provisão de

Francisco Coelho de Carvalho de 1627, ele nos indica uma ação mais enérgica e coesa contra

os estrangeiros, mandando não somente Chichorro, mas também o capitão Pedro da Costa

fazer este serviço de sondagem das posições do inimigo:

“A instancia com que sua Magestade me encarrega o castigo dos rebeldes de olanda,

e de toda mais gente de europa que sem licença sua costuma vir comercializar como

gentio destas partes. Sendo de novo informado do Capitão pero da Costa que mandei

sondar os portos he Bahias das ilhas em que abitão o gentio da naçam aroam, por

serem os que mais entrada lhe dão E facilitão o comercio dos ditos estangeiros, que

se tinhão ido dahi duas naus suas e que esperavam por outras brevemente (...)”410.

Notemos que já estão inclusos “toda mais gente de Europa” e não somente os

holandeses embora sejam estes últimos especificados com todas as letras. Mostrando o quanto

eles estavam preocupados com estes na colônia.

409 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 410 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

215

Na frase seguinte “sem licença sua” pressupõe que havia “estrangeiros” com

permissão para ficar nessas partes ou que aqueles que tivessem permissão do rei poderiam

ficar. Isso foi confirmado mais acima quando foram presos todos os estrangeiros residentes na

conquista e tomados todos os seus bens.

Mas, dentre todos os pontos importantes desta fala destacados, o que nos remete

mais a pesquisa sobre a relação entre indígenas e colonos, está na conclusão que os Aruans

atuavam como o principal grupo que facilitava o comércio com os “estrangeiros”. Por isso,foi

feita uma expedição aos locais onde eles habitavam (portos e baías), para ver se havia esses

“estrangeiros”.

Não podemos crer piamente nas fontes, isso pode simplesmente fazer parte de

uma campanha difamatória para justificar a caça e escravização dos Aruãs, como já

acontecera com outras tribos na colônia. No entanto, o fato agravante do território do grupo

ter maior concentração de “estrangeiros”, foi mais levado em conta na decisão da campanha

contra esses indígenas, mesmo que tenham somente “facilitado o comércio” e não

comercializado diretamente com esses “estrangeiros”.

Parece-me que a colocação de que os Aruãs eram os que mais comercializavam

com ingleses e holandeses era mais próxima da realidade, posto a localização das colônias

“estrangeiras” estarem justamente na região que habitavam os Aruãs, na costa ocidental do

Amapá e parte norte da ilha de Joanes. Continuando esta provisão ele diz:

“(...), desejando prevenir e remedear este danno E mais que podem Resultar da

vezinhança e comuniquação desta gente com este gentio rebelando-os na paz e

amizade que com nos os tem, e por outros muitos consideráveis respeitos, vendo que

para esta ocasião de tanta importância concorrem no Capitão Aires de Sousa

Chichorro todas as partes necessárias (...). Ei por bem eleger e nomear ao dito

Capitão Aires de Sousa Chichorro, para esta entrada, e que possa levar em sua

companhia athe vinte homens coais elle nomear desta capitania, assim dos que

vencem praça como de todos mais moradores que o capitão mor lhe mandar a dar, e

a pólvora, e monições a este respeito, E assim também todo gentio e canoas que lhes

fazem necessárias (...)”411.

Note que tais Aruãs são descritos em “paz e amizade” com os portugueses e a

ação era para “prevenir e remediar” qualquer dano nessa relação praticada pelos

411 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

216

“estrangeiros”. Ou seja, a campanha seria executada com cautela para que permanecessem os

Aruãs em paz com os portugueses.

Assim partiu Aires de Sousa Chichorro com vinte soldados, recrutados e aliados

indígenas de aldeias contatadas, para atuarem na guerra e para conduzirem as canoas até os

locais identificados previamente como reduto de “estrangeiros”.

“(...) que o dito capitão Aires de Sousa Chichorro procurara somente descobrir e

sondar todos os portos, e Bahias por onde os ditos estrangeiros costumão navegar e

comercializar, e as entradas e surgidouros que tem tratando por todas as vias com o

gentio natural que não aceitem nem recebão a comunicação e resgate dos ditos

estrangeiros, Antes os prendão em os enviem para nelles mandar fazer execução de

justiça como sua magestade manda (...)”412.

Para prevenir os danos desse comércio entre Aruãs e “estrangeiros”, que

implicava numa maior hostilidade dessas tribos aos portugueses, foi mandado o capitão

Chichorro com ordens de levar todo pessoal que pudesse inclusive os indígenas recrutados ou

aliados, para irem até esses locais “apaziguarem” os Aruãs e fazê-los mudar o apoio para o

lado português. Caso houvesse resistência deveriam levá-los presos para que se “fizesse

justiça”. Isso significava que os capturados seriam entregues a fazenda pública para serem

vendidos como escravos.

Como as tribos Aruãs eram conhecidas por serem bastante bravas e temidas pela

violência com que tratavam os seus inimigos, não é difícil imaginar que houve combates

ferozes entre estes e os portugueses, liderados pelo capitão Aires Chichorro. Segundo consta

ainda na fonte alguns foram capturados pelos portugueses, e possivelmente foram

escravizados conforme o ordenado.

O padre Luiz Figueira, afirma em seu texto dedicado à guerra contra os

holandeses, ingleses e franceses, que a ordem do governador era de executar os capturados

estrangeiros. Em junho de 1627 o capitão Bento Maciel quase enforca alguns deles, mas por

pressão dos religiosos acaba enviando-os à Espanha413.

No lado dos “estrangeiros” os ataques portugueses começaram a ter efeito e

alguns dos colonos perceberam que apenas unindo-se às forças inglesas e holandesas é que

412 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 413 Segundo Serafim Leite os prisioneiros enviados para Espanha depois de soltos voltam à Holanda e “tornam a armar alguns mercadores, dando-lhes nau, armas e mercadorias (...) para que viesse fazer tabaco”. LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.170.

217

poderiam fazer frente aos ataques. O grande problema para muitos era a falta de uma frota

para combater os portugueses, contando apenas com poucos navios holandeses da companhia

das Índias Ocidentais para essa finalidade, além da pouca artilharia costeira que sobrara.

“(...) Mas quando vim para fflushing escutei que os portugueses atacaram de

surpresa todos os nossos compatriotas e os holandeses [f.111v] tanto que a

companhia das índias Ocidentais não enviaria mais navios para o Amazonas até eles

terem noticias certas do procedimento (...) para qual tinham intenção

(imediatamente das noticias de enfermidades) enviou três navios partindo a meses

de distancia o primeiro fez se à vela no ultimo outubro: o qual retornou no dia

esperado. Mas para outros portos da mesma costa eles tinham três navios e dois

Pinnaces projetados: então vi uma pequena esperança para o Amazonas sem um

poderosa frota para ganhar eu resolvi me juntar com um dos governantes das Índias

Ocidentais chamado Abraham van Pere e assim poderíamos direcionar um trafico no

rio Berbeeces os holandeses um lado do rio e os ingleses o outro, estando confiante

por essas maneiras pra fazer (...) no nosso Estado um grande lucro e honra que pode

ser ganhada ao estabelecer um comércio naquelas partes o qual eu não posso

conceber que seja inferior ao Peru ou México (...)”414.

Portanto ao findar este período de combates, os ingleses e irlandeses passam a

atuar junto com os holandeses, fato já ocorrido anteriormente em 1621 com a falta de navios

para a Inglaterra e da extinção da “Amazon Company”. Mas agora de maneira mais dramática

em virtude da falta de recursos para a guerra e a melhor proteção dada pelos holandeses, ainda

que tivessem resistências a isso. As resistências da WIC ao envio de novos navios era um

problema tanto para os ingleses quanto para os colonos holandeses. A companhia inglesa das

Guianas enviou os três navios citados por Eveling, no mesmo ano. Junto com os navios

holandeses da WIC, fariam uma poderosa força naval na região do Amazonas.

A nova companhia inglesa foi fundada oficialmente em 1627. Chamada de

“Companhia da Guiana” tinha a intenção de comercializar produtos das regiões da Guiana e

Amazonas, conforme podemos ver na carta de criação da mesma, escrita pelo Rei Charles.

“Charles pela graça dos reis da Inglaterra, escócia, França e Irlanda e defesa da fé.

Considerando muitos de nossos fieis no período do reinado de nosso ultimo membro

da família real (pai) em outros tempos estando agitado com o desejo em aumentar os

domínios para aumentar o comércio e o tráfico de suas terras nativas tem em muitas

414 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.272.

218

viagens pelo mar não somente aventurado e estado nas terras do continente

americano e ao redor do rio Amazonas e nas costas e territórios da Guiana a mesma

não então estando na atual posse ou ocupação por nenhum soberano ou estado

cristão. (...) e que isso deve e pode ser legítimo por e para o mencionado governo e

companhia e seus sucessores para usar e ter um selo comum para todas as causas e

empreendimentos”415.

Note leitor, a área da companhia abrangia todas as terras entre o rio Desequibo e

Amazonas, indo 20 léguas à dentro do território. Sobre o Amazonas diz ainda que a nova

companhia detinha as terras “que antigamente tinha sido ganha ou possuída por qualquer

súdito”, ou seja, as terras da antiga “Amazon Company”. Seus proprietários, na maioria eram

os mesmos da antiga companhia, inclusive Roger North, que logo passou a comercializar na

região e fundar colônias.

“(...) e nós temos futuramente pela nossa mais especial graça certamente

conhecimento dados e concedidos por estes presentes para nós e nossos sucessores

dar privilégio e confirmar até eles o mencionado governo e companhia de nobres e

cavalheiros da Inglaterra para a plantation de Guiana seus sucessores e procuradores

em todas aquelas terras e territórios no continente americano situadas entre o rio

amazonas e o rio de Desequebe a todas ilhas e territórios estando dentro de 20

léguas abaixo adjacente. E todas as terras e territórios localizados do rio Wiapoco ao

sul do rio Amazonas e desse lugar mais ao sul cinco graus de latitude de qualquer

parte do mencionado rio amazonas e estendendo de este a oeste através do

continente de mar a mar o que antigamente tinha sido ganho ou possuído por

qualquer nossos súditos ou qualquer de nossos progenitores de nossa querida irmã

da famosa rainha Elizabeth ou o nosso mencionado querido pai ou para nossos

herdeiros e sucessores o que devem futuramente conquistar ou por outro lado ganhar

por conquistas ou por consentimento dos nativos e habitantes daquelas partes e que

não estavam nesse momento de grande concordância ou cartas patentes feitas ao

mencionado Robert Harecourt ou outros legítimos habitantes na atual e legitima

possessão e ocupação de outros soberanos cristãos ou estados agora (...)”416.

Os comerciantes citados por Luiz Figueira como holandeses, chegaram ao

Amazonas em Abril de 1628, e se estabeleceram no sertão do Tucuju. Fizeram um forte de

madeira, que segundo a descrição de Figueira: 415 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.288-97. 416 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p.288-97.

219

“Tinha “uma cava de 20 palmos de alto e uma barbacã, de 12 palmos de alto, e largo

15, com parapeito em cima, de quatro palmos de alto e largo de 4. E todo o forte era

quadrado. Tinha quatro pedreiros e uma peça grossa de artilharia. E chamavam o

Gentio, que lhe fazia o fumo, e comercializavam com eles. E, por serem ali já antigos

os que dali tinham ido, lhe sabiam muito bem a língua”417.

Note o leitor, que os mais antigos sabiam a língua dos indígenas. Eram eles que

faziam o contato para as trocas de produtos, como o tabaco.

Para acabar com esse forte o capitão-mor do Pará enviou o capitão Pedro da

Costa, que reuniu grande contingente de tribos aliadas contra os holandeses e ingleses, entre

os meses de abril e maio de 1629. Segundo Figueira, sua companhia era composta de 30 ou

40 soldados portugueses e 800 índios flecheiros em 40 canoas418.

Bernardo Del Carpio e mais uma derrota Lusitana:

As fontes documentais dos estrangeiros confirmam os dados de Luiz Figueira.

Contudo, não chegaram em 1628, mas sim em 1629, para ajudar os colonos e membros da

WIC (Companhia das índias Ocidentais Holandesas). Eram dois navios: um grande (com

dezoito peças de canhão) e outro menor também artilhado. Os grupos aliados e recrutados das

aldeias Aruãs recepcionaram os navios, conforme relato de seu capitão Bernardo Del Carpio.

“(...) O suplicante partiu da Zeeland em 24 de janeiro de 1629 chegando ao Rio

Amazonas com os dois navios, um deles contendo 18 peças de artilharia em bronze

e ferro e mais outros seis em abril do mesmo ano. Depois de perceber a artilharia os

índios, já abordo do navio, reconhecendo o suplicante logo aceitaram sua autoridade

(...)”419.

Note caro leitor, que os indígenas tinham grande admiração pelas armas de fogo.

Segundo o que Bernardo afirma, de maneira implícita, os indígenas tinham dificuldade em

distinguir a nação européia pelos barcos e trajes, valiam-se do contato direto com os capitães 417 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.171. 418 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias, in: coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.171. 419 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, p301.

220

para reconhecer seus aliados. Isso acaba nos parecendo uma fragilidade dentro das forças

holandesas.

“(...) O suplicante desceu pelo rio por mais 60 léguas e foi perguntando aos índios

sobre alguns deles que não estavam lá, foi então que os índios lhe contaram que

sobre outros brancos que estiveram lá para fazer guerra com eles o que havia feito

com que ambos os lados sofressem algumas perdas e que alguns irlandeses que

ficaram vivos se foram com eles livremente levando consigo muitos índios que

também foram livremente. (...)”420.

No contato com os indígenas, Bernardo soube da presença de outros brancos, e da

guerra que houve entre eles e os seus soldados. Disseram a Bernardo que os irlandeses

capturados foram levados vivos e “de maneira livre”, assim como muitos índios. Sabendo

então da presença de inimigos, Bernardo levantou um forte chamado Foherégo (conhecido

mais tarde pelos portugueses como Torego ou Toregue)421.

“(...). O suplicante assentou um forte chamado Foherégo, reforçado com um pouco

da artilharia e pedras com argamassa, assim deixou alguns de seus homens por lá

sendo liderados pelos dois Irlandeses que havia conhecido em Zeeland, um deles se

chamava Mestre Matthias Omallon (Matthew More?) e o outro Mestre Diego Porcel

(James Purcell). Ele mesmo acabou indo para o interior com 42 soldados para ter

com os índios e levar a paz a eles, pois eles estavam em guerra entre eles. (...)”422.

Contando com dois engenheiros militares que trouxera da Holanda, chamados

James Purcell e Matthew More, eles construíram um forte de argamassa e pedra e com

algumas artilharias. Nesse período viajou para o interior para pacificar os índios, seus aliados,

que estavam em guerra entre eles. Podemos supor que a guerra envolvia os grupos Palikurs e

os Galibis, que nessa época iniciaram uma longa disputa territorial por causa do comércio,

como vimos no capítulo terceiro.

420 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.301. 421 Arthur Vianna diz equivocadamente que o forte Tauregue foi construído por Bento Maciel Parente entre 1637 e 1639. Seria próximo ao forte do Desterro, localizado a seis léguas de onde deságua o rio Genipapo. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, pp.245-47. 422 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.301.

221

“Tendo viajado 40 léguas e já era Junho quando chegaram algumas notícias que

diziam que o inimigo havia chegado matando os índios, queimando suas habitações

assentaram outro forte nas proximidades do forte construído pelo suplicante sem ao

menos dizerem quem eram, de onde tinham vindo ou perguntando quem era que já

estava lá”423.

Em junho chegou à região as tropas do capitão Pedro da Costa com o objetivo de

expulsar os estrangeiros. Contavam com uma numerosa força de sete mil índios além de

duzentos brancos, descritos por Bernardo.

Do combate sabemos apenas o que diz o seu depoimento. Gravemente ferido ele

teve de lutar apenas com os seus soldados, já que, seus aliados embrenharam-se nas matas e

fugiram.

“(...). O suplicante retornou para ajudar seu pessoal com 42 brancos e 10,000 índios,

encontrando o inimigo antes mesmo de chegar ao forte juntamente com alguns

guerreiros sendo 200 brancos e 7,000 índios. Eles então lutaram, havendo perdas em

ambos os lados, o suplicante foi ferido por duas balas e uma flecha, seus índios

fugiram abandonando-o a morte. Sem desistir ele e os 42 brancos continuaram a luta

e vencendo seus adversários conseguiram uma vitória (...)”424.

O depoimento de Bernardo não cita o forte durante os combates, apenas indica o

número desigual de forças. O leitor pode notar que os seus dez mil indígenas apesar de em

maior número, não puderam dar conta dos sete mil do lado português. Todavia, apesar de

todas essas dificuldades, ainda conseguiram vencer a luta contra os portugueses.

“Eles conseguiram capturar alguns índios hostis e dois brancos e descobriu que eles

eram portugueses e que o líder do ataque era um português mulato de nome Pedro

de Costa, que fora enviado pelo governante de Marañon para expulsar os

estrangeiros. Ele libertou os dois portugueses e os índios pedindo para que

dissessem a Pedro de Costa que ele e os irlandeses comandados por ele eram

católicos e que não tinham a intenção de provocar uma guerra em nome do rei da

423 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.301. 424 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.302.

222

Espanha. Não houve resposta da parte de Pedro de Acosta que deixou sua expedição

durante a noite”425.

Partindo da mesma opinião do padre Luiz Figueira, a vitória dos estrangeiros foi

justamente provocada pela falta de controle português de seus recrutados indígenas. A batalha

estava equilibrada com dois mortos de cada lado, mas os indígenas recrutados pelos

portugueses, vendo os indígenas inimigos fugirem, ao invés de ficarem nas suas posições,

para acabar com os estrangeiros foram atrás dos fugitivos. Isso deixou os portugueses em

desvantagem na batalha426.

Desse episódio podemos tirar muitas informações acerca das relações

estabelecidas dentro das companhias militares, tanto portuguesas quanto estrangeiras. Todas

estavam articuladas por alianças permanentes, mas elas não conseguiram estabelecer um

recrutamento oficializado, com a transfusão de técnicas militares européias para seus

indígenas. Os indígenas de ambos os lados valiam-se das mesmas formas de luta de seus

ancestrais e, os do lado português (provavelmente oriundos de aldeias Tupinambás), correram

para cima de seus inimigos tradicionais sem levar em conta as ordens dos capitães.

Note leitor, as diferenças dos números de soldados e índios, apontados por

Bernardo Del Carpio e Luiz Figueira:

Tabela 4 PORTUGUESES PORTUGUESES ESTRANGEIROS ESTRANGEIROS ÍNDIOS SOLDADOS ÍNDIOS SOLDADOS

LUIZ FIGUEIRA 800 30 ou 40 ? 48

BERNARDO DEL

CARPIO 7.000 200 10.000 42 Fontes: LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940; LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.

A desproporção entre os indígenas recrutados por Pedro da Costa, nas duas fontes,

é bastante elevada. Essa falta de precisão nas fontes, tanto nos números quanto nos nomes das

próprias fortificações é uma das causas das confusões e erros ocasionais entre os historiadores

antigos.

425 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.302. 426 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.171.

223

Após descobrir que seus inimigos eram portugueses, Bernardo concede a

liberdade aos prisioneiros e manda um recado ao capitão Pedro da Costa, que merece uma

reflexão mais apurada. Manda dizer que ele, e os irlandeses que estavam com ele, eram

católicos e que não tinham intenção de fazer guerra. Isso pressupõe que essa campanha ibérica

tinha caráter religioso, pelo menos na mentalidade de Bernardo.

“Os portugueses sabendo que o suplicante se chamava Bernardo e que vencera uma

batalha com 42 brancos depois de ter sido abandonado pelos índios e que ele

libertou os prisioneiros passaram a chamá-lo Bernardo Del Carpio, sendo esse seu

nome entre os índios”427.

Não adiantou esse argumento. Pois o capitão Pedro Teixeira comandou uma nova

investida contra Bernardo Del Carpio no ano de 1629. Desembarcou com as suas tropas no

sertão de Tucuya (Tucuju), fazendo logo uma área segura para desembarques. Depois ele e

seus subordinados deram combate às forças inimigas até chegarem junto da fortaleza dita

holandesa, fazendo um cerco até a rendição da fortificação, conforme podemos observar no

depoimento de Chichorro que esteve sob seu comando:

“(...) levou a dianteira, até q se entrincheirou junto da fortalesa dos olandeses, a qual

se derão tantos assaltos, q elles se renderão cem entregarem as armas, e o mais q

tinhão, (...)” 428.

No depoimento de Bernardo Del Carpio ele nos informa de maneira diferente

algumas das informações:

“No mês de setembro seguinte um português, Pedro Teixeira, apareceu com mais de

300 brancos e 15.000 índios por ordem do mesmo governador de Marañon para lutar

contra o suplicante. Ele fez um ataque surpresa no forte durante a noite e ocupou

com guarnição.(...)”429.

427 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.302. 428 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 429 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.302.

224

Na certidão anexa de Pedro Teixeira ele informa serem todos holandeses os que

estavam no sertão do Tucuya (dos índios Tucujus). Ou seja, não levou em conta haverem

católicos ou irlandeses na região, diz ele:

“Pero Teixeira Capp.am de infantaria e descobrimentos por sua Mag.de nesta

conquista do Pará, e ora por particular provisão do governador e Capp.am geral

Francisco Coelho de Carvalho Capp.am da guerra que por serviço do dito senhor

mandou dar aos rebeldes de olanda situados no sertão do Tucuya (...)”430.

Pelo documento, as ordens para o combate aos holandeses teriam vindo do

governador e capitão geral Francisco Coelho de Carvalho, que as repassou ao capitão Pedro

Teixeira. Na descrição de Pedro Teixeira o território inimigo é chamado de sertão do Tucuia e

os seus moradores Tucujus:

“(...) e chegando ao sitio donde avia de desembarquar com toda gente entendendo

que o inimigo nos podia agoardar para nos impedir o passo por ser perto de sua

fortaleza mandei (Pedro Teixeira) ao dito capp.am (Chichorro) com parte da sua

companhia tomar o sitio, o que fez tendo o campo seguro athe sem perigo nhu de

desembarquar toda a gente e aposentar.(...)”431.

O ataque foi realizado por meio de barcos, lanchas e canoas em número ignorado.

Transportavam todo o aparato bélico português. A tática era simples e consistia de um

desembarque rápido e silencioso de todo o pessoal e armas nas praias próximas da fortaleza

inimiga. No entanto, verificou-se que era muito perigoso, pois o inimigo podia antecipar essa

ação e atacar a praia impedindo o desembarque. Por isso, Pedro Teixeira preferiu desmembrar

o grupo de ataque, mandando à frente Chichorro com parte de sua companhia antes da

chegada do grosso da tropa principal, que ia atrás, comandada pelo próprio capitão Pedro

Teixeira.

Foi estabelecida uma cabeça de praia432, onde a companhia de Chichorro tomou

posse para evitar que o inimigo abrisse fogo dessa posição e impedisse o desembarque das

tropas. Não sabemos se houve muita hostilidade nesta fase da luta, o certo é que, depois de

assegurada a praia, desembarcaram os soldados, armas e provisões. A fonte não indica a

quantidade de pessoas envolvidas entre soldados, recrutados e aliados.

430 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 431 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 432 Termo mais conhecido depois dos famosos desembarques da Normandia (França) em 1945.

225

“E no dia seguinte quando fui reconhecer a fortaleza dos encontros foi também na

dianteira e a sitio pelejando como devia nas trincheiras q junto a fortaleza fizemos

tiros de arcabus, e assim se achou nos mais assaltos que se lhe derão, sendo todos

muy perigosos e ariscados sem nunca perder gente, e o inimigo sem prese retirar

com muita perda, athe que obrigado della se entregou a partido. Entregando

artelharia, Roqueiras, Bandeira, pólvora, monicões e mais armas das quais cousas

mandei tomar entrega pello dito capp.am (...)”433.

No dia seguinte foram dando combate ao inimigo até estabelecerem umas

trincheiras junto da fortaleza dos “estrangeiros”. Uma vantagem foi obtida pelos portugueses

que ficaram num ponto cego da artilharia inimiga, por isso a afirmação de que podiam dar

tiros de arcabuz, que nunca perdia gente e que se o inimigo tentasse fugir perderia muita

gente.

Para o capitão Bernardo Del Carpio, os portugueses não conseguiram tomar o seu

forte. Levantaram o cerco após sua chegada do interior, com trinta mil índios recrutados:

“As notícias chegaram ao suplicante mesmo ele estando a 16 léguas de distância

juntamente com 16 brancos. Eles imediatamente foram para o forte com mais

30,000 índios. E então Pedro Teixeira levantou cerco recuando para umas canoas

que estavam servindo de barricada para sua defesa” 434.

A derrocada do forte feito por Del Carpio aconteceu muito depois de iniciada à

luta e foi resultante de uma divergência interna entre ele e os capitães dos navios, dois

ingleses e um holandês, que chegaram ao Amazonas como reforço. Note leitor, como as

fontes são totalmente discrepantes nesse aspecto.

“Nesse momento mais três navios chegaram ao Amazonas, dois ingleses e um da

Zeelandia, sendo que o último deles trazia reforço para o suplicante. Os dois navios

ingleses traziam ordens da Inglaterra de notificar o suplicante que ele e o resto dos

irlandeses poderiam ser considerados traidores do rei caso não obedecessem ao

comandante desses dois navios. Esse comandante não só conhecia a embarcação que

o suplicante sempre usava como também sabia que ele estava em guerra com os

portugueses e, ocultando a ordem que trazia para ser dada a ele, ofereceu ajuda de

433 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 434 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.303.

226

uma forma bem amigável e avisou sobre a provável chegada de um navio com

suprimentos para ele”435.

Ainda segundo Del Carpio, chegaram novos reforços dos portugueses. Eram

recrutados das aldeias Engahíbas, considerados os mais difíceis de lutar.

“Ao mesmo tempo 2000 índios chamados “Angaynas” que eram aliados dos

portugueses chegaram para dar-lhe suporte, eram os mais bravos desse povo (...)”436.

As fontes portuguesas não citam essa participação dos dois mil Engahíbas.

Segundo Chichorro, os estrangeiros, sem ter muita opção de luta, aceitaram os termos de

rendição da guarnição de sua fortaleza e a entregaram para o capitão Pedro Teixeira e a

companhia de Aires de Sousa Chichorro:

“(...) nos recolhemos com os rendidos deixando a fortaleza arazada por não estar em

parte que conviesse ao serviço de sua magestade, e por tudo passar na verdade

(...)”437.

A rendição do forte por Bernardo Del Carpio, não aconteceu somente devido ao

cerco e combate como sugerem as fontes portuguesas. As diferenças entre os capitães

holandeses, ingleses e irlandeses por causa de poder e comando junto aos indígenas, aliado a

questão religiosa, foram os elementos da discórdia.

“(...) Enquanto isso o irlandês que veio com os 400 homens em dois navios

escreveu ao suplicante secretamente na língua deles informando sobre as ordens que

deveriam ser dadas a ele pelo comandante.

O suplicante chamou o irlandês para um conselho e percebeu que se eles se

juntassem aos 400 ingleses mais os reforços vindos de Zeeland, os irlandeses e

católicos perderiam o comando para hereges e conseqüentemente os índios seriam

hereges e não mais católicos. Então ele enviou dois irlandeses e um mulato para

comunicarem a Pedro Teixeira que ele preferia servir ao rei da Espanha a hereges,

435 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.303. 436 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.303. 437 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

227

faria isso e entregaria o forte se dessem a ele bons termos em nome do rei e do

governador de Marañon e Gran Para”438.

O capitão Bernardo junto ao outro irlandês percebeu que com os reforços ingleses,

mais os que estavam a caminho, vindos da Holanda, os católicos seriam minoria e logo

perderiam o comando daquele rio e dos seus indígenas para “hereges”. A rendição das forças

católicas de Del Carpio aos portugueses foi por causas religiosas e políticas dentro das

colônias dos estrangeiros. Após um acordo firmado entre as partes ele e seus soldados

entregaram o forte aos portugueses.

“(...) Ele e seus capitães, oficiais presentes, soldados e civis, o seu capelão Frei Luys

de la Assumpción fizeram um juramento em uma missa com todos os

evangelizados, ajoelhados diante de um crucifixo, juraram que os irlandeses e todos

os outros estrangeiros que estavam com eles, escravos e índios que os serviam e

deveriam ter a liberdade de suas vidas, assim poderiam negociar livremente com o

português: dariam a eles terras e índios para o cultivo de tabaco, teriam também a

posse de todas as frutas e todo lucro que aquela terra desse. Quando houvesse a paz

entre os reis eles teriam direito a passaportes, transporte e provisões para aqueles

que quisessem ir à Espanha levando todos os seus bens, mas os que quisessem

permanecer ficariam seguindo as condições acordadas: esses termos foram todos

registrados em Português e Irlandês. O suplicante então entregou o forte aos

portugueses e partiu com eles (...)”439.

As disputas entre católicos e protestantes acompanham as ocupações inglesas,

irlandesas e holandesas desde o seu início, conforme vimos no capítulo anterior. Ao

entregarem o forte os católicos, de maioria irlandesa, não somente pactuaram o fim das

hostilidades, mas também a entrega de todos os seus bens, incluindo plantações de tabaco,

frutas e sua mão-de-obra. Isso possibilitará a volta de muitos colonos irlandeses ao Grão-Pará

depois desses conflitos, com autorização do rei de Portugal.

Uma pergunta que o leitor deve estar se fazendo é: por que os portugueses

destruíram o forte já tomado? Por que não o utilizaram para derrotar os outros estrangeiros? A

resposta parece estar no local impróprio que “não convinha ao serviço de sua majestade”.

Provavelmente era muito no interior do rio principal, em um local que não dava para impedir

438 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.303. 439 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.303.

228

o acesso à direção nascente do rio Amazonas. Indica que pretendiam utilizar, quando

possíveis, estes fortes inimigos e desfaz o mito da vingança lusa contra as possessões

“estrangeiras”.

O local da fortificação holandesa foi escolhido para a defesa das suas plantações e

engenhos, algumas para guarnecer o rio. No entanto, no forte Foherégo (ou Torego, como

ficou conhecido pelos portugueses), havia muitas entradas e baias, não defendidas por

artilharia pesada, que deram a chance da aproximação dos portugueses sem serem atacados do

forte.

Depois de tomarem o forte, os portugueses ainda tiveram que lutar com os

“hereges” (ditos por Bernardo), ingleses e holandeses das patrulhas e navios de guerra que

chegavam para auxiliar aos sitiados:

“(...) certifico que vindo nos recolhendo da guerra do dito Tucuju. Com os

estrangeiros q nellas nos entregaram a partido chegando a aldea de Maricay vieram

duas naos hum pataxebe e duas lanchas que de socorro vinhao aos ditos rendidos,

(...)”440.

A vitória lusa na outra fortaleza, e conhecida pelo nome de Maricay (Mariocay),

devido o nome da aldeia próxima, foi muito por sorte. Os reforços estrangeiros não chegaram

a tempo de evitar a rendição da sua guarnição. As duas naus, duas lanchas e um pataxebe

eram fortemente armados e vinham com muitos soldados.

Novamente Chichorro “com sua gente” (como as fontes designam os indígenas),

foi utilizada nos planos de Pedro Teixeira. Fugindo de um combate aberto no rio com uma

força superior e evitando ficar encurralado em terra, ele novamente deixou a companhia de

Chichorro em terra para evitar o desembarque do inimigo. Na inversão das posições a

companhia de Aires Chichorro fez retornar este auxílio holandês que não pode desembarcar,

acabando por recuar num combate que durou “um dia e uma noite”. Podemos também supor

que essa força holandesa temeu ficar presa entre a terra e possíveis reforços de Pedro Teixeira

em embarcações no rio e por isso retornaram:

“(...) e vindo-se recolhendo o dito capitão trazendo em sua companhia os olandeses

rendidos sobrevierão duas naos, hum pataxo, e duas lanchas dos enemigos que

vinhão em seu socorro, e pretenderão lançar gente em terra pera ocupar outra vez , o

que vendo o dito capitão querendo impedi-los, mandou a elle sup. q com sua gente

440 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

229

lhe defendesse o desembarcar, o q fez o que convinha estando hum dia e huma noite

pelejandocom os enemigos, te q elles desesperados da empresa, se fizerão na volta

do norte, (...)”441.

Pedro Teixeira, mais detalhista em sua certidão diz que a companhia estava em

desvantagem posto estar em terra e a força holandesa embarcada. Houve então ataque de

bombardas dos barcos inimigos para um desembarque de tropas holandesas:

“(...) he encontrando-se conosquo na dita paragem se puzeram as bombardas para a

sombra dellas botarem gente em terra. Para defesa encarreguei ao Capitam Aires de

Sousa Chichorro a paragem mais perigosa e arrisquada para que co a sua companhia

a defendesse o q elle fez (...)” 442.

A fonte sugere que sob a cobertura de fogo das bombardas da Nau holandesa

houve um desembarque de tropas que foi combatida por Chichorro. Nesse aspecto, o capitão

Pedro Teixeira recuou com os prisioneiros rendidos da fortaleza deixando a companhia do

capitão Chichorro como distração e resistência ao desembarque.

Percebo, no entanto que nos dois discursos há uma contradição na lógica militar.

Afinal, que vantagens havia em ficar uma força reduzida para defender a posição de uma nova

invasão? Por que então Pedro Teixeira não ficou e lutou para expulsar o inimigo? Por que os

navios holandeses não foram tentar destruir a frota portuguesa?

Fato confirmado pelo próprio Teixeira, é que ele não esteve presente no combate

de Maricay. Isso é muito importante para desconfiarmos da veracidade daqueles fatos

contados por ele:

“(...) cometendo nella o inimigo a desembarcar com três lanchas e muita gente e

com a resistência q lhe fez com os de sua companhia, se lhe retiraram com muita

perda segundo depois tive por informação, e asistindo as naos num dia e hua noite

jugando sempre muita mosquetaria e artelharia, o dito Capitão não largou nunqua a

instancia que lhe entreguei athe que os contrários vendo o pouquo effeito que faziam

se fizeram na volta do norte, ficando interra de sua magestade por então livre e

desoprimida de tam molestas nação nella (...)”443.

441 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 442 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 443 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

230

O fogo de mosquetaria da companhia do capitão Chichorro, e a chuva de flechas

dos indígenas recrutados e aliados Engahíbas, que estavam em número elevado, fizeram os

holandeses se retirarem “segundo teve informação” Pedro Teixeira. Embora o estrago do lado

português seja ignorado, posto eles dificilmente contarem o gentio como baixa de guerra,

apenas os soldados brancos. Temos em depoimentos escritos, um pouquíssimo número de

mortos e feridos portugueses. Mas, o padre Luiz Figueira, confirma os fatos de maneira

semelhante ao dito pelo capitão Teixeira.

“Depois do nosso Capitão partido, a dois ou três dias, chegaram ao mesmo lugar 2

naus e um pataxo, e outras três lanchas, que vinham socorrer os cercados seus

companheiros (Forte Torego). Dispararam muita artilharia, em vão, e trataram de

deitar gente em terra, porem, os nossos das ciladas que lhes fizeram os iam

recebendo de tal maneira que lhes mataram 4 dos seus. E com isso os fizeram

recolher outra vez, e dando à vela se tornaram de onde tinham vindo. Estes se afirma

serem Ingleses do Capitão North, que aí perto depois tomou sítio, e fez outro forte,

não muito longe, de que depois os nossos tiveram notícia. E agora tornou lá o

mesmo capitão Pero Teixeira, por ordem do Governador, com a mesma ordem que

para os Holandeses lhe tinha dado. Esperamos com o favor divino o mesmo

sucesso”444.

Podemos ter a certeza que isso não refletiu a realidade, quando avaliamos os fatos

do ponto de vista militar. O uso de bombardas pelos holandeses, canhões que atiram balas

explosivas e não às de ferro fundido causavam muitas baixas em qualquer conflito da época,

isso aliado ao fato de terem que lutar na área de desembarque holandês, implicava também

numa vulnerabilidade aos disparos dos barcos e dos mosquetes daqueles que tentavam

desembarcar.

O depoimento de Pedro Teixeira foi obtido por terceiros, e por isso não revela

muitos detalhes do combate que pudessem esclarecer o número de soldados envolvidos, as

baixas e a participação dos indígenas. Contudo, ratifica a capacidade de Chichorro como

capitão na expulsão dos holandeses, considerados no documento como “molesta nação”.

Sobre esses combates no forte holandês de Maricay, o Padre Luiz Figueira, mais

detalhista, escreveu que o mesmo fora construído sob as ordens de Roger North. Não entra

mais em detalhes, pois, parece que não sabia o seu desfecho, por isso roga “o favor divino o

mesmo sucesso”. 444 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.175.

231

Não obstante, Figueira mostra no seu texto, o valor merecido dos indígenas nessas

batalhas. Cita como exemplo, o Potiguar Caraguatajuba, que em muitas ocasiões lutou com

bravura contra os holandeses.

“Nesta ocasião se assinalaram alguns índios muito, mostrando grande valor nas

escaramuças, entre os quais um chamado Caragatajuba, Potiguar, do Rio Grande.

Indo a um assalto, vendo 3 canoas dos índios naturais, aliados com holandeses, toma

a espada a boca, lança-se a nado, e as foi alagando uma e uma. E saindo em terra, às

frechadas matou muitos deles”445.

Note o leitor, que esse indígena era Potiguar do Rio Grande do Norte. Portanto,

podemos confirmar aquilo que já havia acontecido antes, durante a conquista do Maranhão e

Pará, o uso de indígenas de outras regiões, principalmente do Nordeste, para servirem aos

militares portugueses. Em outro combate, descrito por Figueira, Caragatajuba aparece lutando

contra 4 ou 5 holandeses.

“Em outro encontro com os Holandeses viu este mesmo índio um deles de bom

jeito. Arremete a ele, para o trazer vivo nos braços, e sem duvida o trouxera, se não

acudiram outros 4 ou 5 holandeses que lho impedirem às cutiladas, das quais todas

se defendeu com uma rodela e com as mãos, ainda que com algumas cutiladas, se

meteu por baixo de uns paus e ramos, e se livrou deles”446.

O padre Luiz Figueira, defensor dos indígenas, exagera um pouco nas suas

narrações. Porém, frente às narrações dos capitães portugueses ele é um dos poucos que

defende o valor dos indígenas nas guerras amazônicas.

“Outros fizeram outras cavalarias sem nunca morrer nenhum mais que os 3, que no

princípio dissemos, e os dois soldados portugueses naquele primeiro encontro. E em

todo este tempo era notável a força que estes índios faziam ao capitão, que os

deixasse escalar o forte que eles se atreviam a entrar, mostrando-se enfadados da

445 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.175. 446 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias. Coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, pp.175-76.

232

dilação da guerra, querendo logo vir às mãos com o inimigo. Mas o trabalho é que

não vem disto nenhum galardão em nome de El-Rei”447.

Note leitor, que ao final deste trecho, Figueira demonstra um desapontamento, por

ver que esses feitos dos indígenas não trazem nenhum reconhecimento para eles em nome do

rei.

447 LEITE, Serafim. Luiz Figueira: a sua vida heróica e a sua obra literária. Divisão de publicações e biblioteca agência geral das colônias, in: coleção Sergio Buarque de Hollanda, Biblioteca central da UNICAMP, 1940, p.176.

233

Figura 25 C

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234

As baixas estrangeiras não eram somente causadas pelos portugueses. A difícil

navegação pelo rio amazônico, de correnteza forte, levou a perda de duas embarcações

inglesas chamadas “Ninfa do Mar” e “Amazonas”, e todo o seu carregamento. A perda desses

navios, as deserções e o ataque português às aldeias aliadas minaram a força de ataque dos

ingleses e holandeses.

“(...) Nós, o governador e o cônsul da Guiana obtivemos para a plantação inglesa do

Capitão Francis Nevill, do Oficial Michaell Tailor mestre do navio “Amazones” e

de John Ellenger mestre do navio “Ninfa do Mar” as seguintes munições: Dois

falcões sendo um para seguir pessoas, duas câmaras de arma de fogo, duas conchas,

duas esponjas, 28 porcos e duas carruagens de arma, tudo para a proteção do forte

em que permanecemos.Tudo o que recebemos foi trazido pelo Mestre John Ellenger

e observamos que tudo veio diretamente do navio “Ninfa do Mar” não temos duvida

(...)”448.

Os pertences dos navios e as suas cargas foram resgatados e levados para a

plantação do capitão Francis Nevill. Eram dois falcões (tipos de canhões), duas câmaras de

armas de fogo, apetrechos para os canhões, tudo para suprir o forte inglês.

“(...). Os portugueses são muito fortes, já tomaram e queimaram todos os territórios

indígenas por pelo menos 10 léguas a partir do rio e também pelos irlandeses que

vieram com o Capitão Pursell e que ficaram aqui e que deixaram várias armas com

os portugueses e que traiçoeiramente traíram os Ingleses a passagem pelo rio se

tornou muito perigosa, então sem essa munição fica difícil sobreviver e manter as

defesas no forte. Achamos muito bom que todos esses objetos tenham chegado até

nossas mãos e é com satisfação que testemunhamos isso ao capitão e sua companhia

(...)”449.

Além dos problemas causados com a perda dos navios, os ingleses perderam

apoio dos indígenas, devido à queima de seus territórios pelos portugueses. O envio dos

apetrechos e armas resgatadas dos dois navios, no entanto, serviram para manter a defesa do

forte.

A colônia no lado do Cabo do Norte (Amapá) chamada Sapno, continuou

existindo, conforme podemos verificar no depoimento de Edward Glover.

448 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.321. 449 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.321.

235

“(...) O navio “Hopewell of London”, que tinha John Hall como capitão, chegou ao

Amazonas em agosto ou setembro de 1630, quando o navio naufragou perto de

Sapno e perdeu quase toda a sua tripulação restando apenas 11 homens que se

salvaram usando uma canoa do navio. Esses 11 homens foram para uma plantação

chamada Forte do Norte. A canoa foi pega pelos portugueses que mataram os

sobreviventes do naufrágio, apenas um homem restou. (...)”450.

O depoimento de Glover, se verdadeiro, indica que os portugueses mudaram de

tática nesta fase das campanhas, agora não atacavam as colônias e plantações de tabaco. Seus

alvos passaram a ser os barcos e os fortes dos estrangeiros.

O leitor deve perceber aqui a diferença entre as fontes portuguesas e inglesas. As

primeiras são de militares interessados em mostrar sua bravura como maneira de alcançar

prestígio, como pudemos perceber na descrição de Chichorro. Já os ingleses tentam relatar os

fatos mais fielmente, ainda que evitem falar em derrota.

Um exemplo do que quero dizer sobre a forma de expressão dos ingleses, está no

afundamento do navio “Hopelwell of London” em 1630. Segundo dizem em depoimento e na

carta de Glover, após o navio ir a pique por causa de um banco de areia, os onze

sobreviventes foram atacados nos seus botes por portugueses, restando apenas um para contar

a história.

“(...).Eu, e outras pessoas que estavam no forte fomos atacados pelos Portugueses e

tivemos que escapar em canoas com os índios e depois fomos morar com eles. O

único sobrevivente que chegou até o forte me informou que o Capitão William

Moulsworth estava no navio quando ele naufragou e que deve ter morrido no

acidente considerando que ele não estava entre os 11 sobreviventes que restaram”451.

As coisas não iam bem para a “Companhia da Guiana”. Já não contavam com a

ajuda de muitas tribos como antes acontecia. Numa carta de Robert Harcourt, governador da

plantação de Wiapoco, para John Ellinger, em 23 de março de 1630, cita-se o envio de cinco

escravos da nação Yao (dois homens, um garoto e duas mulheres) 452.

450 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.355. 451 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.355-56. 452 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.340.

236

Para mudar essa situação, Robert Harcourt tentou transferir a sua colônia do rio

Wiapoco para o Amazonas, em janeiro de 1630. Essa decisão não agradou a todos, conforme

podemos ver no depoimento do capitão Thorton.

“(...). Essa decisão parecia ser uma punição para todos os que habitavam o Wiapoco

mas sobretudo causava sofrimento à toda a companhia por vários motivos entre as

quais estavam: como remover com segurança por 600 milhas e pela água quanto

tivessem que passar pelo mar? Se a maioria de pessoas seriam removidas, ficando

apenas 50 pessoas mais ou menos, seria muito fácil de ser tomada e destruída por

índios. Um outro aspecto era a incerteza em encontrar lá um lugar equivalente ao

que já estavam habituados”453.

As coisas tinham ficado difíceis na Guiana. Tanto que partiram a maioria dos

colonos para o Amazonas, pensando que as coisas por lá estivessem melhores. Um grupo de

50 pessoas ficou em Wiapoco, o que para o depoente John Ellinger, era muito arriscado em

virtude dos indígenas hostis. Os colonos foram ao Amazonas sem ao menos saber se aquele

local era melhor que o antigo.

“16 de outubro: Ficou acordado que a colônia do Amazonas receberia provisões da

vindas da Inglaterra da mesma forma que o grupo do Wiapoco recebera

anteriormente, porém esse acordo não foi cumprido, além do mais mesmo com a

chegada do navio Exchange nenhum tipo de suprimento foi enviado a eles, apenas

vieram mais ordens estimulando o conformismo por aquela situação. Então por

causa disso as pessoas que faziam parte da colônia ficaram bastante injuriadas e

mal-humoradas com a tripulação do navio”454.

A “Companhia da Guiana” não consegue atender mais as reivindicações dos

colonos. Os desentendimentos acabam fazendo os colonos, incluindo o depoente John

Ellinger, voltarem para a Inglaterra.

“Um outro problema que surgiu no decorrer da viagem foi a morte do provável novo

governador o que resultou em uma comissão que tentaria definir através de eleição

quem poderia ser o novo governador. Observei que a falta de alguém capaz de

assumir o cargo estava causando uma situação meio desesperadora ao grupo e foi

453 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.345-55. 454 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.345-55

237

então que decidi escrever uma carta pessoal ao Tesoureiro da Companhia para

informá-lo que resolvi retornar e que talvez levasse comigo o registro escrito que

havia feito durante a jornada, e acrescentei também razões suficientes para que todo

mundo também retornasse. Esta carta provavelmente foi lida por toda companhia e

quando foi respondida foi enviada diretamente para o Capitão do navio e não para

mim e falava apenas que a eleição deveria ser levada adiante. Fiquei desapontado

por achar que não tinha recebido nenhuma resposta, pois esperava ansiosamente por

uma carta que respondesse todas as dúvidas que tinha e então resolvi me preparar

para voltar naquela mesma noite de 23 de janeiro. Na terça-feira seguinte voltei para

Londres”455.

Terceira fase da Campanha ibérica: A prevenção é o melhor

ataque às colônias anglo-holandesas (1631-1645):

O capitão Jacome Raymundo de Noronha, num documento chamado “Relação das

Coisas pertencentes à Conservação, e aumento do estado do Maranhão” mostra que houve

uma mudança tática no modo de agir com os indígenas aliados dos estrangeiros. Nesse

documento fala-se da campanha no rio chamado Felipe contra um forte “estrangeiro” muito

bem armado. Novamente armou-se uma companhia militar para atacar e destruir esse forte e

capturar ou matar os ocupantes.

“(...) elle (Jacome Raimundo de Noronha) foi por ordem do governador passado por

capitão e com todos os seus poderes a fazer guerra a huns que estavão havia já perto

de dois anos fortificados e muito poderosos com muito gentio fabricando tabacos e

canas de assucar aos quaes foi sitiar e por em cerco ate que de todo o desbaratou e

lhe tomou a fortaleza que tinhao mui forte com cinco pessas de artilheria em que

entrava uma de bronze na qual Arborou as bandeiras de Vossa magestade com a

morte de oitenta e seis estrangeiros e treze prizioneiros, mal feridos de que

morreram daly a poucos dias sinco e do gentio morrerão muitos na guerra e outros

ficarão cativos e com esta vitoria se recolheu ao Pará (...)”456.

No ano de 1631 os portugueses foram mais uma vez lutar contra os estrangeiros

ingleses e holandeses no Tucuya (Tucuju). Desta vez, comandando a expedição estava o

capitão-mor Jacome Raimundo de Noronha. Sua tática foi enviar uma expedição noturna 455 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.345-55. 456 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 420-21.

238

contra os inimigos que pegos de surpresa fugiram. Segundo o seu relato morreram quarenta e

nove ingleses e foram presos apenas cinco. Do lado português não relata nenhuma baixa,

apenas feridos, inclusive o capitão Aires de Sousa Chichorro, ferido na face esquerda por um

pique (espécie de lança).

Em anexo há certidão de Jacome Raimundo de Noronha, que foi o capitão-mor e

cabo durante a guerra, por ordem do Governador Geral Francisco Coelho de Carvalho para

esta campanha no Tucuju. Novamente foi à guerra a companhia de Aires de Sousa Chichorro,

acompanhando o referido capitão-mor.

Segundo consta na sua certidão os combates aconteceram no rio Felipe (Philip),

um dos braços do rio Amazonas, onde havia noticia de uma fortaleza inimiga:

“(...) me acompanhou com sua Companhia na guerra q por serviço do dito senhor fui

dar aos ditos rebeldes situados no rio de phelipe Braço do rio das Amazonas em

fevereiro de 631, e na ocasião q com elles tive Pelejou mui onrradamente na

estância que lhe encarreguei; (...)”457.

Pelas informações dadas havia muitos holandeses e ingleses nessa região. Os

primeiros a serem atacados foram os ingleses no seu forte (Forte Felipe), que fugiram e foram

perseguidos pela companhia de Chichorro:

“(...) e obrigado ho inimigo de baterias e serquo que lhe tinha posto se pos de noite

em fugida em hua lancha co um falcão e duas roqueiras e algumas canoas; e por ser

cousa de muita importância o não escaparem mandei ao dito Capp.am Aires de

Sousa Chichorro com vinte homens em seus siguimento, o que fez com tanta

deligencia q em mui breve tempo lhe deu alcansse, (...)”458.

Na versão dada pelo capitão-mor os estrangeiros fugiram a noite, rompendo o

cerco que os portugueses haviam feito na fortaleza. Levaram armamento pesado - duas

roqueiras e um falcão em uma lancha, provavelmente uma Chalupa e em algumas canoas.

Mais leve e em maior número, a companhia de Chichorro atacou as embarcações que com o

peso viraram causando muitas baixas no lado inglês:

“(...) e foi o primeiro q com a sua canoa abalroou com tanto animo e valor que em

pouco espaço a rendeo deixando quarenta e nove ingleses mortos, e trazendo ante

457 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 458 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36.

239

mim sinquo presioneiros mui mal feridos. E elle dito Capitão com hua grande ferida

de pique na face esquerda de que esteve mui perigozo, e na ocazião mui arriscada

sua vida, na qual se tomou hua Bandeira de inglaterra, e sem elle dito Capitão perder

home algum dos que em sua companhia levava. E outro sim me acompanhou a ir

tomar posse da fortaleza do dito inimigo (...)”459.

A luta em rios agitados favorecia aqueles que conheciam melhor a correnteza, por

isso e pela experiência da companhia militar de Chichorro, que já havia estado anteriormente

em vários combates semelhantes, houve uma vitória lusa. A morte de quarenta e nove

ingleses, sobrevivendo apenas quatro, no entanto parece ser um número exagerado. Segundo a

provisão não houve mortos do lado português, apenas alguns feridos, entre eles o capitão

Chichorro460.

Este forte, atacado pelas forças militares do capitão Jacome Raymundo de

Noronha, era o mesmo citado por Figueira e cujo desfecho não dizia. Tratava-se do forte

erguido por Roger North, chamado Forte Felipe, devido estar localizado no rio de mesmo

nome.

Esse forte, segundo a descrição de Jacome, tinha cinco peças de artilharia em

bronze, mas, elas não impediram a invasão e tomada do forte por forças portuguesas. E a

morte de oitenta e seis estrangeiros durante a luta, e mais cinco depois, por causa dos

ferimentos. Foi a maior baixa descrita nas fontes. Relacionando as batalhas até então travadas,

vemos que houve um embrutecimento da luta pelo lado dos portugueses, tanto pelo número

elevado de mortes durante o conflito, quanto pela morte de mais cinco capturados. Suponho

que foram executados, embora seja muito difícil confirmar isso pelas fontes documentais da

época. No caso dos indígenas, esse número pode ser o dobro, por serem os que mais se

expunham ao inimigo. Depois de arrasarem o forte Felipe foram atacar outro, no ano seguinte:

“No ano seguinte despois da dita guerra huma nao e dous pataxos engrezes que foi

no anno de seiscentos e trinta e hum que hiao com socorro e gente aos que estavao

lá apossentados e sabendo que estavao desbaratados pelos portugueses se voltarão e

soomente ficou hum dos dous pataxos que se foi por em hum sitio que chamao

Camahu(...)”461.

459 AHU-ACL-CU-013, CX.1, D.36. 460 Arthur Vianna confirma a batalha do forte Felipe em maio de 1631, mas não entra em maiores detalhes a respeito do mesmo. VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.241. 461 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 420-21.

240

O próximo alvo era o forte chamado Camaú. Para este forte temos descrito o uso

de uma tática diferente, a intimidação dos indígenas aliados dos inimigos. Atacaram as suas

aldeias de tal maneira que ficaram incapazes de prestar ajuda aos ingleses do forte Camaú.

Depois atacaram fazendo um cerco prolongado de dois meses. Sem suprimentos o forte

acabou sendo rendido e todos os seus ocupantes presos.

“como o gentio estava castigado pela guerra que lhe deu não ousarão a metersse

com estrangeiros nem trazer lhe mantimentos com que ficarão padecendo

necessidades e no cabo de dous mezes depois de estarem mui doentes e lhe serem

mortos vinte e seis homens de quarenta que herao os outros se renderão aos

portugueses que se passarão do forte que tinhao feito hos troxerao prizioneiros com

o dito pataxo que taobem se lhe entregou e desde então até agora senão sentirão

maes embarcações de estrangeiros nem na terra povoações com que estão todos os

gentios quietos e sujeitos a obediencia de Vossa Magestade”462.

Note o leitor, que agora a preocupação com os indígenas está mais presente.

Segundo Jacome, após a vitória em Camaú, os indígenas, possivelmente Palikurs ou Aruãs,

estavam pacificados e em obediência às forças militares portuguesas. Sobre a tomada deste

forte admito que não consegui nenhuma referência. Tão pouco sobre a morte de Roger Frey,

comandante do forte de Camaú, a não ser a versão contada por Arthur Vianna.

“Em a noite de 9 de Julho, ficára Baião de Abreu, com 10 soldados e cinco mil

índios, na trincheira levantada, enquanto Chichorro fôra informar Feliciano Coelho

de que estavam cumpridas as suas ordens. Baião de Abreu, exorbitando as suas

atribuições excitou o enthusiasmo dos seus comandados e apoderou à viva força do

forte, cujos defensores ficaram prisioneiros. O commandante do forte Roger Frey

não assistiu o combate, porque fora ao encontro de um navio que lhe trazia

importantes socorros. Sabedor deste facto, ordenou Feliciano Coelho que o capitão

Chichorro fosse abordar o navio, o que para logo se tratou de executar. No dia 14 de

Julho as canoas da expedição collavam-se ao costado da nau e operava-se uma

terrível abordagem. No fervor da luta Chichorro e Roger Frey encontraram-se de

espada em punho e bateram-se com denodo, succumbindo o commandante inglês

aos golpes mortais do valente Chichorro(...)”463.

462 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 420-21. 463 VIANNA, Arthur. As fortificações da Amazônia I: as fortificações do Pará, in: Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará. Belém, 1905, p.242.

241

Contudo, essa versão pode ser contestada se levarmos em conta o relato de

Jacome Raimundo de Noronha e de uma carta escrita por Roger Frey, em Maio de 1633,

relatando a John Bainbridge a descrição das constelações vistas do Amazonas 464.

No texto endereçado ao conselho do reino, logo a seguir à descrição das lutas,

Jacome faz uma série de comentários sobre o modo de agir com os indígenas da região do

Amazonas, para evitar que novamente os ingleses e holandeses causassem problemas. Uma

dessas medidas seria mandar um grupo de brancos até Quito pelo rio, com línguas e práticos,

fazendo as pazes com os indígenas por meio de dádivas e do contato com missionários,

também levados na missão. Neste caso, aponta como os melhores missionários os capuchos

de Santo Antonio.

“E que para mais certeza da navegação deste rio e para que querendosse Vossa

Magestade servir delle haja pessoas praticas assy de Índios como de brancos

detremina de o mandar navegar ate a dita cidade de quito fazendo paces com o

gentio para que ão de hir lingoas que os entendao e homens práticos para que com

dádivas e bom tratamento os tragao a obediência de Vossa magestade e há de hir na

mesma Companhia hum religioso de missa e de ordem do capuchos de Sancto

Antonio cuja fama tem chegado aos mais remotos gentios destas conquistas e os

amam e os respeitam muito por suas virtudes e caridades”465.

Segundo Jacome, os missionários de Santo Antonio tinham fama entre os mais

remotos grupos indígenas, e eram os mais respeitados. O que dá a entender nas palavras do

capitão é que não adiantava fazer as campanhas militares aos estrangeiros se eles tinham os

indígenas daquela região como seus aliados. A melhor forma de combatê-los era tirando o

apoio dos indígenas dos inimigos.

“manda capitães práticos para que entendão onde melhor ficará a defencao a

respeito das poucas forças que hoje há naquellas conquistas para que depois Vossa

Magestade as possa acrescentar em modo que não possa ir o inimigo pello dito rio o

que ele não poderá fazer em nenhuma maneira tendo nos de nossa parte o gentio que

he o fundamento mais principal que tenho fazer pazes com eles com brevidade antes

que tenham pratica com os ditos inimigos estrangeiros com que possam perturbar e

trazer a sua amizade com dádivas de machados e foices e velórios espelhos e pentes

464 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989, pp.385-86. 465 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, p. 422.

242

que eles lhe costumam dar com mão larga. E os índios estimam tanto estas coisas

que por elas fazem tudo o que os estrangeiros querem e conservam com eles firmes

amizades (...)”466.

Como fazer a adesão destes indígenas do cabo do Norte e Amazonas, se os

estrangeiros conseguiam comprá-los por meio das dádivas? Para Jacome a forma encontrada

era a atuação dos missionários e em conjunto o apoio do governo em dar dádivas e assistência

a esses índios, para que os ditos estrangeiros não conseguissem comprá-los.

“mas antes que eles os tratem e conheçam confia em Deus que com a deligencia que

manda fazer com mandar a gente que tem dito a fazer as pazes e conhecer a

navegação do Rio hão de ficar todos sujeitos e em amizade com os portugueses que

com boas praticas e dádivas que lhe manda dar hão de estar todos a obediência de

Vossa Magestade (...).”467

Tal tática já havia sido escrita anos antes por Alexandre de Moura, como vimos

no segundo capítulo. Contudo, parece que somente depois de constatar na prática da guerra,

foi que essa medida pareceu começar a ter sentido dentro do governo do Grão-Pará.

466 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 422-23. 467 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 422-23.

243

Figura 26

COLÔNIAS, ALDEIAS E FORTES DESTRUIDOS E ATACADOSENTRE 1625-1646:

Aru ã

Tupinamb á

FORTES ESTRANG EIROS

CO LÔ NIAS

Inga hiba

Pal ikur

Gal ib i

FORTES POR TUG UESES

VITÓRIA PORTUG UESA

DERRO TA PO RTUGUESA

Baía do

Mar

ajó

Rio

Toc

an tin s

R io P a rá

R io P a ca já

Il ha d o Mara jóR i o G ua má

Rio

Aca

r á

Rio Am az onas

Rio

Iriri

Ilha Cavianade Fora

Ilha G

rand

e do

Gur

upá

Mayé

: 1600

Paracoto: 15 58

Marao

n : 163

5

T ucujú

Sacaca

Marauaná: XVII

GuajaráJ oa neAnajá: XVI I

Caramapin: 1614A PEHOU: 1623

Pacajá: 1 613

Uanapú: 1626

YURUN

A: XVII

CAMB OCA: XVI I

Rio Anajás

Mapuá: XV II

Rio C

apim

Rio

Acar

á Mi r

in

Rio

Mojú

Sapan ow

Sapan opokeTilletilleAre pa rede co

Taur ego

TockesKille

Coge mine

Val ley , Storting v an `T Water

Rio M

ar a ca - Puc ú

Vila N ov a

Aruã

Mal lepoca

Rio O

cqua ia ri

BelémF. Pre sé pi o

Makapá: 1636

LINHA DO EQUADOR

Ri o Calc

oene

Rio Arr o wa ri

Rio Gin

ipapeEl D est ierr o

Sa nto A nto ni o

Rio W

iap

oca

Sapno

R. N or th

Sem a menor vontade de sair de uma região considerada muito fértil, os ingleses

procuram construir novas “plantations”, apesar dos ataques portugueses. Num extrato do

conde de Berkshire, escrito por John Day em 1632, temos uma idéia de como alguns ingleses

tinham interesse na colonização do Amazonas.

244

“As casas são construídas como nossos celeiros, algumas muito grandes, onde em

algumas delas vivem cerca de cem pessoas, tendo lá camas suspensas (onde eles se

deitam) chamadas de hamackoes, feita de algodão468.

Eles irão trabalhar um mês ou mais por um machado, com o qual irão derrubar suas

madeiras, limpar suas terras, e plantar suas canas-de-açúcar, Anotto, e algodão, e

construir suas casas seguindo seus padrões, o que em outras plantations não é assim,

em todas nossas outras plantations, os aventureiros são forçados a levar homens para

fazer o trabalho para eles, diferente de Virginia e St. Christopher”469

Descreve como viviam os indígenas, suas casas são consideradas “grandes

celeiros” onde vivem cem pessoas. As camas suspensas de nome “hamackoes” nos dá uma

pista sobre o grupo ao qual se refere o documento. Como vimos no terceiro capítulo Amak era

como os Galibis chamavam suas camas470. Note o leitor, que as trocas de mercadorias por

trabalho são brutais. Por um machado os naturais têm que trabalhar por um mês ou mais nas

plantações e corte de madeiras.

No documento escrito o conde tenta mostrar a legitimidade das “plantations”

nessas terras. Para o conde a legitimidade estava na propagação da fé cristã aos povos

moradores da região e da criação de “plantations”. Como esses povos não eram tementes a

Deus e não faziam uso da terra como deviam, não eram legítimos donos das terras. Portanto,

aqueles que os convertessem ao cristianismo e plantassem, dando uma finalidade apropriada

para uma terra tão fértil, seriam aqueles que teriam mais direitos de possuí-las. O discurso do

conde está dentro daquilo que a historiadora Patrícia Seed considerou modelo de posse

inglês471.

“Além do que em muitas formas de plantations exceto em Nova Inglaterra, os

homens aventuraram com a esperança de apenas um bem, o tabaco; mas aqui há

muito mais que tabaco, por esta razão esta plantation é mais esperançosa que todas

as outras, pela sua fundação já feita que pode encorajar homens a irem até lá,

especialmente estando interessados nos lucros da mencionada plantation; em

468 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366. 469 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366. 470 Não descarto a possibilidade de serem tribos Maraon ou Aruã visto que os Galibi tiveram muita miscigenação nos anos seguintes à colonização. RICARDO, Carlos Alberto (coordenador geral). Povos indígenas no Brasil, n.3. Amapá/Norte do Pará. São Paulo: CEDI, 1983. 471 Segundo a historiadora, os ingleses que ocuparam o novo mundo inscreveram a sua posse fixando seus símbolos de propriedade que eram casas, fortes e cercas. Um segundo modo de legitimar a posse era o seu uso em atividades agrícolas ou pastoris. SEED, Patrícia. Cerimônias de Posse na conquista européia do novo mundo (1492-1640). São Paulo: Editora UNESP, 1999, p.37.

245

preservação do que, não mandamos somente homens honestos e capazes, com

munição e outros materiais muito úteis com respeito a construção de um forte, para

melhor segurança de nosso povo dos perigos do inimigo; tendo além disso faz com

que um pinnace fosse enviado para permanecer com a colônia no rio, para melhor

situação e segurança no país; planejando do mesmo modo nesse verão enviar mais

homens (como artesãos e outros) além de mulheres, como também material de

guerra e outros materiais, úteis para a defesa da plantation, além de outro navio para

permanecer com a colônia para sua melhor defesa e comercio da colônia

mencionada: no qual tenho interesse em ir com minha esposa e amigos, para habitar

em alguma parte daquela espaçosa terra”472.

Dada a sua legitimidade em usar aquelas terras, o conde mostra-se preparado para

enfrentar os intrusos com a certeza de estar dentro dos seus direitos. Para o conde de

Berkshire, as habitações espanholas não eram ameaça por estarem longe, da mesma forma os

portugueses.

No entanto, a ameaça existia e nas respostas dadas pelo conde nos vem à certeza

de que algo havia mudado com relação aos ataques inimigos. Berkshire não pensa em ter

apoio para manter a propriedade, pensa que somente com a sua plantação e com os seus

recursos poderia não só viver na região, mas também lutar contra os inimigos.

“(...) se considerarmos o espaço das terras (supostamente sendo maior que o reino da

Inglaterra vinte vezes) não temos tantos motivos para teme-los; se não nos agradar

suas proximidades, (tendo lugar suficiente, e muitos rios nessas terras) podemos (se

desejarmos) podemos ir além de suas pesquisas, onde sem duvida podemos retornar

com tanto lucro (pela cana-de-açúcar e outros bens que crescem naquelas partes)

como no rio mencionado, pra falar a verdade nós seriamos muito imbecis de nos

alojarmos perto do inimigo sem ter armas suficiente para combate-lo, ou ter espaço

suficiente para ir além de suas pesquisas (...)”473.

O conde de Berkshire, na ilusão de que todas as terras amazônicas seriam férteis,

acaba julgando que a melhor forma de tratar os inimigos era fugir deles, dado o grande espaço

entre rios, florestas nativas, que como o próprio diz, eram “vinte vezes maior que a

Inglaterra”. Ainda assim aposta que com a auto-sustentação, e com uma boa defesa, poderiam

viver sem problemas.

472 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366. 473 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366.

246

“Agora com a construção e fortificação dos fortes para defender as colônias, e com

tudo necessário para preservar a mesma, mostrou muita imprudência de alguns tipos

de pessoa: de suas insensatez atrás de lucros, descuidando das coisas necessárias

para preservação de suas vidas: o que levamos em consideração, ter dado carta

expressa, que primeiramente eles cuidem do fornecimento necessário para o

sustento, o que eles devem estar capazes de se auto-manterem, sem a ajuda dos

nativos os quais geralmente fornecem nossas plantations inglesas”474.

Mas, a tática dos ingleses esbarra na ação enérgica dos indígenas, que já não os

queriam em seus territórios. Um exemplo disso aconteceu em 1633, quando oito ingleses da

companhia da Guiana morrem numa emboscada de uma das tribos da região.

“(...) O navio pertencente ao meu lorde Goring e sua companhia para uma plantation

no rio Amazonas retornou e os homens relataram que oito de seus melhore homens

traídos na praia foram mortos pelos selvagens, e seus barcos levados, então voltaram

sem ter ido além do forte, o que ele imaginaram também estar tomado, e os homens

mortos. (...)”475.

Entre 1634 e 1635 a “Companhia da Guiana” entra em crise financeira. Seus

sócios tentam restaurar as suas posses, mas devido a muitos pedidos de dinheiro atrasados, a

companhia não pôde mais atender aos pedidos de ajuda dos colonos, nem pagar pela sua

produção476. Alguns sócios e membros do comitê da companhia tentam fazer

empreendimentos com os holandeses, caso de William Gayner, que em 1634 faz um acordo

com os holandeses para um estabelecimento no Amazonas sob o seu comando. Seus sócios na

“Companhia da Guiana” o denunciam por estar contrariando uma das cláusulas de licença do

seu funcionamento.

“O rei concedeu aqueles países para a companhia de nobres e cavalheiros da

Inglaterra aventureiros daquelas partes com uma proibição especial que nenhum de

seus servos possa comercializar naqueles lados sem licença.

Os lordes do conselho por esta razão suspenderam alguns ingleses que estavam indo

a Holanda para fazer uma viagem.

474 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366. 475 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.366. 476 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.387-92.

247

O mencionado Gayner estado agora na Holanda e em alguma confederação com

aqueles contidos cavalheiros preparados em Flusshing para uma viagem para lá sob

comissão e associação da Holanda (como informado) e tendo nenhum conhecimento

de qualquer outra parte do Amazonas que as quais possuídas por servos de vossa

majestade cerca de 16 anos é como trazer os holandeses aquelas partes e por meio

disso disputas entre as nações e entre nós mesmos.

Os ingleses estão por essa razão provavelmente a serem conduzidos de seus

habituados lugares e buscar uma nova plantation entre novas Índias e acima de

novos perigos.

Esse Gayner è um católico papista associado com outros dessa religião e suas

intenções está em criar entre eles uma plantation livre do governo inglês e mantida

pela Holanda (...)”477.

Devido às novas dificuldades encontradas, com a perda de numerosos colonos nas

guerras, os antigos membros da Companhia da Guiana passam a investir em outras áreas

menos perigosas, como a Índia e China.

Alguns colonos irlandeses, no entanto, tentam uma licença do soberano Felipe IV,

para montar uma colônia no Amazonas. Em 1631, Jaspar Chillan um ex-colono que foi

capturado e depois solto na Europa, tenta por várias consultas ao Conselho de Estado

estabelecer uma colônia irlandesa na Amazônia. Contudo, o conselho nega o pedido alegando

o perigo que isso poderia causar, tanto para os indígenas da região, quanto para o bem estar da

conquista478.

Nos últimos anos das ocupações estrangeiras, alguns antigos comerciantes

ingleses tentaram conseguir uma permissão do monarca inglês para voltar ao rio Amazonas.

George Guiffith alegou numa carta a sua majestade, que muitos cristãos, inclusive ele,

estiveram naquela região cristianizando e comercializando, quando havia a “Companhia da

Guiana”, e que não receberam a pensão que deveriam após o fim da companhia. Alega

também que eles deveriam fazer tais colônias antes que os holandeses ou outras nações o

fizessem. O rei inglês responde em 1638 evitando dar uma posição segura, mas demonstrando

simpatia à idéia479.

Ainda que houvesse uma maior resistência às novas colônias, temos

conhecimento que algumas prosperaram, talvez aproveitando a crise do final da monarquia

477 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.394-97. 478 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.398-413. 479 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.3432-33.

248

ibérica e o emancipacionismo português. Uma das últimas colônias, mencionadas pelas fontes

documentais, são as de Tapoywasooze e a Towyse-yarrowes (vila dos Aruãs). Descritas em

1640, pelos capitães Willian Clovell e Thomas Thomas Tyndall. Ficava no rio Japurá,

chamado de “golden river”, devido à presença de minas de ouro e prata. Como nas demais

colônias inglesas as alianças eram pautadas nas dádivas (machados, facas, espelhos, contas

para colares, garrafas de vidro, etc). Trocavam esses produtos baratos por madeiras nobres,

tartarugas, peixes, batata doce, plantas medicinais, óleos de bálsamos. Usavam esses

indígenas na plantação de tabaco, algodão, cana, e recolherem alguns produtos de aceitação

no mercado como drogas medicinais e alucinógenas. Trabalhavam 1000 homens nas

plantações, mas havia diferenças entre as “plantations”. Algumas usavam trabalhadores, que

recebiam pelo primeiro ano, dez mil libras para comprar comida e provisões. Outras, como a

pertencente a um senhor chamado Edge Tooles, usavam o trabalho dos nativos480. Se

pensarmos bem, a exploração era praticamente a mesma, pois os empregados acabavam

usando o dinheiro que recebiam em bens comprados na própria “plantation” 481.

Na volta da famosa viagem de Pedro Teixeira a Quito, no Peru, temos um

importante cronista, o padre Cristóvão de Acuña. Nessa viagem, ocorrida em 1639, Acuña fez

um relato da natureza e dos habitantes do Amazonas.

No rio Tapajós, o cronista descreve os grupos Tapajós e as crueldades praticadas

pelos capitães portugueses liderados por Bento Maciel, filho do governador.

“Ameaçavam os índios encurralados e tímidos, aterrorizando-os com crueldades

novas, para que ofereçam escravos, assegurando-lhes que com isso, não só ficariam

livres mas seus amigos e carregados de ferramentas e panos de algodão que lhes

dariam por eles. Que havia de fazer os miseráveis, presos, sem armas, saqueadas

suas casas, oprimidas suas mulheres e filhas, senão render-se a tudo o que quisessem

fazer? Ofereçam mil escravos, mandam procurar os que com alvoroço da guerra se

tinham posto em dobro, e, não podendo juntar mais de duzentos entregam-nos. Com

a a palavra que não obterão os restantes, deixam os portugueses livres aos que, para

tal conseguir, ofereciam seus próprios filhos como escravos como aconteceu muitas

vezes.482”

480 LORIMER, Joyce (ed.). English and Irish Settlement on the River Amazon 1550-1646. London: Hakluyt Society, 1989.p.433-35. 481 A mesma prática vai ser adotada, dois séculos depois, na época da borracha. 482 MELO-LEITAO. C. de. Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña: Descobrimentos do Rio das Amazonas. Coleção Brasiliana, vol. 203. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p.273.

249

Todos os Tapajós capturados eram mandados para Belém e para o Maranhão, para

abastecer o comércio escravista que os vendiam para os colonos e senhores de engenho. Isso

acontecia devido à pobreza da população do Pará, “sem pão para comer” nas palavras de

Acuña. Um ponto interessante relatado pelo padre, refere-se ao ataque desses Tapajós contra

ingleses que tentaram montar uma colônia num local próximo.

“(...) por ele acima, muitas léguas, subiu há tempos atrás uma nau inglesa de grande

porte, que pretendendo assentar nessa província e firmar colheitas de Tabacos com

os naturais, lhes ofereceram bons proveitos; mas eles, atacando de improviso os

ingleses, não quiseram outro que matar aos que puderam ter nas mãos e,

aproveitando-se de suas armas, que hoje tem, os fizeram deixar a terra mais depressa

do que tinham vindo(...).483”

Com a restauração da monarquia portuguesa em 1640 e coroação de D.João IV

temos uma reviravolta nas relações entre espanhóis e portugueses.

Os espanhóis vão tentar assegurar os seus antigos domínios na América. No Grão-

Pará o problema estava em garantir a soberania espanhola nas áreas do Amazonas que foram

colonizadas pelos portugueses durante a campanha contra os holandeses e ingleses. No

Memorial do Padre Cristóvão de Acuña, da Companhia de Jesus, existe uma série de

informações acerca do Amazonas e a passagem para a Província de Quito, no Peru.

Acuña faz uma série de justificativas para a coroa espanhola investir na conquista

da região e enviar padres da Companhia de Jesus para essas terras. Uma das justificativas

apontadas era a possibilidade dos portugueses, com apoio dos holandeses, dominarem o rio e

chegarem às minas do Peru:

“Que reduziendo a la obediência de Su Mag.d las principales naciones de este Rio, y

em especial las que havitan em sus yslas y orillas, que son muy belicosas y que con

valor ayudaran al que uma vez reconocieren por dueño. Y sugeta una nacion, lo

estaran con facilidad las demas y se podra hechar de la voca del Rio qualesquiera

otros que con siniestro titulo la tienen evitando gravisimos daños, si sucediese el que

los Portugueses que son los que la poseen, ayudados de algunas naziones belicosas

que tienen sugetas quisiesen penetrar por el Rio arriba hasta llegar a lo poblado del

Peru, ó Nuevo Reyno de Granada, pues aunque en algunas partes hallaran

483 MELO-LEITAO. C. de. Gaspar de Carvajal, Alonso de Rojas e Cristobal de Acuña: Descobrimentos do Rio das Amazonas. Coleção Brasiliana, vol. 203. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941, p.274.

250

resistencia, en otras muchas la hubiera muy poca, y mas si unidos con el Olandes,

como lo estan muchos del Brasil, yntentasen semejante atrevimiento”484.

Tal possibilidade existia em virtude de alguns colonos portugueses darem apoio

aos holandeses em outras áreas do Brasil, como no Nordeste. Entretanto, a manifestação de

Acuña foi mais uma jogada política, no sentido de conseguir enviar mais missionários para

uma região com possibilidades comerciais enormes e de conhecimento dos jesuítas. Ainda

assim, suas conclusões tinham fundamento quando falava na doutrinação dos indígenas como

forma de garantir a posse da região.

Figura 27

Maritima Brasiliae universae- Holandês, 1643. Neste mapa estão todas as possessões holandesas no Brasil. Além das alegorias bélicas e do título em latim “QUA PATET ORBIS” (O que faz o mundo sofrer), temos bem definidos a Paraíba, o Rio Grande, Pernambuco e Itamaracá. Não aparece qualquer colônia na região do Pará. In: MAPAS HISTÓRICOS BRASILEIROS. Coleção Grandes Personagens da Nossa História. Abril Cultural.

484 ANNAES DA BIBLIOTHECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO. Vol. XXVI. Rio de Janeiro: Officina Typographica da Bibliotheca Nacional, 1904, pp. 376.

251

Pirataria na Costa Norte (1645-47):

Num documento de 1 de janeiro de 1647, do capitão-mor do Pará Sebastião de

Lucena de Azevedo, existe uma queixa implícita do capitão-mor sobre o governador por

liberar aldeias para ficarem sob tutela dos frades e vigário da conquista, deixando a região

sem alguém que a pudesse defender em caso de invasão dos estrangeiros.

“(...) V.Majestade me faz sabedor de como os holandeses do Brasil tem quebrado as

tréguas com pouca fidelidade que costumam guardar fiz resenha da gente que nesta

praça havia assim dos que assistem neste presídio como dos mais desta capitania e

achei a saber sessenta soldados pagos em duas companhias nem um artilheiro e três

como praça de artilheiros sem saberem de artilharia coisa alguma nem há nesta terra

quem os ensine nem quem tenha luz de tal mister, há um escuzado capitão de

artilharia, há um escuzado sargento maior porque com um ajudante que há basta

para esta praça ser servida; os moradores da terra há sento e dez homens de

dezesseis até 60 anos de idade que vivem em suas fazendas distantes desta cidade e

praça de 12 a 40 léguas, há trezentos índios domésticos de vinte ate 60 anos que

vive também muito distantes em suas aldeias, não achei nenhuma canoa das muitas

que o governador P. J. de Albuquerque que deste mandou fazer dizem que os

ministros passados as venderam ou gastaram em seu serviço e os moradores mal

armados”485.

Mesmo assim, o capitão-mor com seus parcos recursos materiais e sem homens

conseguiu prender um pirata chamado “Vhandregos”, que vivia junto dos Aruãs. Essa prisão

aconteceu por um acaso do destino, pois foram à ilha para investigar o naufrágio de um navio

português que causou muitas mortes. Os náufragos desse navio português foram parar em

Joanes levados pelas marés, mas ao chegarem à praia foram atacados e mortos pelos nativos

da ilha (Aruã ou Joanes).

“E como tive esta nova ordenei seis canoas com vinte portugueses e sento e vinte

índios para ver se podia descobrir nova certa desta ruína e na volta tratar de alguma

confederação e amizade com estes índios rebelados tratando reduzi-los a vassalagem

de V.majestade de paz. E indo o cabo das canoas para da costa fancla tratar destas

conveniências foi Deus servido que colhesse as mãos o autor destas maldades grão

pirata que chamam vhandregos de nação holandesa e mais quatro companheiros 485 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63.

252

ingleses e franceses que a vinte e um anos que habitam aquele país o qual colheu em

uma canoa avisando aos ditos índios para que se prevenissem de armas para o

ajudarem a render a praça do Gurupá e esta com o socorro que esperava de Holanda

de trezentos infantes, artilharia e balas dando aos mais deles espingardas, alfanges

para assim os ter contentes para efetuar o que determinado tinha por e como Deus

foi servido que o dito cabo das canoas o colocasse as mãos e o mandou prezo a esta

cidade em 2 de novembro passado”486.

Conforme o leitor pode perceber neste documento, a atividade dos holandeses na

região continuou, mesmo depois da campanha contra eles nos anos anteriores. No caso,

restringiam-se as atividades de pirataria e contrabando de mercadorias passadas aos indígenas

das ilhas em troca de alguns produtos. A diversidade de nacionalidades, holandeses, ingleses e

franceses nos dá essa pista.

“(...). Cheguei a parte donde achei a nossa gente e junto com ela fui buscar a

paragem donde está o dito inimigo donde tomei os e achei em três grãos e meio da

banda do norte por parte donde catheoie chegarão portugueses e investi no inimigo.

Rompendo o alvo da minha sem ser detido e tanto que foram assaltados deram sinal

aos índios que tinham de sua defenção que acudiram logo. Quatrocentos flecheiros e

espingardeiros a que mandei ter o encontro com vinte portugueses com o dito Cabo

que fizeram muito valor e dos que levava em sua companhia se abalizaram alguns

como foram o capitão Francisco Paes Parente e seu Alferes Antonio da Costa

[Coutios] e eu fiquei a bateria com os franceses e os outros companheiros que

vendo-se com as esperanças perdidas do socorro dos índios se entregaram a partido

que lhe foi com alguma conveniências suas e rendi em menos de três horas sem

custar sangue de parte a parte”487.

Outro ponto a ser notado era que não produziam nada na ilha. Tinham um forte e

escravos. De importante, apenas tinham armamento (20 armas de fogo de pederneira, 1

falconete de bronze, alem de munição). Costumavam atacar embarcações com ajuda dos

indígenas, muito provavelmente com as quatro canoas muito grandes que foram apreendidas:

Dos índios inimigos morrerão muitos ab obstinadamente como bárbaros sem

requererem render a nenhum partido apelidando flamengos e frança que por amor

deles morrerão mil partes, feito isto tomei pose da casa forte donde estavam

comandando e quatro canoas muito grandes cinqüenta escravos e escravas vinte

486 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63. 487 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63.

253

armas de fogo muita flecharia e arcos um falconete de bronze um barril de pólvora

outro de balas algum pouco murrão porque não usava dele por serem as armas deles

de pederneira muitos mantimentos da terra que não puderam conduzir por falta de

embarcações e com treze estrangeiros destas nações ditas me recluia a esta cidade

tendo andado trezentas e oitenta legoas em quarenta e nove dias de ida e volta sem

receber dario algum a gente que levava dando graças a Deus que tão feliçe [muito

me cedeu] por razão de serem muitos os índios e estarem bem armados e nesta

ocasião me não acompanhou nenhum mais que um francês por nome P. adão que

levei por língua forçadamente.(...)”488.

Ao todo foram capturados treze estrangeiros. Interessante é a presença de um

francês, chamado Adão do lado português. Ele serviu de intérprete durante a missão. Segundo

o capitão-mor do Pará, Sebastião de Lucena de Azevedo, havia cinqüenta estrangeiros

vivendo no Pará, entre holandeses, ingleses, franceses e irlandeses, alguns muito antigos,

provavelmente da época das colônias.

“(...). Nesta capitania há cinqüenta estrangeiros de Europa de diversas nações são

holandeses ingleses franceses e irlandeses alguns deles casados e m. antigos nela

que são poucos outros que foram rendidos no Maranhão outros que agora rendi

nesta jornada. E de muito prejudicial e nociva a esta conquista porque os mais destes

remédios achei que estavam confederados e aliados com este corsário Vhandregos e

seu filho esperando por socorro de Holanda e armas para tomarem esta praça do

Gurupá e depois darem nesta quando mais desavisados estivéssemos e com

facilidade nos podiam render esta praça com a multidão de índios que tem em seu

favor porem foi Deus servido que com esta prisão que foi do Vhandregos e destes

rendidos seus companheiros se descobriu esta liga V.Majestade (...)”.

Para o capitão-mor a solução para estes estrangeiros recém capturados era o

desterro para outras regiões, como o Tapicuru, devido serem bons práticos e conhecerem a

língua de alguns grupos indígenas.

“(...) e tendo entendido por mandar ordenar o que se desterrem para o Tapicuru que

não convém que vão para Holanda nem Europa por serem muito práticos e grandes

línguas destes gentios pelo menos os Holandeses que os mais deles tenho preços e

dimitidos e de outros por parecer convém melhor servir assim ao serviço de

V.Majestade no Tapicuru senhor e estão seguros em os holandeses porque por

488 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63.

254

nenhuma via podem ali comerciar com índio algum nem com nenhuma pessoa da

Europa (...)”489.

O leitor deve estar se perguntando, por que o Tapicuru, como local para o

desterro? A resposta dada pelo capitão é que lá não havia nem índios, nem europeus com

quem pudessem comercializar. O Tapicuru a que se refere é o rio Itapecuru, que fica no

Maranhão e estende-se desde a serra das Alpercatas até a sua foz na Baía de São José.

Para outros, porém, propõe a mais severa ação punitiva. Contra as nações

Engahibas e Aruãs que apoiavam os estrangeiros, ele propõe um “castigo exemplar”. Para que

eles não apóiem mais qualquer investida:

“(...) Estes índios seus confederados como são nhengaibaz e aruans e outras nações a

pouco risco e menos custo ordenando-me V. Majestade se lhe poderá dar castigo

exemplar para quietação das mais nações desta conquista porque andam tão

desolutos que nos fizemos guerra ajudados do comercio que tem com os

estrangeiros dando-lhe para isso ajuda e favor e as mais em que então ia tão destros

como os mais destros, com isto tenho dado conta a V.Majestade do que nestes três

meses que há que estou assistido nesta praça, (...)”490.

Tais grupos foram atacados e muitos capturados com base na “guerra justa”. Até

os escravos do pirata foram alvos de disputas491.

Após essa prisão outro fato aconteceu na província. Oito navios holandeses

chegaram pelo Cabo do Norte e alojaram-se no Gurupá em maio de 1647. Segundo o capitão-

mor de Gurupá, João de Pereira Cáceres, que deu alarme aos outros militares da cidade,

estariam à procura do pirata Vhandregos492. Os documentos não dizem muito a respeito desse

fato, a não ser a falta de preparo para lutar contra tal força. Não havia carretas para os canhões,

havia falta de munição e apetrechos. Por fim, não havia homens o suficiente para a luta, e

índios muito menos.

489 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63. 490 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.63. 491 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.65 e 67. 492 AHU-ACL-CU-013, CX.2, D.69.

255

Figura 28

Mapa do Litoral Amazônico- Holanda- Atlas Major de Guilherme Blaeus, 1662. Neste mapa holandês ainda aparecem as povoações anglo-holandesas na entrada do rio Amazonas e Cabo do Norte.

A expulsão dos estrangeiros do Pará foi devido a uma série de fatores. A atuação

de missionários portugueses entre as tribos aliadas dos holandeses e ingleses, que pacificadas

mudaram de lado no conflito. As contínuas intervenções armadas do governo ibérico, e depois

português, que debilitavam as companhias de comércio. Além das crises econômicas nessas

companhias, principalmente as inglesas “Amazon Company” e “Companhia da Guiana”,

cujos sócios, nobres e consultores passaram a preferir outros locais mais seguros de negócios,

ou como eles dizem “novas índias”. No caso da WIC, percebe-se que depois da derrota em

São Luiz o interesse em dominar a região norte parece diminuir. As áreas canavieiras do

nordeste atraem mais os investidores.

Outros fatores também interferiram. A competitividade do tabaco produzido nas

Antilhas, de melhor qualidade que o da região. As “plantations” de algodão da Virginia, bem

melhores que os produzidos no Amazonas e a falta de minérios como o ouro. Nesse aspecto

cai o mito das riquezas escondidas e das cidades perdidas.

As atividades estrangeiras vão estar presentes no litoral e ilhas do Amapá e Cabo

do Norte até a prisão de Vandergos em 1647. Depois disso ficará na memória dos capitães e

governadores até a completa expulsão dos holandeses do Nordeste em 1654. Contudo, a

256

pirataria e contrabando, praticado não somente por holandeses, mas ingleses, franceses e

espanhóis, irão continuar até o governo do irmão do Marques de Pombal. O governador

Francisco Xavier de Mendonça Furtado adota uma política de defesa das fronteiras, que

incluía a construção de grandes fortalezas sólidas, como a de São José de Macapá, a de

Gurupá e o Real Forte Príncipe da Beira.

Os indígenas passaram a ter maior proteção dos missionários. A sua conversão ao

cristianismo garantia não somente a paz com a colônia, mas também garantia a sua

colaboração contra possíveis invasores. Neste aspecto, os franciscanos e Jesuítas, como o

Padre Vieira, terão um grande papel na catequização de algumas das tribos mais hostis à

presença portuguesa493.

493 Os Jesuítas se estabeleceram no Marajó entre 1652 e 1658 e contribuíram na pacificação dos Aruã e Maraon, que somente acontece com os trabalhos de frei Manuel do Espírito Santo em 1666. Os franciscanos, segundo a autora, tiveram maior êxito na ação missionária pois alcançaram maior extensão territorial, fazendo missões no Xingu, Gurupatuba, Quiriri, rio Trombetas, Jamundá, Urubuquara, Tucujús e Caviana. MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de. Os Franciscanos e a formação do Brasil. Universidade Federal de Pernambuco. Recife: Editora Universidade, 1976, p.134-35.

257

Conclusão

Podemos então dizer que a questão indígena (em suas alianças e guerras) foi

fundamental para a conquista e colonização do norte amazônico.

A conquista via nordeste pelos ibéricos, notadamente portugueses, esbarrou numa

sólida aliança entre os Tupinambás e os franceses no Maranhão. Os abusos e a escravidão

cometidos durante a conquista do nordeste, pelos colonos lusitanos, não foram esquecidos

pelas lideranças Tupinambás, que odiavam os chamados pêros e desejavam uma vingança tão

ardorosa quanto às que praticavam contra seus antigos inimigos de outras tribos.

Essa revolta contra os portugueses era estimulada pelos capitães franceses que

viam nisso uma forma de tê-los como uma força militar contra o avanço ibérico. A forma

francesa de tratar os indígenas era baseada num respeito às antigas tradições, como o uso de

indumentárias e vestimentas, a prática da pajelança, do escravismo e das danças rituais, ainda

que logo após sua fixação, tentassem abolir o canibalismo e o politeísmo. Contudo, isso era

apenas inicialmente. Aos poucos tentavam convencê-los a mudar, ao mesmo tempo, os

missionários buscavam a conversão voluntária ao cristianismo.

Com a aliança permanente entre franceses e Tupinambás houve a constante troca

de informações acerca da cultura do outro. Do lado francês, havia o interesse no território e no

que poderia trazer de beneficio comercial. No lado dos indígenas, havia um interesse nas

armas e nas formas de guerrear dos franceses. Isso foi constatado na construção da fortaleza

de São Luis e na adoção de armas francesas como as espadas.

Entretanto, a forma francesa revelou-se tão exploratória quanto a dos pêros, pois

eles acabaram impondo uma dependência material aos Tupinambás, no uso de ferramentas em

metal como os machados, facas e foices. O impacto desses objetos na cultura desses grupos

indígenas é bem difícil de ser entendido, visto que, não era a preocupação dos cronistas

franceses. Mas, levando-se em conta que os objetos não eram percebidos da mesma maneira

que os europeus costumavam encarar, e eram usados pelos nativos como símbolo de status

social, na obtenção de mulheres e em trocas inter tribais, podemos então admitir, que esses

objetos tiveram um peso enorme no processo de modificação das relações sociais dos

Tupinambás.

Esse contato entre franceses e Tupinambás não evitou o avanço ibérico e a

conquista do Maranhão em 1615. As disputas entre as tribos Tupinambás aparentemente

foram as responsáveis pela rápida fixação dos expedicionários portugueses e a tomada da ilha

258

e da fortaleza de São Luis. Outros fatores religiosos podem ter pesado na vitória portuguesa,

como por exemplo, as disputas entre protestantes e católicos na França, cuja coroa não deu

apoio militar no momento mais crítico da luta. Seja como for, a vitória portuguesa no

Maranhão permitiu a expansão lusitana para áreas mais ao norte, para concretizar o sonho de

colonizar todo o litoral atlântico sul americano.

A expedição de Castelo Branco ao Pará em 1616, no entanto, fechou a rota de

fuga dos Tupinambás, que até então vinham subindo para o norte. Não tardou para explodir

uma grande revolta Tupinambá à forma de tratamento dada a eles pelos pêros. Esse

tratamento lusitano, mais brutal, era decorrente da falta de escravos para o trabalho nas

lavouras, que levava a um apresamento constante de indígenas, mascarada na forma de guerra

justa. Outro ponto marcante nas fontes era a falta de missionários capazes de doutriná-los,

como fizeram os franceses. Na verdade, apesar das autoridades, como o capitão-mor

Alexandre de Moura, mostrar nas suas correspondências que a única forma de garantir o

território era por meio da paz com os indígenas e da presença dos missionários, havia muitos

capitães que não adotavam essa política, pois tinham interesse no comércio das “peças” para

os colonos. Essa prática foi o cerne da guerra dos Tupinambás, conhecida como “revolta de

Amaro”, mas que pode ser ampliada, visto que suas causas foram maiores e mais profundas

que somente a carta lida por Amaro. Ela foi uma guerra por liberdade, onde os Tupinambás,

presos entre duas fortalezas tentaram abrir caminho pela fortaleza do Presépio, mais frágil e

menos defendida. A luta que se seguiu revelou o quanto a resistência indígena poderia ser

perigosa ao processo de colonização portuguesa.

Par resolver o problema o Governador Geral apelou para Bento Maciel Parente,

um dos capitães mais cruéis da colônia no trato com os indígenas. Este capitão, no entanto,

lutou numa guerra de guerrilha contra um astuto indígena de nome Jaguará baior, que fora de

sua própria companhia. Esse Tupinambá mostrou que os indígenas poderiam vencer adotando

táticas não tradicionais, apoiando os portugueses de dia e ao mesmo tempo fazendo

emboscadas e alianças com os outros grupos. O forte do presépio não caiu por causa da ajuda

vinda por mar que garantiu as provisões necessárias para a resistência. Ao mesmo tempo

Bento Maciel atacou e destruiu as aldeias rebeladas.

Um aspecto, que verifiquei nesse estudo das revoltas Tupinambás foi a vinda ao

Pará nas caravelas de socorro de outros indígenas Tupis, como Potiguares, para lutarem nas

companhias militares ao lado dos portugueses. Portanto, a migração podia ser por fuga ou por

apoio aos conquistadores. Talvez este seja um caminho novo a ser explorado dentro do estudo

das migrações indígenas.

259

Esmagando as revoltas Tupinambás os portugueses pensavam ter caminho livre

para a conquista do Amazonas e Guiana, todavia encontrou pela frente uma nova frente de

colonização que era mais antiga e vinha do norte (América Central), para o nordeste. Eram os

colonos ingleses, irlandeses e holandeses, que desde o final do século XVI vinham entrando

em contato com os indígenas da região.

Os ingleses e irlandeses, primeiros a chegar na foz do Amazonas. Faziam das

trocas de mercadorias uma forma de aproximação com os indígenas locais. No caso, os

Palikures, Aruãs e grupos litorâneos (Yaos e Maraons, por exemplo), foram os primeiros a

manter um laço de amizade com esses estrangeiros. As “dádivas”, como eram conhecidas as

mercadorias inglesas e irlandesas eram, na verdade trocadas por trabalho, no corte de

madeiras nobres, madeiras “tintureiras” para extração de corantes, na busca de ervas e plantas

medicinais, ou para conseguir alimentos. Essa simples troca dava imensos lucros aos donos

das embarcações na Europa. Isso fez com que viessem cada vez mais interessados nas

riquezas da região. Alguns achavam que poderiam encontrar a cidade perdida de Manoa,

como Walter Raleigh.

Passo importante para a fixação na região foi, além desse apoio dos indígenas, a

criação de companhias de comércio para melhor aproveitar os lucros e ao mesmo tempo

apoiar os colonos que começaram a fixar no território. A primeira delas, a “Amazon

Company”, foi a responsável pela instalação de muitas colônias e dos primeiros fortes

ingleses na costa do Amapá. A causa principal da criação desses fortes, não foi o temor dos

indígenas, posto trabalharem em harmonia, e não haver relato nas fontes de lutas envolvendo

indígenas e brancos neste momento da colonização. O ponto principal dessa criação de

fortificação entre ingleses e irlandeses reside em dois pontos. A chegada dos holandeses, bem

aparelhados em 1616, mesmo ano da chegada dos portugueses, e a tentativa de delimitar a

posse daquelas terras.

Os holandeses eram vistos pelos ingleses e principalmente pelos católicos

irlandeses como “hereges”, pois eram na maioria protestantes e fizeram uma rápida expansão

por muitas áreas do mundo. Foram os mestres na construção de fortificações na Europa e logo

que chegaram fizeram as suas, tendo apoio dos Aruãs, com os quais trocavam da mesma

maneira que os ingleses o trabalho pelas “dádivas”. Constatei que para os grupos indígenas a

religião ainda não era um fator de aproximação.

Os fortes então surgiram como um fator para equilibrar as forças e delimitar o

território de ingleses, irlandeses e holandeses, além de servir de proteção às suas colônias e

plantações. Algumas eram fortificações improvisadas, casamatas ou abrigos com algumas

260

baterias. Outras eram bem feitas em barro e madeira com fosso e bem aparelhadas com peças

de grande calibre. As maiores eram holandesas, contudo, foram erguidas em local muito

visível, na entrada do rio Xingu. Logo foram percebidas pelos portugueses.

A União das coroas ibéricas nas mãos de um soberano espanhol dificultou

momentaneamente o plano de expulsão desses colonos “estrangeiros”. O antigo Tratado de

Tordesilhas tinha sua linha imaginaria muito próxima da região em disputa, que ficava no

domínio da Espanha. Um impasse para decidir de qual lado partiria uma expedição para lutar

contra os estrangeiros foi decidido após um debate na corte de Madrid. Concordou-se que do

lado português já havia um forte e uma base para atacar o inimigo, sendo isso mais fácil que

de outros locais das colônias espanholas.

Atacar os inimigos pelo lado português deu a chance aos colonos lusitanos a

possibilidade de fixar bases dentro do território espanhol. Por outro lado, a farta mão-de-obra

daquela região, parece mais atrair os capitães portugueses, carentes de novos escravos em

decorrência do extermínio e fuga dos Tupinambás para o sertão.

A longa guerra que se seguiu foi dividida, para fins de melhor compreensão, em

três partes. Na primeira fase da guerra os portugueses vão pensando em reviver os grandes

feitos do passado, contando com grande contingente de recrutados do Rio Grande e de

Pernambuco, além de algumas tribos locais Tupis. A guerra não surte o efeito desejado, pois a

tenacidade dos colonos ingleses, irlandeses e holandeses é grande. Junto com seus aliados

Aruãs e Palikur conseguem manter muitas colônias intactas como Sapno e Sapanopoke.

Alguns fortes são destruídos, mas rapidamente são construídos outros. Os colonos que foram

expulsos voltam para a região. A campanha foi um fracasso nesse sentido.

Na segunda campanha, os portugueses vão ao Amapá e ilhas marajoaras com um

aparato maior que o da campanha anterior. Foi uma campanha mais brutal, começando com a

prisão dos moradores holandeses e ingleses de Belém e a retenção dos seus bens. Depois

atacando as principais aldeias inimigas preventivamente, queimando sua infra-estrutura e

impossibilitando a sua assistência aos colonos estrangeiros. Depois com uma grande força

expedicionária atacaram os principais fortes ingleses e holandeses. Capturando muitos e

enviando para a Espanha ou colônias espanholas.

Ainda assim, muitos colonos retornaram e suas plantações reconstruídas.

Entretanto, as relações entre irlandeses, ingleses e holandeses não eram muito boas. As

diferenças de religião começaram a dificultar a relação entre os colonos vizinhos, ao ponto de

irlandeses se rebelarem e entregarem o seu forte aos portugueses para que os indígenas não

ficassem sob a tutela de “hereges” holandeses e ingleses. Outro aspecto negativo para as

261

colônias inglesas era o fracasso das companhias de comércio. O fim da “Amazon Company”

por pressões da coroa espanhola tinha sido reparado pela criação de uma “companhia da

Guiana”, com as mesmas atribuições da primeira. Contudo, a companhia ficou em crise

financeira e não conseguia suprir os colonos da Guiana. Assim, muitos colonos sem

condições de permanecer retornaram a Inglaterra.

Os colonos que ficaram ou eram muito ricos como o conde de Berkshire, ou muito

pobres. Neste momento, a relação entre indígenas e colonos mudou. Talvez provocadas pelo

pavor provocado pelos portugueses e seus aliados. A escravidão aparece em uma fonte do

período, o que pode significar uma mudança de atitude dos ingleses com os indígenas que se

recusavam a trabalhar para eles. Os ingahibas passaram a apoiar os lusitanos e aparecem nas

campanhas provocando muito terror, pois eram tidos como os mais bravos da região.

Na última fase da guerra, houve uma mudança de atitude dos portugueses,

incapazes de vencer pela força, um inimigo que todo o tempo se renova. Deixam aos

missionários o difícil trabalho de conversão dos indígenas hostis para pacificá-los. Ao mesmo

tempo compram a simpatia dos seus chefes com “dádivas”. Sem o apoio indígena as colônias

inglesas e holandesas não são mais vantajosas. Aos poucos vão sendo abandonadas ou

transferidas para áreas mais seguras, em outras “índias”. Ainda assim fazem campanhas

militares e destroem as ultimas colônias estrangeiras.

De todos estes aspectos estudados em detalhes nos quatro capítulos podemos tirar

algumas considerações importantes e que podem contribuir para novos estudos. Um desses

aspectos é sem dúvida a questão das “dádivas”. Elas estão presentes no tratamento que todos

os europeus vão dar aos indígenas. São as principais formas de aproximação ou contato com

os grupos. Contudo, percebo uma diferença entre “dádivas” e escambo.

As “dádivas” eram consideradas para os indígenas “presentes”, pois o trabalho nas

plantações e na extração não era considerado bem trocável. O escambo era a simples troca de

objetos, uma faca de metal por farinha, uma harpa judia por um enfeite labial, etc. Entendo

que dessa diferenciação pode-se fazer novos trabalhos em História, explorando o sentido de

valor que as dádivas vão gradativamente ter até chegarmos ao plano da economia de trocas,

típicas da segunda metade do século XVII.

Outro aspecto marcante, que pode servir para outros estudos em História indígena

é a questão dos adornos como objeto de trocas. As chamadas “pedras verdes” tinham grande

valor para os grupos Tupinambás. Os grupos Aruak também tinham apreço por pedras verdes.

Tal objeto tinha um grande valor dentro daquelas sociedades, que podem ser encarados como

262

os primórdios de uma economia monetária na região. As lutas entre Palikures e Galibis

parecem ter algo a ver com esse comércio de “pedras verdes”.

O término da campanha militar não significou o final das viagens de estrangeiros

para o Amazonas. A pirataria nessas águas passa a ser constante. Em 1647 um pirata holandês

capturado demonstra que não havia diminuído o perigo de fixação dos estrangeiros. Por sinal,

a região das ilhas marajoaras de Caviana e Mexiana, ou em ilhotas mais ao interior, passaram

a ser comumente visitadas por piratas e contrabandistas de várias nações, por serem perfeitas

como esconderijo das autoridades das Bahamas e Antilhas. Um novo trabalho com fontes

mais abrangentes dos séculos XVII e XVIII poderiam dar mais informações sobre a pirataria

na costa amazônica.

Esta dissertação, longe de ser conclusiva, permitiu rever muitos dados e

afirmações de pesquisas antigas, cujos autores desconheciam as ricas fontes existentes em

outros arquivos e instituições de pesquisa na Holanda, França, Inglaterra e Espanha. Portanto,

ainda há muito a ser explorando dentro da História indígena e colonial.

Por fim, acho que a importância desse estudo reside também em revelar outras

maneiras de se perceber historiograficamente a relação dos povos indígenas com os europeus.

Procuro deixar de lado a versão nacionalista da história e analisar em sua diversdade índios e

europeus, seus problemas e suas lutas, conquistas e derrotas. A grande variedade de fontes

(escritas e iconográficas) foi colocada no texto para melhor desvendar a rede de relações

sociais e políticas, que eram muito intensas e também muito ricas, onde a variedade cultural

era enorme e a ação de grupos sociais diversos era fundamental, fugindo da idéia de

colonizadores (bandeirantes e missionários) como pontos hegemônicos para se entender a

história da Amazônia no início da colonização.

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ARAÇÓIA, ARASOYA, ARASSOIA, ARAÇOIA: Espécie de saiote de penas de

cores variadas, usado pelas índias. G. DIAS. Últimos Cantos (1851).

ATURÁ: Cestos compridos seguros do dorso do corpo á testa por uma faixa de

embira no qual as índias carregam os móveis e filhos menores. A. C. SILVA, Corografia

Paraense (1833).

BURANHÉM, UBIRAÉM, BURAEM, BURAYÉM, BURANHÉ, BURANHEM:

Árvore da família das sapotáceas, cuja madeira foi muito utilizada na fabricação de navios.

Citação mais antiga: G.S. SOUSA. Notícias do Brasil (1587).

BURUUICHAUE: Palavra sem significado no dicionário Tupi (CUNHA,1999). A

designação mais próxima encontrada está no próprio texto de Cláudio D’ABBEVILLE.

Historia da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e circunvizinhanças (1614).

Nele o sentido da palavra parece ser de Líder, Chefe militar e Político. Japiaçu e o senhor de

Rasilly são considerados buruuichaue (p.85-6).

CAUIM, CAÕY, CAGUI, CAUY, CAÙY, CAUI, CAVI, CAHUÍ, CAUIN,

CAUYM, CAJUHY, KAUIN: Bebida fermentada feita de mandioca, milho, caju ou ananás,

podendo também ser de outras frutas. Primeira citação: ANCHIETA, Pe. José de. Informação

dos casamentos dos índios do Brasil. Citação regional: J. S. José. Viagem ao gram-Pará. In:

RIH, IX, 1869.

CAAPENO, CAAPEPENA, CAÁ-PEPÊNA, CAHÁ PÉPÉNA: Técnica indígena

de sinalização. Citação mais antiga: J. DANIEL. Tesouro descoberto no rio Amazonas (1763).

In: RIH, III. 1841, (p.42).

CABOCLO, CAUOUCOLO, CABOCOLO, CABOCORO, CABOUCOLO: É

bastante controvertida a etimologia da palavra. Significa no geral índio mestiço de branco

com índia; homem do sertão de hábitos rudes e de pele queimada pelo sol. Citação mais

antiga: ABN, LVII, (1645); M. CALADO. O Valeroso Luciderno I.ii.25 (1648).

271

CAETÊ, CAETÉ, CAHETÉ: Designação comum a várias plantas das famílias das

marantáceas, canáceas etc., de cujas folhas os indígenas se utilizavam para diversos fins.

Citação mais antiga: G. S. SOUSA. Notícias do Brasil. (1587).

CAIÇARA, CAIÇA, CAICARA, CAICA, CAICÁRA, CAISSARA, CAIÇÂRA,

CAISSARA, CAYSSÁRA, CAYÇÁRA, CAHIÇÁRA, CAHISSÁRA: Cerca tosca,

construída com galhos e ramos entrançados, usada pelos indígenas para defesa e proteção de

suas tabas, seus currais etc., por extensão qualquer cercado de construção rústica. Citação

mais antiga: G. S. SOUSA. Notícias do Brasil. (1587).

CAMUCIM, CÂMUSY, CAMMUCI, CAMUCI, CAMOCIM, CAMOTIM,

CAMUSY, CAMUCIM: Vaso em que os indígenas enterravam os seus mortos; cova,

sepultura indígena. Citação mais antiga: NÓBREGA. Cartas. (1561).

CANGOEIRA, CANGUÉRA, CÃGOÊRA, CÂGOEIRA: Espécie de canudo,

confeccionado com folhas de palmeira, que os indígenas utilizavam para fumas: espécie de

flauta rústica feita de ossos descarnados, utilizada pelos indígenas em suas festividades.

Citação mais antiga: CARDIM, Origens dos índios do Brasil. (1584).

CAPOEIRA, CAPUERA, QUAPOEIRA, COPUERA, CAPOERA, CAPUEIRA,

CAPOEYRA, CAAPUERA: Terreno onde houve roça e que foi reconquistado pelo mato; por

extensão, espécie de perdiz que vive em capoeiras. In: ABN, LXXXII. P.132. (1577).

CARAÍBA, CARAIBA, CARAIBBA, CARAYBA: Santidade, feiticeiro indígena;

homem branco, o europeu. Citação mais antiga: L. GRÃ. (1552). In: S. LEITE. Cartas II

(pp.133-34). Planta da família das borragináceas. In: CASAL. (1817). Corografia Brasílica II,

p.163.

CARAPINA, CARPINTEIRO: Carpinteiro. Citação mais antiga: Livro de Contas.

(1623). In: DHA, II, p.19.

COTIARA, CUTIARA, QUOTIÀRA: Madeira rajada, Ibiracuatiara.

CUIDARU, CUDARU, CUIDARÁ: Espécie de clava indígena. Citado em

Annexes du premier Mémoire du Brésil (1770), A. C. SILVA, Corografia Paraense (1833).

CUNHAMUÇU: moça ou mulher completa. Citado por: D’EVREUX, Yves.

Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614, p.134.

CUNHAMUÇUPOARE: mulher casada. Citado por: D’EVREUX, Yves. Viagem

ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614, p.135 e notas, p.399..

IVIRAPEMA, IVERAPEME, IGARA-PEMA, IVERAPEMA, IVARAPEMA:

Espécie de tacape. Citado por G.Dias, últimos cantos (1851), J. de Alencar. Ubirajara (1874),

G. Ramos.Caetés (1933).

272

IGAÇABA, IGAÇÁBA, IGÂÇÁBA, IGAÇAVA, IGUAÇABA: talha ou pote; por

extensão recipiente de grandes dimensões; urna funerária indígena. Citação mais antiga S.

VASCONCELOS. Coisas do Brasil (1663), HERIARTE. Descrição Maranhão, Pará (1667).

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A

ÁGUIA: Boca de fogo, provavelmente para a obtenção de tiro curvo, atirando

pelouros de pedra. Há referências a uma peça deste nome no cerco de Mazagão de 1562

(p.325).

ARCABUZ: Do Alemão achen-busher (espingarda de gancho), designava uma

arma de fogo ligeira que se apoiava numa forquilha, geralmente sobre as muralhas, e que

segundo Salas, podia ter um alcance de cerca de 57 m em linha reta. Mais tarde o termo

generalizou-se indistintamente para todas as armas de fogo ligeiras.

B

BALUARTE: Nos séculos XVII e XVIII. Embora a palavra surja no século XV, o

sentido de plataforma pentagonal dimensionada para a artilharia de fogo só se fixa no final do

seguinte. “É uma obra avançada do reparo delineada com quatro lados e três ângulos

exteriores além dos dois que forma com as cortinas” (Serrão Pimentel, parte I, Seção I,

cap.VII, p.17).

BOCAS DE FOGO: Nome genérico dado às armas de fogo não ligeiras que

atuavam pela explosão da pólvora, expelindo através de um cano projéteis de natureza vária

(p.326).

BOMBARDA: Boca de fogo mais pequena que o trom (séc.XIV). Depois do

século XV, o termo aplicou-se genericamente a quase todas as bocas de fogo, não tendo

propriamente um tipo especifico. Aos utilizadores dessas bocas de fogo deu-se, pois, o nome

de bombardeiros (p.326).

C

274

CANHÕES: Boca de fogo de médio calibre (comprimento de alma de 18 a 23

calibres) que inclui: leão, águia, serpe, espera e meia-espera. Possuíam um comprimento de

tubo médio e eram geralmente utilizados para bater fortificações e navios (p.326).

CANHONEIRA: Nos séculos XVII e XVIII. Espaço aberto no parapeito das

fortificações, rasgado para fora e algumas vezes para dentro, destinado a albergar as bocas de

fogo. Tem 3 partes: boca interior da parte do parapeito, a gola na grossura do parapeito e a

boca exterior, ou saída da parte da campanha (Serrão Pimentel, parte I, Seção I, cap.XXXII,

p.131).

CASAMATA: Nos séculos XVII e XVIII. “É uma praça coberta de abobada a

modo de uma casa que se faz nos flancos dos baluartes, onde se aloja artilharia para se atirar

ao inimigo, e defender a face do baluarte oposto. Estas se fazem hoje descobertas com o nome

de praças baixas” (Serrão Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.16). CARONADA: Canhão

usado pela Marinha, curto e de grosso calibre, destinado ao tiro horizontal. Media 730 cm e

atirava pelouros de 12 kg a 22 kg (p.326).

CARAVELA: embarcação de uma só coberta, de velas latinas ou redondas, de

proa alta e três mastros sem cestos.

CANOA: Geralmente, barco ligeiro e estreito. Antigamente, era uma embarcação

menor de uma só peça, sem quilha, que os habitantes dos países tropicais utilizavam.

CERCO: Tática militar que consiste em rodear e isolar, por meio de tropas uma

fortificação, uma cidade ou outras tropas, ate os sitiados serem coagidos, pela fome ou falta

de condições, a renderem-se (p.327).

CHALUPA: Nome que geralmente se dá a uma embarcação pequena. Pode ser

coberta ou ser de casco aberto.

COLUMBRINA: Boca de fogo. A palavra deriva de coluber (cobra) e designa

uma peça de artilharia bastante comprida. Quando nos finais do século XVI se reconheceu a

vantagem de reduzir os tipos de artilharia existentes, as peças compridas receberam o nome de

columbrinas legitimas (30 a 40 calibres de comprimento) por contraposição as columbrinas

bastardas (cerca de 25 calibres. As de menor calibre chamavam-se meias-columbrinas, terços

de columbrinas, quartos de columbrina. As primeiras armas de fogo portáteis deu-se o nome

de columbrinas de mão (p.327).

CONVÉS: antigamente denominava-se assim o espaço que se situava entre o

mastro grande e o do traquete na coberta da bateria que estava por debaixo do castelo da popa

e da proa.

275

CORTINA: Termo utilizado desde a Idade Média até os séculos XVII e XVIII.

Designa durante a Idade Média o espaço de muralha limitado por duas torres ou lanço entre

duas esquinas. Já durante os séculos XVII e XVIII serve para designar a parte do reparo com

sua muralha de pedra e cal ou sem ela, que fica entre os flancos de dois baluartes. (p.327).

E

ESTACADA: Forte vedação em madeira destinada, geralmente, a fechar um local

até ser construído um muro definitivo. Com o nome de palanque, ou castelo de madeira, foi

instrumental na expansão portuguesa nos séculos XV e XVI. Nos dois séculos seguintes

passou a designar: “uns paus de altura de um homem cravados em terra e agudos na ponta, e

alguns com pontas de ferro, dos quais se forma uma linha e servem para deter e embaraçar os

inimigos, e contra as surpresas: também se usa deles nos fossos, e nas esplanadas [estaca

aquática]; porem o melhor lugar e na banqueta do parapeito da estrada coberta” (Azevedo

Fortes, II, p.22), (p.327).

F

FALCÃO: Tipo de boca de fogo do tipo columbrina legítima. Possuía um calibre

médio, grande comprimento de tubo e lançava pelouros de ferro a grande distância. (p.328).

FALCONETE: Boca de fogo do tipo columbrina legitima que possuía um

comprimento de alma superior a 30 calibres (p.328).

FAXINA: Dos séculos XVII -XVIII. É qualquer gênero de ramos ou matos com

que se ajudam as trincheiras, e as fortificações de terra, pondo em cada uma sua camada: a

faxina se faz em molhos de 5 para 6 palmos de comprido atados pelos extremos, e pelo meio,

e servem também para cobrir dos tiros de mosquetaria, fazendo deles parapeito (Azevedo

Fortes, II, p.22).

FECHOS: sistema de ignição das armas de fogo. As inúmeras variedades

conhecidas enquadram-se em quatro grupos: 1) fechos de mecha ou serpentina (século XV);

2) fechos de roda (séculos XV-XVIII); 3)fechos de sílex (séculos XVI-XIX); 4) fechos

fulminantes (século XIX) (p.328).

FORTALEZA: Nos séculos XVII e XVIII um castelo ou cidadela mais forte,

capaz, e de mais baluartes que os ordinários para segurança das províncias, cidades, portos ou

semelhante intento (Serrão Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.16).

FORTE: Nos séculos XVII e XVIII é uma praça cercada de fossos, reparos e

baluartes, dos quais se pode defender com pouca gente contra a força do inimigo(Serrão

Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.15).

276

FORTIFICAÇÃO: Nos séculos XVII e XVIII a fortificação se divide em

fortificação regular e irregular, segundo o polígono que forma a sua figura. Fortificação

regular é aquela cujo polígono tem todos os ângulos e lados iguais; e a fortificação que os não

tem iguais se chama irregular (Azevedo Fortes, II, p.8). A disciplina que teoriza e ensina a

construção de fortificações, como um ramo da Engenharia Militar.

FORTIM: Nos séculos XVII e XVIII. Forte pequeno, usado sobretudo na

fortificação de campanha ou provisória.

FOSSO: Termo utilizado desde a Idade Média para designar a Vala, geralmente

profunda, seca ou cheia de água, cavada em redor da muralha. Destinava-se a dificultar a

aproximação de pessoas e engenhos. Muitas vezes era designado por cava. Nos séculos XVII

e XVIII podia ser uma fresta aberta no terreno natural, ou feita artificialmente, levantando

terra acarretada de outra parte ao sitio onde se há de determinar a largura do fosso com a

contra-escarpa artificial de terra conduzida para a estrada coberta; a qual profundidade rodeia

toda a praça pela parte de fora (p.328).

G

GALEÃO: Navio de vela de grande porte que arvorava três a quatro mastros com

velas quadradas, exceto a mezena, que eram geralmente latinas. A sua invenção é atribuída ao

Espanhol Álvaro de Bazán, o velho, e considera-se uma evolução das carracas e das galeras.

O galeão variou muito durante o século XVII, criando-se na Espanha dois tipos: os da

Carreira das Índias, desenhados fundamentalmente como mercantes, e os da Armada do

Oceano, que eram de guerra. Na Europa, no final do século, ingleses, holandeses e franceses

fizeram-no evoluir para o navio de linha.

M

MECHA: Sistema de ignição para armas de fogo feito através de uma arma de

retrós. Este sistema podia ser utilizado quer em armas ligeiras quer em bocas de fogo. Neste

caso não existiam fechos, mas unicamente a mecha colocada no ouvido (p.329). Era feita de

uma corda comprida trançada, e os melhores, com estrutura tubular, fervida em salitre ou

acetato de chumbo e seca posteriormente. Quando se aproxima o fogo queima-se lentamente,

sem fazer chama, e conservando num extremo um ponto de brasa sempre aceso (Armas

Ligeiras de Fogo, vol.1, p.22).

MORTEIRO: Boca de fogo de cano muito curto e espesso, de alma lisa, destinada

a executar tiro de combate curvo, para bater alvos localizados à retaguarda de um obstáculo

(p.329).

277

MOSQUETÃO: tipo grande de mosquete, que atirava balas de ferro. Segundo

Salas, o seu alcance de tiro em linha reta era cerca de 100 m. embora sendo arma ligeira,

destinava-se a ser usada em fortificações.

MOSQUETE: Arma de fogo portátil, mais ligeira que o Mosquetão, exigindo

apoio no terreno, quer sobre pião quer sobre forcado. Atirava balas de ferro ou de chumbo

com pesos variados (43g a 98g) e que podiam ter, segundo Salas, um alcance, sensivelmente,

de 68m a 74m (em linha reta). (p.329).

MURALHA: No século XVII é a parede ou obra de pedra e Cal à roda da

fortificação para sustentar as terras do reparo e o seu grande peso, e para o mesmo reparo

resistir ao tempo. A muralha compreende em si escarpa e talude exterior, fundamento ou

alicerce, sapata, ou cepo, camisa, cordão, parapeito de rondas, caminho de rondas,

contrafortes e contra-minas (Azevedo Fortes, II, P.10).

N

NAU: Antigamente nave de bordo alto com um castelo à proa, aparelho redondo

nos mastros do traquete (mastro mais próximo da proa), e do grande latino na mezena (último

mastro com velas triangulares ou latinas).

P

PALIÇADA: Pesada cerca de madeira utilizada na defesa dos primitivos castelos.

Mais tarde, o mesmo termo foi usado para designar um reforço feito em estacaria de madeira,

das fortificações ou redutos defensivos (séculos XVII-XVIII).

PARAPEITO: Nos séculos XVII e XVIII também chamado Talude, de terra

levantada por cima do reparo com grossura conveniente e altura bastante para cobrir os

soldados dos tiros inimigos (Serrão Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.16).

PEÇA: termo simplificado para designar genericamente qualquer boca de fogo,

neste caso, denominava-se peça de artilharia (p.329).

PLATAFORMA: Utilizada durante os séculos XVII e XVIII. Era a terra levantada

em forma quadrangular (como bateria) posta sobre o reparo, da qual se resiste e ataca o

inimigo com artilharia. (p.329).

PRAÇA: No século XVII e XVIII designa qualquer cidade, vila ou lugar bem

flanqueado, ou por natureza ou por arte (Azevedo Fortes, II, p8). Existem ainda as Praças

altas, Praças baixas e a Praças de Armas.

PRAÇA DE ARMAS: Espaço ao ar livre no centro da fortificação, que serve como

parada para reunir as tropas. Podem também existirem menores na estrada coberta para

organizar saídas de surpresa.

278

R

REDUTO: É uma obra menor quadrada, ou algum tanto prolongada, que se faz nas

trincheiras dos aproches; como também na campanha para descobrir algum sitio (Serrão

Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.16).

REPARO: Apoio geralmente feito de madeira, onde assentavam as bocas de fogo.

Também podia ser um terreno levantado à roda da praça revestido de muros de pedra e cal, ou

de formigão, adobes, terra batida, com escarpa proporcionada para bem se sustentar, sobre o

qual terreno se assenta o parapeito (Serrão Pimentel, parte I, Seção I, cap.VII, p.17).

ROQUEIRA: Boca de fogo, de tiro curvo, destinada a lançar rocas de fogo,

artifício incendiário de aspecto semelhante ao de uma roca. Também generalizou este nome

para designar as peças de braga de retrocarga que equipavam as naus portuguesas durante o

século XV.

S

SERPENTINA, ARMAS DE: Arma ligeira de mão que utilizava a mecha presa

num mecanismo de ferro chamado serpentina. O atirador puxava a alavanca inferior para si e

para cima, de forma que consequentemente, a parte superior movia-se para a frente e para

baixo; desta forma a ponta da mecha terminava na câmara, incendiando a pólvora e

provocando o disparo. Estes tipos de mosquetes foram usados até 1700 (Armas Ligeiras de

Fogo, vol.1, p.22).

SÍLEX, ARMAS DE: Também conhecidas como armas de Pederneiras.

Empregavam materiais que se encontram facilmente na natureza, como a pedra de pederneira

ou Sílex, que faz a ignição da pólvora, alem do chumbo para as balas e a pólvora negra.

Simplificaram muito o uso de armas portáteis e por isso foram usadas até o século XIX.

T

TALUDE: Base exterior da muralha reforçada com pedra aparelhada, inclinada

para o exterior e destinada não só a uma maior e mais cuidada proteção, como também a

projetar pedras e líquidos, que lançados do alto, mudavam de direção ao baterem na saliência

da base, ofendendo os atacantes. Designava-se por vezes também de alambor, ou, mais

genericamente, por jorramento ou esbarro.

TRINCHEIRA: Linha de fortificação que com diferentes obras, como baluartes,

redentes, estrelas e redutos, se fabrica para cerrar algum passo ao inimigo; e tendo fosso se

deita a terra dele parte a parte dos defensores (Azevedo Fortes, II, p.17).

Universidade Federal do Pará Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Programa de Pós graduação em História Social da Amazônia

ANDRÉ DA SILVA LIMA

DISSERTAÇÃO PARTE II – FONTES DOCUMENTAIS

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Belém 2006

ANDRÉ DA SILVA LIMA

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA, (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Pará, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em História Social da Amazônia. Orientador: Profa. Dra. Magda Ricci e Co-orientador Prof. Ms. Décio Guzmán (DEHIS/UFPA).

Belém 2006

Dados internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca de Pós-graduação do CFCH-UFPA, Belém-PA-Brasil)

Lima, André da Silva “A Guerra pelas Almas: Alianças, Recrutamentos e Escravidão indígena, (do Maranhão ao Cabo do Norte, 1615-1647)” / André da Silva Lima; orientadora, Magda Maria de Oliveira Ricci. – 2006.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em História Social da Amazônia, Belém, 2006. 1. Amazônia - Colonização- séc. XVII. 2. Índios - Colonização - Séc. XVII. 3. Amazônia - História - Séc.XVII. 4. Ecologia humana - Amazônia - Séc.XVII. I. Título.

CDD - 21. ed. 981.1

ANDRÉ DA SILVA LIMA

A GUERRA PELAS ALMAS: ALIANÇAS, RECRUTAMENTOS E ESCRAVIDÃO INDÍGENA (DO MARANHÃO AO CABO DO NORTE, 1615-1647).

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Pará, como exigência parcial para a obtenção do título de mestre em História Social da Amazônia. Orientador: Professora Doutora Magda Ricci (DEHIS/UFPA). Co-orientador: Professor Mestre Décio Guzmán.

Data de aprovação ____/____/2006 Banca Examinadora: _________________________________________ Profa. Dra. Magda Ricci (Orientadora – Departamento de História/UFPA) _________________________________________ Prof. Ms. Décio Guzmán (Co-Orientador - Departamento de História /UFPA) _________________________________________ Profa. Dra. Denise Schaan (Departamento de Antropologia / UFPA) _________________________________________ Prof. Dr. Rafael Chambouleyron (Departamento de História /UFPA)

_________________________________________ Prof. Dr. Antonio Otaviano Vieira Júnior (suplente) (Departamento de História /UFPA)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente todas as pessoas que contribuíram diretamente para o desenvolvimento desta dissertação. Gostaria de agradecer, em particular, ao meu orientador e amigo Décio Gúzman pela sua atenção, dedicação e paciência que nesses anos teve comigo. Sem a sua atenção e estímulo desde o início dos trabalhos a pesquisa seria mais difícil e penosa.

Aqui também vai o meu carinho especial aos professores da Linha de História e Natureza: Magda Ricci, Leila Mourão, Aldrin Figueiredo, Rafael Chambouleyron e Antonio Otaviano Vieira Júnior, pelos comentários, dicas, sugestões de leituras, que enriqueceram o meu conhecimento e favoreceram o surgimento de idéias e elementos novos referentes ao meu tema.

Não deixaria de aqui agradecer o meu irmão Alam, que me acompanha, desde a graduação, dentro dessa maravilhosa ciência que é a História. Minha irmã Ana Lúcia pela revisão ortográfica do texto. O meu amigo Rogério Correia pela ajuda técnica na conclusão dos mapas. Além das bibliotecárias: Graça Santana, Edna Pinheiro e Fátima Teles pela paciência em atender os meus pedidos na biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Por fim agradeço a minha família e amigos, pelo incentivo e apoio em concluir esta dissertação.

SUMÁRIO

Resumo............................................................................................ 7

Abstract ........................................................................................... 8

Lista de ilustrações.......................................................................... 9

Lista de quadros ............................................................................ 11

Introdução ..................................................................................... 12

Capítulo I

Da Colônia francesa à Conquista portuguesa do Maranhão:

As formas de tratamento dispensadas aos Tupis .......................... 19

Capítulo II

A Conquista Ibérica do Grão-Pará (1616-1620). ......................... 61

Capítulo III

Os “Homens do Norte” mudam a paisagem do

Rio das Amazonas....................................................................... 113

Capítulo IV

A Conquista portuguesa do Amazonas ao Cabo do Norte ......... 173

Conclusão.................................................................................... 256

Bibliografia ................................................................................. 262

Anexo

Glossário de palavras Tupi.......................................................... 268

Glossário de termos militares...................................................... 271

PARTE II LISTA DAS FONTES

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.2.................................................................................. 8

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.5.................................................................................. 12

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.8.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.9.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.10................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.11................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.12................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.15................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.19................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.20................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.23................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.28................................................................................ 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 2, D.63................................................................................ 7

DESCOBERTA DO GRANDE E BELO IMPÉRIO DA GUIANA,

POR SIR. WALTER RALEGH 1596....................................................................... 7

EXPLORAÇÃO DE JOHN LEY

NO BAIXO AMAZONAS, 1598............................................................................... 7

EXPEDIÇÃO DO CAPITAO THORNTON AO AMAZONAS EM NOME DO

MAJESTOSO DUQUE DE TUSCANY, 1608......................................................... 7

Recordações de Robert Dudley sobre a viagem de Thornton,

1647................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1.................................................................................. 7

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1.................................................................................. 7

RESUMO

Esta dissertação discute a conquista e colonização da Amazônia do século XVII partindo dos diferentes planos de ocupação da região feitos por franceses, ingleses, irlandeses, holandeses e ibéricos (espanhóis e portugueses). O encontro desses projetos colonizadores na foz do Amazonas transformou o antigo modo de vida dos indígenas, por meio de práticas diferenciadas de tratamento, dentre elas destaco às alianças e o recrutamento para fins militares. O estudo é baseado em documentação manuscrita, algumas de publicações inglesas, outras do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino; documentos impressos dos Anais da Biblioteca Nacional e dos Anais do Arquivo Público do Pará. A dissertação procura explicar as razões pelas quais os grupos indígenas participaram das guerras de conquista e as conseqüências dessa participação para o extermínio, escravidão e migração de alguns grupos ou assimilação de outros no processo de colonização da região. Palavras-chaves: Conquista, formas de tratamento, Indígenas, Amazônia, século XVII, Amazônia, Brasil Colônia.

ABSTRACT

This dissertation discusses the conquest and settling of the Amazon of XVII century leaving of the different plans of occupation of the region made by Frenchs, English, Irishs, Dutches and Iberians (Spanishs and Portugueses). The meeting of these projects settlers in the estuary of “Amazonas” transformed the old way of life of the aboriginals, by means of practical differentiated of treatment, amongst them I detach to the alliances and the conscription for military ends. The work is based on written by hand documentation, some of english publications, others of the collection of the “Arquivo Histórico Ultramarino”; documents printed matters of “Anais da Biblioteca Nacional” and “Anais do Arquivo Público do Pará”. The dissertation looks for to explain the reasons for which the aboriginal groups had participated of the wars of conquest and the consequences of this participations for the extermination, slavery and migration of some groups or assimilation of others in the process of settling of the region. Word-keys: Conquest, treatment forms, Aboriginal, Amazon, XVII century, Amazon, Brazil Colony.

ANEXOS DA DISSERTAÇÃO:

DOCUMENTOS PESQUISADOS

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.1

0014 no CD-ROM

Por Carta de V. M.de de 18 de setembro de 1616

Em seis do mês passado se nos avisou do que houve e por bem de resolver, acerca

do socorro, e provimentos do forte que Francisco Caldeira de Castel(o) Branco fundou no Rio

das amazonas. E por que tenho entendido, que na execução se procede lentamente,

importando tanto como se deixa ver, que perto das aviasse apresse e facilite, nos encomendo

muito, que deis tudo o que haver necessário para não dilatar mais o tempo, advertindo ao

conselho da fazenda do grande dano que se seguiria, de faltarem o Francisco Caldeira os

provimentos e munições necessárias se os inimigos. Que tinham tão vizinhos. O demandarei,

para que e tudo deste parta o socorro juntamente com o governador dom Luiz de Sousa, o

qual se encarregara de prover a assistência, e boa direção, das causas daquelas partes. Por tais

termos, ele entenda que lhe hei de agradecer particularmente o serviço que nesta matéria, me

fiz a ver.

(Assinatura do rei Felipe II).

............................................................................................

0015 no CD-ROM

De V. Majestade

Ao sr. Luis da Silva

Sobre o socorro que se há de mandar a Francisco Caldeira para provimento do

forte que fez no Rio das Amazonas.

[Lançada no Livro auto J. de D.122]

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.2

0017 e 0018 no CD-ROM

Senhor (Pará 16 de dez.

1616)

O arcebispo vice-rei remeteu a este conselho uma petição de Manoel de Sousa de

Eça para que se visse nela a consulta se o que proviesse, no qual diz que V. M.de o manda ao

grão Pará a causas importantes a seu serviço, para o que está preste, e que a sua pobreza tanta,

por haver gastado o que tinha nas jornadas que fez ao Maranhão, e dele a este reino os avisos

de importância ao serviço de vossa majestade, que não tem com que se possa embarcar, e o

proviesse de coisas necessárias para aquelas partes onde tudo falta. E assim que Vossa

Majestade lhe fez mercê do cargo de provedor de sua fazenda da conquista do Rio das

Amazonas com cem mil reis de ordenado e o que não poderá sustentar por tudo ali valer

muito caro, pede a Vossa Majestade, que havendo respondido ao sobredito você mande dar

com que se possa embarcar, e mandar considerar o pouco ordenado que lhe está declarado

com o dito cargo de provedor da fazenda, pois com ele por hora não tem percalços, nem

provisões alguns, e assim se lhe devia acrescentar.

E vista em conselho a dita petição, de como ao dito Manoel de Sousa de Eça se

lhe tem limitado cem mil reis de ordenado que é bastante e conveniente do cargo de provedor

da fazenda do Rio das Amazonas, como se viu por informação de Alexandre de Moura,

pareceu que Vossa Majestade devia mandar que se não haver no dito ordenado coisa alguma,

e que tendo vossa majestade, respeito aos muitos gastos que o dito Manoel de Sousa fez como

em sua petição alega, lhe faça mercê de cem cruzados para sua embarcação.

E assim me pareceu ao conselho fazer lembrança a Vossa Majestade que deve ser

servido mandar nomear a quantidade de religiosos que hão de ir para esta conquista , e de que

ordem para conforme a isso se lhe darem agasalhos e mantimentos necessários para a viagem;

E a pessoa que há de suceder no cargo de Francisco Caldeira de Castel. Branco, em caso que

ele seja falecido Majestade manda mais o que for servido em 8 a 16 de dezembro de 1616.

Álvares da Silva

Simão Soares

Manoel Caldeira de Britto

2a

dê-se sessenta mil reis a Manoel de Sousa de Eça tendo dada dessa razão de na

secretaria de captar se faça revisão da posse e que o mande provedor da fazenda declaração

dos frades irão junto da ordem [ilegível] 10 de dezembro de 1616.

Arcebispo de Lisboa

3a

e fez por meio do [ilegível] que toca ao ordenado em 4 a 16 de dezembro de 1616

Arcebispo de Lisboa

..................................................................................................................................

0019 no CD-ROM

O capitão mor do Maranhão tem de ordenado_200 Rs.

O capitão mor do Pará tem_100 Rs.

Os mais capitães dos fortes do Maranhão tem 100 Rs.

E um capitão de ordenante tem 80 Rs.

O Almoxarife tem outros 80 Rs. _________Pará 12 de

nov. 616.

É muito conveniente que ao provedor da fazenda do Pará se dê ordenado

acomodado para se poder sustentar visto não ter provisões nem percalços nem tratos e outros

aproveitamentos que há em outras partes, e assim será mais obrigação e cuidado de olhar pela

fazenda de V.Majestade e parece que se lhe pode dar mais ordenado que o de Capitão de

infantaria e menos que o de capitão mor. Lisboa 12 de novembro 616 anos.

Alexandre de Moura

...................................................................................................................................

0020 no CD-ROM

Diz Manoel de Sousa de Eça que V.Majestade lhe fez M nesta corte ostentado de

todo o necessário e a seus criados para companhia de monsieur de Larravardiera e o mandou

a conquista do grão Pará e Rio das Amazonas e em serviço por cabo dos macacos do socorro

donde veio muito pobre e logo V.Majestade o mandou por Capitão de um pataxo francês de

armada pequena e foi por Capitão mor dom Francisco D’Almeida. E encontrou dois navios de

turquvoz e pelejou com um deles duas noites e dois dias até ficar com só quatro soldados que

pudessem pelejar com arma de fogo tendo-lhe o inimigo a mais da sua gente morta e ferida

com quem tem gastado e qual ta muito empenhando-se para isso como também o fez com

alguma gente que por respeito do ilustre suplicante se embarcou em sua companhia pelo que

está em muita necessidade tendo seus criados todos feridos em serviço de V.Majestade para o

que está sempre muito prestes.

Para a V.Majestade atento ao que alega lhe faça M. do que for e muito para tem

suas necessidades e se desempenhar

E.R.M.

2

de fase no conselho da fazenda E consulte se o que parecer. Em Lisboa 7 de

Fevereiro de 618.

(assinatura)

...................................................................................................................................

0021 no CD-ROM

Alexandre de Moura [.....]

O capitão Manoel de Sousa de Eça que V. Majestade o proveu no cargo de

provedor da fazenda do Rio Pará, onde he necessário haver pessoa que sirva o dito cargo E

porque aquela terra é hora novamente povoada por V.Majestade, E nela não há comercio, nem

rendimento para sua fazenda o qual daqui em diante se há de granjear, E assim não haja ele

suplicante servindo este cargo como se convém ao serviço de V.Majestade não tendo

ordenado conveniente, e pelo fazer, e ir servir a V.Majestade largou três anos do cargo de

provedor dos defuntos, e ausentes da capitania de Pernambuco, e deixa de ir entrar no cargo

de provedor, e contador da fazenda da Paraíba, de que se tira muito proveito. Pelo que

havendo de servir o dito cargo de Provedor da fazenda do Rio Pará lhe é necessário grande

ordenado para se haver de sustentar; por quanto não tem percalços, nem proes alguns, e só

trata nesta parte do serviço de V.Majestade para lhe virem, daquela conquista grandes

proveitos como a terra está prometendo.

Para V.Majestade tendo consideração ao que alega lhe faça mandar nomear

ordenado conveniente, para com ele sustentar, e ficar com mais animo servindo a

V.Majestade como fez até agora. E.R.M.

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0032 no CD-ROM

(20 de fevereiro 1616)

Senhor

No Grão Pará não há ainda sacerdote clérigo de missa sendo necessários muitos

por ser muita a quantidade do gentio, em cuja conversão se há de trabalhar. E os Padres

capuchos que já há são quatro, e não podem assistir a menor parte do que é necessário; as

terras que se dera de cultivarem são muitas E em muita quantidade, as que o suplicante pede

estão vagas, e assim entendo que será muito grande serviço de Deus e de V. Majestade

fazendo a mercê que pede para que ele e outros se animem a atas de empresa tão Santa como

esta é. Deus guarde a católica pessoa de V.Majestade. Lisboa 20 de fevereiro 618.

Manoel de Sousa de Eça

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0049 no CD-ROM

E assim como a justiça, com moderação executada obriga a louvar-se assim uma

rigorosa com justiça obriga-se [visa pouco], e estranhar isto se verificar bem em meu respeito

como seria em todos os ânimos dos apaixonados na razão que me obriga o fazer esta, fundada

com em zelo, razão e serviço de V.Majestade ainda que não faltarão outras pessoas, que

informem da verdade, fosse por elas, não satisfaço ao que devo em uma por outra causa. E

acudindo ao que importa vindo ou por mandado, do Governador Dom Luis de Sousa, em

serviço de V.Majestade com um navio de socorro a meu cargo a esta conquista do grão Pará e

ali nela e em seu forte preso ao Capitão mor Francisco Caldeira de Castelo Branco, grande

descobridor, conquistador, e habitador dela; contido de todos 0050

dos ferros, que apenas podia levantar a cabeça. E tão assado das costas, por não

poder estar desta parte , que bem pudera dizer o que são [lançados nas grelhas]. Sem ter ele

piedade alguma para lhe ali matem a prisão, e tinham o negócio em estado que nenhum modo

deixavam falar com ele antes lhe tinham postos, de guardas para o defender, nem água lhe

fora necessária podia pedir por um acerto, que todo remédio humano lhe tolhiam e tolhem. E

porque fosse haver sedição saída não havia dia, que com outro assina palavras o não fossem

virar em motins formados contra ele e de contra dele se compadecia, e desafiando e

ameaçando aqui em algum modo, o favorecia como fizeram os grandes Capitães de

V.Majestade razão para que bem mereciam castiga-los. Nesta prisão se omite o mais atos

levantamentos, quando se viu tais tratos muito das enviadas boas forças nas deste homem que

realmente se lhe não podem negar e ser ele o maior servidor que V.Majestade tem hoje, como

apregoam as partes em que tem servido os mesmos cargos. E outros em confissão seus

próprios inimigos de todos este mal foram causa e cabeças principais dois frades de Santo

Antonio que aqui estão. E ele pediu, e o que das suas próprias casas para matarem, e em ardis

facão disso com algumas pessoas que com eles se fizeram cabeças, deste atrevido [ilegível]

estado em que está de onde o consumirão sem faltas porque não mostravam inocência, e

provasse bem do não quererem fazer com as culpas que dessem as suas, nem a V.Majestade

nem do Governador deste estado, devendo-se fazer da justiça, V.Majestade sendo servido

deve mandar de noção do caso com muito cuidado, para que se castigue a praticar culpa

porque os papeis que são feitos, todos processados por os próprios levantados, e assim seja

nulos; Ponha V.Majestade os olhos no melhor Capitão e servidor que atualmente tem, o que

governa tão claro como o sol do meio dia prova que o direito quer, e não a que em trevas de

tanta prisão sofre; Mostrar bem claro seu amo em não haver do mais que três frades nesta

conquista mandarei dois para o reino e outro para Pernambuco, só de afim de espalharem o

veneno que tanto tempo atassem o réu sentado, como e falo, que V.Majestade a tempo saberá.

E isto sem o pobre Capitão mor, sem liberdade para em sem descargo poder mandar [ilegível]

a natureza deste padre se conhecera bem no que requer contra a proteção de seu habito valha

de pano de V.Majestade homem em pronto servir saber a verdade juridicamente por segundo

sei ficara mais acreditado com V.Majestade do que diante [ilegível] que se gasta tudo (em

comer) ao serviço de V.Majestade. Será necessário tirar da conquista os padres que houver e

os que se acharem são cabeças o que feito tudo se fará bem, porque de outra maneira ninguém

dirá a verdade por força do medo que depara, e é tanto assim que o que agora serve de capitão

mor dizem fizeram a força. E em que lhe fez e que mostra com medo, e o mesmo diz fizeram

ao Capitão Carvalho. Enfim eu não sei quem são mas as cabeças pelo menos para dizer aqui;

que V.Majestade mandar o saberá com facilidade, que visto estar em o estado que senão

escraviza está em diminutos e os escravos, tinha a vida bem arriscada, isto desculpe os termos

dela e V.Majestade me perdoe o ser longo para o fiz entender tinha obrigação de fazer, esta

conquista está em guerra com o gentio da terra , que tem feito assas estrago em bandos tem

como de cerco esta fortaleza com contínuos rebates, não ousa para alguém sair dela e assim

morrem a fome eu me vou a Pernambuco, pedir socorro, de gentio, flecheiro e alguns brancos

para com muita brevidade se acuda e vendo tudo bem caro. Isto sem o não impedirem como

iam intentaram ser por eu não informar da verdade ao governador. E não se enganam que

(ilegível), fazer de que havia culpa não particularizando mais o que aqui por que a justiça de

V.Majestade o fará por hora não digo mais Só Deus guarde a Católica e Real para a

V.Majestade em 8 de novembro de 1618.

(assinatura)

0051

Se acaso se der outra carta minha nesse conselho entenda-se que foi a força porque

haviam a devida me retinham. E me não deixavam e me não deixavam ir no navio que a

minha carta trazia. E são com dor a carta que dei por em tudo encontra esta esteve meu

remédio, e mesmo fizeram ao Capitão André porque veio com o socorro do reino, pedindo-lhe

uma para o governador, aberta a qual deu tendo feito e a da outra, que bem haver da verdade

que em tal estado está [estocar], de sorte que só esta é a que eu quis escrever são tais na

verdade. E a outra não deve ter fonte de crédito pela razão com que foi feita, estão indo

arrocheda [ilegível] lembrou-me por vindo sem desconto dos atos passados que indiciam por

toda esta gente ser dela. E de força por seu regimento sendo palácio há de haver justiça.

0052

Pará 8 de novembro 1618

Saibam quantos este público instrumento dado e passado [ad...] reverenciam em

pública forma por mandato e autoridade de justiça com teor de uma petição. E diante de

testemunhas que adiante se fará declarada defesa menção [menção] virem que no ano do

nosso imperador de nosso senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e dezoito anos aos seis dias

do mês de novembro da dita era nesta cidade de Belém conquista do grão Pará famoso rio das

amazonas. E os prezados do auditor Manuel Calado de Limeira do eu tabelião ao diante

nomeado ali presente do Capitão Bento Maciel me foi me foi dado a petição com o despacho

acima e autos escritos para que conforme a ele lhe perguntasse os testemunhos que apresentar

para bem e requerimento de sua justiça o que visto por mim de desse tabelião conforme os

depois do dito auditor com que eu tabelião autuei a dita petição a qual e a que a diante se

segue. E dito Capitão Bento Maciel Parente acha ele é necessário para bem da justiça tirar

nesta conquista do grão Pará para algumas testemunhas que da conquista do Maranhão vem

embarcadas para diversas partes ad perpetuam rememoram em forma digno de seus ditos ele

mandará vossa mercê passar os instrumentos. Em forma [...] pena onde eu importar. E no

juízo o que competir os ajuntar por duas vias, pede a vossa mercê lhos mande perguntar sobre

quais foram as pessoas que na conquista do maranhão donde hora nem foram ocasião do

levantamento do gentio do dito distrito e do Cuma donde mataram trinta e tantos portugueses

e donde procedeu o principio do tal levantamento e quais foram os portugueses que a agravou

notórios. Eles fizeram tomando lhes suas fazendas e mulheres fazendo-lhes outras mui

grandes avexações donde tomaram motivos a se levantarem e soberanamente. E perguntes as

testemunhas que o suplicante apresentar e com seus ditos e lhe passem instrumento por vias

que faça fé até seis de novembro de seiscentos e dezoito anos a nós Manoel Calado de Lima a

qual petição sendo autuada como dez e me pôs a tirar as dita testemunhas com o dito auditor

que nos inquéritos e seus ditos são os que ao diante se seguem Jerônimo Gl..tabelião que a

escrevi.

(assinatura borrada) (assinatura borrada)

0053

______

Que tem Manoel Dias Gutierrez testemunha a quem eu auditor dei juramento dos

santos evangelhos e prometeu dizer a verdade do que se fosse perguntado. E de sua idade

disse ser de quarenta anos por mais ou por menos e do costume disse nada. E sendo

perguntado ele testemunha pelo conteúdo na petição do suplicante que lhe foi lida pelo dito

auditor disse ele testemunha que no tempo contido na petição do suplicante ele testemunha

era fora no sertão e que não sabe outra coisa mais que disseram a ele. Quando veio do dito

sertão que eram todos mortos os soldados que na guerra estavam, por se haver levantado o

gentio, por um negro que chamavam Amaro, que estava no distrito do Cuma. E que achara o

dito negro Amaro uma carta que desta Capitania do grão Pará levavam uns brancos que daqui

iam e que o dito índio Amaro dissera ao dito gentio do Cuma que sabia ler. Era a carta que

mandava o Capitão mor Francisco Caldeira na qual digno mandava dizer ao Capitão mor

Jerônimo de Albuquerque que viesse dela dando e cativando no gentio do dito distrito e

Capitania e que ela iria [daqui]. E que não querendo crer o dito gentio do dito distrito o que o

dito Amaro dizia o foram perguntar a sua mulher. E dizendo ela que era verdade o que seu

marido dizia mataram os brancos que [ilegível]. E depois foram matar os do dito presídio do

Cuma. Estando descuidados e por enganos. E ai não disse . E assinou com o dito auditor

Jerônimo Glh., Tabelião que a escrevi / Manoel Dias Gutierrez / Manoel Calado de Lima. E

tendo Antonio de Morim testemunhado, eu auditor dei juramento dos santos evangelhos e

prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado. E de sua idade disse ser de trinta e seis

anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E tendo perguntado a ele testemunha

pelo conteúdo na petição do suplicante que lhe toda foi lida pelo dito auditor disse ele

testemunha que residindo o Capitão Mathias de Albuquerque por Capitão do distrito do Cuma

Conquista do Maranhão ele testemunha ouviu dizer a muitas pessoas que o dito Mathias de

Albuquerque tomar a uma espada e um vernablo e algumas pessoas cativas e alguns negros

Tupinambás em que entram alguns principais do dito distrito da dita nação. Pelo que por

outras coisas que ouviu dizer ele testemunha a muitas pessoas de que não esta com brancos

que o dito gentio correra com ele e com seu irmão Antonio de Albuquerque. E juntamente

ouviu dizer ele testemunha geralmente que o dito Mathias de Albuquerque assentara um negro

Ladino chamado Amaro ensinado pelos padres e portugueses. E o qual negro vendo-se

agravado e amarrado depois solto vara até o Caeté e que achara uma carta e fora fazendo

[alguma ruína] para todos dizendo aos gentios Tupinambás que o Francisco Caldeira mandava

aquela carta a Jerônimo de Albuquerque para que ele fosse cativando e prendendo eles. E a

fazendo de que também do que ele testemunha entende e pelos demais agravos que o dito

gentio havia recebido do dito Mathias de Albuquerque se levantou no qual levantamento se

[ilegível] sua ira, matando trinta homens portugueses pouco mais ou menos. E declara ele

testemunha que na pratica a carta que faz menção do dito negro Amaro que teve com todos os

índios o sabe ele testemunha por se tomarem em guerra algum negro ou negros do dito Cuma

que confessaram aos [ilegível] que lhe fizeram a pratica. O que a dita carta dizia como dito

tem. E ai não disse e assinou com o dito auditor Jerônimo G, tabelião que escrevi / Antonio de

Morim / Lima. E se tem Jerônimo Correa testemunha a quem o dito auditor deu juramento

dos santos evangelhos e prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado. E sua idade

disse ser de vinte e quatro anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E se tem

perguntado ele testemunha pelo conteúdo na petição do suplicante lhe toda foi lida pelo dito

auditor.

0054

Disse ele testemunha que ouvira dizer a algumas pessoas que vinham do dito

distrito do Cuma que Mathias de Albuquerque fazia algumas pessoas digo vexações aos

negros índios do dito distrito e fizera a um índio de Pernambuco como fora mandado amarrar

e o soltar [ou açoitar] e ele escandalizado fizera pratica ao dito gentio que matassem aos

brancos como fizeram matando trinta e tantos brancos. E ai não disse e o assinou como João

de [ilegível e abreviado]/ Jerônimo Gl tabelião que o escrevi / Jerônimo Correa / Lima. E tem

José de Macedo testemunha a quem o auditor deu juramento dos santos evangelhos e

prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado. E de sua idade disse ser de trinta e um

anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E se tem perguntado ele testemunha pelo

conteúdo na petição do suplicante que lhe toda foi lida pelo dito auditor disse ele testemunha

que sabia que Mathias de Albuquerque tomou algumas peças, escravos, ao gentio do distrito

do Cuma conquista do Maranhão. E assim mais ele tomava seus embaezes pedras e contas e

outras coisas. E ai não disse e assinou com o dito auditor Jerônimo Gl. Tabelião que o escrevi

/ José de Macedo/ Lima. E Manuel Mendes Aranha testemunha a quem o auditor deu

juramento dos santos evangelhos e prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado e de

sua idade disse ser de vinte e três anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E se

tem perguntado ele testemunha pelo conteúdo na petição do suplicante que lhe toda foi lida

pelo dito auditor disse ele testemunha que era verdade que ele ouvira dizer a algumas pessoas

de que não é lembrado que a causa do levantamento do gentio do Cuma foi parte dele Mathias

de Albuquerque por agravos que ele fazia e aí não disse e assinou com o dito auditor Jerônimo

Gl tabelião que o escrevi / Manoel Mendes Aranha / Lima. E se tem Antonio da Costa

Almoxarife desta conquista testemunha a quem o auditor deu juramento dos santos

evangelhos e prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado he de sua idade disse ser

de idade de trinta anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E se tem perguntado

ele testemunha pelo conteúdo na petição do suplicante que lhe toda foi lida pelo dito auditor

disse ele testemunha que vindo de Marin em janeiro de seiscentos e dezoito anos em um navio

com socorro para conquista do maranhão e para esta do grão Pará soubera no dito Maranhão

dos soldados e pessoas que nele habitam o fim dos índios por línguas que com eles falam que

o gentio estava levantado e foram muitos soldados do presídio do Cuma e a causa de seu

levantamento fora Mathias de Albuquerque que por presas que tomava aos negros escravos.

Todos e o mais que possuíam e não se contentando com isto os açoitava e queimava as

[ilegível: casas?] com fogo e sendo ele e seu pai avisado não deram credito a nada. E assim

ele testemunha vendo [ilegível] destruição e do navio em que veio não podia vir a esta

conquista do Pará ele pediu socorro e fazer avisar a esta conquista para que nela não anotasse

o que lhe tinha acontecido. E ai não disse, e o assinou com o auditor Jerônimo Glhz. Tabelião

que o escrevi / Antonio da Costa / Lima / o qual traslado de instrumento o Jerônimo Glz

tabelião do publico e judicial e notas desta conquista do grão Pará famoso rio das amazonas

em três laudos

0055

próprios que ficam em meu poder e com eles consertei bem e fielmente o que me

reporto e aqui assinei de meu publico sinal e [ilegível] e ali tomado que tais são em Belém aos

oito dias do mês de novembro de mil seiscentos e dezoito anos.

Consertado com os próprios por mim tabelião Jerônimo Glz (duas vezes)

Certifico a Cristóvão Vaz Bitancur escrivão da fazenda de sua majestade desta

conquista do Pará pelo [ilegível] instrumento e a letra e sinal publico atrás há de Jerônimo Glz

que serve de tabelião nesta conquista e a seus papeis se deu muita fé e credito. Pará doze de

novembro de 618.

Cristóvão Vaz Bitancur.

0056

Testemunhas tiradas a perpetuo. Rei nomeia a Requerimento do Capitão Bento

Maciel Parente sobre os são culpados no levantamento do gentio.

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0057, 0058, 0059 no CD-ROM

24-XI-618

Pareceu aos Capitães de V.Maj. por assim o pedir o Estado da conquista que

fosse eu o que avisasse do nele sucedido e ainda que do estado de minha petição não é

tratar semelhantes negócios houve de faze-lo por me porem diante e me parecer convinha

ao serviço de Deus e de V.Maj. aproveitado-me para isso do que o tempo me mostrou e

informação que os próprios Capitães me deram.

O socorro que o Capitão André Pereira trouxe a esta conquista de V.Maj. lhe fez al

chegou nela em 27 de outubro passado e com ele um navio em que o governador do Brasil

mandou socorro dos quais se fizeram pagamentos assistindo a eles o Capitão André Pereira na

forma e provisão que trazia de V.Maj. ele dava razão do modo em que se fizeram em que teve

mui bons procedimentos.

Em janeiro passado mandou o governador outro navio com socorro e havendo

saído do Maranhão por falta de amarras que daquela conquista para esta são necessárias por

ancorarem todas as noites e correrem ass águas muito não pode conseguir sua viagem e

arribou ao Maranhão onde descarregou o socorro que naquela conquista se gastou.

Ao tempo que desta partiu desta o Capitão Manoel de Sousa de Sá que foi em 23

de outubro passado de 617 se ficava dando guerra a uma nação de Nheenguaíbas por mandado

do Capitão mor Francisco Caldeira Castel Branco de que ele devia avisar a V.Maj. , o sucesso

foi depois de bem renhida e trinta dias de cerco por ser gente que vive em giraos casas

levantadas a maneira de sobrados serem desbaratados com morte de quase mil, cativos 360

com morte de um branco e o mais que feriram por todos só mal feridos.

Recolhidos os soldados a esta fortaleza em 21 de dezembro passado meado de

fevereiro seguinte chegou a ela aviso de se haver levantado o gentio Tupinambá que era o

mais amigo e com este se levantou o mais ficando só com nosso uma pobre aldeia de Tapuias

vizinha a esta fortaleza e o gentio dos Apirapés que estão dela mais de cem léguas que um de

meus companheiros indo a suas aldeias trouxe a nossa amizade achando os bem arruinados

por moléstias que lhe tinham feitas.

O levantamento começou no Caeté matando dois brancos que andavam fazendo

resgate por mandado do dito Capitão mor Francisco Caldeira e dali veio discorrendo a este

Grão Pará onde nos mataram muita gente debaixo de pás e foi lhe fácil pela muita segurança

em que se vivia e muita gente que pelos sertões naquela ocasião por ordem do dito Capitão

mor andavam fazendo resgate de peças.

Teve este gentio muita causa de se levantar pelas continuas moléstias que lhe

faziam e forçado delas não parou aqui mas com a pouca ordem que houve no principio onde

se puderam abelhar estes danos tomou animo contra nós com que e os assaltos contínuos tem

roubado os escravos desta fortaleza estando todo os moradores dela com armas nas mãos de

noite e de dia impedindo o inimigo trazerem-nos farinha com que temos todos padecidos

muitos trabalhos e fomes e o que mais se sentia minhas esperanças de remédio pois não

avisava a V.Maj. e o Capitão mor Francisco Caldeira tendo comodidade de poder fazer sendo

o meio por onde pudéramos estar remediados e não no perigo e risco em que fica esta

fortaleza com contínuos assaltos do inimigo falta de munições é tanta de murrão que tem os

soldados gastadas as redes e dormem no chão.

Todos estes trabalhos sofria e sofre este povo sentindo só não os haver em outro

tempo empregados no serviço de V.Maj. que era o de que menos se tratava mas tanto que o

dito Capitão mor Francisco Caldeira esquecido do respeito que se deve a Deus e por ele a seus

ministros e lugares sagrados sendo não só irreparável por mandar arrasar o parapeito da

fortaleza e assentar peças de artilharia para bater as casa em que vivem estes pobres frades

sem haver causa mais que as de que informaram a V.maj. requerendo-me violentamente tirar

de casa uns soldados que me diziam ele querer mandar matar sem haver feito coisa ou

deserviço de Deus nem de V.Maj. nem também de terceiro. Este povo o prendeu e tem preso e

de seus procedimentos me disseram mandando capítulos e V.Maj. sofrer ordene o que lhe

pareça convém a seu serviço e bem de seus vassalos.

No dia de sua prisão o povo a uma nos aclamou que governasse entretanto que na

presente ocasião de inimigos é de préstimo e tem mostrado em seus procedimentos não é

enganar o povo em o eleger ainda que recusou aceitar o cargo quanto lhe foi possível houve

de o aceitar pondo lhe todos diante o quanto importava o serviço de V.Maj. e assim tratou de

fazer uma [ilegível] para avisar do sucedido o qual se estava acabando quando chegou este

socorro; de novo se fica fazendo outra e tem esta conquista necessidades de meia dúzia de

embarcações [ilegível] que parecerem mais convenientes pelo muito risco que correm os

soldados em canoas pela facilidade com que se viram que foi causa de uma canoa em que iam

vinte soldados depois de pelejarem três ou quatro horas contra oitenta canoas sem entrada e

afogados quase todos morreram escapando só três para se remediar este dano deve V.Maj.

mandar a esta conquista um ou dois carpinteiros da ribeira, ferreiro, calafate, enxárcias, treu,

graxa, alcatrão, e mais coisas necessárias de que fará lembrando a V.Maj. o procurador desta

conquista.

É necessário também nesta conquista um serralheiro para conserto das armas sobre

as quais me advertiram fizesse lembrança a V.Maj. serem necessários muitos arcabuzes pelas

muitas armas que se perdem nestes rios e esses que fossem biscainhos porque estas partes

gastam muito as moles. E assim são necessárias de boa lei os mosquetes além de fazerem

mais gastos a fazenda de V.Maj. por serem as praças maiores são de pouco efeito entre esses

matos e ai por experiência zombarem os índios dos terçados e espadas que vem deste reino,

porque fazendo peça deles se viram como de chumbo e trazem eles excelentes armas que lhes

davam os franceses e flamengos V.Maj. debe mandar que as que trouxerem a esta conquista

sejam boas não se reparando nos preços pois os soldados que as pagam não reparam de que

resultara fazer-se melhor o serviço de V.Maj.

O que de presente consiste o remédio desta conquista e inquietação dos índios ou

seja por via de paz ou de guerra como V.Maj. ordenar é mandar ao governador do Brasil que

com toda a brevidade mande os índios que desta conquista lhe são pedidos caso que os não

tenha mandado. E com eles soldados sertanejos por serem os tais de muito efeito nestas partes

e como o Maranhão havia daquele gentio do Brasil e alguns Tapuias gente guerreira e amiga

será de muito efeito para nesta conquista reduzir todos os Tapuias por ser o principal muito

conhecido entre eles parecendo a V.Maj. o Capitão Francisco d’Azevedo que vai a esse reino

tem esta gente debaixo de sua administração ele pode vir trazer a esta conquista e será de

muito efeito porque por esta via se pode acudir com brevidade em que consiste o remédio

correndo na tardança perigo pelo em que fica esta conquista e fará ele este serviço a V.Maj.

sem muito dispêndio da sua real fazenda advertindo contudo que este gentio inda que será

bastante para de presente remediar não os cuja se pede do Brasil para conquistar pelo que

V.Maj. deve ordenar venha um e outro.

O Capitão André Pereira trouxe uma provisão de V.Maj. passada pelo Conde Dom

Estevão de Faxo de seu conselho em que manda que duzentos mil reis que vinham com

socorro se gastem em fazer roçar e fazer mantimentos para a comodidade da gente que se

ficava aprestando para esta conquista os duzentos mil reis como informa o dito Capitão André

Pereira ficam carregados ao almoxarife para que em havendo ocasião que será em havendo

índios se faça o que V.Maj. manda e sobre o lugar que avisa se escolha para fundar uma nova

Colônia não se pode de presente fazer diligencia até a vinda dos índios e pessoa que bem

entenda a disposição do lugar em que possa fundar.

Destes dias que aqui chegou o socorro vieram a esta fortaleza alguns principais de

um sertão que não se sabe que notoriamente fosse matador de brancos foi necessário contenta-

los com algumas dádivas por parecer na presente ocasião convir ao serviço de V.Maj.

mostrou-se tão avaro o Capitão André Pereira de sua fazenda real que foi necessário força-lo a

que fizesse sa despesas que eram necessárias com estes índios convém ao serviço de V.Maj.

mandar ordem com que semelhantes gastos se façam sendo particularmente como são de

pouca consideração.

Os oficiais mecânicos desta conquista ferreiros e carpinteiros há três que trabalham

em obras de V.Maj. não faltando a todo o tempo a todas suas vigias sem lhes ser dado outro

premio mais que sua praça ordinária tem um despacho do Governador Gaspar de Sousa em

que manda lhe dêem uma Pataca todos os dia que trabalharem não hão querido os provedores

de V.Maj. ser bem servido sem os oficiais serem pagos pelo que deve mandar ordem com que

se paguem.

Do mais sucedido nesta conquista e estado das coisas dará relação a V.maj. Alonso

da Cunha pessoa que por seus merecimentos e zelo que tem a seu serviço elegerão para

mandar a este reino e com ele o irmão Frei Sebastião do Rosário que por não tirar tanta gente

em tempo de tanta necessidade me pediram quisesse manda-lo ele tem noticia do pouco que

se tem descoberto da Conquista pelo ver com seus olhos e respeito do muito que há que

descobrir grande nossa sabia pessoa de V.Maj. por largos anos

Pará 27 de novembro 618 anos

Fr. Antonio de Merceana

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0061 no CD-ROM

7-XI-618

Ao padre Custodio pedi um ou mais Capitães quisesse esclarecer a V.Maj. e dar

lhe relação do sucedido nesta conquista porque além de me não dar lugar os contínuos

assaltos em que estamos com as armas nas mãos pareceu que o faria com o zelo que ele e seus

frades ao serviço da fé e de V.Maj. tem mostrado. Os procedimentos do Capitão mor

Francisco Caldeira de Castel Branco Foram tais em o serviço da fé e de V.Maj. que este povo

o prendeu e tem preso sobre as causas que houve para o fazer mandar a V.Maj. os capítulos

que entregara seu procurador no dia da prisão me elegeram todos a uma vos para que os

governasse entretanto que avisavam a V.Maj. que insiste quanto me foi possível mas forçado

ouve de aceitar. Assim entendi o risco a que me punham mas vendo as causas da prisão serem

por desserviço de Deus e que por parecer um deprestimo para ele me elegeram ouve de aceitar

tendo por premio todo o castigo por faltar a serviço de V.Maj. de que só tratei e trato a muitos

anos.

No dia da prisão que prenderam a Francisco Caldeira prenderam a Pero do Couto

Cardoso e sobre as causas mandam também Capitães a V.Maj. está também preso o Capitão

Antonio Cabral por matar o Capitão Álvaro Neto tirou-se devassa sobre o caso o qual o dito

Pedro Couto entrando no oficio de auditor mandou queimar tirando logo outra que se tem

reclamar por nula sobre as quais matérias se não tratar coisa alguma até ordem de V.Maj.

ordene como mais for seu serviço.

O padre Vigário desta conquista quis excomungar os oficiais dos defuntos que

estavam finados dizendo pertencer-lhe apresentação deles. E como era matéria sobre

jurisdição de V.Maj. em tanto que o avisara das censuras apelei. E da violência agraveis para

o Juiz de seus feitos viemos em conformidade. Eu e o Padre Vigário que avisaria a V.Maj.

para que a determinasse aqui pertencia de presente a eleição dos tais ofícios e morrendo

algum sem haver então provido por V.Maj. a quem pertencia o provimento da serventia para

que [se escusera] duvidas entre o padre Vigário e os oficiais de V.Maj. Deve determinar o que

se ainda [fazer] no caso com cuja determinação se fará o que cumprir a seu serviço. Guarde

nosso Senhor a Católica pessoa de V.Maj. por largos anos. Pará 27 de novembro 618 anos.

Baltazar Rodrigues de Mello

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0063,0064 no CD-ROM

Sr.

Posto que todos os vassalos de vossa Maj. faça geralmente a obrigação e zelo do

serviço Real todavia mais particularmente parece estarem obrigados a isto os que como nos

supõem de V.Maj. E temos cargos da republica, e tem eu nesta conquista do grão Pará o tenha

de Vigário e presto dela com poderes de provedor e Vigário Geral me por serviço estar

obrigado avisar a vossa Maj. dos acontecimentos dela, e as causas delas.

Vindo de Pernambuco confirmado na matriz desta conquista cheguei ao Maranhão

a catorze de janeiro de 618anos com um navio de socorro por mandado do governador geral

do estado do Brasil Dom Luis de Sousa, aonde a todos no mais dos dias dera conta

verificados, não achamos nenhum branco vivo , por razão de um levantamento feito pelo

gentio nas aldeias do Cuma distrito do mesmo Maranhão aonde tinham mortos, a 37, homens

que do presídio estavam nas ditas aldeias, e porque viam faltava o socorro o consta se

animavam e pretendiam dar na cidade e desbaratar todos os brancos do que a nossa chegada

foi tão para não o fizesse.

A causa do dito levantamento afirma ser hajo do Capitão mor Jerônimo de

Albuquerque que residia por Capitão do dito presídio pelos muitos e grandes agravos que o

dito tinha feito ao gentio, e por não puder mas passar adiante do maranhão no pataxo que

também havia socorro para esta conquista por não trazer amarras gastantes foi causa de se não

dar aviso a Francisco Caldeira de Castel branco pela qual causa [bridase] ateando o

levantamento de aldeia em aldeia chegou as quais fez essa parara de vivido este para aonde

mataram pelas aldeias a alguns soldados do Capitão mor Francisco Caldeira que nela estavam

descuidados.

E cresceu tanto esta alteração que quando cheguei a esta Conquista em 26 de

outubro da dita era estava o gentio todo levantado e a nossa fortaleza posta em cerco com

assaltos e rebates cada dia composto os novos em grande aperto.

Achei mais ao Capitão mor Francisco Caldeira de Castel Branco preso e posto a

ferros por um ferido motim e levantamento feito entre os soldados que era o que mais

atrevimento dava ao gentio e é a bizarra que mais me obriga a fazer esta, ainda que

desmentira a verdade do animo em que falo [acontumaçico] de dois religiosos da ordem de

santo Antonio que em tudo [ilegível] o que nesta dizer mas eu falo como pastor e confessor

desapaixonado e bem inteirado das coisas por saber bem demais. E não se parte neles o que

eles com verdade não pode muito dizer por ser as principais partes e cabeças neles e no motim

e levantamento.

E porque vossa Maj. se deve mandar informar do fato por pessoa mui

experimentada e zelosa do real serviço para que tão maldade como estas não fique sem

castigo ao exemplo do qual sendo cometido semelhantes atrevimentos não dou mais larga

relação do acontecimento e porque ao canto me vejo amano. Os apontamentos que com esta

vão pelos quais Vossa maj. poderá mandar perguntar e achando conforme a verdade com as

demais que constam castigava Vossa Maj. aqui o motim.

Tivemos que na paz novas que Vossa Maj.pretendido bater os flamegos do cabo

do Norte, sobre o qual Francisco Caldeira tem servido e o fez agindo-se lembro a Vossa Maj.

como pessoa experimentada nestas conquistas e dos fracos deles, que para que Vossa Maj.

havia de conseguir o efeito que pretende, que deve de dar parte a Francisco Caldeira , nela,

pelo muito que se tem empregado em particular ter em que vir os melhores modos e meios

que nisso se haja de ter, e ter muita experiência do gentio.

Também está a meu cargo lembrar a Vossa Maj. as contas e obrigação a que deve

de acudir como esta nova igreja de que eu sou vigário sem ornamentos alguns para o culto de

missa mais que umas vestimentas e um habital e um cálice que mandou dar o governador do

estadoo do Brasil. E o altar não tenho alça nem algum nem nenhum ornato para por cima das

paredes pelo que é necessário mandar Vossa Maj. alguns ornamentos feitos ou coisa de que se

façam principalmente uma cortina e uns sobreseu e vinte varas de pano de lã para toalhas e

um cálice e uns costodia e hiparte frontais para o provedor André Pereira que não veio tendo

de que se fizessem pedindo em alguns coisa da fazenda de Vossa Maj. não quis dar vendo por

seus olhos a muita falta de que poderá bem enfermas a crescente posto. a fez a real pessoa

estado de Vossa Maj. por largos anos Pará, 30 de novembro de 618 anos.

O Vigário Manoel Figueira de Mendonça.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.12

0066,0067 no CD-ROM

Em Carta dos Vigários para sua Maj. de 3 de janeiro de 619.

Cheguei [ilegível] navio do maranhão no qual vieram para a Maj. [ilegível] que

sendo este de Antonio de Albuquerque que hora está por Capitão mor do maranhão e foi

eleito naquele cargo por morte de Jerônimo de Albuquerque seu pai as quais sendo vistas em

conselho de estado, e assim as duas cartas, que mais envio a V.Maj. de frei Christóvão de

Joseph e frei Antonio de Marciana, religiosos capuchos da província de Santo Antonio, em

que dão conta do levantamento que houve no Pará contra Francisco Caldeira de Castel.

Branco, capitão daquela praça e da causa que ele a isso deu, tratando mal ao gentio, e que

ficava preso pelos seus soldados, pareceu que das causas que o capitão do maranhão avisa, ter

necessidade se desse cópia aos tribunais [ilegível] que V.Maj. o mandara ver pelas remissões

que vão escritas na margem de sua carta. que V.maj. deve mandar escrever ao governador do

Brasil que mande logo farinhas em abundancia ao Pará, e vinho e azeite para provimento dos

soldados daquela fortaleza, e conquista encarregando-lhe a brevidade e cuidado do

provimento dela, assim visto como no mais que lha parecer.

E que daqui lhe mande V.Maj. enviar munições e o [ilegível] que puder ser e que o

governador do Brasil faça embarcar cem casais de gentio para irem socorrer o Pará com

declaração que acabada a guerra, e estando as casas quietas se tornarão. E que com eles vá o

frei Manoel da Piedade frade capucho que está no Brasil, e outros que saibam a língua do

gentio, e assim vá amais gente branca portuguesa, e mamelucos que poderão ir com os ditos

gentios.

E que a Martins Soares Moreno mande V.Maj. que se vá ao Ceará donde fará

embarque os navios que daqui forem socorrer pronta ocasião e o mais que podeis para que

vão do Ceará para o Pará.

E que Manoel de Sousa de Eça vá ao Pará a por Capitão daquela praça, e [ilegível]

alguns casos de guerra por ser bom...[ilegível].

Que Francisco Caldeira venha preso e os cabeças que foram do levantamento que

houve contra ele, e vá um letrado fazer informação dos que forem culpados no dito

levantamento, e assim nos motins que houve no maranhão.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.14

0087,0096 no CD-ROM

Treslado de culpas do Jaguoará baité e Jaquitingua.

Pará

2-8-619

Autos quem mandou fazer o Capitão da guerra Bento Maciel Parente sobre uns

pareceres que tomou com os oficiais e soldados velhos da Companhia sobre se prenderia ou

não ao índio principal por nome Jaguoará baité e Jaquitingua_______________________

Ano do nascimento do nosso senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e dezenove

anos aos dois dias do mês de agosto do dito ano no porto de guoajara nanhão, junto à boca de

Pará mandou o Capitão de guerra Bento Maciel Parente ajuntar todos os oficiais e soldados

velhos da companhia, e sendo todos juntos com o dito e em presença de mim escrivão lhe

disse a todos em geral que ele estava informado em como o índio por nome Jaguoara baior

andava induzindo como cabeça de motins e traições como costuma fazer como oleiro e

vizeiro que é e nos tais casos. Como he notório a todos os índios principais de Pernambuco

que em nossa companhia vem cujos nomes se seguem, a saber, Francisco Roiz pirarobirá e

Joane maracoani, thume guoro, Aundo felippe pitanguão, gamoquo assú ejhu Cangado com

todos os mais seus filhos os quais levava ao mato e lá lhe fazia praticas secretas dando-lhe

dádivitas digo dádivas e fazendo-lhe muitas carícias e outro si no interim da guerra que no

Caité tivemos mandava matar ao principal dos selvagens, Janduabosú índio de maior

centrança que nestas partes há por um valentão seu por nome jaiguatingua o qual lhe deu com

um machado que o derrubou que se lhe não acudirão o houvera de matar por quanto o dito

índio principal andava na dianteira brigando com os inimigos e se não temia dele por se dar

por amigo e vir na companhia , e outro si vindo nos do dito Caité para o Pará tendo o dito

Capitão dado por ordem que nenhuma canoa se apartasse e os seguissem todos, o dito

Jaguoara baior se meteu por um esteiro com outra canoa aonde vinha o dito jaguoara tingua e

que dando lhe ma suspeita se foi o dito Capitão com a mais gente atrás deles porque não

matassem aos brancos que nas ditas canoas iam por quanto eles sabiam o caminho e não era

por onde eles iam ao que deu clara suspeita como traídos que he em querer matar aos brancos

outro si chegando nesta fortaleza do Pará achamos um índio selvagem que era de uma das

nações que estão confederados com os rebelados e logo o adquiriu assim fazendo lhe praticas

que sobre a sua má benção e levantamento que ordenava fazer como lhe parecia sendo que

nenhum dos mais tratava com ele ao que mostra bem claro o mal que queria fazer e outro si

estando ele dito Capitão, para partir de Sam Felippe para fazer a dita jornada lhe requerera os

índios das nações tapuias e tabajares que trouxe esse ao dito culpado Jaguoará baior por

quanto eles tinham noticia em com ele fizera e fazia praticas que depois dele Capitão se partiu

só com agente lhes havia de dar nas alceias e matas e cativar suas mulheres e filhos em que

havia de renunciar os nomes de seus avós e pais e desfazer o nome português destas partes

como já duas vezes fizeram com traições destruindo duas armadas portuguesas que estas

partes vieram sendo no tempo dos Reis de Portugal. E assim as nações que nossas amigas

fossem e outro si no levantamento que era houve nestas partes ele foi um dos principais

cabeças e andou pelas aldeias do Cuma e Caité consultando o dito levantamento como foi

publico e notório. E a quão novamente o queria fazer dizendo que aqui vinham os valentes e

que acabando a estes logo hão ficavam livres de nos porquanto no Maranhão, não os matar o

que visto pelo dito Capitão lhe disse a todos em geral que ele queria prender aos ditos

culpados porque não viessem os feito em seus mais intento que determinado tinham para o

que lhe pedia a cada um, porque desse seu parecer. E que conforme a estes faria o que fosse

mais serviço de sua majestade e melhor segurança nossa e de nossas vidas do que todos

responderam em geral e cada um por si que a eles lhe parecia bem que ele dito capitão

mandasse prender os ditos dois índios visto eles quererem fazer a tal traição como bem claro

se sabia conforme as más suspeitas que sempre dele se teve e o que se viu em quererem matar

ao índio principal amigo de mais confiança que nestas partes temos o que vendo o dito capitão

os pareceres que todos deram, o mandou prender e meter em grilhões e mandou a mim

escrivão fazer este auto aonde todos assinaram, de como foram do dito parecer. E peça por lhe

tirar testemunhas sobre as culpas dos ditos índios o qual eu escrivão fiz que é o seguinte: João

da Silva escrivão da companhia a escrevi diz a entrelinha adquiriu assim o sobredito ...//

Alferes Baltazar Roiz , o Sargento Manoel Soares Grasses, Sebastiam de a Cunha,

Chomefaleiro Domingos da Costa Pretto, Miguel de Lemos, Afonço Teixeira, Marcos Glz

Correa, Gaspar de Souza, Antonio Holiveira, Gaspar Lourenço, Antonio do Canto// E sendo

em os fez ...Era acima declarada na aldeia jitibuqui distante da fortaleza do Pará sessenta ou

oitenta léguas porque mais ou menos que esta depois conosco o dito capitão Bento Maciel

Parente comigo escrivão em queria e tirou as testemunhas seguintes adiante assinados.

Contudo outras cujos ditos adiante se virão eu João da Silva escrivão da Companhia o escrevi

para da posta testemunha a quem eu dito capitão dei juramento dos santos evangelhos em que

em que pôs sua mão direita e prometeu dizer a verdade que lhe fosse perguntado de idade que

disse ser de vinte e três anos porque mais ou menos e do costume disse nada, perguntado ele

testemunha pelo conteúdo no auto atrás que tudo lhe foi lido e declarado pelo dito capitão

disse ele testemunha que era verdade que o conteúdo no auto que diz do dito Jaguoara baior

levar os ditos índios principais ao mato e lhe fazer praticas secretas sendo pessoa de suspeita

dando lhe dádivas e outro si disse ele testemunha, que era verdade que ele dito Jaguoaraa

baior mandara pelo seu valentão Jaguoara tingua na dianteira guerra do Caeté matar ao índio

principal dos selvagens por nome jandunia bussal o qual lhe deu uma pancada com um

machado em um ombro se lhe não era para a cabeça. E se lhe não acudiram outros dos nossos

sem duvidas matara, e visto si disse ele testemunha que era verdade que o dito Jaguoara baité

e o dito Jaguoara tingua se apartarão consicos canoas que se o capitão e alguns digo com

algumas canoas o não seguiria deram suspeitas bastantes de com os seus quererem matar seis

brancos que nas ditas duas canoas iam e se acolher, e outro si disse ele testemunha que era

verdade que o dito índio Jaguoara baior que trazendo nas da fortaleza do Pará em nova

companhia um índio da nação rebelada o qual havia estado dois meses prezo no forte do

presépio deste Gram Pará o qual nos deram para guia na dita fortaleza o dito índio Jaguoara

baite o adquiriu assim fazendo lhe muitas caricias, o que sendo lhe perguntado pelo dito

Capitão que não falasse com ele...testemunha levou o dito Jaguoara baior com índio digo ao

mato ao índio principal por nome Amocoassu, e depois de falar com ele os segredos que lhe

pareceu, o mandou falar e fazer perguntas ao dito selvagem que no rancho do dito capitão

estava em segredo, e outro si disse ele testemunha que era verdade que o dito índio Jaguoara

baior andara pelas partes do Caeté e Cuma fazendo praticas sobre o levantamento que nestas

partes e no Maranhão, fizeram os renegados. Ele era um dos principais cabeças dele como era

publico dos e fama e outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que os principais das

nações tobaiares e tapuias requerem ao dito capitão que trouxesse ao dito Jaguoara baite por

quanto fazia praticas que depois dele dito capitão ser partido lhes havia de matar suas

mulheres e filhos e destruir as aldeias e outro si disse ele testemunha que o maior principal

que na ilha havia e que sempre se tivera má suspeita dele e era publico e notório ser cabeça

principal do primeiro levantamento. E assim disse ele testemunha que o principal Sarobabe

lhe dizem que tinha avisado ao capitão mor Jerônimo de Albuquerque em como ele dito

Jaguoara baior e os de sua parcialidade se queriam levantar e matar os brancos; e al não disse

e assinou com o dito capitão, João da Silva ...// Bento Maciel Parente perado Costa// Com

Sebastião Rioz fiz testemunha a quem o dito capitão deu juramento dos santos evangelhos em

que pôs sua mão direita e prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado de idade que

disse ser de trinta e dois anos porque mais ou menos E do costume disse nada; perguntado ele

testemunha pelo conteúdo no auto atrás que lhe todo foi lido e declarado pelo dito capitão

disse ele testemunha que sobre o induzimento que o dito Jaguoara baior fazia aos ditos índios

um índio de Pernambuco lhe dissera praticando com ele que o principal Phelipe pitangua lhe

contara isso do induzimento que lhe havia feito o dito jaguoara baite E outro si disse ele

testemunha que na conjunção da guerra o Caité ele testemunha chegou aonde estava o dito

principal Jananoa bossú queixando-se e gemendo estando com ele chegara o índio que lhe

havia dado por nome Jaguatingua viera a ter desculpa com o dito principal dizendo-lhe que

lhe perdoasse que o não conhecera e cuidara que era inimigo e que por isso lhe dera ao que o

dito queixoso respondeu se entregou camisa vestida e chapéu na cabeça E os dois inimigos

andam nus como me não conhecesse e bem se diz já ver mandado fazer pelo dito Jaguoara

pois Jaguotingua é seu cavaleiro e de sua casa familiar E outro lhe disse ele testemunha que

era verdade que ele vira os ditos dois índios contudo se apartaram com as ditas canoas e

deixando de seguir a armada sem outro si disse ele testemunha que ouvira dizer aos principais

Tabajaras e Tapuias requereram dele dito capitão trouxesse o Jaguoara por quanto ele tinha

feito pratica que em ele dito capitão se partindo da ilha do Maranhão lhes havia de dar nas

aldeias e destruí-las e matar-lhe suas mulheres e filhos e os brancos que na dita ilha ficavam,

E outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que os antecessores do dito Jaguoara baité

destruíram duas armadas portuguesas que ao dito Maranhão vieram com traições em que são

uzeiros e vizeiros a fazer E outro si disse ele testemunha que era publica voz e fama ser o dito

Jaguoara baité um dos cabeças principais no consultado levantamento e ouvira dizer ele

testemunha que alguns dos rebelados no encontro que com eles tiveram no Cuma em que o

dito Jaguoara baité se achou com os brancos lhe disseram os inimigos ao Jaguoara se tu foste

deste consentimento e ajudaste a este levantamento como vens a guerra contra nós e al não

disse e assinou com o dito capitão eu João da Silva escrivão e Sebastião Roiz e Bento Maciel

Parente// Com Felipe dos Santos testemunha a quem o dito Capitão deu juramento dos santos

evangelhos em que pôs sua mão direita e prometeu dizer a verdade do que lhe fosse

perguntado de idade que disse ser de vinte e dois anos porque mais ou menos e do costume

disse nada, Perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto atrás que todo lhe foi lido e

declarado pelo dito capitão disse ele testemunha que ouvira dizer que o dito Jaguoara baité

tinha induzido os ditos índios e os levava ao mato e lá lhes fazia praticas secretas e lhe fazia

muitas carícias e outro si disse ele testemunha que praticando com um índio de Pernambuco

lhe dissera que o índio principal por nome Felipe pitagua lhe disseram que o dito jaguoara

baité lhe tinha dito que a ordem que tinha dado era que haviam de dar nos pestas primeiros, e

depois nos demais outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que o valentão, o dito

Jaguoara baité por nome Jaguoa tingua no entre da guerra que no Caité tivemos dera com um

machado nas costas do índio principal dos selvagens por nome Januabossú mas que não sabia

se o mandara fazer o dito Jaguoara baité E outro si disse ele testemunha que era verdade que o

dito Jaguoara baité e o dito Jaguoa tingua se meteram pelo esteiro acima que nos tudo faz

menção não seguindo os mais sendo que não era o caminho e eles o sabiam mui bem ao que

deu suspeita de quererem fazer alguma maldade, E outro si disse ele testemunha que era

verdade que ele recolhera assim o índio selvagem que havia estado preso na fortaleza do Pará

E sendo uma das nações rebeladas ele fazia praticas secretas sendo que nem um dos mais o

recolhia assim senão ele que dava na suspeita Outro si disse ele que ouvira dizer que o

principal por nome, Pirababaquá requerera ao dito capitão trouxesse ao dito Jaguoara baité

por contasse temia lhe desse em suas mulheres e lhas matasse e destruísse suas aldeias E

outro si disse ele testemunha que ouvira dizer a gente de sua nação que o pai do dito Jaguoara

baité destruíra uma armada portuguesa que antigamente ao Maranhão veio E outro si disse ele

testemunha que ouvira dizer a gente de sua nação que ele fora uma das principais cabeças do

levantamento que nestas partes e nas do Maranhão houve do que é publica vez e fama E al

não disse e assinou com o dito Capitão e eu João da Silva o escrevi...// Felipe dos santos e

Bento Maciel Parente// Com Francisco Álvares testemunha a quem o dito capitão deu

juramento dos santos evangelhos em que pôs sua mão direita e prometeu dizer a verdade do

que lhe fosse perguntado de idade que disse ser de trinta anos ou que mais ou menos E do

costume disse nada, perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto atrás que pelo dito

Capitão lhe foi lido e de narrado disse ele testemunha que praticando com um índio de

Pernambuco lhe dissera que o índio principal Felipe Pitangua lhe dissera que o dito Jaguoara

baior tinha ordenado de dar primeiro nos homens que estavam de posto e depois nos demais,

E outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que no entre da guerra que no Caité tivemos o

índio por nome Jaguoa tingua dera com um machado nas costas ao principal dos selvagens

por nome Januaté pelo qual trazia uma camisa vestida que era boa deviza o que mostrou ser

algum ódio mas que não sabia se o mandou o dito Jaguoara baité ou não, mas que ele era

muito familiar seu, Outro si disse ele testemunha que era verdade que os ditos índios se

apartaram com as duas canoas por um esteiro deixando o caminho como no auto consta ao

que seu parecer dele testemunha julgou ser ma intenção por ser um inimigo e outro si disse ele

testemunha que era verdade que o dito Jagouara baite adquiriu o dito índio contrario como no

dito faz menção, assim fazendo-lhe praticas secretas que dava raras mostras conforme sua ma

intenção do que queria fazer e outro si disse ele testemunha que ouvira dizer que os índios

tabajares e tapuios requereram o conteúdo no auto ao dito capitão trouxesse ao dito jagouara

baite pelas razoes no auto contidos e que isso era publico entre os índios moradores o que

sabe ele testemunha por saber muito bem a língua e falar muitas vezes com eles e outro si

disse ele testemunha que ouvira dizer publicamente que o dito Jagouara baite fora origem

principal do levantamento que hora houve no Maranhão, e que mataram a gente que estava no

Presídio de Cuma e tinham a intenção de matar a todos e ao não disse e assinou com o dito

capitão e eu João da Silva o escrevi // Francisco Álvares // Bento Maciel Parente// Em Miguel

da Costa testemunha a quem o dito capitão deu juramento dos santos evangelhos em que pos

sua mão direita e prometeu dizer a verdade de sua idade disse ser de vinte e quatro anos pouco

mais ou menos e do costume disse nada// perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto

atrás que todo lhe foi lido e declarado pelo dito capitão disse ele testemunha que era verdade

que ele vira seu ao dito Jagouara baite e dera uma camisa ao índio principal por nomes

Amoquo, e leva-lo ao mato e lá lhe fazer praticas secretas, e que vira vir o dito Amoquotuteu

falar com selvagem de suspeita segredos e outro si disse ele testemunha que indo ele na

dianteira no encontro que houve com o gentio do Caeté encontrara com o índio principal

Januabussu, no chão dizendo que o Jagouara tingua lhe dera com um machado junto da

cabeça que com ela e por o derrubou no chão da grande pancada que lhe deu e que sabe que o

dito Jagouaratingua e muito familiar do jagouara baite de sua casa e aldeia e outro si disse ele

testemunha que o dito índio Jagouara baite e o dito Jagouaratingua se apartaram com as duas

canoas na forma que ns auto trata que deram ma suspeita se os não seguiram e outro si disse

ele testemunha, que os índios das nações tabajaras e tapuias fizeram o requerimento ao dito

capitão trouxesse o índio Jagouara como no auto consta, e outro si disse ele testemunha que o

mesmo índio Jagouara lhe dissera que seu pai e antepassados destruíram umas armadas

portuguesas (...) e era publico e outro si disse ele testemunha que ouvira dizer publicamente

que o dito Jagouara baite fora principal parte no levantamento que se fez no Maranhão

fazendo muitas idas e vindas as aldeias de terra firme a tratar e consultar o levantamento, que

sucedeu e que uma índia da mesma nação e da aldeia do Cardo se tomou nesta nossa guerra

dissera a esta testemunha ainda vos outros dessa vila a Jaguoara baite que foi ocasião e cabeça

dos brancos que se mataram, e nos sabemos os que pagamos outro si disse ele testemunha que

Antonio Sirguado lhe dissera como o dito Jaguoara baite se queria levantar no Maranhão,

tanto que nos partíssemos para a guerra pela qual causa foi trazido a ela e ao não disse e

assinou com o dito capitão e eu João da Silva o escrevi// Miguel Costa // Bento Maciel

Parente// Em Gaspar Lourenço testemunha a quem o dito capitão deu juramento dos Santos

evangelhos em que pos sua mão direita e prometeu dizer verdade do que lhe fosse perguntado

de idade disse ser de quarenta e seis pouco mais ou menos e do costume disse nada,

perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto atrás que todo lhe foi lido e declarado pelo

dito capitão disse ele testemunha que falando ele com um índio de Pernambuco lhe dissera

que vira estar o Jaguoara baite com o Amoque no mato falando muito de segredo tanto que o

mesmo índio teve por ruim indicio e lhe pareceu que o que tratavam era só de querer matar os

brancos e outro si disse ele testemunha que em Tapui Tapera dissera o mesmo Jaguoara baite

que todos os brancos desta Companhia eram valentes e que daria ordem aos selvagens e

inimigos para que os matassem e que os que ficaram no Maranhão eram Amarelos e doentes e

que lá os matariam o que sabe ele testemunha por lhe dizer o negro Prangabu praticando com

ele e ele testemunha saber mui bem a língua e outros si disse ele testemunha que todo

conteúdo no auto sobre as canoas que o dito Jaguoara baite e o dito Jaguoatingua apartaram

da companhia deixando de seguir as mais era assim como no dito auto se contou e outro si

disse ele testemunha que era verdade que ele dito Jaguoara baite adquiria assim selvagens

inimigos como no dito auto se contem e outro si disse ele testemunha que era verdade que

estando ele testemunha em Tapui Tapera terra firme do Maranhão que lhe diziam os índios da

mesma nação do dito Jaguoara baite que todas as vezes que o dito passava por ali ia a Cuma

fazia mais praticas contra os brancos e fazia levantar os ditos índios como se levantaram, o

que sabe ele testemunha por muitas vezes os índios lho praticarem por quanto corria com eles

e abastava naquelas aldeias para as ter quietas e que era publico e notório entre os índios e

moradores ser ele dito Jaguoara baite a principal cabeça do levantamento que no dito

Maranhão houve e al não disse e assinou como dito capitão e eu João da Silva escrivão que

escrevi //Gaspar Lourenço //Bento Maciel Parente// Em Antonio Sirgado testemunha a quem

o dito capitão deu juramento dos santos evangelhos em que pos uma mão direita e prometeu

dizer a verdade do que lhe fosse perguntado de idade que disse ser de trinta e sete anos pouco

mais ou menos e do costume disse nada // Perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto

atrás que todo lhe foi lido e declarado pelo dito capitão disse ele testemunha que era verdade

que depois que ele testemunha veio do Maranhão, que a quatro anos sempre o dito Jaguoara

baite teve fama de inimigo e traidor da gente portuguesa e que disse por vezes o dito Jaguoara

baite que enquanto fosse vivo havia de renovar como os seus antepassados haviam feito E que

por uma morte havia de deixarem comendado a seus vassalos para que se não perdessem a

fama e memória neles de haverem mortos brancos digo morto gente portuguesa e outro si

disse ele testemunha que vira o dito Jaguoara levar alguns principais e falar ao mato coisas

que davam muita suspeita e que lhe dava dádivas como era publico e notório desta

companhia, e outro si disse testemunha que era verdade que o índio por nome Jaguoatingua

dera ao principal dos selvagens por nome Janobuzu como no auto se contem e o dito

Jaguoaratingua dissera a ele testemunha que ele lhe dera nabulhada guerra que no Caeté

tivemos. E outro si disse ele testemunha que o dito Jaguaratingua era da casa do dito Jaguoara

baite e o mais privado vassalo que bem donde se pode suspeitar o conteúdo nos autos e outro

si disse ele testemunha que sabia que o dito Jaguoara baite mandara um vassalo seu com outro

da mesma nação que o dito capitão mandava fazer pazes a uma aldeia da mesma nação o qual

contra a ordem das pazes avisou dos da dita aldeia que fugissem que as pazes que os brancos

lhes mandavam cometer eram falsas e que se não fiassem deles e assim o fez fugir a todos o

que ele testemunha sabe por ser língua da companhia E especular isso (...)pelos índios da

companhia e outro si disse ele testemunha que o conteúdo no auto de as duas canoas se

apartarem era verdade por quanto ele testemunha ia em uma delas e disse ao dito Jaguoara

baite e Jaguoaratingua que era os que governavam que seguissem armada que por lá era o

caminho e eles responderam que a demais armada era a que ia errada que não eles assim

tomaram pelo rio acima que se o capitão os não fora recolher pudera suceder alguma coisa e

outro si disse ele que era verdade que o dito Jaguoara baite adquiriu o dito selvagem rebelde

assim por razão de a sua nação rebelada estar unida como o dito selvagem para por meio dele

os avisar e fazer o que mais lhe conviesse e outro si disse ele testemunha que o conteúdo no

auto dos requerimentos que fizeram a nação Tabajar e a nação selvagem sobre que

trouxessem ao dito Jaguoara baite era verdade tudo o que nos autos se contem e mais ainda

por quanto ele testemunha com língua sabia isso pelo mesmo e tinha tido sobre isso muitos

avisos e requerimentos dos ditos moradores os quais lhe diziam que aviasse digo avisasse o

capitão mor, e ao capitão de guerra e pela mesma razão ele testemunha o requereu ao capitão

digo a ele capitão trouxesse o dito Jaguoara baite e o não deixasse na conquista por quanto

tinha já feito pratica com o Obututinga principal da aldeia do Moni e na mesma forma com

Etajuba principal de Urasaji e outros da mesma nação e que a ordem que o dito Jaguoara baite

tinha dada com os tantos que partimos para a guerra era destruir principalmente a aldeia dos

selvagens que na dita ilha do Maranhão estão em que os portugueses fazem mais cara e logo

nas duas aldeias dos tabaiaras e depois para a cidade e fortaleza em cerco que a necessidade

de se entregarem e que depois de tudo consumido nos haviam receber ais que fazermos a

guerra para nos destruir e com jeito não haver fumo demos nestas partes de vitimado e não

fazendo conta da gente que ora veio de Portugal nos navios de Jorge de Lemos de Betancourt

dizendo que eram mulheres e meninos e velhos e que não sabiam o estilo de sua guerra e

outro si disse ele testemunha na companhia o capitão Mathias de Albuquerque para a banda

do Cuma nos limites de Tapui Tapera vindo na dita companhia o dito principal Jagouara baite

estando o dito capitão e soldados a discuido o dito Jaguoara baite sabia em como os índios da

outra banda haviam morto gente do presídio do Cuma e não tão sobremente avisou ao dito

capitão mas com se disse a ele testemunha que no seu rancho vinha que se apartasse de seus

companheiros com intenção de matar a ele testemunha no mesmo rancho e se não atreveu

com os mais e que mandando o capitão passar gente a outra banda em decuido lhe mataram

oito ou nove brancos os inimigos que da outra banda do rio estavam e por o capitão Mathias

de Albuquerque que se haver dele e de outro que para os inimigos fugiu que se chamava

Tapiogua e do dito índio Jaguoara baite mandou ao dito testemunha fosse ter com os ditos

índios e que os que aqui estava e indo ele testemunha a faze-lo os achava fazendo digo

falando em segredo a ambos e pondo-lhe testemunha a pratica para quietação sua logo o dito

Tapiogua se foi pela serca a fora não lhe coadrando o que ele testemunha lhe dizia o que

mostrou claramente ser ele da consulta do levantamento, e por outras razoes que ele

testemunha sabe como lhe dizer lhe o principal Caroata pirangua índio levantado que na

guerra do diz Mathias de Albuquerque foi preso, irmão em armas do dito Jaguoara baite o

qual Caroata pitangua estando preso indo ele testemunha a visita-lo estando ele em pratica lhe

disse o preso se vise o Jaguoara baite querendo que eu, dizer-lhe que na não venha visitar

senão quizerdes saber das maldades que tem feito porque ele foi parte de ouvir a testemunha

do porque se andou desenquietando que matássemos os brancos dizendo-me que desse

esperimento nas minhas aldeias e que ele daria nos das ilhas que com a carne humana que

levava assada se iria ver com ele e outro si disse ele testemunha que a aldeia dele dito

Jaguoara baite e a maior que na dita ilha há alem que os principais das aldeias do Maranhão

lhe obedecem e respeitam e que na dita sua aldeia esta uma igreja da invocação do bem

aventurado São João com um painel de sua imagem posta no altar o qual o dito jaguoara baite

e seus vassalos tiraram o dito retabulo e levaram ao mato e lhe deram umas flechadas e o

deixaram no mato dizendo que o não queria ver pois a gente portuguesa tinha tanta fé nele e

que não queriam professar nossa lei e que quem dava aquelas flechadas em um santo melhor

os daria em um branco e que não havia de descansar ate não matar algum o que ele

testemunha sabe da boca do mesmo Jaguoara baite e outro si disse ele testemunha que ouvira

dizer que dissera um índio por nome Ibaite principal da mesma aldeia que em vindo o dito

Jaguoara baite para a guerra se havia de sair de sua aldeia e ir morar noutra com sua gente e

família porque quando se soubesse alguma coisa do dito jaguoarabaior não queria ele ser

culpado e al não disse e assinou com o dito capitão e eu João da Silva o escrevi// Antonio

Sirguado// Bento Maciel Parente// Em Marcos Gonçalves testemunha a quem o dito capitão

deu juramento dos santos evangelhos em que pos sua mão direita e prometeu dizer a verdade,

de idade de vinte e oito anos pouco mais ou menos e do costume disse nada perguntado ele

testemunha pelo conteúdo no auto atrás que tudo lhe foi lido e declarado pelo dito capitão

disse ele testemunha que um dia acaso estando ele pelo mato vira estar o dito Jaguoara baite

com o dito Francisco Roiz Pirarobira falando ambos tendo em sua companhia a um sobrinho

seu com uma espada e bodela na mão afastado deles ao que lhe dera ma suspeita pelo que

depois sucedeu avisou ele testemunha ao dito capitão e outro si disse ele testemunha que o

dito índio Jaguoara baite era useiro e viseiro em semelhantes traições e levantamentos, era

publico e notório e que fazendo-se execução no principal Caroata pirangua, que foi tomado no

salto do Garaopi, um dos principais cabeças do levantamento em o porem na boca de uma

peca mandando-lhe por o fogo pelo dito Jaguoara baite lhe disse o dito penitente põem põem

o fogo que o fez ourigente em vir a este estado e outro si disse ele testemunha que o dito

Jaguoara baite dera muito mantimento ao dito Pirarobira e a seus índios tendo estreita

amizade com eles e outro si disse ele testemunha que na guerra do Caite indo ele por cabeça

de vinte homens na dianteira com o gentio andando na guerra perto dele testemunha o índio

Jaguoatingua dera com um machado no dito principal Januabosu e acudiu-lhe a testemunha e

o que deu-se fora safando com o machado as costas e o outro estava no chão vestido com uma

camisa e um chapéu na cabeça que era devisa que os nossos índios da companhia traziam e os

inimigos não traziam vestido roupa nenhuma e o dito Jaguoatingua confessara em presença

dele testemunha que lhe dera para que se entregara e outro si disse ele testemunha que o que

se trata no auto atrás de se apartarem os ditos dois índios culpados com as ditas canoas passa

na verdade, e outro si disse ele testemunha que o dito Jaguoara baite tivera a conversação com

o índio selvagem a nação rebelada que para guia se levava o dito capitão que no auto faz

menção e era verdade, e outro si disse ele testemunha que o requerimento no auto atrás que os

índios moradores Tapuias e Tabajares fizeram ao dito capitão trouxesse ao dito Jaguoara baite

era verdade, segundo ouvira dizer e outro si disse ele testemunha que tudo o mais adiante

contendo no auto era verdade por ser publico e notório e ele testemunha ouvira dizer muitas

vezes as pessoas linguoas que bem sabiam destingir sua língua e outro si disse ele testemunha

que estando um dia na aldeia do dito Jaguoara baite com um mancebo linguoa por nome

Miguel da Costa o dito Jaguoara baite lhe dissera ainda vos heis de ser destruídos nesta terra e

ao não disse e assinou com o dito capitão e eu João da Silva o escrevi// Marcos Glz Correa//

Bento maciel Parente // Em Domingos da Costa testemunha a quem o dito capitão deu

juramento dos santos evangelhos em que pos sua mão direita e prometeu dizer a verdade que

lhe fosse perguntado e de sua idade disse ser de trinta anos pouco mais ou menos e do

costume disse nada. Perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto atrás que todo lhe foi

lido e declarado pelo dito capitão disse ele testemunha que o que trata no auto sobre o dito

Jaguoatingua dar no dito principal por nome Januabossu era verdade como no auto se contem

por passar na companhia e que no mais que no dito auto trata e faz menção ouvira dizer

publicamente como e notório a todos e ao não disse e assinou com o dito capitão e eu João da

Silva o escrevi // Domingos da Costa preto // Bento Maciel Parente// Em termo de juramento

que mandou fazer o capitão de guerra Bento Maciel Parente. Vinte e dois dias do mês de

outubro de mil e seiscentos e dezenove anos neste rio guoama estando este auto no estado em

que servem tendo o dito capitão mandado gente a dar salto nos rebelados que na parte do dito

rio estavam a qual gente dando com os ditos rebelados os destruíram e no dito assalto

prenderam ao principal por nome Paquao mo, o qual sendo trazido a presença do dito capitão

e das testemunhas e línguas abaixo assinadas a quem o dito Capitão deu o juramento dos

santos evangelhos em minha presença que sob cargo o juramento recebido explicassem as

razoes que os ditos índios tinham entre ambos e assim disse o dito índio principal por como

ao dito principal Jaguoara baite em forte o que começasse primeiro a por pratica que

destruíssemos e matássemos os brancos e em nesta pratica veste a minha aldeia em presença

de meu irmão o Cabelo de Velha e do principal Caroata pitangua dizendo que da tua ilha

trarias brancos contíguo para que os matássemos tomando os no meio que assim os iríamos

destruindo e assim foi a ocasião desta e eu viemos as testemunhas do que ao dito Jaguoara

baite lhe respondeu que mentia que era eu velhaco com outras palavras negativas o que eles

testemunhas juram pelo juramento que recebido tinham ou virem no assim aos sobreditos e o

dito capitão saber a língua e os entender do que fiz este termo aonde assinaram com o dito

capitão eu João da Silva escrivão da companhia o escrevi// Bento Maciel Parente// Sebastião

Roiz Phelipe dos Santos Antonio Sorgado, João Ferreira Bastiao de Aguiar, digo eu Sebastião

da Cunha que eu em vista das culpas que estão posto a estes dois índios pelos quais metessem

todo o castigo que as justiças lhes derem, porque e costume dar-se procurador e admitir-lhe

sua descarga o qual não e visto, digo que o capitão os pode desterrar da sua terra e manda-los

ao governador do estado e na outra qualquer parte donde sejam castigados e não venha mais

as suas aldeias porque causaram grande dano; o alferes Sebastião de Acunha// vista as guardas

e testemunhas e culpas dos dois índios Jaguoara baite e Jaguoatingua o meu parecer e que o

Jaguoara baite merece a morte mas por quietação da conquista será melhor mandar fora desta

terra visto não lhe darem procurador a ele dito índio para poder dar contrariedade as

testemunhas conforme as leis e justiça eu sou do parecer não havendo embarcação de presente

neste Para fique nele assim o dito Jaguoara baite como o sobredito Jaguoatingua por quietação

da conquista do maranhão, donde eles sobreditos tem sua gente e vindo embarcação a este

Para os mande para o reino ou para outras partes distantes// o alferes Antonio Teixeira de

Melo// visto as culpas dos índios Jaguoara baite e Jaguoatingua merece o Jaguoara baite a

morte e o Jaguoatingua o castigo mais amoderadamente, visto ser menos a culpa mas por

escuzas alterações entre o gentio Tupinambá me parece acerto manda-los a Pernambuco ou

para Portugal porque vendo os embarcar vivos sempre terão esperanças// o alferes Marcos Glz

Correa, vista a prova das testemunhas e culpas destes dois índios Jaguoara baite e

Jaguoatingua merece Jaguoara baite a morte e Jaguoatingua castigado mui amoderadamente

visto ser menos as culpas mas para ver menos alteração entre o gentio Tupinambá me parece

acerto manda-los a Pernambuco ou para Portugal porque vendo-os embarcar vivos sempre

terão esperanças // o alferes Thomé Faleiro// visto a prova das testemunhas e culpas dos dois

índios Jaguoara baite e Jaguoatingua merece Jaguoara baite a morte o Jaguoatingua castigado

mais amoderadamente visto ter menos culpa mas por não haver alteração no gentio que no

dito Maranhão há da dita costa manda-los para Portugal e ou para Pernambuco porque vendo

que os embarcam para alguma destas partes tem sempre esperanças que não são mortos // o

sargento da companhia Manoel Soares Garsses// por me pedir parecer o meu capitão sobre a

pena que mereciam as culpas dos ditos índios Jaguoara baite e Jaguoatingua digo que

conforme as culpas de cada um o Jaguoara baite merecia a morte mas, por evitar

levantamentos que se podem seguir da sua morte por ser o índio estimado de toda a sua nação

e de outras muitas será melhor desterra-lo ou para o reino ou para as partes de Pernambuco e

sobredito Jaguoatingua fique servindo nesta fortaleza do Para nas obras dela a sua majestade

em quanto viver pela traição que cometeu e de como sou deste parecer me assina// Antonio do

Liv.ra// vista a prova das testemunhas e culpas destes dois índios Jaguoara baite e

Jaguoatingua meresse Jaguoara baite a morte e Jaguoatingua castigado mui amoderadamente

visto ser menos a culpa mas por haver menos alterações entre o gentio Tupinambá me parece

acerto manda-los para Pernambuco ou para Portugal porque vendo embarcar vivos sempre

terão os seus esperanças // Antonio do Canto//visto a prova das testemunhas e os de cunho

antes severa tão culpados mereciam por qualquer das culpas a morte mas por evitar tantas

mortes e alguns alevantamentos, que das que podem suceder digo que o dito índio Jaguoara

baite o deste em para toda a vida aonde não veja nenhum modo de gentio da terra e o índio

Jaguoatingua o próprio desterro por quanto são dois índios mais abalizados e mui grandes

traidores que facilmente ficando nestas partes podem fazer qualquer levantamento por que são

negros de grande ardil e traição// o sargento Afonso Teixeira// E porquanto não perguntaram

mais testemunhas e se tomaram os pareceres das pessoas que se deviam tomar pelo capitão

Bento Maciel Parente me foi mandado lhe fizesse estes autos conclusos para sentenciar com a

mais justiça e parecer o que visto por mim seu mandado lho fiz inclusos hoje onze dias do

mês de setembro de mil seiscentos e dezenove anos e eu João da Silva escrivão a escrevi //

incluso// diz em ao escrito novembro e dezenove que se fez por verdade e sobredito escrevi//

Em visto estes autos e ditas testemunhas pelos quais consta mui largamente a grande culpa

que o índio principal Jaguoara baite cometeu assim ser principio e cabeça do levantamento,

como depois dele cometer fartas vezes e se amotinar secundaria vez contra os portugueses

destas partes e tendo íntimos de seu de costumes assim tinha na guerra andara com os mais

que pudesse no que se mostra claro a traição conforme aos ditos das testemunhas pelas quais

culpas e autos judiciais e outros indícios que nem que dele nem de seu genro, Jaguoatingua se

tiveram. Bem o mereciam a morte a qual não condeno por não escandalizar os índios da nação

Tupinambá destas conquistas e outro si por me conformar com os pareceres que nesta causa

tomei com oficiais e soldados de minha companhia julgo e dou por minha final sentença que

os sobreditos Jaguoara baite e Jaguoatingua vão degredados por toda a vida para o Rio de

Janeiro e apelo por parte da justiça para o governador geral do Brasil, ou aonde o caso

pertencer este auto dos digo o qual e tão bem por condenado nas culpas visto por bens por

onde os pague Cuma em vinte de dezembro de mil e seiscentos e dezenove anos// Bento

Maciel Parente // O qual traslado de auto e ditos testemunhos sentença juntada no caso eu

Antonio Frz. Ribeiro sendo publico judicial e notas nesta conquista do gram Para trasladei das

próprias que tomei do Capitão mor desta conquista do gram Para Bento maciel Parente que foi

juiz nesta causa bem e fielmente, sem coisa que duvida faca aos quais autos me reporto e de

como os recebeu assinou aqui comigo e escrevi assinei de meus sinais Públicos e raros que

tais são no Para em dezessete de agosto de MDXXI anos.

_________________________________(desenho)_______________________

Bento Maciel Parente

Consertado com o próprio por mim

Dom Antonio Luis Ribeiro.

Sumario Crime de testemunhas em que vão ensuma treslados as culpas do índio

por nome Jaguoara baite e Jaguoatingua que vão serradas e cozidas com oito pontos de linhas

azuis dobradas e um branco. A entregar no Conselho da fazenda de sua majestade digo no

estado da cidade de Belém aonde pertence.

ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO

AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.15

0098 no CD-ROM

Para 19 dezembro da 1619

Auto que mandou fazer o Capitão mor Custodio Valente acerca do que sucedeu a

esta conquista em prisão do capitão Bento Maciel nela e dos índios que lhe foram pedidos.

No ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil seiscentos e dezenove

anos nesta conquista do gram Para em vinte e seis dias do mês de novembro da dita era nas

casas del Rei onde mora o capitão mor Custodio Valente em comissão de seus companheiros

deputado para tratar dos negócios de sua majestade com o Capitão Bento Maciel por ele foi

mandado em provisão da fazenda do dito senhor fazer este auto em como depois de vinte e

dois dias passados da ida do dito capitão Bento Maciel logo viu o inimigo Tupinambá

sabendo por espias que nos não ficava gentio nenhum a dar assalto em os vinte e três dias do

dito mês acima de madrugada aonde estão os frades de São Francisco habitantes em uma

légua desta fortaleza a vista dela onde mataram os inimigos quatro índios dos ditos padres e

flecharam ao mesmo flechado frei Antonio da Merciana o qual sucedeu por culpa do dito

capitão Bento Maciel que nesta conquista não quer deixar o gentio que para lhe mostrar

experiência o que havia de suceder lhe pediu o dito capitão mor por serviço de sua majestade

e serviço desta conquista e fez do inimigo do que o dito capitão Bento Maciel dara conta a sua

Majestade por não querer deixar o dito gentio e pela dita causa deixar a conquista pior que

achou dando bem assim guerra a índios Tapuias que estavam de paz ao qual será fácil tomar-

se e rebelar e de tudo mandou fazer este auto para por ele se perguntaram as testemunhas e

sua majestade do caso ser informado e de como mandou fazer assinou aqui eu Pedro de

Andrade escrivão de sua majestade que o escreveu. Custodio Valente logo no dito dia mês e

ano o fez o dito capitão mor comigo escrivão da fazenda perguntamos as testemunhas eu o

fiz(...) sinais são os que se seguem Eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda que o escrevi.

Em Manoel da Guarda Cabreira Capitão de infantaria por sua majestade quedor e contador de

sua fazenda e auditor geral nesta conquista do Para testemunha jurada aos santos evangelhos

que pelo capitão mor foi dado o juramento em que pos sua mão direita e prometeu dizer a

verdade e perguntado ele testemunha disse ser de idade de vinte e nove anos para mais ou

menos e do costume disse nada. E perguntado pelo conteúdo no auto disse ele testemunha que

era verdade que depois da ida do capitão Bento Maciel desta conquista ali a poucos dias

deram os inimigos rebelados no mosteiro aonde estavam os padres uma légua de distancia

desta fortaleza no quarto da lua de madrugada e mataram três negros aos ditos padres ficando

um mui mal ferido e o padre Custodio pelo em seguinte de uma flechada e que sabe decerto se

o capitão Bento Maciel deixara nesta conquista o gentio que lhe foi pedido pelo requerimento

não sucedera o tal assalto por estarem amedrontados com o gentio nosso amigo que o dito

capitão Bento Maciel levou e que sabe mais ele dito testemunha ficar esta conquista em muito

aperto assim pela guerra que deu o dito capitão Bento Maciel aos Tapuias que estavam de paz

conosco como pela falta em que estamos pelo dito capitão levar o gentio os que o que o

capitão mor Jerônimo Fragoso trouxe consigo como os mais que o senhor governador mandou

para esta conquista deputados os quais ele apanhou e levou consigo para pratica que ele

mandou fazer e que em tudo fica em pior estado a conquista e ao não disse e assinou ao dito

capitão mor e eu

Pedro de Andrade escrivão da fazenda de sua majestade que o escrevi. Valente

Manoel da Guarda Cabeira e capitão Gaspar de Freitas de Macedo testemunha jurada aos

santos evangelhos a quem o capitão mor deu o juramento em que pos a sua mão direita e

prometeu dizer a verdade e perguntado a ele testemunha disse ser de idade de vinte e quatro

anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E perguntado a ele testemunha pelo

conteúdo no auto disse ele testemunha que era verdade que aos vinte e dois dias do dito mês a

noite ouviu ele testemunha umas arcabuzadas as quais responderam com uma peca da

fortaleza que desaparecer seriam embarcações e amanhecendo mandando o dito capitão mor

lá uma canoa a nova que trouxe foi que tinham dado aos Tupinambazes em um sitio aonde

moram aos padres de São Francisco e que lhe mataram três negros e levaram três negras e

flecharam ao dito prelado frei Antonio da Merciana e que tudo sucedeu pela falta de gentio

nosso amigo e os quais ouviu ele testemunha dizer publicamente dera ao dito capitão Bento

Maciel em gentio tapuia amigo nosso pela qual disse não deixar o dito capitão o gentio que

lhe foi pedido pelo seu capitão mor fica a conquista em um grande aperto e mas não disse e

assinou o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão que o escrevi. Valente Gaspar de

Freitas de Macedo. O Alferes Francisco de Medina a quem o dito capitão mor deu juramento

dos santos evangelhos em que pos sua mão direita e promete dizer a verdade. E perguntado

ele testemunha disse ser de idade de vinte e um anos e pouco mais ou menos e de costume

disse nada. E perguntado do conteúdo no auto que lhe foi todo lido e declarado para mim

escrivão da fazenda disse ele testemunha que era verdade que a vinte e três dias do dito mês

ouviu dizer que deram os Tupinambazes no sitio onde moram os padres de São Francisco e

que mataram três negros dos ditos padres e feriram e juntamente flecharam ao dito prelado

frei Antonio da Merciana e que sabe ele testemunha sucedeu por Bento Maciel não deixar

nesta conquista o gentio que lhe foi pedido e os que ficaram não temeram os Tupinambazes

tal atrevimento pelo medo que tinham do dito gentio de passado e que sabe ele testemunha

que fica a conquista em pior estado do que o dito capitão Bento Maciel achou e al não disse e

assinou com o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda de sua majestade

que o escrevi. Valente Francisco de Medina. Em O capitão Pedro do Couto Cardoso

testemunha a quem o dito capitão mor deu o juramento dos santos evangelhos em que pos sua

mão direita e que prometeu dizer a verdade e perguntado a ele testemunha disse ser de idade

de trinta anos pouco mais ou menos e do costume disse nada perguntado pelo conteúdo no

auto que tudo por mim lhe foi lido e declarando disse ele testemunha que era verdade que

ouvira dizer a todos em geral que em vinte e três do dito mês deram os Tupinambazes de noite

no quarto da lua em um sitio onde moram os padres de São Francisco e lhe mataram três

escravos dos ditos padres e que lhe levaram duas ou três negras e deixaram a um negro muito

mal ferido e também ficando flechando o prelado frei Antonio de Merciana e que sabe ele

testemunha sucedeu tudo por não deixar o dito Bento Maciel gentio como lhe foi pedido

deixando a conquista pior do que antes estava tudo por falta do gentio que não deixou e ao

não disse e assinou o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda de sua

majestade que o escrevi. Valente//Pedro do Couto Cardoso. Em o alferes Domingos da Silva

testemunha jurada aos santos evangelhos digo testemunha jurada a quem o dito capitão mor

de juramento dos santos evangelhos em que pos sua mão direita e prometeu dizer a verdade e

perguntado disse ele testemunha que era de idade de vinte e cinco anos pouco mais ou menos

e do costume disse nada e perguntado pelo conteúdo no auto que tudo lhe foi lido e

declarando disse ele testemunha que era verdade que ele sabe que em vinte e três do dito mês

de madrugada deram os Tupinambazes em um sitio em que moram os padres de São

Francisco em que lhe mataram três negros dos ditos padres e ficando um mui mal ferido e o

prelado frei Antonio da Merciana ficar com uma flechada o que tudo se sucedeu por o dito

capitão Bento Maciel não deixar o gentio que tantas vezes lhe foi pedido pelo dito capitão

mor e saber ele testemunha que deixou o dito capitão Bento maciel a conquista em pior estado

do que dantes estava assim por levar todo o gentio que o senhor governador mandou para esta

conquista como para dizerem publicamente que ele dera em um gentio Tapuia que estava de

paz e ao não disse e assinou como dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão de sua

majestade que o escrevi. Valente o Alferes Domingos da Silva. E o alferes Bento Roiz de

Oliveira testemunha jurada a que o dito capitão mor deu juramento dos santos evangelhos por

sua mão direita e prometeu dizer a verdade. E perguntada a testemunha disse ser de idade de

vinte e um anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E perguntado pelo conteúdo

no auto de que lhe todo foi lido e declarado disse ele testemunha que era verdade que em

vinte e três do dito mês de madrugada ouvira ele testemunha umas arcabuzadas e vindo pela

manhã mandou o dito capitão mor uma canoa com ajuda e soldados a saber a causa e vindo

novas digo vindo trouxeram novas que os Tupinambás tinham dado em um sitio aonde moram

os padres de São Francisco e que lhe mataram dois negros dos ditos padres e sabe ele

testemunha estar o Padre Custodio ferido de uma flechada o que sabe ele testemunha a sucede

por não haver gentio na dita Conquista e havendo não para serviam conforme o medo que dos

do povoado tinham. E de tudo isso fez causa o dito Bento Maciel Parente por o não querer

deixar a dita conquista. Também ouvira ele testemunha dizer que o dito Bento Maciel levava

a guerra a um pouco de gentio Tapuias nosso amigo e por onde deixou a conquista em pior

estado do que dantes estava e ao não disse e assinou com o dito capitão mor e eu Pedro de

Andrade escrivão da fazenda de sua majestade que o escrevi. Valente. Bento Roiz de Oliveira.

Em o alferes Mathias de Almeida testemunha jurada aos Santos evangelhos que pelo capitão

mor fora dado em que pos sua mão e prometeu dizer a verdade e perguntado ele testemunha

disse ser de idade de vinte e oito anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E

perguntado ele testemunha pelo conteúdo no auto que lhe foi lido e declarado disse ele

testemunha que e’ verdade que a vinte e dois dias do dito mês atrás ouvira dita testemunha

tiros em distancia de uma légua desta fortaleza e indo uma canoa no mesmo instante por

mandado ir o capitão mor a saber que era achou serem duas canoas de Tupinambazes que

haviam dado em um sitio aonde estavam os frades de São Francisco e lhe mataram três

escravos levando alguns negros e feriram ao Padre Custodio e sabe ele testemunha se

houvesse gentio na terra não sucederia tal por que enquanto havia gentio nunca ousavam

cometer os tendo causa disso o dito capitão Bento Maciel Parente por levar o gentio dado

fazendo-lho a isso muitos requerimentos e não dando por ele e ao não disse e assinou o dito

capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda o escrevi.Valente. O alferes Mathias

de Almeida. Em o ajudante Fernando de Maldonado testemunha a que o dito capitão mor deu

juramento dos santos evangelhos em que pos sua mão direita e prometeu dizer a verdade. E

perguntado a ele testemunha disse ser de idade de vinte e cinco anos pouco mais ou menos e

do costume disse nada. E perguntado pelo conteúdo no auto que todo lhe foi lido e declarado

disse que era verdade que servindo o dito nesta fortaleza em vinte e dois dias do dito mês

atrás de madrugada umas arcabuzadas o mandou o dito capitão mor a ele testemunha em uma

canoa e os sete companheiros saber o que era a causa. E achou dita testemunha que tinham

dado os tupinambazes em um sitio em que moram os padres de São Francisco e achou mortos

quatro negros os quais eram dos padres e lhes faltavam dizendo três negras. E sabe ele

testemunha ficar o Padre Custodio ferido de uma flecheira o que tido sucedeu por causa de

não haver gentio de povoado nesta conquista e fez Bento Maciel a causa disso por não querer

deixar os índios que tantas vezes ficavam pedidos E que ele testemunha ouvindo dizer que ele

dito Bento Maciel deu em Tapuias que eram em nossos amigos pelo que deixou a conquista

em pior estado que dantes estava pelas ditas causas de levantar o gentio e dar nos amigos

nossa guerra e al não disse e assinou com o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão

da fazenda de sua majestade o escrevi. Valente. O ajudante Maldonado. Em o sargento

Caldeirão testemunha jurada a que pelo dito capitão mor foi dado juramento em que pos sua

mão direita e prometeu dizer a verdade. E perguntado ele testemunha disse ser de idade de

vinte e seis anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E perguntado ele testemunha

pelo conteúdo no auto disse que era verdade que ele testemunha foi em companhia do

ajudante Maldonado por mando do capitão mor haver em uma canoa a causa de uns tiros de

arcabuzes que nesta fortaleza fez ouviram em vinte e três de novembro dito a três de

madrugada. Achou ele testemunha serem Tupinambazes que tinham dado em um sitio em que

moram os padres de São Francisco. E achou mais ele testemunha mortos quatro escravos dos

padres e ouviu queixas que lhes faltavam dois ou três negras e sabe ele testemunha que ficou

ferido de uma flechada o Padre Custodio. E sabe ele testemunha ser causa disso tudo o não

deixar Bento Maciel o gentio na conquista que lho foi pedido e ouviu ele testemunha dizer

que dera o dito Bento Maciel uma guerra aos Tapuias nossos amigos deixando o gentio mui

alvorossado a risco de se alevantar por onde deixou a conquista em pior estado do que dantes

estava e ao não disse e assinou o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda

de sua majestade o escrevi. Valente Joseph de Caldeirão. Em o cabo de esquadra Antonio

Gomes testemunha jurada a quem o capitão mor deu o juramento dos santos evangelhos em

que pos sua mão direita e prometeu dizer a verdade e perguntado a ele testemunha disse ser de

idade de vinte e cinco anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E perguntado ele

testemunha pelo conteúdo no auto que todo lhe foi lido e declarado disse que era verdade que

ele testemunha sabe que em vinte e três do dito mês acima deram os Tupinambazes aonde

estavam os Padres de São Francisco e sabe ele testemunha que lhe mataram aos ditos padres

três negros e que lhe levaram três negras e sabe ele testemunha que o prelado frei Antonio da

Merciana esta ferido de uma flechada e sabe mui ele testemunha pelo medo que sabe que eles

tinham do gentio do povoado que ouvirem eles foi o não havendo dito gentio de povoado

nesta dita conquista e causa de tudo foi o dito Bento Maciel por o ter levado todo assim o que

consigo trouxe como o que tinha vindo com o capitão mor Jerônimo Fragoso e mandou lhe

fazer varias e induzi-lo para levar consigo e sabe mais ele testemunha que mandado o capitão

Jerônimo Fragoso ao ajudante que foi desta conquista Joseph Mendes em busca do dito Bento

Maciel foi ele testemunha em sua companhia e antes que chegasse aonde o dito estava viu ele

testemunha vir em uma aldeia um principal a fazer queixas que aqueles brancos da companhia

de Bento Maciel lhe tinham dado guerra a seus parentes sendo eles amigos dos brancos terem

lhes dado filhas para os servir para serem as pazes fixas pelo que deixou a conquista em pior

estado do que estava antes e al não disse e assinou com o dito capitão mor e eu Pedro de

Andrade escrivão da fazenda de sua majestade que o escrevi. Valente Antonio Gomes. Em

Lourenço testemunha jurada a que o dito capitão mor deu juramento e prometeu dizer a

verdade e perguntado ele testemunha disse ser de quarenta e um anos pouco mais ou menos e

do costume disse nada. E perguntado pelo conteúdo no auto que todo lhe foi lido e declarado

disse ele testemunha que era verdade que ele sabe que os Tupinambazes vieram dar em um

sitio aonde estavam os Padres de São Francisco e lhes mataram alguns escravos e levaram

uma negra e sabe estar o Padre Custodio ferido de uma flechada por ver vir chamar um

homem para curar o dito padre e sabe ele testemunha pelo mas que tem do sertão que senão

ouvira Bento Maciel saído o gentio todo não tinham o atrevimento para fazer o que fizeram e

sabe mais ele testemunha que mandando o capitão mor Jerônimo Fragoso a chamar o dito

capitão Bento Maciel foi ele testemunha em companhia dos soldados que la foram a levar

recado e que antes de chegar ao sitio que digo a donde estavam o dito Bento Maciel viu um

índio fazer queixa que Bento Maciel com seus soldados dera guerra a seus parentes sendo

amigo dos brancos de que o principal com nosso amigo tinha feito pazes e dele pelo mandado

do dito capitão mor mostrando-se o dito principal mui escandalizado pois era amigo irem lhes

dar em seus presentes e tudo assim a guerra com estes que o dito Bento Maciel deu com

outras foi pelo conselho de um nosso inimigo matador de brancos chamado dogatohu e ao não

disse e assinou comigo digo assinou com o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão

da fazenda de sua majestade que o escrevi. Valente Lourenço Risso. Em Joseph Mendes

ajudante que foi desta conquista testemunha jurada que dos santos evangelhos em que pos sua

mão direita e prometeu dizer a verdade e perguntado ele testemunha disse ser de idade de

quarenta e um anos pouco mais ou menos e do costume disse nada. E perguntado pelo

conteúdo no auto que todo lhe foi lido e declarado disse ele testemunha que era verdade que

ele testemunha sabe darem os Tupinambazes a vinte e três deste dito mês em um sitio onde

estavam os padres de São Francisco e lhes mataram alguns escravos e feriram ao Padre

Custodio de uma flechada e tudo por causa de Bento Maciel levar todo gentio consigo e não

querer dar nenhum guarda desta conquista e assim mais sabe ele testemunha que mandando o

capitão mor Jerônimo Fragoso a ele testemunha como ajudante que era desta conquista a

chamar ao dito Bento Maciel antes de chegar a paragem donde o dito Bento Maciel estava lhe

vieram a ele testemunha uns negros fazendo queixas que o dito Bento Maciel lhe tinha dado

guerra a sua gente e uns parentes seus que estavam de paz com os brancos para os terem feito

e o principal nosso amigo mostrando isso o negro muito escandalizado pois era amigo lhe

davam guerra. E isto sabe ele testemunha para lho declarar o língua que com ele ia e ele

testemunha também por experiência do gentio entende algumas palavras e al não disse e

assinou o dito capitão mor e eu Pedro de Andrade escrivão da fazenda que o escrevi. Valente

Joseph Mendes.

O qual traslado de requerimento digo de auto e ditas testemunhas eu Pedro de

Andrade escrivão da fazenda de sua majestade nesta conquista fiz ditada do próprio que fica

em meu poder a quem reporto e em a ele consertei bem e fielmente sem causar duvida possa e

por verdade mês viu. Para’ trinta e um de dezembro de seiscentos e dezenove anos.

Pedro de Andrade

Consertado com próprio por mim escrivão da fazenda

Pedro de Andrade

Pará

2-10-1619

Os Capitães Custodio Valente Pedro Teixeira e Padre Custodio eleitos nesta

conquista no cargo de capitão mor da esta conquista mandamos ao Capitão Manoel da goarda

e provedor da fazenda de sua mag.de por assim cumprir a seu serviço com descrição de seu

cargo requeira da parte de sua magestade E da nossa ao Capitão Bento Maciel Parente q. p.

quando testemunha mandado venha aesta fortaleza para haver de tratar de negócios que trás a

cargo do serviço de sua magestade com o Capitão Custodio Valente q. p. isso lhe deputamos e

lhe damos a tudo o que for serviço de sua magestade E mandados do gov.dor q. trás a cargo

inteiro cumprimento E athe agora não havendo lhe requeiras como o dito E que querendo

buscar o inimigo tupinambá q. se diz estar no Rio gouama lhe daremos todo o favor

necessário. E caso que não queira hir se vá da conquista p.q. estando nela novamente nesta

paragem pela muita falta q. há de mantimentos Em notável dano dela requerendo lhe contudo

nos deixe duzentos flecheiros dos q. consigo trás para segurança da conquista e freio do

inimigo pela experiência ter mostrado que o não haver índios destas duas nações q. consigo

trás deu o inimigo animo de rebelar E assim lhe requerereis mais q deixe nesta conquista a

gente q de Pernambuco veio para ela E se não a trouxe E a deixou no Maranhão outra em seu

lugar E insistindo em não deixar os ditos índios o que dele não esperamos p. ser notável o

desserviço de sua magestade lhe requerereis q o dito senhor avera para ele todas as perdas E

danos q por essa ocasião sucederam nesta conquista alem de lho estranhar E de como assim

lho requererdes e lho fazer deste requerimento com descrição de nosso cargo nos mandareis

faziar certidão com sua resposta ou sem ela se dar não quizer. Pará, dous de outubro

seiscentos e dezenove anos. Custodio Valente, Pedro Teixeira, Frei Antonio da Merciana.

Respondendo ao requerimento dos senhores capitães maior digo q. p. mo não dar p. seguro de

muitas pessoas q. na dita fortaleza estão assim de minha pessoa como de outras couzas de que

em jeito me avizarão por rezão de ter muitos enemigos nela os quais estão soltos sendo q são

culpados em hua devassa q. nesta conquista tirei. E podendo sr. governador pela qual fiz

diligencia E prendendo alguns suas mãos os soltarão sendo q. o caso não era capaz dito pois o

sr. governador lhe chama levantados e rebelião e assim digo q. tendo q vossas mãos mo

prenderem os culpados q consigo tem q andam soltos q he Cristóvão vaz Betancour e Manoel

Calado de Lima E em ferros mos entregarem nesta goarda de minha companhia com outros

que tenho para prender sobre os quais mandei huns requerimentos ao Capitão Custodio

Valente q de conformidade suas ms me derão p Capitam mor para com ele negociar o que

importasse ao serviço de sua magestade ao qual sua magestade me não quis deferir p escrito

para se escusar da ajuda e favor que nele lhe pedia porque he notório que o sr e reverendo

padre Custodio se fez capitão maior somente para emparar E encontrar este negocio q tanto

importa a sua magestade pela quietação de suas conquistas ex.cia que nesta não houve cazo

semelhante E como digo prendendomos ditos e entregandomos q conformo minha provisão

sou o q mando sobre eles enquanto na terra avistar então irei a fortaleza sendo q sem hir a ela

puderão suas ms fazer o serviço de sua magestade sem duvida pois estou pouco mais de hum

tiro de mosquete dela E daqui posso fazer todo o serviço de sua magestade sem arriscar a

minha pessoa E companhia E no que tivera de ir buscar o enemigo ao goama estou prestes

para isso com mo darem algua farinha p os índios q estão mui faltos E mo partireis amanhã

dandoma E assim respondo q he posto q trago hua provizão do sr Governador para levar todos

os índios amigo de minha companhia brancos digo q no q toca aos índios q eles são livres E q

fui servir a suas ms estimarei muito queirão ficar alguns e assim podem vossas ms mandar

línguas q lho hão fazer pratica em minha presença E todos as q quisesse ficar voluntariamente

se ficavam dando m nossas ms cumprimento as minhas prizoens como respeito q tem E

requeiro da parte de sua magestade em tudo e no que busca a gente branca ainda e da

obrigação das forças do maranhão aonde vencem suas porções q a que o de Pernambuco a

esta conquista se lhe faz entrega dela ao Capitão mor Jerônimo fragoso de Albuquerque q no

maranhão o qual trouxe comigo E nos índios torno a dizer q eles são livres e vivem sem soldo

E querendo ficar voluntariamente que havereis muito E dos que ficarem me darão certidão pa

minha descargas E plas visem q ficão despliquico E de como as q respondo [...] pedindo a

vossas ms sr provedor da fazenda real Manoel da Goarda Cabreira me mande dar o treslado

deste requerimento E resposta para bem de minha justiça hoje dous de outubro de seiscentos e

dezenove anos Bento Maciel parente. O capitão Custodio Valente que leva o cargo de Capitão

mor e nesta Conquista do Pará pela comissão que tenho de meus companheiros para tratar as

cousas q forem do serviço de sua mag.de com o Capitão Bento Maciel Parente mando a voz

Antonio Francisco Ribeiro escrivão do pr q com esta minha requisitória não deu em

siguimento do dito capitão Bento Maciel d’ daq.te de sua magestade e da minha lhe

requerereis q p quando p informação certa q tomei soube q B.ar índio Tabajar p sua e sua

mulher deixavam esta conquista levantada assim os índios de Moju p sicunvizinhos aesta

fortaleza e mais índios com praticas prejudiciais ao serviço de sua magestade pelo que como o

dito requerereis ao dito Capitão Bento Maciel q logo os entregue ao dito índio Baltazar e sua

mulher com todos os índios de sua conserva p cumprir as q ao serviço de sua magestade E

outro ssi lhe notificarei q tanto q fazer da q vai do serviço de sua magestade se recolha aesta

fortaleza como requerido lhe tendo E não mande gente alguma por terra índios ou brancos

antes os traga todos consigo por convir assim ao serviço de os ditos no selviario assim ao dito

Capitão Bento Maciel E da notificação q lhe fizeres passareis certidão ao pé desta data nesta

fortaleza sob o meu signal. Fort. Em cinco de outubro de seiscentos e dezenove. Custodio

Valente.

B. respondendo ao requerimento de vossa mag.de digo logo tendo q o escrivão

este me entimou logo fiz diligencia chamando o índio Baltazar hum língua desta companhia

ant. sirgado E assim um índio dos de Moju p q em companhia do dito escrivão vinha

perguntando ao dito índio se havia lá alguma má pratica ou levantamentos na sua aldeia que

junto dessa força está q por razão do Baltazar Francisco feita respondeu q não nem tal nunca

ouvira E perguntado ao mesmo índio Baltazar se tal viera ou sua mulher disse que ela estava

para morrer e não falava com ninguém E que ele como havia de dizer isso se ele e os seus

tinham ajuda de a conquista da Paraíba e Rio Grande e Maranhão E agora vinhao a este Pará a

isso E que tendo e a tantos anos pelos brancos servido com eles como se podia imaginar isso

deles que não podia ser senão alguém falso testemunho de alguém não duvido pelo que vejo

nesta terra e a deles E no que toca a entrega-lo eu e manda-lo disse ele que não queria hir por

mais que lho amoeste com boas palavras diante do dito tam explicita de fazer força que era

Respondendo com as palavras q lhes importam da prisão ditos ao Gov.dor de que deveriam de

ir fosse eles por duas vezes que torne a levar comigo a Pernambuco os índios que comigo

vieram pela grande falta que lá fazem E palavras que o senhor governador lhes deu que

retornariam a esta querendo os ditos índios que lhes cumpre a guarda aceitem noutra ocazião

semelhante vir servir a sua mag.de com bom ânimo e prontidão E no demais do requerimento

atrás atrás já tenho respondido o que vossas mãos não fazem aos meus requerimentos como

foi dito negarem um conto que lhe intimou de servir ao das devassas para que de face e

credito não quizerao deferir a elho sendo que o não vi nesta conquista por hora demais

importância pois Eu sobre não favorecerem vossas ms aos amotinados que ao favorece-los o

jeito vai pouco p tam q mede a ocazião do que me queixe ao senhor governador geral E a sua

mag.de de vossas mãos sñres Capitães Custodio Valente Pedro Teixeira não guardarem suas

ordens E obedeçam seus mandatos e deixarem de fazer p afeições e amizades de particulares a

que tudo protesto averes por vossas ms e suas fazendas E de sua mg.de lhes pedir conta do

mal que o servem hoje seis do mez de outubro de seiscentos e dezenove anos B.to Maciel

Parente. Certifico eu Po. De Andrade escrivão da fazenda de sua mag.de que este

requerimento atraz foi fazer o tabelião do publico judicial e notas desta conquista E sem

embargo do qual o Capitão Bento maciel Parente não deixa mandar índios e brancos p terra

não se lhe dando do requerimento E isto passa na verdade o que certifico pelo juramento do

meu cargo mo assino Pará dez de nov.bro seiscentos e dezenove anos Pedro de Andrade. O

Capitão Custodio Valente q juiz o cargo de Capitão mor eleito nesta Conquista do Pará pela

comissão q tenho de meus companheiros para haver de tratar com o Capitão Bento Maciel

Parente sobre quais os negócios do serviço de sua mag.de para que assim viessem melhor

execução manda Vaz Pedro d’Andrade escrivão da fazenda do dito snr que com este meu

requerimento ou mais propriamente mandado Requeiras e note fiqueis ao dito Capitão Bento

Maciel Parente que o não responder a seu requerimento p escrito foi p que eu em boa

conformidade nas vezes que aviu comigo ausentei com ele o que convinha ao serviço de sua

mag.de sobre os ditos requerimentos por escritas papeladas E que não ficou para mim deixar-

lhe para dizer a devida exposição senão por ele pelo perigo segredo que teve nas devassas que

tirou como em seu tão se dira Em nos tivera de q resultou andarem todos os culpados ausentes

E q seja os acuzar e prender sem necessidade de meu favor e ajuda que estou prestes para com

efeito lho dar como lhe tenho dito tomar entregue de todos os presos e embarca-los em

cumprimento das provisões que traz E que todos os mais requerimentos que neste partido lhe

faço com palavras tão decompostas como tem feito he querer passar a culpa que tem cometido

que tem no tirar das devassas pelo que com o dito he lhe requerei e notificai da parte de sua

mag.de e da minha de...[ilegível].

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AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.19

CD-ROM pasta 001, subpasta 001, imagem 0132, 0133, 0134.

Diz Manoel de Mello Teixeira E ele he dos principais fidalgos da Ilha Tra. E nela

serviu sempre a v.mg.de em todas as ocazioes de guerra q houve de ingleses holandeses e

franceses com suas armas e cavalo acodindo a todo com toda e pronta E donde como he

notório E ordenando-se por v.mag.de vão armadas nas ilhas p levar gente a povoar o

maranhao he Pará de q foi por capitão Jorge de Lemos de Betancor ele se embarcou com sua

mulher dona Lianor de Gusman duas filhas donzelas e dous filhos he com muitas pessoas de

seu serviço conselho do serviço de v.mag.de p o que vendeu quoanto tinha este empenhar o

morgado por muitos anos com o q se alijou o necessário para cultivar a terra e servir a

v.mag.de E a fortuna lhe foi contrario q andando sinquo mezes e meio no mar com muitas

tormentas e naufrágios sem poderem tomar terra foram aribados as índias de castela

destrosados e desbaratados e quaise perdidos onde esteve e com toda a sua casa onze meses

consumindo quoanto levava por quão em toda a fazenda de v.mag.de se lhe não deu nada E a

cabo dos quais se embarcou com sua casa para se ir lha e com muitos gastos empenhando-se

para isso e de lá veio para esta cidade fazendo muitos gastos e padecendo muitos trabalhos

onde esta já dez meses esperando as mercês de v.mag.de pelo q [ilegível].

Pede a v.mag.de visto o que alega e chegar a este estado por serviço de v.mag.de

sem ter remédio para seguir sua jornada nem para poder viver em sua terra lhe faca mercê do

cargo de provedor e contador da fazenda do grão Pará o serviu Manoel de Sousa de As q ora

vai por Capitão mor pera q com isto possa ajudar a cultivar e povoar a terra e dar remédio a

duas filhas donzelas q tem visto haver nele qualidades e partes necessárias para o dito cargo

he recebera Mercê.

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AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.20

Pará

28 julho 1621

Snór

Fez lembrança V.Mag.de neste tribunal Manoel de Sousa de Ça da grande

necessidade que há no grão Pará onde V.Mag.de o manda por Capitão, de religiosos que

insine ao gentio daquelle por ser que são muitas a nossas da fé católica para que também se

ata lhe a falssa doctrina que os estrangeiros que aellas vão pella parte do norte lhes insinão, e

porque as pessoas q entre aquelle gentio tem mor autoridade e credito são os padres da

companhia de Jesus e de Sancto Antonio que estão nas partes do Brasil e há entre elles

pessoas de letras e virtude e que sabem bem as línguas que poderão fazerem do serviço a

Deus e a V.Mag.de propõem se sirva V.Mag.de mandar que da cada hua da ditas ordens vão

dous religiosos com elle ao Grão Pará mandando-lhe consignar o que parecer necessário para

sua sustentação.

Pareceu considerando a matéria e importância della q V.Mag.de deve ser servido

mandar escrever ao governador do estado do Brasil a comunique com os gerais das religiões

da Companhia de Jesus e da ordem de Sancto Antonio e da parte de V.Mag.de lhe peça doze

dos religiosos de cada hua das ordens que saibam bem as línguas para que em companhia do

dito capitão Manoel de Sousa de ça vão com elle ao grão Pará para que insine aquelles

religiosos a nossas da fé católica e trate de sua conversão, e que para sustentação destes quatro

religiosos deve V.Mag.de mandar consignar o que parecer bastam-se para ella nos dízimos

daquelles estados os quais os summos pontífices concederão aos reis destes reinos

principalmente para ministros e obreiros que reduzissem e trouxessem a nossa fé o gentio Em

Lisboa a 28 dejulho de 1621.

Dom Anto ma; Antão da Misquita; Francisco Hereira Pinto; Sebastião de

Carvalho.

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AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.23

CD-ROM , pasta 001, sub-pasta 001, imagens 0156-58.

Veja este papel no Cons. Da faz.a e consultes com que parecer em Lisboa a 13 de

Jan.o de 1623.

Snr.

Diz Manoel de Sousa deÇa, q V.Mag.de o tem encarregado de Capitão do presídio

da conquista do Grão Pará de que tem dado menajem(mensagem), E por q fiqua

distade(distante) do gov.dor Dom Diogo de Carcamo cento e siquenta léguas, e por esta

causa; E pelo pouco conhecimento, que tem o dito gov.dor daquelas partes; não poderá

responder algumas matérias importantes ao serviço de V.Mag.de E aumento da conquista com

a brevidade, que as vezes convém que será.

Para a V.Mag.de mande prover nas cousas seguintes, como V.Mag.de vir que mais

convém ao seu serviço.

1 estado. Pede ele supl. Regimento, particular para assim melhor executar nas

obrigações do seu cargo.

2 estado. Se se deve mudar a fortificação que é de pau a pique do sitio onde está,

pois se entende que convém que assim seria.

3 estado. Se é V.Mag.de servido, que vá ele suplicante pessoalmente fazer os

descobrimentos que forem de mais importância, maiormente o cabo do norte para assim

desfazer as feitorias que nele tem os estrangeiros; e expeli-los dele.

4 estado. Lembra a V.Mag.de que no Pará não há artilharia que preste; E que não

há condestável, que o que havia he morto.

5 ,,. Que a conservação E aumento da dita conquista consiste na paz com os

naturais dela, principalmente com os capitães e gov.dores das povoações E que esta se adquire

por meio de dádivas, pelo que convém mandar V.Mag.de sendo servido, causa particular que

o capitão da conquista lhes possa dar parte de V.Mag.de para assim os obrigar.

6 ,, . Se forçoso avirem duas embarcações pequenas de vela para os

descobrimentos, E serviço da conquista, as quais se poderão lá fazer, para o que se há de levar

daqui todo o apresto tirado das madeiras. Isto he o que convém V.Mag.de pode mandar o que

for servido.

7 ,,. Botica e Cirurgião.

8 ,,. Bandeira e Tambores.

Manoel de Sousa deÇa

Do serviço de S.M.de

Consulta q pertence ao estado e somente pertence a esta E a artilharia q haver de

ferro e {...} botica se lha deve dar. Lisboa 24 de janeiro de 623. E tambores.

(assinaturas).

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AHU-ACL-CU-013, Cx. 1, D.28

CD-ROM, pasta 001, sub-pasta 001, imagens 0183-85.

Tornese a ver esta consulta no Cons de faz. E com a informação que vai com ela e

fornece Ao consultara q parecer Em Lisboa a 6 de agosto de 624 (assinaturas).

Snr.

Visse neste Conselho o memorial junto de Custodio Valente que trata do aviso que

há de irem quatro naus olandesas ao para, e que deve V.M.de ser servido mandar socorrer esta

praça para que ele se oferece, pelo que pareceu o Conde de Faro Rui da Silva Luis Pereira e

Roque da Silveira, que se he certo o aviso de terem partido quatro naus não he conveniente ir

hua caravela nem socorro bastante E q V.M.de deve ser servido mandar nestas caravelas q vão

a pernãobuquo se envie cento e cinqüenta arcabuzes com sua munição e quinze quintais de

pólvora deregido ao governador do Maranhão que esta em pernãobuquo para que dali o envie

o mais que puder ser d’q levou com a pessoa q’ lhe parecer.

E a Luis da Silva pareceu q V.M.de deve mandar averiguar a certeza deste aviso

porq sendo certo que deve ir hum navio em diretura com sento e quarenta soldados pólvora e

munições porquanto V.M.de tem mandado [no ano] próximo passado que é socorro o

Maranhão porq se o socorro se mandar a pernãobuquo certo he que ali a de ficar visto a

necessidade daquela praça V.M.de mandara o q for servido em Lisboa a 3 de agosto de 624.

(Conde de Faro) (Luis da Silva) (Luis Pereira) (Roque da Silveira).

Snor.

Para averiguar o q se convém no memorial incluso de Custodio Valente como os

governadores deste reino me mandarão perguntei com juramento asei o dito Custodio Valente,

como o capitão dom Pedro de la Cueva a quem ele se refere; e de seus dittos q ficão em meu

poder se mostra a declarar Custodio Valente q o próprio dom Pedro lhe havia dito q de parte

certa tinha entendido q em olanda se aparelhavão quatro naus grandes para virem a Conquista

do grão Pará, encomendando-lhe q fosse avisar da matéria aos governadores deste Reino, e q

elle pelo seu memorial o fez assi sem outro algum fundamento mais q o aviso q o dito capitão

lhe avia dado; E q averá quinze dias pouco mais ou menos q chegou aqui hu mancebo por

nome Fnão de Andrade, o qual partio do Pará E por via das índias veio a Inglaterra em hua

nau inglesa E q encontrando-se a dita nau na altura da ilha terceira com outra di olanda; tanto

q o olandes soube q o dito mancebo ali vinha para este reino com aviso do grão Pará lhe dava

mil [talentos] porq lho largasse para o levar a olanda segurando-lhe a vida; E q estando em

Inglaterra, achou por novas q des naus de olanda partião para aquelas partes, pela nova q

tiverão da destruição dos seus no Pará, E procurando eu achar este próprio mancebo para lhe

fazer as perguntas necessárias acerca da dita relação e nova q tinha dado, achei na casa onde

esteve q era ido a ver seu pai em Alentejo.

E o capitão dom Pedro de la Cueva declarou q era verdade q elle avia dado a

Custodio Valente o dito aviso encomendando-lhe q o desse aos governadores deste Reino, E q

teve noticia desta matéria contida no memorial porq estando em casa do Marques de Cropani

vierão ali ter uns Framegos q de Hamburgo vierão há poucos dias carregar naos de sal; E q

perguntando a hu delles o q se disse q passava e ordenava em Olanda, lhe respondeu o

framengo q estavao os olandeses aprestando quatro naus grandes para virem ao Pará; E q por

elle Capitão entender a importância daquella conquista; e quão falta estava de munições e de

gente, e quão repartida estava; tinha por conta precisamente necessária mandar V.M.de

acudir-lhe; e não resulta outra cousa da dita diligencia. Deus g.de a casta pessoa de V.M.de,

Lisboa 5 de agosto de 624.

(assinatura)

T

Custodio Valente, que o Capitão Dom Pedro de la Cueva castelhano lhe disse que

a ele lhe disserao por coisa muito certa; serem partidos de holanda quatro naus grandes para

tomar-se a Conquista do Pará o que farao com felicidade por terem juízo do que lá lhes

sucedeu aos seus E sabem a pouca gente que lá temos, dividida e duas partes e que não

chegam a 150 soldados. Estes desarmados sem pólvora nenhuma como bem o tem mostrado

os muitos recados que de lá tem vindo pedindo estas coisas. S.M.de deve mandar com muita

pressa um navio com 150 homens de socorro E onde que a gente esteja num corpo e com

pólvora e munições por não haver um quartel e o governador estar entretido em Pernãobuquo

de onde gastará a que leva explica. Levar isto me ofereço eu por ter dez anos daquele estado e

quinze de serviço E ter me achado nas ocasiões de guerra que houve com os franceses do

Maranhão e holandeses do Pará.

Veja se no conselho da faz.da esta consulta o que parecer e a brevidade que pede

este negocio, Lisboa a 3 de agosto de 1624.

(rubrica).

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AHU-ACL-CU-013, Cx. 2, D.63

CD-ROM.

Senhor

Em Carta de sua majestade que Deus grande recebi por mão de Francisco Roiz

Mestre do Pataxe Alteriate de dezembro passado e em 15 de setembro passado me foi dada

neste Pará praça para donde V.Majestade foi servido mandar-me restituir aposse dela por

carta sua acrescente Deus a vida e estado a V.Majestade para manter justiça e amparar aos que

temos servido e servimos neste estado.

Depois de tomado posse a esta praça com dezesseis peças de artilharia sete delas

cavalgadas com mui limitados reparos a fortaleza quase no dão por muitas partes pouco

serviço de balas por serem de calibre de três, quatro e seis libras artilharia que ficou de alguns

navios que naufragaram nesta barra toda de ferro vinte quintais de pólvora a mais dela danada

por ser muito na ilha e estar mal reparadas das grandes umidades deste pais pouco murrão

suposto que esta falta é paradeira por que nos na lemos do que a terra dá, sento e vinte armas

miúdas mosquetes e arcabuzes e esses mal aparelhados pela falta que hai de oficiais para fazer

seis quintais de balas miúdas sem mais outra ninhuma coisa ofensiva nem defensiva para

defesa desta praça. E como com o aviso de V.Majestade me faz sabedor de como os

holandeses do Brasil tem quebrado as tréguas com pouca fidelidade que costumam guardar fiz

resenha da gente que nesta praça havia assim dos que assistem neste presídio como dos mais

desta capitania e achei a saber sessenta soldados pagos em duas companhias nem um

artilheiro e três como praça de artilheiros sem saberem de artilharia coisa alguma nem há

nesta terra quem os ensine nem quem tenha luz de tal mister, há um escuzado capitão de

artilharia, há um escuzado sargento maior porque com um ajudante que há basta para esta

praça ser servida; os moradores da terra há sento e dez homens de dezesseis até 60 anos de

idade que vivem em suas fazendas distantes desta cidade e praça de 12 a 40 léguas, há

trezentos índios domésticos de vinte ate 60 anos que vive também muito distantes em suas

aldeias, não achei nenhuma canoa das muitas que o governador P. J. de Albuquerque que

deste mandou fazer dizem que os ministros passados as venderam ou gastaram em seu serviço

e os moradores mal armados pelo que[...] , atento ao que digo e o aviso que V.Majestade me

faz que esteja prevenido como quem cada hora pode ser cometido do inimigo o vou fazendo

com possibilidade que acho na forma seguinte.

Em o tenho mandado serrar madeiras para reparar esta pouca emaratilharia que

achei, tenho convocado a muitos moradores e índios para tratar de fortificar e reparar esta

pobre e desmantelada fortaleza trabalhando quanto posso para a remendar até V.Majestade

ordenar o que convém a seu Real serviço para a real defesa dela pois nesta capitania não achei

dinheiro nem efeitos para sequer fazer estes remendos que com industria e agência minha vou

fazendo trabalhando com minha pessoa o que posso para ter efeito o que V.Majestade me

ordena.

Estando trabalhando nesta fabrica me vieram novas que naufragara um navio na

ilha que chamam de joanes e a gente que vinha foi dar nas mãos do gentio Aroam Eemgaibas

anajazes E outras diferentes nações que habitam nela.

E todos os naufragantes foram presos e mortos pelos ditos índios por serem

capitães inimigos do nome português. E andam feitos corsários admitindo toda agente de

Europa que destas partes nem como são holandeses, ingleses e franceses tendo com eles

grandes comércios e mercansias assinando-lhes lugares para neles terem fortalezas e por eles

induzidos nem as nossas aldeias vizinhas das [ditas] matam e capturam os índios de V.

Majestade sem até agora terem castigo algum aos semelhantes insultos e latrocínios.

E como tive esta nova ordenei seis canoas com vinte portugueses e sento e vinte

índios para ver se podia descobrir nova certa desta ruína e na volta tratar de alguma

confederação e amizade com estes índios rebelados tratando reduzi-los a vassalagem de

V.majestade de paz. E indo o cabo das canoas para da costa fancla tratar destas conveniências

foi Deus servido que colhesse as mãos o autor destas maldades grão pirata que chamam

vhandregos de nação holandesa e mais quatro companheiros ingleses e franceses que a vinte e

um anos que habitam aquele país o qual colheu em uma canoa avisando aos ditos índios para

que se prevenissem de armas para o ajudarem a render a praça do Gurupá e esta com o

socorro que esperava de Holanda de trezentos infantes, artilharia e balas dando aos mais deles

espingardas, alfanges para assim os ter contentes para efetuar o que determinado tinha por e

como Deus foi servido que o dito cabo das canoas o colocasse as mãos e o mandou prezo a

esta cidade em 2 de novembro passado, juntamente me pedia socorro de mais portugueses e

gentios para ir cometer a fortificação que iam fazendo nos lagos de maricary no rio chamado

das amazonas por arriba setenta léguas parte dificultosa e não sabida mais que dos índios se

vão federados atento ao que dali a cinco dias partia socorrendo com outras seis canoas e em

pessoa com 12 portugueses e outros 120 índios levando por pratico a um inglês dos [...]didos

e um francês com mantimentos bastantes para três meses os mais deles a custa de minha

fazenda.

Cheguei a parte donde achei a nossa gente e junto com ela fui buscar a paragem

donde está o dito inimigo donde tomei os e achei em três grãos e meio da banda do norte por

parte donde catheoie chegarão portugueses e investi no inimigo. Rompendo o alvo da minha

sem ser detido e tanto que foram assaltados deram sinal aos índios que tinham de sua

defenção que acudiram logo. Quatrocentos flecheiros e espingardeiros a que mandei ter o

encontro com vinte portugueses com o dito Cabo que fizeram muito valor e dos que levava

em sua companhia se abalizaram alguns como foram o capitão Francisco Paes Parente e seu

Alferes Antonio da Costa [Coutios] e eu fiquei a bateria com os franceses e os outros

companheiros que vendo-se com as esperanças perdidas do socorro dos índios se entregaram a

partido que lhe foi com alguma conveniências suas e rendi em menos de três horas sem custar

sangue de parte a parte. Dos índios inimigos morrerão muitos ab obstinadamente como

bárbaros sem requererem render a nenhum partido apelidando flamengos e frança que por

amor deles morrerão mil partes, feito isto tomei pose da casa forte donde estavam

comandando e quatro canoas muito grandes cinqüenta escravos e escravas vinte armas de

fogo muita flecharia e arcos um falconete de bronze um barril de pólvora outro de balas

algum pouco murrão porque não usava dele por serem as armas deles de pederneira muitos

mantimentos da terra que não puderam conduzir por falta de embarcações e com treze

estrangeiros destas nações ditas me recluia a esta cidade tendo andado trezentas e oitenta

legoas em quarenta e nove dias de ida e volta sem receber dario algum a gente que levava

dando graças a Deus que tão feliçe [muito me cedeu] por razão de serem muitos os índios e

estarem bem armados e nesta ocasião me não acompanhou nenhum mais que um francês por

nome P. adão que levei por língua forçadamente. Agora foi tratando da fortificação desta

cidade e estando fora com alguns índios que nesta capitania há me mandou o governador geral

do estado Francisco Coelho de Carvalho por uma ordem sua tirar cinco aldeias que nelas não

entende-se em causa alguma dando duas de administração aos reverendos frades de Santo

Antonio dos Capuchos, outra ao vigário desta cidade, outra aos frades das mercês e a outra

que manda ao Maranhão com que ficou desmantelado para conseguir o efeito de me fortificar

nem tratar mais que de esperar para V.Majestade me faça mandar-me sucessor para o ir servir

nessas fronteiras com uma pica (lança) porque não se compadece que haja minha cabeça de

estar obrigada a homenagem que tenho jurado a V.Majestade e frades e clérigos hão de

governar esta praça tendo a superintendência das melhores aldeias sem eu poder mandar coisa

alguma no temporal nem escritual e pelo conseguinte no Camuta as melhores duas aldeias

dele deu o governador a outro clérigo que chamam Mateus de Sousa Vigário deste estado que

pedindo-lhe eu por serviço de V.Majestade para a jornada dita vinte índios mas não quis dar

antes me pos em contingências descompondo-se e alterando-se de sorte que me espantei de

ver a descomposição de um sacerdote que todos os dias celebra a Deus, sofro tudo com

paciência porque entendo V.Majestade mandara acudir a estas coisas como mais convir a seu

Real serviço e assim fazer mercê desapraçar-me desta praça onde não posso esperar se não

uma cabal ruína de que deus a livre e guarde.

Por meus modos e inteligências tenho baixado a V.Majestade setecentas almas do

meu gentio que tem toda esta América da nação Tupinambá e vindo casais da nação pinare e

promete os ditos Tupinambás descerem mais cinco tantos mais, porem pedem-me socorro

para certos passos que com facilidade lhe impedem seus inimigos de outras nações a que

chamam Carajás eu os tenho prometido e os vou entretendo até dar conta a V.Majestade como

agora faço porque sem ordem expressa de V.Majestade não posso fazer nem o governador

deste estado mas pode dar o que sei dizer a V.Majestade é que com meu muito aumento desta

conquista teremos tanto gentio em nossa companhia porque é gente leal e valente e valem

mais quatro desta nação que muitos de outra qualquer, Entre eles vem alguns conhecidos

meus de Pernambuco por cujo respeito os tenho[...]lados ao serviço de V.Majestade de que

tem feito juramento; convém muito dever a esta gente e dar-lhe todo o favor e amparo neste

exemplo se acalmará esta terra de muito e bom gentio e se farão grozas aldeias mandando-me

V.Majestade ordem para os amparar os farei e castigarei os rebeldes e aliados dos holandeses

e gente do norte por que é o que convém para quietação destes povos de V.Majestade.

Nesta capitania há cinqüenta estrangeiros de Europa de diversas nações são

holandeses ingleses franceses e irlandeses alguns deles casados e m. antigos nela que são

poucos outros que foram rendidos no Maranhão outros que agora rendi nesta jornada. E de

muito prejudicial e nociva a esta conquista porque os mais destes remédios achei que estavam

confederados e aliados com este corsário Vhandregos e seu filho esperando por socorro de

Holanda e armas para tomarem esta praça do Gurupá e depois darem nesta quando mais

desavisados estivéssemos e com facilidade nos podiam render esta praça com a multidão de

índios que tem em seu favor porem foi Deus servido que com esta prisão que foi do

Vhandregos e destes rendidos seus companheiros se descobriu esta liga V.Majestade e tendo

entendido por mandar ordenar o que se desterrem para o Tapicuru que não convém que vão

para Holanda nem Europa por serem muito práticos e grandes línguas destes gentios pelo

menos os Holandeses que os mais deles tenho preços e dimitidos e de outros por parecer

convém melhor servir assim ao serviço de V.Majestade no Tapicuru senhor e estão seguros

em os holandeses porque por nenhuma via podem ali comerciar com índio algum nem com

nenhuma pessoa da Europa Estes índios seus confederados como são nhengaibaz e aruans e

outras nações a pouco risco e menos custo ordenando-me V.Majestade se lhe poderá dar

castigo exemplar para quietação das mais nações desta conquista porque andam tão desolutos

que nos fizemos guerra ajudados do comercio que tem com os estrangeiros dando-lhe para

isso ajuda e favor e as mais em que então ia tão destros como os mais destros, com isto tenho

dado conta a V.Majestade do que nestes três meses que há que estou assistido nesta praça,

guarde Deus a V.Majestade largos e felizes anos e amparo de seus livres vassalos. Pará cidade

de Belém. 20 de janeiro de 1647 anos.

__________________________________________________________________

2 de janeiro

Maranhão

De Sebastião de Lucena de Azevedo Capitão do Pará

Da conta do estado que achou aquela capitania falta de todo o necessário para a

sua defesa assim de artilharia, reparos, balas, munições, mosquetes, arcabuzes, murrão, e

pólvora, poucos soldados e nenhum artilheiro, e p. há ali um capitão de artilharia e nenhum

sargento mor que se podem ajuntar porque com um ajudante fica esta praça bastantemente

servida; que mandou acudir um navio português que fez naufrágio na ilha dos joanes cujos

portugueses matarão os holandeses e outras nações que habitam nela sem até agora poder dar

castigo destes insultos, que mandou tendo noticia deste sucesso seis canoas com vinte

portugueses e 120 índios que tomaram o grão pirata Vhandregos holandês e quatro flamengos

que havia 21 anos que ali habitavam, e que mandando-lhe estes portugueses pedir socorro fora

em pessoa com seis canoas ajuda-los a render tomando-se-lhe quatro canoas muito grandes

cinqüenta escravos 20 armas de fogo, um falconete de bronze e outras coisas, que o

governador mandou por sua ordem tirar cinco aldeias e que nelas não entende-se coisa alguma

dando duas delas de administração aos frades de Santo Antonio outra aos frades das mercês

outra ao vigário da cidade de Belém, contra que mandou passar ao Maranhão como fica

impossibilitado de se poder fortificar e pede licença para se ir para o Reino e diz que com sua

industria tem feito baixar 700 almas do gentio e casais que lhe pedem socorro contra inimigos

que lhe impedem o passo, e que naquele estado há 50 estrangeiros de diversas nações e aponta

a segurança que deles se pode ter.

Vassalo de V. Majestade Sebastião de Lucena de Azevedo.

LORIMER, Joyce. ENGLISH AND IRISH SETTLEMENT ON THE

RIVER AMAZON 1550 – 1640. Londres: Hiault, 1989.

TEXTO I

2. (RALEGH. Walter. The Discoverie, edição de 1928, pp.25-27). A

DESCOBERTA DO GRANDE E BELO IMPÉRIO DA GUIANA, POR SIR. WALTER

RALEGH 1596.

Como todos esses rios se cruzam e se encontram, como a região se situa e é

limitada, a passagem de Cemenes, e de Berreo minha própria descoberta e a maneira que

entrei, com todo o resto da nação e rios, Vossa excelência deve receber numa grande carta ou

mapa, a qual ainda não terminei e a qual eu devo mais humildemente implorar a Vossa

Excelência para secretar, e não permitir passar de suas próprias mãos: pois tudo isso pode ser

evitado por outras nações. Pelo que sei procurado pelos franceses. Não o receio tanto. Já tinha

o conhecimento quando deixei a Inglaterra, que Villiers, o almirante, estava se preparando

para se estabelecer no Amazones, rio que serviu de rota para os franceses em várias viagens e

retornaram com muito ouro e outras raridades. Eu falei com um capitão de um navio francês

que veio daquele lugar, seu navio estava ancorado em Falmouth, no mesmo ano que meus

navios chegaram primeiramente de Virginia.

Houve outro navio nesse ano em Helford, que também veio daquele lugar e que

esteve ancorado 14 meses no Amazones, ambos muito ricos. Guiana não pode ser invadida

dessa maneira, não há duvida que o comércio de ouro daquele lugar passe por ramais de rios

até o rio Amazonas... Thevet escreve que as pessoas trajam Croissants de ouro, desta forma

os Guianians mais comumente os fazem: Como de Dominica para o Amazonas os quais são

aproximadamente 250 léguas distantes um do outro, todos os chefes dos índios em todas as

partes usam aquelas lâminas de ouro da Guiana. Não há dúvida que aqueles que comerciam

no Amazones retornam com mais ouro o qual (como supracitado) é trazido pelo comércio da

Guiana, por algum braço do rio que desemboca da região para dentro do Amazones, pelo rio

que passa pelas nações chamadas Tisnados, ou pelos Carepuna. Eu fiz perguntas entre a mais

antiga e a melhor viagem de Orenoqueponi, e eu tive conhecimento de todos os rios entre

Orenoque e Amazones, e era muito desejoso entender a verdade daquelas mulheres guerreiras,

pois para alguns é aceito para outros não: E ainda que eu me desviasse do meu propósito eu

irei registrar a verdade narrada sobre aquelas mulheres, e eu falei com um Casique ou Senhor

daquele povo que me disse ter estado no rio, e além dele. As nações dessas mulheres estão no

lado sul do rio nas províncias de Topago, e seus chefes estão nas ilhas situadas no lado sul da

entrada, algumas 60 léguas dentro da boca do mencionado rio. As lembranças daquelas

mulheres são muito antigas tanto na África como na Ásia: Na África aquelas que tinham

Medusa como Queen: outros em Scithia perto dos rios de Tanais e Thermadon: Nós

descobrimos que Lampedo e Marthesia eram Queens do Amazones (rainhas amazonas): em

muitas histórias foram tidas como rainhas, e em muitas épocas e províncias: Mas eles os quais

não estavam tão longe da Guiana realmente seguiram com homens pelo menos uma vez por

ano, e pelo período de um mês, o qual eu concluo pelas suas relações ser em abril. Naquele

tempo todos os reis das fronteiras se reuniam às Queens do Amazones, e depois que elas

escolhiam, o resto tirava a sorte por seus Valentines. Neste único mês eles festejaram,

dançaram e beberam vinho em abundância, e então eles todos partiram para suas respectivas

províncias. Se elas imaginassem que viria um filho, elas o devolveriam para o pai, se fosse

uma filha elas a manteriam, e assim muitas mulheres foram enviadas como procriadoras todas

sendo desejadas para incrementar o sexo e a espécie. Dizem que elas cortavam a mama

direita, o que eu não acho ser verdade. Ainda me foi dito que se em guerra se elas tomassem

algum prisioneiro para usar como companhia, certamente no final elas o matariam: como já

mencionado eram muito cruéis e sedentos de sangue, especialmente daqueles que ousassem

invadir seus territórios. Estes Amazones tem igualmente numerosas riquezas dessas placas de

ouro, as quais eles aproveitam trocando principalmente por um tipo de pedra, as quais os

espanhóis chamam de Piedras Hijadas, e nós usamos FOR SPLEENE STONES, e pelo

desejo das pedras nós os estimamos: Dessas vi várias em Guiana, e cada rei ou Casique tinha

uma, e suas esposas estimavam ser jóias importantes.

3. EXPLORAÇÃO DE JOHN LEY DO BAIXO AMAZONAS, 1598.

[f.i6] Fui promovido capitão pelo conde de Comberland do navio chamado o

Alcydo (Alcedo), toda frota partiu em março do ano de 1597 e depois disso nós esperamos

pelo Coract com destino à Índia Oriental, na direção da costa da Espanha, um certo espaço,

seria bom ir para o sul das Canárias. E esperamos pela partida que seria no dia quatro de maio

para Índia Ocidental. Transportei-me para minha fragata para minha intencionada viagem. No

dia nove chegamos às ilhas de Cabo Verde, às três horas nós estávamos no ponto mais oriente

do Cabo St. Iago, nos direcionando a sudoeste: no dia trinta a água mudara de cor, já tínhamos

vinte braças de profundidade. No dia primeiro de junho nós avistamos o Cabo mais a leste e

estando na parte ocidental nós encontramos o melhor do canal, duas pequenas ilhas. Nessa

noite dia dois de junho ancoramos e abaixo da parte mais oriental delas havia uma canoa com

índias pescando. Elas tiveram receio em vir para o lado do nosso navio: nessa ilha não morava

ninguém. Mas para o grande suprimento de peixe nós nomeamos a ilha de ilha dos peixes; Os

índios geralmente em grande número se reuniam lá para pescar; fora dessa ilha o mar nos

apresentou uma ilha muito pequena com um tufo de árvores nela; estávamos no terceiro dia

do mês de junho e ancoramos numa costa onde construímos nosso Shallop (barco usado para

navegação em águas rasas), período em que os índios vieram em grande quantidade, 300 de

uma vez. Com o nosso Shallop terminado, partimos daquele lugar, para duas outras ilhas. Os

índios foram até nós atrás de contas e bagatelas, nos traziam alguns suprimentos e algumas

pedras (Spleene stones).

[f.i6v ] Desse lugar tendo um bom canal subimos o rio Amazonas; os índios

construíram casas de aproximadamente duas braças do chão; fazem pão com um tipo de fruta;

eu fui lá com meu Shallop, mas os índios não nos esperaram, por isso meus homens estavam

desencorajados, especialmente por que nossos suprimentos já estavam escassos; uma estranha

selva de ilhas abria em toda parte; por esta razão rapidamente voltamos para nosso navio e

partimos, o vento não parava na maioria do tempo, já estávamos no final de junho; fomos

para as duas ilhas e ficamos até o terceiro dia do mês de julho, e durante esse período, eu fui a

muitos lugares onde os índios moravam para nos abastecer de mantimentos frescos (em

algumas dessas moradias havia quinhentas pessoas morando); enquanto eu estava afastado de

meus homens em meu pequeno barco, fui até uma grande casa perto daquelas, os habitantes

vinham em marcha, três em três, e um líder a frente deles com um grande mastro em sua mão,

os demais com seus arcos e flechas prontos para atirarem, procuramos evitar toda suspeita de

desgraça, pois quando os índios vêm munidos de suas armas não podemos confiar neles, no

terceiro dia resolvemos cruzar o rio e encontramos uma ilha e decidimos ancorar por uma

noite, tivemos mais tempestades de vento e trovões. Uma noite vi uma nuvem negra trazendo

uma terrível tempestade e de repente meu índio disse “índio travesso traz tempo travesso”, e

fez sinais de como se cortava a garganta de um homem e pronunciou certas palavras como he

he, chy, chy. Desse lugar voltamos para a Ilha dos Peixes e no dia seguinte partimos para

cruzar o rio, que nós devemos retomar a direção poente, tivemos uma violenta tempestade

caiu muita água, dentro de um quarto de milha, o qual os índios muito temiam, para o

transtorno das canoas, agora estávamos a vinte léguas da terra do meu índio. O rio chamado

de Caw. Ficamos por mais cinco dias, e estando prontos para partimos no reparado navio.

Então visitamos todos os rios que tínhamos visitado um ano antes, e então tomamos o curso

para St. Vincent, daquele lugar para uma ilha; tivemos uma primavera muito quente. E

daquele lugar nos dirigimos para Inglaterra, chegamos no Dia de Todos os Santos.

[f. 17v] Forma e maneiras diferentes de homens

Taparawacur: são o povo perto da parte mais oriental do rio Amazonas, eles têm

grande quantidade de pedras verdes, as quais chamamos de spleene stones (jades ou pedra

nefrítica). Seus lábios inferiores pendem para baixo, tão baixo como seus queixos, eles bebem

sangue e criam seus filhos dessa maneira desde o nascimento.

[f.18] As mulheres chamadas amazonas vivem ao estilo, e maneira das mulheres

na Ásia; em tempos antigos, apesar de que de fato subentendido; elas colocam suas flechas

entre o dedo indicador e o polegar, deixando a flecha longe do corpo dessa forma não há

impedimento para o tiro; elas aceitam a companhia de vizinhos em duas luas por ano, com a

finalidade de procriação, há um banquete e muito prazer nesse período, mas assim que a lua

está prestes a mudar os homens devem partir; é dito que elas têm muito ouro trazido por seus

vizinhos, mas nenhum desenvolvido em sua região: eles são povos severos e cruéis; e ainda

um homem de pouca estatura, com cabelos longos caídos pra traz de suas cabeças. Os índios

falam muito da saúde daquelas mulheres e da estranha maneira de abastecimento que eles têm

para com os suprimentos.

Eles habitam em duas ilhas acima do rio: deixarei para falar neles mais adiante, até

eu ter mais experiências com a verdade...

[f.19v] Alguns observadores coletaram na primeira e segunda viagem a respeito

com a habitação de muitas raças...

[f.20] Os Arowa (Aruá) habitam em ambos os lados do rio Amazonas, em uma ilha

maior e em duas menores; eles são todos vermelhos têm moradias muito grandes; eles fazem

uma bebida tirando um caldo de uma certa madeira, e também fazem um pão da mesma.

[f.20v] Uma descrição de muitos rios e povos que habitam acima deles...

[f.21v] Próximo deles estão os Arowa, eles habitam em ambos os lados do rio

Amazonas nas ilhas de Crowacurri, Warracayew, e Attowa, eles também moram em um rio

chamado Wayapowpa, o qual cai dentro do Amazonas; eles pintam seus corpos e rostos de

vermelho; eles fazem pão de uma grande árvore chamada Anarola e bebem o suco da mesma,

o qual eles moem, e fervem, e comem pouca mandioca, eles realmente não comem homens, e

têm baixa estatura.

6. EXPEDIÇÃO DO CAPITAO THORNTON AO AMAZONAS EM NOME

DO MAJESTOSO DUQUE DE TUSCANY, 1608.

Relato de Willian Davies (extraído da obra: “A true relation of the travailes

and most miserable captive of William Davies, barber-surgion of London, under the duke

of Florence”, 1614).

[Ch.I] Eu parti da Inglaterra em 28 de janeiro de 1597, em um bom navio chamado

Francis de Saltash (sic) Cornwell (Cornwall), Senhor Tyball Geare, proprietário, e William

Lewellyn, carregados com peixes e tais semelhantes mercadorias, com destino a Strayts e para

chegar a Civita de Vecchia para desejo e vontade de Deus: aonde nós chegamos ao primeiro

dia do mês de março.

[Ch.III] Deixamos Tunys no mesmo navio em que deixei a Inglaterra, o Francis de

Saltash, (...), Não tínhamos viajado quatro léguas fora do porto e fomos furiosamente

localizados por duque de Florença (estando em guerra incessante com a Turquia, nos levou

como recompensa turca) o qual cuspia fogo como nunca para nosso grande desconforto,

confiando na misericórdia de Deus, continuamos lutando contra eles para perda de muitos

homens em ambos os lados, mas todas em vão para nós, derrubaram nosso mastro, deste

modo com todos os homens nus fomos espalhados uns para o Gallie, e outros para outro, onde

apanhamos tanto que mal podíamos suportar.

Nosso navio foi enviado a Ligorne, (Livorno) para os reparos melhores que eles

pudessem fazer, no Gallies nós ainda continuamos mais um mês, para perda de muita de

nossas vidas: mas finalmente vindo de lá, como muito de nós ainda estávamos vivos. Agora

estávamos todos barbeados e foi dado a cada homem um casaco quepe vermelho, nos dizendo

que o duque nos tinha feito de escravos, para nossa grande aflição. Onde continuei por oito

anos e dez meses na escravidão.

[Ch. IV]... Mas finalmente pela graça e misericórdia de Deus fui libertado (de

acordo com minhas esperanças) dessa maneira. O poderoso Duque equipou um navio, um

Tartane e um Frigot, sendo muito bem nomeado e abastecido para as índias Ocidentais e

principalmente para o rio Amazonas, nomeado Robert Thornton capitão, um inglês para ser

comandante do navio, o Tartane e o Frigot: assim todo comandante e oficial foi apontado

pelo próprio Duque; de tal maneira se falarmos de um cirurgião e outros.

Capitão Thornton disse, Sua Alteza deve ser muito nobre em libertar um pobre

inglês que ficou muito tempo em seu Gallies: ele tem muita experiência em física e em

cirurgia, pela razão de sua grande experiência tanto no mar como em terra, com muita

resistência ao mar e capaz de cumprir a posição melhor que os outros antes mencionados: para

o Gallies ele faz o trabalho de um escravo: em conseqüência que o Duque demandou meu

nome. Capitão Thornton respondeu, e disse William Davies: onde o Duque respondeu, eu

frequentemente tenho falado por este companheiro, o qual a liberdade o foi dada sob seu

relatório, Thornton, mas ainda duvido de seu jeito (que tem sido satisfatório em meu país),

que logo que se ver livre das correntes, me enganará e não irá à viagem as Índias. Mas se ele

pagar quinhentas coroas como seguro para a viagem, ele deverá ser liberto logo, também se

ele precisar de alguma coisa para a viagem, para o bem da companhia ou algo de uso pessoal,

e que isso o faça entender: e que as novas me cheguem em dois dias para meu contentamento.

E dentro de um curto período depois do capitão Thornton veio de Florença para Ligorne, onde

eu estava: o qual o seguro eu o obtive através de um inglês chamado Senhor William Mellyn

que passou as quinhentas coroas ao Duque, como seguro de minha viagem. Em conseqüência

eu estava livre das correntes, para minha alegria, agradecendo a Deus pelas bênçãos. Logo

estava eu bem trajado pelo Capitão Thornton, esperando sem recursos. Nesse momento tudo

estava sendo preparado para nossa viagem, aproveitando para servir num bom navio chamado

Santa Lucia, bem tripulado, em direção ao rio Amazonas, com muitos outros rios, os quais o

Duque os conhecera, esperando pelas riquezas do ouro, mas o país não dispunha de tal coisa.

Nessa viagem nós estávamos quatorze meses fazendo pouco ganho em beneficio do Duque.

Não havia nada para ser ganho.

[Ch.VI] Narração e descoberta do rio Amazonas, ( distante 1600 léguas da

Inglaterra.)

O rio Amazonas se situa na mais alta parte das índias ocidentais além da linha

equinocial, para desembocar com esse rio quarenta léguas da terra, você deve ver o mar

mudando para uma cor rude, a água começa a ficar fresca, por esses sinais você deve seguir

seu curso corajosamente e ir perto da boca do rio, a profundidade da água deve aumentar,

logo você deve descobrir as árvores antes da terra, pela razão da terra ser muito baixa, e em

alguns lugares mais alta que em outros, e quase todo alagado quando maré grande. Deus sabe

quantas léguas. Flui tanta água lá com uma violenta maré. Continuei nesse rio por dez

semanas, vendo o jeito das pessoas e o território. Essa região é completamente cheia de

florestas e com todo tipo de animal selvagem, como leões, ursos, lobos, leopardos, algo com o

comportamento semelhante a um babuíno, macacos, sanguissorba, sagüis, com muitas outras

bestas, todas essas árvores com vários ninhos de pássaros de todos os tipos, aves mais

abundantes que os pombos na Inglaterra, com boa carne, que frequentemente as comi. Essa

terra também é cheia de rios. Nesse lugar há tempestades contínuas com relâmpagos, trovões,

raios. Há muita água parada nesse lugar as quais são cheias de crocodilos, serpentes e grande

quantidade de peixe fresco de diferentes formas. Esse lugar é cheio de mosquitos, que são

pequenos insetos voadores que incomodam bastante. A maneira a natureza das pessoas são:

todos são nus, tanto homens quanto as mulheres, tendo uma peça de madeira para cobrir

qualquer parte de sua nudez, os homens têm uma cana em formato cilíndrico, e duas

polegadas de comprimento, através do qual ele puxa o prepúcio, amarrando a pele com um

pedaço de casca de uma árvore. Em cada orelha ele usa uma cana, a qual é perfurada na

orelha, aproximadamente do tamanho de uma pena de cisne, e de comprimento metade de

uma polegada, e igual no meio do lábio inferior: também na parte superior do nariz ele

pendura em uma cana uma pequena conta ou algo parecido com um botão de vidro, o que se

pende diretamente na frente de sua boca que se mexe continuamente quando ele fala. Ele usa

seu cabelo longo, sendo arredondado abaixo para a parte inferior de suas orelhas, cortados

curtos, ou mais propriamente. Suas mulheres não usam nenhum costume apesar de se

apresentarem, mas completamente nuas como quando nascidas, com seus cabelos muito

longos, seus seios muito caídos, pela razão de nunca terem usados nada sob eles: eles usam

em seus corpos tanto os homens quanto as mulheres um tipo de terra vermelha (urucum), por

causa dos mosquitos não os incomodarem. Esse povo é muito engenhoso, astucioso,

traiçoeiro, o qual igual nunca tinha visto, para eles é comum caçar sua própria comida, como

animais, aves e peixes, onde usam seus arcos e flechas para isso. O arco tem

aproximadamente duas jardas de comprimento, a flecha tem sete pés. O arco é feito de pau-

brasil, sua corda de um tipo de casca de uma árvore, situando-se no término do arco, sem

nenhuma curva, sua flecha feita de bambu, e em uma das pontas eles colocam um osso de

peixe, eles matam os animais dessa maneira: parados atrás de uma árvore, ele pega sua

pontaria a uma das bestas, atira uma flecha lesiva, e segue o animal com muito cuidado, nunca

o perde de vista; como anteriormente ele fica às margens do rio, e quando ele avista um peixe

na água, ele logo o atira com uma das flechas, deixando cair seu arco ele entra na água,

nadando até sua flecha a qual ele a traz para a terra com o peixe fixado nela, tendo caçado sua

própria comida, tais como carnes, aves, peixes, eles comem juntos, em um número de

cinqüenta ou sessenta deles, eles fazem um fogo dessa maneira: eles pegam dois gravetos de

pau, esfregando um contra o outro, até o momento em que eles começam a queimar, então

fazem um grande fogo para preparar a caça, e assim eles comem sem sal ou pão, ou nenhum

tipo de bebida que não seja água e tabaco, tampouco eles saibam o que seja. Nessas terras não

encontramos ouro nem se quer prata, mas grande quantidade de Hennes (ele se refere aos

pássaros domesticados nas tribos tanto para uso com animal de estimação com para alimento).

Eu comprei um casal por uma harpa judia quando eles recusavam dez Shillings em dinheiro.

Essa terra é cheia de deliciosas frutas, como abacaxi, PLANTINS, goiabas e raiz de batatas,

frutas e raízes que eu deveria ter trocado por contas de vidro, ou miçangas. A maneira de seus

alojamentos é dessa forma: eles têm um tipo de rede feita de uma casca de árvore a qual eles

chamam de Haemac, tendo três jardas de comprimento e duas de largura unidas em ambas as

pontas no comprimento, então amarram cada ponta em uma árvore aproximadamente uma

jarda e meia do solo, e quando eles querem dormir eles se deitam nelas. O soberano de cada

ilha é conhecido dessa maneira: ele usa sob sua cabeça uma espécie de coroa de penas de

muitas cores que cai até metade de suas costas, ou sob seu pescoço, um cordão de dentes ou

unhas de leão, ou de outros estranhos animais, tendo um tipo de espada de madeira em sua

mão, e por meio disso é conhecido como soberano. Muitas vezes um soberano luta com outro

em suas canowes (canoas) que são botes cortados de uma árvore inteira, e as vezes o vencedor

come o prisioneiro. Até agora dez semanas já se passaram, e estando em direção a casa, mas

não pelo mesmo caminho que viemos, para nós velejarmos dentro do rio diante do vento, pois

ele sopra continuamente em um único caminho, o que faz com que os navios peguem um

caminho errado.

[Ch. XII] A descrição de Morria.

(Distante 1620 léguas da Inglaterra)

Morria é uma pequena e baixa ilha, situada no rio amazonas, a mais alta parte das

índias ocidentais. A ilha é toda habitada por mulheres, tendo nenhum homem entre elas, todas

nuas, usando arco e flecha, para caça de seu alimento, seus cabelos são longos, e seus seios

caídos, considerando que muitos aqui na Inglaterra imaginem que elas têm o seio direito

marcado, agora não importa o que acontecia em tempos passados que eu não sabia por isso

para meu próprio conhecimento eu vi quarenta, cinqüenta, sessenta delas juntas, cada uma

conduzindo seu respectivo arco e flechas em suas mãos, indo pelo lado do mar; e quando elas

viam um peixe, elas atiravam nele derrubavam seus arcos, pulavam na água atrás de suas

flechas e traziam os peixes presos nas flechas e assim em outras coisas, como preparavam sua

comida, como o alojamento, elas se assemelham as índias do rio Amazonas, como você ouviu

nessa narração. Mas algumas dessas mulheres costumam carregar seus filhos nas costas, dessa

maneira: elas pegam um pedaço de casca de uma árvore e com uma das pontas elas fixam a

criança e passam pelas axilas e ombros com a outra ponta, e assim os penduram em suas

costas. Há mais uma coisa para se admirar que eu também vi ostras crescendo sob as árvores,

comi muitas delas. E para você entender melhor como elas cresce você deve saber que as

árvores ficam ao lado do mar e quando a maré enche traz muitas delas consigo, e quando a

maré seca elas são encontradas em grandes cardumes nas raízes das árvores.

C. Recordações de Robert Dudley sobre a viagem de Thornton, 1647.

(extraído de ‘Dell’America, e dichiarazione della Carta decimaquarta’, in Robert Dudley’s

Dell’Arcano del Mare [Florence, 1646-7], III, 47-8)

[p.47]. . . Capitão Robert foi ao rio Amazonas, um inglês, enviado aquelas partes

sob ordem, e custeada pelo mais sereno grandioso duque Ferdinand I, seu senhor.

O capitão foi e voltou muito prospero, e ainda que nunca estivesse estado nessas

partes antes, não nas Índias ocidentais, mesmo assim, por meios de mapas e instruções feias

pelas mãos do próprio autor, ele pela graça de Deus, completou a viagem sem nenhuma perda,

exceto por um homem que morreu por uma enfermidade; e ele inspecionou a costa da Guiana

mais precisamente que ele já tenha feito antes; e também descobriu o bom porto de Chiana

(Cayenne), porto seguro da família real, não sendo conhecido pelos cristãos; de onde ele

trouxe cinco ou seis índios para presentear sua alteza real em Florence; os quais eram

Caraíbas, que comem carne de gente estes morreram posteriormente em Florença, a maioria

deles de varíola, que para eles era mais violente que a peste em si, pois em suas terras eles não

tinha, o conhecimento de tal doença. Apenas um deles sobreviveu que posteriormente serviu

sua excelência o cardeal de Médici, na corte por muitos anos, e aprendeu a falar italiano muito

bem.

Esses índios de Cayenne sempre conversavam sobre a fertilidade e as riquezas do

reino da Guiana, e como ele esteve na famosa cidade de Manoa, a metrópole do reino onde o

soberano reside, o qual é chamado de imperador, pois ele tem muitos reinos sob seu domínio,

e essa cidade é rica em ouro e está situada perto de um grande lago, que fica a oito dias de

viagem do porto de Caiena; os índios fazem a viagem muitos rápidos à pé, cobrindo cinqüenta

milhas por dia. Os índios disseram, além disso, que perto de Caiena (o qual é uma terra

montanhosa), que há uma rica mina de prata a qual eles chamam de Perota, há também

alguma matéria prima de ouro, chamada por eles de Calcari, do qual eles fazem algumas

imagens e meias luas, para ornamentos. O acima mencionada capitão Thornton confirmou,

que as aranhas daquela terra fazem fio de seda, e que há muita madeira tintória (legno

verzino) a ser encontrada, a cana de açúcar, uma pimenta branca, legno pardo, pitta, bálsamo,

algodão, e muitos outros tipos de mercadorias para um abundante comercio implantado pelos

cristãos. Ele disse que o clima era muito saudável, e a entrada para o abrigo era fácil para

fortalecer e comandar o porto; e com outras particularidades sobre a região já ilustradas pelo

autor em 1637, para qual brevidade nos referimos ao leitor. Alem do mais, o mencionado

capitão relatou que quando ele inspecionou o rio Amazonas, ou Orilliano, na entrada ele

encontrou uma bore (pororoca), como é chamado em inglês, e Macarea em português, o qual

é uma terrível maré, que é perigosa em dias de lua cheia, observado aqui pelo dito mapa e

pelas palavras do autor “Tomem cuidado com a pororoca as seis horas e quinze minutos” e

com essas poucas palavras de alerta, o capitão salvou seu navio e os súditos de Sua Alteza

Real, pela graça de Deus. Como o capitão afirmou a Sua Alteza Real, que sem a advertência

gravada naquele mapa ele não saberia nada sobre tal perigo, pois há pouco desses bores no

mundo; e que ele estaria perdido se não tivesse sido avisado do perigo com antecedência, e

não teria arqueado o navio com os cabos para uma posição segura, e receberia a bore (onda)

na proa; e deste modo o navio não teria escapado do perigo.

Desse exemplo podemos ver a importância das advertências inscritas pelo autor,

que através da exposição de perigos que não são mostrados por outros autores, que com

apenas três palavras estariam prontos para salvar o navio e a tripulação de muitas situações.

Do rio Amazonas o capitão Thornton viajou ao longo da costa da Guiana e da ilha

de Trinidad ou Trinity, e teve grande satisfação pela precisão e perfeição do mapa. Ele iniciou

a viagem de Livorno no mês de setembro do ano de 1608, e retornou para o mesmo poro de

Livorno no fim de junho do ano seguinte.

TEXTO II

RELATÓRIO DE EDMUND HOWES SOBRE A VIAGEM DE SIR

THOMAS ROE, 1610-1611.

O prenome do notável jovem cavaleiro, e valente senhor no ano de 1609.(1610),

ele e seus amigos construíram um navio para descoberta da Guiana, ele partiu de Plimmouth

no dia vinte e quatro de fevereiro, e no final de abril já avistava o grande rio Amazonas, o

qual se localiza abaixo da linha do círculo equinocial, e que é em largura na sua entrada, 100 e

50 milhas de águas frescas e cheio de ilhas, as quais ele entrou com seu navio e seus botes, e

fez muitas viagens a alto-mar entre os índios que lá habitam e cheio de boas mercadorias, mas

não tão abundante quanto parecia, pela razão de que os nativos não os produziam mais que

para sua necessidade, daquele lugar ele veio pela costa em direção a vários rios, e foi até a

região com botes indígenas, e passou por morros, passou por trinta e duas quedas d`água no

rio Wiapoco, de onde ele desceu, tendo consigo muito trabalho e perigo, passando treze meses

nessa descoberta, isto é do rio Amazonas para o rio Onoroque, no fim de que não encontrando

as Índias Ocidentais cheias de ouro, como tinha intenção ; ele voltou por Trenydado, e ilhas

ocidentais, e chegou AT THE WIGHT, em julho de 1611: e deste modo, com muita honra de

sua presunção, dor e esforço. i thought fit to mention, though not inhis proper place, lest

vertue should be forgotten, and others reape the honour of his labours, since wich time he

hath sent thither to make farther discoveries, e manteve vinte homens no rio Amazonas para o

benefício dessas terras, que ainda estão supridos lá.

CARTA DE SIR THOMAS ROE PARA O CONDE DE SALISBURY,

PORTO DA ESPANHA, TRINIDAD, 28 FEV/10 MAR, 1611.

Honrado.

Se eu puder incomodar seu Lorde com um grande relato de minhas pobres

descobertas, eles seriam de grande importância para o senhor assim com tem sido pra mim.

O senhor não deve encontrar nada de novo ou estranho aqui, ainda que tenha vindo

das mais novas e estranhas terras, apenas gostaria de lhe dar meu respeito e meus serviços

para o senhor, e que para alguma interrupção eu deva me perdoar; quando chegar ao meu lar

gostaria de lhe dar esse relatório o qual tive trabalho árduo ao fazê-lo, não ser apenas

relatórios sobre esse estranho lugar, e deverei lhe atender de acordo com seu comando. Eu

devo humildemente dizer que eu vi mais desses rios e ilhas do grande rio Amazonas abaixo

oito graus da linha de Orenoque, que nenhum inglês vivo. Eu já passei pelo Wild Coast (nome

que os holandeses davam ao litoral do Amazonas e do Orinoco, no começo do s[ec. 17) e

cheguei ao Porto d´Espanha na ilha de Trinidad, onde estão quinze navios fretados de tabaco,

ingleses, franceses e holandeses, se o senhor me der permissão para relatar as poucas

novidades e minha opinião, eu posso me arriscar, os espanhóis aqui estão igualmente

arrogantes, insolentes, necessitados, e enfraquecidos, sua força é reputação, e seu segurança

conceito, eles nos usam os quais as mãos são ressaltadas de injurias e traição: pra mim eu irei

resistir e evitar tudo isso, e provavelmente estar com algum inglês, para qualquer comércio;

eu espero que sua nobre disposição não leve em desgosto que nós nos defendemos em honra

da nossa nação: eu não vou exceder sua honorável advertência que o senhor me deu, nor

stoope to so wretched na enemy (for so he is here) nor syncke under the injuryes i am able to

repulse. Eu tive algumas questões com eles em terra, mas já foram resolvidas com

tranqüilidade, de acordo com o tratado de nossos compatriotas.

E o desejo de que o estado não seja ofendido se eles os fizerem de recompensa, ou

tiverem boatos, ou fazer um, pois os senhor admitiu: se esse exemplo era certo, WE COULD

SECOND YT, BUT WE DARE NOT HANDLE FYRE, NOR CANNOT TAKE FAST

HOULD OF AYRE.

Todas as noticias aqui eram de interesse do rei em estabelecer Oneroque e isso é

um assunto de grande conseqüência, pois o rio corre dentro do HART da maneira e tem

grandes riquezas nele. A justiça do rei é esperada em Saint Thomas: Bereo em Orenoque, o

qual é recebido dentro da proteção do rei e recebeu sua graça. they comes dayly from the

mayne men cattell and horse wich are to be employed in this work, fortificando o lugar,

crescendo uma nova cidade, e em busca da conquista de Guiana, wich hath long slept, and is

now by new and more direct intelligence opened to him: mas vai desaparecer, e tudo se

tornará em fumaça, pelo seu ocioso governo, não apto para o trabalho, e que só tem prática

em plantar e vender tabaco, também em construir colônias: mas o rio e as cidades são

infinitamente ricos e enfraquecidos, e podem ser facilmente levados, e também facilmente

ocupado: há nessas partes um espanhol afastado, para bem tratar que alguns ingleses caiam

em seu poder; seu nome é Don Juan de Gambo: ele com diversos espanhóis, seus

companheiros, fugiram para mayne as open enemyes to the kyngs proceedings: eu soube pelos

índios onde ele está, e enviei meu shallop (chalupa; navio à vela) para busca-lo, se eu falar

com ele: eu sei se eu mesmo puder consulta-lo, o que eu vou arriscar, ele pode oferecer bons

serviços para o senhor (lordship; tratamento usado para falar a um lorde) ele é um grande

soldado dessas partes, e sabe todos os segredos, passagens, pontos fracos e favoráveis dessa

terra, e todo o jeito do fundo da baia: e eu tenho certeza que ele sabe de minas que não foram

descobertas pelos oficiais dos reis, e que para ele e sua tripulação não são capazes de

conquistar. Se ele me falhar, eu espero que isso não seja mal recebido por mim, se eu trouxer

um comigo que pode fazer quase tudo, se for útil para ele; ele nasceu em Venetian, mas

educado no novo reino de Granada, um padre aqui, um soldado lá, alguém que finge mudar

em sua consciência, eu não posso ver seu coração, mas eu posso ver suas profissões, a

habilidades: eu vou apresentá-lo, se ele não pode ser evitado, pois ele é apenas mais um que

deve fugir quando eu lhe dar a palavra.

Eu sinto muito pela arrogância, mas o senhor da à permissão para tudo, e eu me

julgo TYDE por muitos favores a seu serviço particular, e se eu puder deduzir humildemente,

que sua honradez vai me favorecer nas minhas solicitações, em meu desejo de servir o

príncipe ainda que seus conhecimentos sobre mim são recentes and meaner deservings yet

you shall ever fynd that your lordship shall command the life of

De seu indigno servo THOMAS ROE

Fevereiro 28: Porto de Espanha na ilha de Trinidad: 1610. Para o grande honorável

Conde de Salisbury, alto Lorde tesoureiro da Inglaterra.

RELATÓRIO DA NAVEGAÇÃO, COLONIZAÇÃO E TRÁFICO OS

QUAIS OS INGLESES E OS IRLANDESES FIZERAM NO RIO AMAZONAS, E A

ATUAL SITUAÇAO NO RIO. 1621.

Capitão Felipe Porcel (Philip Purcell), irlandês, diz que faz doze anos desde que

ele foi do porto de Dartmua (Dartmouth) na Inglaterra para San Thome de Guiana, no rio

Orenoco (Orinoco) com outros ingleses, carregando mercadorias para negociar em Trinidad, e

no rio Orenoco por tabaco, e lá esse capitão e muitos outros ingleses em outros navios, os

quais aproveitaram para fazer negócios naquelas partes com o governador desse lugar.

Esse capitão Felipe Porcel estando em Trinidad por dois anos e descobrindo sobre

o rio Amazonas, retornou à Inglaterra, e com outros companheiros fretaram um navio

holandês e foram para lá. Eles descobriram que o rio Amazonas é introduzido na mão direita

sudoeste e sua entrada dessa costa para aquela do Brasil é de 50 léguas, mais ou menos.

Viajando ao longo da costa do rio Amazonas do lado direito, eles acharam aterra pantanosa,

insalubre, florestas densas o que foram obrigados a irem noventa léguas rio acima antes eles

descobriram a ribanceira de outro rio, como o Tamisa (Thames) em Londres, o qual também

enche com o mar em altas e baixas marés. Eles foram dezoito léguas acima desse rio e,

encontraram uma boa região, desembarcaram e começaram a negociar com os índios, os quais

eram pardos, pagãos não civilizados, e todos nus. Eles deram aos índios contas de vidro,

miçangas e outras coisas ensinando-os como produzir maior quantidade de tabaco, pois os

índios sabiam como fazer isso de acordo com sua estranha maneira, e não com a perfeição que

é produzido em San Thomé e da maneira a qual o capitão Porcel viu em Orenoco. Dessa

maneira do ano de 1609 o qual ele fez sua primeira descoberta ele foi e voltou duas vezes

mais. Da ultima vez ele levou quatorze irlandeses que negociaram com os índios até a ano de

1620, quando o capitão North chegou lá e desembarcou perto de cem ingleses os quais ele

levou com ele, o qual ele (Purcell), pois eles são novos nessas terras e não tiveram que ajudar

com os abastecimentos e outras coisas desde que chegaram, vai ser muito improdutivo para

maior parte deles.

Os holandeses se estabeleceram no mesmo rio, trinta léguas mais distante, o que

fica cento e vinte léguas do começo do rio, indo pelo mesmo lado direito.

Ele não sabe se eles fizeram alguma fortificação ou defesa, mas, todavia isso lhe

parece muito necessário que Sua Majestade Católica devesse, sem atraso, um navio bem

suprido para fazer um reconhecimento e expulsar o povo de qualquer nação lá encontrada, o

que no presente momento, parece para ele, que será fácil de ser fito. Datada em Londres 20 de

junho de 1621.

RELATÓRIO HOLANDES DAS ATIVIDADES DE THOMAS KING NO

RIO AMAZONAS, 1615.

Pedro Luis (Pieter Lodewycx), capitão da frota, residente de Vlosingas (Flushing),

voltou a la Haya (the Hague) Holanda com seu filho Juan Pedro Alas (Jan Pieterse), ambos

de volta das Índias Ocidantais (Wiapoco) onde construíram duas casas e colheram tabaco.

Pedro viajou acima do rio Amazonas pó aproximadamente cem léguas e no seu retorno trouxe

muito lucro e muita tintura vermelha, tabaco e vários condimentos. Ele aprendeu com os

habitantes lá, que para promover nessas terras há muitos habitantes a nações e há muito lucro

para os comerciantes, os quais têm estimulado-os a retornar à Viapoco com muitos navios,

ambos para suprir a nova colonização que eles fizeram lá, e ir mais além em busca de

negócios. Para isso ele confirmou uma tripulação com o burgomestre de Wearingas (Flushing)

Juan de Moor (Jan de Moor), e dois membros do almirantado, chamado Angelo Lemnes e o

Herr van Lodestyn, devido o qual teve a permissão dos Estados da Holanda para estabelecer a

dita colônia e colonização. Isso é não obstante o maior e muito difundida colonização as quais

os Estados pretendem fazer naquelas partes da América na ocorrência que a guerra não

retomará o que esperamos ser certo, e que todos (nisso envolvidos) comércio marítimo e o

comércio está pressionando os Estados para prover boa assistência que eles podem descobrir e

fazer um reconhecimento de toda largura e comprimento do rio Amazonas, de onde os

Estados terão muito lucro, no curso do tempo...

Além disso, o filho do capitão relata que os franceses construíram um invencível

forte chamado Marani a dois graus perto da linha no qual eles tem vinte e quatro peças de

bronze e algum ferro, e eles afirmaram que isso foi feito pelas ordens do rei da frança, e que

todos os dias muitos navios franceses freqüentam esse lugar.

Do mesmo modo (ele relata) que um Tomas Rey (Thomas King) construiu um

notável forte na foz do rio Amazonas, daquele lugar ele faz ótimos e proveitosos lucros, e que

quando o comércio começar a ser comandado por um bom comando o ganho, com o passar do

tempo, terá maior beneficio que aqueles realizados nas Índias Orientais.

O RELATÓRIO DE ROBERT HARCOURT DA EXPEDIÇÃO AO RIO

ARROWARI FAITO POR SEU IRMÃO ANTES DE 1612. Pág. 160

(p.42)...Eu dominei a terra, através do gramado, pelo interesse de nosso soberano

senhor o rei JAMES: Eu fiz tudo isso de uma parte em nome de todo o continente da Guiana,

estava localizado entre os rios Amazones e Orenoque, na verdade não estando dominado, e

habitado por nenhum príncipe ou Estado cristão, por meio de que os índios pareciam estar

muito satisfeitos.

[Uma posse igual a de Arrawary] Da mesma maneira meu irmão o capitão Michael

Harecourt, e o capitão Harvey, (o qual deixei como seu Sócio, e que ele estimava como um

amigo intimo) numa notável jornada, (para grande honra deles), eles realizaram a descoberta

do rio Arrawary (Arrowari), e de toda fronteira acima dele, (perto do adjacente rio

Amazones), assim o dominou para alegria de sua Majestade.

Os perigos e grandes dificuldades as quais eles nessa experiência encontraram,

eram notáveis (sic), a tais, como dificilmente nenhuma de nossas nações, em canoas tão

pequenas (sendo só um pouco mais longo, mas não tão largo quanto nossos barcos do

Thames, de casco plano). O número de seus criados fora eles mesmos era de, apenas um

homem e um garoto: Seus grupos de índios eram de 60 pessoas. Sua viagem pelo mar até o

rio Arraway era perto de cem léguas: onde (a propósito) eles encontraram terríveis ondas

arrebatadoras, e tiveram muitos problemas com bancos de areia; especialmente, no grande

cabo ao norte de Arraway, (sic) o qual em respeito ao perigo que lá eles passaram, eles o

nomeou [p.43] Point Perilous (Ponto Perigoso), sua descoberta do rio foi de cinqüenta léguas

mais: onde eles encontraram uma nação de índios, a qual nunca tivera visto homem branco,

ou cristão antes, e que não podiam ter relações comerciais com nenhum comércio familiar, ou

até mesmo nenhuma relação, nem mesmo com nossos índios, pois eles eram estranhos para

eles, e nem com outra nação. A descoberta desse rio é de grande importância, e de caráter

especial, proporcionando uma entrada mais interessante para a pesquisa e descobrimento do

interior da Guiana, e algum outro rio localizado na costa; direcionando para parte ocidental na

direção da região; descobriríamos todas as nações ao sul de Arricay, Cooshebery, Morrownia,

e Norrack, o qual já havia mencionado.

[Uma grande discussão sobre a abundancia no país] Eles gastaram muitas semanas

nessa aventura, levando seus alojamentos à noite. Eles não tinham necessidade de

abastecimento de comida, pois tinham peixe em abundancia, em suas mãos: AND THE

WOODS YEELDED EYTHER DEERE, TIGERS, OR FOULE: sua maior necessidade era de

pão e de bebida, o qual um erro impedia a realização da descoberta. Quando os índios

perceberam que sua comida estava perto de ser consumida, e que sua bebida estava para se

estragar, eles não podiam pensar em continuar, tendo nenhuma maneira de suprir suas

necessidades entre os Arrawaries, os índios daquele rio, os quais não podiam comerciar

livremente naquele primeiro contato, mas sempre levantavam guarda no outro lado do rio

onde eles habitavam: com o desejo de obter as nossas mercadorias inglesas, fizeram uma

tentativa com os nossos índios, proporcionaram um pequeno intercambio para suas [p.44]

para suas necessidades mais urgentes durante sua estadia naquele rio: então forçadamente eles

foram obrigados a abandonar sua descoberta, rapidamente irem para sua pátria.

[p.45] Isso e muito mais meu irmão poderia afirmar se estivesse vivo: mas (desde

seu retorno à Inglaterra) pelo desejo de Deus, que deu a ele vida, e o protegeu de muitos

perigos, para levá-lo a sua misericórdia. Mas o outro, capitão Harvey, sobreviveu, o qual a

vida passou com um espírito generoso, treinando com armas, e seguindo guerras: que também

é bem conhecido por ser um cavalheiro, honesto, e de reputação impecável; irá asseverar e

comprovar a verdade, aqui mencionada. Mas agora vou retornar daquele lugar onde fiz uma

digressão.

A COLÔNIA ANGLO-HOLANDESA DE PIETER ADRIAENSZOON, 1616-

23. Pág. 163.

No ano de 1616, um Peeter Adriansen no Golden Cock de Vlusinge (Flushing)

velejou para o Amazonas e esteve tão alto da entrada daquele estreito; eles temeram estar em

um canal errado, retornando de novo, e entre os rios Coropatube, e Ginipape na península por

um pequeno rio de um lado, e um braço do Amazonas do outro, eles construíram um forte,

muitas dessas pessoas eram inglesas, algumas de Vlusing, outras de Ramakins, cidades nas

mãos dos ingleses; eles eram cento e trinta homens e quatorze deles levaram suas famílias

para se estabelecerem com eles, eles tinham pão, ervilhas, carne de boi e de porco, bacon,

otmeal, vinagre, e vinte barricas de conhaque, um estoque para um ano inteiro, além de seus

navios, mantimentos, eles tinham uma feira com uma nação indígena, seus vizinhos chamados

Supanes. O navio ficou lá por quatro meses, até seus suprimentos terem acabado, e algumas

cabanas construídas, tão bem com ou sem mantimentos, os índios assistiram-nos na plantação

de tabaco e Annotta (tintura vermelha; urucum). Coisas desse tipo, o navio os deixa viajando

para Zeeland, mas retorna com um ano, com um reabastecimento de todas as coisas

necessárias, porém pão e carne não eram esperados, eles carregavam o navio com tabaco,

anotta e specklewood (Brosium Aublettii); o carregamento foi negociado por sessenta mil

libras esterlinas. Essas eram as duas primeiras viagens do almirante De Ruyter, a primeira

viagem nos anos dez, e a segunda nos anos doze (exatamente assim) idade de seu nascimento

AD. 1618, como eu escutei de sua própria boca; igual aquela da colônia Hopeful, eles

incubiam eles mesmos nos in the Quarels dos índios, assistindo os Supanes contra outra

nação. CALED THE (F.371) PERCOTES, que estavam em aliança com os portugueses, isso

fez com que esses índios proporcionassem a eles grande perturbação; eles acompanharam os

portugueses em seus navios para atacá-los, porém isso não os fez mestres deles mesmos, de

seu forte, e sua plantação: ainda muitos ingleses e holandeses mortos e feridos; dois navios

vindo no ano de 1623. Todos embarcaram com o que tinham de volta a Zeeland; trazendo

com eles considerável riqueza adquirida pelo comércio com os índios; obtinham grande

quantidade de Amber Greace (sebo de âmbar), e outras coisas de valor, além do tabaco o que

estava com o preço bastante elevado, pelo menos vinte shillings por pound (medida de peso

aprox.453,3g). Assim terminou essa esperançosa colônia que partiram com seus vizinhos os

índios Supanes, com grande problema; tendo seis anos juntos. Vivendo em perfeita amizade.

Esse navio não chegou à Vlushing, mas nove dos ingleses com seus títulos levaram-nos para

Londres, onde através de seus relatórios e provas concluentes que trouxeram do crescente

comércio e dos produtos do Amazonas, e quão pequeno numero eles enterraram em seis anos,

colocou muitas pessoas upon the wing from Londres: - e seus noventa e seis homens, e

quarenta mulheres, e crianças que eles nunca ouviram falar a respeito, então é suposto que

eles foram criados no mar.

TEXTO III

A FORMAÇÃO E O COLAPSO DA COLÔNIA DO AMAZONAS, 1619- 21:

I. A FORMAÇÃO DA COMPANHIA DO AMAZONAS:

1. ROGER NORTH DISPUTA O DIREITO DE ROBERT HARCOURT

PARA O AMAZONAS PERANTE O CONSELHO PRIVADO, 1619.

7/17 de março de 1619

A.

A partir da denúncia feita por Roger North, por seu próprio interesse e vários

nobres, e cavalheiros de caráter, que considerando o contentamento de sua majestade por

cartas datadas em 28 de agosto do décimo primeiro ano do reinado de sua majestade para

conceder ao capitão Harecourt que partiu de Guiana, ou do continente americano que se situa

entre os rios Amazonas, e o rio Desequebe (Essequibo) incluindo 300 léguas acima da costa

do mar e invade para dentro da terra sem limitação; o mencionado capitão Harecourt não tinha

procedido nesse lado em qualquer plantação de acordo com a intenção desse auxilio, mas

além disso tinha recusado justas e honestas condições lhes oferecidas das petições para a

plantação para a grande PREUIDICE (prejuízo) dos serviços de sua majestade naquelas

partes. Nesse dia é ordenado que o lorde arcebispo de Canterbury, lorde Steward da família de

sua majestade, o conde de Arundell, o lorde Digbie, senhor. Inspetor da família de sua

majestade, e Senhor. Chanceler do tesouro público, chamando ambas as partes antes deles.

2. A EMISSÃO DA PATENTE E AS PREPARAÇÕES PARA A PRIMEIRA

VIAGEM:

A. O preâmbulo para a contribuição da tripulação do Amazonas, com a

assinatura dos treze aventureiros.

6/16 de abril de 1619

Considerando aquelas bonitas terras próximas do rio Amazonas (limitada na parte

norte pelo rio Wyapoco (Oyapock) e para o sul, como não é habitado por nenhum soberano

cristão ou estado) e pelas diversas viagens nos últimos anos foram feitas por diversos, (que

para seus grandes lucros, encontraram comércio, e tráfico naquelas partes) muito bem

descobertas para se adaptar, e não só para habitação saudável, mas também pela riqueza de

suas mercadorias, como ricas tinturas, drogas medicinais, goma doce, algodão, cana de

açúcar, variedade de tabaco, madeiras preciosas, arvores de castanha, e outros

temperos,plantas benéficas e frutas pleazant, e terra boa apresentada perante a corte adiante:

e do mesmo modo, e com aparente probabilidades de ter ricas minas e minerais de varias

espécies. Agora sob certa informação do estado do mencionado país por homens de

integridade, prudência, e experiência, que visitaram aquelas partes, e que retornaram de lá não

faz muito tempo; como também através de cartas de alguns ingleses, e outros súditos de sua

majestade mararam seis ou sete anos e que ainda residem lá) o mesmo estando bem,

examinado, e considerado por, sua majestade e seu honorável conselho, e por diversos outros

nobres e cavalheiros respeitosos, que demonstraram um sério desejo de propagar a religião, e

a cristandade entre aquelas nações, e para o avanço da honra de nosso país RESOLVED

WITH UNITED HARTES, AND HANDES OF AS muitos da nobreza, e pequena nobreza

desse reino, como eles devem, encontrar dispostos a se empenharem em tão nobre trabalho,

imediatamente tentar, e pelas bênçãos de Deus prosseguir, e executar, um comercio e

plantação, no mencionado país: pelo qual o objetivo agradou vossa majestade pronto para dar

ordens as cartas patentes pelo qual todos os mencionados aventureiros pudessem se unir em

uma só sociedade, com grandes privilégios que pudesse lhes dar coragem para o animador

procedimento num meritório trabalho. Mas por um negócio dessa importância não poderia

sem grandes custos ser tampouco deixado de fora do presente, ou mantido para o futuro,

WHICH BEING BORN BY MANY WILBE THE MORE EFFECTUALLIE UNDERGONE.

É por essa razão que todo homem de acordo com suas habilidades, ou boa afeição, para seu

intencionado comércio, e plantation, irá registrar seu nome, tal quantidade, que possa

contentá-lo para a aventura, e que seu curso será de boa cogitação que nenhum homem será

admitido abaixo da soma de cinqüenta. O mesmo estoque em dois, três, ou mais anos, como

achar necessário a mencionada companhia, a mesma subscrição ambas para nomes, e

somatórias para ser feita entre o dia da data local, e quinze de maio próximo, para o último

pagamento, e ser limitado para pagamentos antigos como os committees da companhia devem

apontar, e as necessidades requeridas pela viagem, intimando por meio disso que o que os

nobres, ou senhores devessem dentro do mesmo espaço assinar como supracitado, eles

poderiam ser ditos como livres da companhia mencionada, e terem livre voz, nos

procedimentos desse negócio, como em outras companhias é comum, e para esse fim

deveriam ter um bom ganho, e aproveitando pelo retorno de acordo com suas várias

aventuras, e são do mesmo modo desejados após de sua mencionada assinatura, eles

indenizariam até a terça-feira de toda semana as duas horas da tarde na Casa Arrandell em

Strond, e então para advertir o resto dos ditos aventureiros TOWCHINGE a gerencia desse

presente trabalho.

Foi concordado pelos aventureiros, que em seis de abril, todo homem deveria fazer

seu primeiro pagamento no décimo oitavo dia do mesmo mês.

b. THE PRIVY COUNCIL TO SIR THOMAS COVENTRY,

18/28 de abril de 1619

A LETTERE TO SIR THOMAS COVENTREE KNIGHT HIS MAJESTIES

SOLLICITOR GENERA. Visto que como nossos bons lordes o lorde duque de Lenox, e o

conde de Arundell, e Roger North, descobriram maneiras de navegação, e estão muito

intencionados em empreender jornadas até o rio Amazonas na América, e naquelas terras

(habitadas por pagãos e pessoas selvagens, que não tem nenhum conhecimento sobre qualquer

religião crista, para salvação de suas almas, e que não está sendo governadas por nenhum

soberano ou estado cristão). Como para sua conversão na fé crista, e para uma futura

descoberta naquelas terras. Como para estabelecer um comércio com eles para algumas

mercadorias as quais achamos ser necessárias para nossos reinos e domínios. Nós tivemos tais

considerações direcionados por vossa majestade, considerado muito necessário para o auxílio

desse intencionado trabalho. Que tais lordes a tais outros como estão sujeitos a serem

aventureiros com eles estando incorporados como é comum em casos como esse. E por esta

razão, nós suplicamos e requeremos você para preparar uma nota pronta para a assinatura de

Sua Alteza Real, por meio do qual eles devem ter grande poder, e privilégios de levar um

número excedente de navios, homens, munição, e armas, e outras coisas necessárias para a

viagem, AND SETTLING OF THEIR COMPANY OR OTHERWISE AS HATH BEM

GRAUNTED TO ANY OTHERS HERETOFORE UPON como empreendimentos e

descobertas com tais futuros privilégios como você possa pensar, e que os lugares onde eles

devem fazer suas plantatios ou usar seu comércio e o tráfico deve se estender do rio Wyapoco

para cinco graus sul, de qualquer parte do rio Amazonas otherwise called oreliana and for

longitude into the land to be limitted from sea tosea for wich this shall be your warrant.

C. THE PRIVY COUNCIL TO SIR THOMAS COVENTRY, 13/23 de junho

de 1619.

Uma carta para o senhor Sollicitor

Considerando que sua majestade tem estado satisfeito com a humilde demanda de

diversos nobres e outros senhores para dar um caminho para a Plantation no rio Amazonas,

nas Índias Ocidentais: para qual objetivo há uma comissão de privilégios a serem concedidos,

e preparados para a assinatura de membros da família real. Esses nós requeremos de você que

faça pronto o dito concessão, com tantos privilégios, e imunidades, como contido na

concordância formalmente feita para o capitão Harecourt de algumas daquelas partes,

guardando somente, agora este privilégio está na mão, não há tempo deixado a favor para

isentar as mercadorias trazidas daquele lugar: mas que eles paguem os compradores para

todas as mercadorias que deverão ser trazidas daquele lugar: sua majestade estando satisfeito

para desistir das imposições acima da mesma para o qual deve estar até a sua adequada

permissão.

d. Os planos de Mathew Morton para o retorno à Amazônia.

Mathew Morton para William Moreton de Moreton Esquire.

4/14 de fevereiro de 1619

Eu passei a palavra para meu Lorde de Arundell & meu lorde North seu irmão,

para estabelecer homens no rio Amazonas e eu não duvido que por essas maneiras tenham

boas maneiras de viver. Isso será o posterior fim de maio antes de partimos da Inglaterra.

II. A DIPLOMÁTICA CONTRA-OFENSIVA ESPANHOLA E O COLAPSO

DA COMPANHIA

1. O EMBAIXADOR ESPANHOL, GONDOMAR PREPARA SEU ATAQUE

AO RIO AMAZONAS, 1620.

a. Extrato tirado de uma carta de John Chamberlain ao Sir. Dudley Carleton,

26 de fevereiro/sete de março de 1620.

...ainda esperamos o embaixador espanhol, mas não sei como está após a maneira

como nossos soldados agiram, se vem ou se não vem, durante uma semana escutamos que ele

estava em Paris, e em outra que ele ainda estava a caminho; é intento que lorde Digby auxilia-

o com grande devoção, I HEARE OF SOME CROSSE LANGUAGES PASSED TWIXT

HIM AND THE Lorde North na mesa da corte, sobre a viagem que o sr. John North está

fazendo par o rio Amazonas na Guiana o qual o lorde Digbie manifestava-se contra, como

sendo de discriminação do rei da Espanha, e que o embaixador em sua vinda iria impedi-lo,

para o qual o lorde North respondeu que se ele desejasse ele nunca viria, e com tudo isso ele

levou o lorde Digbie para o rei da Inglaterra embaixador em Espanha, mas parece que ele é

mais rei da Espanha que embaixador da Inglaterra.

B. Carta do representante espanhol em Londres,

Julian Sanchez de Ulloa, a James I, 29 de fevereiro de 1620.

Caro senhor:

Representei a vossa majestade as inconveniências as quais podem resultar da

viagem que o capitão North deseja fazer para as Índias Ocidentais, lhe dando o recente

exemplo do sir. Walter Rawleigh não com a posição e toda segurança dada por ele aqui, não

para ter ofertado qualquer prejuízo para nenhum do rei ou domínios ou vassalos de meu

mestre. Todavia estou informado que o dito capitão se preparou com muita pressa, para ir até

tais terras, e levou quatrocentos homens e muitas armaduras com ele. Razão que

humildemente que solicito vossa majestade que ele ficaria satisfeito em olhar cuidadosamente

para esse empreendimento não permitindo que tal viagem seja feita, sem dúvida que se isso se

seguir causará muito problema e molestamento a vossa majestade THEN THAT OF

RAWLEIGH AND IT IS MUCH a ser considerado que os homens que o mencionado capitão

pretende levar com ele não são marchants (comerciantes) os quais vão traficar e

consequentemente que vindo para o mar eles farão suas vontades sem considerar se é

prejudicial para o rei, meu senhor e seus vassalos, e se for para seus próprios lucros, e ainda

que eles digam que não se conduzirão aos domínios do rei meu senhor ainda eu sinceramente

solicito a vossa majestade que se informe muito bem a respeito do empreendimento, e assim

pensará o contrario. Eu gostaria de pedir a vossa majestade que me respondesse o mais

depressa possível, pois devo enviar a resposta a qual receberei de vossa majestade por esse

mensageiro, ao rei dando relato sobre o que se passou. Deus todo poderoso preserve vossa

majestade com muitos anos felizes com tais prosperidades como eu seu humilde servidor

siceramente desejo.

Londres 29 de fevereiro 1620.

Julian Sanchez de Ulloa

C. sir. George Calvert, secretário do Estado. Para Julian Sanchez de Ulloa, 30

de fevereiro de 1620.

Caro senhor

Sua majestade recebeu sua carta de 29 de fevereiro e ordenou-me a escrever essa

para sua honra em resposta. A viajem que o capitão North pretende fazer para as Índias

Ocidentais tem, na opinião de vossa majestade, sempre preenchido aqueles requerimentos de

uma garantia de não cometer nenhuma violência ou ofensa aos vassalos do rei, vosso honroso

senhor. Até o presente ele não encontrou nenhuma causa ou motivo para impedir-lo,

considerando primeiramente que o cavalheiro capitão North, que é o comandante chefe da

frota o qual tem sido preparado para a dita viagem, é um indivíduo o qual lealdade e

integridade nunca estiveram em questão ou dúvida. Consequentemente ele não pode causar tal

suspeita como Don Gualtero Raleigh (Sir. Walter Raleigh) fez, que estando impressionado na

fortaleza, estava contente de ser autorizado por de sair por qualquer meio ou esquema, ele era

um homem, como posteriormente apareceu, sem honra ou consciência e o propósito de sua

viagem sem parecença de probabilidade, logo não havia mais garantia nele que com o título

que deu no momento de sua partida. O capitão North pelo contrario, tinha para o propósito de

sua tentativa de colonização, o que é por si mesmo praticável e que não possa prejudicar ou

ofender o rei da Espanha, sendo um lugar já habitado, não pelos vassalos do mencionado rei,

mas por vários outros irlandeses e pessoas de outras nações. Além do mais isso deu ao meu

rei meu senhor grande confiança na lealdade e boa conduta do mencionado North, é que ele é

um dos que abandonou Raleigh imediatamente ao entender que seu projeto não poderia ser

comprovado, sendo algo como quebrar o acordo entre os reis, nossos mestres. Além do que,

os aventureiros e promotores de tal viagem são nobres e cavalheiros, os quais vossa majestade

sabe ser bem afetados para aqueles acordos, os quais deram a vossa majestade grande

confiança que esses homens irão marcar qualquer coisa desfavorável.

Apesar de tudo, sua majestade ordenou-me a anunciar para sua honra que ele

reconheceu que as preparações que estão sendo feitas parecem um pouco estranhas. Por causa

disso, logo que recebe sua honorável carta, ele ordenou que nenhum futuro procedimento

deva ser feito até que ele tenha mais informações, de tais tipo que se faça claro para sua

majestade que não há outro objetivo na execução da dita viagem, que aquela a qual ele pode

comprovar ao rei da Espanha em sua real palavra e reputação.

Sua majestade, além do mais, me ordenou a solicitar que sua honra seja boa

suficiente para deixá-lo saber se o que você apresentou a sua majestade está baseada somente

em suspeita, e se for então, ele pensa que será possível tomar tais cuidados e provisão que não

resta possibilidade de causar danos, certamente se a viagem for para adiante.mas se há alguma

coisa que vossa senhoria sabe, além das quais vossa majestade está informado, o que deixará

sua honra firmemente para acreditar que há outro mal plano ou injúria planejado contra vossa

majestade da Espanha e seus súditos, então sua honra deverá livremente informar vossa

majestade para que possa mais facilmente interromper isso, estando muito preocupado quando

isto está em seu poder, para remover todas aquelas motivos os quais podem induzir a algo

indigno da amizade e boa harmonia que existe entre vossa majestade e o rei. Com isso eu

termino, desejando a vossa senhoria toda boa saúde e felicidades, descansando da corte em

Royston em 20/30 de fevereiro de 1620.

De seu mais leal amigo as ordens

George Calvet.

D. Carta do Senhor George Calvert a Julian Sanchez de Ulloa incluindo a

resposta para acusação de Espanha e sobre suas intenções, 10/20 de março de 1620.

Caro senhor:

Vossa majestade, de acordo com o comando que ele me deu para escrever a vossa

senhoria, suspendeu a ida do capitão North, ordenando-o que por enquanto ele deve responder

para o que foi alegado contra sua viagem para satisfazer vossa majestade. O qual ele fez. Sua

majestade estava contente em me comandar a enviar (a resposta) a vossa senhoria, em ordem

que você possa vê que não há outra, mas tão boa honrável intenção. Assim deixando vossa

senhoria na proteção abençoada de Deus, I REMAIN ALWAYS.

YOUR HONOUR´S MOST LOYAL FRIEND TO COMMAND.

Jorge Calvart.

Whitehall em 20 de março de 1620.

A humilde ilustração ou resposta de Rogero (Roger) North para a suspensão a qual

sua majestade ordenou em sua partida, ocasionado pela oposição do representante da

Espanha.

Para o caso que foi feito de Don Gualtero Raleigh, contra o que possa ser

WEIGHED as boas intenções de vossa majestade com respeito ao rei da Espanha. Eu

respondo que a origem e o processo da aventura de Raleigh é muito diferente desta, visto que

seu projeto era conhecido apenas por ele mesmo, e dele mesmo dependia seu progresso e

realização, a ação e a proeza sendo unicamente sua. Ele tinha muitos navios e homens

equipados para a guerra, tudo que poderia causar facilmente apreensão ao embaixador da

Espanha. Além disso, a garantia que ele deu veio de ninguém que das mesmas pessoas que o

acompanharam em sua viagem. A qualidade desse empreendimento, no contrario, é nada mais

que formar uma companhia, o Estado tendo primeiro feito uma pausa e rigorosa examinação

da legitimidade do titulo de vossa majestade para aquele pais, sem causar danos ou

aborrecimento particulamente ao rei da Espanha. (a partir daí podemos notar que esses

homens nunca ouviram falar sobre os navios espanhóis naquelas partes). Concernindo que o

auxilio que vossa majestade autorizou para o capitao Harcourt sete anos atrás, e os vários

compatriotas que freqüentam e permanecem naquelas costas, dar claro testemunho e poder

levar testemunha para o agente of the ground de minha petição a vossa majestade. A fundação

desse empreendimento era apenas para opor-se os Flemings (flamengos) que estão

recentemente ocupados em se apoderar injustamente e beneficiando-os dos interesses de

nossos compatriotas, que estiveram por oito anos morando perto do rio, o que fica a

setecentos ou oitocentas léguas de qualquer colônia espanhola. Finalmente como para

alegação que eu estou fazendo com muita precipitação levando quatrocentos homens e muitas

armas comigo, digo que tal tem sido nossa precipitação que pagamos frete de cargas para um

navio alugado para mais de dez meses, então que se vossa majestade não ficasse satisfeito

com suas ordens a mim concernidas, the company´s capital together with my own, i having

charge of the outlay, will not meet our daily expenses, estando quase pronto para viajar. Como

para os quatrocentos homens e as muitas armas para eles, contudo, o agente diz, que eles estão

estimados a olhar mais preparados para roubar os vassalos de seu mestre que fazer o

empreendimento de mercadorias, apesar disso, eles são homens que tem experiência com as

terras, farmacêuticos, tintureiro, carpinteiros de casa, ferreiros, serrador, e eu pago mais

dinheiro para esse tipo de pessoa que para outros. Estou transportando uma fornalha de

ferreiro com tudo necessário, e uma boa quantidade de outros equipamentos que são

particularmente usadas no rio. além do mais aqueles (homens) i most value are some

merchants and merchants factors, all of which shows our purpose to be that which we

outwardly profess. Todo nosso procedimento estando examinado por vossa majestade, dar

crédito e testemunho evidente de nossa sinceridade. Eu reconheço que há cerca de dez

cavalheiros que são meus amigos, que desejam aventurar comigo, mas eles são homens que

não carregam desonra, tampouco em seu próprio país ou em país estrangeiro. Posso dar o

mesmo crédito aos outros, e sempre rejeitei aqueles que foram piratas. Por essa razão (eu)

humildemente imploro que vossa majestade considere quanto as objeções do mencionado

agente são erroneamente TO HAVE PROCURED the stay of so good and just an

undertaking, totally disheartening the most forward and well-disposed ADVENTURES,

SHAKING a resolução e preparações finais das pessoas que estão indo comigo, e finalmente

me destruindo e muitos pobres homens, que estão esperando e se preparando para essa

viagem, sendo leais e confiantes vassalos de vossa majestade.

Talvez vossa majestade, possa considerar isso favoravelmente, e me conceder

completa e livre licença para ir adiante com o que propus em ordem para encorajar outros a

tais honoráveis bravuras, e recuperar as perdas quais, pelo contrário, eu e outros teremos que

passar. Sempre farei minhas obrigações para implorar vossa majestade vosso longo e prospero

reinado.

E. the count of Gondomar à Philip III, 30 de março de 1620.

Caro senhor:

Em uma carta de primeiro de abril eu disse a vossa majestade de como encontrei

aqui o capitão Norte (North) já embarcado com três navios e quatrocentos homens para irem

conquistar e colonizar o rio Amazonas nas Índias Castilian (castelhano) e de empenho

vigoroso que fiz, então que sua partida deva ser suspensa até que eu fique sabendo, e que o rei

tenha enviado o questão para o Conselho e dete-lo por vinte dias. Isso era muito difícil, pois

parece pra todos aqui (ser) um ponto já debatido e decidido a vossa majestade, pois pelos

grandes custos que foram ocasionados o capitão no atraso, pois sua demanda é altamente

favorável, a maior parte do Conselho estando interessado nisso.

Eu soube que esse rei deu uma autorização abaixo do sinete, uma cópia do que

envio aqui para vossa majestade. Em virtude disso, capitão Norte e barão Norte seu irmão e

aqueles de sua família, que tem muito poder aqui, favoreceu através do marques de

Boquingham (Buckingham), o duque de Linox (Lennox), o conde de Arandel (Arundell), o

marques Amilton (Hamilton), o conde de Pembruc (Pembroke), o arcebispo de Cantuaria

(Canterbury), o lorde chanceler, e o conde de Suptanton (Southampton), que são os principais

personagens desse reino, formaram uma tripulação como aquela para as Índias Orientais.

Eles apontaram o conde de Guaric (Warwick) como presidente de tal, juntos com

todas as forças e agentes para guerra e dominação, permuta e tesouraria. Havia mais de 200

indivíduos nessa companhia, entre eles estavam membros de um conselho, nobres e

comerciantes, que já tinham financiado mais de oitenta mil ducats e ainda continuavam a

contribuir com todo o resto que fosse necessário. Assim esse empreendimento me pareceu ser

de grande importância, apesar de que o duque de Linox, o marques de Amilton e outros

conselhiros vieram falar comigo, e solicitar com os maiores argumentos que eu pudesse

proceder blanda la mano, (eles argumentaram) não era ofensivo para vossa majestade ou seus

súditos ou territórios, mas meramente uma selva pagã onde holandeses, irlandeses e franceses

começaram a colonizar e estavam no momento, e assim isso era um negócio horrível que eu

queria apenas parar os ingleses, tentando me embaraçar por todas maneiras possíveis.

Eu respondi a todos que o rio Amazonas era propriedade de vossa majestade e lhe

pertencia por virtude de descoberta, demarcação, e possessão, e que eu não achava que o rei

da Inglaterra tinha um melhor título para Escócia ou Irlanda que vossa majestade tinha do rio

Amazonas. Era desse modo o mesmo a desejar ir e colonizar, como em Portugal ou Galicia, e

se outras nações estavam tentando, então vossa majestade ordenaria que eles fossem punidos,

como fez antes. Eu disse que gostaria que isso não acontecesse aos ingleses, e que eu seria um

pobre homem, um pobre embaixador se eu não prevenisse fazendo fortes representações a fim

de evita-lo. O tempo irá mostrar o erro para aqueles que trabalharam pelo contrario, eles

estavam aconselhando o rei da Inglaterra a guerrear contra vossa majestade, e nato ele iria

perceber que eu era mais amigo que eles eram. Com isso fui mais rapidamente requerer uma

audiência com o Conselho, o qual concordaram comigo, o rei estando aqui, para terça-feira 14

de abril as nove da manha.

Eu fui naquela hora e encontrei o conselho cheio, com nenhum daqueles que

estavam aqui ou ao redor dessa cidade. Prontamente do lado de fora estava o conde de Guaric

presidente da companhia, barão Norte, irmão do capitão, visconde Purbeque (Purbeck) irmão

do marques de Buckingham, e muitos outros da companhia. Eles queriam que Norte fosse, a

companhia continua, e para manter um debate freqüente e sem fim entre aqueles da

companhia e eu mesmo, com grande habilidade, até todo o conselho me receber com grande

cortesia. Após nos sentarmos pedi que estivéssemos em particular e assim eles ordenaram.

Eu disse que conduzia o empreendimento de um homem honesto, AND THAT

SINCE THOSE WHO WERE THERE WERE ALSO, e tal eminentes personagens. Não tinha

duvida de que a felicidade viria. Me concernia em apenas representar o assunto a eles, pois

para o resto eu tinha um mestre que, de qualquer modo aumentava sua propriedade, Deus lhe

deu meios para preserva-lo. Mas a tentativa requeria-o que abandonasse, por alguém que era

não mais seu bom irmão e amigo como o rei da Grã-Bretanha, era algo que não parecia ser

correto tanto para Deus como para os gentiles (pessoa que não é judia, pagão). Eu receio, por

causa de tal infortúnio, THAT THERE MIGHT BE CAUSE FOR um espanhol matar um

inglês, como para um inglês matar um espanhol, e que eu espero o mesmo do espírito de

bondade do Conselho, eles estando comunicados com a verdade e imparcialidade. Que

mesmo que tenham investido muito dinheiro o qual eu soube que alguns tinham nessa

companhia, eles estavam em melhor situação de perde-lo que perder a paz sem causa. Eu não

estava duvidando do julgamento de ninguém, certamente eu tinha confiança naqueles que

mais desejaram em se empenhar nessa companhia, pois sabias suas boas intenções e a

importância e o amor pelo rei, estou atrás de sua honra.

Argumentei claramente os direitos de vossa majestade, e que, como eles sabiam, o

que era chamado de rio Amazonas tinha nenhuma água ou terra que pertencesse a vossa

majestade. Conclui (dizendo) que estava contando com um pequeno Estado, mas que, todavia,

eu tinha nelas terras não habitadas, e que não era certo eles irem da Inglaterra com intenção de

colonizar para mim, AS NEITHER WOULD IT BE IF uma autorização para a Espanha fosse

dada para colonizar os lugares desocupados quais eles tinham em seus Estados. Que se eles

vissem que isso não era justo que isso fosse feito aqui, então que não fosse feito lá. that my

position was this without need to more or to quarrel with anybody, other than to send

presently, within one hour, a dispach to your majestyu giving you na account of their answer.

O duque de Linox e outros me responderam com muito respeito, mas com

destreza, malicia e ignorância, que mesmo vossa majestade não queria que todo o mundo lhe

fosse vosso. Reduzi a discussão tão repentinamente como parecia necessário.

Eles conversaram entre eles, o arcebispo de Cantuaria de um lado e o chanceler de

outro. Tendo diferentes opiniões, barão Digbi, com a permissão do Conselho, me disse que

aqueles lordes desejavam discutir um pouco sobre esse assunto afim de que vossa majestade

possa ser mais bem servido, por causa disso, eles me pediram a estar disposto a permanecer

em meu assento na mesma câmara do conselho e que então eles iriam para outra sala para

discutir, minha maneira os encorajou a me tratar com tal familiaridade. Eu o disse que de

nenhuma forma permitiria que o Conselho deixasse seu lugar. Eles insistiram que não, e eu

me pus de pé e todo conselho me acompanhou, insistindo que eu deveria permanecer, para

uma das galerias do rei, onde os disse que permaneceria e que eles deveriam voltar.

Dentro de meia hora eles voltaram para me conduzir à câmara do Conselho.

Estando sentado, o chanceler fez um grande elogio em aplauso a minha boa intenção em

preservar a paz e minha moderação em conduzir as negociações, usando somente a força da

razão. Da parte de seu rei e do conselho eu teria o mesmo. Em prova disso, tendo considerado

a seriedade e a grande importância desse negócio, eles resolveram que Norte não deveria

partir e que seu embargo continuaria até ser considerado e examinado, como era conveniente.

Nenhuma decisão poderia ser feita sem me informar. Com isso me pus em pé e, um por um,

todos eles, muito cortês, vieram falar comigo.o marques de Amilton, que é o parente mais

próximo do rei da coroa escocesa, me disse com toda sinceridade que tinha muito dinheiro já

investido nessa companhia, e que eu estava arruinando ele, mas que ele se consolou que no

fim IT WAS MOVING WITH THE HELP OF HERCULES.

Eles me acompanharam a antecâmara do conselho, onde estavam muitas pessoas

esperando o resultado.

Eles (o Conselho) deram o relatório ao rei de minha audiência e tudo que se

passou. Soube que o conde de Pembruc, lorde Chamberlain, apesar de estar interessado nessa

companhia e um puritano e declarado inimigo da Espanha, falou sobre isso, dizendo que os

pontos que fiz não foram respondidos. O próprio rei me disse isso, REFLECTING ON

THESE BAD QUALITIES IN THE EARL, e que deste modo era um milagre que ele deveria

ser superado. Ele disse contudo que nunca tinha visto uma empreendimento tão bem

amparado, que ele se esforçaria em desfazer; que o Norte não deveria ir. Eu falei com o rei

sobre isso como parecia conveniente.

Dois dias depois Sir George Calvert, secretário do Esytado, veio me dizer que

tinha recebido uma ordem do rei e do Conselho para embargar o capitão Norte e sua viagem

até ele ordenar o contrario, e para me informar que isso foi feito, logo que eu informar vossa

mejestade. Isso causou grande distúrbio entre os parentes de Norte e patrocinadores de sua

viagem, vendo-o (já) embarcado com seu pessoal pó muitos dias e (agora) embargado.

Eu adverti o marque de Boguingan, almirante de todos que ao menos essas pessoas

e navios não estavam prontamente desembarcados, e que algumas restrições foram feitas aos

patrocinadores, e preocupações com a desordem, e que Norte poderia fugir sozinho e grande

desonra do rei. Ele me assegurou que não havia nada com que se preocupar, mas que ele tinha

tanto interesse e negócios que mais de oito dias se passara, após ter dão essa advertência , sem

ele para confiscar as velas dos navios. Quando eles vieram Norte já havia se posto ao mar

com seu navio e um pinnace o qual o acompanhou. Eles me disseram que havia menos de 200

homens indo em ambos, pois, com o embargo muitos não quiseram ir.

Tão cedo que eu soube disso, informei o rei, e todos me garantiram que nunca

tinham-no visto tão excitado.. ele estava em Granuche (Greenwich) e que se juntou com seu

conselho logo depois, e é seguro que ele falou com eles firmemente. Ele os disse que eles

roubaram sua honra, comprometendo-o em uma armadilha da qual ele nunca encontrara a

saída. Aquele (rei) David matou homens e logo depois confessou seus pecados mas que HIS

(James I) pecados eram diferentes pois ele já tinha escrito livros em sua própria defesa, e que

depois que fizeram com que ele matasse homens e cometesse injustiças e maldades, as quais

vão permanecer como uma ofensa em sua memória e prosperidade. A razão para isso era seus

maus ministros. Ele não sabia como se desculpar de vossa majestade ou como ele o encararia.

Certamente Deus desejara puni-lo, fazendo-o o rei mais infeliz de todo o mundo. (ele

ordenou) que eles deveriam se pesquisar e informa-lo sobre reparações. Ele endereçou severas

palavras ao duque de Linox, e nato ele se ajoelhou por duas vezes, implorando-o

humildemente que, se ele tivesse errado em alguma coisa, ele (o rei) deveria perdoá-lo, e

dizendo que ele favoreceu Norte até o embargo e não depois disso, e que também não sabia

nada de sua partida.

Todos conversaram minuciosamente sobre o caso, mas a conclusão era que os dois

secretários do Estado deveriam vir para me informar e me garantir a inocência do rei e do

almirante nesse acidente e que toda culpa ficaria em omissão. Eles concluíram (me dizendo)

que o rei estava colocando sua autoridade em minhas mãos, logo eu poderia dispor das penas

e soluções, e que tudo seria executado de acordo com o que eu ordenar. Até isso foi feito para

minha satisfação, o rei não tinha ânimo em me ver, mas que posteriormente ele ficaria muito

contente se eu fosse vê-lo. Não a fim de me colocar em inconveniência, em minha pobre

saúde, ao ir vê-lo em Granuche onde ele estava, ele mesmo poderia vir à Londres.

Eu estava em tal estado que disse aos secretários que não sabia o que dizer, e nem

responde-los. Sobre o assunto de Walter Rale, o palatinado, a aliança com os holandeses, a

partida do capitão Norte, certamente em tudo os fatos eram tão diferentes as palavras que, eu

sendo inglês de coração, essas coisas, mais que minhas aflições, ele me fez não querer voltar

aqui, e que todo dia acontecimentos iriam me mostrar que eu estava certo, eu disse que o que

me concernia agora era esclarecer vossa majestade, dizer a verdade e pedir permissão para

voltar. Para o resto, eu não devo interferir ou dar conselho para um rei tão sábio e prudente

que tem bons conselheiros, demonstrando aos secretários com temperança e modéstia meu

profundo arrependimento.

Eles estimularam que eu devesse dar permissão para discutir os propostos recursos

comigo pois o rei confiava na minha opinião. Eles me disseram que seria impossível que o

capitão Norte fosse ao rio Amazonas agora, pois já tinha consumido muito de seus

suprimentos e não tinha embarcado outros. Uma proclamação seria feita contra ele,

declarando-o como traidor ele e quem o ajudasse. A comissão seria arrancada e a companhia

desfeita.era entendido que Norte ainda não tinha passado da Irlanda. Esse rei já tinha enviado

um galeão de sua esquadra em busca dele, e trazendo-o de volta, ele (o rei) ordenaria que sua

cabeça fosse cortada, como a de Walter Rale. O rei já tinha enviado ordens pelo cadaste da

Irlanda que ele deveria ser preso, e o mesmo general ordenou a todos os portos de seu

domínio de onde ele pudesse ir. Isso era tudo que eles poderiam fazer. Eu deveria ver, se eu

quisesse algo mais, que fosse executadas as minhas ordens imediatamente.

Eu fiquei grato, o que me pareceu justo, essa demonstração e cortesia, e os disse

que deveriam fazer aquilo que estavam me dizendo e algo mais que possa parecer necessário,

para a honra desse rei e então possa ser visto que ele estava agindo com verdade e

sinceridade.

O rei me enviou depois disso, barão Digby, visconde Fenton, o conde de Cale

(Kelly) e outros, para me demonstrar seu sentimento e que sucesso foi esse incidente. Barão

Digby isso como um milagre e que Deus teve visivelmente posto a mão.

Na manha de segunda-feira dia 25 desse mês o rei enviou de Granuche para me

dizer que estaria vindo ao seu palácio em Witall (Whitehall) às três da tarde, e que o agradaria

bastante em me ver, se eu me encontrasse bem o suficiente para ter uma audiência. Ele veio e

eu fui. Indo para falar com ele. Quando ele se sentou, ele me disse, com grande juramento,

que estava envergonhado em olhar no meu rosto, pois ele era um homem correto e ainda havia

muitas razoes que ele fosse tido como oposto. Ele esperava que eu acreditasse e que eu sabia

da sua sinceridade, mas o (numero de ) outros, guiados por mau procedimento de seus

ministros, was so great that he did not know how i would be able to reassure your majesty nor

he the world.

Ele colocou a culpa em si de tal jeito, que me pareceu que nenhum representante

ou vossa majestade terão sucesso em faze-lo mais rigorosamente não com os detalhes com os

quais ele fez, pois os prejudicariam mais.

Ele continuou a se desculpar com sabedoria, fazendo evidente para mim, em cada

passo, muitas particularidades pelas quais eles o desapontaram, e a conclusão de cada um foi a

seguinte.

Sobre a questão da Bohemia ele se mostrou absolutamente sem culpa, o que foi

bem provado pela continuidade em não declarar tanto seu genro ou seu neto rei, nem em dá-

los um ducado, como ele não os daria. Esse negocio de Norte abriu seus olhos enato ele pode

ver quão verdade era aquela que eu dissera a ele muitas vezes, que seus reais inimigos o

confundiram insensivelmente em coisas contra vossa majestade das quais logo depois não

teria escapatória. Esse negócio foi desse caráter. Se tivesse outro aqui, que pudesse ter

desejado se mostrar leal e eficaz ao rei, ele já teria enviado despachantes lhe dizendo que ele

não deveria confiar no rei da Inglaterra, pois ele falava muito bem mas agia muito maléfico.

Mas era também certo que eu estava servindo vossa majestade melhor que ele, pois nesse

negócio muito foi ganho e vossa majestade continuaria o sereno lorde da América, a

solicitação ganhou em diversos julgamentos contra Inglaterra, e confirmou com o sangue de

Waltero Rale e Norte. A rainha Isabel (Elizabeth I) não agiu de acordo com o pacto, nem

desejar retornar o dinheiro que ele roubara apesar de estar em boa paz com vossa majestade e

tendo aqui residente um embaixador espanhol. Mais isso não iria acontecer no tempo OF THE

COUNT OF GONDOMAR, e que ele está sabendo de minhas aflições. Ele me disse três ou

quatro vezes ter me implorado de ter pena dele, e consola-lo e ajuda-lo. A proclamação já

estava feita e todos os papeis do barão norte foram apanhados, para ver se havia alguma coisa

neles sobre ajuda ou favorecendo seu irmão. Ele o fizera de tal modo que o capitão não

poderia escapar. Ele disse que esperava agora eles não o desapontariam mais, e que eu estava

vendo quão diferentes as coisas eram aqui TO WHAT I HAD FOUND THEM, pois ele estava

os direcionando, a fim de dar completa satisfação a vossa majestade.

Eu o disse que estava apreciativo da justiça que ele estava me dizendo, e que

esperava que ele estivesse satisfeito. Ele me disse sobre essas coisas tão particular e

informações de cada um, que eu não tinha nada para acrescentar, em el hecho ni em el

derecho, mais que isso que acreditava no que ele havia me dito, e que me agradava, pois a

evidencia de compreensão e boa vontade irão saltar aos olhos. Eu disse que o implorava desde

ele estava me fazendo tantos favores, que ele deveria considerar cuidadosamente a evidencia e

a discussão que estava cercado por inimigos que gostariam de vê-lo em necessidades e

aflição, levando-o a guerra com vossa majestade, e que esse era o ponto mais importante, pois

por outro lado, isso ou aquilo poderia ser suficiente, e um dia eles colocariam fogo em minha

casa e na dele.

Ele me disse que eu deveria ver desde daquele dia quão diferente o mundo estava.

Isso eu devo assegurar a vossa majestade, e faze-lo em seu nome, sua palavra e a minha,

durante sua existência, ele nunca daria um comissão ou assistência para o comércio, conquista

ou colonização nas Índias Ocidentais. Que mesmo o rei da França, que era irmão de vossa

majestade, nem a outro príncipe ou republica faria tal coisa. Outrora os holandeses eram

constantemente insistindo aos ingleses que se unisem a eles nas navegações para as índias

ocidentais, e ele achou que aqueles dessa companhia, a qual ele estava agora licenciando,

deveria ter ido com esse objetivo. Mas ele matou e derrotou tudo aquilo, e que eu pude

declarar como um grande serviço feito por vossa majestade, desde que era certo que (sem)

mim ele não teria evitado-o.

Pois é bom que vossa majestade possa ter um escrito autentico registro desses

assuntos, e ele mesmo tem um, eu perguntei a esse rei de uma das coisas que ele faria. Com

Waltero Rale eu forçá-lo-ia depois de cumpri-lo superar grandes dificuldades. Eu o pediria

que para minha proteção, ele pudesse me fazer o favor em ordenar o marques de Boquingan a

escrever um documento me dizendo aquilo que ele estava me dizendo. Ele me disse, pois não,

e deste modo ele (Buckingham) o escreveu para mim, e eu o envio aqui, o original, e o

traduzido a vossa majestade, o que vossa majestade ordenará que seja preservado.

Não parece que o capitão Norte agora possa fazer algum mal apesar que eles não

possam pega-lo, mesmo que ele resolva em se tornar um pirata visto que ele não possa ter

nenhuma ajuda daqui, é certo que ele mesmo se arruinará. Mas ainda penso que sem perda de

tempo vossa majestade deva ordenar que o rio Amazonas seja explorado. Eles me garantem

que há alguns ingleses e holandeses lá, e que Norte poderia ter chegado, e que seria fácil

expulsa-los e puni-los severamente e assim evitar outro incidente como esse que vimos aqui.

Não posso garantir que ele estará pronto pra voltar em poucos meses, mas agora parece que

fizemos bem em ter ganhado mais do que o rei me disse. E é verdade. Que meu Deus guarde a

pessoa católica que é vossa majestade. Londres 30 de maio de 1620.

Eu não acho impossível quebrar a aliança e a companhia para as Índias ocidentais

entre os ingleses e os holandeses, negociando com eles como é conveniente.

A REAÇÃO COM O RETORNO DE NORTH

a. Conselho privado, 6/16 de janeiro de 1621

Uma ordem a Hugh Peachie um dos menssageiros de câmara de sua majestade

para trazer o capitão Roger North BEFORE THEIR LORDSHIPS TO ANSWEAR.

Uma ordem para entregar o capitão Roger North à torre (fortaleza) de Londres.

b. O marquês de Buckingham ao conselho de Gondomar, 6/16 de janeiro de

1621

Meu honorável senhor

Tão logo que eu saiba da chegada do capitão North, eu farei, eu farei com que seja

preso, o que para o presente era mais do que podia ser, sendo um cavalheiro de uma casa

nobre, e muito fraco e doente, pela razão da labuta. Mas agora ele está de certa forma com boa

saúde, sua majestade deu o comando de envia-lo como prisioneiro da Torre. Seu navio e

carregamento de tabaco (o qual meu oficial que ficou nas terras ocidentais, com outro recente

preso em Falmouth, (sendo um Spanish Bottome, carregado com vinhos canarie (como fui

imformado) e levado por homens holandeses) IS TO COME ABOUT FORTH WITH (de

acordo com uma ordem especial que eu dei para esse propósito) para esse porto de Londres.

Por isto your Lordship, possa provar quão verdadeiro sua majestade pretende ter

correspondência com sua majestade da Espanha para a preservação da paz.

Que Deus sempre guarde your Lordship – da corte a 6 de janeiro de 1620.

c. do conselho de Gondomar à Philip III, 17 de janeiro de 1621.

O capitão North chegou ao porto de Artamua (Dartmouth) com o navio que deixou

este reino. Fiquei sabendo disso e falei com o rei e com o marquês de Bocquingan sobre isso.

Assim foi uma vez ordenado que eles deveriam prende-lo e embargar o navio, como foi feito,

e mesmo que o capitão retorne doente, o rei me disse que o colocará na Torre (fortaleza)

como um traidor, e assim fará justiça.

Até agora o que fiquei sabendo sobre sua viajem é que ele foi ao rio Amazonas,

como disse à vossa majestade. E lá ele encontrou alguns irlandeses e ingleses que estão

naquelas terras a mais de doze anos, na companhia de índios, semeando e cultivando tabaco,

alguns deles ele trouxe de volta nesse navio, e alguns dos irlandeses que lá encontrei. Ele e

aqueles que voltaram com ele juraram que eles não cometeram nenhum ato hostil contra

qualquer súdito de vossa majestade, nem contra qualquer um, e disse, e eu afirmo, que é um

ato hostil, de ter assentado homens no território de vossa majestade, quebrando a ordem do rei

e o embargo que ele não deveria fazer essa viagem.

Mesmo assim esse rei mostra sentimento e me oferece o recurso e a punição para

tal, como demonstrou ao cancelar a patente e desfazer a companhia. Eu sempre disse à vossa

majestade que eu não manteria isso para algo seguro. Assim eu imploro vossa majestade que

devesse dar ordens para levar e destruir esse navio e os poucos homens que foram nele, pois

pra cá, o importante remédio é a lição aprendida com a perda. Sua majestade dará ordens para

tal.

Que Deus guarde vossa majestade.

Londres 17 de Janeiro de 1621.

O marques de Boquingan, um pouco atrás, escreveu-me nessa carta a qual eu envio

aqui à vossa majestade, a original e a tradução, na qual parece que o rei está fazendo todo

esforço que ele possa fazer agora.

d. O COUNT de Gondomar para Philip II, 16 de fevereiro de 1621 (pp.218-

19).

...como do mesmo modo foi um bom exemplo o aprisionamento do capitão Norte,

que está na Torre aqui, seus pertences e seu navio embargado o qual ele foi ao rio Amazonas,

como aconselhei vossa majestade numa carta de 17 de janeiro. Apesar da qual o barão Norte,

seu filho, e o duque de Linox e muitos outros estão fazendo grandes suplicas que eu deva

interceder ao rei em perdoá-lo desde que ele não tenha feito mal ou ofensa a qualquer súdito

de vossa majestade. Aqueles que estão intercedendo por ele dizem que vão enforcar-se se

acharem o contrário, e que ele partiu sem permissão, desesperado, e retornou quando seus

suprimentos haviam terminado. Eles tentam justificar essa intercessão com que tudo que

possa ser clamado à serviço de vossa majestade já está arquivado, essa é a destruição da

companhia que foi formada para o rio Amazonas, (...). Eu apenas disse à eles que esse era

território de vossa majestade, e assim eles não irão mais lá.

E com essas condições, favorecendo o perdão, me parece, no fim, que desse jeito o

assunto será mais seguro e esquecido que com o derramamento de sangue.

Eu sei que o rei deseja que eu seja dessa opinião, pois ele, Norte é de uma

poderosa família daqui. Parece-me que vossa majestade ficaria contente em ordenar um

reconhecimento desse rio Amazonas, pois eles me dizem, em boa autoridade, que há, no

presente, alguns irlandeses lá e que estão decididos em ir da Holanda para fazer colonização.

e. O conselho privado para o tenente da torre, 28 de fevereiro/10 de março de

1621 (p.219).

Uma carta para o tenente da torre solicitando a liberdade do capitão Roger North

antes entregue prisioneiro.

f. Procedimentos no parlamento sobre os negócios da Amazon Company, abril

1621 (p.219-22).

Terça-feira à tarde, 10/20 de abril de 1621. Grand Committee.

Uma petição foi preferida no interesse de cem cavalheiros e outros deixados no rio

Amazonas that they might either be releived or fetched away.

Manhã de sexta-feira13/23 de abril de 1621. Grand Committee.

Uma petição foi enviada pelo capitão North que pela virtude de suas carta patentes

de vossa majestade ele empreendeu uma viagem a plantation no rio Amazonas, fazendo

contratos com muitos aventureiros (negocistas) e associados em seu afastamento a patente foi

passada e em sua vinda para casa os bens que ele trazia confiscados por reclamação do

embaixador da Espanha; so that by this meanes and the adventures not performing their

convenant, ele está incapacitado to releive or fetch away cem homens que ele deixou para a

plantation.

O estado dessa causa foi posteriormente aberto por Thomas Roe. O rio tinha sido

descoberto trinta anos atrás por ele.

Essa viagem estava em longa preparação, nunca interrompida até eles estarem em

Plymouth. As partes interessadas convocaram o conselho, não era pensado ser conveniente

escuta-los contra o embaixador espanhol, mas era urgido o renuncio de suas patentes. O

tabaco em questão foi feito pelos homens sir Thomas Roes e pelo transporte era cabida a

quinta parte ao capitão North. Uma petição foi oferecida por ele no almirantado but was

stayed pelo embaixador espanhol reivindicando o tabaco.

Três coisas estando em questão (1) o título, (2) as pessoas, (3), os bens. Foi citado

em deixar o primeiro e pensar em alguma providencia para as outras duas.

Por outro lado foi alegado que sem determinar o primeiro não poderíamos julgar

os outros dois se eram intrusos ou invasores, eles não tinham direito ao tabaco, for the interest

of the soile carryeth with it all that growes uppon the soyle. Era necessário para o

encorajamento de outras plantacions tirar esse título dos espanhóis, se isso for concedido na

divisão do Papa Alexander VI, então aquelas em Virginia e as Summer Ilands estão no mesmo

caso.

Por outra parte. Devemos primeiramente considerar se podemos convocar o

embaixador espanhol, pois sem escutá-lo nenhum julgamento pode ser feito. E será do mesmo

modo bom saber a satisfação do rei.

Por resposta: um presidente foi incitado de um julgamento in the kings bench entre

um Pounters e o rei da Espanha por algumas madeiras do Brasil, que era reivindicado como

crescendo naquelas partes do continente que pertenciam ao rei da Espanha. Ambas as partes

joyned issue e o rei da Espanha chamado à corte, não aparecendo foi desistência 12Regis.

Se o rei se mostrasse desaprovado, é para ser considerando ser de interesse of the

subject be thereby extinguished for by the law of nations any body may make use of a desolate

country whereof no body is in possession.

Para os bens, duas coisas foram recomendadas à casa. Que a interrupção da

solicitação oferecida na corte dos almirantes mostrou ser removida, sendo contra a liberdade

de um assunto a ser trancado em seu legal procedimento. Que o tabaco foi sujeito a se

deteriorar it might be delivered uppon bayle to answear the vallue, e algum fornecimento para

o comprador do rei. O qual o ponto foi proposto que, pela patente, clinete e imposto foi

discharged mas, que a patente sendo entregue , há demandada 2 per librum, a qual carga irá

desemcorajar qualquer homem for bayleinge it. Como ajuda foi ofertado para a consideração

do comitê, essa capitulação sendo feita por dez, considerando cinqüenta era auxilio, se o ato

daqueles dez mostrasse se ligar ao resto.

Para as pessoas. Que os aventureiros deveriam ser comandados para envia-los

embora ou supri-lo de acordo com, seus contratos.

Terça-feira a tarde, 17/27 de abril de 1621. Grand ommittee.

Senhor Edward Sackfield. Em adiantado, e discursos de uma petição do Mr. Roger

North ao parlamento, que os bens sejam vendidos, e quando o direito proprietáio é conhecido.

Logo em seguida, que os cavalheiros que estão afastados possam ter alguns meios de socorro

lá ou para serem enviados para casa, e por isso requerer o rei pelo comitê. Esse senhor North

foi denunciado, pois as esposas dos marinheiros queriam uma retribuição.

TEXTO IV

A RENÚNCIA DOS COLONIZADORES INGLESES E IRLANDESES, 1620 -25:

PRIMEIRO COMBATE CONTRA OS PORTUGUESES.

RELATÓRIO DO CONSELHO DE ESTADO À PHILIP IV EM MEDIDAS

PARA EXPLORAR O AMAZONAS E LIMPÁ-LO DE INTRUSOS ESTRANGEIROS,

28 DE SETEMBRO DE 1621. Pág. 233-36.

Majestade;

Em uma consulta a qual o conselho fez em 24 de agosto desse ano, representações

foram feitas à sua majestade cobre o que o conde de Gondomar escreveu na navegação,

colonização, e no comércio o qual os irlandeses, holandeses, e ingleses fizeram no rio

Amazonas, a fim de desalojá-los do ponto que eles haviam tomado, seria conveniente que

vossa majestade estivesse satisfeito em comandar; navio bem suprido fosse enviado para o

reconhecimento daquelas costas e posto em fuga WHATEVER PEOPLE THERE MIGHT BE

ON THEM. E o conselho estava de opinião, na consulta, que esse assunto pudesse ser

considerado nas assembléias de Portugal e Índias, e através desse tribunal, ou por ambas as

partes, a preparação e o despacho desse navio poderia ser despachada com muito mais

brevidade e vigor. Para o qual vossa majestade estava satisfeito em responder, que o marques

de Montes Claros deveria discutir esse assunto com Gaspar de Sousa, ex-governador do

Brasil, e o que deveria resultar dessa conferencia deveria ser considerando nesse conselho,

como condição que o conselho deveria opinar sobre tudo.

Em cumprimento das ordens de vossa majestade, o marques de Montes Claros se

informou através de Gaspar de Sousa em tudo que ocorreu nesse assunto desde o seu começo,

e sua atual situação, sobre o que ele se refere em um documento em anexo, a essência do que

é resumido aqui.

Os irlandeses continuam com o comércio, apesar de que com menos forças; os

ingleses tinham apenas chegado naquelas terras; os holandeses, não se sabe se fizeram alguma

fortificação ou defesas; os franceses forem expulsos pelas armadas enviadas para essa

(objetivo) do Brasil, assim eles pretendiam retornar e ocupar a foz de outro rio o qual eles

chamaram de Gran Pará. E considerando isso, parecia para o marques de Montes Claros, de

uma grande importância para o estabelecimento de colônias, em intervalos, toda costa do

Brasil a San Thome de Guyana e Bocas del Drago, em todas as bocas dos rios. Em todas

aquelas as quais deveriam ser de tal largura que a artilharia não pudesse alcançar de um lado a

outro, ambos os lados deveriam ser guarnecidos de fortes ou fortalezas. Assim não seriam

reocnhecidas as nações do norte, os portos que lhes deveria estar aptos em encontrar lá

fazendo armadas contra as índias ocidentais, tão bem quanto os portos os quais, em qualquer

ancoradouro daqueles rios, seriam dados aos piratas para obstruir comercio mercantil de

Cumaná, Cartagena e Santo Domingo, e mesmo impedir as armadas e Flotas de vossa

majestade. Além de que ao longo de toda a costa há oportunidade de fazer expedições no

interior, dentro das províncias as quais há rumores de que grandes riquezas foram feitas,

apesar de que eles procuraram por muita parte e até agora sem resultado, talvez pela carência

de vantagens (fortes nas bocas dos rios). Pela demarcação de Papa Alexandro o sexto, na

divisão do mundo em duas coroas, a de Castile e a de Portugal, toda terra e mar que se

localiza a 180 graus do rio Marañón para o ocidente pertence a coroa de Castile e deve ser

conquistada e colonizada. Apesar de, considerando o presente das forças de vossa majestade

nas índias Ocidentais, e da dificuldade e do custo mesmo que seja possível formar uma

armada e aumentar as colônias espanholas nas províncias vizinhas da costa, e considerando

que os portugueses tomaram uma atitude bem adiantada, e que podem continuar fazendo

melhor nas redondezas do Brasil, parecia para ele que o projeto poderia ser proseguido de lá.

Visto que como eles já tinham um forte e uma colônia no rio Amazonas a qual nós chamamos

de Orellana e os índios do Grão Pará, e que as noticias de colonização de ingleses e

holandeses está na outra margem do rio, seria possível do forte, com um ou dois botes de

fundo plano, e pessoas experientes passando ao longo do outro lado, para viajar ao longo do

rio, fazendo uso da maré, a qual passa cento e noventa léguas ao longo dele. Logo seria

possível ocultar deles o que há lá, pois, além do fato que os estrangeiros que podem ter

chegado lá não estariam preparados para irem mais adiante do ponto que a maré os ajudariam,

pela dificuldade das fortes correntes, é certo que nas margens do rio, muito antes da

colonização, o cultivo de roças e outros sinais poderiam ser encontrados os quais os

advertiriam da presença de estrangeiros. Tendo descoberto a verdade eles estariam prontos

para cruzar o rio e retornar pela costa pelo lado sul e, saindo da maré e das correntes

favoráveis, em um pequeno tempo eles chegariam ao forte de onde eles partiram informados

de tudo que há em ambas as margens dos rios. Logo seria possível chegar a uma decisão e

providenciar o que seria necessário para desalojar aqueles que estivessem lá. Em ordem a

executar isso com grande facilidade e se direcionar adequadamente para esse propósito,

representantes de ambas as coroas eram necessários, lhe parecia que Vossa Majestade poderia

ordenar que eles trocassem idéias juntos para tal. Logo tudo viria para conclusão desejada e

com a velocidade que estimula as ações militares das tais províncias distantes.

A assembléia viu que o que foi oferecido pelo Marques de Montes Claros,

coincidia com sua opinião.

Vossa Majestade ordenará nisso que pelo qual você deve ser bem servido, em

Madri, 28 de setembro de 1621.

RELATÓRIO DE JOHN SMITH SOBRE AS COLÔNIAS NORTE DO

AMAZONAS, 1620-5. Pág. 236.

Dessa maneira esse negócio ficaria sem atividade por muitos anos, até o Sr, Walter

Rauleigh, acompanhado por muitos soldados e bravos senhores, foi em uma ultima viagem

para Guiana, juntamente com que estava capitão Roger North,, irmão do legítimo honorável o

senhor Dudley North, que nessa viagem, ficando e vendo muitos rios acima da costa, fez uma

ligação com essas terras: tendo antes dessa viagem perfeitas e particulares informações da

qualidade superior do rio Amazonas, acima de qualquer um, por uma certa quantidade de

ingleses voltaram tão ricos daquele lugar com ótimas mercadorias, eles não iriam com o Sr.

Walter Rauleigh na procura de ouro; que após seu retorno para Inglaterra, ele tentou com suas

melhores habilidades interessar seu país e estado naquelas regiões, o qual encaminhando

através de cartas patentes para muitos nobres e senhores de talentos, ERECTED INTO A

COMPANY AND PERPETUITIE FOR TRADE AND PLANTATION, NOT KNOWING

OF THE INTEREST OF CAPTAIN HARCOTE.

Depois de acompanhado por cento e vinte homens e outros, com um navio, um

pinnace, e dois shallops,para permanecer no país, ele partiu de Plimouth no último dia do

mês de abril de 1620 e dentro de sete semanas no Amazonas, com apenas a perda de um velho

homem, eles seguiram por algumas centenas de léguas acima rio acima para assentar seus

homens, onde avisao do lugar com pessoas tão contentes, que nenhum homem pensou em

estar tão feliz. Alguns ingleses e irlandeses que viveram lá por uns oito anos, somente

abastecidos por holandeses.

Tendo feito uma boa viagem, ele retornou à Inglaterra com grande quantidade de

mercadorias além do tabaco.

Assim pode ser bem compreendido, que se essa atividade não tivesse até agora se

cruzado, a generalidade da Inglaterra tivesse até o presente momento obtido sucesso e

encorajado naquele lugar. Mas o momento ainda não chegou que Deus tivesse executado seu

grande negócio, pela razão do grande poder do Lorde Gundamore, representante do rei da

Espanha, teve na Inglaterra, para impedir e arruinar esses procedimentos: e o infeliz capitão

North estava nesse negócio, ele foi por duas vezes prisioneiro da torre, e os bens detidos até

estarem deteriorados.

Apesar de tudo isso, aqueles que ele deixou no Amazonas não iriam abandonar o

lugar. O capitão Thomas Painton, um ilustre cavalheiro, his liutenat being dead; capitão

Charles Parker, irmão do legítimo honorável lorde Morley, morou lá seis anos depois; senhor

John Christmas, cinco anos; tão bem, eles não retornariam apesar de que eles pudessem, com

muitos outros cavalheiros e outros: todos desse modo necessitados de qualquer suprimento da

Inglaterra. Mas toda autoridade sendo separada, necessidade do governo fez seus

procedimentos de forma mais errada, eles tiveram alguma ajuda dos holandeses; que

conhecendo seus estados, deu o que eles gostavam e levou o que eles listaram.

Dois irmãos, cavalheiros, Thomas e William Hixon, que ficaram três anos lá,

agora estão indo ficar no amazonas, nesses navios ultimamente enviados pra lá. assim o

empreendimento se manteve nessa forma, três homens deixados dessa tripulação, chamados

Senhor Thomas Warriner, John Rhodes, e Robert Bims, que moraram lá por

aproximadamente por dois anos vieram para Inglaterra: e para estarem livres de desordens que

cresceu no Amazonas pela vontade do governo entre seus compatriotas, e para ficarem

tranqüilos entre eles, consegui recursos para colocá-los a caminho de St. Christopher; um

número de quinze pessoas, que pagaram por suas passagens num navio com destino a

Virginia: onde eles permaneceram por um ano antes de serem supridos, e então era cerca de

quatro ou cinco homens.

Esse extenso rio se localizava abaixo da linha do equador, os dois chefes

lideravam terras norte e sul, são aproximadamente três graus separados, a sua foz é cheia de

grandes e pequenas ilhas, é muito fácil para um inexperiente piloto perder seu caminho. É

considerado um dos maiores rios da América, como muitos homens no mundo pensam: e vem

com água doce, e faz o mar doce a mais de trinta milhas de sua costa.

Capitão North estabeleceu seus homens aproximadamente a cem léguas alto-mar,

enviou Capitão William White, com trinta cavalheiros e outros, para descobrir mais além; o

que eles fizeram aproximadamente umas 200 léguas, onde eles encontraram o rio que iria

dividi-los em dois grupos, até eles preencherem todas as ilhas, e uma terra mais saudável,

agradável e frutífera, pois eles encontraram comida suficiente, e todos voltaram salvos com

boa saúde.

Nessa descoberta, eles dizem que muitas cidades bem habitadas com

aproximadamente trezentas pessoas, algumas com quinhentas, seiscentas e setecentas; e em

algumas eles tomaram o conhecimento de haver muitas centenas, que se diferenciam bastante,

especialmente em seus idiomas: há muitas centenas mais, não freqüentadas até então por

nenhum cristão, muitos deles completamente nus, tanto homens, mulheres e crianças, mas

eles não viram nenhuma mulher gigantesca, AS THE RIVERS NAME IMPORTETH.

RELATÓRIO DE HARCOURT SOBRE AS ATIVIDADES DOS HOMENS

DO NORTE NO RIO AMAZONAS, 1620-3. Pág.239.

[p.5] Tais foram usualmente encontradas as boas qualidades daquelas terras, no

mencionado rio Amazonas e na moderada disposição das pessoas que habitam o mesmo, que

muitos de nossos compatriotas (os quais desde aquele tempo em que moraram lá, seis sete

oito anos ou mais), criaram um grande laço, e grande afeição por aquelas partes, que eles

desejam nada mais que aumentarem suas fortunas, logo ser empregados sob as ordens, e

proteção de suas próprias pátrias tendo até agora subsistência sem nenhum auxílio ou

assistência do mesmo.

[Um pinnace de 30toneladas velejou 300 léguas rio Amazonas acima]

Além disso, eu fui certamente informado dessas particularidades: que

(aproximadamente cinco anos desde entao) um Pinnace de aproximadamente 30tonels

chamado de Reliefe, com aproximadamente 28 pessoas, cavalheiros e outros (estando com a

tripulação a qual o nobre capitão Roger North deixou no mencionado rio Amazonas) fizeram

uma busca por suas instruções, velejou 300 léhuas acima do mesmo; esses homens estavam

todos com boa saúde: passando bem por meio de suprimentos que eles diariamente

encontravam : e eles encontraram muitos locais habitados e ouvindo fama de outros. E

também (pelo manos) eles encontraram com semelhança um freqüente relatório entre os

índios de certas ilhas, (uma nação de mulheres guerreiras no rio Amazonas, que não admitiam

homens entre elas) não longe delas , habitada por somente mulheres, que deixaram uma

convicção em toda tripulação, da verdade e da certeza daquilo. A fama dessas mulheres

estava, em que pela sua pratica em guerras, elas eram temíveis para seus inimigos e vizinhos;

e elas admitiam (em alguns meses e períodos) a companhia de homens, com outras maneiras,

e cerimônias, ainda não conhecida perfeitamente pelos cristãos.

O seu futuro procedimento acima do mencionado rio, estava tampouco retardado

por qualquer sofrimento, má vontade, cansaço em tal empolgante descoberta, encantando-os

diariamente com uma variedade de coisas, e batalhas: causadas por divisões entre eles,

iniciando uma parada em todos os negócios na Inglaterra, a respeito do que eles tiveram um

anúncio, pelas Proclamations realizada entre eles.

Deveria parecer para essas partes da Europa ser uma coisa incrível a qual esses

homens certamente afirmam, por esta descoberta; isto é, que eles encontraram uma expansão

e uma redução da água (de acordo com o curso da maré) aproximadamente dois ou três pés,

promoção de sua jornada, sendo (como já mencionado) aproximadamente 300 léguas da

entrada de seu trajeto que eles fizeram dentro do dito rio.

( the count of Gondomar) a aqui eu acho apropriado dar noticia do procedimento

de um Spanish Ambassadour ( no espaço de tempo em que habitou na Inglaterra) contra esses

homens, assim que ele os conseguiu para serem todos abandonados pelo seu próprio país,

pelas suas falsas sugestões, e impetuosa importunidade: para não contentamento e satisfação

de ter feito uma suspensão de todos os procedimentos sobre a patente do Amazonas, tão bem

começada, e localizado aqui na Inglaterra ele ainda estava transtornado pela partida de cem

pessoas naquelas partes, (ainda que como dito, necessitados de tudo que esperavam, e

suprimentos prometidos) e clandestinamente fizeram um despacho para Espanha, para

procurar uma força para vence-los e arruiná-los: em conseqüência do que três navios foram

enviados da Espanha, que tinha suas direções e procurações para atacar o Brasil, e levar até lá

uma força competente para desempenhar no mesmo; (um tentativa feita pelos espanhóis para

arruinar os ingleses) o qual navios com 300 portugueses e espanhóis acompanhados com

aproximadamente 1500 de seus índios em seus Periagos (grandes botes indígenas) vieram ao

rio na perseguição desse plano, mas sendo obrigados a parar muitas marés, e passar muitos

canais estreitos, antes que eles pudessem vir para nossos compatriotas, eles eram observados

bem de perto por eles e seus índios, que muitos de seus mencionados inimigos foram mortos

em emboscadas no caminho, abrigos fechados servindo do nosso lado para uma bastante

redução de pessoas; o qual a vantagem era ainda seguir os inimigos depois que eles se

alojassem: mas pela razão da vontade do governo, e pelo nosso pequeno numero que

espalhados, alguns não, e outros que não poderiam convenientemente se reunir, meio (pelo

menos) foi dado para os inimigos, hasteando bandeira mais adiante no país e nas partes dentro

da ilhas (onde eles possam permanecer seguros contra uma grande força) então os inimigos

não teriam audácia para futura tentativa, depois de danificarem algumas casas, foram forçados

a se retirarem para seus navios, e deixar o rio, deixando alguns de seus homens, então para

começar a actuall possession, a qual o conde de Gondomar afirmou a dois anos sendo de

interesse de Vossa Majestade, quando ele obteve a suspense da supracitada patente do

Amazonas, e todos os procedimentos com referencia a isso; o qual seu ato, pode (talvez) pode

ser estimado no numero de suas melhores praticas entre nós.

(Os holandeses mortos pelos espanhóis) o planejado plano para nossos homens, foi

dolorosamente, ao mesmo tempo, foi posto em pratica em vários holandeses, para a perda se

suas vidas, pois eles estavam não tão bem assentados, e mais abertamente expostos aos

inimigos nas margens, ou em ilhas do rio principal, (fortes holandeses de Orange e Nassau no

Xingu).

(Os espanhóis afugentados pelos ingleses), os homens lá deixados pelos espanhóis,

foram posteriormente afugentados pelos ingleses embarcando nos próximos navios

holandeses que vieram para o rio.

RELATÓRIO DE UMA VISITA PARA AS COLONIAS INGLESAS E

IRLANDESAS ENTRE 22 DE OUTUBRO E 4 DE DEZEMBRO DE 1623, BY

WALLOON SETTLERS BROUGHT OUT TO THE RIVER BY THE DUTCH WEST

INDIA COMPANY.

Na segunda-feira dia 16 o vento vindo do sudoeste e posteriormente vindo do

sudeste – nosso curso oeste sul oeste, a fim de dirigir ao rio Amazonas. Ao meio dia nós

atingimos 1 grau 35 minutos. Nesse momento tivemos a visão de um navio o qual estava

vindo do mesmo caminho. Se juntando, nós pensamos que fosse Pieter de Flixingues

(Flushing), que deixou Pleimouth antes de nós. Continuamos juntos, nosso curso para o oeste

um quarto sul. À noite vimos novamente a estrela do norte.

Na terça-feira dia 17 o vento leste uma quarta sul – OUR COURSE WEST A

QUARTER SOUTH. Ao meio dia estávamos aproximadamente 1 grau cinco minutos norte da

linha.

Na quarta-feira dia 18 o mesmo vento e o mesmo curso. Ao meio dia estávamos

aproximadamente 47 minutos. Agora estávamos a sudoeste um quarto sul.

Na quinta-feira dia 19 o vento leste – nosso curso antes. Ao meio dia estávamos 35

minutos. Agora percebemos que a água se mostrava empalidecida e encontrávamos o fundo a

23 braças, fundo arenoso; a noite constatamos 8 braças, o que fez nos dirigir para oeste um

quarto norte; a meia-noite seguimos noroeste para alcançar o cap. Nord e duas horas depois

ancoramos em 7 braças, fundo arenoso.

Na sexta-feira dia 20 às 6 horas da manha levantamos ancora – vento este – indo

norte oeste. Ao meio-dia estávamos em latitude 1 grau 53 minutos norte. Duas horas depois

vimos o capitão Nord a oeste norte oeste de nós. Se passara cinqüenta dias desde que

deixamos Pleimouth. Fizemos pelo lado que se projeta ao Amazonas, e nos direcionamos

sudoeste, navegando todo tempo em 8,7 ou 5 braças de água. Logo avistamos a primeira ilha,

em direção a qual saímos e mantemos para sua direita ancorando aproximadamente no meio.

No sábado, dia 21 levantamos ancora, viajando ao longo da costa da ilha, tão perto

que poderíamos atirar um pedra sobre ela, o que fizemos, passando por outras mas não tão

perto, até termos vindo para a direita do rio, cruzamos rumo a ilha de Sapno, construindo

uma aldeia. Essa vila tem três longas casas construídas no canto do rio. Os índios Maraons

nos disseram que os espanhóis estavam acima do rio e que eles tomaram um navio holandês

perto de Sapanoke, o que nos determinou a persegui-los, após termos obtidos mantimentos

frescos; mas Pieter Janss se enfadou em um banco de areia a leste da vila aproximadamente

dois mosquetes atiraram o que nos forçou a ancorar.

No domingo Pieter Janss enviou seu pinnace em direção a Sapanopoke. Com alta

maré levantamos ancora, mas Pieter Janss encalhara novamente.

Na segunda-feira levantamos ancora novamente, vendo que Pieter Janss estava nos

fazendo perder tempo com o interesse de dar ao seu pinnace uma oportunidade de

comercializar com os ingleses e com os irlandeses. Fomos para o sudoeste na direção de uma

pequena ilha entre Sapno e Quariane, não navegando perto de Sapno pelo motivo de haver

bancos de areia os quais vêm do ponto de Wetalj. Daquele lugar fomos em direção as ilhas de

Arouen, mas Pieter Janss seguiu seu barco num banco de areia que vinha do ponto norte da

ilha de Arouen. Passamos por uma forte corrente de duas braças de água, e ancoramos na

metade do caminho abaixo da mencionada ilha antes de uma vila.

Na terça-feira dia 24 Pieter Janss nos encontrou. Em alta maré levantamos ancora,

viajando ao longo da costa da ilha, mas quando estávamos ansiosos em passar da extremidade

daquela ilha para o continente Pieter Janss encalhou de novo, e retornamos para viajar ao

longo da costa das ilhas.

Na quarta-feira dia 25 estávamos ancorados ao norte de Rooden Hoec.

Na quinta-feira dia 26 fomos em direção a Rooden Hoec, indo oeste um quarto sul,

passando entre dois bancos de areia; mas quando nos aproximávamos do continente vimos

algumas rochas na distancia de um tiro de mosquete da mencionada Roden houc, o que nos

manteve ainda em mar alto. Passamos entre o continente e a ilha de Tapelraka pelo canal 300

passos (medida de comprimento) amplos e 4 e 5 braças fundos.

A ilha de Tapelraka e o continente são elevados acima do nível da água mais de 15

pés. Na passagem do canal vimos uma alta ilha na boca de um bonito e profundo rio, onde

ancoramos, pensando que fosse Sapanopoko.

Na sexta saímos do dito rio, indo em direção ponto norte de Sapanopoko, mas

encalhamos em um banco de areia perto de duas pequenas ilhas as quais estavam entre as

ilhas de Sapanapoko e Tapelraka. Em uma alta maré conseguimos nos desencalhar e fomos a

vila de Sapanapoko, viajando todo tempo ao longo da ilha em uma boa profundidade. Lá

ancoramos. Encontramos o Pieter Janss, o qual já tinha desencalhado, e que já tinha se

encontrado com os ingleses e os irlandeses. Eles nos garantiram que Pieter Arianss de

Flixegue fora atacado por um grande navio espanhol que tinha 8 canhões de bronze e 120

travas de mosquetes, após lutar por um dia e uma noite, tendo somente 32 homens e dois

pequenos canhões e vendo que ele não poderia se salvar de se encalhar num banco de areia na

foz do Okiari, ele pos fogo em seu navio.

No sábado aprontamos nosso pinnace.

Na segunda-feira (domingo) dia 29 levantamos ancora para irmos ao rio Okiari,

onde os ingleses estavam. Passamos pela linha equinocial, que cruza a pequena ilha entre a

vila de Sapanapoko e Caillepoko.

Na terça-feira (quarta) primeiro dia do mês de novembro, chegamos perto de Pieter

Janss ancorado num rio, onde os irlandeses moravam.

Na quinta-feira estávamos ancorados antes do rio Okiari 40 minutos a sul da linha,

entre o mesmo e uma ilha oposta.

No mesmo dia fomos ver Tilletille, uma colônia inglesa seis léguas dentro do

mencionado rio. Encontramos um agradável lugar, com poucos bosques e alguns pequenos

lagos, mas o lugar na maior parte era deserto.

No sábado, dia 4 chagamos ao nosso navio.

No domingo, dia 5 fomos a Quarmeonaka entre as colônias inglesas, cinco léguas

mais acima da outra no mesmo rio, esse também era um terreno agradável. Em ambos os

lugares os ingleses tinham muitos campos para a plantação de tabaco.

Na terça-feira, dia 7 já de volta ao navio, o mestre nos perguntou se esses lugares

nos agradaram, o que respondemos Não! – não para estabelecer famílias lá, pois os espanhóis,

já estando estabelecidos no Pará, do lugar que ele poderia ir e vir como quisesse com a ajuda

das marés no rio Amazonas, se ele soubesse que havia famílias lá, não enfraqueceria em

visitá-los para matá-los; enato foi pensado melhor ir ao longo da costa em procura de algum

rio para o qual o inimigo, se viesse do Pará ou maranhão, não poderia retornar sem passar por

Essores (azores), em busca do vento, e não poderia trazer índios.

Na quinta-feira, nove de dezembro, deixamos Okiary para retornar a Sapanapoko.

Na sexta-feira dia 17, o mestre, vendo que não poderia tampouco nos deixarou nos

induzir a ficar com os ingleses, partiu TO THE ENGLISH 150lbs. OF COUCAUL, 150

AXES, AND A BARREL OF POWDER CONTAINING 100LBS. depois de terem feito um

pacto com eles em nome da companhia (Dutch West Índia Co.) ele os deu um banquete, e

como ordenou o canhão ser queimado e apressou a artilharia que o fizesse; o canhão derrubou

o mastro de nosso pinnace e feriu três pessoas. Isso ocasionou uma disputa entre o mestre e o

marinheiro que lhe deu as noticias da costa onde eles estavam bebendo; o mestre foi ferido

duas vezes com uma faca. Finalmente quando eles estavam pra pega-lo, vulneráveis pelo

vinho, ele se atirou na água.

No sábado dia, 18 o mastro do pinnace estava consertado.

No domingo, dia 19 os ingleses partiram, nosso pinnace os transportando e seus

pertences.

No domingo, dia 26 partimos de Sapanapoko e ancoramos em Tapelrake.

Na segunda-feira, dia 27 ancoramos antes de Roden Houc e desembarcamos com

muita oração. Encontramos um lugar muito bonito coberto com campinas, encontramos

muitas frutas chamadas Guaves (goiabas) que são do tamanho de uma pequena laranja e tem

um ótimo sabor. Andando em volta encontramos um cemitério cheio de vasos feitos de barro

de diferentes formas e dentro deles ossos dos mortos.

Na terça-feira, dia 28 atravessamos o continente em direção as ilhas, onde ficamos

encalhados entre a ilha Cocqs e outras ilhas.

Na quarta-feira, dia 29 ancoramos perto da ilha Arouen.

Na quinta-feira, ultimo dia do mês de novembro ancoramos opostos da vila

Arouen.

Na sexta, primeiro de dezembro, viemos opostos Sapno e daquele lugar para ilha

Nutte Muscade.

No sábado ancoramos perto dessa ultima ilha mencionada.

No domingo, dia 3, ancoramos aproximadamente no meio.

Na segunda-feira ancoramos três léguas do Cap du Nord.

Na terça-feira dia 5 ancoramos três léguas fora do mar acima do cabo.

RELATÓRIO DE BERNARD O´BRIEN SOBRE AS ATIVIDADES

IRLANDESAS NA AMAZÔNIA, 1621-4

Majestade:

Capitão general Don Bernardo Obrien del Corpio diz, que seu pai o Sr. Cornélio

Obrien estando na Irlanda, um nobre cavalheiro da casa do conde de Tomonia (Thomond) um

dos mais ilustres daquele pais, e lorde de três estados, nos quais ele mantém três castelos, foi

levado pelos ingleses no ano de 1621, acusado de perseguir grupos católicos nas guerras que

aquele reino estando em serviço da coroa espanhola, e eles confiscaram sua herança e bens.

Nesse tempo o suplicante, estando com 17 anos, estava na Inglaterra, em Londres,

onde ele com um senhor inglês chamado Sr. Henrique Roe, que era um parceiro do Sr.

Francisco Draque e sr. Valterio Ralyo (Walter Ralegh) em suas viagens. Para o qual certos

nobres e membros da câmara dos comuns da Inglaterra, com uma comissão do rei James, deu

um navio de 200 toneladas com artilharia e abastecimento para seguir em frente com as

descobertas do Sr. Francisco e Sir Valterio, e fazer uma base e uma colônia no grande rio

Amazonas, pais que informações e relatórios foram dados de sendo rico e muito proveitoso e

que ainda não foi colonizado por homens brancos. Sir Henrique Roe partiu nesse navio no ano

de 1621 com 124 pessoas e o suplicante veio entre eles, sem questionando isso com seus

parentes ou amigos, pelo desejo de ver terras e coisas estranhas.

Eles viajaram a margem do rio Amazonas, e velejaram acima dele cerca de 10

léguas, vieram para a vila e plantation de índios chamada Sipinipoca. Eles estabeleceram boas

relações com eles, se comunicando primeiramente por sinais até eles virem a entender a

língua, o que eles chamam (os índios) de Arrua. Eles foram cerca de 60 léguas rio acima para

estabelecer o que eles chamam de Pataví, desde então Cocodivae. Aqui o senhor Henrique

desembarcou 16 pessoas, 12 irlandeses, e quatro ingleses que eram servos dos irlandeses,

todos católicos, deixando-os para o suplicante como capitão, e o ordenando a manter uma boa

relação com os índios e se manter lá até ele o enviar ajuda da Inglaterra ou Irlanda. Para isso

ele o disponibilizou grande quantidade de contas, braceletes, facas, espelhos, apitos, pentes,

machados e outras pequenas coisas. Sir Francisco retornando no navio dos índios, já pensando

que estava ganhando amizades, construiu, não obstante, para sua própria segurança e dos

outros 15 cristãos um forte de madeira e barro, rodeando-o com uma trincheira e para sua

defesa ele tinha 40 mosquetes com pólvora e munição e outras armas. Esses índios lá seguiam

muitos diferentes chefes, os quais eles chamavam de bateros, e eles tinham continuas rixas e

guerras entre eles. Suas armas eram espadas de madeira, machados de pedra os quais tinham

uma alça de uma pesada madeira dois cúbitos de comprimento, arcos e flechas com pontas de

pedra, ou osso ou de uma madeira muito dura, lanças de madeira maiores do tamanho de um

homem e suas pontas eram formadas como as das flechas e em algumas delas venenosas, and

large wooden four-cornered targets. O suplicante indo algumas vezes para ajudar os índios,

ganhou a vitória para eles com mosquetes e estratégia, e através disso os ganhou para seu

lado, e os obrigou a cultivar tabaco e algodão para ele, e lhe dar a comida e a bebida daquela

terra.

Entre os irlandeses havia quatro bons estudiosos e latinistas que resolveram trazer

o conhecimento de Deus para os índios, que não tinham religião nem adoração a qualquer

coisa como um deus ou ídolo. Os cristãos persuadiram mais que 200 deles que havia um deus,

paraíso com assistência, e um inferno com tormentos após a morte.

Depois de o suplicante ter estado lá por um ano ele foi, com quatro outros

carregando cinco mosquetes e boas mercadorias, cerca de 700 léguas acima da Amazônia pela

água e pela terra, levando cerca de 50 índios armados como guias, ajudantes e interpretes de

uma vila para outra, e quatro canoas. Eles encontraram uma terra onde eles não viram nenhum

homem, mas muitas mulheres, as quais os índios chamam de Cuna Atenare, o que significa

mulheres masculinas, para os cristãos-amazons. Essas tinham o seio direito muito pequeno

como homens [trated] por ARTS então eles não cresciam, em ordem para tirar flecha, e os

seios esquerdos eram tão grandes com os de outra mulher. Elas eram armadas como os índios.

Sua rainha, que é chamada de cuna muchu, o que significa grande mulher ou dama, estava

nesse momento numa ilha do rio. O suplicante enviou a ela em sua canoa uma índia como

embaixatriz, e ela a levou um espelho e uma camisa holandesa de linho como presente e

amostra da mercadoria que ele estava carregando, e ordens que ela deveria dizer que ele não

iria ofendê-la ou feri-la; preferivelmente se isso a agradasse que ela deveria olhar o que ele

estava lhe enviando, e se ela estava satisfeita que ele pode ir e falar com ela; que se ela

pudesse lhe enviar reféns. Ela o enviou três de suas mais distintas mulheres e pediu que ele

fosse e falasse com ela. Então ele o fez. Ela o perguntou se tinha sido ele que lhe enviara o

presente. Ele disse que sim. Ela o perguntou o que ele queria. Ele respondeu que paz e

permissão para passar através de seu reino e comercializar nele. Ela respondeu que seria um

privilegio para ele e deu três de suas escravas em troca de mercadorias. Ela estava com a

camisa de linho o que ela estava bastante contente, e no final da semana, quando ele levou sua

promessa de retornar, ela e suas vassalas mostraram que estavam ofendidas pela sua partida.

O suplicante subiu o rio para uma terra onde havia índios tão selvagens que em

nenhum lugar eles os encontrariam nem o desejo deles em falar com ele. Por essa razão ele

abandonou o mesmo rio novamente e por outro rio que sai desse e corre através de terras

chamadas Harauaca, onde há pedras cristalinas e brilhantes as quais os índios valorizam

como bens para tratamentos de melancolia e problemas de raiva, tédio, eles desceram pelo rio

para a costa, onde o rio é chamado de Serenan, de lá (do norte) eles vieram por terra para a

boca do Amazonas, e de lá eles retornaram para o forte em Cocodivae.

Nesse momento um navio da Holanda chegou ao rio Amazonas, o qual o capitão

era chamado de Abstan. Eles perguntaram ao suplicante se ele achava bom que eles se

colonizassem perto, e que ele lhes disponibilizasse um interprete para comercializar com os

índios, e que eles estabeleceriam bons relacionamentos com ele e entendimentos de acordo

com seu elo. Ele respondeu que tinha cerca de 4000 índios guerreiros em sua aliança, e teria

mais se fosse necessário. Com eles ele não estava somente intencionado em manter o rio, mas

também em se estender mais dentro do território e que desse modo os holandeses deveriam

partir. Eles foram de lá par o rio Coropá, perto da conquista do Gran Pará, onde eles

começaram suas colonizações ajuda vinda para eles da Holanda e enviando tabaco e algodão.

Depois que o suplicante esteve lá por três anos fazendo diferentes viagens por

terra, ilhas e rios, chegaram a foz do rio Amazonas , e ele, pensando que o suprimento estava

vindo embarcou e achou que fosse um navio de guerra holandês que estava vindo e que estava

acompanhado por um pinnace. O suplicante, confiando a autoridade que tinha o outro irlandês

chamado capitão Don Philippe Porzel (Philip Purcell), concordou com o capitão dos

holandeses que ele o devesse levar para o velho mundo com o tabaco e o algodão que ele

tinha. O holandês muito condescente, pois falta de tabaco que tinha a Holandae a Irlanda

naquele tempo, o eceitaram. Tendo partido do rio Amazonas, eles navegaram ao redor do Cão

de Norte e procuraram o rio Canoa, o que fica em dois graus e meio de latitude. De lá eles

passaram para o rio Dulce, o qual é em três graus, ppara o sul de Serenam in6: daqui para o

Gulf de Paria em sete graus, de lá para os rios Orinoco e Guiana em sete graus a

posteriormante para a ilha de Trinidad em 8 graus, pelo cabo oriental para a ilha de Tabago,

de lá para Cumaná em nove e meio graus, para Tortuga (o qual é continente e não uma ilha),

para a ilha de Margarita em 11 graus, daqui para a costa de Caracas para a ilha de Corosao,

para a ilha de Buanos Aires em onze graus e meio. Eles direcionaram Española em 18 graus.

Eles foram pela costa da ilha de Cuba: de lá para as ilhas de S. Christoval, Monserrate, San

Martin, Antigua, Guadalupe, Santa Catholina, Nieves, Barnados e Vermuda: eles vieram pelas

ilhas de Azores em 39 graus, de lá para Flores e corva: finalmente eles encontraram Zeeland.

Em todo esse tempo examinaram os cabos, rios, as praias e os portos e viram oito navios

portugueses carregados com açúcar e outra carga, e eles deram um calculo de tudo isso ao

conselho de Zeeland.

O suplicante vendeu seu tabaco e algodão por 16.000 escudos, valor dez pratas

reales, e pegou parte do dinheiro e uma carta para coletar mais em Londres, Inglaterra e

Dublin, Irlanda. Em Londres ele deu um cálculo de seu heroísmo e colonização para seus

lordes ingleses e eles o requeriram para retornar com assistência as quais foram enviadas ao

Amazonas. Ele os disse que não poderia naquele momento, pois ficara sabendo que seu pai

estava encarcerado na Irlanda, acusado de um crime de traição. Eles o deram cartas do rei da

Inglaterra para o vice-rei da Irlanda, que ele deveria libertar seu pai e envia-lo de volta para

Inglaterra. Com as cartas seu pai estava liberto, dando segurança, para aparecer quando eles o

chamassem, e o suplicante pagando por 4000 escudos por suas despesas na prisão, mas eles

não devolveram seus três castelos, não mais que um sexto de suas terras, e em reivindicação

ao resto o suplicante demorou até ele fornecera o navio.

RELATÓRIO POR GEORGE EVELING (1627)

[F.111] Esse entendimento de um grande comércio que alguns VOLENTEERS de

nosso país fizerem na India Ocidental (o qual o tráfico eles mandaram por um comércio que

tinham com FFLUISSHINGERS) I ABOUT FOWER YEARS desde enviou um criado de

meu chamado Thomas FFanninge, WILLING HIM TO LETT ME UNDERSTAND THE

CERTAYNETYE THEAROF: o qual acordo ele fez conforme tudo que eu já ouvi, e desejava

ser fornecido com apenas vinte homens pela qual a força ele me mostrou razoes que ele

poderia manter tão bem quanto qualquer um de outras feitorias (alguns deles retornaram cerca

de 40.000 libras em um ano menos de 300 libras Cargasone) onde eu não somente trabalhei

para lhe enviar os 20 homens mas fiz tudo que pude para reunir força suficiente para ter

transportado 60 ou 100 homens,mas depois de muito trabalho e despesas comprovei a toda

pequena nobreza e comerciantes de meu conhecimento e que não poderia induzi-los a se

juntar para pôr quatro navios naquelas partes par reduzir esse proveitoso comércio heither

resolvi pelas maneiras dos Ffluissingers para transportar tais homens como eu era capaz de

por quatro (wich wear twenty/ e que Deus nos prospere eu devo ter na hora maneiras de

reduzir o dito comércio para nosso país. Mas quando vim para fflushing escutei que os

portuguses atacaram de surpresa todos os nossos compatriotas e os holandeses [f.111v] tanto

que que a companhia west índia thear não enviaria mais navios para o Amazonas até eles

terem noticias certas do procedimento of thear people and OURS theare: para qual tinham

intenção (imediatamente das noticias de enfermidades) enviou três navios partindo a meses de

distancia o primeiro fez se à vela no ultimo outubro: o qual retornou no dia esperado. Mas

para outros portos da mesma costa eles tinham três navios e dois Pinnaces projetados: então

vi uma pequena esperança para o Amazonas sem um poderosa frota para ganhar eu resolvi me

juntar com um dos governantes das Índias Ocidentais chamado Abraham van Pere e assim

poderíamos direcionar um trafico no rio Berbeeces os holandeses um lado do rio e os ingleses

o outro, estando confiante por essas maneiras pra fazer APEERE no nosso Estado um grande

lucro e honra que pode ser ganhada ao estabelecer um comércio naquelas partes o qual eu não

posso conceber que seja inferior ao Peru ou México.

Enquanto estava solicitando essa atividade comercial que encontrei Capitão Roger

North e Capitão Leake na mesma atividade, e tendo frequentemente consultando-os eu vi que

não havia possibilidade de tal procedimento.

Eu fiz tudo tão claro que nunca tinha feito todas as coisas secretas, mas

publicamente e não ignorava os caminhos de como ter feiro e poderia ter salvado uma grande

parte da carga que I HAVE BYNE AT, meramente para beneficiar nosso país.

[f.112] As mercadorias que são mercadorias básicas são:

Açúcar e tabaco

Algodão hidrófilo

Tintura Annotto

Fio indígena

Mel

Cera

Madeira manchada

E outros muitos tipos de madeira para corantes, muita erva e plantas as quase são

excelentes drogas, abundancia de cereal amêndoa melhores que aqueles da Espanha, também

gengibre em abundancia, árvore que tem Cuchinillia, e a erva que se faz o Annill e muitas

outras comodidades. Também grande quantidade de arvores de bálsamo que cresce no Egito.

Também ouro e prata com diversas pedras preciosas aqui são encontradas.

DOCKET: senhor Yveling concernindo sua viagem às Índias Ocidentais.

TEXTO V

CHARLES I PARA O GENERAL REPRESENTANTE

[ JAN./FEV.] 1626

Autorização para o Capitão North para o Amazonas

Considerando que Roger North, e Ilmo. Sr. Robert Harcourt descobriram meios de

navegação ( com o desejo de fazer viagens para o rio Amazonas na América, e também para a

conversão das pessoas que lá habitam para a fé cristã e para o aumento do domínio de sua

majestade, e o tráfico de diversas comodidades de sua majestade com essas nações,

consideração de terem levado o importante, e a conseqüência de um bom trabalho para a

satisfação se sua majestade que você prepare uma nota provido lugar para sua assinatura

para os Srs. Roger North e Robert Harcourt, e tais outros que possam estar sujeitos a serem

incorporados com eles, pelo qual eles tem o poder, e privilégio de levarem navios, homens,

munição e armaduras entre outras coisas necessárias para suas viagens e pagar para suas

companhias como foram antes, e promover tais privilégios que vocês achem necessários. E

que os lugares onde eles devam fazer suas plantações, e que seus tráficos se estendam através

do continente americano do rio dissequebe (Essequibo) até o rio Amazonas, e daquele lugar

mais distante cinco graus de latitude de qualquer parte ou praia do rio Amazonas, e se

estendendo de leste a oeste por toda parte do continente, de mar a mar, e todas as ilhas e

territórios dentro de vinte ,milhas adjacentes, e também que estejam livres de impostos de

qualquer mercadoria a serem importadas ou exportadas nesse serviço: Essa é sua autorização

da corte de Whitehall.

INCENTIVO PARA PARTICIPAR DA NOVA TRIPULAÇÃO POR

ROBERT HARCOURT NA NOVA EDIÇÃO DE SEU RELATO DA VIAGEM A

GUIANA, 1626.

[p.80] Um resumo das mercadorias do território: Consecutivamente com uma

soma dos tipos devolvidos esperados.

Agora eu irei explicar de maneira melhor alguns pontos materiais das mercadorias,

e os proveitos do território: consecutivamente com os tipos de mercadorias devolvidas

daquele lugar, o qual estando realmente entendido, deve completamente satisfazer e resolver

toda imparcialidade. De acordo com um bom julgamento.

Das mercadorias melhor apresentadas a eles na nossa visão por uma pesquisa, ou

atividade: São: cana de açúcar, algodão hidrófilo, silke grasse, Dyes in graine, Sweete

Gummes, Ambers, balsamums, Oyles, Hony, Wax, some Spices, Drugges and Simples, rich

Woods, Feathers, Tobacco, Cristall, Jasper, Porphery, Saphyres, Topases, Splee-stones,

Mineralls, e planty of wild Nuttmeggs, with the Mace.

Em segundo lugar as mercadorias esperadas são grãos, madeira de lei, tabaco, e

etc. nós podemos certamente fazer uma retribuição para recompensar uma boa e justa carga,

até mesmo na primeira viagem que levava homens para se estabelecerem nas colônias que se

deve provir do tratamento com os índios, e em parte pelo procedimento de nossos homens lá

localizados.

[A segunda viagem] A segunda viagem conduzia mais homens, nós deveríamos no

retorno somar com as supracitadas ajudas e vantagens, um lucro adicional obtido da colônia,

concordando tão bem quanto tais que antigamente ali permaneceram.

(Como deve aparecer por uma autorização, feita com o Capitão North no ano de

1620) como aqueles lá estabelecidos na primeira viagem: que estarão dispostos e bem aptos a

tripulação aqui na Inglaterra, a terça parte de todo ganho, lucro e mercadorias, obtidas na

região..

[A Terceira Viagem] A terceira viagem (ainda mandando vir mais suprimentos) o

lucro será acrescido, de acordo com número de homens na região, como dito, e também de

acordo com as vantagens do tempo: melhorando, preparando, e adquirindo de algumas

supracitadas mercadorias, as quais terão certo aumento depois de um ano, dois ou três: como

o algodão, a cana de açúcar, e etc. com o qual deve se conceber e concluir uma multiplicação

do beneficio: a despesa dos suprimentos, e demonstrando permanecem o mesmo.

(Pelo transporte das mercadorias para a Colônia).nisso eu adiciono, como uma

nota: Visto que, no que concerne à Colônia, eles estarão muita longe de se tornarem custosos

para os aventureiros e a tripulação na Inglaterra, que eles estarão a proporcionara um bom

lucro de tais coisas que serão necessárias para seu uso: todas as maneiras de Cloathing,

Apparaile (vestimenta) etc. e o que mais eles possam desejar para necessidades essenciais ou

supérfluas, como Aquavitas, vinhos, etc. porque é sabida pela experiência de muitos anos

que os holandeses ganharam através deles pelo menos 100% em todas as mercadorias que ele

levaram a eles: nenhum abatimento de que a propósito e maneiras de seu próprio país, serão

muito gratificantes e aceitáveis para eles: e também lucrativas para os investidores e

Companhias na Inglaterra.

[Objeção;] E por isso ser frequentemente replicado, que os espanhóis, quando lhes

agrada podem arruinar nossas Plantations (plantação, colonização).

[resposta]: Eu respondo: Que o medo disso no que diz respeito a Colônia lá

permanece: que pode subsistir, com razoável cuidado e providência, contra qualquer que

possa cair sobre ele: algum testemunho do que possa aparecer na antiga Relação, por alguns

homens dispersos, estando todos sem um governo. Como também pela viagem do senhor

Walter Raleigh,o qual foi enviado com uma grande despesa, e estando com treze navios, eles

dificilmente poderiam poupar e fornecer tantos homens que fossem suficiente para tomar a

cidade de Saint Thomé nas Índias Ocidentais: mas através das resoluções do outro lado ; e a

antiga segurança e a atual perplexidade dos espanhóis por outro lado, que fizeram deles

senhores dos mesmos, todavia eles todos não estavam capazes de ganhar e possuir o país, ou

tirar os espanhóis de lá, e depois de alguns meses suas despesas foram gastas e eles foram

obrigados a deixar o país. E em uma experiência tardia os holandeses tomaram a cidade de

Todos os Santos no Brasil, não poderia por tudo isso, ter no futuro nenhum lucro ou posses do

país por causa do firmamento das pessoas do país até Portugalls. E por tanto que afetava os

aventureiros e companhias na Inglaterra: eles tinham grande vantagem sobre os espanhóis, e

muitos outros caminhos e maneiras de prejudicá-los, e proteger eles mesmos, ou se recuperar

de qualquer perda, ou detrimento que pudesse sustentá-los por seus recursos. Tampouco

poderiam os espanhóis (apesar de estarem livres de outras preocupações, INCOMBRANCES,

e serviços) sempre se assegurava, para tomar o lugar, ou nos expulsar daquuelas terras,

enquanto os nativos permaneciam irreconciliáveis a eles, e tão inalteráveis para nós.

PROSPECTO DE ROGER NORTH PARA A COMPANHIA GUIANA,

EMITIDA APROXIMADAMENTE EM MARÇO DE 1626.

[f.11] notas do rio Amazonas, e da costa da Guiana, contendo um novo privilégio

de sua mais excelente majestade, at corporação.

[Of the seate thereof.] está situado no meio e mais comerciável quarta parte da

terra, estando no caminho das índias ocidentais, e no coração da América: em nosso curso

exterior, nós o temos em nossa escolha, levando por, ou deixando as Canaries, Barbary,

Affrica, e Brazill: e em direção a pátria, podemos convenientemente incorrer na costa da

Guiana, Trinidad, ou qualquer dessas ilhas selvagens, ou podemos parrar para West Indies, e

visitar Virginia, Bermudas, Newfound land, ou Terceras. Nossa passagem de Plimouth ao

exterior, é de comumente de sete semanas: e para casa de oito ou nove semanas.

[2 Of the country, and of the people] Concernente ao país que descobrimos: the

temper of the Ayree, com infinita variedade de natureza (nas frutas da terra, nas feras,

pássaros, e peixes) tão excelente e admirável como em nenhuma parte do mundo. É habitada

por diferentes nações de muitas línguas, que muito admitiram algum cristão habitar entre

deles, que pelos espanhóis ou portuguses.

[3 Of the English there abiding, and] Foi transportado pra là, seis anos desde de

entao cem pessoas, cavalheiros e outros, que encontraram alguns súditos de vossa majestade,

que moravam salvos entre os índios anos antes de suas vindas: muitos desses homens estão

agora espalhados entre os índios sem governante, numa espaçosa região, e aprenderam

línguas de muitas nações, por maneiras do que, eles podem fazer uso de centenas de índios

contra invasores; esses índios também os alojaram, trabalham para eles, levando-os

abastecimento e comodidades, (quais vantagens, que nenhum território nas índias ocidentais

pode oferecer) seus pagamentos são em contas de vidro, miçangas, ferro ornamental, e alguns

outros desprezíveis matérias.

[How they are supplied, and have subsisted against the Portugalles.] Eles são

ebastecidos pelos holandeses, que tardiamente se assentaram no mesmo rio perto deles, para

uma plantation nas índias ocidentais, companhias na Holanda, que solicitou seus

compatriotas, confiar neles, o território que possuíam. Eles tinham subsistido apenas com o

auxilio dos índios contra um grande atentado de portugueses para tomar seus lugares e

arruína-los, que ao mesmo tempo foi afetado na direção dos holandeses. E esse ato de

heroísmo, cerca de quatro anos desde, foi formado e obtido pelo Count of Gondomer,

enquanto residia na Inglaterra.

[4 Of the Coast of Guiana, and How advantagious inthe returne from the

Amazones] A costa da Guiana contem muitos bons rios, portos, e é bem habitado, os quais os

ingleses desejavam mais que qualquer outa nação. Tanto como o Amazonas como o território

da Guiana, a maior parte, e as riquezas lá, nunca foi descoberta por nenhum cristão, a remessa

vindo do Amazonas com um constante vento, e com a corrente do mar, seguramente cai em

alguma parte dessa costa, deixando os homens na mencionada costa, ou para comercializar

com os índios, e lever as comodidades promovida por seus homens , contra o tempo de sua

chegada.

[5.Of the Commodities.] Esses lucros ou comodidades que essas terras podem

ofercer, nunca foram suficientemente pesquisadas: até agora foram encontrado cana de

açúcar, algodão, corantes, ricas medeiras, drogas, Oyles, goma, cereais, alguns condimentos,

tabaco, silke grasse (capim seda), cristal, safiras, topázios, spleen stones, e diversos minerais,

que nunca foram experimentados e alguns pedaços de metal tem sido encontrado usado pelos

índios que o misturam com uma terça parte de ouro. Há ilhas inteiras de wild nutmeg-trees,

arvore que produz espécie de noz. E podemos esperar grandes rios daquele lugar, como os

portugueses do Brasil.

Conclusion: é sem duvida o interesse de vossa majetade nas índias ocidentais, pelo

depósito dessas e em tais partes, que através da amizade dos nativos, e boa qualidade das

terras, podemos ficar seguro contra inimigos e subsistir sem ônus para nosso país; do esmo

modo nosso embarque reembolsado pelos índios, pode ser reabastecido e fornecido; em

deficiência a respeito de, feita (como imagino) meramente consiste no erro de tempos antigos.

PETIÇÃO DE ROGER NORTH PARA A CONCESSÃO DE DOIS NAVIOS

PARA SEREM USADOS PELA COMPANHIA GUIANA, 1627.

Ao rei excelente majestade.

A humilde petição de Roger North.

Que sua, petitioner de acordo com suas abrigacoes, e pelo favor e permissão real

de vossa majestade faz diariamente labor numa tarefa que é de interesse a prosperidade do

reino, e que também reflete na mais especial maneira sobre a honra e os lucros de vossa

majestade em aumentar os domínios sobre o rio Amazonas, e o território da Guiana, e o

aumento de clientes e outras atribuições de vossa majestade.

Agora visto que como ordenado pelos lordes do conselho, que diversos navios

represálias que estão, ou serão tomados, pode ser arranjados pela maneira da aventura upon

thirds: e para que vossa majestade possa ficar satisfeito em dar a St Anne by way of adventure

upon the Adventurors for Guiney, que não somente pretende atrair vossa majestade nas terras

pela plantation como é tencionado por aventureiros para aquelas partes das Índias Ocidentais,

e para que vossa petitioner possa conseguir tantos homens para irem as mencionadas partes

conforme ele tenha maneiras para transportar.

Sua mais humilde solicitação é que vossa majestade (para melhor efeito e força de

um trabalho tão grandiosamente importando vosso mais alto serviço) ficará muito satisfeito

em conceder sua petição de um ou dois navios como são agora, ou futuramente estará

adaptado trabalho, e e apresentar as direções e compromissos lá ao lorde Admirall, sob tais

condições como sua graça pode achar racional.

RESUMO: Na corte de whitehall 11 de fevereiro de 1626 sua majestade

aprovando a petição serviços e esforços. Está graciosamente satisfeito em encaminhar asa

consiredacoes dessa petição ao lorde duque de Buckingam sua graça em levar tal ordem nessa

petição.

EXTRATO DA PATENTE DA COMPANHIA GUIANA, EMITIDO EM

19/29 DE MAIO DE 1627.

Charles pela graça dos reis da Inglaterra, escócia, França e Irlanda e defesa da fé.

Considerando muitos de nossos fieis no período do reinado de nosso ultimo membro da

família real (pai) em outros tempos estando agitado com o desejo em aumentar os domínios

para aumentar o comércio e o tráfico de suas terras nativas tem em muitas viagens pelo mar

não somente aventurado e estado nas terras do continente americano e ao redor do rio

Amazonas e nas costas e territórios da Guiana a mesma não então estando na atual posse ou

ocupação por nenhum soberano ou estado cristão. E também ter tomado posse do uso de

nosso mencionado pai e nós de alguns, (homens) parte do mencionado continente dos nativos

daquelas terras tem naquela parte do continente supracitado estando residente pelo espaço de

muitos anos. E considerando nosso ultimo pai real por suas cartas patentes de acordo com seu

grande brasão da Inglaterra estando datado em oito e vinte dias de agosto do décimo primeiro

ano de seu dito ultimo majestade reinado da Inglaterra, França e Irlanda para as considerações

mencionadas deu concessão a Robert Harecourt e John Ravenson falecido e senhor Thomas

Challoner cavalheiro também falecido e a herdeira de Robert Harecourt não somente muitos

territórios e terras mencionadas na carta patente mas também poderes, privilégios e

autoridades e outras coisas na carta patente para benefício de seus assuntos o aumento do

comércio aumentando seu domínio e a propagação da fé cristã no mencionado continente. E

também sobre o humilde caso de Roger North de seu interesse próprio e de diversos nobres de

nosso ultimo pai real em performance e futuro avamço de tão excelente trabalho foi

graciosamente recebido por suas cartas patentes reais sob o sinete da Inglaterra estando

datado em ao aproximadamente no primeiro dia de setembro do décimo sétimo ano do

reinado de ultimo mencionado rei de Inglaterra para dar concessão e confirmar a ele a

hierarquia e sucessores a sua ultima majestade logo o benquisto conselheiro lorde Verulam

aquele tempo chanceler da Inglaterra e o dito Roger North e outros naquele lugar declarado

que eles poderiam ser um corpo e corporação em escritura e nome através do nome de

governador e companhias de nobres da cidade de Londres; aventuras para plantation ou sobre

o rio Amazonas. E que eles por esse nome uma corporação fizeram através das cartas patentes

make create ordeyne constitute appoint and cofirme com muitos privilégios e autoridades nas

cartas patentes contendo como pelas mencionadas cartas patentes muito mais do que possa

parecer. E considerando tanto Roger North como Robert Harecourt em seus interesses e de

diversos nobres seus amigos desejo em se tornar aventureiros com eles tem nos suplicado

para melhor vigor e assistência nesse tão bom trabalho para estender nossa graça e favor a

eles lá e ambos as ditas cartas patentes estando agora entregues em nossas mãos para ser

canceladas tem humildemente desejo que pelas novas cartas patentes concederíamos a

incorpora-los o dito capitão Roger North e Robert Harecourt e tais outros que eles poderiam

nomear dentro do corpo político e corporação em façanha e nome com tais outros como

grande privilégios e imunidades com as que contem as cartas patentes ou como será

necessário a eles ou como ter nas semelhantes descobertas ou empreendimentos concedidos a

outros. Par essa razão levando a nossa suntuosa consideração nossa função real e poder tanto

como eclesiástico como civil, e continuando o semelhante propósito e intenção de nosso pai

real para uma plantaion no mencionado continente também para a propagação da religião

cristã e civilizando as pessoas daquelas partes a civilizados e também para o aumento de

nossos domínios e o aumento do comércio e tráfico dentro de nosso reino e do mesmo modo

holding it not online a dishonor but também duvidando que possa provar perigo a nossa nação

omitir qualquer boa oportunidade ou dar caminho a qualquer estranho para suplantação

naquele continente. E esperando que o bom consentimento de Roger North e Robert

Harecourt tendo flexíveis ambos empreendimentos de um e do mesmo intento, pode produzir

efeitos responsáveis para a expectativa antes tida de mesmo e comovente o eficaz perseguição

e o sucesso da mencionada empreendimento e seus esforços em estabelecer plantation e

comércio naquelas partes do continente e confiando em seus bons desejos lá. Fazemos por

meio disto primeiro manifesto que temos e fazemos para nós nossos herdeiros e sucessores

levar a nosso atual e real domínio possessão e proteção de todos os territórios terras e

domínios tão bem mencionado quanto futuramente nestas apresentações mencionadas como

parcela e membros anexados a coroa imperial desse reino da Inglaterra e para melhor e futuro

encorajamento do mencionado Roger North e Robert Harecourt e para em performance e

execução de excelente trabalho de nossa graça especial certamente conhecimento e meere

mocion fazemos by these presents for us our Heires and successors give graunt and confirm

unto our right trustie and right welbeloved cousens and councellors George Duke of

Buckingham our High admirall of England, William conde de Pembrooke, lorde Steward de

nossa Household, Phillipp conde de Mountgomery, lorde Chamberlaine de nossa Household,

James conde de Carlile, Henry conde de Holland e nosso benquisto conselheiros Anne

conselheiraDowager de Dorsett e Edmund conde de Mulgrave e para nosso benquisto

conselheiro Edward Viscount Killutagh um de nossos principais secretários de estado e para

nosso benquisto William visconde Mansfield e Henry visconde Rochford e para Oliver lorde

de St. John de Bletsoe, Mildmay lorde lê Despensen, Henry lorde Ley e para os benquistos

reverendos pais im Deus, George lorde Bispo de Londres e Thomas lorde Bispo do convento

e Lichfield, Dudley lorde North, Henry Lord Gray od (G)rooby, eHorace Lord Vere of

Tilbury, SirThomas ffinch, cavaleiro e Barao sir Robert Naunton mestre da corte de Wards,

Sir Dudley North, Sir Cristofer Nevill, Capitão Roger North, Sir John Hobarte, Sir Francis

Wortley, Cavaleiro e Baronete Sir John Mounson, knight of the Bath Sir Allen Apsley ,

leitenant of the Tower Sir James Ouchterlony, cavaleiro Sir Henry Spillman, cavaleiro Sir

Samuell Saltonstall, cavalhiros e para todos outros nossos amados súditos como são admitidos

na mencionada companhia de manerirq aqui mencionada, que devem ser um corpo político e

corporação deles mesmos na façanha pelo nome de Governor e companhia de nobres e

cavalheoros da Inglaterra para plantation de Guiana.

... e que isso deve e pode ser legítimo por e para o mencionado governo e

companhia e seus sucessores para usar e ter um selo comum para todas as causas e

empreendimentos...e nós temos futuramente pela nossa mais especial graça certamente

conhecimento dados e concedidos por estes presentes para nós e nossos sucessores dar

privilégio e comfirmar até eles o mencionado governo e companhia de nobres e cavalheiros

da Inglaterrapara a plantation de Guiana seus sucessores e procuradores em todas aquelas

terras e territórios no continente americano situadas entre o rio amazonas e o rio de

Desequebe a todas ilhas e territórios estando dentro de 20 léguas abaixo adjacente. E todas as

terras e territórios localizados do rio Wiapoco ao sul do rio Amazonas e desse lugar mais ao

sul cinco graus de latitude de qualquer parte do mencionado rio amazonas e estendendo de

este a oeste através do continente de mar a mar o que antigamente tinha sido ganho ou

possuído por qualquer nossos súditos ou qualquer de nossos progenitores de nossa querida

irmã da famosa rainha Elizabeth ou o nosso mencionado querido pai ou para nossos herdeiros

e sucessores o que devem futuramente conquistar ou por outro lado ganhar por conquistas ou

por consentimento dos nativos e habitantes daquelas partes e que não estavam nesse momento

de grande concordância ou cartas patentes feitas ao mencionado Robert Harecourt ou outros

legítimos habitantes na atual e legitima possessão e ocupação de outros soberanos cristãos ou

estados agora em amitie conosco e todo singular solo e terra....

RELATÓRIO SOBRE OS NEGÓCIOS DA NOVA COMPANHIA GUIANA,

PUBLICADA PARA INCENTIVAR INVESTIMENTOS, JUNHO DE 1627.

Uma relação do presente estado dos negócios de Guiana de acordo com os

procedimentos lá feitos.

Orei através de suas cartas patentes; 2june, e estando datada 19 de maio nesse

terceiro ano de seu reinado, estabeleceram os aventureiros à corporação, pelo nome de The

Governor e Company of Noblemen and Gentlemen da Inglaterra para plantaion de Guiana.

1. os aventureiros, ser o duque de Buckingham apontado nas cartas patentes, ao

presente governo.

5.condes

1.condessa

3.viscondes

6.baroes

2. bispos

21.baronetes, cavaleiro, e homens.

1.doutor

14.escudeiros

2.senhores

Em todos 56 a respeito do que 24 assinaram para aventurar 100 pounds, alguns

150....e os pagamentos eram para ser feitos em muitas vezes e porções.

Para essa corporação e tudo que possa ser admitido nela, o rei concedeu uma

espaçosa região de Guiana, com o rio Amazonas, e partes bobre ele.

Ele também concedeu tão amplos privilégios e imunidades como formalmente são

comuns, como algumas adições, (uma clausula de confirmação, passando pelo parlamento).

Generall Courts to be holden but four times in the year, videlizet, na ultima quarta-

feira de todo príodo. E neles somente há forma de governo, leis, ordens do general, e coisas de

grande consequencia a serem debatidos, e os tempos sao certos, que todos terao noticias deles.

A primeira eleição do conselho e oficiais, está dentrode 60 dias após a data da

patente: daqui em diante o regente e eles, são anualmente elegíveis e removíveis na primeira

segunda-feira de dezembro. O conselho está em cerca de cartas patentes, His majesties

Counsail for Guiana.

Nenhum general pode ser pego sem foure pelo menos o conselho: nem ordinarie

sem dois. Todos têm igualdade de voz, e a maior parte prevalece.

De acordo com as premissas lá tem sido 2 Courts ou reuniões de aventureiros em

Grayes-In Hall.

O primeiro, a oito de junho, onde as cartas patentes foram publicadas, o capitão

Roger North (irmão de lorde North) recebeu para Deputy Governour, estando aqui para

constituir por uma carta de deputação sob as mãos e selos dos duques. Então foram escolhidos

para estarem no conselho todos os lordes aventureiros, com muitos da companhia presentes

em contraparte freqüentar as reuniões.

A segunda foi em 13 de junho onde o senhor Henry Spelman estava pela

permissão escolhida pelo general Treasure, e requeriu pela ordem da corte chamar presente a

primeira terça parte mans mony subscribed. (e de tal maneira como resta todo o procedimento

sobtre isso; é desejado que os aventureiros concordassem enviando-o a ele em seu alojamento

em Barbican). Um curso colocado para preservação. Que também foi determinado à maneira

de intimar e segurar Ordinarie ourts, e o que eles deveriam negociar in till the next Generall

Court.

Alguns outros assuntos foram do mesmo modo ordenados e proporcionados.

E pesar que que pela patente a companhia pode levar 20 libras de cada homem,

isso não pode ser admitido dentro de suas corporações; ainda de tal maneira tantos que podem

ter se juntado a patente outrora não poderiam assumir as despesas de seus aventureiros, e é

concordado e tudo que venha antes do Generall Court deve ser cumprido para esse fim.

Agora isso foi concebido requisito para dar informação aos Lordes e outros

aventureiros que estavam ausentes, também das premissas que concerne o estabelecimento

desse empreendimento, e o procedimento nisso: como também uma verdadeira significação

da lei para o aumento do primeiro estoque assinado, para o fim que eles acharem melhor, eles

devem comunicar e trazer para seus amigos e familiaridades, quão bom será se juntar a eles

em um trabalho não menos considerável que honrável: o progresso a respeito do que será mais

planejado e perfeito (se Deus quiser) a ultima quarta-feira em Michaelmas termo próximo

seguindo a data daqui. Vinte de junho de 1627.

TEXTO VI

OS ANTIGOS AGRICULTORES IRLANDESES SAEM DO AMAZONAS

PELA COMPANHIA HOLANDESA DO OESTE DA INDIA.

1. Passaportes para dois antigos agricultores irlandeses viajarem para a

Holanda.

10 de Setembro de 1628. Emissão de um passe para James Purcell ir a Holanda e

outro para Mathew More também.

2. Acerto de O’Brien sobre seu retorno ao Amazonas em 1629.

Um suplicante querendo viajar, foi até a Dinamarca, Muscovy, Polônia, Alemanha,

Itália e chegando em Portugal, de onde retornou para a Zeeland para recolher uma dívida.

Aproximou-se do Cônsul de Zeeland enquanto esteve lá, chegando em dois Irlandeses que

tinham vindo do rio Amazonas e que estavam sendo enviados pelo Cônsul de volta para lá

com dois navios e com uma companhia composta por soldados irlandeses, ingleses, franceses

e holandeses. O Cônsul sabendo que o suplicante fora o líder dos irlandeses governando-os

bem e sendo estimado pelos Índios e nomeou capitão geral, mercador, piloto e intérprete dos

dois navios, suprindo ele com bens que valiam mais ou menos 18 escudos, que os índios

gostavam, sob a condição de receber em troca uma quantidade três vezes maior de bens

indígenas, sendo que tudo mais que ele conseguisse seria dele e da companhia. Eles poderiam

ir e vir independente de suas religiões e prometeram um reforço irlandês para cada ano e mais

negociações desse tipo sob a mesma condição.

O suplicante partiu da Zeeland em 24 de janeiro de 1629 chegando ao Rio

Amazonas com os dois navios, um deles contendo 18 peças de artilharia em bronze e ferro e

mais outros seis em abril do mesmo ano. Depois de perceber a artilharia os índios, já abordo

do navio, reconhecendo o suplicante logo aceitaram sua autoridade.

O suplicante desceu pelo rio por mais 60 léguas e foi perguntando aos índios sobre

alguns deles que não estavam lá, foi então que os índios lhe contaram que sobre outros

brancos que estiveram lá para fazer guerra com eles o que havia feito com que ambos os lados

sofressem algumas perdas e que alguns irlandeses que ficaram vivos se foram com eles

livremente levando consigo muitos índios que também foram livremente.

O suplicante assentou um forte chamado Foherégo, reforçado com um pouco da

artilharia e pedras com argamassa, assim deixou alguns de seus homens por lá sendo liderados

pelos dois Irlandeses que havia conhecido em Zeeland, um deles se chamava Mestre Matthias

Omallon(Matthew More?) e o outro Mestre Diego Porcel(James Purcell). Ele mesmo acabou

indo para o interior com 42 soldados para ter com os índios e levar a paz a eles, pois eles

estavam em guerra entre eles. Tendo viajado 40 léguas e já era Junho quando chegaram

algumas notícias que diziam que o inimigo havia chegado matando os índios, queimando suas

habitações assentaram outro forte nas proximidades do forte construído pelo suplicante sem

ao menos dizerem quem eram, de onde tinham vindo ou perguntando quem era que já estava

lá. O suplicante retornou para ajudar seu pessoal com 42 brancos e 10,000 índios, encontrando

o inimigo antes mesmo de chegar ao forte juntamente com alguns guerreiros sendo 200

brancos e 7,000 índios. Eles então lutaram, havendo perdas em ambos os lados, o suplicante

foi ferido por duas balas e uma flecha, seus índios fugiram abandonando-o a morte. Sem

desistir ele e os 42 brancos continuaram a luta e vencendo seus adversários conseguiram uma

vitória. Eles conseguiram capturar alguns índios hostis e dois brancos e descobriu que eles

eram portugueses e que o líder do ataque era um português mulato de nome Pedro de Costa,

que fora enviado pelo governante de Marañon para expulsar os estrangeiros. Ele libertou os

dois portugueses e os índios pedindo para que dissessem a Pedro de Costa que ele e os

irlandeses comandados por ele eram católicos e que não tinham a intenção de provocar uma

guerra em nome do rei da Espanha. Não houve resposta da parte de Pedro de Acosta que

deixou sua expedição durante a noite. Os portugueses sabendo que o suplicante se chamava

Bernardo e que vencera uma batalha com 42 brancos depois de ter sido abandonado pelos

índios e que ele libertou os prisioneiros passaram a chamá-lo Bernardo Del Carpio, sendo esse

seu nome entre os índios.

No mês de setembro seguinte um português, Pedro Teixeira, apareceu com mais de

300 brancos e 15.000 índios por ordem do mesmo governador de Marañon para lutar contra o

suplicante. Ele fez um ataque surpresa no forte durante a noite e ocupou com guarnição. As

notícias chegaram ao suplicante mesmo ele estando a 16 léguas de distância juntamente com

16 brancos. Eles imediatamente foram para o forte com mais 30,000 índios. E então Pedro

Teixeira levantou cerco recuando para umas canoas que estavam servindo de barricada para

sua defesa.

Nesse momento mais três navios chegaram ao Amazonas, dois ingleses e um da

Zeelandia, sendo que o último deles trazia reforço para o suplicante. Os dois navios ingleses

traziam ordens da Inglaterra de notificar o suplicante que ele e o resto dos irlandeses poderiam

ser considerados traidores do rei caso não obedecessem ao comandante desses dois navios.

Esse comandante não só conhecia a embarcação que o suplicante sempre usava como também

sabia que ele estava em guerra com os portugueses e, ocultando a ordem que trazia para ser

dada a ele, ofereceu ajuda de uma forma bem amigável e avisou sobre a provável chegada de

um navio com suprimentos para ele. Ao mesmo tempo 2000 índios chamados “Angaynas”

que eram aliados dos portugueses chegaram para dar-lhe suporte, eram os mais bravos desse

povo. Enquanto isso o irlandês que veio com os 400 homens em dois navios escreveu ao

suplicante secretamente na língua deles informando sobre as ordens que deveriam ser dadas a

ele pelo comandante.

O suplicante chamou o irlandês para um conselho e percebeu que se eles se

juntassem aos 400 ingleses mais os reforços vindos de Zeeland, os irlandeses e católicos

perderiam o comando para hereges e conseqüentemente os índios seriam hereges e não mais

católicos. Então ele enviou dois irlandeses e um mulato para comunicarem a Pedro Teixeira

que ele preferia servir ao rei da Espanha a hereges, faria isso e entregaria o forte se dessem a

ele bons termos em nome do rei e do governador de Marañon e Gran Para. Ele e seus capitães,

oficiais presentes, soldados e civis, o seu capelão Frei Luys de la Assumpción fizeram um

juramento em uma missa com todos os evangelizados, ajoelhados diante de um crucifixo,

juraram que os irlandeses e todos os outros estrangeiros que estavam com eles, escravos e

índios que os serviam e deveriam ter a liberdade de suas vidas, assim poderiam negociar

livremente com o português: dariam a eles terras e índios para o cultivo de tabaco, teriam

também a posse de todas as frutas e todo lucro que aquela terra desse. Quando houvesse a paz

entre os reis eles teriam direito a passaportes, transporte e provisões para aqueles que

quisessem ir à Espanha levando todos os seus bens, mas os que quisessem permanecer

ficariam seguindo as condições acordadas: esses termos foram todos registrados em Português

e Irlandês. O suplicante então entregou o forte aos portugueses e partiu com eles.

TEXTO VII

AS DIFICULDADES DA COMPANHIA DA NOVA COLÔNIA DA GUIANA, 1628-31:

1. Os primeiros colonizadores são despachados, 1628. Por divergências entre eles

pelo rio Wiapoco.

a) 17/27 de setembro, 1630. Declaração de Lewes Jackson, um mercador da cidade

de Londres.

No mês de novembro de 1628 ele saiu navegando de Gravesend em um navio

londrino chamado “pequeno Hopewell” com destino ao Amazonas, mas a companhia

encalhou no wyapoko em território americano em fevereiro, ele permaneceu lá por

aproximadamente 15 meses, indo depois disso para Barbados, aonde permaneceu por 10

semanas e de onde saiu no navio Black George para Southampton em uma segunda-feira, 18

de setembro. Segundo ele durante o período em que permaneceu no wyapoko mencionou

antes um Thomas Duppe, servente de Robert Hayman, e um Cornelius Conquest, disseram

que Robert estava morto, e que fora morto longe das plantações inglesas, eles não tiveram pá

para cavar uma sepultura mas cavaram uma sepultura com uma “mandioca de ferro”

(ferramenta usada em plantações de mandioca). Seus negócios e provisões passaram para as

mães de Edward Ellman, mercador da cidade de Exeter, que era seu companheiro. Ele disse

que Ellman morreu logo em seguida e os negócios e provisões passaram então para William

Knevett, que era de Londres.

b) 23 de setembro/ 3 de outubro de 1630. Declaração de Jonathan Selman de

Ludlowe, Salop.

Disse em depoimento que em novembro de 1628 ele e Robert Hayman, de Bristol,

juntamente com mais cem pessoas pelo menos saíram de Gravesend em um navio londrino

chamado “pequeno Hopewell” com destino ao Amazonas, mas eles encalharam no wyapoko

em território americano em 18 de fevereiro, saindo de lá em 26 de março e chegando em

Barbados em 2 de abril, permanecendo lá por aproximadamente dois meses. Logo depois

disso, Thomas Nevynson Esquire, mercador de Lewes Jackson, e ele, Jonathan retornaram

juntamente com outros que estavam em Barbados e outros que estavam na Ilha de St

Christophers como passageiros para a Inglaterra em um navio chamado “black George” e que

Thomas Nevynson e Jonathan encalharam em Plimouth mais ou menos em 28 de agosto, ele

ainda disse que conheceu Robert Hayman no início desse viagem e que durante a estadia em

wyapoco, mais ou menos em outubro Robert e seu servente Thomas Duppe, que usavam

machados, “mandioca de ferro”, água e diversos tipos de comodidades subiram o rio pela sua

plantação que se chamava Narrack em uma canoa que pertencia ao Capitão do Caribe.

Jonathan disse que ao mesmo tempo ele e o mestre Cornelius Conquest, além de George

Manwaring foram até a plantação que pertencia ao Sr Oliver Cheney e que eles voltaram para

Narrack em outra canoa; Jonathan disse que em Novembro Robert parou seu tráfico partiu de

canoa novamente com seu servente com a inteção de retornar aquela mesma plantação. Doze

horas depois Jonathan, Cornelius e George saíram de Narrack e seguiram Robert o mais

rápido possível, mas quando encontraram a canoa que levava Robert ele estava morto,

segundo o servente Thomas Duppe havia morrido de uma forte febre e diarréia, que Jonathan

acreditou ser verdade. Depois de ser sepultado por Thomas Duppe e mais 3 ou 4 índios seu

parceiro Edward Hellman, assumiu seus negócios e seus serventes porém morreu na época de

Natal e então William Knevett de Londres assumiu suas posses.(Jonathan Selman)

2. A Viagem problemática do “Amazone” e do “Ninfa do Mar” (embarcações).

a) Declaração do Sr Francis Neville Knight, de Chichester, Sussex, 28 de junho /8 de

julho de 1630.

Durante o período citado Sir Christopher Nevill, Sir John North, Sir Henry

Mildmay, Master John Lucas, toda a companhia e mais os proprietários da embarcação saíram

de Londres com equipamentos e mobílias em direção ao Amazonas e depois para as Índias

com um homem de guerra para depois retornar à Inglaterra.

b) Declaração de Samuel Lockram, marujo do Wapping. De 11 a 21 de junho de 1630.

Durante o período citado Sir Christopher Nevill, Sir John North, Sir Henry

Mildmay, Master John Lucas, toda a companhia e mais os proprietários da embarcação saíram

de Londres com equipamentos e mobílias em direção ao Amazonas retornando em seguida

para Londres. Nessa viagem Nevill foi escolhido para ser o capitão e Michaell Tayler o

mestre, apesar de beber e de ser uma pessoa confusa. O navio então acabou fazendo o

contrário, pois seguiu em direção a Dartmouth e depois para Plimouth para pegar uma pessoa

que pudesse cuidar dos passageiros e das contas do navio além de comida e bebida. Porém

depois de Dartmouth o navio seguiu para Falmouth, convém ressaltar que em todos esses

lugares Tayler saia do navio, bebia às vezes se ausentava durante a noite toda e negligenciava

o serviço no navio. Certa vez em Dartmouth o capitão mandou chamá-lo para estar a bordo do

navio senão partiriam sem ele, porém ele conseguiu chegar a tempo de qualquer forma ele foi

avisado que ele só conseguiu embaraçar porque o navio esperou um pouco por ele, mas que

ele não deveria fazer de novo aquilo. Já em Plimouth Tayler, sem autorização do capitão,

levou até o navio um homem e comeram toda a comida que eles levavam. Em um dado

momento em que o navio seguia rumo ao Amazonas por causa do vento Tayler parou em

Perin, aonde continuou bebendo e negligenciando os cuidados com a embarcação e com a

viagem. O capitão Nevill então mandou seu assistente avisar Taylor para voltar ao navio e

então ele reagiu batendo no assistente e quebrando sua cabeça. As outras pessoas da

companhia desceram do navio junto com Taylor e só retornaram quando ele retornou e assim

fizeram com que a embarcação perdesse o vento e a oportunidade de sair daquele lugar.

Sobre aquela ida ao rio Amazonas às vezes parecia que o barco estava penetrando sem

direção. O capitão percebendo isso mandou que Taylor ancorasse e ele se recusou a fazê-lo,

fazendo inclusive o contrário o navio então logo em seguida encalhou na areia e afundou um

nível levando grande perigo ao grupo foi então que dois fogos sinalizadores foram lançados

para indicar ao navio que os seguia que eles estavam em perigo.

Samuel afirmou ser verdade também que os proprietários da embarcação souberam que

Michaell Taylor vendeu cordas e barris de piche que pertenciam ao navio e que custavam

aproximadamente 28 xelins. Já no rio Amazonas souberam que Taylor comercializou

chapéus, machados, facas e tesouras que pertenciam ao Sir Christopher Nevill e a companhia.

Além disso, obteve alguns papagaios, macacos e mais outras coisas que depois vendeu em

Barbathoes trocando por tabaco para as vacas. O declarante jurou ser isso verdade.

Na viagem de volta Taylor deixou entre as vacas três toneladas e cento e cinqüenta de

chumbo que pertenciam ao Sir Christopher Nevill e a companhia vendendo por 818 xelins.

Em outra ocasião, por ordem do Capitão Nevill dois falcões foram postos para fora do barco.

c) Extraído da declaração de John Barnes, marujo do Ratcliffe, Middlesex, 11 a 21 de

junho de 1630.

Disse que na entrada do rio Amazonas Matthew Murrell, o quarto senhor do barco

observando as correntes e a profundidade do barco achou que ele estava um pouco abaixo do

nível que deveria estar e então o capitão ordenou ao mestre que ancorasse até a manhã

seguinte e ele disse que o faria caso ele achasse que a água estava em um nível perigoso, mas

o capitão continuava achando que estava em perigo até que o navio encalhou na terra. Mais

tarde então chegaram a conclusão que o Amazons estava prestes a naufragar. O Ninfa do Mar

seguindo o Amazons naufragou, mas o Amazons assim que foi atingido acendeu uma luz para

dar notícia ao Ninfa do Mar sobre o perigo que corria de acordo com a relação entre eles.

Desde que chegaram em casa o citado Taylor confessou que havia tirado do navio um barril

de piche e cordas, que eram bens que pertenciam ao Sir Christopher Nevill e da companhia e

no retorno do navio Amazons e ainda escondeu entre as vacas 3 toneladas e 150 de chumbo,

que ele vendeu por nove libras a tonelada para comprar comida e bebida para a companhia

mas lembrou que devolveu ao assistente 11 libras e dez xelins. O assistente confirmou isso,

mas informou que Taylor havia praticado por duas vezes aquilo que eles chamavam de

“falcon”, saindo do navio e indo até o forte. No forte o capitão havia dado ordens para que

algumas pessoas armadas levassem até o navio algumas barras, mas eles conseguiram

persuadi-lo da idéia alegando que o barco não suportaria esse transporte, porém Taylor

afirmou o contrário chamando esse declarante de tolo e então quando as armas foram

depositadas no barco ele virou rapidamente e todas caíram no mar e mais alguns outros bens

pertencentes ao Sir Christopher Nevill e a sua companhia que tiveram um prejuízo de mais ou

menos mil libras e 13 xelins.

d) Declaração de John Ellinger, 22 de dezembro de 1630/ 1 de janeiro de 1631.

Alegou que o Sir Crhistopher Nevill e a sua companhia durante os meses de novembro,

dezembro, janeiro e março de 1628 ou mesmo em qualquer mês do ano de 1629, ou nos meses

de março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro deste ano de 1630 carregou ou

deixou ser carregado no navio Ninfa do Mar pérolas, facas e outros objetos durante a

expedição pelo rio Amazonas para se dado aos seus companheiros isso está registrado em um

documento anexado no diário de bordo.Está também registrado que todas essas mercadorias

realmente foram deixados por Ellinger com o governador William Clovell e com Thomas

Hixon deputado, no rio Amazonas e em outros lugares que são mencionados do diário.

É fato que durante esse período William Clovell era governador e Thomas Hixon deputado.

Bem como também é fato que nesses meses citados em que o barco Ninfa do Mar navegava

havia um outro navio da companhia que navegava ao lado dele que se chamava “Amazones”

sendo o primeiro subordinado ao segundo.

Outro fato é que antes dos navios saírem da Inglaterra o Sir Christopher Nevill determinou

que Ellinger não faria parte da tripulação do “Amazones” mas sim do “Ninfa do Mar” isso

sem o consentimento do capitão da embarcação.

Outro acontecimento foi quando os capitães das duas embarcações já na entrada no Rio

Amazonas decidiram que o “Amazones” navegaria na frente e o “Ninfa do Mar” o seguiria.

Acordaram também que em caso de qualquer situação de perigo para os barcos, vindo do mar

ou da terra, um avisaria ao outro sinalizando com dois fogos de artifício que seriam lançados.

Os navios chegaram no rio Amazonas mais ou menos às seis horas da tarde, mas Ellenger

determinou que passariam a noite naquela entrada de rio e que seguiriam com mais segurança

pela manhã. No entanto o capitão e os outros membros achavam o contrário e continuaram

adentrando o rio no “Amazones” e ordenaram a Ellenger que os seguissem pelo mesmo

percurso com o “Ninfa do Mar”. Depois de mais ou menos 6 horas navegando já no rio

Amazonas o barco “Amazones” encalhou na areia e quebrou, entrando bastante água e

causando uma situação de grande perigo em que o navio poderia naufragar. Consciente do

perigo o capitão do “Amazones” lançou os dois fogos para sinalizar o risco e indicar o local

em que estavam para Ellenger e para os tripulantes do “Ninfa do Mar” que seguiram na

mesma direção e acabaram também encalhando na areia e depois naufragando. Durante todo

esse período narrado Ellenger demonstrou despreparo e inexperiência em vários aspectos,

pois jamais tomou medidas que um navegador experiente normalmente tomaria um uma

situação dessas no que diz respeito ao “Ninfa do Mar”. O barco então deveria ser concertado

por Ellenger e sua tripulação, com a intenção de depois seguir pelo rio até o encontro com Sir

Christopher Nevill e sua companhia para ajudá-los com o outro barco, pois eles carregavam

vários tipos de ferramentas que serviriam para o reparo do primeiro barco, porém com o

acidente eles ficaram impossibilitados de fazê-lo.

Segundo depoimento do Sir Christopher Nevill e de sua companhia depois do concerto do

barco o navio de Ellenger seguiu pelo caminho do Wiapoco aonde chegaram com segurança.

Para Nevill eles seguiram por esse caminho para que pudessem encher o barco com

mercadorias que depois seriam transportados para a Inglaterra por essa razão eles

permaneceram por essas bandas por aproximadamente duas semanas. Os tripulantes do navio

de Nevill já haviam descartado qualquer possibilidade de carregarem mercadorias do

Wiapoco.

Depois de terem se libertado do grupo de Nevill, Ellenger e seu grupo queriam rapidamente

fazer o percurso citado para depois seguirem para Inglaterra, mas chegando em nas ilhas St.

Christopher o barco remendado começou a quebrar fazendo com que eles perdessem alguns

de seus bens e também consumissem grande parte da comida que tinham e com isso eles

preferiram não arriscar uma ida até a Inglaterra então a tripulação convencida disso foi levada

até a Ilha de St. Christopher. Ellenger tentou convencer a tripulação de que alguém deveria

tentar levar o barco até a Inglaterra alegando que seria impossível supri-lo com comida

naquele lugar e mesmo em toda aquela região, mas como ninguém se dispôs ele acabou

vendendo a embarcação. Depois da venda os marujos procuraram Ellenger para que ele fosse

preso pelo governador ou por outros oficiais da ilha caso ele não pagasse por seus salários

durante o período da viagem. Depois da prisão o governador e os oficiais obrigaram Ellenger

a pagá-los pelo salário justo independente da quantia que tinha conseguido com a vem da do

barco.

e) Declaração de John Ellinger, 26 de janeiro/5 de fevereiro de 1631.

Em mais ou menos 25 de abril de 1629 Sir Christopher Nevill, Sir John North, Sir Henry

Mildmaye, John Lucas e mais algumas pessoas contrataram e prometeram pagar John

Ellenger seis libras inglesas por cada mês de viagem a serviço. Além disso, pagariam também

todos os marujos da companhia que trabalhassem no “Ninfa do Mar” durante a viagem. Todas

as partes concordaram com esse pagamento e no decorrer do período em que Ellenger foi o

mestre (de 25 de abril de 1628 a 22 de março de 1629) tudo foi pago direito até a data do

naufrágio em Gravesend o contrato de pagamento foi cumprido.

f) Extraído de uma declaração extra de John Ellinger, 10/20 de maio de 1631.

Informou que antes de sair na viagem foi acordado entre ele, Sir Christopher Nevill e sua

companhia que ele, Ellinger, poderia transportar na viagem algumas mercadorias contanto

que não excedesse o valor de dez libras inglesas.Ele acrescentou que de fato transportara

algumas mercadorias, mas não pertenciam a Nevill.

De fato havia mercadorias na embarcação pertencentes a Nevill, mas elas foram parar nas

mães de Ellinger depois do acidente com o navio e então foram dadas a ele pelos próprios

funcionários de Nevill. De qualquer forma eram apenas poucas coisas que ele foi obrigado a

usar quando o navio estava em perigo. Inclusive durante essa estadia em Wayapoco, Ellinger

teve uma pequena briga com uns índios da região, mas não tomou ninguém como escravo,

apenas transportou um índio que ajudou nos reparos com a embarcação que foi

voluntariamente até a ilha de St. Christopher, tendo o índio informado que durante esse

percurso não havia mesmo nenhum tipo provisão.

3. Documentos enviados por Ellinger para defender a sua visão dos fatos

a) Carta do Governador e do Cônsul de uma plantação, 1629.

Nós, o governador e o cônsul da Guiana obtivemos para a plantação inglesa do Capitão

Francis Nevill, do Oficial Michaell Tailor mestre do navio “Amazones” e de John Ellenger

mestre do navio “Ninfa do Mar” as seguintes munições: Dois falcões sendo um para seguir

pessoas, duas câmaras de arma de fogo, duas conchas, duas esponjas, 28 porcos e duas

carruagens de arma, tudo para a proteção do forte em que permanecemos.Tudo o que

recebemos foi trazido pelo Mestre John Ellenger e observamos que tudo veio diretamente do

navio “Ninfa do Mar” não temos duvida. Os portugueses são muito fortes, já tomaram e

queimaram todos os territórios indígenas por pelo menos 10 léguas a partir do rio e também

pelos irlandeses que vieram com o Capitão Pursell e que ficaram aqui e que deixaram várias

armas com os portugueses e que traiçoeiramente traíram os Ingleses a passagem pelo rio se

tornou muito perigosa, então sem essa munição fica difícil sobreviver e manter as defesas no

forte. Achamos muito bom que todos esses objetos tenham chegado até nossas mãos e é com

satisfação que testemunhamos isso ao capitão e sua companhia.

Francis Nevill Thomas Hixon

William Cloville

James Croft Edward Blenerhayset

Henry Mandcitt

Gabriell Ellys

Thomas Godbold

Ruben Serle

b) Cartas de Robert Harcourt para John Ellinger, março de 1630.

Eu, Robert Harcourt, governador da plantação inglesa do rio Wiapoco, Guiana, dei

ao Capitão John Ellenger cinco índios da nação Yaio, dois homens, duas mulheres e um

garoto, que foram por mim aprisionados. Passo a ele em 23 de março de 1630.

Caro Capitão envio também todos os documentos das mercadorias que recebi do Sr e digo

que não tenho dúvidas quanto a elas. Informo que enviei uma carta ao Sir Christopher Nevill

falando sobre tudo o que o senhor e sua companhia têm feito por nós. Também escrevi ao

Tesoureiro da companhia e meu amigo Sir Henry Spellman e para Sir Oliver Cheyney.

Bom capitão agradeceria muito se o senhor pudesse me enviar também óleo, vinagre, queijo,

aguardente, espero que o senhor não esqueça de mim quando retornar a esse país. Boa sorte e

com as melhores intenções peço a Deus pelo senhor.

Seu amigo seguro,

Robert Harcourt

(19 de março de 1630).

4. Problemas que precederam a viagem do “Exchange”, que seria enviado com

ordem de remover o assentamento de Harcourt na Amazônia, Janeiro de 1630.

Naufrágio e perda de uma viagem por mar por uma breve experiência, de Richard Thornton.

Nobre senhor,

Muitos foram os motivos que me levaram a aceitar a viagem em um navio que ia

para a Guiana entre eles estavam: a religião, o foto de levar notícias aos que estavam na

plantação, também pelo fato de ter durante a viagem a companhia do novo governador entre

outras coisas, no entanto preciso explicar ao senhor o motivo da minha desistência no meio do

caminho. Saímos de Gravesend no sábado, dia 14 de novembro de 1929, mas na segunda feira

houve um desentendimento leve entre o governador e capitão do barco que foi resolvido

aparentemente porque a partir de 9 de dezembro as diferenças se tornaram mais violentas

sendo a causa principal a saída de alguns serventes até uma praia. O capitão achou que

deveriam voltar para Londres, pois não gostaria de continuar a viagem junto com o

governador. Ele tomou o caminho de volta para Londres em 16 de dezembro juntamente com

alguns exploradores que vieram tentar em vão mediar a briga. Eu tive que continuar no navio

porque era o único tripulante capaz de manter os escritos sobre a jornada então retornei ao

navio em 18 de dezembro.

Com a saída do governador comecei a investigar sobre que negócios a missão teria

e então descobri que o objetivo da expedição era remover a colônia que estava assentada no

Rio Wiapoco e levá-la para o Rio Amazonas sob as mesmas condições, mas co outro

governador. Eu estava relutante em ter que assistir aquele ato inclusive porque não havia

entendido a razão dessa decisão afinal eu sabia que no Amazonas era mais fácil de plantar e

ter benefícios vindos da terra, mas mesmo assim era muito inconveniente para aquela colônia

que já estava assentada, capinada, que tinha provisões, habitações e que já tinha relações com

os índios do local ser destituída de todas essas comodidades. Essa decisão parecia ser uma

punição para todos os que habitavam o Wiapoco mas sobretudo causava sofrimento à toda a

companhia por vários motivos entre as quais estavam: como remover com segurança por 600

milhas e pela água quanto tivessem que passar pelo mar? Se a maioria de pessoas seriam

removidas, ficando apenas 50 pessoas mais ou menos, seria muito fácil de ser tomada e

destruída por índios. Um outro aspecto era a incerteza em encontrar lá um lugar equivalente

ao que já estavam habituados.

16 de outubro: Ficou acordado que a colônia do Amazonas receberia provisões da

vindas da Inglaterra da mesma forma que o grupo do Wiapoco recebera anteriormente, porém

esse acordo não foi cumprido, além do mais mesmo com a chegada do navio Exchange

nenhum tipo de suprimento foi enviado a eles, apenas vieram mais ordens estimulando o

conformismo por aquela situação. Então por causa disso as pessoas que faziam parte da

colônia ficaram bastante injuriadas e mal-humoradas com a tripulação do navio.

Um outro problema que surgiu no decorrer da viagem foi a morte do provável

novo governador o que resultou em uma comissão que tentaria definir através de eleição

quem poderia ser o novo governador. Observei que a falta de alguém capaz de assumir o

cargo estava causando uma situação meio desesperadora ao grupo e foi então que decidi

escrever uma carta pessoal ao Tesoureiro da Companhia para informá-lo que resolvi retornar e

que talvez levasse comigo o registro escrito que havia feito durante a jornada, e acrescentei

também razões suficientes para que todo mundo também retornasse. Esta carta provavelmente

foi lida por toda companhia e quando foi respondida foi enviada diretamente para o Capitão

do navio e não para mim e falava apenas que a eleição deveria ser levada adiante. Fiquei

desapontado por achar que não tinha recebido nenhuma resposta, pois esperava ansiosamente

por uma carta que respondesse todas as dúvidas que tinha e então resolvi me preparar para

voltar naquela mesma noite de 23 de janeiro. Na terça-feira seguinte voltei para Londres.

5. A perda de Hopewell em 1630 e o ataque português ao forte do norte em

1631.

a) Depoimento de Edward Glover, da paróquia de St Katherine Creechurch,

Londres, 12/22 de janeiro de 1632.

O navio “Hopewell of London”, que tinha John Hall como capitão, chegou ao

Amazonas em agosto ou setembro de 1630, quando o navio naufragou perto de Sapno e

perdeu quase toda a sua tripulação restando apenas 11 homens que se salvaram usando uma

canoa do navio. Esses 11 homens foram para uma plantação chamada Forte do Norte. A canoa

foi pega pelos portugueses que mataram os sobreviventes do naufrágio, apenas um homem

restou. Eu, e outras pessoas que estavam no forte fomos atacados pelos Portugueses e tivemos

que escapar em canoas com os índios e depois fomos morar com eles. O único sobrevivente

que chegou até o forte me informou que o Capitão William Moulsworth estava no navio

quando ele naufragou e que deve ter morrido no acidente considerando que ele não estava

entre os 11 sobreviventes que restaram.

b) Depoimento de Thomas Cliborne, marujo do Wapping, de 4 a 14 de

outubro de 1633.

Conheci dois homens ingleses vindos de St. Christophers, um deles se chamava

James Wall, mas o outro não se sabia o nome, mas informou que Wall havia dito a ele que

fazia parte da tripulação do navio Hopewell e confirmou a este depoente que sobre o

naufrágio do navio a três léguas do rio Amazonas, próximo a Arrowari.

c)Declaração de Henry Clovell, Oficial de Essex, 18/28 de outubro de 1633.

Acreditava ser verdade a história do acidente com o navio porque seu irmão era o

governador do forte do norte na época, para lá que os 11 sobreviventes do navio foram depois

do acidente. Informou que lembra do nome de alguns deles: Bryan, John Browne, Peter Terry

Gunners, Rugman and James Wall e acrescentou que eles estavam doentes quando chegaram

e mais tarde morreram de doença, com exceção de James Wall que conseguiu escapar em um

navio Holandês posteriormente morrendo durante um ataque dos portugueses ao forte do

Norte em fevereiro de 1630.

d) Depoimento de Roger Glover, mercador de St Anne, Blackfriars, Londres,

18/28 de 1633.

Confirmou o acidente com o navio Hopewell próximo ao rio Amazonas. Ele disse

que soube do acidente através do relato de uns índios na época em que navegava com o navio

Marmaduke. Mais tarde quando avançou mais um pouco pelo rio conheceu dois

escafandristas ingleses que também confirmaram o local e o período aproximado do acidente

com o Hopewall e que apenas 11 homens conseguiram sobreviver escapando com uma canoa

e foram para o Forte do Norte e disse que o nome deles era: Henry Clovell, Edward Glovel,

John Holmes, Robert Lloyd, Robert Leake e Raphe Hutchinson e conversando com essas

pessoas ele soube que o navio afundou graças a uma forte e violenta maré que fez com que ele

virasse.

e) Depoimento de John Barker, marujo do Ratcliffe, Middlesex, 18/28 de

outubro 1633.

Este depoente chegou ao Amazonas como chefe do navio Marmaduke e então

vieram uns índios a bordo que relataram a ele e sua companhia, tendo um irlandês como

intérprete, toda a história sobre o naufrágio do navio. Mais tarde eu e algumas pessoas

avançamos pelo rio Amazonas e encontramos cinco ou seis homens ingleses que conheceram

os 11 sobreviventes que de fato haviam chegado até o forte, mas que tinham sido mortos

durante o ataque português com exceção de um deles que foi deixado na Ilha “Quariane”

sendo mais tarde levado até a Holanda por um alemão.

TEXTO VIII

AS ÚLTIMAS COLONIZAÇÕES INGLESAS NA AMAZONIA, 1630-3.

1. CAPITÃO QUAYLE É ENCARREGADO A EXPLORAR A AMAZONIA,

19/29 MARÇO 1630.

Charles pela graça do Deus rei etc. para todos os cristãos etc.

Considerando nosso orgulho em levar a consideração de nosso soberano o valor do

carregador Capitão Richard Charles Quayle e tendo sempre o julgado a ser nosso leal súdito e

em todas as ocasiões ele foi empregado, em nossos serviços, e conhecendo sua experiência

em questões marítimas é merecedor de nossa aprovação, é por esta razão nosso desejo e

gratidão em empregá-lo em nosso bom navio chamado de Seahorse para cercar o rio

Amazonas e todas outras costas e rios da América tão longe à vista o qual Deus possa

protegê-lo, e que as suas provisões possam mantê-lo; e por esta razão nós requeremos a todos

soberanos vizinhos aliados e amigos, em solicitar nossos subjects that at what time soever the,

capitão Richard Quayle deve acontecer por mar ou por terra a dá-los ou a alguns deles um

reunião, que eles in the due tender of us, nossa coroa e dignidade, dispor e oferece-lo o

mencionado capitão Quayle e todos outros que estão ou estarão sob seu comando todo

respeito como é condizente sua ordem e ocupação, e como o homem que estamos satisfeitos

em confiar em afazeres dessa natureza, e posteriormente pedimos à nossos soberanos vizinhos

aliados e amigos & doe will & requerer nossos afetuosos súditos e em todas ocasiões de

angústia e desastre fortune betyding & befallinh the said capitão Quayle to be aydind & to

their and todas suas habilidades e poderes ao mencionado capitão e todos outros que estão ou

estarão sob seu comando, ele e eles conduzindo-os honestamente para nossos soberanos

vizinhos aliados e amigos e nossos afetuosos súditos, e que isso seja feito como vocês e cada

um de vocês irá contestar o contrario a respeito de angustia de maior indignação.

Given ut supra dat 19th day martii 1629.

2. A PLANTAÇÃO DO CONDE DE BERKSHIRE, 1631-2.

a. Testemunho de John Day cavalheiro de Windsor, Berks, 20 de fevereiro à 2

de março 1633.

... Aproximadamente maio ultimo foram doze meses – Capitão Roger Frye,

Samuel Lockram e William Smallbones foram enviados a Dunckercke para comprar um navio

para o uso do honorável conde de Barckshire e seus parceiros, e nesse período o capitão Fri

comprou um certo navio construído pelos flamengos and of the burthen of about eight score

tonnes o fone capitão Outeily (como dito) e posteriormente trouxe o dito navio para esse porto

de Londres, e então o examinou e o mencionado Fry por títulos pagou por um Francis Syon,

um marchant holandês a soma de duzentos pounds excedentes pelo mesmo; e que depois ela

fosse trazida a Dunkercke e trazida até o rio Thames ela fosse chamada por ele esse exame e o

mencionado Fry pelo nome de Barcke Andevor, (Fry e Day nomearam o navio de Barcke

Andevor ou Andevor) e desde então vendido por ele this examinate com o consentimento e

aprovação do conde de Barkshire para um Samuel Sheilde de Rederiffe pela soma de

duzentos e sessenta libras e que fosse vendida para o dito Sheilde, como ele escutou e

beleeveth divers English men subjects to the king of England have parte, e interesse no

mencionado navio com o mencionado Sheilde, então o mencionado navio está agora com

destino a uma viagem a Noruega como o Sheild confessou a esse relatório. E isso ele disse

sob juramento.

b. Autorização do conselho privado ao conde de Berkshire, 22 de julho de

1631.

Considerando nosso bom lorde o conde de Barkshire fazendo uso de grandes

costas fazendo plantation na parte sul do continente americano and shall have necessary use

for diverse of ordinance, both for the fournishing of such ships as his Lordship shall have

occasion to send thither. Como também para melhor fortificação da mencionada plantation

contra a invasão de um inimigo, e fará consequentemente desejo ele pode comprar por seu

dinheiro cinqüenta peças dessas muitos sortidas, vizt fowre Culverin, fower demi Culverin,

twelve Saker, twelve Minion tenne faulcon, four Saker-Cutts, and four Minion Cuts. Essas são

por esta razão para significar a todas pessoas as quais isto deva concernir, que eles não estão

para interromper ou impedir o supracitado conde, tanto de comprar, colocar a bordo, ou de

transportar qualquer ordinance, não excedendo o numero nem muitos tipos antes

especificados nessa nossa procuração, provido também de boa segurança a ser dada que eles

não estarão por outro lado empregados pelo mencionados navios e plantations. Essa deve ser

sua ordem.

C. Roger Fry experimenta fazer observações astronômicas do Equador.

John Bainbridge, professor de astronomia em Oxford, para Roger Fry, 1631.

John Bainbridge:

Para seu amigo escudeiro mestre Roger Fry

Eu lhe enviei um resumo mais significante declaração de minha opinião

concernindo às observações a serem feitas na Guiana: e também uma nota de algumas

[particularidades] as quais [ ] a serem em outra parte. Se o senhor Thomas Roe will by his

bountye enccurage you and reward your payns, eu não duvido, mas você estará atento em

fazer de bom uso as instruções as quais lhe dei, e para satisfazer ambas, dele e minhas

expectativas.

Anexo; relatório por Bainbridge a ser apresentado por Fry para o sir. Thomas Roe

em suporte a sua solicitação para patrocínio de observações astronômicas sendo não

duvidáveis para a ciência; isso tem sido muito desejado que antes as observações exatas feitas

nessas regiões norte o semelhante pode ser feito em outros lugares mais em direção ao sul

principalmente em Alexandria do Egito (onde Hipparchus e Ptolemy e outros famosos

astrônomos observaram e alguns lugares abaixo do Equador ou perto onde a descoberta das

estrelas sul (as quais nem aqui ou na Alexandria podem ser vistas [muitas] observações

podem ser feitas do sol, lua e planetas, os quais sendo exatamente executadas, e examinadas

com as semelhantes feitas nessas partes irão esclarecer muitas duvidas nos mais principais

pontos da astronomia e ser de uso singular na geografia e navegação tudo o qual eu

[facilmente] demonstrarei quando terei as observações, para obter daí a fayr oportunidade

está agora oferecida pelo mestre Friey que empreendeu uma viagem a Guiana e estando (de

que eu sei) mais hábil a realizar tais empreendimentos, recebeu de mim instruções

particulares, e irá empenhar a performance daí, e se for encorajado por um rei and munificient

benafactor, cujo nome pode ser resplendente nestas observações; onde as tais preciosas jóias

que já foram trazidas tanto da Índia serão consumidas e desprezadas.

c. Extrato do prospecto da companhia capital social do conde de Berkshire,

escrito e publicado por John Day, 1632.

Uma publicação das plantations de Guiana recém empreendida pelo honorável

conde de Barkshire (cavaleiro da mais nobre ordem de Garter) e companhia para o mais

famoso rio Amazonas na América. No qual está resumidamente mostrada a legitimidade das

plantations nessas terras; esperando conversão dos nativos; natureza do rio; qualidade da

terra, clima, e pessoas da Guiana; com abastecimento de alimentação para os homens, e

comodidades lá crescendo para o comércio de mercadorias; e maneiras de aventuras. Com

uma resposta para algumas objeções relacionadas com o medo dos inimigos. . . . 1632.

[p.1] Para todos fiéis cristãos.

Por tantos dessa nação que partiram daqui para paises estrangeiros, também para

propagação da verdade de Deus (mais provável) como para seus próprios benefícios, pelo

qual a palavra do lorde deve ser cumprida naqueles pagãos (através da infinita bondade e

piedade de Deus)...tampouco a ser duvidada, mas ainda há muitos persistindo, o que retém a

determinação cristã, mas [p.2] a necessidade do conhecimento verdadeiro de uma plantation

(que pode provar útil da igreja de Deus e deles mesmos) proporcionou desta maneira a viver

aqui como plantas, o que muito tempo demonstra menos proveitoso em seus solos naturais,

então quando movidos a lugares melhores, pelo qual motivo eu pensei bom no momento, to

discover briefly (para todos tais como foram afetados) o conhecimento de uma mais

esperançosa plantation recentemente empreendida pelo honorável conde de Barkeshire

(cavaleiro da mais nobre ordem do Garter) e companhia, para aquele famoso rio Amazonas

na América, as by that which followeth may appeare.

Mas antes eu continuo mais adiante daqui, eu acho que não é impróprio falar

alguma coisa da legitimidade das plantations em terras estrangeiras, pelo qual tais como

duvidar disso,deve estar mais satisfeito com isso.

Agora em plantations há essas duas principais a serem consideradas: primeiro, se é

legal mover de um lugar ou pais para outro; Segundo se é legal dominar uma terra já habitada

por outros: touching the former...

[p.3] podemos agrupar aqueles homens legalmente remover com suas famílias de

um lugar para outro, e que por muitas causas; aqui como os filhos dos profetas fizeram, by

reason of the straitnesse of the land wherein they dwelt: e é pra ser temido que muitos entre

nós tem causas para fazer tal, pela mesma razão que os dias nascem para todos tipos de povos,

por meio do qual cidades e paises, estão tão cheios de pessoas, que homens podem

dificilmente viver bem um por outros, as appeareth by the generall complaynt of many in

these times.

...[p.5] E persistiu no próximo lugar, que eu mostrei a legalidade da posse de um

país já habitado por outros, o que é nosso segundo assunto:

É verdade que todos os homens through Adans fall estavam privados da glória de

Deus, e benefícios do mundo, até por Cristo o uso de criaturas era novamente restituída por

todos crentes, por esta razão o direito de que o qual possuímos, agora vem à nós por Cristo,

pelo motivo, que os pagãos não tem direito ao qual eles julgam ter, não obstante, o lorde tem

estado satisfeito em permitir a tais viverem na terra com ele, e não para ser tirado do lugar de

suas habitações até o dia da colheita, durante qualquer tempo a terra no qual tais tem vivido

chamou seus...[p.6] de onde podemos nos juntar, que Deus não o permitiu a desapropriar

pessoas ou uma nação de suas antigas habitações para o aumento de suas próprias fronteiras;

todavia, se tais podem estar desejando que pessoas de Deus devessem habitar com eles... em

tais casos homens podem sem dúvida possuir um país já habitado por outros: mas os

habitantes de Guiana estão dispostos que nossa nação deva habitar esse bom e espaçoso país

com eles ( como apresenta mais detalhadamente na relação do senhor Harcourts da Guina

dedicado a majestade, 1626) por esta razão sem nenhuma discussão as recentes plantations lá

feitas por nossa nação são legais.

Portanto tendo resumidamente mostrado a legitimidade das plantatioms em terras

estrangeiras, para melhor satisfação de tais como ter dúvida disso, eu venho na próxima

ocasião falar algo da natureza do rio, qualidade da terra, clima, e pessoas da Guiana, com o

abastecimento de alimentos, e comodidades que lá crescem, por meio do qual tais estão

ignorantes do mesmo, devem ser encorajados a aventurar por seu próprio bem, e aqueles

pobres nativos, os quais ainda permanecem na escuridão, e na sombra da morte.

[Harcourt] Ao tocar o grande rio Amazonas na América, é chamado pela

excelência, (por Josepus Acosta) a imperatriz e rainha de todos Flouds, e pela larga extensão

do mesmo, é chamado por outros de mar doce, julgado a ser o maior rio (não somente em toda

Índia, mas também) de todo mundo; é dito que flui das montanhas do Peru, e corre com

muitas curvas para o espaço de 1500 léguas, tendo em sua boca 60 léguas de largura; há

muitas terras, diversas delas habitadas por índios; it doth ebbe and flowe neare three hundred

leagues, e tem grande quantidade de bons peixes servindo de uso aos homens: do que mais

pode ser dito futuramente, quando falarmos das do fornecimento do país para o sustento dos

homens.

A qualidade da terra de muitos tipos; baixas, médias, e montanhosas, (como aqui

conosco) tem florestas abundantes de todos os tipos, tendo campinas em algumas partes, com

gramado abundante, rios de água fresca, de tudo que é necessário para a implantação de uma

plantation,

A terra naquelas partes é de diversas misturas, como terra vegetal preta, barro

argila, e tais semelhantes, e pedras para construção se necessário.

As estações são muito diferentes das nossas, no período seco nós podemos chamar

de verão, começando aproximadamente em agosto, e as chuvas e os ventos, o que

consideramos ser inverno, começa aproximadamente em fevereiro; a última consideramos de

inverno, pelas chuvas que caem abundantemente, e não pelo frio, pois lá não há geada ou

neve, como com a gente aqui, mas uma primavera e verão contínuo, pois as folhas não

murcham e nem caem, mas daqui a pouco começa a primavera novamente, como conosco

alguns anos parece o semelhante, pois quando nosso outono aparenta de alguma forma quente,

então ordinariamente aparece uma segunda primavera,e que pela razão do sol declinar do

nosso horizonte, e os ventos frios aproximando, which causeth always our latter spring to

keep back, até o período do verão; o que na Guiana não é assim, lá é um pouco diferente de

calor e frio do começo ao fim do ano, mas um clima bom, o que faz dessas partes mais fértil

que muitas outras partes do mundo.

Os dias e as noites são sempre iguais, o sol nasce as seis horas da manha, e se poe

as seis da noite ou mais ou menos assim o ano todo.

O abastecimento para alimentos é muito, como primeiro, uma raiz chamada

mandioca, a qual as pessoas da Guiana fazem seu pão; há também um tipo de trigo chamado

Maix, it yeeldeth great increase, que faz excelente farinha, ou farinha para pão: da

mencionada mandioca, e esse trigo, é feito de um tipo de bebida chamada Paranaw, much like

the best march beare here with us; eles também têm outros tipos, que pela brevidade aqui eu

omito.

Há Deere de muitos tipos, porcos selvagens, lebres e conies (coelhos) em grande

quantidade, além disso, há uma grande fera chamada Maipnry (Maipury ou Tapir) que em

gosto se assemelha com a carne de boi, and will take salt; há também outra criatura que

geralmente commeth dentro de água fresca, e se alimenta de grama ou de qualquer erva inútil

do brejo, (e é chamado por nós de Sea-Cow) sendo em sabor como a carne de boi, and will

also take salt, as the former, of these there are great store in their seasons, they will serve

well for victualling of ships homeward bound, as of late hath been proved.

De aves há muitos tipos, isto é, patos selvagens, gansos selvagens, hennes, garças,

cranes, cegonhas, faisão, partridges, pombos, pombos selvagens, parrats de muitos tipos,

além de aves devoradoras, e falcão, com muitos outros tipos não conhecidas nessa parte.

A variedade de peixe é grande, mullet, sea-breame, soale, scate, thorneback,

swordfish, seale, um peixe semelhante ao sammon, mas de cor diferente, camarões, lagostas, e

ostras, e outros tipos também, alem de muitos tipos de peixe de água-doce, os quais nessas

partes da Europa não são conhecidos por nós.

As frutas são Pina (abacaxi), Plantana (semelhante a banana), Medler (Sapodilla),

nozes de diferentes tipos, e vários tipos de batata, como para a Pina, excede todas as outras

frutas naquelas partes, tendo em sabor semelhante a morangos maduros with clarret winw and

sugar; a Plantana tem sabor semelhante a uma maça velha, as Medlers excede as nossas em

grandeza, e as nozes em doçura.

Tendo assim tido contato com muitos tipos de abastecimento necessário para o

sustento dos homens, uma variedade de bens consumíveis naquele lugar crescendo para o

comércio de mercadorias, o que em curto período pode ser trazido para grande lucro dos

empreendimentos.

O primeiro bem comestível é cana-de-açúcar, o que em algumas partes há em

grande quantidade, que serve para fazer o açúcar, pode retornar anualmente para o lucro dos

aventureiros, como a plantação de cana-de-açúcar feita antigamente em Barbary pelos

Moores, e desde então em Brasseile pelos Portingals podem testemunhar.

Há também algodão de um tipo frágil que é uma comodidade lucrativa, que é

usado para fabricação de pavio de vela e outras coisas.

Há um cânhamo natural, ou fibra de linho, de grande uso, mais semelhante a seda,

e é chamado de silke-grasse.

Há do mesmo modo muitos bens para diers, isto é um fruto vermelho chamado

Anotto, which dieth a perfect oringe-tawny in silke, and a yallow in cloath, of which there

may be gotten good store every season for myself with some others setting forth a ship

formely for those parts, (by way of trade) received upon returne, above three thousand waight

of the said Anotto, which then bore a good price here, but much better in the neatherlands,

other dyes there are (besides hope of Cutcheneale) o que no momento eu prefiro nao

comentar.

Ha do mesmo modo noz-moscada, algumas que recebi depois do retorno do meu

mencionado aventureiro, o que nenhum homem (eu suponho) mas somente eu posso shew

semelhante, exceto alguns cavalheiros, que por solicitação receberam algum de mim, o que no

futuro pode-se aperfeiçoar, tanto pelo cultivo de velhas árvores e tirando a água delas, ou

transplantando as arvores novas, como por experiências comumente vistas.

Há do mesmo modo, Gumma, Lemina, Barrata, Ginnipepper, long Pepper, Cascia

fistula, Tobacco, spleene stones, speckled wood, hony and wax.

Como minerais, ou minas de metais, esse país dispõe de muito, não somente a base

mais também dos mais ricos, o que no futuro pode ser descoberto.

Agora falando da natureza dessas pessoas, elas são tratáveis, confiáveis e alguns

laboriosos o que os diferenciam muito de outros povos das Américas; há grande esperança

para o conversão deles a fé cristã; e algumas dessas pobres e ignorantes almas desejaram ao

capitão Charles Leigh a envia-los à Inglaterra para ensina-los a rezar, desde então, um sendo

convertido e se tornando um cristão, estando no ponto da morte, pediu a alguns de nossa

nação ali presentes, a cantar um salmo com ele, ele os disse que não poderia viver, e disse que

tem sido um sinal ruim, mas esperava ser salvo pelo sangue de Jesus Cristo; e além disso,

desejou a todos lá presentes, a conduzir o testemunho que ele morrera como cristão, ainda

disse ele cristão da Inglaterra.

Como a temperatura não excede somente em calor, como alguns homens

pensaram, por pensar que a posição ser em parte abaixo do ponto equinocial, ainda habitável,

como aparenta pela experiência de nossos conterrâneos, que viveram naquelas partes e que

acharam muito agradável: clima temperado, como conosco é frequentimente sentido como no

calor do verão.

Além do orvalho que cai à noite, para refrescar o clima, o que é perceptível, a

continua ausência do sol do horizonte, para o espaço de doze horas todos os dias, não pode

fazer com que o clima seja moderado, há uma perfeita mistura de calor e frio, acontecendo

num período de vinte e quatro horas uma divisão igual para o dia e a noite, como já foi

mostrado antes.

As casas são construídas como nossos celeiros, algumas muito grandes, onde em

algumas delas vivem cerca de cem pessoas, tendo lá camas suspensas (onde eles se deitam)

chamadas de hamackoes, feita de algodão.

Eles irão trabalhar um mês ou mais por um machado, com o qual irão derrubar

suas madeiras, limpar suas terras, e plantar suas canas-de-açúcar, Anotto, e algodão, e

construir suas casas seguindo seus padrões, o que em outras plantations não é assim, em

todas nossas outras plantations, os aventureiros são forçados a levar homens para fazer o

trabalho para eles, diferente de Virginia e St. Christopher.

Alem do que em muitas formas de plantations exceto em Nova Inglaterra, os

homens aventuraram com a esperança de apenas um bem, o tabaco; mas aqui há muito mais

que tabaco, por esta razão esta plantation é mais esperançosa que todas as outras, pela sua

fundação já feita que pode encorajar homens a irem até lá, especialmente estando interessados

nos lucros da mencionada plantation; em preservação do que, não mandamos somente homens

honestos e capazes, com munição e outros materiais muito úteis com respeito a construção de

um forte, para melhor segurança de nosso povo dos perigos do inimigo; tendo além disso faz

com que um pinnace fosse enviado para permanecer com a colônia no rio, para melhor

situação e segurança no país; planejando do mesmo modo nesse verão enviar mais homens

(como artesãos e outros) além de mulheres, como também material de guerra e outros

materiais, úteis para a defesa da plantation, além de outro navio para permanecer com a

colônia para sua melhor defesa e comercio da colônia mencionada: no qual tenho interesse em

ir com minha esposa e amigos, para habitar em alguma parte daquela espaçosa terra.

[Object.] But here some may object for fear of the enemy. [respos.]

Respost. it is no other then what hath neen usually vented at the first setting forth

de todas nossas plantations para a América, como Virginia e outras podem testemunhar ; e se

há uma grande causa a temer (como alguns julgaram) homens não teriam seguramente

aventurados tão livremente; mas essa plantation aqui mencionada está longe das habitações

espanholas, e por esta razão há menos motivos para ser temida.

[Object] mas ainda pode ser futuramente objetada, que ainda que os espanhóis

estejam um pouco distante, ainda os portugueses no Brasil pode ser mal vizinhos como

outros.

Respost. se considerarmos o espaço das terras (supostamente sendo maior que o

reino da Inglaterra vinte vezes) não temos tantos motivos para teme-los; se não nos agradar

sus proximidades, (tendo lugar suficiente, e muitos rios nessas terras) podemos (se

desejarmos) podemos ir além de suas pesquisas, onde sem duvida podemos retornar com tanto

lucro (pela cana-de-açúcar e outros bens que crescem naquelas partes) como no rio

mencionado, pra falar a verdade nós seriamos muito imbecis de nos alojarmos perto do

inimigo sem ter armas suficiente para combate-lo, ou ter espalo suficiente para ir além de suas

pesquisas, will notwithunderstand abide near him; yet I deny not, mas que uma colônia deve

ser capaz de subsistir perto do inimigo utilizando maneiras de fortificação, estando provida de

munição, abastecimento, e outras coisas necessárias para a defesa da mesma: para fortalecer

um forte, para a assistência de uma colônia, e não para aprovisiona-la, para fazer sepulturas a

nossos povos e não para preserva-los, e se sem de nossa nação, ou mais ou menos (não tendo

nem forte, ou artilharia para defesa) estariam capazes pelas maneiras dos nativos causar cerca

de cento e oitenta de inimigos a retrayte, e abandonar o rio, com a perda de muitas vidas,

quantas mais estando fortificadas, e munidas de todas as coisas necessárias para a defesa da

mesma, devemos estar mais preparados para rebater as forças mais potentes.

Agora com a construção e fortificação dos fortes para defender as colônias, e com

tudo necessário para preservar a mesma, mostrou muita imprudência de alguns tipos de

pessoa: de suas insensatez atrás de lucros, descuidando das coisas necessárias para

preservação de suas vidas: o que levamos em consideração, ter dado expressa charge, que

primeiramente eles cuidem do fornecimento necessário para o sustento, o que eles devem

estar capazes de se auto-manterem, sem a ajuda dos nativos os quais geralmente fornecem

nossas plantations inglesas with store of provisions for diet, at marvelous low rates; entretanto

enviamos pra lá algum cattell for breed, além de outras criaturas.

E se algum homem desejar num futuro estar satisfeito concernindo o procedimento

da mencionada plantation, ou duvidar de qualquer coisa, they may please to repaire to the

place of meeting (hereafter mentioned) and there receive further satisfaction.

Now as toucheth the manner of the adventure, it is as followeth.

Qualquer um que possa ser admitido dentro da colônia, ou companhia do

honorável conde de Barkshire para sua plantation na Guiana, para ser admitida uma dessas

três maneiras: tanto em pessoa e dinheiro, ou em dinheiro, ou em pessoa somente. Os

primeiros são chamados aventureiros pessoais, o segundo, aventureiros por dinheiro, os

últimos são servos da colônia.

Assim eles não são somente pessoas aventureiras, mas também por seus

propósitos, o que não admitirão pelo menos cinqüenta libras, cada aventureiro tem para seu

pessoal serviço, seu transporte e alimentação gratuita, alem de um auxilio anual (como outros)

e tambem parte de todos os lucros que surjam pelo esforço e trabalho da colônia além mar; e

também uma proporção da terra de cinqüenta pounds ou mais.

[p.20] para aqueles que são chamados purse adventures, eles estão de modo que

arriscam seu dinheiro mas não suas pessoas, sujos nomes, and summes adventure, não são

somente registrado, mas também reconhecidos pelo contrato sob selo, pela autoridade do

mencionado conde, (para sua melhor segurança, e maior garantia de tal procedimento) a se

tornar aventureiro com mencionado conde, para sua plantation, e que em cada retorno,

(durante o período de cinco anos) após o primeiro retorno da plantation , cada aventureiro,

seus herdeiros, testamenteiros, administradores ou procuradores, devem receber os lucros of

his stock of adventure, e no primeiro retorno da plantation (depois que cinco anos devem ser

expirados) receber o justo resíduo of his stocke of adventure, & profits therof, ou pode se lhe

agradar, continuar o mesmo longer in the joynt stocke then the terme aforesaid, para seu

futuro benefício: e deve ter alem disso, partir com a finalidade de uma proporção de terra

correspondente ao seu mencionado stocke of adventure: e para o objetivo que cada

aventureiro, seus herdeiros, administradores ou procuradores possam ver claramente, que eles

tem a direita proporção dos lucros de seus aventureiros, como de acordo com o mencionado

contrato, que seus herdeiros, testamenteiros, administradores e procuradores shall upon every

setting forth & return, ver a completa soma de todas as despesas, e recibos de tempo em

tempo, pagos e recebidos com respeito ao procedimento do mencionado joynt stocke, e

plantation: de maneira semelhante, que cada aventureiro, pessoais, criados, como outros,

tenham o mesma registro para sua melhor satisfação, e mais segurança do procedimento,

como dito.

Agora a respeito dos últimos, que são os criados para a colônia, eles são tais, os

quais aventuram somente suas pessoas, estão limitados pelo registro a servir o mencionado

conde e companhia na plantation cinco anos, em cem consideração a respeito, os

mencionados criados, (também esposas, criadas, como homens) tem o direito de transporte

para aquela parte gratuito, também sua alimentação, alojamento, e todos outros matérias

necessários para eles, at the charge of the joynt stock, para o termo mencionado (alojando-os

aqui para o primeiro ano) uma décima segunda parte dos lucros que podem aumentar por seus

trabalhos e esforços, e as mulheres um décima quinta (como de açúcar, noz-moscada,

algodão, mel, cera, tabaco, minerais, e todas outras comodidades, que a plantation possa

oferecer) e também no final de cinco anos, cada homem a ter um libré, e um período de trinta,

e alguns quarenta acres de terra, e para as mulheres vinte, terras destinadas ao seu uso

próprio, pelo governo ou governos, e conselho.

E para o fim que cada um possa saber quais lucros lhe dizem respeito por seus

serviços, é gratuito a eles em fazer escolha de quaisquer dois ou três entre eles, que deverão

uma vez por ano, (sob justo pedido feito ao governo, ou governos) see the accompts, e o que

lhe é de justiça, para melhor satisfação e para não ficar nenhuma duvida.

E, além disso, todos criados, como devem ser artesãos, como a cana-de-açúcar, e

agricultores de videiras, padeiros, farmacêutico, tintureiros, joalheiros, mineradores,

refinadores, criadores, Potashe, fabricantes, barbeiros, Ingeners, atiradores, vigias,

construtores navais, construtores de moinhos, carpinteiros, tanoeiros, torneiros, ciclistas,

serradores, ferreiros, chaveiro, Gunn-smiths, Pike-makers, Armorers, Cutlers, Edge-tool-

maker, ropers, sayle-makers, imarinheiros, net-makers, pescadores, financiadores,

açougueiro, cervejeiros, distillers of hot-waters, felt-makers, fiandeiras, tecelão, taylers,

tanners, tratadores de couro, tawyers of furres, peleiros (vendedores de pele ou couro),

cinteiros, luveiros, sapateiros, oleiros, pedreiros, tijoleiros, pedreiros, basket-makers, tachers,

e semelhantes; para receber uma nona parte de doze (mais que outros, que não são artesaos,

com todo o lucro que possa ter por seus trabalhos, e esforço) como recompensa por suas

muitas artes para futuro encorajamento.

E por ultimo, ira deverá estar livre de todo criado pertencente a colônia, a colocar

o joynt stocke tais somas de dinheiro, como estar aptos from under fifty pounds to five (como

alguns já fizeram) o recibo de somas estando conhecidas no registro, deve ser tão suficiente

uma permissão a eles para receber os justos lucros do mesmo, correspondente a seus muitos

stocke of adventures, como nenhum outro mencionado.

[p.23] e para concluir, vendo que trabalhadores dessa natureza precisam de algum

tempo para preparar o navio, e todas outras coisas necessárias, e que o verão é melhor para

realização do mesmo, em tornar os aventureiros prontos com o mencionado conde e

companhia, para trazer seus stockes of adventures, (tão logo como conveniente eles possam, o

mais cedo possível, pelas razões mencionadas) para o lugar da reunião apontada a ser mantida

(para receber os aventureiros e os criados para a companhia) na casa do mestre Edwards rei

Pikemaker em perto de Cripplegate: Londres: o qual o primeiro encontro está apontado para

quinta-feira dia primeiro de março (as duas da tarde) e depois continuar todas as quintas-feiras

até o momento em que Ijoynt stocke, I números de aventureiros e criados estejam

preenchidos...

3. OS HOMENS DO LORDE GORING VISITAM O AMAZONAS EM 1633.

RESUMO DA CARTA DE FRANCIS, LORDE COTTINGTON AO SIR

JOHN COKE, 22 DE JUNHO/ 2 DE JULHO DE 1633.

...O navio pertencente ao meu lorde Goring e sua companhia para uma plantation

no rio Amazonas retornou e os homens relataram que oito de seus melhore homens traídos na

praia foram mortos pelos selvagens, e seus barcos levados, então voltaram sem ter ido além

do forte, o que ele imaginaram também estar tomado, e os homens mortos. Capitão Quayle

está morto, mas esses homens de Macapá dizem que eles estavam a bordo daquele navio em

Barbados, o que veio infinitamente rico, e estará aqui logo, e que a companhia de Quayle os

disseram que meu lorde de Denbigh está vindo para casa no James.

4. ESFORÇOS PARA RESTAURAR A COMPANHIA DA GUIANA, 1634/5.

A vossa majestade

Uma humilde petição do capitão William Banfeild

Que sua petição no ano de 1629, que pela companhia da Guiana elegeu governador

da plantation.

Que sua petição pela séria tentativa que a companhia aceitou tal serviço, e ir[a

gastar tempo e dinheiro colocando-o nessa viagem.

Que sua petição tendo comissão concedida a ele era mais avançadas como os

Downes ficando l[a dez semanas for a winde was without cause countermannded by the said

company com promessas de satisfação as quais ele ainda não recebera.

Que sua petição por maneiras l[a gastou oitocentas libras e sofreu muita perda em

seu cr[edito.

Por esta razão isto pode agradar vossa majestade a referir a consideração aos

condes de Bedford e Dover estando na mencionada companhia, ou para qualquer um deles os

dando poder para chamar o resto da companhia antes deles para o fim da mencionada

companhia possa fazer tal satisfação para sua petição como o Lordship ou cada um deles

possa achar bom.

RESUMO: Na corte de Greenwich 11 de maio de 1634, a satisfação de vossa

majestade é que os condes de Bedford e Dover devem imediatamente levar essa petição em

serias considerações em designar a companhia de guiana antes deles como requerido pela

petição, tais erros as are herein alledged that then que eles levam tais cursos as petições

completa satisfação em suas discrições devem ser concebidas as quais a companhia deve

recusar logo seu lordship são para certificar vossa majestade disso que então sua majestade

possa levar futuro curso para privilégio da petição como em honra e justiça que ele possa

encontrar. Francis Windebanke.

b. Carta dos condes de Bedford e Dover para o sir Henry Spelman, tesoureiro

da companhia da Guiana, 22 de março/1 de junho de 1634.

Para nosso bom amigo Sir Henry Spellman cavaleiro tesoureiro da companhia da

Guiana.

Considerando que pela petição do capitão Bampfeild, e uma referência de sua

majestade a considerar as reclamações dos peticionários até nós, os quais os nomes estão aqui

subscritos, para relatar a situação do empreendimento, entre a companhia da Guiana, e o

capitão Bampfeild, tivemos duas reuniões com muitos da mencionada companhia, e com a

ajuda do Book Of Orders (não existente) encontramos uma coisa, para o esclarecimento e

certificação de nossos julgamentos, which is the state of the accompt of the payers and

subscribers, e que permanece ainda insatisfeito daquilo, para a companhias que concebemos

você que é o tesoureiro da companhia, pode melhor nos informar, da situação do

empreendimento, o que desejamos que você o faça, como também nos certificar, o que foi

pago ao capitão Banpfeild da soma de 198 libras, dez shillings e quatro pence, a respeito do

que ele teve conhecimento de um recibo de sessenta e cinco somente.

Casa Bedfort

22 de maio de 1634

Francis Bedfort

Henry Dover

Seu certificado esperamos o mais cedo possível. Espero que receba esta no sábado

dia vinte e quatro desse mesmo mês.

c.A réplica do sir Henry Spelman, 24 de maio/ 3 de junho de 1634.

24 de maio de 1633(4)

A humilde resposta do sir Henry Spelman as cartas do honorável Francis conde de

Bedfort e Henry conde de Dover.

Isso deve agradar vossa Lordship a considerar que eu sou apenas um servo da

companhia e que eu não posso fazer nada em seus afazeres sem o conhecimento deles –

consentimento e ordem especialmente em um empreendimento exercido contra eles como me

lamentar a sua majestade e uma referencia dele para vossa honradez e que vocês uma vez

estando patenteadose que a companhia deva ser informada com qualquer coisa que está

abaixo de minhas mãos ainda que vossa Lordship agora estando Iudices dati (assigned judges)

a considerar as diferanças entre eles e o capitão Banfeild e que o servico requerido de mim em

fazer a mudança de seus adversários, eu humildemente,ente desejo que possa informá-los a

companhia para sua satisfação e para meu próprio desencargo receber as ordens deles e

direções na corte para que o objetivo de acordo a todas formas de pratica, sem o que eu

concebo que nenhum membro particularpossa tanto agir ou responder qualquer coisa em seus

interesses nem (sob correção) fazer referencia a sua majestade incluído qualquer outro

procedimento ou a em caráter de uma corporação propriamente admitida.

[f.161] Dívidas em atraso da companhia da Guiana daqueles que a sociedade

renomearam de acordo com a subscrição Vidilizel os & from:

George lorde duque de Buckingham falecido} 88-0-0

Para suas 2 ultimas partes_______________}

Philip conde de Mungomery lorde Chamberlyn} 100-0-0

Por todas suas três partes________________}

Henry conde de Holland por suas três partes____ 100-0-0

Edmund conde de Mullgrave por suas três partes_____________100-0-0

Edward visconde Killulcagh alias lorde_____________________100-0-0

Convalescença

Mildmay lorde a dispensa por duas partes___________________66-13-4

Henry lord Ley agora conde de Marlborough_______________55-0-0

Por tudo____________________________

Georg lorde bispo de Londres

Henry lorde Grey agora conde de Stanford__________________33-6-8

Pela sua terceira parte

Horace lorde vere de Tilbury por tudo______________________100-0-0

Sir Thomas Finch visconde de Maideston por 2 partes___________40-0-0

Sir Alan Apesley leiutenant da Tower _________________________80-0-0

Por duas partes_______________________________________________

Sir James Outherlany sua ultima parte________________________33-6-8

Sir Samuell Saltinston toda parte___________________100-0-0

Sir Alexander Temple seu tudo______________________50-0-0

Sir Roger Noprth 2 ultimas partes______________________33-6-8

Sir William Heydon suas três partes_____________________60-0-0

Sir Arthur George sua 2 ultimas partes_________________33-6-8

Sir John Massington 3 partes_________________________50-0-0

Carew Rauleigh Esquier ultra 10________________________40-0-0

Capitao Simon Harecourt agora cavaleiro_________________50-0-0

Seu todo____________________________

William Trumball Esquier Clark of______________________60-0-0

Your councell all______________________________________

Henry Seckford esquire sua 2 partes____________________40-0-0

Edward Johnson Esquier suas todas 3 partes______________50-0-0

Hugh Maye esquier seu todo___________________________60-0-0

John Ingleby Esquier suas 3 partes______________________33-6-8

Capitão Simon Leake por dividas em atraso______________120-0-0

Edward Palavicini ESquier seu todo______________________50-0-0

Francis Burnell Esquier suas 2 partes ______________________16-13-4

Capitão William Saker todas 3 partes______________________50-0-0

Daniel Gookyn seu todo_________________________________60-0-0

William MArtyn suas todas três partes______________________100-0-0

Aventureiros vindo desde a patente obtida

George Eveling Esquier suas ultimas três partes_______________50-0-0

Richard Boothby ult. Três partes____________________________20-0-0

Cornelius Conquest suas ultimas terceira parte_________________16-13-4

Thomas Littleton suas2 ultimas partes_______________________33-6-8

Doutor Humfrey Ailworth ultima 3 parte_____________________20-0-0

john Pnchin suas 2 ultimas partes___________________________40-0-0

mestre mason suas 2 ultimas partes__________________________40-0-0

Henry Blenerhalsset Esquier suas 3 parte_____________________33-6-8

Nathaniel Hobert Esquier suas ultima #parte___________________20-0-0

Henry Mandit sua ultima 3 parte_____________________________16-13-4

Gabriell Ellis sua ultima 3 parte______________________________20-0-0

Edward Blennerhasset sua ultima2 parte_______________________40-0-0

Robert Sanderson clark sua ultima 3 parte______________________10-0-0

Thomas Nevison sua ultima 3 parte____________________________20-0-0

Richard Wagstaff sua ultima 3° parte ___________________________20-0-0

5. A COMPANHIA DA GUIANA PROCURA EVITAR A “VELHA”

PLANTADORES DE IREM A GUIANA COM OS HOLANDESES, 1635.

a. Capitão Roger North ao sir John Coke, 16/26 de dezembro de 1633

William Gayer o carregador casado com uma holandesa tem herança deixada para

sua esposa e filhos, e débitos de divida para ele nas mesmas partes que ele está cobiçoso a

passar com sua esposa e filhos, com o objetivo de retornar deste lado. Eu tive experiência dele

nas índias ocidentais tal lugar que eu estou seguro que ele teve uma determinação de ir

novamente em minha companhia.

b. Razoes para suspender William Gayner dos procedimentos da Guiana,

1634.

William Gayner um irlandês e seus sócios dos procedimentos em suas viagens fora

da Holanda ao rio Amazonas e partes de lá.

O rei concedeu aqueles paises para a companhia de nobres e cavalheiros da

Inglaterra aventureiros daquelas partes com uma proibição especial que nenhum de seus

servos possa comercializar naqueles lados sem licença.

Os lordes do conselho por esta razão suspenderam alguns ingleses que estavam

indo a Holanda para fazer uma viagem.

O mencionado Gayner estado agora na Holanda e em alguma confederação com

aqueles contidos cavalheiros preparados em Flusshing para uma viagem para lá sob comissão

e associação da Holanda (como informado) e tendo nenhum conhecimento de qualquer outra

parte do Amazonas que as quais possuídas por servos de vossa majestade cerca de 16 anos é

como trazer os holandeses aquelas partes e por meio disso disputas entre as nações e entre nós

mesmos.

Os ingleses estão por essa razão provavelmente a serem conduzidos de seus

habituados lugares e buscar uma nova plantation entre novas Índias e acima de novos perigos.

Esse Gayner è um católico papista associado com outros dessa religião e suas

intenções está em criar entre eles uma plantation livre do governo inglês e mantida pela

Holanda.

Gayner lieth at one Cliftons na Inglaterra mantido em Flushn.

c. Depoimento de Richard Jones, 11/21 de outubro de 1637

richard Jones de Drury LAne Londres cavalheiro de 31 anos ou aproximadamente

jurado antes o direito de pessoa meritória sir Henry Marten cavaleiro julgado pela corte de sua

majestade do almirantado, e examinado sob certos interrogatórios ministrados por interesse do

capitão Roger North destituído.

Primeiramente ele diz que lhe foi dito no rio Amazonas por vários plantadores

ingleses there that they had delivered to Samuel Lucason and Henry Jacobson Lúcifer

habitantes de fflushing que estavam comercializando no mencionado rio aproximadamente no

ano de 1622 diversos bens e mercadorias com o valor de mil libras ou superior a isso para

estimular para melhor lucro e vantagem dos mencionados plantadores ingleses ou capitão

North. E isso ele afirmou ser verdade, que cerca de dois ou três anos depois de irem ao

mencionado rio e lá plantaram.

Por segundo ele disse que os mencionados plantadores ingleses foram tomados

como prisioneiros ou mortos por portugueses antes deles (como foi dito) recebendo qualquer

gratificação por seu dinheiro feito através dos bens.

Por terceiro ele disse que aproximadamente três anos desde que esse exame

chegou em Flusheing tendo escapado dos portugueses e que lá eles encontraram William

Gayner um irlandês que lá tinha começado uma comitiva no nome do capitão Roger North

como tendo um interesse nos bens dos plantadores mencionados pelo direito da plantação

onde eles moraram, como pela administração de seus bens comprometidos a ele, contra o dito

Samuel Lucason e a viúva de Henry Jacobson Lúcifer antes do magistrado de flusheing, e do

mencionado Gayner estando então para ir novamente as Índias Ocidentais, essa investigação

foi empregada pelo capitão North a prosseguir a mencionada comitiva e deu seguimento do

mesmo pelo espaço de dois anos até o mesmo ter findado por uma definitiva sentença, e essa

afirmação sob seu juramento a ser verdadeira:

Por quarto ele disse que no processo da mencionada comissão o dito Samuel

Lucason e a viúva de Henry Jacson Lúcifer por seu próprio cálculo permaneceu em suas mãos

para os procedimentos de venda dos plantadores ingleses e bens a soma de cento e cinqüenta

libras esterlinas, e foram ordenados pelos magistrados de Flusheing a trazer a soma de cento e

cinqüenta libras nas mãos dos mestres de Flusheing, e isso ele afirmou sob juramento ser

verdade:

Por quinto ele disse que a mencionada soma de cento e cinqüenta libras sendo

trazidas de acordo com a ordem mencionada nas mãos dos mestres de Flusheing the Bayliffe

for the prince of Orange feito preso pelo mesmo e em nome do mencionado soberano tido

sentença contra a soma de 218 libras flamengas do mesmo e um Gaspar de Aiie um lorde e

quarter masters de Flusheing no tribunal quando essa investigação moved him for the said

money, usando estas palavras (corra inglês – eu tenho o dinheiro e vou mantê-lo comigo) e

ainda foi dito que o mencionado dinheiro foi julgado para o soberano de Orange como

marques de Flusheing e Trevere, e ainda foi dito que os plantadores ingleses morreram nas

Índias Ocidentais sem herdeiros e isso ele afirmou sob juramento a ser verdade.

Por sexto ele disse que esse interrogatório por ele mesmo e por cartas do sir

William Boswell cavaleiro de vossa majestade residente em Haughe escrito para os

magistrados de Flusheinge se opuseram a dita sentença e solicitou a ter o mencionado

dinheiro passados para o uso o mencionado capitão North, mas eles, os magistrados usaram o

interrogatório severamente e não tolerariam seu procurador a falar, mas dito que eles julgaram

o mesmo para o mencionado soberano por razoes ditas, e isso ele afirmou sob juramento a ser

verdade.