A guerra secreta contra a Russia soviética - Livro 3

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LIVRO III A QUEVTA-COLUNA NA RÜSSIA XV — O ATALHO DA TRAIÇÃO 201  1. Rebelião entre os revolncioaáiios — 2. A oposição de esquerda — 3. O atalho da traição — 4. A luta pelo podei — 5. Alma Aia. XVI — GÊNESE DE UMA QUIXTA-COLUXA 229  1. Trotsky em Elba — 2. Msrtdsz^tous cm Berlim — 3. As três camadas. xv n — TRAIÇÃO E TERROR ." 253 1. A diplomada da traição — 2. A diplomacia do tenor. xvm — CRIME XO KREMLIN 275 1. Yagoda — 2. O assassínio de Menjinsky — 3. Crime com garantia — 4, "Necessidade histórica". XIX — DIAS DE DECISÃO .. 291 1. A guerra se aproxima do Ocidente — % Uma carta de Trotsky — 3. Um vôo o a Oslo — 4. Hora Zero. XX — O FIM DO ATALHO 313 1. Takhachevsky — 2, O julgamento do Centro Paralelo Trotskista — 3. Ação  fiTP  Triafp — 4, Final, X XI — ASSASSÍNIO NO MÉXICO 3 3 7

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LIVRO III

A Q U E V T A - C O L U N A N A R Ü S S I A

XV — O ATALHO DA TRAIÇÃO 201  

1. Rebelião entre os revolncioaáiios — 2. A oposição deesquerda — 3. O atalho da traição — 4. A luta pelopodei — 5. Alma Aia.

XVI — GÊNESE D E UMA QUIXTA-COLUXA 22 9 1. Trotsky em Elba — 2. Msrtdsz^tous cm Berlim — 3.As três camadas.

x v n — TRAIÇÃO E TERROR ." 25 31. A diplomada da traição — 2. A diplomacia do tenor.

x v m — C RIM E X O K R EM L IN 2 7 51. Yagoda — 2. O assassínio de Menjinsky — 3. Crime

com garantia — 4, "Necessidade histórica".XIX — DIAS D E DECISÃO . . 29 1

1. A guerra se aproxima do Ocidente — % Uma cartade Trotsky — 3. Um vôoo a Oslo — 4. Hora Zero.

X X — O FIM DO ATALHO 3131. Takhachevsky — 2, O julgamento do Centro ParaleloTrotskista — 3. Ação  fiTP Triafp — 4, Final,

X X I — ASSASSÍNIO NO MÉXICO 33 7

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D o original n o r t e - a m e r i c a n o

T H E G R E A T C O N S P I R A C Y

T t o (1 W 9 (l o do

CARLOS ORTIZ

M C M LIS

Dire i tos reservadosE D I T O R A B R A S I L I E N S E

R u a B a r ã o d e I t a p e t i n i n g a , 9 3 - S ã o P a u l o

I m p r es s o n o s E S T A D O S U N I D O S D O B R A S I L

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M I C H A E L S A Y E R S e A LB E R T E . K A H N

i

A G R A N D E

C O N S P I R A Ç Ã OA G U E R R A S E C R E T AC O N T R A

A R Ú S S I A S O V I É T I C A

6 . « E D I Ç Ã O

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Nenhum inc-Ulentc ou diálogo dâste

livro foi inventado paios autores. Omaterial foi colhido do várias fontes de

documentação que vfim indicadas no

texto ou mencionadas no fim, cnlre us

Notas Bibliográficas,

o

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L I V B O m

A Q U I N T A - C O L Ü X A

M A R Ü S S I A

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C A P I T U L O XV9

O ATALHO DA TRAIÇÃO

1. Rebelião entre os revolucionáriosDesde o momento em que Hitler tomou o poder na

Alemanha, a contra-revolução internacional passou a constituirparte integrante do plano nazista de conquista mundial. Emtodos os países, Hitler mobilizou as forças contra-revolucio-náriãs que durante os quinze anos anteriores vinham sendoorganizadas pelo mundo. Essas fôrças converteram-se entãoem quinta-colunas nazistas da Alemanha, organizações de trai-

ção , espionagem e terror. Essas quinta-colunas constituíramas vanguardas secretas da Wehrmacht alemã.Uma das mais poderosas e importantes dessas organiza-

ções operava na Rússia Soviética. Era encabeçada por umhomem talvez dos mais notáveis renegados políticos dahistória.

Seu nome era Leon Trotsky.Quando nasceu o III Reich, Trotsky já era o líder de

uma conspiração anti-soviética internacional com poderosasfôrças da União Soviética. Exilado, Trotsky estava conspi-rando para a derrubada do govêrno soviético, para seu re-f resso a Rússia e recuperação do poder pessoal que outrora

etivera."Houve um tempo", escreveu Winston Churchill em Gran-

des Contemporâneos, "em que Trotsky estêve intimam ente li-gado com o trono dos Romanovs."

Em 1919-1920, a imprensa mundial apelidou Trotsky de"Napoleão Vermelho" Trotsky era comissário de Guerra. Tra-1 'ado num longo sobretudo espalhafatosamente militar; de altasratas luzentes, pistola automática à cintura, percorria as tren-

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tes de batalha fazendo inflamadas alocuções aos soldados doExército Vermelho. Converteu um trem blindado em seuQ. G. privado e protegeu-se pessoalmente com uma guardaarmada especialmente uniformizada. Êle possuía a sua própriafacção no comando do Exército, no Partido Bolchevique eno govêrno soviético. O trem de Trotsky, a guarda de Trotsky,os discursos de Trotsky, as atitudes de Trotsky — seu vastocabelo prêto e sua barbicha em ponta, seus olhos pene-trantes atrás do pince-nez fulgurante — ficaram mundialmentefamosos. Na Europa e nos E.U.A. as vitórias do Exército

Vermelho eram tôdas creditadas ao "comando de Trotsky."Eis como Isaac F. Marcosson, correspondente americano

no exterior, descrevia o comissário de Guerra Trotsky, diri-gindo-se a uma de suas espetaculares assembléias de massasem Moscou:

"Trotsky íèz o que os artistas costumam chamaruma bela en tr a d a ... após uma demora, e no mo-mento exatamente psicológico, emergiu dos bastido-res e caminhou a passos rápidos,, para o púlpito qu©

se coloca para os oradoros cm tôdas as assembleiasrussas.Mesmo antes de êle se dirigir para o estrado- hou-

ve um tremor antecipado em todo o auditório. Po-der-se-ia ouvir um sussurros "Trotsky vom chegando..

No estrado, sua voz ora rica, profunda o elo-qüente. Êle atraía e repelia; dominava e tiranizava.Êle era elementar, quaso primitivo em sou fervor —uma máquina humana poderosíssima. Inundava osseus ouvintes com um Niágara de eloqüência, como

eu Jamais ouvi. Transbordavam dêle a vaidade ea arrogância."

Após a sua dramática deportação da Rússia Soviéticaem 1929, os elementos anti-soviéticos do mundo forjaram ummito em tôrno de seu nome e da sua personalidade. D©acôrdo com êsse mito, Trotsky era "o excepcional líder darevolução russa" e "inspirador de Lénin, seu mais íntimo ca-marada e lógico sucessor."

Mas em fevereiro de 1917, um mês antes do colapso doczarismo, o próprio Lénin escreveu:

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"O nome de Trotsky significava: Fraseologia deesquerda e bloco com a direita contra as aspiraçõesda esquerda."

Lénin chamou Trotsky o "Judas" da revolução russa (46.)Os traidores fazem-se," não nascem. Como Benito Mus-

solini, Pierre Lavai, Paul Joseph Goebbels, Jacques Doriot,Wang Ching-wei e outros notórios aventureiros dos temposmodernos, Leon Trotsky começou a sua carreira como ele-mento dissidente da extrema esquerda dentro do movimentorevolucionário de sua terra natal.

Trotsky era pseudônimo. Lev Davidóvitch Bronstein, fi-lho de pais prósperos da classe média, nasceu em Yanovka,pequena aldeia rural perto de Kherson na Rússia meridional,em 1879. Sua primeira ambição foi ser ator.

O jovem Trotsky começou trabalhando numa peça esurgiu nos salões literários de Odessa com suas botas detacão alto, vestido de blusão azul de artista, uma palheta

redonda na cabeça e trazendo uma bengala preta. Ainda«quando estudante, associou-se a um grupo de radicais boê-mios. Aos 18 anos, foi prêso pela polícia czarista por estar'distribuindo literatura subversiva e foi exilado para a Sibériajuntamente com ccntcpas do outros estudantes revolucioná-rios. Escapou da Sibéria no verão de 1902 o foi viver noestrangeiro, onde levaria a maior parte de sua vida como

(46 ) Eis alguns dos comentários periódicos feitos por Lónin com

respeito a Trotsky o às suas atividades no movimento revolucionáriorusso: 1911. "Em 1903, Trotsky era menehoviquo; deixou-os em 1904;voltou ao ninho antigo em 1905, enchendo o tempo com frases ul-tra-revolucionárias; e novamente deu as costas aos mencheviques em1908... Trotsky plagia hoje as idóias de uma facção, amanhã as deoutra, e depois olha ambas do cima, com ar superior... Tenho adeclarar qito file representa unicamente a sua própria facção."

1911. "Pessoas como Trotsky, com suas frases empoladas... sãohoje muito comuns... Quem apoia o grupo de Trotsky apoia a políticade mentira e decepção dos trabalhadores... é a principal tarefa deTrotsky jogar areia nos olhos dos trabalhadores... não é possível dis-

cutir coisas verdadeiramente essenciais com Trotsky pois que êle nãotem visão... pós o consideramos apenas como um diplomata da maismodesta condição."

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agitador e conspirador entre os emigrados russos e socialistascosmopolitas nas capitais européias.Durante os primeiros meses de 1903 Trotsky foi mem-

bro da redação de Iskra, órgão marxista que Lenin editavano exílio em Londres. Em seguida à divisão bolchevique-menchevique que foi efetuada no movimento marxista russonesse verão, Trotsky filiou-se aos adversários políticos de Lé-nin, os mencheviques. O talento literário de Trotsky, suaoratória inflamada, sua personalidade dominadora e seu ta-lento dramático granjearam-lhe a reputação de ser o mais

brilhante e jovem agitador menchevique. Ele percorreu as co-lônias de estudantes radicais russos de Bruxelas, Paris, Liège,Suíça e Alemanha, atacando Lénin e os demais bolchevi-ques, que apelavam para um partido revolucionário disci-plinado e altamente organizado para a luta contra o cza-rismo. Num panfleto intitulado 'Nossas Tarefas Políticas"publicado em 1904, Trotsky acusou Lénin de tentar imporum "regime de caserna" aos radicais, russos. Numa lingua-gem surpreendentemente semelhante à que êlo usaria maistardo em seus ataques contra Stálin, o jovem Trotsky de-

nunciou Lénin como "'líder da ala reacionária de nosso par-tido."Em 1905, após a derrota czarista na guerra russo-japo-

nêsa, os trabalhadores e camponeses insurgiram-se na primei-ra e fracassada revolução russa. Trotsky correu para a Rús-sia e tornou-se membro influente do Soviete de S. Peters-burgo controlado pelos mencheviques. Na atmosfera febril

1912. "Êsso bloco 6 composto do falta do princípios, hipocrisia efrases vazias... Trotsky acoberta tudo isso com a fraseologia revolu-cionária que nada custa e nada o comprometo."

1913. "Os velhos participantes do movimento marxista na Rússiaconhecem muito bem a personalidade de Trotsky e nem é agora a oca-sião adequada para falarmos disso. Mas a nova geração ae trabalha-dores precisa conhecé-lo e precisamos falar dêle... Tipos como êssesão característicos como fragmentos da formação histórica de ontem,quando ainda dormia o movimento laborista de massas na Rússia."

1914. "O camarada Trotsky nunca possuiu uma opinião definitivasôbre uma única e séria questão marxista; sempre se insinuou nestaou naquela brecha entre uma divergência ou outra, oscilando semprede um para outro lado."

1915. "Trotsky... como sempre; discorda em princípio dos social-chauvinistas, mas concorda com êles em tudo na prática.

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de intriga, de intenso conflito político e de sensação do po-der iminente, Trotsky achou o seu elemento. Aos 26 anos,êle saiu da experiência convencido de que estava destinadoa ser o líder da revolução russa. Já falava de seu "destino"e de sua "intuição revolucionária. Anos depois, em MinhaVida, escreveu:

"Vim à Rússia em fevereiro de 1905; os outroslíderes emigrados não chegaram antes de outubro enovembro. Entro os camaradas russos, não havia um

de quem cu pudesse aprender alguma coisa. Aocontrário, cu tivo de assumir o pôsto do meu pró-prio m e s tre ., . Em outubro, prccipitoi=mo na gigan-tesca voragem quo, pessoalmente falando, era o maiorteste para a minha capacidade. Tivo de tomar de-cisões sob o fogo. Não ó necessário observar que asdecisões mo ocorriam do modo totalmente óbvio...Senti orgftnicamcnto quo tinham passado os meus anosde aprendizado... nos anos seguintes eu iria apren-dendo como um mestre aprende, não como aprende

um discípu lo ... Nenhum grande trabalho ó possívelsom in tu iç ão ... Os acontecimentos de 1905 revela-ram em mim, creio eu, ossa intuição revolucionária

> e habilitaram-mo a confiar nela durante a minha vidap o st eri or. .. Conscientcmonte não posso, na aprecia-ção da situação política, como um todo c em suasperspectivas revolucionárias, acusar-me de graves errosdo julgamento."

De novo no estrangeiro, após a derrota da revoluçãodo 1905, Trotsky montou o seu Q. G. político em Viena e,atacando Lónin como "candidato ao pôsto de ditador", lançouuma campanha de propaganda para edificar o seu própriomovimento e promover-se a si mesmo como "internacionalistarevolucionário." De Viena, Trotsky locomoveu-se incansàvel-mente para a Rumânia, Suíça, França, Turquia, recrutandocompanheiros e formando ligações valiosas com socialistas eradicais esquerdistas europeus. Gradual e persistentemente,entre os mencheviques emigrados russos, social-revolucionários

e intelectuais boêmios, Trotsky construiu uma reputação deprincipal rival de Lénin no movimento revolucionário russo.

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"Tôda a construção do Leninismo", escreveu Trotsky numacarta confidencial ao líder menchevique russo Tscheiaze, aos23 de fevereiro de 1913, "está atualmente edificada sôbrementiras e contém os germes peçonhentos de sua própriadesintegração." Trotsky continuava dizendo ao seu compa-nheiro menchevique que, na sua opinião, Lénin não passavade "um explorador profissional de todo o atraso do movi-mento do trabalhador russo."

O colapso do regime do czar cm março de 1917 en-controu Trotsky em Nova Iorque, editando um jornal radical

russo, Novy Mir (Novo Mundo) em colaboração com seuamigo o adversário de Lénin, Nicolai Bukharin, um políticoultra-esquerdista, emigrado russo que um observador descreveucomo "um louro Machiavelli em Jaqueta do couro." (47.) De-pressa Trotsky obteve passagem para a Rússia. Sua viagemfoi interrompida quando as autoridades canadenses o detiveramem Ilalifax. Detido sob custódia por um môs, foi sôlto porsolicitação do govôrno provisório russo o embarcou para Pe-trogrado.

O govôrno britânico decidira m o deixar Trotsky voltar

à Rússia. Conforme as memórias do agente britânico Bru ceLockhart, o serviço secreto britânico acreditava que seria pos-sível utilizar-se das "dissensões entro Trotsky e L ó n in .. (48 .)Trotsky chegou a Petrogrado em maio. A princípio tentou

(47 ) Trotsky chegara aos E.U .A . apenas dois meses antes daqueda do Czar, depois do ser expulso da França no fim do outono de1910. Bukharin preccdera-o nos E.U.A., vindo da Áustria.

(48 ) Nas suas memórias Agente Britânico, Bruoo Lockhart acre-dita que o govôrno britftnico a princípio cometeu um grave êrro no

modo do tratar Trotsky. Lockhart eserove: "Não tratamos Trotsky de-vidamente. No tempo da primeira rovoluçâo Cie estóve exilado na Amé-rica. Êle não era então nem menchovique nem bolchevique. Era aquiloque Lénin chamou: um trotskista — o quo quer dizer, um individua-lista e um oportunista. Um revolucionário com temperamento de artistae indubitável coragem fisica c, como tal nunca fôra, nem seria,um bom homem de partido. Sua conduta anterior à primeira revoluçãoincorrera na mais severa condenação de Lénin... Na primavera de 1917Kerensky solicitou do governo britânico que facilitasse o regresso deTrotsky à Rússia... Como de costume em nossa atitude com a Rússianós adotamos desastrosas meias-medidas. Trotsky foi tratado como cri-minoso. Em H a li fa x ... foi internado num campo de concentração . . .Então, tendo despertado o seu ódio amargo, nós o autorizamos a re-

gressar à Rússia."

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criar um partido revolucionário seu — um bloco compostode antigos emigrados e elementos da extrema esquerda devários partidos radicais. Mas logo se viu claramente quenão havia futuro algum para o movimento de Trotsky. OPartido Bolchevique tinha* o apoio das massas revolucionarias.

Em agôsto de 1917, Trotsky deu uma sensacional revi-ravolta política. Depois deo 14 anos de oposição a Lénin eaos bolcheviques, solicitou sou ingresso como membro do Par-tido Bolchevique.

Lénin prevenira-se reiteradamente contra Trotsky o suasambições pessoais; mas agora, na luta crucial para estabele-cer o governo soviético, a política do Lénin apelava parauma fronte única do tôd&s as facções revolucionárias de to-dos os grupos e partidos. Trotsky era o intérprete de umn o considerável. Fo ra da Rússia o seu nome era mais

ecido do quo o do nenhum outro revolucionário russo,exceto Lénin. Além do quo, os raros talentos de Trotskycomo orador, agitador e organizador poderiam ser utilizadoscom grande proveito poios bolcheviques. A inscrição de Tro-

tsky tomo membro do Partido Bolchevique foi concedida.Caracteristicamente, Trotsky fôz uma entrada espetacularno Partido Bolchevique. Trouxe consigo para o Partido todoo seu séquito colorido de esquerdistas dissidentes. Como Léninhumoristicamente observou, "ora como so chogassem a tórmoscom uma grande potência."

Trotsky tornou-se dirigente do Soviete de Petrogrado, noqual fizera a sua estréia revolucionária cm 1905. Manteve-senesse pôsto durante os dias decisivos quo se seguiram. Quan-do o governo soviético so formou como uma coalizão debolcheviques, social-revolucionários do esquerda e antigos men-cheviquos, Trotsky veio a sor o comissário do Exterior. Seuíntimo conhecimento de línguas estrangeiras e sua familia-ridade com países estrangeiros indicaram-no para êsse cargo.

2. A oposição de esquerda

A princípio como comissário do Exterior e depois comocomissário de Guerra, Trotsky foi o principal interprete da

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chamada oposição de esquerda no Partido Bolchevique (49.)Embora pouco numerosos, os adversários eram oradores e or-ganizadores talentosos. Tinham grandes relações fora do país,e entre os mencheviques e social-revolucionários na Rússia.Nos primeiros dias depois da Revolução êles detiveram im-portantes postos no exercito, no corpo diplomático e nas ins-tituições estatais executivas.

Trotsky dividiu a liderança da oposição com dois outrosdissidentes radicais: Nícolai Bukharin, esbelto, "ideologistamarxista", louro, aprumado, quo encabeçou o chamado grupo

de "comunistas da esquerda", e Grigori Zinoviev, turbulento,eloqüente agitador esquerdista, que liderou a sua própriaseita, cham ada "Zinovievista." Trotsky, Bukharin e Zinovievfreqüentemente disputavam entro si a propósito do questõesde tática e por causa de rivalidades pessoais o ambiçõespolíticas em conflito, mas nos momentos cruciais agrupavamas suas fôrças em tentativas reiteradas para obter o contrôledo governo soviético.

(40 ) Quanto às atividades oposicionistas do Trotsky como comissá-

rio do Exterior durante a crlso da Pais do Brost-Lttovsk, voja-so o quofoi dito anteriormente.Após a sua remoção do pôsto do comissário do Exlorlor, Trotsky

admitiu publicamente o ôrro do sua oposição a Lónln om Brost-Litovsk,o prontificou-se a cooperar som restrições daí por diante. Foi-lho dadoum-novo encargo quo parecia adequado aos seus talontos do organi-zador e orador. Fizeram-no comissário do Guerra. A estratégia militaro o comando prático do Exórcito Vormolho oslavam principalmente nasmãos do homens como Stálin, Frunzo, Vorochllov, Kirov, Cliors e Budv-enny. Confiando no paroeor do alguns antigos "especialistas" czaristasque o oercavam, o comissário do Guerra Trotsky reiteradamente seopôs às decisões militares do Comitô Contrai Bolchevique e exorbitouflagrantemente de suas atribuições. Em vários casos, ànicamente a in-tervenção direta do Comitô Central impediu Trotsky de executar re-presentantes o líderes militares bolchovlques no front pelo fato deterem objetado à sua conduta.

No verão do 1919 Trotsky assegurando quo Koltchak não era maisuma ameaça a leste, propôs que so transportassem as fôrças do ExércitoVermelho para a campanha contra Denikin no sul. Isso, acentuou Stálin,teria dado a Koltchak o tão almejado intervalo para respirar e a opor-tunidade de reorganizar e reequipar o seu exército, para lançar novaofensiva. "Os Urais com suas instalações", declarou Stálin como re-presentante militar do Comitô Central, "com a sua rêde de ferrovias,não poderiam ser entregues nas mãos de Koltchak, pois êle poderia fà-cilmente congregar os grandes fazendeiros dos arredores em tôrno dêle

e avançar sobre o Vo lga." O plano de Trotsky foi rejeitado pelo

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Os companheiros de Trotsky pessoalmente eram: YuriPyatakov, filho radical de uma rica família ucraniana, quecaíra sob a influência do Trotsky, na Europa; Karl Radek,brilhante jornalista polonOs esquerdista e agitador que se as-sociara com Trotsky na oposição a Lénin na Suíça; NicolaiKrestinsky, antigo advogado o ambicioso representante naDuma; Grigorí Sokolnikov, jo vem radical cosmopolita que in-gressara no Ministério do Exterior Soviético sob os auspíciosdo Trotsky; o Cristiano Rakovsky, antigo o rico apoio finan-ceiro dos socialistas rumenos, búlgaro do nascimento, quo vive-

ra na maior parto dos países ouropeus, doutorara-se ommedicina na França a tornara-se um dos líderes do levantesoviético ucraniano do 1918.

Além disso, como comissário do Guerra, Trotsky corca-va-se do uma clique de homens brutais e violentos que cons-tituíam uma guarda especial, fanàticamonto dedicada ao seu"líder." Um membro proeminente da faeçuo militar de Trots-ky foi Nicola! Murav, um homenzinho baixote o perverso,

Comítô Central, e (fio inflo tomou mais parto na campanha do lesto,

quo 'ovou à derrota final a» fôrças do Koltchak.No outono do 1010 Trotsky esboçou um plano para uma cam-panha contra Donlkln. Sc« plano requeria uma niarelm através dasestepes do Doti, região qunso ínvia o infestada do bandos de contra-•«ovolueionários cossacos. St Al In, quo fôra enviado ao lfront Sul peloComltô Central, rejeitou o plano do Trotsky o propôs om lugar dOIequo o Exército Vermelho wvançasso através da Sacia do Donetz coma sua densa rôdo ferroviária, suprimentoB do carvão o população sim-pática do trabalhadores. O plano do Sláliu foi aceito pelo ComitôContrai. Trotsky foi removido do Front Sul, intimado a nflo inter-ferir mais nas operações meridionais o "aconselhado" a mio cruzar maisa linha do demarcação do Front Sul. Dcnikin foi derrotado do acôrdocom o plano do Stálin.

Entro os mais Íntimos sócios do comissário do Guorra Trotsky,estava o ox-oficial czarista Coronel Vatzotis, quo servia como comnn-dantc-cliofo com Trotsky no Front Oriental contra Koltchak. As auto-ridades soviéticas descobriram que Vatzetis estava envolvido em intrigascontra o alto comando do Exército Vermelho. Vatzetis foi removido doseu pâsto. Em Minha Vida, Trotsky ofereceu esta curiosa apologia deseu antigo sócio: " . . . Vatzetis em seus momentos de inspiração pro-mulgaria ordens como se não existisse o Sovieto de Comissários e oComitê Central Executivo... êle foi acusado de planos o ligações duvi-dosas e estava para ser demitido mas realmente não havia nada desério em tais acusações. Talvez o rapaz, antes de dormir, se metesse aler a biografia de Napoleão e confiasse depois os seus sonhos a dois outrês jovens oficiais."

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comandante da guarnição militar de Moscou. A guarda pes-soal de Trotsky incluía Ivan Smirnov, Sergei Mrachkovsky eEph raim Dreitzer. O antigo terrorista social-revolucionário,Blumkin, assassino do Conde Mirbach, tornou-se chefe da guar-da pessoal de Trotsky (50.)

Trotsky aliou-se também a numerosos ex-oficiais czaristasque estimava e a despeito das freqüentes admoestações doPartido Bolchevique colocou-os em postos militares importan-tes. Um ex-oficial czarista com quem Trotsky se relacio-nara intimamente em 1920, duranto a campanha polonesa,

foi Mikhail Nicolayoviteh Tukhatchovsky, líder militar com as-pirações napoleónicas.O intuito da oposição do esquorda ora suplantar Lénin

e tomar o poder na Rússia Soviética.O grande problema quo se antepôs aos revolucionários

russos depois cia derrota dos exércitos brancos o da inter-venção foi o seguinte: o quo fazor com o poder soviético?Trotsky, Bukharin e Zinoviov sustentaram quo ora impos-sível construir o socialismo na "Rússia" atrasada." A oposi-ção do esquerda desejava converter a revolução russa num

reservatório do "revolução invimlial", um centro mundial doqual se irradiaria a revolução nos demais países. Despidade sua "parolico ultra-rovolucionária", como Lénin o Stálinfreqüentemente indicaram, a oposição de esquerda o que real-mente pretendia era tuna luta violenta pelo poder, b "anar-quismo boêmio" e, dentro da Rússia, uma ditadura militarsob o comissário, do Guerra Trotsky o seus sócios.

O problema agravou-se no Congresso dos Sovietes emdezembro de 1920. Era o mais frio, o mais faminto e cru-cial ano da Revolução. O Congresso rouniu-se na Sala das

Colunas em Moscou. A cidade estava recoberta de neve,enregelada, faminta o doente. Na grande sala, sem aque-

(50 ) E m abril do 1937 , Trotsky disso o seguinte acêrca de sualigação com o assassino Blumkin: "Êlo foi membro de meu secretariadomilitar durante a guerra, e pessoalmente ligado a m i m . . . Quanto aoseu passado — tinha éle um passado extraordinário. Foi membro daoposição social-revolucionária de esquerda e participou na insurreiçãocontra os bolcheviques. Foi ôle o homem que matou o embaixadoralemão Mirbach... Eu o empreguei em meu secretariado militar e portôda parte, quando eu precisava de um homem corajoso, Blumkin es-

tava a minha disposição.

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cimento porque faltava combustível, os delegados soviéticosse reuniram embrulhados em peles, cobertores e arminhos, ti-

ritando com d intonso frio de dezembro.Lénin, ainda pálido e.abatido com as conseqüências dasbalas envenenadas do Fanya Kaplan que por pouco não li-quidaram com a sua vida em 1918, subiu ao estrado paradar a sua réplica à. oposiçSo do osquerda. Descrovou asterríveis condições da Rússia. Apoiou pura a união nacional

pa ra enfrentar as "incríveis dificuldades do reorgan ização davida social o ocouômicn. Anunciou a Nova Política ííconA-raica abolindo o rígido "comunismo do guerra" o restauran-do em eerta medida o capitalismo o o comércio privado naRússia, abrindo o caminho para o começo da reconstrução,"Damos tim passo atrás", disso Lénin, "para depois darmosdois à fronlo r

Quando Lénin anunciou ft "retirada temporária" repre-sentada pela Nova Política Econômica, Trotsky exclamou:"O cuco acaba do anunciar o fim do govârno soviéticoI"

Mas Lénin acreditava qno o trabalho do govàroo sovié-tico apenas com eçava. E efisso ao Congresso :

"Só quando o país estívor eletrificado, q u a n d o aindústria, a agricultura e os transportes forem estru-turados cm bases técnicas para a produçfio modornaem grande escala — sòmonte aí nossa vitória serácompleta." t

Havia um enorme mapa da Rússia no estrado. A umsinal do Lénin, acionou-se um interruptor o o mapa iluminou-sesúbítamente, mostrando ao Congresso como é que Lônin en-

carava o futuro do sou país. Luzes elétricas cintilavam nomapa om todos os sentidos, indicando aos dologados sovié-ticos, onrogolados o famintos as futuras usinas, diques hidre-létricos e outros projetos dos quais torrentes de energ iateriam do rolar para transformar a Velha Rússia numa naçãosocialista, m ode rna e industrializada. Ho uve um mu rmúriode excitação, d e aplausos e de incredulidade, que perpassoupela sala repleta e fria.

O amigo de Trotsky, Karl Radelc, espreitou o espetáculo

profético através de seus óculos grossos, sacudiu os ombrose cochichou: "Electro-ficção!" A graçola de Radek tornou-se

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um slogan trotskista. Bukharin disse que Lénin estava ten-

tando enganar os camponeses e trabalhadores com a sua"tagarelice utópica sobre a eletricidade."Fora da Rússia, os amigos e sustentáculos internacionais

de Trotsky nos círculos comunistas de esquerda e socialistasacreditavam que o regime de Lénin estava condenado. Vá-rios outros observadores também acreditavam que Trotskye a oposição de esquerda estavam à beira do poder. O cor-respondente americano do exterior, Isaac F. Marcosson, re-latou que Trotsky tinha "atrás do si os jovens comunistas,a maior parto dos oficiais o OS soldados do Exército Verme-

lho." Mas o mundo exterior, como o próprio Trotsky, su-perestimava a sua fôrça o popularidade.Num csfôrço para conseguir apoio da massa, Trotsky, per-

corria o país, .surgindo dramàticamonto nas assembléias pú-blicas, dirigindo discursos apaixonados, acusando os "velhosbolcheviques" do terem "degenerado" o apelando para a "mo-cidado" para que apoiasse o sou movimento. Mas os solda-dos, trabalhadores o camponeses russos, recém-chegados deuma guerra vitoriosa contra os possíveis Napoleõos brancos,não podiam de modo algum tolerar um "Napoleão Vermelho"

surgiclo de suas próprias fileiras. Como escreveu BernardPares na sua História da Rússia, a respeito do Trotsky nessaépoca:

"Um agudo crítico quo o conheceu na intimidadedisse fielmente que Trotsky pela sua natureza e pelosseus métodos portencia aos tempos pré-revolucionarios.Os demagogos estavam ficando fora do moda..."

No X Congresso do Partido Bolchevique, em março de

1921, o Comité Central assistido por Lénin aprovou uma re-solução proscrevendo tôdas as "facções" no Partido como umaameaça à unidade do movimento revolucionário. Daí emdiante todos os líderes partidários teriam de submeter-se àsdecisões da maioria e à sua direção sob pena de serem ex-pulsos do Partido. O Com itê Central especificamente admo-estou o "camarada Trotsky" contra as suas "atividades fac-ciosas" e declarou que "inimigos do Estado" aproveitando-seda confusão causada por essas atividades divisionistas, esta-vam penetrando no Partido e se denominando trotskistas. Nu-

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merosos trotskistas importantes e outros oposicionistas de es-querda foram destituídos. O principal apoio militar de Trots-ky, Nicolai Muralov, foi removido do comando da estratégicaguarnição militar do Moscou o substituído polo antigo Bol-chevique, Klomenti Vorocmlov.

No ano seguinte, em março do 1022, José Stálin foi elei-to secretário-geral do Partido o responsabilizado pelo prosse-guimento dos planos do Lénin.

Depois da dura admoestação do Partido o da destituiçãodo seus companheiros, o séquito do Trotsky começou a se

dissolver. Sou prestígio começou a declinar. A eleição deStálin foi ui» golpo esmagador contra a ação de Trotsky nomovimento do Partido.

O poder ia escorregando do suas mãos.

3. O atalho da traição

Desde o comôço, a oposição de esquerda vinha operandoom dois sentidos. Abortamento, om programas públicos, emseus jornais o salas do leitura, os oposicionistas levavam asua propaganda ao povo. Atrás dos bastidores, eram peque-nas conferências sccrotas de facção, com Trotsky, Bukharin,Zinoviev, Radek, Pyatakov e outros, quo delineavam a estra-tégia gorai o planejavam as táticas da oposição.

Com o seu movimento do oposição na base, Trotsky edi-ficou uma organização conspirativa secreta na Rússia fun-dada no sistema dos "Cinco que Reilly desenvolvera e que

os social-revolucionários o outros conspiradores anti-soviéticostinham adotado.Em 1923, o movimento subterrâneo já era uma organi-

zação extensa e poderosa. Trotsky e seus companheiros fa-bricavam códigos, cifras e senhas para as suas comunicaçõesilegais. Montaram tipografias através de todo o país. Funda-ram-se células trotskistas no exército, no corpo diplomático,nas instituições do Partido e do Estado.

Anos depois, Trotsky revelou que seu próprio filho, LeonSedov, estivera envolvido na conspiração trotskista, que já

vinha deixando de ser mera oposição política dentro do Par-

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tido Bolchevique para emergir como uma guerra secreta con-tra o regime soviético."Em 1923", escreveu Trotsky em 1938 em seu panfleto,

Leon Sedov: Filho — Am igo — Lutador, 'Xeon entregou-soao trabalho de oposi çã o ... Então, aos 17 anos, começou avida de um revolucionário inteiramente consciente. Apoderou-se depressa da arto do trabalho conspirativo, das reuniões ile-gais, da publicação o distribuição secreta (lo documentos daoposição. O Komsomol (Organização da Juventude Comunis-ta) desenvolveu rànidumonto os seus próprios quadros de lí-

deres da oposição."Mas Trotsky fôra além do trabalho conspirativo dentroda Rússia Soviética...

No inverno de 1921-1922, o líder trotskista, ex-advogado,de olhos furtivos o escuros, Nieolai Krostinsky, tornou-se oembaixador soviético na Alemanha. No decorrer de suas ati-vidades em Berlim, Krostinsky visitou o General Hans vonSeeckt, comandante da guarda do Reich. Seeckt sabia peloseu serviço do informações, quo Krostinsky era trotskista. Ogeneral alemão dou a entender a Krcstinsky que a guarda

do Reich simpatizara com as aspirações da oposição russadirigida pelo comissário do Guerra Trotsky.Em Moscou, poucos meses depois, Krostinsky relatou a

Trotsky o que lhe dissera o General Seeckt. Irotsky pre-cisava desesperadamente de fundos para financiar a sua cres-cente organização subterrânea. Comunicou a Krostinsky quea oposição na Rússia precisava de aliados estrangeiros e deviaestar preparada para unir-se com as potôncias amigas. A Ale-manha, acrescentou Trotsky, não era inimiga da Rússia, enão havia probabilidade de um próximo embate entre ambas.

Os alemães estavam fitando o ocidente, num ardente desejode révancho contra a França o a Inglaterra. Os políticos deoposição na Rússia Soviética deviam preparar-se para tirarproveito dessa situação..

Quando Krestinsky regressou a Berlim em 1922 tinha ins-truções de Trotsky para 'tirar vantagens de uma entrevistacom Seeckt durante as negociações oficiais a fim de propora este que concedesse a Trotsky um subsídio regular parao desenvolvimento ilegal das atividades trotskistas.

Eis aqui, segundo as próprias palavras de Krestinsky, o

que aconteceu:

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"Eu propus a questão a Seeckt e mencionei a im-portância do 250.000 marcos-ouro. O General Seeckt,depois do consultar o seu assistente, o chefe do pes-soal (Haaso) conpordou cm principio o fôz a contra-proposta pretendendo obter cortas informações impor-tantes o confidenciais de caráter militar que lhe se-riam transmitidas, embora não regularmente, por Trots-ky, cm Moscou, ou por sou intermédio. Acrescentouquo necessitava de ajuda para obter vistos destinadosà personagens que seriam enviados h União Soviéticacomo espiões, Lsta contra-proposta do General Seecktfoi aceita o em 1923 efetuou-se o aeôrdo (51,)

Aos 21 de janeiro de 1924, o criador o líder do PartidoBolchevique, Vladimir lliteh Lénin, morreu...

Trotsky estava no Cáucaso convalescendo de um vio-lento ataque do influenza. Não foi a Moscou para os funeraisde Lénin, permanecendo na estação balneária do Sukhura.

"Em Stikhum eu passei longos dias deitado no terraço,

om fronte ao mar", cscrovou Trotsky om Minha Vida. "Em-bora fôsso janeiro, o sol estava (monto o límpido... Enquan-to eu me embebia do ar marítimo, assimilava em todo omou ser a certeza do minha retidão histórica..."

4. A luta pelo poder

Imediatamente depois da morte de Lénin, Trotsky de-

clarou públicamente o seu desejo do poder. No Congressodo Partido em maio de 1924, Trotsky pediu que êle, e nãoStálin, fôsse reconhecido como sucessor de Lénin. Contrao parecer de seus próprios aliados, êle forçou eleitoralmente

(51 ) As referências e diálogos do livro III, a não ser que se de-clare o contrário no texto, com referência às atividades secretas dos tro-tskistas na Rússia, são extraídas do depoimento nos julgamentos realiza-dos diarite do Colleeium Militar da Suprema Corte da URSS emMoscou, em agôsto de 1936, janeiro de 1937 e março de 1938. Osdiálogos e incidentes que envolvem diretamente Trotsky e seu filho

Sedov, a não ser que designe o contrário, são extraídos do depoimentodos acusados nesses julgamentos. Ver as Notas Bibliográficas.

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a questão. Os 748 delegados bolcheviques no Congresso vo-taram unânimemente pela continuação de Stálin no Secre-tariado Geral, e a condenação da luta de Trotsky pelo po-der pessoal. Era tão óbvio o repúdio popular de Trotskyque até mesmo Bukharin, Zinoviev e Kamenev foram com-pelidos a cerrar publicamente com a maioria e votar contraêle. Trotsky acusou-os furiosamente de o estarem "traindo."Mas poucos meses depois Trotsky e Zinoviev congregaramnovamente as suas fôrças e formaram a "Nova Oposição."

A Nova Oposição foi além de qualquer outra facçãode sua espécie. Apelou públicamente por uma "nova lide-rança" na Rússia Soviética e reuniu tôda sorte de elementosdescontentes e subversivos em uma campanha de âmbitonacional e numa luta política contra o govêrno soviético.Como escreveu o próprio Trotsky: "Na esteira dessa van-guarda, vinha a cauda de todos os carreiristas insatisfeitos,mal-aquinhoados e ressentidos." Espiões, sabotadores da Torg-prom, contra-revolucionários, terroristas, .afluíram todos para ascélulas da Nova Oposição. As células começaram a arma-

zenar armas. Estava-se estruturando um exército trotskistasecreto no solo soviético."Temos que visar muito longe", comunicou Trotsky a

Zinoviev e Kamenev, como êle recorda em Minha \(ida:"Precisamos preparar-nos para uma luta séria e longa."

' De fora da Rússia, o Capitão Sidney George Reilly, doserviço secreto britânico, decidiu que era chegado o momen-to de lutar. O futuro ditador russo e títere britânico, BórisSavinkov, foi enviado para a Rússia nesse verão para prepa-rar o esperado levante contra-revolucionário. Conforme Wins-

ton Churchill, que ajudou pessoalmente essa conspiração to-mando parte nela, Savinkov estava em comunicação secretacom Trotsky. Nos Grandes Contemporâneos, Churchill escre-veu: "Em junho de 1924, Kamenev e Trotsky convidaramdefinitivamente Savinkov para voltar."

Nesse mesmo ano, o lugar-tenente de Trotsky, ChristianRakovsky, veio a ser embaixador soviético na Inglaterra. Ra-kovsky, que em 1937 Trotsky descrevia como 'meu amigo,meu velho e genuíno amigo', logo após a sua chegada loivisitado em Londres por dois oficiais do serviço britânico,

Capitão Armstrong e Capitão Lockhart. O govêrno britânicoa princípio recusara-se a aceitar representante soviético em

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Lon dres. Segundo Rakovsky, os oficiais britânicos intorma-ram-no:

"Sabe por que recebeu o seu agrément na Ingla-terra? Soubemos dè M r. Eastm an que o senhor per-tence à facção de Trotsky, e que e muito ligado aêle. E ünicam ente ejn consideração a isso o serviçosecreto consentiu em que o senhor fôsse acreditadoembaixador neste país (52.)

Rakovsky regressou a Moscou poucos meses depois. Co-municou a Trotsky o que acontecera em Londres. O ser-viço secreto britânico, como o alemão, desejava estabelecerrelações com a oposição.

(52 ) Essa d eclaração foi feita por Rokovsky durante seu depoi-mento perante o Collogium Militar da Suprema Côrte da URSS, emmarço de 1938. No período a que se referia Rakovsky no ano de1920, o autor e jornalista americano Max Eastman era o tradutor oficialdos trabalhos de Trotsky o dissominador influente da propaganda trotskis-ta nos E.U.A. Foi Max Eastman quem primeiro publicou o chamado"Testamento do Lénin" ou "Vontade de Lónin", que sustentou ser umdocumento autOntieo escrito por Lénin om 1Ô23 o quo fôra segundoEastman, "engav etado" por Stálln. O mencionado "Testame nto" declaravaquo Trotsky era mais indicado para secretário gorai do Partido Bolche-viqtto do quo Stálin. Em 1928, Eastman traduziu um trabalho de pro-paganda do Trotsky intitulado A situação real na Rússia. No suple-mento t\ edição traduzida disse livro, Eastman incluiu o toxto do cha-mado Testamento o escreveu aeôrca do seu papel pessoal na oposiçãotrotskista: " . . . para auxiliar o esfôrço militante da O p os iç ão ... eupubliquei a seguinte tradução do texto completo do Testamento noN. Y. Times, utilizando-mo do dinheiro recebido para propagandado idéias bolcheviques (i. 6. trotskista),"

O próprio Trotsky admitiu a princípio quo Lónin não deixara ne-nhum testamento. Em carta ao New York Daily Worker aos 8 deagôsto de 1925, Trotsky escreveu:

"Quanto ao testamento, Lónin não deixou nada disso, o a verda-deira natureza do suas relações com o Partido assim como a natureza dopróprio Partido tornavam somelhanto testamento impossível por completo.

"A guisa de testamento, a imprensa menchevique e burguesa emi-grada vem há muito citando uma das cartas de Lenin (completamentemutilada) quo contém numerosos pareceres sôbre questões de orga-nização.

"Tôda referência acêrca dêsse testamento é por conseguinte umaperversa invenção dirigida contra a vontade real de Lénin e dos inte-resses do partido que êle fundou."

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"É algo em que pensar" disse Trotsky.Poucos dias depois, Trotsky comunicou a Rakovsky que

"seriam estabelecidas as relações com o serviço secreto bri-tânico." (53.)

O Capitão Reilly, preparando o seu derradeiro golpecontra a Rússia, escrevia a sua espôsa: "Existe al^o de in-teressante, novo e empolgante acontecendo na Rússia.' O agen-te de Reilly, o comandante E., oficial consular britânico, re-latou que tinham sido estabelecidos contactos com o movi-mento de oposição na Rússia Soviética...

Mas nesse outono, depois do ter ido à Rússia Soviéticapara encontrar-se secretamente com os líderes da oposição,Reilly foi baleado por um guarda-fronteiras soviético.

Mas até hojo os propagandistas trotskistas mencionam o testamentode Lónin como um documonto autêntico oslnbolecondo Trotsky comosou sucessor.

(53 ) Em 19 20 , Rakovsky íoi tronsforldp do sou pôsto om Lond respara Paris. Êle viu Trotsky em Moscou antes do sua partida para aFrança. Trotsky lho disso quo a situação na Rússia so encaminhavapara uma criso o quo ora necessário aproveitar todo recurso possfvol noestrangeiro. "Eu cheguei a uma conclusão", comunicou Trotsky a Ra-kovsky, "e é que devemos dar instruções aos nossos aliados no estran-geiro, aos embaixadores o representantes comerciais, para sondarem oscírculos conservadores nos países capitalistas junto aos quais estão acre-ditados e verem até onde os trotskistas podem contar com o seuapoio."

Chegando à França, Rakovsky começou a sondar os círculos rea-cionários franceses em auxílio da oposição trotskista. A Fronçft era en-tão o centro da conspiração da Torgprom e o ostado-malor francêschefiado por Foch o Pótain já ostava considerando projetos de ataquecontra a União Soviética. Posteriormente Rakovsky declarou acêrca das"negociações que Trotsky mo incumbiu do encaminhar": "Eu me en-contrei com o Deputado Nicolo cm Roye, Nlcolo é um grande pro-prietário de fábricas de tecidos do linho no norte, e pertence aoscírculos republicanos de diroita. Eu o interroguei sòbre as oportunidadese perspectivas que havia para a oposição — se era possível negociarapoio no meio dos círculos capitalistas franceses agressivamente incli-nados contra a URSS. Êle replicou: "Ê claro que sim, e isso emmuito mais larga escala do aue você pen sa." Mas isso, disse êle,dependeria principalmente do auas condições. A primeira seria que aoposição se tornasse com efeito uma fôrça real, e a segunda, saber-seaté onde a oposição faria concessões ao capital francês. A segundaconversação que tive em Paris foi em 1927, em setembro, com o De-putado Luís Dreyfus, grande cerealista. Devo dizer que tanto a con-

versação como as conclusões foram análogas às de Nicole."

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Poucos meses depois da morte de Reilly, Trotsky ativouo que êle mais tarde referiu em Minha Vida, a saber: "umatemperatura misteriosa" que os "módicos de Moscou" eram"incapazes" do explicar. Trotsky decidiu que era necessárioir à Alemanha, lim sua* autobiografia óle recorda:

"O assunto de minha vinda ao exterior foi trata-do no Secretariado* Político, quo declarou considerarminha viagem como extremamente perigosa, cm vistada informação que possuía sôbro a situação políticageral, mas deixou a mim a decisão final. A declara-ção vinha acompanhada do uma nota da OGPU indi-cando a Jnadmissibilidado do minha viagem, ffi pos-sível quo o Secretariado Político estivesse tambémapreensivo pela minha atuação no exterior para con-solidar a oposição interior. Apesar de tudo, depoisdo consultar meus amigos, docitu ir."

Na Alemanha, conformo a sua própria narração, Trotskypermaneceu "numa clínica privada cm Berlim", onde foi visi-

tado por Nieoki Kmstósky, elomeato do ligação de Trotskycom o serviço do informações militar alemão. Enquanto Trotskyo Krostinsky conferenciavam juntos no disponsario, um "ins-petor do polícia" alemão, conformo Trotsky, apareceu subita-mente e anunciou quo a polícia secreta alemã ostava to-mando medidas extraordinárias para salvaguardar a vida deTrotsky, visto ter descoberto um compht para assassiná-lo,

Como conseqüência dôsso hábil estratagema do serviçosecreto, Trotsky o Krestinsky fceharam-se com a polícia se-creta alemã duranto várias horas ...

Novo aeôrdo foi efetuado nesse verão ontre Trotsky eo serviço secreto militar alemão. Krostinsky definiu mais tar-de os tôrmos dôsse aeôrdo:

"Nessa época nós já nos acostumáramos a recebersomas regulares, em moeda c o rre n te .. . Êsse dinheiroera encaminhado para o trabalho trotskista que sedesenvolvia no exterior em vários países, para publi-cidade e outras coisas m a i s . . . Em 1928, quando aluta dos trotskistas estrangeiros contra a liderança doPartido estava no seu ponto mais alto, tanto em Moscou

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como em tôda parte... Seeckt... apresentou a pro-posta pela qual a informação de espionagem que lhevinha sendo transmitida, não regularmente, mas detempos a tempos, deveria assumir agora um carátermais regular e, além disso, a organização trotskistadeveria assegurar que no caso de assumir o poderdurante uma possível nova guerra mundial levaria emconta as justas reivindicações da burguesia alemã, asaber, múltiplas concessões e a conclusão de váriostratados.

Depois de ter consultado T ro ts k y .. . eu respon-di ao General Seeckt afirmativamente o nossa infor-mação passou a ter um caráter mais sistemático, nãoapenas esporádico, como vinha tendo antes, Verbal-mente, fizeram-se promossas com respeito a um futu-ro pacto do após-guorra.

. . . Continuamos a receber dinheiro. A partir de1923 a 1930 recebemos anualmento 250.000 m areos-

ouro alemães... ou seja, aproximadamente, um totalde 2.000.000 de marcos-ouro."

De volta a Moscou, após a sua viagem à Alemanha,Trotsky lançou uma campanha total contra o govêrno sovié-tico. "Durante 1926, escreve Trotsky em Minha Vida, "a lutapartidária se desenvolveu com incessante intensidade. No ou-tono a oposição íôz mesmo uma investida aberta nos locaisde comícios partidários." Essas táticas falharam e desperta-

ram grando ressentimento entre os trabalhadores que denun-ciaram as atividades divisionistas dos trotskistas. "A oposição",escreveu Trotsky, "foi obrigada a bater cm retirada..."

Com a ameaça da guerra iminente à Rússia, no verãode 1927, Trotsky renovou seus ataques contra o govêrno so-viético. Em Moscou, Trotsky declarou públicamente.

"Precisamos restaurar a tática de Clemenceau que,como é sabido, insurgiu-se contra o govêrno francêsna ocasião em que os alemães estavam a 80 quilô-metros de Parisi'

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Stálin denunciou a declaração de Trotsky como uma trai-ção. "Está-se formando algo semelhante a uma frente únicade Chamberlain (54) e Trotsky", disse Stálin.

Mais de uma vez deííberou-se aeêrca da oposição e deTrotsky. Num referendum geral do todos os membros doPartido Bolchevique, uma esmagadora maioria de 740.000 vo-tos contra 4.000 repudiou a oposição trotskista o declarou-sea favor do govârno de Stálin (55.)

Em Minha "Vida, Trotsky descreve a frenética atividadeque se seguiu i\ sua esmagadora derrota por ocasião do re-

ferendum geral: Organizaram-se comícios secretos em várioslocais do Moscou o Lentogrado, com a assistência do ope-rários o estudantes do ambos os sexos, rounidôs em gruposdo 20, 100 o 200 para ouvir os representantes da oposição.No mesmo dia ou tinha quo estar presente a dois, trôs oató quatro dôstes comícios... A oposição preparou habilmen-te um comício monstro na sala da Escola Técnica Suportar,quo foi litoralmente ocupada. As tentativas do govôrno paraimpedir o comício foram ineficazes. Kamenev o ou falamoscôrca de duas horas."

Trotsky vinha preparando-so febrilmente para a próxi-ma luta decisiva. Polo fim do outubro, seus planos esta-vam feitos. Efe tuar se-ia um levanto aos 7 do novombro do1Ô27, décimo aniversário da Revolução Bolchoviquo. Os maisresolutos companheiros do Trotsky, antigos membros da guar-

( 5 4 ) Austin Chamberlain, Secretário do líxtcrior brílAnlco, violen-tamente onti-soviétleo, então cm exercício.

(55) 4.0 00 votos foi a maior íôrça obtida pela oposição cm todoo curso do sua agitação. A despeito da proscrição das "facções" o

da insistência oficial pela unidado do partido, era assegurada pologovôrno soviético uma surpreendento liberdade do debato, crítica oreunião aos oposicionistas trotskistas. Espccialmonto dopois da mortode Lénin, quando o país entrou num período do criso exterior o do-méstica, Trotsky podia tirar proveito de sua situação para tentar cons-truir um movimento de massa na Rússia Soviética cm apoio de suafacção. A propaganda pública da oposição explorava tôda espécie deargumento possível contra o regime soviético. A política social e eco-nômica do .govêrno de Stálin era subm etida à crítica constante comslogans tais como "incompetência administrativa", "burocracia descon-trolada", "ditadura de um homem e de um partido", "degenerescênciado velho govêrno" e outras coisas assim. Nenhuma tentativa se fêz parasuprimir a agitação de Trotsky enquanto ela não se manifestou aber-tamente de maneira anti-soviética e ligada a fôrças reacionárias.

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da do Exército Vermelho, deviam encabeçar a insurreição.Postaram-se destacamentos destinados a tomar os pontos es-tratégicos do país. A senha para o levante seria uma de-monstração política contra o govêrno soviético durante a pa-rada operária em Moscou na manhã de 7 de novembro. EmMinha Vida, Trotsky afirmou mais tarde:

"O grupo dirigente da oposição enfrentou esse fi-nal com os olhos bem abertos. Convencemo-nos deque para transformar nossas idéias em patrimônio co-

mum da nova geração, não o faríamos com diploma-cia e evasão, mas únicamente por meio de uma lutaaberta que não se esquivasse de nenhuma das con-seqüências práticas. Defrontamo-nos com a derrota,confiantes, todavia, em que pavimentávamos o cami-nho para o triunfo de nossas idéias num futuro maisdistante."

A insurreição de Trotsky morreu quase no nascedouro.Na manhã de 7 de novembro, quando os trabalhadores mar-chavam pelas ruas de Moscou, foram atirados folhetos depropaganda trotskista do alto dos edifícios, anunciando o ad-vento de um "novo govêrno." Pequenos bandos de trotskistasirromperam subitamente nas ruas, agitando estandartes e car-tazés. Escorraçaram-nos os trabalhadores irritados.

De 1924 a 1927, segundo as palavras de Sidney e Beatrice Webb, emComunismo Soviético — uma Nova Civilização?, "seguiu-se 0 que podeÍmrecer surpreendente para aquôlcs que acreditam que a URSS jaz emamúrias debaixo de uma ditadura peremptória, a saber, três anos de

incessante controvérsia pública. Esta tomou várias formas. Houve re-petidos debates nos principais órgãos legislativos, tais como o ComitêCentral Executivo (TSIK) do Congresso Geral dos Sovietes e o ComitêCentral do Partido Comunista. Houve discussões acaloradas em muitossovietes locais, assim como nos órgãos partidários locais. Houve umavasta literatura (oposicionista) de livros e panfletos, não impedida pelacensura e publicada até mesmo nas editôras do Estado, e que atingiu,segundo alguém bem informado do assunto, a milhares de páginasimpressas." Os Webb acrescentaram que essa publicidade "foi finalmenteautorizada pelo Plenum do Comitê Central do Partido em abril de1925; outra decisão a ratificou, depois de grande discussão, na XIVe na XV Conferências do Partido em outubro de 1926 e dezembro de

19 27 " e "depois de tais decisões Trotsky persistiu em sua agitação pro-curando suscitar resistência; essa conduta tornou-se abertamente facciosa."

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As autoridades soviéticas agiram prontamente. Muralov,Smirnov, Mrachkovsky, Dreitzer e outros antigos membros daguarda militar de Trotsky foram imediatamente apanhados.Kamenev e Pyatakov foram presos em Moscou. Os agentesdo govêrno deram busca nas tipografias secretas dos trots-kistas e nos depósitos de armas. Zinoviev e Radek forampresos em Leningrado, para onde tinham ido organizar umPutsch que deveria estalar no mesmo dia. Um dos compa-nheiros de Trotsky, o diplomata Joffe, que fôra embaixadorno Japão, suicidou-se. Em muitos lugares os trotskistas fo-

ram presos em companhia de antigos oficiais brancos, terro-ristas social-revolucionários e agentes estrangeiros...Trotsky foi expulso do Partido Bolchevique e exilado.

5. Alma Ata

Trotsky foi exilado para Alma Ata, capital da RepúblicaSoviética de Kazakh, na Sibéria, perto da fronteira da China.Foi-lhe concedida uma casa para êle, sua espôsa e seu filho,Sedov. Trotsky foi tratado benignamente pelo govêrno sovié-tico, que ignorava o escopo real e a significação de sua cons-{ffrata. Foi-lhe permitido reter alguns de seus guardas pessoais,inclusive o antigo oficial do Exército Vermelho, EphraimDreitzer. Foi autorizado a receber e enviar correspondênciapessoal, a ter a sua própria biblioteca e "arquivos" confiden-ciais e a receber visitas de tempos a tempos de seus ami-gos e admiradores.

Mas o exílio de Trotsky de modo algum pôs têrmo àssuas atividades conspirativas...Aos 27 de novembro de 1927, o mais sutil de todos

os estrategistas trotskistas, o agente alemão e diplomata Ni-colai Krestinsky, escreve uma carta confidencial a Trotsky,na qual estabelecia a estratégia a ser seguida pelos conspi-radores comunistas nos próximos anos. Era absurdo, escre-via Krestinsky, para a oposição trotskista, continuar sua agi-tação aberta contra o govêrno soviético. Ao invés disso, ostrotskistas deviam retornar ao Partido, assegurar posições-cha-ve no govêrno soviético e continuar lutando pelo poder de

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dentro do próprio govêrno. Os trotskistas, escreveu Krestinsky,

devem procurar "lentamente, gradualmente, e com trabalhopersistente dentro do Partido restaurar e reaver a confiançaperdida no meio das massas e a influência sôbre elas."

A sutil estratégia de Krestinsky agradou a Trotsky. De-pressa baixou instruções, como revelou depois Krestinsky, aoscompanheiros presos e exilados para que "voltassem ao Par-tido , "continuassem suas atividades em segrêdo" e "ocupas-sem os postos de responsabilidade mais ou menos indepen-dentes." Pyatakov, Radek, Zinoviev, Kamenev e outros opo-sicionistas exilados passaram a acusar Trotsky, proclamandoo "êrro trágico" de sua oposição passada o pleitearam suareadmissão no Partido Bolchevique.

A casa de Trotsky em Alma Ata passou a ser o centrode intensa intriga anti-soviética. "A vida ideológica da opo-sição fervia como um caldeirão", escreveu Trotsky mais tardeno panfleto Leon Sedov: Fílho-Amigo-Luiadar. Do Alma Ata,Trotsky dirigia uma propaganda clandestina do âmbito na-cional e a campanha subversiva contra o regime sovié-tico (56.)

(56 ) Na ausência do Trotsky, a responsabilidade do direção dasfôrças remanescentes da oposição passaram temporariamente para asmãos de Nicolai Bulcharin que, discordando da direção de Trotsky,astutamento so recusara a tomar parto no desastrado putsch. Bukha-rin chegara a considerar-se a si mesmo, o não a Trotsky, como o líderfiel e o teórico da oposição. Na "Escola Marxista" especializada quedirigia em Moscou, Bulcharin coreora-se de um grupo do "quadros",como êle os chamava, recrutados entre jovens estudontcs. Bukharin trei-nou numerosos dêsses estudantes na técnica da conspiração. Ele estavaainda em estreita ligação com membros da intclÜgontsia técnica quese aliara ao Partido Industrial. Prèviamente, Bukharin se denominaraa si mesmo "comunista da esquerda"; agora, depois da queda de

Trotsky, começara a formular princípios do que seria mais tarde de-nominado públicamente a oposição de direita.Buhkarin acreditava que Trotsky agira precipitadamente e que seu

fracasso fôra devido, sobretudo, ao fato de êle não atuar em unís-sono com as outras fôrças anti-soviéticas que operavam no país. Aisso Bukharin propunha-se remediar com a sua oposição de direita.Em seguida à proscrição dos trotskistas, o primeiro Plano Qüinqüenalestava para se efetuar em larga escala. O país enfrentava dificuldadese tensões extremas. Juntamente com o funcionário público Alexei Rykov,e o líder sindical M. Tomsky, Bukharin organizou a oposição da direitadentro do Partido Bolchevique em cooperação secreta com os agentes,da Torgprom e os mencheviques. A oposição de direita era baseada

na franca oposição ao Plano Qüinqüenal. Por detrás dos bastidores

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O filho de Trotsky, Leon Sedov, assumiu a direção dosistema de comunicação secreta pelo qual Trotsky se man-tinha em contacto com seus próprios companheiros e outrosoposicionistas do país. Çom pouco mais de 20 anos, pos-suidor de grande energia nervosa, experimentado e hábil cons-pirador, Sedov combinava um feroz apôgo às aspirações daoposição com um contínuo"© amargo ressentimento contra aatitude egoísta e ditatorial de seu pai. Em Leon Sedov:Filho-Amígo-Lutador, Trotsky revelou o papel importante de-sempenhado por seu filho na supervisão do sistema de comu-

nicação secreta do Alma Ata:"No inverno de 1927... Leon completara seus

22 anos... Seu trabalho em Alma Ata, durante êsseano, foi realmente incomparável. Nós o chamávamoso nosso ministro de Negócios Exteriores, ministro dePolícia e ministro de Comunicações. E para desem-penhar tôdas essas funções êle tinha de confiar numaorganização ilegal."

Bukharin formulava o seu programa real em oncontros conspirativos comos representantes do Trotsky, o com agentes do outras organizaçõessubterrâneas.• "Se o meu programa devesse ser formulado", declarou Bukharin

mais tardo "seria na esfera econômica, capitalismo do Estado, prospe-ridade individual do mujiqtío, reunião das granjas coletivas, concessõesaos estrangeiros, abolição do monopólio do comércio exterior, o comoresultado a — restauração do capitalismo no país... Dentro do pois, nossoprograma seria o bloco com os moneheviques, social-revolucionários eoutros quo tais... Uma cscorrcgadura... no sentido político para ondeindubitàvolmente figuravam elementos do czarismo... elementos dofascismo."

A nova linha política" do Bukharin para a oposição atraiu umséquito do oficiais carreiristas altamonto colocados na Rússia Soviética,que não tinham fé no sucesso do Plano Qüinqüenal. Os lídores das or-ganizações de kulaks, quo resistiam ferozmente ll eoletivização do campo,forneceram à oposição do direita de Bukharin os elementos de massafundamentais que Trotsky tinha procurado em vão. Trotsky a prin-cípio ressentiu-se com a liderança do movimento iniciada por Bukharin;mas depois de "um breve período de rivalidades e de rixas mesmo,reconciliarám-se. A fase pública e 'legal" da oposição de direita per-durou até novembro de 1929, quando um pleno do Comitê Central doPartido Bolchevique declarou que a propaganda das doutrinas das di-reitas era incompatível com a condição de membro do Partido. Bukha-

rin. Pyatakov e Tomsky foram destituídos de suas posições oficiais.

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2 2 6 MICHAEL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

Sedov servia de elemento de ligação com os estafêtassecretos que traziam mensagens a Alma Ata e levavam devolta as "diretrizes" de Trotsky:

"Às vezes chegavam de Moscou portadores espe-ciais. Não era coisa simples o entendimento comeles. As ligações exteriores eram inteiramente con-fiadas a Leon. Êle tinha de sair de casa em noitechuvosa ou quando a neve caía pesadamente, iludindoa vigilância dos espiões. Tinha de ocultar-se duran-

te o dia para encontrar um cstafêta numa casa debanhos ou no meio da espessura das searas nos limi-tes da cidade, ou no mercado oriental, lugar ondeos Kirghiss burburinhavam com sous cavalos, Durros emercadorias. E do cada vez regressava contente, comum brilho de conquista nos olhos o uma carga pre-ciosa debaixo da roupa."

Quase "100 itens por somana" de caráter secreto passa-vam pelas mãos do Sedov. Alóm disso, grandes quantida-des de material de propaganda e correspondência pessoaleram enviados por Trotsky do Alma Ata. Muitas das cartascontinham "diretrizes" para seus companheiros, assim comopropaganda anti-soviética, "En tro abril e outubro (1928)"," ga-bava-se Trotsky, "nós recebemos aproximadamente 1.000 car-tas políticas, documentos o cêrca do 700 telegramas. Nomesmo período .nós expedimos 300 telegramas e não menosde 800 cartas políticas..."

Em dezembro do 1928, um representante do governo

soviético chegou em visita a Trotsky em Alma Ata, e comu-nicou-lhe segundo êste refere em Minha Vida: "O trabalhode vossos simpatizantes no país assumiu últimamente um ca-ráter claramente contra-revolucionário. As condições em queestais em Alma Ata dão-vos inteira oportunidade de diri-gir esses trabalhos..." O govêrno soviético desejava obter deTrotsky uma promessa de não prosseguir a sua atividadesediciosa. Sem o que, seria constrangido a tom ar medidasseveras contra êle como traidor. Trotsky recusou-se a ouvira admoestação. Seu caso foi discutido e decidido em Moscoupela OGPU em 18 de janeiro de 1929, da forma seguinte:

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"Considerado: o caso do cidadão Trotsky, Lev Da-vidovitch, sob o artigo 5810 do Código Criminal, acu-sado de atividade contra-revolucionária expressa na or-ganização de um , partido ilegal anti-soviético, ativi-dade essa dirigida posteriormente em atos de provo-cação contra os Sovietes e na preparação de um le-vante armado contra o poder soviético.

Resolvido-. deportar o cidadão Trotsky, Lev Davi-dovitch, do território da URSS."

Na manhã de 22 de janeiro de 1920, Trotsky foi for-malmente deportado da União Soviética.

Era o comfiço da fase mais extraordinária da carreirade Leon Trotsky.

"Exílio geralmente significa eclipse. Foi uma exceção ocaso de Trotsky", devia escrever mais tarde Isaac F. Mar-cosson em Anás Turbulentos: "Besouro humano quando aindadentro dos confins soviéticos, sua ferroada deveria tornar-semuito menos eficaz a milhares de milhas de distância. Masna stxa atividade remota tornou-se Êle o inimigo número umda Rússia. Napoleão teve uma Santa Helena, onde acaboua sua carreira do perturbador europeu. Trotsky teve cincoSantas Helenas. Ciada uma delas foi um ninho de intriga.Mestre da propaganda, Êle passou a viver numa atmosferafantástica de conspiração nacional e internacional, como numatrama misteriosa de E . Phillips Opponhcim."

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C A P I T U L O XV I

GÊNESE DE UMA QUINTA-COLUNA

1. Trotsky em ElbaAos 13 de fevereiro de 1929, Leon Trotsky chegou a

Constantinopla. Não chegou como um exilado político de-sacreditado. Chegou como um potentado em visita. Man-chetes na imprensa mundial relutaram o acontecimento. Cor-respondentes ostrongolros esporaram paru saudar a lancha es-pecial que o levou ao caís. Passando por Aios, Trotsky diri-giu-se a um automóvel quo o esporava guiado por um de

seus guardas pessoais e foi conduzido dali para os seus apar-tamentos na cidade preparados do antemão.Houve uma tempestade política na Turqxiia. Intérpretes

pró-soviéticos pediram a expulsão do Trotsky; intérpretes anti-soviéticos saudaram-no como inimigo do regime soviético. Ogovêrno turco parecia indeciso. Houve rumores de pressãodiplomática para conservar Trotsky na Turquia próximo àsfronteiras soviéticas. Finalm ente ehegou-sc a um compromis-so: Trotsky permaneceria na Turquia mas não na Turquia.O "Napoleão Vermelho" obteve um asilo na ilha turca de

Prinkipo. Trotsky, sua espôsa e filho e alguns de seus guar-da-costas partiram poucas semanas depois...Em Prinkipo a ilha pitoresca do Mar Negro com que

Woodrow Wilson sonhara para reunir uma conferência depaz aliado-soviética, o exilado Trotsky estabeleceu seu novoQ. G. político com seu filho Leon Sedov, seu principal aju-dante e vice-comandante. "E m Prinkipo, entretanto, forma-ra-se um novo grupo de jovens cooperadores de diferentespaíses em íntima colaboração com meu filho" escreveu Trots-ky mais tarde. Uma estranha e frenética atmosfera de mis-

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2 3 0 MICHA EL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

tério e de intriga circundava a pequena casa em que vivia

Trotsky. A casa era exteriormente guardada por cães eguardas armados. Dentro a casa enxameava de aventureirosradicais da Rússia, Alemanha, Espanha e outros países quevinham encontrar-se com Trotsky em Prinkipo. file os cha-mava seus "secretários." Formavam uma como nova guardade Trotsky. Era uma caudal constante de visitantes na casa:propagandistas anti-soviéticos, políticos, jornalistas e adm ira-dores do heróico exilado e futuros "revolucionários mundiais."Os guarda-costas permaneciam fora da porta da bibliotecade Trotsky enquanto êle mantinha conferências privadas com

renegados dos movimentos internacionais comunistas ou socia-listas. De tempo a tempo suas visitas segredavam coisas. Agen-tes dos serviços secretos e outras pessoas misteriosas vinhampara entendimento com Trotsky.

A princípio o chefe da guarda armada de Trotsky emPrinkipo foi Blumkin, o assassino social-revolucionário que se-guira Trotsky com devoção canina até ao comêço de 1920.Posteriormente em 1930, Trotsky mandou-o de volta à RússiaSoviética em missão especial. Blumkin foi apanhado pelapolícia soviética e julgado culpado de contrabandear armas

e propaganda anti-soviética na URSS e foi fuzilado. Depoisa guarda de Trotsky foi comandada por um francês Ray-mond Molinier e por um americano Sheldon Harte.

Cuidadosamente Trotsky procurou manter a sua reputa-ção de "grande revolucionário no exílio temporário. Êle ti-nha então 50 anos. Seu busto rechonchudo e ligeiramenterecurvo ia tornando-se volumoso e flácido. Sua famosa cabe-leira preta e sua barbicha em ponta tornaram-se grisalhas.Mas os seus movimentos ainda eram rápidos e impacientes.Seus olhos escuros atrás do inveterado pince-nez que brilhavaem seu nariz afilado davam à sua feição sombria e móveluma expressão de peculiar malevolência. Vários observadoressentiram repulsa ante a sua fisionomia mefistofélica. Outrosencontravam na sua voz e nos seus olhos uma fascinaçãoquase hipnótica.

Trotsky não perdeu ensejo de firmar a sua reputaçãofora da Rússia Soviética. Êle gostava de citar as palavrasdo anarquista francês, Proudhon: "Destino.;— rio-me de ti;e quanto aos homens são demasiado ignorantes, demasiadoescravos para me aborrecer com êles." Mas antes de entre-

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vistar-se com personagens importantes, Trotsky ensaiavacuidadosamente o seu papel e estudava até atitudes ade-quadas em frente ao espelho do seu quarto. Jornalistas quevisitavam Prinkipo tinham de submeter os seus artigos à apre-ciação de Trotsky antes do serem publicados. Em conver-sação, Trotsky porejava a sua intérmina efusão de asserçõesdogmáticas o invectivas anjti-soviéticas, marcando cada sen-tença e atitude com a intensidade teatral de um orador demassas.

O escritor liberal alcmílo, Emil Ludwig, entrovistou-o logo

após a sua instalação em Prinkipo. Trotsky estava otimista.Á Rússia estava diante de uma crise, disso êle: O Plano Qüin-qüenal fôra um fracasso; haveria closemprêgo débaolo 'eco-nômica o Industrial; o programa do coletivização na agricul-tura tinha falhado; Stálin estava conduzindo o país parauma catástrofe; a oposiçfto crescia...

— Quantos sito os vossos companheiros na Rússia? — per-guntou Ludwig,

Trotsky tornou-se síibitament© cauteloso. Agitou a inflo

gorducha, branca o polida. "É difícil calcular. Siui gentoestava "dispersa", disse 61o a Ludwig, trabalhando ilegal e"subtorrâneamente"

— Quando esperais voltar novamente à açíio?

Ao que Trotsky depois de alguma consideração repli-cou: — Quando se apresentar alguma oportunidade do exte-rior. Talvez uma guerra ou uma nova Intervenção européia— quando a debilidade do govôrno atuar como um ostímuloi —

Winston Ghurchill ainda apaixonadamente interessado em

tôda fase da campanha anti-soviética mundial, fôz um estudoespecial do exilado de Prinkipo. "Jamais gostei do Trotsky"declarou Churchill em 1944. Mas sua aud ácia conspirativa,seus talentos oratórios e energia demoníaca agradavam aotemperamento aventureiro de Churchill. Resumindo os intui-tos gerais da conspiração internacional de Trotsky desde quedeixara o solo soviético, Churchill escreveu em Grandes Con-temporâneos:

"Trotsky empenha-se em congregar o mundo sub-

terrâneo europeu para derribar o Exército Russo."

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Por essa época ainda o correspondente americano, JohnGunther visitou o Q. G. de Trotsky em Prinkipo. Faloucom Trotsky e numerosos dos seus correligionários russos eeuropeus. Para surprêsa de Gunther, Trotsky não se com-portava como um exilado derrotado. Com portava-se maiscomo um monarca ou um ditador no govôrno. Gunther pen-sou em Napoleão em Elb a — pouco antes do dramáticoregresso e dos Cem Dias. E escreveu:

"O movimento de Trotsky cresceu na maior parteda Europa. Em cada país existe um núcleo de agi-

tadores trotskistas. Êles recebem ordens diretas dePrinkipo. Há uma espécie de comunicação entre osvários grupos por intermédio de suas publicações emanifestos mas muito especialmente por meio de car-tas particulares. Os vários comitês centrais estão ligadosa um Q. G. internacional em Berlim."

Gunther tentou levar Trotsky a falar de sua IV Inter-nacional, sôbre o que êle pretendia e que fizera a êsse respeito.Trotsky foi reservado nesse assunto. Num m omento expan-sivo mostrou a Gunther numerosos "livros ocos" nos quaiscostumava esconder e transportar documentos secretos. Depoislouvou as atividades de Ádreas Nin na Espanha (57.)

Êle tinha ainda companheiros e simpatizantes influentesnos E.UA. Falou de células trotskistas que vinham sendofundadas na França, Noruega e Tcheco-Eslováquia. Suas ativi-dades, comunicou Gunther, eram "semi-secretas."

Gunther escreveu que Trotsky "perdera a Rússia ao me- •nos por algum tempo. Ninguém sabe se a reconquistará em •

dez ou vinte anos. O principal anelo de Trotsky era "man-ter sua organização e esperar a queda de Stálin na Rússiae enquanto isso empregar tôda energia possível para aper-feiçoa-la no estrangeiro.

Só "uma coisa", concluía Gunther, poderia permitir avolta de Trotsky à Rússia. Es sa coisa era a morte de Stálin.

D e Prinkipo, durante 1930-1931, Trotsky lançou um aextraordinária campanha de propaganda anti^soviética que pe-

(57 ) Ver adiante as ligações posteriores de Nin com a quinta-

-coluna fascista na Espanha.

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netrou em todos os países. E ra um a propaganda de tipointeiramente novo, infinitamente mais sutil e desconcertantedo que outra qualquer antes dirigida pelos cruzados anti-bolcheviques.

Os tempos tinham mudado. Depois da grande guerra,o mundo inteiro se tomara revolucionário, visto que não de-sejava a volta aos atalhos do passado que tinham acarre-tado tanta miséria e sofrimento. A contra-revolução incipi-ente do fascismo na Itália, fora efetivamente promovida porseu fundador ex-socialista, Benito Mussolini, como a "Revo-

lução Italiana." Na Alemanha, os nazistas conquistavam oapoio das m assas, não só pela sua bandeira antíb olchevique,mas também apresentando-se aos trabalhadores e campone-ses alemães como nacional-socialistas. Já em 1930, Trotskyassenhoreara-se do processo de propaganda que Lênin deno-minara slogans ultra-revolucionários que nada lhe custam."

Agora, em escala mundial, Trotsky passou a desenvol-ver a técnica de propaganda que êle empregara originariamentecontra Lênin e o Partido Bolchevique. E m inúmeros arti-

gos, livros, panfletos e alocuções ultra-esquerdistas e de tona-lidade radical, Trotsky começou a atacai o regime soviéticoe fazer apelos para a sua violenta derrocada* — não por serrevolucionário êsse regime, mas por ser, como êle acentua-va, "contra-revolucionário" e "reacionário."

Da noite para o dia, muitos dos antigos cruzados anti-bolcheviques abandonaram sua antiga linha de propagandapró-czarista e abertamente contra-revolucionáiia, adotando anova bandeira, marcadamente trotskista, de ataque à revo-lução russa "pela esquerda." Xos anos seguintes, até mesmo

Lord Rothermere ou William Randolph Hearst passaram aacusar José Stalin de "traidor da Revolução."O primeiro e maior trabalho da propaganda de Trotsky

para introduzir essa nova 1 infra anti-soviética de contra-revo-lução internacional foi a sua autobiografia melodramática esemifictícia intitulada Minha Vida. Publicada a princípionuma série de artigos anti-soviéticos de Trotsky em jornaiseuropeus e americanos, seu intuito como livro era vilipendiarStálin e a União Soviética, aumentar o prestígio do movi-mento trotskista e arvorar o mito de Trotsky como "revo-lucionário universal." Trotsky pintou-se a si próprio em Minha.

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Vida como o real inspirador e organizador da revolução russa,eliminado de seu devido lugar de líder russo por adversários"dolosos", "medíocres" e "asiáticos."

Agentes e publicistas anti-sovióticos imediatamente alça-ram às nuvens o livro de Trotsky, apresentando-o como best-seller mundial em que se relatava a "história íntima" darevoluçtío russa.

Adolfo Hitler leu a autobiografia de Trotsky logo de-pois de publicada. O biógrafo de Hitler, Konrad Heiden,relata em Der Fuehrer como o líder nazista surpreendeu umcírculo de amigos seus em 1930, inflamando-se em louvoresextáticos ao livro de Trotsky. "Brilhante!" exclamou Hitler,mostrando aos seus companheiros a Minha Vida de Trotsky."Aprendi muita coisa neste livro, e vocês podem fazer omesmo I"

O livro de Trotsky tornou-se ràpidamente um livro deconsulta dos serviços secretos anti-soviéticos. Foi aceito comoguia básico de propaganda contra o regime. A polícia se-creta japonêsa fêz dêíe a leitura compulsória dos comunistasjaponêses e chineses presos, num esforço para abatê-los mo-ralmente e convencê-los de que a Rússia Soviética traíra arevolução chinesa e a causa pela qual êles vinham lutando.A Gestapo fêz uso idêntico do livro...

Minha Vida foi apenas o tiro inicial da prodigiosa cam-panha de propaganda anti-soviética de Trotsky. Seguiram-seA 'Revolução Traída, A E conomia Soviética em Perigo, OFracasso do Plano Qüinqüenal, Stálin e a Revolução Chinesa,A Escola de Falsificação de Stálin, e inúmeros outros pan-fletos e artigos, muitos dos quais apareceram a princípiosob espalhafatosas manchetes nos jornais reacionários na Eu-

ropa e na América. O bureau de Trotsky supriu a imprensaanti-soviética mundial com uma torrente ininterrupta de "re-velações", "exposições" e "Estórias íntimas" acêrca da Rússia.

Para consumo interno da União Soviética, Trotsky publi-cou seu Boletim oficial da Oposição. Impresso no estrangei-ro, a princípio na Turquia, depois na Alemanha, França, No-ruega e outros países, o Boletim não se destinava a atingiras massas soviéticas. Destinava-se aos diplomatas, funcioná-rios de Estado, militares e intelectuais que tinham antesacompanhado Trotsky ou pareciam ter sido influenciados por

êle. O Boletim continha também diretrizes para o trabalho

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de propaganda dos trotskistas tanto dentro da Rússia comono exterior. Incessantemente, o Boletim carregava o quadrodo futuro desastre do regime soviético, predizendo crisesindustriais, guerra civil reiniciada, e o colapso do ExércitoVermelho ante o primeiro ataque de fora. O Boletim seutilizava hàbilmente das dúvidas e ansiedades que desper-tavam nos elementos instáveis, confusos e insatisfeitos, as ex-tremas tensões e dificuldades do período de construção. OBoletim apelava abertamente para tais elementos para quese insurgissem e praticassem atos de violência contra o go-vêrno soviético.

Eis alguns exemplos típicos da propaganda anti-soviéticae apelos à derrocada violenta do regime soviético que Trotskydivulgou à larga pelo mundo nos anos que se seguiram asua expulsão da URSS;

"A poli (leu do uhiul governo, o pequeno grupo deStíilln» está dirigindo o puto a tôdn velocidade, it peri-gosas (tInom e colapso,'j. Cíirla aos membros doPartido CoitHihfNtu da Utiíuo Soviética, março do 1930.A crise iminente da economia soviética, a lenda açu-carada (de quo lie pode edificar o socialismo em umsó país) e, niío tenho ray.iío pura duvidar, disseminarámuita m o r to .. . As ftmçocs da economia (soviética)sem reservas materiais e sem cálculo... a burocraciadescontrolada ligaram o seu prestígio ao subseqüenteacúmulo de er r o s .. . uma crlso está iminente (na UniãoSoviética) com uma comitiva do conseqüências taiscomo o fechamento forçado do emprêsas e o desem-prego. — Economia soviética em perigo, 1932.

O primeiro embato social, externo ou interno, ar-remessará numa guerra civil a sociedade soviética es-tilhaçada. — A União Soviética e a IV Internacio-nal, 1933.

Seria infantil pensar que a burocracia de Stálinpode ser removida por meio de um congresso dossovietes ou do Partido. Não há meios normais, cons-titucionais para renovação da clique que governa...Êles só podem ser compelidos a entregar o poderà vanguarda proletária pela FÔRÇA — Boletim da

Oposição, outubro de 1933.

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As crises políticas convergem para a crise geral

que está avançando. O assassínio de Kirov, 1935.Dentro do Partido, Stálin colocou-se acima de tô-da crítica e do Estado. Ê impossível deslocá-lo, anão sor pelo assassínio. Todo oposicionista torna-se,ipso facto, um terrorista. — Declaração de uma en-trevista com o New York Evening Journal de WilliamRandolph Hearst, 26 de janeiro de 1937.

Podemos esperar que a União Soviética saia dapróxima grande guerra sem derrota? A essa questãocolocada francamente, respondemos francamente: Se

a guerra fôr apenas uma guerra, a derrota da UniãoSoviética será inevitável. Num sentido técnico, eco-nômico e militar, o imperialismo é incomparàvelmentemais forte. Se não fôr paralisado pela revolução noOcidente, o imperialismo varrerá o presente regime.— Artigo no American Mercury, março de 1937.

A derrota da União Soviética é inevitável no casoda nova guerra não provocar uma nova revolução...Se admitirmos teòricamente guerra sem revolução, en-tão a derrota da União Soviética é inevitável. — De-poimento em tribunal no México, abril de 1937."

2. "Rendez-vous" em BerlimDesde o momento em que Trotsky deixou o solo sovié-

tico, os agentes dos serviços secretos estrangeiros movimenta-ram-se ansiosos por tomarem contacto com ele e utilizarem-sede sua organização anti-soviética internacional. A Defensivapolonesa; a Ovra fascista italiana; o serviço secreto finlandês,os emigrados russo-hmncos que dirigiam os serviços secretosanti-soviéticos na RunDnia, Iugoslávia e Hungria, e elementosreacionários como o serviço secreto britânico e o DeuxiemeBureau francês prepararam-se para entendimentos com o"Inimigo Público Número Um da Rússia." Havia fundos, as-sistentes, uma rede de serviços de espionagem e de correioà disposição de Trotsky para manter e estender suas ativi-dades de propaganda anti-soviética internacional e para apoiara reorganização de seu aparelho conspirativo dentro da Rússia

Soviética.

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O mais importante de tudo isso eia a crescente intimi-

dade de Trotsky com o serviço secreto militar alemão (Sec-ção 1 1 1 B) que, sob o amando do Coronel Walther Ni-colai, já estava colaborando com a promissora Gestapo deHeinrich Himmler.

Até 1930, o agente de Trotsky, Kxestmsky, recebera apro-ximadamente 2.000.000 de marcos-ouro da Guarda do ReichAlemão para financiar'atividades trotskistas na Rússia Sovié-tica,. em tro ca de dados d e espionagem entregues a o serviçosecreto müitar alemão pelos trotskistas. Krestinsky revelou

mais tarde:D e 1923 a 1930 recebemos anualmente 250.00 00

marcos-ouro alemães, aproximadam ente 2.000 .000 demarcos-ouro. Até ao fim de 1927 as condições dêsseacordo foram encaminhadas' várias vêzes em Moscou.Depois disso, do fim de 1927 ao fim de 1928, nodecurso de cêrca de dez meses, houve uma interrup-ção na remessa dêsse dinheiro, pelo fato d e o trotskismoter sido desmantelado, fitando eu isolado, sem saberdos projetos de Trotsky e sem receber informaçõesou instruções d è l e . . . Isto continuou a té outubro de1928, quando recebi moa carta de Trotsky, que nessaocasião estava exilado em Alma A t a . . . Ess a cartacontinha instruções para que eu recebesse o dinheirodos alemães, que êle propunha fôsse entregue a Mas-low ou aos seus amigos franceses, isto é, Roemer, Ma-deline Paz e outros. Entrei em contacto com o Ge-neral Seeck t Nessa ocasião êle resignara e aindanão ocupava nenhum posto. Prontificou-se a falar

sôbre o caso com Hammerstein e obter o dinheiro!Obteve-o. Hammerstein era nesse tempo o chefe doestado-maior da guarda do Reich, e em 1930 foi pro-movido a coma nrlan te-geraL"

F.m 1930 Krestínsky foi designado como comissário-assis-tente do Ministério do Exterior e transferido de Berlim pa-ra M oscou. Sua remoção da Alemanha, juntamente com acrise interna que se ia operando dentro da guarda do Reichcomo resultado do crescente poder do nazismo, detiveram

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novamente a caudal de dinheiro alemão para Trotsky. Mas

êste já estava para entrar em novo e mais extenso acôrdocom o serviço secreto alemão.Em fevereiro do 1931, o filho de Trotsky, Leon Sedov,

alugou um apartamento em Berlim. Do conformidade como seu passaporte, Sedov era um "estudante" na Alemanha;aparentemente tinha chegado a Berlim para freqüentar um"instituto científico alemão." Mas havia razões mais urgen-tes para a presença de Sedov na capital alemã naquele ano ...

Poucos meses antes, Trotsky tinha escrito um folheto in-titulado Alemanha: A Chave da Situação Internacional. Cento

e sete deputados nazistas tinham sido eleitos para o Reichstag.O Partido Nazista recebera 6.400.000 votos. Quando Sedovchegou a Berlim, havia um sentimento de expectativa e ten-são febril na capital germânica. Milícias de camisas-pardascantando o "Horst Wessel", desfilavam pelas ruas de Berlim,assaltavam lojas de judeus e davam oatidas nas casas eclubes de liberais e trabalhadores. Os nazistas estavam con-fiantes. "Nunca em minha vida estive tão bem disposto, des-preocupado e contente como naqueles dias" escreveu AdolfoHitler nas páginas do Voelkischer Beobachter.

Oficialmente, a Alemanha ainda era uma democracia.O comércio entre a Alemanha e a Rússia Soviética estavano seu ponto alto. O governo soviético estava comprandomaquinaria de firmas alemãs. Técnicos alemães vinham de-sempenhando tarefas importantes nos projetos soviéticos demineração e eletrificação. Engenheiros soviéticos visitavam aAlemanha. Representantes comerciais soviéticos, negociantese agentes comerciais viajavam continuamente entre Moscoue Berlim em tarefas ligadas com o Plano Qüinqüenal. Algunsdêsses cidadãos soviéticos eram companheiros ou antigos dis-cípulos de Trotsky.

Sedov estava em Berlim como representante do pai, emmissão conspirativa. V>

"Leon estava sempre à espreita", escreveu Trotsky maistarde em seu folheto Leon Sedov: Filho-Amigo-Lutaãor, "pro-curando àvidamente fios de contacto com a Rússia, à caçade turistas que regressavam, de estudantes comissionados noexterior, ou de funcionários simpatizantes nas representaçõesestrangeiras." A principal tarefa de Sedov em Berlim eraentrar em contacto com os antigos membros da oposição, co-

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municar-lhes as instruções de Trotsky, ou coligir mensagens

importantes para seu pai "A fim de evitar comprometerseus informantes" e "para evadir aos espiões da OGPU", es-creveu Trotsky, "Sedov perdia horas a fio nas roas de Berlim."

Numerosos e importantes trotskistas tinham conseguidoobter postos na Comissão de Comércio Exterior Soviético.Entre eles havia Ivan N. Smimov, outrora oficial do Exér-cito Vermelho e antigo membro dirigente da guarda deTrotsky. Depois de um curto período no exílio, Smimovseguira a estratégia dos demais trotskistas, denunciando Trots-ky e solicitando a sua readmissão no Partido Bolchevique.

Como engenheiro profissional, Smimov obteve logo um postosubalterno na indústria de transporte. No começo de 1931Smimov foi indicado como engeaheiro-consultor de uma mis-são comercial que estava para seguir para Berlim.

Logo após a sua chegada em Berlim, Ivan Smimov to-mou contacto com Leon Sedov. E m reuniões clandestinasno apartamento de Sedov e nas cervejarias e cafés subur-banos distantes da cidade, Smimov soube dos planos deTrotsky para a reorganização da oposição secreta em cola-boração com agentes do serviço secreto alemão.

Daí em diante, comunicou Sedov a Smimov, a lutacontra o regime soviético devia assumir o caráter de umaofensiva total. As antigas rivalidades e divergências políticasentre os trotskistas, bukharinistas, zinovievistas, mencheviques,social-revolucionários e outros grupos e facções anti-soviéticasdeveriam ser esquecidas. Era preciso formar-se uma oposiçãoúnica. E m segundo lugar, a luta assumiria Haí por dianteum caráter militante. Dev ia inieiar-se um a campanha na-cional de terrorismo e sabotagem contra o regime soviético.Essa campanha tinha de ser elaborada com todos os seus

pormenores. Por meio de golpes amplos e cuidadosamentesincronizados a oposição se habilitaria a derribar o governosoviético no meio de uma desesperadora confusão e desmo-ralização. En tão a oposição tomaria o poder.

A tarefa imediata de Smirnov era transmitir as instru-ções de Trotsky para reorganização do trabalho subterrâneo,preparativos para o terrorismo e sabotagem, aos membros maisfiéis da oposição em Moscou. Competia também a êle en-viar "dados regulares" a Berlim — que seriam entregues aSedov por intermédio de portadores trotskistas, dados que

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Sedov confiaria a seu pai. A senha de identificação dêsses

portadores seria: Eu trouxe saudações de Galya.Sedov solicitou a Smirnov mais uma coisa enquanto es-

tava em Berlim. Êle devia encontrar-se com o chefe deuma missão comercial soviética que chegara recentemente emBerlim o informar a êsse personagem que Sedov estava nacidade o desejava vô-lo para um assunto de extrema impor-tância.

O chefe da missão comercial soviética que havia poucochegara em Berlim era o antigo companheiro de Trotsky eseu mais devoto admirador, Yuri Leonodovitch Pyatakov.

Magro e alto, bem trajado, testa altamente chanfrada,rosto pálido e barbicha ruiva e polida, Pyatakov pareciamais um mestre-escola do que o veterano conspirador queera. Em 1927, após o pretendido Putsch, Pyatakov fôra oprimeiro líder trotskista a romper com Trotsky e solicitarreadmissão no Partido Bolchevique. Homem de extraordiná-ria habilidade em direção e organização comercial, Pyatakovobteve várias tarefas nas indústrias soviéticas que se expan-diam ràpidamente, e isso mesmo quando ainda exilado naSibéria. No fim de 1929, foi readmitido no Partido Bol-chevique, para prova. Desempenhou uma série de cargosde direção em projetos de planificação industrial de trans-porte e produtos químicos. Em 1931, obteve um lugar noSupremo Conselho Econômico, a principal instituição sovié-tica de planejamento; e nesse mesmo ano foi enviado a Ber-lim como chefe de uma missão especial para compra de equi-pamento industrial alemão para o govêrno soviético.

Segundo as instruções de Sedov, Ivan Smirnov procurouPyatakov em seu escritório Berlim. Smirnov contou que

Leon Sedov estava em Berlim e tinha uma mensagem es-pecial de Trotsky para êle. Poucos dias depois, Pyatakovencontrou-se com Sedov. Eis como êle próprio narrou oencontro:

"Há um café conhecido como "Am Zoo", a pe-quena distância do Jardim Zoológico na praça. Fuipara lá e vi Leon Sedov sentado a uma mesinha. Nósnos tínhamos conhecido perfeitamente no passado. Êleme disse que não falava em seu próprio nome, masem nome de Trotsky, e que êste, sabendo que eu

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estava em Berlim, dera-lhe ordens categóricas parame procurar, encontrar-se pessoalmente comigo e fa-lar-me. Sedov disse que seu pai não abandonara porum momento sequer a idéia de retomar a luta con-tra o govêmo soviético, que tinha havido uma pausatemporária, devida em parte aos vaivéns de Trots-ky de um país para outro, mas que essa luta estavapara ser retomada, e disso ele, Trotsky, queria mein fo rm ar ... Depois Sedov pergunfcou-me a queima-roupa: T rot sk y pergunta a você Pyatakov, se ten-ciona ajudá-lo nessa luta." Dei-lhe o meu consenti-

mento."

Então Sedov passou a informar Pyatakov acerca das li-nhas segundo as quais Trotsky se propusera a reorganizar aoposição:

• ... Sedov continuou desenvolvendo a natureza eos novos métodos de luta: não se tratava de desen-volver uma simples hita de massas nem de organizarum movimento de massas; se adotássemos essa moda-lidade de trabalho fracassaríamos imediatamente; Tro-tsky estava firme na idéia de uma derrocada violentado govêmo de Stalin por métodos terroristas e des-trutivos. Sedov disse ainda q ue "Trotsky cham ara aatenção para o fato de ser um absurdo confinar essaluta a um só país, não sendo possível fugir ao cará-ter internacional d a, questão. Nessa luta temos deachar também a solução necessária para. o problemainternacional ou ao menos, para os problemas inter-estatais.

Quem quer que tente pôr de lado essas questões,disse Sedov, relatando palavras de Trotsky, assina oseu próprio testimonium pauperatis

Seguiu-se logo uma segunda reunião entre Sedov e Pya-takov. Nessa ocasião Sedov lhe disse: '"Você observa, YuriLeonodovitch, que cada vez que se retoma a luta, é precisodinheiro. Você pode providenciar os fundos necessários pa-ra a luta." Sedov informou Pyatakov como poderia fazê-lo.

Na sua qualidade de representante comercial do govêmo so-

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viético na Alemanha, Pyatakov podia comprar o que quisesse

nas duas firmas alemãs Borsig e Demas. Pyatakov não seria"Muito exigente em matéria do preços' na realização dêssesnegócios. Trotsky tinha um acordo com Borsig e Dem ag."Você pagará preços mais altos", disse Sedov, "mas êsse di-nheiro será encaminhado para os nossos trabalhos." (58.)

Houve dois outros oposicionistas secretos em Berlim em1931, que Sedov pôs a trabalhar no novo aparelho trotskista.Eram eles Alexei Chestov, engenheiro da missão comercial dePyatakov e Sergei Bessonov, membro da representação co-mercial da URSS em Berlim.

Bessonov, antigo social-revolucionário, era um homem pos-sante, de aparência meiga, rosto moreno, que ia pelos seusquarenta. A representação com ercial de Berlim, de que Bes-sonov era membro, era a agência comercial soviética maiscentral na Europa e dirigia negociações com dez países di-

(58 ) As firmas Borsig e D emag eram ligadas ao serviço secretomilitar alemão. Negociando com essas firmas, Pyatakov podia colocarsomas consideráveis à disposição de Trotsky. Uma testemunha inde-

pendente, o engenheiro americano John D. Littlepage, observou pes-soalmente os negócios de Pyatakov com as firmas alemãs. Littlepage,era empregado do govêrno soviético como perito em indústria de mi-neração de ouro e cobre. Numa série de artigos referentes às suasexperiências na Rússia Soviética no Saturday Evening Post em janeirode. 1938, Littlepage escreveu: "Cheguei a Berlim no inverno de 1931com uma grande comissão de compra chefiada por Pyatakov: minha ta-refa era dar parecer técnico na compra de maquinaria de mineração...

"Entre outras coisas, a comissão em Berlim estava comprando al-rs dúzias de guindastes de 100 a 1.000 cavalos... A comissão pe-orçamentos na 1 ' ' ~ 1 alguma dis-

entre 5 e 6 pfenn „ t ... .. , ropostas des-cobri que as firmas tinham substituído por ferro de várias toneladas oulço leve previsto nas especificações, o que reduziria o custo de produçãopor quilo, mas aumentaria o peso, e conseqüentemente o custo de venda.

"Naturalmente, fiquei satisfeito com a descoberta, e relatei o fatoaos membros da comissão, com uma sensação de triunfo... O caso foiarrumado de sorte que Pyatakov pôde voltar a Moscou e mostrar quetinha sido muito feliz em conseguir a redução de preços tendo, porémao mesmo tempo, despendido dinheiro com uma batelada de ferro inútil,o que habilitara os alemães a conceder-lhe pessoalmente rebates substan-ciais . . . E êle prosseguiu com as mesmas artimanhas em várias outrasminas, apesar de eu o ter bloqueado daquela vez."

cussão, as firmas seus preços

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ferentes. Êle estava, pois, idealmente habilitado a servir co-

mo "ponto de ligação", entre os trotskistas russos e seu líderexilado. Ficou combinado que as comunicações trotskistas se-cretas da Rússia seriam enviadas a Bessonov em Berlim, eêste as confiaria a Sedov ou a Trotsky.

Alexei Chestov era um personagem diferente, e sua ta-refa devia corresponder ao seu temperamento. Ê le tom ar-se-ia um dos principais organizadores das células de espio-nagem e sabotagem aleinã-trotskista na Sibéria onde êle eramembro do quadro do Traste Oriental e Siberiano de Car-

vão. Chestov estava no comêço de seus trinta anos. Em1923, quando ainda estudante em Moscou, no Instituto deMineração, Chestov ligara-se à oposição trotskista, e, em 1927

Posteriormente- LitíJepage observou várias outras tentativas de sa-botagem industrial nos Urais, onde jpnr cansa da trabalho de um en-genheiro trotskista rha-mttfo Kabûkcv. a produção às certas mhizs caíradeliberadamente. Em 1937, cana. LSdepage, Kabaksv "foi pxèso sobacusação de sabotagem industrial Qaando- ou vi £a!ar da sua prisão,não me surpreendi." Ouïra vez, em 1937, Liítíepage encontrou rnris

provas de sabotagem na indóstria soviética dirigida pessoalmente porPyatakov. O engenheiro americano reorganizara valiosas niiaas no sulde Kazakistan e deixara pormencnzadas Í3Simiçõe3 escritas para cs tra-balhadores soviéticos seguirem a & a de - assegurar-se o ™ ™ i n ren-dimento de produção. T'ois bem", sereve Littlepsge, "cm dos meusderradeiros trabalhos .n a Rú sãa. em 19 37 , foi ma ciamado vigentepara ir rever as mesmas minas... Milhares de toneladas de rico mi-nério já HnViam sido perdidas e, em poucas semanas, se não se to-massem providências urgentes, ter-se-ia perdido o depósito inteirinho. Des-cobri que... chegara ali irmã comissão do Q. G. de Pvatafcav... Mi-nhas instruções tinham sids atiradas ao fogo e fàxa introduzido umsistema de mineração naquelas jazidas que certamente cansaria dentro

de poucos meses a perda de "ma grande parte daquela riqueza mine-ral." Pouco antes de deixar a Rússia e após ter entregada às autori-dades soviéticas um informe completo acêrca desses acontecimentos, vá-rios membros da rede de sabotagem trotskista ferram prescs. L it fe -page achou que os sabctadores se HnTiam ciflizado de suas instruçõesexatamente às avessas, "com o propósito deliberado de arruinar o pla-no" de produção. "Os sabotadores admitiram™, afinnoo Littlepaïe noSaturday Ecening Post, "terem sido arrastados numa conspiração con-tra o regime de Stalin, por oposicionistas comunistas que os tinham con-vencido de que eram testante fortes para derribar Stalin e seus com-"panheiros e assenhorear-se do poder."

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chefiara uma das tipografias secretas em Moscou. Jovem es-

belto, olhos claros, possuidor de intensa e violenta disposição,Chestov acompanhou Trotsky com fanática devoção. "Encon-trei-me várias vôzes, pessoalmente, com Trotsky", gabava-seêle com satisfação. Para Chestov, Trotsky era "o líder", eera como quase invariàvelmente se referia a ôle.

Nosso papel não é espreitar e assobiar à espera de bomtempo — disse Sedov a Chestov quando se encontraram emBerlim. — Precisamos dar-nos com tôdas as nossas fôrçase meios à nossa disposição a uma política ativa de descrédito

do govêrno de Stálin e da sua política." Trotsky sustentavaque "o único caminho certo, caminho difícil mas seguro erao da destituição violenta de Stálin e dos chefes do govêr-no por meios terroristas."

— Andamos às cegas — conoordou prontamente Chestov.— É necessário traçar um novo plano de luta!

Sedov disse a Chestov que conhecia um industrial alemãochamado Dehlmann que era diretor da firma Froelich-Klue-pfel-Dehlmann. Muitos dos engenheiros dessa firm a eramempregados das minas siberianas do este, onde trabalhavao próprio Chestov, que o conhecia de nome.

Sedov disse então a Chestov que êle tinha "de entrar emcontacto com Dehlmann" antes de regressar à Rússia Sovié-tica. A firma Dehlmann, explicou, poderia ser muito útilà organização trotskista para "solapar a economia soviética"na Sibéria. Herr Dehlmann já estava ajudando a contraban-dear propaganda e agentes trotskistas na União Soviética. Emtroca disso, Chestov poderia fornecer a Herr Dehlmann infor-myjjões acêrca das novas minas e indústrias siberianas, nasquais o diretor alemão estava particularmente interessado...

— Você está-me aconselhando a entrar em entendimentocom a firma? — perguntou Chestov.

— Que há de terrível nisso? — replicou o filho de Trotsky.— Se êles nos estão prestando um favor, por que não lhesprestaríamos o de fornecer algumas informações?

— Você está propondo simplesmente que eu me torne um

espião! — exclamou Chestov.

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Sedov encolheu os ombros. — "Ê absurdo usar palavrascomo essa", disse êle. Numa luta não é razoável ser tãomelindroso assim. Se você aceita o terrorismo, se você aceitaa destruição e solapamento da indústria, francamente nãoconsigo entender como não possa concordar com o que lheproponho."

Poucos dias depois, Chestov viu Smirnov e contou-lhe oque dissera o filho de Trotsky. — "Sedov mandou-me esta-belecer ligação com a firma de Froelich-Kluepfel-Dehlmann",disse Chestov. "Brutalmente, êle me disse que estabelecesse

ligação com uma firma empenhada em espionagem e sabo-tagem em Kuzbas. Nesse caso eu seria um espião e sabo-tador!"

— Deixe essas palavras bonitas espião e sabotador! excla-mou Smirnov. — O tempo passa o 6 preciso agir... O quehá de surpreendente pam você quando se considera que épossível derribar o govôruo tio Sl/üln mobilizando tôdas asfôrças contra-rovolucionárfas em Kuzbas? O quo você achade tão terrível om alistar agentes germânicos nosso traba-lho? ... Não há outro caminho. Temos do aceitá-lo.

Chestov calou-se. Smirnov perguntou lhe: Qual a suaopinião?

—• Não tenho opinião pessoal — disso Chestov. — Façocomo o nosso líder Trotsky nos ensinou — presto atenção eaguardo ordens!

Antes de deixar Berlim, Chestov oncontrou-se com HerrDehlmann, diretor da firma alemfi que financiava Trotsky.Chestov foi recrutado, sob o nomo em código de "Alyosha",

no serviço secreto militar alemão. Chestov declarou depois:"Encontrei-me com o diretor dessa firma, Dehl-

mann, e o seu assistente Koch. A essência da pa-lestra com os chefes da firma Froelich-Kluepfel-Dehl-mann foi a seguinte: primeiro, suprimento de infor-mações secretas, por meio de representantes dessa fir-ma que trabalhavam na Bacia de Kuznetsk e orga-nização de um trabalho de destruição e divisão jun-tamente com os trotskistas. Fo i dito que a firma,

em troca disso, ajudar-nos-ia e enviaria mais gente,

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se nossa, organização o req uis itas se... Eles ajudariamde todo modo os trotskistas na escalada ao poder (59.)

De volta à Rússia Soviética, Chestov trouxe uma carta,que Scdov lhe tinha entregado para Pyatakov, que regressa-ra a Moscou. Chestov escondeu a carta na sola de um deseus sapatos. Entregou-a a Pyatakov no Comissariado daIndústria Pesada. A carta era do próprio Trotsky, escritaem Prinkipo. Delineava as "tarefas imediatas" da oposiçãona Rússia Soviética.

A primeira tarefa era "utilizar-se de todos os meios pos-síveis para derribar Stálin e seus sócios." Isto significava ter-rorismo.

A segunda tarefa era "unir tôdas as fôrças anti-stalinis-tas." Isso significava colaboração com o serviço secreto ale-mão e com qualquer outra fôrça anti-soviética que quisessetrabalhar juntamente com a oposição.

A terceira tarefa era "torpedear tôdas as medidas do go-verno soviético e do Partido, particularmente no campo eco-

nômico." Isso significava sabotagem.Pyatakov devia ser o principal lugar-tenente de Trotsky

responsável pelo trabalho conspirativo dentro da Rússia So-viética.

3. As três camadas

^No decurso de 1932, a quinta-coluna futura da Rússiacomeçou a tomar forma no subsolo da oposição. Em pe-quenas reuniões e conferências secretas, os membros da cons-piração estavam informando-se da nova linha e instruíam-se

(59 ) Os alemães interessavam-se particularmente pela nova baseindustrial que Stálin vinha construindo na Sibéria ocidental mais re-mota e nos Urais. Essa base estava fora do alcance dos aviões e. nocaso de uma guerra, poderia oferecer vantagem maior para o Soviete.Os alemães desejavam penetrar nessa base por intermédio de espiões

sabotadores. Borsig, Demag e Froelich-Kluepfel-Dehlmann, que tinhamcontratos com o govêrno soviético e o estavam suprindo com maqui-naria e assistência técnica para o Plano Qüinqüenal foram utilizados

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acêrca de suas novas tarefas. Um a rêde de células terro-ristas, células de sabotagem e sistemas postais estava-se es-tendendo na Rússia Soviética. Em Moscou e Leningrado, noCáucaso e na Sibéria, nos Donbas e nos Urais, os organiza-dores trotskistas dirigiam reuniões secretas mescladas de ini-migos mortais do regime soviético — social-revolucionários,mencheviques, esquerdistas, direitistas, nacionalistas, anarquis-tas, fascistas e monarquistas russo-brancos. A mensagem deTrotsky divulgara-se por todo o subsolo aceso de oposicio-

nistas, de espiões e agentes secretos; estava em andamentotima nova ofensiva contra o regime soviético.O apêlo enfático do Trotsky para a preparação de atos

de terrorismo a principio alarmou alguns dos antigos inte-lectuais trotskistas. O jornalista Karl Hadck deu mostras depânico quando Pyatakov lho comunicou a nova linha. Emfevereiro do 1032, Jtadck I C C C I H M I tuna carta pessoal do Trots-ky, transmitida como tftdafj nu eointtnioaçoes do caráter con-fidencial dos trotskista.1;, por correio secreto.

como ligações pelo serviço sendo milhai aleináo. Iísj>iões e sabotadoresalemães foram enviados i\ Rússia leitos "enge nheiros ' e "especialistas."

O serviço secreto militar aleumo recrutou também agentes entreos engenheiros soviéticos na Alemanha, susceptíveis à ameaça ou aosuborno. Um engenheiro soviético Mlkhall Strollov, recrutado como es-pião alemão em Berlim em dezembro de 11X10 c depois aproveitadona organização trotskista na Sibéria, comunicou & CArto Soviética ap éssua prisão em 1937:

"O caso começou gradualmente com meu encontro com (o espiãoalemão) von Berg Ele falava russo excelentemente, pois vivera na

Rússia, em Petersburgo, 15 ou 20 anos antes da revolução. Êssehomem visitou o bureau técnico por várias vôzos c falou comigo sobreassuntos de negócios, particularmente sôbre ligas pesadas manufatura-das pela firma de Walram... Berg aconselhou-me a ler a Minha Vidade Trotsky Em Novosibirsk, especialistas alemães começaram a seaproximar de mim com a senha combinada. Até ao fim de 1934 seishomens vieram ver-me: Sommeregger, Wurm, Baumgarten, Maas Hauere tlessa ("engenheiros" empregados pela firma alemã Froelich-Kluepfel--Dehlmann)... Meu primeiro relatório, feito em janeiro de 1932, porintermédio do engenheiro Flessa, e relatando o vasto plano de desen-volvimento da Bacia de Kuznetsk, era com efeito espionagem. Recebiinstruções para passar a atos destrutivos e sabotagem d ec is iv a. ..o plano dessas atividades fôra esboçado pela organização trotskista oeste--siberiana."

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2 4 8 MICHAEL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

"Você deve ter em mente", escreveu Trotsky ao seu

companheiro hesitante, "a experiência do período precedentee ver que para vocês não pode haver possibilidade de re-tôrno ao passado, que a luta entrou om uma nova fase eque a nossa posição nessa fase consiste ou em sermos des-truídos juntamente com a União Soviética, ou levarmos a caboa questão da destituição do governo."

A carta de Trotsky, juntamente com a insistência dePyatakov, finalmente convenceram Radek. Êle concordou eaceitou a nova linha — terrorismo, sabotagem e colaboraçãocom "potências estrangeiras."

Entre os mais ativos organizadores de células terroristasque vinham sendo edificadas na União Soviética, figuravaIvan Smirnov e seus velhos camaradas da guarda de Trotsky:Sergei Mrachkovsky e Ephraim Dreitzer.

Sob a direção de Smirnov, Mrachkovsky e Dreitzer co-meçaram a formar pequenos grupos de pistoleiros profissionaise antigos trotskistas aa guerra civil, prontos para métodosviolentos.

"As esperanças que depositamos no colapso da política

do Partido', disse Mrachkovsky a um desses grupos terro-ristas em Moscou em 1932, "devem ser consideradas comoultrapassadas. Os métodos de luta usados até aqui não pro-dtóiram resultados positivos. Resta apenas um caminho deluta, e é a remoção do govêrno do Partido pela violência.Stálin e os demais líderes precisam ser destituídos. Essa, atarefa principal!"

Enquanto isso, Pyatakov empenhava-se em procurar cons-piradores nas indústrias-chave, especialmente nas de guerrae transportes, recrutando-os para a campanha de sabotagem

total que Trotsky desejava lançar contra a economia soviética.Pelo verão de 1932, discutiu-se entre Pyatakov, como lu-

gar-tenente de Trotsky na Ruí ' ~

e diferenças passadas, e realizar trabalho conjunto sob o co-mando supremo de Trotsky. O grupo menor chefiado pelosoposicionistas veteranos, Zinoviev e Kamenev, concordou comsubordinar as suas atividades à autoridade de Trotsky. Des-crevendo as agitadas negociações que se vinham efetuandoentre os conspiradores nessa época, Bukharin disse mais tarde:

sição de direita, um acôrdo

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 2 4 9

"Tive encontros com Pyatakov, Tomsky e Rykov.Rykov teve encontros com Kamenev, Zinoviev e Pya-

takov. Mo verão de 1932 tive outra conversação comPyatakov no Comissariado do Povo da Indústria Pe-sada. Nessa ocasião isso era coisa simples para mm^visto que eu estava trabalhando sob a direção dePyatakov. N e s e tempo ele eia meu chefe. E u tinhade ir ao seu escritório em exercício da profissão, epodia fazê-lo sem suscitar suspeitas

Neste segundo encontro, no verão de 1932, Pya-takov falou-me de sua entrevista com Sedov a res-peito da política de terrorismo de Trotsky decidi-mos que devíamos ter uma linguagem comum e quenossas divergências na luta contra o poder soviéticotinham de ser sobrepujadas."

Ás negociações finais foram concluídas no outono em umareunião secreta realizada numa casa de campo, deserta, nosarredores de M oscou. Os conspiradores puseram sentinelasem redor da casa e ao longo dos caminhos, paia se asse-gurarem contra qualquer surpresa e garantir absoluto sigilo.

Nessa reunião estruturou-se algo parecido com um alto co-mando das forças combinadas de oposição, paia dirigir aspróximas campanhas de terror e sabotagem na União Sovié-tica. Êsse alto comando da oposição foi chamado ''Blocodas Direitas e Trotskistas.'' Foi constituído de três níveis oucamadas diferentes. Se um» das camadas falhasse, as ou-tras prosseguiriam.

A primeira camada, o Centro Terrorista Trotskista-Zino-vievista, chefiado por Zinoviev, =era responsável pela organi-zação e direção do terrorismo.

A segunda camada, o Centro Paralelo Trotskista, chefia-do por Pyatakov, era responsável pela organização e direçãoda sabotagem.

A terceira ramada, mais importante das três, o Bloco dasDireitas e Trotskistas, chefiado por Bukharin e Krestinsky,compreendia a maior parte dos lideres e membros altamentecolocados das forças conjugadas de oposição.

O efetivo da organização não ia além de poucos milharesde membros e uns vinte ou trinta líderes que detinham postos'

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2 5 0 MICH AEL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

de autoridade no Exército, Ministério do Exterior, serviço

secreto, indústria, sindicatos, cargos do Partido e do govêrno.Desde o comêço, o Bloco das Direitas e Trotskistas (oipenetrado por agentes pagos dos serviços secretos exteriorese dirigidos por êles, especialmente por agentes do serviçosecreto alemão. Eis alguns dos agentes estrangeiros que fo-ram membros influentes no novo D I O C O conspirativo:

Nikolai Rrestmsky, trotskista e comissário assistente dosNegócios Exteriores, foi agente do S.S.M. alemão desde 1923,3uand o, pela primeira vez empreendeu tarefas de espionagem

o General Hans von Seeclct.

Arkadu Rosenpoltz, trotskista e comissário do ComércioExterior, desempenhou tarefas de espionagem para o alto co-mando alemão desde 1923. "Minhas atividades de espiona-gem começaram já em 1923", relatou mais tarde o próprioRosengoltz, "quando, por instruções de Trotsky, confiei vá-rias informações secretas ao comandante-chefe aa Guarda doReich, Seeckt. e ao chefe do estado-maior alemão, Hasse."Em 1926, Rosengoltz começou a trabalhar para a S.S. bri-tânico. mantendo, embora as suas ligações com a Alemanha.

Christian Rakovsky, trotskista e antigo embaixador naGrã-Bretanha e França, agente do S. S. britânico desde 1924.Nas palavras do próprio Rakovsky: "E u estabeleci ligações

criminosas com o S.S.B. em 1924." Em 1934, Rakovsky tor-nou-se também^agente do S.S. japonês.S tanislav ítítíaichak, trotskista e chefe da administra-

ção central da Indústria Química, agente do S.S.M. alemão. Êlefôra enviado à Rússia pelos alemães imediatamente depois daRevolução. Desincumbiu-se de atividades de espionagem e sa-botagem nas indústrias que o govêrno soviético vinha edi-ficando nos Urais.

Ivan Hrasche, trotskista, gerente na indústria química so-viétic a,' entrou na Rússia como espião do S. S. tcheco em1919, disfarçado em prisioneiro de guerra russo que regressa-va à pátria. Hrasche tornou-se agente do S.S. alemão.

Alexei Chestovy trotskista, membro do quadro do TrusteOriental e Siberiano de Carvão, tornou-se agente do S.S. ale-mão em 1931, trabalhando para êle na firma alemã deFroelich-Kluepfel-Dehlmann e desempenhando tarefas de es-pionagem e sabotagem na Sibéria.

Gavrill Puchin, trotskista, diretor dos Serviços Químicosde Gorlovka, tornou-se agente do S.S.M. alemão em 1935.Segundo a sua própria confissão posterior às autoridades so-viéticas, êle forneceu aos alemães: (1) plantas de tôdas asemprêsas químicas soviéticas durante 19 34 ; (2) o programade trabalho de tôdas as emprêsas químicas soviéticas durante19 35 ; (3) o projeto de construção das fábricas de nitrogênio com-preendendo trabalhos de construção até 1938."

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Ykoc Litíchitz, trotskista e fnncionáiio da Comissão Fer-roviária do Extremo Oriente Soviético, foi agente do S.S.M.japonês e transmitia regularmente ao Japão informações se-cretas referentes às estradas de feno soviéticas.

Ican Kntfazec, trotskista, diretor do sistema ferroviárionos Urais; agente do S.S. japonês. Sob a supervisão destedesincumbiu-se de atividades de sabotagem nos Urais e in-formou o alto comando japonês acerca do sistema soviéticode transporte.

Yosif Turok, trotskista e diretor-gereíite do Departamentodo Tráfego na E. F. de Perm e dos Urais; agente do SJS.japonês. Em 19 35 Turok recebeu 3-5.000 rublos dos japone-ses em paga de tarefes de espionagem e sabotagem realiza-das nos Urais.

ilikhaÜ Chemov, membro das direitas. Comissário doPovo de Agricultura na URSS, agente do S.S.M. alemãodesde 1928. Sob a supervisão dos alemães, Chemov desem-penhou extensas atividades de sabotagem e espionagem naUcrânia.

Vasily Charangotítch, membro das diretas, secretário doComitê -Central do Partido Comunista da Bielo-Rússia, foraenviado à Rússia Soviética como espião polonês em 1921.Durante os anos seguintes continuou a trabalhar supervisio-nado pelo S.S. polonês, fornecendo dados de espionagem e

desenvolvendo atividades de sabotagem na Bielo-Rússia.Grigori Grinfaj, membro das direitas e funcionário doComissariado do Povo das Finanças; agente do S. S. alemãoe do polonês desde 1933. Era líder do movimento nacionalistafascista ucraniano, auxiliou o contrabando de armas e mu-nições na União Soviética e desempenhou serviços de espiona-gem e sabotagem para os alemães e poloneses.

O aparelho conspirativo dos trotskistas, das direitas e zino-vievistas era, com efeito, a quinta-coluna do Eixo na RússiaSoviética.

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C A P I T U L O x v n

TRAIÇÃO E TERROR

1. A diplomacia da traiçãoNos anos de 1933-1934, um misterioso mal-estar parecia

apoderar-se das nações da Europ a. Uns após outros, os paí-ses eram todos sacudidos por golpes de estado. Putschs mili-tares, sabotagem, assassínios, revelações inesperadas de caba-las e conspiratas. Dificilmente passava um mês sem algumnovo ato de atrocidade e violência. Uma epidemia de traiçãoe terror grassava na Europa.

A Alemanha nazista era o centro de infecção. Aos 11de janeiro de 1931, um despacho da United Press comuni-cou de Londres: "Com a Alemanha nazista como centro dosnovos movimentos fascistas, os que acreditavam que a velhaforma de govêmo está superada difundiram a agitação e aviolência por todo o continente.3*

O têrmo quinta-coluna era até então desconhecido. Masas vanguardas secretas do alto comando alemão já tinham

lançado a sua ofensiva contra as nações da Europa. Os Ca-go ulards e Croix de Feu franceses: cs Fascistas da Uniãobritânicos; os R existas belgas; os Poio poloneses; "os Hertlei-nistas e Guarda Hlinka tchecos; os Quislinguistas noruegueses;os Guardas de Ferro rumenos; os IMRO búlgaros; os Lappofinlandeses; os Lobos de Aço lituanos; os Cruz de Fogo lat-vianos, e muitas outras sociedades secretas nazistas recém-criadas ou ligas contra-revoluclonárias reorganizadas já esta-vam em ação, pavimentando o caminho para a conquista da

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2 5 4 MICHAEL SAYERS E ALBERT E. KAHN i

Wehrmacht alemã e para a escravização do Continente e

preparação do ataque contra a União Soviética.Eis uma lista parcial dos atos mais importantes de ter-

rorismo nazí-fascista que se seguiram imediatamente à as-censão de Hitler ao poder:

Outubro de 1933: Assassínio de Alex Mailov, secretário daembaixada soviética em Lvov, Polônia, por agentes daOUN, organização de nacionalistas ucranianos e finan-ciada pelos nazistas.

Dezembro de 1933: Assassínio do premier Ion Duca daRumânia pelos Guardas de Ferro, terroristas nazi-rumenos.

Fevereiro de 1934: Levante em Paris, França, da Croix deFeu, organização fascista francesa de inspiração nazista.

Março de 1934: Tentativa de golpe de estado na Estónia,pelos lutadores da liberdade, organização fascista finan-ciada pelo nazismo.

Maio de 1934: Golpe de estado fascista na Bulgária.

Maio de 1934: Tentativa de Putsch na Latvia pela Frater-nidade Báltica controlada por nazistas.

Junho de I934^ssassínio do General Bronislav Pieradd, mi-nistro polonês do Interior, por agentes da OUN, orga-nização dos nacionalistas ucranianos financiada pelo na-zismo.

Junho de 1934: Assassínio de Ivan Babiy, chefe da organiza-ção de Ação Católica na Polônia, por agentes da OUN.

Junho de 1934: Tentativa de levante popular na Lituâniapela -organização nazista dos Lôbos de Aço.

junho de 1934: Putsch nazista abortivo, na Áustria e assas-sínio do chanceler Engelbert Dollfuss por terroristas na-zistas.

Outubro de 1934: Assassínio do Rei Alexandre da Iugosláviae do ministro francês do Exterior Barthou por agen-tes da Ustachi, organização fascista da Croácia contro-lada por nazistas.

Dois homens eram especialmente responsáveis pela or-ganização e supervisão dessas atividades de quinta-cofuna na-zista que já se tinham estendido além da Europa, penetran-

do nos Estados Unidos, América Latina, África e, em ligação

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 2 5 5

com o S. S. japonês, em toda a área do Oriente remoto.Êsses dois homens eram Alfredo Rosenberg e Rudolph Hess.Rosenberg chefiava a Aussenpolüisches Am t der NSD AP (Mi-nistério Político do Exterior do Partido Nazista), cuja tarefaera dirigir milhares de agências de espionagem e sabotagemno mundo, com pontos especiais de concentração na Europaoriental e Rússia Soviética. Como representante de Hitler,Rudolph Hess era incumbido de todas as negociações exte-riores do govêrno nazista.

Foi Alfredo Rosenberg, outrora emigrado czarista de Re-val, quem primeiro estabeleceu relações secretas oficiais na-zistas com Leon Trotsky. F o i o representante de Hitler,Rudolph Hess, quem as cimentou...

Em setembro de 1933, oito meses depois de Adolfo Hi-tler ter-se tomado ditador da Alemanha, o diplomata trots-kista e agente alemão Xicolai Krestmsky deteve-se em Ber-lim por poucos dias, a caminho de sua estância anual decura num sanatório em Kissíngen. Krestinsky ocupava então

o posto de comissário-assistente no Ministério soviético doExterior.

Em Berlim, Krestmsky viu Sergei Bessonov, agente deligação trotskista na embaixada soviética. Com grande exci-tação, Krestinsky informou Bessonov que "Alfredo Rosenberg,o líder do Departamento dos Negócios Exteriores do PartidoNacional-Socialista da Alemanha" tinha estado "em sondagemem nossos círculos sobre *a questão de uma possível aliançasecreta entre os nacional-socialistas na Alemanha e os trots-kistas russos."

Krestmsky disse a Bessonov que precisava ver Trotsky.Era preciso arranjar um encontro a todo custo. Krestinskyestaria no sanatório até o fon de setembro^ e depois iria aMerano no Tirol italiano. Trotsky poderia entrar em con-tacto com êle, com as devidas precauções, em qualquer dosdois lugares.

O encontro foi providenciado. Na segunda semana de

outubro de 1933, Leon Trotsky, acompanhado por seu filho

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2 5 6 MICHAEL SAYERS E ALBERT E. KAIIN

Sedov, cruzou a fronteira franco-italiana com um passaporte

falso e encontrou Krestinsky no Hotel Bavária em Me-rano (60.)A conferência seguinte ocupou-se quase tôda das deci-

sões referentes ao futuro desenvolvimento da conspiração den-tro da Rússia Soviética. Trotsky começou afirmando cate-gòricamente que "a tomada do poder na Rússia poderia con-sumar-se únicamente pela fôrça." Mas o organismo conspi-rativo sòzinho não era bastante forte para levar a cabo umgolpe proveitoso e para manter-se no poder sem auxílio exte-rior. Por isso era essencial chegar a um acôrdo concreto com

os estados estrangeiros interessados em auxiliar os trotskistascontra o govêrno soviético."O embrião dêsse acôrdo", disse Trotsky a Krestinsky,

"foi nosso acôrdo com a Guarda do Reich; mas êsse acôrdode modo algum satisfez nem aos trotskistas nem aos alemãespor duas razões: primeiro, üma parte nesse acôrdo era íini-camente a Guarda do Reich e não o govêrno alemão comoum to d o . . . Segundo, qual era a substancia de nosso acôrdo*com a Guarda do Reich? Nós recebíamos uma pequena somade dinheiro e êles recebiam informações de espionagem deque necessitariam no^càso de um ataque armado. Mas ogovêrno alemão, Hitler particularmente, deseja colônias, ter-ritórios, e não apenas informações de espionagem. E estádisposto a contentar-se com território soviético em vez das

(60) Trotsky estava residindo então em S. Palais, aldeiazinha aopé dos Pireneus no- sul da França. (Em julho, deixara Prinkipo trans-ferindo-se logo com a sua comitiva de guarda-costas e secretários, parauma vila próxima de Paris.)

Na época em que Trotsky veio à França, os reacionários e fascis-tas lutavam desesperadamente para impedir a aliança de segurança co-letiva franco-soviética que tinha sido proposta.

O govêrno francês, que deu - a Trotsky permissão para entrar naFrança e estabelecer o seu Q. G. anti-soviético no pais, era chefiadonessa ocasião por Eduardo Daladier, cuja política de apaziguamento*consumada em Munique, deveria desempenhar um papel tão importantena~ entrega da F rança e de outras nações antifascistas da Europa àsmãos dos nazistas. O deputado radical Henri Guernot advogou pes-soalmente a solicitação de Trotsky para ser admitido na França. Ospassos necessários foram dados pelo ministro do Interior, Camille Chau-temps, duvidoso político francês que ajudou a abafar a investigação daconspiração fascista Cagoulard e posteriormente tornou-se "vice-premier"'

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colônias pelas quais teria de lutar com a Inglaterra, a Amé-rica e a França . Quanto a nós, imo precisamos de 250.00 0marcos-ouro. Precisamos das forças armadas alemãs, pa ra ir-mos ao poder com a ajuda delas. E é nesse sentido quetem de ser encaminhado o nosso trabalho."

A primeira coisa, disse Trotsky eia conseguir um acordocom o governo alemão. "Mas os japoneses também são umaforça com a qual é preciso nos entendermos", acrescentou Trots-ky. Seria necessário para os trotskistas russos iniciar "son-dagens" com os representantes japoneses em Moscou. "Paraessa ligação", disse Trotsky instruindo Krestinsky, utilizem-se

de Sokolnikov, que está trabalhando no Comissariado do Povodos Negócios Estrangeiros, encarregado dos assuntos orien-tais . . . "

Trotsky continuou dando instruções a Krestinsky acercak da organização inferna do organismo «inspirativo russo.

"Mesmo que a União Soviética seja atacada, digamos,pela Alemanha , disse Trotsky, "isso ainda não possibilita to-mar posse da máquina do poder, sem que haja fôrças in-ternas preparadas... _É necessário ter Baluartes poderososnas cidades e no campo, entre a pequena burguesia e os

kulaks, e aí são as direitas que têm as ligações. Finalmente,é necessário ter uma organização no Exército Vermelho, entreos comandantes, destinada a tomar os postos mais vitais nomomento oportuno e a chegar ao .poder, substituir o govêr-

do primeiro Gabinete de Pêtaio. "Vós tivestes a gsit&eza de me cha-mar a atenção para o Sr. Leon Trotsky,  CTfla?ír> de origem russa, quesolicitou, por motives de «saúde, autorização para viver n a Departamentodo s u l . . . escreveu o ministro da Intericr, Cfaacteinps ao DeputadoGuernoL "Tenho a honra de infcnaar-vos q u e — a parte interessadaobterá sem dificuldade, quando requerer, o visto ca seu passaporte

para a França."Entre os numerosos e Tnftirgnftps amigos e simpatizastes de Trotsky

na França contavam-se: Jaeqaes Doricrt, o renegado ccmaaista francêse agente nazista; e Mareei Déat, ontroia professor socialista, agentenazista e, depois da queda da Fiança, líder calabcraciszHsta.

A presença de Trotsky na Fiança foi também aprovada por ele-mentos anti-soviéticos do S.S. francês e polícia secreta. Km abril de1937 , nas audiências do México, Trotsky declarou: " Mr. Thom ee Mr. Cado o secretário geral da polícia e prefeitura do Departamentode Charente Inferior — tidos os altos ffamãonárins da polícia estavamperfeitamente cientes de situação. O agente secreto da políciaestava informado de tedos os meus passos."

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2 5 8 MICHA EL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

no atual, que deve ser prêso, por um govêrno nosso, ante-cipadamente preparado."

De volta à Rússia, Krestinsky devia entrar em contactocom o General Tukhachevsky, assistente do estado-maior doExército Vermelho "homem", como disse Trotsky a Krestinsky,"de estilo bonapartista, um aventureiro, ambicioso, que se batenão sòmente por um cargo militar, mas também político, eque inquestionàvelmente fará causa comum conosco."

Os companheiros de Trotsky na Rússia deveriam dar tôdaajuda ao General Tukhachevsky, tendo cuidado, simultânea-mente, de colocar os seus próprios homens em posições es-tratégicas, de modo que, quando se efetuasse o golpe deestado, o ambicioso Tukhachevsky não pudesse controlar onovo govêríio sem o auxílio de Trotsky.

Antes de encerrar-se a conferência, Trotsky transmitiu aKrestinsky ordens especiais para continuar as campanhas ter-roristas de sabotagem na Rússia Soviética. Falan do disso,Trotsky declarou que "os atos de divisionismo e de terro-rismo" devem ser considerados de dois pontos de vista. Pri-meiro, "do seu emprêgo em tempo de guerra com o fito de

desorganizar a capacidade defensiva do Exé rcito Vermelho,desorganizar o govêrno no momento do golpe de estado."Mas, em segundo fcar, disse Trotsky, é preciso conseguirque êsses atos tornem a posição dêle, Trotsky, "mais forte",dando-lhe "mais confiança em suas negociações com os go-vernos estrangeiros", para que êle "pudesse referir-se aò fatode seus companheiros da União Soviética serem suficiente-mente fortes "e ativos."

Em Moscou, Krestinsky apresentou um relato pormeno-rizado sôbre o seu encontro com Trotsky numa reunião se-

cre ta de trotskistas russos. Alguns dos conspiradores, parti-cularmente Karl Radek, que passava por ser o "Ministro doExterior" de Trotsky, irritaram-se com o fato de Trotsky terentrado em negociações de tal monta sem os ter consultadoantes.

Depois de ouvir o informe de Krestinsky, Radek man-dou uma mensagem especial a Trotsky pedindo "novos escla-recimentos sôbre a questão da política externa."

A resposta de Trotsky, escrita da França, foi entreguea Radek poucas semanas depois por Vladimir Romm, jovem

correspondente estrangeiro aa agência soviética de notícias

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Tass, que vinha servindo com o portador trotskista. Romm

recebera a carta de Trotsky em Paris e contrabandeara-apara a Rússia escondida na capa da novela popular soviética,Tsusíma (61.) Radek descreveu depois o conteúdo da cartacomo segue:

"Trotsky colocou a questão nestes termos: a as-censão do fascismo ao poder na Alemanha mudoufundamentalmente a situação toda. Tom ou a guerrainevitável e próxima tanto mais quanto a situação vi-nha tornando-se simoltâneamente aguda no ExtremoOriente. Trotsky não duvidava que dessa guerra re-sultaria a derrota da União Soviética. Essa derrota,escreveu êle, criará condições favoráveis para o blocoassumir o poder.. .

Trotsky afirmou que tinha estabelecido contactocom um estado* do Extremo Oriente e um estado cen-

. tro-europeu, e que êle informara claram ente aos cír-culos semi-oficiaís dêsses estados que o bloco se pron-tificaria a fazer concessões consideráveis tanto de ca-ráter econômico como de caráter territorial"

Xa mesma carta, Trotsky informou Radek de que os tro-tskistas russos que trabalhavam nos postos diplomáticos seriamprocurados em breve por certos representantes estrangeiros eque, quando isso se desse, os diplomatas trotskistas deveriamconfirmar a sua lealdade a Trotsky e assegurar aos repre-

(61) Vladimir Rcmm fora cnnrespoadente da Tass ea i Tóquio, Ge-nebra e Paris. Êle encontrou-se com . Trotsky ena Paris em 19 33 , num«ncontro marcado num café do Bois de Bonlcgne. Após comunicar a

Romm que unicamente "medidas estremas" poderiam habilitar os cons-piradores a obter seus fins, Trostky cüau cm provérbio latino: "O quea medicina não pode corar o ferro corará, e o que não puder o ferro,pode-lo-á o fogo." Em 1934 Rosna foi indicado anã» corresponden-te da Tass nos E.U.A. Antes de partir mia a América, Romm viaSedov em Paris. Posteriormente Rosam afennoa: Se&jv disse-me quecom respeito à Tninhq ida à América, Trotsky quis saber se no casonão havia algo de interessante na esfera das reações americano-sovié-ticas. Quando perguntei o que é que podia haver de interessante, Sedovme disse: Isso aeduz-se da linha de Trotsky acerca da derrota da

URSS. Desde que a data da guerra da Alemanha e do Japão dependçdo estado das relações soviético-americanas, o caso não pode deixarde interessar Trotsky."

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sentantes estrangeiros que estariam com êle em qualquer

circunstância.. .Grigori Sokolnikov, comissário-assistente trotskista para osnegócios orientais, irrompeu no escritório de Radek no Isvez-tia pouco tempo depois, imagine", explodiu Sokolnikov nervo-samente logo que a porta se fechou, "estou conduzindo ne-gociações no Comissariado do Povo para Negócios Estrangei-ros. A conversação chega ao fim. Os intérpretes deixarama sala. O enviado japonês súbitamente volta-se para mime pergunta se estou informado das propostas que Trotskyfêz ao seu governo."

Sokolnikov estava perturbadíssimo com o incidente. — Co-mo é que Trotsky encara isso? — perguntou êle a Radek.— Como posso eu, assistente do comissário do Povo, conduzirsemelhantes negociações? Ê uma situação absolutamente impos-sível!

Radek procurou acalmar o amigo agitado. — Não se ex-cite — disse ele — Trotsky evidentemente não compreende asituação aqui. — Radek continuou assegurando a Sokolnikovque isso não mais aconteceria. Ê le já escrevera a Trotskydizendo-lhe que era impossível aos trotskistas russos levara cabo negociações com agentes alemães e japonêses — "de-baixo dos olhos da OSÍU." Os trotskistas russos, disse Ra-dek, teriam de "deixar que Trotsky" prosseguisse nas nego-ciações por sua própria conta, apenas lhes comunicando osresultados. . .

Logo depois, o próprio Radek foi assistir a tuna função" * " * " 1 nata se sentou ao

A . , aproximação com

a Alemanha. Nossos líderes desejam saber o que significa essaidéia de Trotsky. Será talvez uma idéia de emigrado mal-dormido? O que há atrás dessas idéias?"

Descrevendo a sua reação ante a interpelação inespe-rada do nazista, Radek disse mais tarde:

"Por certo, essa conversação durou apenas uns doisminutos; a atmosfera de uma recepção diplomáticanão se prestava a longas perorações. Tive de deci-dir-me literalmente em um segundo e responder-lhes...Disse-lhe que os políticos realistas da ÜRSS compre-

Nosáos líderes sa-

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endem a significação de uma aproximação germano-

soviétíca e estão dispostos a lazer todas as conces-sões para consegui-la."

Na noite de 30 de junto de 1934, o tenor nazista ir-rompeu dentro de suas próprias fileiras na Alemanha, quandoHitler liquidou os elementos dissidentes do movimento. Den-tro de 24 horas, o Capitão Ernst Roehm, chefe do estado-maior das tropas de choque de Hitler; Edmundo Heines, su-premo líder de grupo na Alemanha Oriental; Karl Ernst, líderprincipal das tropas de choque de Berlim; e numerosos deseus amigos e sócios caíram ante as balas dos fuzileiros deHitler, em Munique e Berlim. Uma intensa ansiedade inva-diu todo o movimento nazista.

De Paris, Trotsky despachou imediatamente um dos seusmais fiéis "secretários", espião intem acinal Karl Reich, aliásJohanson, para entrar ém contacto com Sergei Bessonov, li-gação' trotskista em Berlim. Bessonov foi chamado a Parispara fazer um relato minucioso da situação dentro da Ale-manha.

Bessonov não pôde ir a Paris imediatamente inas nofim de julho conseguiu deixar Berlim. Depois de encon-trar-se com Trotsky num hotel em Paris e fazer o seu in-forme sobre a situação alemã, voltou a Berlim na mesmatarde. Trotsky estava num estado de grande excitação ner-vosa quando Bessonov o viu. Os acontecimentos na Ale-manha, a eliminação dos "nazistas radicais" encabeçados porRoehm, poderiam estorvar os seus planos. Bessonov assegu-rou a Trotsky que Hitler, Himmler, Hess, Rosenberg, Goe-ring e Goebbels ainda detinham firmemente o poder em

suas mãos."Êles ainda virão a nós!" exclamou Trotsky. E continuou

a relatar a Bessonov que haveria importantes tarefas paraêle em Berlim, num futuro próximo. "X ão devemos sermelindrosos nesse assunto, disse Trotsky. Tara obter apoioreal e importante de Hess e Rosenberg consintamos em gran-des concessões de território. Consentiremos na concessão daUcrânia. Tenham isso em mente nos seus trabalhos e emsuas negociações com os alemães, e eu escreverei também

sobre isso a Pyatakov e Krestinsky."

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2 6 2 MICH AEL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

Uma rêde de traição já estava sendo urdida nos váriosgabinetes do corpo diplomático soviético. Em baixadores, se-cretários, adidos e agentes consulares subalternos estavam en-volvidos na trama conspirativa, não só na Europa, mas tam-bém no Extremo Oriente. . .

O embaixador soviético no Japão estava tomando partena conspiração. Seu nome era Yurenev. Fôra secretamentetrotskista desde 1926 . Por instruções de Trotsky, estabele-cera ligações com o S. S. japonês. Ajudando a Yurenev emseus entendimentos com o Japão estava o velho amigo de

Trotsky, Christian Rakovsky, antes embaixador na Inglaterrae na F ra n ça Rakovsky não ocupava mais nenhum cargoimportante no Ministério do Exterior soviético; trabalhavacomo funcionário em várias comissões de saúde pública. Masainda era personagem importante na conspiração subterrânea.

Em setembro de 1934, foi ao Japão com uma delegaçãosoviética para assistir à conferência internacional das socie-dades da Cruz Vermelha, que deveria realizar-se em Tóquio,em outubro. Antes de partir para o Japão, Rakovsky re-

cebeu um envelope do Comissariado da Indústria Pesada emMoscou. E ra de Pyatakov e continha uma carta que Ra-kovsky devia entregarão Embaixador Yurenev em Tóquio.Aparentemente, a carta exprimia um pedido rotineiro de in-formação com ercial oficial. No dorso da carta, escrita .emtinta invisível, havia uma mensagem para Yurenev informan-do-o" que Rakovsky devia ser "utilizado" nas negociações comos japonêses.

No dia seguinte à chegada de Rakovsky em Tóquio êle

foi procurado por um agente japonês. O encontro deu-senum corredor do edifício da Cruz Vermelha Japonesa. Ra-kovsky foi informado de que as aspirações do movimentotrotskista russo "coincidiam perfeitamente" com as do go-vêrno japonês. O agente japonês acrescentou que estava se-guro de que Rakovsky seria capaz de fornecer a Tóquio in-formações valiosas acêrca da situação dentro da Rússia So-viética.

Nessa mesma tarde Rakovsky comunicou a Yurenev o

teor de sua conversa com o agente japonês: — a idéia é de

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me alistarem como espião, como informante do governo ja-

ponês.— Não há por que hesitar — replicou o embaixadortrotskista. — O dado está lançado.

Poucos dias depois, Rakovsky foi convidado para jantarcom um alto funcionário do S. S. japonês. O nipônico co-meçou cinicamente a conversar. "Sabemos que é amigo ín-timo e correligionário de Trotsky", disse. "Devo pedir quelhe escreva dizendo que o nosso governo não está satisfeitocom os seus artigos sobre a questão chinesa, assim como so-

bre a atitude dos trotskistas chineses. Temos direito de es-perar uma linha de conduta diferente da parte de Mr. Tro-tsky. Êle deve compreender o que é necessário. Não épreciso ir a pormenores, mas é claro que um incidente pro-vocado na China seria um pretexto desejável para podermosintervir lá."

Q japonês prosseguiu contando que espécie de informa-ção confidencial o govêmo japonês estaria interessado emreceber dos trotskistas russos: dados concernentes às condi-

ções das granjas coletivas, ferrovias, minas e indústria, espe-cialmente nas secções orientais da URSS. Entreg ou a Rako-vsky vários códigos e nomes de espiões para seu uso na en-trega dessas informações. Ficou combinado que o Dr. Naida,secretário da delegação da Cruz Vermelha, atuaria como ele-mento de ligação entre Rakovsky e o S. S. japonês...

Antes de deixar # Tóquio, Rakovsky teve uma palestrafinal com Yurenev. O embaixador trotskista estava depri-mido. "Nós nos metemos numa-embrulhada tal, que às vêzesnão sabemos como nos arrumar!", disse agastado. "Cada qualteme que, satisfazendo um dos seus parceiros, venha a ofen-der outro. Po r exemplo, aqui atualmente .surge o antagonis-mo entre a Grã-Bretanha e o Japão ligado à questão chine-sa, enquanto que nós temos de manter contacto tanto como S. S. inglês como com o ja p on ês ... E eu tenho de m earranjar em tudo isso!"

Rakovsky replicou. "Nós trotskistas temos de jogar trêscartadas atualmente: a alemã, a japonêsa e a britânica...->

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Estamos fazendo a política de jogar o que temos, arriscando

tudo por tudo; mas se houver um golpe de sorte os aven-tureiros serão chamados grandes estadistas." (62.)

2. A diplomacia do terror

Enquanto os conspiradores russos iam cimentando suasurdiduras com os representantes da Alemanha e do Japão,outra fase da ofensiva secreta contra o govêrno soviético es-tava em andamento. A traição estava sendo completada pelot e r r o r . . .

Em abril de 1934, o engenheiro soviético Boyarchinovdirigiu-se ao escritório do chefe de construção nas minasvitais de carvão em Kuznetsk, para relatar que algo de er-rado havia no seu departamento. Houvera muitos acidentes,explosões subterrâneas, quebra de maquinaria. Boyarchinovsuspeitava que houvesse sabotagem.

O chefe de construção agradeceu a informação. "Comu-nicarei a quem de ^ ir ei to " disse. "Enquan to isso, não diganada a ninguém sôbre o fato."

O chefe-d e construção er£ ^

Poucos dias depois Boyarchinov foi encontrado morto emuma vala. Um caminhão, correndo a tôda, matara-o na es-trada em que êle voltava do trabalho para casa. O condu-

tor do caminhão era o terrorista profissional Tcherepukhin.

(62 ) Aos 2 0 de fevereiro de 193 7, o jornal Miyako de Tóquiotrouxe uma reportagem acerca de uma sessão secreta da "Comissão deOrçamento e Planificação" do govêrno japonês. Nessa reunião, o Depu-tado Yoshida perguntou ao General Sugiyama, ministro da Guerra, seo exército tinha alguma informação concernente à capacidade de trans-porte da E. F. Siberiana. O ministro da Guerra respondeu afirma-tivamente, dizendo que a capacidade de transporte aa ferrovia es-tratégica soviética era conhecida do alto comando japonês com todosos pormenores. O General Sugiyama continuou dizendo, "Na Rússiahá elementos de oposição ao atual govêrno e é exatamente dêles que

nico e organizador principalbéria.

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Chestov confiara-lhe a tarefa de matar Boyarchinov e paraisso lhe pagara 15.000 rublos (63.)

Em setembro de 1934, V. M. Molotov, chefe do Con-selho dos Comissários do Povo da URSS, chegou à Sibériamuna viagem de inspeção às áreas de mineração e indústrias.Molotov vinha de volta de uma visita a uma das minas dabacia carbonífera em Kuznetsk, quando o carro em que via-java subitamente saltou da estrada, rolou numa rampa e pa-rou exatamente à beira de um precipício. Gravemente feridoe abatido, Molotov e seus companheiros desembaraçaram-se

do carro tombado. Tinham escapado à m orte por pouco.O condutor do carro era Valentine Arnold, gerente dagaragem local. Arnold era membro do organismo terroristatrotskista. Chestov instruíra-o para assassinar Molotov; e Ar-nold deliberadamente conduzira o carro para fora do cami-nho, tencionando matar-se juntamente com Molotov. A ten-tativa falhou únicamente porque no derradeiro instante, Arnoldperdeu a coragem e deteve-se ao aproximar-se do abismoonde devia 'ocorrer o "acidente,.

Pelo outono de 1934, grupos terroristas trotskistas e das

direitas estavam funcionando na União Soviética. Êsses gru-pos incluíram entre seus membros antigos social-revolucionários,mencheviques de outrora, assassinos profissionais e ex-agenteda Ochrana czarista. Na Ucrânia e Bielo-Bússia, na Geórgiae na Armênia, em U zbequistã, Azerb ajã. e na região m arí-tima do Extremo Oriente, nacionalistas e fascistas anti-sovié-ticos vinham recrutando pessoal para o seu organismo terro-rista . E m muitos lugares, agentes nazistas e japoneses ori-entavam diretamente as operações desses grupos.

Organizara-se uma lista dos líderes soviéticos que de-viam ser assassinados. A testa da lista figurava o nome de

soubemos isso." A publicação dessa declaraçã o no jornal Miyako oca-sionou uma enorme reviravolta nos círculos da imprensa de Tóquio,O jornal foi pesadamente multado pelo governo por ter comunicadoinformações confidenciais e seu diretor Yagcchi Giiei, foi constrangidoa resignar por solicitação do Departamento de Guerra.

(63) O dinheiro pago por Chestov ao assassino de Boyarchinovera parte de um fundo secreto de 164.000 rublos que terroristas trots-kistas, operando sob as ordens de Chestov, HnKam roubado do Bancodo Estado de Anjerka. O fundo fora reservado para financiam ento deatividades de sabotagem e terrorismo na Sibéria.

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José Stálin. Entre os outros nomes estavam os de KlementiVorochilov, V. M. Molotov, Sergei Kirov, Lazar Kaganovitch,Andrei Tdanov, Viacheslav Menjinsky, Maxim Górki e Vale-rian Kuibichev.

Os terroristas recebiam periòdicamente mensagens de LeonTrotsky encarecendo a urgência de eliminar os lideres sovié-ticos. Um a dessas mensagens alcançou Ephraim D reitzer, an-tigo guarda-costas de Trotsky, em outubro de 1934. Trotskyescrevera com tinta invisível às margens de uma revista alemãde cinem a.«Foi entregue a Dreitzer, pela sua irmã, que

recebera a revista de um portador trotskista em Varsóvia.A mensagem dizia:

"Caro amigo. Transmita que temos diante de nósas seguintes e principais tarefas:

1. Remover Stálin e Vorochilov.

2. Desenvolver o trabalho de organização de nú-cleos no exército.

3. No caso de uma guerra, tirar proveito de tô-da indecisão onfusão para capturar o governo."

A mensagem vinha assinada por Starik ("o velho") queera a assinatura em código de Trotsky.

Certa vez, os conspiradores, depois de prolongada ob-servação, estabeleceram o caminho pelo qual o Comissáriode Defesa, Vorochilov se dirigia habitualmente a Moscou. Três -terroristas armados de revólveres, estacionaram durante diasna Rua Franze, uma das travessas pela qual devia passar

o carro de Vorochilov. Mas o carro passava sempre a tôda,e os terroristas decidiram, como um deles relatou depois, que"era inútil atirar contra um carro correndo a tôda."

Vários complots para matar Stálin também falharam. Umterrorista trotskista, designado para assassinar Stálin numa im-portante reunião do Partido em Moscou, conseguiu insinuar-sena assembléia mas foi incapaz de aproximar-se bastante dolíder soviético para descarregar a sua arma. Outra vez, ter-roristas atiraram com fuzis de longo alcance contra Stálin

que vinha passando numa lancha a motor ao longo de uma

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praia do Mar Negro, mas erraram o alvo. "Foi pena", disseLeo Kamenev, quando o terrorista Ivan Bakavev relatou ofracasso do complot. "Esperemos que da próxima vez sejamosmais felizes." (64.)

Trotsky tornava-se cada vez mais impaciente. O tom desuas comunicações aos seus companheiros na Rússia sofreramarcada mudança. Êle os censurava amargamente por virem"se empenhando em preparativos e conversações de organi-zação", sem terem realizado "nada de concreto." Trotsky co-meçou a enviar agentes especiais de sua própria confiança

à União Soviética para organizar e acelerar atividades terro-ristas. Êsses agentes, que eram os emigrados russos ou trots-kistas alemães, viajavam com passaporte falso providencia-do pelos conspiradores do serviço diplomático soviético oupelo S. S. militar alemão ou pela Gestapo.

O primeiro desses agentes especiais foi um trotskista ale-mão chamado Nathan Lurye. Fo i seguido por mais dois ho-mens dç Trotsky: Konon Berman-Yurin e Fritz David, aliás,Ilya-David Kruglyansky. Em março de 1933, Trotsky enviou

(64) A atmosfera interna do Centro Terrorista era nma reminis-cência de New York Morder, Ino, e outras eamorras semelhantes.

Bakavev, antigo assistente político de Zinoviev no Soviete de Pe-trogrado, era o responsável pela tinha política dos ativistas do Centro.Era tarefa dele, dada por Zinoviev, silenciar todo indivíduo que pudessetrair a organização. Pelo meado de 1934, 'quando fracassou um aten-tado para matar Stalin por causa do assassino Bogdan, que perdeua calma no momento decisivo, Bakavev tratou d e wtenraar Bogdan. Visi-tou-o no seu apartamento e passou a norte com êle. Dt manhã à saídade Bakavev, o corpo de Bsgdan jazia no aso-lho do quarto de estar,com uma bala na cabeça e a arma ao lado. Uma carta que Bakavevo forçara a escrever, foi encontrada rio, quarto. Declarava que Bogdan

se suicidara por causa da "perseguição" à oposição trotskista-zinovie-vista pelo governo soviético.Um membro do Centro Terrorista Trotskista-7rn ovievista, Isak R ein-

gold, testemunhou mais tarde que Zinoviev e Kamenev  fronha™ deci-dido que quando tomassem o pods colocariam Bakavev asm pôsto-chave da OGPU. "Utilizando-se da da OG PU", testemunhouReingold "êle teria de ajudar no trabalho d e investigar, eliminar, matar,não só os empregados da Comissariado do Povo para Negócios Internos,a OGPU, que podia estar de posse de muitos fcís da «inspiração, comotambém os perpetradores diretos de atos terroristas contra Stalin e seusauxiliares imediatos. Pela mão de Bakavev, a organização trotskista-zinovievista pretendia destruir sens próprios terroristas, envolvidos na

conspiração.

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um quarto e um quinto agente: Valentine Olberg e Moissei

Lurye, aliás Alexandre Emel (Moissei Lurye não era parentede Nathan Lurye.)Antes do Nathan Lurye deixar Berlim, foi informado

de que em Moscou devia operar sob a direção de um enge-nheiro e arquiteto alemão chamado Franz Weitz, que esta-va então empregado na União Soviética. Franz Weitz nãoera dos companheiros de Trotsky. W eitz era membro doPartido Nacional-Socialista da Alemanha. Êle fôra enviado àUnião Soviética como emissário secreto de Heinrich Himmler,diretor da Gestapo nazista. Himmler confiara a W eitz a ta-refa de organizar operações terroristas e de espionagem naUnião Soviética, em colaboração com o Centro Terrorista Trots-kista-Zinovievista,

Quando um dos companheiros de Zinoviev objetou con-tra essa ligação direta com um agente nazista, Zinoviev re-plicou: "O que há nisso que o preocupe? Você é um his-toriador. Você conhece o caso de Lassalle e Bismarck, quan-do Lassalle quis utilizar-se de Bismarck para os interêsses daRevolução. Por que não podemos hoje utilizar-nos de Himm-

ler?"Pouco depois (J^-1 partirem para a Rússia, os emissáriosKonon Berman-Yurin e Fritz David, foram convocados paraconferências especiais com o próprio Trotsky. As reuniões rea-lizaram-se em Copenhague, pelo fim de novembro de 1932.Konon Berman-Yurin confessou mais tarde:

"Tive dois encontros com Trotsky. Antes de tudoêle começou sondando o meu trabalho no passado.Depois passou a assuntos soviéticos. E disse: A prin-cipal questão é Stálin. Stálin precisa ser fisicamentedestruído." Alegou que outros métodos de luta eramagora ineficazes. Disse que para êsse fim era precisogente que arrostasse tudo, que aceitasse mesmo o pró-prio sacrifício para essa tarefa histórica...

De noite continuamos a nossa conversa. Per-guntei-lhe se o terrorismo individual poderia recon-ciliar-se com o marxismo. Ao que Trotsky respondeu:"Os problemas não podem ser tratados de modo dog-mático. Disse que surgira uma situação na União

Soviética que Marx não previra. Trotsky disse ainda

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que além de Stálin era necessário assassinar Kagano-

vitch e Vorochílov...Durante a conversa Me passeava nervosamente pe-lo quarto, e falava de Stálin com ódio excepcional...

Disse que a atividade terrorista devia ser pro-jetada, se possível, paia atingir ao máximo no Congres-so do Comin tem , d e sorte que o tiro em Stálin ecoassenuma grande assembléia. Isso teria uma tremend arepercussão, além mesmo das fronteiras da União So-viética . . . Seria um acontecimento hístórico-políticode alcance mundial/'

A Fritz David, outro emissário seu, Trotsky disse: Terrorcontra Stálin — eis a tarefa revolucionária. Quem quer queseja revolucionário — 'não pode titubear." Trotsky falou do"descontentamento crescente" na Rússia Soviética. David per-guntou-lhe; "Pensa você que esse descontentamento desapa-recerá no caso de rona guerra entre a União Soviética eos japoneses?" Trotsky replicou: "Não, ao contrário, em taiscondições as forças hostis ao regime tentarão unir e dirigiressas massas descontentes, aimá-Ias e conduzi-las contra osburocratas que governam."

O Centro Terrorista Trotski5ta"-Zmovievista devia desem-penhar-se do primeiro e maior golpe da conspiração contrao govêmo soviético. O primeiro golpe era o assassínio deSergei Kirov, secretário do Partido em Leningrado, um dosmais íntimos colaboradores de Stálin no govêmo soviético...

No começo de novembro de 1932, Zinoviev, que estavaem Moscou, enviou seu companheiro, Bakayev, paia dar umademão à organização das células terroristas de Leningrado.

Os terroristas de Leningrado, que tinham feito reiteradastentativas para se aproximar de Kirov, não ficaram muitosatisfeitos a e receb er o emissário de Zinoviev. "E ntão G rigoriEveseyevitch (Zinoviev) não acredita em nós", disse a Ba-kayev um dos terroristas. H e manda gente aqui para con-trolar nossa organização e nosso trabalho. Ora, somos gentecapaz!"

Uma conferência das células terroristas de Leningrado,assistida por sete terroristas« pôs Bakayev a par dos últimosacontecimentos. Bakayev foi informado de que tinha sido

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estabelecida uma guarda regular ao longo da estrada que

Kirov percorria de sua casa ao gabinete no Instituto Smolny.Bakayev foi apresentado ao homem que tinha sido escolhidopara levar a cabo ôsse assassínio: Leonid Nikolayev, pálido,ex-guarda-livros de 30 anos que fôra demitido de seu cargopor irregularidades em suas contas e expulso da Komsomol(organização da juventude comunista) por desconfiança geral.

Nikolayev contou a Bakayev que planejava atirar em Kirovperto de sua casa ou no Instituto Smolny. Acrescentou quejá tentara 'um encontro com Kirov, mas falhara.

Bakayev repetiu as instruções que Zinoviev lhe dera emMoscou:

"A principal tarefa é organizar o serviço terroristado modo mais secreto possível, para impedir que nosco m pro m etam os... Quando submetidos a interrogató-rio, a coisa principal é negar tôda ligação com a or-ganização. Quando acusados de atividades terroristas,é preciso negar enfàticamente e argüir que o terroré incompatível]com a doutrina dos marxistas bolche-viques. . . " ^

Zinoviev ficou satisfeito com os desenvolvimentos em Le-ningrado. Tanto êle como Kamenev confiavam que o assas-sínio de Kirov se efetuasse logo. Êles acreditavam que êsseato acarretaria o pânico no govêrno soviético e seria a senhapara outros atos semelhantes contra líderes soviéticos em todoo país. "As cabeças têm isto de peculiar'', observava Kame-nev, "não podem crescer outra vez.. ."

No dia 1 de dezembro de 1934, às 16,27, Sergei Kirov

deixou o seu gabinete no Instituto Smolny. Descia o com-prido corredor guarnecido de mármore que leva à sala ondeia apresentar um relatório à decisão do Comitê Central paraabolir o sistema de racionamento de pão, quando um homemsaltou, sacou um revólver e atirou pelas costas visando asua cabeça.

Às 16,30 Sergei Kirov estava morto.O assassino foi Leonid Nikolayev. Êle tentou suicidar-se

ou fugir, mas foi apanhado antes de poder fazer uma coisa

ou outra.

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Aos 28 de dezembro de 1934 , Leonid Nikolayev foi

conduzido a julgamento perante o Collegium Militar da Su-prema Corte da URSS. "Quando atirei em Kirov", testemunhouNikolayev, "eu raciocinei do seguinte modo: Nosso tiro podeser a senha para. uma explosão, uma revolta dentro do paíscontra o Partido Comunista e contra o governo soviético."

O CoIIegium Militar sentenciou Nikolayev ao fuzilamen-to (65.)

Nikolayev não divulgou que Zinoviev, Kamenev e outroslíderes do Centro Terrorista Trotsldsta-Zinovievista estavam di-retamente envolvidos no complot para assassinar Kirov.

Mas era claro para. o governo soviético que a planifi-cação e cuidadosa preparação do assassínio envolvia uma or-ganização altamente estruturada e perigosa, mais do que ogrupo terrorista de Nikolayev. O Partido Bolchevique indi-cou um investigador especial para sondar o caso de Lenin-

rado. Seu nome era N. I. Yejov, membro do Comitê Centralo partido .e chefe da Comissão de Controle.

Duas semanas depois de Nikolayev ter sido julgado, Gri-gori Zinoviev, Leo Kamenev e vários de seus conhecidoscompanheiros, inclusive Bakayev, enfrentaram a Corte de Lê-nin grado, acusados de cumplicidade no assassínio de Kirov.Durante o julgamento, Zinoviev e Kamenev conduziram-seda maneira planejada anteriormente. Sem admitir coisa al-guma cpie o govêrno soviético não tivesse estabelecido pelasua própria investigação, fingiram profundo remorso e "con-fessaram que as atividades políticas oposicionistas em quetinham sido envolvidos "criaram uma atmosfera" favorávelàs "atividades anti-soviéticas." Disseram que eram líderes deum "Centro Moscovita" de oposição política e aceitaram a

"responsabilidade moral" do assassínio de Kirov, visto que che-

(65) O assassínio de Kirov foi entusiasticamente saudado tanto pelosfascistas russos, como pelas direitas e pelos trotskistas. O Conde Anas-tase Vonsiatsky, antigo oficial czarista e agente japonês nos E . ü Adeclarou no número ma rço de 193 5 de sua pisMiíação o Fascista, quese publicava em Thompson, Ccnnecíicut, E. U. A,: "Kirov desapareceu!O próximo tiro deve ser o de Stalin, a senha da insurreição... Otiro de nosso irmão Nikolayev não foi estrondoso, mas ressoou pelomundo inteiro... Tire o chapéu, povo russo, »Vanta do túmulo deNikolayev. Viva o imortal herói Nikolavev!" Para mais informações

acerca de Vonsiatsky e do fascismo roso-ímaco» ver adiante.

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2 7 2 MICHA EL SAYERS E ALBE RT E . KAIIN

fiavam o movimento político sedicioso do qual partira o cri-

me. Mas negaram fervorosamente que tivessem tido conhe-cimento anterior da conspiração para assassinar Kirov.

"Estou acostumado à idéia de que sou um líder", de-clarou Zinoviev, "e não preciso dizer que eu teria conhecido tu-d o , . . Êsso crime ultrajante acarretou tal descrédito sôbretôda a nossa luta que reconheço estar o Partido no absolutodireito de falar na responsabilidade política do antigo grupode Zinoviev no caso do crime cometido."

Kamehev desempenhou papel idêntico. "Devo dizer que

não sou covarde, mas nunca lutei a mão armada", disse ele."Sempre esperei que surgisse uma situação na qual o ComitêCentral fôsse compelido a negociar conosco, a tomar a ini-ciativa e nos cortejar..."

A astúcia foi de bom efeito. O júri não conseguiu es-tabelecer que Zinoviev e Kamenev tivessem participado dire-tamente da conspiração para matar Kirov. Em vez disso,estabeleceu-se apenas a sua culpabilidade no desenvolvimentode atividades sediciosas anti-soviéticas. O veredito do tribunal

declarava: ^"O júri não pôde apresentar fatos que fornecessembase para qualificar os membros do centro de Mos-cou como ligados com o assassínio do camarada S.M. Kirov no dia 1 de dezembro de 1934, nem paraafirmar que tenham incitado diretamente tão abomi-nável crime; entretanto, o júri confirmou completamen-te que os membros do centro contra-revolucionário deMoscou sabiam dos sentimentos terroristas do grupode Leningrado e inflamaram esses sentimentos...

Zinoviev foi sentenciado a dez anos de prisão, e Kame-nev a cinco, pela sua atividade conspirativa.

O júri conseguira apenas arranhar a superfície da cons-piração. En tre os muitos fatos que o tribunal de Leningradonão conseguira esclarecer, talvez os mais estranhos tenhamsido éstes:

Quando Zinoviev e Kamenev foram presos, quatro agen-

tes da polícia secreta soviética os trouxeram para o Q. G.

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 2 7 3

do NKVD (66.) Os agentes eram Molchanov, chefe do De-

Ê artamento Político Secreto do NKVD; Pauker, chefe dolepartamento de Operações; Volovitch, primeiro assistente doDepartamento de Operações; e Bulanov, assistente do diretordo NKVD.

Ao prenderem Zinoviev e Kamenev, os quatro agentesdo NKV D agiram do modo mais extraordinário. Não só nãoinvestigaram os apartamentos dos suspeitos, mas permitiram-lhes que destruíssem numerosos documentos comprometedo-r e s . . .

Ainda mais notáveis foram as declarações dêsses quatro

agentes do NKVD.Molchanov e Bulanov oram membros do organismo cons-pirativo trotskista o das direitas, 1'anker c Volovitch eramagentes alemães.

Êsses homens tinham sido especialmente designados paraefetuar as prisões, por Henry (}. Yuf^oda, diretor do NKVD.

(66) No fim de 1934 , o NKVD (Departamento de SegurançaPública) substituiu a OGPU como agência responsável pelos assuntosde segurança interna na URSS.

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C A P I T U L O x v m

CRIME NO KREMLIN

1. Yagoda

Em maio de 1934, seis meses antes do assassínio deSergei Kirov, um ataque cardíaco causou a morte de Vya-cheslav R. Menjinsky, Diretor da OGPU, M longo tempoenfermo. Seu posto foi preenchido pelo vice-diretor & OG PU,um homem de-33 anos, pequeno, tranqüilo, de bela aparên-cia, barba e bigode elegantes, chamado Henry G. Yagoda.

Henry Yagoda era membro secreto do bloco das direi-tas e dos trotskistas. Ê le aliara-se à conspiração em 1929,

como membro da oposição da direita, não porque acreditas-se no programa de Bukharin, mas porque poisava que osoposicionistas se destinavam a assumir o poder na Rússia. Ya-goda queria estar do lado do vencedor. Segando as suaspróprias palavras:

"Eu seguia o curso da luta com grande atenção,tendo-me decidido antecipadamente a tomar o par-tido de quem saísse vitorioso — Quando começaram atomar medidas de repressão contra os trotskistas, ainda

não tinha sido colocada a questão sobre quem seriao vencedor — os trotskistas ou o Comitê Centraldo Partido Comunista da União Soviética. A cada ins-tante pensava nisso. Po r esse motivo eu, como assis-tente ao diretor da OGPU, desincumbindo-me da po-lícia punitiva, fazia-o de maneira a não suscitar res-sentimentos entre os trotskistas contra mim. Ao enviartrotskistas ao exílio, eu criava para êles condições queos habilitassem a desempenhar as suas atividades noslugares de exílio."

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2 7 6 MICHAEL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

O papel de Yagoda na conspiração a princípio era co-nhecido unicamente dos três líderes máximos das direitas:Bukharin, Rikov e Tomslcy. Em 1932, quando o bloco dasdireitas e trotskistas se formou, Yagoda conheceu também aPyatakov o Krestinsky.

Como vice-diretor da O GPU, Yagoda podia proteger osconspiradores e impedir que fôssem descobertos e presos."Eu tomei tôdas as medidas, no decurso de numerosos anos",declarou êle mais tarde, "a fim de proteger a organização,particularmente o seu Centro, para que não fosse descoberta."Yagoda nomeava membros do bloco das direitas e trotskistaspara agentes especiais da OGPU. Dêsse modo, numerososagentes dos S. S. estrangeiros puderam penetrar na políciasecreta soviética e, sob a proteção de Yagoda, desempenharatividades de espionagem para os seus respectivos governos.Os agentes germânicos, Pauker e Volovitch, que efetuaram aprisão de Zinoviev e Kamenev, foram indicados à OGPU pelopíóprio Yagoda. "E u os considerava", disse mais tarde, refe-rindo-se aos espiões estrangeiros, "como uma fòrça valiosa pá-ra a realização dos planos conspirativos, particularmente parâmanterem ligações com os S. S. estrangeiros."

Em 1934, antes do assassínio de Kirov, o terrorista Leo-nid Nikolayev foi apanhado pelos agentes da OGPU em Le-ningrado. Em seu poder encontraram um fuzil e um mapacom o caminho que Kirov percorria diàriamente. QuandoYagoda foi notificado da pris" 1 1 ' "

tasse o terrorista sem interrogatório. Zaporojetz era um doshomens de Yagoda. Fêz o que lhe tinha sido indicado.

Poucas semanas depois, Nikolayev assassinou Kirov.

Mas o assassínio de Kirov era apenas um dos numero-sos assassínios realizados pelo bloco das direitas e trotskistascom o apoio direto de Henry Yagoda...

Atrás de seu exterior calmo e bom, Yagoda escondia umaambição irrefreável, ferocidade e astúcia. Com as operaçõessecretas do bloco das direitas e trotskistas que dependia cadavez mais de proteção, o vice-diretor da OGPU começou aconsiderar-se pessoalmente como a figura central e o perso-nagem dominante de tôda a conspiração. Yagoda tinha sonhosde tornar-se o Hitler da Rússia. Lera o Mein Kampf. "É

um livro utilíssimo" contou ao seu dedicado secretário Pavel

rojetz, assistente da OGPU

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Bulanov. Êle impressionara-se particularmente, segundo disse,

pelo fato de Hitler "ter-se elevado da condição de sargentoà do homem que era então." O próprio Yagoda começara asua carreira como sargento do exército russo.

Yagoda tinha as suas idéias pessoais acerca da modali-dade de governo que devia ser instaurado depois da quedade Stalin. Êsse govêmo deveria ser modelado pelo da Ale-manha nazista, comunicou a Bulanov. Yagoda seria o chefe;Rikov substituiria Stálin como secretário do Partido reorgani-zado; Tomsky seria o chefe dos sindicatos, que seriam sub-metidos a estrito controle militar, como os batalhões de tra-

balhadores nazistas; o "filósofo" Bukharin, como pretendia Ya-goda, haveria de ser o "Dr. Goebbels."Quanto a Trotsky, Yagoda não estava certo se permi-

tiria o seu retomo à Rússia. Dependeria das circunstâncias.Enquanto isso, entretanto, estava disposto a se utilizar deTrotsky em negociações com a Alemanha e o Japão . Ogolpe de éstado, disse Yagoda, deve coincidir com o rompi-mento da guerra contra a União Soviética.

"Todos os meios serão aproveitados para consumação des-

se golpe — ação armada, provocação e mesmo prisões. Háocasiões em que é preciso agir devagar e muito cautelosa-mente, e há ocasiões em que é preciso agir rápida e subi-tamente."

A decisão do bloco das direitas e trotskistas de adota-rem o terrorismo como arma política contra o regime sovié-tico tinha o endosso de Yagoda. A decisão foi-lhe comuni-cada pelo antigo soldado e funcionário do secretariado doKremlin, Y. S. Yenukidze, que era o organizador do terro-rismo das direitas. Yagoda tinha só uma objeção. Os méto-

dos terroristas empregados pelos conspiradores pareciam-lheextremam ente primitivos e perigosos. Por isto passou a pro-curar meios mais sutis de assassínio político do que as bom-bas, punhais e balas dos assassinos tradicionais.

A princípio, experimentou o veneno. Montou um labora-tório secreto e pôs vários químicos em ação. Seu desejo eradescobrir um método de matar que não deixasse vestígio."Assassínio com garantia, era o que Yagoda desejava.

Mas os próprios venenos eram muito imperfeitos. Semperda de tempo, Yagoda desenvolveu sua técnica própria e

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2 7 8 MICHA EL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

especial de assassínio. Recomendou-a como uma arma per-feita para o líderes do bloco das direitas e trotskistas. "Ésimplíssimo", disse. "Um a pessoa cai doente naturalmente,ou fica doente por algum tempo. Os que o cercam acostú-mam-se com a idéia, que acham natural, de que o pacienteou morrerá ou se restabelecerá. O médico que trata do pa-ciente quer facilitar ao mesmo os meios de recuperar a saú-de... Então? O resto é questão de técnica."

O que faltava era achar os médicos adequados. o

2. O assassínio de Menjinsky

O primeiro médico que Yagoda envolveu no seu pro-jeto original de assassínio foi o Dr. Leo Levin, homem cor-

Sulento, de meia-idade, obsequioso, que gostava de gabar-see desinterêsse por coisas políticas. O Dr. Levin era o mé-

dico de Yagoda. O mais importante para Yagoda era o fatode ser o Dr. Levin um membro proeminente do corpo mé-

dico do Kremlin. En tre os seus pacientes regulares havianumerosos líderes soviéticos destacados, inclusive o superiorde Yagoda, Viacheslav Menjinsky, diretor da OGPU.

Yagoda começou dispensando atenções especiais ao Dr.Levin. Mandava-lhe vinhos importados, flôres para a sua se-nhora e vários outros presentes. Pôs uma casa de campo, de-simpedida, à disposição do doutor. Quando o Dr. Levin via-java para o exterior, Yagoda permitia-lhes que trouxesse com-pras feitas fora do pais sem pagar os impostos regulares.O médico sentia-se envaidecido e um tanto embaraçado com

essas atenções desusadas de seu cliente.Devido a essas maquinações o insuspeitoso Dr. Levin acei-tara o que equivalia a subôrno e cometera pequenas infraçõesdas leis soviéticas. Então Yagoda chegou claramente ao ponto.Contou ao Dr. Levin que um movimento de oposição secreta,do qual era um dos líderes, estava às portas do poder na UniãóSoviética. Os conspiradores, disse Yagoda, precisavam dosseus serviços. Certos líderes soviéticos, entre os quais algunsclientes do Dr. Levin, tinham de ser eliminados.

"Convença-se", disse Yagoda ao médico aterrorizado, "que

não pode deixar de me obedecer, não pode desvencilhar-se

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de mim. Já que eu confiei em você paia essa tarefa, você

terá de executá-la. Não diga nada a ninguém acerca dêsse as-sunto. Ninguém lhe dará crédito. Não acreditarão em você,mas em mim." Yagoda acrescentou: "Vamos interromper porhoje esta conversa: pense nisto em sua casa, e espere que euo chamarei dentro de poucos dias."

O Dr. Levin descreveu posteriormente a sua reação àspalavras de Yagoda e afirmou:

"Eu não podia exprimir a minha reação psicoló-gica. Como era terrível para mim ouvir uma coisa

dessas!... Creio que isso está claramente entendido.E depois, a incessante angústia mental.. ele acres-centara: "Você sabe quem é que lhe está falando,de que instituição sou chefe." Repetiu que a minharecusa significaria a ruína para mim e para minhafamília Concluí que nã o havia outro meio senão ode submeter-me."

O Dr. Levin ajudou Yagoda a arrolar os serviços de ou-tro médico que também tratava freqüentemente de Men-

jinsky. Êsse médico era o Dr. Ignatv N. Kazakov, cujos mé-todos terapêuticos pouco ortodoxos foram motivos de acesacontrovérsia nos círculos médicos soviéticos durante o comêcode 1930.

O Dr. Kazakov proclamou que descobrira um remédioquase infalível para uma grande lista de enfermidades pormeio de uma técnica especial que ele denominava "lisatote-rapia." O diretor da OGPU, Menjinsky, que sofria de anginapectoris e asma brônquica tinha grande fé nos tratamen-tos de Kazakov e submeteu-se a êles regularmente (67.)

(67 ) Aos 2 3 de dezembro de 19 43 , o Dr . Henry E. Sigerrist,professor de História da Mediram na Universidade de Joitns Hopldnse extraordinária autoridade americana em História da Medicina, escreveuaos autores deste livro acerca do Dr. Ignatv N. Kazakov: "Passei umdia inteiro com o Professor Ignaty N. Kazakov em sua clinica em 1933.Era um homem enorme com uma jnba selvagem, parecendo mais umartista do que um cientista e dando a impressão de um cantor de ópera.Falando, dava a sensação de um gênio ou de um louco. Dizia terdescoberto «ra novo método de iti-ti«mp»ir» a que êle chamava Iisato-terapia, mas recusava revelar como eram preparados esses lisatos com 'os quais tratava grande variedade de paciente. £le motivava a sua

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2 8 0 MICHAEL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

Segundo instruções de Yagoda, o Dr. Levin foi ver o

Dr. Kazakov e lhe disse: Menjinsky é um cadáver ambulante.Você está é perdendo o seu tempo.Kazakov olhou o seu colega com espanto.— Tenho que falar com você em particular — disse Levin.

"Sôbre a saúde de Menjinsky..Depois Levin chegou ao ponto. — Pensei que você fôsse

mais sagaz. Você ainda não me compreendeu — disse — estousurprêso de você ter empreendido o tratamento de Men-jinsky com tanto zelo e de lhe ter melhorado a saúde.Você nunca devia ter-lhe possibilitado o regresso à ativi-dade.

Em seguida, ante o pasmo e horror de Kazakov, Levincontinuou:

— Você deve observar que Menjinsky atualmente é um"cadáver", e, restaurando a sua saúde, dando-lhe possibilidadede voltar a trabalhar, você está-se opondo a Yagoda, Men-jinsky está no caminho de Yagoda que está interessado emeliminá-lo o mais cedo possível. Yagoda é um homem quenão se detém diante de coisa alguma. -

Levin acrescentou:— Nem uma palavra sôbre isto a Menjinsky! Estou avi-sando-lhe, porque se transpirar alguma coisa, Yagoda acabarácom você. Você não escapará, esconda-se onde se esconder.Mesmo que se enterrasse, Yagoda o apanharia.

Na tarde de 6 de novembro de 1933, Kazakov recebeuum* chamado urgente da casa de M enjinsky. Quando che-gou à casa do diretor da OGPU, deu com um cheiro pe-sado e sufocante de terebentina e tinta. Dentro de algunsminutos começou a sentir falta de ar. Um dos secretários

recusa com o argumento de que o método poderia se r desacreditadocaso fôsse usado sem cautela e indiscriminadamente por outros, antesdo ser inteiramente comprovado. As autoridades sanilárias soviéticastiveram no caso uma atitude muito liberal e deram tôdas as facilidadesclínicas o laboratórios para êle experimentar e desenvolver o seu método.

"O Professor Kazakov esperava a minha visita e no dia em quecheguei estava rodeado de grande número de clientes para fazer-medem onstrações. Fo i um espetáculo que me causou multo má im-pressão. Eu vira curas miraculosas operadas por charlatães em outrospaíses... Poucos anos depois evidenciou-se que o seu método não

servia e que êle não era apenas doido, mas criminoso."

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de Menjinsky informou de que a casa tinha sido pintada

de fresco e que tinha sido adicionado à tinta "una subs-tância especial" para que "a pintura secasse mais depressa."Era aquela "substância especial" que causava o cheiro pun-gente e destruidor.

Kazakov subiu. Encontrou Menjinsky em grande afli-ção. Sua condição brônquica tinha sido terrivelmente agra-vada pelos vapores. Estava em completo desalinho, com orosto e o corpo inchados, mal podendo murmurar. Kazakovauscultou-o. Sua respiração era difícil e arrancada, com exa-lação grandemente prolongada, característica de um sério ata-

que de bronquite asmática. Kazakov imediatamente lhe apli-cou uma injeção para reabilitá-lo. Depois escancarou tóaasas janelas do quarto e mandou o secretário abrir todas asportas e janelas da casa. Gradualmente o cheiro desapareceu.Kazakov permaneceu com Menjinsky até o mesmo sentir-semelhor. Quando passou o ataque, voltou para casa.

Apenas entrara em sua casa o telefone tilintou. Era umchamado do Q. G. da OGPU. Kazakov foi informado deque Henry Yagoda desejava vê-lo imediatamente. Um carrojá estava a caminho para levá-lo ao escritório de Yagoda...

— Bem, como acha que vai a saúde de M enjinsky? — foia primeira coisa que Yagoda lhe perguntou quando se encon-traram a sós no gabinete. O pequeno^ ^elegante e morenovice-diretor da OGPU estava sentado atrás de sua escriva-ninha, analisando friamente a expressão de Kazakov.

Kazakov replicou que com a renovação dos ataques as-máticos, o estado de Menjinsky era grave. Yagoda calou-sepor um instante.

— Você falou com Levin ?

— Sim, falei replicou Kazakov.Yagoda levantou-se abruptamente de sua cadeira e co-meçou a andar em frente da escrivaninha. Subitamente, vol-tou-se, exclamando furiosamente: — Por que hesita? Por quenão age? Quem mandou você se intrometer nos negóciosdos outros?

— O que pretende de mim? — perguntou Kazakov.— Quem pediu a você que desse auxílio méd ico a Men-

jinsky? disse Yagoda. — Você está perdendo tempo à toa.A sua vida não tem utilidade. Ê le atrapalha tôda gente.

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2 8 2 MICHAEL SAYERS E ALBERT E. KAIIN

Ordeno-lhe que colabore com Levin para descobrir um método

de tratamento pelo qual seja possível dar um fim, o maisrápido possível, à vida de Menjinsky! Depois de uma pausa,acrescentou: — Advirto que se tentar desobedecer-me, tereimeios para liquidá-lo. Você não me escapará ...

Para Kazakov, os dias que seguiram foram cheios deterror. Voltou para o seu trabalho como que alucinado. De-veria ou não relatar o que sabia às autoridades soviéticas?A quem poderia falar? Como poderia assegurar-se de nãoestar falando com um dos espiões de Yagoda?

Levin, que o viu freqüentemente durante êsse período,narrou a Kazakov a existência de uma vasta conspiração surdacontra o govêrno soviético. Famosos e poderosos funcioná-rios como Rykov e Pyatakov estavam metidos na conspira-ção; brilhantes escritores e filósofos como Karl Radek e Buk-harin também se tinham aliado a ela; atrás havia elementosdo exército. Se Kazakov prestasse algum serviço valiosoYagoda se lembraria disso quando estivesse no poder. Haviauma guerra secreta que se processava, dentro da União So-viética, e os médicos tanto como outras pessoas, tinham de

tomar partido...Kazakov sucumbiu. Comunicou a Levin que executariaas ordens de Yagoda. Eis, segundo as próprias palavras deKazakov, qual a técnica que êle e o Dr. Levin usaram parao assassínio do Diretor da OG PU, Viacheslav M enjinsky:

"Encontrei-me com Levin e juntos elaboramos oprograma que consistia no seguinte. Primeiro: os pro-dutos da decomposição hidrolítica de albumina pos-suem a propriedade de estimular o efeito dos medi-

camentos. Segundo: os lisatos aumentam a sensibili-dade. Aproveitamo-nos dessas duas pronriedades. Te r-ceiro, tiramos proveito das peculiaridades do organis-mo de Menjinsky, da combinação da bronquite as-mática e angina péctoris. É fato muito conhecidoque no caso ae uma bronquite asmática a chamadasecção parassimpática do sistema nervoso vegetativose excita. Daí, nos casos de bronquite asmática, pres-crevem-se substâncias que excitam a secção correspon-dente, isto é, o simpático, a glândula tireóide. Esse

preparado é o extrato da glandula supra-renal, um

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preparado do stratum, medular. Xo caso da angina

éctoris é exatamente a secção simpática que parteo plexo subjugular do gânglio simpático que é ex-citado. Era êsse o ponto principal de que nos apro-veitamos ...

Gradualmente, introduzimos uma série de prepa-rados. enquanto deixamos outra de reserva... Foi ne-cessário introduzir numerosos estimulantes cardíacos —digitalis, adónis, atrofanto — que estimulavam a ati-vidade do coração. Êsses medicamentos eram minis-trados na seguinte ordem: primeiro, lisatos; depois*

um intervalo no tratamento de lisatos; finalmente, es-timulantes cardíacos. Como resultado dêsse tratamen-to, um debilitamento geral..

Na noite de 10 de maio de 1934, M enijnsky morreu.O homem que tomou o seu lugar como chefe da OGPU

foi Henry Yagoda."Nego que causando a m orte de Menjinsky eu tenha

sido guiado por motivos de ordem pessoal", confessou Ya-goda depois. "Eu almejava o pôsto de chefe da OGPU, nãopor consideração pessoal, mas no interesse de nossa organi-zação conspirativa"

3. Crime com garantia

A lista de assassínios do bloco das direitas e trotskistasincluía os seguintes altos líderes soviéticos: Stalin, Voróchilov,Kirov, Menjinsky, Molotov, Kuibyêhev, Kaganovitch, Gorki e

Jdanov. Êsses homens viviam todos vigiados. O govêmosoviético tinha longa e dura experiência de trato com os ter-roristas e por isto não facilitava. Yagoda sabia disso perfei-tamente. Quando o organizador terroris ta da direita, Yenu-kidze, lhe comunicou a decisão do Centro Terrorista Trots-kista-Zinovievista de com eter o assassínio de Sergei Kirov,Yagoda a princípio observou, segundo suas palavras:

"Exprimi a minha apreensão de que um ato di-reto de terrorismo poderia expor não só a mim mesmo, 'mas a organização inteira. M os tra a Yenukidze eximo

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2 8 4 MICHAEL SAYERS E ALBERT E. KA IIN

a morte de Menjinsky tinha sido levada a cabo

com o auxílio dos médicos. Yenukidze replicou queo assassínio de Kirov devia ser realizado como tinhasido planejado, que os trotskistas e zinovievistas ti-nham tomado a incumbência dêsse crime, e que eratarefa nossa não lhe opor obstáculos. Quanto ao mé-todo seguro de matar com o auxílio dos médicos Yenu-kidze disse que brevemente o Centro discutiria a ques-tão, para saber exatamente quais dos membros doPartido e do govêrno poderiam, em primeiro lugar,ser liquidados por êsse método."

Um dia, pelo fim de agôsto de 1934, um jovem membrosecreto da oposição de direita foi convocado ao gabinete deYenukidze no Kremlin. Seu nome era Venyamin A. Maxi-mov. .Em 1928, quando estudante, Maximov freqüentara a"Escola Marxista Especial" que Buldiarin dirigia em Moscou.Bukharin o tinha recrutado para a conspiração. Jovem sagaze inescrupuloso, Maximov fôra cuidadosamente treinado peloslíderes de direita e, depois de formado, estivera em váriospostos de secretaria. Na ocasião em que foi chamado aogabinete de Yenukidze, Maximov era o secretário pessoal deValerian V. Kuibychev, diretor do Supremo Conselho de Eco-nomia Nacional, membro do Bureau Político do Partido Co-munista, e íntimo amigo e colaborador de Stálin.

Yenukidze informou Maximov que "enquanto outrora asdireitas pensavam que o govêrno soviético poderia ser derri-bado com a organização de certas camadas anti-soviéticas maisesclarecidas da população, e particularmente os kulaks, agoraa situação mudara... e era necessário çroceder a métodos

mais ativos para apoderar-se do govêrno.' Yenukidze descre-veu as novas táticas da conspiração. De acôrdo com os trots-kistas, disse êle, as direitas tinham adotado a decisão de eli-minar numerosos de seus adversários políticos por meios ter-roristas. Isso deveria fazer-se "arruinando a saúde dos líde-res." Êsse método, disse Yenukidze, era "o mais convenienteporque a morte pareceria o infeliz resultado de uma enfer-midade grave e dêste modo possibilitaria a camuflagem daatividade terrorista das direitas."

Yenukidze acrescentou que já estavam sendo feitos pre-

parativos para isso. Contou a Maximov que Yagoda estava

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atrás de tudo isso, protegendo os conspiradores. Maximov,

como secretário de Kuibychev, devia ser utilizado no assas-sínio do diretor do Supremo Conselho de Economia Nacio-nal. Kuibychev sofria de grave condição cardíaca, e os cons-piradores projetaram tirar partido disso.

Maximov, diante dessa tarefe, demonstrou hesitação.Poucos dias depois, Maximov foi chamado novamente ao

gabinete de Yenukidze. Dessa vez, enquanto o assassínio d eKuibychev foi discutido com mais pormenores, havia outrohomem sentado num canto da sala.° Não proferiu palavradurante a conversação toda; mas o simples rate de sua pre-sença chamou a atenção de Maximov. O homem era HenryY a g o d a . . .

— O que esperamos de você — disse Yenukidze a M axi-mov, "é, primeiro, que dê aos médicos de Yagoda a opor-tunidade de ficarem à vontade para atender freqüentementeao paciente, de sorte que não haja empecilhos nas suas visitas;e, em segundo lugar, no caso de recaída grave ou ataquesnão sejam chamados outros médicos."

Pelo outono de 1934, a saúde de Kuibychev subitamen-te piorou. Ê le sofria enormemente, sem poder fazer quasenada.

Levin descreveu mais tarde a técnica que, sob instruçãode Yagoda, empregou durante a enfermidade de Kuibychev:

"O ponto vulnerável do seu organismo era o co-ração , e foi aí que trabalhamos. Sabíamos que oseu coração estivera em condição lastimável durantetempo considerável. Ê le sofria de um a afecção dosvasos cardíacos, miocardite, e Hnha leves ataques deangina péctoris. Em tais casos, é preciso poupar o

coração, evitar estimulantes poderosos, que acelerariamexcessivamente a atividade do coração e o levariamgradualmente ao de bilita m ent o... No caso de Kui-bychev, administramos estimulantes para o coração, semintervalos, por um período prolongado, até o tempode sua viagem à As ia CentraL D e agôsto at é setem-bro ou outubro de 1934, demos-lhe injeções ininter-ruptamente, de extratos especiais de glândula endó-crina e outros estimulantes cardíacos. Isso intensificoue amiudou os ataques de angina péctoris."

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Âs duas da tarde de 25 de janeiro de 1935, Kuibychevteve um violento ataque no seu gabinete no Conselho dosComissários do Povo cm M oscou. Maximov, que nessa oca-sião estava com Kuibychev, tinha sido prevenido pelo Dr.Levin do que num caso como aquôle, o correto seria fazerKuibychev doitar-se e permanecer em absoluto repouso. Ma-ximov fôra prevenido de que a sua incumbência seria fazerque Kuibychev fizesse exatamente o contrário. E persuadiao doente a que andasse em demanda de sua casa.

Pálido como um cadáver e movendo-se com extrema di-

ficuldade, Kuibychev deixou o seu gabinete. Maximov chamourontamente Yenukidze e contou-lhe o que acontecera. O lí-er da direita instruiu Maximov para que permanecesse calmo

e não chamasse médico.Kuibychev fez penosamente a caminhada do edifício do

Conselho dos Comissários do Povo até a sua casa. Devagare com crescente mal-estar, subiu a escada para o seu apar-tamento no terceiro andar. Sua criada veio encontrá-lo àporta, e ao vê-lo, telefonou imediatamente para o gabinete,avisando que êle necessitava de cuidados médicos urgentes.

Mas na ocasião em que os médicos chegaram, ValerianKuibychev tinha morrido.

.4. "Necessidade histórica"

O mais -brutal de todos os assassínios realizados sob asupervisão de Yagoda foi o de Máximo Gorki e seu filhoPechkov.

Górki tinha 68 anos no tempo de sua morte. Era co-nhecido e venerado em todo o mundo, não apenas na Rússia,como o maior escritor vivo e um dos mais extraordinárioshumanistas. Êle sofria de tuberculose e de má condição car-díaca. Seu filho herdara um a extrem a susceptibilidade a in-fecções respiratórias. Tanto Górki como seu filho eram clientesdo Dr. Lovin.

O assassínio de Górki e seu filho foi decido pelos líde-res do bloco das direitas e trotskistas. Em 1934, Yagodacomunicou esta decisão ao Dr. Levin ordenando que a exe-cutasse.

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"Gorki é um homem muito ligado ao governo", disse

Yagoda ao Dr. Levin, "um homem muito dedicado à polí-tica realizada no país, muito dedicado pessoalmente a Stalin,um homem que nunca andará por onde andamos. Além disso,você sabe qual a autoridade das palavras de Gorki tantono pais como além de nossas fronteiras. Você conhece ainfluência qu e êle exerce e quanto prejuízo causa a o nosso movi-mento pelas suas palavras. Você precisa concordar com issoe colherá os frutos mais tarde, quando o novo govêmo assu-mir o poder."

Como Levin demonstrasse alguma perturbação ante essasinstruções, Yagoda continuou: '"Não há necessidade de sobres-sai tar-se. Você deve com preender que isso é inevitável, queé uma necessidade histórica, um estágio por que tem de pas-sar a revolução, e você passará por êle junto conosco. Vocêhá de ser uma testemunha disso e nos há de ajudar comtodos os meios que estiverem à sua disposição." (68.)

(68) A despeito da idade, G á ü ei a odiado e temido pelos tro-tskistas. Sergei Bessoaov, mensageiro trotskista, relatam que já em julhode 19 34 . T rotskv lh e dissera: *"G-5rki ê m uito ir timo de S talin. Êl e

desempenha um papel excepcional conquistando a simpatia para a URSSentre a opinião democrática do mondo e especialmente na Europa Oci-dental . . . Nossos antigos esteios na InteUigentsia estão desatando emmassa sob a influência de GcrkL D aí a .necessidade de GóiM ser e li-minado. Transmita essa instrução a ^-afakov na fmmta mais categórica:Górki precisa ser fisicamente exteimiaadfl, custe o qae custar."

Os emigrados russos fascistas e terroristas^ que trabalhavam comos nazistas, Hrámm famhém colocado Górki na lista dos líderes sovié-ticos qu e planejavam sáatar. A 1 d e novembro de 193 4, o núm erod e Za Rossiyu, órgão da Liga Nacional Russa da Nova Regeneração,publicado em Bei jado, lugosavia, declarou: =Kirov em Leningrado pre-cisa ser liquidado. Também precisamos <»lrimre3T Kossior e Postychev

no sul da Rússia. Irmãos fascistas, se "5r> conseguem apanhar Stalin,matem Górki matem o poeta Desnyaa Bieni, matem ÊagannvitchO motivo que Yagoda tinha para gyasigngT o MJio ds Górki, Pechkov,

não era apenas politico. Anteriormente ao crime, Yagoda comunicouaos conspiradores que a morte de Pechkov seria um "golpe pesado"para Górki, o que o reduziria a uni "ve3m desesperado.' Mas n o seujulgamento em 1933, Yagoda pedia permissão à Corte paia não reve-lar, publicam ente as soas razões por te r assassinado Pechkov. Yagodasolicitou que lhe fosse permitido dar o sen depoimento em uma dassessões in comera. O tribunal atendeu ao pedido. O Embaixad or Dav ies,no seu livro Missão em Moscou dá uma possível explicação para ocrime contra Pechkov: " E m tfeao disso corre a lenda de qne Yago-

da . . . se apaixonara pela jovem e linda nruJJs® de G ó r k i . . .

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2 8 8 MICHAEL SAYERS E ALBERT E . KAIIN

Pechkov foi morto antes de seu pai. Levin disse mais

tarde:"Havia três sistemas no sou organismo que podía-

mos aproveitar muito fàcilmente. Eram: o sistema ex-cepcionalmente excitável cárdio-vascular, seus órgãosrespiratórios, herdados de seu pai, não que sofressemdo tuberculose, mas porque muito fracos, o finalmenteo sistema nervoso vegetativo. Mesmo uma peque-nina quantidade de vinho afetava o !>eu organismo,e apesar disso êle bebia grande quantidade ...

Levin trabalhou metòdicamente no debilitamento do or-ganismo de Pechkov que em meados de abril de 1934, apa-nhou sério-resfriado. Atacou-o a pneumonia.

Quando parecia que Pechkov ia recobrar a saúde, Yagodaficou furioso. "Diabo", exclamou êle, "êles são capazes dematar gente sã e não sabem liquidar um homem doente!"

Mas finalmente, graças aos esforços de Levin, chegou-seao resultado almejado. Com o êle mesmo confessou:

"O paciente se debilitara extremamente. Seu cora-ção estava em condições abomináveis; o sistema ner-voso, como sabemos, desempenha um papel tremendodurante distúrbios infecciosos. Êle estava totalmenteenfraquecido e a enfermidade se agravava.

O progresso da doença acentuou-se porque forameliminados os medicamentos capazes de proporcionarbenefício ao coração, enquanto que, ao contrário, eramaplicados os que enfraqueciam. E finalmente... aos11 de maio êle morreu de pneumonia."

Máximo Górki foi assassinado por métodos semelhantes.Durante 1935, as viagens freqüentes de Górki fora do Mos-cou subtraíram-no às mãos do Dr. Levin, salvando-o tempo-ràriamento. Depois, no comêço de 1936, chegou a oportu-nidade esperada. Górki contraiu uma gripe séria om Moscou.Levin deliberadamente agravou a condição de Górki e, comono caso de Pechkov, sobreveio a pneumonia. Pela segunda vez,

o Dr. Levin matou um seu paciente:

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"Com respeito a Alexei Maximóvitch Gorki, a con-duta foi a seguinte: usar medicamentos normalmenteindicados, contra cujo uso não podia levantar-se sus-peita, e que podiam ser usados para estimular a ati-vidade cardíaca. En tre esses medicamentos havia cân-fora, cafeína, cardiasoL digaleno. Podemos aplicar es-ses medicamentos num certo grupo de distúrbios car-díacos. Mas no caso nós os' ministramos em dosestremendas. Assim, por exemplo, ele tomou pelo me-nos umas 40 injeções de cânfora... em 24 horas. Era

uma dose muito forte para êle— Mais duas injeçõesde digaleno . . . Mais quatro injeções de ca fe ín a .. .Mais duas injeções de estric-nina."

Aos 18 de junho de 1936 morria o grande escritor so-viético.

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C A P I T U L O X IX

DIAS DE DECISÃO

1. f f guerra se aproxima do OcidentePelo ano de 1935 os planos para o ataque conjugado

teuto-japonês contra a União Soviética estavam muito adian-tados. Os japonêses com os seus exércitos na Manchúriaestavam empreendendo reiterados reides e incursões de "ex-periência" através das fronteiras orientais soviéticas. O altocomando alemão prosseguia nas suas negociações com os cír-culos militares poloneses-fascistas para obter uma aliança mi-

litar anti-soviética. As quinta-colunas nazistas estavam prepa-rando-se nos países balcânicos e bálticos,* na Áustria e Tche-co-Eslováquia. Diplomatas reacionários britânicos e francesesestimulavam entusiàsticamente a prometida Drang nach Ostende Hi t ler . . .

Aos 3 de fevereiro, depois de discussões entre Pieire La-vai e Sir John Simon, os governos francês e britânico anun-ciaram seu acôrdo para libertar a Alemanha nazista de certascláusulas de desarmamento do Tratado de Versalhes.

Aos 17 de fevereiro o London Observer comentava:"Por que a diplomacia de Tóquio está tão ativa

no momento em Varsóvia e Berlim?... Moscou dá are sp o sta .. . As relações entre a Alemanha, Polôniae Japão tomam-se dia a dia mais estreitas. Em qual-quer emergência eles chegariam a uma aliança anti-soviética."

Na expectativa de que as suas armas seriam usadas con-tra a Rússia Soviética, o programa de rearmamento da Ale-

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2 9 2 M I C H A E L SAYERS E ALBERT E. KA IIN

manha nazista era auxiliado quanto possível pelos estadistasanti-soviéticos na Grã-Bretanha e França.

A 1.° de março, depois de um plebiscito precedido deintenso terror e propaganda nazista entre os habitantes dodistrito, o Sarre com suas minas carboníferas vitais foi en-tregue pela França à Alemanha nazista.

Aos 16 de março, o governo do Terceiro Reich repu-diou formalmente o Tratado de Versalhes e comunicou aosembaixadores francês, britânico, polonês e italiano em Berlimum decreto nazista proclamando o "serviço militar obrigató-rio" na Alemanha.

Aos 13 de abril, Berlim anunciou sua intenção de criaruma frota aérea de bombardeiros pesados.Aos 18 de junho, onze dias depois de assumir o pôsto

de primeiro-ministro o tory Stanley Baldwin, foi anunciadoum acôrdo naval anglo-germânico. Foi concedido à Alema-nha nazista o direito de construir uma nova esquadra e "pos-suir uma tonelagem de submarinos igual à tonelagem subma-rina total dos membros da Comunidade Britânica de Nações."O acôrdo foi concluído depois de uma troca de cartas en-tre o ministro do Exterior nazi Joachim von Ribbentrop e o

inovo secretário britânico do E xterior, Samuel Hoare.Aos 3 de novembro UEcho de Paris relatou uma .con-ferência que se realizava entre o banqueiro nazista, Dr. IIjalmarSchacht, o governador do Banco da Inglaterra, Sir MontaguNorman, e o governador do Banco de França, M. Tannery.Segundo o jornal francês, Schacht declarou na conferência:

"Não temos intenção de modificar nossas fron-teiras ocidentais. Cedo ou tarde a Alemanha e aPolônia partilharão a Ucrânia, mas no momento nósnos satisraremos com estender o nosso domínio nasprovíncias bálticas."

8Aos 11 de novembro, o New York Herald Tribune ob-

servou:"O premier Lavai, que é também ministro do

Exterior, é forte partidário de um acôrdo entre a IIIRepública Francesa e o III Reich Alemão, e diz-seque êle pretende rasgar o pacto franco-soviético, que

' foi assinado mas não ratificado pelo parlamento fran-

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 2 9 3

cês, em vista de um pacto pelo qual o regime de ^

Hitler garantiria a fronteira oriental francesa emtroca de completa liberdade de ação na região deMemel e na Ucrânia."

»

Em face da crescente ameaça de guerra, o govêrno so-viético reiteradamente ' " i conjunta de todos

ante a liga das Nações e nas capitais da Europa, o comis-sário do Exterior soviético Maxim Litvinov frisou a necessidade

da segurança e alianças coletivas entre as nações não-agres-soras. Aos 2 de maio de 1935, o govêrno soviético assinouum tratado de mútua assistência com o govêrno da Françae aos 16 de maio assinou tratado idêntico com o govêrnoda Tcheco-Eslováquia.

"A guerra deve parecer a todos o mais ameaçador pe-rigo de amanhã", disse Litvinov na Lig a das Nações. "A or-ganização da paz, pela qual pouquíssimo se tem feito, é oque se impõe contra a organização extremamente ativa daguerra."

Em outubro de 1935, com a anuência diplomática dePierro Lavai e Sir Samuel Hoare, os exércitos fascistas ita-lianos de Mussolini invadiram a Etiópia...

A II Guerra Mundial, que se iniciara com o ataque doJapão na Manchúria cm 1931, vinha aproximando-se do Oci-

3

(09) Trotsky instruiu seus companheiros dentro da Rússia parauo fizessem todo esfôrço possívol no sentido de solapar as tentativaso govârno soviético com relação ao pacto de segurança coletiva. No

comôço do 1935, Christian Rakovsky, o agente trotskista japonês quefôra antos o embaixador soviético em Londres e em Paris, recebeu emMoscou uma carta de Trotsky assinalando a necessidade "de isolar in-ternacionalmente a União Sov iética." Nos entendimentos com países es-trangeiros, escreveu Trotsky, os conspiradores russos devem ter em contaos vários elementos políticos. No caso dos "elementos de esquerda es-trangeiros" era necessário "contar com os seus sentimentos pacifistas."Com os "elementos de direita estrangeiros" o problema era mais sim-ples: "Seus sentimentos contra a União Soviética são claros e defini-dos", declarava Trotsky. "Com êles nós podemos falar francamente."

Em maio de 1935, uma delegação francesa visitou Moscou paradiscutir o Pacto Franco-Soviético. Acompanhando a missão estava Emil

Buré, editor do influente órgão parisiense da direita D'Ordre, com quem

os países ameaçados Por várias vêzes,

dente (69.)

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2 9 4 MICHA EL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

No solo soviético a vanguarda fascista-secreta já lançarauma ofensiva maior contra o potencial de guerra do Exér-cito Vermelho. Aliado com os agentes alemães e japonêses,o bloco das direitas e trotskistas com eçara sua campanhacuidadosamente planejada e sistemática, contra a industria,transportes e agricultura soviéticos. O objetivo era solapar o sis-tema de defesa soviético que se preparava para a guerrapróxima. A campanha de sabotagem total vinha sendo exe-cutada sob a supervisão experiente de Pyatakov.

"O terror é um método drástico", disse Pyatakov numa

reunião secreta das direitas e trotskistas em Moscou, "masestá longe de bastar. Ê necessário solapar as conquistas dopoder soviético, solapar o prestígio do govêrno de Stálin edesorganizar a vida econômica... Ê preciso desenvolver demodo mais enérgico tôdas as nossas atividades. Temos deagir com a mais enérgica determinação. Temos de agir enér-gica e persistentemente, sem nos determos diante de nada.Todos os meios são úteis e bons — é a diretiva de Tro-tsky, que o Contro Trotskista subscrevei"

No outono de 1935, a operação das unidades de sabo-

tagem nas localidades estratégicas da União Soviética gal-vanizara-se num esfôrço total. Nas novas indústrias pesadasnos Urais, nas minas de carvão de Donbas e Kuzbas, nasestradas de ferro, nas usinas de projetos de construção*, ossabotadores trotskistas sob a direção de Pyatakov vinham de-sencadeando golpes simultâneos e poderosos contra os ramosmais vitais da produção soviética. Semelhantes atividades des-

Rakovsky so acamoradara quando embaixador na França. Rakovsky foiver Buro no Ilotol Metrópole em Moscou. Êle comunicou a Buré que

o Pacto Franco-Soviético virtha carregado do perigo e podia conduzirfacilmente a "tuna guerra preventiva por parte dia Alemanha." Acres-centou que essa era não aponas a sua opinião mas a de grande nú-mero de diplomatas e demais oficiais altamente colocados na UniãoSoviética. 3

Para pesar do Rakovsky, Buré comunicou-lhe que se opunha ina-balàvelmente a tôda tentativa de apaziguamento com a Alemanha na-zista. "A França — disse Buré a Rakovsky — não pode permanecerisolada em face da crescente militarização da Alemanha. O agressortem de ser submetido a camisa-de-fôrça; é o único meio de julgara guerra."

Mas desgraçadamente os Burés não tinham o contrôle total da po-lítica externa da França. O cabeça da missão francesa em Moscouera Pierre Lavai . . .

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trutivas, supervisionadas por Bukharin e outros líderes dasdireitas, efetuavam-se nas granjas coletivas, nas cooperativas,nas agências de exportação, finanças e comércio. Os agentesdos S. S. alemão e japonês estavam dirigindo muitas dasfases da campanha de sabotagem.

Houve muitas operações de sabotagem efetuadas por agen-tes alemães e japonôses, das direitas e trotskistas, como maistarde descreveram os próprios sabotadores:

Ivan Knyaxev, trotskista e agente japonês, gerente do sis-

tema ferroviário dos Urais:

"Com relação às atividades destrutivas que se desenvolvem nas es-tradas do ferro, e quanto íi organização da destruição de trens, eu exe-cutei integralmente as instruções, visto que nesse assunto as instruçõesdo S. S. militar japonês coincidem plenamente com as instruções queeu recebera algum tompo antes d» organização trotskista... Aos 27do outubro... ocorreu um dosastro do trem om Ghumika. .. um trem det r op a s . . . o foi trabalho do nossa organização. O trem, viajando agrando velocidade, cârea do 40 a 50 quilômetros por hora, descarriloudo u m ' trilho no qual estava parado um trom do carga com minérios.

Vinte o nove soldados do Exército Vormolho mortos e vinte e noveferidos... 30 a 50 desastres foram organizados diretamente por nós...O S. S. japonês insistia sôbro o uso do meios bacteriológicos em tempodo guerra oom o objetivo do contaminar trons do tropas, cantinas o

- centros sanitários do exército com bacilos altamente v ir u le n to s. .."

Leonid Serebryàkov, trotskista, diretor assistente da ad-ministração das Estradas de ferro:

"Propusemo-nos a uma tarefa bastante concreta o definida: desarti-cular o tráfego do carga, reduzir a lotação diária com o aumento decarros vazios, Impedir a autorização para os trens e máquinas correrem

mais do quo na sua baixíssima velocidade, impedir a utilização totaldo poder e capacidade de tração das locomotivas, e assim por diante.. . . Por proposta de Pyatakov, Livchitz (agente japonês o trots-

kista) veio ver-me na Administração Central de Transportes Rodoviários.Êle era o chefe da E. F. Meridional... Informou-me que na E. F.Meridional havia um assistente, Zorin, que poderia desenvolver essaatividade... Livichitz e eu discutimos o assunto e chegamos à con-clusão de que além das atividades das organizações no centro e nasprovíncias cujo efeito seria ocasionar confusão e caos nas ferrovias, eraainda necessário assegurar a possibilidade de bloquear as junções fer-roviárias mais importantes nos primeiros dias de mobilização, criandonelas tal congestionamento que acarretasse o deslocamento do sistema

de transporte e reduzisse a capacidade das junções ferroviárias.

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2 9 6 MICHA EL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

Alexei Chestov, trotskista e agente nazista, mem bro da

diretoria do Truste de Carvão Oriental e Siberiano:"Nas minas de Prokopyevek empregou-se o sistema de câmaras e

pilares, sem enchimento das cavidades feitas. Como resultado dêsse sis-tema tivemos mais de 50% de perda de carvão em vez dos 15 a20% habituais. Em segundo lugar, como resultado disso, houve cerca de60 explosões subterrâneas nas minas de Prokopyevek até o fim de1935.

. . . Começamos aprofundar as escavações em tempo inadequado,particularmente na Perfuração Molotov; a Perfuração de Koksovayade cem metros de profundidade foi deliberadamente deixada inacabadade 1938 cm diante, e o aprofundamento da Perfuração Meneika não

tinha começado no tempo de v id o .. . Na instalação do equipamento eda usina do energia subterrânea o do outra maquinaria, houve trabalhode obstrução em larga escala. . .

Stanislav Rataíchak, trotskista e agente nazista, chefe daAdministração Central da Indústria Química:

"De acôrdo com as minhas instruções, foram promovidas várias inter-rupções o uma atividade obstrutiva nas Obras do Garlovka o duas outrasinterrupções — uma nas Obras do Nevsky o outra nas Obras QuímicasCombinadas do Voskressenski..."

Yakov Drobnís, trotskista, díretor-assístente das Obras deKemerav:

."Desde o fim do julho do 1934, ou fôra incumbido do tôdas asatividades de destruição o obstrução no conjunto do Kuzbas... Eumorei na Asia Contrai em 1933 o parti do lá em maio de 1934 por-quo o Centro Trotskista decidiu transferir-se para a Sibéria Ocidental.Como Pyatakov estava no pôsto em que podia transferir-se de umcargo para outro na indústria, êsse probloma pôdo resolver-se fàcil-m o n t e . . .

Uma das tarefas destrutivas do plano era a de distribuir fundospara medidas de importância secundária. Outra era a de protelar otrabalho de construção do modo a impedir o lançamento de departa-mentos importantes nas datas marcadas pelo govôrno . . .

A reprôsa do distrito fôra localizada de tal maneira que, se ne-cessário fôsse, o quando ordens fôssem dadas, poderia alagar a minatôda. Além do que, o carvão fornecido era imprestável para o con-sumo, o que ocasionava explosões. Estas foram deliberadamente pro-vocadas . . . e numerosos trabalhadores foram sèriamente ferido s."

M ikhail Chernov, mem bro das direitas, agente do S. S.

militar alemão, comissário da Agricultura na URSS:

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"O S. S. alemão interessava-se especialmente pela organização deatividades destrutivas na esfera da criação de cavalos... para impediro fornecimento de cavalos ao Exército Vermelho. Quanto a sementes,incluímos no programa a mistura de sementes. Misturávamos semen-tes de qualidade com outras inferiores, baixando conseqüentemente orendimonto das colheitas no campo...

Quanto à pecuária, o plano era matar o gado de raça e conseguiruma alta mortalidade do rebanho g para isso, impedir o desenvolvimentodas provisOes de forragens, infeccionar artificialmente o gado com váriasmodalidades do bactér ias . . .

Para conseguir grande mortalidade nos rebanhos da Sibéria Orien-tal, ou instruí Ginsburg, ebofo do Departamento de Veterinária, quepertencia à organização das direitas... Êle não devia fornecer serumantl-nnthrnx à Sibéria Oriental.., Quando houvo uma manifestação deanthrax em 1930, verificou-so que nonhum sorum era mais eficiente,o o resultado disso foi a perda de 25.000 cavalos, seguramente."

Vasily Charangovitch, mem bro das direitas, agente secretopolonês, secretário do Comitê Central do Partido Comunistada Bielo-Rússia:'«

"Empenhei-me em atividades destrutivas principalmente no âmbitoda agricultura. Em 1932 nós, o ou pessoalmente, dosenvolvemos extensotrabalho do destruição nessa esfera. Primeiramente, reduzindo o ritmodo colct ivização. . .

Além do quo, conseguimos prejudicar os celeiros... tomamos me-didos para disseminar a praga entro os porcos, de onde resultou umagrande mortalidade de suínos; nós o conseguimos por meio de inocula-ções desastrosas nos porcos.

Em 1936 ocasionamos um surto de anemia entre os cavalos naBielo-Rússia. Fizomo-lo intencionalmente, porque na Bielo-Rússia os ca-

valos são extremamente importantes para fins de defesa. Trabalhamospara destruir essa poderosa base quo poderia ser utilizada no caso deuma guerra. Do que me recordo, 30.000 cavalos pereceram em conse-qüência dú&sa medida."

2. Um a carta de Trotsky

Pelo fim de 1935, com o clarão da guerra cada vez

mais próximo, uma carta de Trotsky de há muito esperadafoi entregue a Karl Radek em Moscou, por intermédio de

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um portador especial. Vinha da Noruega (70.) Precipitada-mente, Radek desdobrou-a e começou a ler. Trotsky deli-neava os pormenores do acôrdo secreto que estava em vés-peras de concluir com os governos da Alemanha e do Japão.

Depois de um preâmbulo insistindo sôbre a "vitória dofascismo alemão" e sôbre a iminência da "guerra mundial",a carta atingia o seu tópico principal:

"Há duas variantes possíveis para a nossa ascen-são ao poder. A primeira é a possibilidade de nossa

subida ao poder antes da guerra, a segunda, durantea g u er r a . . .Devo admitir que a questão do poder só se tor-

nará uma saída prática para o Bloco como resultadoda derrota da URSS na guerra. Para isso o Blocodespenderá tôda a sua energia..."

Daí por diante, escrevia Trotsky, "as atividades obstru-tivas dos trotskistas nas indústrias de guerra" deveriam serefetuadas sob a direta "supervisão dos altos comandos alemãoe japonês." Os trotskistas não empreenderão nenhuma "ati-vidade prática" sem primeiro obter o consentimento dos alia-dos alemão e japonês.

Para assegurar o pleno apoio da Alemanha e do Japão,sem o que seria "absurdo pensar em chegarmos ao poder"

(70) Em junho de 1935 o govêrno da Fren te Popular da Fran çaexpulsou Trotsky dó solo francês. Trotsky foi à Noruega, onde instalouo seu terceiro quartel-general no exílio em uma vila remota e protegida

nos arredores de Oslo. O Partido Trabalhista Norueguês — um gruposecessionista do Comintern — era um fator político poderoso na Norueganessa ocasião e facilitou a entrada de Trotsky. Os companheiros de-Trotsky na Noruega estavam empenhados em uma intensa campanhaanti-soviética. Na extrema direita da política norueguesa nessa épocafigurava o anticomunista Nasjonal Samllng, ou Partido de UnidadeNacional, chefiado pelo ex-ministro da guerra M ajor Vidkun Q uisling,empenhado em idêntica e. violenta agitação anti-soviética.

O Major Vidkun Quisling servira como adido militar norueguês emLeningrado. Em 19Í2-1923, foi enviado para tarefas "diplomáticas" naUcrânia e na Criméia. Casou-se com uma mulher russo-branca. Em1927, quando o govêrno britânico rompeu relações com a Rússia So-viética, ro Major Quisling, então secretário da legação norueguesa en»Moscou, ficou encarregado dos interêsses britânicos na Rússia. Pelos

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o bloco das direitas e trotskistas deve estar disposto a fazerconsideráveis concessões. Trotsky nomeava essas concessões:

"A Alemanha precisa de matérias-primas, víverese mercadorias. Permitír-lhe-cmos que participe da ex-ploração do minério, manganês, ouro, petróleo, apati-tas, e procuraremos ahastecê-la por algum tempo devíveres e gorduras, por preço melhor do que os preçosmundiais.

Cederemos ao Japão o petróleo das Sakalinas egarantiremos o seu abastecimento no caso de uma guer-ra com a América. Permitir-lhe-emos ainda a explo-ração de veios auríferos.

Atenderemos à solicitação da Alemanha, sem nosopormos a que ela se apodere dos países do Danúbioe dos Balcãs, nem impediremos que o Japão tomea China... Teremos db fazer, inevitàvelmente, con-cessões territoriais. Cederemos a Província Marítima§ a região de Amur ao Japão, o a Ucrânia à Alemanha."

A seguir a carta de Trotsky delineava a modalidade deregime que seria estabelecido na Rússia depois da derrocada

jdo govêmo soviético:

"Ê preciso compreeonder quo sem conduzir a es-trutura social da URSS, até corto ponto, dentro da

seus trabalhos nessa época, Quisling foi nomeado posteriormente Co-mandante Honorário do Império Britânico.

Em 1930 o govêmo soviético recusou permitir que Quisling regres-sasse à Rússia alegando que ôle exercera atividades subversivas no solosoviético.

Terminadas as suas atividades "diplomáticas" na União Soviética,Quisling começou a organizar um grupo pseudo-radical na Noruega, quese tornou logo abertamente fascista. Má muito tempo, o próprio Q uisling,era agente secreto do S. S. alemão, e líder da quinta-coluna da Noruega,que incluía grande número de importantes elementos trotskistas.

Na Noruega, como em todo país em que havia células trotskistasorganizadas, m uitos' dos membros trotskistas não sabiam das ligaçõessecretas en tre ' os líderes trotskistas e os S . S. do Eix o. No fim, Tro -tsky conseguiu atrair numerosos "revolucionários mundiais" que acredi-

tavam na sua integridade. Êsses indivíduos foram muito úteis a Tro-tsky quer como propagandistas anti-soviéticos, quer como organizadorese apologistas da sua - causa.

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linha dos estados capitalistas, o governo do bloco será

incapaz de manter-se no poder...A admissão do capital alemão e japonês nas ex-plorações da URSS criará importantes interesses capi-talistas no território soviético. As camadas das aldeiasâue não renunciaram à psicologia capitalista e estão

escontentes com as granjas coletivas, gravitarão emtôrno dêsses capitais. Os alemães e japonêses pedirãoque aliviemos a atmosfera nos distritos rurais; então te-remos que fazer-lhes concessões e autorizar a disso-lução ou remoção das granjas coletivas."

Politicamente, assim como territorial o econômicamentehaverá mudanças drásticas na nova Rússia:

"Não será possível falar cm democracia. A classetrabalhadora viveu durante 18 anos na Revolução etem grandes ambições; terá de ser recambiada, emparte, às indústrias particulares e às do Estado queterão de competir com o capital estrangeiro em con-dições muito difíceis. Isso significa que o sou padrão

de vida baixará dràsticamente. No campo renovar-se-áa luta dos camponeses pobres contra o kulak. E fi-nalmente, para deter o poder, teremos necessidade deum govêrno forte, sem levar em conta qual seja aforma empregada para mascará-lo."

A carta de Trotsky concluía:

Aceitaremos tudo, mas continuaremos vivos e nopoder, isso devido à vitória dôsses dois países (Ale-

manha e Japão) e como resultado da pilhagem e dolucro, surgirá um conflito entre êsses países e os de-mais, o que levará a um novo desenvolvimento, a nos-sa revanche."

Radek leu a carta de Trotsky entre sentimentos mes-clados. "Depois de ter lido essas diretivas", disse êle maistarde, "pensei nelas a noite tôda... era claro para mim queembora as diretivas contivessem todos os elementos anterio-res, embora êsses elementos tivessem amadurecido de tal mo-

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d o .. . era ilimitado o que Trotsky propunha ag o ra .. . Nósdeixávamos de ser, de algum modo, senhores de nossos pró-prios atos."

Na manha seguinte Radek mostrou a carta do Trotskya Pyatakov. "É necessário encontrar-me com Trotsky de qual-quer modo que seja", disse Pyatakov. Êle estava para dei-xar a União Soviética em missão oficial, e estaria em Ber-lim dentro do poucos dias." Radek enviaria uma mensagemurgente informando acêrea da viagem do Pyatakov o pedindoa Trotsky quo o procurasse em Berlim o mais eodo possível.

3. Um vôo a Oslo

Pyatakov chegou a Berlim aos 10 do dezembro de 1935.A mensagem do Radek a Trotsky pvocedera-a, e um portadorestava esporando para entrar em contacto com Pyatakov logoapós a sua chegada á capital nazista.

O portador ora Dmitri Bukhartsev, trotskista o correspon-

dente do Izvestia em Berlim. Bukhartsev, disso a Pyatakovque um homem chamado Stirner trazia comunicações do Trots-ky. Stirnor, como explicou o portador, ora o "homem deTrotsky" cm Borlim (71.)

Pyatakov seguiu com Bukhartsev até uma das travessas emTicrgarten. Um homem estava esperando por ôlos. Era "Stir-ner", quo entregou a Pyatakov uma nota ae Trotsky. A notadizia: "Y. L. (iniciais de Pyatakov) o portador merece tôdaa confiança."

Desembaraçadamente, Stirner declarou que Trotsky es-

tava ansioso por ver Pyatakov e o instruíra para que isso serealizasse. Estava disposto a viajar de avião ate Oslo, naNoruega?

Pyatakov compreendeu perfeitamente, o risco de ser des-coberto envolvendo-se nessa viagem. Todavia, êle propuse-ra-se a ver Trotsky custasse o que custasse. Por isso respon-deu afirmativamente. Stirner disse a Pyatakov que estivesseno aeroporto Tempelhof na manhã seguinte. ^

(71) Stirner era apenas outro pseudônimo do secretário trotskistae espião internacional Karl Reich, aliás Johanson.

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Quando Pyatakov perguntou pelo passaporte, Stirner re-plicou. "Não se afobe. Arranjarei tudo. Tenho conhecidosem Berlim."

À hora marcada na manhã seguinte, Pyatakov foi aoaeroporto Tempelhof. Stirner o estava esperando à entrada.Fêz sinal a Pyatakov para que o seguisse. Quando se enca-minhavam para o campo, Stirner mostrou o passaporte quearranjara. Fôra concedido pelo govêrno nazista.

Na pista, um avião estava a espera, pronto para partir...Nessa tarde o avião aterrou num campo próximo a cidade

de Oslo. Um automóvel estava à espera de Pyatakov e Stir-ner. Andaram de auto por uma meia hora até atingiremum subúrbio rural nos arredores de Oslo. O carro paroudiante de uma casa pequena. Na casa, Trotsky estava espe-rando para receber o seu velho amigo.

Os anos amargurados de exílio tinham transformado ohomem que Pyatakov considerava o seu líder. Trotsky pa-recia mais velho do que os seus 50 e poucos anos. Seu ca-belo e barba estavam grisalhos. Estava recurvo. Atrás dopínce-nez os seus olhos brilhavam com intensidade quase ma-

níaca.Perderam poucas palavras com saudações. Por ordemde Trotsky, êle e Pyatakov ficaram sòzinhos na casa. A con-versação durou duas horas. Pyatakov começou fazendo uminforme do estado dos negócios na Rússia. Trotsky o inter-rompia continuamente com seus comentários ferinos e sarcás-ticos.

"Vocês não podem desligar-se do cordão umbilical deStálinI" exclamou êle. "Vocês tomam a construção de Stálinpela construção socialista." Trotsky censurou Pyatakov e os

demais companheiros russos por falarem demais> e realizaremmuito pouco. "Com efeito", disse Trotsky àsperamente, "vocêsestão perdendo muito tempo com discussões de problemas in-ternacionais; vocês fariam melhor em se dedicarem aos seuspróprios problemas que vão indo muito m al! Quanto aos proble-mas internacionais, sei muito melhor do que vocês o queimporta!"

Trotsky reiterou a sua convicção de que o colapso doEstado Stalinista era inevitável. O fascismo não toleraria pormuito tempo mais o desenvolvimento do poder soviético.

Os trotskistas na Rússia enfrentavam esta alternativa: ou

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"perecer sob as ruínas do Estado de Stálin" ou galvanizartôdas as suas energias num esfôrço total para esmagar o re-gime de Stálin. Não deve haver hesitação em aceitar a di-reção e ajuda dos altoj? comandos alemão e japonês nessaluta crucial.

Um embate militar entre a União Soviética e as potên-cias fascistas era inevitável, acrescentou Trotsky, e não paraum futuro remoto, mas logo — muito logo. "A data dadeclaração d© guerra já foi fixada", disse Trotsky. "Será no

ano de 1937."Era claro para Pyatakov que Trotsky não inventara essasinformações. Trotsky revelou então a Pyatakov que há poucoêle "encaminhara negociações um tanto longas com o vice-diretor do Partido Nacional-SociaMsta Alemão — Hess."

Como resultado dessas negociações com o representantede Adolfo Hitler, Trotsky entrara 'em acôrdo absolutamentedefinitivo" com o govôrno do II I Reich. Os nazistas esta-vam prontos para ajudar os trotskistas a assumirem o poderna União Soviética.

""Não é preciso dizer", comunicou Trotsky a Pyatakov,"que essa atitude favorável não ó devido a nenhum amorparticular aos trotskistas. Ela provém simplesmente dos in-terêsses reais dos fascistas e do que prometemos fazer porêles caso cheguemos ao poder."

Concretamente, o acôrdo que Trotsky concluíra com osnazistas consistia em cinco pontos. Em troca da ajuda daAlemanha para que os trotskistas tomassem o poder na Rús-sia, Trotsky concordava:

1. cm garantir uma política geralmente favorávelem relação ao govôrno alemão e a colaboração neces-sária com êle nas questões mais importantes de ca-ráter internacional;

2. em concessões territoriais (à Ucrânia);3. em permitir aos industriais alemães, sob a for-

ma de concessões (ou outras formas quaisquer) a'ex-ploração de emprêsas na URSS que fossem essenciaiscomo complementos da economia alemã (ferro, man-ganês, petróleo, ouro, madeira, etc.);

4. em criar na URSS condições favoráveis è» ati-vidades'das emprêsas privadas alemãs;

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5. em desenvolver durante a guerra extensas ati-vidades obstrutivas nas empresas de indústria bélicae na frente de batalha-

Essas atividades obstrutivas seriam efetuadas porinstrução de Trotsky, com o consentimento do estado-maior alemão."

Pyatakov, como principal lugar-tenente de Trotsky naRússia, julgou que êsse entendimento franco com o nazismoseria difícil de explicar aos membros do Bloco das Direitas

e Trotskistas."Coisas de programa não precisam ser apresentadas aosmembros do Bloco em todos os seus pormenores", declarouTrotsky impacientemente. Isso serviria apenas para assustá-los."

O conjunto da organização não precisava saber nadaacêrca do entendimento pormenorizado que se efetuara comas potências fascistas. "Não ó necessário nem é interessantedivulgar isso", disse Trotsky, "nem mesmo comunicá-lo a umnúmero considerável de trotskistas. Apenas um pequeninonúmero poderá ser informado em ocasião propícia.'

Trotsky continuou salientando a urgência ao fator tempo."Ê coisa para um tempo relativamente curto", insistiu

êle. "Sc perdemos esta oportunidade, surgirá o perigo, -deum lado, da completa liquidação dos trotskistas no país, ede outro lado, da existência dessa monstruosidade, que é oEstado de Stálin, e isso durante décadas, sustentado em cer-tas bases econômicas, e particularmente pelos novos e jovensquadros que cresceram e se foram habituando a considerarêsse Estado como legítimo, como um Estado socialista, como

um Estado soviético — visto que não sabem como seja pos-sível conceber-se outra forma de Estado I Nossa tarefa édestruí-lo.

"Olhe", concluiu Trotsky ao aproximar-se a hora da par-tida de Pyatakov, "houve um tempo em que os sócia I-de-mocratas todos olhavam o desenvolvimento do capitalismo co-mo um fenômeno progressivo, p osi ti vo .. . Mas nós tínhamostarefas diferentes, a saber, organizar a luta contra o capita-lismo, exaltar os seus coveiros. E assim é que nos poremosao lado de Stálin não para ajudá-lo mas para destruir o seu

Estado."

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Ao fim de duas horas, Pyatakov deixou Trotsky na pe-quena casa nos arredores de Oslo e voltou a Berlim como

Ç O viera — num avião particular, munido do um passaportenazista.

4. H ora Zero

A II Guerra Mundial, que Trotsky predisse romperia na

Rússia Soviética em 1937, já alcançara a Europa, Após a in-vasão da Etiópia por Mussolini, os acontecimentos so preci-pitaram. Em junho de 1930, Hitler raniliturizou a Renânia.Em julho os fascistas organizaram na Espanha um Putschde oficiais espanhóis contra o govârao republicano. Sob opretexto do combato ao bolchevismo" o do "supressão darevolução comunista", tropas alemãs o italianas desembarca-ram na Espanha para ajudar a revolta dos oficiais. O líderfascista espanhol, Francisco Franco marchou sôbre Madri. Qua-tro colunas marcham sôbre Madri", gabava-se o bêbado gene-

ral fascista Queipo de Llano. "A quinta-coluna está espe-rando para saudar-nos dentro da ciaad el" E ra a primeiravez que o mundo ouvia a palavra fatídica — "quinta-colu-na." (72.)

Adolfo Hitler, dirigindo-se a milhares de soldados noCongresso do Partido Nazista em Nuremberga, aos 12 de se-

(72) No tempo do levanto do Franco na Espanha, sustentado peloEixo, (1938-1938,) Androas Nin chefiava uma organização espanhola pró-Trotsky, ultra-esquerdista, denominada Partido Operário de UnificaçãoMarxista, ou P. O. U. M. Oficialmente, não era filiada à IV Internacio-nal de Trotsky. Suas fileiras, entretanto, estavam cheias de trotskistas.E não poucas vôzes, como na atitude com relação à União Soviéticae à Frente Popular, o POUM aderia estritamente à politica de LeonTrotsky.

No campo da revolta de Franco, o amigo de Trotsky, Nin, eraministro da Justiça na Catalunha. Declarando-se a serviço da causaantifascista o POUM, exercia uma ilimitada propaganda e agitação con-tra o govêrnd republicano espanhol durante as hostilidades na Espanha.À princípio acreditou-se que as atividades oposicionistas de Nin eramde caráter puramente "político", visto que membros do POUM davamexplicações "revolucionárias" à sua oposição ao govêrno espanhol. Mas

quando o POUM se empenhou numa revolta abortiva em Barcelona

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tembro, proclamou públicamente a sua intenção de invadir

a União Soviética:"Estamos prontos para qualquer momento!" exclamou Hi-

tler. "E u não posso permitir estados arruinados à soleira deminha porta! . . . Se eu tivesse os Montes Urais com seuincalculável reservatório de tesouros e matéria-prima, a Sibériacom as suas florestas e a Ucrânia com os seus tremendoscampos de trigo, a Alemanha e o govêrno nacional-socialistanadariam na prosperidade I"

Aos 25 de novembro de 1936, o ministro nazista das

Relações Exteriores, Ribbentropp, e o embaixador japonês naAlemanha, M. Mushakoji, assinaram o Pacto Anti-Cominternem Berlim, comprometendo-se a unir suas fôrças para um ata-que contra o "bolchevismo mundial."

Ciente do perigo iminente, o govêrno soviético iniciouuma súbita contra-orensiva ao inimigo interno. Durante a pri-mavera e verão de 1936, numa série de batidas violen-tas em todo o país, as autoridades soviéticas caíram emcima dos espiões nazistas, organizadores trotskistas e das di-reitas, terroristas e sabotadores. Na Sibéria um agente na-

zista chamado Emil Stichling foi prêso, e descobriram queêle vinha dirigindo atividades de sabotagem nas minas deKemerov em colaboração com Alexei Chestov e outros trots-kistas. Em Leningrado, outro agente nazista, Valentine Ol-berg, foi apanhado. Olberg não era só agente nazista, mastambém um dos emissários especiais de Trotsky. Êle tinha

atrás das linhas legalistas, no verão crucial de 1037, e apelou para"uma ação resoluta para derribar o Govêrno", ficou claro que Nin eOs demais líderes do POUM eram agentes fascistas que trabalhavam

com Franco e exerciam sistemática campanha de sabotagem, espionageme terrorismo contra o govêrno espanhol.Aos 23 de outubro de 1937, o chefe de Polícia de Barcelona Te-

nente-coronel Burillo, publicou pormenores da conspiração do POUM,descoberta na Catalunha. Documentos secretos descobertos pela po-lícia de Barcelona provavam que membros do POUM estavam envolvi-dos em vasta espionagem em favor dos fascistas; que êles interferiamnos transportes ae suprimento ao exército republicano e que sabotavamas operações militares na fronteira. "Os atentados contra as vidas deimportantes figuras do exército popular ainda estavam sendo investiga-dos", continuou dizendo o Tenente-coronel Burillo em seu relatório."Além do que, a organização continuava planejando um atentado contraa vida de um ministro da República. . ."

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contacto com Fritz David, Nathan Lurye, Konon, Berman-Yurin e outros terroristas. Um após outrO, os líderes da pri-m e i i . j "camada" da conspiração iam sendo detidos.

Uma mensagem em código que Ivan Smirnov contra-bandeara da prisão para os seus co-conspiradores foi inter-ceptada pelas autoridades soviéticas. Os terroristas trotskistasEphraim Dreitzer e Sergei Mrâchkovsky foram presos.

Uma ansiedade febril atacou os conspiradores russos. Ago-ra tudo dependia do ataque externo. Os esforços de Yagodapara deter as investigações oficiais iam tornando-se dia a dia

mais ineficientes. "Parece que Yejov está chegando ao fun-do do caso de Leningrado!" comunicou Yagoda nervosamen-te ao seu secretário, Bulanov.

Um dos homens de Yagoda, um agente da NKVD cha-mado Borisov, foi abruptamente chamado ao Q.G. de inves-tigação especial no Instituto Smolny em Leningrado para in-terrogatório. Borisov desempenhara papel preponderante nospreparativos do assassínio de Kirov. Yagocfa desesperou. En-quanto era conduzido ao Instituto Smolny, Borisov foi mortonum "acidente de automóvel.. ."

Mas a eliminação de uma só testemunha não era o su-ficiente, a investigação oficial prosseguiu. Diàriamente, novas

.prisões eram anunciadas. Peça por peça, as autoridades so-viéticas iam desmontando a intricada máquina de conspira-ção, traição e assassínio. Em agôsto, quase todos os mem-bros líderes do Centro Terrorista Trotskista-Zinovicvista tinhamsido presos. O govêrno soviético anunciou que novas pro-vas sensacionais tinham vindo à luz como resultado da in-vestigação especial do crime de Kirov. Kamoncv e Zinoviev

foram levados a novo julgamento.O julgamento começou aos 19 de agôsto de 1930, naSala de Outubro da Casa dos Sindicatos em Moscou, peran-te o CoUegúim Militar da Suprema Côrte Soviética da URSS.Zinoviev e Kamenev, trazidos da prisão onde cumpriam penade seu processo anterior, enfrentaram o tribunal juntamentecom 14 de seus antigos sócios em tarefas de traição. Os de-mais acusados eram os outrora líderes da guarda de Trotsky,Ivan Smirnov, Sergei Mrâchkovsky e Ephraim Dreitzer; o se-cretário de Zinoviev, Grigori Evdokimov e seu auxiliar, Ivan

Bakayev; e cinco emissários terroristas especiais de,Trotsky,

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3 0 8 M I C H A E L S A Y ER S E A L B E R T E . K A I IN

Fritz David, Nathan Lurye, Moissey Lurye, Konon Berman-Yurin e Valentine Olberg.

O julgamento — o primeiro dos chamados "Julgamentosde Moscou" — revelou e desarticulou o Centro Terrorista,primeira camada do aparelho conspirativo. Ao mesmo tempodemonstrou que o complot contra o regime soviético ia muitoalém e envolvia forças muito mais importantes do que osterroristas trotskistas-zinovievistas em julgamento.

Prosseguindo o julgamento, o povo vislumbrou pela pri-meira vez a íntima relação que se desenvolveu entre Leon

Trotsky e os líderes da Alemanha nazista, O interrogatóriofeito pelo promotor A. Y. Vichinsky a Valentine Olberg,trotskista alemão que tinha sido enviado à União Soviética,pelo próprio Trotslcy, trouxe à luz do dia alguns fatos es-pantosos:

— V ICIUNSKY . O quo sabe acôrca de Fricdmann?— OUHERC, Frledm ann foi memb ro da organização trots-

kista em Berlim, e foi também onvjado à União Soviética,— V ICHINSKY . Está ciento da ligação do Fricdmann com

a polícia secreta alemã?

— OLBEBG. Ou vira falar nisso.— V I CI UNS K Y . A ligação entre os trotskistas alemães e apolícia alemã — era coisa sistemática?

— OuiiiiiG. Sim, era sistemática o fazia-se com o consen-timento de Trotsky.

— V ICHINSKY . Como sabo quo so fazia com o conheci-mento e consentimento do Trotsky?

— .OLBERG. Um a das linhas do ligação era eu quem man-tinha. Minha ligação fôra estabelocida com a sanção de Trotsky.

— V I CI UNS K Y . Sua ligação pessoal com quem?— O u «® «. Com a polícia secreta fascista.—- ViemtísKY. Assim pode dizer-so que o acusado admi-

te ligações pessoais suas com a Gestapo?— OIJBKRG. Não posso negá-lo. E m 1 9 3 3 começou-se aorganizar ligação sistemática entre os trotskistas alemães e apolícia fascista alemã."

Olberg descreveu ao tribunal como obteve o passaporteforjado na Am érica do Sul com o qual entrou na U niãoSoviética. Êle o obtivera, disse, por intermédio de Tuka-levsky (73), agente da polícia secreta alemã em Praga. 01-

(73 ) Não confundir com o General Tukhachevsky.

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berg acrescentou que para obter êsse passaporte recebera ajudado seu irmão, Paul Olberg.

_ — Tinha o seu irmão alguma ligação com a Gestapo?i - — Êle era agente de T^ukalevsky.

— Agente da polícia fascista?— Sim, replicou Olberg.O emissário de Trotsky, Nathan Lurye, contou ao tri-

bunal como recebera instruções antes de deixar a Alemanhapar a que, chegando à União Soviética, trabalhasse com oengenheiro-arquiteto alemão, Franz Weitz.

— Quem é Fran z We itz? — perguntou Vichinsky.— Fra nz W eitz é mem bro do Partido Nazista da Alemanha,

disse Lurye. — Êle fôra à URSS com instruções de Himmlerque na ocasião era chefe do S. S. e posteriormente veio aser chefe da Gestapo.

— Franz Weitz era seu representante?-— Franz Weitz chegou à URSS com instruções de Himm-

ler para exercer atividade terrorista.Mas foi depois do depoimento de Kamenev que os lí-

deres "do Bloco das Direitas e Trotskistas viram que a sua

situação ora desesperadora. Kam enev denunciou a existênciade outras "camadas" do aparelho conspirativo."Sabendo que podíamos ser descobertos", disse Kamenev

- ao tribunal, "nos designamos um pequeno grupo para con-tinuar nossas atividades terroristas. Pa ra isío foi designadoSokolnikov. Pareceu-nos que da parte dos trotskistas êssepapel seria desempenhado vantajosamente por Serebryakov eR a d e k . .. Em 1932, 1933 e 1934 eu mantive pessoalmenterelações com Tomsky e Bukharin e sondei seus sentimentospolíticos. Êles simpatizavam conosco . Quando eu interroguei

Tomsky acêrca da opinião de Rykov, êle replicou: RykovSens a como você. E m resposta à minha pergunta sôbre comoukharin pensava, êle disse: Bukharin pensa como eu, mas

está empregando táticas um tanto diferentes. Êl e não con-corda com a linha do Partido, mas está empregando a tá-tica de se enraizar persistentemente no Partido e conquistarassim a confiança pessoal do govêrno."

Vários dos acusados pediram mercê. Outros pareciam re-signados com a sua sorte. "A importância politica e o pas-sado de cada um de nós não são os mesmos", disse Eph-

' raim D reitzer, antigo líder da guard a de Trotsky. M as tendo

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3 1 0 MICHA EL SAYERS E AL BER T E . KAIIN

sido assassinos, tornamo-nos todos iguais aqui. Eu, seja com o

fôr, sou um dos que não tem direito algum de pedir nemde esperar mercê."A estas últimas palavras o terrorista Fritz David excla-

mou: "Amaldiçôo Trotsky! Maldigo êsse homem que arrui-nou a minha vida e impeliu-me a crimes hediondos!"

Na tarde de 23 de agôsto o Collegium Militar da Su-prema Corte Soviética promulgou o seu veredito, Zinoviev,Kamenev, Smirnov, e os outros 13 membros do Bloco Ter-rorista Trotskista-Zinovievista foram sentenciados ao fuzilamen-to por suas atividades de traição e terrorismo.

Uma semana depois, Pyatakov, Radek, Sokolnikov e Se-rebryakov foram presos. Aos 27 de setembro, Henry Yagodafoi destituído 1 A " * • ] a NKVD. Seu lugar

investigação da Comissão Central de Contrôle do Partido Bol-chevique. No dia anterior ao de sua destituição, Yagoda fêzuma ultima e desesperada tentativa para envenenar o seusucessor, Yejov. O atentado falhou.

Era a hora zero para os conspiradores russos. Os líde-res da direita, Bukharin, Rykov e Tomsky, esperavam diària-mente a sua prisão. Pediram ação imediata, sem esperarpela guerra. O chefe sindical da direita, Tomsky, tomadoae pânico, propôs um ataque armado imediato contra o Krem-lin. • Era loucura arriscar tanto. As fôrças ainda não esta-vam preparadas para tamanha aventura.

Uma reunião final dos líderes do Bloco das Direitas eTrotskistas, pouco antes da prisão de Pyatakov e Radek, de-cidiu a preparação de um golpe armado. A organizaçãodêsse golpe e a direção de todo o aparelho conspirativo

foram colocadas em mãos de Nicolai Krestinsky, assistentedo comissário dos Negócios Exteriores. Krestinsky não se ex-pusera como os outros, era provàvelmente insuspeito e man-tivera íntima ligação com Trotsky e os alemães. Ele estariacapacitado a prosseguir no caso de Bukharin, Rikov e Tomskyserem presos.

Como seu representante e imediato, Krestinsky escolheuArkady Rosengoltz, que recentemente voltara de Berlim aMoscou, tendo chefiado em Berlim a Comissão de ComércioExterior Soviético durante vários anos. Homem alto, esbelto,

compleição atlética, tendo detido vários postos importantes

foi ocupado comitê especial de

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na administração soviética, Rosengoltz mantivera a sua filia-o trotskista em cauteloso sigilo. Únicamente Trotsky eKrestinsky sabiam do papel de Rosengoltz como trotskista ecomo agente do S. S. militar, alemão até 1 9 2 3 .. . (74.)

Desse tempo em diante, o contrôle direto do Bloco dasDireitas e Trotskistas estêve nas mãos de dois trotskistas quetinham sido agentes germânicos: Krestinsky e Rosengoltz. Apósuma longa discussão, ambos decidiram que tinha chegado otempo de a quinta-coluna russa jogar a sua derradeira cartada.

A última cartada seria o Putsch militar. O homem esco-lhido para dirigir o levante armado foi o Marechal Tukhacho-vsky, comissário-assistente de Defesa da URSS.

(74 ) Rosengoltz servira como comandante do Exé rcito Vermelho

durante a guerra de intervenção. Depois da guerra, foi enviado aBerlim como agente comercial da embaixada soviética. Em 1923, Tro-tsky o pôs em contacto com o S. S. M. alemão. Em troca do dinheiroconcedido para financiar o trabalho trotskista ilegal, Rosengoltz forne-ceu aos alemães dados concernentes à fôrça aérea soviética junto à qualTrotsky, como comissário de Guerra, tinha acesso. Rosengoltz nãoteve papel saliente na oposição trotskista. Em 1934, Bessonov trouxe-lheuma mensagem de Trotsky aconselhando-o e dizendo que chegara otempo de agir menos cautelosamente e iniciar "trabalho ativo no âm-bito do comércio exterior." Rosengoltz foi comissário do Comércio Ex-terior na Comissão Soviética de Comércio em Berlim, Por um curtotempo, êle pôde dirigir o comércio soviético através de canais bené-ficos à Alemanha nazista e, mais tarde, ao Japão. No comêço de 1936,Rosengoltz fôra chamado novamente para táoscou.

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C A P I T U L O X X

O FIM DO ATALHO

1. Tukhachevsky

Novamente, o fantasma do C Q T S O vinha apavorando aRússia. O novo candidato para o papel era o corpulento etaciturno Marechal Mikhail Tukhachevsky, antigo oficial cza-rista e filho de nobres latifundiários, que se tornara um doslíderes do Exército Vermelho.

Quando ainda jovem, apenas formado pela Academia Mi-litar de Alexandrovsky, Tukhachevsky predizia: "Ou serei ge-neral aos trinta anos ou suicidar-me-ei." Êle lutou como ofi-cial no exército do czar na I Guerra Mundial. Em 1915foi aprisionado pelos alemães. Um oficial francês, o TenenteFefVaque, que roi companheiro de prisão de Tukhachevsky,descreveu mais tarde o oficial russo como um negligente eambicioso. Sua cabeça estava forrada de filosofia nietzschiana."Odeio Vladimir, o Santo que introduziu o Cristianismo naRússia, entregando assim a Rússia à civilização ocidental!" ex-clamava Tukhachevsky. "Deveríamos ter permanecido em nos-sa barbárie cruel, em nosso paganismo. Mas tudo isso vol-tará, tenho cer teza !" Falando da revolução na Rússia, Tukha-chevsky dizia: "Muitos desejam-na. Somos um povo frouxo,mas profundamente destrutivo. Houvesse um a revolução, sabeDeus onde iríamos parar. Penso que um regime constitu-cional significaria o fim da Rússia. Necessitamos de umdéspota!

Nas vésperas da Revolução Bolchevique, Tukhachevskyescapou do cativeiro alemão e voltou à Rússia. Uniu-se aosseus companheiros de oficialato do exército do czar que es-

tavam organizando os exércitos brancos contra os bolcheviques.

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3 1 4 M I CH AEL SAYERS E ALBERT E. KAIIN

Inesperadamente, mudou de partido. A um de seus amigos,o capitão-branco Dmitri Golum-Bek, Tukhachevsky confiou asua decisão de abandonar a causa branca. "Perguntei-lhe o*que ia fazer", recordou mais tarde Golum-Bek. "Êle disse:Vou passar para os bolcheviques. O exército branco não podefazer nada. Nós não temos chefe. Êlo andou durante algunsminutos e exclamou: So não quiser, não me siga, mas eupenso que estou certo. A Bússift vai mudar!"

Em 1918, Tukhachevsky ingressou no Partido Bolchevique.Êle achou logo o seu lugar entro os aventureiros que cerca-

vam o comissário de Guerra, Trotsky; mas tevo o cuidadode não so comprometer muito profundamente ms intrigas po-líticas de Trotsky. Militar treinado o experimentado, Tukha-chevsky subiu depressa nas fileiras do iuoxporicnto ExércitoVermelho. Comandou o I o o V Exército no front do Wran-gel, participou da ofensiva telte contra Denikín o, juntamentecom Trotsky, comandou a ofensiva inMfe contra os polonesesinvasores. Em 1922, tornou-so chefe da Academia Militar doExército Vermelho.

Foi um dos militares influentes que tomaram parte nas

negociações militares com a República do Weimar após oTratado de Rapallo clôs.sc ano.Nos anos seguintes, Tukhaehovsky chofiou um pequeno

grupo de militaristas profissionais e oficiais cx-czanstas noestado-maior do Exército Vermelho, ressentido com o coman-do dos antigos guerrilheiros bolcheviques, Marechal Budyennyo Marechal Voróchilov. O grupo de'Tukhaehovsky incluía osgenerais do Exército Vcrmeluo, Yakir, Kork, Uborcvitch e Fel-dman, que tinham uma admiração quase ilimitada pelo mili-tarismo alem ão. Os mais íntimos sócios do Tukhachevsky fo-

ram o oficial trotskista, V. I. Putna, adido militar em Berlim,Londres o Tóquio, o o General Jan B. Gamarnik, amigo pes-soal dos generais da guarda do Reich, Seeckt e Hammerstein.

Juntamente com Putna e Gamarnik, Tukhachevsky logoformou uma pequena e influente clique pró-Alemanha dentrodo estado-maior do Exército Vermelho. Tukhachevsky e seussócios sabiam do entendimento de Trotsky com a Guardado Reich, mas consideravam isso mero conchavo político. Eêste seria contrabalançado por uma aliança militar entre ogrupo de Tukhachevsky e o alto comando alemão. A ascen-

são de Hitler ao poder de nenhum modo alterou o entendi-

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mento secreto entre Tukhachevsky e os chefes militares ale-mães. Hitler, como Tukhachevsky, era um político. Os mi-litares tinham suas idéias próprias...

Já desde a organização do Bloco das Direitas e Trotskis-tas, Trotsky olhava Tukhachevsky como para o trunfo de to-da a conspiração» destinado a ser lançado no ultimo momen-to, o momento estratégico. Trotsky mantinha suas relaçõescom Tukhachevsky especialmente por intermédio de Krestins-ky e o adido militar trotskista, Putna. Mais tarde, Buk-harin indicou Tomsky como elemento pessoal de ligação como grupo militar. Tanto Trotsky como Bukharin sabiam per-feitamente do desprezo de Tukhachevsky aos "políticos" e"ideólogos", e temiam as suas ambições militares. Discutindocom Tomsky a possibilidade de chamar o grupo militar à obra,Bukharin disse:

"Será um golpe militar. Pela lógica das coisas, o grupo* militar dos conspiradores terá tona influência extraord inária...

e mesmo pode surgir um perigo de bortapartismo. E os bo-napartistas — penso particularmente em Takhachevsky — co-meçarão por fazer pouco caso de seus aliados e chamadosinspiradores, no bom estilo napoleónico — e você sabe comoNapoleão tratava os chamados ideólogos."

Bukharin perguntou a Tomsky: "Como é que Tukhache-vsky encara o mecanismo do golpe?" "Isso é assunto de or-ganização militar", respondeu Tomsky. Acrescentou que nomomento em que os nazistas atacassem a Rússia, o grupo mili-tar planejara "abrir as fronteiras aos alemães" — isto é, ren-

í der-se ao alto comando alemão. £s se plano fôra elaboradocom pormenores e aprovado por Tukhachevsky, Putna, Ga-marnik e os alemães.

"Nesse caso", disse Bukharin sàbiamente, "estamos em con-

dições de eliminar o perigo bonapartista que me alarma."Tomsky não compreendeu. Bukharin passou a explicar:"Tukhachevsky tentaria estabelecer uma ditadura militar; elepoderia mesmo tentar conseguir o apoio popular transforman-do os líderes políticos da conspiração em bodes expiatórios.Mas uma vez no poder, os políticos poderiam virar as mesassobre o grupo militar." Bukharin disse a Tomsky: "Bastariaacusá-los como culpados da derrota na frente. Isso nos habi-litaria a conquistar as massas utilizando-nos de slogans pa-trióticos..."

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No comêço de 1936, Tukhachevsky foi a Londres como

xepresentante militar soviético nos funerais oficiais do Rei Jor-ge V da Inglaterra. Antes de partir, recebeu o título co-biçado de marechal da União Soviética. Êle já se conven-cera de que se aproximava a hora em que o regime so-viético deveria ser derribado, e uma nova Rússia, em aliançamilitar com a Alemanha e o Japão, lutaria pelo domínio domundo.

A caminho de Londres, Tukhachevsky parou por poucotempo em Varsóvia e Berlim, onde conversou com "coronéis"poloneses e generais alemães. Estava tão confiante que quase

não procurou esconder a sua admiração pelos militaristasalemães.Em Paris, num jantar solene na embaixada soviética de-

pois de sua volta de Londres, Tukhachevsky surpreendeu osdiplomatas europeus com o sou ataque aberto às tentativasdo govêrno soviético para chegar à segurança coletiva comas democracias ocidentais. Tukhachevsky, que se sentou à me-sa com Nicholas Titulcscu, ministro das -Relações Exterioresda Rumânia, disse ao diplomata rumeno: "Senhor ministro,v. exa. faz mal em ligar a sua carreira e o destino de seupaís a países velhos e acabados como a G rã-Bretanha e a Fra nçaE para a nova Alemanha que deveríamos voltar-nos. For algumtempo, ao menos, a Alemanha será o país que liderará o con-tinente europeu. Estou certo de que Hitler ajudará a salvartodos nós."

As observações de Tukhachevsky foram rememoradas pelodiplomata rumeno' e chefe do serviço de imprensa na embai-xada rumena em Paris, E. Schachanan Esseze, que tambémestêve presente ao banquete da embaixada soviética. Outrodos convivas, a famosa jornalista francesa Geneviève Ta-bouis, posteriormente relatou no seu livro, Chamaram-me deCassandra:

"Encontrei-me com Tuchachevsky à última hora, nodia seguinte aos funerais de Jorge V. Em um jantarna embaixada soviética, o marechal russo estava muitoíntimo com Politis, Titíilescu, Herriot, Boncour... Êleacabava de voltar de uma viagem à Alemanha e cumu-lava os nazistas de fervorosos louvores. Sentado à mi-nha direita, êle dizia e repetia, ao discutir um pacto

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secreto entre as grandes potências e o país de Hitler:"Êles já são invencíveis, Madama Tabouisl"Por que falava êle tão confiantemente? Era por

que se deslumbrara com a cordial recepção que en- fcontrara entre os diplomatas alemães, para os quaisfôra fácil falar com êsse homem da velha escola russa?Seja como fôr; os hóspedes se alarmaram nessa noitecom essa efusão de entusiasmo. Um dos convivas —um diplomata importante — murmurou aos meus ou-vidos quando saíamos da embaixada: "Bem, eu espero

que nem todos os russos pensem assim."

As revelações sensacionais no julgamento do Bloco Terro-rista Trotskista-Zinovievista em agôsto de 1936, e as prisõesÊosteriores de Pyatakov e Radek, alarmaram gravemente Tu-

hachevsky. Êle entrou em contacto com Krestinsky e co-municou-lhe que os planos dos conspiradores tinham de serdràsticamente mudados. Originàriamentc, o grupo militar nãoentraria em ação enquanto a União Soviética não fôsse ata-

cada exteriormente. Mas os desenvolvimentos internacionais— o Pac to Franco-Soviético, a inesperada defesa do Madri— estavam urgindo outro plano. Os conspiradores do dentroda Rússia, disse Tukhachevsky, devem apressar os fatos colo-cando o golpe de estado à testa do seu programa. Os ale-mães viriam imediatamente depois em auxílio de seus alia-dos russos.

Krestinsky disse que iria encaminhar uma mensagem aTrotsky imediatamente, informando-o sôbre a necessidade deprecipitar a ação. A mensagem de Krestinsky a Trotsky, en-

viada em outubro, dizia:"Pensamos que já um grande número de trotskistas fo-ram presos, mas apesar disso as fôrças principais do Blocoainda não foram atingidas. É preciso entrar em ação. Maspara isso é essencial que se apresse a ação estrangeira." Poração estrangeira" Krestinsky queria significar o ataque na-

zista contra a Rússia Soviética...Logo depois de remetida essa mensagem, Tukhachevsky

abordou Krestinsky no VIII Congresso Extraordinário dos So-vietes em novembro de 1936. As prisões continuavam, disseTuckhachevsky excitado e parecia não haver razão para acre-

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ditar que elas parassem nas primeiras camadas da conspira-ção. O elemento de ligação militar trotskista, Putna, já tinhasido detido. Stálin suspeitava claramente da existência de umaextensa conspiração e estava disposto a tomar medidas drás-ticas. Êle já tinha provas suficientes para denunciar Pyatakove os outros. A prisão de Putna e a destituição de Yagodada direção da NKVD significavam que as autoridades sovié-ticas iam chegando às raízes da conspiração. Ninguém po-deria dizer onde o atalho ia dar. .'Incortoza geral.

Tukhachevsky era pela açuo imediata. O Bloco deviatomar uma decisão no caso, som dilações, o preparar tôdasas fôrças para apoiar o golpe militar...

Krestinsky discutiu o assunto com Bosengoltz. Os doisagentes trotkistas alomues concordaram quo Tukhachevsky ti-nha razão. Outra mensagem foi despachada a Trotsky. Nela,além de relatar a determinação do Tukhaehovsky de pros-seguir sem esperar pola guerra, Krcstinsky levantava algumasquestões importantes do estratégia política. Escreveu êle:

"Tomos do esconder os verdadeiros intuitos dogolpe. Faremos uma declaração à população, ao exér-cito o aos Estados ostrangoiros... Primeiramente, emnossas declarações ao povo soria acortado não men-cionar quo o nosso golpe se destinará a derribar aordem socialista existente.,. Pôr-nos-íamos na posiçãode rebeldes «soviéticos. Destruiríamos um mau govêrnosoviético para restabelecermos um bom govôrno sovié-tico . . . Em qualquer hipótese, não nos abriríamos de-mais nosso assunto."

A resposta de Trotsky chegou a Krestinsky no fim dedezembro. O líder exilado concordava inteiramente com Kres-tinsky. Era uma questão de fato. Depois da prisão de Pya-takov, Trotsky também chegara, independentemente, à con-clusão de que o grupo militar deveria ser pôsto em açãosem mais delongas. Enquanto a carta de Krestinsky aindaestava em caminho, Trotsky escrevera a Rosengoltz advogandoa imediata ação militar...

"Depois dessa resposta", declarou Krestinsky mais tarde,"começamos a fazer preparativos mais diretos para o golpe.

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Tukhachevsky teve tôda a liberdade e carta branca para en-trar em ação diretamente I"

2. O julgamento do Centro Paralelo Trotskista^

O govêrno soviético também entrava em ação. As reve-lações no julgamento de Zinoviev-Kamenev estabeleceram semdúvida que a conspiração no pais ia além de uma simples

oposição secreta de esquerda. Os centros reais da conspiraçãonão estavam na Rússia. Estavam em Berlim e Tóquio. Con-tinuando a investigação, tornou-se mais claro ao govêrno so-viético a verdadeira fisionomia e caráter da quinta-coluna doEixo.

Aos 23 de janeiro de 1937, Pyatakov, Radek, Sokolnikov,Chestov, Muralov e doze dos seus companheiros de conspi-ração, inclusive flgon tes-chavo dos S. §. alemão © japonês,foram levados a julgamento por traição em Moscou diantedo Collegium Militar da Suprema Côrte da URSS.

Durante meses os principais membros do Centro Trots-kista negaram as acusações feitas contra ôles. Mas as provasforam completas e esmagadoras. Um após outro, files admi-tiram que tinham dirigido atividades cio sabotagem o terro-rismo, mantido comunicações por instruções de Trotsky, comos governos alemão e japonôs. Mas, no interrogatório preli-minar, como no julgamento, êles não divulgaram o quadrotodo. Nada disseram acêrea da existência do grupo militar.Não mencionaram Krestinsky nem Rosongoltz. Silenciaram acêr-ca do Bloco das Direitas e Trotskistas, a camada final e maispoderosa da conspiração, que, enquanto êles eram julgados,vinha preparando fèbrilmente o assalto ao poder.

Preso, Sokolnikov, antigo assistente de Comissário no car-go dos Negócios Orientais, revelou os aspectos políticos daconspiração. O entendimento com Hess, o desmembramentoda URSS, o plano de estabelecer uma ditadura fascista apósa derrota do regime soviético. No tribunal, Sokolnikov tes-temunhou:

"Nós considerávamos que o fascismo era a forma

mais organizada de capitalismo, que êle triunfaria e

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dominaria a Europa e nos sufocaria. Então era melhor

entrar em entendimento com êle... Tudo isso eraexplicado com o seguinte argumento: Antes fazer al-gum sacrifício, mesmo difícil, do que perder tudo...Raciocinávamos como políticos . . . Achávamos q ue de-víamos tomar umas tantas precauções."

Pyatakov admitiu quo fôra o líder do Centro Trotskista.Falando numa voz calma o deliberada, escolhendo cuidadosa-mente as palavras, o antigo membro do Supremo Conselho

Econômico Nacional depôs aeôrca dos fatos comprovados deatividades de sabotagem o terrorismo quo 61o dirigira até omomento de sua misíío. Do pó no estrado, rosto rino, com-prido, pálido, absolutamente impassível, ôlo parecia, segundoo embaixador americano Joseph E. Davies, 'um professor fa-zendo uma proloção."

Viehinsky procurou lovar Pyatakov a confessar como osagentes trotskistas aiernSes o japonôses tinham travado rela-ções mútuas. Pyatakov fugiu às perguntas^

— VieniNSKY, O quo dou motivo ao agente a lemãoRataiehak para se abrir a você?— PYATAKOV. Duas pessoas tinham-mo falado..— VioiitNsKY. Abriu-se ôlo a vocô ou foi vocô qúe

• so abriu a ôlo?— PYATAKOV, As confidônoias foram mútuas.— VicEtmsKY. Abriu-se vocô em primeiro lugar?— PYATAKOV. Quem so abriu primeiro, ôle ou eu —

a galinha ou o ôvo — eu não sei.

Como relatou John Gunther mais tarde no livro InsideEurope:

"A impressão largamente divulgada no exterior foia de que os acusados falaram contando todos a mes-ma história, de que foram abjetos e servis e s'e com-portaram como carneiros no matadouro. Isso não é exa-to. Êles discutiam vivamente com o promotor; em geralrelataram unicamente o que foram constrangidos a re-

latar."

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Prosseguindo o julgamento, à medida em que se suce-

diam os depoimentos expondo abertamente Pyatakov comoum assassino o traidor politico calculista o do sangue-frio, umanota de dúvida, de depressão começou a se manifestar emsua voz até então calma e límpida. Alguns dos fatos em mãosdas autoridades foram para êle um choque indisfarçável. Aatitude de Pyatakov mudou. Êle declarou que, mesmo antesde sua prisão, começara a objetar contra a direção do Trotsfcy.Disso que não aprovara o entendimento com Hess. "Tínha-mos nos metido na escuridão", declarou Pyatakov ao tribunal."Eu procurava sair..." Numa derradeira alegação ao tribu-nal, 1'yatakov exclamou:

"Sim, eu fui trotskista por alguns anos! Trabalheide mãos dadas com os trotskistas ... Não penseis, Cida-dãos Juizes... que durante êsscs anos passados no su-focante subsolo do trotskismo, eu não via o que estavaacontecendo no país! Não penseis que eu não com-preendia o que so passava na indústria. Digo franca-mente: Por VÒZQS, emergindo do subsolo trotskista oentregando-me aos trabalhos do meu cargo sentia uma

espécie de alívio, e essa dualidado não era apenasexterior, mas existia dentro do mim mesmo.., Dentrode poucas horas ouvirei minha sentença,.. Não mopriveis do uma coisa, Cidadãos Juiaes. Não me pri-veis do direito de 'sentir quo aos vossos olhos tam-bém, eu encontrei "em mim, embora m uito tardo, fôr-ça para quebrar o m eu passado de crimes 1"

Mas, além disso, nem uma palavra acêrca da existênciada camada restanto da conspiração passou pelos lábios doP y a t a k o v . . .

Nicolai Muralov, antes comandanto da guarnição militarde Moscou e mcmbro-líder da antiga guarda de Trotsky, quedesde 1932 dirigia as células trotskistas nos Urais juntamontocom Chestov e técnicos" alemães, solicitou indulgência do tri-bunal, dizendo que o seu "franco depoimento" devia serlevado em consideração. Homem alto, barbado e de cabelos

risalhos, Muralov permaneceu como em posição de sentidourante o depoimento. Declarou que depois de sua prisão e

após uma prolongada luta íntima, êle decidira "pôr as cartas

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na mesa." Suas palavras, segundo Walter Duranty e outrosobservadores, tinham um cunho de real honestidade, quandoêle declarou do estrado dos réus:

"Recusei advogado e renunciei falar em minha pró-pria defesa, porque estou acostumado a defender-mecom armas boas e atacar com armas boas. E eu nãotenho armas boas com quo me defender... Seria in-digno do mim acusar quem quer que seja por ter-mearrastado à organização trotskista... Não me atrevo

a oowsurar ninguém por isso. Consuro-me a mim mes-mo. Ê culpa minha. Ê minha desventura... Por maisdo uma década fui ©u um soldado fiel de Trotsky."

Karl Radek, olhando através de seus óculos grossos paraa sala repleta do tribunal, mantovo-so sucessivamente humilde,insinuantes, importteonto o arrogante durante o interrogatóriodo promotor Viehinsky. Como Pyatakov, porém mais aborta-mento, ôlo admitiu as suas atividades traiçoeiras. Radek tam-

bém alegou quo, antes do sua prisão, logo quo roeobou cartade Trotsky delineando o acôrdo oom os governos nazista ejaponês, so resolvera a repudiar Trotsky e denunciar a cons-piração. D urante semanas, debateu-se & procu ra do que de-via fazer.

— VieniNSKY. O quo docidiuP— RADIÇK. O primeiro passo a dar seria dirigir-me aoGomitô Contrai do Partido, fazer uma declaração, de-nunciar todos os implicados. Isso ou não fiz. Não eraeu quem iria b ÔGPU, mas a OGPU que viria a mim.— ViciiiNSKY. Uma eloqüente resposta!— RADEK. Uma triste resposta.

Na sua alegação final, Radek apresentou-se como um ho-mem torturado de dúvidas, vacilando perpètuamente entrea lealdade ao regime soviético e a Oposição de esquerda, daqual fôra membro desde os primeiros dias da Revolução. Êleestava convencido, disse, de que o regime soviético nuncapoderia resistir à pressão hostil de fora. "E u discordava acêr -

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ca da questão principal", disse êle ao tribunal, "acêrca decontinuar a luta pelo Plano Qüinqüenal." Trotsky "apoderou-sede minhas profundas perturbações." Passo a passo, segundo asua própria narrativa, Raijek foi sendo arrastado para os cír-culos íntimos da conspiração. Depois vieram as ligações comos S. S. exteriores e, finalmente, as negociações do Trotskycom Alfredo Rosenberg e Rudolph Hess. "Trotsky", disso Ra-dek, "colocou-nos diante do fato consumado do seu acôrdo ..."

Explicando como chegara finalmente a confessar-so cul-

pado o admitir os fatos que conhecia acêrca da conspiração,lladek disse:

"Quando me encontrei no Comissariado do Povodos Negócios Internos, o oficial principal da inquiri-ção. . . me disse: "Voeô não è criança. Aqui estão 15pessoas depondo contra você. Você não pode escapardisso, e como indivíduo sensato não podo sequer pen-sar em fazô-lo..

Por dois meses o meio ou atormentei o oficialde inquérito. Perguntaram aqui so ou fui atormentadodurante a investigação. Devo dizer que «Cio fui ou oatormentado, mas ou que atormentei os oficiais do in-quérito o os obriguei a uma tarefa inútil.

Durante dois meses o meio obriguei os oficiais doinquérito, ao mo interrogarem o me confrontarem como depoimento das outros acusados, a me revelarem tô-das as eartas, de modo que eu pude ver quem tinhaconfessado o quem não tinha confessado e o que cadaqual confessara. . .

Um dia o oficial do inquérito chegou a mim omo disse: "Você agora é o ultimo. Por que está es-porando e contemporizando? Por que não diz tudoo que tem a dizer?" e eu respondi: 'Sim, amanhã co-meçarei o meu depoimento.'"

O veredito foi promulgado no dia 30 de janeiro de1937. Os acusados foram julgados criminosos de traição, deconstituírem uma "agência de fôrças fascistas alemãs e japo-nêsas de espionagem, de atividades obstrutivas e destrutivas"

de conspirarem para prestar ajuda "aos agressores estrangei-ros que tencionavam apoderar-se do território da URSS."'

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O Collegium Militar da Suprema Côrte Soviética senten-ciou Pyatakov, Muralov, Chestov e outros dez a serem fuzi-lados. Radek, Sokoinikov e dois outros agentes menores foramsentenciados à prisão por longo tempo.

No seu discurso de recapitulação aos 28 de janeiro de1937, o promotor de Estado, Viehinsky, declarou:

"Pelo seu trabalho de espionagem, os homens quesob a direção de Trotsky e Pyatakov estabeleceram

ligações com os S. S. alemão e japonês, tentaram che-gar a resultados que teriam atingido gravemente osnossos interésses, não só de nosso Estado, mas tambémos intêresses de numerosos Estados que, conosco, dese-jam a paz e que, conosco, lutam pela paz... Esta-mos vivamente interessados em que os governos detodos os países que desejam a paz e lutam por ela,tomem as mais enérgicas medidas para deter todoatentado criminoso de espionagem, pbstruçfio, e do ati-vidades terroristas organizado pelos inimigos da paz,

pelos inimigos da democracia, pelas fôrças obscuran-tistas do fascismo que estão preparando a guerra, queestão preparando o naufrágio da paz e, conseqüente-mente, de tôda a humanidade adiantada e progressista "

As palavras de Viehinsky receberam pequena publicidadefora da Rússia Soviética; mas foram ouvidas o relembradaspor alguns diplomátas e jornalistas.

O embaixador americano em Moscou, Joseph E. Davies,

ficou profundamente impressionado com o julgamento. Êle as-sistiu a tudo diàriamente, e auxiliado por um intérprete, se-guiu cuidadosamente o processo. Antigo advogado de grandesemprêsas, Davies declarou que Viehinsky, que vinha sendoconstantemente descrito pelos propagandistas anti-soviéticos co-mo um "inquisidor brutal", impressionara-o, dando-lhe a im-pressão de um homer Commings, calmo, desapaixonado in-telectual, habilidoso e sábio. Êle conduziu o julgamento demodo a ganhar o meu respeito e admiração como advogado.

Aos 17 de fevereiro de 1937, Davies enviou um despa-

cho confidencial ao secretário de Estado, Cordell Hull rela-tando que quase todos os diplomatas estrangeiros em Moscou

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partilhavam a sua opinião acerca da justiça do veredito. Oembaixador escreveu:

'Talei com muitos, se não com todos os membrosdo corpo diplomático, e com exceção possivelmente deum, todos são de parecer que o processo estabeleceuclaramente a existência de uma luta e conspiraçãopolítica para derribar o governo."

Mas êsses fatos não foram publicados. Forças poderosasconspiravam para abafar a verdade acêrca da quinta-cohinana Rússia Soviética. Aos 11 de março de 1937, Davies reme-

morou no seu diário de Moscou:"Outro diplomata, um ministro — fêz-me uma de-claração extremamente esclarecedora ontem. Discutiuo julgamento, disse ele que os acusados eram indubità-velmente culpados; que todos nós que tínhamos assis-tido ao julgamento, praticamente concordávamos comisso; que o mundo exterior, nos seus relatos de im-prensa, entretanto, parecia pensar que o julgamentofora tuna escamoteação (fachada, como lhe cham avam);que conquanto êle soubesse que não fora assim, pro-

vàvelmente havia motivos para pensarem no exteriorque tinha sido assim." (75.)

(75) Os companheiros e admiradores de Trotsky na Europ a e naAmérica desencadearam uma torrente interminável de declarações, pan-fletos, folhetos e artigos descrevendo os julgamentos de Moscou como"vingança de Stalin contra Trotskv" e produto de "vindita oriental deStalin." Os trotskistas e seus aÜaáos Hriham livre «a ce so a publicaçõesimportantes. Nos E.U .A . suas declarações e artigos apareciam noForeing Affairs Qu artely, Rccders Digest, Saturday Éveaing Past, pe-riódicos de grande circulação. En tre êsses amigos, companheiros e ad-

miradores de Leon Trotsky cujas interpretações dos julgamentos eramestampadas com destaque na imprensa americana e transmitidas norádio, figuravam: Mas Eastman, antigo representante de Trotsky naAmérica e seu tradutor oficial; AIssaa&r Barmine. ma renegado sovié-tico que estivera por algum tempo no Ministério do Exterior soviético;Albert Goldman, advogado de Trotsky, acusado por um tribunal federalem 1941 por ter tomado parte símia conspiração sediciosa contra asforças armadas dos E.U .A .; o "General Krivitsky, aventureiro russoe testemunha do Comitê Dies que passava por antiga figura central daOGPU e que se suicidou mais tarde deixando uma noto explicativa doseu ato como uma reparação pelos seus "grandes pecadas"; Isac DonLevine, veterano propagandista anti-soviético e colaborador da Hearst; e

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3. Ação em maio

A conspiração ainda estava longe de ser esmagada. ComoPyatakov, Radek também omitira informações importantes àsautoridades soviéticas, a despeito de seu depoimento aparen-temente completo. Mas no segundo dia do julgamento, Radekse contradisse perigosamente. Sua língua traiu-o. Fugindo auma pergunta cio interrogatório de Viehinsky, êle mencionou o

nome de Tukhachevsky. "Vitaly Putna" disse Radek, "veiover-mc com uma petição do Tukhachevsky." Êle caiu em siimediatamente e nílo repetiu mais o nomo de Tukhachevsky.

No dia seguinte, Viehinsky, leu oro voz alta o depoimen-to de Radek da sessão anterior: "Eu desejo saber, a quepropósito você mencionou o nome de Tukhachevsky?" per-guntou a Radek.

Houve uma breve pausa. Depois Radek respondeu cal-mamente, sem hesitação. "Tukhachevsky", explicou êle, "pe-dia alguns dados sôbro assuntos do governo" que Radek pos-

suía na redação do Izvestía. O comandante militar mandouPutna buscá-los. Foi tudo. "Com efeito", acrescentou Radek,"Tukhachevsky não tinha idéia alguma do meu papol... Euconheço a atitudo do Tukhachevsky ante o Partido e o go-

Williaru Ilcnry Clmmberlin, também colaborador do Ilearst, cujos pon-tos do vista aoôrca dos julgamentos apareceram sob o titulo "O ExpurgoSangrento da Rússia" no orgto do propaganda do Tóquio, Contempo-rary Japtin.

O destacado trotskista americano, James Burnham, posteriormente

autor do amplamento divulgado The Munugcrhil licwlution, apresentouos julgamentos do Moscou como um alentado insidioso da parte deStálin para conseguir o auxilio da França, Grã-Bretanha e dos E.U.A.numa guerra santa" contra o Eixo , o para submeter à perseguição in-ternacional "todos os que sustentam a política do derrotismo revolucio-nário (isto é, os trotskistas.)" Aos 15 do abril de 19 37 numa introdu-ção a um panfleto trotskista sôbro o julgamento de Pyatakov-Radek,Burnham escreveu: "Sim. os julgamentos foram uma parte integrantee importante dos preparativos de Stálin para a próxima guerra. O sta-linismo deseja recrutar as massas da França, Grã-Bretanha e dos E.U.A.

nos exércitos de seus governos imperialistas, numa guerra santa con-tra o ataque que Stálin espera que será lançado contra a UniãoSoviética pela Alemanha e Japão. Com os julgamentos, operando emescala mundial, o stalinismo tenta eliminar todos os centros possíveisde resistência a essa traição social-patriótica,"

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vêrno e sei que se trata de um homem absolutamente dedi-cado!"Nada mais Se disse acôrca de Tukhachevsky no julga-

mento. Mas os conspiradores restantes estavam convencidosque uma dilação maior do golpe final significaria o suicídio.

Krestinsky, Rosengoltz, Tukhachevsky e Gamarnik fizeramuma série de reuniões secretas precipitadas. Tukhachevsky co-meçou a designar oficiais no grupo militar para "comandos"especiais, cada um dos quais teria tarefas específicas a exe-cutar no momento do ataque. Pelo fim de março do 1937,

os preparativos para o golpe estavam em sua fase final. Emuma reunião com Krestinsky e Rosengoltz, no apartamentodôste, Tukhachevsky anunciou que o grupo militar estaria pre-parado para a ação dentro d© seis semanas. A data para oataque seria fixada na primeira parto de maio, de qualquermodo antes de 15 de maio. Havia uma forma de governo emdiscussão no grupo militar, disse ólo.

Um dêsses planos, disso mais tarde Tukhachevsky, como qual "contava mais Rosongote", consistiria em "reunirem-seuns militares e seus companheiros, sob um pretexto qualquer,no seu apartamento, o uai caminharem para o Kremlin, to-marem o sou pôsto tolofônico, matarem és líderes do Partidoe do govôrno. Simultânoamento, do aeôrdo com ôsto plano,Gamarnik e suas unidades "tomariam o edifício do Comissa-riado do Povo para os Negócios Internos,"

Outras "variantes"' foram discutidas; mas quanto àqueleplano, Krestinsky e Rosengoltz estavam de aeôrdo, parecendoser o mais audaz o, por conseguinte, provàvelmonte o maisofícaz. . .

A reunião no apartamento do Rosengoltz. concluiu comuma nota otimista. O plano do golpe, como delineara Tu-khachevsky, tinha grandes probabilidades de ôxito. A despeitoda perda de Pyatákov e outros, parecia que o dia por quetanto tinham almejado os conspiradores, e para o qual tantose prepararam, agora se aproximava.

Abril passou depressa, com os últimos e febris prepara-tivos para o golpe.

Krestinsky começou a organizar umas longas listas "degente de Moscou qu© devia ser prêsa e removida de seus

postos ao declarar-se o movimento, e lista de outras pessoasindicadas para essas vagas." Pistoleiros sob o cornando de Ga-

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marnik foram destacados para assassinar Molotov e Voróchilov."Rosengoltz, na sua qualidade de comissário do Comércio doExterior, falava em encontrar-se com Stálin na véspera dogolpe e assassinar o líder soviético no seu Q. G. no Kremlin...

Era a segunda semana de maio de 1937.Aí, súbita e devastadoramente, o govêrno soviético arre-

meteu, no dia 11 de maio. O Marechal Tukhachevsky foi des-tituído do seu pôsto de assistente do comissário de Guerrae designado para um comando inferior no distrito do Volga.O General Gamarnik foi destituído do seu pôsto de assistentedo comissário do Guerra. Os generais Uborevitch e Yakir,associados à conspiração com Tukhachevsky e Gamarnik, tam-bém foram destituídos. Dois outros generais, Kork e Eide-man, foram presos e acusados de manterem relações secretascom a Alemanha Nazista.

"Eu comecei a aguardar minha prisão" disse Krestinskymais tarde. "Conversei sôbro o assunto com Rosengoltz, quenão esperava ser descoberto o continuava mantendo relaçõescom Trotsky... Poucos dias depois fui pirôso."

Um comunicado oficial revelou quo Bukharin, Rykov eTomsky, que tinham estado sob vigilância estrita e sob in-vestigação eram agora acusados do traição. Bukharin e Rykovtinham sido postos sob custódia. Tomsky, fugindo à prisão,suicidara-se. Aos 31 de maio, o General Gamarnik seguiu oexemplo de Tomsky. Foi comunicado que Tukhachevsky e ou-tros numerosos oficiais do exército, altamente colocados, tinhamsido presos pela NKVD . Pouco tempo depois, Rosengoltz foiprêso. Continuava a perseguição nacional contra os suspeitosde quinta-colunismo.

As 11 horas da manhã de 11 de junho de 1937, o Ma-rechal M. N. Tukhachevsky o sete outros generais do Exér-cito Vermelho enfrentaram um Tribunal Militar especial daSuprema Côrte Soviética. Por causa do caráter confidencialdo depoimento que ia ser ouvido, o tribunal se reuniu aportas fechadas. Era uma côrte marcial militar. Os réus foramacusados de conspirarem contra a União Soviética, manco-munados com potencias inimigas. De pé na sala do tribunal,juntamente com Tukhachevsky — enfrentando os marechaisVoróchilov, Budyenny, Chopochnikov e outros líderes do Exér-cito Vermelho — estavam os sete generais seguintes:

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General V. I. Putna, antigo adido militar em Lon-dres, Tóquio e Berlim.General I. E. Yakir antigo comandante da Guarni-

ção Militar de Lenipgrado.General I. P. Uborevitch, antigo comandante do

Exército Vermelho na Bielo-Rússia.General R. P. Eídeman, antigo chefe do Osoavia-

khim (organização voluntária de defesa militar.)General A. I. Kork, antigo chefe da Academia

Militar Frunze.General B. M. Feldman, antigo chefe da Sessão

de Pessoal do Estado-Maior.General V. M. Primakov, antigo comandante da

Guarnição Militar de Karkov.

Um comunicado oficial declarava o seguinte:

"As investigações feitas estabeleceram a participa-, ção dos réus, assim como do General Jan Gamarnik,

em ligações antiestatais com círculos militares dirigen-tes de um dos países estrangeiros empenhados em po-lítica inamistosa contra a URSS.

Os réus estavam a serviço do S. S. militar dôssopaís.

Sistemàticampnte, os réus forneciam informaçõessecretas acêrca da situação do Exército Vermelho aoscírculos militares dêsse país.

Êles empenharam-se em atividades de destruiçãoe debilitamento do Exército Vermelho, com o intuito

de preparar a sua derrota no caso de um ataque con-tra a União Soviética..."

Aos 12 de junho, o Tribunal Militar anunciou o seu vere-dito. Os réus foram julgados culpados e sentenciados, comotraidores, a serem fuzilados por um pelotão do Exército Ver-melho. Dentro .de 24 horas, a sentença foi executada.

De novo, violentos rumores de propaganda anti-soviéticaagitaram o resto do mundo. O Exército Vermelho inteirinho,segundo foi apresentado no exterior, estava fervilhando derevolta contra o govêrno soviético; Vorochilov estava "mar-

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chando sôbre Moscou", à testa do exército antistalinista; fuzi-lamentos em massa tinham lugar na Rússia Soviética; daí pordiante, o Exército Vermelho, tendo perdido seus "melhoresgenerais", não era mais um fator sério na situação internacional.

Muitos observadores honestos ficaram profundamente ator-doados com os acontecimentos na Rússia Soviética. O carátere a técnica da quinta-coluna ainda eram geralmente desco-nhecidos. Aos 4 ae julho de 1937, Joseph E. Davies, embai-xador americano em Moscou, teve uma entrevista com o co-

missário do Exterior soviético Maxim Litvinov. Ele comunicoua Litvinov, francamente, que a reação nos E.U.A. e na Europaante a execução dos generais e ante os julgamentos dos trots-kistas, fôra má.

"Na minha opinião", informou o embaixador ao elmissáriodo Exterior soviético, "isso enfraqueceu a confiança da Françae da Inglaterra na pujança da URSS om face de Hitler."

Litvinov também foi franco. Comunicou quo o govêrnosoviético teve de assegurar por meio dêsses julgamentos e

execuções a liquidação do traidores que cooperassem com Ber-lim e Tóquio no caso de uma guerra inevitável."Algum dia", disso Litvinov, "o mundo compreenderá o

que fizemos para proteger o nosso govôrno da traição queo ameaçava... Estamos prestando um serviço a todo o mundo,protegendo-nos a nós mesmos contra a ameaça do Hitler eda dominação mundial nazista, o conseqüentemente estamosmantendo a fôrça da União Soviética como baluarte contraa ameaça nazista."

Aos 28 de julho de 1937, tendo conduzido investigaçõespessoais sôbre a verdadeira situação dentro da Rússia Sovié-tica, Davies enviou o "Despacho Número 547, estritamenteconfidencial", ao secretário cie Estado Cordell Hull. O embai-xador recordou os recentes acontecimentos e desfez os malé-volos rumores de descontentamento popular e iminente colapsodo govêrno soviético. "Não houve indicações (como constounas histórias dos jornais) de cossacos acampados perto doKremlin ou encaminhando-se para a Praça Vermelha", escre-veu êle. Davies recapitulou a sua análise do caso de Tukha-chevsky do seguinte modo:

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"Salvo assassínio ou guerra exterior, a posição dês-te govêrno e do atual regime parece inabalável agora,e provavelmente por muito tempo, no porvir. O perigodo Corso dissipou-.se atualmente."

4. Final

O último dos trôs famosos Julgamentos do Moscou ini-ciou-se aos 2 do março de 1038, na Casa dos Sindicatos,perante o Collegium Militar da Suprema Côrto da URSS. Osprocessos, inclusive as sessões da manhíí, da tarde o da noitee a» sessões in Gamara, em que foram ouvidas testemunhascujos depoimentos envolviam segredos militares, duraram setedias.

Os réus oram em número do 21. Incluíram o antigo che-fe da O GPU, Henry Yagoda, e seu secretário, Pavel Bulanov;

os líderes das direitas, Nicolau Bukharín e Alexei Rykov; oslíderes trotskistas o agentes alemães, Nieolai Krestinsky o Arka-dy RosongoHz; o agente trotskista o japonâs, Christian Rako-vsky; os líderes das direitas e agentes alemães, Mikhail Cher-nov h Grigori Grinko; o agente polonôs, Vasily Charangovitch;o outros onze conspiradores, membros do Bloco, sabotadores,terroristas e agentes estrangeiros inclusive o elemento de li-gação trotskista, Sergei Bessonov, e os médicos assassinos, dou-tores Levin, Pletney e Kazakov.

O correspondente americano, Walter Durantv, que assis-tiu ao julgamento, escreveu no seu livro, O Kremlin e o povo:

"Era com efeito o "Julgamento para acabar comtodos os julgamentos", porque nessa época as coisasestavam claras, o promotor organizara os fatos e con-seguira reconhecer os inimigos, tanto dentro como forado país. As dúvidas e hesitações iniciais tinham agoradesaparecido, porque um caso após outro, especialmen-te, creio eu, o caso dos "generais", completaram o qua-dro obscuro e inacabado no tempo do assassínio deKirov. . ."

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O govôrno soviético preparara cuidadosamente a causa.Meses de investigação preliminar, coleção de provas e depoi-mentos dos julgamentos prévios, acareação de testemunhas eréus, interrogatório dos conspiradores detidos, tudo isso levaraà construção do libelo. O govôrno soviético acusava:

"1. Em 1932-33, por instruções dos S. S. de esta-tados estrangeiros hostis à URSS, formara-se um grupoconspirativo denominado o "Bloco das Direitas Trots-kistas", acusado no presente processo de objetivos de

espionagem com auxílio de estados estrangeiros, de ati-vidades destrutivas, obstrutivas o terroristas, procurandosolapar o poder militar da URSS, provocando um ata-que militar dôsses estados contra a URSS, trabalhandopara a sua derrota o para o seu desmembramento...

2. O "Bloco das Direitas e Trotskistas" entraraem comunicação com certos estados estrangeiros comintenção de receber ajuda armada dos mesmos pararealizar os seus desígnios criminosos.

3. "O Bloco das Direitas o Trotskistas", empenha-ra-se sistemàlicamonto em atividades de espionagemcom auxílio dôsses estados, fornecendo aos seus S. S.informações oficiais secretas de extrema importância.

4 O "Bloco das Direitas e Trotskistas" sistemà-ticamento executara atividades destrutivas o obstrutivasnos vários ramos da construção socialista (indústria,agricultura, ferrovias, na esfera das finanças, do desen-volvimento municipal, etc.

5. O "Bloco das Direitas e Trotskistas" organizaranumerosos atos terroristas contra líderes do Partido Co-munista Russo e do govôrno soviético e perpetrara atosterroristas contra S. M. Kirov, V. R. Menjinsky, V. V.Kuibychev e A. M. Górki."

O julgamento do Bloco das Direitas e Trotskistas divul-gou pormenorizadamente pela primeira vez na história as ati-vidades da quinta-coluna do Eixo. Tôdas as técnicas do mé-todo de conquista secreta do Eixo — propaganda, espiona-

gem, terror e traição nos altos postos, a maquinação dos Quis-lings, a tática do Exército secreto lutando dentro do país —

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a história tôda da estratégia da quinta-coluna pela qual osnazistas já vinham solapanao a Espanha, a Áustria, a Tcheco--Eslováquia, a Noruega, a Bélgica, a França e outras nações daEuropa o América, tudo isso foi claramente exposto. "Os Bu-kharins, os llvkovs, os Yagodas e Bulanovs, os Krestinskys eRosengoltzes', declarou o promotor soviético, Vichinsky, na suaalocução final aos IX de março de 1938, "são todos membrosdessa quinta-coluna."

O Embaixador Joseph E. Davies, que assistiu aos proces-

sos, achou o julgamento 'terrífico", como drama legal, humanoo político. Aos 8 do março escreveu à sua filha:

"Tôdas as fraquezas o vícios fundamentais da natu-reza humana — ambições pessoais .das piores — fo-ram manifestadas nos processos, lílos revelaram os li-neamentos do uma conspiração que ostôvo próxima cioêxito, tentando derribar êste govêrno."

Alguns dos acusados, lutando por suas vidas, procuraram

furtar-se à responsabilidade total do sous crimes, atirando aculpa sôbro outros, apresontando-se como políticos sinceros, mastransviados. Outros, sem aparente emoção ou esporança doescapar da sentença de morte, relataram os negros pormeno-res aos assassínios "políticos" que tinham cometido, as ope-rações de espionagem tf sabotagem que tinham executadosob a direção dos S. S. militares alomíío o japonês.

Na sua alegação final perante o tribunal, Bukharin, quose apresentara como o "ideólogo" da conspiração, traçou umquadro vivo das tensões íntimas e das duvidas quo, após asua prisão, começaram a afligir muitos dos radicais de ou-trora que se tinham transformado em traidores e, juntamentecom Trotsky, tinham conspirado com a Alemanha nazista ocom o Japão contra a União Soviética. Bukharin disse:

"Eu já disse, ao dar meu depoimento neste tribu-nal, que não foi a simples lógica da luta que nosimpeliu, a nós conspiradores contra-revolucionários, àfétida vida do subsolo, que foi exposta neste tribunalcom tôda a sua fôrça. A simples lógica da luta foi

acompanhada por uma degenerescência de idéias, umadegenerescência psicológica, uma degenerescência de

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nós mesmos, tuna degenerescência do povo. Houve e-xemplos históricos muito conhecidos de semelhante de-generescência. Basta mencionar Briand, Mussolini e ou-tros. Nós também degeneramos...

Falarei agora do mim mesmo, de minhas razõespara arrepenoer-me. Com efeito, eu devo admitir quea prova processual desempenha um importantíssimo pa-pel. Durante três meses ou recusei-me a dizer coisaalguma. Depois eomceoi a dopôr. Por que? Porque du-rante a prisão eu fiz a rocapitulaçâo de meu passado

todo. Quando a gente pergunta: "Por que morre vo-cê?" — subitamente emerge dianto da gente um vazionegro perfeitamente evidente. NSo haveria nada porque mórror, so so morresse impenitente,.. E quandoa gente pergunta a si mesmo: "Muito bom, suponhaque voou nlio morre; suponha que por um milagrevocê deva permanecer vivo. Ainda uma voz, por que?Isolado do todos, feito inimigo do povo, numa situaçãoinumana completamente separado do tudo o quo cons-titui a essência da vida..." B novamente, a mesmaresposta quo surge. l m tais momentos, Cidadãos Juí-zos, tudo o que M de pessoal, tôda a incrustação pes-soal, todo rancor, todo orgulho o numerosas outrascoisas dissipam-se, desaparecem...

Estou faiando talvez pela última vez na minhavida... Posso inferir a priori quo Trotsky o os ou-tros meus aliados no crime, assim corno a SegundaInternacional... empenhar-se-ão para nos defender, eparticularmente a mim. Rejeito essa defêsa.,. Esperoo veredilo."

O veredito foi anunciado na manhã de 13 de março de1938. Todos os réus foram julgados culpados. Três deles, Plet-nev, Bessonov e Rakovsky, foram sentenciados à prisão. Osdemais foram sentenciados ao fuzilamento.

Três anos depois, no verão de 1941, depois da invasãonazista da URSS, Joseph E. Davies, antes embaixador ame-ricano na União Soviética, escreveu:

"Não houve a esperada "agressão interna" na Rús-sia cooperando com o alto comando alemão. A mar-

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 3 3 5

cha de Hitler sôbre Praga foi acompanhada do apoiomilitar ativo das organizações de Henlein na Tcheco--Eslováquia. A mesma coisa sucedeu na invasão da No-ruega. Não houve Henleins sudetos, nem Titos eslove-nos, nem De Grelles belgas, nem Quislings noruegue-ses no solo da Rússia...

A história tinha sido contada nos chamados jul-gamentos do traição e no expurgo de 1937 e 1938,a que eu assisti. Rememorando èsscs processos e o que

escrevi nesta época... achei quo pràticamonto todoprocesso de atividade quinta-cohmista alemão, comoagora se conhece, foi revelado o desnudado nas con-fissões de depoimentos feitos nesses julgamentos poios"Quislings" confessos da Rússia...

Todos êsses julgamentos, expurgos e liquidações,que pareciam violentos na ocasião e quo abalaram omundo, vô=so agora do modo porfeitamonto claro quofaziam parte de um esfôrço vigoroso o decidido do go-vôrno do Stálin para protegor-so não só contra a re-

volução interna mas também contra o ataque do fora.Êles conseguiram limpar inteiramente o liquidar todosos traidores ao interior do país. Tôdas as duvidas foramresolvidas em favor do govêrno.

Nao houve qyinta-colunistas na Rússia em 1941— tinham sido fuzilados. O expurgo limpou o país ovarreu a traição."

A quinta-coluna do Eixo na Rússia Soviética já tinha sido

esmagada.

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C A P I T U L O X X I

ASSASSÍNIO NO MÉXICO

O principal réu do todos os trôs julgamentos de Moscouera um homem que estava a 5.000 milhas de distância.

Em dezembro do 1936, depois do julgamento de Zino-viov-Kamcmev © da prisão do Pyatakov, Raaek e outros mem-bros dirigentes do Centro Trotskista, Trotsky foi forçado adeixar a Noruega. Êle cruzou o Atlântico o atingiu o Méxicoaos 13 do janeiro de 1937. Aí, após uma breve estada nacasa do um rico artista mexicano, Diego Rivera, Trotsky mon-tou o seu Q. G. numa vila om Coyoaean, subúrbio da Cidade

do México. De Coyoaean, durante os meses seguintes, Trotskyviu osboroar-so irremodiàvclracnto, peça por peça, sob as mar-teladas do govôrno soviético, a intrincada e poderosa quin-ta-coluna russa.. .

0Aos 26 do janeiro de 1Ô37, Trotsky fèz uma declaração

assinada à imprensa de Hearst nos E. U. A., acôrca do jul-amento de Pyatakov o Radek. "Dentro do Partido", disselo, "Stálin colocou-se acima de tôda crítica e acima do pró-

prio Estado. Ê impossível deslocá-lo a não ser pelo assassínio."

Um comitê americano para a defesa de Leon Trotsky,arquitetado por companheiros de Trotsky nos E. U. A., masnominalmente chefiado por socialistas anti-soviéticos, jornalistase educadores, estabeleceu-se na cidade de Nova Iorque. O co-mitê incluía a princípio numerosos liberais destacados. Umdêles, Mauritz'Hallgren, autor e sócio-editor do Baltímor Sun,retirou-se" do comité logo que viu claramente os intuitos depropaganda anti-soviética do mesmo. Aos 27 de janeiro de1937, Hallgren publicou uma declaração desligando-se do co-

mitê que dizia em parte o seguinte:

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338 M ICHA EL SAYERS E ALBERT E. KAIIN

"Estou convicto, como devo estar no caso, deque o Comitê Americano para Defesa de Leon Trotskytornou-se, talvez não intencionalmente, um instrumentodos trotskistas para a sua política de intervenção con-tra a União Soviética. Diante disso, V. S. retiraráo meu nome da lista de membros do comitê."

O Comitê para a Defesa de Leon Trotsky empreendeuuma campanha de propaganda intensa para apresentar Tro-tsky como "o mártir e herói da Revolução Russa" e os jul-gamentos de Moscou como farsas do Stálin." Um dos primei-

ros atos do comitê foi estabelecer uma "Comissão Preliminarde Inquérito" para "investigar acôrca das acusações feitas con-tra Leon Trotsky nos julgamentos do Moscou de agôsto de1936 e janeiro do 1937.' Os membros do comitê eram o idosofilósofo e educador Tohn Dewoy; o autor, Carleton Beals; oantigo membro socialista do Reichstag alemão, Otto Reuhle; oantigo radical americano © jornalista anti-soviético, BenjaminStolberg; e a fervorosa trotskista, jornalista Susano La Follette.

Com muita fanfarra e publicidade a Comissão de Inqué-

rito começou promovendo audiências em Coyoaean, México,aos 10 de abril. As únicas testemunhas foram Leon Trotskye um de seus secretários, Jan Frankel, que fôra a princípiomembro da guarda pessoal de Trotsky em Prinkipo, em 1930.Atuando como consultor legal em favor de Trotsky, havia oadvogado americano, Albert Goldman (76.)

As audiências duraram sete dias. O "depoimento" de Trots-ky, largamente divulgado na imprensa americana e européia,consistiu principalmente em violentas acusações contra Stálin

e o govôrno soviético, em extravagante autolouvor do seu pa-pel na Revolução Russa. As provas detalhadas apresentadascontra Trotsky nos julgamentos de Moscou, na sua maior par-te, foram completamente ignoradas pela Comissão de Inqué-rito. Aos 17 de abril, Carleton Beals demitiu-se da Comissão,Beals publicou uma declaração em que dizia:

(76) Em 1 de dezembro de 1941 , Albert Goldman foi acusadonuma Corte Federal em Minneapolis, Minnesota, de ter conspirado numtrabalho de desmoralização do Exército e da Marinha aos E.U .A.

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 3 3 9

"A silenciosa adoração dos demais membros do

comitê perante Mr. Trotsky durante as audiências aca-bou destruindo todo espírito de investigação hones-ta . . . Logo no primeiro dia fui informado de que asminhas perguntas oram impróprias. O interrogatório fi-nal foi organizado de maneira a impedir tôda pes-quisa do verdade. Eu tinha como tarefa interrogarIrotsky acerca dos seus arquivos... O interrogatórioconsistiu cm acusações do propaganda que TrotSKy de-clamou coro eloqüência, cm acusações violentas, comesforços multo raros para provar as suas asserções. Acomissão podo entregar ao público a sua poça, se qui-ser, mas cu nfio emprestarei o meu nomo a essa in-fantilidade, no caso 'do ser cometida."

Sob os auspícios do Gomilô Americano pura Defesa deLeon Trotsky, iniciou-se uma campanha para trazer Trotskyaos E.U .A. Livros, artigos © declarações do Trotsky circula-ram largamente nos KU.A. , enquanto que a verdade sô-'bre os'julgamentos de Moscou permanecia engavetada nos ar-

quivos do Departamento do listado ou nas mentos dos cor-respondentes ao Moscou que acreditavam, como Walter Du-ranty escreveu mais tarde, na "extrema relutância dos leitoresamericanos para ouvirem algo de honesto sôbre a Rússia." (77.)

No México, assim como na Turquia, na França e No-ruega como em tôda parte em que estivo, Trotsky reuniu

(77) Trotsky ofereceu várias explicações, para as confissões feitasnos julgamentos pelos seus antigos e Íntimos amigos, lugar-tenentes oaliados. A princípio, êle explicou o julgamento do Ztnoviov o Kamencv

declarando que o governo soviético prometera poupar as vidas dos réuscom a condição destes fazerem acusações falsas contra filo, Trotsky."Ê isso um mínimo a que a OGPU não podoria renunciar", escreveraTrotsky — ela dará às suas vítimas uma enave para recuperar as sunsvidas com as condições de obter esse mínimo." Depois do fuzilamentode Zinoviev e Kamenev e seus cúmplices do Centro Terrorista Trots-kista-Zinovlevista, Trotsky declarou que êles tinham sido enganados. Masessa explicação tornou-se desesperadamente inadequada quando Pyatakov,Radek e outros acusados no segundo Julgamento de Moscou, tambémconfessaram-se culpados e fizeram declarações ainda mais desconcer-tantes. Então Trotsky afirmou que o depoimento dos acusados era oproduto de misteriosas e requintadas torturas, de drogas poderosas,

Ele escreveu: "Os julgamentos da OGPU têm um caráter inteiramente

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340 M ICHA EL SAYERS E ALBERT E . KAIIN

ràpidamente em tôrno de si uma roda de discípulos, aven-tureiros e guardas armados. E novamente, começou a vivernuma atmosfera fantástica de intriga.

A vila de Coyoaean em que estava o quartel-general deTrotsky fôra transformada numa verdadeira fortaleza. Cerca-va-a um muro de 20 pés de altura. Nos torreões, aos quatrocantos havia sentinelas armadas de fuzis embalados, vigiandonoite e dia. Além do que, havia uma unidade da políciamexicana especialmente destacada para a proteção do exte-rior da vila, e guarda-costas armados de Trotsky que patru-

lhavam incessantemente o seu quartel-general. Tôdas as visitastinham do apresentar a sua identidade, eram submetidas ainvestigações mais rigorosas do que nos postos de fronteira.Seus passes eram assinados e contra-assinados. Admitido atra-vés dos portões do muro alto, oram revistados antes de en-trarem na vila pròpriamonte dita.

Dentro, a atmosfera era de tensa atividade. Havia umpessoal considerável que trabalhava dando instruções ou exe-cutando tarefas recebidas do chefe. Secretários especiais pre-

paravam propaganda anti-soviética, proclamações de Trotsky,artigos, livros o comunicações secretas em russo, alemão efrancês, espanhol e inglês. Como em Frinkipo, Paris e .Oslo,muitos dos "secretários" de Trotsky levavam pistolas à cin-tura — era o mesmo ambiente de ia triga @ mistério cercand oo conspirador anti-soviético.

inquJsitorinl: 6 ôsso o segrMo das confissões!... Talvez haja no mundopessoas capazes de suportai tôdas as modalidades de torturas, físicaso morais, infligidas contra si mesmas, contra suas espôsas e filhos.

Eu não as conheço. . ."Num artigo Trotsky descrevia os réus nos julgamentos como ho-mens de "caráter nobre', ardentes, sinceros "velhos bolcheviques" quetinham tomado o atalho da oposição por causa de Stálin ter "traído arevolução", e, conseqüentemente, foram liquidados por Stálin. Em ou-tro artigo, Trotsky denunciaria violentamente Pyatakov, Radek, Bukharine outros como 'caracteres desprezíveis", homens de "vontade fraca",é "títeres de Stálin."

Finalmente, em resposta à pergunta, por que, se não eram culpa-dos, os revolucionários veteranos teriam feito tais declarações, sem seterem aproveitado do julgamento público para se proclamarem inocen-tes, Trotsky declarou nas audiências do México em 1937: "Pela natu-

reza da causa, não sou obrigado a responder a essas perguntas!"

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 3 4 1

A correspondência era volumosa, e chegava ao Q. G. me-xicano de tôdas as partes do mundo. Não poucas vêzes exigiatratamento químico, porque as cartas vinham escritas em tintainvisível entre inócuas linhas visíveis. Havia copiosa corres-pondência telegráfica e cabográfica com a Europa, Ásia e osEstados Unidos. Uma onda interminável de jornalistas, celebri-dades, políticos, misterioso? visitantes incógnitos, vinham entre-vistar-so com o líder "revolucionário" do movimento anti-so-viético. Havia delegações freqüentes d© trotskistas estrangei-

ros — trotskistas franceses, trotskistas americanos, trotskistashindus, trotskistas chineses, agentes do I'OUM espanhol.Trotsky recebia os seus visitantes com o ar de um dés-

pota no poder. A jornalista americana Betty Kirk, que entre-vistou Trotsky no México e o fotografou para a revista Life,descreveu a sua manoira hislria e ditatorial:

"Trotsky olhou para o seu relógio e disse autocrà-ticamonte que nos daria exatamente oito minutos. Ao darordens ao seu secretário russo, gritou contra a lerdeza

dôle. Mandou também a Bernard Wolfe, seu secretá-rio norte-americano, quo se sentasse, o enquanto Wolfeatravessava a sala, Trotsky bateu com o lápis no cantoda mesa, exclamando: "Depressa, não perca tempo!"

Da vüa fortificada do Coyoaean, Trotsky dirigia a suaorganização anti-soviética mundial, a IV Internacional. NaEuropa, Asia, América do Norte e do Sul existiam íntimasligações entre a IV Internacional o a rêde da quinta-coluna

do Eixo:"Na Tcheco-Eslováquia: Os trotskistas trabalhavam

cm colaboração com o agente nazista Konrad Henlein eseu partido de sudetos alemães. Sergei Bessonov, por-tador trotskista que fôra conselheiro na embaixada so-viética em Berlim, testemunhou quando em julgamentoem 1938 que, no verão de 1935, estabelecera ligaçõesem Praga com Konrad Henlein. Bessonov afirmou queêle pessoalmente atuara como intermediário entre ogrupo de Henlein e Leon Trotsky."

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141 MICH AEL SAYERS E AL BER T E. KAIIN

Na França: Jacques Doriot, agente nazista e fun-dador do Partido Popular Fascista, foi um renegadocomunista e trotskista. Doriot trabalhou intimamente,como fizeram outros agentes nazistas e fascistas france-ses, com a secção francesa da IV Internacional Trots-kista.

Na Espanha: Os trotskistas insinuaram-se nas fi-leiras do POUM, organização quinta-colunista que vi-nha ajudando o levante fascista de Franco. O chefedo POUM era Andreas Nin, antigo amigo e aliado deTrotsky.

Na China: Os trotskistas vinham operando sob asupervisão direta do S. S. militar japonês. Seu traba-lho era muito bem visto pelos oficiais dirigentes doS. S. japonês. O chefe do serviço japonês de espio-nagem em Peipim declarou em 1937: "Apoiaremos ogrupo dos trotskistas e promoveremos o seu êxito, dosorte que a sua atividade em todos os recantos da

China possa trazer proveito e benefício ao império, con-tra aquêles chineses que são perniciosos à unidade dopaís. Eles trabalham com extraordinária habilidade."

No Japão: Os trotskistas eram denominados "o cé-rebro do serviço secreto." Êles instruíram agentes se-cretos japonêses em escolas especiais acêrca da técnicade penetração no Partido Comunista na Rússia Sovié-tica e de combate às atividades antifascistas na Chinae no Japão.

Na Suécia: Nils Hyg, um dos dirigentes trotskis-tas, recebera subsídio financeiro de um financista etratante pró-nazi, Ivar Kreuger. As provas dos subsí-dios de Kreuger ao movimento trotskista foram publi-cadas depois do suicídio de Kreuger, quando os audi-tores encontraram entre os seus documentos, recibosde tôda sorte de aventureiros políticos, inclusive Adol-fo Hitler.

"Em todo o mundo, os trotskistas tinham-se trans-

formado em instrumentos pelos quais os S. S. do Eixo

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A G R A N D E C O N S P I R A Ç Ã O 3 4 3

conseguiram penetrar nos movimentos liberais, radicaise laboristas, aesvirtuando-os em seu favor." (78.)

A débacle final da quinta-coluna russa no julgamento doBloco das Direitas e Trotskistas em Moscou foi um tremendogolpe em Trotsky. Uma nota de desespôro e histeria começoua dominar em todos os seus escritos. Sua propaganda con-tra a União Soviética tornava-se cada vez mais atrevida, con-traditória e extravagante. Êle falava incessantemente de sua"retidão histórica." Seus ataques contra Stálin perderam tôda

aparência de razão. Escrevia artigos assegurando que o lídersoviético achava um prazer sádico em "atirar fumaça" no rostode crianças. Cada vez mais sou ódio pessoal contra Stálinfoi tornando-se a fôrça dominadora da vida de Trotsky. Pôs

(78) Mesmo depois da morto do Trotsky, a IV Internacional con-tinuou desenvolvendo as suas atividades do quinta-coluna, Na Grã-Bre-tanha om abril do 1044 , a Seotlimd Ynrd e ofleiois do polícia de-ram buscas nos quartóls-gonorals trotskistas cm Londres, Glasgow, Wall-sond ©« Nottlngham, depois de descobrirem que os trotskistas vinham

fomentando greves om todo o país, tentando quobrar o osfôrço deguerra brltftnieo.No» E.U.A., a 1 do dezembro do 1041, dezoito trotskistas ame-

rican os influentes foram Julgados innn Tribunal Distrital Federal cmMinneapolis, por conspirarem contra a lealdudo o disciplina dos solda-dc® e marinheiros americanos.

Acusados juntamonte com o advogado do Trotsky, Albert Goldman,foram James P. Connon, secretário nacional do Partido Socialista doTrabalhadores (nome sob o qual oporava o movimento do Trotsky nosE.U.A.); Felix Marrow, editor do jornal trotskista, o Militante; JakoCooper, um dos antigos guarda-costas do Trotsky no México; mais qua-torze membros dirigentes do movimento trotskista amoricano. Foram sen-

tenciados à prisão de um ano o um dia ató dezesseis meses.Grant Dunne, um dos principais trotskistas no movimento laboristaamericano, nomeado no julgamento federal, suicidou-se trás semanasantes do comêço do julgamento.

Em março de 1943 o órgão trotskista, o Militante, foi privado docorreio nos E.U.A. sob a alegação de que a publicação vinha tentando"embaraçar e derrotar o govêrno no seu esfôrço para levar a guerra abom têrmo." Depois de uma investigação no Militante, o Departamentode Justiça publicou uma declaração que dizia: "Desde 7 de dezembrode 1941, essa publicação desencorajou abertamente a participação dasmassas populares na guerra... As colunas do jornal incluem irrisãoda democracia . . . e outras m atérias . . . que parecem calculadas paraengendrar oposição ao esfôrço de guerra, assim como para abater oânimo das fôrças armadas.

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3 4 4 MICHA EL SAYERS E ALB ERT E . KAIIN

seus secretários trabalhando em uma Vida de Stálin, umvitupério maciço de 1.000 páginas (79.)Em 1939, Trotsky estêve em contacto com o Comitê do

Congresso chefiado pelo representante Martin Dies do Texas.O comitê, fundado para investigar sôbre atividades antiame-ricanas, tornara-se um fórum de propaganda anti-soviética.Trotsky foi abordado por agentes do Comitê Dies e convi-dado a depôr como "testemunha idônea" sôbre a ameaça deMoscou. Foi citada uma declaração de Trotsky no New York

Times do 8 do dezembro de 1939, em que ôle consideravaseu dever político depôr perante o Comitê Dies. Discutiram-seprojetos para a vinda do Trotsky aos E.U.A. O projeto, en-tretanto, fracassou.

O eoitosponilonío americano no estrangeiro, Paul Cíhnll tio ChicanoDaily News, relatou da Suiça aos 28 do sotombro do 1044, quo Hom-rte h' Him lcr, cheio da Gestapo, so estava utilizando dos trotskistasowopeus como parto do irmu' intrica o sabotagem nazista subtorrAnoado ctpóf).gtu»m (ühall »lutou quo a juventudo fascista estava sendotreinada no "moiídsmo" trotskista, suprida com documentos falsos oarmas o colocadas atrás das linhas aliadas com a ordem de infiltrar-sonos Partidos Comunistas nas áreas libertadas. Na F ran ça, revelou Ghalt,membros da milícia fascista do Joseph Darmand estavam sendo arma-dos pelos nazistas para atividades do terrorismo o qulnta-eolunismo noapós-guerra. "Essa escumalha da população francesa", acrescentava orelato" do Ghall, "está sendo treinada para a ativldado bolcheviquena tradição da Internacional de Trotsky sob as ordons pessoais deHeinrich Himmler. Seu trabalho 6 sabotar linhas do comunicação aliadaso assassinar políticos franceses degaullistas. Mos estilo sendo instruídospara dizer aos seus concidadfios que o Sovloto atual representa apenasuma deformação burguesa dos princípios originais do Lônin e que che-gou o tempo do voltar a proclamar a ideologia bolchovique. Essa for-mação do grupos do terroristas vermelhos é a mais recente política deHimmlcr, disposta a criar uma quarta internacional amplamente conta-minada do germes nazistas. Destina-se contra os britânicos, america-nos e russos, particularmcnto contra ístes."

(79 ) Os amigos do Trotsky nos E.U .A. empenharam-se para con-seguir que uma editôra do Nova Iorque, com reputação d e conserva-dora e íntegra, publicasse Csso livro. Embora o livro já estivesse noprelo, os editôres de Nova Iorquo decidiram-se no último momento a nãodistribuir a obra. Os poucos oxemplares já espalhados foram retiradosda circulação. Trechos do livro já tinham sido prèviamente publicadosem artigos de Trotsky. O último artigo para ser publicado antes desua morte, apareceu em agôsto de 1940, na revista Liberty. O artigo

intitulava-se Teria Stálin envenenado Léninl"

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Em setembro de 1939, um agente trotskista europeu, via-jando sob o nome de Frank Jaeson, chegou aos E.U.A. novapor francês lie de France (80.) Jaeson fôra recrutado pa-Siara o movimento por uma trotskista americana, Sílvia Age-off, quando ainda estudante* na Sorbona em Paris. Em 1939

êle foi procurado em Paris por um representante do bureausecreto aa IV Internacional, que lhe comunicou que tinha deseguir para o México, para trabalhar como um dos "secretá-rios" de Trotsky. Foi-lhe dado um passaporte que originària-mente pertencera a um cidadão canadense, Tony Babich, mem-bro do exército republicano espanhol, morto pelos fascistasna Espanha. Os trotskistas tinham conseguido o passaportede Babich, tiraram a sua fotografia e inseriram a de Jaesonno seu lugar.

À sua chegada em Nova Iorque, Jaeson encontrou SílviaAgeloff e outros trotskistas, os qtíaís o tomaram e o levarampara Coyoacan, onde êle trabalharia com Trotsky. Posterior-mente Jaeson informou a polícia mexicana:

"Trotsky estava para mo enviar à Rússia com oobjetivo de organizar um novo estado de coisas naUBSS. Disse-me que eu tinha do ir a Xangai, en-contrar-me com outros agentes o juntamente com êleseu teria de cruzar o Manchueuo o chegar à Rússia.Nossa tarefa seria semear dcsAnimo no Exército Ver-melho, cometer atos do sabotagem em fábricas e in-dústrias de armamento."

Jaeson não exerceu nunca a sua missão torrorista na UniãoSoviética. Até que numa tarde, do 20 de agôsto de 1940, navila fortemente protegida de Coyoacan, Jaeson assassinou oseu líder, Leon Trotsky, esmagando-lhe a cabeça com umapicareta.

Prêso pela polícia mexicana, Jaeson disse que desejavacasar-se com Sílvia Ageloff, e que Trotsky proibira o casa-mento. Uma violenta disputa, envolvendo a moça, irrompeu

(80 ) O nome real de Frank Jaeson era Jacques M ornard van den

Dresche. Entre os outros pseudônimos dêle poder-se-iam citar os deLéon Jacome e Léon Haikys.

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3 4 6 MICHAEL SAYERS E ALBERT E. KA IIN

entre os dois homens. "Por amor dela", disse Jacson, "eu medecidira a sacrificar-me inteiramente."

Em declarações posteriores, Jacson disse:

"... em vez de achar diante de mim um chefepolítico dirigindo a luta de libertação da classe ope-rária, eu me encontrei diante de um homem que nãodesejava outra coisa senão satisfazer as suas necessi-dades e desejos de vingança e de ódio, e que nãose utilizava da luta dos trabalhadores a não ser para

ocultar a sua pequenez e seus cálculos inconfessáveis.. . . quanto à sua casa, que 61o dizia muito bemte r sido convertida numa fortaleza, cu perguntei váriasvôsses a mim mosmo do onde teria vindo o dinheiropara aquelas obras. . . Talvez o cônsul do uma grandenação estrangeira que o visitava freqüentemente pu-desse dar»nos uma resposta a essa pergunta.

Foi Trotsky quem dostruiu a minha natureza, omeu futuro e tôdas as minhas 'afeições, filo conver-teu-me num homom som pomo, sem pátria, »um seuinstrumento, Fiquei às eogas... Trotsky amarrotou-meem suas mãos como ft uma fôlha do papel."

A morto de Leon Trotsky deixava um só candidato vivoparà o papel do Napoloão na Bússia: Adolfo Hitler.

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