A historia do brasil

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a história do brasil explicada aos meus filhos

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a h i s t ó r i a d o b r a s i l

e x p l i c a d a a o s m e u s f i l h o s

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A História do Brasil

i s a b e l l u s t o s a

e x p l i c a d a a o s m e u s f i l h o s

2 a e d i ç ã o

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Copyright © 2007 por Isabel Lustosa

Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil ad quiridos pela Editora Nova FroNtEira ParticiPaçõEs s.a. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

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ProjEto gráFico E caPa

Mariana Newlands

assistENtE dE dEsigN

Amanda Newlands

Foto dE caPa

© Arquivo Iconográfico, S.A./CORBISLitografia — depois da aclamação do rei D. Pedro I na zona rural de Santa Ana, de Jean-Baptiste Debret, século XIX

rEvisão

Rebeca Bolite Magda Cascardo

Produção Editorial

Cristiane Marinho

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Lustosa, IsabelA História do Brasil explicada aos meus filhos/ Isabel Lustosa. 2.

ed. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. ISBN: 978-85-209-3089-2

1. Brasil — História — Literatura juvenil. I. Título. II. Série.

L99h

CDD: 981CDU: 94(81)09-2567

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Para Chico Bento e Mário Bag,

meus dois amores.

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MaNEiras dE aPrENdEr história, 13

caPítulo 1 — o Brasil coloNial, 17

O Descobrimento, 19

Capitanias hereditárias e açúcar, 22

Franceses no Rio de Janeiro, 24

Os jesuítas, 25

Holandeses em Pernambuco, 26

Os bandeirantes e a violência, 29

Ouro!, 30

Fim do período colonial, 33

caPítulo 2 — o Brasil iNdEPENdENtE, 37

No tempo do rei, 39

Ideias novas e Independência, 41

As ideias de José Bonifácio, 43

O Primeiro Reinado, 45

Momento republicano — a Regência, 47

O Segundo Reinado, 48

S u m á r i o

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A grande guerra da América do Sul, 49

Escravidão e Abolição, 51

Um bisavô liberto, 53

Imigração para branquear o Brasil, 54

História de um imigrante, 56

caPítulo 3 — o Brasil rEPuBlicaNo, 59

República, 61

A espada era a lei, 63

A era dos bacharéis, 66

A República Federativa e os coronéis, 68

Minha avó Vitalina, a oligarquia Acioli

no Ceará e o padre Cícero, 71

O “bota-abaixo” e a modernização do Rio, 71

São Paulo não pode parar, 73

O self-made man: cinema, magazines e remo, 74

A música popular roda na vitrola, 76

Tempo de revolução: os agitados anos 1920, 77

Os cangaceiros e sua avó Dolores, 82

caPítulo 4 — a Nova rEPúBlica, 85

A Revolução de 1930, 87

A Era Vargas, 89

Pedro Ernesto, os comunistas e os integralistas, 93

O golpe do Estado Novo, 95

Nássara e a marchinha premonitória, 97

Dutra e a queima das nossas divisas, 98

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A volta de Vargas, 99

Cinquenta anos em cinco e o Rio deixa

de ser a capital federal, 103

Turbulências e o golpe de 1964, 104

Seu avô Osny, 106

Nós e a América, 108

A Ditadura Militar, 108

A luta da esquerda, 112

“Apesar de você” — a música popular

nos anos de chumbo, 113

Jupira e o Brasil da Ditadura Militar, 116

Diretas, já!, 118

Meu amigo, Cláudio Pereira, preso e torturado, 119

caPítulo 5 — o Nosso tEMPo, 123

Sarney e Collor, 125

Itamar e FHC, 127

Lula: um novo tempo, apesar do perigo, 129

Nosso país, nosso tempo e nosso papel, 130

Conclusão, 132

Bibliografia, 135

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Meu filho,

Pediram-me que contasse a você a História do Brasil.

Creio que a melhor maneira de fazê-lo é falando sobre nós

mesmos. Digo isso porque acredito que a História do Brasil se

confunde com a nossa História e conhecê-la nos ajuda a nos co-

nhecermos melhor. Somos produto de uma série de circunstân-

cias, marchamos com a História e dela somos sujeito e objeto.

Pois tanto a transformamos como somos transformados por ela.

Somos criados de acordo com o nosso tempo e o nosso lugar

e saber como chegamos a eles nos ajuda a entender um pouco

mais quem somos nós. Muitas de nossas características pessoais

se relacionam com a História de nosso país: a cor da nossa pele,

a religião de nossos avós, o lugar onde nascemos etc. Assim, a

História do Brasil está no nosso sangue e na nossa mentalidade,

nos envolve e nos explica, mas também nos confunde.

Por isso me agradou o convite para escrever este livro. Repre-

sentou para mim um desafio: o de contar a História do Brasil me

valendo do que vivi e aprendi ao longo da vida. Naturalmente que

o relato será mais minucioso e profundo nas partes que, por cau-

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sa de minhas atividades de pesquisa, estudei mais. No entanto,

creio que, de alguma forma, acabei formando uma visão e um

pensamento sobre toda a História do Brasil, que veio se desen-

volvendo desde a infância, a partir de várias leituras e de outras

fontes de conhecimento. É bom poder organizar essas ideias e

partilhá-las com você e com as pessoas de sua geração.

Na minha família houve sempre um sentimento de amor

ao Brasil estimulado pelos meus pais, tão nacionalistas. Mas, o

meu interesse pela História veio bem depois. Na verdade, passei

a adolescência em Fortaleza lendo romances brasileiros e euro-

peus, principalmente a grande literatura do século XIX e começo

do XX. Leituras que, aliás, me seriam depois de grande valia no

exercício de minhas atividades como historiadora. Para contar

uma História é preciso saber narrar, e creio que o contato com os

textos de tantos bons escritores me ajudou a aprimorar o estilo.

Na graduação, optei pelas ciências sociais e elas me deram as

ferramentas para entender o mundo e qual era o meu lugar nele.

Foi bem mais tarde, quando trabalhava em órgãos de pesquisa

do Ministério da Cultura, que essas duas afinidades eletivas se

cruzaram na possibilidade de ler e escrever sobre a História do

Brasil. Depois disso, não parei mais e creio que hoje mais do que

nunca a História faz parte de minha vida, preenche todos os

meus momentos, conforme minha identidade e meu lugar no

mundo. É um ofício de tempo integral.

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M a n e i r a s d e a p r e n d e r h i s t ó r i a

Sempre que converso com alguém gosto de saber quais foram

os seus antepassados. Vou conversando naturalmente, pergun-

tando sobre diversos assuntos e, daqui a pouco, estou sabendo

onde a pessoa nasceu, qual era a profissão de seu pai, de onde vie-

ram seus avós e assim por diante. É uma mania que já virou fol-

clore no meu trabalho. Quando começo a conversar com alguém

os colegas falam logo: “lá vai a Isabel fazer o seu interrogatório”.

Não me importo, porque aprendo muito com essas conversas.

Saber da vida das pessoas, das mais nobres às mais humildes, é

aprender história. Não é à toa que a história oral é hoje um cam-

po reputadíssimo na área.

Gosto também de ler papéis e revistas velhos. Ver e analisar

um documento percebendo as sutilezas que se revelam nos seus

amassados, em algo que foi riscado ou sublinhado; achar em uma

pasta um documento do final do período colonial assinado pelo

conde das Galveias; ter nas mãos uma cartinha escrita por D. Pe-

dro I; ler um jornal do tempo de D. Pedro II; olhar as caricaturas

dos presidentes da República Velha; ver as fotos do laudo de Getú-

lio etc., são fontes de prazer e alegria para o historiador.

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Uma pessoa também é um documento. Tanto pelo que tem

para nos contar quanto pelo que nos revelam a sua aparência,

os seus traços fisionômicos, o modo de falar. Você, por exemplo,

uma vez, quando era pequeno, me perguntou: “Mãe, por que eu

não sou louro? Eu queria ser louro.” Morri de rir. É que eu, quan-

do era pequena, também queria ser loura. Na verdade, o meu

maior desejo no primeiro ano da escola primária era ser igual a

uma menina que estampava a caixa de sabonetes que eu usava

como porta-lápis. Era uma menina linda, de olhos azuis e cabelos

louros e cacheados. Eu passava horas olhando para ela e sonhan-

do que aconteceria comigo uma mágica, um milagre e eu me

transformaria nela. Meus cabelos deixariam de ser pretos, lisos e

escorridos, meu nariz seria pequeno e arrebitado, minha pele

e meus olhos se tornariam claros e eu viveria numa atmosfera

encantada, alegre e luminosa, como aquela que cercava a menina

da caixa de sabonetes.

No meu tempo todo mundo queria ser louro. Era o ideal de

beleza. Ter olhos claros, então... Que sonho! E por que isso se

eram tão poucos os louros à nossa volta? É que os tipos louros

estavam nas propagandas de revista e nos seriados americanos

que passavam de tarde na televisão. Mas não moravam na nossa

rua e não estudavam no nosso colégio. Ali havia um ou outro

claro, até mesmo louro, mas eram muito poucos. A maior parte

era moreninha como nós. Mas, como éramos bombardeados por

tantas imagens de louros felizes, achávamos que o bonito era ser

branco, louro e viver em um lugar em que caía neve.

Talvez este livro lhe ajude a entender um pouco tudo isso. En-

tender por que você é assim moreninho, por que fala português e

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não inglês; por que na casa de sua avó se reza o terço e por que as

comidas que se comem no Ceará — como o baião de dois — não

se comem no Sul do país. Por que se bebe tanta cachaça no Bra-

sil; por que o povo gosta de samba e de carnaval; e também de fu-

tebol; por que somos um país tão grande; por que somos pobres

e os Estados Unidos são ricos? Enfim, uma lista de questões tão

vasta que nunca acabaríamos de enumerar e que tem a ver com o

que eu disse no começo: somos formados na nossa cultura, nos-

sos hábitos são produtos dela e por meio dela nos diferenciamos

dos outros. A cultura de um povo é produto de sua história.

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C a p í t u l o 1

O Brasil colonial

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