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Anais do XI Encontro Nacional de Educação Matemática ISSN 2178-034X Página 1 A IDENTIDADE DOCENTE DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA A PARTIR DE UMA DIMENSÃO HISTÓRICA Nilra Jane Filgueira Bezerra Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR [email protected]. Rossiter Ambrósio Dos Santos Universidade Estadual de Roraima (UERR [email protected]. Resumo: O professor de Matemática ao tomar conhecimento do contexto histórico em que está inserido, passa a compreender, dar um sentido diferente as suas atividades docentes e construir sua identidade profissional pautado na análise do que ocorreu no cenário educacional. Este texto visa fazer uma reflexão sobre a identidade profissional do professor de Matemática a partir de estudos de alguns antepassados profissionais. Baseamos nossa reflexão no texto “Quem somos nós, professores de Matemática?” de Wagner Valente, em que ele trata sobre a importância da dimensão histórica para a compreensão do fazer docente. Compreendemos a partir dessas reflexões, que é importante para nós professores de Matemática, conhecermos um pouco da História, de como se instituiu a disciplina Matemática, qual o caminho que essa disciplina percorreu e como faziam nossos antecessores profissionais na condução do ensino. Palavras-chave: Identidade docente, História da Matemática, Professores de Matemática. 1 Introdução Pensar sobre identidade nos remete a vários significados, dentre eles a identidade profissional docente, que atualmente é um conceito que vem sendo bastante discutido na área da Educação. Essa identidade é construída através de um processo de socialização, tendo em vista que o professor é um ser social, histórico, político e faz parte de uma sociedade. Podemos perceber então que os professores nas suas diversas áreas buscam formar sua identidade através de um coletivo. Nóvoa (1996) adverte que a identidade (ser e sentir-se professor) não é um dado, não é uma propriedade, é um produto: identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Este modo de se perceber e a maneira como se expressa essa percepção a partir

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    A IDENTIDADE DOCENTE DO PROFESSOR DE MATEMTICA A PARTIR DE

    UMA DIMENSO HISTRICA

    Nilra Jane Filgueira Bezerra

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Roraima (IFRR

    [email protected].

    Rossiter Ambrsio Dos Santos

    Universidade Estadual de Roraima (UERR

    [email protected].

    Resumo:

    O professor de Matemtica ao tomar conhecimento do contexto histrico em que est

    inserido, passa a compreender, dar um sentido diferente as suas atividades docentes e

    construir sua identidade profissional pautado na anlise do que ocorreu no cenrio

    educacional. Este texto visa fazer uma reflexo sobre a identidade profissional do

    professor de Matemtica a partir de estudos de alguns antepassados profissionais.

    Baseamos nossa reflexo no texto Quem somos ns, professores de Matemtica? de Wagner Valente, em que ele trata sobre a importncia da dimenso histrica para a

    compreenso do fazer docente. Compreendemos a partir dessas reflexes, que importante

    para ns professores de Matemtica, conhecermos um pouco da Histria, de como se

    instituiu a disciplina Matemtica, qual o caminho que essa disciplina percorreu e como

    faziam nossos antecessores profissionais na conduo do ensino.

    Palavras-chave: Identidade docente, Histria da Matemtica, Professores de Matemtica.

    1 Introduo

    Pensar sobre identidade nos remete a vrios significados, dentre eles a identidade

    profissional docente, que atualmente um conceito que vem sendo bastante discutido na

    rea da Educao. Essa identidade construda atravs de um processo de socializao,

    tendo em vista que o professor um ser social, histrico, poltico e faz parte de uma

    sociedade. Podemos perceber ento que os professores nas suas diversas reas buscam

    formar sua identidade atravs de um coletivo. Nvoa (1996) adverte que a identidade (ser e

    sentir-se professor) no um dado, no uma propriedade, um produto: identidade um

    lugar de lutas e conflitos, um espao de construo de maneiras de ser e de estar na

    profisso. Este modo de se perceber e a maneira como se expressa essa percepo a partir

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    da linguagem o fundamento da identidade pessoal que construda na coletividade e

    elaborada pelo professor atravs da sua trajetria como profissional da educao.

    Essa trajetria pode ser analisada a partir de fatos que se constituem ao longo da

    histria, relativos a uma determinada poca e um determinado contexto scio-poltico,

    como afirma Martuccelli (2002, p. 407), nenhuma identidade pr-existe sua

    construo. Essa viso se contrape a ideia de que existe uma identidade nica que

    acompanha o indivduo ao longo de toda a sua vida, salientamos que no partilhamos dessa

    viso de identidade. A partir do exposto, seguem alguns questionamentos que pautar a

    nossa discusso nessa comunicao: Como construda a identidade docente do professor

    de Matemtica? O contexto histrico importante nessa construo? Compreendemos que

    uma anlise bastante complexa e que deve haver uma preocupao em absorver os

    pressupostos em que os conceitos de identidade so construdos.

    A nossa anlise foi pautada no artigo do Ps-doutor em Educao Wagner Valente

    intitulado Quem somos ns, professores de Matemtica?. Trazemos para a nossa anlise

    inicialmente esse artigo, em seguida apresentamos alguns pressupostos tericos que

    permeiam as discusses sobre Identidade docente.

    2 Quem somos ns, Professores de Matemtica? O que disse o autor.

    Nesse texto o professor Wagner Valente defende a importncia de conhecermos

    nossos antepassados profissionais para nos entendermos enquanto professores de

    Matemtica, ele afirma que saber quem so os avs, bisavs e mesmo os tataravs

    profissionais, o professor de matemtica passa a ver o trabalho de seus colegas

    contemporneos, e seu prprio fazer docente, de outro modo (VALENTE, 2008, p. 11).

    Ele ainda adverte que importante termos cincia de como era em outros tempos o ensino

    da Matemtica para possibilitar a nossa compreenso acerca da tarefa cotidiana de ensinar

    matemtica a crianas, jovens e adultos nos dias de hoje.

    Este autor inicia suas reflexes relatando um pouco de histria e ressaltando as

    preocupaes com o ensino e aprendizagem da Matemtica, ele destaca que h um

    descuido com a dimenso histrica e que isso dificulta as anlises e as propostas de

    transformaes, recaindo no fracasso dos projetos de melhorias do ensino da matemtica.

    Para Valente, o ofcio de ser professor de Matemtica, assim como outras profisses,

    absorve experincias passadas, que vm de diferentes pocas e que se constituem em

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    distintos saberes e permitem a construo de novas prticas para o cenrio da educao

    atualmente. As reflexes do autor nesse texto partem de alguns questionamentos, que

    segundo ele, so basilares para uma anlise histrica e que podem ajudar na busca de

    respostas. Consideramos importante destacar: Afinal de contas, por que ensinamos e que

    ensinamos aos nossos alunos, e da maneira como ensinamos? Por que valorizamos

    determinadas prticas e no outras? Quem somos ns, professores de Matemtica?

    (VALENTE, 2008, p. 12).

    Nesse artigo, Valente fala do ensino da matemtica em diferentes pocas e dividiu

    seu texto em cinco partes, em que ele retrata sobre os nossos tataravs, bisavs, avs e pais

    profissionais e por ltimo ele busca tecer resposta para a sua pergunta central: Quem

    somos ns, professores de Matemtica. A poca dos nossos tataravs se deu no perodo da

    guerra, a partir de 1699, em que a Coroa Portuguesa preocupada com a defesa da Colnia,

    iniciou um treinamento para o manuseio de peas de artilharia com vistas construo de

    fortes. Assim, conforme Valente 2008, foi criado a Aula de Artilharia e Fortificaes.

    Nessa poca foram grandes as dificuldades, a comear pela falta de livros que servissem

    para instruo militar e que tivessem de acordo com a proposta do curso. Valente (2008)

    relata que esses livros eram verdadeiros tratados, pesados e sob forma de volumosos

    tomos, que tinham como contedo um curso de matemtica, seguido de instrues de

    manuseio de armas (p. 13). Estes vinham do exterior, nenhum era escrito em portugus e

    eram, segundo Valente, carssimos.

    Aps alguns anos, por volta de 1738, com a vinda de um militar portugus para o

    Brasil, esse curso se tornou obrigatrio a todo oficial, uma nova fase para o ensino

    militar, [...] nenhum militar poderia ser promovido ou nomeado se no tivesse aprovao

    na Aula de Artilharia e Fortificaes. Esse militar Portugus, Jos Fernandes Pinto

    Alpoim, ministrou o curso at sua morte, em 1765, e deixou para o Brasil duas obras que

    se tornaram os primeiros livros didticos de matemtica escritos no Brasil: Exame de

    Artilheiros em 1744 e Exame de Bombeiros em 1748. (Valente, 19991 apud Valente 2008).

    Valente argumenta que A anlise dessas obras revela como nosso tatarav profissional

    retirava da guerra, da necessidade de proteo, o sentido de seu ofcio. O contedo que

    tratava essas obras eram problemas de geometria que ensinavam, por exemplo, como

    1 VALENTE, W. R. Uma histria da matemtica escolar no Brasil, 1730 1930. So Paulo: Annablume;

    FAPESP, 1999.

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    possvel calcular o nmero de balas de canho que um determinado lugar pode conter

    (VALENTE, 2008, p. 14).

    Sobre o nosso bisav profissional, Valente relata que este tambm trabalhava a

    geometria, viveu na poca da criao das universidades no Brasil, onde foram criados os

    cursos jurdicos, em 1827. Com essa criao, surgiu o problema de ingresso a esses cursos.

    Depois de vrios debates, concluram que, para o ingresso, os candidatos deveriam prestar

    exames de lngua francesa, gramtica latina, retrica, filosofia racional e moral e

    geometria. A entrada da geometria a esses exames faz a matemtica mudar oficialmente de

    status, que antes serviam prioritariamente ao comrcio e formao militar, ascendeu

    categoria de saber cultural geral. A preparao dos futuros bacharis, mdicos, engenheiros

    aconteciam em cursinhos preparatrios que tinham o objetivo de preparar os candidatos ao

    ensino superior. Esse sistema perdurou por cerca de 100 anos, atravessando o Imprio e as

    primeiras dcadas da Repblica (VALENTE, 1999 apud Valente 2008).

    Essa preparao, segundo Valente (2008), ocorria de forma rpida e, portanto era

    prefervel que a seriao escolar secundria. A organizao dos cursinhos preparatrios se

    dava atravs de pontos que contemplavam toda a matemtica escolar e seu ensino. O

    professor de matemtica dos cursos preparatrios, nosso bisav profissional, elaboravam

    os pontos e assim surgiam as obras que serviam ao ensino nos cursinhos e eram escritos a

    partir de definies, aplicaes prticas e teoremas. Esses pontos deveriam ser decorados

    pelos candidatos. Desta forma,

    O trabalho didtico-pedaggico de nosso bisav profissional consistia, ento, de

    fazer com que seus filhos fixassem os pontos. [...] saber cada um deles de cor era

    o modo de ser bem sucedido no ingresso ao ensino superior. Essa era a tarefa

    maior de nosso parente profissional dos tempos de preparatrios. [...] Nesse

    sistema, o professor de matemtica permaneceu e sedimentou sua prtica por

    cem anos! (VALENTE 2008, p. 18).

    Nosso av profissional viveu na poca do nascimento das faculdades de filosofia.

    Essas faculdades, conforme Valente, surgiram em 1930 e tinham o objetivo de formar

    professores. tambm por essa poca que, finalmente, depois de um sculo, o Brasil

    conseguiu implantar o sistema seriado de ensino e os preparatrios foram desaparecendo

    (VALENTE, 2008, p. 18). Surgem tambm nessa poca os livros didticos nacionais, os

    autores eram professores que acumulavam experincias no ensino e passaram a elaborar os

    textos com os quais trabalhava nosso av.

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    Euclides Roxo, Jacomo Stvale e Ary Quintella so alguns desses autores que se

    tornaram clssicos. Contudo, o fato mais marcante no trabalho de nosso av foi

    ter acompanhado o nascimento de uma nova disciplina escolar: a Matemtica.

    Nossa primeira estruturao no ensino, que pe fim aos preparatrios, faz nascer

    essa disciplina at ento inexistente. Resultado da fuso da aritmtica, com a

    lgebra e a geometria, nasce a Matemtica a partir da reforma Francisco

    Campos, no primeiro governo de Getlio Vargas (VALENTE, 2004a2 apud

    VALENTE, 2008, p. 19).

    A partir de 1930, comearam a se espalhar pelo Brasil os ginsios e liceus pblicos

    e assim a populao escolar comeava a mudar, com a entrada de filhos de classe mdia

    essa populao j no era mais formada exclusivamente pela elite. Aumenta tambm a

    produo editorial de livros didticos, surgem as colees de obras que seriam usadas por

    alunos nas diferentes sries escolares e provocam-se os debates sobre os contedos e

    metodologias a serem trabalhados por nosso avs profissionais (VALENTE, 2008).

    No incio dos anos sessenta, o nosso pai profissional que iniciou a carreira como

    professor de matemtica na dcada anterior, se surpreende com notcias cada vez mais

    frequentes sobre mudanas no ensino da matemtica. Espalha-se a notcia sobre a vinda de

    uma nova matemtica, uma matemtica moderna, inicia-se ento o drama de nosso pai

    profissional, esquecer a herana no tatarav, bisav e av profissional. Finalmente chega

    sua escola um convite para participar de cursos e treinamento: preciso esquecer tudo o

    que sabia antes de aprender novamente o que ir ensinar (VALENTE, 2008, p. 20). Este

    autor relata um episdio que ocorreu em julho de 1963 em que a folha de So Paulo

    publicou a foto de uma sala de aula com a manchete Professores secundrios voltam

    novamente s carteiras para revolucionar o ensino da Matemtica com 50 anos de atraso

    entre ns.

    Depois de fazer esse resgate histrico, Valente discute sobre a identidade do

    professor de matemtica. Ele relata que iniciou a sua carreira buscando defender um ensino

    articulado com a vida real, menos formal e mais intuitivo. Embora compreendendo todo o

    contexto histrico e o que viveram nossos antepassados, Valente comenta que

    matemtica estava reservado um lugar mais nobre que aquele prtico-utilitrio-militar.

    Ela deveria ajudar-nos a pensar e, com seu ensino levarmos nossos alunos a desenvolverem

    o raciocnio (2008, p. 22).

    Valente ento comea a indagar sobre as novas prticas dos professores com os

    alunos, trocava-se a pedagogia das lies pela dos exerccios.

    2 Valente, W. R. (org.). Euclides Roxo e a modernizao do ensino de matemtica no Brasil. Braslia, DF:

    UNB, 2004a.

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    O professor de matemtica nunca mais abandonou essa prtica. A lio era a

    escrita da aula pelo professor. A memria, o passar a limpo a atividade do

    mestre, representava o aprendizado da matemtica. [...] Resolver o exerccios de

    modo correto passa a significar aprender matemtica: uma herana que j tem

    um sculo em nossas prticas (VALENTE, 2008, p. 22).

    A anlise desses fatos nos ajuda na construo da nossa identidade profissional, nos

    leva a compreender a importncia do fazer docente, a buscar melhorias no ensino seguindo

    o exemplo do que deixou de melhor nossos antepassados profissionais.

    3 O Professor de Matemtica e sua Identidade Profissional Docente

    A partir do estudo sobre como a disciplina Matemtica foi criada e o processo

    histrico vivenciado pelos nossos antepassados profissionais, apresentamos o conceito de

    identidade profissional docente discutido por alguns tericos. importante salientar que

    buscamos refletir, com base nesses tericos, o modo como se d a construo dessa

    identidade.

    Dubar (1997) relata que a identidade de algum construda de forma dinmica ao

    longo de sua vida, essa construo, segundo ele, no exclusivamente pessoal, pois tem a

    contribuio de vrios interventores, ou seja, Dubar defende que o sujeito no constri sua

    identidade sozinho, mas ela fruto tambm das socializaes vivenciada por ele.

    Mogone (2001) sintetiza, baseado em tericos como Goffman, Berger &

    Luckmann, Dubar e Ciampa, que a aquisio da identidade se d por meio de um processo

    inacabado e contnuo que vai se transformando com o passar dos tempos. Pimenta (1996)

    destaca que na leitura crtica da profisso diante das realidades sociais, que se buscam

    referenciais para modific-las, ela ainda acrescente que uma identidade profissional se

    constri a partir da significao social da profisso e da reviso constante desses

    significados. Ao tratar da identidade profissional do professor, Pimenta (1996, p. 76) relata

    que ela se constri:

    [...] pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere

    atividade docente do seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de

    situar-se no mundo, de sua histria de vida, de suas representaes, de seus

    saberes, de suas angstias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser

    professor. Assim como a partir de suas redes de relaes com outros professores,

    nas escolas, nos sindicatos e outros agrupamentos.

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    Guimares (2004) argumenta que a identidade profissional docente tem ao longo do

    tempo feito referncia ao modo como a profisso docente representada, foi construda e

    mantida socialmente. Garcia, Hyplito e Vieira (2005) entendem a identidade profissional

    docente como uma construo social marcada por diversos fatores que interagem entre si e

    que resultam em vrias representaes que o professor faz de si mesmo e de suas tarefas,

    estabelecendo conexes com suas histrias de vida e suas condies objetivas de trabalho.

    Para Caldeira (2000), a identidade docente no algo que pode ser adquirido de

    modo definitivo e externo, pois se constitui num processo de construo, desconstruo e

    reconstruo permanente, uma vez que cada lugar e cada tempo exigem redefinies na

    identidade desse profissional.

    Trata-se, assim, de um processo de produo do sujeito historicamente situado.

    Ela ocorre, portanto, em um determinado contexto social e cultural em constante

    transformao, refletindo um processo complexo de apropriao e construo

    que se d na interseco entre a biografia do docente e a histria das prticas

    sociais e educativas, contendo, deste modo, as marcas das mais variadas

    concepes pedaggicas (CALDEIRA, 2000, p. 2).

    Com base nestes pressupostos tericos, observamos a interferncia de algumas

    variveis na construo da identidade profissional docente, dentre elas, a histria de vida

    do professor, suas condies objetivas de trabalho, o espao escolar, o contexto e o

    significado social da profisso.

    4 Consideraes Finais

    Retornando as questes que nortearam esse estudo, citadas no incio dessa

    comunicao, observamos que discutimos a partir das reflexes feitas acerca do texto

    Quem somos ns, professores de Matemtica e dos pressupostos tericos sobre identidade

    profissional docente algumas respostas. Como construda a identidade docente do

    professor de Matemtica? Essa construo sempre inacabada, depende do contexto

    poltico, social, cultural e pessoal de cada professor, depende do coletivo, do grupo que ele

    faz parte e de algumas variveis j citadas.

    Para a outra questo: O contexto histrico importante nessa construo?

    Acreditamos que se o contexto poltico faz parte dessa construo, o contexto histrico tem

    tambm um grande peso. Conhecer o caminho que percorreu nossos antepassados e a

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    forma como foi criada a disciplina Matemtica sem dvida exerce um papel fundamental

    na construo da identidade docente do professor de Matemtica.

    Aceitar e compreender quem somos ns faz parte da construo dessa identidade,

    que est em constante mudana, mas que pode ser moldada pelo que vivenciamos enquanto

    professores, pelo fazer docente em cada poca e em cada instituio de ensino.

    Compreendemos a partir desse estudo, que importante para ns professores de

    Matemtica construirmos a nossa identidade, ter conhecimento da Histria, de como se

    instituiu a disciplina Matemtica, qual o caminho que essa disciplina percorreu e como

    faziam nossos antecessores profissionais na conduo do ensino.

    5 Referncias

    CALDEIRA, Ana Maria Salgueiro. A Histria de vida como instrumento para

    compreenso do processo de construo da identidade docente. Encontro Nacional de

    Didtica e Prtica de Ensino (ENDIPE), 10, Anais [cd room], Rio de Janeiro, 2000.

    DUBAR, Claude. A socializao: Construo das identidades sociais e profissionais.

    Porto, Porto Editora, 1997.

    GARCIA, Maria Manuela Alves; HIPOLYTO, lvaro Moreira; VIEIRA, Jarbas dos

    Santos. As identidades docentes como fabricao da docncia. Educao e Pesquisa, So

    Paulo, v. 31, n.1, p. 45 56, j. abr. 2005.

    GUIMARES, Valter Soares. Formao de Professores: saberes, identidades e profisso.

    Campinas, SP: Papirus, 2004.

    MARTUCCELLI, Danilo. Grammaires de lindividu. Paris: Gallimard, 2002.

    MOGONE, J. A. De alunas a professoras: analisando o processo da construo inicial da

    docncia, 2001. 155 f. Dissertao (Mestrado em Educao Escolar) Faculdade de Cincias e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara.

    NVOA, Antnio. As Cincias da Educao e os processos de mudanas. In: Pimenta,

    Selma Garrido. Pedagogia, cincia da educao? So Paulo: Cortez, 1996.

    PIMENTA, Selma Garrido. Formao de Professores saberes da docncia e identidade do professor. Revista da Faculdade da Educao, So Paulo, v. 22, N. 2, p. 72 89, jul. dez.1996.

    VALENTE, W. R. Quem somos ns, Professores de Matemtica. Cad. Cedes, Campinas,

    vol. 28, n. 74, p. 11 23, jan/abr. 2008. Disponvel em www.cedes.unicamp.br.