A imagem nas mãos - Luis Fernando SANTORO

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  • 7/22/2019 A imagem nas mos - Luis Fernando SANTORO

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    SANTORO, Luiz Fernando.A imagem nas mos: o vdeo popular no Brasi l.So Paulo: Summus, 1989. (Novas buscas em comunicao, v.33)

    1) O vdeo como meio de comunicao

    Com o vdeo, pode-se fazer TV fora da TV, isto , produzir programas demodo absolutamente independente, sem necessidade de nenhumaestrutura de exibio pr-montada, que se realiza com o prprioequipamento de gravao (p.18) = direcionamento de pblico > estruturaprpria > linguagem um hbrido TV e cinema

    Caractersticas (j atualizadas por mim):- facilidade operacional: uso no-profissional

    - baixo custo dos equipamentos e de produo,

    - pblico definido: com o digital, os contedos circulam de forma definida,mas tambm com grande potencial de disperso pela Internet/DVD

    - independncia na produo: da gravao exibio = contra-informao >com o digital ainda mais, j que a edio no linear facilita o processo

    - imediaticidade: pode ser exibido na seqncia/ at editado na seqncia

    - facilidade de copiagem: atualmente, com perda de dados muito menor(DVD)

    - monitoragem direta: controle imediato

    - condies de exibio: vantagens do aparelho de TV (hj projeo digital)

    - amazenagem, sendo que hj diminui-se a perda de dados por deterioraodas fitas magnticas atravs da armazenagem digital

    - recursos do equipamento: cada vez mais automatizados

    - som e imagem sincronizados: facilita a edio e torna o equipamento maiscompacto e gil

    - multiplicidade de formatos: da mesma forma como no passado, aincompatibilidade de formatos, fruto do mercado, dificulta ahomogeneizao do mercado hoje, tvz seja mais fcil transformar osformatos, mas isso dificulta a ps-produo e at diminui a qualidade daimagem e do som

    - maior liberdade de escolha, j que permite a gravao de contedos daTV e tambm a locao de filmes >> hoje, inclusive baixamos pela internet

    Godard: Quero dizer ao pblico, inicialmente, que ele no possui esseinstrumento de comunicao ainda nas mos dos notveis -, mas quepoder servir-se dele se lhes derem a oportunidade, para dizer e ver o quequiser, e como quiser. Citado por Gauthier, Guy. Ls militants: dix ans dsfivres et mirages.Autrement. Paris, Seuil, n.17, fev. 1979, p.12. Apud (p.22)

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    No incio da dcada de 70 o vdeo passa a ser entendido, por suapotencialidade, como instrumento da contra-informao, isto , que pode opor informao hegemnica, veiculada pelos meios de comunicao de massa,uma outra verdade, uma outra informao que venha a preencher a lacunadeixada por esses meios pela omisso ou tratamento superficial de temas quequestionem as relaes de poder estabelecidas (p.22-23)

    Contra-informao = LUTA DE CLASSES = linhas bsicas de ao (Baldelli):guerrilha receptiva (decodificao/leitura crtica dos meios); utilizao dos MCMpara mensagens no usuais; utilizao fora dos MCM (circuitosespecficos/alcance reduzido)

    -**-

    Se a perspectiva da luta de classes se dissolve, como acontece na fronteirado vdeo comunitrio contemporneo, ele perde o potencial contra-informativo/contra-hegemnico?

    Ser que, na medida em que se mantm as linhas bsicas de ao acimadescritas, no se conserva esse potencial?Ainda que o vdeo comunitrio no desafie a esttica dominanteconstantemente, e que utilize formatos e clichs dos meios de comunicaode massa, como constatou ALVARENGA a partir do estudo de experinciasincipientes desta prtica, pode ser que, atravs da articulao de novasreferncias e de um constante aprimoramento tcnico dos gruposrealizadores (propiciado por um de seus elementos principais, que so asoficinas de produo e formao), os vdeos comunitrios passem a,efetivamente, construir outras linguagens e novas formas deexperimentao, tanto social quanto esttica, atravs das quais poderiamfortalecer-se enquanto prtica contra-hegemnica. Alm disso, ainda queno exclusivamente voltado para as questes de classe, o vdeocomunitrio mantm todos os traos da contra-informao, oferecendocontedos que, apesar de talvez no suficientemente elaborados estticaou criticamente, posicionam-se como discursos contra-hegemnicos.

    Poderamos inclusive supor que, na medida em que for se desenvolvendo,o vdeo comunitrio tem o potencial de constituir-se, tal como a vdeoarte

    fez a cerca de 20 anos, um exemplo de desafio ao programa do aparelhovideogrfico (nos moldes de Flusser) ainda que, de ante-mo, saibamosque a prpria vdeo arte acabou tendo sua esttica incorporada pelateleviso, como no sucesso da linguagem do vdeo-clipe.A coerncia do vdeo comunitrio com o momento poltico em que estinserido, cujo trao mais evidente seria a transferncia de sua prtica dosespaos dos movimentos populares principalmente para o terceiro setor,como se observa acentuadamente a partir dos anos 1990, no abandonatotalmente uma perspectiva contra-informativa na medida em que,justamente, conseqncia de transformaes polticas inerentes

    contemporaneidade e, apesar de no ecoar os moldes da organizaopoltica de outrora, reflexo evidente das novas formas de organizao

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    popular, tambm chamados novos movimentos sociais o que nos parecebem demarcado na atualizao do conceito de vdeo popular para vdeocomunitrio contemporneo (Alvarenga).Assim, totalmente cabvel atribuir ao vdeo comunitrio o carter deferramenta de representao contra-hegemnica, uma vez que, como tal,ele est continuamente disputando com representaes hegemnicas,principalmente ao manter as linhas de ao tpicas da contra-informao(decodificao crtica dos meios, criao e ocupao de espaos miditicospor contedos no-usuais), deixando de herana um contedotecnicamente legtimo que, diferente de expor uma representaodominante, busca dar vazo auto-representao dos grupos sociais, ouuma representao, por assim dizer, ao menos participativa. importantetambm colocar que representaes contra-hegemnicas, como instituintes,tendem a ser cooptadas pela a hegemonia (tal como ocorreu com avideoarte), sendo este um processo incessante que no chega a negar a

    importncia da disputa de sentidos - a qual e sempre ser constante econtinua sendo o foco da contra-informao.

    *--*

    Vdeo-animao = animao social atravs dos meios eletrnicos que,articulada na TV cabo, originou as TVs Comunitrias

    No Quebec > movimento das TVs Comunitrias (anos 70) = preservar aidentidade cultural (...) diante da invaso indiscriminada de programas deTV em ingls (p.24) = recriar a noo de comunidade via televiso:

    Surgiu assim um sistema de TV onde a participao do espectador erapossvel, os temas ligados ao seu dia a dia estavam presentes nosprogramas, a mediatizao das mensagens pelos profissionais erareduzida, enfim, onde os papis de emissor e receptor estavam sujeitos apermutas, onde o espectador passivo da TV de massa poderia se tornarativo (p.25) >> Gauthier: vdeo como promessa de novas relaes sociais.

    Apesar de toda a literatura disponvel defendendo as potencialidades dovdeo, seja nas escolas, nas mos de grupos sociais ou em mo s deprodutores independentes, ao final da dcada de 70 foram raras asexperincias inseridas no contexto da contestao presente na origem do

    movimento em fins dos anos 60 que sobreviverem. No resta dvida queo vdeo no conseguiu influir no discurso televisivo, que seguiupraticamente sem rplica. (p.28)

    Com efeito, os usos atuais do vdeo distanciam-se bastante das previsesfeitas no incio dos anos 70, fazendo surgir, ao final da dcada, inclusiveuma srie de discursos que colocaram a questo do vdeo e de suaspotencialidades como apenas mais uma estratgia das empresastransnacionais da eletrnica para introduzir novos produtos audiovisuais(p.30)

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    2) Panorama do vdeo no mundo

    traado um panorama do mercado de vdeo no mundo, mostrando ahegemonia dos sistemas Betamax (Sony) e VHS (J VC).

    3) O vdeo no Brasil

    Outro elemento que diferencia fundamentalmente o filme do teipe a idiade presena deste ltimo, isto , a sua impresso de realidade. Aimagem de televiso, seja em videoteipe, seja numa transmisso ao vivo,possui brilho, contraste e definio caractersticos, que a tornamaparentemente mais real do que a produzida por material cinematogrfico,j que a imagem , em televiso, produzida eletronicamente, e noquimicamente, como no cinema. A imagem fica limpa, sem rudos, e este

    aspecto tem evidente vantagem numa cobertura jornalstica, em sua buscaconstante pelo realismo e pela objetividade, mesmo que relativos, notratamento de uma matria (p.55)

    4) O vdeo popular no Brasil

    Vdeo popular >> comunicao popular- produzido pelos movimentos populares - associaes de bairro, sindicatose demais grupos organizados que direcionam-se no sentido de buscar umamaior participao poltica das classes populares em todos os setores dasociedade (p.59)- produzido por instituies ou grupos independentes ligados aosmovimentos populares e voltado aos seus interesses;- produzido com a participao direta de grupos populares;- exibio de programas de vdeo do interesse dos movimentos;

    >> Vdeo alternativo >> comunicao alternativa: no necessariamente apartir dos interesses das classes populares, abrange tambm videoarte etambm vdeos que circulam na TV e so feitos por produtoras comerciais =todo e qualquer vdeo realizado fora das emissoras de TV (segundo autor)

    Fatores para desenvolvimento:- crescente interesse na democratizao dos meios de comunicao a partirda dcada de 1980;- no abertura dos meios de comunicao de massa para a participaodos movimentos populares: Quando so notcia, raramente h espao paraque as lideranas e participantes possam expor sua verdade e contar ahistria sob o seu ponto de vista (p.62);- verticalidade da televiso = ausncia de programao local- emergncia do vdeo como espao promissor de trabalhocomplementar/alternativo do profissional de comunicao;

    - aumento no nmero de escolas de comunicao > profissionaissintonizados com suas premissas;

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    - aumento da produo nacional de videocassetes > liberdade daprogramao televisiva- apoio de entidades do exterior, em especial ligadas Igreja Catlica >>fortalecimento da educao e comunicao popular no Brasil

    Histrico:

    - J ulho/1983: Curso O vdeo como instrumento de animao cultural einterveno social 13 grupos participantes = projeto coletivo dedocumentao do Congresso das Classes Trabalhadoras SP (quando foifundada a CUT) >> programa de 33 minutos- J an/1984: Encontro de audiovisual e vdeo cassete para evangelizao(BA): vdeo popular e rdio por alto-falantes- J un/1984: I Mostra Brasileira de Vdeo Militante (FSP + Intercom + UCBC)>> foi interditada pela Poltica Federal e no aconteceu- Ago/1984 Boletim Vdeo Popular distribudo nacionalmente >> at

    1988, 10 edies = ABVMP + entidades como Ncleo de Memria Popular,faculdades, sindicatos- Set/1984 I Encontro Nacional de Grupos Produtores de Vdeo noMovimento Popular (SBC) = oficinas e debates- Dez/1984 Fundao da ABVMP Associao Brasileira de Vdeo noMovimento Popular = 40 grupos e indivduos = fortalecimento e organizaodas diretrizes + formao- 1986: Mostra Itinerante de Vdeo Popular + Projeto Telecine distribuioe circulao do vdeo popular- 1987 0 IV Encontro Nacional da ABVMP eventos e articulao constante

    Grupos que se destacam:

    Projeto Audiovisual: Teresina Piau (ligado Diocese Teixeira de Freitas BA) = criar um circuito de informao audiovisual inserido no meio rural,que valorize a cultura regional e sirva como apoio aos movimentospopulares locais = capacitao, produo e exibio. Temas: questo daterra, massacre das comunidades indgenas, pescadores, CEBs, etc.

    TV dos Trabalhadores: Sindicato dos Metalrgicos do ABCD (Depto.Cultural) = democratizao da comunicao; trabalhar a imagem do mundo

    operrio e das organizaes sociais; viabilizar e distribuir produes dasbases. Escola de Formao (capacitao), documentao de lutas emanifestaes e suporte a grupos interessados em produzir; propagandaCUT e PT, etc. >> Coord. Regina Festa

    Centro de Documentao e Memria Popular: Natal (RN) arquidioceselocal do rdio ao vdeo >> registro das lutas populares earticulao/comunicao

    TV Bixiga: Inaugurada em 1986, pelo Museu do Bixiga + Fast Vdeo + Igreja+ comerciantes = 6 monitores instalados no bairro passaram a veicular

    programas sobre acontecimentos e memrias do bairro > transmitida pelaTV Gazeta

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    TV dos Bancrios: Desde 1986, vdeo-jornais, vdeos de formao sindical eregistro das lutas.

    Lilith Vdeo: militantes do movimento de mulheres com apoio do ConselhoEstadual da Condio Feminina de SP circuito de exibio prpria a partir

    do Conselho em todo o estado

    Engbrijo Comunicaes: Rio de J aneiro, desde 1981 > registrar etransmitir os acontecimentos ligados s minorias sociais (mulheres, ndios enegro). Exibio em escolas, sindicatos, centros comunitrios etc.Equipamento prprio de produo e exibio.

    TV Viva: Olinda PE Centro Cultural Luiz Freire, desde 1984. Programasmensais exibidos em praa pblica (20 locais diferentes), com linguagemhumorstica e leve.

    CECIP Centro de Criao da Imagem Popular: produo de materialeducativo audiovisual e impresso. Projeto Vdeo Popular = produo eexibio de vdeos documentais sobre a comunidade e com a participaode seus membros; programas mensais de 30 min. Exibidos em locais fixos.

    Vdeo Memria: Paran: memria dos movimentos sociais do estado Fundao Elcy Pinheiro, MST produo de documentos com ponto devista de diversos participantes do movimento sindical.

    CEMI Centro de Comunicao de So Miguel: So Paulo desde 1983:desmistificao dos MCM produo de contedos diferentes com aparticipao dos grupos. Exibio no local, igrejas e CEBs.

    5) O vdeo popular na Amrica Latina

    Novo Cine Latino-Americano (Cinema Novo, Argentina, Cuba, etc.) apartir dc. 60 = vis revolucionrio, mobilizao, transformao, rebeldiaesttica = Assim, a obra cinematogrfica tinha a funo principal dedetonar o debate em grupo ou a reflexo nos indivduos, opondo-se assim

    ao cinema industrial, comercial e colonizador, como um cinema deinformao, artesanal e liberador (p.84)

    Dc. 70 enfraquecimento (represso + problemas financiamento) = faltade mercado e flego dos produtores >> o vdeo acaba surgindo comoalternativa a esses problemas

    CHILE: reconstruo do tecido social e recuperao da idia de nao:Teleanlisis (trabalho jornalstico e documental sobre a realidade chilena),Proceso (vdeo = ferramenta de participao social > educao popular ecomunicao produo de vdeos sobre direitos humanos); e CENECA

    (realizao de oficinas e constituio de videotecas)

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    PERU: vdeo = instrumento de promoo humana e desenvolvimento.Vdeo Centro (produo de programas de educao popular,documentrios, histria dos bairros populares imagens da realidade),CETUC (Centro de Teleducao da Univesidade Catlica), VideotecaAlternativa (catalogar, conservar e difundir vdeos sobre manifestaes

    culturais) e Videored (Centro de Estudos sobre Cultura Transnacional sistema de cooperao para produes audiovisuais banco de dadossobre os grupos e produes).

    EQUADOR: Influncia da Igreja Catlica, dificuldades financeiras queatrapalham tanto produo como distribuio. Muitas iniciativas com apoiode centros de pesquisa, igreja e organizaes.

    BOLVIA: Multi-etnicidade como um desafio > vdeo como ferramenta: LaEscalera, Nicobis, Qhana

    Queremos trabalhar o vdeo na recuperao da linguagem e das formas decomunicao tradicional. As comunidades Gostam de mostrar suas coisas,cores, msica, vestimentas, bailes, ritos e, evidentemente, de ver-se a simesmas e a outras comunidades. O vdeo possibilita gerar esse espao deintercmbio. Ele permite que a comunidade se rena no apenas para aproduo do programa, como tambm para a sua exibio, logrando umespao de comunicao interpessoal muito intenso Materiales para LaComunicacin Popular. Lima, IPAL, n.9, mar. 1987, p23. Apud (p.94)

    Desse modo, fundamental considerar-se a tradio oral, a memriacoletiva, os testemunhos como verdadeiros elementos de contra-informaes com respeito informao oficial dos meios de comunicaode massa (p.93).

    6) Anlise da produo de vdeo popular