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  • Revista ADMpg Gesto Estratgica, v. 3, n. 1, p. 93-99, 2010 93

    A importncia de uma Estrutura Organizacional

    adequada para uma usina de pequeno porte e com

    gesto familiar

    Francisco Giglioti

    ITE, Bauru, Brasil.

    Ivone Aparecida Lucas

    ITE, Bauru, Brasil.

    Ligia Carla Gabriel

    ITE, Botucatu, Brasil.

    Resumo: A estrutura organizacional de uma pequena usina de acar e lcool, na regio central do

    estado de So Paulo serviu de base de dados para a composio de tese concluda no ano de 2007.

    Naquela ocasio, a comparao entre os sistemas de remunerao encontrados na empresa e a

    mecanizao agrcola em implantao progressiva, acabou por trazer tona sua estrutura

    organizacional. As estratgias traadas pela administrao para cumprir suas metas de produo,

    sem perder de vista necessidades como atendimento proteo do meio ambiente, a legislao de

    controle poluio pela queima da palha de cana-de-acar e o enfrentamento dos problemas

    sociais crescentes pela substituio da mo-de-obra do corte da cana pelas mquinas colheitadeiras,

    levam a empresa a alcanar suas prprias metas na busca constante da melhor estruturao. O

    presente artigo trata dos resultados da realizao desse estudo de caso apoiado em entrevistas e

    questionrio, descrevendo as peculiaridades encontradas e tendo por base a sua estrutura formal

    fundamentada na participao de familiares em sua direo. A possibilidade de estudar o perfil de

    uma usina de acar e lcool, de pequeno porte, tendo como principal contribuio, trazer a pblico

    esta realidade entre vrios outros tipos de gesto possveis para essa atividade.

    Palavras chave: Estrutura Organizacional, Empresa Familiar, Mecanizao Agrcola.

    The importance of a structure organizational and

    adequated to a power plant of small postage and

    with familiar management.

    Abstract: The organizational structure of a small sugar and alcohol power plant, in the central part

    of So Paulo state served of datas base to the composition of the theses finished on year 2007. In

    that time, the comparison between the remuneration systems found out in the business and the

    agriculture mechanization in progressive implantation, ended up to bring its organizational

    structure. The strategies plotted by the administration to serve its production goal, without loosing

    the view of the necessities as attending the environment protection, the legislation of pollution

    control by the burning of sugar cane straw and the braving of growing social problems by the

    substitution of labor cane cut by the harvest machines, take the business to reach it own goals on

    constant researching of the best structure. The present article brings the results of realization of this

    case study based on interviews and questionnaires, describing the peculiarities founded and having

    by base the formal structure fundamented on participation of familiars in its direction. The

    possibility to study the profile of a sugar and alcohol business, of small postage, having as principal

    contribution, to bring to the public this reality between many other kinds of possible managements

    to this activities.

    Key words: organizational structure, familiar business, agriculture mechanization.

  • Gesto Estratgica Organizacional A importncia de uma Estrutura Organizacional adequada para uma usina de pequeno porte e com gesto familiar

    94 Revista ADMpg Gesto Estratgica, v. 3, n. 1, p. 93-99, 2010

    1. Introduo

    Uma contribuio para o conhecimento das relaes

    entre a estrutura organizacional de uma empresa e seu

    ambiente a possibilidade de equilbrio entre o poder

    dessa organizao e os benefcios que a mesma traz

    para a comunidade. Neste sentido a estrutura

    organizacional o instrumento administrativo da

    identificao, anlise, ordenao e agrupamento das

    atividades e dos recursos das empresas (OLIVEIRA,

    2006). obvio que com a pretenso de alcanar os

    objetivos estabelecidos pelos respectivos

    planejamentos.

    O questionrio utilizado para levantamento das

    informaes necessrias em uma usina de acar e

    lcool no interior do estado de So Paulo, a princpio

    destinou-se a colher dados para subsidiar tese de

    doutorado explorando a comparao entre os sistemas

    de remunerao praticados nessa empresa levando-se

    em considerao duas situaes distintas assim

    descritas: a prtica da colheita de cana de forma

    manual e a mesma colheita executada de forma

    mecanizada, confrontando as duas, tendo por base os

    sistemas de remunerao utilizados (GIGLIOTI,

    2007). Entretanto, durante o levantamento e na fase da

    anlise dos dados constatou-se a forte predominncia

    de uma estrutura alicerada na hierarquia j consagrada

    pelas organizaes de modo geral e eminentemente

    familiar.

    Relativamente mecanizao agrcola tem-se como

    foco principal a lavoura de cana-de-acar destinada ao

    fornecimento de matria-prima para as usinas de acar

    e lcool. A estrutura existente naquela usina foi

    examinada e as informaes foram evidenciadas para

    que fossem devidamente trabalhadas. A empresa est

    situada num dos municpios da regio central do

    Estado de So Paulo e industrializa lcool anidro,

    lcool hidratado, acar e levedura, alm de cumprir

    sua funo bsica que a cultura da cana-de-acar.

    No ano de 2005 foram utilizados no processo industrial

    da usina, cerca de 980.000 (novecentos e oitenta mil)

    toneladas de cana-de-acar, para a obteno dos seus

    vrios produtos e possua 9.039 hectares de terras

    prprias cultivadas.

    Desde a Revoluo Industrial, grandes transformaes

    ocorreram no mundo. O homem foi chamado em massa

    para ocupar-se de trabalhos nas indstrias. Novos

    paradigmas na esfera da economia foram criados;

    houve grande corrida para ocupao das vagas abertas

    com essas indstrias, verdadeiras mquinas de gerao

    de trabalho. A economia teve grande avano e a

    relao capital e trabalho fortaleceu-se. Muitos

    abandonaram o campo onde trilhavam suas vidas de

    agricultores. Novos mundos surgiram e com

    horizontes muito diferentes. importante notar que a

    diviso do trabalho muito mais acentuada nos pases

    desenvolvidos que naqueles de menor opulncia

    (SMITH, 1980). Surgiram as mquinas e entre as mais

    utilizadas na rea agrcola esto as colheitadeiras,

    transbordos, carregadeiras, tratores, carretas,

    caminhes e moto bombas. Destaque para as

    colheitadeiras de cana-de-acar pela sua importncia

    no processo da colheita mecanizada, substituindo

    gradativamente a mo-de-obra manual e a prtica da

    queima da palha da cana, disciplinada pela lei estadual

    n 11.241, de 19 de setembro de 2002. A empresa em

    questo possua duas colheitadeiras, que trabalharam

    em regime ininterrupto, durante todo o perodo de safra

    de 2005, tendo cada uma delas, capacidade para

    colheita de 828,72 t/dia. Cada colheitadeira substitui

    103,59 homens.

    Este trabalho tem por objetivos destacar vantagens

    decorrentes do uso de estruturas organizacionais

    convenientes, bem como o gerenciamento das vrias

    unidades organizacionais, contribuindo para que as

    organizaes similares possam sobreviver e crescer

    com profissionalismo aumentando a eficcia em suas

    tomadas de decises.

    2. Estrutura organizacional da empresa

    Foi evidenciado que os ocupantes dos cargos de

    relevante importncia e de confiana, como diretor,

    gerentes e chefias de departamentos pertencem

    famlia e tm formao compatvel com o cargo

    ocupado. Todos tm nvel superior na rea especfica e

    alguns possuem especializao ou ps-graduao.

    Pode-se afirmar que a profissionalizao atingida

    suficientemente para suplantar os desafios que

    norteiam os destinos das empresas familiares. Em sua

    estrutura organizacional foram identificadas as

    gerncias, todas subordinadas Diretoria Geral da

    empresa. Na estrutura h as seguintes unidades que

    compem a empresa: Organograma Geral e das

    Gerncias Industrial, Agrcola, Moto-Mecanizada,

    Suprimentos, Recursos Humanos, Administrativo-

    Financeira e Departamento Posto Abastecimento e

    Lubrificao de Veculos.

    As reas de maior interesse aparecem bem definidas

    nos organogramas e as atividades desenvolvidas esto

    alocadas corretamente nos vrios departamentos e

    gerncias, o que garante bom controle e gesto eficaz

    nas realizaes. Pode-se afirmar que se trata de uma

    estrutura organizacional bem montada abrangendo

    todas as reas e proporcionando bom controle sobre as

    funes necessrias. Isto ratifica a afirmao de que:

    Ao examinar as estruturas organizacionais das

    empresas, constata-se que a busca de novos

    modelos de flexibilidade organizacional significou

    vencer barreiras impostas pelas concepes rgidas

    de estrutura, as quais prevaleciam tanto na teoria

    quanto na prtica administrativa (MOTTA, 1995).

    Para atender a capacidade de moagem diria da

    indstria, importante que a rea agrcola responda

    fornecendo a tonelagem de cana necessria, definida ao

    final de cada dia. Com essas informaes, a rea

  • Francisco Giglioti, Ivone Aparecida Lucas, Ligia Carla Gabriel

    Revista ADMpg Gesto Estratgica, v. 3, n. 1, p. 93-99, 2010 95

    agrcola planeja para o prximo dia, os lotes de cana

    que sero colhidos manual e mecanicamente, assim

    como quantos hectares sero queimados durante a noite

    para serem colhidos no dia seguinte.

    A melhor relao entre a convivncia do homem com a

    mquina aquela em que possvel tirar proveitos da

    tecnologia de maneira inteligente e lucrativa.

    Inteligente, porque oferece ao homem empregado boas

    condies de trabalho e lucrativa, porque tambm

    proporciona empresa maiores lucros, em

    conseqncia do aumento da produtividade, pela

    melhoria nas condies de trabalho e das tecnologias

    incorporadas atravs das mquinas e equipamentos. De

    forma idntica, procura-se o caminho racional entre o

    desenvolvimento tecnolgico e a proteo ambiental,

    pois se tratam de mquinas modernas como as

    colheitadeiras de cana, sendo introduzidas no campo de

    forma gradativa, substituindo a mo-de-obra do

    cortador de cana tradicional. Discute-se neste trabalho

    as formas mais viveis para sua utilizao, sem grandes

    prejuzos para o mercado de recursos humanos e a

    sociedade organizada.

    O governo do estado de So Paulo editou leis de

    proteo ambiental estabelecendo de forma gradual a

    diminuio da queima da palha da cana-de-acar e a

    introduo da mecanizao. Atravs de um cronograma

    ficam garantidas relativamente, a proteo do meio

    ambiente e a migrao da mo-de-obra estritamente

    manual, para a especializao do trabalho com o uso de

    mquinas s vezes sofisticadas. A colheita manual da

    cana-de-acar, ainda praticada em larga escala na

    destilaria em questo, proporciona a ocorrncia de

    alguns problemas, principalmente aqueles ligados

    baixa produtividade. Hipoteticamente h problemas de

    produtividade para a empresa e falta satisfao de

    empregados, pelo no uso de sistemas adequados de

    remunerao em algumas atividades fundamentais.

    Nas empresas sucroalcooleiras no tem sido diferente.

    Grandes capitais so investidos com o intuito de

    conseguir resultados auspiciosos no setor. Chegou-se

    num momento em que o governo, sentindo a

    necessidade de manter sob controle o mpeto da

    mecanizao agrcola, semelhante quele ocorrido na

    indstria do passado, que se implantado de forma

    desordenada e colocado em prtica de imediato, geraria

    graves transtornos sociedade, pelo aumento em

    grande escala do desemprego no campo, acompanhado

    de altos ndices de poluio da atmosfera, estabeleceu

    junto com os rgos de base e demais interessados,

    regras que permitissem dar esse passo sem tantos riscos

    que eram evidentes. A taxa anual de mecanizao

    aumenta pelo menos por trs razes: econmica, legal

    e social. O uso de mquinas otimiza a produo e

    substitui o pagamento de mo-de-obra (MORAES,

    2007). As preocupaes vo desde a substituio do

    corte manual da cana-de-acar, pela mecanizao, que

    se utiliza de mquinas para execuo das atividades

    necessrias ao ciclo produtivo; da necessidade de se

    prevenir grandes bolses de desemprego, em funo

    dessa evoluo necessria e inevitvel, protegendo o

    homem na sociedade; a viabilidade econmica, ao

    definir qual a tcnica a ser utilizada e a preocupao

    com o meio ambiente. Em anlise feita sobre os

    impactos no emprego pela substituio de mo-de-obra

    pelo corte mecanizado da cana-de-acar no estado de

    So Paulo, foram apontadas algumas das principais

    condicionantes para esse processo, assim descritas:

    Dentre elas esto alteraes nas relaes de

    emprego, transformaes no processo agrcola,

    influncia sobre a qualidade tecnolgica,

    investimentos, custos e tambm a necessidade da

    sociedade enfrentar a questo de forma organizada

    e responsvel (VEIGA FILHO et al, 1994).

    O item do questionrio, que sugere o levantamento da

    estrutura organizacional da empresa revela importantes

    informaes com relao ao seu posicionamento e

    delegao de autoridade a cada um dos rgos

    relacionados. Se a estrutura organizacional for

    corretamente estabelecida, de forma contundente e

    clara, teremos como retorno alguns aspectos positivos

    que vo proporcionar maior segurana para a prpria

    consolidao da ordem interna, ou seja, as unidades

    organizacionais sero as legtimas representantes

    daquilo que se produz ou desenvolve, pois a estrutura

    organizacional no e nem pode ser esttica. O seu

    dinamismo tem que ser constante e representar

    fielmente o desenho da empresa em suas mltiplas

    possibilidades de tomadas de deciso, o que

    imprescindvel nas modernas organizaes

    (GIGLIOTI, 2006).

    2.1. Estrutura familiar

    Ao comentar sobre a importncia das empresas

    familiares nos Estados Unidos da Amrica, Cohn

    (1991) assim se expressa:

    As empresas familiares permeiam nossa economia.

    Quando uma delas deixa de existir, ou porque

    vendida ou porque liquidada, todos somos

    afetados. As empresas familiares perfazem 90% das

    15 milhes de empresas americanas. Um tero das

    quinhentas da revista Fortune ou so possudas por

    famlias ou controladas por elas. As empresas

    familiares so responsveis por 40% do nosso

    produto nacional bruto e tm uma expectativa de

    vida de apenas 24 anos.

    A usina em questo uma empresa de iniciativa

    privada familiar. As Gerncias, em nvel de diretoria,

    so ocupadas por elementos da famlia, sendo que

    todos tm formao especfica para desempenhar suas

    funes. Tem em seu quadro aproximadamente 850

    empregados, sendo que a cana-de-acar necessria,

    matria-prima indispensvel aos seus processos de

    fabricao, fornecida de duas maneiras: a primeira,

    atravs de produo prpria das equipes de trabalho

    pertencentes ao quadro de empregados da empresa,

    oriunda dos canaviais de sua propriedade; a outra, pelo

    fornecimento da matria-prima pelas empresas

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    terceirizadas, cuja produo provm de canaviais

    tambm de terceiros.

    Ficou claro que a empresa departamentalizou-se com o

    objetivo principal de promover a delegao de

    autoridade, detendo o pleno controle de tudo o que faz,

    atravs da famlia mantenedora do negcio. Desta

    forma, observa-se em toda a sua estrutura a presena

    dos diretores e gerentes membros da famlia, o que faz

    com que o controle das principais decises continue

    sendo de sua competncia.

    Ao contrrio do que imaginavam grandes

    economistas do sculo XIX, o desenvolvimento

    capitalista acabou por fortalecer a forma familiar de

    produo na agricultura, sendo um dos motivos, seu

    processo de deciso e ao instantneos que lhes

    configuram agilidade incomparvel nos processos

    de gesto dos recursos, capacidade especfica que

    pode ser definida como a flexibilidade adaptativa

    do trabalho familiar (MORAES; SHIKIDA, 2002).

    Examinando os organogramas obtidos durante o

    processo de entrevistas e levantamentos na empresa,

    identificou-se que todas as reas de reconhecida

    importncia na estratgia dos negcios so chefiadas

    por pessoas que pertencem famlia. Assim que a

    Diretoria ocupada pelo principal membro familiar,

    seguido dos gerentes das reas industrial, agrcola,

    moto-mecanizada, suprimentos, recursos humanos e

    administrativo-financeira, alm da chefia do

    departamento posto de abastecimento e lavagem de

    veculos. importante analisar algumas

    caractersticas que tornam uma empresa familiar. Uma

    das mais relevantes refere-se importncia que

    desempenha a confiana mtua entre os membros da

    empresa (BERNHOEFT, 1989). Todos esses fatos

    ratificam a tese de que a empresa tem administrao

    tipicamente familiar.

    3. Profissionalizao e poder

    Nota-se que a empresa tem um bom discernimento

    sobre a necessidade da profissionalizao daqueles que

    detm poder de mando e decidem os destinos desse

    negcio de famlia. Os instrumentos que esto ao

    alcance dos lderes das empresas, oferecem condies

    para desenvolver, implantar e manter qualquer sistema

    em funcionamento no interior das organizaes. Tais

    instrumentos podem ser sintetizados como o

    planejamento adequado para as suas realizaes, que

    seguidos de boa organizao dos recursos

    organizacionais disponveis ensejam a realizao das

    atividades fins da empresa, com certo grau de eficcia

    e eficincia. Assim, complementados por coerncia nos

    momentos de direo pelos seus gerentes, portadores

    de boa formao atingem o estgio do controle,

    avaliando com clareza e garantindo aos seus produtos,

    qualidade e competitividade. Alis, registre-se que

    todos os seus produtos principais so fabricados para

    suprir apenas o mercado externo, o que garante o grau

    de qualidade requerido.

    Devem ser considerados tanto os fatores culturais

    existentes no meio organizacional como o fato da

    possibilidade de desconhecimento das diferentes

    teorias com a profundidade necessria para a tomada

    de deciso. Em funo do seu posicionamento na

    estrutura organizacional, as decises assumiro maior

    importncia pelo fato de estarem ocupando

    determinado nvel de influncia no desenho

    organizacional. A necessria implementao de novas

    frentes de trabalho ou uso de novas tecnologias esto

    relacionados com os nveis da pirmide organizacional

    onde esses gerentes esto lotados.

    4. Metodologia de pesquisa

    Este trabalho caracteriza-se, por ter sido elaborado com

    base nas atividades praticadas numa nica empresa,

    como um tpico estudo de caso, assim comentado por

    Gil (2002): O estudo de caso apresenta algumas

    vantagens pelo estudo profundo e exaustivo de um ou

    poucos objetos, de maneira a permitir seu

    conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente

    impossvel mediante os outros tipos de delineamentos

    considerados. O que fez com se definisse pelo estudo

    de caso, fixando o estudo em apenas uma usina, foi a

    dificuldade encontrada em obter consentimento de

    outras empresas do gnero para o levantamento de

    dados necessrios.

    A metodologia utilizada pautou-se no uso de

    entrevistas acompanhadas de questionrio, com

    preenchimento das respostas, sempre que necessrio,

    com o assessoramento do entrevistador. Desta maneira

    houve um retorno muito significativo dos questionrios

    que complementaram positivamente as questes

    formuladas, que foram ainda complementados pelas

    informaes colhidas pelo mtodo da observao

    pessoal.

    4.1. Tipo de pesquisa

    O levantamento de dados para sua elaborao tornou-

    se evidente, consubstanciando pesquisas na empresa

    para a composio do quadro de informaes. Estas

    pesquisas tm como objetivo proporcionar maior

    familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo

    mais explcito ou a construir hipteses. Pode-se dizer

    que estas pesquisas tm como objetivo principal o

    aprimoramento de idias ou a descoberta de intuies.

    Seu planejamento , portanto, bastante flexvel, de

    modo que possibilite a considerao dos mais variados

    aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos

    casos, essas pesquisas envolvem levantamento

    bibliogrfico, entrevistas com pessoas que tiveram

    experincias prticas com o problema pesquisado e

    anlise de exemplos que estimulem a compreenso

    (GIL, 1996).

    4.2. Levantamento de dados

  • Francisco Giglioti, Ivone Aparecida Lucas, Ligia Carla Gabriel

    Revista ADMpg Gesto Estratgica, v. 3, n. 1, p. 93-99, 2010 97

    O questionrio utilizado foi preparado visando

    obteno de respostas objetivas s questes

    formuladas, medida que as entrevistas fossem sendo

    agendadas e realizadas. Para esse preenchimento, as

    perguntas foram formuladas s pessoas diretamente

    envolvidas no assunto.

    Por ocasio das visitas feitas indstria foram

    coletadas informaes desde a entrada da cana-de-

    acar na usina at o final dos processos de produo

    de lcool, acar e levedura. Na lavoura, desde a fase

    de preparo do solo at a entrega da cana-de-acar

    indstria. Envolveu tambm os procedimentos de

    ambientao dos empregados da lavoura, entregas de

    ferramentas e EPIs (Equipamentos de Proteo

    Individual), alm de pequenas palestras de orientao

    na rea agrcola.

    Em todas as reas foi utilizada a tcnica da observao

    pessoal, que o nico mtodo de comparao das

    informaes obtidas na reviso da literatura,

    questionrios e entrevistas com a realidade dos fatos.

    Idias e impresses erroneamente colhidas pelo

    analista organizacional podem ser corrigidas pela

    observao pessoal dos fatos sob anlise (CURY,

    1995). Essa tcnica consiste em observar a realizao

    das atividades nas prprias reas de trabalho. A tcnica

    da observao pessoal foi utilizada sempre que se

    sentiu necessidade de atestar em determinadas reas da

    empresa, o uso ou no de metodologias e tcnicas de

    trabalho, nveis de mecanizao ou sistemas de

    remunerao implantados. Segundo Arajo (2001),

    A observao pessoal subsidia o estudo

    organizacional. um meio de comparar as

    informaes de entrevistas e questionrios com a

    realidade. Aplicando-se a entrevista, fica facilitado

    o uso da observao, pois, durante seu desenrolar,

    cabe ao entrevistador verificar o que ocorre na rea

    sob o alcance de seu olhar.

    Todas as reas detentoras de atividades fim da

    empresa foram fotografadas, envolvendo a lavoura e a

    fbrica, com intuito de levantar informaes e entender

    as funes e atividades realizadas, conhecer os

    produtos finais e seus respectivos processos de

    fabricao.

    Para melhor conhecimento de todas as atividades e

    processos existentes na empresa houve diversos tipos

    de participao do pesquisador, tais como: work shop

    para definio do oramento estratgico de 2005,

    ginstica laboral na rea agrcola, na fbrica e

    escritrios, treinamentos para implantao do programa

    de qualidade total, reunies de ambientao aos novos

    contratados, acompanhamento a entrega de ferramentas

    de trabalho, Equipamentos de Proteo Individual

    (EPIs) e a realizao de pequenos treinamentos aos

    novos empregados, ao serem admitidos.

    Foram feitas visitas semanais lavoura, observando os

    procedimentos voltados ao trato do solo, plantio de

    cana, adubagem, queima da cana, colheita manual de

    cana queimada, colheita manual de cana sem queimar,

    colheita mecanizada de cana, transbordo da cana

    cortada pela colheitadeira e transporte da cana at a

    fbrica.

    Da mesma forma e com mesmos objetivos, houve

    visitas semanais fbrica observando os processos de

    fabricao de acar, lcool, levedura e resduos, no

    perodo de maro a dezembro de 2005, ocasio em que

    ficaram evidenciadas as principais fases do processo de

    produo.

    5. Resultados encontrados

    Na tabela 1 esto registrados os custos com mo-de-

    obra e encargos ocorridos no ano de 2005. So

    considerados separadamente os custos da mo-de-obra

    na mecanizada e manual identificados na rea agrcola

    e os da indstria.

    Tabela 1. Custo da mo-de-obra e encargos do ano de 2005

    Mo-de-obra Valor R$(1) Encargos R$(2) Total % sobre M.O(2)/(1)

    Mecanizada 3.686.400,00 2.822.676,00 6.509.076,00 76,55%

    Manual 3.578.880,00 2.740.348,00 6.319.228,00 76,57%

    Indstria 1.613.516,00 1.656.597,00 3.270.113,00 102,67%

    Total 8.878.796,00 7.219.621,00 16.098.417,00 81,31%

    Fonte: Setor de Custos da Usina

    O custo da mo-de-obra nesse ano foi de R$

    16.098.417,00 (dezesseis milhes, noventa e oito mil,

    quatrocentos e dezessete reais), sendo que neste valor

    j esto embutidos R$ 7.219.621,00 (sete milhes,

    duzentos e dezenove mil, seiscentos e vinte e um reais)

    referentes a encargos sociais, que significam 81,31%

    da mo-de-obra. Os valores contabilizados com a

    contratao de mo-de-obra para o trabalho manual na

    lavoura, inclusive o corte manual da cana-de-acar

    gira em torno de 49,26% do total que foi R$

    7.265.280,00 para aquele ano. Os restantes 50,74% so

    provenientes do trabalho mecanizado.

    Cabe ainda salientar que 80% dos custos

    contabilizados para a mo-de-obra manual so

    provenientes do corte manual de cana. Os restantes

    20% so de reas administrativas e de apoio

    disseminadas por toda a empresa.

    Com relao aos organogramas da empresa notou-se

    uma estrutura piramidal tradicional, com poucos nveis

    hierrquicos, variando nas diversas unidades

  • Gesto Estratgica Organizacional A importncia de uma Estrutura Organizacional adequada para uma usina de pequeno porte e com gesto familiar

    98 Revista ADMpg Gesto Estratgica, v. 3, n. 1, p. 93-99, 2010

    organizacionais, de trs a cinco. Assim, tem-se a

    Diretoria, as Gerncias, os Departamentos, as Divises

    e as Sees.

    Em conseqncia das informaes levantadas e

    pensando nas vrias hipteses de comportamento do

    mercado de recursos humanos da regio pode ser feita

    a seguinte reflexo: considerando-se que a necessidade

    de contratao de cortadores de cana permanea em

    700 homens por safra, que o total utilizado naquele

    ano pela empresa e que a usina adquira uma

    colheitadeira por ano, em aproximadamente sete anos

    no teramos mais emprego para o corte de cana de

    forma manual nessa empresa. Cada cortador ganha em

    mdia R$ 647,00 por ms. H 3 turnos de trabalho, de

    8 horas cada. O salrio de um operador de mquina

    colheitadeira era em 2005, R$ 1.600,00 por ms. Logo

    103,59 x R$ 647,00 = R$ 67.022,73; mais a

    manuteno da mquina R$ 8.500,00/ ms; mais a

    mo-de-obra de 3 operadores R$ 4.800,00/ms. Tem-se

    o custo/ms de R$ 80.322,73. O investimento

    necessrio para aquisio de uma colheitadeira de R$

    700.000,00 que dividindo por R$ 80.322,73 leva ao

    resultado final de 8,71 meses. Pode-se afirmar ento

    que uma mquina colheitadeira se paga em 9 meses de

    operao. Se a safra desta usina vai de maro a

    dezembro (10 meses), em menos de uma safra d-se o

    retorno total de seu investimento.

    Os cargos voltados para a operao das mquinas que

    conduzem a empresa era da mecanizao agrcola,

    como operadores de colheitadeiras e tcnicos de

    manuteno de mquinas entre outros, assumem uma

    posio de destaque nesse processo, pois acabam sendo

    eles os que substituem os 103,59 homens citados

    anteriormente. Na verdade so esses tcnicos que

    perpetuaro o cargo de colhedores de cana de forma

    mecnica em substituio aos tradicionais cortadores

    de cana-de-acar, de forma manual. Esta transio do

    fazer manualmente para o fazer mecanizadamente

    est em plena evoluo podendo-se prever que em

    alguns anos ou quem sabe, dcadas, no existir a

    oferta de trabalho para estes trabalhadores. Em

    conseqncia, o cargo de cortador de cana est em

    extino e esse fenmeno diretamente proporcional

    quantidade de colheitadeiras de cana-de-acar

    adquiridas pelas usinas, que atualmente os contrata.

    6. Consideraes finais

    Ao analisar os desenhos organizacionais das vrias

    unidades da usina em estudo foi possvel identificar

    que se trata de uma empresa de iniciativa privada e

    familiar. Todos os cargos chave de mando so

    ocupados por membros da famlia e consequentemente

    as maiores decises estratgicas ficam por sua conta.

    Constatou-se tambm, que h uma profissionalizao

    muito forte, no s nos cargos tcnicos envolvidos no

    processo de mecanizao agrcola, como o caso do

    Operador de Colheitadeira, mas tambm, em todos os

    nveis gerenciais. Trata-se, portanto, de uma empresa

    com controle familiar e com um bom nvel de

    profissionalizao. Desta forma, as decises que em

    princpio poderiam ser tomadas, afetadas pela emoo

    e pelo sentimentalismo, por causa dos laos afetivos,

    passam a ocorrer com uma viso de profissionais, da

    famlia e dos tcnicos que esto nas vrias chefias e

    cargos emergentes da organizao.

    H um prenncio de desemprego apontando para as

    categorias profissionais sem nenhum ou pouco preparo

    tcnico. Como se viu, os cortadores manuais de cana-

    de-acar tero que migrar para outras regies na busca

    de trabalhos alternativos, inclusive, inchando a

    populao de bairros e vilas pobres das cidades

    vizinhas e capitais na busca da sua sobrevivncia e de

    sua famlia. Desta forma, estaro colaborando para o

    crescimento dos bolses de desemprego e misria, j

    presentes nas periferias das cidades do estado de So

    Paulo e do nosso pas.

    Pela formatao dos organogramas dos vrios rgos e

    a estrutura geral da empresa, h indcios de uma boa

    estruturao. O formato da pirmide organizacional

    bastante promissor oferecendo para a empresa um

    diagnstico de sade organizacional, pois a base da

    pirmide bastante ampla culminando com um ponto

    em seu pice.

    Do ponto de vista dos autores, trata-se de estrutura

    organizacional coerente com as atividades

    desenvolvidas pela empresa, com o tamanho dessa

    organizao e com o tipo de gesto familiar ali

    implantado desde a sua criao.

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    Endereo para correspodncia:

    Francisco Giglioti.

    Rua Antonio Garcia n 10-71, Bauru(SP).

    CEP 17012-051.

    [email protected]