A Inesperada Mrs Pollifax

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A INESPERADA MRS. POLLIFAXUMA CONDENSAO DO LIVRO DE Dorothy GilmanUma senhora idosa de Nova Jrsia consegue causar mais problemas do que os homens da CIA - ou qualquer um poderiam imaginarMrs. Emily Virgil Pollifax, de Nova Brunswick,Nova Jrsia, foi forada a admitir que a sua ideiasurpreendeu de facto o jovem agente da CIA.No entanto, segundo o seu ponto de vista, nohavia qualquer razo que a impedisse de se tornaruma agente secreta. Era viva e tinha os filhos j adultos e casados.Sentia-se cansada das reunies do clube dejardinagem e, alm do mais, ningum em seuperfeito juzo a julgaria capaz de qualquer actosuspeito. Embora inicialmente o seu plano encontrasseoposio por parte das autoridades oficiais, odestino aliou-se sua conspirao pessoal e, umdia, Emily Pollifax viu-se portadora de umami sso. Assim comea uma deliciosa histria desuspense em que tudo - ou quase tudo - correinevitav?lmente mal. Em breve, tanto a CIA como o inimio teriamtodos os motivos para desejar que Emily Pollifaxtivesse permanecido em casa, permitindo queas duas faces travassem em paz a sua guerra fria. enfermeira saiu do gabinete e Mrs. Pollifax olhou o mdico,um jovem atraente, com dentes imaculadamente brancos e culosde aros de tartaruga, que retirou nesse momento. - Bem, Mrs. Pollifax - disse este em tom prazenteiro -,para uma senhora da sua idade tem uma sade de ferro. Felicito-a. . . embora note alguns sintomas de depresso. No a mesma Mrs. Pollifax que vi no ano passado. Tem alguma preocupao'? Mrs. Pollifax hesitou, ponderando se ele seria capaz de compreender o seu problema. Era to jovem! - Bem. . . acho que uma pessoa s vezes tem demasiadotempo livre. - Fez uma pausa. - Isto pode parecer extremamente frvolo quando h gente que morre de fome, mas noposso deixar de sentir que sobrevivi para alm das minhaspossibilidades de ser til. - Pronto, as palavras tinham sado, ficando suspensas no ar. O mdico voltou a colocar os culos no nariz. - Compreendo. Os seus dois filhos, Mrs. Pollifax, esto...? - Crescidos e longe. E diferente visitarem-me ou viveremperto de mim, bem sabe. Ele ouvia atentamente. - Disse que se oferece com frequncia para fazer trabalhosde natureza social. Gosta desse tipo de actividade? Mrs. Pollifax pestanejou perante a pergunta inesperada e,subitamente, sorriu. - Na realidade, acho que detesto - declarou. Ele no pde evitar retribuir-lhe o sorriso, simultaneamentecmplice e deslumbrante, que se tornava contagioso. - Talvez seja altura de procurar uma vlvula de escape maisapropriada - sugeriu ele. - extremamente importante, emqualquer idade, manter uma actividade intensa. De outra forma,instala-se uma espcie de caruncho. - Sim - disse ela com simplicidade. - Concordo, mas oque que eu posso fazer? Depois da morte do meu marido, resolvi orientar sensatamente a minha vida, de modo a nunca metornar um entrave para os meus filhos. isso justamente... - Talvez tenha sido demasiado sensata - comentou ele.H alguma coisa que sempce tenha desejado e que nunca tenhapodido fazer? Mrs. Pollifax olhou-o. - Na minha adolescncia - oh, durante muitos anos - queria ser espia - confessou ela. O mdico lanou a cabea para trs e deu uma gargalhada,enquanto Mrs. Pollifax se perguntava qual seria o motivo porque, quando falava o mais seriamente possvel, provocava oriso nos demais. A expresso mais carinhosa com que o marido a tratava - "querida patinha?? - representava a complacncia comque ele encarava a sua propenso para a excentricidade, queno conseguia compreender; e, medida que cresciam, os filhos, Roger e Jane, tambm haviam adquirido o hbito de a considerar ligeiramente extravagante. A voz de Jane soava-lhe aos ouvidos:??Oh, me, que ideia!??, e para seu espanto deu consigo apensar:?,Realmente, talvez eu no seja uma pessoa muito sensata.Talvez o mdico tenha razo. No posso ser feliz a tentar ser aquilo que no sou. ?? Contudo, a sua predisposio para a confidnciaextinguira-se com a gargalhada do mdico. Conversaram ainda durante algunsminutos, mas sem o primitivo entendimento, e Mrs. Pollifaxdeixou o consultrio. ??Eu no estava a brincar??, ia ela pensando, indignada.??Eu ia na realidade tornar-me uma espia.?? Dedicara-se a esseprojecto com afinco, indo todos os sbados de manh para o depsito delixo municipal com o seu primo John, para o ver abater ratazanas, e seguindo-o com tal persistncia que ele acabara poreondescender em deix-la disparar tambm. E os mapas. que elaestudara no seu quarto com tal dedicao que, no incio daII Guerra Mundial, ainda era capaz de indicar a latitude e alongitude de ilhas desconhecidas das quais ningum ouvira falar.(luecriana original fora, pensou com emoo. Uma crianasolitria, mas muito feliz. Tambm agora se sentia solitria, to semutilidade, to sem objectivo. No ltimo domingo, quando levara osseus gernios para o terrao do prdio onde vivia, ticaradebruada no parapeito, a olhar para baixo, procurando intimamenteuma razo vlida que a impedisse de dar um passo em frente,rumo ao esquecimento. Mesmo agora, no estava absolutamentecerta do que teria acontecido se Mr. Garbor, um homem aindanovo, a no tivesse chamado: ??Mrs. Pollifax! Por amor deDeus, chegue-se para trs!?? Ao obedecer-lhe, reparara que eleestava a tremer. No contara este pormenor ao mdico. Obviamente, precisavade encontrar uma forma de criar novos centros de interesse nasua vida ou teria medo de voltar a levar os gernios para oterrao - e adorava os seus gernios. Subiu os degraus do prdio em que vivia. Sentiu uma contraco ao ver Miss Hartshorne junto do elevador.Ilogicamente, Mrs. Pollifax inculpava Miss Hartshorne por esta Lhe fazerlembrar a sua professora de lgebra, no obstante a vizinha emnada voluntariamente contribuir para esta associao. - Como est, Mrs. Pollifax - saudou-a Miss Hartshorne, nasua voz troante. Entraram ambas no elevador e Miss Hartshorne premiu oboto. - Est calor hoje - comentou. - Est hmido tambm - disse Mrs. Pollitax para manterconversa. E, recuperando a calma: - Pensa fazer alguma viagemeste Vero, Miss Hartshorne? Miss Hartshorne passava o tempo a planear viagens ou a exibir dianositivos coloridos das mesmas Por vezes, Mrs. Pollifaxpensava que a sua vizinha s via realmente os pases atravsdos quais viajava quando, ao regressar a casa, os apreciava na suasala de estar. - Em Setembro - respondeu Miss Hartshorne prontamente.- o nico ms em que o viajante inteligente passeia. - Aporta do elevador abriu-se. - Bom dia - disse Mrs. Hartshorne. - Bom dia - murmurou Mrs. Pollifax, e dirigiu-se para oseu apartamento com um sentimento de libertao. Ao passarpela secretria, deteve-se, a fim de relancear a sua agenda.Era segunda-feira. tera-feira levava livros ao hospital, quarta-feira enrolava ligaduras. Quinta-feira era o dia dedicado associao de arte, e sexta-feira, ao clube de jardinagem. Aosbado tinha o cabeleireiro e o ch com Elsie Wiggin, que s falavados netos e da satisfao com que estes aprendiam a servir-se daretrete. Mrs. Pollifax pegou no jornal e folheou-o; era importanteestar bem informada. Na terceira pgina despertou-lhe a atenoa fotografia de uma mulher. DESCOBRE CARREIRA AOS SESSENTA ETRs ANos - era o ttulo do artigo. Mrs. Pollifax,interessada, sentou-se para o ler. Magda Carrol, que participara empequenos grupos de teatro aps o casamento dos filhos, fora descobertapor um agente da Broadway e actuava agora numa pea que se estreara em Nova Iorque e que obtinha crticas entusisticas.??Devo tudo minha idade??, declarara ela ao entrevistador. ,?Omundo do teatro fervilha de jovens talentosos, mas h poucossexagenrios. Precisavam de mim - o meu aparecimento foi inesperado!?? ??`Precisavam de mim - o meu aparecimento foi inesperado.' verdadeiramente maravilhoso??, murmurou Mrs. Pollifax. Ergueu-se, dirigiu-se at junto do espelho do trio e olhoua mulher nele reflectida: pequena, feminina, de flgura um poucorolia, cabelos quase brancos, olhos azuis. Uma mulher de aspecto simptico, incapacitada de exercer quase todas as actividades realizveis. Haveria qualquer campo onde tambm o seu aparecimento pudesse ser inesperado? ??Tolice??, disse para consigo. Estava absolutamente fora dequesto. ??Mas quem no se arriscou, no perdeu nem ganhou??,recordou timidamente. E ??H alguma coisa que sempre tenha desejado...??? Perguntar no ofende. Examinando a questo,seriam umas belas frias das suas diversas actividades. ??No vou aWashington, De, desde os meus onze anos...,? A ideia era absurda. ?,Vou!??, exclamou em voz alta, e, sentindo-sedeclaradamente louca, abriu o armrio, de onde retirou a mala. A primeira coisa que Mrs. Pollifax fez em Washington apsprocurar um hotel foi visitar o representante da sua terra noCongresso. Passou o dia seguinte a ver monumentos e a recuperar acoragem, que ora crescia dentro dela como uma mar cheia, oradescia como uma vazante, deixando aps si as ervas daninhas dadvida. No dia seguinte, porm, tomou decididamente o autocarro que em vinte minutos a conduziria a Langley, no estadoda Virgnia, onde se situa o quartel-general da CentralIntelligence Agency - a CIA. Descobrira na biblioteca pblica a direco,que copiara, ao mesmo tempo que lanava discretos olhares emredor. Agora, porm, sentia-se estupefacta ante os indicativosque ao longo da estrada guiavam qualquer um, presumivelmenteos Russos tambm, at CIA. O prprio edifcio no tinha nadade discreto. As suas torres e estruturas e os seus hectares devidro pareciam chamar expressamente as atenes. Mrs. Pollifax ultrapassou os portes e dirigiu-se aosguardas que se encontravam no interior. A sua coragem atravessava afase de mar alta. Apenas Miss Hartshorne poderia t-la detido. - Queria falar com Mr. Jaspar Mason - declarou. Foi-Lhe entregue um impresso, que preencheu, aps o que umguarda a acompanhou ao longo do corredor. Mrs. Pollifax avanou lentamente, lendo todas as indicaes sobre o processo aseguir relativamente a documentos classificados que devessem serdestrudos e as horas a que seriam recolhidos. Foi conduzida auma sala de pequenas dimenses, clara, impessoal. Pelomobilirio - vrias cadeiras, um sof e uma mesa de apoio -, Mrs.Pollifax deduziu que se encontrava numa sala de espera destinadaa visitantes que no tivessem entrevistas marcadas. Mr. Masoncontribuiu para esta impresso quando entrou na sala - um homem susceptvel de classificar e dispor das pessoas como depapel usado, com tacto e habilidade. Apertou-lhe a mo enquantoolhava o relgio. - Receio s poder dispor de dez minutos - disse ele.Diga-me em que posso ajud-la. Com eficcia idntica, Mrs. Pollifax entregou-lhe a carta deapresentao que obtivera do seu congressista (a quem norevelara, evidentemente, o verdadeiro motivo que a levava apretender falar com um funcionrio da CIA). O homem leu o carto,olhou Mrs. Pollifax e franziu as sobrancelhas. Pareciadesaprovar especialmente o seu chapu, e ela calculou que o brinco-de-princesa cor-de-rosa que o adornava deveria ter tombado novamente, qual junco quebrado. - Ah... sim, Mrs. Politflack - murmurou ele, evidentemente perplexo. - Pollifax - corrigiu ela delicadamente. -Desculpe. Ento diga-me, Mrs. Pollifax, a senhora fazparte de um clube de jardinagem e est a recolher elementossobre... Depois de olhar sua volta para se assegurar de que a portaestava fechada, Mrs. Pollifax inclinou-se para Mr. Mason edisse-lhe em voz baira: - Na realidade, vim para me informar acerca dos vossos espies. . O queixo do homem descaiu. - Queira desculpar. . . ?' Mrs. Pollifax aquiesceu com a cabea. - Gostava de saber se precisariam de algum. . . Ele parecia obtuso - talvez sofresse de deficinciaauditiva.Pronunciando distintamente as palavras, ela disse: - Gostava de me inscrever para trabalhar como espia. Ele cerrou os lbios. - No est a falar a srio. - Vim oferecer-me como voluntria - declarou ela veementemente. - Sou uma mulher s, compreende, sem responsabilidades. verdade que as minhas nicas qualificaes so as decarcter, mas quando se chega minha idade, o carcter oque de melhor se possui. Criei dois filhos e governei uma casa.Sei prestar primeiros socorros, no me impressiona o sangue e soumuito til em situaes crticas. Mr. Mason parecia confuso. - Mas a espionagem, hoje em dia, no nada sangrenta,Mrs. ... Mrs. . . - Pollifax. Ainda bem que assim, Mr. Mason. Mas sempreesperei que pudesse utilizar algum disposto a sacrificar-se,compreende, para preservar as vidas dos vossos agentes maisnovos. No quero parecer melodramtica, mas estou preparada para oferecer a minha vida, e por esse motivo que aqui vim. Mr. Mason estava impressionado. - Mas, Mrs. Politick - protestou ele -, no de modo algum desta forma que os espies so recrutados. No um trabaLho voluntrio. Neste assunto o pas que procura s pesso que o podem servir. Delicadamente, Mrs. Pollifax discordou: - Mas como que o meu pas me podia encontrar em NovaBrunswick, Nova Jrsia? Algum bateu porta e surgiu uma mulher ainda jovem. - Desculpe, Mr. Mason, mas chamam-no ao telefone. ^n telefone? Sim. - Mason ps-se de p num salto.Desculpe -ne, Mrs. Politick. - Follifax - recordou-lhe ela condescendentemente. Depoisrecostou-se na cadeira e aguardou o seu regresso. Bltt Carstairs era um homem magro, de elevada estatura, cabelo grisalho e rosto bronzeado marcado pelo tempo. O seu secretrio, Bishop, no imaginava sequer como ele conseguia manter aquela aparncia de homem habituado vida ao ar livre.Carstairs passava longas horas no seu gabinete - um gabinetemuito especial, equipado de modo a mant-lo em contacto, em poucossegundos, com qualquer parte do Mundo -, trabalhava frequentemente at meia-noite, e, em momentos de gravidade, pernoitava mesmo no escritrio. No obstante ser um homem especificamente treinado para trabalhar nos servios secretos, Bishop considerava inumana a calma que revelava nos momentos maiscruciais - quando ele prprio era capaz de explodir de raivase o aparo da caneta se Lhe partia. - Alguma coisa de Tirpak? - perguntara Carstairs a Bishoplogo de manh. - Nada desde Nicargua. - Isso foi h dois dias. Nenhuma mensagem da Costa Rica? Bishop abanou a cabea e Carstairs reclinou-se na cadeira. - Diabos. . . bem, de qualquer forma, vou providnciar paraa Cidade do Mxico. Se houver alguma mensagem, comunique-me imediatamente. Vou para o gabinete do Higgins. Higgins, de rosto de querubim e uma memria excepcional,dirigia o sector ??Pessoal??: milhares de nomes em arquivosultra-secretos. - Bom dia - saudou Carstairs, entrando no gabinete deHiggins. - De facto, est nebuloso - respondeu Higgins calmamente.- o mal dzsta arquitectura moderna. Mas em que te possoajudar? - Preciso de um turista. Um turista muito especial. Higgins acenou afirmativamente. - Posso fornecer montes de turistas. Mas de um tipo muitoespecial. . . bem, continua. - Uma essoa desocu ada totalmente desconhecida. Isso primordial. - Continua. Para que gnero de trabalho? Carstairs hesitou. Detestava divulgar informaes, mas noera provvel que Higgins fosse sujeito a tortura nas prximasvinte e quatro horas. = Vai chegar uma encomenda Cidade do Mxico. Este turista especial deve, numa data marcada, dirigir-se a umdeterminado local, recolher essa encomenda e traz-la para aqui. Higgins ergueu uma sobrancelha. - O correio normal no serve? - Eles conhecem muito bem os correios. - Carstairs fez umleve gesto em direco ao exterior. - E enviar o embrulho pelocorreio demasiado arriscado. - Consideraste a hiptese de algum completamente novo,um rosto desconhecido? - Isso significava algum totalmente inexperiente, no ? - E isso teria importncia? melhor do que algum conhecido em Viena em 1935 surgir repentinamente na Cidade do Mxico. - Quais so as possibilidades? Pouco se exige ao meu turistaexcepto pontualidade, mas ele ou ela devem apresentar-se exactamente como so. Dos seus arquivos, Higgins retirou fotografia aps-fotografia.Algumas eram imediatamente postas de parte com um ??Oh, no,este no serve, quebrou uma tbia nos Balcs,? ou ??Desculpa,esta dama foi emprestada ao Oriente,?. Quando saiu, Carstairslevava apenas quatro fotografias. - Ainda nada de Tirpak - saudou-o Bishop. - Diabos! - repetiu Carstairs. Bishop, Deus o abenoasse, deixara algum caf sobre a secretria, e Carstairs sorveu um gole reconfortante. Tirpak, umdos seus melhores homens, j deveria ter enviado o seu relatrio.Estava naquela misso havia oito meses, e o material que enviarada Amrica do Sul por telgrafo e correio codificadosignificava meses de trabalho frutuoso. Embora a imagem visual que tinhade Tirpak proviesse apenas de uma fotografia dos arquivosultra-secretos, Carstairs conhecia bem a inteligncia do agente umcomputador, um perito em estatstica. Meses atrs, haviam-lhesido fornecidos todos os relatrios, rumores e informaesdisponveis sobre as operaes secretas de Castro no hemisfrio, eneste momento ele enviava factos precisos e concretos. Porm,apenas factos no bastavam; mais importante do que tudo era aprova que ele levaria Cidade do Mxico, to concreta quecada uma das naes da Aliana para o Progresso ficaria a saberexactamente sob que forma o cavalo de Tria do comunismo surgiriano respectivo pas. Segurando a chvena de caf, Carstairs quedou-se a contemplar taciturnamente o mapa suspenso da parede, que quasetocava o tecto. A fase mais difcil da misso de Tirpak consistia emcolocar essa prova em mos de confiana e transferi-la para oNorte, pas aps pas, at secretria de Carstairs. Sendo deesperar que, algures, pessoas inoportunas se apercebessem do risco queas ameaava, era surpreendente o desaparecimento progressivodos informadores de Tirpak. O tempo era agora contra Tirpak, eCarstairs sentia-se preocupado. Conhecia o esquema habitual desta fase se tudo corressesatisfatoriamente: o tosco estdio fotogrfico, na Costa Rica, ondeos incmodos volumes de Tirpak seriam reduzidos a microfilme; aseguir a viagem para o Mxico, onde o microfilme seria deixadoem poder de DeGamez, pois Tirpak era persona non grata nosEstados Unidos - um mito que fora necessrio perpetuar parasua prpria segurana. A partir do Mxico, o assunto pertnciaa Carstairs e ao seu turista. Irrequieto, Carstairs acendeu umcigarro. Estaria Tirpak a ser seguido? Teria sido morto e toda adocumentao perdida? A porta abriu-se. Carstairs afivelou a sua mscara habitual,mas Bishop sorria-lhe. - Tirpak est na Costa Rica. A reaco de Carstairs foi veemente e breve. - Graas a Deus! - depois, num rompante: - Porque levoutanto tempo? Cinco minutos depois, franzia as sobrancelhas, enquanto liauma mensagem j descodificada. Tirpak relatava que os amigosChineses Vermlhos de Castro estavam interessados em siprprio, em consequncia do que decidira que chegara o momento de seocultar. Os documentos chegariam Cidade do Mxico, convenientemente camuflados, entre 12 e 18 de A?osto. Tirpak planeava permanecer na Costa Rica durante uma ou duas semanas. Se, segundo as informaes de Tirpak, os microfilmes chegariam Cidade do Mxico entre 12 e 18, era certo que assimaconteceria. Chegara o momento de fazer avanar o turista. - Bishop - disse Carstairs, dispondo as fotografias sobre asua secretria. - Qual deles? Bishop observou: - A mim parecem-me todos verdadeiros turistas. Carstairs suspirou. - Ningum deve julgar apenas por um rosto, mas este homem parece-me demasiado impulsivo. Pode deixar-se arrastar ecometer algum acto imprudente. espantoso o que pode acontecer s pessoas num pas estrangeiro. Este tipo esteve na Chinadurante a II Guerra Mundial. Se os Chineses esto a perseguirTirpak, no o podemos arriscar. - E esta mulher? - perguntou Bishop. - No. Quero algum de mais de quarenta e cinco anos. Carstairs estudou a quarta fotografia. - Tipo sem sentido de humor. Esta serve para o trabalho;provavelmente no vai falar a ningum. Charlotte Webster; idade,cinquenta e oito anos, Washington, De. Bishop, eu gostaria delhe dar uma olhadela sem ser visto. - Vou pedir ao Mason que lhe marque uma entrevista nasa)a do primeiro andar. O senhor pode passar por l eobserv-la. - Boa ideia, Bishop. Veja se Mason a pode ter c s duashoras. S duas horas, Carstairs acabou de almoar na cantina edirigiu-se apressadamente para a sala de visitas do primeiroandar. - O candidato de Mason est ali? - perguntou ao guardaque se encontrava do lado de fora. - Est, Mr. Carstairs. Uma mulher. A mulher qu se encontrava sentada, sozinha, na sala era toextrordinariamente indicada para o trabalho que eledificilmente acreditou nos seus prprios olhos. Sempre fora extremamenteintuitivo, capaz de separar imediatamente a simulao daautenticidade. O seu olhar comeou por notar o chapu de um autnticoridculo, com uma flor completamente banda; depois, divagousobre as madeixas de cabelo branco que se recusavam a ficarpresas. Notou a boca entreaberta num sorriso e, quando encontrouum olhar to interessado quanto o seu, sentiu o triunfo de umdirector encarregado da distribuio numa pea que descobre aactriz perfeita para um papel fundamental. Atravessou a sala demo estendida. - O meu nome Carstairs - disse com vivacidade. - Precisamos de si para uma misso. J falou com o Mason? - Mr. Mason? - durante um momento ela pareceu confusa.Ah, sim, mas ele foi chamado para atender um telefonema, eeu... -No tem importncia. Compreendo que inexperiente,mas um trabalho muito simples. O mais importante tem sidoencontrar a pessoa certa. Acho que serve muito bem. Est livrepara trabalhar entre 3 e 22 de Agosto? -Completamente livre - gaguejou ela, enrubescendo deprazer. - Fico encantada! - Excelente. J esteve alguma vez no Mxico? - No Mxico!... No, nunca. Quer que eu v ao Mxico? Ele admirou a sua exultante resposta. - Ser paga pela tabela habitual de um correio e, evidentemente, todas as suas despesas decorrem tambm por nossa conta.Ser uma turista americana e usar o seu prprio nome. Amisso consiste em visitar um local na Cidade do Mxico numa determinada data; o resto do tempo ficar ao seu dispor. Miss Webster, pensou Carstairs com satisfao, no s era apessoa indicada como a ideal - embora a sua fotografia devesseter sido tirada por um pssimo fotgrafo. - Pode encarregar-se desta misso? - acrescentou com umsorriso. Ela inspirou fundo. - Foi por isso que vim... porque pensei que podia. Sim, tenho a certeza que posso. Vou fazer o melhor que puder. Ele continuou: - Importa-se de vir ao meu gabinete para marcar uma entrevista? No tenho agora tempo para lhe dar todas as instrues.Convm-lhe amanh de manh? - Perfeitamente. Sorrindo, ela remexeu na carteira, de onde retirou umcarto. -Penso que no sabe o meu nome. Trago sempre cartescomigo. Carstairs, divertido, meteu o carto na algibeira e acompanhou-a, atravs do trio, at ao seu gabinete. - Deixem-me ver a agenda. Amanh s nove? que insistosempre em dar instrues completas. - Acho que as deve dar - aprovou ela. - E foi, de facto,muito amvel. To inesperadamente amvel! Obrigada. ??Amvel???, interrogou-se Carstairs depois de ela tersado. - Bem, Bishop, encontrei a minha turista. to congenitamente inocente que enganava o prprio Mo Ts-Tung. O queixo de Bishop descaiu. - Mas, Mr. Carstairs. . . Mason acabou agora mesmo de telefonar a dizer que chegou Miss Webster. - Que disparate, Miss Webster saiu agoca mesmo. - No, Mr. Carstairs, Miss Webster acaba de chegar. -Ento faa-me o favor, Bishop, de perguntar a Masonquem diabo que estava minha espera na sala de visitasdele. Retirou da algibeira o carto de visita de Mrs. Pollifax epegou na fotografia de Miss Webster, constatando que havia umaligeira semelhana entre ambas. - Ento`? - resmungou quando Bishop voltou. - Chama-se Politick ou Politflack. Mason diz que veio oferecer-se para trabalhar como agente secreto. Carstairs fitou-o estupefacto. - Ningum vem aqui oferecer-se para ser agente. - Depois,os cantos da boca comearam a contrair-se-lhe. - absurdo.Mas, com mil diabos, Bishop, ordene com a maior urgncia segurana para investigar - consultou o carto - Mrs. VirgilPollifax, de Nova Brunswick, Nova Jrsia. Quero os resultadosantes das oito da manh. E depois comece a rezar. - A rezar, Mr. Carstairs? - Sim. A rezar para que ela nunca tenha convidado involuntariamente um vermelho para jantar. 2?? o nmero 51 para a Cidade do Mxico, embarque na porta 4.Voo nmero 51, embarque na porta 4. . . Mrs. Pollifax sentia-se dominada por uma excitao quase insuportvel. Durante alguns dias, exercitara-se para adquirir aapa370 371A inesperuda Mrs. Pollifaxrncia impenetrvel de uma agente secreta, mas agora era-Lheimpossvel mant-la - sentia-se demasiado arrebatada pelaideiada sua primeira visita ao Mxico. "E ainda bem??. disse paraconsigo, pois Mr. Carstairs insistira em que ela era apenas umaturista. `?Se eu pensasse que a senhora era capaz de ser outrapessoa, nunca lhe teria confiado esta misso??. declarara-lhe elecomfirmeza. Mrs. Pollifax ouvira-o. de olhos brilhantes. ??Os seusbilhetese outros documentos ser-lhe-o enviados pelo correio. Foireservado um quarto no Hotel Reforma Intercontinental a partir de 3de Agosto para Mrs. Virgil Pollifax, que visitar o Mxico durante trs semanas. O que ir ver consigo; presumo quevisitaros locais tursticos habituais - Taxco, Acapulco. Mas no dial9de Agosto, s dez da manh, semfaltu` visitar esta livrarianaCidade do Mxico.?? Entregara-Lhe ento um pedao de papel.??Decore esta direco,?, dissera ele calmamente, enquanto ocorao de Mrs. Pollifax comeava a bater com mais fora. "Antesde partir, h-de receber a visita de um homem que seassegurarde que a senhora a no esqueceu.?, Mrs. Pollifax comeou imediatamente a decorar as palavras.EI Papagayo Librera (Livraria O Papagaio)Calle el Siglo 14Cidade do MxicoR. DeGame:., proprietrio - Con7pra e vendu de buns- !it?rus Carstairs prosseguira: ??Na livraria pede um exemplar daHistria de Duus Cidudes, de Dickens. O Senor DeGamez vai lamentar no possuir, de momento, essa obra.,? Mrs. Pollifaxaguardava de respirao suspensa. "Ento a senhora diz-lhe- pedindo desculpa por contradiz-lo - que h um exemplar namontra. E acrescenta: `No acha que Madame Defarge positivamente horrvel???? Mrs. Pollifax repetira as palavras."Estasfrases identificadoras so um aborrecimento??, dissera-lheCarstairs, ??mas mais prudente ter um duplo controle. Oimportante pedir a Histriu e Duas Cidudes e referir-se a MadameDefarge.?? Mrs. Pollifax aquiescera com a cabea. ?`E o que eu tenho detrazer-Lhe est no livro`? Oh, meu Deus, no devia ter feitoestapergunta!?? Carstairs sorrira. ??No, e em todo o caso eu no lho dizia.Embora, honestamente??, acreseentara com secura, ??eu prpriono saiba o que que ele lhe vai entregar. Mal tenha pago olivro, saia e no volte a essa livraria. Continuar a visitarlugaresde interesse durante mais dois dias e regressa de jacto nanoitede 21.?, Ela aquiescera novamente. ??E para passar na Alfndega,quando regressar??? ?`Digamos apenas que no haverproblemas.?,??Ah??, dissera Mrs. Pollifax com tristeza. ??No me parecequehaja qualquer perigo.?? `?Minha querida Mrs. Pollifax, hsempreum risco, mas se este trabalho implicasse um verdadeiroperigo,eu no consentia que uma amadora o fizesse. apenas trabalhode correio.,? Erguera-se, sorrindo. ??Espero que a experinciacomo detector de mentiras no a tenha incomodado.?? ??Oh, no,foiextremamente interessante??, respondera ela sorrindo. ??Bom.Parans. uma rotina.?? Apertaram as mos. `?No voltarei av-la,Mrs. Pollifax. Divirta-se.,? Ela suspeitara, com perspiccia, de que ele a aconselharadeliberadamente a divertir-se, a fim de a libertar depensamentosfantasiosos. Bem, ela iria divertir-se. As reaces dos filhossua viagem haviam sido muito diferentes. ??Mas, me,?, lamentara-se Jane ao telefone, `?se queria viajar, podia vir ataqui aoArizona. ?, Roger, consideravelmente mais parecido com a me que Jane.recomendara-lhe que tivesse cuidado em no beber gua no engarrafada e acrescentara: ??Estava a ficar preocupado consigo,me. H anos que no sai. Adeus, boa viagem. Se tiver algumadificuldade, avise. ?? Querido Roger. Inclinou-se para a frente para olhar o exterior, atravs da janela, quando o avio comeou a rolar.??Tenhoesperanas de gostar disto??, pensou, brusca e vibrantemente,nomomento em que, com uma esmagadora exploso sonora, a paisagem comeou a afastar-se velozmente. O Hotel Reforma, na Cidade do Mxico, excedia em luxo todas as expectativas de Mrs. Pollifax - era quase demasiado luxuoso. Ela, porm, considerou que a escolha no fora sua; eraalique os turistas se hospedavam. Na manh seguinte, foi a primeira.na bicha do autocarro para as excurses. No fim do dia,fizera duas amigas - as professoras americanas Miss Lamberte Mrs. Donahue; adquirira um bom nmero de conhecimentossobre a histria do Mxico e lembrava-se do nome de todas asruas por onde passara. Mas no vira a Calle el Siglo. No dia seguinte, comprou um mapa e, aps uma hora de estudo, resolveu-se a procurar a Calle el Siglo e a Livraria OPapagaio, pois sentia que no conseguia de facto divertir-seenquantono soubesse exactamente onde deveria apresentar-se no dia 19de Agosto. Para sua surpresa, situava-se a curta distncia doHotel, numa rua transversal perfeitamente respeitvel, repletade turistas, e era uma livraria moderna e elegante, nada miservelouabandonada, como ela romanticamente imaginara. Na tarde seguinte, aps uma visita ao Palcio Nacional,sugeriu s suas duas amigas que subissem a Calle el Siglo,alegando,com uma cruel falta de escrpulos, que seguiriam assim um caminho directo para o hotel. Desta vez passaram pela porta dalivraria, para o interior da qual Mrs. Pollifax espreitou. Ohomemque se encontrava ao balco, de cabelo e bigode brancos, quesedestacavam sobre a pele escura, parecia simptico. ??Parece umgrande de Espanha??, pensou ela. Durante os dias que se seguiram, Mrs. Pollifax encontroutantas oportunidades para passar por O Papagaio que comeou aconsider-la a sua prpria livraria. Ao cabo de uma semana,foipassar vrios dias a Taxco e vagueou sozinha pelas leastortuosas e empedradas. Em toda a parte encontrou pessoas encantadoras e amveis. No autocarro que a conduzia de regresso Cidadedo Mxico, distraiu-se a conversar com um vivo de Chicago,que, segundo deduziu, era um jogador profissional, o que dmodo algum reduziu o seu interesse, pois nunca conhecera nenhum. A primeira coisa que fez depois de regressar ao Hotel Reforma, no dia 15 de Agosto, foi descer a Calle el Siglo parasetranquilizar a respeito da sua livraria. DeGamez l estava,parecendo to simptico que ela pensou: ?,Com certeza que no fazmal comprar qualquer coisa. No tenho nada para ler.?,Enquantose mantinha parada no passeio, reflectindo na ideia, um grupodeturistas saiu de O Papagaio, rindo e carregado de embrulhos.Mrs. Pollifax atravessou a rua e entrou. DeGamez embrulhava livros para um cliente. Infelizmente,porm, estava a falar espanhol, pelo que Mrs. Pollifax nopdecompreender o que dizia. Inclinou-se sobre uma rima com aindicao LTIMOS LIvROS DOS EUA, escolheu um volume de memrias da autoria de uma conhecida actriz e estava a remexer nacarteira quando uma voz aguda gritou:,?Livros velhos, livrosnovos,leia um livro!?? Mrs. Pollifax voltou-se, estupefacta, e viuumpapagaio numa gaiola quase a seu lado. - Gosta do meu papagaio? - O cliente de DeGamez partira,e estavam ss. - Venha ver - disse ele, dirigindo-se gaiola.- Percebe de papagaios'? Este excepcionalmente bonito. - Tem cores muito brilhantes - disse Mrs. Pollifax numavoz sumida. DeGamez bateu ao de leve na gaiola. - Dei o nome minha loja em homenagem minha ??Ol??.Tenho-a h doze anos. No sei o que hei-de fazer quando elamorrer. Mrs. Pollifax acenou compreensivamente. - Ho-de dizer-Lhe que arranje outro papagaio; mas nunca a mesma coisa, pois no? -Si, a senhora muito inteligente. A minha mulher morreufaz agora cinco anos, e os meus filhos esto crescidos elonge.A senhora tambm tem filhos? Mrs. Pollifax entregou-Lhe o dinheiro. - Dois - respondeu. - Ambos crescidos. Enviuvei h oitoanos. - Sinto muito. Mas veio ao Mxico sozinha? Mrs. Pollifax acenou afirmativamente. - Ento, corajosa. Ainda bem. - Por vezes sinto-me um pouco solitria - admitiu ela. - Faz pacincias, senora? Mrs. Pollifax abanou a cabea negativamente. - Ento est a perder um pcazer. Eu adoro fazer pacincias. muito saudvel para o esprito. - Lembro-me de ter tentado alguns jogos de cartas quandoera criana. -Si, mas agora crescida - disse ele sorrindo. - Por favor, permita-me. - E, interrompendo os protestos dela, entregou-lhe 77 Maneiras de Fazer Pacincias. - por ter gostadodo meu papagaio. Mrs. Pollifax, encantada, comeou a rir. - Vou experimentar. - ptimo. Ele cumprimentou um homem e uma mulher que haviam entrado na loja e acabou de embrulhar o livro que ela comprara. - Foi um prazer, seriora. Desejo-lhe uma ptima estada. Mrs. Pollifax ficou comovida e reconfortada eom estaafabilidade. - Muito obrigada - disse, dirigindo-se para a porta. - Oh, senora - chamou-a ele. - Como que pode fazerpacincias sem cartas? Mrs. Pollifax voltou-se e ele arremessou-lhe um baralho decartas. - Oh, mas. . . - exclamou ela, apanhando as cartas no ar.O filho ter-se-ia sentido orgulhoso dela. - Como vocs, americanos, dizem, ?? por conta da casa??disse ele alegremente. Como era simptico! Percorrera menos de um quarteiro,quando parou aflita. Aquele homem encantador no era seno osenor DeGamez, indicado por Mr. Carstairs! Ela projectara apenas entrar, fazer discretamente uma compra e sair. Agora, queiria ele pensar quando soubesse que o correio de Mr. Carstairsera ela! ??Que horror??, pensou. ??No de todo deste modoqueos agentes secretos se comportam.?, E resolveu no voltar aaproximar-se do local antes de o dia. Redigiu uma lista das coisas a fazer durante os quatro diasseguintes: comprar recordaes para Roger, Jane e netos;enviarpostais. Querida Mis.s Hartshorne, o Mxico encantador. . .Mas parecia-lhe tudo to inspido que abriu o livro queDeGamezlh oferecera; ao descobrir, para sua surpresa, que aspacinciasno s lhe relaxavam os nervos c?mo entretinham o esprito,perguntou a si mesma se deveria dizer-lho quando voltassem aencontrar-se. ?? melhor no?,, decidiu pesarosamente; no dia19deveria desempenhar o papel de uma agente secreta, fria e impessoal. No dia 18 saiu para acabar de fazer as compras para afamlia.Quando se deitou nessa noite, havia ponchos mexicanos espalhados pelo toucador e nas cadeiras. ??No so dos melhores??,reflectiu ela, mas comprar seis de uma vez caro, e, evidentemente,sou eu quem os paga.,. Fizera diria e conscienciosamente ascontas de todas as despesas, no esquecendo o modo severo comque o marido de Jane falava dos gastos inteis de Washington.Jali estava h perto de trs semanas. . . Pel primeira vezocorreua Mrs. Pollifax a ideia de que a sua visita Livraria OPapagaiopoderia ter maior importncia do que Mr. Carstairs quiserafazer-lhe crer. ??Tolice??, pensou, ele s queria ter acerteza deque todos a julgariam uma turista. QUANDO Mrs. Pollifax abriu os olhos na manh seguinte,apercebeu-se de que aquele era o dia. Enfiou a saia do seu melhor tailleur azul-marinho e, como a manh estava fria, vestiutambm o bonito casaco de l guatemalteca que comprara. Depois, meteu o baralho de cartas na carteira para no oesquecer.Na carteira acumulava-se uma quantidade espantosa de pequenascoisas: um canivete para o aniversrio do neto. doischocolates,alguns lenos, pensos rpidos, traveller's cheques, dois novosbtons e um velho j gasto e uma agenda com lapiseira. Teria dearrumar tudo aquilo em breve. Mas no naquele momento. s nove e quarenta e cinco chegava Calle el Siglo. A portada Livraria O Papagaio estava aberta. Entrou, sentindo queostentava uma naturalidade exemplar. -Buenos dias - disse o homem que estava ao balco, erguendo os olhos com um sorriso. Depois de um segundo olhar,acrescentou: - Bom dia. Mrs. Pollifax olhou sua volta com indeciso, mas no estava mais ningum na loja. - Bom dia - disse. O homem no era o senor DeGamez. - Em que posso servi-la? - perguntou o homem. Mrs. Pollifax concluiu que a nica alternativa era perguntarquando voltaria o senor DeGamez. - Quando aqui estive h dias - disse ao homem em tom deconfidncia -, o proprietrio foi to amvel... Ele demora-se? - Mas o proprietrio sou eu, senora. Esse homem era o meuprimo, que s vezes vem dar-me uma ajuda. Ele tambm sechama DeC7amez. - Foi to amvel - explicou Mrs. Pollifax. - Deu-me umlivro sobre pacincias. . . Oh, meu Deus! - suspirou. - Talvezeuno devesse falar no assunto, mas... terei muito gosto empag-lo. - Sim, o Jos mesmo assim -disse o homem com um sorriso pesaroso, mostrando um dente de ouro que brilhava. Encolheu os ombros. - Se a loja fosse dele, estaramos falidos aocabo de um ms. No entanto, foi provavelmente a simpatia deleque a trouxe c outra vez`? - De facto, foi. . . para comprar a Histria de Duas Cidades - disse-lhe ela com ousadia. - Penso que tem um exemplarna montra. - Si ? - perguntou ele com a conveniente entoao de surpresa. Ela acompanhou-o at cortina baixa que separava a montrada loja. Ambos olharam, mas Mrs. Pollifax no viu nenhumexemplar da Histria de Duas Cidades. Com uma sensao deabatimento, compreendeu que deveria ter olhado a montra antesde entrar. Nada parecia correr bem: era como se o destino aestivesse a pr prova. - Estava aqui no outro dia, devia t-lo comprado nessa altura. Penso que Madame Defarge positivamente horrvel, noacha? Ficou esperando de olhos atentos. DeGamez fitou Mrs. Pollifax e os seus olhos tornaram-sepensativos. - No est aqui - disse. - Mas penso que, apesar disso,nos entendemos, a senhora e eu. . . - Como? - Quero eu dizer que tenho estado sua espera. Por favor,tome um chvena de ch no meu gabinete das traseiras enquantoLhe arranjo aquilo que a senhora veio buscar. Cautelosamente, Mrs. Pollifax disse: - muito amvel da sua parte. No tinha a certeza de nada, e a falta do lvro confundia-a.No entanto, o homem dissera que a esperava. Talvez o livro tivesse sido mal colocado. . . mesmo os espies tm os seus diasinfelizes. - Com todo o gosto - acrescentou ela com mais firmeza, e,como ele segurasse o reposteiro que seprava o gabinete dastraseiras da loja, pareceu-lhe que o melhor seria passar straseiras. - Desculpe a desarrumao - dise ele, com um gesto largo. A desarrumao era, na realidade, enorme: as caixas de papelo empilhavam-se at ao tecto e o cho apresentava-se juncadode papis. No entanto, DeGamez no a esperava do outro lado doreposteiro para lhe dar uma pancada na cabea. A gua para och estava de facto a ferver numa chaleira e, sentindo oambienteque a preparao do ch tornava confortvel, Mrs. Pollifaxretomou a confiana. - Leite, limo, acar? - perguntou ele, conduzindo-aat secretria. - Leite e um cubo de acar, por favor - disse ela, sentando-se na cadeira giratria. - Embora eu, na realidade, nome possa demorar mais do que um minuto. - No, claro que no, isso seria pouco sensato - concordou ele, servindo-lhe uma chvena fumegante. - Eu volto dentro de um minuto. Desapareceu por detrs do reposteiro, e Mrs. Pollifaxbeberricou o ch. Ele era sem dvida educado, mas faltava-lhe asimpatia do primo. Perguntou a si prpria o que lhe traria ele outrolivro, um embrulho? Aquele gabinete era muito abafado. Teriasido simptico da parte dele ter aberto uma janela. Esvaziou achvena e, quando se Ievantou, a sua ateno foi atrada porumaforma estranha, com o aspecto de uma cpula e coberta por umpano. Retirou o pano. Era uma gaiola vazia, em cujo fundojaziauma fulgurante pena azul. `.O papagaio!??, pensou ela estupefacta. O outro senor DeGamez dissera: `?Dei o nome minha loja em homenagem minha`Ol'. Tenho-a h doze anos...,? Minha loja... Porm, agoraMrs. Pollifax no conseguia discernir com clareza, pois o ambiente estava abafado e a cabea comeava a doer-lhe. Tentoudesesperadamente pensar: ??Se o papagaio pertncia ao primeiroDeGamez. . . Havia uma concluso a tirar, mas Mrs. Pollifaxno conseguia concluir nada. Havia algo que a perturbavaterrivelmente e no era o calor. Era o ch. `?Havia qualquer coisanaquele ch,?, exclamou Mrs. Pollifax, dando um passo em direco porta. Mas no conseguiu dar mais nenhum, pois caiuno cho, inconsciente. RS. Pollifax abriu um dos olhos, vagamente consciente deque algum lhe batia metodicamente na cara, primeiro na faceesquerda e depois na direita. Fechou os olhos e as pancadasrtmicas recomearam. Quando retomou de novo a conscincia, fezuma tentativa para focar um rosto impreciso. - Fu Manchu - murmurou ela astutamente, soltando umarisada. - Acolde, pol favl - disse uma voz. Mrs. Pollifax suspirou. - Est bem. Mas deixe de me bater na cara. Desta vez fez um esforo ntido para manter os olhosabertos,mas a viso que lhe surgiu no era compensadora. Ela e o homem que a esbofeteava pareciam encontrar-se numa pequena barraca, sem janelas, feita de carto impregnado de alcatro. Umalanterna a petrleo lanava sombras grotescas nas paredessperas, o ambiente cheirava a mofo e a terra hmida, e ela compreendeu a razo por que, durante o seu torpor, falara em FuManehu: o homem que a esbofeteava era chins. Estava elegantemente vestido com roupas ocidentais e parecia um jovemestudante. - Onde estou eu`? - perguntou em tom indignado. - Se fosse a si, no me daria ao trabalho de perguntardisse uma voz atrs dela. Era uma voz masculina e indubitavelmente americana. Mrs. Pollifax moveu-se na cadeira para olhar.mas constatou que o no podia fazer: as suas mos estavam fortemente apertadas com arame atrs das costas. - Estamos atados os dois - 'explicou a voz. - Costas comcostas, pulsos com pulsos, tudo muito ntimo. Chamo-meFarrell.Quem diabo voc? Ela disse com firmeza: - Mrs. Virgil Pollifax, de Nova Brunswick, Nova Jrsia.Oua c, rapaz - disse para o guarda com dureza -, sou entendida em primeiros socorros. Vai ter de me amputar a mo esquerda se Lhe impedir a circulao. O guarda respondeu calmamente: - Em breve vai comer e poder exercitar as mos. A porta abriu-se e entrou um homem com um tabuleiro. Espreitando por detrs dele, Mrs. Pollifax constatou que l forafazia escuro. ??Estive inconsciente toda a tarde!,?, pensou comespanto. O homem que a esbofeteara inelinou-se para lhe libertarc?s pulsos com um alicate. Esfomeada, ela no desviava osolhosda comida: tortilhas de mau aspecto, po escuro seco e duaschvenas de caf. A refeio representava uma compensao, pois abrutalidade com que o seu captor manuseava o alicate fez-Lheassomar as lgrimas aos olhos. Quando as mos dormentes lheficaram livres, colocou-as no colo, tentando no olhar para osangueque escorria para as palmas. O jovem chins disse: ??Coma??, e saiu com o outro homem.! Uma chave arranhou na fechadura, e Mrs. Pollifax voltou-separa; olhar o homem que se encontrava atrs de si. Este fitava-acom ineredulidade. - Valha-me Deus - disse, com o queixo descado. - Qual! o seu papel nisto tudo`? No, no beba o caf acrescentou; rapidamente. - Est provavelmente drogado. Mrs. Pollifax olhou-o com desconfiana. No era o tipo de homem que ela apreciava. Tinha um rosto magro e duro, e cor respondia a um tipo de beleza tpica de Hollywood - o gnero; de cara que se presta a uma caricatura. Desenhe-se uma oval perfeita, profundamente bronzeada, corte-se a oval alturado queixo, cubra-se a mesma com uma linha de cabelo negro e liso, acrescente-se-lhe um bigode preto e eis Mr. Farrell um duro habitante de um mundo que lhe desagradava. Talvez ele negociasse com essas drogas que mencionara com tanto vontade.' - Onde estamos ncs`? - perguntou ela. - E quem essa gente? horrivel`? Pegou numa tortilha e comeou resolutamente a mastig-la. - So homens de Mo Ts-Tung - disse Farrell. - Ouvi? distintamente um avio aterrar l fora enquanto tentavamreai nim-la. - E que aeroporto este? - perguntou Mrs. Pollifax, ga? guejando. Ele encolheu os ombros e sentou-se para comer a suatortilha. - Ouvi dizer que eles tm campos de aviao secretos noI Mxico. Mrs. Pollifax observou com firmeza: - Parece estar bem informado. Como que sabe isso tudo, a no ser que seja um deles?? Ele sorriu. - No conf-ia em mim? Isso leva-me a suspeitar de si pelaI primeira vez. Tambm fui raptado, caso no tenha percebido.Fui afastado de um encontro no teatro com a bela Miss WillowLee, que tem grandes ligaes com Pequim. Mrs. Pollifax estava estupefacta. - E o senhor ia lev-la ao teatro? Ele sorriu. -Minha querida senhora, eu sabia tudo a respeito dela quando a conheci. O que eu no percebi que tambm elasabiatudo a meu respeito. Mas como que a senhora entrou nisto? Subitamente, Mrs. Pollifax desatou a rir. ??Estou aquiporqueum dia levei os meus gernios ao terrao??, pensou paraconsigo.??E no tenho o direito de ter medo. Pedi uma pequena aventurae precisamente o que me est a acontecer.?? Sentiu-seimediatamente calma. Disse: - Penso que estou aqui porque entrei numa pequena loja naCidade do Mxico para comprar um livro. Farrell olhou-a com estranheza. - No me diga que foi na E1 Papagayo! - O seu rostoavanou em direco a ela, aps que retrocedeu. Ela ouviu-odizer, em voz pastosa: - Diabos, tambm drogaram as tortilhas. Mrs. Pollifax concordou sagazmente. Nova dose de droga emquantidade suficiente para novamente os adormecer. ??Muito espertos?,, pensou, e desta vez tomou a precauo de se sentarparano cair ao cho. ??Estou a tornar-me bastante experiente?,,reflectiu orgulhosamente, e esboou mesmo um sorriso enquanto a escurido se apoderava dela. BItL Carstairs passara a maior parte da manh do dia 20 deAgosto confernciando com um alto funcionrio do Departamentode Estado sobre uma revoluo que eclodira num pequeno pas daAmrica do Sul. Bishop trouxe-lhe, juntamente com o caf, atirade papel de um telex com a indicao CARSTAIRS. URGENTE, naqual se lia: CORPO IDENTIFICADO COMO RAFAEL DEGAMEZ ENCONTRADO CANAL NOITE PASSADA STOP POLCIA CALCULA MORTEOCORREU I i AGOSTO STOP INVESTIGAO PROSSEGUE. Carstairs sentiu-se invadido por uma onda abrasadora deraiva.Mais tarde, esta seria suplantada pela sua implacveleficincia;naquele m?mento, porm, concedeu a si prprio uma pausa paralamentar DeGamez, que conhecera e de quem gostara. No eramaneira de um homem morrer - mesmo se estivesse a par dosriscos que corria. - Veja se a Polcia da Cidade do Mxico confirma a mensagem, Bishop, e pea-lhes para nos manterem ao corrente. Oh,meu Deus! - acrescentou subitamente. - Mrs. Pollifax! Ela devia ter visitado DeGamez ontem. Ligue tambm para o Hotel Reforma Intercontinental. - Mrs. Pollifax est a ser procurada no hotel - veio dizer-lhe Bishop decorridos alguns minutos. - Agora ligue-me ao Johnny da Galeria de Arte da Cidadedo Mxico - gritou Carstairs. Mas Johnny ainda no chegara Galeria de Atte; Carstairspegou no telefone e comeou a falar num espanhol fluente. Esteatraso era normal? Quando que o dono da Galeria fora visto altima vez? Com brusquido, Carstairs desligou. - Escreva isto, Bishop. ??Temperatura 39 na Cidade do Mxico. Preocupado com a sade da tia Josefina. Sugiro repousocompleto no hospital.?? - Escreveu diversos nomes num pedaode papel. - Traduza e envie imediatamente. Cerca das duas horas haviam comeado a chegar mensagens.Mrs. Pollifax no fora vista no hotel desde a manh do dia 19.No havia notcias de Johnny. Se ele fora apanhado, o fracassoseria total. O corpo esfaqueado de DeGamez fora descoberto,amarrado a um lastro de cimento. num canal que o Departamentode Sanidade comeara a drenar devido a um novo plano de combate a insectos. O mais estranho que a loja de DeGamez estivera aberta at ao dia 19 de Agosto. A Polcia estava aprocedera investigaes sobre a identidade do homem que de l fugira.O detective do hotel informara que as roupas pertencentes aMrs. Pollifax continuavam penduradas no armrio-roupeiro doseuquarto, mas que todos os forros tinham sido arrancados, bemcomo os da mala e do travesseiro. O apartamento de Johnnypermanecia intacto, excepto um cofre na cozinha, que foraaberto. . . com nitroglicerina. Carstairs praguejou veementemente. - Eles apanharam Johnny e o cdigo tambm. Mande estetelegrama. ??Lamento informar que a tia Josefina morreu scincohoras. Agradeo acuse imediatamente a recepo." - Tinha deenfrentar o facto da possibilidade de eles terem tambmapanhadoTirpak. - Ligue-me para a Costa Rica. As cinco horas chegou a descrio do homem que estivera naloja de DeGamez. Ningum na vizinhana o vira antes. Carstairsficou pensativo. - S espero estar enganado - disse a Bishop. - Arranje-me o processo 6-X. Uma vez de posse do dossier, Carstairs estudou duas fotografias do mesmo homem: uma delas era uma ampliao, retratando-o de p ao lado de Mo-Ts-Tung, a outra um instantneotirado recentemente em Cuba. - Tirem-lhe os culos, e quem temos ns? - disse eIe. Bishop assobiou. Carstairs acenou com a cabea. - O nosso brilhante e implacvel amigo general Perdido. O homem escolhidopor Mo para a Amrica do Sul, a pessoa responsvel pela aproximao de C?stro com a China Vermelha em desfavor da RssiaVermelha. Agora sabia que eles deviam ter eneontrado Tirpak. - S h uma dbil esperana. Perdido esteve em Cuba nasemana passada, no esteve? - Foi visto l no dia 15 de Agosto - respondeu Bishop. Carstairs disse vagarosamente: -Ele podia ter levado um deles. Johnny ou Tirpak ouMrs. Pollifax. para Cuba. - Olhou para Bishop e teve um sorriso plido. - V almoar, ou seja o que for, est na suahora.Podia trazer-me um caf e um chocolate. Aliviado por se sentir s, Carstairs acendeu um cigarro. Asua face parecia de granito enquanto considerava todas aspossibilidades. Oito meses do valioso trabalho de Tirpak desfeitosemfumo, trs excelentes agentes secretos desaparecidos epresumivelmente mortos. Pensou nos anos que DeGamez e Johnny haviam passado na Cidade do Mxico para obter a necessria reputao que lhes serviria de cobertura do seu verdadeirotrabalho. Mas neste jo?o aconteciam coisas deste gnero. Tirpak, DeGamez e Johnny tinham todos eles sido - usava j o pretritoa=entes experimentados. Conheciam os truques do inimigo, tinham os seus prprios e, se tudo o mais falhasse, sabiam comosuicidar-se rapidamente. Era Mrs. Pollifax que pesava na conscincia de Carstairs. Ela parecera-lhe to exactamenteadequadacom aquele miservel chapu. aqueles pequenos ridculos quelheconferiam tanto carcter. . . Embora lhe tivesse sido confiadaa maisrotineira das misses, o facto que fora enviada sem o mnimode preparao. Nem sequer lhe tinham dado uma cpsula de cianeto. Desconhecia inteiramente c; mundo em que vivia o generalPerdido. Mandara uma ovelha para um covil de lobos - e os lobos no tardariam a devorar a ovelha. "Deus a ajude,?, pensou Carstairs com devoo. - ESTou a pensar se eles vo tentar fazer-nos uma lavagemao crebro - disse Mrs. Pollifax animadamente. - Sabe algumacoisa sobre lava?ens ao crebro, Mr. Farrell`? - Eu. . . no - respondeu Farrell cortesmente. - Podia ser interessante. Estava a lembrar-se do detector de mentiras. A vida tinhafacetas verdadeiramente cientficas nos tempos actuais.Mantinha-se vigilante havia cerca de uma hora, ainda era noite, esentiaque estavam a voar. No tinha os pulsos apertados, mas rodeava-Lhe cada um dos tornozelos uma grilheta de aspecto medieval, ligada por uma corrente a um arco preso ao assento.Embora no fosse desconfortvel, criava nela um desejo obstinadode cruzar as pernas, agora que o no podia fazer. - No respondeu minha pergunta - disse subitamente Farrell. - Acerca dessa livraria em que entrou. Era E1 Papagayo? - Lamento no ter reparado no nome - mentiu com facilidade Mrs. Pollifax. - Nunca reparo. claro que sei quando estou no Macy's ou no Gimbels, mas esta era uma loja muito pequena. Pelos olhos de Farrell perpassou um vislumbre de troa. - L Tma loja muito pequena. . . E o que se passou l? - Eu entrei - disse Mrs. Pollifax - e pedi um livro. O homem que me atendeu era muito amvel e convidou-me a entrar noseu gabinete das traseiras para tomar ch. Depois s me lembrode ter acordado amarrada a si naquela barraca. - Subitamente,recordou-se que a melhor defesa era o ataque. - E como quevoc veio aqui parar? Tambm turista? - Vivo no Mxico desde 1945. Dirijo a Galeria de Artes naCidade do Mxico. Chamo-me John Sebastian Farrell. Mrs. Pollifax sentiu-se aliviada. - Oh, pensei que fosse um traficante de droga ou. . .disse. Ele sorri u. -Tenho feito algumas coisas estranhas na vida, mas aprimeira vez que me tomam por um traficante de droga. Mrs. Pollifax imediatamente pediu desculpa. -Tenho vivido uma vida muito pacata, mas voc parecemesmo ter feito coisas estranhas. - Comea a notar-se? Bem, com quarenta e um anos inevitvel. pena. Mrs. Pollifax no deu ateno troa que a voz delereflectia. - Quais foram algumas das coisas estranhas que fez? - Oh, meu Deus, isso interessa-lhe? No est a pensar escrever um livro sobre as suas viagens, pois no? - Ele continuava a sorrir. Ela ponderou seriamente a pergunta e abanou a cabea. - No, nunca pensi nisso, embora esteja muito interessadaem visitr Cuba. Ainda pensa que para l que nos levam? Farrell respondeu, com impacincia: - muito provvel, mas estamos a levar um tempo dos diabos para l chegar. Desculpe. O que que me tinha perguntado? - Voc ia dizer-me que coisas estranhas fez. Ele sorriu. - A senhora no pensa que eu me atreveria a contar-lhe umaverso integral, pois no? Tenho vagueado pelo Mxico desde1945, altura em que fui desmobilizado dos fuzileiros navais.Tiveum barco em que fazia transbordos de Acapulco, mas perdi-onum jogo de pquer. Tambm dei lies de pintura a principiantes. . . Ocasionalmente frequento a melhor sociedade. - Bem como a pior...? - Mrs. Pollifax esperava que eleno a desapontasse. - Bem como a pior. Durante um ano fiz contrabando de armas para Castro, antes de ele ganhar a revoluo. De certomodosou amigo dele, embora ultimamente no o veja muito - acrescentou num tom malicinso. - E posso acrescentar modestamenteque as mulheres me caem com frequncia nos braos. Mrs. Pollifax no podia permitir que esta fraqueza do seusexo passasse sem defesa. Observou com suavidade: - Como essa chinesa que ia levar ao teatro? Farrell olhou-a estupefacto. - Duquesa. . . Espero que no se importe que eu a trate assim... a senhora surpreende-me. Afinal de contas, no ummembro das DAR '. - No, mas sou membro do clube de jardinagem e. . . - Se o general Perdido soubesse disto, ficava gelado. . . - General qu? - Algum que eu conheo. - Inclinou-se para a janela.Ainda estamos a voar muito alto, pareceu-me ver umas luzes lem baixo. - Acrescentou com brutalidade: - Sabe bem no quese meteu? Sabe quais so as possibilidades a seu favor? Mrs. Pollifax sentia-se cansada de simular inocncia. Respondeu calmamente: - Sei. J percebi que fui raptada por gente perigosa. - sso no a perturba? - perguntou ele. Mrs. Pollifax desejava dizer-lhe que estava, evidentemente,perturbada. Gostaria imenso de estar a voar de regresso a casaepoder mergulhar numa banheira de gua quente. No queria morrer num pas estranho e no alimentava quaisquer iluses dequeMr. Carstairs viria em seu auxlio. Era uma situao de isolamento, mas Mrs. Pollifax estava habituada solido e no atemia.O que a assustava era a ideia de perder a sua dignidade. Nuncaat ento conhecera a crueldade. Se a sua vida tinha determinarem breve, apenas desejava que acabasse com dignidade. Necessitava de muito equilbrio para no revelar falta de frmeza; eraomnimo que os mais velhos podiam fazer pelos mais novos. Oseu olhar caiu no lugar ao lado de Farrell e murmurou: - Olhe, a minha carteira! No ma levaram. Est entalada entre o seu banco e o outro. - Completamente revistada, com certeza. O que que tinhal dentro? - perguntou-lhe enquanto lha passava. Ela sentiu como se a carteira fosse uma prenda de Natal. - Est bastante mais vazia - concordou, abrindo-a. - Oh,que pena, a minha aspirina desapareceu. E o canivete para oBobby, o meu neto, que tem onze anos. - Claro, eles no iam deix-la conserv-lo. - Mas deixram os pensos rpidos e a minha agenda com alapiseira e os btons... e, olhe - exclamou alegremente -,deixaram-me o meu baralho de cartas! - Fraco conforto - resmungou Farrell. - No calcula como elas podem ser reconfortantes - disse-lhe Mrs. Pollifax com o entusiasmo de uma nefita. - J seifazer vinte e duas pacincias. Ajuda-me a descontrair e vaiservir-me de ocupao. - Comeou a dispor cartas em crculono assento a seu lado para fazer uma pacineia. - Tambm deixaram os chocolates - disse distraidamente. - Pode comer um,se quiser. Sem retirar os olhos das cartas, ouviu-o dizer numa voz estranha: - Devamos ter fome, sabe. Devamos mesmo estar esfomeados. - Pois devamos! - Ela franziu as sobrancelhas. - Eu tomei o ch daquele homem, e mais nada at noite, e depois suma fatia de po com uma tortilha. ' lnicais de Daughters ofthe American Revolution (Filhas daRevoluo Americanal. IN. do E.)387 Ele disse calmamente, enrolando a manga da camisa: - Repare se tem marcas de agulha no seu brao. Acho quefomos alimentados com injeces intravenosas, para no Lhemorrermos s mos. - Inclinou-se para a frente e disse em vozbaixa: - O avio que ouvi aterrar no Mxico era um aparelho a hlice. Este em que vamos agora a jacto. Devem ter aterrado emalgum stio e mudado de avio. Acho que estivemos inconscientes durante um dia inteiro, e no apenas algumas horas. Mrs. Pollifax pousou as cartas. - Mas os jactos andam muito depressa. E, se estamos a viajarh tanto tempo. . . Ele fez um gesto de cabea. - No parece que a senhora v vec Cuba. - No vou ver Cuba - repetiu ela. - Mas ento onde que. . . ? - Pensando melhor, era prefervel que essa perguntaficasse sem resposta. Limitou-se a dizer numa voz que tremia ligeiramente: - S espero que Miss Hartshorne se lembre de regaros meus gernios. INDA era noite quando iniciaram a descida, e Mrs. Pollifaxsentiu a mesma emoo de receoso temor que experimentava emcriana, quando o dentista a chamava com um gesto para lhe dizer que chegara a sua vez. Contemplou, perplexa, a paisagemmontanhosa em baixo. - Montanha elevadas - disse Farrell, embora sem acrescentar onde as mesmas poderiam situar-se. - Estamos a aterrarexclamou subitamente. A disperso de luzes aumentou, e subitamente a terra passousob eles com uma velocidade estonteante e o avio rodouviolentamente at parar. Mrs. Pollifax guardou as cartas de jogar nacarteira no momento em que a porta do cockpit se abria, dandopassagem a dois chineses que eles no tinham ainda visto, umdos quais empunhando um revlver. O outro libertou-lhe os tornozelos e apontou aos prisioneiros uma escada que foraencostadaao avio, indicando-lhes que deviam desc-la. Os dois homensque os esperavam na noite opressivamente quente no eramorientais; seriam, segundo Mrs. Pollifax ventilou, possivelmentegregos. Viu o olhar de Farrell passar deles para as montanhas edepois para as estrelas. Perguntou, com ansiedade: - Faz alguma ideia onde possamos estar? Ele respondeu em tom grave: - Se a minha suposio for correcta, Duquesa, devo dizer-lhe: ??Bem-vinda Albnia." -Albnia! - exclamou Mrs. Pollifax, numa voz entrecortada. - Mas eu no sei nada da Albnia! Essa ideia absurda! - No entanto - disse Farrell -, acho que estamos na Albnia. Conduziram-nos para o assento da retaguarda de um automvelcomprido, esbranquiado pela poeira. ??Um Rolls-Royce,?, segredou Farrell, e Mrs. Pollifax acenou delicadamente, em sinaldeaquiescncia. Os dois homens cujo aspecto denunciava anacionalidade grega sentaram-se sua frente, empunhando as armas,enquanto o automvel comeava a rodar, a uma velocidade audaciosa, sobre um terreno extremamente acidentado. Em breve entravam numa cidade, circulando pr entre ruas estreitas. Ascasasque surgiam por breves instantes, luz dos faris, cujostelhadosmal se viam acima de muros altos, com grandes portes deferro,pareciam inspitas. Seguidamente deixaram a cidade, e Mrs.Pollifax constatou que se dirigiam para alcantiladas e escarpadasmontanhas. - Mas porqu a Albnia? - perguntou ela. - Com certezaest enganado ! - Porque no a China, e temos que pensar nas raras partesdo Mundo em que os Chineses so bem recebidos. Aquela cidadetinha um aspecto balcnico. Estas montanhas podem ser os AlpesAlbaneses, e estes homens so com certeza europeus. Mrs. Pollifax concordou. - Eu pensei que fossem gregos. - Se estamos na Albnia, a Grcia fica apenas a algumascentenas de quilmetros - observou Farrell. - A Albnia onico pas onde os Chineses Vermelhos podem entrar e sair sementraves. At 1960, a Rssia foi a irm mais velha da Albnia.Aps a condenao de Estaline, a Albnia ficou muito abaladaaqui so estalinistas, no sei se sabe. Quando a Rssiaretirou oseu auxlio, a China Vermelha instalou-se, aproveitando aoportunidade para estabelecer uma base na Europa. - Mas porqu tanto trabalho para trazer-nos at aqui?perguntou Mrs. Pollifax. - Talvez pensem que ns valemos isso - respondeu Farrell. -Ah murmurou Mrs. Pollifax, calando-se seguidamente. O automvel subiu por uma estrada ngreme que parecia talhada na encosta de uma montanha, at que, finalmente, parou;os dois guardas desceram do automvel e fizeram-lhes snalparasarem. Uma vez c fora, encontraram-se numa extensa depressode rochas cinzentas e solitrias. Aproximava-se o nascer doSole, absurdamente, Mrs. Pollifax lembrou-se de que seu filho Roger lhe dissera que lhe telegrafasse se se visse em apuros. Um dos guardas afastou-se e reapareceu conduzindo quatroburros, fazendo sinal a Mrs. Pollifax, para consternaodesta,que montasse um deles. - No posso - disse ela. - Penso que tem de montar mesmo - observou Farrell, divertido. Ela olhou o animal com averso e este, por sua vez, olhou-acom desconfiana. Farrell avanou para a ajudar, e fizeram-setrguas, porque, mal ela o montou, o burro deixou de a ver.Farrell e os guardas montaram tambm os burros. O caminho era incrivelmente ermo e agreste. O nascer do Soltrouxe consigo o calor, que comeou a incomodar grandementeMrs. Pollifax. Caminhavam havia cerca de uma hora quando, subitamente, Farrell lhe chamou a ateno. - Pst. . . olhe ! Mrs. Pollifax ergueu relutantemente os olhos. Encontravam-senum pequeno planalto inteiramente coberto de pedras,semelhanteao leito seco de um regato. Exactamente beira de umpenhasco,um pouco acima, erguia-se um edifcio de pedra com aspecto defortaleza onde se rasgavam frestas negras em lugar de janelasEnquanto o burro em que ia montada procurava o caminho porentre as pedras, Mrs. Pollifax apercebeu-se de que se dirigiampara um segundo edifcio, precisamente igual ao primeiro, masde menores dimenses. Se viesse como turista, pensou ela melancolicamente, admiraria aquele cenrio agreste e romntico;mas era uma espia americana capturada, e ningum no Mundosabia onde estava. Durante um momento, permitiu-se pensar nosfilhos. Tudo parecia to irreal, reflectiu tristemente. - Fim da jornada - comentou Farrell com secura. - No concordo que deva pensar dessa maneira - declarou390 391A inespernda Mrs. Pollifaxseveramente Mrs. Pollifax. - Sempre achei que, em situaesdifceis, aconselhvel receber cada hora medida que elachega.Mas. . . oh, como eu desejava agora poder tomar um banlo! A porta de ferro do edifcio mais pequeno abriu-se, dandopassagem a um homem com uma espingarda debaixo do brao;Mrs. Pollifax, porm, estava demasiado ocupada em ver-se livredo burro para lhe prestar ateno. Apenas ficou em posiovertical, sentindo todos os ossos doridos, o guarda agarrou-a pelobrao e conduziu-a para o interior do edifcio. A porta encontrava-se num dos extremos de um. rectngulo denove metros; entraram numa sala que ocupava a extremidade doedifcio que dava para o despenhadeiro. Quando observou otrioescuro sua esquerda, Mrs. Pollifax descobriu duas portas deferro que deviam dar acesso a duas celas. Na sala de entradahavia uma secretria, uma cadeira, um frigorfco, uma prateleiracom armas, uma pequena central telefnica e um homem de cabelo grisalho envergando um uniforme, que os saudou rudementeem ingls. - Sou o major Vassovic. - Brandindo uma enorme chave,conduziu-os at porta da primeira cela, que abriu. - Entrem,por favor. -No tem por acaso uma aspirina? - perguntou-lheMrs. Pollifax em voz esperanada. - Tenho a mais ridcula dasdores de cabea. No quero lamentar-me, mas fui drogada duasvezes e a viagem de avio foi exaustiv-a. O major olhou-a estupefacto, aps o que apagou do rostoqualquer expresso. - No tenho ordens para Lhe dar seja o que for. A porta fechou-se com rudo atrs deles e Mrs. Pollifax eomentou: - No sei como que uma aspirina mas a voz desfaleceu-lhe ao aperceber-se do local onde se encontravamencerrados.A cela, cujas dimenses no poderiam ser consideradas exguas,era no entanto iluminada apenas pelas frestas da parede.Estariamcondenados pron-?iscuidade. Em cada um dos extremos da celahavia uma pequena tarimba de ferro, sob cada uma das quais seencontrava um bacio; o mobilirio era completado por duas pequenas mesas; no havia cadeiras, biombos, lavatrio oucabidespara a roupa. - Bem - disse Farrell, sentando-se sobre uma das tarimbas. Fitaram-se num silncio que comeou a tornar-se demasiadolgubre. - Bem - interrompeu bruscamente Mrs. Pollifax, retirandoda carteira as cartas de jogar. - Oh, outra vez no - resmungou Farrell. -Aqui, no. - E porque no`? - insistiu ela, satisfeita por v-lodistradodas suas preocupaes. J fizera trs pacincias quando a porta se abriu e umguardalhe indicou por gestos que devia segui-lo, enquanto Farrellpermaneceria na cela. - Boa sorte, Duquesa - desejou Farrell em tom ligeiro. Mrs. Pollifax no olhou para trs. Os joelhos tremiam-lheenquanto era conduzida para o exterior, sob o sol escaldante,pisando as pedras ardentes, at uma enorme sala de pedra caiadasituada no edifcio de maiores dimenses, onde se encontravamdois homens em uniforme e um outro sentado a uma secretria. - O senor DeGamez balbuciou Mrs. Pollifax. - Contoveio ter aqui`? O dente de ouro dele brilhou num sorriso. - Do mesmo modo que a senhora, Mrs. Pollifax. . . - Excepto - continuou ela - que eu compreendi, logo quevi a gaiola do papagaio vazia, que o senhor no era DeGamez. - Na realidade, sou o general Roul Perdido. Permita-meque lhe apresente o general Hoong, que dirige os. . . uhm. . .estes edifcios. O chins que se encontrava junto da janela inclinou-se. ePerdido continuou: - Sente-se. Mrs. Pollifax, temos assuntos a tratar.Agradvelou desagradavelmente, consoante a sua atitude. ??Lavagem ao crebro?,, pensou Mrs. Pollifax com desdm,subitamente calma. Ultrapassara momentos crticos sem perdera sua dignidade - nascimentos, viuvez. Sabia agora que tudoquanto valia a pena exigia tempo e solido. Disse paraconsigo:??Recuso deixar-me assustar por um homem cuja nica vantagemsobre mim o poder de me tirar a vida.?? Em voz alta disse: - Posso perguntar o que que o forou a raptar-me destamaneira? Ele reclinou-se na cadeira, acendeu um charuto etrespassou-acom um olhar provocador. - Mrs. Pollifax, eu detesto a falsa inocncia. - E eu tenho uma quantidade de queixas a fazer - replicouela friamente. - O senhor obrigou-me a voar atravs do Mundopara me fazer perguntas que poderiam ter sido feitas noMxico.No sei qual o pas para que trabaha, general Perdido, masosseus contribuintes tm todo o direito de estar fu_riosos. A expresso do general tornou-se sombria. - Vejo que vai negar que uma espia americana. . . - Espia? - disse Mrs. Pollifax desdenhosamente. - Ento disso que desconfia? mais uma razo de queixa que tenhocontra si, general. E gostava que me dissesse onde estou. NaA1bnia, no verdade? - No importa - gI-itou ele. - Est longe do seu pas eningum sabe onde est. Tenho mtodos para lhe arrancar a verdade, todos eles dolorosos. E sou extremamente talentoso nessedomnio. - Tenho a certeza de que dos melhores da sua profisso- admitiu ela com acidez -, mas no a considero uma profissomuito digna. O general Hoong virou costas janela e falou rapidamente,aps o que Perdido disse, de m vontade: - Tentemos ser razoveis, Mrs. Pollifax. A senhora visitou aLivraria O Papagaio num dia em que, segundo me disse, o primeiro senor DeGamez Lhe ofereceu um livro? - Sim, ele foi muito amvel. - A este respeito Mrs. Pollifax podia ser inteiramente franca. - Comemos a falar acercado seu papagaio e de eu viajar sozinha. Foi ento que ele medeuo livro. Garantiu-me que eu iria gostar de tazer pacincias.Jexperimentou? O general abriu uma gaveta da secretria, de onde retiroudoislivros. - Ento este o livro sobre pacincias que ele lhe deu? Mrs. Pollifax exelamou indignada: - O qu?! O senhor roubou-me os meus livros! - Sim, mas um deles foi-lhe oferecido por um homem extremamente perigoso. - O general observou-a. - A senhoraest a ser um tudo-nada ingnua, Mrs. Pollifax. At agora nodescobrimos nada. Neste momento basta sabermos que ele Lheofereceu as 77 Maneiras de Fazer Pacincius. Vamos examin-lomuitas outras vezes. Mrs. Pollifax declarou com flrmeza: - Esse livro foi-me oferecido num gesto de amabilidade eparece-me um motivo pouco consistente para justificar o meurapto. Se o senhor pensa que est cheio de mensagens a tintainvisvel, ou seja o que for que actualmente se usa. . . O general interrompeu-a, olhando-a com desagrado. - Se est inocente, escolheu uma manh pouco auspiciosapara visitar a Livraria, Mrs. Pollifax. - Pelo contrrio - replicou ela friamente. - O sol brilhavae eu queria um livro para ler. - Mas a senhora no fez a menor objeco quando eu sugerique tinha uma coisa para l?e dar. Porque aceitou o meu ch?O que esperava de facto? - Uma conversa - respondeu Mrs. Pollifax. - -lhe assimto difcil acreditar`? O meu governo espera que ns sejamosembaixadores itinerantes quando viajamos pelo estrangeiro. Euestava a tentar - acrescentou com ar inocente - conhec-lo melhor. O general Perdido deu vazo aos seus sentimentos c.,.?m umapraga. - Pode voltar para a sua cela. Mrs. Pollifax acenou com a cabea e ergueu-se. - H ainda outra coisa - disse ela. - Seria possvel arranjar-me uma aspirina? FARRELL ps-se de p num salto logo que a porta se fechouaps a entrada de Mrs. Pollifax na cela. - Est bem? - perguntou. A sua preocupao sensibilizou-a. - Estou perfeitamente. Fui interrogada por esse homem queencontrei numa livraria na Cidade do Mxico. - Sentou-se e baralhou as cartas. - Acha que esto a escutar-nos'? - Deve existir qualquer dispositivo de escuta, foi por issoque nos puseram juntos, mas o que a levou a ter semelhanteideia? - Aprende-se muita coisa da vida no cabeleireiro - segredou ela. - Farrell, tenho de lhe pedir desculpa. O motivo porque nos trouxeram para aqui que pensam que eu sou uma perigosa espia americana. - A senhora? - Os cantos dos seus lbios franziram-se numsorriso. - No , pois no? Mrs. Pollifax hesitou. - Num sentido, no... noutro, sim. Mas no sou com certeza perigosa. - Depois, sempre em segredo, contou-lhe a suahistria. - O general Roul Perdido... - lembrou ela. - Vocmencionou uma vez o nome dele, em tom despreocupado, noavio. Conhece-o? - Ningum fala em Perdido em tom despreocupado; se o fiz,estou necessitado de fazer um exame cabea. Ele cruel, depravado, um bastardo... Desculpe. - Um sorrso fez-lhe brilharos olhos. - Duquesa, no sejamos lgubres. Neste momento, asenhora est em vantagem. Ganhou tempo... Oh, oh, c temosoutra vez companhia. A porta abriu-se, dando passagem a um homem com um tabuleiro com comida, seguido por um guarda que dramaticamente osmanteve sob a mira da sua espingarda, atitude que Mrs.Pollifaxconsiderou extremamente incorrecta. Depois de os homens sarem, ela observou a comida, de aparncia estranha, que seencontrava no seu prato e que mais parecia um pedao de borrachaderretida. - Acha que est drogada? - No provvel. Em breve me vo interrogar, e eu de nadalhes serviria se estivesse drogado. Parece uma espcie dequeijo.No mau. Comeram tranquilamente. Havia caf forte e bolos ensopadosem mel. Quando terminaram, Farrell disse: - E agora, Duquesa, tenho uma coisa para lhe contar. Alis, j do conhecimento do general Perdido. Eu tambm trabalhopara Carstairs. - Mrs. Pollifax suspendeu repentinamente arespirao. - Sou agente no Mxico desde 1947, aquando da formao da CIA. Trabalhei uma vez com DeGamez, mas no o viah anos, at que, na tarde do dia 19, recebi uma mensagemloucae falsa, supostamente dele, e fui imediatamente Livraria.Sabe,a mensagem continha uma palavra de cdigo que significa SOS.Ao reagir a essa palavra, tra-me, provando ser exactamentequem eles pensavam. . . um agente que procuravam h anos. Aprimeira coisa que me tiraram foi a cpsula de cianeto quetragosempre comigo. A segunda foi a minha liberdade. Por isso aquiestou, cheio de informaes, um autntico presente de Natal noms de Agosto para o general Perdido. Mrs. Pollifax olhava-o fxamente. - Voc muito corajoso. Ele ergueu uma sobrancelha em ar trocista. - No neste momento, Duquesa. Bem v, eu no posso permitir que o general Perdido me interrogue. Compreende o quetenho que fazer, no verdade? - Que quer dizer com isso? - titubeou Mrs. Pollifax. - Quero dizer que ningum capaz de suportar indefinidamente os mtodos do general. Eu no devo ser levado vivo paraaquele edifcio. Mrs. Pollifax ficou imvel. Farrell comeou a percorrer acelaem ambos os sentidos. - Para mim, faz parte do meu trabalho - disse. - Mas nome conformo com a ideia de a deixar. - No deve de maneira nenhuma preocupar-se comigo. Porfavor. Mas que pensa fazer? Ele encolheu os ombros. - Tentar fugir entre este e o outro edifcio e esperar quemeabatam. Atirar uma pedrada a algum. Ela desviou os olhos para que a sua piedade o no embaraasse. Homens como ele deviam ter morrido ao longo dos anosnos mais excntricos lugares do Mundo, sem que ela suspeitasseda sua existncia. Sentia-se extremamente grata por terconhecidoFarrel 1. - Custa-me francamente abandon-la - continuou ele.Mas Carstairs nunca aprovaria que eu continuasse vivo. Sei demasiado. Ao ouvir a porta abrir-se, apertou-lhe a mo com solenidade.Dois guardas fortemente armados e o major Vassovic tinhamvindo para conduzir Farrell para o outro edifcio. - Que Deus o acompanhe - segredou Mrs. Pollifax. O major Vassovic tossiu. - A. . . bem. . . a ordem foi agora recebida. Uma aspirina,mas tem de ser tomada na minha presena. Venha. Mrs. Pollifax, cuja dor de cabea aumentara, seguiu-o casada guarda. Ele trouxe-lhe um copo de gua e um comprimido.Enquanto o tomava, ela notou nas paredes espingardas e punhaiscom belas ornamentaes de prata. - Deviam figurar num museu de arte - disse ela ao major. - As espingardas compridas chamam-se pushkas - resmungou ele. - E aos punhais chamamos iatags no nosso pas. Havia ainda uma variedade de pistolas e revlveres sem decorao e de aspecto mortfero, mas Mrs. Pollifax ignorou-os,lanando o olhar na direco das trs gavetas colocadas na basedaprateleira das espingardas, na fechadura de uma das quais seviauma chave de lato de caractersticas inconfundveis. Manteveoolhar fixo naquela direco. ??Estou a admirar uma chave delato??, disse para consigo. ??Em breve Farrell assassinado edeixode poder pensar nisso." No teve de esperar muito. Ouviram-segritos dispersos no exterior do edifcio, seguidos do som dodisparo de vrias armas. Mrs. Pollifax colocou cuidadosamente ocopo de gua sobre a secretria do major, notando com prazerque a sua mo no tremia. Ao som dos tiros, o major Vassovic proferiu uma praga,olhou atravs da janela, ordenou ??Volte, volte,? e empurroubrutalmente Mrs. Pollifax atravs do trio para a sua cela. Aportabateu atrs dela, que se encontrou mergulhada em silncio.Mrs. Pollifax sentou-se na tarimba de Farrell e dissecalmamente:??Eu no vi.?? Por qualquer motivo, este facto assumia paraelauma importncia crucial. ??Eu no vi??, repetiu. Procurando nacarteira, retirou desta um leno e assoou-se, irada. Depois,resolutamente, disps as cartas para fazer uma pacincia. O silncio era como uma mortalha na cela ptrea - como amortalha de Farrell, pensou ela amargamente. Depois ouviu umleve rudo na parede atrs de si, como se algum batesseritmicamente na pedra. Recordando-se da segunda porta de ferro notrio exterior, ajoelhou sobre a tarimba e repetiu aspancadas.O som interrompeu-se imediatamente. Depois, quando ela j supunha que deveria tratar-se de algum a reparar a canalizao,ouviu novas pancadas, numa excitada e rpida resposta. ??Estepunho tem uma personalidade prpria??, pensou Mrs. Pollifax,??poisagora responde com alegria??. Sim, com ale?ria. Reflectiu que,seo rudo proviesse de facto de algum, poderiam agora trocarmensagens urgentes em cdigo Morse. Lamentavelmente, noconhecia o alfabeto Morse. Bateu de novo, mas era como comunicar com algum que apenas falasse suali; aps as saudaesiniciais, pouco havia a dizer. Alm disso, o seu espritoestavainteiramente ocupado com Farrell. Tristemente, recomeou a pacincia. Pareceu terem decorrido longas horas quando o edifcio ecooude novo com rudos. Ouviu o som de botas e o major Vassovic agritar ordens em tom rritado, e esperou pelo inevitvel girardachave na fechadura - um som que comeava a recear. Depois, aporta abriu-se. - Farrell! - exclamou, a voz entrecortada. Farrell surgiu amparado por dois guardas, uma das pernaspendente, mutilada, as roupas manchadas de sangue. Ao ouvir ogrito dela, abriu um dos olhos. - Outra vez feito bobo, Duquesa - confessou ele. E, enquanto os homens o largavam sobre a tarimba, acrescentoi? emtom irritado: - Maldito despenhadeiro. Se a senhora saltassedeuma altura de trinta metros, no esperaria morrer? Perdendo a conscincia, tombou para trs, sobre a cama. 5 noite caiu e Mrs. Pollifax continuava sentada ao lado deFarrell, enquanto este dormia embalado por delrios febris.Tinhaa perna partida em dois locais, e ela no tinha gua nemligaduras para o socorrer. Aparentemente, apenas uma bala, alojadanoseu brao direito. acima do cotovelo, o atingira. Elaestancara osangue utilizando o cobertor como torniquete. Quando o generalPerdido chegou com o major Vassovic, estava possuda por umafria e decidida indignao. O major Vassovic colocou a vela que trazia num suporte metlico suspenso na parede; o general olhou para Farrell comdesprezo. - Pedi gua e ligaduras e ainda ningum mas trouxe - disseMrs. Pollifax friamente. - Se me permitida uma sugesto, general, porque que no abate Mr. Farrell? Ele est a fazer umbarulho incomodativo e a manchar de sangue todo o mobilirio. Perdido voltou-se para ela com ar irado. - Est a ser insolente, Mrs. Pollifax. - Ento talvez seja melhor matar-me tambm. Por alguns momentos, pensou que o general lhe ia bater. Desejou que ele o fizesse, to insuportvel era a sua ira. Maseledeu meia volta. - D a esta mulher o que ela quer - ordenou ao major Vassovic. - Talvez ela possa reanimar o prisioneiro para ointerrogatrio. - Aps isto saiu. O major trouxe tiras de pano e um jarro com gua e ficou aolhar, enquanto Mrs. Pollifax humedecia os lbios de Farrell,desapertava o torniquete e removia duas travessas de madeira dasua tarimba. - Que vai fazer agora? - perguntou o major Vassovic comcuriosidade. - Fao teno de Lhe endireitar a perna. Conto com a suaajuda. Ele retorquiu rispidamente: - No tenho ordens. Nenhumas ordens. - E saiu. Mrs. Pollifax sabia que, sozinha, no conseguiria procedercorrectamente. Utilizando os dentes, conseguiu rasgar uma daspernas das calas. Observou a perna, j inchada e vermelha.??No vou desmaiar. No vou desmaiar.,? A porta abriu-se silenciosamente. Um dos guardas apareceucom o dedo nos lbios. - Chamo-me Lulash. - Fechou a porta suavemente. - Omajor j no volta esta noie - disse ele. - J trabalhei numhospital. Posso ajustar-Lhe a perna. Tem muito mau aspecto. Os olhos de Mrs. Pollifax encheram-se de lgrimas. - Ele tentou suicidar-se, Mr. Lulash - explicou ela em vozsufocada. Lulash limitou-se a concordar com um aceno de cabea. - Vou fazer o melhor possvel. Peo-lhe que se sente sobreo peito dele e que o mantenha deitado. Mrs. Pollifax obedeceu desajeitadamente. Dez minutos depoisa perna estava ajustada e Mrs. Pollifax, abalada eimpressionada,observou Lulash aplicar-lhe uma tala feita com as tbuas datarimba. Aps um grito exasperado, Farrell perdera de novo aconscincia. Lulash limpou a testa com um leno sujo. - Ns somos americanos - disse Mrs. Pollifax. - Aqui aAlbnia? O guarda encolheu os ombros. - Ns chamamos-lhe Shqiperia, a Terra da guia da Montanha. Mas a Albnia. - Todos os Albaneses falam ingls to bem como o senhor? - No. Eles escolheram para a Sigurimi - nome da poleiasecreta - aqueles que falam ingls. Mrs. Pollifax balbuciou: - Ento o senhor . . . Ele encolheu os ombros. - Os tempos so difceis. Os que no aceitam ir para a polcia secreta vo trabalhar para as estradas. Britam pedra e notmesperana. - Sinto muito - disse Mrs. Pollifax, incapaz de ver algo naface escura e reservada que explicasse a sua bondade para comFarrell. - Os Albaneses so um povo orgulhoso e cheio de coragem - disse ele. - Mas com pouca sorte. Primeiro fomos governados pelos Turcos, depois pelos Russos, agora pelos Chineses. No sabe nada acerca do nosso pas? - Absolutamente nada, creio. - Tenho um livro que lhe posso mostrar - props ele. o pas mais belo do Mundo. Ah, o seu amigo est agitado.Eu arranjo uma aspirina. Abriu a porta e ficou espera que ela sasse tambm. Surpreendida, Mrs. Pollifax seguiu-o, comovida com a confianadele. Na casa da guarda ele abriu uma gaveta da secretria, deonde retirou um frasco que parecia conter aguardente. O olhardeMrs. Pollifax foi novamente atrado pela prateleira dasespingardas atrs da secretria. A pequena chave de lato continuavanafechadura. Se aquela gaveta continha munies, era possvellevar a chave e esperar poder voltar mais tarde. Ento talvezpudesse tirar uma arma. . . Enquanto Lulash se curvava sobre agaveta inferior da secretria, recuou at sentir nas costas aprateleira das espingardas. s apalpadelas, abriu a gaveta; estavacheia de pilhas de balas, cartuchos e pentes para balas.Voltou afech-la e cerrou a mo sobre a chave. ?.No posso roub-la,?,pensou desoladamente. ??Lulash seria castigado. Sou uma nulidade como agente. Esta gente planeia matar-me e, no entanto,no sou capaz de roubar a chave porque este homem me ajudou.,? Lulash ergueu-se, tendo na mo um frasco de comprimidosbrancos, e ela acompanhou-o de volta cela. - Que aconteceu? - perguntou Farrell em voz trmula. - Este senhor endireitou a sua perna - explicou-lhe ela.Trouxemos-lhe aguardente e aspirina. Pode sentar-se um bocadinho? Ele fez um esforo, apoiando-se num dos cotovelos. - Espero no ter revelado nenhum segredo. Pressinto que tenho estado a falar como um idiota. Ela sorriu levemente. - Mas no como um amigo de Mr. Carstairs. - Quais so as perspectivas? - perguntou em voz entrecortada, deitando-se depois de ter engolido a aspirina com umgrande gole de aguardente. - Negras - respondeu Mrs. Pollifax secamente. - Vocenfureceu o general Perdido ao ferir-se com tanta gravidadequelhe foi impossvel interrog-lo. - E segredou, para que Lulashano pudesse ouvir: - Pode ser aconselhvel continuar a falartoimoderadamente quanto possvel. Lulash deu meia volta para sair. Mrs. Pollifax agarrou-lhe amo. -Obrigada - disse calorosamente. - Agradecemos-Lhemuito. - De nada - murmurou ele, inclinando a cabea e sorrindo. Depois de Lulash ter sado, Mrs. Pollifax sentou-se pesadamente na tarimba. - Parece exausta, Duquesa - observou Farrell. - Por amorde Deus, v dormir. Eu vou tentar limitar os meus delriosc',irante algum tempo. Mrs. Pollifax olhou-o luz trmula e sinistra da vela ecompreendeu que estava a criar uma profunda amizade por ele. Edeitando-se, exausta, adormeceu imediatamente. NO dia 23 de Agosto, encontrava-se no gabinete de Carstairs,alm de Bishop, um outro homem, especialista na poltie deMo Ts-Tung, um dos poucos americanos que conheciam pessoalmente o general Perdido. - No h qualquer indcio de que Farrell ou Mrs. Pollifaxtenham sido levados para Cuba - dizia Carstairs -, embora nose exclua a hiptese de que l estejam. No tenho dvidas, noentanto, de que Perdido no est actualmente em Cuba. Entregou um papel ao perito, cujo nome era Peattie. - Temos conhecimento de que existem duas pistas de aterragem secretas russas no Mxico e, como poder ver neste relatrio, tem sido observada uma certa actividade numa delas naBaixa Califrnia. L Tm quadrimotor russo a hlice aterrounestapista na noite de 19 de Agosto, o dia em yue Perdido seeclipsoue Farrell e Mrs. Pollifax desapareceram. - Umm. . . - murmurou Peattie. - Duas pessoas levadaspara bordo em macas. . . E a bela Miss Willow Lee tambmabandonou a Cidade do Mxico? Carstairs acenou afirmativamente. - Est em Hong Kong. Destino, Pequim. Peattie ficou a cismar. - Detesto dizer-lhe isto, pois penso que alimenta aesperanadesesperada de reaver esses dois agentes. Mas, se o generalPerdido no est em Cuba, receio que tenha ido para a China Vermelha. - Este departamento no alimenta qualquer esperana desesperada - afirmou Carstairs com voz dura. - Farrell e Pollifaxj foram riscados das nossas listas. - Ento, penso que no compreendo - observou Peattie. Carstairs hesitou. - Pode chamar nossa investigao cinquenta por cento deprecauo e cinquenta por cento de escrpulos. No queremosprovocar incidentes internacionais. Temos de ter a certeza dequeessas pessoas esto mortas. Precisamos de terprovas. Peattie concordou. - Vou enviar uns tipos na pista de Perdido. Dentro de algunsdias posso dizer-lhe se ele est ou tem estado na China. Olhoucom curiosidade para Carstairs. - Os cinquenta por cento deescrpulos. . . ? Carstairs suspirou. - Estou a pensar em Mrs. Pollifax. A defunta Mrs. Pollifax,receio bem. Uma senhora agradvel, dos seus sessenta anos, comuma personalidade encantadora. Veio perguntar ao Mason se havia algum trabalho que lhe pudesse ser confiado; ingnua, masto perfeitamente indicada para ayuilo de que eu precisava queadevorei, por assim dizer. - Compreendo - disse Peattie calmamente. - Ela tinha conhecimento dos riscos? -Tinha. Mas partiu sem instrues, nem treino, nem cianeto. E agora preciso de telegrafar famlia a explicarporque que ela no volta para casa; e depois inventar qualquer motivoplausvel para a sua morte no Mxico. - Um acidente de barco, talvez. O Mxico tem-nos ajudadomuito nesse domnio - sugeriu Bishop. Peattie ergueu-se. - Posso prometer-lhes informaes dentro de uma semana.Bem gostava que fosse mais cedo, mas a China ainda se move apasso de boi. - Obrigado. Agradecemos tudo o que vier. Aps a sada de Peattie, Carstairs acendeu um cigarro edisseem tom cansado: - Tirpak est morto. Foi esfaqueado na Guatemala; acaba deser identificado. Bishop suspirou. = O que se chama uma razia. - Ainda h mais. O nosso contacto na Costa Rica reduziu amicrofilme toda a informao que Tirpak lhe levou e queimou ospapis. Seis microfilmes. Tirpak levou-os dentro de um vulgarsobrescrito branco. - Ai! - exclamou Bishop. Carstairs acenou com a cabea. - Penso que ele planeava met-los em qualquer coisa impressa, por exemplo um livro. Acho que conseguiram chegar Livraria O Papagaio e que DeGamez foi morto por essa razo. - Ento, o general Perdido tem agora os microfilmes. . . Carstairs franziu as sobrancelhas. - No tenho a certeza. Nesse caso, porque mantiveram a livraria aberta e passaram uma busca ao quarto de Mrs. Pollifax?Eo facto de terem envolvido tambm Farrell preocupa-me. A suanica ligao com os Chineses era Miss Willow Lee. Ele ignorava tudo acerca de Tirpak e dos microfilmes. Bishop concordou. - Rapt-lo implica desespero. - Pois . por isso que estou relativamente seguro de quePerdido preferiria manter Farrell e Mrs. Pollifax vivosduranteum ou dois dias. E por esta razo, meu caro Bishop, que notenho dormido bem nestas ltimas noites. Os mtodos que o general utiliza para obter informaes no so delicados nemagradveis. - Mas Mrs. Pollifax no tem qualquer informao para dar. - Bishop, voc pensa que Perdido vai acreditar nisso? Seguiu-se um longo silncio. - Bem, se Perdido no tem os microfllmes, j algumacoisa, no acha? Carstairs deu uma curta gargalhada. - Acho. Significa que esto perdidos para todos. Se foram404escondidos num livro que tenha sido vendido na loja de DeGamez, provavelmente algum, neste mesmo momento, est a l-lo,sem fazer a menor ideia de que ele o repo5itrio de segredosque valem oito meses de trabalho e a vida de vrias pessoas. aisso que eu chamo desperdcio. Onde esto os telegramas enviados aos filhos de Mrs. Pollifax? Bishop retirou as cpias da sua pasta. - Esto aqui, Mr. Carstairs. Foram enviados ontem noite daCidade do Mxico para Roger Pollifax em Chicago e Mrs. ConradKempf no Arizona. Carstair5 leu com ironia: DIAS MARAVILHOSOS STOP ADIADOREGRESSO UMA SEMANA OU MAIS STOP MXICO ENCANTADOR STOPBEIJOS PARA TODOS ME. PERDIDO voltou cela na tarde seguinte. Mrs. Pollifax ouvira-o chegar, pelo que ele a encontrou tranquilamente a fazeruma pacincia, enquanto Farrell se agitava febrilmente. - Levem os verdes daqui, por amor de Deus! - gritavaFarrell. O general e Mrs. Pollifax olharam ambos na sua direco, oprimeiro exasperado, ela com admirao. Mrs. Pollifax disse demodo cortante: - Ajustei-lhe a perna, mas a ferida da bala no brao estinfectada. - Mr. Farrell - chamou Perdido com aspereza. - Carmelita? - chamou Farrell com ternura. E depois, emvoz esperanada: - Minha querida? Seguiu-se o som impressionante do punho do general Perdidobatendo no queixo de Farrell. Mrs. Pollifax desviou a vista,pensando: ??No consigo suportar isto.?? Mas haveria, nos minutosseguintes, muito mais a suportar. O general estava decidido ade5cobrir se Farrell simulava o seu delrio. Quando,finalmente,desistiu, Mrs. Pollifax apresentava mais calma do que ele - orosto de Perdido estava desfgurado pela raiva. - Pode dizer a Mr. Farrell que lhe desejo um rpido restabelecimento. - Abriu a porta e depois virou-se num gestoteatral.- Quanto a si, Mrs. Pollifax, causou-me tantos aborrecimentosque a sua prpria existncia me irrita. A porta bateu e s ento ela se atreveu a olhar paraFarrell. - Acho que o general tem visto demasiados filmes de segunda categoria - criticou ela com despreocupao, enquantoLhe apetecia chorar ante o rosto esmurrado de Farrell. Este perguntou calmamente: - O malandro partiu-me o nariz? Mrs. Pollifax sentou-se a seu lado e comearam a observar ascontuses. A lista era animadora: equimoses, dos dentes queabanavam - ambos