A inexorabilidade do reúso potável direto.pdf

download A inexorabilidade do reúso potável direto.pdf

of 20

Transcript of A inexorabilidade do reúso potável direto.pdf

  • A Inexorabilidade do reso potvel diretoThe Inexorability of direct potable reuse

    Ivanildo Hespanhol

    Resumo:

    A poltica de importar gua de bacias cada vez mais distantes para satisfazer o crescimento da demanda co-

    meou h mais de dois mil anos com os romanos, dando origem aos seus famosos aquedutos. A prtica ainda

    persiste, resolvendo, precariamente, o problema de abastecimento de gua de uma regio, em detrimento

    daquela que a fornece. As solues mais modernas em termos de gesto de recursos hdricos consistem em

    tratar e reusar os esgotos j disponveis nas prprias reas urbanas para complementar o abastecimento

    pblico. A prtica de reso para fins no potveis j est consagrada em uma grande multiplicidade de pases

    desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Atualmente, a proposta evoluiu para reso potvel por meio da

    utilizao dos sistemas de distribuio existentes, eliminando os custos associados a linhas paralelas para

    distribuir gua de reso. Os fundamentos ambientais, de sade pblica e gerenciais, assim como os siste-

    mas de tratamento avanados e as tcnicas de certificao da qualidade da gua atualmente disponveis,

    permitem fazer uso de recursos hdricos locais, produzindo gua segura, que no , certamente, propor-

    cionada por sistemas convencionais, tratando gua extremamente poluda. A prtica de reso potvel direto para abastecimento pblico j est estabelecida em diversos estados americanos, na frica do Sul, Austrlia, Blgica, Nambia e Singapura, sem que tenham sido detectados problemas de sade pblica associados. A existncia de precedentes bem-sucedidos, a viso de segurana adicional no abastecimento de gua e a dis-ponibilidade de gua com qualidade elevada so fatores positivos para a aceitao comunitria da prtica de reso potvel direto. Por outro lado, fatores negativos associados percepo e aceitao pblica podem, se no forem adotadas estratgias de comunicao e de educao comunitria, se caracterizar como elementos inibidores da prtica. O maior fator limitante, entretanto, se origina nos rgos reguladores, que insistem em adotar posturas conservadoras, propondo normas irracionalmente restritivas, que apenas contribuem para

    impedir a importantssima prtica de reso de gua no Brasil.

    Palavras-chave: Gesto de recursos hdricos. Sistemas de tratamento avanado. Reso de gua. Reso potvel direto.

    Ivanildo HespanholPh.D. Professor titular do Departamento de Engenharia Hidrulica e Ambiental da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Diretor do Centro Internacional de Referncia em Reso de gua (CIRRA/IRCWR/USP).

    DOI: 10.4322/dae.2014.141

    Data de entrada: 15/05/2013

    Data de aprovao: 04/11/2014

    janeiro abril 2015 Revista DAE 63

    artigos tcnicos

  • Abstract:

    Watershed transposition is a two thousand years policy developed by the Romans to satisfy their continuously gro-

    wing water demand, leading to the construction of an extensive network of aqueducts. The practice remains no-

    wadays, solving the supply problems in one region in detriment of another. The modern solution in terms of water

    resources managements to treat and to reuse wastewater locally available in the urban settings to complement

    public supplies. Non potable reuse is widely applied in a wide range of developed as well as in industrializing coun-

    tries. Presently, the proposal has been evolved to potable reuse by making use of the existing distribution systems,

    eliminating, in this way, the costs associated to parallel lines to supply reuse water. The basic environmental, public

    health and managerial criteria, as well as advanced treatment and water quality certification systems now available

    allow for the use of local water resources to produce safe water, which is, certainly not provided through conven-

    tional systems treating highly polluted waters. Potable direct reuse for public supply has already been established

    in several states of the United States as well in Australia, Belgium, Namibia, Singapore and South Africa, without

    detected health effects associated. Existing well succeeded precedents, the expectancy of an additional security

    on water supply and water quality are important positive factors for the acceptance of direct potable reuse. On the

    other hand negative factors associated to public perception and acceptance, may, if community information and

    awareness is not adequately promoted, be a source of restriction for direct potable reuse. However, the most critical

    negative factors originate from regulatory bodies, by adopting a conservative behavior and proposing irrationally

    restrictive regulations, contributing only for the hindering of the very important practice of water reuse in Brazil.

    Keywords: Water resources management. Advanced treatment systems. Water reuse. Direct potable reuse.

    1 SuStentAbilidAde, RobuStez, ReSilinciA e VulneRAbilidAde O termo sustentabilidade um conceito tc-

    nico/filosfico genrico que, se considerado in-

    dependente de variveis sistmicas especficas,

    no pode ser expresso em termos quantitati-

    vos. Em um sistema de abastecimento de gua,

    a sustentabilidade deve ser interpretada como a

    probabilidade de suprir, permanentemente, de-

    mandas crescentes, em condies satisfatrias.

    As variveis mais importantes que estabelecem,

    ou no, uma condio de sustentabilidade so:

    (i) robustez, refletindo desempenho consistente e

    capacidade de atender a uma demanda crescente

    mesmo em condies de diversos tipos de estres-

    se; (ii) resilincia, ou seja, a habilidade do sistema

    de recuperar seu estado satisfatrio aps sofrer

    impactos negativos, como, por exemplo, a perda

    de capacidade de atendimento de fontes de abas-

    tecimento; e, (iii) vulnerabilidade, isto , a mag-

    nitude da falha de um sistema de abastecimento

    (HASHImOtO et al., 1982).

    Sistemas como o que abastece a Regio metropo-

    litana de So Paulo (RmSP) no so portanto, sus-

    tentveis, porque so pouco robustos e possuem

    resilincia praticamente nula, uma vez que per-

    manecem na dependncia de recursos oriundos

    de bacias que, por sua vez, tambm esto subme-

    tidas a condies extremas de estresse hdrico.

    A cultura de importar gua de bacias cada vez

    mais distantes para satisfazer o crescimento da

    demanda remonta h mais de dois mil anos. Os

    romanos, que praticavam uso intensivo de gua

    janeiro abril 2015Revista DAE64

    artigos tcnicos

  • para abastecimento domiciliar e de suas termas,

    procuravam, de incio, captar gua de mananciais

    disponveis nas proximidades. medida que es-

    tes se tornavam poludos pelos esgotos dispostos

    sem nenhum tratamento ou ficavam incapazes

    de atender demanda, passavam a aproveitar

    a segunda fonte mais prxima e assim sucessi-

    vamente. Essa prtica deu origem construo

    dos grandes aquedutos romanos, dos quais exis-

    tem, ainda, algumas runas, em diversas partes do

    mundo (BOWDOUIN COLLEGE, 2006; SWANSEA

    UNIVERSItY, 2006).

    A sistemtica atual pr-histrica e irracional,

    resolvendo precariamente o problema de abaste-

    cimento de gua em uma regio, em detrimento

    daquela que a fornece. H, portanto, necessida-

    de de adotar um novo paradigma que substitua a

    verso romana de transportar sistematicamente

    grandes volumes de gua de bacias cada vez mais

    longnquas e de dispor os esgotos, com pouco

    ou nenhum tratamento, em corpos de gua ad-

    jacentes, tornando-os cada vez mais poludos

    (HESPANHOL, 2012).

    Como confirmao do critrio de planejamento

    de importar recursos hdricos de bacias distan-

    tes, est em fase de projeto executivo a capta-

    o de gua junto ao reservatrio Cachoeira do

    Frana, no rio So Loureno, Alto Juqui, para

    uma produo mdia de 4,7 m3/s e mxima de

    6,0 m3/s (SABESP, 2011). O sistema adutor, in-

    cluindo as linhas de gua bruta e de gua tra-

    tada, de aproximadamente 100 quilmetros,

    atingindo a RmSP, aps um recalque superior

    a 300 metros. O projeto, alm de envolver os j

    ultrapassados sistemas convencionais de tra-

    tamento, no apresenta quaisquer aspectos de

    viabilidade tcnica, econmica e ambiental, pois

    vai demandar um investimento de 2,2 bilhes de

    reais. Nenhuma considerao adicional foi feita

    pelos tomadores de deciso quanto ao volume

    de esgotos que seria gerado em funo dessa

    nova aduo, ou seja, de aproximadamente 3,8

    m3/s, assumindo-se um coeficiente de retorno

    de 80%, que certamente ser disposto, sem tra-

    tamento, nos j extremamente poludos corpos

    hdricos da RmSP.

    2 ReSo de guA e SuStentAbilidAde Nesse cenrio, uma soluo sustentvel seria a de

    tratar e reusar, para fins benficos, os esgotos j

    disponveis nas reas urbanas para complementar

    o abastecimento pblico. Essa prtica contribui-

    ria substancialmente para o aumento da robustez

    dos sistemas e tornaria o conceito de resilincia

    pouco significativo, uma vez que eliminaria as

    condies de estresse associadas reduo da

    disponibilidade hdrica em mananciais utilizados

    para abastecimento pblico.

    Numa primeira etapa, essa proposta se desenvol-

    veu em termos de reso para usos urbanos no

    potveis. Nos ltimos anos, vem se ampliando no

    sentido de adotar o reso para fins potveis. Esse

    conceito, alm de constituir soluo econmica e

    ambientalmente correta, proporcionar gua se-

    gura, o que no , atualmente, fornecido por sis-

    temas convencionais de tratamento, que tratam

    guas provenientes de mananciais extremamente

    poludos, inclusive com poluentes emergentes.

    As tecnologias modernas de tratamento e de

    certificao da qualidade da gua disponveis

    atualmente tm grande potencial para viabili-

    zar a utilizao de mananciais desprotegidos,

    permitindo, por extenso, o reso direto de gua

    para fins potveis. A prtica do reso potvel

    direto, pelo fato de empregar tecnologia e siste-

    mas de controle e de certificao modernos, pro-

    porcionar, certamente, melhores benefcios em

    termos de sade pblica do que o emprego das

    tecnologias de tratamento convencionais para

    tratar gua oriunda de mananciais extremamen-

    te poludos contendo altas concentraes de es-

    gotos domsticos e industriais.

    janeiro abril 2015 Revista DAE 65

    artigos tcnicos

  • 3 SiStemAS de ReSo PotVelSistemas de reso potvel podem ser concebidos

    como Reso Potvel Indireto Planejado (RPIP) ou

    No Planejado (RPINP) e reso potvel direto.

    3.1 RPinP

    Sistemas de de RPINP, na grande maioria das ve-

    zes inconscientes, so praticados extensivamente

    no Brasil. Exemplos tpicos so os lanamentos

    de esgotos (tratados ou no) e a coleta a jusante

    para tratamento e abastecimento pblico,

    praticados em cadeia, por diversos municpios,

    ao longo do rio tiet e do rio Paraba do Sul. Na

    RmSP, a reverso do corpo central e do brao

    do taquacetuba do reservatrio Billings para o

    reservatrio Guarapiranga tambm constitui

    um sistema de reso de gua para fins potveis,

    o qual no foi concebido dentro dos critrios e

    tecnologias associados s prticas de reso, pois

    as guas coletadas do reservatrio Guarapiranga,

    aps a reverso do reservatrio Billings, so

    tratadas na Estao de tratamento de gua (EtA)

    do Alto da Boa Vista por meio de um sistema

    convencional de tratamento.

    Causa estranheza que o rgo regulador local, ex-

    tremamente vinculado a normas irracionais e ex-

    tremamente restritivas, ignore completamente os

    problemas ambientais e de sade pblica causa-

    dos por essa sequncia de lanamentos de esgo-

    tos brutos e de captao imediatamente a jusante

    para abastecimento pblico de gua.

    Um esquema ilustrativo de sistema de RPINP

    mostrado na Figura 1.

    3.2. RPiP

    Conceitualmente, o RPIP deve ser constitudo por

    um sistema secundrio de tratamento de esgotos,

    geralmente de lodos ativados e, mais moderna-

    mente, de sistemas de biomembranas submersas

    (imBRs), seguido de sistemas de tratamento avan-

    ado e, se necessrio, de um balanceamento qu-

    mico antes do lanamento em um corpo receptor,

    superficial ou subterrneo, aqui designado como

    Atenuador Ambiental (AA), como mostrado es-

    quematicamente na Figura 2.

    Os AAs podem ser corpos hdricos naturais asso-

    ciados aos sistemas de reso potvel direto pla-

    Figura 1: Cenrio tpico de sistemas de reso indireto no planejado efetuados em srie.

    janeiro abril 2015Revista DAE66

    artigos tcnicos

  • nejado, como aquferos confinados, nos quais a

    recarga gerenciada efetuada com os esgotos

    tratados, ou corpos receptores naturais, rios, la-

    gos ou reservatrios construdos para regula-

    rizao de vazes, tomada de gua, gerao de

    energia eltrica ou usos mltiplos, nos quais os

    esgotos tratados so lanados e posteriormen-

    te captados para reso indireto. Os AAs, tanto

    subterrneos quanto superficiais, tm o objetivo

    de, por efeitos de diluio, sedimentao, adsor-

    o, oxidao, troca inica etc., atenuar as baixas

    concentraes de poluentes remanescentes dos

    sistemas avanados de tratamento utilizados. A

    legislao do estado da Califrnia (CDPH, 2008)

    para recarga gerenciada de aquferos (que pode-

    ria ser avaliada e adaptada para condies brasi-

    leiras), por exemplo, estabelece uma reteno de

    seis meses, baseada na hiptese de que cada ms

    de reteno proporciona a reduo de uma ordem

    de magnitude (99%) de vrus, obtendo no perodo

    total uma reduo correspondente a seis ordens

    de magnitude (99,9999%).

    Os objetivos bsicos dos AAs so:

    proporcionar diluio e estabilizao dos conta-

    minantes ainda existentes no efluente tratado;

    proporcionar uma barreira adicional de trata-

    mento para organismos patognicos e/ou ele-

    mentos-traos, por meio de sistemas naturais;

    proporcionar tempo de resposta em caso de

    mau funcionamento do sistema avanado

    de tratamento;

    proporcionar percepo pblica de que ocorre

    um aumento da qualidade da gua;

    proporcionar ao pblico consumidor a percep-

    o de que ocorre uma dissociao entre esgo-

    to e gua potvel.

    O reso potvel direto planejado difcil de ser

    aplicado nas condies atuais brasileiras, devido

    s seguintes caractersticas tcnicas, ambientais,

    legais e institucionais:

    os corpos receptores superficiais que poderiam

    operar como AAs so geralmente poludos,

    no possibilitando os efeitos purificadores

    secundrios desejados. Na realidade, o oposto

    Figura 2 - RPIP.Fonte: Adaptado de Tchobanoglous et al. (2011).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 67

    artigos tcnicos

  • ocorreria, pois efluentes altamente purificados

    por processos avanados de tratamento seriam

    contaminados, em face dos elevados nveis de

    poluio de grande parte dos corpos hdricos;

    por desconhecimento da importncia e

    benefcios inerentes, a prtica de recarga

    gerenciada de aquferos formalmente

    rejeitada pelos legisladores e por alguns rgos

    de fomento, que vm continuamente recusando

    o desenvolvimento de estudos e projetos que

    dariam subsdios para o desenvolvimento de

    uma norma e de cdigos de prtica nacionais

    sobre o tema (HESPANHOL, 2009). Por essa

    razo, no h no Brasil possibilidade atual de

    utilizar aquferos subterrneos como AAs;

    efluentes lanados em corpos receptores,

    superficiais ou subterrneos, no passam

    automaticamente a ser do domnio das

    entidades ou companhias de saneamento

    que procederam ao tratamento e respectiva

    descarga. Uma vez lanados ao meio

    ambiente, a captao correspondente, total

    ou parcial, fica submetida aos critrios de

    outorga e respectiva cobrana pelo uso da

    gua. De maneira geral, as companhias de

    saneamento no faro grandes investimentos

    em sistemas de tratamento para obter uma

    gua de qualidade elevada sobre a qual no

    teriam domnio automtico. Apenas quando

    ocorrerem condies logsticas especiais, ou

    seja, quando a captao outorgada for efetuada

    muito prxima aos pontos de lanamento ou

    quando o reservatrio que recebe os efluentes

    tratados for operado pela prpria companhia

    de saneamento que efetua o reso, poder

    o investidor auferir os benefcios do elevado

    grau de tratamento conferido a seus efluentes,

    para implementar sistemas de RPIP.

    Verifica-se, portanto, que a implantao de siste-

    mas de RPIP no tem, atualmente, condies tc-

    nicas e econmicas para ocorrer no Brasil. No fu-

    turo, seria possvel que essa modalidade de reso

    pudesse vir a ser implantada, caso fosse promul-

    gada legislao nacional sobre recarga gerencia-

    da de aquferos e/ou a obrigatoriedade de que os

    esgotos s podem ser lanados em corpos super-

    ficiais aps nveis de tratamento superiores aos

    secundrios, hoje adotados apenas em pequena

    parte do pas.

    H uma enorme gama de sistemas de RPIP, tan-

    to experimentais quanto pblicos, operando em

    diversos pases. Um sistema administrado pela

    Companhia Intermunicipal de gua Veurne-

    Ambacht (IWVA), em Koksijde, no extremo nor-

    te da Blgica, est em operao desde julho de

    2002. A Estao de tratamento de Efluentes (EtE)

    de Wulpen, constituda por um sistema de lodos

    ativados, foi construda em 1987 e reformada em

    1994 para proporcionar remoo de nutrientes.

    Seu efluente encaminhado estao de trata-

    mento avanado de torreele, na qual passa por

    unidades de ultrafiltrao (ZeeWeed, ZW 500C

    da Zenon) e, em seguida, por unidades de osmose

    reversa (30LE-440 da Dow Chemical). O efluente

    da EtA de torreele , aps um transporte de apro-

    ximadamente 2,5 quilmetros, infiltrado no aqu-

    fero arenoso, no confinado, de Saint Andr, com

    o objetivo de remover organismos patognicos e

    traos de produtos qumicos que possam ter ul-

    trapassado a barreira de osmose reversa. A gua

    recuperada do aqufero a distncias variando en-

    tre 33 e 153 metros do ponto de recarga, por meio

    de 112 poos, a profundidades variando entre 8 e

    12 metros. O extensivo sistema de monitoramen-

    to efetuado mostrou a excelente qualidade da

    gua potvel produzida. As anlises efetuadas em

    2007 nos efluentes do sistema de osmose reversa

    indicaram a ausncia de produtos farmacuticos

    quimicamente ativos e de disruptores endcrinos

    acima dos limites de deteco de 0,5 a 10 ng/L

    (VAN HOUttE; VERBAUWHEDE, 2008; VANDEN-

    BOHEDE et al., 2008).

    janeiro abril 2015Revista DAE68

    artigos tcnicos

  • Um dos maiores e mais conhecidos sistemas de

    RPIP o de Orange County, situado em Fountain

    Valley, na Califrnia. Seu efluente encaminhado,

    sem desinfeco, estao de tratamento avan-

    ado de Water Factory 21, pertencente ao Orange

    County Water District, cuja produo de apro-

    ximadamente 82 milhes de metros cbicos por

    ano. O sistema antigo de tratamento, composto

    por sistema de coagulao/floculao com cal,

    extrao de amnia, recarbonatao, filtrao,

    adsoro em carvo ativado, desinfeco e osmo-

    se reversa (tCHOBANOGLOUS; BURtON, 1991),

    foi substitudo, a partir de 2008 e aps extensivos

    estudos pilotos, pelo sistema apresentado na Fi-

    gura 3. Parte da gua produzida dirigida s ba-

    cias de infiltrao de Kraemmer e miller e parte,

    aos poos de injeo, utilizados para evitar a pe-

    netrao da cunha salina no aqufero costeiro, ao

    longo da Ellis Avenue.

    3.3 Reso potvel direto

    Reso potvel direto consiste no tratamento

    avanado de efluentes domsticos e sua intro-

    duo em uma EtA cujo efluente adentra, dire-

    tamente, um sistema pblico de distribuio de

    gua, sem que ocorra a passagempor AAs, tanto

    superficiais quanto subterrneos. O esgoto, aps

    tratamento avanado, poder ser introduzido di-

    retamente em uma EtA ou em um reservatrio de

    mistura a montante dela, quando vazes comple-

    mentares, tanto de origem superficial quanto sub-

    terrnea, compem a vazo total a ser tratada no

    sistema de reso.

    Figura 3 - Orange County Water District, Fountain Valley, CA. Fonte: Adaptado de Tchobanoglous et al., (2011).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 69

    artigos tcnicos

  • Figura 4 - Reso potvel direto.

    Conforme mostrado na Figura 4 aps tratamento

    secundrio (sistemas convencionais ou sistemas

    membrane Bio Reactor - mBR), os esgotos pas-

    sariam por cmara de equalizao, por um siste-

    ma de tratamento avanado e por uma eventual

    cmara para balanceamento qumico, seguida

    de reservatrio de reteno, antes de serem en-

    caminhados EtA, aps mistura a ser efetuada

    com guas superficiais e/ou subterrneas.

    A necessidade de balano qumico dever ser ve-

    rificada quando no ocorrer a complementao

    com fontes superficiais ou subterrneas ou quan-

    do a porcentagem de gua de reso for bastante

    elevada. Nesse caso, pode ser conveniente efetuar

    a remineralizao da gua para evitar problemas

    de sade pblica, melhorar o gosto e prevenir cor-

    roso a jusante.

    O reservatrio de reteno pode ser natural (um

    pequeno lago ou reservatrio isolado) ou cons-

    trudo. Deve ser adequadamente projetado para

    servir como um sistema intermedirio entre o

    sistema de tratamento de esgotos e o sistema de

    tratamento de gua potvel. Se o sistema envol-

    ver um grau significativo de variabilidade no sis-

    tema de tratamento de esgotos, esse reservat-

    rio dever ser de grandes dimenses, permitindo

    tempo suficiente para responder s eventuais

    deficincias do processo e efetuar uma certi-

    ficao extensiva do efluente produzido. Caso

    apresente um elevado grau de confiabilidade, o

    reservatrio de reteno poder ter dimenses

    Fonte: Adaptado de Tchobanoglous et al., (2011).

    janeiro abril 2015Revista DAE70

    artigos tcnicos

  • reduzidas ou mesmo no ser includo no sistema

    de reso.

    Os objetivos bsicos dos reservatrios de reten-

    o e certificao so:

    compensar a variabilidade entre a produo e

    a demanda de gua;

    compensar a variabilidade da qualidade da

    gua produzida (praticamente desnecessrio

    com sistemas avanados de tratamento);

    prover um mnimo de tempo para detectar

    e atuar sobre as eventuais deficincias de

    processo antes da introduo da gua tratada

    no sistema de distribuio.

    Alm disso, devem ser projetados e construdos

    com elevado nvel de segurana estrutural e am-

    biental, prevenir poluio externa, evitar perdas

    por evaporao, dispor de sistemas hidrulicos

    capazes de efetuar descargas rpidas quando ne-

    cessrio e dispor de instalaes para amostragem

    e monitoramento.

    A Figura 5 mostra, esquematicamente, um siste-

    ma de certificao que inclui trs reservatrios

    dispostos em srie, cada um com volume de gua

    potvel equivalente a 12 horas de produo do

    sistema avanado de tratamento (AtSE, 2013).

    4 tecnologiA diSPonVel PARA ReSo PotVel diReto

    A questo adjacente que ainda perdura em mui-

    tos setores conservativos se h, atualmente,

    disponibilidade de tecnologia adequada (ope-

    raes, processos unitrios e sistemas integra-

    dos) e tcnicas de certificao da qualidade da

    gua que permitam produzir, consistentemen-

    te, gua segura a partir de esgotos domsticos,

    respeitando critrios econmicos e de proteo

    Figura 5 - Reservatrio de reteno e de certificao.Fonte: Adaptado de ATSE (2013).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 71

    artigos tcnicos

  • da sade pblica dos consumidores. Em seguida

    so apresentados, de maneira resumida, trs pro-

    cessos unitrios bsicos que, em conjuno com

    processos tradicionais, como coagulao/flocu-

    lao, filtrao, desinfeco etc., podem compor

    sistemas avanados de tratamento, que devem

    ser avaliados com o objetivo de produzir consis-

    tentemente gua de reso para fins potveis,

    em sistemas diretos.

    4.1 operaes e processos unitrios potenciais

    Os processos ou sistemas unitrios que podero ser

    utilizados para compor sistemas avanados de tra-

    tamento para reso so basicamente os seguintes:

    a. sistemas de membranas: os poluentes qumi-cos tradicionais e emergentes, mesmo os de

    baixa massa molecular, como os disruptores

    endcrinos, assim como organismos patog-

    nicos de dimenses muitos pequenas, como

    os oocistos de Cryptosporidium spp., podem

    ser efetivamente removidos por sistemas de

    membrana de ultrafiltrao, nanofiltrao e

    osmose reversa. A Organizao mundial da

    Sade (OmS) avalia que, dependendo dos tipos

    de membrana utilizados e de suas caractersti-

    cas operacionais, a remoo mxima de vrus,

    bactrias e protozorios pode ser superior a or-

    dens de magnitude 6,5, 7 e 7, respectivamente

    (WHO, 2011);

    b. carvo biologicamente ativado: unidades de carvo biologicamente ativado so sistemas

    utilizados em tratamento avanado de gua,

    principalmente para remover material org-

    nico (geralmente biodegradveis), material

    no orgnico (compostos estveis e de difcil

    degradao) e organismos patognicos, conti-

    dos em guas superficiais ou subterrneas. A

    remoo de contaminantes processada por

    meio de trs mecanismos bsicos: biodegra-

    dao, adsoro de micropoluentes e filtrao

    de slidos suspensos (ASANO et al., 2007). O

    biofilme formado nos poros e superfcie do

    carvo ativado (em p ou granular) consome

    a matria orgnica, produzindo, como subpro-

    dutos, gua, dixido de carbono, biomassa e

    molculas orgnicas simples. A promoo da

    atividade biolgica efetuada pela ao de um

    oxidante forte, geralmente oznio, que apli-

    cado na entrada da unidade filtrante;

    c. processos oxidativos avanados (POAs): en-

    volvem a gerao do radical livre hidroxila

    (OH), um oxidante forte com capacidade de

    oxidar compostos que no so passveis de ser

    oxidados por oxidantes convencionais, como

    oxignio, oznio e cloro. (tCHOBANOGLOUS et

    al., 2003). A importncia de POAs em sistemas

    de reso potvel direto vinculada ao fato de

    que mesmo efluentes de sistemas de trata-

    mento tercirio (inclusive permeados de siste-

    mas de osmose reversa) podem conter traos

    de compostos orgnicos naturais ou sintticos

    (ASANO et al., 2007).

    4.2 Sistemas avanados de tratamento para reso potvel direto

    O sistema avanado de tratamento dever ser

    concebido em funo das caractersticas do esgo-

    to a ser tratado e da qualidade de eventuais fon-

    tes adicionais de gua que sero tratadas na EtA.

    Dependendo da qualidade dessas fontes extras,

    (presena de produtos qumicos e de organismos

    patognicos, como oocistos de Cryptosporidium

    spp.), a EtA dever, tambm, conter sistemas

    avanados de tratamento, como ultrafiltrao

    e POAs.

    O sistema de tratamento avanado a ser constru-

    do (aps tratamento convencional por sistemas de

    lodos ativados ou equivalentes) dever integrar os

    conceitos de barreiras mltiplas, sendo impres-

    cindvel executar estudos pilotos para identificar a

    consistncia na produo de efluentes adequados,

    fornecer parmetros de projeto realistas, identifi-

    car problemas de operao e manuteno e avaliar

    os custos associados.

    janeiro abril 2015Revista DAE72

    artigos tcnicos

  • Considerando a elevada capacidade de remo-

    o de poluentes crticos dos processos unitrios

    descritos, os sistemas de tratamento para reso

    potvel direto a ser considerados para avaliao,

    em funo de efluentes especficos e de caracte-

    rsticas locais, so os quatro sistemas esquemati-

    zados na Figura 6.

    Os sistemas (a) e (b), que utilizam efluentes de

    sistemas de tratamento de esgotos por lodos

    ativados, necessitam de cmaras de equalizao

    devido variao de qualidade dos efluentes pro-

    duzidos, principalmente quando so empregados

    sistemas de aerao prolongada. O sistema (a)

    composto por unidades de osmose reversa (com

    pr-tratamento por ultrafiltrao) e de POA, por

    meio de UV/H2O

    2. Como nos demais sistemas

    mostrados na Figura 6, o efluente tratado passa

    pelo reservatrio de reteno/armazenamento/

    certificao, pela cmara de mistura e, finalmen-

    te, pela EtA, produzindo gua potvel. O sistema

    (b) emprega unidades de ultrafiltrao, carvo

    biologicamente ativado com oznio, nanofiltra-

    o e POA, por meio de de UV/H2O2. Os sistemas

    (c) e (d) integram os mesmos processos unitrios

    de tratamento, mas efetuam o tratamento bio-

    lgico mediante sistemas mBR com membranas

    de ultrafiltrao. Assim, no necessitam, devido

    consistncia de qualidade proporcionada pelas

    unidades de ultrafiltrao, de cmaras de equali-

    zao. O sistema (c) integra, aps o sistema mBR,

    unidades de osmose reversa e de POA, por meio

    de UV/H2O2; j o sistema (d) composto por car-

    vo biologicamente ativado com ozona, nanofil-

    trao e POA, por meio de UV/H2O

    2.

    Figura 6 - Sistemas avanados de tratamento para reso potvel.Fonte: Adaptado de Leverenz et al. (2011) e Tchobanoglous et al. (2011).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 73

    artigos tcnicos

  • Figura 7 - Estao de tratamento de Goreangab, em Windhoek, Nambia, para reso potvel direto, remodelada em 1997.

    5 A exPeRinciA mundiAl em ReSo PotVel diReto Assim como os sistemas de RPIP, h uma significativa quantidade de sistemas de reso potvel direto,

    tanto experimentais em operao, implantados quanto em diversos estados americanos, na frica do Sul,

    Austrlia, Blgica, Nambia e Singapura, sem que tenham sido detectados problemas de sade pblica

    associados. Alguns desses exemplos so mostrados a seguir.

    Denver, Colorado, Estados Unidos

    O projeto de demonstrao de reso potvel di-

    reto da cidade de Denver operou no perodo de

    1985 a 1992 e teve como principal objetivo ava-

    liar os problemas potenciais de sade pblica que

    poderiam ocorrer. O sistema, alimentado com es-

    gotos secundrios sem desinfeco, foi projetado

    Windhoek, Nambia

    O municpio de Windhoek, com aproximadamente

    250.000 habitantes (censo de 2001), est situado

    na Nambia, sudoeste da frica, ao sul do deserto

    do Saara. O reso potvel direto vem sendo prati-

    cado h mais de 40 anos, sem que problemas de

    sade pblica associados gua potvel tenham

    sido identificados (VAN DER mERWE et al., 2008).

    dentro do conceito de barreiras mltiplas monta-

    das em linhas paralelas para permitir manuteno

    adequada e dar continuidade operao quando

    da ocorrncia de eventuais falhas em processos

    e operaes unitrias (Figura 8). Foi efetuado um

    extensivo monitoramento da qualidade da gua

    produzida, utilizando amostras compostas em pe-

    Alm de um completo sistema de monitoramento da

    qualidade da gua, utilizado o princpio de pontos

    crticos de controle (ABNt, 2002; DAmIKOUKA et al.,

    2007), o que traz uma maior segurana de sade

    pblica aos usurios.

    O esquema do sistema avanado atual, da EtA de

    Goreangab, aps a ltima ampliao efetuada em

    1997, mostrada na Figura 7.

    Fonte: Adaptado deVan Der Merwe et al. (2008).

    janeiro abril 2015Revista DAE74

    artigos tcnicos

  • Cloudcroft, Novo Mexico, Estados Unidos

    A pequena vila de Cloudroft se localiza no estado

    do Novo mxico, ao sul do municpio de Albuquer-

    que. tem uma populao de aproximadamente

    850 habitantes , que cresce para mais de 2.000 du-

    rante fins de semana e feriados. Nessas ocasies,

    a demanda de gua passa de aproximadamente

    680 m3/dia para um pico prximo a 1.360 m3/dia.

    Visando a eliminar o transporte de gua por meio

    de caminhes-pipa durante os picos de consumo,

    a comunidade decidiu aumentar a disponibilida-

    de de gua mediante um sistema de reso potvel

    direto, utilizando os esgotos domsticos produzi-

    dos localmente. O sistema de tratamento adota-

    do, mostrado na Figura 9, inclui em uma primeira

    fase um reator mBR para tratamento secundrio

    dos esgotos, desinfeco, osmose reversa e um

    sistema de POA. Seu efluente recebe aproxima-

    damente 51% (do total produzido) de gua bruta

    oriunda de guas superficiais e de fontes subter-

    rneas locais. A mistura mantida em um reser-

    vatrio durante aproximadamente duas semanas,

    passando, em seguida, por uma segunda bateria

    de unidades de tratamento, incluindo ultrafiltra-

    o, desinfeco por radiao ultravioleta, carvo

    ativado e desinfeco final com cloro.

    Figura 8 - Estao experimental de tratamento de Denver, Colorado - reso potvel direto

    rodos de 24 horas e avaliando todas as variveis

    de qualidade regulamentadas na poca. Embora

    no perodo dos testes ainda no se tivesse conhe-

    cimento de poluentes emergentes que hoje so

    encontrados em mananciais de todo o mundo, a

    pesquisa evidenciou que a gua produzida apre-

    sentava qualidade semelhante gua potvel dis-

    tribuda em Denver e atendia a todos os padres

    de qualidade de gua da Agncia de Proteo

    Ambiental dos Estados Unidos (EPA), da Comuni-

    dade Europeia e das diretrizes da OmS (Asano et

    al, 2007).

    Fonte: Adaptado de Asano et al. (2007).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 75

    artigos tcnicos

  • Figura 10 - Big Springs, Texas.

    Figura 9 - Sistema de Cloudcroft, Novo Mxico.

    Big Springs, Texas, Estados Unidos

    Embora o reso de gua seja praticado na regio

    h muito tempo, o Colorado River Water District,

    que abastece vrias comunidades da regio, in-

    clusive Big Springs, tomou recentemente a deci-

    so de reciclar 100% da gua, durante 100% do

    tempo. O primeiro projeto de reso associado a

    essa diretriz foi o de Big Springs, que est ainda

    em fase de implementao. Conforme mostrado

    na Figura 10, o efluente do sistema convencional

    de lodos ativados existente recebe cloro e passa

    por um filtro de areia e por desclorao. Passa, em

    seguida, por um sistema de tratamento avanado,

    constitudo por microfiltrao, osmose reversa e

    por um sistema de POA. O efluente purificado por

    meio desse sistema encaminhado a um reserva-

    trio de mistura com gua bruta proveniente do

    reservatrio Spencer e do reservatrio thomas.

    A gua , finalmente, captada no reservatrio

    de mistura, passando, em seguida, por um siste-

    ma de tratamento fsico-qumico constitudo por

    coagulao/floculao/sedimentao, filtrao e

    desinfeco com cloro. O efluente desse sistema

    adentra, diretamente, no sistema de distribuio

    de gua de Big Springs.

    Fonte: Adaptado Tchobanoglous, et al., (2011).

    Fonte: Adaptado Tchobanoglous, et al., (2011).

    janeiro abril 2015Revista DAE76

    artigos tcnicos

  • Beaufort West, frica do Sul

    A estao de tratamento avanado de Beaufort

    West recebe efluentes tratados por sistemas ter-

    cirios convencionais das EtEs Northern e Kwa

    mashu, tendo sido dimensionada para uma vazo

    de 2.100 m3/dia (AtSE, 2013). O sistema, compos-

    to por ultrafiltrao, osmose revers, POA (per-

    xido de hidrognio e ultravioleta) e desinfeco

    por cloro, produzir 1.000 m3/dia, que sero mes-

    clados com gua tratada pela EtA local de 4.000

    m3/dia, produzindo, portanto, uma vazo total de

    5.000 m3/dia (Figura 11).

    Figura 11 - Sistema de Beaufort West, frica do Sul.

    6 FAtoReS PoSitiVoS PARA imPlementAo do ReSo PotVel diRetoEm funo do cenrio crtico descrito, ine-

    vitvel que, em um futuro muito prximo, no

    haja outra soluo que no seja a de substituir

    mecanismos ortodoxos de gesto da gua no

    setor urbano por novos paradigmas, para poder

    assegurar a sustentabilidade do abastecimento

    de gua, tanto em termos de qualidade quanto

    de quantidade. A mais importante misso

    dessa mudana de paradigma est associada

    universalizao da prtica de reso de gua

    e, mais especificamente, da prtica de re-

    so potvel direto, utilizando apenas as redes

    de distribuio de gua atualmente existentes

    e suas ampliaes.

    As razes bsicas e os fatores positivos que co-

    laboraram para essa mudana significativa nos

    dogmas vigentes de gesto da gua so, basi-

    camente, as seguintes:

    os mananciais para abastecimento de gua es-

    to se tornando cada vez mais raros, mais dis-

    tantes e mais poludos, tornando-se invivel

    a sua utilizao, como mostrado no primeiro

    caso relacionado;

    o RPINP, extensivamente praticado no Brasil,

    uma prtica prejudicial tanto para o meio am-

    biente quanto para a sade pblica de usurios

    de sistemas de distribuio de gua tratada por

    meio de sistemas convencionais;

    a implementao de sistemas de RPIP parece

    ser, atualmente, de pequena viabilidade nas

    condies brasileiras, uma vez que corpos re-

    ceptores superficiais, que poderiam operar

    como AAs, so, como mencionado na seo

    3.2, geralmente poludos, no possibilitando

    os efeitos purificadores secundrios deseja-

    dos. Da mesma forma, a utilizao de aquferos

    como AAs tambm no pode ser realizada na

    presente conjuntura nacional, uma vez que a

    Fonte: ASTE (2013).

    janeiro abril 2015 Revista DAE 77

    artigos tcnicos

  • prtica de recarga gerenciada de aquferos no

    , ainda, tecnicamente reconhecida no Brasil;

    com a tecnologia avanada hoje disponvel,

    possvel remover contaminantes-traos org-

    nicos e inorgnicos e organismos patognicos

    que no so removidos em sistemas tradicio-

    nais de tratamento de gua;

    no haver necessidade de construir um sis-

    tema de distribuio separado para fornecer a

    gua de reso, podendo ser utilizados os siste-

    mas de distribuio j existentes e suas exten-

    ses. No Brasil, no dispomos, infelizmente,

    de dados unitrios de tratamento e de distri-

    buio, mas a avaliao vigente de que os

    sistemas de distribuio implicam custo equi-

    valente a 2/3 do total dos custos associados a

    tratamento e distribuio. Uma avaliao efe-

    tuada nos Estados Unidos (tCHOBANOGLOUS

    et al., 2011) concluiu que o custo total de um

    sistema paralelo de distribuio de gua pot-

    vel, tratada em nvel avanado, oscilaria entre

    0,77 R$/m3 e 4,08 R$/m3 (0,32 US$/m3 a 1,70

    US$/m3), enquanto que um sistema tpico de

    tratamento avanado, incluindo sistemas de

    membranas e POA, oscilaria entre 1,4 R$/m3 a

    R$ 2,33/m3 (US$0,57/m3 a 0,97 US$/m3 ). A eli-

    minao dos custos associados construo

    de uma rede paralela para a distribuio de

    gua de reso compensaria os custos relativa-

    mente maiores (em relao a sistemas de tra-

    tamento), que seriam atribudos ao sistema de

    tratamento avanado. Em alguns casos, como,

    por exemplo, na RmSP, que depende de impor-

    tao de guas de bacias distantes, ter-se-ia,

    ainda, o benefcio de evitar a construo de

    adutoras de gua bruta, que implicam a apli-

    cao de recursos elevados para construo,

    manuteno e recalque;

    gua de alta qualidade seria disponibilizada

    junto aos centros de consumo, sem a necessida-

    de de reverso de bacias. Seria utilizada a gua

    disponvel localmente, sem prejudicar o abas-

    tecimento de gua em bacias em condies de

    estresse crtico, como, por exemplo, ocorre na

    RmSP em relao bacia do rio Piracicaba;

    a tecnologia atual suficiente para substituir

    AAs por reservatrios de reteno, em que a

    gua tratada em nvel avanado seria ade-

    quadamente certificada antes da mistura com

    outras fontes de gua, como mostrado nas

    Figuras 4 e 5;

    a existncia de precedentes bem-sucedidos,

    a viso de segurana adicional no abasteci-

    mento de gua e a disponibilidade de gua

    com qualidade elevada produzida por sistemas

    avanados de tratamento so fatores positi-

    vos para a aceitao comunitria da prtica do

    reso potvel direto.

    7 FAtoReS PotenciAlmente inibidoReS do ReSo PotVel diRetoApesar da grande gama de fatores positivos aci-

    ma relacionados a efetiva implementao de sis-

    temas de reso potvel direto, est fortemente

    condicionada aos fatores seguintes: (i) restries

    legais/institucionais, associadas ao Princpio da

    Precauo e legislao vigente sobre crimes

    ambientais, e; (ii) aspectos psicolgicos e culturais

    associados percepo e aceitao da prtica do

    reso de gua.

    7.1 o Princpio da Precauo

    O princpio da precauo uma diretriz que busca

    regular a participao do conhecimento tcnico

    e cientfico e do senso comum na previso e no

    combate a potenciais degradaes ambientais,

    causadas por processos tecnolgicos tradicionais

    ou emergentes. Deve ser aplicado de forma cons-

    trutiva, elaborando, numa primeira fase, a an-

    lise do risco por meio da aplicao do conjunto

    de conhecimentos disponveis na identificao de

    potenciais efeitos adversos, assim como dos be-

    nefcios ambientais, econmicos, tcnicos e so-

    janeiro abril 2015Revista DAE78

    artigos tcnicos

  • ciais que proporciona (HESPANHOL, 2009; PAttI

    JNIOR, 2007).

    A relao entre a cincia e a precauo uma

    importante questo conceitual para o gerencia-

    mento prtico de riscos tecnolgicos. O conheci-

    mento adequado do problema para a tomada de

    decises requer uma srie de atributos, entre os

    quais, o exame crtico, a transparncia, o contro-

    le de qualidade, a reviso pelos pares e a nfase

    num aprendizado permanente. Apenas aps a

    elaborao exaustiva dessa fase de aprendiza-

    do cientfico e tecnolgico permitido que se

    passe fase de gesto do risco, estabelecendo

    um marco regulatrio que possibilite auferir os

    benefcios da prtica, evitando ou minimizando

    os riscos correspondentes.

    O princpio da precauo no pode, portanto, ser

    utilizado para impedir o desenvolvimento de tec-

    nologias que podem apresentar certos riscos. Os

    rgos reguladores devem assumir o compromis-

    so de lidar com os riscos e as incertezas cientficas

    de forma coerente, permitindo, por outro lado,

    que os benefcios proporcionados pela prtica

    sejam auferidos em sua plenitude. O cenrio mais

    crtico ocorre, entretanto, quando, com base ex-

    clusiva em preconceitos, preferncias pessoais e

    argumentos subjetivos, os tomadores da deciso

    se recusam a regulamentar processos ou ativida-

    des tecnolgicas importantes, criando condies

    para a ocorrncia de riscos que poderiam ser evi-

    tados pela aplicao de mecanismos adequados

    de comando e controle.

    O que se observa ainda a usurpao do princpio

    da precauo no formato de proteo profissional

    individual, buscando segurana legal por meio da

    obstruo de processos de regulamentao de

    prticas importantes e consagradas.

    Especificamente no caso do reso de gua, a pos-

    tura mais detrimentosa para o desenvolvimento da

    prtica a adoo de regulamentaes extrema-

    mente restritivas sob a cobertura da pseudopre-

    cauo, buscando apenas a proteo contra pena-

    lidades potenciais associadas Lei n 9.605, de 12

    de fevereiro de 1998, que dispe sobre as sanes

    penais e administrativas derivadas de condutas e

    atividades lesivas ao meio ambiente e d outras

    providncias (BRASIL, 1998). Uma normalizao

    racional no meramente copiada de outras fontes,

    mas adaptada s condies nacionais e cientifica-

    mente suportada, eliminaria totalmente a preocu-

    pao em relao a penalidades potenciais.

    Uma grande reao se esboa atualmente, nos

    organismos de controle ambiental, nos setores

    governamentais em seu nvel de deciso mais ele-

    vado, nos organismos de gesto de recursos hdri-

    cos, nos setores empresariais de gua e esgoto e

    nos meios acadmicos, contra a implementao

    de normas irracionalmente restritivas, que, por

    no serem representativas das condies brasi-

    leiras, no protegem o meio ambiente e a sade

    pblica dos grupos de risco, inibindo, por outro

    lado, a estratgia do reso, que , atualmente, o

    instrumento-chave de gesto da gua em reas

    com estresse hdrico. Evidentemente, as prticas

    em considerao so associadas a nveis de riscos

    de magnitudes diversas, que devero ser racio-

    nalmente avaliados para dar suporte a normas e

    cdigos de prticas realistas.

    7.2 Percepo e aceitao pblica da prtica de reso

    O segundo fator, potencialmente limitante, est

    associado a aspectos culturais e psicolgicos de

    nossa sociedade, face percepo negativa do

    consumo de gua reciclada e falta de confiana

    na segurana de sistemas avanados de tratamen-

    to e de certificao da qualidade da gua. Alm do

    aspecto social, ocorrem temores associados a ris-

    cos polticos, econmicos e ambientais.

    Essas posturas sociais negativas podem, entre-

    tanto, ser amenizadas por meio de educao

    ambiental, informao bsica sobre a segurana

    das tecnologias de tratamento e certificao da

    janeiro abril 2015 Revista DAE 79

    artigos tcnicos

  • qualidade da gua produzida por sistemas de re-

    so potvel direto. A execuo de projetos de de-

    monstrao e posterior divulgao de resultados

    de qualidade da gua produzida e de estudos epi-

    demiolgicos efetuados em associao seriam,

    tambm, ferramentas importantes para mostrar

    a viabilidade ambiental e de sade pblica, pro-

    porcionando resultados mais visveis para ame-

    nizar a percepo negativa da prtica de reso

    potvel direto.

    8 concluSo e RecomendAeSO RPINP, extensivamente praticado no Brasil,

    constitui opo prejudicial tanto para o meio am-

    biente quanto para a sade pblica de usurios de

    sistemas de distribuio de gua tratada por meio

    de sistemas convencionais. Por outro lado, a im-

    plementao de sistemas de RPIP , atualmente,

    pouco vivel nas condies brasileiras, uma vez

    que mananciais subterrneos e corpos hdricos

    superficiais, a grande maioria destes com eleva-

    dos nveis de poluio, no apresentam condies

    legais e tcnicas para ser utilizados como AAs.

    A mais importante das mudanas de paradigma

    que se fazem necessrias consiste em garantir o

    abastecimento de gua em reas submetidas a

    estresse hdrico, por meio da promoo da prtica

    de reso potvel direto, sem haver necessidade de

    instalar uma rede secundria para distribuio de

    gua de reso.

    As razes e as condies bsicas que levaro a

    essa nova dimenso do setor saneamento so as

    seguintes: (i) os mananciais para abastecimento

    de gua esto se tornando cada vez mais raros,

    mais distantes e mais poludos; (ii) a tecnologia

    avanada hoje disponvel permite remover con-

    taminantes, traos orgnicos e inorgnicos e or-

    ganismos patognicos, possibilitando a produo

    de uma gua de reso segura; (iii) os custos de

    sistemas avanados de reso so equivalentes ou

    inferiores aos custos de implantao de uma rede

    secundria para distribuio de gua potvel,

    sendo, portanto, mais econmico efetuar a dis-

    tribuio da gua de reso potvel mediante os

    sistemas de distribuio atualmente existentes e

    suas ampliaes. Essa proposta se torna economi-

    camente mais favorvel quando o abastecimento

    dependente da construo de grandes adutoras

    com desnvel elevado, pois permite a utilizao de

    gua disponvel localmente.

    As companhias de saneamento devero desen-

    volver estudos e pesquisas, em conjunto com

    centros de pesquisas certificados, para: (i) avaliar

    tcnica e economicamente operaes e proces-

    sos unitrios, assim como sistemas de tratamento

    avanados para reso potvel direto, dentro das

    condies brasileiras; (ii) estudar o dimensiona-

    mento e estabelecer critrios operacionais de re-

    servatrios e certificao da qualidade da gua de

    reso; (iii) avaliar a possibilidade e as implicaes

    tcnicas e econmicas para a utilizao de redes

    existentes e suas extenses para efetuar a distri-

    buio de gua potvel de reso; (iv) desenvolver

    programas educacionais e de conscientizao

    para promover a aceitao pblica da prtica de

    reso potvel direto argumentos relevantes so

    associados garantia do abastecimento e ao for-

    necimento de gua segura aos consumidores de

    sistemas pblicos de abastecimento; e (v) com-

    bater o procedimento autoprotecionista e ime-

    diatista dos rgos controladores que devero ser

    orientados para desenvolver, normas, padres e

    cdigos de prtica realistas baseados em estudos

    e pesquisas e no na cpia de normas e diretri-

    zes aliengenas que no representam as condi-

    es tcnicas, culturais, ambientais e de sade

    pblica brasileiras.

    inexorvel que, dentro de no mximo uma d-

    cada, a prtica do reso potvel direto, utilizando

    tecnologias modernas de tratamento e sistemas

    avanados de gesto de riscos e de controle ope-

    racional, ser, apesar das reaes psicolgicas e

    institucionais que a constrangem, a alternativa

    mais plausvel para fornecer gua realmente po-

    janeiro abril 2015Revista DAE80

    artigos tcnicos

  • tvel. Alm de resolver o problema de qualidade,

    o reso potvel direto estaria fortemente associa-

    do segurana do abastecimento, pois utilizaria

    fontes de suprimento disponveis nos pontos de

    consumo, eliminando, por exemplo, a necessida-

    de da construo de longas e custosas adutoras,

    que, geralmente, transferem gua para grandes

    centros urbanos, coletada de reas afetadas por

    estresse hdrico.

    ReFeRnciASArnold, R., (2009), Residuals Organics and Ammonia Nitrogen

    during SAt of Conventionally treated municipal Wastewater,

    Workshop Uso e Reso de guas Residurias, Sabesp, So Pau-

    lo, SP, 13 de maio;

    AtSE-Australian Academy of technological Sciences and Engi-

    neering, (2013), Drinking Water through Recycling-the Benefits

    and Costs of Supplying Direct to the Distribution System, p. 128,

    ISBN 978 921 388 25 5, melbourne, Australia;

    Asano, t., Burton, F.L, Laverenz, H.L., tsuchihashi, R, tchoba-

    nouglous, G, (2007), Water Reuse - Issues, technologies, and

    Applications, metcalf & Eddy/AECOm, eds., p. 1.570, mc Graw

    Hill, New York;

    Baker, R.W., (2006), membrane technology and Applications, 2nd

    Ed., John Wiley & Sons, Ltd, p. 538, England;

    Bowdoin College (2006), Brunswick, mE, USA;

    http//www.academic.bowdoin.edu/classics/research/moyer/

    html/intro.shtml;

    California Department of Public Health CDPH (2008), Grou-

    ndwater Recharge Reuse Draft Regulations, California State of

    California-Health and Human Services Agency, Sacramento, Ca-

    lifornia, USA;

    Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo, SABESP,

    (2011), Estudo de Concepo e Projeto Bsico do Sistema Produ-

    tor So Loureno Relatrio de Impacto ao meio Ambiente RImA,

    Encibra S.A.-Estudos e Projetos de Engenharia, Prime Engenharia,

    Rima, p. 187, maro, So Paulo, SP;

    Damikouka, I., Katsiri, A., tzia, C., (2007), Application of HACCP

    principles in drinking water treatment, Desalination, 210, p.138-

    145

    Hashimoto, t., Stedinger, J. R., & Loucks, D. P. (January 01, 1982).

    Reliability, resiliency, and 627 vulnerability criteria for water re-

    source system performance evaluation. Water Resources 628 Re-

    search, 18, 1.)

    Hespanhol, I., (2008), tratamento avanado de guas para abas-

    tecimento publico, apresentado no Seminrio sobre Qualidade de

    gua no Estado de So Paulo, Instituto de Engenharia de So Pau-

    lo, 19 de maio, So Paulo, SP;

    Hespanhol, I., (2009), O Princpio da Precauo e a Recarga Ge-

    renciada de Aquferos, ensaio, p.28-29, Revista DAE, n 179, ISSN

    0101-6040, janeiro, So Paulo;

    Hespanhol, I., (2012), Poluentes Emergentes, Sade Pblica e

    Reso Potvel Direto, cap.20, p.501-537, in: Engenharia Am-

    biental Conceitos, tecnologia e Gesto, Coords. maria do Carmo

    Calijuri e Davi Gasparian Fernandes Cunha, p. 789, Elsevier Cam-

    pus. ISBN: 978-85-352-5954-4;

    Huang, C. P.,Dong C., tang. Z., (1993), Advanced chemical oxi-

    dation: its present role and potential future in hazardous waste

    treatment, Waste management, vol.13, p. 61-77;

    Huber, m.m., Canonica, S, Park, G., and von Gunten, U., (2003),

    Oxidation of pharmaceuticals during ozonation and Advanced

    oxidation processes, Environmental Science and technology, vol.

    37, no. 5, p.1.016-1.024.

    Koch membrane Systems, (sem data), Industrial Water and

    Wastewater treatment, catlogo, p.6, USA;

    Leverenz, H.L., tchobanoglous, G., Asano, t., (2011), Direct Potable

    Reuse: a future imperative, Journal of Water Reuse and Desalina-

    tion, IWA Publishing, vol. 1 no. 1, p. 2-10, march, USA;

    mierzwa, J.C. (2009), Desafios para o tratamento de gua de

    abastecimento e o potencial de aplicao do processo de ultra-

    filtrao, tese apresentada Escola Politcnica da Universidade

    de So Paulo para a obteno do ttulo de Livre-Docente, pelo

    Departamento de Engenharia Hidrulica e Ambiental, p.127. So

    Paulo, SP.

    mierzwa, J.C., Hespanhol, I, (2005), gua na Indstria Uso Racio-

    nal e Reso, Oficina de textos, p. 143, So Paulo;

    mulder, m. (1996), Basic principles of membrane technology, Klu-

    wer Academic Publishers, 2nd edition, p. 564, United States;

    Osmonics Inc.(sem data), the Filtration Spectrum, p.1, USA;

    Patti Jnior, E., (2007), Princpio da Precauo Aspectos Contro-

    vertidos e Desafios para a sua Aplicao numa Sociedade de Ris-

    co, mestrado em Direito,p.188, Pontifcia Universidade Catlica

    de So Paulo, So Paulo, SP.

    Sabesp-Companhia de Saneamento do Estado de So Paulo,

    (2011), Estudo de Concepo e Projeto Bsico do Sistema Produ-

    tor So Loureno-Relatrio do Impacto do meio Ambiente-RImA,

    Encibra S.A., Estudos e Projetos de Engenharia, Prime Engenharia,

    187 p., So Paulo;

    janeiro abril 2015 Revista DAE 81

    artigos tcnicos

  • Sontheimer, H., (1979), Design criteria and process schemes for

    GAC filters, J. AAWA, vol. 71, no. 11, p. 618-627;

    Swansea University (2006), Wales, UK

    http//www.swan.ac.uk/classics/staff/ter/grst/Whats%20

    what%20things/aqueducts/htm;

    tchobanoglous, G, Burton ,(1991), Wastewater Engineering

    treatment Disposal and Reuse, 3th edition, metcalf & Eddy, p.

    1.334, mc Graw Hill, USA;

    tchobanoglous, G, Burton , F.L., Stensel, H.D., (2003), Wastewater

    Engineering treatment and Reuse, 4th edition, metcalf & Eddy,

    p. 1.819, mc Graw Hill, USA.

    tchobanoglous, G, Leverenz, H., Nellor, m.H.N., Crook, J., (2011),

    Direct Potable Reuse A Path Forward, Water Reuse Research

    Foundation, p.102, USA;

    Vandenbohede, A., Van Houtte, E., Lebbe, L., (2008), Groundwa-

    ter flow in the vicinity of two artificial recharge recharge ponds

    in the Belgian coastal dunes. Hydrology Journal, p. 1669-1681,

    Belgium;

    Van der merwe, B., Du Pisani, P., menge, J., Knig, E., (2008), Water

    Reuse in Windhoek, Namibia: 40 years and still the only case of

    direct water reuse for human consumption, p.434-454, chapter

    24, in: Water Reuse-An International Survey of current practice,

    issues and needs, Eds. Blanca Jimenez and takashi Asano, IWA Pu-

    blishing, London;

    Van Houtte, E., Verbauwhede, (2008), Operational experience with

    indirect potable reuse at the Flemish coast, Desalination, no.218,

    p.198-207;

    World Health Organization-WHO, (2011), Guidelines for Drinking

    Water Quality, 4 th ed., p.541, Geneva, Switzerland.

    janeiro abril 2015Revista DAE82

    artigos tcnicos