A Influência Da Escola de Manchester

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Sociologia das cidades e do território_Sónia Frias ISCSP_2013 A influência da Escola de Manchester Antropologia e Sociologia da Urbanização Kracht e Kemper 1991; e Sassen (2001), consideram que Antropologia e Sociologia da Urbanização dizem especialmente respeito a um conjunto de questões relativas aos fenómenos de êxodo rural. É uma área que foi muito desenvolvida em especial a partir dos anos cinquenta, sessenta em África, onde foi dominada em particular por antropólogos ingleses, sendo um núcleo de investigadores importantes oriundos da Universidade de Manchester. Segundo os autores referidos, a ênfase neste campo de estudos foi sendo posta ao longo do tempo muito em particular nos movimentos de populações rurais para as cidades e nos processos de adaptação destes migrantes ao ambiente citadino, dando-se na maior parte dos casos, atenção às alterações ao nível da estrutura social e das ligações inter-pessoais de base tradicional/comunitária dos indivíduos. Dada esta referência talvez não seja aqui demais recordar, que durante anos, sobretudo até às décadas de cinquenta e também de sessenta a antropologia que se considerava urbana, era sobretudo aquela que se realizava em cidades não europeias (vejam-se as obras de Cohn e Mariott 1958; Barnes 1969; Boswell 1969; ou Mitchell 1969) onde para os antropólogos, como refere Southall (1973:3) ...as consequências da conversão de camponeses (africanos) em comerciantes urbanos, em trabalhadores industriais ou até em elites nacionais, apresentaram-se objecto de estudos promissores. Desta forma, enquanto a pesquisa nos países latino-americanos se vocacionou mais para o estudo da pobreza urbana (vejam-se os estudos de Lewis 1966, Mangin 1967; Ray 1969; Moreno 1970; Portes 1972; Roberts 1973; Lomnitz 1975), no caso das cidades africanas, sobretudo porque continuavam à época ainda muito ligadas aos interesses europeus, assumiu-se uma perspectiva do exame urbano de modelo declaradamente eurocêntrico, tendo os estudos nesta área seguiram uma orientação muito apostada na análise do comportamento do homem nas cidades e do moldar de

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Sociologia das cidades e do território_Sónia Frias ISCSP_2013

A influência da Escola de Manchester

Antropologia e Sociologia da Urbanização

Kracht e Kemper 1991; e Sassen (2001), consideram que Antropologia e

Sociologia da Urbanização dizem especialmente respeito a um conjunto de questões

relativas aos fenómenos de êxodo rural.

É uma área que foi muito desenvolvida em especial a partir dos anos cinquenta,

sessenta em África, onde foi dominada em particular por antropólogos ingleses, sendo

um núcleo de investigadores importantes oriundos da Universidade de Manchester.

Segundo os autores referidos, a ênfase neste campo de estudos foi sendo posta

ao longo do tempo muito em particular nos movimentos de populações rurais para as

cidades e nos processos de adaptação destes migrantes ao ambiente citadino, dando-se

na maior parte dos casos, atenção às alterações ao nível da estrutura social e das

ligações inter-pessoais de base tradicional/comunitária dos indivíduos.

Dada esta referência talvez não seja aqui demais recordar, que durante anos,

sobretudo até às décadas de cinquenta e também de sessenta a antropologia que se

considerava urbana, era sobretudo aquela que se realizava em cidades não europeias

(vejam-se as obras de Cohn e Mariott 1958; Barnes 1969; Boswell 1969; ou Mitchell

1969) onde para os antropólogos, como refere Southall (1973:3) ...as consequências da

conversão de camponeses (africanos) em comerciantes urbanos, em trabalhadores

industriais ou até em elites nacionais, apresentaram-se objecto de estudos promissores.

Desta forma, enquanto a pesquisa nos países latino-americanos se vocacionou

mais para o estudo da pobreza urbana (vejam-se os estudos de Lewis 1966, Mangin

1967; Ray 1969; Moreno 1970; Portes 1972; Roberts 1973; Lomnitz 1975), no caso das

cidades africanas, sobretudo porque continuavam à época ainda muito ligadas aos

interesses europeus, assumiu-se uma perspectiva do exame urbano de modelo

declaradamente eurocêntrico, tendo os estudos nesta área seguiram uma orientação

muito apostada na análise do comportamento do homem nas cidades e do moldar de

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uma certa consciência urbana (Southall 1969), ou como sugere Kemper (1991a), na

criação de uma identidade colectiva suscitada pela cidade.

Exemplo disso são por exemplo alguns dos trabalhos dos autores (de

Manchester), como Banton 1957, Lloyd 1967, Southall 1969, Mitchell 1969 ou Little

1973, que nos apresentam novos mundo em transformação e os vários desafios postos

às populações oriundas do campo, aos níveis da economia, do trabalho, e das suas

possibilidades pessoais e sociais.

Na prática, a partir destas obras pode dizer-se que a maioria daqueles autores

dava uma forte ênfase à natureza e à transformação dos sistemas de valores dos

indivíduos oriundos das áreas rurais. Isto ainda que, os camponeses nas cidades,

continuassem em regra a ser vistos enquanto tal, e a ser por isso considerados

portadores de atitudes e valores culturais tradicionais, facto que os empurrava para um

lugar de permanente marginalidade por referência ao estilo de vida citadino.

Na literatura que se produzia não eram por isso raras, as alusões a uma certa

ruralização das cidades.1

Essas alusões não se limitavam ao registo das diferenças ao nível dos

comportamentos; da manutenção de ligações aos parentes rurais; do envio de remessas

em dinheiro para as famílias camponesas, remessas essas por sua vez compensadas pelo

contra-envio de bens do campo.

Há também relatos sobre comportamentos a que poderíamos chamar transitórios

e que pareciam despontar à medida que certos indivíduos ou famílias começavam a

adaptar-se melhor à cidade, e a procurar por isso, imitar o modelo de comportamento

europeu.

Este era na realidade o tipo de questões que à época interessavam

particularmente aos antropólogos (remetemos para os textos de Elkan 1956; Banton

1957 e 1965; Caldwell 1968; Boswell 1969; Mitchell 1969 ou Little 1973). A maioria

destes autores trabalhavam em África e faziam investigação no âmbito do Rhodes-

Livingstone Institute, fundado em 1938 e hoje integrado na Universidade da Zambia.

1 Remetemos para as já enunciadas obras de Banton 1957, Lloyd 1967, Southall 1969, Mitchell 1969 ou

Little 1973.