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A influência da escrita de Helena Antipoff na formação docente, a partir da análise de textos do gênero carta Maria Perpétua dos Reis 1 (UEMG) Eliane Geralda da Silva Fonseca 2 (UEMG) Resumo: Ao visitar o CDPHA (Centro Documental Professora Helena Antipoff) é impossível não perceber que Dona Helena Antipoff se valeu do gênero carta para se comunicar e, por esse motivo, entre os documentos arquivados no Memorial, tais cartas ocupam um lugar de destaque. Dona Helena Antipoff escreveu e recebeu muitas cartas. Diante de tamanho acervo e, como não poderia deixar de ser, nosso olhar de professoras do Curso de Letras, nos levou aos seguintes questionamentos: Que tipo de escrita poderíamos identificar nas referidas cartas? Teria ela (Helena Antipoff) uma escrita que contribuiria para a formação docente? Para responder a essas indagações utilizaremos como suporte para nossa investigação obras de Luiz Antônio Marchuschi, Mikhail Bakthin, Vygotsky, Freire e Michel Foucault, teóricos que tratam dos diversos gêneros, incluindo as cartas, a estética da escrita em si mesma e da linguagem, além da formação docente, dentre outros. Conforme Bakhtin (1992), a utilização da língua se dá em forma de enunciados concretos (orais ou escritos) proferidos por sujeitos concretos em situações específicas. Já Freire (1997), afirma que a leitura do mundo antecede a leitura da palavra. Segundo o autor, “linguagem e realidade se prendem dinamicamente”. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto no qual se insere. Dessa forma, pretendemos focar nossos esforços em algumas cartas pesquisadas nas quais identificamos traços marcantes que podem contribuir para a formação docente. Como a pesquisa ainda está em fase de levantamento de dados através de pesquisa documental, desejamos apresentar os resultados obtidos até agora, bem como as possíveis conclusões as quais poderemos chegar. Palavras-chave: Helena Antipoff; Cartas; Formação docente. Introdução José Carlos Libâneo (2015) em seu artigo Formação de Professores e Didática para Desenvolvimento Humano declara que “Nas três últimas décadas ganharam destaque no Brasil 1 Maria Perpétua dos Reis é Mestre em Literaturas de Expressão Inglesa pela Universidade do Estado de Minas Gerais UFMG (2001). Possui Graduação em Letras, Inglês (1995) e Espanhol (1999), ambas em Licenciatura, também pela UFMG. Atualmente é professora universitária do quadro efetivo da Universidade do Estado de Minas Gerais UEMG, no Curso de Letras e ministra as disciplinas de Língua Inglesa III, Metodologia do Ensino de Inglês IV e Literatura Norte Americana II. 2 Eliane G. S. Fonseca é Doutoranda em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG. Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET - MG ( 2011) . Possui Graduação em Letras e Pós - Graduação em Docência do Ensino Superior. Atualmente é professora universitária do quadro efetivo da UEMG, onde ministra as disciplinas de Produção de texto, Morfossintaxe, Metodologia Científica e Fundamentos da Linguística. Docente da Faculdade Minas Gerais - FAMIG nos cursos de Direito e Administração de Empresas, ministrando as disciplinas Língua Portuguesa I e Comunicação Empresarial.

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A influência da escrita de Helena Antipoff na formação docente, a partir da análise de

textos do gênero carta

Maria Perpétua dos Reis1 (UEMG)

Eliane Geralda da Silva Fonseca2 (UEMG)

Resumo: Ao visitar o CDPHA (Centro Documental Professora Helena Antipoff) é impossível

não perceber que Dona Helena Antipoff se valeu do gênero carta para se comunicar e, por esse

motivo, entre os documentos arquivados no Memorial, tais cartas ocupam um lugar de

destaque. Dona Helena Antipoff escreveu e recebeu muitas cartas. Diante de tamanho acervo

e, como não poderia deixar de ser, nosso olhar de professoras do Curso de Letras, nos levou

aos seguintes questionamentos: Que tipo de escrita poderíamos identificar nas referidas cartas?

Teria ela (Helena Antipoff) uma escrita que contribuiria para a formação docente? Para

responder a essas indagações utilizaremos como suporte para nossa investigação obras de Luiz

Antônio Marchuschi, Mikhail Bakthin, Vygotsky, Freire e Michel Foucault, teóricos que

tratam dos diversos gêneros, incluindo as cartas, a estética da escrita em si mesma e da

linguagem, além da formação docente, dentre outros. Conforme Bakhtin (1992), a utilização

da língua se dá em forma de enunciados concretos (orais ou escritos) proferidos por sujeitos

concretos em situações específicas. Já Freire (1997), afirma que a leitura do mundo antecede

a leitura da palavra. Segundo o autor, “linguagem e realidade se prendem dinamicamente”. A

compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações

entre o texto e o contexto no qual se insere. Dessa forma, pretendemos focar nossos esforços

em algumas cartas pesquisadas nas quais identificamos traços marcantes que podem contribuir

para a formação docente. Como a pesquisa ainda está em fase de levantamento de dados através

de pesquisa documental, desejamos apresentar os resultados obtidos até agora, bem como as

possíveis conclusões as quais poderemos chegar.

Palavras-chave: Helena Antipoff; Cartas; Formação docente.

Introdução

José Carlos Libâneo (2015) em seu artigo Formação de Professores e Didática para

Desenvolvimento Humano declara que “Nas três últimas décadas ganharam destaque no Brasil

1 Maria Perpétua dos Reis é Mestre em Literaturas de Expressão Inglesa pela Universidade do Estado de Minas

Gerais – UFMG (2001). Possui Graduação em Letras, Inglês (1995) e Espanhol (1999), ambas em Licenciatura,

também pela UFMG. Atualmente é professora universitária do quadro efetivo da Universidade do Estado de Minas

Gerais UEMG, no Curso de Letras e ministra as disciplinas de Língua Inglesa III, Metodologia do Ensino de

Inglês IV e Literatura Norte Americana II. 2 Eliane G. S. Fonseca é Doutoranda em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais -

PUC-MG. Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET - MG ( 2011) . Possui Graduação em Letras e Pós -

Graduação em Docência do Ensino Superior. Atualmente é professora universitária do quadro efetivo da UEMG,

onde ministra as disciplinas de Produção de texto, Morfossintaxe, Metodologia Científica e Fundamentos da

Linguística. Docente da Faculdade Minas Gerais - FAMIG nos cursos de Direito e Administração de Empresas,

ministrando as disciplinas Língua Portuguesa I e Comunicação Empresarial.

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estudos sobre a formação de professores acompanhando uma tendência mundial”. (LIBÂNEO,

2015 p. 2). O autor prossegue afirmando que tais estudos foram influenciados pelas reformas

educacionais em voga em países europeus e da América Latina, introduzindo as seguintes

concepções de professores: “Professor Investigador, Professor Reflexivo, Professor Intelectual

Crítico” (LIBÂNEO, 2015 p. 2), visando promover a formação continuada, influenciar

políticas públicas, dentre outras questões ligadas à formação docente.

Citar tais fatos é relevante em se tratando de Helena Antipoff, por que ao chegar ao

Brasil, no início do século XX, mais exatamente no ano de 1929, ela se estabelece aqui,

demonstrando nitidamente sua preocupação com o tema. Apesar de ser psicóloga, muitos são

os estudos que a revelam como educadora e as obras por ela instituídas são notadamente

desenvolvidas no âmbito educacional.

Como o objetivo desta pesquisa é investigar as cartas de Helena Antipoff e descobrir

como este gênero pode influenciar na formação docente, surge uma dúvida se os jovens em

tempos de tecnologia digital saberiam definir a palavra carta.

Dentre os significados apresentados por Francisco S. Borba (Org. 2012) o que mais se

relaciona à pesquisa é a seguinte definição: “comunicação manuscrita ou impressa devidamente

acondicionada e endereçada; missiva; epístola”. As cartas utilizadas nesta pesquisa são

algumas manuscritas e outras datilografadas, e, devido à ação do tempo, de difícil manuseio.

Percebe-se que foram destinadas para comunicações formais e informais, meio visivelmente

útil para encurtar distâncias, solucionar problemas, matar saudades e outros motivos que

surgirão ao longo da pesquisa.

Segundo Luiz Antônio Marcuschi (2005), a humanidade passou por fases de

desenvolvimento que definidas como primeira fase, a oral, em que toda comunicação se fazia

pela via oral e todo o conhecimento era transmitido dessa forma. A segunda, a da escrita. O

autor salienta que: “Após a invenção da escrita alfabética por volta do século VII A. C.,

multiplicaram-se os gêneros, os tipos de escrita.” (MARCUSCHI. 2005, p. 19), é a ela (a

escrita), que a humanidade deve todos os avanços posteriores, por possibilitar todas as outras

fases. Já a terceira, a da cultura impressa, floresce no século XV e os gêneros se expandem,

sendo a carta já conhecida então. A quarta fase é a intermediária de industrialização, no século

XVIII, quando se ampliam grandemente e, por último, a quinta e atual fase, nomeada como

cultura eletrônica, iniciada com o telefone, o rádio, a TV, o gravador e o computador pessoal

(MARCUSCHI, 2015, p. 19). Esta, segundo Marcuschi (2005, p. 19), não só trouxe “uma

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explosão de novos gêneros”, como também, “novas formas de comunicação, tanto na oralidade

como na escrita”, tudo graças ao advento da Internet que, a cada dia, vai transformando

equipamentos de ponta em obsoletos com uma rapidez cada vez maior.

Com isso, os e-mails e aplicativos substituem as cartas comerciais, pessoais, os bilhetes,

dentre outros, criando outros gêneros que vão se construindo na mídia digital. Contudo, não se

pode esquecer que muito dos fenômenos que presenciamos, se deve aos gêneros textuais

antigos, que certamente, contribuíram para que os avanços tecnológicos vivenciados pudessem

chegar ao ponto que temos hoje.

A velha carta, manuscrita ou datilografada, continua sendo a referência para que se

escrevam os diversos tipos de e-mails, ofícios e outras comunicações, realizadas, atualmente,

de forma digital. Marcuschi (2005, p.21) afirma que “as cartas eletrônicas são gêneros novos

com identidades próprias”. Em outras palavras, poder-se-ia dizer que o que existe hoje seria a

velha carta modificada ou revisitada e, portanto, perfeitamente detectável como influenciadora

na formação de docentes, oriundos desse tipo de comunicação, largamente utilizado por Dona

Helena.

Para falar das cartas escritas por Helena Antipoff é preciso ressaltar que as que

selecionamos para compor este artigo são do tipo pessoal, pois apesar de transitarem em

domínios institucionais, tratarem de assuntos referentes a ocorrências em âmbitos formais, suas

epístolas trazem, na maioria das vezes, um caráter informal. Assim, a carta em seu formato

inicial traz em si algumas marcas ou características que a identificam como tal. Por exemplo:

é dirigida a um destinatário, muitas vezes chamado de interlocutor e um remetente ou locutor,

a linguagem apresentada pode ser formal ou informal e sentimental, subjetiva, tratar de tema

livre, assuntos do cotidiano ou algum acontecimento ou fato específico; geralmente é breve e

escrita em primeira pessoa do singular.

Jane Quintiliano Guimarães Silva (2002, p. 132) apresenta, em forma de quadro, a

estrutura da carta composta pelos seguintes elementos: abertura do evento, corpo do texto,

encerramento do evento e post scriptum, esse último como elemento facultativo.

Seguindo a estrutura apresentada por Silva (2002), Helena Antipoff abre as cartas

selecionadas, aqui nomeadas (Anexo 01, 02 e 03 respectivamente) falando de uma forma

bastante informal e carinhosa: “Boa Olga e Caríssimos amigos...”. Em outra carta, ela escreve:

“Minha boa Dona Fernandina,...” e fecha essas mesmas cartas, da seguinte maneira: “Meus

agradecimentos e abraço maternal. Fazenda do Rosário, 28 de março de 1958. Na assinatura,

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utiliza apenas as iniciais “ HA”. Em outro trecho, “Com meu afetuoso abraço e pedindo sua

interferência junto aos céus, aqui fico esperançosa. Dna Helena Antipoff”.

Aqui temos o exemplo de duas cartas de Dona Helena. Ela abre e fecha de maneira

muito pessoal e carinhosa, mas no corpo das cartas ela trata de assuntos ora institucionais, ora

pessoais, mas quase sempre de maneira bastante pessoal.

Boa Dona Fernandina, compreendo a senhora e peço a Deus dar-nos

forças para vencer a jornada e levar esta Escola, seus professores e

adolescentes e a própria Olga, se possível, para uma obra de Educação

sem sombras, num esforço supremo de inteligência e de vontade para

seus verdadeiros objetivos: formação da juventude zona rural, ao

serviço da criança do campo, para um Brasil melhor, mais próspero e

feliz. (Carta de 22 de março de 1955).

Como se pode perceber, Helena Antipoff menciona as duas amigas, Fernandina e Olga

como aliadas no trabalho educacional que desenvolve e demonstra grande preocupação com a

escola, professores e alunos. Fica claro ainda que seu objetivo principal é a formação de jovens

professores para trabalharem com as crianças do meio rural, visando à prosperidade e felicidade

do Brasil. Como se pode verificar pela data da carta, nesse período Helena Antipoff já estava

atuando há bastante tempo na educação em Minas Gerais , pois sua chegada data de 1929.

Na sequência, a educadora escreve apelando para a religiosidade da amiga, deixando

claro que precisavam de sua ajuda para concretizar o sonho de formação das “meninas que se

acham no Rosário, boas professoras…”, enfatizando que as moças recebidas na Fazenda do

Rosário não só estudavam ali, mas estavam sendo preparadas para se tornarem professoras e

não apenas isso: elas já eram consideradas por sua mentora como “boas professoras”.

Fica óbvio na referida carta que há dificuldades para conseguir pessoas para trabalhar

na Escola Rural. Dessa forma, Dona Helena se esforça ao máximo para lograr êxito em sua

tarefa e, depois de falar de algumas advertências recebidas sobre a situação educacional, que

parecem ser de cunho político, desabafa: “A quem apelar? quais as pessoas capazes de assumir

a responsabilidade e melhorar o sistema, afastando os males com firmeza e brandura a uma

vez?”

Nessa parte da carta, Helena não é muito específica, mas é possível entender que a

interlocutora conhece os meandros da situação, não necessitando de explicação detalhada. O

tom íntimo com que ela se expressa, lhe permite mesmo, refletir e vaguear, o que se pode

perceber pelas perguntas retóricas com as quais ela interpela a amiga, mas que mesmo sem

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esperar resposta, despede-se de forma carinhosa e esperançosa, paradoxalmente em meio a um

aparente desalento.

Ainda assim prossegue: “Os trabalhos exigem que termine esta carta. Espero sua, que

deve ajudar-me e ajudar a outros.” O desfecho vem escrito a mão, talvez pela urgência em

cumprir as tarefas e, como a carta está datilografada, ela pode ter se esquecido de encerrá-la

antes de puxar o papel da máquina. Recolocá-lo seria muito demorado e quem já utilizou

máquina de escrever sabe que é muito difícil voltar ao lugar exato de onde parou. Enfim,

terminar de escrever a mão seria bem mais rápido e ela o faz retomando da seguinte forma:

“Cordialmente, Helena Antipoff”.

Atualmente, na Fazenda do Rosário funciona o Instituto Pestalozzi, que atende a

crianças com dificuldades de aprendizagem e a Escola de Formação de Professores está

localizada em outro espaço que passou a ser chamado de ISEAT - Instituto Superior de

Educação Anísio Teixeira, como parte da Fundação Helena Antipoff, encampado pela UEMG

- Universidade do Estado de Minas Gerais, em 2012 e onde até hoje, permanece com a oferta

de cinco cursos de licenciatura, com o propósito de formar professores que serão absorvidos

pela educação básica de Ibirité e região; além de oportunizar o prosseguimento nos estudos na

formação de professores do ensino superior. Com isso, amplia o alcance do legado deixado por

Helena Antipoff.

Na carta, cuja abertura e fechamento se encontram nos anexos 02 e 03, sendo opção

não colocar toda ela, por ser uma carta bem longa, pode ser identificada pelo cabeçalho que

aparece como: “ISER - 13/XII/59” e logo é endereçada à “Minha boa Dona Fernandina…”

Nessa carta, a educadora cita vários nomes de pessoas a quem ela chama de colaboradores e

manifesta seus desejos de felicidades em relação às festas natalinas. Nessa forma de tratamento

é possível identificar o apreço e amizade que Dona Helena tinha por seus prestadores de

serviço.

Ainda, na mesma carta, Dona Helena tem um olhar muito particular sobre o ambiente

que, segundo ela, encontra-se “deserto”, deixando transparecer que a viagem das alunas e

colaboradores fazia parte da rotina de final de ano, quando muitos ou quase todos deveriam se

afastar para passar as festas de final de ano e férias com os familiares. “O ISER está silencioso

e deserto”. Ela prossegue deixando claro que os residentes, que ficaram na fazenda estavam na

capela e só duas empregadas estavam com ela. Há uma expectativa da chegada do ônibus que

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trará alguém a quem ela poderá receber, mas ao mesmo tempo, um temor de que o veículo não

venha, pois o tempo está chuvoso. Desabafa que,

(...) a vinda do ônibus provavelmente trará alguma pessoa que deverei

receber. Pode também não vir, o tempo é chuvoso e bastante frio, razão

suficiente para Áurea não vir, pois ela, definitivamente, não viaja por

uma temporada “molhada” receando a derrapagem do carro, ficando

por isso em BH. (Carta de 13/XII/59).

Neste excerto da carta há uma preocupação com a possibilidade da vinda de uma de

suas colaboradoras ser frustrada por causa das condições meteorológicas. O interessante é que,

até hoje, no entorno da Fundação Helena Antipoff, existe uma pequena estação de medição do

clima, o que pode ser um legado das atenções dadas por Dona Helena a essa questão tão

importante em sua época, pois o excesso de chuvas poderia representar certo isolamento por

falta de segurança nas estradas que, segundo o trecho, eram escorregadias, fazendo derrapar os

carros, ao ponto de impedir a vinda de Olga, citada na carta, e provavelmente de outros

visitantes.

A descrição do tempo é uma marca que pode ser encontrada também nos diários escritos

pelas alunas da escola rural e que, certamente, influenciou na formação docente daquelas

meninas. A própria Helena Antipoff, afirma que o diário dos alunos da Escola Rural consiste

em “Uma narração que reflete o passatempo de um grupo de alunos e professores que ali

estudam, pesquisam a natureza e seus segredos, aprendem coisas úteis ao homem do campo,

pelejam e se divertem, formando hábitos sadios de trabalho e de vida em comum.”

(ANTIPOFF, 1992, p. 53). Ou seja, Dona Helena ao estimular a escrita dos diários se preocupa

com a formação integral de seus alunos e futuros professores.

Pode-se pontuar algumas práticas importantes para a formação docente nas palavras

usadas por Antipoff (1992) para descrever o diário: 1. “narração”. Ao escrever os diários,

alunos e professores se desenvolviam habilidades na escrita descritiva e reflexiva, ao mesmo

tempo em que se divertiam e passam o tempo. Da forma como ela fala, parece que escrever, na

escola rural, se constituía em uma das ferramentas de formação. 2. “pesquisam a natureza e

seus segredos”. A pesquisa é outra prática importante na formação docente. Inclusive, a UEMG

– Universidade Estadual de Minas Gerais, instituição em que trabalhamos, funciona visando

ao tripé: “Ensino, Pesquisa e Extensão”, o que se encontra em perfeita harmonia com os dizeres

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anteriores, pois ao escrever os diários na escola rural, todos registravam nele suas observações,

pesquisas e descobertas, bem como suas reflexões e fatos do dia-a-dia.

Como já mencionado, muitas informações eram colhidas pelos alunos e registradas nos

diários acerca do clima. Dessa forma, Helena Antipoff estimulava a pesquisa da natureza, pois

sabia que esta esconde segredos, que se desvendados, podem favorecer ao homem do campo.

A terceira e última prática a ser ressaltada é 3. “formando hábitos sadios de trabalho e de vida

em comum”. Depois de mencionar que ao pesquisar a natureza e seus segredos, as pessoas que

viviam na escola rural e que lá estudavam, trabalhavam e moravam aprendiam técnicas úteis

ao homem do campo e, ainda, formavam hábitos sadios, não só de trabalho, mas também de

vida em comum, já que ali a vida era compartilhada por todos.

Zabalza afirma, metodologicamente, a importância desses diários, como instrumento

de pesquisa. Segundo ele, “Os “diários” fazem parte de enfoques ou linhas de pesquisa,

baseados em “documentos pessoais” ou narrações autobiográficas. Essa corrente, de

orientação, basicamente qualitativa, foi adquirindo um grande relevo na pesquisa educativa dos

últimos anos.” (ZABALZA, 2004, p. 14).

Isso posto, é possível inferir que os diários funcionavam como importantes ferramentas

de formação intelectual, já que eram fruto de observação, pesquisa, trabalho e reflexão, uma

vez que é quase impossível escrever sem meditar. A partir da escrita dos diários, alunos e

professores tinham neles também uma forma de interação, uma vez que sua escrita era pessoal,

mas a leitura era compartilhada e acontecia no refeitório à hora do jantar, quando todos se

reuniam e compartilhavam o que de melhor tinha a vida em comum. Não é à toa, que os

formandos dessa escola rural, que em princípio, estavam sendo formados para atuarem como

professores no campo, acabaram sendo contratados pelas escolas renomadas da capital mineira

e região metropolitana, pois eram disputados, devido ao nível de formação alcançado naquela,

então, Escola Rural. Como consequência, o curso da escola rural obteve resultados positivos

na medida em que os alunos aprendiam os conteúdos teóricos e práticos e, com isso, eles

adquiriam gradativamente os conhecimentos sobre a terra, a agricultura a ciência, os cálculos

entre outros, ampliando assim os horizontes de um ensino baseado na observação e na

experimentação, o que confirma ser um método influenciador para as futuras práticas docentes.

Zabalza (2004) afirma que os diários permitem aos professores revisar elementos de

seu mundo pessoal que frequentemente permanecem ocultos à sua própria percepção enquanto

está envolvido nas ações cotidianas de trabalho.

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Para confirmar ainda que os diários podem ser relevantes para a formação docente, vale

frisar mais uma vez, nas palavras de Helena Antipoff, que como idealizadora da escola sabia o

que buscava ao instituir tal escrita para seus alunos que se preparavam para se tornarem

professores diferenciados. Segundo ela,

[...] os diários refletem os ‘diaristas’, com a cultura e preparo escolar que cada

um recebeu anteriormente. Que sejam eles de grau primário, secundário ou

superior isso pouco importa [...]. O que vale muito mais para a coletividade é

que dentro de nível de preparo, haja progresso e capacidade de aumentar dia

a dia o cabedal de bons hábitos no pensar, no sentir e no agir. (Educação

Rural, 1992, p.45).

Como se pode averiguar, nas palavras dessa importante educadora, assim como “os

diários refletem os ‘diaristas’”, da forma como chegavam à Escola Rural, refletem alguém

preocupado com o ser humano e com a formação que ele deveria receber, independente do

patamar em que se encontrasse. O alvo era o crescimento e pode-se reiterar sua preocupação

com a formação integral das pessoas sob seus cuidados quando ela enfatiza que o importante é

progredir na aquisição de “bons hábitos no pensar, no sentir e no agir”. Pensar, sentir e agir,

são palavras que expressam a grandeza do ser humano em sua totalidade e quem é afetado em

seus hábitos nessas três áreas, pode considerar-se transformado. Pode-se também inferir que a

transformação de lugares, através de transformação de pessoas era o alvo de Dona Helena,

quando se estabeleceu, não apenas no Brasil, mas escolheu a cidade de Ibirité para construir o

seu legado.

Para confirmar a importância dos diários na formação das alunas e na interação

promovida através da leitura deles, vale transcrever trechos desses documentos, ou seja, dar

voz àquelas a quem Helena Antipoff dedicou seus talentos de educadora, que se mostraram

fundamentais na formação de pessoas que a ajudaram a construir o legado que se tem hoje.

Quando aqui chegamos, reunimos na sala e tivemos uma reunião com a D.

Helena, a qual nos disse os valores dos diários. A Zenita leu o seu diário, o

qual foi apreciado e comentado por todas nós. Depois a Arlete leu o seu.

(Extraído do diário de Alfredina D. M., 09/04/1950).

Confirmando que os diários eram lidos e que eram ferramentas de interação, pode ser

verificada no trecho transcrito do diário de outra aluna, cujo nome é Arlete Araújo, datado de

19/06/1950. Ela relata que,

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Um alegre murmúrio de vozes alegrava a sala. D. Helena então pediu a

todos um pouco de atenção e a seu pedido foi lido o diário de 5 de julho.

Em seguida a coleguinha Zenita declamou a bela poesia “Exortação”. Seu

modo galante para [...]

Esta aluna registra que mais do que momentos de simples leitura dos diários, as reuniões

eram utilizadas para expressão cultural e demonstrações de alegria, beleza, elegância e

demonstrações de talentos.

Tal fato, corriqueiro, nas práticas educativas da Escola Rural, nos remete a Escolano

(1998), ao afirmar que,

O espaço-escola não é apenas um “continente” em que se acha a educação

institucional, isso é, um cenário planificado, a partir de pressupostos

exclusivamente formais, no qual se situam os atores que intervêm no processo

de ensino e aprendizagem para executar um repertório de ações. [...] o espaço

escolar tem de ser analisado como um constructo cultural que expressa e

reflete, para além de sua materialidade, determinados discursos.

(ESCOLANO, 1998, p. 26).

Desse modo, acredita-se que o estudo sobre as instituições educacionais, destinadas à formação

de professores para o meio rural, possa proporcionar compreensão e conhecimento mais denso sobre as

experiências pedagógicas, vivenciadas pelos alunos e ampliar as reflexões e a análises acerca dos

espaços de convivência, saberes produzidos e significados pedagógicos, social e cultural, registrados

nas fontes e dispositivos escriturais disponíveis nos diários e demais registros documentais.

Dessa forma, a escolha dos diários se fez necessária, por serem estes reveladores de

experiências e informações privilegiadas e, também, por reconhecer neles um recurso auxiliar

no processo de ensino-aprendizagem, utilizado na formação dos alunos da Escola Rural.

Para Helena Antipoff, a escola tem um papel extremamente importante na formação do

aluno e podemos observar isso na seguinte passagem:

A escola civiliza o homem, oferecendo-lhe ambientes novos e nele

novos hábitos de vida em sociedade. A escola humaniza despertando

a consciência e leva o homem a formas superiores e de sentimentos.

Como instrumento de nacionalização, a escola pública delineia a área

física e moral de sua pátria e, unindo os indivíduos em grupos cada vez

maiores, dita ao povo seus direitos e deveres de cidadãos. (Helena

Antipoff, apud JINZENJI, 2014, p. 875).

Como podemos notar nas palavras de Helena Antipoff, ela descreve a escola como a

responsável para formar cidadãos conscientes, com pensamentos críticos e bons hábitos

compartilhados em sociedade. O ensino, segundo Dona Helena, abrange a experiência, a troca

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de informação, ou seja, para constituir o saber, deve internalizá-lo, colocando-o em exercício,

para que a transformação aconteça de forma natural, levando o aluno a refletir e se questionar

sempre que tiver dúvidas.

Sabemos que o professor deve ser mais do que um mediador de conhecimento, ele deve

oferecer para seus alunos meios práticos para aprender, desafiando-os em cada atividade

sugerida, por que não é somente lendo que se aprende; é preciso colocar em prática o que se

leu. É com esse aprender fazendo que se constitui o raciocínio e o pensamento crítico aflora

nos alunos, de modo que, através da observação, eles constroem suas percepções de mundo,

que com o tempo se fundem com os princípios e valores que cada um possui, tornando-os,

dessa forma, agentes transformadores. O docente então, busca nas relações entre professor e

aluno descritos por Helena em suas cartas e diários, melhorias para poder se aperfeiçoar e

aplicá-las em suas aulas.

E, com a intenção de adquirir maior conhecimento, o educador ao ter contato com os

escritos de Helena Antipoff, estabelece meios para ampliar seus estudos e assimilar novos

saberes para colocá-los em prática, oferecendo uma experiência construtiva para o aluno,

proporcionando-lhe assim, novos estímulos no processo de ensino e encorajando-o a aprender

significativamente com a prática. Roman Jakobson em (Bakhtin, 2006. p. 12) falando sobre a

admiração deste por Dostoievski, cita que Bakhtin declara: “Nada lhe parece acabado; todo

problema permanece aberto, sem fornecer a mínima alusão a uma solução definitiva.” Tal

comentário teve lugar pelo fato de que Dostoievski inovou nos romances, dando voz aos

personagens de forma autônoma, tornando assim sua obra instigante e imprevisível. Fazendo

uma analogia à obra de Helena Antipoff, ela morreu lamentando não ter forças para fazer mais,

pois sua obra não estava acabada.

Fato é que, em se tratando de educação, dificilmente uma obra estará acabada. Em

tempos que se buscam soluções para os problemas relativos ao ensino aprendizado, não se vê

uma luz no fim do túnel, nem tão pouco “uma solução definitiva”, mas olhar para o passado,

para o trabalho, para as cartas de Dona Helena e diários de suas alunas (os) e “boas

professoras”, nos faz lançar um olhar de esperança para o futuro, pois ao influenciar os alunos

e colaboradores, a educadora guerreira introduziu atores nesse teatro da educação que

influenciou, influencia e continuará a influenciar a formação de docentes por muitos e muitos

anos.

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Antes, porém, de passar ao presente, é bom citar um pequeno excerto de um diário do

passado: “A nossa bondosa D. Helena jantou conosco. Após o jantar ouvimos leitura de 2 diários estes

foram comentados por D. Helena. (Maria Helena Roberto - 17/06/1950)”. (Anexo 04 - seguido de

desenho feito pela aluna). É nítida a influência da escrita de Antipoff, quando ela se refere à educadora,

de forma muito semelhante à que essa se dirigia a elas. Sem contar que nesse como nos outros trechos

transcritos há uma desenvoltura no uso das palavras, demonstrando que a prática de registrar sempre

suas experiências e observações nos diários se mostrava eficaz como estratégia de formação de

professores.

Vale ressaltar que uma das alunas, bolsista de iniciação científica que nos auxilia nesta

pesquisa atualmente, não só tem feito recortes incríveis nos diários, aos quais pretendemos

publicar posteriormente, como ao participar de uma de nossas palestras em que

compartilhávamos a respeito da pesquisa, ela declarou ser de um estado bem distante de Minas

Gerais, para ser mais exata, ela vem do extremo Norte do Brasil. Naquele evento, pedimos à

plateia, composta de alunos da UEMG – Unidade Ibirité, que escrevesse uma carta a Dona

Helena.

Não sabíamos o que estávamos pedindo, pois no momento que eles foram compartilhar

seus escritos, a emoção era visível, tamanha a gratidão daqueles alunos por ter Helena Antipoff,

vindo de tão longe, gastar sua vida e deixar aqui tal legado. A aluna acima mencionada acima,

que acabou recrutada como bolsista, disse que sua intenção é se formar e prosseguir em seus

estudos até que se sinta preparada, para voltar à sua pequena cidade imitar o trabalho de

Antipoff, pois seu “povo precisa de oportunidades como as que ela vem tendo ao vem tendo ao

estudar em lugar com tanta história” (procurei reproduzir as palavras dela). É dela também a

carta escrita naquele dia:

“Cara Senhora Helena Antipoff,

Penso tanto em um futuro lecionando em minha

pequena cidade no interior de [Achamos melhor omitir lugar

exato], que busco através de seus conselhos, me empenhar

em ser melhor a cada dia na prática de minha

docência. Sei que buscar a perfeição é um ato de

coragem e isso no contexto atual, se torna quase

impossível, mas mesmo não alcançando a perfeição eu

não irei desistir de por em prática meus anseios que me

trouxeram até aqui na Fazenda do Rosário [sentido

metafórico, lugar onde tudo começou em Ibirité, ou

seja, a escola rural] para obter os conhecimentos

através dos professores e continuar na minha jornada,

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perpassando para os futuros alunos da melhor maneira

os conteúdos didáticos sem perder a essência que eu

encontrei em sua carta.

26 de abril de 2017,

Abraços calorosos,

__________________________”.

(Assinatura foi omitida. A escolha da fonte foi para ressaltar que a carta fora manuscrita e o Grifo

da palavra ‘perpassando’ é nosso)

Talvez não tenha ficado bem claro acima, reiteramos que ao terminar de apresentar a

pesquisa, desfiamos os assistentes a escreverem uma carta a Dona Helena. Ao ler a carta

transcrita, a aluna se emocionou ao ponto de chegar às lágrimas, o que criou uma comoção no

ambiente, deixando cada um lutando contra o choro coletivo, pois todos foram envolvidos

naquela atmosfera. Um dos alunos presentes, que inclusive hoje estuda e trabalha na Fundação

Helena Antipoff, se recusou a falar e a escrever, pois se encontrava com a voz embargada e

totalmente tomado pela emoção. Foi algo lindo de se ver.

Há ainda muito a se compartilhar, mas o espaço do artigo não permite, porém, ao

encerrá-lo com uma carta atual e como essa, confirma a influência da escrita de Helena Antipoff

na formação docente, tendo a análise sido iniciada a partir do gênero carta. No referido evento,

apresentamos nossos achados em apenas uma carta, a qual foi analisada de uma perspectiva

literária e fomos brindadas com uma reação tão peculiar da plateia e embora, naquele dia não

tenhamos colocado a ênfase na formação docente propriamente dita, essa aluna sem saber, nos

deu uma das confirmações que estávamos buscando.

Ao grifar a palavra ‘perpassar’, usada pela aluna, futura professora, vale dizer que ela

parecesse tê-la escolhido como sinônimo de ‘repassar’. Porém, ousamos pensar que ela foi

além, pois perpassar significa: “Passar além de; ultrapassar: a vontade perpassa.” Assim como

a obra de Helena Antipoff vai além, no tempo e no espaço, a vontade que essa menina tem de

vencer vem perpassando suas limitações para ancorar-se em um legado de alguém que

acreditou e venceu. Perpassar ainda pode ser definido como “exceder ou aumentar o limite;

manter-se do início ao fim; durar; (...)”.

Esses significados tão pertinentes e profundos fazem pensar que a aluna usou a palavra

propositalmente, por intentar ir além, aumentando o alcance e os limites do legado de Dona

Helena, mantendo-se firme do início ao fim, em um firme propósito de fazer durar essa obra,

como tantos vêm fazendo até aqui. Até quando?... ‘perpassa’ a nossa de saber, mas no que

depender de nós, Helena Antipoff continuará a influenciar, inspirar, motivar novos professores,

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alunos e a quem se dispuser a conhecer. Quanto se tempo seguirá pesquisando, também

‘perpassa’ a capacidade de prever, mas uma coisa é certa, muito há que se pesquisar, que

venham novos, que sigam os que já pesquisam e que do ponto em pararmos alguém perpasse

esse legado e o faça durar. Até quando? ‘Perpassa’ a capacidade de qualquer um prever.

Referências bibliográficas

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para a escola rural, Curso Normal Regional Sandoval Soares de Azevedo- Ibirité, Minas, 1956-

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ANEXOS

Anexo 01.

Anexo 02. (Abertura da carta)

Anexo 03. (Fechamento da mesma carta)

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Anexo 04.

“A nossa bondosa D. Helena jantou conosco. Após o jantar ouvimos leitura de 2 diários estes foram

comentados por D. Helena”. Maria Helena Roberto - 17/06/1950. (Desenho de abertura do diário, feito

pela aluna)

Com um desenho de dois coqueiros, Maria relaciona essa imagem à beleza natural que está o tempo

todo presente na Fazenda do Rosário. Ao contemplar a paisagem à sua volta, destaca a sua sutileza ao

se prender nesse mundo onde ela aprecia a simplicidade nas coisas ao seu redor. Parece gostar de dar

vida a objetos inanimados e, com isso, demonstra muita criatividade ao dar asas à imaginação.

“Levantamos às seis e meia quando o despertador gritou.”(Ela usou uma figura de linguagem para falar

que o despertador tocou).