LIVRO de REGISTROS DOCUMENTOS -...

4
Organização: Zenita C. Guenther, Renata Chula, Josiane Patrícia de Carvalho Editado pela ASPAT de Lavras Lavras-MG 1993-2013 IX Encontro Internacional de Educadores do CEDET/ASPAT I I I LIVRO de REGISTROS e DOCUMENTOS Lavras - MO 2013

Transcript of LIVRO de REGISTROS DOCUMENTOS -...

Organização:Zenita C. Guenther, Renata Chula, Josiane Patrícia de Carvalho

Editado pela ASPAT de Lavras

Lavras-MG1993-2013

IX Encontro Internacional de Educadores doCEDET/ASPAT

II

ILIVRO de REGISTROS

eDOCUMENTOS

Lavras - MO2013

Daniel e Otílía Antipoff na obra da Fazenda do RosárioCésar Q. Froes- UFRRJ; Colaborador da ADAV( 1973 a 1985)Ao pensar no tema para registro no programa do 9° Encontro

Internacional de Educadores do CEDET/ASPAT, a primeira imagemque me ocorreu foi a de Dona Helena Antipoff escrevendo, à máquina,sobre a mesa do seu pequeno escritório de trabalho localizado no prédioda FEER (Fundação de Educação Rural Helena Antipoff), um textointitulado "Edouard Claparêde: homem e educador", para ser lido porocasião da inauguração do retrato do "Mestre" na sede do InstitutoEdouard Claparêde, de Belo Horizonte, à época dirigido pela psicólogaValderez Álvares de Freitas Valle. Nesse texto, de exatas três laudas, agrande Mestra, reconhecida nacional e internacionalmente como umadas mais importantes educadoras brasileiras, fundadora da Fazenda doRosário e das Sociedades Pestalozzis em nosso País analisa, comclareza, o contexto da sua formação de pesquisadora no Instituto deCiências da Educação Jean Jacques Rousseau, de Genebra (Suíça),emprestando foco preciso na influência de Claparéde no campo dosvalores existenciais e da sua prática pedagógica. Outro texto científicoque aprecio, dentre aqueles com que eu ia me familiarizando no meutempo de estudante e estagiário, consistia num artigo escrito pelaantropóloga Rozsa e que foi publicado no Boletim da Sociedade~estalozzi. Nele a autora, à época professora na Universidade SantaUrsula (RJ), envolvida com pesquisas sobre criação de brinquedotecas,ao buscar compreender a filosofia de trabalho e a prática pedagógica noRosário alinha argumentos em defesa da tese de que Helena Antipoff, acada obra criada na Fazenda do Rosário em mais de três décadas - eforam muitas e relevantes -, ela as concebia e as fundava, sob a moldurade instituições de pesquisa e ensino, como problematização e busca desoluções concretas e efetivas face aos problemas da educação deexcepcionais e da educação rural no Brasil. Dito isso, num recorte detempo de 4 décadas e, a seguir, encontramos o casal de psicólogosDaniel e Otília Antipoff como figuras estruturantes e centrais da famosaobra educacional efetivada, desde o ano de 1974, ao falecimento daMestra, no Complexo Educacional da Fazenda do Rosário. HelenaAntipoff faleceu em 1974 e Daniel e Otília, ativos e focados nos

8

propósitos basilares da Instituição, prosseguiram colaborando coma sua obra até a primeira década do século atual. Sobrevivendo à mortedo seu marido, Otília Antipoff veio a falecer em 2011. O falecimentodo casal Daniel e Otília Antipoff, após uma vida longa e profícua,significou uma segunda grande perda num continuum de açãoeducacional de fortes raízes históricas, tendo como sede o solomineiro onde se instalou o Complexo Educacional da Fazenda doRosário. Conheci o casal de educadores em fevereiro de 1973, quandoeu era estudante universitário de pedagogia. Com efeito, de 17 a 28 defevereiro de 1973, foi realizada na Granja-Escola Gustavo Lessa aprimeira Colônia de Férias para crianças dotadas e talentosas, dentro dalinha programática do "Projeto Circula" - Civilização Rural, Cultura eLazer, um projeto experimental criado pela iniciativa pioneira de D.Helena no Brasil, com o duplo objetivo de pesquisar a educação dacriança e do adolescente bem dotado em suas características peculiarese exigências educacionais, e a formação teórico-prática do educadorpara lidar com esse grupo diferenciado de estudantes, na perspectiva deuma educação genuinamente humanística e de caráter radicalmenteinclusivo, nos planos da família, da escola, do mundo do trabalhado eda sociedade. A instituição que abrigou o Projeto Circula foi aAssociação Milton Campos para Desenvolvimento e Assistência aVocações de Bem Dotados - ADAV, que, ainda hoje, realiza seusprojetos educacionais na sua sede campestre, em área contígua àFazenda do Rosário, em Ibirité. A seleção dos participantes - ou "osAdavianos", como carinhosamente são chamados - era feita pordiferentes formas experimentais de recrutamento, onde se buscavaalcançar e identificar os dotados e talentosos do meio Rural einteriorano para participarem das chamadas "Colônias de Férias". Àscrianças selecionadas, reunidas em grupos de 25 a 30 participantes,com duração média de 12 dias para cada um desses encontros, eramoferecidas uma série de atividades educacionais, especialmenteorganizadas para atenderem aos interesses e necessidades dos inscritos.Essas atividades eram dirigidas por profissionais, voluntariamenteparticipantes do projeto (como médicos, psicólogos, pedagogos,professores de música, de teatro, de ecologia e por pesquisadores e

39

visitantes convidados para as palestras). Também colaboravam nasatividades diversos instrutores com "expertise" em suas respectivasáreas de atuação como, por exemplo, recreadores, chefes escoteiros,técnicos da EMATER (Empresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural RJ), técnicos de eletricidade, de carpintaria, bem como osinstrutores das oficinas de artes plásticas, de artesanato, e outros. Emtodo o tempo, o comportamento dos participantes ficava sob aobservação discreta de psicólogos, pedagogos e outros profissionais,especialmente treinados para esse tipo de observação como uma formade pesquisa de campo. Daniel e Otília Antipoff coordenavam, em todasas ocasiões, os trabalhos de avaliação psicopedagógica dosparticipantes. Por outro lado, há um relatório científico importantedesse primeiro decênio de atividades do "Projeto Circula" intitulado"Dez Anos em Prol do Bem Dotado", publicado pela Imprensa Oficialde Minas Gerais, organizado por Zenita Guenther. A presença do casalde psicólogos Daniel e Otília Antipoff no cenário profissional ehumano de Minas Gerais e do Brasil foi contínua e de grande relevo. Jáno final dessa notas, em função da exiguidade do espaço no manual,quero falar, em breves traços, dessa permanência, tanto em termosprofissionais de ambos, quanto no aspecto humano. Desejo deixarregistrada a atuação de ambos como psicólogos clínicos, comoeducadores, como escritores, como empresários - fundadores e diretoresde escola infantil EDUC Centro Educação Criadora, e daClínica IPAMIG (Instituto de Psicologia Aplicada de Minas Gerais),como professores de Centro Tecnológico de EducaçãolMG e comogestores públicos, nos planos federal, estadual e municipal, comatuação na gestão de diversas, e destacadas, instituições voltadas para aeducação inclusiva (mormente alunos excepcionais e bem dotados etalentosos), para gestão de políticas públicas, na direção de órgãosgovernamentais, para a criação de instituições - como o "Centro deDocumentação e Pesquisa Helena Antipoff - hoje dirigido pelaProfessora Doutora Regina Helena Campos, com sede no Departamentode Psicologia da UFMG. A liderança e a estima pessoal que esse casaldespertava e cultivava em todo o Brasil colocou-os como protagonistasde atuação da maior relevância. Ora individualmente, em trabalho

40

J

,I'I

-

.j~~._--,F~profissional "solo", ora em atuação conjunta, Daniel e Otília

sempre protagonizaram uma atuação incansável em favor do avançodos estudos da psicologia, da educação inclusiva e da educação ruralonde quer que a presença deles se fazia necessária. Lembro-me oProfessor Daniel como gestor do CENESPIMEC, Diretor da FEER, naFazenda do Rosário, presidente da ADA V, psicólogo clínico, escritor, eprofessor da Escola Técnica. Com que entusiasmo ele falava daorganização de acervos e da publicação de livros importantes, com oapoio do SENAC, documentando um vasto escopo da obra de HelenaAntipoff como cientista e educadora. Como escritor, publicou diversoslivros e artigos científicos e relatórios de Congressos, Seminários eCursos de formação de professores de bem dotados, organizados porele. Em função dessa intensa e contínua atividade, ele era distinguidocomo Presidente, Presidente de Honra, benemérito e outras honrariasconcedidas por importantes instituições e associações, tais como:Sociedade Pestalozzi em Ibirité (a Escola Fazenda do Rosário); FEER;Associação Milton Campos (ADA V); Associação Brasileira paraSuperdotados (ABSD); ASPAT/CEDET; de LavrasIMG. Seguidasvezes o casal compareceu às atividades cientificas de Lavras e, comalegria e entusiasmo sincero, comentava sobre a excelência do trabalhoaqui realizado. Dona Otília Antipoff é autora de dois livros sobre aeducação de excepcionais, publicado pela Sociedade Pestalozzi,diversos relatórios e artigos científicos. Mas a contribuição maisdestacada dela, a meu ver, além da vivência na clínica, foi o trabalhodesenvolvido como psicóloga escolar, no atendimento às crianças dosprimeiros anos escolares, desde os 7 aos 14 anos, e do trabalhoeducativo com jovens na perspectiva da educação inclusiva. Será sobreessa perspectiva humana do trabalho do casal Antipoff na Fazenda doRosário, para além do trabalho já pontuado de cientistas e escritores,que falarei no [mal dessas notas sobre os nossos homenageados nopainel. Algumas notas sobre a carreira bem sucedida do casal dehomenageados, não ficaria completas sem o delineamento da presençahumana na vida de seus pares e amigos. Sempre me chamou a atenção,no ambiente educacional no Complexo Educacional da Fazenda doRosário, a proximidade dos educadores com seus educandos. A

41

disponibilidade para o diálogo e para a orientação diuturna dos jovensadavianos e seus professores e voluntários representou numaexperiência inesquecível. Daniel e Otilia, a despeito dos seuscompromissos familiares com a educação dos filhos e netos,transferiam-se para a sede campestre da ADA V, durante o período deatividades com crianças, distante 27 km de Belo Horizonte ondemoravam, e ficavam em regime de tempo integral à disposição dosjovens adavianos e seus professores, instrutores e estagiários. Era umaprática de atitude científica e comunicação informal com osparticipantes das Colônias de Férias. Lembro-me de Danielorganizando com eles o regulamento de cada Colônia de Férias, a partirda contribuição dos próprios educandos. Lembro-me, também, daaplicação da técnica de "psicodrama de antecipação vocacional",quando as presumíveis escolhas futuras dos adolescentes eramteatralizadas mediante aplicação da dinâmica de grupo. E ainda, o"follow-up" da trajetória dos adavianos, por amostragem no momentoem que eles se preparavam para ingressaram em cursos de ensinosuperior. Todos que viveram essas experiências educativas,notadamente as crianças e adolescentes em idade mais plasticamenteapropriada para a sua formação. Foram afortunados em participarem doProjeto Circula e de caminharem à sombra de eminentes mestres comoDaniel e Otília, dentre outros, profissionais, apoiadores da obra evoluntários no ambiente estimulador do Complexo Educacional daFazenda do Rosário. Foi uma caminhada de muita luta, muito esforço,muita amizade, compartilhamento e dedicação que marcou um mundode vivências de tantos e tantos educandos.