A INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS PESSOAIS NA DECISÃO DE … · Valores e comportamento ... aquando da...
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UNIVERSIDADE DE COIMBRA
FACULDADE DE ECONOMIA
A INFLUNCIA DAS VARIVEIS PESSOAIS NA
DECISO DE ALOCAO DE ACTIVOS
SLVIA CRISTINA FERNANDES RODRIGUES
MESTRADO EM ECONOMIA
ESPECIALIZAO EM ECONOMIA FINANCEIRA
COIMBRA
2009
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UNIVERSIDADE DE COIMBRA
FACULDADE DE ECONOMIA
A INFLUNCIA DAS VARIVEIS PESSOAIS NA
DECISO DE ALOCAO DE ACTIVOS
SLVIA CRISTINA FERNANDES RODRIGUES
Orientadores: Professor Doutor Filipe Coelho
Professor Doutor Paulo Gama
MESTRADO EM ECONOMIA
ESPECIALIZAO EM ECONOMIA FINANCEIRA
COIMBRA
2009
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AGRADECIMENTOS
A elaborao desta dissertao contou com a colaborao de pessoas e instituies que
gostaria de salientar e agradecer.
Assim, comeo por agradecer aos meus orientadores, Doutor Filipe Coelho e Doutor Paulo
Gama, pelos conhecimentos transmitidos e apoio concedido em todas as fases de execuo
deste estudo.
Agradeo aos coordenadores do Mestrado em Economia da FEUC, Doutor Paulino
Teixeira e Doutor Pedro Bao, por tornarem possvel a frequncia deste Mestrado.
Agradeo tambm a todos os estudantes da FEUC que se disponibilizaram para
responderem ao inqurito.
Agradeo Fundao SYLFF pelo financiamento da bolsa concedida.
Finalmente, agradeo, de forma especial, o meu marido, que me deu a motivao e a fora
para concluir esta pesquisa, e os meus pais e irmo, por terem acreditado e apoiado todas
as minhas actividades acadmicas.
A todos o meu muito obrigado.
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RESUMO
A alocao de activos diz respeito forma como o investidor distribui a sua carteira pelas
principais classes de activos financeiros. Bodie et al. (2000) refere que a alocao de
activos considerada a parte mais importante na construo de carteiras de investimento.
O principal objectivo deste estudo consiste em identificar os factores que levam o
investidor individual a incluir na sua carteira de investimento uma classe de activos de
risco: aces. Tendo em conta um conjunto de caractersticas do investidor, o estudo
evidencia as diferenas entre os detentores de aces e os no detentores de aces. de
realar que o estudo tem a particularidade de procurar explorar uma rea ainda pouco
investigada na literatura existente, que se relaciona com a influncia dos valores pessoais
na deciso de investimento em activos com risco.
Efectuada a reviso da literatura sobre a alocao de activos e os valores pessoais, foi
desenvolvido o modelo conceptual explicativo da inteno de deter aces, do qual se
derivaram as hipteses de investigao. Postulou-se, assim, que o investimento realizado
pelos investidores individuais em aces est associado s seguintes variveis,
subdivididas em trs categorias: caractersticas socio-demogrficas (1) gnero, (2) idade,
(3) rendimento, (4) estado civil, (5) actividade profissional; valores pessoais (6)
conservao, (7) abertura mudana, (8) autopromoo; percepes de ordem financeira
(9) conhecimentos financeiros, (10) satisfao com a situao financeira actual, (11)
optimismo financeiro; (12) tolerncia ao risco financeiro.
A amostra consiste em 137 questionrios, preenchidos por estudantes de cursos de ps-
graduao de uma instituio de ensino superior, durante o ano de 2008. Para testar as
hipteses realizmos um conjunto de testes estatsticos, entre os quais o teste qui-
quadrado, a anlise da varincia (ANOVA) e a regresso logstica multivariada, usando
para o efeito o SPSS como ferramenta estatstica. Pela anlise bivariada conseguiu-se obter
evidncia estatstica que permitiu confirmar as hipteses inerentes a todas as variveis,
com excepo da idade. A utilizao da regresso logstica forneceu evidncia suplementar
no sentido de se poder considerar as variveis (1), (4), (6), (9) e (12), como sendo
elementos determinantes da deteno de aces.
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ABSTRACT
This paper examines individuals asset allocation decisions, which refers to the process of
dividing investments among different classes of financial assets. Bodie et al. (2000) note
that the asset allocation decision is the most important part of the portfolio construction
process. The main objective of this study is to investigate factors associated to portfolio
composition, particularly the ownership of a specific class of risky assets: stocks. Taking
into account individuals characteristics, this study determines differences between owners
and non owners of stocks. This research has the originality of exploring a topic that has
been overlooked in extant literature, and that involves an examination of how personal
values influence the investment decision in risky assets.
Upon a revision of the literature, we developed a conceptual model that explains stock
ownership. More specifically, we investigate whether individuals investment in stocks
varies across three categories of individuals characteristics: socio-demographic
characteristics (1) gender, (2) age, (3) income, (4) marital status, (5) working status;
personal values - (6) conservation, (7) openness to change, (8) self enhancement; financial
perceptions (9) financial knowledge, (10) financial satisfaction, (11) financial optimism,
(12) financial risk tolerance.
The data was obtained from 137 questionnaires, filled by post-graduated students from one
Portuguese Higher Educational Institution, in the year of 2008. To test the hypothesis, we
resorted to a set of statistical tests using SPSS: bivariate analysis was carried out Pearson's
chi-square test and the analysis of variance, which was followed by the estimation of a
multivariate logistic equation. Based on the bivariate analysis, we obtained statistical
evidence that supports all our hypotheses, except that regarding age. The logistic
regression supplied further evidence that the variables (1), (4), (6), (9) e (12) are
significantly related to the individuals probability of stock ownership.
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INDICE GERAL
Agradecimentos...................................................................................................................1 Resumo.................................................................................................................................2 Abstract................................................................................................................................3 ndice Geral..........................................................................................................................4 ndice de Figuras.................................................................................................................6 ndice de Tabelas.................................................................................................................7
Captulo 1 Introduo
1.1. Contexto da Investigao...........................................................................................8
1.2. Objectivo da Investigao............................................................................................10
1.3. Estrutura da Investigao.............................................................................................11
Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
2.1. Introduo.....................................................................................................................12
2.2. A importncia da estratgia de alocao de activos......................................................12
2.3. A alocao ptima de activos.......................................................................................17
2.4. A influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas.......................................22
2.5. Valores Pessoais............................................................................................................27
2.5.1. O conceito de Valores Pessoais.................................................................................27
2.5.2. Valores e comportamento..........................................................................................29
2.5.3. Teoria Universal de Schwartz....................................................................................31
2.5.4. Valores Pessoais e Alocao de Activos...................................................................39
2.6. Concluso.....................................................................................................................40
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Captulo 3 Quadro Conceptual de Investigao
3.1. Introduo.....................................................................................................................41
3.2. Objectivo e Hipteses de Estudo..................................................................................41
3.3. Instrumentos..................................................................................................................50
3.4. Recolha de dados e caracterizao da amostra.............................................................56
3.5. Constituio final das variveis....................................................................................59
3.6. Concluso......................................................................................................................62
Captulo 4 Resultados e Discusso
4.1. Introduo.....................................................................................................................63
4.2. Anlise Bivariada..........................................................................................................63
4.3. Anlise Multivariada.....................................................................................................70
4.4. Discusso dos resultados...............................................................................................73
4.5. Concluso .................................................................................................................78
Captulo 5 Concluso
5.1. Introduo.................................................................................................................80
5.2. Contribuies do trabalho..........................................................................................80
5.3. Limitaes e sugestes para futuras pesquisas ...........................................................82
Bibliografia.........................................................................................................................84
Anexos.................................................................................................................................95
Anexo 1: Carta de Apresentao
Anexo 2: Questionrio
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NDICE DE FIGURAS
Figura 1: Determinantes da alocao de activos..................................................................13
Figura 2: Determinantes do desempenho do investimento..................................................16
Figura 3: Fronteira de eficincia..........................................................................................18
Figura 4: Fronteira de eficincia e activo sem risco........................................................19
Figura 5: Carteiras diferentes para investidores diferentes.................................................20
Figura 6: Estrutura circular dos valores humanos como tipos motivacionais e as dimenses
bipolares de Schwartz..........................................................................................................37
Figura 7: Modelo conceptual de anlise..............................................................................43
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NDICE DE TABELAS
Tabela 1: Domnios de valores e meta motivacional...........................................................35
Tabela 2: Os 57 itens do SVS..............................................................................................54
Tabela 3: Resumo dos dados socioeconmicos e demogrficos.........................................58
Tabela 4: Distribuio dos dados por tipo de investimento................................................59
Tabela 5: Constituio final das variveis...60
Tabela 6: Tabela de contingncia: posse de aces vs gnero.....64
Tabela 7: Tabela de contingncia: posse de aces vs nvel de rendimento........................65
Tabela 8: Tabela de contingncia: posse de aces vs estado civil.....................................66
Tabela 9: Tabela de contingncia: posse de aces vs actividade profissional...................67
Tabela 10: Tabela de contingncia: posse de aces vs tolerncia ao risco financeiro.......68
Tabela 11: Anlise de varincia...........................................................................................68
Tabela 12: Resultados da estimao....................................................................................71
Tabela 13: Sumrio do teste de hipteses............................................................................74
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Captulo 1 Introduo
1.1. Contexto da investigao
Todo o agente econmico que dispe de riqueza ou rendimento, v-se tradicionalmente
colocado perante a seguinte alternativa: consumir ou investir. A questo fundamental, para
ele, a de saber como que vai utilizar a sua riqueza actual, isto , quanto que vai
consumir imediatamente e quanto que vai investir em actividades consideradas
produtivas ou rentveis, de forma a aumentar o seu consumo e/ou a sua riqueza futura
(Quintart e Zisswiller, 1994). Portanto, o investimento a aplicao de algum tipo de
recurso (dinheiro ou ttulos) com a expectativa de receber algum retorno futuro superior ao
aplicado, compensando inclusivamente a perda de uso desse recurso durante o perodo de
aplicao.
Ao longo do estudo vamos concentrar-nos no investimento em activos financeiros por
parte do investidor individual, nomeadamente na anlise da sua deciso sobre como
repartir o seu investimento por grandes classes de activos, deciso que se designa de
alocao de activos. A carteira do investidor de uma forma simples, a sua coleco de
activos financeiros. O processo de determinar o conjunto de activos a adquirir para incluir
na sua carteira uma deciso pessoal. Com efeito, qualquer estratgia coerente de alocao
de activos deve obedecer definio prvia de trs parmetros fundamentais: o objectivo
de investimento, o horizonte temporal desse investimento e o risco que se est disposto a
incorrer (Frush, 2007; Faerber, 2007). Dos trs parmetros, a tolerncia ao risco o
parmetro mais importante na construo da carteira de investimento (Frush, 2007; Trone
e al., 1996).
A alocao de activos uma construo fundamental nos modelos financeiros e
econmicos (Ackert, Bryan e Basil, 2002). Como tal, os investigadores tm demonstrado
interesse em perceber a forma como os investidores individuais alocam os activos
financeiros nas suas carteiras de investimento, dado que a evidncia emprica sugere que
definio da alocao de activos a deciso que, em relao a qualquer outra, ter mais
impacto nos retornos do seu investimento (Bodie, Kane e Marcus, 2000; Brinson, Hood e
Beebower, 1995). Esta premissa tem como base alguns estudos que procuraram mensurar a
relao entre alocao de activos e a rentabilidade de carteiras de investimento. Com
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efeito, os estudos de Brinson (1986; 1991) e Ibbotson e Kaplan (2000) evidenciaram que o
retorno de uma carteira fortemente influenciado pela alocao entre as classes de activos
(alocao estratgica de activos). Consequentemente, estes autores concluram que a
alocao estratgica de activos pode ser considerada mais importante que a alocao
tctica de activos (market timing e seleco de activos).
O grande interesse pelo estudo do papel da alocao de activos, pode ser atribuda a Teoria
da Carteira, que se iniciou com os trabalhos de Harry Markowitz (1952; 1959). O Modelo
mdia-varincia de Markowitz providenciou a primeira, e ainda actual, abordagem
quantitativa da estratgia de alocao de activos. A escolha ptima tem lugar na fronteira
eficiente, onde para cada nvel de risco possvel encontrar a carteira com a maior
rendibilidade esperada (e vice-versa). Tobin (1958) apresentou uma contribuio essencial
Teoria da Carteira, ao propor a existncia de um activo sem risco a ser includo na
formao de carteiras eficientes de investimento. Assim, o investidor enfrenta um dilema
aquando da escolha das classes de activos financeiros a incluir na sua carteira, j que tem
de decidir se investe ou no em activos com risco (Wang, 2008).
Assim, o nosso estudo centra-se no estudo de um dos campos mais importantes de
Finanas, o processo de alocao de investimentos. Este processo, normalmente,
diferente quando se refere a empresas ou indivduos. De acordo com Bayston e Droms
(2000, p.1), as caractersticas, circunstncias e oportunidades que o investidor pessoa
fsica enfrenta so mais variadas e complexas do que para qualquer outra classe de
investidor. Estes autores referem que os investimentos realizados pelos indivduos
constituem um processo intrigante, uma vez que cada indivduo diferente e, alm disso,
as caractersticas psicolgicas tm um papel fundamental na gesto dos seus
investimentos.
A importncia do estudo pode justificar-se pelo facto de permitir a determinao da
existncia de comportamentos padronizveis na definio da composio da carteira, tendo
em conta caractersticas especficas do investidor individual, o que pode ser bastante til,
nomeadamente, para os gestores de investimentos de instituies financeiras no s para o
auxlio de uma anlise preliminar de carteiras individuais, como tambm para direccionar
correctamente campanhas publicitrias e ofertas de produtos financeiros, permitindo
poupar esforos e recursos para divulgao e alocao de activos.
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1.2. Objectivo da Investigao
O objectivo deste estudo centra-se na anlise do impacto das caractersticas pessoais do
investidor individual na composio da sua carteira de investimento, particularmente na
posse de activos com risco. Especificamente, com este estudo pretende-se compreender de
que forma o investimento em aces depende de um conjunto caractersticas especficas,
onde se incluem variveis demogrficas e socioeconmicas, percepes de ordem
financeira e os valores pessoais.
Os factores demogrficos e socioeconmicos foram extensamente abordados em estudos
anteriores. Com efeito, dado que o presente trabalho est relacionado com a deciso do
investidor em escolher activos com risco ou sem risco, considera-se tambm til a
presena de tais variveis para tentar explicar quais delas podero a influenciar a sua
tomada de deciso.
A partir do artigo seminal de Clark (1918), tem sido reconhecida a importncia da
psicologia individual na determinao do comportamento econmico. de realar que o
investimento em activos financeiros tambm influenciado pela orientao psicolgica de
cada indivduo, nomeadamente pela personalidade do indivduo (Ackert et al., 2002).
Os valores pessoais so objectivos transituacionais desejveis que guiam a forma como os
indivduos escolhem as suas aces, avaliam as pessoas e justificam as aces e avaliaes
(Schwartz, 1992; 1999). Neste trabalho, ser focado tambm o estudo dos valores pessoais,
porque constituem um dos aspectos fundamentais da psicologia do indivduo, contribuindo
para explicar o seu comportamento (Schwartz, 2005). Com efeito, alguns autores (Doyle,
1999 e Waddell, 1987, citados por Youg e O Neil, 1992) argumentam que a tolerncia ao
risco, factor determinante na definio da alocao de activos financeiros, resultado dos
seus valores pessoais. Este trabalho tem assim um carcter inovador, porque nunca foi
explorado na literatura existente, o efeito dos valores pessoais na deciso de alocao de
activos. Por conseguinte, o estudo vai ser relevante, porque vai permitir analisar o impacto
de novos factores psicolgicos, representados pelos valores pessoais, na deciso de
investimento.
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Como tal, iremos definir e testar, a partir de uma amostra de investidores particulares,
obtida junto de uma instituio do ensino superior, hipteses que estabelecem uma relao
entre as variveis pessoais e a deciso de investir ou no investir em aces.
1.3. Estrutura da Investigao
O trabalho est organizado em cinco captulos.
No captulo 1 destaca-se a importncia do tema em discusso.
No captulo 2 realizada a reviso bibliogrfica que se divide em duas seces. Na
primeira ser apresentado: o conceito de alocao de activos e sua importncia no sucesso
da estratgia de investimento e uma breve reviso da literatura sobre a Teoria da Carteira.
Alm disso, tambm sero apresentados os principais resultados de estudos prvios sobre a
influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas na deciso de alocao de
activos. Na segunda seco ser apresentada a temtica dos valores pessoais, pois procura-
se investigar o efeito destas variveis na composio da carteira de activos financeiros do
investidor individual, matria que ainda no foi explorada na literatura existente.
No Captulo 3 apresentado o quadro conceptual de investigao que est na origem do
estudo emprico, onde se apresentar os objectivos e hipteses de investigao e a
metodologia utilizada no estudo emprico, designadamente instrumentos, modo de recolha
de dados, caractersticas da amostra e purificao das medidas do questionrio.
No Captulo 4 feita a anlise estatstica e discusso dos resultados obtidos a partir da
anlise dos dados recolhidos no estudo emprico.
Por fim, no Captulo 5 sero evidenciadas as contribuies e limitaes do presente
trabalho, sendo feitas algumas sugestes para futuros trabalhos nesta rea.
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Captulo 2 Reviso Bibliogrfica
2.1. Introduo
No presente captulo apresentado o referencial terico, que se encontra dividido em duas
fases. Numa primeira fase expe-se a importncia da estratgia de alocao de activos,
clarificando-se o seu conceito, determinantes e relevncia no contexto do desempenho dos
investimentos. De seguida, apresenta-se a teoria da alocao ptima de activos - Teoria da
Carteira - e explica-se como os diferentes tipos de investidores alocam o seu patrimnio
entre as principais categorias de activos. Por fim, sero realados diversos estudos que
permitem explicar a alocao de activos do investidor individual, tendo por base as suas
caractersticas demogrficas e socioeconmicas.
Posteriormente, numa segunda fase, estudam-se os valores pessoais e a importncia que
possuem na explicao dos comportamentos dos indivduos. Faremos, tambm, uma
sntese dos pressupostos da Teoria Universal de Schwartz, uma vez que esta servir de
instrumento para o quadro da investigao realizada.
2.2. A importncia da estratgia de alocao de activos
A alocao de activos ocupa um papel fundamental no processo de construo de uma
carteira (Harlow e Brown, 1990). A alocao de activos a determinao da proporo de
uma carteira a investir nas vrias categorias de activos financeiros.
De um modo geral, designamos por activos financeiros qualquer direito monetrio detido
por uma entidade sobre uma outra. Temos, como exemplo, a moeda, os depsitos de
poupana e os ttulos emitidos pelo Estado ou por empresas (tais como bilhetes do
Tesouro e obrigaes, aces de empresas, fundos de investimento) 1. Para alm destes
1 Os depsitos de poupana referem-se, usualmente, a depsitos bancrios e as suas taxas de juro so determinadas pelas
taxas de juro de curto prazo do mercado. Os ttulos emitidos pelo Estado ou por empresas so formas de emprstimo, por
parte de particulares, a essas entidades. O pagamento da quantia subscrita e feito no final do contrato e, durante o perodo
a que dizem respeito, os ttulos pagam, periodicamente, os juros contratualizados. Enquanto os bilhetes do Tesouro
contemplam usualmente prazos curtos, at um ano, as obrigaes dizem normalmente respeito a perodos mais
alargados. As aces, sendo direitos monetrios sobre as empresas, permitem que os seus titulares recebam uma parte
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produtos, existem ainda outros mais complexos como sejam os contratos de derivados
financeiros, sendo os mais conhecidos os contratos forward, os contratos de futuros e os
contratos de opes (IC, 1998).
A alocao de activos baseia-se num conjunto de factores, tais como posio financeira
actual, objectivos do investimento, horizonte temporal e o perfil de risco do investidor.
Com efeito, o processo de determinar as classes de activos a incluir na carteira uma
deciso pessoal, baseada no perfil do investidor. Frush (2007) e Faerber (2007) enfatizam
que os trs inputs mais relevantes que determinam a alocao de activos de um investidor
so: os objectivos de investimento, o horizonte temporal desse investimento e o risco que
se est disposto a incorrer.
Figura 1: Determinantes da alocao de activos
Fonte: Faerber (2007)
dos lucros das empresas (designados por dividendos) ou, no caso da venda destas, uma parte dos ganhos obtidos. Os
fundos de investimento so compostos por diversos ttulos, como, por exemplo, aces e obrigaes, e procuram captar a
poupana. Os seus ttulos podem ou no ser negociados em bolsa consoante as caractersticas que o compem (IC, 1998).
Rendimento e
Preservao do
capital
Crescimento
do
Rendimento
Objectivos
do
investidor?
Horizonte
Temporal?
Tolerncia
ao
risco?
Menos de
5 anos
Baixa
Em que tipos de
activos
investir?
Mercado monetrio Obrigaes Aces
%
%
%
Mais de
5 anos
Elevada
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A definio dos objectivos do investimento corresponde ao primeiro passo no processo de
investimento. Faerber (2007) refere que existem quatros objectivos bsicos: preservao
do capital investido (estabilidade); rendimento actual, crescimento actual e retorno total.
O principal papel do horizonte temporal ajudar o investidor a seleccionar e avaliar as
vrias alternativas de investimento nas diversas classes e subclasses de activos. Quanto
mais baixo for o seu horizonte temporal, maior nfase deve ser dado ao investimento em
activos de rendimento fixo. Por outro lado, quanto mais longo for o seu horizonte
temporal, maior deve ser a aposta em activos com risco, especialmente aces. Com efeito,
as aces so volteis e tm associadas nveis elevados de incerteza, ou seja, as aces
exibem um risco muito elevado em relao ao retorno esperado.
Frush (2007) destaca que o perfil de risco sem dvida o mais importante determinante na
construo de uma carteira ptima. De acordo com Grable e Lytton (1998) os objectivos
do investimento e o horizonte temporal so dois parmetros objectivos e relativamente
fceis de medir, no entanto o parmetro, tolerncia ao risco, tende a ser subjectivo e,
consequentemente, difcil de medir. Trone, Allbright e Taylor (1996)2 sugeriram que a
tolerncia ao risco o factor determinante na construo do plano de investimento,
referindo que a averso ao risco um parmetro crucial para determinar a alocao ptima
de activos do investidor.
Existem variaes considerveis na definio do conceito de tolerncia ao risco, apesar de
ser um termo de uso comum na rea dos Mercados Financeiros. Alguns investigadores
consideram que a tolerncia ao risco constitui o inverso da averso ao risco (Barsky et al.,
1997; Gron e Winton, 2001). De acordo com Grable (2000), a tolerncia ao risco o
montante mximo de incerteza que algum est disposto a aceitar quando realiza uma
deciso financeira. Com efeito, alm de Grable, outros autores (Harlow e Brown, 1990;
Callan e Johnson, 2002) consideram que a tolerncia ao risco pode ser definida como a
atitude do investidor perante um cenrio de incerteza. Roszkowski, Davey e Grable
(2005) citaram as seguintes definies: o nvel de volatilidade que um investidor pode
tolerar; a quantidade de perda em que algum arrisca incorrer.
2 Referncia consultada em Grable e Lytton (1998)
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As estratgias mais comuns de alocao de activos so a alocao estratgica de activos e
a alocao tctica de activos (Logue e Rader, 1998). De acordo com Brinson, Singer e
Beebower (1986; 1991) a escolha de uma dada carteira envolve quatro etapas
fundamentais:
(1) Decidir as classes de activos a incluir na carteira;
(2) Decidir o peso, em termos de longo prazo, que cada classe de activos dever ter na
carteira;
(3) Alterar estrategicamente o peso de cada classe de activos na carteira de forma a captar
o excesso de rendibilidade resultante de flutuaes de curto prazo no preo das classes de
activos (market timing3);
(4) Seleco individual de activos dentro de uma dada classe de activos (seleco de
activos4).
Aqueles autores referem que as duas primeiras decises correspondem alocao
estratgica de activos e as duas ltimas correspondem alocao tctica de activos.
A deciso de distribuio dos recursos entre as grandes classes de activos, ou seja, a
alocao estratgica de activos, a mais importante deciso de investimento, por dois
motivos: em primeiro, uma importante ferramenta de gesto do risco de acordo com a
Teoria da Carteira, como ser discutido na prxima seco; em segundo, alguns estudos
demonstraram que constituiu a mais importante deciso que um investidor pode realizar no
longo prazo, quer seja no plano institucional ou individual. Portanto, para o investidor a
deciso de escolha entre as classes gerais de activos, ou seja, a escolha da distribuio das
percentagens das diferentes classes de activos numa carteira, a deciso, que em relao a
qualquer outra, ter o maior impacto nos retornos do seu investimento. Esta premissa tem
3 O market timing a estratgia de tomar decises de compra ou venda de activos financeiros baseadas na
previso de futuros movimentos de preos no mercado. Segundo Francis (1993), o investidor que adopta esta
estratgia procura antecipar-se s altas e s baixas do mercado, com o objectivo de seleccionar o momento no
qual os activos esto a preos baixos para realizar compras e vend-los quando esto prximos do seu pico.
4 De acordo com a definio de Brinson, Singer e Beebower (1991, p. 41), a seleco de activos envolve
decises activas de investimento sobre activos que fazem parte de cada classe de activos, nomeadamente, a
deciso que incide sobre a compra de ttulos privados ou pblicos, dentro de cada classe de activos
rendimento fixo, ou a compra de aces de uma empresa especfica, dentro de cada classe de activos de
rendimento varivel.
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como base alguns estudos que procuraram mensurar a relao entre alocao de activos e a
rentabilidade de carteiras de investimento.
Brinson (1986; 1991) e Ibbotson (2000) concluram que mais de 90% do retorno de longo
prazo de uma carteira de activos definido pela sua alocao, ou seja, praticamente toda a
variabilidade dos retornos de uma carteira ao longo do tempo funo da alocao
(estratgica) de activos. Jahnke (1997) tambm esclareceu que no existem dvidas de que
a alocao de activos um determinante importante do desempenho da carteira. Portanto,
estes estudos concluram que a alocao estratgica de activos pode ser considerada mais
importante do que a alocao tctica de investimentos.
O primeiro estudo de Brinson (1986) baseou-se na anlise do desempenho financeiro de 90
fundos de penses dos EUA, durante o perodo de 1974 a 1983. O objectivo do estudo foi
determinar em que medida a estratgia de alocao de activos, a seleco de activos, o
market timing e os custos contribuem para a rentabilidade dos fundos de penses
analisados. A anlise da estratgia de alocao teve por base as seguintes classes de
activos: aces, obrigaes e equivalentes a dinheiro. O market timing foi avaliado atravs
da anlise das alteraes da ponderao de cada classe de activos no investimento ao longo
do tempo. Logo, se um gestor de investimentos alterar, num determinado perodo, a
alocao das trs classes de activos no fundo de penses, isto foi interpretado pelos autores
como uma tentativa dos gestores beneficiarem do market timing. A figura 1 permite
constatar que a alocao de activos explica 93,6% da performance do investimento,
enquanto a seleco de activos, o market timing e outros factores (incluindo custos)
explicam, respectivamente, 2,5%, 1,7% e 2.2% da performance do investimento.
Figura 2: Determinantes do desempenho do investimento
Seleco de act ivos
2,5%
Alocao de act ivos
93,6%
Outros factores
2,2%
M arket t iming
1,7%
Fonte: Frush (2007)
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Brinson et al. (1991) actualizaram Brinson et al. (1986) e confirmaram as concluses
originais, tendo a alocao estratgica de activos respondido por 91,5% da variao dos
retornos, utilizando dados de 82 fundos de penses, no perodo de 1977 a 1987. Este
segundo estudo tambm concluiu que a seleco de activos individuais dentro de uma
classe de activos e o market timing tm uma importncia reduzida. O artigo conclui que a
alocao de activos explica 91,5% da performance do investimento, enquanto a seleco
de activos, o market timing e outros factores explicam, respectivamente, 4,6%, 1,8 % e
2,1% da performance do investimento.
Em 2000, Ibbotson e Kaplan concluram que a alocao de activos explica 40% da
variao dos retornos entre fundos de penses, e que explica praticamente 100% do nvel
de retorno dos fundos.
2.3. Alocao ptima de activos
A teoria da alocao de activos um tema amplamente pesquisado, desde longa data, pelos
acadmicos. Um dos pilares da teoria moderna em Finanas a abordagem mdia-
varincia introduzida por Markowitz, que demonstrou a importncia do processo de
alocao de activos atravs da diversificao de carteiras. Ele concluiu que a anlise
mdia-varincia no deve ser utilizada unicamente para explicar o comportamento do
investidor, mas tambm constitui uma tcnica que deve ser utilizada no processo de
deciso de alocao de activos.
Markowitz, com o seu trabalho Portfolio Selection em 1952, sugeriu que o investidor
racional deve ter em conta apenas dois parmetros na escolha dos activos a incluir na sua
carteira: a mdia (rendibilidade) e a varincia (risco). Alm disso, referiu que a varincia
da rendibilidade uma medida adequada do risco, dado que permite medir de disperso da
respectiva rendibilidade em torno do seu valor mdio. O risco ainda pode ser expresso pelo
desvio padro das rendibilidades (raiz quadrada da varincia). Como destaca Mayo (2000)
o trade-off entre risco e rendibilidade que vai determinar a alocao de activos do
investidor, pois a Teoria da Carteira de Markowitz indica que os investidores requerem um
acrscimo adicional de rendimento por cada incremento do risco, de forma a manterem o
mesmo nvel de satisfao.
-
18
Markowitz introduziu a noo de carteira eficiente ao estabelecer que o investidor racional
deve seleccionar a carteira que lhe oferece a mnima varincia para uma dada rendibilidade
ou a mxima rendibilidade para uma dada varincia. A combinao de carteiras eficientes
vai permitir criar uma fronteira de eficincia5, sobre a qual os investidores devem
seleccionar a carteira mais adequada tendo em conta o seu perfil de tolerncia ao risco
(Nevins, 2003). A fronteira de eficincia de Markowitz, evidenciada na figura 3,
representa todas as carteiras eficientes. de salientar que a tcnica de optimizao de
mdia-varincia (MV) de Markowitz (1952; 1959) vem sendo bastante utilizada para
definir estruturas ptimas de composio de carteiras.
Assim, de acordo com Markowitz, de entre todas as carteiras possveis existe um conjunto
de carteiras eficientes, que sero aquelas que apresentam a mxima rendibilidade para os
vrios nveis de risco e o mnimo de risco para os vrios nveis de rendibilidade. Depois,
cada investidor poder encontrar a sua carteira ptima, tendo em considerao as suas
preferncias individuais de rendibilidade e risco, traduzidas pelas respectivas curvas de
indiferena.
Figura 3: Fronteira de eficincia
Posteriormente, Tobin (1958) expande a anlise de Markowitz ao considerar que o
investidor dispe da possibilidade de investir num activo sem risco. Em teoria, um activo
sem risco aquele em que o investidor sabe exactamente o valor que receber ao final do
prazo de investimento. Este autor desenvolveu a teoria de que o investidor toma as suas
5 Subconjunto dos carteiras pertencentes a fronteira de possibilidades de investimento que para cada nvel de
risco proporciona o mximo retorno. A fronteira eficiente representa as combinaes de maior benefcio
risco-retorno, no havendo nenhuma combinao ptima alm dela.
Rendibilidade
esperada
Desvio
Padro
-
19
decises combinando um activo sem risco com a carteira situado na Fronteira de
Eficincia, elaborado por Markowitz (1952). Quando existe um activo sem risco, os
investidores tm a possibilidade de atingir cada nvel de rentabilidade, correndo um risco
ainda menor do que o que decorre da anlise de Markowitz. Esse objectivo alcanado
atravs da combinao do activo sem risco com uma carteira de activos com risco.
Assim, considerando que o investidor dispe da possibilidade de investir num activo sem
risco, cuja rendibilidade garantida (representada por rf), e tambm da oportunidade de
realizar aplicaes, com risco, correspondentes as diversas carteiras representadas pelos
pontos i,j, l, da Figura 4, das quais as mais eficientes se situam sobre a fronteira AB
(fronteira de eficincia) possvel deduzir uma nova configurao para a fronteira de
eficincia, como se poder verificar de seguida.
Uma vez que o investidor procura obter a melhor combinao possvel, este escolher
investir na carteira com risco de modo eficiente, ou seja, de modo que lhe proporcione as
melhores combinaes de investimento sem risco e de investimentos com risco. A carteira
eficiente sobre a qual recair ento a sua escolha ser aquela que se encontra tangente
fronteira eficiente, ou seja, M*. Deste modo a nova fronteira de eficincia passa a assumir
a configurao geomtrica de uma semi-recta, representa na figura 4 por rfM* e designada
de Linha de Alocao de Capital (LAC).
Figura 4: Fronteira de eficincia e activo sem risco
Rendibilidade esperada
Risco
(Desvio Padro)
Fonte: Adaptado de Quintart e Zisswiller (1994; 152)
rf
M*
A
B
C
i j
l
p
Carteiras de
investimento
com risco
Carteiras
eficientes
-
20
A equao seguinte representa a LAC,
+=
M
FMPFp
rRrR
)
onde
R p = taxa de rentabilidade esperada da carteira p
r F = taxa de rentabilidade livre de risco
R M = taxa de rentabilidade esperada da carteira M* de activos com risco
P = risco da carteira p
M = risco da carteira M*
No entanto, a carteira que o investidor vai escolher no depende apenas da LAC, mas
tambm depende da sua funo de utilidade individual, que pode ser representada pela
curva de indiferena.
Figura 5: Carteiras diferentes para investidores diferentes
Rendibilidade esperada
Investidor H
Investidor L
Risco (Desvio Padro)
Fonte: Huang (2007)
Sharpe (1997) refere que a carteira ptima determinada pela soluo de tangncia com a
fronteira de eficincia que corresponde ao ponto sobre a fronteira de eficincia em que a
curva de indiferena toca a fronteira (Sharpe, 1997). A figura 5, apresenta a interseco
das curvas de indiferena de dois investidores, um com um baixo nvel de tolerncia ao
rf
C
C
D
-
21
risco (L) e outro com um elevado nvel de tolerncia ao risco (H). O Ponto C, onde a curva
de indiferena tangente a LAC, diz respeito carteira ptima seleccionada por um
indivduo avesso ao risco, que engloba uma proporo maior de activos financeiros de
risco reduzido. O ponto D corresponde carteira ptima para um investidor mais tolerante
ao risco, constituda por uma percentagem elevada de activos com risco. Assim, um
investidor que opta por investir numa carteira mais esquerda do grfico tipicamente
conservador e no pretende correr muitos riscos; mas medida que caminha para a direita,
a sua agressividade vai aumentar, estando disposto a correr um risco maior para obter uma
rendibilidade superior. Logo, podemos concluir que a seleco de uma carteira especfica
depende do nvel de tolerncia ao risco do investidor individual, que neste modelo
reflectido pela posio da sua curva de indiferena.
Em suma, como salientou Huang (2007), podemos concluir que a tolerncia ao risco um
factor chave no processo de alocao de activos. Assim, ao seleccionar os activos que
comporo a carteira ptima, o investidor dever estar consciente do nvel de risco que est
disposto a aceitar. Vrios artigos confirmam a existncia de uma relao positiva entre o
perfil de tolerncia ao risco de um investidor e o nvel actual de risco da sua carteira.
Schooley e Worden (1996), com base nos dados fornecidos pelo Survey of Consumer
Finances (SCF)6 de 1989, mostraram que o nvel actual de risco das carteiras dos
investidores individuais est altamente correlacionado com o seu perfil de risco. Logo, os
indivduos mais avessos ao risco detinham um rcio de activos com risco menor, enquanto
os indivduos que assumiam um risco financeiro substancial tinham um rcio de activos
com risco superior. Hariharan, Chapman e Domian (2000), examinaram as decises de
alocao de activos de indivduos, em situao de pr-reforma, e concluram que um nvel
elevado de tolerncia ao risco vai reduzir a propenso individual do investidor em adquirir
activos sem risco (pp.159). Alguns autores (Hanna et al., 1998) tambm sugeriram que os
gestores de investimentos devem assumir que a tolerncia ao risco financeiro e alocao de
activos esto positivamente correlacionados, mantendo todos os outros factores constantes.
6 Survey of Consumer Finances uma pesquisa realizada anualmente no mercado americano (E.U.A) e
abrange dados sobre os activos, dvidas, atitudes financeiras e comportamento financeiro de indivduos e
famlias. Nos ltimos anos a pesquisa tem sido conduzida pelo National Opinion Research Center na
Universidade de Chicago sob a superviso do Federal Reserve e outras agncias federais.
-
22
2.4. A influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas
A composio da carteira de um indivduo depende do seu perfil de risco, tal como vimos
na seco anterior, assim os indivduos menos tolerantes ao risco tendem a escolher uma
menor proporo de activos com risco do que os investidores mais agressivos. Muitos
investigadores sugeriram que as variveis demogrficas e socioeconmicas, podem ser
utilizadas para explicar o nvel de tolerncia ao risco dos investidores (Grable, 2000).
Portanto, se os investidores tm diferentes preferncias em relao ao risco que pretendem
correr, que resultam do facto de cada pessoa ter caractersticas especficas, quer a nvel
demogrfico, quer a nvel scio econmico, possvel verificar variaes considerveis
nos seus investimentos ao longo do tempo, em resultado de uma procura diferenciada por
cada categoria de activos.
De seguida vo ser apresentados os factores mais abordados em estudos prvios, que
mostraram resultados interessantes, embora, alguns sejam contraditrios.
Gnero
Muitos estudos concluram que existe uma relao entre o gnero (i.e, masculino ou
feminino) e o nvel de tolerncia ao risco do investidor, defendendo que as mulheres so
menos tolerantes ao risco do que os homens (Grable, 2000; Grable e Joo, 2000; Sung e
Hanna, 1996). Bajtelsmit e Bernasek (1996) apresentaram diversas razes que explicam
porque que os homens investem de forma diferente das mulheres, que esto relacionadas,
nomeadamente, com as diferenas no nvel de riqueza, rendimento, responsabilidades no
cuidado dos dependentes, factores genticos e de socializao.
Slovic (1966) concluiu, aps um reviso extensa da literatura, que "a crena que prevalece
na nossa cultura que os homens devem assumir mais riscos do que mulheres" (p.169).
Assim, espera-se que as mulheres sejam investidoras mais conservadoras que os homens e,
consequentemente, so-lhes oferecidos investimentos com menor risco e com menores
retornos esperados (Schubert et al., 1999).
Similarmente, alguns estudos revelaram que as mulheres tm menor propenso do que os
homens em adquirir activos com risco, como o caso de Bajtelsmit et al. (1999) que
-
23
concluram que as mulheres so mais avessas ao risco na definio da composio da sua
carteira do que os homens. Alguns investigadores (Hariharan et al., 2000; Coleman, 2003)
verificaram que os homens possuem comparando com as mulheres, uma proporo mais
elevada de activos financeiros em aces e uma proporo reduzida activos sem risco.
Idade Os investidores tendem a ajustar as suas carteiras de acordo com o ciclo de vida. A
hiptese do ciclo de vida do indivduo, apresentada por Modigliani (1986), prev que a
averso ao risco aumente ao longo da vida a medida que as pessoas envelhecem, mais
avessas ao risco se tornam. Assim, expectvel que o peso das aces na carteira do
investidor diminua com o aumento da idade. Nos primeiros anos de vida (20, 30 ou 40
anos) dever privilegiar-se o investimento em aces, dado os retornos potencialmente
mais altos a longo prazo. medida que o investidor se aproxima da idade da reforma, vai
aumentando progressivamente o peso dos activos de rendimento fixo na sua carteira
(obrigaes, mercado monetrio), isto acontece porque neste estgio do ciclo de vida o
investidor no tem rendimento para compensar os resultados adversos de investimento
arriscados (Bajtelsmit, 1999).
Estudos prvios sobre a idade, enquanto determinante do padro de alocao de activos,
centraram-se na anlise da relao entre a idade e o investimento em activos de risco.
Morin e Suarez (1983) encontram-se entre os primeiros autores a apresentar uma
investigao emprica daquela relao, utilizando dados de 1970 do Canadian Survey of
Consumer Finances. Atravs da anlise da covarincia, eles descobriram que h um efeito
significativo da idade sobre a deciso de alocao de activos das famlias e que as pessoas
se tornam mais avessas ao risco com o aumento da idade. Mais recentemente, Coleman
(2003) comprovou uma relao negativa entre a varivel idade e a percentagem de activos
com risco includos na carteira de um investidor.
Wang e Hanna (1997) analisaram a relao entre a idade e a tolerncia de risco, que foi
medida atravs do rcio de activos de risco sobre o valor total do investimento. O seu
modelo mostrou que as pessoas tendem a investir mais em activos de risco com o aumento
da idade, indicando uma relao significativa e positiva entre idade e tolerncia ao risco.
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24
Os resultados foram contrrios hiptese do ciclo de vida, que defende que a averso ao
risco aumenta com a idade.
Rendimento
Vrios estudos confirmaram que o rendimento est relacionado significativamente e
positivamente com a probabilidade de se investir em activos com risco (Gutter et al., 1999;
Haliassos e Bertaut, 1995; Kreinin, 1959). Coleman (2003) e Zhong e Xiao (1995)
mostraram que a percentagem de investimento em aces cresce com o rendimento. Desta
forma, quanto maior o rendimento, maior a proporo da riqueza financeira investida em
activos de risco.
de salientar que o rendimento um determinante da tolerncia ao risco que tambm teve
relevncia em numeras pesquisas. Esta varivel foi identificada como tendo uma relao
positiva com a tolerncia ao risco, isto , quanto mais elevado for o nvel de rendimento,
maior ser a tolerncia ao risco (Grable e Lytton, 1999; Hanna, Gutter e Fan, 1998;
Schooley e Worden, 1996).
Estado civil
O estado civil potencialmente uma importante varivel que tem influncia sobre o nvel
de preferncia pelo risco no processo de investimento. Inmeras pesquisas encontraram
diferenas entre casados e solteiros em termos de tolerncia ao risco, mas tambm no que
diz respeito a alocao de activos. Alguns autores sugerem que os investidores solteiros
so mais tolerantes ao risco (McInish, 1982; Faaf et al., 2003). No entanto, algumas
pesquisas falharam em identificar qualquer relao significativa entre estado civil e
tolerncia ao risco (e.g., Haliassos e Bertaut, 1995).
Em relao alocao de activos, Gutter et al. (1999) (in Hanna e Lindamood, 2004)
mostrou que os indivduos casados investem mais em activos sem risco do que os
indivduos solteiros. No entanto, segundo Bertaut (1998) a alterao do estado civil tem
efeito sobre a deciso de investir em aces ser casado est relacionado positivamente
com a probabilidade de se investir em aces. Por outro lado, Hariharan et al. (2000)
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25
mostrou que no existe nenhuma relao entre estado civil e a proporo de activos com
risco que compem a carteira.
Nvel de Educao
Alguns autores mostram que o nvel de educao propicia uma tolerncia ao risco maior,
ou seja, comprovaram a existncia de uma relao positiva entre o nvel de educao e a
tolerncia ao risco (Faff et al., 2004; Grable e Joo, 1997; Sung e Hanna, 1996). Alm
disso, vrios estudos concluram que a tolerncia ao risco aumenta com o nvel de
educao, sendo maior para aqueles com um nvel superior de educao e menor para
aqueles com um nvel mdio incompleto (Sung e Hanna, 1996).
Similarmente, existe alguma evidncia adicional de que educao contribui para um
comportamento mais agressivo na escolha de uma carteira. Haliassos and Bertaut (1995)
mostraram que, controlando outros factores, os indivduos com um nvel de educao mais
elevado tm uma maior propenso para adquirir aces comparativamente aos investidores
com um nvel de educao inferior. Outros autores confirmaram que a percentagem de
investimento em aces aumenta com o nvel de educao (Coleman, 2003; Wang e
Hanna, 1997).
Outros factores
A actividade profissional constitui uma varivel fundamental para caracterizar os
investidores. Vrios artigos que analisaram a alocao de activos dos indivduos,
utilizaram a actividade profissional como varivel de controlo. Gollier (2000) analisou os
factores que determinam a afectao ptima de activos e mais concretamente a posse de
aces. Este autor constatou que o estatuto profissional influencia a alocao ptima de
activos. Yao (2003) mostrou que os indivduos reformados e os desempregados preferem
investimentos mais seguros.
Paralelamente, alguns autores e gestores de investimentos concluram que a tolerncia ao
risco tambm pode ser associada ao tipo de emprego do indivduo, nomeadamente,
sustentam que a ocupao de um estatuto profissional elevado est relacionada com um
nvel de tolerncia ao risco elevado (Sung e Hanna, 1996). Assim, os indivduos que
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26
assumem poucos riscos vo escolher um emprego com riscos econmicos reduzidos
(Grable e Lytton, 1998). Por exemplo, assume-se que os indivduos empregados na rea
vendas/comercial, empregados por conta-prpria e empregados em empresas privadas,
tendem a ser mais tolerantes ao risco, em comparao com os funcionrios do sector
pblico (Grable e Lytton, 1999).
Outros factores, com influncia sobre a tolerncia ao risco, foram sugeridos,
nomeadamente, expectativas econmicas (Grable e Joo, 2000) e os conhecimentos
financeiros (Grable e Joo, 2000; Sung e Hanna, 1996). Segundo estes autores, os
indivduos que tm expectativas favorveis para o futuro e um maior nvel de
conhecimentos financeiros tendem a ser mais tolerantes ao risco. Kreinin (1959 in Zhong e
Xiao, 1995) conclui que os indivduos que so mais optimistas em relao ao futuro da
economia e da sua situao particular tm uma maior propenso, por oposio aos mais
pessimistas, para adquirir aces. Rajamohan (2005) analisou o impacto dos
conhecimentos financeiros na composio da carteira das famlias e concluiu que a posse
de aces est significativamente e positivamente relacionada com os conhecimentos
financeiros.
A satisfao financeira tambm constitui um determinante importante da tolerncia ao
risco, na medida em que existem diversos artigos que atestam que um nvel elevado de
satisfao com a sua situao financeira actual est associado a um nvel elevado de
tolerncia ao risco (Xiao, 2007). A satisfao financeira pode ser considerada como uma
forma de medir o bem-estar financeiro (Xiao, 2007, p. 25), assim indivduos
financeiramente satisfeitos tm uma maior predisposio para assumirem riscos (Forgas,
1995; Rusting e Larsen, 1995).
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2.5. Os Valores Pessoais
Neste subcaptulo ser apresentada uma reviso da literatura sobre os valores pessoais e
sua relevncia para a compreenso do comportamento dos indivduos, realando-se a
Teoria Universal dos Valores de Schwartz. Com efeito, na rea de estudos dos valores e
sua relao com o comportamento, Shalom Schwartz , incontestavelmente, considerado o
lder mundial (Steenkamp et al., 1999).
Por fim, uma vez que nunca foi estudada a relao entre os valores pessoais e a alocao
de activos, sero frisados alguns estudos que evidenciaram que os valores pessoais podero
ter influncia no grau de tolerncia ao risco do investidor, que constitui, tal como vimos na
seco anterior, o factor determinante na definio da composio da carteira de
investimento.
2.5.1. O conceito de Valores Pessoais
O estudo dos valores humanos tem sido um tema abordado por diferentes reas do
conhecimento, como Educao, Filosofia, Psicologia, Sociologia. Isto porque os valores
tm um papel relevante na orientao do comportamento humano, e mais, na organizao
das pessoas em sociedade (Rokeach, 1973).
Os valores pessoais so objectivos transituacionais desejveis que guiam a forma como os
indivduos escolhem as suas aces, avaliam as pessoas e justificam as aces e avaliaes
(Schwartz, 1992; 1999). So tambm entendidos pelos investigadores sociais como
cognies sociais altamente abstractas detidas em comum pelos membros de uma
sociedade e que representam preferncias de certo tipo de aco ou estado de coisa
(Triandis, 1990). Na literatura, contudo, encontramos outras definies de valores, mas
que essencialmente expressam o mesmo sentido. A ttulo de exemplo, apresentam-se as
seguintes definies:
Concepes do desejvel que influenciam a forma como as pessoas seleccionam as
suas aces e avaliam os acontecimentos (Bilsky e Schwartz, 1987);
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28
Representaes cognitivas dos objectivos ou motivaes importantes das pessoas
que coordenam o seu comportamento (Bilsky e Schwartz, 1994);
Estruturas abstractas que representam as crenas das pessoas sobre modos
desejveis de comportamento ou sobre estados finais desejveis. Estas crenas
transcendem objectivos e situaes especficas e detm um carcter normativo.
Provm das necessidades bsicas e das exigncias da sociedade (Feather, 1995);
Crenas que pertencem a modelos desejveis de conduta, transcendendo situaes
especificas, guiando a seleco ou avaliao do comportamento e que esto
ordenados por importncia, de forma a formar um sistema de prioridades (Rokeach,
1973);
Objectivos trans-situacionais desejveis que guiam a forma como os actores sociais
escolhem as aces, avaliam as pessoas e justificam as suas aces e avaliaes.
(Schwartz, 1999).
Comuns maioria das definies de valores humanos esto as seguintes caractersticas:
(1) Os valores so crenas (Bilsky e Schwartz, 1987, 1990), isto , so estruturas
cognitivas intimamente ligadas s emoes e, quando activadas, de forma
consciente ou no, desencadeiam sentimentos positivos ou negativos (Schwartz,
2005). Com efeito, Rokeach (1973) afirmou que, os valores, tal como todas as
crenas, possuem componentes cognitivas, afectivas e comportamentais. O valor
uma estrutura cognitiva, porque um conhecimento sobre o desejvel; afectivo,
dado que transmite uma emoo, que nos pode levar a aprovar quem d exemplos
positivos ou a no aprovar quem d exemplos negativos; possui um componente
comportamental, dado que quando activado, leva o indivduo a agir.
(2) Os valores referem-se a objectivos desejveis, visto que nos mostram o que
importante na nossa vida, fornecendo motivao para agirmos correctamente
(Schwartz, 2005). Segundo Rokeach (1973), os valores permitem distinguir o que
desejvel do que no desejvel, da que os valores so preferncias, pois
-
29
determinam que uma dada coisa prefervel a outra, o que influencia, portanto,
condutas, actuaes e aces.
(3) Os valores so objectivos abstractos, que transcendem aces e situaes
especficas. Esta natureza abstracta dos valores, distingue-os de conceitos como
normas e atitudes, que dizem respeito a aces e situaes especficas (Schawrtz,
2005). Outra caracterstica que permitir distinguir os valores das normas e das
atitudes, o facto de as pessoas estabelecerem uma hierarquia dos valores, ou seja,
ordenarem os valores de acordo com a sua importncia relativa, formando um
sistema de prioridades que caracterstico de cada indivduo (Schwartz, 2005).
(4) Os valores so padres (Bilsky e Schwartz, 1987, 1990). Rokeach (1973)
defende que so padres multifacetados que guiam a conduta das pessoas,
nomeadamente, porque orientam os indivduos no posicionamento frente a
determinadas questes sociais; servem para guiar a forma como as pessoas se
apresentam aos outros; servem de guia para julgar e avaliar as pessoas; permitem
persuadir e influenciar as pessoas e oferecem um padro que nos indica como
racionalizar as nossas aces, atitudes e crenas.
2.5.2. Valores e comportamento
De acordo com Tamayo e Porto (2005), o estudo da relao entre valores e comportamento
constitui uma preocupao antiga, mas foi com Rokeach, nos anos 70, que o estudo
sistemtico dos valores ganhou relevo, pois este autor afirma que o conhecimento dos
valores de uma pessoa vai permitir predizer como ela se comportar em diversas situaes
experimentais e da vida real (Rokeach, 1973). Os valores envolvem necessariamente uma
preferncia, ou seja, uma distino entre o que importante para o indivduo e o que
secundrio, entre o que tem valor e o que no tem. Assim, na essncia dos valores parece
estar implcita a sua relao com o comportamento.
Sendo os valores o que h de mais abstracto nas cognies sociais, eles reflectem as
caractersticas mais bsicas da adaptao do indivduo ao meio. As atitudes e os
comportamentos so produzidos a partir dessas abstraces. Dada uma determinada
situao, teoricamente, os valores vo influenciar as atitudes, que por sua vez vo
-
30
influenciar os comportamentos especficos. Esta sequncia pode ser designada de
hierarquia valor atitude comportamento (Homer et al., 1988).
Schwartz (2005) identifica e explica quatro processos atravs dos quais os valores podem
influenciar o comportamento de um indivduo. O primeiro processo diz respeito
activao de valores, ou seja, para determinar o comportamento preciso que os valores
sejam activados, o que est dependente da facilidade com que determinado valor vem
memria. Desta forma, confirma-se que os valores mais importantes para o indivduo so
activados mais facilmente, sendo estes valores que causam o comportamento. O segundo
processo reconhece os valores como fonte de motivao, assim os valores motivam aces,
no entanto Feather (1988) refere que os indivduos para desenvolverem essas aces tm
de acreditar que tm capacidade para as realizarem e que estas vo produzir os resultados
esperados. O terceiro processo, evidencia que os valores influenciam a ateno, percepo
e interpretao de situaes, isto , os indivduos vo dar ateno apenas a determinadas
situaes, aquelas que so percepcionadas como importantes do ponto de vista dos seus
valores e, em consequncia, cada interpretao vai implicar uma determinada aco.
Finalmente, o quarto processo refere que os valores influenciam o comportamento, atravs
do planeamento das aces. Portanto, se os indivduos planearem de forma cuidadosa as
suas aces, maior ser a probabilidade do seu comportamento expressar os seus valores
prioritrios, visto que o planeamento leva os indivduos a concentrarem-se nos prs da
aco desejada e a acreditarem mais nas suas capacidades para alcanarem com sucesso os
seus objectivos (Gollwitzer, 1996).
Portanto, do ponto de vista terico, parece no existir dvida de que os valores so factores
determinantes do comportamento. De referir ainda que Rokeach (1973) argumenta que as
consequncias dos valores no comportamento do indivduo podem-se manifestar em todos
os fenmenos que os investigadores considerem relevantes para investigar.
-
31
2.5.3 Teoria Universal de Schwartz
Actualmente, a teoria dos valores de Schwartz uma das teorias de valores mais utilizadas
e aquela que abarca a complexidade das relaes entre os valores e o comportamento
(Tamayo e Porto, 2005, p. 18). No mesmo sentido, Steenkamp et al. (1999) refere que,
provavelmente, a mais importante e completa teoria e linha de investigao sobre valores
pessoais foi a desenvolvida por Schwartz e seus colegas.
Schwartz segue o modelo da hierarquia de valores de Rokeach (Bilsky e Schwartz, 1987).
No entanto, o grande avano dado por Schwartz prende-se com o facto de procurar
construir um modelo, uma estrutura de valores, que pode ser aplicado a todas as pessoas e
naes do mundo, ou seja, universal.
Schwartz demonstrou que os valores humanos podem ser agrupados em dez tipos
motivacionais distintos reconhecidos em diversas culturas. Esta tipologia de valores foi
deduzida teoricamente a partir das seguintes necessidades bsicas universais que so pr-
existentes em qualquer indivduo: necessidades biolgicas do organismo; interaco
necessidades de coordenao e interaco social; e necessidades de bem-estar e
sobrevivncia dos grupos (Bilsky e Schwartz, 1987).
2.5.3.1 Os dez tipos motivacionais de valores
Apesar de existir consenso entre os autores de que os valores constituem representaes
cognitivas das necessidades, Schwartz foi o primeiro a imaginar uma estrutura de valores
baseada na motivao subjacente a cada um deles (Tamayo, 2007) A teoria de valores de
Schwartz centra-se no contedo motivacional imbudo em cada valor. Portanto, os valores
expressam metas motivacionais do indivduo, ou seja, o que diferencia um valor de outro
o tipo de motivao que ele expressa.
Schwartz (1992), aps reviso da estrutura proposta por Bilsky e Schwartz (1987; 1990),
props uma tipologia universal de valores baseada na literatura sobre as necessidades
bsicas dos indivduos, que contm dez tipos motivacionais de valores: Benevolncia,
Conformidade, Tradio, Segurana, Poder, Realizao, Hedonismo, Estimulao,
Autodeterminao e Universalismo.
-
32
De seguida, apresenta-se uma definio detalhada de cada um dos dez tipos motivacionais
de valores, salientando-se os objectivos que expressam as necessidades que os determinam
e os itens utilizados para medir cada tipo motivacional, que esto presentes,
nomeadamente, no Schwartz Value Survey.
Benevolncia
Este tipo motivacional enfatiza a preocupao com o bem-estar das pessoas com quem o
indivduo contacta frequentemente (Schwartz e Sagiv, 1995) e deriva dos requisitos
bsicos para o bom funcionamento do grupo primrio e das necessidades orgnicas de
afiliao. Os valores de benevolncia podem ser medidos atravs dos seguintes itens: ser
prestvel, honesto, piedoso, responsvel, leal (Schwartz, 2005).
Conformidade
Este tipo motivacional envolve a limitao de aces e impulsos que podem constituir uma
violao das normas ou expectativas sociais (Schwartz e Sagiv, 1995). A conformidade
um requisito fundamental para o bom funcionamento dos grupos, j que reprime impulsos
que tendem a incomodar ou prejudicar a interaco no nosso quotidiano (Schwartz, 2005).
Ser obediente, bem educado e auto-controlado so exemplos de valores deste tipo
motivacional (Bilsky e Schwartz, 1987).
Tradio
Segundo Schwartz (1992, p. 10) os grupos em todos os lugares desenvolvem smbolos e
prticas que representam experincias partilhadas. Assim, este tipo motivacional reala
objectivos de respeito, compromisso e aceitao de crenas, costumes e ideias da cultura
ou religio dos indivduos, que simbolizam a solidariedade do grupo, contribuindo para a
sua sobrevivncia. Os valores de tradio so medidos atravs dos seguintes itens: respeito
pela tradio, humilde, devoto, consciente dos seus limites, moderado (Schwartz, 2005).
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Segurana
Reala objectivos de segurana, harmonia e estabilidade da sociedade, dos
relacionamentos e de si mesmo. Schwartz (1992) sugere que este tipo motivacional inclui
dois subtipos de valores de segurana, aquele que diz respeito segurana individual, dado
que serve principalmente os interesses dos indivduos (ex: sade) e aquele que serve
interesses mais amplos do grupo e da sociedade (ex: segurana nacional). Os valores de
segurana resultam das necessidades bsicas do organismo do indivduo e grupos e que
permitem a sobrevivncia fsica (Bilsky e Schwartz, 1987). Os itens ordem social,
segurana da famlia, limpo, reciprocidade de favores e saudvel permitem medir este tipo
de valores.
Realizao
O objectivo expresso por este tipo motivacional est relacionado com a obteno de
sucesso pessoal, atravs da demonstrao de competncias de acordo com os padres
aprovados pela sociedade. Com efeito, para que os indivduos sobrevivam e os grupos e
instituies alcancem com sucesso os seus objectivos, necessrio privilegiar um
desempenho competente (Schwartz, 2005). Este tipo motivacional medido com base nos
seguintes itens: ambicioso, bem sucedido, capaz e influente (Schwartz, 1992).
Poder
O poder diz respeito ao estatuto social, ao prestgio e ao controlo sobre pessoas e recursos
(Schwartz e Sagiv, 1995). Com efeito, a diferenciao entre estatutos constitui um facto da
vida social que fundamental para o funcionamento das instituies sociais (Bilsky e
Schwartz, 1987). Este tipo motivacional engloba os seguintes itens: autoridade, poder
social, preservao da imagem pblica, reconhecimento social.
de referir que este valor motivacional, tal como a realizao, foca a estima social. No
entanto, os valores de realizao do nfase demonstrao activa de competncias em
interaces concretas, enquanto que os valores de poder visam a conquista ou manuteno
de uma posio dominante dentro de um sistema mais geral (Schwartz, 2005).
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Hedonismo
Os valores includos neste tipo motivacional derivam das necessidades orgnicas e do
prazer associado sua satisfao, baseando-se em objectivos de gratificao sensual ou
prazer (Schwartz, 2005). O prazer, vida de prazer, auto-indulgncia constituem itens que
permitem medir este tipo motivacional.
Estimulao
Reala objectivos de excitao, novidade e desafio na vida. De acordo com Schwartz
(2005), este tipo de valor motivacional resulta da necessidade orgnica de variedade e
estimulao dos indivduos, de forma a conseguirem um nvel ptimo e positivo de
actividade. Os seguintes itens permitem medir este tipo motivacional: uma vida variada,
uma vida excitante e ousado.
Autodeterminao
O principal objectivo que define este tipo motivacional o pensamento e aco
independente escolher, criar e explorar. Os valores de autodeterminao so o resultado
das necessidades orgnicas baseadas no controlo e domnio e de requisitos de interaco de
autonomia e independncia. A criatividade, liberdade, curiosidade independncia so
exemplo de valores que permitem medir a autodeterminao (Schwartz, 2005).
Universalismo
Compreenso e aceitao dos outros e preocupao com o bem-estar de todas as pessoas e
do meio ambiente constituem os objectivos deste tipo motivacional, cujos valores tambm
derivam das necessidades de sobrevivncia dos grupos e dos indivduos. No entanto, este
tipo motivacional contrasta com a benevolncia, pois as motivaes associadas aos valores
de universalismo s so reconhecidas a partir do momento que as pessoas entram em
contacto com outras pessoas que no pertencem ao seu grupo primrio, indo pois para
alm das relaes intragrupo. Alm disso, o tipo motivacional universalismo tambm
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activado quando os indivduos tomam conscincia da escassez de recursos naturais,
constatando que se no protegerem o meio ambiente isso implicar a destruio dos
recursos que so essenciais para a sobrevivncia das pessoas. Os valores do universalismo
podem ser medidos atravs dos seguintes itens: mente aberta, justia social, igualdade, um
mundo em paz, mundo de beleza, sabedoria e proteger o meio ambiente (Schwartz, 2005).
O quadro apresenta um breve resumo do que foi referido anteriormente, identificando-se
para cada tipo motivacional a correspondente meta motivacional o principal objectivo
que define cada factor motivacional e as aces que representam estes tipos
motivacionais (exemplos de valores).
Tabela 1: Domnios de valores e meta motivacional Tipo de valor
motivacional
Meta Motivacional
Exemplos de valores
Benevolncia Interesse e preocupao com o bem-estar de pessoas ntimas
Prestvel
Responsvel
No rancoroso
Honesto
Leal
Amizade verdadeira
Conformidade Agir de acordo com as expectativas sociais
Obediente
Auto-disciplina
Polidez
Respeito aos pais e idosos
Tradio Respeito dos princpios, ideias e costumes de uma cultura ou
religio
Respeito pela tradio
Devoto
Moderado
Humilde
Segurana Harmonia e estabilidade da sociedade, das relaes e de si
prprio
Segurana nacional
Ordem social
Reciprocidade de favores
Segurana familiar
Limpeza
Saudvel
Realizao Sucesso pessoal, atravs da demonstrao de competncias
individuais, de acordo com padres sociais
Ambio
Inteligente
Influente
Capaz
Poder Estatuto social, prestgio e controle sobre recursos e pessoas
Poder social
Autoridade
Riqueza
Reconhecimento social
Hedonismo Prazer ou gratificao sensual
Prazer
Desfrutar a vida
Ser condescendente
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Estimulao Procura de excitao, novidade e mudana
Vida excitante
Vida variada
Audaz
Autodeterminao Independncia de pensamento e aco, criatividade e explorao
Liberdade
Criatividade
Independncia
Curiosidade
Respeito prprio
Universalismo Compreenso, tolerncia e preocupao com o bem-estar dos
outros e da natureza
Igualdade
Proteco do meio ambiente
Justia social
Um mundo de beleza
Um mundo em paz
Sabedoria
Fonte: Schwartz (1992), Schwartz (2005)
de salientar que Schwartz (Tamayo e Porto, 2005) confirmou, de forma emprica, atravs
de amostras de mais de 67 pases, a existncia de uma estrutura axiolgica constituda por
dez motivaes. Indcios estatsticos sugerem que os dez tipos motivacionais identificados
cobrem todo o espectro motivacional dos valores. No entanto, o prprio Schwartz
(Tamayo e Porto, 2005, p. 45-46) afirma que difcil rejeitar definitivamente a
possibilidade de que alguns tipos motivacionais universais estejam ausentes.
2.5.3.2 A estrutura de relaes de valores
Schwartz (1992) desenvolveu uma estrutura circular para representar a sua teoria, cuja
representao grfica evidenciada pela Figura 6, onde podemos identificar que os dez
tipos motivacionais esto inseridos em quatro dimenses de valores de ordem superior:
Abertura mudana, Conservao, Autopromoo e Autotranscendncia.
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Figura 6: Estrutura circular dos valores humanos como tipos motivacionais e as
dimenses bipolares de Schwartz
Fonte: Schwartz (1992)
A estrutura circular da Figura 6, destaca as relaes de compatibilidade e de conflito entre
os tipos motivacionais, em que os valores compatveis se encontram em proximidade
estreita e os valores que concorrem entre si em lados opostos do crculo. Assim, quanto
mais prximos esto dois tipos motivacionais em torno do circulo, mais semelhantes so as
suas motivaes subjacentes; por outro lado, quanto mais afastados esto dois tipos
motivacionais, mais diferentes so as motivaes que representam (Tamayo e Porto,
2005).
Schwartz demonstrou a universalidade das compatibilidades atravs dos seguintes pares de
valores (Schwartz, 1992):
Poder e Realizao enfatizam a superioridade social e estima;
Realizao e Hedonismo enfatizam a satisfao pessoal;
Hedonismo e Estimulao o desejo por experincias afectivas e de prazer;
Estimulao e Autodeterminao a novidade e o domnio;
Auto - Determinao Universalismo
Benevolncia
Estimulao
Conformidade Tradio
Hedonismo Realizao
Poder
Segurana
Auto-Transcendncia
Conservao
Auto-Promoo
Abertura Mudana
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Autodeterminao e Universalismo expressam confiana no julgamento prprio e
satisfao com a diversidade;
Universalismo e Benevolncia demonstram preocupao com outros e superao
de interesses individuais;
Benevolncia e Tradio a devoo a um grupo;
Conformidade e Tradio a subordinao do indivduo s expectativas sociais
impostas;
Tradio e Segurana a preservao do estatuto social;
Conformidade e Segurana a proteco da ordem e a harmonia nas relaes;
Segurana e Poder o evitar das incertezas controlando as relaes e os recursos.
Por outro lado, a relao de conflito entre os tipos motivacionais pode ser verificada,
atravs da organizao dos tipos motivacionais em duas dimenses bipolares opostas
(Tamayo e Porto, 2005, p. 29). A primeira dimenso destaca a oposio entre a Abertura
mudana versus Conservao, onde se inserem os tipos motivacionais
Autodeterminao e Estimulao (que enfatizam a independncia do pensamento e
favorecem a mudana) versus Conformidade, Tradio e Segurana (que focalizam a
submisso, preservaro de prticas tradicionais e proteco da estabilidade).
A segunda dimenso contrape Autopromoo versus Autotranscendncia, onde
inclumos os tipos motivacionais Realizao e Poder (que evidenciam a procura de sucesso
pessoal e domnio sobre os outros) versus Universalismo e Benevolncia (que do nfase
igualdade entre as pessoas e a preocupao com o bem-estar dos outros). O tipo
motivacional Hedonismo est includo tanto na Abertura mudana como na
Autopromoo.
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2.5.4. Valores Pessoais e Alocao de Activos
Apesar de no existir nenhum estudo que relacione os valores humanos com a alocao de
activos financeiros, aqueles podero constituir uma varivel potencial para compreender a
forma como as pessoas organizam as suas preferncias em relao escolha dos activos
financeiros para a sua carteira.
Nos modelos oferta/procura de qualquer bem, a procura por parte dos consumidores
determinada quer por caractersticas fundamentais como os custos de produo, o preo
dos bens substitutos, quer por caractersticas que se relacionam com valores, tais como
preferncias e gostos. Tambm nas escolhas de investimentos os investidores apresentam
diferentes preferncias e raciocinam com base nos seus prprios valores. O Ramo da
Finana Comportamental mostrou que as caractersticas psicolgicas e preferncias dos
investidores so importantes, tanto nas escolhas dos investidores como no comportamento
dos preos dos ttulos.
Alguns autores realam que o investimento em activos financeiros, alm de ser afectado
por variveis demogrficas e socioeconmicas, tambm determinado pela orientao
psicolgica de cada indivduo, nomeadamente pela personalidade do indivduo (Ackert et
al., 2002).
Estudos de cariz psicolgico tm abordado a medio da tolerncia ao risco atravs do
desenvolvimento de medidas que classificam os indivduos em diferentes categorias de
risco. A partir da definio destas categorias, um gestor de investimentos tem
conhecimento do perfil de risco da pessoa e, portanto, tem capacidade para recomendar
uma composio de activos para a sua carteira que v de encontro s suas caractersticas
especficas. Exemplos deste tipo de abordagem so detalhados por Kaiser (1987), Lipper e
Busby (1987), Droms (1987) e Lebaron, Farrelly e Gula (1989).
Neste contexto, no de admirar que tambm se possa estabelecer uma relao de
causalidade entre os valores dos indivduos e a composio da sua carteira de
investimentos, uma vez que constituem um dos aspectos fundamentais da psicologia do
indivduo, contribuindo para explicar o seu comportamento (Schwartz, 2005). Esta uma
das questes empricas que nos propomos estudar.
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de salientar que apesar de alguns autores terem frisado que os valores pessoais tm
impacto na alocao de activos, no se verificou nenhum estudo emprico desta relao.
Com efeito, alguns autores (e.g., Doyle, 1999 e Waddell, 1987) argumentam que a
tolerncia ao risco, que como sabemos o principal factor que determina a deciso de
alocao de activos, resultado, pelo menos parcial, dos dos seus valores pessoais. Sendo
de salientar que Doyle (1999) concluiu que a tolerncia das pessoas ao risco financeiro
resultado dos seus temperamentos, que esto relacionados com os seus valores e que so
reflectidos pelas suas origens biolgicas e sociais. De acordo com Waddell (1987), a
tolerncia ao risco financeiro reflecte os valores, crenas e metas do indivduo.
2.6. Concluso
Iniciamos este captulo com a apresentao de alguns conceitos essenciais para o presente
trabalho de investigao, designadamente, o conceito de alocao de activos e sua
importncia no sucesso da estratgia de investimento. Posteriormente, efectuamos uma
breve reviso da literatura sobre a Teoria da Carteira e apresentamos os principais
resultados de estudos prvios sobre a influncia das variveis demogrficas e
socioeconmicas na deciso de alocao de activos.
Na segunda seco analismos os valores pessoais e sua importncia na explicao da
deciso de alocao de activos, o que permite antever uma relao entre esta varivel e a
composio da carteira de investimentos dos indivduos.
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Captulo 3 Quadro Conceptual de Investigao
3.1. Introduo
Concluda que est a parte referente reviso da literatura, desenvolve-se neste captulo o
modelo de investigao, onde sero apresentados os objectivos e as hipteses da
investigao. Posteriormente descreve-se o mtodo seguido para o desenvolvimento do
estudo emprico, apresentando-se os instrumentos e a amostra utilizada. Por ltimo,
apresentamos o processo de aperfeioamento das variveis, que englobou o estudo da
dimensionalidade das variveis e a anlise do alpha de Cronbach.
3.2. Objectivo e Hipteses de Estudo
Hoje em dia os investidores tm sua escolha uma grande variedade de instrumentos
financeiros dentro das vrias classes dos activos que tm diferentes caractersticas de risco
e rendibilidade.
Assim, a anlise de um qualquer investimento passa pela considerao de dois elementos
fundamentais: o risco e a rendibilidade (Markowitz, 1952). Genericamente, pode definir-se
o risco como sendo um acontecimento incerto a que est associada uma distribuio de
probabilidade. O risco de investimento pode ser definido como sendo a possibilidade de
obter, com esse investimento, uma rendibilidade diferente da esperada. Quanto mais
provvel essa possibilidade, maior o risco (ABDP, 1998). Portanto, podemos definir o
risco como sendo a volatilidade dos resultados esperados. Existe, portanto, uma relao
estreita entre risco e rendibilidade, dado que quanto maior o risco associado a um activo,
maior ser a rendibilidade exigida pelo investidor.
A teoria clssica de Markowitz prev uma relao inversa entre risco e rendibilidade nas
diversas carteiras de investimento. O investidor tpico procura retorno e encara o risco da
sua carteira como algo indesejvel. Markowitz (1952) demonstrou a importncia do
processo de alocao de activos atravs da diversificao de carteiras. A deciso de
alocao um processo que determina a melhor composio da carteira a partir dos vrios
tipos de activos disponveis, como aces, obrigaes, etc. As diferentes combinaes de
activos geram um conjunto de carteiras, onde algumas tm retorno superior ou menor risco
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em relao s demais carteiras. Tobin (1958) apresentou uma contribuio essencial
teoria de Finanas ao propor a existncia de um activo sem risco, a ser includo na
formao de carteiras eficientes de investimento. Segundo este autor, as carteiras formadas
pelos investidores so uma combinao do activo sem risco com um fundo de activos com
risco.
Portanto, os investidores enfrentam um dilema na composio da sua carteira, uma vez que
tm de decidir a distribuio do seu investimento entre activos com risco versus activos
sem risco (Wang, 2008). Investidores mais conservadores, que no gostam de assumir
grandes riscos, tm preferncia pelo investimento em activos isentos de risco, com a
finalidade de obterem uma carteira mais segura. Em oposio, investidores com um perfil
mais agressivo, que procuram a maior rentabilidade, mesmo que corram o risco de perder
parte do seu patrimnio, compem a sua carteira basicamente com activos de rendimento
varivel (aces, derivados).
Campbell (2006) realizou uma reviso de vrias questes que influenciam o processo de
deciso financeira das famlias, incluindo a questo de como as famlias alocam a sua
riqueza em diferentes activos financeiros. Segundo este autor, a propenso de uma famlia
deter activos com risco, tais como aces, em contraste com activos menos arriscados, tais
como depsitos bancrios e obrigaes de baixo risco, depende de uma srie de factores.
Uma maior tolerncia ao risco, quer devido psicologia individual ou em virtude de
circunstncias como possuir uma maior riqueza, dever levar um indivduo a investir mais
em aces. Alm disso, factores que afectam o nvel de conforto com produtos financeiros
relativamente mais sofisticados, como aces, podem determinar a alocao de activos das
famlias.
O investimento em aces um tipo de activo com risco geralmente aceite e discutido na
literatura (por exemplo, Hanna e Chen, 1995; Haliassos e Bertaut, 1995; Bertaut e Starr-
McCluer, 2000). Alm disso, para a medio do comportamento de risco das famlias, a
deteco de aces uma medida vulgarmente utilizada. de salientar que diversos
estudos, que se concentraram na alocao de activos, utilizaram modelos para avaliar se as
famlias possuam ou no aces (e.g., Haliassos e Bertaut, 1995; Xiao, 1996; Gutter et al.,
1999).
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O objectivo central do trabalho medir o impacto de caractersticas pessoais sobre a
probabilidade de um participante optar pelo investimento em aces. Sendo de salientar,
que o principal contributo deste estudo explorar a utilidade dos valores pessoais na
explicao da deciso de alocao de investimento em aces, alm de outros factores, que
j foram extensamente abordados em estudos anteriores, designadamente: a idade, o
gnero, o estado civil, o nvel de rendimento, actividade profissional, os conhecimentos
financeiros, a satisfao financeira, o optimismo financeiro e a tolerncia ao risco
financeiro.
No seguimento do que acabou de ser referido, chegou-se elaborao do seguinte modelo
de anlise, o qual servir de suporte presente investigao.
Figura 7: Modelo Conceptual de Anlise
De acordo com os objectivos propostos para este trabalho, constituram-se as seguintes
hipteses, as quais iro ser testadas nesta pesquisa. As hipteses, apresentadas de seguida,
foram categorizadas em trs temas:
(1) Efeitos das variveis socio-demogrficas na determinao do investimento em
aces
Valores Pessoais Conservao Abertura mudana Autopromoo
Investimento
em
aces
Caractersticas scio-d