A INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS PESSOAIS NA DECISÃO DE … · Valores e comportamento ... aquando da...

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE ECONOMIA A INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS PESSOAIS NA DECISÃO DE ALOCAÇÃO DE ACTIVOS SÍLVIA CRISTINA FERNANDES RODRIGUES MESTRADO EM ECONOMIA ESPECIALIZAÇÃO EM ECONOMIA FINANCEIRA COIMBRA 2009

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  • UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    FACULDADE DE ECONOMIA

    A INFLUNCIA DAS VARIVEIS PESSOAIS NA

    DECISO DE ALOCAO DE ACTIVOS

    SLVIA CRISTINA FERNANDES RODRIGUES

    MESTRADO EM ECONOMIA

    ESPECIALIZAO EM ECONOMIA FINANCEIRA

    COIMBRA

    2009

  • UNIVERSIDADE DE COIMBRA

    FACULDADE DE ECONOMIA

    A INFLUNCIA DAS VARIVEIS PESSOAIS NA

    DECISO DE ALOCAO DE ACTIVOS

    SLVIA CRISTINA FERNANDES RODRIGUES

    Orientadores: Professor Doutor Filipe Coelho

    Professor Doutor Paulo Gama

    MESTRADO EM ECONOMIA

    ESPECIALIZAO EM ECONOMIA FINANCEIRA

    COIMBRA

    2009

  • 1

    AGRADECIMENTOS

    A elaborao desta dissertao contou com a colaborao de pessoas e instituies que

    gostaria de salientar e agradecer.

    Assim, comeo por agradecer aos meus orientadores, Doutor Filipe Coelho e Doutor Paulo

    Gama, pelos conhecimentos transmitidos e apoio concedido em todas as fases de execuo

    deste estudo.

    Agradeo aos coordenadores do Mestrado em Economia da FEUC, Doutor Paulino

    Teixeira e Doutor Pedro Bao, por tornarem possvel a frequncia deste Mestrado.

    Agradeo tambm a todos os estudantes da FEUC que se disponibilizaram para

    responderem ao inqurito.

    Agradeo Fundao SYLFF pelo financiamento da bolsa concedida.

    Finalmente, agradeo, de forma especial, o meu marido, que me deu a motivao e a fora

    para concluir esta pesquisa, e os meus pais e irmo, por terem acreditado e apoiado todas

    as minhas actividades acadmicas.

    A todos o meu muito obrigado.

  • 2

    RESUMO

    A alocao de activos diz respeito forma como o investidor distribui a sua carteira pelas

    principais classes de activos financeiros. Bodie et al. (2000) refere que a alocao de

    activos considerada a parte mais importante na construo de carteiras de investimento.

    O principal objectivo deste estudo consiste em identificar os factores que levam o

    investidor individual a incluir na sua carteira de investimento uma classe de activos de

    risco: aces. Tendo em conta um conjunto de caractersticas do investidor, o estudo

    evidencia as diferenas entre os detentores de aces e os no detentores de aces. de

    realar que o estudo tem a particularidade de procurar explorar uma rea ainda pouco

    investigada na literatura existente, que se relaciona com a influncia dos valores pessoais

    na deciso de investimento em activos com risco.

    Efectuada a reviso da literatura sobre a alocao de activos e os valores pessoais, foi

    desenvolvido o modelo conceptual explicativo da inteno de deter aces, do qual se

    derivaram as hipteses de investigao. Postulou-se, assim, que o investimento realizado

    pelos investidores individuais em aces est associado s seguintes variveis,

    subdivididas em trs categorias: caractersticas socio-demogrficas (1) gnero, (2) idade,

    (3) rendimento, (4) estado civil, (5) actividade profissional; valores pessoais (6)

    conservao, (7) abertura mudana, (8) autopromoo; percepes de ordem financeira

    (9) conhecimentos financeiros, (10) satisfao com a situao financeira actual, (11)

    optimismo financeiro; (12) tolerncia ao risco financeiro.

    A amostra consiste em 137 questionrios, preenchidos por estudantes de cursos de ps-

    graduao de uma instituio de ensino superior, durante o ano de 2008. Para testar as

    hipteses realizmos um conjunto de testes estatsticos, entre os quais o teste qui-

    quadrado, a anlise da varincia (ANOVA) e a regresso logstica multivariada, usando

    para o efeito o SPSS como ferramenta estatstica. Pela anlise bivariada conseguiu-se obter

    evidncia estatstica que permitiu confirmar as hipteses inerentes a todas as variveis,

    com excepo da idade. A utilizao da regresso logstica forneceu evidncia suplementar

    no sentido de se poder considerar as variveis (1), (4), (6), (9) e (12), como sendo

    elementos determinantes da deteno de aces.

  • 3

    ABSTRACT

    This paper examines individuals asset allocation decisions, which refers to the process of

    dividing investments among different classes of financial assets. Bodie et al. (2000) note

    that the asset allocation decision is the most important part of the portfolio construction

    process. The main objective of this study is to investigate factors associated to portfolio

    composition, particularly the ownership of a specific class of risky assets: stocks. Taking

    into account individuals characteristics, this study determines differences between owners

    and non owners of stocks. This research has the originality of exploring a topic that has

    been overlooked in extant literature, and that involves an examination of how personal

    values influence the investment decision in risky assets.

    Upon a revision of the literature, we developed a conceptual model that explains stock

    ownership. More specifically, we investigate whether individuals investment in stocks

    varies across three categories of individuals characteristics: socio-demographic

    characteristics (1) gender, (2) age, (3) income, (4) marital status, (5) working status;

    personal values - (6) conservation, (7) openness to change, (8) self enhancement; financial

    perceptions (9) financial knowledge, (10) financial satisfaction, (11) financial optimism,

    (12) financial risk tolerance.

    The data was obtained from 137 questionnaires, filled by post-graduated students from one

    Portuguese Higher Educational Institution, in the year of 2008. To test the hypothesis, we

    resorted to a set of statistical tests using SPSS: bivariate analysis was carried out Pearson's

    chi-square test and the analysis of variance, which was followed by the estimation of a

    multivariate logistic equation. Based on the bivariate analysis, we obtained statistical

    evidence that supports all our hypotheses, except that regarding age. The logistic

    regression supplied further evidence that the variables (1), (4), (6), (9) e (12) are

    significantly related to the individuals probability of stock ownership.

  • 4

    INDICE GERAL

    Agradecimentos...................................................................................................................1 Resumo.................................................................................................................................2 Abstract................................................................................................................................3 ndice Geral..........................................................................................................................4 ndice de Figuras.................................................................................................................6 ndice de Tabelas.................................................................................................................7

    Captulo 1 Introduo

    1.1. Contexto da Investigao...........................................................................................8

    1.2. Objectivo da Investigao............................................................................................10

    1.3. Estrutura da Investigao.............................................................................................11

    Captulo 2 Reviso Bibliogrfica

    2.1. Introduo.....................................................................................................................12

    2.2. A importncia da estratgia de alocao de activos......................................................12

    2.3. A alocao ptima de activos.......................................................................................17

    2.4. A influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas.......................................22

    2.5. Valores Pessoais............................................................................................................27

    2.5.1. O conceito de Valores Pessoais.................................................................................27

    2.5.2. Valores e comportamento..........................................................................................29

    2.5.3. Teoria Universal de Schwartz....................................................................................31

    2.5.4. Valores Pessoais e Alocao de Activos...................................................................39

    2.6. Concluso.....................................................................................................................40

  • 5

    Captulo 3 Quadro Conceptual de Investigao

    3.1. Introduo.....................................................................................................................41

    3.2. Objectivo e Hipteses de Estudo..................................................................................41

    3.3. Instrumentos..................................................................................................................50

    3.4. Recolha de dados e caracterizao da amostra.............................................................56

    3.5. Constituio final das variveis....................................................................................59

    3.6. Concluso......................................................................................................................62

    Captulo 4 Resultados e Discusso

    4.1. Introduo.....................................................................................................................63

    4.2. Anlise Bivariada..........................................................................................................63

    4.3. Anlise Multivariada.....................................................................................................70

    4.4. Discusso dos resultados...............................................................................................73

    4.5. Concluso .................................................................................................................78

    Captulo 5 Concluso

    5.1. Introduo.................................................................................................................80

    5.2. Contribuies do trabalho..........................................................................................80

    5.3. Limitaes e sugestes para futuras pesquisas ...........................................................82

    Bibliografia.........................................................................................................................84

    Anexos.................................................................................................................................95

    Anexo 1: Carta de Apresentao

    Anexo 2: Questionrio

  • 6

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Determinantes da alocao de activos..................................................................13

    Figura 2: Determinantes do desempenho do investimento..................................................16

    Figura 3: Fronteira de eficincia..........................................................................................18

    Figura 4: Fronteira de eficincia e activo sem risco........................................................19

    Figura 5: Carteiras diferentes para investidores diferentes.................................................20

    Figura 6: Estrutura circular dos valores humanos como tipos motivacionais e as dimenses

    bipolares de Schwartz..........................................................................................................37

    Figura 7: Modelo conceptual de anlise..............................................................................43

  • 7

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1: Domnios de valores e meta motivacional...........................................................35

    Tabela 2: Os 57 itens do SVS..............................................................................................54

    Tabela 3: Resumo dos dados socioeconmicos e demogrficos.........................................58

    Tabela 4: Distribuio dos dados por tipo de investimento................................................59

    Tabela 5: Constituio final das variveis...60

    Tabela 6: Tabela de contingncia: posse de aces vs gnero.....64

    Tabela 7: Tabela de contingncia: posse de aces vs nvel de rendimento........................65

    Tabela 8: Tabela de contingncia: posse de aces vs estado civil.....................................66

    Tabela 9: Tabela de contingncia: posse de aces vs actividade profissional...................67

    Tabela 10: Tabela de contingncia: posse de aces vs tolerncia ao risco financeiro.......68

    Tabela 11: Anlise de varincia...........................................................................................68

    Tabela 12: Resultados da estimao....................................................................................71

    Tabela 13: Sumrio do teste de hipteses............................................................................74

  • 8

    Captulo 1 Introduo

    1.1. Contexto da investigao

    Todo o agente econmico que dispe de riqueza ou rendimento, v-se tradicionalmente

    colocado perante a seguinte alternativa: consumir ou investir. A questo fundamental, para

    ele, a de saber como que vai utilizar a sua riqueza actual, isto , quanto que vai

    consumir imediatamente e quanto que vai investir em actividades consideradas

    produtivas ou rentveis, de forma a aumentar o seu consumo e/ou a sua riqueza futura

    (Quintart e Zisswiller, 1994). Portanto, o investimento a aplicao de algum tipo de

    recurso (dinheiro ou ttulos) com a expectativa de receber algum retorno futuro superior ao

    aplicado, compensando inclusivamente a perda de uso desse recurso durante o perodo de

    aplicao.

    Ao longo do estudo vamos concentrar-nos no investimento em activos financeiros por

    parte do investidor individual, nomeadamente na anlise da sua deciso sobre como

    repartir o seu investimento por grandes classes de activos, deciso que se designa de

    alocao de activos. A carteira do investidor de uma forma simples, a sua coleco de

    activos financeiros. O processo de determinar o conjunto de activos a adquirir para incluir

    na sua carteira uma deciso pessoal. Com efeito, qualquer estratgia coerente de alocao

    de activos deve obedecer definio prvia de trs parmetros fundamentais: o objectivo

    de investimento, o horizonte temporal desse investimento e o risco que se est disposto a

    incorrer (Frush, 2007; Faerber, 2007). Dos trs parmetros, a tolerncia ao risco o

    parmetro mais importante na construo da carteira de investimento (Frush, 2007; Trone

    e al., 1996).

    A alocao de activos uma construo fundamental nos modelos financeiros e

    econmicos (Ackert, Bryan e Basil, 2002). Como tal, os investigadores tm demonstrado

    interesse em perceber a forma como os investidores individuais alocam os activos

    financeiros nas suas carteiras de investimento, dado que a evidncia emprica sugere que

    definio da alocao de activos a deciso que, em relao a qualquer outra, ter mais

    impacto nos retornos do seu investimento (Bodie, Kane e Marcus, 2000; Brinson, Hood e

    Beebower, 1995). Esta premissa tem como base alguns estudos que procuraram mensurar a

    relao entre alocao de activos e a rentabilidade de carteiras de investimento. Com

  • 9

    efeito, os estudos de Brinson (1986; 1991) e Ibbotson e Kaplan (2000) evidenciaram que o

    retorno de uma carteira fortemente influenciado pela alocao entre as classes de activos

    (alocao estratgica de activos). Consequentemente, estes autores concluram que a

    alocao estratgica de activos pode ser considerada mais importante que a alocao

    tctica de activos (market timing e seleco de activos).

    O grande interesse pelo estudo do papel da alocao de activos, pode ser atribuda a Teoria

    da Carteira, que se iniciou com os trabalhos de Harry Markowitz (1952; 1959). O Modelo

    mdia-varincia de Markowitz providenciou a primeira, e ainda actual, abordagem

    quantitativa da estratgia de alocao de activos. A escolha ptima tem lugar na fronteira

    eficiente, onde para cada nvel de risco possvel encontrar a carteira com a maior

    rendibilidade esperada (e vice-versa). Tobin (1958) apresentou uma contribuio essencial

    Teoria da Carteira, ao propor a existncia de um activo sem risco a ser includo na

    formao de carteiras eficientes de investimento. Assim, o investidor enfrenta um dilema

    aquando da escolha das classes de activos financeiros a incluir na sua carteira, j que tem

    de decidir se investe ou no em activos com risco (Wang, 2008).

    Assim, o nosso estudo centra-se no estudo de um dos campos mais importantes de

    Finanas, o processo de alocao de investimentos. Este processo, normalmente,

    diferente quando se refere a empresas ou indivduos. De acordo com Bayston e Droms

    (2000, p.1), as caractersticas, circunstncias e oportunidades que o investidor pessoa

    fsica enfrenta so mais variadas e complexas do que para qualquer outra classe de

    investidor. Estes autores referem que os investimentos realizados pelos indivduos

    constituem um processo intrigante, uma vez que cada indivduo diferente e, alm disso,

    as caractersticas psicolgicas tm um papel fundamental na gesto dos seus

    investimentos.

    A importncia do estudo pode justificar-se pelo facto de permitir a determinao da

    existncia de comportamentos padronizveis na definio da composio da carteira, tendo

    em conta caractersticas especficas do investidor individual, o que pode ser bastante til,

    nomeadamente, para os gestores de investimentos de instituies financeiras no s para o

    auxlio de uma anlise preliminar de carteiras individuais, como tambm para direccionar

    correctamente campanhas publicitrias e ofertas de produtos financeiros, permitindo

    poupar esforos e recursos para divulgao e alocao de activos.

  • 10

    1.2. Objectivo da Investigao

    O objectivo deste estudo centra-se na anlise do impacto das caractersticas pessoais do

    investidor individual na composio da sua carteira de investimento, particularmente na

    posse de activos com risco. Especificamente, com este estudo pretende-se compreender de

    que forma o investimento em aces depende de um conjunto caractersticas especficas,

    onde se incluem variveis demogrficas e socioeconmicas, percepes de ordem

    financeira e os valores pessoais.

    Os factores demogrficos e socioeconmicos foram extensamente abordados em estudos

    anteriores. Com efeito, dado que o presente trabalho est relacionado com a deciso do

    investidor em escolher activos com risco ou sem risco, considera-se tambm til a

    presena de tais variveis para tentar explicar quais delas podero a influenciar a sua

    tomada de deciso.

    A partir do artigo seminal de Clark (1918), tem sido reconhecida a importncia da

    psicologia individual na determinao do comportamento econmico. de realar que o

    investimento em activos financeiros tambm influenciado pela orientao psicolgica de

    cada indivduo, nomeadamente pela personalidade do indivduo (Ackert et al., 2002).

    Os valores pessoais so objectivos transituacionais desejveis que guiam a forma como os

    indivduos escolhem as suas aces, avaliam as pessoas e justificam as aces e avaliaes

    (Schwartz, 1992; 1999). Neste trabalho, ser focado tambm o estudo dos valores pessoais,

    porque constituem um dos aspectos fundamentais da psicologia do indivduo, contribuindo

    para explicar o seu comportamento (Schwartz, 2005). Com efeito, alguns autores (Doyle,

    1999 e Waddell, 1987, citados por Youg e O Neil, 1992) argumentam que a tolerncia ao

    risco, factor determinante na definio da alocao de activos financeiros, resultado dos

    seus valores pessoais. Este trabalho tem assim um carcter inovador, porque nunca foi

    explorado na literatura existente, o efeito dos valores pessoais na deciso de alocao de

    activos. Por conseguinte, o estudo vai ser relevante, porque vai permitir analisar o impacto

    de novos factores psicolgicos, representados pelos valores pessoais, na deciso de

    investimento.

  • 11

    Como tal, iremos definir e testar, a partir de uma amostra de investidores particulares,

    obtida junto de uma instituio do ensino superior, hipteses que estabelecem uma relao

    entre as variveis pessoais e a deciso de investir ou no investir em aces.

    1.3. Estrutura da Investigao

    O trabalho est organizado em cinco captulos.

    No captulo 1 destaca-se a importncia do tema em discusso.

    No captulo 2 realizada a reviso bibliogrfica que se divide em duas seces. Na

    primeira ser apresentado: o conceito de alocao de activos e sua importncia no sucesso

    da estratgia de investimento e uma breve reviso da literatura sobre a Teoria da Carteira.

    Alm disso, tambm sero apresentados os principais resultados de estudos prvios sobre a

    influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas na deciso de alocao de

    activos. Na segunda seco ser apresentada a temtica dos valores pessoais, pois procura-

    se investigar o efeito destas variveis na composio da carteira de activos financeiros do

    investidor individual, matria que ainda no foi explorada na literatura existente.

    No Captulo 3 apresentado o quadro conceptual de investigao que est na origem do

    estudo emprico, onde se apresentar os objectivos e hipteses de investigao e a

    metodologia utilizada no estudo emprico, designadamente instrumentos, modo de recolha

    de dados, caractersticas da amostra e purificao das medidas do questionrio.

    No Captulo 4 feita a anlise estatstica e discusso dos resultados obtidos a partir da

    anlise dos dados recolhidos no estudo emprico.

    Por fim, no Captulo 5 sero evidenciadas as contribuies e limitaes do presente

    trabalho, sendo feitas algumas sugestes para futuros trabalhos nesta rea.

  • 12

    Captulo 2 Reviso Bibliogrfica

    2.1. Introduo

    No presente captulo apresentado o referencial terico, que se encontra dividido em duas

    fases. Numa primeira fase expe-se a importncia da estratgia de alocao de activos,

    clarificando-se o seu conceito, determinantes e relevncia no contexto do desempenho dos

    investimentos. De seguida, apresenta-se a teoria da alocao ptima de activos - Teoria da

    Carteira - e explica-se como os diferentes tipos de investidores alocam o seu patrimnio

    entre as principais categorias de activos. Por fim, sero realados diversos estudos que

    permitem explicar a alocao de activos do investidor individual, tendo por base as suas

    caractersticas demogrficas e socioeconmicas.

    Posteriormente, numa segunda fase, estudam-se os valores pessoais e a importncia que

    possuem na explicao dos comportamentos dos indivduos. Faremos, tambm, uma

    sntese dos pressupostos da Teoria Universal de Schwartz, uma vez que esta servir de

    instrumento para o quadro da investigao realizada.

    2.2. A importncia da estratgia de alocao de activos

    A alocao de activos ocupa um papel fundamental no processo de construo de uma

    carteira (Harlow e Brown, 1990). A alocao de activos a determinao da proporo de

    uma carteira a investir nas vrias categorias de activos financeiros.

    De um modo geral, designamos por activos financeiros qualquer direito monetrio detido

    por uma entidade sobre uma outra. Temos, como exemplo, a moeda, os depsitos de

    poupana e os ttulos emitidos pelo Estado ou por empresas (tais como bilhetes do

    Tesouro e obrigaes, aces de empresas, fundos de investimento) 1. Para alm destes

    1 Os depsitos de poupana referem-se, usualmente, a depsitos bancrios e as suas taxas de juro so determinadas pelas

    taxas de juro de curto prazo do mercado. Os ttulos emitidos pelo Estado ou por empresas so formas de emprstimo, por

    parte de particulares, a essas entidades. O pagamento da quantia subscrita e feito no final do contrato e, durante o perodo

    a que dizem respeito, os ttulos pagam, periodicamente, os juros contratualizados. Enquanto os bilhetes do Tesouro

    contemplam usualmente prazos curtos, at um ano, as obrigaes dizem normalmente respeito a perodos mais

    alargados. As aces, sendo direitos monetrios sobre as empresas, permitem que os seus titulares recebam uma parte

  • 13

    produtos, existem ainda outros mais complexos como sejam os contratos de derivados

    financeiros, sendo os mais conhecidos os contratos forward, os contratos de futuros e os

    contratos de opes (IC, 1998).

    A alocao de activos baseia-se num conjunto de factores, tais como posio financeira

    actual, objectivos do investimento, horizonte temporal e o perfil de risco do investidor.

    Com efeito, o processo de determinar as classes de activos a incluir na carteira uma

    deciso pessoal, baseada no perfil do investidor. Frush (2007) e Faerber (2007) enfatizam

    que os trs inputs mais relevantes que determinam a alocao de activos de um investidor

    so: os objectivos de investimento, o horizonte temporal desse investimento e o risco que

    se est disposto a incorrer.

    Figura 1: Determinantes da alocao de activos

    Fonte: Faerber (2007)

    dos lucros das empresas (designados por dividendos) ou, no caso da venda destas, uma parte dos ganhos obtidos. Os

    fundos de investimento so compostos por diversos ttulos, como, por exemplo, aces e obrigaes, e procuram captar a

    poupana. Os seus ttulos podem ou no ser negociados em bolsa consoante as caractersticas que o compem (IC, 1998).

    Rendimento e

    Preservao do

    capital

    Crescimento

    do

    Rendimento

    Objectivos

    do

    investidor?

    Horizonte

    Temporal?

    Tolerncia

    ao

    risco?

    Menos de

    5 anos

    Baixa

    Em que tipos de

    activos

    investir?

    Mercado monetrio Obrigaes Aces

    %

    %

    %

    Mais de

    5 anos

    Elevada

  • 14

    A definio dos objectivos do investimento corresponde ao primeiro passo no processo de

    investimento. Faerber (2007) refere que existem quatros objectivos bsicos: preservao

    do capital investido (estabilidade); rendimento actual, crescimento actual e retorno total.

    O principal papel do horizonte temporal ajudar o investidor a seleccionar e avaliar as

    vrias alternativas de investimento nas diversas classes e subclasses de activos. Quanto

    mais baixo for o seu horizonte temporal, maior nfase deve ser dado ao investimento em

    activos de rendimento fixo. Por outro lado, quanto mais longo for o seu horizonte

    temporal, maior deve ser a aposta em activos com risco, especialmente aces. Com efeito,

    as aces so volteis e tm associadas nveis elevados de incerteza, ou seja, as aces

    exibem um risco muito elevado em relao ao retorno esperado.

    Frush (2007) destaca que o perfil de risco sem dvida o mais importante determinante na

    construo de uma carteira ptima. De acordo com Grable e Lytton (1998) os objectivos

    do investimento e o horizonte temporal so dois parmetros objectivos e relativamente

    fceis de medir, no entanto o parmetro, tolerncia ao risco, tende a ser subjectivo e,

    consequentemente, difcil de medir. Trone, Allbright e Taylor (1996)2 sugeriram que a

    tolerncia ao risco o factor determinante na construo do plano de investimento,

    referindo que a averso ao risco um parmetro crucial para determinar a alocao ptima

    de activos do investidor.

    Existem variaes considerveis na definio do conceito de tolerncia ao risco, apesar de

    ser um termo de uso comum na rea dos Mercados Financeiros. Alguns investigadores

    consideram que a tolerncia ao risco constitui o inverso da averso ao risco (Barsky et al.,

    1997; Gron e Winton, 2001). De acordo com Grable (2000), a tolerncia ao risco o

    montante mximo de incerteza que algum est disposto a aceitar quando realiza uma

    deciso financeira. Com efeito, alm de Grable, outros autores (Harlow e Brown, 1990;

    Callan e Johnson, 2002) consideram que a tolerncia ao risco pode ser definida como a

    atitude do investidor perante um cenrio de incerteza. Roszkowski, Davey e Grable

    (2005) citaram as seguintes definies: o nvel de volatilidade que um investidor pode

    tolerar; a quantidade de perda em que algum arrisca incorrer.

    2 Referncia consultada em Grable e Lytton (1998)

  • 15

    As estratgias mais comuns de alocao de activos so a alocao estratgica de activos e

    a alocao tctica de activos (Logue e Rader, 1998). De acordo com Brinson, Singer e

    Beebower (1986; 1991) a escolha de uma dada carteira envolve quatro etapas

    fundamentais:

    (1) Decidir as classes de activos a incluir na carteira;

    (2) Decidir o peso, em termos de longo prazo, que cada classe de activos dever ter na

    carteira;

    (3) Alterar estrategicamente o peso de cada classe de activos na carteira de forma a captar

    o excesso de rendibilidade resultante de flutuaes de curto prazo no preo das classes de

    activos (market timing3);

    (4) Seleco individual de activos dentro de uma dada classe de activos (seleco de

    activos4).

    Aqueles autores referem que as duas primeiras decises correspondem alocao

    estratgica de activos e as duas ltimas correspondem alocao tctica de activos.

    A deciso de distribuio dos recursos entre as grandes classes de activos, ou seja, a

    alocao estratgica de activos, a mais importante deciso de investimento, por dois

    motivos: em primeiro, uma importante ferramenta de gesto do risco de acordo com a

    Teoria da Carteira, como ser discutido na prxima seco; em segundo, alguns estudos

    demonstraram que constituiu a mais importante deciso que um investidor pode realizar no

    longo prazo, quer seja no plano institucional ou individual. Portanto, para o investidor a

    deciso de escolha entre as classes gerais de activos, ou seja, a escolha da distribuio das

    percentagens das diferentes classes de activos numa carteira, a deciso, que em relao a

    qualquer outra, ter o maior impacto nos retornos do seu investimento. Esta premissa tem

    3 O market timing a estratgia de tomar decises de compra ou venda de activos financeiros baseadas na

    previso de futuros movimentos de preos no mercado. Segundo Francis (1993), o investidor que adopta esta

    estratgia procura antecipar-se s altas e s baixas do mercado, com o objectivo de seleccionar o momento no

    qual os activos esto a preos baixos para realizar compras e vend-los quando esto prximos do seu pico.

    4 De acordo com a definio de Brinson, Singer e Beebower (1991, p. 41), a seleco de activos envolve

    decises activas de investimento sobre activos que fazem parte de cada classe de activos, nomeadamente, a

    deciso que incide sobre a compra de ttulos privados ou pblicos, dentro de cada classe de activos

    rendimento fixo, ou a compra de aces de uma empresa especfica, dentro de cada classe de activos de

    rendimento varivel.

  • 16

    como base alguns estudos que procuraram mensurar a relao entre alocao de activos e a

    rentabilidade de carteiras de investimento.

    Brinson (1986; 1991) e Ibbotson (2000) concluram que mais de 90% do retorno de longo

    prazo de uma carteira de activos definido pela sua alocao, ou seja, praticamente toda a

    variabilidade dos retornos de uma carteira ao longo do tempo funo da alocao

    (estratgica) de activos. Jahnke (1997) tambm esclareceu que no existem dvidas de que

    a alocao de activos um determinante importante do desempenho da carteira. Portanto,

    estes estudos concluram que a alocao estratgica de activos pode ser considerada mais

    importante do que a alocao tctica de investimentos.

    O primeiro estudo de Brinson (1986) baseou-se na anlise do desempenho financeiro de 90

    fundos de penses dos EUA, durante o perodo de 1974 a 1983. O objectivo do estudo foi

    determinar em que medida a estratgia de alocao de activos, a seleco de activos, o

    market timing e os custos contribuem para a rentabilidade dos fundos de penses

    analisados. A anlise da estratgia de alocao teve por base as seguintes classes de

    activos: aces, obrigaes e equivalentes a dinheiro. O market timing foi avaliado atravs

    da anlise das alteraes da ponderao de cada classe de activos no investimento ao longo

    do tempo. Logo, se um gestor de investimentos alterar, num determinado perodo, a

    alocao das trs classes de activos no fundo de penses, isto foi interpretado pelos autores

    como uma tentativa dos gestores beneficiarem do market timing. A figura 1 permite

    constatar que a alocao de activos explica 93,6% da performance do investimento,

    enquanto a seleco de activos, o market timing e outros factores (incluindo custos)

    explicam, respectivamente, 2,5%, 1,7% e 2.2% da performance do investimento.

    Figura 2: Determinantes do desempenho do investimento

    Seleco de act ivos

    2,5%

    Alocao de act ivos

    93,6%

    Outros factores

    2,2%

    M arket t iming

    1,7%

    Fonte: Frush (2007)

  • 17

    Brinson et al. (1991) actualizaram Brinson et al. (1986) e confirmaram as concluses

    originais, tendo a alocao estratgica de activos respondido por 91,5% da variao dos

    retornos, utilizando dados de 82 fundos de penses, no perodo de 1977 a 1987. Este

    segundo estudo tambm concluiu que a seleco de activos individuais dentro de uma

    classe de activos e o market timing tm uma importncia reduzida. O artigo conclui que a

    alocao de activos explica 91,5% da performance do investimento, enquanto a seleco

    de activos, o market timing e outros factores explicam, respectivamente, 4,6%, 1,8 % e

    2,1% da performance do investimento.

    Em 2000, Ibbotson e Kaplan concluram que a alocao de activos explica 40% da

    variao dos retornos entre fundos de penses, e que explica praticamente 100% do nvel

    de retorno dos fundos.

    2.3. Alocao ptima de activos

    A teoria da alocao de activos um tema amplamente pesquisado, desde longa data, pelos

    acadmicos. Um dos pilares da teoria moderna em Finanas a abordagem mdia-

    varincia introduzida por Markowitz, que demonstrou a importncia do processo de

    alocao de activos atravs da diversificao de carteiras. Ele concluiu que a anlise

    mdia-varincia no deve ser utilizada unicamente para explicar o comportamento do

    investidor, mas tambm constitui uma tcnica que deve ser utilizada no processo de

    deciso de alocao de activos.

    Markowitz, com o seu trabalho Portfolio Selection em 1952, sugeriu que o investidor

    racional deve ter em conta apenas dois parmetros na escolha dos activos a incluir na sua

    carteira: a mdia (rendibilidade) e a varincia (risco). Alm disso, referiu que a varincia

    da rendibilidade uma medida adequada do risco, dado que permite medir de disperso da

    respectiva rendibilidade em torno do seu valor mdio. O risco ainda pode ser expresso pelo

    desvio padro das rendibilidades (raiz quadrada da varincia). Como destaca Mayo (2000)

    o trade-off entre risco e rendibilidade que vai determinar a alocao de activos do

    investidor, pois a Teoria da Carteira de Markowitz indica que os investidores requerem um

    acrscimo adicional de rendimento por cada incremento do risco, de forma a manterem o

    mesmo nvel de satisfao.

  • 18

    Markowitz introduziu a noo de carteira eficiente ao estabelecer que o investidor racional

    deve seleccionar a carteira que lhe oferece a mnima varincia para uma dada rendibilidade

    ou a mxima rendibilidade para uma dada varincia. A combinao de carteiras eficientes

    vai permitir criar uma fronteira de eficincia5, sobre a qual os investidores devem

    seleccionar a carteira mais adequada tendo em conta o seu perfil de tolerncia ao risco

    (Nevins, 2003). A fronteira de eficincia de Markowitz, evidenciada na figura 3,

    representa todas as carteiras eficientes. de salientar que a tcnica de optimizao de

    mdia-varincia (MV) de Markowitz (1952; 1959) vem sendo bastante utilizada para

    definir estruturas ptimas de composio de carteiras.

    Assim, de acordo com Markowitz, de entre todas as carteiras possveis existe um conjunto

    de carteiras eficientes, que sero aquelas que apresentam a mxima rendibilidade para os

    vrios nveis de risco e o mnimo de risco para os vrios nveis de rendibilidade. Depois,

    cada investidor poder encontrar a sua carteira ptima, tendo em considerao as suas

    preferncias individuais de rendibilidade e risco, traduzidas pelas respectivas curvas de

    indiferena.

    Figura 3: Fronteira de eficincia

    Posteriormente, Tobin (1958) expande a anlise de Markowitz ao considerar que o

    investidor dispe da possibilidade de investir num activo sem risco. Em teoria, um activo

    sem risco aquele em que o investidor sabe exactamente o valor que receber ao final do

    prazo de investimento. Este autor desenvolveu a teoria de que o investidor toma as suas

    5 Subconjunto dos carteiras pertencentes a fronteira de possibilidades de investimento que para cada nvel de

    risco proporciona o mximo retorno. A fronteira eficiente representa as combinaes de maior benefcio

    risco-retorno, no havendo nenhuma combinao ptima alm dela.

    Rendibilidade

    esperada

    Desvio

    Padro

  • 19

    decises combinando um activo sem risco com a carteira situado na Fronteira de

    Eficincia, elaborado por Markowitz (1952). Quando existe um activo sem risco, os

    investidores tm a possibilidade de atingir cada nvel de rentabilidade, correndo um risco

    ainda menor do que o que decorre da anlise de Markowitz. Esse objectivo alcanado

    atravs da combinao do activo sem risco com uma carteira de activos com risco.

    Assim, considerando que o investidor dispe da possibilidade de investir num activo sem

    risco, cuja rendibilidade garantida (representada por rf), e tambm da oportunidade de

    realizar aplicaes, com risco, correspondentes as diversas carteiras representadas pelos

    pontos i,j, l, da Figura 4, das quais as mais eficientes se situam sobre a fronteira AB

    (fronteira de eficincia) possvel deduzir uma nova configurao para a fronteira de

    eficincia, como se poder verificar de seguida.

    Uma vez que o investidor procura obter a melhor combinao possvel, este escolher

    investir na carteira com risco de modo eficiente, ou seja, de modo que lhe proporcione as

    melhores combinaes de investimento sem risco e de investimentos com risco. A carteira

    eficiente sobre a qual recair ento a sua escolha ser aquela que se encontra tangente

    fronteira eficiente, ou seja, M*. Deste modo a nova fronteira de eficincia passa a assumir

    a configurao geomtrica de uma semi-recta, representa na figura 4 por rfM* e designada

    de Linha de Alocao de Capital (LAC).

    Figura 4: Fronteira de eficincia e activo sem risco

    Rendibilidade esperada

    Risco

    (Desvio Padro)

    Fonte: Adaptado de Quintart e Zisswiller (1994; 152)

    rf

    M*

    A

    B

    C

    i j

    l

    p

    Carteiras de

    investimento

    com risco

    Carteiras

    eficientes

  • 20

    A equao seguinte representa a LAC,

    +=

    M

    FMPFp

    rRrR

    )

    onde

    R p = taxa de rentabilidade esperada da carteira p

    r F = taxa de rentabilidade livre de risco

    R M = taxa de rentabilidade esperada da carteira M* de activos com risco

    P = risco da carteira p

    M = risco da carteira M*

    No entanto, a carteira que o investidor vai escolher no depende apenas da LAC, mas

    tambm depende da sua funo de utilidade individual, que pode ser representada pela

    curva de indiferena.

    Figura 5: Carteiras diferentes para investidores diferentes

    Rendibilidade esperada

    Investidor H

    Investidor L

    Risco (Desvio Padro)

    Fonte: Huang (2007)

    Sharpe (1997) refere que a carteira ptima determinada pela soluo de tangncia com a

    fronteira de eficincia que corresponde ao ponto sobre a fronteira de eficincia em que a

    curva de indiferena toca a fronteira (Sharpe, 1997). A figura 5, apresenta a interseco

    das curvas de indiferena de dois investidores, um com um baixo nvel de tolerncia ao

    rf

    C

    C

    D

  • 21

    risco (L) e outro com um elevado nvel de tolerncia ao risco (H). O Ponto C, onde a curva

    de indiferena tangente a LAC, diz respeito carteira ptima seleccionada por um

    indivduo avesso ao risco, que engloba uma proporo maior de activos financeiros de

    risco reduzido. O ponto D corresponde carteira ptima para um investidor mais tolerante

    ao risco, constituda por uma percentagem elevada de activos com risco. Assim, um

    investidor que opta por investir numa carteira mais esquerda do grfico tipicamente

    conservador e no pretende correr muitos riscos; mas medida que caminha para a direita,

    a sua agressividade vai aumentar, estando disposto a correr um risco maior para obter uma

    rendibilidade superior. Logo, podemos concluir que a seleco de uma carteira especfica

    depende do nvel de tolerncia ao risco do investidor individual, que neste modelo

    reflectido pela posio da sua curva de indiferena.

    Em suma, como salientou Huang (2007), podemos concluir que a tolerncia ao risco um

    factor chave no processo de alocao de activos. Assim, ao seleccionar os activos que

    comporo a carteira ptima, o investidor dever estar consciente do nvel de risco que est

    disposto a aceitar. Vrios artigos confirmam a existncia de uma relao positiva entre o

    perfil de tolerncia ao risco de um investidor e o nvel actual de risco da sua carteira.

    Schooley e Worden (1996), com base nos dados fornecidos pelo Survey of Consumer

    Finances (SCF)6 de 1989, mostraram que o nvel actual de risco das carteiras dos

    investidores individuais est altamente correlacionado com o seu perfil de risco. Logo, os

    indivduos mais avessos ao risco detinham um rcio de activos com risco menor, enquanto

    os indivduos que assumiam um risco financeiro substancial tinham um rcio de activos

    com risco superior. Hariharan, Chapman e Domian (2000), examinaram as decises de

    alocao de activos de indivduos, em situao de pr-reforma, e concluram que um nvel

    elevado de tolerncia ao risco vai reduzir a propenso individual do investidor em adquirir

    activos sem risco (pp.159). Alguns autores (Hanna et al., 1998) tambm sugeriram que os

    gestores de investimentos devem assumir que a tolerncia ao risco financeiro e alocao de

    activos esto positivamente correlacionados, mantendo todos os outros factores constantes.

    6 Survey of Consumer Finances uma pesquisa realizada anualmente no mercado americano (E.U.A) e

    abrange dados sobre os activos, dvidas, atitudes financeiras e comportamento financeiro de indivduos e

    famlias. Nos ltimos anos a pesquisa tem sido conduzida pelo National Opinion Research Center na

    Universidade de Chicago sob a superviso do Federal Reserve e outras agncias federais.

  • 22

    2.4. A influncia das variveis demogrficas e socioeconmicas

    A composio da carteira de um indivduo depende do seu perfil de risco, tal como vimos

    na seco anterior, assim os indivduos menos tolerantes ao risco tendem a escolher uma

    menor proporo de activos com risco do que os investidores mais agressivos. Muitos

    investigadores sugeriram que as variveis demogrficas e socioeconmicas, podem ser

    utilizadas para explicar o nvel de tolerncia ao risco dos investidores (Grable, 2000).

    Portanto, se os investidores tm diferentes preferncias em relao ao risco que pretendem

    correr, que resultam do facto de cada pessoa ter caractersticas especficas, quer a nvel

    demogrfico, quer a nvel scio econmico, possvel verificar variaes considerveis

    nos seus investimentos ao longo do tempo, em resultado de uma procura diferenciada por

    cada categoria de activos.

    De seguida vo ser apresentados os factores mais abordados em estudos prvios, que

    mostraram resultados interessantes, embora, alguns sejam contraditrios.

    Gnero

    Muitos estudos concluram que existe uma relao entre o gnero (i.e, masculino ou

    feminino) e o nvel de tolerncia ao risco do investidor, defendendo que as mulheres so

    menos tolerantes ao risco do que os homens (Grable, 2000; Grable e Joo, 2000; Sung e

    Hanna, 1996). Bajtelsmit e Bernasek (1996) apresentaram diversas razes que explicam

    porque que os homens investem de forma diferente das mulheres, que esto relacionadas,

    nomeadamente, com as diferenas no nvel de riqueza, rendimento, responsabilidades no

    cuidado dos dependentes, factores genticos e de socializao.

    Slovic (1966) concluiu, aps um reviso extensa da literatura, que "a crena que prevalece

    na nossa cultura que os homens devem assumir mais riscos do que mulheres" (p.169).

    Assim, espera-se que as mulheres sejam investidoras mais conservadoras que os homens e,

    consequentemente, so-lhes oferecidos investimentos com menor risco e com menores

    retornos esperados (Schubert et al., 1999).

    Similarmente, alguns estudos revelaram que as mulheres tm menor propenso do que os

    homens em adquirir activos com risco, como o caso de Bajtelsmit et al. (1999) que

  • 23

    concluram que as mulheres so mais avessas ao risco na definio da composio da sua

    carteira do que os homens. Alguns investigadores (Hariharan et al., 2000; Coleman, 2003)

    verificaram que os homens possuem comparando com as mulheres, uma proporo mais

    elevada de activos financeiros em aces e uma proporo reduzida activos sem risco.

    Idade Os investidores tendem a ajustar as suas carteiras de acordo com o ciclo de vida. A

    hiptese do ciclo de vida do indivduo, apresentada por Modigliani (1986), prev que a

    averso ao risco aumente ao longo da vida a medida que as pessoas envelhecem, mais

    avessas ao risco se tornam. Assim, expectvel que o peso das aces na carteira do

    investidor diminua com o aumento da idade. Nos primeiros anos de vida (20, 30 ou 40

    anos) dever privilegiar-se o investimento em aces, dado os retornos potencialmente

    mais altos a longo prazo. medida que o investidor se aproxima da idade da reforma, vai

    aumentando progressivamente o peso dos activos de rendimento fixo na sua carteira

    (obrigaes, mercado monetrio), isto acontece porque neste estgio do ciclo de vida o

    investidor no tem rendimento para compensar os resultados adversos de investimento

    arriscados (Bajtelsmit, 1999).

    Estudos prvios sobre a idade, enquanto determinante do padro de alocao de activos,

    centraram-se na anlise da relao entre a idade e o investimento em activos de risco.

    Morin e Suarez (1983) encontram-se entre os primeiros autores a apresentar uma

    investigao emprica daquela relao, utilizando dados de 1970 do Canadian Survey of

    Consumer Finances. Atravs da anlise da covarincia, eles descobriram que h um efeito

    significativo da idade sobre a deciso de alocao de activos das famlias e que as pessoas

    se tornam mais avessas ao risco com o aumento da idade. Mais recentemente, Coleman

    (2003) comprovou uma relao negativa entre a varivel idade e a percentagem de activos

    com risco includos na carteira de um investidor.

    Wang e Hanna (1997) analisaram a relao entre a idade e a tolerncia de risco, que foi

    medida atravs do rcio de activos de risco sobre o valor total do investimento. O seu

    modelo mostrou que as pessoas tendem a investir mais em activos de risco com o aumento

    da idade, indicando uma relao significativa e positiva entre idade e tolerncia ao risco.

  • 24

    Os resultados foram contrrios hiptese do ciclo de vida, que defende que a averso ao

    risco aumenta com a idade.

    Rendimento

    Vrios estudos confirmaram que o rendimento est relacionado significativamente e

    positivamente com a probabilidade de se investir em activos com risco (Gutter et al., 1999;

    Haliassos e Bertaut, 1995; Kreinin, 1959). Coleman (2003) e Zhong e Xiao (1995)

    mostraram que a percentagem de investimento em aces cresce com o rendimento. Desta

    forma, quanto maior o rendimento, maior a proporo da riqueza financeira investida em

    activos de risco.

    de salientar que o rendimento um determinante da tolerncia ao risco que tambm teve

    relevncia em numeras pesquisas. Esta varivel foi identificada como tendo uma relao

    positiva com a tolerncia ao risco, isto , quanto mais elevado for o nvel de rendimento,

    maior ser a tolerncia ao risco (Grable e Lytton, 1999; Hanna, Gutter e Fan, 1998;

    Schooley e Worden, 1996).

    Estado civil

    O estado civil potencialmente uma importante varivel que tem influncia sobre o nvel

    de preferncia pelo risco no processo de investimento. Inmeras pesquisas encontraram

    diferenas entre casados e solteiros em termos de tolerncia ao risco, mas tambm no que

    diz respeito a alocao de activos. Alguns autores sugerem que os investidores solteiros

    so mais tolerantes ao risco (McInish, 1982; Faaf et al., 2003). No entanto, algumas

    pesquisas falharam em identificar qualquer relao significativa entre estado civil e

    tolerncia ao risco (e.g., Haliassos e Bertaut, 1995).

    Em relao alocao de activos, Gutter et al. (1999) (in Hanna e Lindamood, 2004)

    mostrou que os indivduos casados investem mais em activos sem risco do que os

    indivduos solteiros. No entanto, segundo Bertaut (1998) a alterao do estado civil tem

    efeito sobre a deciso de investir em aces ser casado est relacionado positivamente

    com a probabilidade de se investir em aces. Por outro lado, Hariharan et al. (2000)

  • 25

    mostrou que no existe nenhuma relao entre estado civil e a proporo de activos com

    risco que compem a carteira.

    Nvel de Educao

    Alguns autores mostram que o nvel de educao propicia uma tolerncia ao risco maior,

    ou seja, comprovaram a existncia de uma relao positiva entre o nvel de educao e a

    tolerncia ao risco (Faff et al., 2004; Grable e Joo, 1997; Sung e Hanna, 1996). Alm

    disso, vrios estudos concluram que a tolerncia ao risco aumenta com o nvel de

    educao, sendo maior para aqueles com um nvel superior de educao e menor para

    aqueles com um nvel mdio incompleto (Sung e Hanna, 1996).

    Similarmente, existe alguma evidncia adicional de que educao contribui para um

    comportamento mais agressivo na escolha de uma carteira. Haliassos and Bertaut (1995)

    mostraram que, controlando outros factores, os indivduos com um nvel de educao mais

    elevado tm uma maior propenso para adquirir aces comparativamente aos investidores

    com um nvel de educao inferior. Outros autores confirmaram que a percentagem de

    investimento em aces aumenta com o nvel de educao (Coleman, 2003; Wang e

    Hanna, 1997).

    Outros factores

    A actividade profissional constitui uma varivel fundamental para caracterizar os

    investidores. Vrios artigos que analisaram a alocao de activos dos indivduos,

    utilizaram a actividade profissional como varivel de controlo. Gollier (2000) analisou os

    factores que determinam a afectao ptima de activos e mais concretamente a posse de

    aces. Este autor constatou que o estatuto profissional influencia a alocao ptima de

    activos. Yao (2003) mostrou que os indivduos reformados e os desempregados preferem

    investimentos mais seguros.

    Paralelamente, alguns autores e gestores de investimentos concluram que a tolerncia ao

    risco tambm pode ser associada ao tipo de emprego do indivduo, nomeadamente,

    sustentam que a ocupao de um estatuto profissional elevado est relacionada com um

    nvel de tolerncia ao risco elevado (Sung e Hanna, 1996). Assim, os indivduos que

  • 26

    assumem poucos riscos vo escolher um emprego com riscos econmicos reduzidos

    (Grable e Lytton, 1998). Por exemplo, assume-se que os indivduos empregados na rea

    vendas/comercial, empregados por conta-prpria e empregados em empresas privadas,

    tendem a ser mais tolerantes ao risco, em comparao com os funcionrios do sector

    pblico (Grable e Lytton, 1999).

    Outros factores, com influncia sobre a tolerncia ao risco, foram sugeridos,

    nomeadamente, expectativas econmicas (Grable e Joo, 2000) e os conhecimentos

    financeiros (Grable e Joo, 2000; Sung e Hanna, 1996). Segundo estes autores, os

    indivduos que tm expectativas favorveis para o futuro e um maior nvel de

    conhecimentos financeiros tendem a ser mais tolerantes ao risco. Kreinin (1959 in Zhong e

    Xiao, 1995) conclui que os indivduos que so mais optimistas em relao ao futuro da

    economia e da sua situao particular tm uma maior propenso, por oposio aos mais

    pessimistas, para adquirir aces. Rajamohan (2005) analisou o impacto dos

    conhecimentos financeiros na composio da carteira das famlias e concluiu que a posse

    de aces est significativamente e positivamente relacionada com os conhecimentos

    financeiros.

    A satisfao financeira tambm constitui um determinante importante da tolerncia ao

    risco, na medida em que existem diversos artigos que atestam que um nvel elevado de

    satisfao com a sua situao financeira actual est associado a um nvel elevado de

    tolerncia ao risco (Xiao, 2007). A satisfao financeira pode ser considerada como uma

    forma de medir o bem-estar financeiro (Xiao, 2007, p. 25), assim indivduos

    financeiramente satisfeitos tm uma maior predisposio para assumirem riscos (Forgas,

    1995; Rusting e Larsen, 1995).

  • 27

    2.5. Os Valores Pessoais

    Neste subcaptulo ser apresentada uma reviso da literatura sobre os valores pessoais e

    sua relevncia para a compreenso do comportamento dos indivduos, realando-se a

    Teoria Universal dos Valores de Schwartz. Com efeito, na rea de estudos dos valores e

    sua relao com o comportamento, Shalom Schwartz , incontestavelmente, considerado o

    lder mundial (Steenkamp et al., 1999).

    Por fim, uma vez que nunca foi estudada a relao entre os valores pessoais e a alocao

    de activos, sero frisados alguns estudos que evidenciaram que os valores pessoais podero

    ter influncia no grau de tolerncia ao risco do investidor, que constitui, tal como vimos na

    seco anterior, o factor determinante na definio da composio da carteira de

    investimento.

    2.5.1. O conceito de Valores Pessoais

    O estudo dos valores humanos tem sido um tema abordado por diferentes reas do

    conhecimento, como Educao, Filosofia, Psicologia, Sociologia. Isto porque os valores

    tm um papel relevante na orientao do comportamento humano, e mais, na organizao

    das pessoas em sociedade (Rokeach, 1973).

    Os valores pessoais so objectivos transituacionais desejveis que guiam a forma como os

    indivduos escolhem as suas aces, avaliam as pessoas e justificam as aces e avaliaes

    (Schwartz, 1992; 1999). So tambm entendidos pelos investigadores sociais como

    cognies sociais altamente abstractas detidas em comum pelos membros de uma

    sociedade e que representam preferncias de certo tipo de aco ou estado de coisa

    (Triandis, 1990). Na literatura, contudo, encontramos outras definies de valores, mas

    que essencialmente expressam o mesmo sentido. A ttulo de exemplo, apresentam-se as

    seguintes definies:

    Concepes do desejvel que influenciam a forma como as pessoas seleccionam as

    suas aces e avaliam os acontecimentos (Bilsky e Schwartz, 1987);

  • 28

    Representaes cognitivas dos objectivos ou motivaes importantes das pessoas

    que coordenam o seu comportamento (Bilsky e Schwartz, 1994);

    Estruturas abstractas que representam as crenas das pessoas sobre modos

    desejveis de comportamento ou sobre estados finais desejveis. Estas crenas

    transcendem objectivos e situaes especficas e detm um carcter normativo.

    Provm das necessidades bsicas e das exigncias da sociedade (Feather, 1995);

    Crenas que pertencem a modelos desejveis de conduta, transcendendo situaes

    especificas, guiando a seleco ou avaliao do comportamento e que esto

    ordenados por importncia, de forma a formar um sistema de prioridades (Rokeach,

    1973);

    Objectivos trans-situacionais desejveis que guiam a forma como os actores sociais

    escolhem as aces, avaliam as pessoas e justificam as suas aces e avaliaes.

    (Schwartz, 1999).

    Comuns maioria das definies de valores humanos esto as seguintes caractersticas:

    (1) Os valores so crenas (Bilsky e Schwartz, 1987, 1990), isto , so estruturas

    cognitivas intimamente ligadas s emoes e, quando activadas, de forma

    consciente ou no, desencadeiam sentimentos positivos ou negativos (Schwartz,

    2005). Com efeito, Rokeach (1973) afirmou que, os valores, tal como todas as

    crenas, possuem componentes cognitivas, afectivas e comportamentais. O valor

    uma estrutura cognitiva, porque um conhecimento sobre o desejvel; afectivo,

    dado que transmite uma emoo, que nos pode levar a aprovar quem d exemplos

    positivos ou a no aprovar quem d exemplos negativos; possui um componente

    comportamental, dado que quando activado, leva o indivduo a agir.

    (2) Os valores referem-se a objectivos desejveis, visto que nos mostram o que

    importante na nossa vida, fornecendo motivao para agirmos correctamente

    (Schwartz, 2005). Segundo Rokeach (1973), os valores permitem distinguir o que

    desejvel do que no desejvel, da que os valores so preferncias, pois

  • 29

    determinam que uma dada coisa prefervel a outra, o que influencia, portanto,

    condutas, actuaes e aces.

    (3) Os valores so objectivos abstractos, que transcendem aces e situaes

    especficas. Esta natureza abstracta dos valores, distingue-os de conceitos como

    normas e atitudes, que dizem respeito a aces e situaes especficas (Schawrtz,

    2005). Outra caracterstica que permitir distinguir os valores das normas e das

    atitudes, o facto de as pessoas estabelecerem uma hierarquia dos valores, ou seja,

    ordenarem os valores de acordo com a sua importncia relativa, formando um

    sistema de prioridades que caracterstico de cada indivduo (Schwartz, 2005).

    (4) Os valores so padres (Bilsky e Schwartz, 1987, 1990). Rokeach (1973)

    defende que so padres multifacetados que guiam a conduta das pessoas,

    nomeadamente, porque orientam os indivduos no posicionamento frente a

    determinadas questes sociais; servem para guiar a forma como as pessoas se

    apresentam aos outros; servem de guia para julgar e avaliar as pessoas; permitem

    persuadir e influenciar as pessoas e oferecem um padro que nos indica como

    racionalizar as nossas aces, atitudes e crenas.

    2.5.2. Valores e comportamento

    De acordo com Tamayo e Porto (2005), o estudo da relao entre valores e comportamento

    constitui uma preocupao antiga, mas foi com Rokeach, nos anos 70, que o estudo

    sistemtico dos valores ganhou relevo, pois este autor afirma que o conhecimento dos

    valores de uma pessoa vai permitir predizer como ela se comportar em diversas situaes

    experimentais e da vida real (Rokeach, 1973). Os valores envolvem necessariamente uma

    preferncia, ou seja, uma distino entre o que importante para o indivduo e o que

    secundrio, entre o que tem valor e o que no tem. Assim, na essncia dos valores parece

    estar implcita a sua relao com o comportamento.

    Sendo os valores o que h de mais abstracto nas cognies sociais, eles reflectem as

    caractersticas mais bsicas da adaptao do indivduo ao meio. As atitudes e os

    comportamentos so produzidos a partir dessas abstraces. Dada uma determinada

    situao, teoricamente, os valores vo influenciar as atitudes, que por sua vez vo

  • 30

    influenciar os comportamentos especficos. Esta sequncia pode ser designada de

    hierarquia valor atitude comportamento (Homer et al., 1988).

    Schwartz (2005) identifica e explica quatro processos atravs dos quais os valores podem

    influenciar o comportamento de um indivduo. O primeiro processo diz respeito

    activao de valores, ou seja, para determinar o comportamento preciso que os valores

    sejam activados, o que est dependente da facilidade com que determinado valor vem

    memria. Desta forma, confirma-se que os valores mais importantes para o indivduo so

    activados mais facilmente, sendo estes valores que causam o comportamento. O segundo

    processo reconhece os valores como fonte de motivao, assim os valores motivam aces,

    no entanto Feather (1988) refere que os indivduos para desenvolverem essas aces tm

    de acreditar que tm capacidade para as realizarem e que estas vo produzir os resultados

    esperados. O terceiro processo, evidencia que os valores influenciam a ateno, percepo

    e interpretao de situaes, isto , os indivduos vo dar ateno apenas a determinadas

    situaes, aquelas que so percepcionadas como importantes do ponto de vista dos seus

    valores e, em consequncia, cada interpretao vai implicar uma determinada aco.

    Finalmente, o quarto processo refere que os valores influenciam o comportamento, atravs

    do planeamento das aces. Portanto, se os indivduos planearem de forma cuidadosa as

    suas aces, maior ser a probabilidade do seu comportamento expressar os seus valores

    prioritrios, visto que o planeamento leva os indivduos a concentrarem-se nos prs da

    aco desejada e a acreditarem mais nas suas capacidades para alcanarem com sucesso os

    seus objectivos (Gollwitzer, 1996).

    Portanto, do ponto de vista terico, parece no existir dvida de que os valores so factores

    determinantes do comportamento. De referir ainda que Rokeach (1973) argumenta que as

    consequncias dos valores no comportamento do indivduo podem-se manifestar em todos

    os fenmenos que os investigadores considerem relevantes para investigar.

  • 31

    2.5.3 Teoria Universal de Schwartz

    Actualmente, a teoria dos valores de Schwartz uma das teorias de valores mais utilizadas

    e aquela que abarca a complexidade das relaes entre os valores e o comportamento

    (Tamayo e Porto, 2005, p. 18). No mesmo sentido, Steenkamp et al. (1999) refere que,

    provavelmente, a mais importante e completa teoria e linha de investigao sobre valores

    pessoais foi a desenvolvida por Schwartz e seus colegas.

    Schwartz segue o modelo da hierarquia de valores de Rokeach (Bilsky e Schwartz, 1987).

    No entanto, o grande avano dado por Schwartz prende-se com o facto de procurar

    construir um modelo, uma estrutura de valores, que pode ser aplicado a todas as pessoas e

    naes do mundo, ou seja, universal.

    Schwartz demonstrou que os valores humanos podem ser agrupados em dez tipos

    motivacionais distintos reconhecidos em diversas culturas. Esta tipologia de valores foi

    deduzida teoricamente a partir das seguintes necessidades bsicas universais que so pr-

    existentes em qualquer indivduo: necessidades biolgicas do organismo; interaco

    necessidades de coordenao e interaco social; e necessidades de bem-estar e

    sobrevivncia dos grupos (Bilsky e Schwartz, 1987).

    2.5.3.1 Os dez tipos motivacionais de valores

    Apesar de existir consenso entre os autores de que os valores constituem representaes

    cognitivas das necessidades, Schwartz foi o primeiro a imaginar uma estrutura de valores

    baseada na motivao subjacente a cada um deles (Tamayo, 2007) A teoria de valores de

    Schwartz centra-se no contedo motivacional imbudo em cada valor. Portanto, os valores

    expressam metas motivacionais do indivduo, ou seja, o que diferencia um valor de outro

    o tipo de motivao que ele expressa.

    Schwartz (1992), aps reviso da estrutura proposta por Bilsky e Schwartz (1987; 1990),

    props uma tipologia universal de valores baseada na literatura sobre as necessidades

    bsicas dos indivduos, que contm dez tipos motivacionais de valores: Benevolncia,

    Conformidade, Tradio, Segurana, Poder, Realizao, Hedonismo, Estimulao,

    Autodeterminao e Universalismo.

  • 32

    De seguida, apresenta-se uma definio detalhada de cada um dos dez tipos motivacionais

    de valores, salientando-se os objectivos que expressam as necessidades que os determinam

    e os itens utilizados para medir cada tipo motivacional, que esto presentes,

    nomeadamente, no Schwartz Value Survey.

    Benevolncia

    Este tipo motivacional enfatiza a preocupao com o bem-estar das pessoas com quem o

    indivduo contacta frequentemente (Schwartz e Sagiv, 1995) e deriva dos requisitos

    bsicos para o bom funcionamento do grupo primrio e das necessidades orgnicas de

    afiliao. Os valores de benevolncia podem ser medidos atravs dos seguintes itens: ser

    prestvel, honesto, piedoso, responsvel, leal (Schwartz, 2005).

    Conformidade

    Este tipo motivacional envolve a limitao de aces e impulsos que podem constituir uma

    violao das normas ou expectativas sociais (Schwartz e Sagiv, 1995). A conformidade

    um requisito fundamental para o bom funcionamento dos grupos, j que reprime impulsos

    que tendem a incomodar ou prejudicar a interaco no nosso quotidiano (Schwartz, 2005).

    Ser obediente, bem educado e auto-controlado so exemplos de valores deste tipo

    motivacional (Bilsky e Schwartz, 1987).

    Tradio

    Segundo Schwartz (1992, p. 10) os grupos em todos os lugares desenvolvem smbolos e

    prticas que representam experincias partilhadas. Assim, este tipo motivacional reala

    objectivos de respeito, compromisso e aceitao de crenas, costumes e ideias da cultura

    ou religio dos indivduos, que simbolizam a solidariedade do grupo, contribuindo para a

    sua sobrevivncia. Os valores de tradio so medidos atravs dos seguintes itens: respeito

    pela tradio, humilde, devoto, consciente dos seus limites, moderado (Schwartz, 2005).

  • 33

    Segurana

    Reala objectivos de segurana, harmonia e estabilidade da sociedade, dos

    relacionamentos e de si mesmo. Schwartz (1992) sugere que este tipo motivacional inclui

    dois subtipos de valores de segurana, aquele que diz respeito segurana individual, dado

    que serve principalmente os interesses dos indivduos (ex: sade) e aquele que serve

    interesses mais amplos do grupo e da sociedade (ex: segurana nacional). Os valores de

    segurana resultam das necessidades bsicas do organismo do indivduo e grupos e que

    permitem a sobrevivncia fsica (Bilsky e Schwartz, 1987). Os itens ordem social,

    segurana da famlia, limpo, reciprocidade de favores e saudvel permitem medir este tipo

    de valores.

    Realizao

    O objectivo expresso por este tipo motivacional est relacionado com a obteno de

    sucesso pessoal, atravs da demonstrao de competncias de acordo com os padres

    aprovados pela sociedade. Com efeito, para que os indivduos sobrevivam e os grupos e

    instituies alcancem com sucesso os seus objectivos, necessrio privilegiar um

    desempenho competente (Schwartz, 2005). Este tipo motivacional medido com base nos

    seguintes itens: ambicioso, bem sucedido, capaz e influente (Schwartz, 1992).

    Poder

    O poder diz respeito ao estatuto social, ao prestgio e ao controlo sobre pessoas e recursos

    (Schwartz e Sagiv, 1995). Com efeito, a diferenciao entre estatutos constitui um facto da

    vida social que fundamental para o funcionamento das instituies sociais (Bilsky e

    Schwartz, 1987). Este tipo motivacional engloba os seguintes itens: autoridade, poder

    social, preservao da imagem pblica, reconhecimento social.

    de referir que este valor motivacional, tal como a realizao, foca a estima social. No

    entanto, os valores de realizao do nfase demonstrao activa de competncias em

    interaces concretas, enquanto que os valores de poder visam a conquista ou manuteno

    de uma posio dominante dentro de um sistema mais geral (Schwartz, 2005).

  • 34

    Hedonismo

    Os valores includos neste tipo motivacional derivam das necessidades orgnicas e do

    prazer associado sua satisfao, baseando-se em objectivos de gratificao sensual ou

    prazer (Schwartz, 2005). O prazer, vida de prazer, auto-indulgncia constituem itens que

    permitem medir este tipo motivacional.

    Estimulao

    Reala objectivos de excitao, novidade e desafio na vida. De acordo com Schwartz

    (2005), este tipo de valor motivacional resulta da necessidade orgnica de variedade e

    estimulao dos indivduos, de forma a conseguirem um nvel ptimo e positivo de

    actividade. Os seguintes itens permitem medir este tipo motivacional: uma vida variada,

    uma vida excitante e ousado.

    Autodeterminao

    O principal objectivo que define este tipo motivacional o pensamento e aco

    independente escolher, criar e explorar. Os valores de autodeterminao so o resultado

    das necessidades orgnicas baseadas no controlo e domnio e de requisitos de interaco de

    autonomia e independncia. A criatividade, liberdade, curiosidade independncia so

    exemplo de valores que permitem medir a autodeterminao (Schwartz, 2005).

    Universalismo

    Compreenso e aceitao dos outros e preocupao com o bem-estar de todas as pessoas e

    do meio ambiente constituem os objectivos deste tipo motivacional, cujos valores tambm

    derivam das necessidades de sobrevivncia dos grupos e dos indivduos. No entanto, este

    tipo motivacional contrasta com a benevolncia, pois as motivaes associadas aos valores

    de universalismo s so reconhecidas a partir do momento que as pessoas entram em

    contacto com outras pessoas que no pertencem ao seu grupo primrio, indo pois para

    alm das relaes intragrupo. Alm disso, o tipo motivacional universalismo tambm

  • 35

    activado quando os indivduos tomam conscincia da escassez de recursos naturais,

    constatando que se no protegerem o meio ambiente isso implicar a destruio dos

    recursos que so essenciais para a sobrevivncia das pessoas. Os valores do universalismo

    podem ser medidos atravs dos seguintes itens: mente aberta, justia social, igualdade, um

    mundo em paz, mundo de beleza, sabedoria e proteger o meio ambiente (Schwartz, 2005).

    O quadro apresenta um breve resumo do que foi referido anteriormente, identificando-se

    para cada tipo motivacional a correspondente meta motivacional o principal objectivo

    que define cada factor motivacional e as aces que representam estes tipos

    motivacionais (exemplos de valores).

    Tabela 1: Domnios de valores e meta motivacional Tipo de valor

    motivacional

    Meta Motivacional

    Exemplos de valores

    Benevolncia Interesse e preocupao com o bem-estar de pessoas ntimas

    Prestvel

    Responsvel

    No rancoroso

    Honesto

    Leal

    Amizade verdadeira

    Conformidade Agir de acordo com as expectativas sociais

    Obediente

    Auto-disciplina

    Polidez

    Respeito aos pais e idosos

    Tradio Respeito dos princpios, ideias e costumes de uma cultura ou

    religio

    Respeito pela tradio

    Devoto

    Moderado

    Humilde

    Segurana Harmonia e estabilidade da sociedade, das relaes e de si

    prprio

    Segurana nacional

    Ordem social

    Reciprocidade de favores

    Segurana familiar

    Limpeza

    Saudvel

    Realizao Sucesso pessoal, atravs da demonstrao de competncias

    individuais, de acordo com padres sociais

    Ambio

    Inteligente

    Influente

    Capaz

    Poder Estatuto social, prestgio e controle sobre recursos e pessoas

    Poder social

    Autoridade

    Riqueza

    Reconhecimento social

    Hedonismo Prazer ou gratificao sensual

    Prazer

    Desfrutar a vida

    Ser condescendente

  • 36

    Estimulao Procura de excitao, novidade e mudana

    Vida excitante

    Vida variada

    Audaz

    Autodeterminao Independncia de pensamento e aco, criatividade e explorao

    Liberdade

    Criatividade

    Independncia

    Curiosidade

    Respeito prprio

    Universalismo Compreenso, tolerncia e preocupao com o bem-estar dos

    outros e da natureza

    Igualdade

    Proteco do meio ambiente

    Justia social

    Um mundo de beleza

    Um mundo em paz

    Sabedoria

    Fonte: Schwartz (1992), Schwartz (2005)

    de salientar que Schwartz (Tamayo e Porto, 2005) confirmou, de forma emprica, atravs

    de amostras de mais de 67 pases, a existncia de uma estrutura axiolgica constituda por

    dez motivaes. Indcios estatsticos sugerem que os dez tipos motivacionais identificados

    cobrem todo o espectro motivacional dos valores. No entanto, o prprio Schwartz

    (Tamayo e Porto, 2005, p. 45-46) afirma que difcil rejeitar definitivamente a

    possibilidade de que alguns tipos motivacionais universais estejam ausentes.

    2.5.3.2 A estrutura de relaes de valores

    Schwartz (1992) desenvolveu uma estrutura circular para representar a sua teoria, cuja

    representao grfica evidenciada pela Figura 6, onde podemos identificar que os dez

    tipos motivacionais esto inseridos em quatro dimenses de valores de ordem superior:

    Abertura mudana, Conservao, Autopromoo e Autotranscendncia.

  • 37

    Figura 6: Estrutura circular dos valores humanos como tipos motivacionais e as

    dimenses bipolares de Schwartz

    Fonte: Schwartz (1992)

    A estrutura circular da Figura 6, destaca as relaes de compatibilidade e de conflito entre

    os tipos motivacionais, em que os valores compatveis se encontram em proximidade

    estreita e os valores que concorrem entre si em lados opostos do crculo. Assim, quanto

    mais prximos esto dois tipos motivacionais em torno do circulo, mais semelhantes so as

    suas motivaes subjacentes; por outro lado, quanto mais afastados esto dois tipos

    motivacionais, mais diferentes so as motivaes que representam (Tamayo e Porto,

    2005).

    Schwartz demonstrou a universalidade das compatibilidades atravs dos seguintes pares de

    valores (Schwartz, 1992):

    Poder e Realizao enfatizam a superioridade social e estima;

    Realizao e Hedonismo enfatizam a satisfao pessoal;

    Hedonismo e Estimulao o desejo por experincias afectivas e de prazer;

    Estimulao e Autodeterminao a novidade e o domnio;

    Auto - Determinao Universalismo

    Benevolncia

    Estimulao

    Conformidade Tradio

    Hedonismo Realizao

    Poder

    Segurana

    Auto-Transcendncia

    Conservao

    Auto-Promoo

    Abertura Mudana

  • 38

    Autodeterminao e Universalismo expressam confiana no julgamento prprio e

    satisfao com a diversidade;

    Universalismo e Benevolncia demonstram preocupao com outros e superao

    de interesses individuais;

    Benevolncia e Tradio a devoo a um grupo;

    Conformidade e Tradio a subordinao do indivduo s expectativas sociais

    impostas;

    Tradio e Segurana a preservao do estatuto social;

    Conformidade e Segurana a proteco da ordem e a harmonia nas relaes;

    Segurana e Poder o evitar das incertezas controlando as relaes e os recursos.

    Por outro lado, a relao de conflito entre os tipos motivacionais pode ser verificada,

    atravs da organizao dos tipos motivacionais em duas dimenses bipolares opostas

    (Tamayo e Porto, 2005, p. 29). A primeira dimenso destaca a oposio entre a Abertura

    mudana versus Conservao, onde se inserem os tipos motivacionais

    Autodeterminao e Estimulao (que enfatizam a independncia do pensamento e

    favorecem a mudana) versus Conformidade, Tradio e Segurana (que focalizam a

    submisso, preservaro de prticas tradicionais e proteco da estabilidade).

    A segunda dimenso contrape Autopromoo versus Autotranscendncia, onde

    inclumos os tipos motivacionais Realizao e Poder (que evidenciam a procura de sucesso

    pessoal e domnio sobre os outros) versus Universalismo e Benevolncia (que do nfase

    igualdade entre as pessoas e a preocupao com o bem-estar dos outros). O tipo

    motivacional Hedonismo est includo tanto na Abertura mudana como na

    Autopromoo.

  • 39

    2.5.4. Valores Pessoais e Alocao de Activos

    Apesar de no existir nenhum estudo que relacione os valores humanos com a alocao de

    activos financeiros, aqueles podero constituir uma varivel potencial para compreender a

    forma como as pessoas organizam as suas preferncias em relao escolha dos activos

    financeiros para a sua carteira.

    Nos modelos oferta/procura de qualquer bem, a procura por parte dos consumidores

    determinada quer por caractersticas fundamentais como os custos de produo, o preo

    dos bens substitutos, quer por caractersticas que se relacionam com valores, tais como

    preferncias e gostos. Tambm nas escolhas de investimentos os investidores apresentam

    diferentes preferncias e raciocinam com base nos seus prprios valores. O Ramo da

    Finana Comportamental mostrou que as caractersticas psicolgicas e preferncias dos

    investidores so importantes, tanto nas escolhas dos investidores como no comportamento

    dos preos dos ttulos.

    Alguns autores realam que o investimento em activos financeiros, alm de ser afectado

    por variveis demogrficas e socioeconmicas, tambm determinado pela orientao

    psicolgica de cada indivduo, nomeadamente pela personalidade do indivduo (Ackert et

    al., 2002).

    Estudos de cariz psicolgico tm abordado a medio da tolerncia ao risco atravs do

    desenvolvimento de medidas que classificam os indivduos em diferentes categorias de

    risco. A partir da definio destas categorias, um gestor de investimentos tem

    conhecimento do perfil de risco da pessoa e, portanto, tem capacidade para recomendar

    uma composio de activos para a sua carteira que v de encontro s suas caractersticas

    especficas. Exemplos deste tipo de abordagem so detalhados por Kaiser (1987), Lipper e

    Busby (1987), Droms (1987) e Lebaron, Farrelly e Gula (1989).

    Neste contexto, no de admirar que tambm se possa estabelecer uma relao de

    causalidade entre os valores dos indivduos e a composio da sua carteira de

    investimentos, uma vez que constituem um dos aspectos fundamentais da psicologia do

    indivduo, contribuindo para explicar o seu comportamento (Schwartz, 2005). Esta uma

    das questes empricas que nos propomos estudar.

  • 40

    de salientar que apesar de alguns autores terem frisado que os valores pessoais tm

    impacto na alocao de activos, no se verificou nenhum estudo emprico desta relao.

    Com efeito, alguns autores (e.g., Doyle, 1999 e Waddell, 1987) argumentam que a

    tolerncia ao risco, que como sabemos o principal factor que determina a deciso de

    alocao de activos, resultado, pelo menos parcial, dos dos seus valores pessoais. Sendo

    de salientar que Doyle (1999) concluiu que a tolerncia das pessoas ao risco financeiro

    resultado dos seus temperamentos, que esto relacionados com os seus valores e que so

    reflectidos pelas suas origens biolgicas e sociais. De acordo com Waddell (1987), a

    tolerncia ao risco financeiro reflecte os valores, crenas e metas do indivduo.

    2.6. Concluso

    Iniciamos este captulo com a apresentao de alguns conceitos essenciais para o presente

    trabalho de investigao, designadamente, o conceito de alocao de activos e sua

    importncia no sucesso da estratgia de investimento. Posteriormente, efectuamos uma

    breve reviso da literatura sobre a Teoria da Carteira e apresentamos os principais

    resultados de estudos prvios sobre a influncia das variveis demogrficas e

    socioeconmicas na deciso de alocao de activos.

    Na segunda seco analismos os valores pessoais e sua importncia na explicao da

    deciso de alocao de activos, o que permite antever uma relao entre esta varivel e a

    composio da carteira de investimentos dos indivduos.

  • 41

    Captulo 3 Quadro Conceptual de Investigao

    3.1. Introduo

    Concluda que est a parte referente reviso da literatura, desenvolve-se neste captulo o

    modelo de investigao, onde sero apresentados os objectivos e as hipteses da

    investigao. Posteriormente descreve-se o mtodo seguido para o desenvolvimento do

    estudo emprico, apresentando-se os instrumentos e a amostra utilizada. Por ltimo,

    apresentamos o processo de aperfeioamento das variveis, que englobou o estudo da

    dimensionalidade das variveis e a anlise do alpha de Cronbach.

    3.2. Objectivo e Hipteses de Estudo

    Hoje em dia os investidores tm sua escolha uma grande variedade de instrumentos

    financeiros dentro das vrias classes dos activos que tm diferentes caractersticas de risco

    e rendibilidade.

    Assim, a anlise de um qualquer investimento passa pela considerao de dois elementos

    fundamentais: o risco e a rendibilidade (Markowitz, 1952). Genericamente, pode definir-se

    o risco como sendo um acontecimento incerto a que est associada uma distribuio de

    probabilidade. O risco de investimento pode ser definido como sendo a possibilidade de

    obter, com esse investimento, uma rendibilidade diferente da esperada. Quanto mais

    provvel essa possibilidade, maior o risco (ABDP, 1998). Portanto, podemos definir o

    risco como sendo a volatilidade dos resultados esperados. Existe, portanto, uma relao

    estreita entre risco e rendibilidade, dado que quanto maior o risco associado a um activo,

    maior ser a rendibilidade exigida pelo investidor.

    A teoria clssica de Markowitz prev uma relao inversa entre risco e rendibilidade nas

    diversas carteiras de investimento. O investidor tpico procura retorno e encara o risco da

    sua carteira como algo indesejvel. Markowitz (1952) demonstrou a importncia do

    processo de alocao de activos atravs da diversificao de carteiras. A deciso de

    alocao um processo que determina a melhor composio da carteira a partir dos vrios

    tipos de activos disponveis, como aces, obrigaes, etc. As diferentes combinaes de

    activos geram um conjunto de carteiras, onde algumas tm retorno superior ou menor risco

  • 42

    em relao s demais carteiras. Tobin (1958) apresentou uma contribuio essencial

    teoria de Finanas ao propor a existncia de um activo sem risco, a ser includo na

    formao de carteiras eficientes de investimento. Segundo este autor, as carteiras formadas

    pelos investidores so uma combinao do activo sem risco com um fundo de activos com

    risco.

    Portanto, os investidores enfrentam um dilema na composio da sua carteira, uma vez que

    tm de decidir a distribuio do seu investimento entre activos com risco versus activos

    sem risco (Wang, 2008). Investidores mais conservadores, que no gostam de assumir

    grandes riscos, tm preferncia pelo investimento em activos isentos de risco, com a

    finalidade de obterem uma carteira mais segura. Em oposio, investidores com um perfil

    mais agressivo, que procuram a maior rentabilidade, mesmo que corram o risco de perder

    parte do seu patrimnio, compem a sua carteira basicamente com activos de rendimento

    varivel (aces, derivados).

    Campbell (2006) realizou uma reviso de vrias questes que influenciam o processo de

    deciso financeira das famlias, incluindo a questo de como as famlias alocam a sua

    riqueza em diferentes activos financeiros. Segundo este autor, a propenso de uma famlia

    deter activos com risco, tais como aces, em contraste com activos menos arriscados, tais

    como depsitos bancrios e obrigaes de baixo risco, depende de uma srie de factores.

    Uma maior tolerncia ao risco, quer devido psicologia individual ou em virtude de

    circunstncias como possuir uma maior riqueza, dever levar um indivduo a investir mais

    em aces. Alm disso, factores que afectam o nvel de conforto com produtos financeiros

    relativamente mais sofisticados, como aces, podem determinar a alocao de activos das

    famlias.

    O investimento em aces um tipo de activo com risco geralmente aceite e discutido na

    literatura (por exemplo, Hanna e Chen, 1995; Haliassos e Bertaut, 1995; Bertaut e Starr-

    McCluer, 2000). Alm disso, para a medio do comportamento de risco das famlias, a

    deteco de aces uma medida vulgarmente utilizada. de salientar que diversos

    estudos, que se concentraram na alocao de activos, utilizaram modelos para avaliar se as

    famlias possuam ou no aces (e.g., Haliassos e Bertaut, 1995; Xiao, 1996; Gutter et al.,

    1999).

  • 43

    O objectivo central do trabalho medir o impacto de caractersticas pessoais sobre a

    probabilidade de um participante optar pelo investimento em aces. Sendo de salientar,

    que o principal contributo deste estudo explorar a utilidade dos valores pessoais na

    explicao da deciso de alocao de investimento em aces, alm de outros factores, que

    j foram extensamente abordados em estudos anteriores, designadamente: a idade, o

    gnero, o estado civil, o nvel de rendimento, actividade profissional, os conhecimentos

    financeiros, a satisfao financeira, o optimismo financeiro e a tolerncia ao risco

    financeiro.

    No seguimento do que acabou de ser referido, chegou-se elaborao do seguinte modelo

    de anlise, o qual servir de suporte presente investigao.

    Figura 7: Modelo Conceptual de Anlise

    De acordo com os objectivos propostos para este trabalho, constituram-se as seguintes

    hipteses, as quais iro ser testadas nesta pesquisa. As hipteses, apresentadas de seguida,

    foram categorizadas em trs temas:

    (1) Efeitos das variveis socio-demogrficas na determinao do investimento em

    aces

    Valores Pessoais Conservao Abertura mudana Autopromoo

    Investimento

    em

    aces

    Caractersticas scio-d