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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA LILIAN RODRIGUES DE OLIVEIRA A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO NA ESTRUTURA SEMICRISTALINA DA POLIANILINA SAL DE ESMERALDINA (PANI-ES) Manaus 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

LILIAN RODRIGUES DE OLIVEIRA

A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO NA ESTRUTURA

SEMICRISTALINA DA POLIANILINA

SAL DE ESMERALDINA (PANI-ES)

Manaus

2015

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LILIAN RODRIGUES DE OLIVEIRA

A INFLUÊNCIA DO AQUECIMENTO NA ESTRUTURA

SEMICRISTALINA DA POLIANILINA

SAL DE ESMERALDINA (PANI-ES)

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Física, da

Universidade Federal do Amazonas, como parte

dos requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Física.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Edgar Aparecido Sanches

Manaus

2015

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Ficha Catalográfica

O48i    A influência do aquecimento na estrutura semicristalina dapolianilina sal de esmeraldina (PANI-ES) / Lilian Rodrigues deOliveira. 2015   80 f.: il. color; 31 cm.

   Orientador: Prof. Dr. Edgar Aparecido Sanches   Dissertação (Mestrado em Física) - Universidade Federal doAmazonas.

   1. Polianilina. 2. Tratamento térmico. 3. DRX. 4. SAXS. 5. AjusteLe Bail. I. Sanches, Prof. Dr. Edgar Aparecido II. UniversidadeFederal do Amazonas III. Título

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Oliveira, Lilian Rodrigues de

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Tudo é do Pai, toda honra e toda

glória, é Dele a vitória, alcançada em

minha vida. Tudo é do Pai, se sou fraco e

pecador, bem mais forte é meu Senhor, que

me cura por amor.

(Pe. Fábio de Melo)

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AGRADECIMENTOS

A Deus Pai, pelo dom da vida, por não me deixar faltar nada até aqui. Minhas

conquistas são para glorificar o Teu nome, pois sem Ti nada seria.

À minha mãe Maria Olinda Rodrigues, por seu amor incondicional, por todo apoio

que me deu durante a realização desse trabalho, por seu cuidado nos momentos

difíceis e amizade. Repito: minhas vitórias também são suas. Amo-te infinitamente!

Ao meu pai Luciano Oliveira, por toda ajuda e incentivo durante toda esta trajetória.

Ao meu namorado, agora noivo, Edieliton Oliveira, por cuidar de mim com tanto

amor e compreensão, sou muito feliz por tê-lo ao meu lado, meu amor.

Ao meu orientador Prof. Edgar A. Sanches, muito obrigada por tudo,

principalmente pela paciência. O senhor me tornou uma profissional melhor, aprendi

a ser mais crítica com o que faço, sempre buscando o melhor. Obrigada por todas as

sugestões, críticas e pelo apoio. Além de um excelente professor, és um ser humano

que sempre admirarei.

À minha pequena grande amiga Katrine Paiva, que sempre esteve nos momentos

mais importantes, apoiando e animando durante o árduo período de graduação e pós-

graduação. Nossa amizade levarei para o resto da vida. Obrigada por tudo mana!

À minha família de sangue e de coração, Tia Ivaneide, Tio Luis, Renata, Adalmir,

Tia Estevânia, Tio Edilson, por todo apoio e incentivo, amo todos vocês!!

Às minhas queridas e amadas, Maria (Gata), que inúmeras vezes passava as

madrugadas ao meu lado, dando carinho e se jogando em cima do computador. E

Juju (cachorrinha), que com seus adoráveis lambeijos de recepção, me enchia de

amor. Vocês são minhas princesas.

Aos colegas de mestrado, que tive o grande prazer de conviver, Cleverton, Cláudio,

Marcílio, Adriane e Adrianos, vocês são das galáxias!!!

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Aos colegas do Nanopol, Sidney, Jéssikinha, Vânia e André, pela ajuda sempre

constante e oportunidade de aprender mais durante nossos experimentos nos

laboratórios, através das conversas e momentos de descontração.

Aos amigos da igreja, Ítalo, Adnilson, Ellen, Tia Iracema, Juliene, Rafa e Andrey

por todo carinho, amizade, orações e principalmente, pelos momentos de cantoria,

porque cantar lava a alma e revigora as forças.

À professora Angsula Ghosh, por me incentivar a fazer a pós e por sua constante

disposição a ajudar quando era preciso.

Ao Mitsuo Lopes, por toda sua ajuda no manuseio correto do forno para o

tratamento térmico das amostras. Obrigada pela disposição, aprendi muito contigo.

Ao professor Sérgio Michielon, por ajudar e dispor dos equipamentos do laboratório

LABMAT (UFAM), para a realização do tratamento térmico.

Ao professor Lizandro Manzato, por disponibilizar o laboratório de Síntese e

Caracterização de Materiais (IFAM ) e por sempre se mostrar disponível a ajudar.

Ao professor Haroldo Almeida, por seu auxílio durante as medidas de

condutividade elétrica.

Ao Laboratório de Raios X do Grupo de Cristalografia – IFSC, pelas medidas de

raios DRX. Ao Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica da

Universidade Federal de São Carlos (LIEC/UFSCar), pelas imagens de MEV. À

empresa Nanomed Nanotecnologia- São Carlos/ SP, pelas medidas de FTIR.

À CAPES, pela bolsa de mestrado concedida.

À UFAM, por todo suporte durante o período de mestrado.

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RESUMO

OLIVEIRA, L. R. (2015). A influência do aquecimento na estrutura semicristalina

da Polianilina Sal de Esmeraldina (PANI-ES). Dissertação (Mestrado) –

Departamento de Física, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal do

Amazonas, Manaus, 2015.

A polianilina (PANI) é um polímero intrinsecamente condutor (PIC) que é muito

estudado em diversas pesquisas devido as suas aplicações tecnológicas. O intuito desta

pesquisa é investigar as modificações ocorridas na estrutura, morfologia e

condutividade elétrica da Polianilina Sal de Esmeraldina (PANI-ES), quando a mesma é

submetida a tratamento térmico nas temperaturas de 50, 100, 200 e 300°C, com duração

de 1h para cada temperatura. A PANI-ES foi sintetizada quimicamente com Persulfato

de Amônio e HCl 1M e as amostras foram caracterizadas utilizando-se as técnicas de

DRX, SAXS, FTIR e MEV. Através dos dados obtidos por DRX, verificou-se a perda

de cristalinidade das amostras tratadas termicamente através da modificação dos perfis

dos difratogramas. Os dados de DRX também foram utilizados para realização do ajuste

Le Bail visando à obtenção de informações microestruturais através do programa

FULLPROF e para a estimativa do percentual de cristalinidade utilizando o programa

Peak Fitting Module. No ajuste Le Bail foram adquiridos os valores dos tamanhos

médios e anisotrópicos dos cristalitos: para a PANI-ES foi encontrado o valor de 36 Å

e para as amostras tratadas termicamente, TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300), este

valor foi gradativamente diminuindo até chegar a 16 Å em 300 °C. Os percentuais de

cristalinidade obtidos para PANI-ES e as amostras tratadas termicamente variaram de

51 para 19%. Através do SAXS foram obtidos os valores dos raios de giro (𝑅𝑔) e a

dimensão máxima das partículas (𝐷𝑚á𝑥 ) a partir da função de distribuição de pares p(r).

Os dados de SAXS também foram utilizados para reconstrução estrutural do modelo do

formato das partículas, mostrando que a temperatura ocasionou a perda do formato

globular das partículas, bem como suas dimensões máximas e raios de giro foram

diminuídos com o tratamento térmico. As análises de FTIR revelam que, quando a

PANI-ES é submetida a 200°C ocorre uma mudança estrutural na cadeia polimérica

através da reação de crosslinking, porém, sem ganho de cristalinidade. As imagens de

MEV permitiram a visualização das distintas morfologias das amostras: a PANI-ES

apresentou uma morfologia de nanofibras formadas por nanoesferas interconectadas,

enquanto que as amostras tratadas termicamente perderam essa morfologia inicial,

apresentando nanofibras muito menores e menos definidas, refletindo na perda de

cristalinidade e condutividade elétrica das amostras. As medidas de condutividade

elétrica foram diminuindo em virtude do tratamento térmico: a PANI-ES apresentou

condutividade elétrica da ordem de 0,3 x 10-4

S/cm e, após o tratamento térmico, a

condutividade elétrica chegou a 4 x 10-6

S/cm, representando uma diminuição de 86%.

Assim, esta pesquisa permitiu, através da caracterização estrutural e morfológica da

PANI-ES, investigar as alterações ocorridas em sua estrutura após o tratamento térmico,

e constatar que a diminuição do percentual de cristalinidade influencia nos valores de

condutividade elétrica. Espera-se que estes resultados possam contribuir para um maior

conhecimento das propriedades estruturais, morfológicas e elétricas dos materiais

poliméricos.

Palavras-chave: Polianilina. Tratamento Térmico. DRX. SAXS. Ajuste Le Bail.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, L. R. (2015). The influence of the heat treatment on the semi-

crystalline structure of Polyaniline Emeraldine-salt form (ES-PANI). Dissertação

(Mestrado) – Departamento de Física, Instituto de Ciências Exatas, Universidade

Federal do Amazonas, Manaus, 2015.

Polyaniline (PANI) is an Intrinsically Conducting Polymer (ICP) which is very studied

in several areas due to their technological applications. The purpose of this study is to

investigate the changes occurring in the structure, morphology and electrical

conductivity of Polyaniline Esmeraldine Salt form (PANI-ES) when it is subjected to

heat treatment at temperatures of 50, 100, 200 and 300 °C for 1h at each temperature.

PANI-ES was chemically synthesized with ammonium persulfate and HCl 1M, and the

samples were characterized using XRD, SAXS, FTIR and SEM techniques. By XRD a

loss of crystallinity was observed after heating treatment. XRD data were also used to

perform the Le Bail method in order to obtain microstructural information through

FullProf program and to estimate the percentage of crystallinity using the Peak Fitting

Module program. Through Le Bail method the values of average and anisotropic

crystallite sizes were acquired: for PANI-ES it was found the value of 36 Å and for the

heat treated samples, TT (50) TT (100), TT (200) and TT (300), these values were

gradually narrowed until it reaches 16 Å at 300 °C. The percentage of crystallinity

obtained for the PANI-ES and heat-treated samples ranged from 51 to 19%. Through

the SAXS technique it were obtained the values of the radius of gyration (Rg), and the

maximum particle size (Dmáx) from the pair distribution function p(r). The SAXS data

were also used for structural reconstruction of the model for particle size, showing that

the increasing of temperatures caused a significant loss of globular particle shape and

their maximum particle size (Dmáx) and radius of gyration (Rg) were decreased after the

heat treatment. FTIR analyzes showed a crosslinking reaction when PANI-ES was

subjected to 200 °C, with no gain of crystallinity. SEM technique allowed different

morphologies visualization: PANI-ES showed a nanofiber morphology formed by

interconnected nanospheres, while samples heat treated lost this initial morphology

having much smaller and less defined nanofibers, reflecting the loss of electrical

conductivity and crystallinity. The electrical conductivity measurements have been

decreasing because of the heat treatment: PANI-ES showed electrical conductivity of

0.3 x 10-4

S/cm and, after the heat treatment, the electric conductivity reached 4 x 10-6

S/cm, representing a decrease of 86%. Thus, this research allowed the structural and

morphological characterization of PANI-ES, investigating the changes in its structure

after heat treatment, and found that the decrease in the percentage of crystallinity

influences in their electrical conductivity values. It is hoped that these results will

contribute to a better understanding of the structural, morphological and electrical

properties of polymeric materials.

Keywords: Polyaniline. Heat Treatment. XRD. SAXS. Le Bail Method

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SUMÁRIO

RESUMO ____________________________________________________________ 6

ABSTRACT __________________________________________________________ 7

LISTA DE FIGURAS _________________________________________________ 10

LISTA DE TABELAS _________________________________________________ 12

LISTA DE ABREVIATURAS ___________________________________________ 13

1 INTRODUÇÃO _____________________________________________________ 14

1.1. Revisão Bibliográfica ____________________________________________ 15 1.1.1. Estrutura Eletrônica de Polímeros Conjugados _____________________ 18

1.1.2. A Polianilina e suas Particularidades _____________________________ 21

1.1.2.1. Estrutura da Polianilina ____________________________________ 21

1.1.2.2. Síntese da Polianilina _____________________________________ 23

1.1.2.3. Dopagem da PANI _______________________________________ 24

1.1.3. Estudos aplicados a ICPs envolvendo Tratamento Térmico ___________ 26

2. OBJETIVOS ______________________________________________________ 29

3. METODOLOGIA _________________________________________________ 30

3.1. Síntese da Polianilina Sal de Esmeraldina (PANI-ES) _________________ 30

3.2. Tratamento Térmico de Aquecimento da PANI-ES __________________ 31

3.3. Difração de Raios X (DRX)_______________________________________ 32 3.3.1. Fator de Lorentz L(θ) e o Fator de Polarização P(θ) _________________ 33

3.3.2. Amostras Policristalinas _______________________________________ 34

3.3.3. Coleta de dados de DRX ______________________________________ 36

3.3.4. Estimativa do Percentual de Cristalinidade ________________________ 36

3.4. Ajuste Le Bail __________________________________________________ 38 3.4.1. Método dos Mínimos Quadrados ________________________________ 39

3.4.2. Fatores- R __________________________________________________ 39

3.4.3. Efeitos Microestruturais _______________________________________ 41

3.5. Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS) __________________ 42 3.5.1 Características da Técnica de SAXS ______________________________ 43

3.5.2. Sistema de Partículas _________________________________________ 44

3.5.3. Função de Distribuição de Pares de Distâncias ─ p(r) ________________ 45

3. 5.4. Modelo ab initio ____________________________________________ 46

3.6. Análise de Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier

(FTIR) ___________________________________________________________ 48

3.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) _______________________ 48

3.8. Condutividade Elétrica __________________________________________ 48

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ______________________________________ 49

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4.1. Difração de Raios X (DRX)_______________________________________ 49 4.1.1. Estimativa do Percentual de Cristalinidade ________________________ 50

4.2. Ajuste Le Bail __________________________________________________ 52 4.2.1. Escolha do Tetrâmetro e Modificações dos Parâmetros das Celas Unitárias

_______________________________________________________________ 52

4.3. FTIR _________________________________________________________ 59

4.4. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) _______________________ 61

4.4. Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS) __________________ 63 4.4.1. Curvas de Espalhamento ______________________________________ 63

4.4.2. Curvas de Guinier ____________________________________________ 63

4.4.3. Cálculo da 𝒑(𝒓) _____________________________________________ 64

4.5. Condutividade Elétrica __________________________________________ 70

CONCLUSÕES ______________________________________________________ 72

REFERÊNCIAS _____________________________________________________ 74

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Estrutura de alguns PCIs. 16

Figura2 (a) Diagrama da estrutura de bandas do pólaron elétron e do pólaron

buraco. Em branco estão as bandas de valência, e em preto as bandas

de condução; (b) Diagrama da estrutura de bandas de dois pólarons e

de bipólaron. Em branco estão as bandas de valência, e em preto

estão as bandas de condução.

20

Figura 3 Fórmula geral da PANI. 22

Figura 4 Estados de oxidação da PANI. 22

Figura 5 Representação esquemática do mecanismo de polimerização da

PANI.

24

Figura 6 Mecanismo de dopagem da PANI. 25

Figura 7 Representação esquemática da interconversão dos diferentes estados

de oxidação da PANI.

26

Figura 8 Estrutura do crosslinking na PANI. 28

Figura 9 Diagrama esquemático da síntese da PANI-ES, (a) Solução 1 sendo

adicionada gota a gota à Solução 2; (b)PANI obtida após 3h de

síntese e (c)Depois de filtrada a vácuo.

30

Figura 10 (a-b)Amostra em pó sendo pastilhada; (c)Forno tubular FT1200/1Z e

(d)Software de programação FLYCON.

31

Figura 11 Geometria da difração de raios X descrita pela lei de Bragg. 32

Figura 12 Geometria de um difratometro. 35

Figura 13 Modelo de micela franjada. 37

Figura 14 Representação esquemática do equipamento de espalhamento

de raios X.

43

Figura 15 Curvas de Guinier para sistemas (a)monodispersos e

(b)polidispersos.

45

Figura 16 Representação no espaço real da função distribuição de pares – P(r) 45

Figura 17 Curvas de espalhamento e suas respectivas P(r) calculadas para

típicos formatos de partículas: globulares (preto), prolato (vermelho),

oblato (azul), halteres (verde) e longo cilindro (ciano).

47

Figura 18 Ambiente do programa DAMMIN. 48

Figura 19 (a) Pastilha para medida de condutividade e (b) Coleta de dados. 48

Figura 20 Difratogramas dos polímeros antes e após o tratamento térmico. 49

Figura 21 (a) Deconvolução dos picos da PANI-ES não tratada termicamente e

tratada nas temperaturas de (b) 50, (c) 100, (d) 200 e (e) 300 °C.

51

Figura 22 Gráfico da estimativa dos percentuais de cristalinidade as amostras

analisadas pelo método da deconvolução.

52

Figura 23 (a)Modelo especulativo de cela unitária para a amostra refinada de

PANI-ES, (b) TT 50 e TT 100 e (c) TT 200 e TT 300.

56

Figura 24 Resultado final dos refinamentos e principais reflexões para

(a)PANI-ES, (b) TT 50, (c) TT 100, (d) TT 200 e (e) TT 300.

57

Figura 25 Visualização dos cristalitos para (a) PANI-ES, (b) TT (50) , (c) TT

(100), (d) TT(200) e (e) TT(300), nas direções [100], [010] e [001].

58

Figura 26 Espectro do FTIR para PANI-ES, TT (50), TT (100), TT (200) e TT

(300).

59

Figura 27 Reação de crosslinking na cadeia polimérica da PANI-ES. 60

Figura 28 Imagem de MEVpara PANI-ES . 62

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Figura 29 Imagens de MEV para (a) TT(50) , (b) TT(100) , (c) TT(200) (c) e

(d) TT(300).

63

Figura 30 (a) Gráfico das curvas de espalhamento da PANI-ES e TT(50),

TT(100), TT(200) e TT(300). (b) Modelo especulativo para o

formato das partículas, baseado nas curvas de espalhamento.

64

Figura 31 (a) Gráfico das curvas de Guinier para PANI-ES, TT(50), TT(100),

TT(200) e TT(300), (b) Região ampliada das curvas de Guinier.

65

Figura 32 Gráfico das curvas P(r) para (a) PANI-ES, TT(50), TT(100), TT(200)

e TT(300). (b) Formato das partículas baseado na posição e forma da

curva 𝑝(𝑟).

66

Figura 33 Ajuste das curvas de espalhamento para PANI-ES. 67

Figura 34 Ajuste das curvas de espalhamento do programa para TT (50), TT

(100), TT (200) e TT (300).

67

Figura 35 Forma da partícula da PANI-ES e sua respectiva curva 𝑝(𝑟). 68

Figura 36 Forma das partículas para TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300) e

suas respectivas curvas p(r).

69

Figura 37 Gráfico da condutividade elétrica da PANI-ES e TT (50), TT (100) e

TT (200).

71

Figura 38 Termograma da PANI-ES

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Alguns PCI’s e seus respectivos valores de condutividade elétrica

17

Tabela 2 Estados de oxidação da PANI: Estrutura, cor e condutividade

elétrica

23

Tabela 3 Valores estimados dos percentuais de cristalinidade da PANI-ES e

TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300). dos Polímeros tratados

termicamente.

52

Tabela 4 Parâmetros refinados pelo Método de Le Bail através do

programa Fullprof: parâmetros de cela, volume da cela, tamanho

médio e anisotrópico dos cristalitos e fatores de discordância.

54

Tabela 5 Valores da 𝑫𝒎á𝒙 para PANI- ES e TT (50), TT (100), TT (200)

e TT (300).

66

Tabela 6 Valores dos raios de giro para PANI- ES e TT (50), TT (100), TT

(200) e TT (300).

66

Tabela 7 Valores da condutividade elétrica da PANI e da TT (50), TT

(100) e TT (200).

70

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LISTA DE ABREVIATURAS

PICs Polímeros Intrinsecamente Condutores

PANI Polianilina

PANI-ES Polianilina Sal de Esmeraldina

TT (50) PANI-ES tratada termicamente a 50°C

TT (100) PANI-ES tratada termicamente a 100°C

TT (200) PANI-ES tratada termicamente a 200°C

TT (300) PANI-ES tratada termicamente a 300°C

DRX Difração de raios X

PFM Peak Fitting Module

FTIR Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier.

SAXS Espalhamento de raios X a baixos ângulos.

MEV Microscopia de Varredura Eletrônica

(Q) Anéis Quinóides

(B) Anéis Benzenóides

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1 INTRODUÇÃO

Após muitos avanços científicos, o mundo moderno tem se estabelecido sobre os

pilares da nanotecnologia, notadamente dos Polímeros Condutores Intrínsecos, os quais

fazem parte do presente e farão parte do futuro da indústria tecnológica. Desde que

foram descobertos, estes polímeros vêm sendo objetos de diversas pesquisas, pois são

capazes de associar características de materiais poliméricos com propriedades elétricas,

magnéticas e ópticas de semicondutores de origem inorgânica e de metais. Assim, esses

materiais possuem amplas possibilidades de atuação [1,2,3]

.

Uma propriedade chave de um polímero condutor é a presença de ligações

conjugadas ao longo da cadeia polimérica, permitindo a existência de um fluxo de

elétrons. Os elétrons π da dupla ligação podem ser facilmente removidos ou adicionados

para formar um íon polimérico. Para que se consiga alcançar a condução elétrica é

preciso que haja uma perturbação química ou eletroquímica na cadeia polimérica [4]

.

A Polianilina (PANI) é o principal polímero da classe dos PICs, podendo ser

obtido diretamente no estado dopado (condutor), conhecido como Sal de Esmeraldina

(PANI-ES). Este polímero tem sido demasiadamente estudado e aplicado em

nanotecnologia devido à facilidade da polimerização, à boa estabilidade térmica e à

possibilidade de ser facilmente sintetizado diretamente na forma condutora a partir de

ácidos protônicos, além do baixo custo do monômero [5,6]

.

A análise estrutural e morfológica de polímeros condutores é de suma

importância para diversos ramos de pesquisas, pois visa o aperfeiçoamento de diversas

aplicações tecnológicas que podem ser executadas com esses materiais, além de

correlacionar suas estruturas macromoleculares e morfologias com propriedades físico-

químicas. Neste trabalho, a PANI foi obtida por polimerização oxidativa na forma Sal

Esmeraldina (PANI-ES) e submetida a um tratamento térmico por 1 h em diferentes

temperaturas para a avaliação de mudanças estruturais e morfológicas. Para isso, foi

realizada uma caracterização estrutural sobre o ponto de vista da Difração de Raios X

(DRX), Estimativa do Percentual de Cristalinidade, Refinamento Estrutural pelo

Método de Le Bail, Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS), Microscopia

Eletrônica de Varredura (SEM), Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de

Fourier (FTIR) e Medidas de Condutividade Elétrica.

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1.1. Revisão Bibliográfica

Durante muitos anos os materiais poliméricos foram classificados como

isolantes, uma vez que as ligações covalentes fortes e direcionais entre seus átomos não

permitem a mobilidade necessária dos portadores de carga. A ideia de que um polímero

pudesse ser um condutor elétrico parecia cientificamente impossível até a década de 70

do século passado, quando um novo marco nos materiais poliméricos foi alcançado

através da descoberta dos chamados “Metais Sintéticos” ou “Polímeros Conjugados” [7]

.

Em 1977, os pesquisadores Shirakawa, MacDiarmid e Heeger descobriram que a

oxidação causada por vapores de cloro, bromo ou iodo tornava os filmes de

Poliacetileno (PA) cerca de 109 vezes mais condutores. Esse tratamento realizado com

halogênios foi chamado inicialmente de dopagem, em analogia à dopagem dos

semicondutores inorgânicos. A forma dopada do PA, com condutividade elétrica entre

102 e 10

4 S/cm, era a mais alta obtida para qualquer polímero até o momento. Para

comparação, o teflon possui condutividade elétrica da ordem de 10-16

S/cm e a prata e o

cobre, da ordem de 107 S/cm

[8].

O artigo relatando a síntese e a dopagem do PA foi publicado por H. Shirakawa

e colaboradores, com o título “Synthesis of electrically conducting organic polymers:

halogen derivatives of polyacetylene” no Journal of the Chemical Society – Chemical

Communications em 1977, proporcionando aos autores o prêmio Nobel de Química do

ano 2000. As descobertas de Shirakawa e colaboradores representaram um significante

passo para aplicação dos materiais poliméricos em diferentes áreas, pois além de

adquirirem características de materiais semicondutores ou condutores, mantinham ainda

a baixa densidade, a processabilidade e as propriedades mecânicas de um polímero

convencional [9]

.

Essa nova classe de materiais poliméricos foi chamada de Polímeros Condutores

Intrínsecos (PCIs), do inglês Intrinsically Conductive Polymers (ICPs), porque já se

conheciam as propriedades condutoras de compósitos formados por polímeros e metais,

mas com a condutividade atribuída ao metal. Entretanto, os PCIs conduzem corrente

elétrica sem que haja a incorporação de cargas condutoras externas [10]

.

Com relação à sua estrutura atômica, os PCIs são formados por cadeias

contendo duplas ligações C=C conjugadas, o que permite a criação de um fluxo de

elétrons em condições específicas [11]

. Na cadeia polimérica, os elétrons π pertencentes à

dupla ligação podem ser removidos ou adicionados para formar um íon polimérico,

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16

resultando na oxidação ou redução da cadeia. Isto ocorre devido aos agentes de

transferência de carga, os quais podem receber ou doar elétrons, transformando assim

um polímero isolante em um condutor ou semicondutor. Assim, esta série de reações

redox é responsável pela condutividade elétrica e propriedades eletroquímicas,

eletrocrômicas e fotoeletroquímicas dos polímeros condutores. Porém, a PANI e os

derivados da anilina são materiais de natureza singular, pois pertencem à classe de

polímeros condutores em que a dopagem pode ser realizada por protonação, sem a

ocorrência de ganhos ou perdas de elétrons na cadeia [12]

.

Enquanto em muitos outros PICs a condutividade é uma função do estado de

oxidação, isto é, do número de elétrons de caráter π que podem ser adicionados ou

removidos da estrutura do polímero neutro, a PANI foi o primeiro caso em que a

condutividade dependia de duas variáveis: do estado de oxidação do polímero e o grau

de protonação dos átomos de nitrogênio da estrutura, formando uma nova subclasse de

polímeros dentro da classe dos PICs [13]

.

Maiores detalhes sobre a estrutura eletrônica dos polímeros conjugados serão

abordados no próximo capítulo. A Figura 1 mostra a estrutura dos principais polímeros

intrinsecamente condutores e na Tabela 1 estão alguns valores de condutividade elétrica

atingida por esses materiais.

Figura 1: Estrutura de alguns PCIs [14]

.

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17

Tabela 1: Alguns PCIs e seus respectivos valores de condutividade elétrica [4]

PCI Fórmula Estrutural Condutividade

Elétrica (S/cm)

Poliacetileno

103 a10

6

Polianilina

10 a 103

10-3

[15]

10-10

[16]

Polipirrol

10-9

[17]

As perspectivas de aplicação desses materiais têm crescido consideravelmente e

um grande impulso foi dado nos últimos anos, aumentando o interesse no estudo de

outros PCIs, tais como polifenileno, polipirrol, politiofeno e derivados da polianilina.

Ao longo de 40 anos diversas aplicações foram realizadas através da utilização dos

polímeros condutores e pesquisadores do mundo todo continuam trabalhando no estudo

de PCIs buscando enriquecer ainda mais as formas de aplicação desses polímeros[14]

.

Pesquisas realizadas com PCIs têm sido bastante intensificadas principalmente

devido a algumas de suas propriedades relacionadas à instabilidade térmica, ambiental,

improcessabilidade e solubilidade. Por outro lado, os PCIs também têm sido objetos de

inúmeras pesquisas que resultaram em diversas aplicações tecnológicas [18]

. Dentro da

classe dos PCIs, a PANI e os polímeros derivados da anilina têm recebido grande

atenção em diferentes áreas, viabilizando aplicações tecnológicas que já vêm sendo

desenvolvidas industrialmente [19,20]

. As aplicações desses materiais têm crescido

consideravelmente, sendo utilizados na fabricação de baterias recarregáveis [21,22]

, como

dispositivos eletrocrômicos [23,24]

, como sensores e biosensores [25,26]

, na proteção contra

corrosão de materiais [27,28]

, em células solares [29,30]

etc.

n

n

n

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1.1.1. Estrutura Eletrônica de Polímeros Conjugados

Uma propriedade chave de um polímero condutor é a presença de ligações

duplas conjugadas alternadas ao longo da cadeia polimérica. Na conjugação, as ligações

entre os átomos de carbono são alternadamente simples e duplas [31]

. Cada ligação dupla

entre os átomos de carbono contém uma ligação sigma, σ, fortemente localizada devido

à interpenetração frontal entre os orbitais 𝑠 − 𝑠, 𝑠 − 𝑝, 𝑝 − 𝑝 e uma ligação pi, 𝜋,

menos fortemente localizada e, por isso, mais fraca em virtude de ocorrer apenas nos

orbitais do tipo 𝑝 e através da atração entre orbitais em eixos paralelos [32]

.

Mais especificamente, os orbitais pz provenientes dos átomos de carbono

hibridizados (sp2 + pz) são sobrepostos, e descrevem a estrutura eletrônica dos

polímeros conjugados. Esta sobreposição dos orbitais híbridos sp2, ligações σ, une os

átomos de carbono na cadeia polimérica principal, já a sobreposição dos orbitais pz,

ligações π, dá origem aos orbitais ocupados π e vazio π*, que se abrem, satisfazendo a

instabilidade de Peierls, a qual proporciona aos orbitais moleculares características

semelhantes às das bandas de condução e de valência presentes nos semicondutores

inorgânicos [33]

.

O primeiro modelo proposto para explicar a estrutura eletrônica dos polímeros

condutores foi desenvolvido com base no PA. Inicialmente sua condutividade foi

explicada assumindo-se que na dopagem tipo p ou tipo n os elétrons eram removidos do

topo da banda de valência e adicionados na banda de condução. Entretanto, esse modelo

de bandas unidimensional não explicava o fato da condutividade do poliacetileno, do

poli(p-fenileno) e do polipirrol estar associada a portadores de carga com spin zero e

não aos elétrons desemparelhados. Resultados de ressonância paramagnética eletrônica

(EPR) comprovaram que os isômeros do PA apresentavam sinais de elétrons

desemparelhados, entretanto, no isômero trans os elétrons estariam mais deslocalizados

[34,35]. Estas observações serviram mais tarde para indicar que a condutividade no PA se

devia à existência de defeitos estruturais na cadeia polimérica, formados durante o

processo de polimerização. Assim, um modelo de condutividade elétrica atribuída ao

PA foi proposto por Su et al. (1979) [36]

.

Por meio de um modelo baseado na existência de defeitos estruturais na cadeia

decorrente da polimerização, foi proposta a formação de radicais no estado não dopado.

Tal defeito deslocalizado no trans-poliacetileno (t-PA), é chamado de sóliton neutro, o

qual leva a um nível eletrônico semipreenchido. De modo que, através de oxidação ou

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redução é possível a remoção ou adição de um elétron, formando sólitons carregados e

assim provocar a condução[37]

.

O t-PA é um material que possui a estrutura química com o estado fundamental

degenerado, isto é, existem dois tipos de configurações com a mesma energia, fazendo

com que sua estrutura polimérica alterne entre essas duas configurações. Tais

configurações são resultado do defeito estrutural originado durante o processo de

polimerização. Na configuração cis, este defeito seria localizado por unir duas estruturas

de energia ligeiramente diferentes, enquanto que na configuração trans o defeito por

unir estruturas exatamente de mesma energia permite um rearranjo na cadeia do

polímero, envolvendo o radical livre e os elétrons-π da ligação dupla mais próxima,

simulando um deslocamento do defeito para o átomo de carbono vizinho. Esses defeitos

estruturais são denominados sólitons, pela sua localização e translação sem perda

energética, e sua presença está ligada à introdução de um nível de energia localizado no

meio do gap do polímero[33]

.

Assim, o sóliton é um defeito eletricamente neutro e possui spin eletrônico ½.

Ele também pode existir em dois outros estados, caso espécies doadoras ou receptoras

sejam adicionadas à cadeia do t-PA por dopagem. Em ambos os casos, o sóliton não

apresenta spin eletrônico, mas torna-se um portador positivo de carga (s+) quando um

elétron é removido (dopagem do tipo-p), ou negativo (s–) quando um elétron é

adicionado (dopagem do tipo n). Em termos da estrutura eletrônica, o defeito sóliton é

responsável pelo aparecimento de um único nível de energia localizada exatamente no

meio do “gap”, devido à degenerescência do sistema no estado fundamental. Este nível

de energia, por estar associado a um radical livre (sóliton neutro), apresenta um elétron

desemparelhado. Porém, é possível através do processo redox não apenas aumentar o

número de defeitos formando uma banda de energia semipreenchida, como também

retirar ou adicionar elétrons, dando origem à formação de sólitons positivos

(carbocátion) e a formação de sólitons negativos (carbânion), respectivamente[33,36]

.

O modelo de sólitons, entretanto, é limitado apenas a sistemas que apresentam

degenerescência do estado fundamental. Tal requisito, porém, não é preenchido pelos

PCIs que apresentam estruturas aromáticas na cadeia polimérica. A PANI e seus

derivados não possuem estado fundamental degenerado. Neste caso, o que proporciona

a condução destes polímeros não está relacionado aos sólitons, mas sim à formação de

pólarons e bipólarons.

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Quando uma molécula está em seu estado excitado é chamada de poláron.

Porém, se ela sofrer uma oxidação, ou seja, a perda de elétron, será definida como

poláron buraco, e se sofrer uma redução, adição de elétrons, será denominada de

pólaron elétron. Os pólarons possuem spin ½, formados pelo conjunto de carga e

deformação da rede. Eles originam novos estados com energias bem definidas dentro de

um gap [38]

. A Figura 2 (a) mostra o diagrama esquemático da estrutura de bandas do

pólaron elétron e do pólaron buraco. Quando um segundo elétron é retirado da cadeia

polimérica, surge mais um pólaron. Caso seja retirado do pólaron já existente, surge um

bipólaron, como mostrado na Figura 2(b), que é definido como um par de cargas

idênticas (dicátion)[39]

.

Figura 2: (a) Diagrama da estrutura de bandas do pólaron elétron e do pólaron buraco. Em branco estão

as bandas de valência, e em preto as bandas de condução; (b) Diagrama da estrutura de bandas de dois

pólarons e de bipólaron. Em branco estão as bandas de valência, e em preto estão as bandas de condução.

Os polímeros condutores assim como os semicondutores inorgânicos, são

dopados visando um maior aproveitamento de suas propriedades elétricas. Porém,

diferente dos semicondutores, os portadores de cargas não são representados por

elétrons ou buracos no interior de bandas, mas sim defeitos presentes ao longo da cadeia

polimérica[39]

. O processo de dopagem de ICPs pode ser realizado por métodos

químicos ou apenas pela exposição dos polímeros aos vapores dos agentes de

transferência de carga. As propriedades condutoras dos materiais poliméricos

basicamente se restringem àqueles que apresentam estrutura conjugada, passando de

isolantes a condutores através de processos reversíveis de oxidação (ou redução) do

sistema π [40,41]

. Essas reações, provocadas por dopantes ácidos, têm como consequência

a formação de íons poliméricos deslocalizados, os quais podem ser neutralizados pela

incorporação de ânions (ou cátions)[37]

.

(a) (b)

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Embora a PANI suporte, no estado condutor, defeitos do tipo pólarons e

bipólarons, ela apresenta algumas peculiaridades que a distingue dos outros polímeros

condutores: (a) os elétrons de menor potencial de ionização são os elétrons não-ligantes

dos átomos de nitrogênio e (b) a formação das unidades quinoidais na PANI não são

simplesmente estruturas alternativas de ressonância e requerem também a remoção de

prótons. Estas peculiaridades na estrutura da PANI permitem que a formação dos

defeitos do tipo pólaron e bipólaron possam ser criados por meio da dopagem por

protonação[33]

, assunto que será abordado no próximo capítulo.

1.1.2. A Polianilina e suas Particularidades

A polianilina (PANI) foi obtida pela primeira vez em 1834, mas só foi relatada

nas literaturas científicas em 1862, e desde então, tem sido assunto de intensas

pesquisas científicas [42,43]

. Somente na década de 80 as propriedades condutoras da

polianilina foram reconhecidas. A partir daí, inúmeros artigos foram publicados visando

um amplo conhecimento de sua estrutura e aplicações, com isso grandes avanços foram

atingidos, tornando a polianilina o primeiro polímero condutor a ter aplicações

comerciais [44]

.

1.1.2.1. Estrutura da Polianilina

A PANI pertence a uma classe de polímeros cuja composição química na forma

não dopada consiste na alternância de unidades repetitivas da formas reduzida (Y) e

oxidada (1-Y), conforme mostra a Figura 3.

Figura 3: Fórmula geral da PANI.

Quando ocorre o processo de polimerização oxidativa do monômero anilina em

meio ácido, o produto gerado é a PANI. As polianilinas podem ser encontradas em

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diferentes estados de oxidação que consistem em unidades reduzidas Y, contendo

nitrogênio amina, e oxidadas (1 – Y), contendo nitrogênios imina. O valor de Y pode

variar de 1 para o polímero completamente reduzido, ou zero para o polímero

completamente oxidado.

Estes estados de oxidação, os quais possuem nomes originalmente atribuídos por

Green e Woodhead [45]

, conforme ilustra a Figura 4, são designados pelos termos

leucoesmeraldina, protoesmeraldina, esmeraldina, nigranilina e pernigranilina, quando

Y for igual a 1; 0,75; 0,5; 0,25 e 0, respectivamente.

Figura 4: Estados de oxidação da PANI.

Os estados intermediários de oxidação como, protoesmeraldina e nigranilina,

constituem-se, a nível molecular, na mistura de dois estados de oxidação [40]

. Na Tabela

2 são correlacionados os principais estados de oxidação da PANI e suas características

relacionadas à condutividade elétrica.

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23

Tabela 2: Estados de oxidação da PANI: Estrutura, cor e condutividade elétrica [4]

*Os valores numéricos referem-se ao comprimento de onda (nm) onde a absorção é máxima.

A forma condutora da PANI é obtida quando há uma parcial oxidação de seus

estados, isto é, no estado de oxidação esmeraldina. Para isto a PANI passa por um

processo de dopagem por protonação. O estado de oxidação esmeraldina é a forma na

qual, após a dopagem, a PANI alcança os maiores valores de condutividade e isso a

coloca num lugar de destaque entre os polímeros condutores, sendo por isso, o polímero

condutor mais explorado em pesquisas científicas[40]

.

1.1.2.2. Síntese da Polianilina

A PANI pode ser sintetizada por meio da oxidação do monômero anilina

utilizando métodos químicos ou eletroquímicos. No método químico a síntese pode ser

obtida na forma de pó verde com a utilização de um agente oxidante apropriado e um

ácido protônico. Em geral, a síntese química mais empregada utiliza como agente

oxidante o persulfato de amônio (NH4)2S2O8 em meio aquoso ácido (𝐻𝐶𝐿)[40]

. A

polimerização da PANI em meio ácido ocorre a partir da oxidação do monômero, por

meio da remoção de um elétron do par isolado do nitrogênio, formando um radical

cátion. Um dos mecanismos propostos para a polimerização da PANI está

esquematizado na Figura 5. A síntese também pode ser obtida na forma de filmes finos

por métodos eletroquímicos, através da oxidação eletroquímica do monômero.

A síntese química produz um polímero com alta massa molecular que é obtida

diretamente no estado dopado, no entanto este tipo de síntese envolve diversas etapas

como também a utilização de diversos reagentes. Em contrapartida, a síntese

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eletroquímica é conduzida em apenas uma etapa com um menor uso de reagentes, mas

produzindo uma baixa massa molecular.

Figura 5: Representação esquemática do mecanismo de polimerização da PANI.

A oxidação da anilina é a síntese mais utilizada para obtenção da PANI, seja por

polimerização química ou eletroquímica. Porém, para estudos das propriedades físicas e

aplicações tecnológicas a síntese química é a mais adequada, pois, em polímeros

condutores a condutividade elétrica aumenta significativamente com o aumento da

massa molecular [40,46]

.

1.1.2.3. Dopagem da PANI

A PANI forma outra classe de polímeros condutores porque pode ser dopada por

protonação, logo os nitrogênios desta espécie podem estar total ou parcialmente

protonados. A forma Esmeraldina Básica (PANI-EB), Y = 0,5, é o primeiro exemplo

bem sucedido de dopagem de um polímero que teve como resultado um regime

altamente condutor. No processo de dopagem por protonação a PANI permanece com o

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número de elétrons inalterado[47]

, um processo que está relacionado ao seu

comportamento ácido-base.

A dopagem por protonação da Esmeraldina Básica em 0,1M HCl, um ácido forte

que possui um alto grau de dissociação, produz um polímero ainda mais condutor, com

aumento da condutividade de 10 ordens de grandeza, levando à formação da

Esmeraldina Salina (PANI-ES). Os nitrogênios imina podem estar total ou parcialmente

protonados para se obter o polímero na forma de sal, ou seja, na forma dopada. A

desprotonação ocorre reversivelmente por tratamento semelhante com solução aquosa

básica (0,1M NH4OH) [48]

.

No estado dopado a PANI é formada por radicais cátions deslocalizados de

poli(semiquinona) que originam uma banda de condução polarônica[49]

. Esta banda é

responsável pela condutividade da PANI[50]

. A dopagem protônica está exemplicada na

Figura 6, onde pode ser observada a formação dos defeitos do tipo pólaron e bipólaron

na cadeia polimérica durante a dopagem.

Em uma das formas isolantes da PANI, a base de esmeraldina, os números de

segmentos quinônicos e benzênicos são proporcionais. As demais formas isolantes da

PANI são as bases de leucoesmeraldina e pernigranilina, que apresentam sua forma

totalmente reduzida e totalmente oxidada, respectivamente. O segmento semiquinônico

e o esquema da interconversão das distintas formas que a PANI pode apresentar, estão

ilustrados na Figura 7[51]

.

Figura 6‒ Mecanismo de dopagem da PANI [52]

.

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26

Figura 7: Representação esquemática da interconversão dos diferentes estados de

oxidação da PANI[51].

1.1.3. Estudos aplicados a ICPs envolvendo Tratamento Térmico

Entre os muitos estudos feitos acerca das características dos polímeros

condutores estão as análises baseadas em tratamento térmico, que buscam investigar

possíveis alterações que ocorrem na estrutura/morfologia do polímero quando o mesmo

é submetido a um aumento ou diminuição de temperatura. Muitos dos estudos que

analisam a influência do tratamento térmico num polímero condutor, além de

investigarem as possíveis mudanças estruturais, alguns fazem uma conexão desses

resultados aos valores de condutividade elétrica que o material possuía antes e após o

tratamento, visto que nos estudos dos polímeros condutores, é muito significativo

verificar como um agente externo, seja por dopagem ou tratamento térmico, interfere

nos valores de condutividade elétrica do material e em sua estrutura.

Chehimi et al. (2004) [53]

fizeram um estudo de degradação do polipirrol (PPy)

dopado com ânions cloreto (PPy/Cl) e p-tolueno sulfonado (TS) (PPy/TS), na forma de

pó, aplicando técnicas como a cromatografia e espectroscopia de fotoelétrons. Entre as

análises realizadas no material, uma delas foi o tratamento térmico, mostrando que o

PPy/Cl sofreu desprotonação parcial em sua cadeia polimérica e o PPy/TS apresentou

condutividade elétrica menor.

Lu et al. (1997) [54]

realizaram um estudo sobre os efeitos do peso molecular na

estrutura do Sulfeto de Polifenileno quando ele foi cristalizado a baixas temperaturas,

demonstrando a existência de grandes frações de fases não cristalinas para altos pesos

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moleculares. Masuda et al. (1985) [55]

realizaram um estudo da estabilidade do

poliacetileno com substituintes a temperatura ambiente.

Faria et al. (2007) [56]

investigaram a possibilidade de produção de filmes de

poli(p-fenileno vinileno) (PPV) a baixas temperaturas de conversão por meio do

processo da rota de síntese química que alterava os grupos laterais do PPV pelo grupo

funcional sulfonato e constataram a influência da temperatura de conversão térmica do

PPV através dos espectros de absorção, antes e após o tratamento térmico.

Na PANI, um fato bastante estudado e causado pelo tratamento térmico é o

processo de reticulação em sua cadeia polimérica. Alguns pesquisadores já

comprovaram este resultado em suas investigações. O processo de reticulação ocorre

quando as cadeias poliméricas lineares ou ramificadas são interligadas por ligações

covalentes, processo denominado crosslinking ou ligação cruzada[57]

. Kitani et al.

(1987), relatou que a reticulação na cadeia polimérica da PANI pode ocorrer durante a

síntese eletroquímica [49]

. Pandey et al. (1993) por sua vez, mostrou que o crosslinking

na cadeia polimérica da PANI também pode ocorrer quando a base de esmeraldina é

tratada termicamente a 300°C [58]

.

Chandrakanthi et al. (2000) [59]

relataram a reação de crosslinking em seu estudo

relacionado à investigação da instabilidade térmica da PANI, mostrando que esse

fenômeno surge para um longo tratamento térmico, e leva à redução da solubilidade da

PANI e a diminuição da condutividade elétrica.

Luo et al. (2006) [60]

constataram através de resultados espectroscópicos de FTIR

que a reação de crosslinking na cadeia polimérica da PANI, sintetizada

eletroquimicamente, ocorre quando a mesma é submetida a uma temperatura de 250°C.

Cheng-Ho (2003) [61]

analisou térmica e morfologicamente a PANI em pó na forma de

base esmeraldina e confirmou a formação do crosslinling durante o tratamento térmico

entre 170 e 340°C, através de análises de FTIR e DRX. A Figura 8 mostra a

modificação na estrutura da cadeia polimérica da PANI em virtude da reação de

crosslinking que surge após o tratamento térmico.

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Figura 8: Estrutura do crosslinking na PANI.

Bhadra et al. (2007) [62]

realizaram um estudo baseado nas modificações

estruturais da PANI durante tratamento térmico e averiguaram que o tratamento de 150

a 250°C da PANI dopada com HCl destrói sua estrutura cristalina, ocasionando numa

cisão de cadeia, crosslinking e conversão de anéis quinóides em benzenóides, ao longo

do processo de dopagem e desdopagem, dependendo da temperatura de tratamento

térmico. Esses resultados refletiram diretamente em sua condutividade elétrica e

solubilidade.

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2. OBJETIVOS

Realizar a síntese química da Polianilina (PANI) na forma salina utilizando-se

1,0 M HCl, por um período de 3 h;

Realizar tratamento térmico de aquecimento nos polímeros durante 1 h em 50,

100, 200 e 300°C;

Coletar dados de Difração de Raios X (DRX) para os polímeros tratados

termicamente;

Estimar o percentual de cristalinidade através dos perfis de DRX através do

programa Peak Fitting Module (PFM);

Realizar o ajuste Le Bail no programa FULLPROF, utilizando-se os perfis de

DRX coletados no modo de varredura passo a passo, para a obtenção de

parâmetros de cela e tamanho e forma dos cristalitos;

Obter informações estruturais através da Espectroscopia no Infravermelho por

Transformada de Fourier (FTIR);

Realizar medidas de Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS), para

a obtenção de Curvas de Espalhamento, Raios de Giro de Guinier, Função de

Distribuição de Pares – p(r);

Analisar a morfologia dos polímeros através de imagens de Microscopia

Eletrônica de Varredura (MEV);

Correlacionar os dados anteriormente obtidos com medidas de Condutividade

Elétrica.

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3. METODOLOGIA

3.1. Síntese da Polianilina Sal de Esmeraldina (PANI-ES)

A síntese da PANI-ES (Polianilina - Sal de Esmeraldina) foi realizada conforme o

método descrito por Bhadra (2007)[62]

com algumas modificações. Para a polimerização,

duas soluções foram preparadas. Solução (I): adicionou-se 11,6 g de APS (Persulfato de

Amônio) em 200 mL de HCl 1,0 M. Solução (II): Adicionou-se 20 mL de anilina em

300 mL de HCl 1,0 M. Mantendo-se a solução II sob agitação constante, adicionou-se à

ela a Solução I, gota a gota. O sistema permaneceu sob agitação constante por 3 h. Após

esse período, a dispersão foi filtrada a vácuo e o precipitado foi lavado com acetona. A

PANI-ES de coloração verde foi mantida em dessecador até que sua massa

permanecesse constante. A Figura 9 representa o diagrama esquemático da síntese da

PANI-ES.

Figura 9: Diagrama esquemático da síntese da PANI-ES, (a)Solução 1 sendo

adicionada gota a gota à Solução 2; (b)PANI obtida após 3h de síntese e (c)Depois de

filtrada a vácuo.

Solução I

200mL de HCl (1,0M)

11,6g APS

Solução II

300mL de HCl (1,0M)

20mL de Anilina

PANI-ES

3h Adicionada gota a gota

(b) (c) (d)

(a)

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3.2. Tratamento Térmico de Aquecimento da PANI-ES

O tratamento térmico da PANI-ES foi realizado no Laboratório de Pesquisa em

Materiais (LABMAT-UFAM), utilizando-se o forno tubular FT1200/1Z (Figura 10a-

d). Amostras pastilhadas contendo aproximadamente 0,6 g de PANI-ES foram

submetidas durante 1 h às temperaturas de 50°, 100°, 200° e 300°C, utilizando–se o

software FLYCON para a programação de temperatura, patamar e taxa de aquecimento.

Figura 10: (a-b)Amostra em pó sendo pastilhada; (c) Forno tubular FT1200/1Z e (d)

Software de programação FLYCON.

(a) (b)

(c) (d)

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3.3. Difração de Raios X (DRX)

A difração é o resultado da radiação espalhada por um conjunto regular de

centros de difusão, cujo espaçamento é da mesma ordem de grandeza do comprimento

de onda de radiação X. Para que haja difração, os feixes de raios X espalhados por

planos cristalinos adjacentes precisam estar em fase. Do contrário, ocorrerá uma

interferência destrutiva de ondas e nenhuma intensidade espalhada será observada [63]

.

Geometricamente, para que haja a interferência construtiva é necessário que seja

satisfeita a Lei de Bragg, para que um feixe de raios X, com comprimento de onda λ,

incidindo sobre um conjunto de planos (hkl), cuja distância interplanar é dhkl, fazendo

um ângulo θ em relaçao a esse plano, seja difratado, fazendo o mesmo ângulo θ[64]

.

𝑛λ = 2dsenθ λ

onde (𝑛) é um número inteiro chamado de ordem de difração. A magnitude da distância

entre dois planos de átomos adjacentes e paralelos, dhkl, é uma função dos índices de

Miller (h k l), assim como dos parâmetros da rede cristalina. A Figura 11 mostra a

geometria da difração de raios X descrita pela lei de Bragg.

Figura 11: Geometria da difração de raios X descrita pela lei de Bragg.

Eq. (1)

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A lei de Bragg é uma condição necessária, porém não suficiente para a difração.

Ela especifica quando a difração irá ocorrer para as celas unitárias que possuem átomos

posicionados somente nos vértices da célula. Mas, os átomos situados em outras

posições atuam como centros de dispersão adicionais, que podem produzir uma

dispersão fora de fase em certos ângulos de Bragg. Em decorrência disso, há ausência

de alguns feixes difratados.

A intensidade integrada I(hkl) de um feixe difratado por um plano (hkl) é dada

por.

𝐼 𝑕𝑘𝑙 ∝ 𝑁.𝑝 𝑕𝑘𝑙 . 𝐿 𝜃 .𝑃 𝜃 .𝐴.𝑇 𝑇 . 𝐹(𝑓, 𝑥,𝑦, 𝑧,𝑕,𝑘, 𝑙) 2

onde N representa o número de células unitárias sobre as quais o feixe incidente

interage, 𝑝 𝑕𝑘𝑙 é chamada de multiplicidade do plano 𝑕𝑘𝑙 e depende da simetria do

cristal, A é o fator de absorção que reduz a intensidade do feixe difratado, devido à

absorção causada pela própria amostra, T(T) corresponde à uma função da temperatura

e diminui com o aumento da temperatura da amostra e F o fator de estrutura. Este fator

depende 𝑓 o qual é chamado de fator de espalhamento atômico e está relacionado ao

número de elétrons do átomo, dos índices de Miller ,𝑕𝑕𝑘, 𝑙, do plano difratado e da

posição (𝑥,𝑦, 𝑧) de cada átomo dentro da cela unitária. L(θ) e P(θ) são os fatores de

Lorentz e de polarização, que dependem de θ e do método de difração que é aplicado

[65].

3.3.1. Fator de Lorentz L(θ) e o Fator de Polarização P(θ)

Em geral, os métodos utilizados para calcular a intensidade do feixe

monocromático (com uma única frequência) difratado, são para o caso da rotação de um

cristal, uma vez que há uma variedade de orientações disponíveis entre as partículas, nas

quais algumas satisfazem a lei de Bragg e outras não. Baseado nisso, outro fator

geométrico deve ser levado em consideração no cálculo da intensidade integrada [66]

.

Nos experimentos de DRX, observa-se que os raios X provenientes das fontes

não são polarizados, entretanto os raios difratados pelo cristal são. Desta forma, para o

Eq. (2)

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cálculo da intensidade serão combinados dois fatores: o fator de Lorentz 𝐿 𝜃 e o fator

de polarização 𝑃 𝜃 .

Os fatores de Lorentz e de polarização são obtidos pelas expressões abaixo.

𝐿 𝜃 =1

4𝑠𝑒𝑛 2𝜃𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑃 𝜃 =

1

2(1 + 𝑐𝑜𝑠22𝜃)

A combinação dos dois fatores (LP) é expressa da seguinte forma.

𝐿𝑃 =1+ 𝑐𝑜𝑠 22𝜃

𝑠𝑒𝑛 2𝜃𝑐𝑜𝑠𝜃

Foram discutidos os fatores que determinam a intensidade integrada do feixe

difratado, porém, vale ressaltar que quando o fator de estrutura (F) assumir um valor

nulo, não haverá feixe difratado, ainda que o arranjo experimental satisfaça a geometria

da lei de Bragg. Desta forma, pode ser estabelecida uma condição necessária e

suficiente para que haja a difração de um feixe de raios X: que o fator de estrutura do

plano 𝑕𝑘𝑙 seja diferente de zero.

3.3.2. Amostras Policristalinas

Os sólidos cristalinos, em geral, são compostos por um conjunto de pequenos

cristais, os quais são chamados de policristais. Num padrão de difração de uma amostra

em pó, cada pico corresponde a difração do feixe de raios X, com determinado

comprimento de onda λ radiação para manter os picos, por um conjunto de planos

cristalinos paralelos (dhkl) em diversas partículas de pó. Experimentalmente, o

equipamento utilizado para a análise do feixe difratado é o difratômetro, o qual

monitora eletronicamente por meio de um detector de radiação com varredura mecânica

controlada, a intensidade do feixe [65]

.

A técnica de difração empregada em amostras policristalinas é composta por

diversas partículas finas e orientadas aleatoriamente que são expostas a uma radiação X

monocromática. Cada partícula é um cristal e a existência de um número grande de

partículas distribuídas de forma aleatória, assegura que algumas estão orientadas de

Eq. (3)

Eq. (4)

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maneira correta, de modo que todos os conjuntos de planos cristalográficos possíveis

estarão disponíveis para a difração. A Figura 12 ilustra a geometria de um difratômetro.

Figura 12: Geometria de um difratômetro [65]

.

Na Figura 12 estão representas, esquematicamente, as principais partes que

compõem um difratômetro de raios X, onde F é a fonte de raios X, a qual pode ser

alimentada por um fonte de potência adequada; D o detector de raios X, um dispositivo

eletrônico que converte a ionização de um gás apropriado em pulsos elétricos, que são

registrados por um computador, que fornecerá o difratograma. Esta ionização ocorre

durante a penetração de um fóton de raios X na região que contém o gás.

No círculo goniométrico, além da fonte e detector de raios X, está também uma

escala em graus, que possui a origem na mesma direção do feixe transmitido. Sobre o

goniômetro é medido o ângulo de difração 2θ, sendo que o mesmo pode estar na

posição vertical (θ - 2θ ou θ - θ) ou na horizontal (θ - 2θ). O goniômetro se move com

velocidade angular (2θ/passo). A mesa do porta-amostras é um dispositivo no qual o

porta-amostras é preso, e então ela rotaciona com a metade da velocidade angular do

detector, de tal forma que o arranjo em determinados instantes obedece a geometria da

Lei de Bragg, fazendo com que as linhas FO e OD tenham uma relação com a face do

porta-amostra[65]

.

Para a obtenção do difratograma de uma amostra, primeiramente deve-se colocá-

la adequadamente no porta-amostras e, em seguida, fixar o porta-amostra na mesa e

posicionar o detector no início da faixa de ângulos que será varrida. Após isto, acionar o

tubo de raios X e os movimentos sincronizados da mesa e do detector e, por fim, obter a

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gravação da intensidade de raios X que chega ao detector em função do ângulo de

difração 2θ.

A coleta de dados de difração de raios X gera tabelas de 2θ vs I e gráficos

correspondentes, os difratogramas. As contagens em cada posição angular 2θ são

registradas em intervalos de tempo e de ângulo 2θ. O padrão de difração da amostra

representa as contagens em função da posição angular 2θ.

No caso dos ICPs, os difratogramas mostram a presença de regiões cristalina e

não-cristalinas, as quais coexistem nesses materiais. Assim, em seus difratogramas é

possível observar picos definidos e regiões difusas referentes à contribuição não-

cristalina.

3.3.3. Coleta de dados de DRX

Os dados de DRX foram obtidos no Laboratório de Raios X do Grupo de

Cristalografia – IFSC utilizando-se o difratômetro RigakuRotaFlex – tubo com ânodo

rotatório, operando com radiação CuKα, 50 kV, 100 mA e equipado com

monocromador de grafite. Os difratogramas de pó foram obtidos no intervalo 2θ = 3 -

50º com passo de 0,02° e 3 segundos/passo.

3.3.4. Estimativa do Percentual de Cristalinidade

A cristalinidade em materiais poliméricos no estado sólido está relacionada à

maneira como as cadeias moleculares estão empacotadas: as cadeias podem estar

desordenadas, formando uma fase não cristalina; ou ordenadas, definindo uma fase

cristalina. Sabendo-se que não existem polímeros 100% cristalinos, a cristalinidade

referente a um determinado polímero corresponde ao alinhamento dos segmentos de

cadeias num arranjo tridimensional.

Diferentemente dos sólidos cristalinos, o processo de cristalização de polímeros

representa uma natureza característica do material. Os domínios cristalinos,

denominados cristalitos, são muito menores do que os cristais normais e estão

interconectados com as regiões não cristalinas. A estrutura cristalina dos polímeros

refere-se à organização das longas cadeias poliméricas, isto é, à disposição espacial na

qual os segmentos moleculares ocupam a cela unitária.

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A análise de que diversos polímeros são parcialmente cristalinos pode ser

observada através da DRX. Comparados aos materiais cristalinos, que apresentam

padrões de difração bem definidos, os polímeros apresentam reflexões de Bragg largas

em um padrão difuso, caracterizando a coexistência de regiões ordenadas e

desordenadas no mesmo material.

O modelo da micela franjada, representado na Figura 13, descreve essa

interpretação. Uma vez que as cadeias poliméricas são longas, observam-se as

moléculas passando sucessivamente por um número desses cristalitos e regiões não

cristalinas. Este modelo explica de maneira razoável os efeitos da cristalinidade sobre as

propriedades mecânicas e oferece uma interpretação simplificada do grau de

cristalinidade em termos de percentagens de regiões ordenadas e amorfas presentes nos

polímeros[67]

.

Figura 13: Modelo de micela franjada.

A deconvolução dos picos de um difratograma é uma análise comum em

pesquisas, que é realizada por intermédio de programas computacionais que geram bons

resultados, ainda que sua utilização na maioria das vezes necessite de muita atenção.

Em geral, o ajuste da curva pode apresentar um excelente resultado matemático, mas

com geração de curvas pouco relacionadas ao objeto de estudo[68]

.

Este método requer um software para separar as contribuições das fases não

cristalina e cristalina do difratograma usando um processo de fitting de curvas. Para o

fitting do difratograma, poucas são as considerações, como a forma e o número de

picos. Para este método, o fitting da curva deve ser realizado a partir da deconvolução

dos picos presentes no difratograma e de um pico largo representando o perfil não

cristalino.

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38

NCCrnCrCr

CrnCrCr

IIII

IIIC

...

...100

21

21

Várias funções de forma de perfil podem se ajustar ao difratograma completo

através do método dos mínimos quadrados. Na maioria das vezes as funções gaussianas

são usadas para a deconvolução dos picos do difratograma, entretanto, os procedimentos

de ajuste também podem ser realizados por funções Lorentziana, combinação de

Gaussiana e Lorentziana e Funções Voigt.

A cristalinidade aparente (%) é estimada por meio da razão entre a área dos

picos cristalinos e a área total, incluindo a fração não cristalina através da equação:

onde C é a cristalinidade estimada (%), ICr1 representa a área deconvoluída do pico 1 do

difratograma; ICr2 representa a área deconvoluída do pico 2 do difratograma, e assim por

diante. INC representa a área não cristalina do difratograma.

O programa Peak Fitting Module[69]

incluso no programa Microcal Origin

versão 7.5[70]

foi utilizado para a decomposição e determinação das áreas dos picos

presentes nos difratogramas das amostras de PANI original e PANI tratada

termicamente. A função Gaussiana foi utilizada como função de ajuste e a determinação

do percentual cristalino e amorfo das amostras obtido pela razão entre as áreas dos picos

e a área de contribuição da fase amorfa no difratograma.

3.4. Ajuste Le Bail

Uma das formas de determinar e caracterizar estruturas cristalinas é por meio de

programas computacionais de refinamento de estruturas. Para isso, são utilizados como

dados de entrada a coleta de dados de difração de raios X e algumas informações

adicionais acerca da estrutura do material em estudo.

O procedimento proposto por Le Bail[71]

necessita de poucos dados de entrada,

como a proposição de um grupo estrutural e de parâmetros de cela razoáveis. O que o

programa faz é tentar aproximar a medida experimental da teórica pelo método dos

mínimos quadrados, utilizando-se uma função de perfil. Assim, através da aplicação

deste método é possível obter informações sobre a cela unitária, tamanho e forma de

cristalitos.

Eq. (5)

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ni

i

ni

ici

py

yy

R

,1

,1

,

100

3.4.1. Método dos Mínimos Quadrados

É uma técnica frequentemente utilizada para atingir o melhor ajuste entre um

modelo e um conjunto de dados experimentais, o qual é obtido pela minimização da

soma do quadrado da diferença entre a intensidade observada e a calculada. O peso

atribuído para cada medida é inversamente proporcional ao quadrado do desvio padrão

estimado[72]

.

No decorrer do ajuste, é calculada uma intensidade y(calc)i para cada um dos n

pontos do difratograma, a qual é comparada com a intensidade observada y(obs)i. O ajuste

Le Bail executa a variação dos parâmetros de modo que a soma do quadrado da

diferença entre a intensidade observada e a calculada atinja um valor mínimo. A função

de minimização, M, é dada por:

2

, i

icii yywM

com 𝑤𝑖 =1

𝜎𝑖2 , sendo σ

2 a variância da intensidade 𝑦𝑖 .

3.4.2. Fatores- R

Durante o refinamento é fundamental que haja fatores que informem a qualidade

do ajuste entre os perfis observado e calculado. A cada ciclo, estes fatores indicam se o

refinamento está progredindo de forma adequada e quando ele deve ser finalizado [72]

. O

programa FULLPROF possui dois conjuntos de índices que são calculados baseados no

significado do número inteiro n. No primeiro conjunto, n é o número total de pontos

usados no refinamento. E no segundo, somente os pontos com contribuição de Bragg. A

seguir são mostrados os fatores- R relacionados a cada conjunto de pontos.

Primeiro Conjunto:

Fator de perfil

Eq. (6)

Eq. (7)

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2/1

,1

2

,1

2

,

100

ni

ii

ni

icii

wpyw

yyw

R

2/1

2exp 100

i

ii yw

pnR

h

hobs

h

hcalchobs

BI

II

R,

,,

100

h

hobs

h

hcalckobs

FF

FF

R,

,,

100

Fator de perfil ponderado

Fator de perfil ponderado esperado

Indicador de bom ajuste das curvas

𝑆 =𝑅𝑤𝑝

𝑅𝑒𝑥𝑝

Segundo Conjunto:

Chi-quadrado reduzido

𝜒𝑣2 =

𝑅𝑤𝑝

𝑅𝑒𝑥𝑝

2

= 𝑆2

Fator de Bragg

Fator cristalográfico

Eq. (9)

Eq. (8)

Eq. (10)

Eq. (12)

Eq. (11)

Eq. (13)

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41

hh

lmp

lmplmp

h

h yaD

coscos

3.4.3. Efeitos Microestruturais

Os efeitos microestruturais foram tratados no programa FULLPROF através da

função de perfil pseudo-Voigt modificada Thompson-Cox-Hastings (pV-TCHZ)[73]

. As

funções de perfil são utilizadas para ajustar a forma dos picos ao padrão de difração

durante o ajuste. Para determinados tipos de refinamentos, como aqueles onde os

parâmetros térmicos são sensíveis à função do perfil, estas devem ser escolhidas

adequadamente. No caso dos polímeros semicristalinos, os quais possuem difratogramas

com picos alargados e superpostos devido à baixa cristalinidade, provavelmente outras

funções de perfil poderiam ser utilizadas, entretanto, esta é a mais comumente

encontrada em estudos[74]

.

A função pV-TCHZ possui dois modelos de anisotropias, um para ajustar os

alargamentos decorrentes dos tamanhos dos cristalitos, e outro para ajustar os

decorrentes dos efeitos da microdeformação da rede. As contribuições Gaussianas e

Lorentzianas para os alargamentos a meia altura são dadas por:

𝐻𝐺2 = 𝑈𝑡𝑎𝑛2 𝜃 + 𝑉𝑡𝑎𝑛 𝜃 + 𝑊 + 𝐼𝐺(1/𝑐𝑜𝑠2𝜃)

𝐻𝐿 = 𝑋𝑡𝑎𝑛 𝜃 + 𝑌/cos(𝜃)

onde U e X são parâmetros relativos ao alargamento do pico, caracterizado pelas

microdeformações da cela. Ig e Y são parâmetros associados ao alargamento do pico por

conta da mudança nos tamanhos dos cristalitos, e V e W representam as medidas

relacionadas ao equipamento.

Esta função constitui uma metodologia que utiliza os dados em pares (η, β) no

programa FULLPROF. Estes pares estão relacionados aos perfis experimental e

instrumental das linhas de reflexões da amostra estudada, e do material padrão. Com

esses dados é feito a separação dos alargamentos integrais.

O modelo usado nos alargamentos anisotrópicos resultante dos tamanhos dos

cristalitos com a função TCHZ é baseado em uma expansão dos coeficientes em

harmônicos esféricos (SPH) [75]

, cuja fórmula para a análise SPH é:

Eq. (14)

Eq. (15)

Eq. (16)

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onde βh representa a contribuição de tamanho para a largura integral da reflexão h e

hhlmpy são os harmônicos esféricos reais. Os argumentos correspondem aos

ângulos polares do vetor h em função dos eixos cristalográficos.

O refinamento inicia com a inserção dos dados referentes aos parâmetros de

cela, de um material considerado padrão de referência, o qual serve para o ajuste da

função de resolução instrumental. Uma função é usada para o ajuste dos perfis.

O ajuste Le Bail foi realizado através do pacote de programas FULLPROF [76]

,

no ambiente WINPLOTR[77]

. Utilizou-se a função de perfil pseudo-Voigt modificada

por Thompson-Cox-Hastings[73]

. Os parâmetros que constituem a função de resolução

instrumental (U, V,W)instr.foram obtidos através de um padrão de hexaborato de

lantânio, LaB6. O tamanho dos cristalitos foi determinado anisotropicamente em termos

de esféricos harmônicos. As visualizações dos cristalitos foram obtidas através do

programa GFOURIER[78]

.

3.5. Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS)

O estudo da difração de raios X a baixos ângulos foi introduzido quando tornou-

se necessário a detecção do espaçamento de redes em ampla escala. Estes espaçamentos

estão presentes em determinados minerais e em algumas moléculas complexas, tais

como proteínas ou polímeros. Para estruturas macromoleculares de cristais, os padrões

de DRX devem ser alargados para incluir os menores valores de ângulos. O

espalhamento de uma partícula pode ser visto como o padrão de interferência produzido

por todo feixe de luz detectado pela partícula, sendo que este padrão oscilante é

característico da forma partícula.

A técnica de Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos – SAXS (Small-angle

X-ray Scattering) é aplicada a materiais que possuem uma flutuação de densidade

eletrônica. Num polímero semicristalino, por exemplo, o que corresponde ao contraste

de densidade eletrônica é a diferença de densidade eletrônica existente entre as

partículas das regiões cristalinas e as das regiões não cristalinas. Isto é, à medida que a

cristalinidade de uma amostra diminui, também há uma diminuição na ordenação das

cadeias poliméricas[79]

.

O SAXS permite a análise de partículas que sofrem modificações estruturais

causadas por alterações nas condições externas. Ao longo dos anos houve um grande

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progresso nas aplicações da técnica de SAXS para a obtenção de informações

estruturais de amostras não cristalinas no campo da Física, Ciência de Materiais e

Biologia. Um resultado que se deve aos avanços na instrumentação e métodos

computacionais que visam o desenvolvimento da aplicação da técnica[80]

.

Dentre os métodos computacionais utilizados para o tratamento dos dados de

SAXS, o que mais se destaca é o pacote ATSAS de análise de dados[81]

, que oferece

diversas ferramentas para processamento, cálculo de parâmetros e determinação do

formato de partículas pelo modelo ab initio. Neste trabalho os programas do pacote

ATSAS utilizados foram o GNOM, DAMMIN e MASSHA, que serão abordados mais

adiante[82]

.

3.5.1 Características da Técnica de SAXS

Quando um feixe de raios X, partindo de uma fonte (F), atravessa um colimador

(C) e incide sobre a amostra (A), que pode ser uma proteína ou uma macromolécula

complexa em solução, a radiação espalhada é gravada num detector (D), enquanto o

feixe é absorvido pelo beam stop (B), como ilustra a Figura 14[83]

.

A coleta dos dados iniciais da curva de espalhamento é limitada pela sombra do

beam stop, o qual protege o detector contra a incidência do feixe direto, tornando o

máximo tamanho observável limitado por esta restrição de natureza experimental.

Figura 14: Representação esquemática do equipamento de espalhamento de raios X.

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O padrão de espalhamento é descrito pela intensidade 𝐼 como uma função da

amplitude do vetor espalhamento q:

𝑞 = 4𝜋 sen 𝜃

𝜆

onde 𝜆 é o comprimento de onda da radiação incidente e 𝜃 a metade do ângulo entre a

radiação incidente e a espalhada. Como 𝜆 possui um valor fixo e 𝜃 é muito pequeno

(𝜃 < 3°), então 𝐼(𝑞) versus 𝑞 representa a intensidade em função do ângulo de

espalhamento.

3.5.2. Sistema de Partículas

As análises dos dados de SAXS dependem das características do sistema que está

sendo investigado. Os sistemas de partículas podem ser considerados monodispersos ou

polidispersos. Nos Sistema Monodispersos as partículas são idênticas, enquanto que nos

Sistemas Polidispersos as partículas podem apresentar tamanhos diferentes.

Quando um sistema é considerado monodisperso, é assumido um caso ideal, em

que não há interação das partículas em solução. Desta forma, o sistema é tomado como

uma função isotrópica I(q), proporcional ao espalhamento em todas as orientações de

uma única partícula de tamanho médio[83]

.

Através da Lei de Guinier é possível fazer uma análise da intensidade espalhada

𝐼 𝑞 na região em que os valores de q são muito baixos,

𝐼 𝑞 ≅ 𝐼𝑜𝑒𝑥𝑝 −𝑞2𝑅𝑔

2

3

onde 𝑅𝑔 é o raio de giro da partícula e 𝐼𝑜 a intensidade no ângulo zero. Plotando o

gráfico de Guinier ( 𝑙𝑛𝐼 𝑞 𝑣𝑠 𝑞2 ), obtém-se uma função linear.

𝑙𝑛𝐼 𝑞 = 𝑙𝑛𝐼𝑜−𝑅𝑔

2

3𝑞2

onde o coeficiente angular da reta 𝑏 = −𝑅𝑔

2

3, fornece o raio de giro da partícula.

Baseado na linearidade da curva de Guinier pode-se classificar se o sistema de

partículas é monodisperso ou polidisperso, conforme ilustra a Figura 15.

Eq. (17)

Eq. (18)

Eq. (19)

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Figura 15: Curvas de Guinier para sistemas (a)monodispersos e (b)polidispersos.

Outro método que também pode ser utilizado para a determinação de 𝐼 0 e 𝑅𝑔 ,

é o cálculo por meio da função 𝑝 𝑟 [83].

𝑅𝑔2 =

𝑃(𝑟)𝑟2𝑑𝑟

2 𝑃 𝑟 𝑑𝑟 𝐼 0 = 4𝜋 𝑃 𝑟 𝑑𝑟

𝐷𝑚𝑎𝑥

0

3.5.3. Função de Distribuição de Pares de Distâncias ─ p(r)

A curva de espalhamento pode fornecer informações relacionadas ao formato da

partícula, entretanto devido às limitações da aproximação de Guinier a extração de

determinados valores, como o raio de giro, dos dados de espalhamento, é feita através

da utilização do método matemático da transformada inversa de Fourier,o qual resulta

na função de distribuição de pares ‒ 𝑝(𝑟) [83]

. A 𝑃(𝑟) é uma representação dos dados de

espalhamento no espaço real [84]

, como mostra a Figura 16. Através da visualização da

p(r) é possível obter informações relacionadas ao formato da partícula, o raio de giro

𝑅𝑔 e o 𝐷𝑚𝑎𝑥 (máxima distância intra partícula).

Figura 16: Representação no espaço real da função distribuição de pares – 𝒑(𝒓).

Eq. (20)

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46

A partir dos padrões de espalhamento são estabelecidos os possíveis formatos

das 𝑝(𝑟), as quais, dependendo da localização do máximo das curvas, apresentam

determinados formatos de partículas. Por exemplo, partículas com formatos globulares

tendendo ao esférico possuem uma 𝑝(𝑟) com um máximo aproximadamente em

𝐷𝑚𝑎𝑥/2. Porém, as 𝑝(𝑟) de algumas partículas não possuem este padrão simétrico,

onde seus máximos são deslocados para distâncias menores que 𝐷𝑚𝑎𝑥/2. Um exemplo

disso são partículas com formato oblato (achatado) e prolato (alongado)[85]

. Outras

formas típicas de partículas também estão exemplificadas na Figura 17.

Figura 17: Curvas de espalhamento e suas respectivas P(r) calculadas para típicos formatos de partículas:

globulares (preto), prolato (vermelho), oblato (azul), halteres (verde) e longo cilindro (ciano).

3. 5.4. Modelo ab initio

Através do tratamento dos dados de SAXS é possível obter os parâmetros que

descrevem o tamanho, forma e volume da partícula. Entretanto, além da caracterização

estrutural da partícula por meio de gráficos e dados numéricos, complementa-se o

estudo com métodos computacionais que forneçam um modelo tridimensional de sua

estrutura. O modelo ab initio realiza uma reconstrução estrutural a partir dos dados de

espalhamento por meio de métodos computacionais[86]

.

O programa GNOM[87]

fundamentado no método da transformada de inversa de

Fourier realiza o ajuste da 𝑝(𝑟) baseado em alguns critérios como escala angular, tipo

de sistema, máximo diâmetro da partícula e outros fatores que são inseridos pelo

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programa automaticamente, proporcionando ao usuário os meios para identificar e obter

um valor satisfatório para o 𝐷𝑚𝑎𝑥 e o 𝑅𝑔 da partícula.

A modelagem da partícula é feita através de um programa que emprega o

formalismo dos esféricos harmônicos aos dados de espalhamento inseridos[88]

.

Em geral, o ab initio mais utilizado para a reconstrução estrutural da forma da

partícula é denominado “modelagem por pérolas”, o qual é implementado no programa

DAMMIN (Dummy Atom Model Minimisation)[87]

. O modelo é reconstruído a partir de

um conjunto denso de átomos chamado dummy, do qual através de uma simulação

computacional é obtido a estrutura do modelo pelo programa, através do ajuste dos

dados experimentais com os calculados[88]

.

A Figura 18 mostra o ambiente do programa DAMMIN durante o ajuste das

curvas experimental (azul) e a calculada (vermelha). Acima do ajuste das curvas está o

modelo estrutural, que inicialmente é uma esfera com volume definido por um raio R

suficientemente maior que da própria partícula a ser modelado, conforme evolui o ajuste

das curvas o conjunto de átomos se desloca dentro do modelo até que o ajuste seja

finalizado. Os dados numéricos são referentes aos ciclos de cada simulação.

Figura 18: Ambiente do programa DAMMIN.

Os dados de saída do programa DAMMIN possuem a extensão PDB (Protein

Data Bank), que proporciona um padrão para a representação dos dados da estrutura

macromolecular. Estes dados podem ser executados no programa MASSHA[89]

, um

sistema que gera imagens tridimensionais do modelo estrutural obtido.

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3.6. Análise de Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier

(FTIR)

As análises de FTIR foram realizadas na empresa Nanomed Nanotecnologia

(São Carlos – SP) utilizando-se o equipamento BOMEM modelo MB-102, no intervalo

4000 – 400 cm-1

. As pastilhas foram preparadas com KBr na proporção em massa de

1:100 utilizando uma prensa hidráulica Perkin-Elmer a uma pressão de 15 toneladas.

3.7. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

Foi utilizado o Microscópio Eletrônico de Varredura da marca Carl Zeiss,

modelo Supra 35, existente no Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica

da Universidade Federal de São Carlos (LIEC/UFSCar). As medidas foram realizadas

em temperatura ambiente.

3.8. Condutividade Elétrica

As medidas de condutividade elétrica foram realizadas no Laboratório de Física

Moderna (UFAM). Foram feitas pastilhas, às quais foram conectados fios com uma

tinta condutora, como mostra a Figura 19(a). A coleta de dados é ilustrada na Figura

19(b).

Figura 19: (a) Pastilha para medida de condutividade e (b) Coleta de dados

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Difração de Raios X (DRX)

A técnica de Difração de Raios X (DRX) foi utilizada para a verificação de

possíveis mudanças estruturais nos polímeros após os mesmos serem submetidos ao

tratamento térmico de aquecimento. Os difratogramas da amostra inicial (PANI-ES, sem

tratamento térmico) e das amostras tratadas termicamente por 1 h a 50, 100, 200 e

300°C estão ilustrados na Figura 20.

Figura 20: Difratogramas dos polímeros antes e após o tratamento térmico.

A Figura 20 mostra cinco perfis de DRX, sendo um deles da amostra original de

partida (PANI-ES) e os outros da PANI-ES tratada termicamente por 1h a 50, 100, 200

e 300 °C. É possível perceber nestes perfis a evolução de degradação estrutural da

PANI-ES ocasionada pelo aumento de temperatura.

O perfil de DRX da PANI-ES apresenta picos localizados em 2θ= 6.3, 9.2, 14.7,

20.7, 25.2 e 26.9°, dois picos mais alargados em 2θ = 28.9° e 32.2°, e outro entre 2θ =

32.2° e 39.5°. Quando esta amostra foi submetida ao tratamento térmico por 1h a 50 °C,

observa-se que seu perfil difere do perfil da amostra original PANI-ES, apresentando

um número de picos menor e mais alargados.

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Por outro lado, o perfil de DRX da amostra tratada a 50°C é muito semelhante

ao da amostra tratada em 100°C, porém esta possui picos mais largos que a anterior, os

quais estão localizados em 2θ = 6.3°, 9.8°, 15.2°, 20.2° e 24°.

As principais observações nos formatos dos difratogramas aconteceram para as

amostras tratadas em 200 e 300 °C. Para estas, os padrões de DRX mostraram que

houve maior perda de cristalinidade. Para a amostra tratada a 200°C, um pico largo se

encontra na posição 2θ =11.5°, e outro centrado aproximadamente em 2θ = 19.9°,

enquanto que para amostra tratada a 300°C as mesmas características foram observadas,

entretanto, houve mais perda de cristalinidade, evidenciada pela diminuição da

intensidade do pico localizado em 2θ = 11.5°. Desta forma, é possível observar que a

exposição da PANI-ES a diferentes temperaturas causou perda gradativa de

cristalinidade, sendo observada pelas variações número de picos dos difratogramas,

especialmente em suas formas, larguras e intensidades.

4.1.1. Estimativa do Percentual de Cristalinidade

Materiais como os da PANI, tanto a não tratada quanto a tratada termicamente,

apresentam difratogramas característicos de materiais semicristalinos. O tratamento

térmico causa a perda de cristalinidade dos materiais poliméricos à medida que a

temperatura aumenta. Como já observado, os perfis de DRX dos polímeros tratados

termicamente apresentam uma redução no número de picos, os quais se tornaram mais

largos quando comparados à PANI-ES. Este tipo de característica pode ser um

indicativo do aumento da contribuição não cristalina e da diminuição do tamanho dos

cristalitos à medida que a temperatura foi aumentada.

Para estimar o percentual de cristalinidade de polímeros semicristalinos, é

assumido que o polímero possui regiões cristalinas e não cristalinas. Diversos métodos

têm sido aplicados para estimar o percentual de cristalinidade de materiais

semicristalinos, porém nem todos estes métodos fornecem o mesmo resultado. Contudo,

todos os métodos utilizados atualmente assumem um modelo em que materiais

semicristalinos são formados por duas fases distintas, com cristalitos pequenos

dispersos numa matriz não cristalina[67]

.

Um dos métodos usado para determinar a porção cristalina de um material é o

chamado Método da Deconvolução, o qual utiliza os dados do DRX para a

decomposição de picos[68]

. No ajuste da curva, é preciso considerar a forma e o número

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de picos, como também o emprego de uma função de perfil apropriada. Ao realizar esta

análise, uma suposição importante, é que o aumento da contribuição não cristalina é o

principal fator para o alargamento dos picos. Entretanto, além da perda de cristalinidade

do material, existem também fatores intrínsecos que influenciam no alargamento dos

picos, tais como o tamanho dos cristalitos e as deformidades do cristal, além da natureza

do material. A deconvolução dos picos de DRX de cada amostra está ilustrada na

Figura 21. Os valores estimados dos percentuais de cristalinidade resultantes destas

deconvoluções estão apresentados na Tabela 2.

Figura 21: (a) Deconvolução dos picos para a PANI-ES e (b) TT (50), (c) TT (100), (d) TT (200) e (e)

TT (300).

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Tabela 3: Valores estimados dos percentuais de cristalinidade da PANI-ES e dos

polímeros tratados termicamente, TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300)

AMOSTRA CRISTALINIDADE

(%)

PANI-ES 51 (± 5)

TT 50 39 (± 5)

TT 100 27 (± 5)

TT 200 22 (± 5)

TT 300 19 (± 5)

A Figura 22 mostra graficamente a variação dos percentuais de cristalinidade

para as amostras analisadas pelo método da deconvolução.

Figura 22: Gráfico da estimativa dos percentuais de cristalinidade as amostras analisadas pelo método da

deconvolução.

4.2. Ajuste Le Bail

4.2.1. Escolha do Tetrâmetro e Modificações dos Parâmetros das Celas Unitárias

O método Le Bail [90]

é uma técnica muito utilizada em caracterização de materiais com

o intuito de obter informações estruturais como parâmetros de cela e tamanhos de

cristalitos. É um método aplicado mais frequentemente no estudo de materiais

cristalitos, porém, tem sido uma ferramenta importante na caracterização de polímeros e

de materiais com baixa cristalinidade [91,92,93,94]

.

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Para a aplicação do método, foram realizados ajustes levando em consideração o

tamanho e a periodicidade intramolecular das cadeias da polianilina. Para isso, foi

utilizada a simetria e os parâmetros de cela unitária propostos por Evain et al.[95]

referentes ao tetrâmero da polianilina. O ajuste foi conduzido admitindo-se a hipótese

de que as reflexões que contribuem para o perfil podem ser simuladas com a função de

perfil selecionada[73]

. Assim, o valor da intensidade calculada nesse processo não inclui

o cálculo do fator de estrutura (F), mas é obtida pelo refinamento dos valores dos

parâmetros da função de perfil selecionada para cada possível reflexão hkl, de modo a

obter o melhor ajuste.

Os ajustes, dependendo da amostra, seguiram basicamente a mesma sequência:

alteração dos parâmetros de cela “b” e/ou “c”;

refinamento da largura dos picos;

refinamento de a, b e c;

refinamento de a, b, c, α, β e γ;

Após estas etapas, o ajuste foi concentrado nos parâmetros de cela e nos

parâmetros de largura a meia altura, sendo refinados juntos e/ou separadamente até que

os valores dos fatores de discordância e valores dos parâmetros refinados fossem

satisfatórios e coerentes. A relação entre os parâmetros de cela e os tamanhos

anisotrópicos dos cristalitos nas respectivas direções foi utilizada como um indicativo

da qualidade do refinamento, levando em consideração que os tamanhos anisotrópicos

dos cristalitos devem ser maiores que os parâmetros de cela nesta respectiva direção. Os

valores dos parâmetros refinados de todas as amostras estão na Tabela 4.

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Tabela 4: Parâmetros refinados pelo Método de Le Bail através do programa Fullprof:

parâmetros de cela, volume da cela, tamanho médio e anisotrópico dos cristalitos e

fatores de discordância

Parâmetros Refinados Evain

et al. (2002)

PANI-ES

TT (50) TT (100) TT (200) TT (300)

a (Å) 5,7328 5,7180 5,7240 5,8036 5,7967 5,5997

b (Å) 8,8866 17,8344 18,4721 18,8705 8,8377 8,9502

c (Å) 22,6889 23,0154 19,0456 19,0945 14,3877 14,5773

α (º) 82,7481 83,3509 79,5264 79,5822 82,4561 83,9821

β (º) 84,5281 84,8781 83,5375 83,8496 85,4585 85,1372

γ (º) 88,4739 88,2333 88,1858 87,6066 87,5559 89,0417

V (Å3) 1141,29 2.321,3 1.967,5 2.044,3 728,0 723,9

Tamanho médio global (anisotr.) (Å) ------- 36 (10) 22 (5) 22 (4) 19 (4) 16 (3)

Crystallite Apparent size 100 (Å) ------- 43 24 25 19 18

Crystallite Apparent size 010 (Å) ------- 43 21 19 12 12

Crystallite Apparent size 001 (Å) ------- 25 20 20 20 18

Rwp (%) ------- 1,69 2,23 2,42 8,18 2,20

Rp (%) ------- 1,34 1,52 1,67 5,55 1,51

Após analisar os parâmetros obtidos por refinamento, observa-se que há dois

conjuntos de amostras com aspectos estruturais semelhantes: o primeiro conjunto é

formado pelas amostras TT (50) e TT (100), enquanto que o segundo conjunto é

formado pelas amostras TT 200 e TT 300.

Para as amostras PANI-ES, TT (50) e TT (100) foi possível obter um melhor

ajuste apenas quando o parâmetro de cela “b” foi modificado para aproximadamente 18

Å. Este aumento é necessário para a acomodação do contraíon proveniente do ácido

protônico (neste caso HCl, ou seja, Cl-) na estrutura polimérica. Alguns autores já

reportaram esse fato [96,97]

, mostrando que é preciso que a cela unitária seja aumentada

para que esses contraíons possam ser incorporados na estrutura polimérica. Outra

alteração importante observada é a diminuição do parâmetro de cela “c”, em torno de 4

Å, nas amostras TT (50) e TT (100). Considerando que este valor é próximo do

comprimento de um monômero de anilina, é possível propor que, por meio do

tratamento térmico, houve uma mudança no tamanho da cadeia polimérica disposta ao

longo do eixo “c”. O valor de “c” obtido acomoda exatamente uma cadeia trimérica de

polianilina, sugerindo que, após o tratamento térmico, as cadeias passaram de

tetraméricas para triméricas. Além disso, esta modificação estrutural observada logo em

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50 °C fica evidente no perfil do difratograma e no percentual de cristalinidade estimado

anteriormente, passando de 51 % (no caso da PANI-ES) para 39 % (no caso da TT 50) e

27% (no caso da TT 100).

A alteração de perfil de DRX mais evidente ocorre nas amostras TT (200) e TT

(300), mostrando uma considerável diminuição das regiões cristalinas e,

consequentemente no tamanho dos cristalitos. Para estas amostras, observam-se

mudanças consideráveis nos parâmetros “b” e “c”. No caso do parâmetro “b”,

observa-se que seu valor voltou a ser o valor original proposto por Evain et al.[95]

,

sugerindo que, neste estágio, os contraíons foram retirados da cadeia polimérica devido

ao aumento de temperatura. Por outro lado, nota-se que o aquecimento a 200 e 300 °C

foi tão eficiente na destruição das regiões cristalinas, que o parâmetro de cela “c”,

relacionado com o tamanho das cadeias poliméricas na cela unitária, foi

consideravelmente diminuído, sugerindo que tais tratamentos térmicos tenham evoluído

de uma cadeia trimérica para uma dimérica. As Figuras 23 (a-c) mostram modelos

especulativos de cela unitária baseados apenas nos parâmetros de cela obtidos após

refinamento e nos tamanhos das cadeias poliméricas. A intenção destes modelos é

apenas sugerir, sem nenhuma base de cálculo, como as cadeias poliméricas

(tetraméricas, triméricas ou diméricas) poderiam estar dispostas na cela unitária,

levando-se em consideração apenas o tamanho das cadeias e os parâmetros de cela

unitária. Vale ressaltar também que os contraíons não foram considerados nestes

modelos.

(a)

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Figura 23: (a) Modelo especulativo de cela unitária para a amostra refinada de PANI-ES, (b) TT (500 e

TT (100) e (c) TT (200) e TT (300).

A diminuição da fase cristalina devido ao aumento de temperatura está

diretamente relacionada com a diminuição dos tamanhos dos cristalitos. No caso da

PANI-ES, sem tratamento térmico, o tamanho médio do cristalito é da ordem de 36 Å e,

após o final do tratamento a 300 °C observa-se que os cristalitos diminuíram para 16 Å,

representando uma diminuição de 55 % em tamanho médio. Um resultado também

observado após o refinamento está relacionado com o formato dos cristalitos. Observou-

se que, após o tratamento a 300 °C, a anisotropia passou de 10 para 3, sugerindo que o

aumento da temperatura, além de diminuir o tamanho dos cristalitos, também ocasionou

mudanças em seus formatos, tornando-os mais globulares.

(b)

(c)

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As Figuras 24(a-e) mostram o resultado final dos refinamentos. As curvas em

preto representam a medida de DRX experimental (Yobs). As curvas em cinza

representam os difratogramas teóricos (Ycalc) e as curvas em azul representam as

diferenças entre os difratogramas experimentais e teóricos (Yobs – Ycalc). Nestas figuras

também estão indicados os principais planos cristalográficos de cada pico de difração

presente nos difratogramas. Nota-se que as principais reflexões foram inseridas mesmo

nos picos mais alargados, embora estas reflexões tenham contagens muito baixas.

Figura 24: Resultado final dos refinamentos e principais reflexões para (a) PANI-ES, (b) TT (50), (c) TT

(100), (d) TT (200) e (e) TT (300).

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A forma dos cristalitos foi visualizada nas direções [100], [010] [001] utilizando

o programa de Gfourier[78]

. Vale ressaltar, que esta forma não se refere a forma real do

cristalito, e sim a características de um modelo muito semelhante ao real. De tal forma,

este formato define propriedades de simetria da distribuição das colunas de centro de

espalhamento nos domínios cristalinos de uma determinada fase.

Figura 25: Visualização dos cristalitos para (a) PANI-ES, (b) TT (50) , (c) TT (100), (d) TT(200) e (e)

TT(300), nas direções [100], [010] e [001].

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É possível observar que o aumento da temperatura causou mudanças estruturais

nos cristalitos, as quais puderam ser detectadas pelo refinamento estrutural. Nota-se que,

para amostras tratadas termicamente, o aumento da temperatura promoveu a formação

de cristalitos mais globulares. Ao final do tratamento térmico, em 300 °C é possível

observar um cristalito muito mais globular que o cristalito observado para a PANI-ES

original, o qual apresenta essencialmente um caráter prolato. Este fato está relacionado à

diminuição da área cristalina devido à destruição do arranjo regular polimérico causado

pelo aumento da temperatura.

4.3. FTIR

As modificações ocorridas na estrutura da PANI-ES decorrentes do tratamento

térmico foram analisadas através da Espectroscopia no Infravermelho por Transformada

de Fourier – FTIR.

Algumas investigações já haviam sido reportadas em literatura abordando

mudanças estruturais na PANI-ES após o tratamento térmico acima de 200°C,

constatando-se ligações cruzadas entre as cadeias de polianilina, conhecidas por

crosslinking. Averiguaremos esta e outras mudanças através dos espectros de FTIR para

a PANI-ES, TT(50), TT(100), TT(200) e TT(300), como mostrado na Figura 26.

A PANI-ES apresenta bandas de absorção localizadas em 1561 cm-1

e 1470 cm-

1, referentes à deformação de estiramento dos anéis quinóides (Q) e benzenóides (B),

respectivamente. A banda localizada em 1298 cm-1

corresponde à deslocalização dos

elétrons-π, devido à dopagem por protonação, ou também pela vibração de estiramento

(C‒ N ‒ C). Em 1238 cm-1

há uma banda característica da vibração de estiramento C‒

N+ na estrutura polarônica.

A banda 1130 cm-1

é referente ao modo de vibração de ‒ NH+ = na forma

protonada da PANI-ES. Em 794 cm-1

há uma banda de absorção que corresponde à

deformação fora do plano de C‒ H dos anéis benzenóides 1-4 desubstituídos.

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Ao tratar a PANI-ES a 200°C (TT 200), um deslocamento é observado na banda

de 1561 cm-1

para 1590 cm-1

. No caso, para TT (300) o mesmo pico está localizado em

1610 cm-1

. Trchová e colaboradores (2004) abordaram esta mudança, que ocorre devido

à remoção do contraíon dopante. Bhadra e Khastgir (2008) relataram que há perda de

HCl após o tratamento térmico acima de 200°C, isto se deve à remoção parcial ou

modificação da concentração de HCl. Na banda de 1470 cm-1

também é observada uma

mudança similar.

A modificação da banda de 1130 cm-1

para 1106 cm-1

é observada com o

aumento de temperatura de tratamento da PANI-ES devido à diminuição na sequência

esmeraldina após o tratamento térmico.

Vale ressaltar que existem alterações de intensidade dos picos de (Q) para (B) da

PANI-ES para a TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300), que são decorrentes da

alteração relativa na concentração de anéis (Q) e (B) presentes na cadeia da PANI-ES,

um fator que influência na diminuição da sequênica esmeraldina.

Figura 26: Espectro do FTIR para PANI-ES, TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300).

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Quando a PANI-ES é tratada a 200°C, a intensidade de anéis (Q) para (B)

aumenta, comparada à PANI-ES não tratada termicamente. Isto indica que está havendo

uma conversão de anéis (B) em (Q) característicos da oxidação da PANI-ES.

Ao tratar a PANI a 300°C a intensidade de anéis (Q) para (B) diminui, ou seja,

anéis (Q) estão sendo convertidos em anéis (B). Este resultado é devido à reação de

crosslinking na cadeia polimérica da PANI-ES. Em ambos os casos, anéis (Q) são

convertidos em (B). A Figura 27 mostra uma representação esquemática da

modificação na cadeia polimérica da PANI-ES quando ocorre a reação de crosslinking.

Quando a PANI-ES é tratada entre 200 e 300°C, as bandas de absorção

localizadas em 1299 cm-1

e 1239 cm-1

desaparecem do espectro. Isto indica que há uma

grande diminuição na deslocalização do elétron π devido à diminuição do nível de

protonação e sequência esmeraldina, causando assim, a destruição da estrutura

polarônica.

4.4. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A técnica do MEV foi aplicada para observação da morfologia da PANI-ES não

tratada e tratada termicamente, como mostra a Figura 28. Nota-se que as nanofibras da

PANI não tratada termicamente estão bem definidas, sendo também possível observar

que as nanofibras parecem ser formadas pela conexão de nanoesferas, cujo tamanho não

pode ser mensurado com precisão. Também pode ser visto que o tamanho das

nanofibras diminuem à medida que a temperatura aumenta. Assim, na PANI-300 as

nanofibras não são tão longas como as observadas na PANI não tratada termicamente.

Figura 27: Reação de crosslinking na cadeia polimérica da PANI-ES [61].

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No decorrer da análise morfológica de cada amostra, é possível propor que o

aumento de temperatura causa a degradação parcial das cadeias e, consequentemente, a

degradação das nanofibras. Este fator pode estar relacionado com a diminuição da

cristalinidade e condutividade elétrica do polímero.

Figura 29: Imagens de MEV para (a) TT(50) , (b) TT(100) , (c) TT(200) (c) e (d) TT(300).

Figura 28: Imagem de MEV para PANI-ES.

(a)

(b) (c)

(d) (e)

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4.4. Espalhamento de Raios X a Baixos Ângulos (SAXS)

4.4.1. Curvas de Espalhamento

A Figura 30 (a) mostra as curvas de espalhamento da PANI-ES e PANI tratada

termicamente, referentes à TT-50 e TT-100, TT-200 e TT-300. A Figura 30 (b) mostra

os possíveis formatos das partículas baseados na localização da curva de espalhamento.

Estes dados são apresentados em literatura de maneira qualitativa e empírica. Segundo

esse modelo de formato de partículas que leva em consideração a posição das curvas de

espalhamento, podemos propor que a PANI-ES apresenta partículas com formatos mais

globulares que as amostras TT-50 e TT-100, TT-200 e TT-300.

4.4.2. Curvas de Guinier

Por meio das curvas de espalhamento foram obtidas as curvas de Guinier da

PANI-ES e das amostras tratadas termicamente. As curvas de Guinier ajudam a

identificar a polidispersividade do sistema em estudo. Assim, é possível estimar se as

partículas que compõem o sistema são monodispersas (mesmo formato e tamanhos

Figura 30: (a) Curvas de espalhamento da PANI-ES e TT(50), TT(100), TT(200) e TT(300); (b) Modelo

especulativo para o formato das partículas, baseado em curvas de espalhamento empíricas.

(b)

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semelhantes) ou polidispersas (formatos e tamanhos variados), como mostra Figura 31

(a). A Figura 31 (b) mostra ampliadamente uma região da curva de Guinier, onde é

perceptível esta polidispersividade. Contudo, é possível notar que a polidispersividade é

mais acentuada na PANI-ES não tratada termicamente do que nos sistemas tratados

termicamente.

4.4.3. Cálculo da 𝒑(𝒓)

O cálculo da função de distribuição de pares - 𝑃(𝑟) é um mecanismo

determinante para a observação das eventuais modificações nas formas das partículas,

como também para a obtenção dos valores dos raios de giro 𝑅𝑔 das mesmas, os quais

podem ser utilizados para cálculos de volumes das partículas. A Figura 32 (a) mostra

as curvas de 𝑝(𝑟) obtidas através do programa GNOM, para a PANI-ES e TT (50),

TT(100), TT(200) e TT(300).

Figura 31: (a) Gráfico das curvas de Guinier para PANI-ES, TT(50), TT(100), TT(200) e TT(300), (b)

Região ampliada das curvas de Guinier.

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A Figura 32 (b) exemplifica os possíveis formatos das partículas, baseados nas

modificações dos formatos das curvas 𝑝 𝑟 [83]. Analisando a localização da posição

Dmáx/2 de cada curva 𝑝(𝑟), observa-se que a PANI-ES possui partículas tendendo para

formas mais globulares e esféricas, corroborando com as informações obtidas pela sua

Figura 32: Gráfico das curvas P(r) para (a) PANI-ES, TT(50), TT(100), TT(200) e

TT(300). (b) Formato das partículas baseado na posição e forma da curva 𝒑(𝒓) [85].

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curva de espalhamento. Porém, após submetida ao tratamento térmico, foram

observadas modificações nos formatos de suas 𝑝(𝑟). É possível observar este

comportamento através da posição Dmáx/2 de cada curva 𝑝(𝑟), da TT (50), TT (100), TT

(200) e TT (300), as quais passam a ter menores valores de 𝑟 conforme a temperatura de

tratamento térmico é aumentada, fator que também influencia nos formatos das

partículas, que passam a tender para as formas prolato.

A Tabela 5 mostra os valores de 𝐷𝑚á𝑥 para PANI- ES e TT (50), TT (100), TT

(200) e TT (300).

Tabela 5: Valores da 𝑫𝒎á𝒙 para PANI- ES e TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300)

Através da Tabela 5 nota-se que há uma mudança mais significativa nos valores

de 𝐷𝑚á𝑥 da PANI-ES e TT (50), uma diminuição em torno de 23%. Enquanto que para

os valores de Dmax da TT (100) e TT (200), uma diminuição de 10%. Essa diminuição

nos valores de 𝐷𝑚á𝑥 está diretamente relacionada com os tamanhos das partículas.

Assim, observa-se que as partículas estão diminuindo após o tratamento térmico, o que

já era esperado após análise dos padrões de DRX e refinamento estrutural,

anteriormente abordados.

Os valores dos raios de giro (𝑅𝑔) obtidos através da 𝑝(𝑟) para a PANI-ES e TT

(50), TT (100), TT (200) e TT (300) estão apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Valores dos raios de giro para PANI- ES e TT (50), TT (100), TT (200) e TT

(300)

Amostras Raios de Giro (Å)

PANI-ES 217

TT (50) 146

TT (100) 146

TT (200) 139

TT (300) 139

Amostra 𝐃𝐦á𝐱 (Å)

PANI-ES 650

TT (50) 500

TT (100) 500

TT (200) 450

TT (300) 450

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Os valores dos raios de Giro estão de acordo com os valores obtidos para os

Dmáx, mostrando diminuição ao longo do tratamento térmico e sugerindo que as

dimensões das partículas são diminuídas com o aumento da temperatura.

Para a proposição de um modelo para o formato das partículas estimadas

anteriormente pelas curvas p(r) foi realizado o ajuste das curvas de espalhamento

através do programa DAMMIN. As curvas resultantes exibem o ajuste da curva

observada (preta) com a calculada (ciano). Os modelos mais precisos para os formatos

das partículas dependem do mais adequado ajuste entre as duas curvas. A Figura 33

mostra o ajuste da curva de espalhamento da PANI-ES e a Figura 34 mostra os ajustes

das amostras TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300), realizado através do programa

DAMMIN.

Figura 34: Ajuste das curvas de espalhamento para TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300).

Figura 33: Ajuste das curvas de espalhamento para a PANI-ES.

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Os modelos para os formatos das partículas foram obtidos utilizando-se o

programa MASSHA através da leitura do arquivo resultante dos ajustes feitos pelo

programa DAMMIN. Nota-se que o ajuste das curvas atingiu um resultado satisfatório,

os dados provenientes do ajuste das curvas de espalhamento da PANI-ES e TT(50),

TT(100), TT(200) e TT(300), foram executados no programa MASSHA para a

reconstrução estrutural dos formatos das partículas. Como já foi abordado, o formato

das partículas é previsto através da observação da forma das curvas p(r), porém, com a

utilização de um programa computacional adequado é possível visualizá-los

tridimensionalmente.

A Figura 35 mostra o modelo para o formato da partícula da PANI-ES e a

Figura 36 mostra os modelos para os formatos das partículas das amostras TT (50), TT

(100), TT (200) e TT (300), juntamente com as respectivas curvas p(r).

Através da visualização das formas das partículas, é possível notar que as

mesmas estão de acordo com os previstos pelas curvas p(r)[83,84,90]

. Conforme a

temperatura de tratamento térmico aumenta, o formato das partículas tende para o

formato prolato, a partir de um formato esférico encontrado na amostra original de

PANI-ES.

Figura 35: Forma da partícula da PANI-ES e sua respectiva curva 𝒑(𝒓).

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Figura 36: Modelo de formato para as partículas das amostras TT(50), TT(100),

TT(200) e TT(300) e suas respectivas curvas p(r).

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4.5. Condutividade Elétrica

Polímeros intrinsecamente condutores são materiais semicristalinos, de tal forma

que sua condutividade elétrica depende, além dos arranjos ordenados presentes na

cadeia polimérica, ou seja, da região cristalina, da presença de contraíons nas cadeias

poliméricas inseridos por processos de dopagem.

Como observado anteriormente, durante o tratamento térmico, as regiões

cristalinas existentes na amostra original PANI-ES vão diminuindo gradativamente

devido à perda das sequências de esmeraldina e remoção dos íons cloreto, um resultado

que influencia diretamente no valor da condutividade elétrica da amostra. Quando mais

ordenado estiverem as cadeias poliméricas, mais facilidade os contraíons terão para se

movimentarem ao longo das cadeias na presença de um campo elétrico externo. Assim,

com a remoção dos contraíons através do aumento da temperatura, e também com a

diminuição das regiões ordenadas, espera-se que a condutividade elétrica dos polímeros

tratados termicamente tenham seus valores diminuídos à medida que a temperatura

aumenta [98]

.

Os valores de condutividade elétrica das amostras PANI-ES e TT(50), TT(100) e

TT(200) estão apresentados na Tabela 7 e na Figura 37. Nota-se através dos resultados

que os valores das condutividades elétricas diminuíram com o aumento da temperatura,

como era esperado. Sambhu e colaboradores[99]

abordou essa diminuição na

condutividade elétrica da PANI, obtendo valores cuja ordem de grandeza é de 10-3

.

Sanches e colaboradores[100]

, por sua vez, obteve valores com ordem de 10-4

.

Tabela 7: Valores da condutividade elétrica da PANI e TT (50), TT(100) e TT (200)

Amostra Condutividade elétrica (S/cm)

PANI-ES 0,3 x 10-4

TT(50) 0,1 x 10-4

TT(100) 0,6 x 10-5

TT(200) 0,4 x 10-5

Para 300°C não foi possível a obtenção de um valor para a condutividade

elétrica, em virtude da modificação sofrida pela amostra a esta temperatura. Uma vez

que a metodologia empregada para a medida da condutividade elétrica envolvia a

compactação da amostra em forma de pastilha, este procedimento não pode ser

executado devido à mínima umidade necessária (água de hidratação interna) para a

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compactação, impossibilitando o pastilhamento desta amostra. A Figura 38 mostra a

curva de TG da amostra PANI-ES, mostrando a remoção da água de hidratação interna

em temperatura inferior a 300°C.

Figura 37: Gráfico da condutividade elétrica da PANI-ES e TT(50), TT(100) e TT(200).

Figura 38: Termograma da PANI-ES.

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CONCLUSÕES

As informações obtidas através da técnica de DRX mostraram que, ao tratar

termicamente a PANI-ES, sua cristalinidade diminuiu. Ao analisar os perfis dos

difratogramas da TT(50), TT(100), TT(200) e TT(300) observou-se essa diminuição, e

alguns dos picos presentes na PANI-ES alargaram-se e outros desapareceram com o

aumento da temperatura. Os dados de DRX também foram utilizados para a estimativa

do percentual de cristalinidade e para o ajuste Le Bail. Através da estimativa do

percentual de cristalinidade foi constatado que a porcentagem de região cristalina das

amostras tratadas termicamente diminuiu. Para a PANI-ES o percentual foi 51 %, para

TT (50), TT (100), TT (200) e TT (300), os percentuais foram 39, 27, 22 e 19%.

Através do ajuste Le Bail foram obtidos os valores dos parâmetros de cela e

tamanho e forma de cristalito. Após o refinamento estrutural, o parâmetro de cela “b”

da PANI-ES foi modificado para a melhor acomodação dos contraíons cloreto oriundos

do ácido protônico à estrutura polimérica. Para as amostras TT(200) e TT(300), este

parâmetro retoma ao seu valor original devido à retirada dos contraíons da cadeia

polimérica devido o aumento de temperatura a partir de 200°C. Outro resultado obtido

por meio do ajuste Le Bail foi o tamanho médio dos cristalitos de cada amostra, os quais

diminuíram de 36 Å (para a PANI-ES) para 16 Å (para TT(300)), representando uma

diminuição de 56 % no tamanho dos cristalitos com o aumento de temperatura, ou seja,

na região ordenada da amostra.

Os espectros de FTIR foram importantes para a caracterização estrutural das

amostras e mostrou também que, ao se tratar a PANI-ES a 200°C, uma alteração

estrutural na cadeia polimérica foi observada devido ao surgimento da reação de

crosslinking, que causa uma reticulação na cadeia, porém, sem ganho de cristalinidade.

Os dados adquiridos através da técnica de SAXS exibem algumas mudanças nas

curvas 𝑝(𝑟) após o tratamento térmico, indicando que as partículas tiveram seus

formatos modificados pelo aumento da temperatura. O diâmetro máximo da partícula

(𝐷𝑚á𝑥) da PANI-ES, que era cerca de 650 Å, passa a ser de 450 Å após tratamento a

300 °C. Acompanhando esse fato, observa-se o deslocamento do 𝐷𝑚á𝑥/2 para a

esquerda, devido ao aumento de temperatura e, corroborando com as mudanças

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observadas nos formatos das partículas, que perdem seu caráter globular com o aumento

da temperatura, tornando-se mais prolatas.

As imagens de MEV mostraram que a morfologia da PANI-ES apresentou

nanofibras compostas por nanoesferas interconectadas e, após o tratamento térmico, as

amostras TT(50), TT(100), TT(200) e TT(300) não apresentaram mais essa

morformologia nanofibrilar, resultado este que pode estar associado com a perda de

cristalinidade e condutividade elétrica das amostras.

Através da obtenção das medidas de condutividade elétrica foi constatado que o

tratamento térmico causou diminuição nos seus valores. A PANI-ES apresentou 0,3 x

10-4

S/cm-1

, enquanto as amostras TT (50), TT (100) e TT (200) apresentaram valores

cada vez mais baixos, representando uma perda de aproximadamente 87 % até entre a

amostra original não tratada termicamente e a tratada a 200 °C. Não foi possível a

obtenção do valor da condutividade elétrica da amostra TT(300) devido à

impossibilidade de compactação do pó para a amostra sem água de hidratação.

Os resultados da condutividade elétrica estão de acordo com os obtidos por

DRX, SAXS e MEV, isto é, correlacionando todos os resultados obtidos por cada

técnica verifica-se que os dados adquiridos são complementares, ou seja, ao submeter a

PANI-ES a tratamento térmico através do aumento de temperatura, sua cristalinidade

diminui, causando assim, uma diminuição na condutividade elétrica. Isto foi

comprovado não apenas pelos perfis de DRX, como também pelo ajuste Le Bail através

da diminuição do tamanho médio dos cristalitos e estimativa do percentual de

cristalinidade. Com os dados de SAXS foi averiguada a modificação no formato das

partículas após o aumento de temperatura, com diminuição dos valores de diâmetros

máximos e raios de giro. Na análise morfológica das amostras, estes resultados puderam

ser ainda mais reforçados, observando-se a perda da morfologia nanofibrilar da PANI-

ES à medida que a temperatura foi aumentada. E por fim, com a obtenção dos valores

de condutividade foi confirmado que à medida que a temperatura de tratamento térmico

aumentava, a condutividade elétrica tendia para valores ainda menores.

Dessa forma, com este trabalho espera-se ter fornecido dados estruturais e

morfológicos sistemáticos da PANI-ES submetida ao tratamento térmico por aumento

de temperatura, podendo contribuir com a comunidade científica da área de materiais

poliméricos nanoestruturados.

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