A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

40
A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem

Transcript of A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Page 1: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A memória como ferramenta para o

diagnóstico de mudança da paisagem

Page 2: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

MEMÓRIAMEMÓRIA

“(...) a memória é como o ventre da alma.”

(Santo Agostinho)

Page 3: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A memória através dos A memória através dos tempostempos

A mudança do papel da memória no registro e A mudança do papel da memória no registro e

perpetuação da história dos povosperpetuação da história dos povos

Page 4: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Sociedades sem escrita:Sociedades sem escrita:

identidade coletiva baseada em mitos;

memória oral – poesias, canções,

histórias, lendas.

Grécia arcaica:Grécia arcaica:

memória era entendida como sagrada;

histórias transmitidas pelos bardos,

menestreis.

Page 5: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Grécia antiga:Grécia antiga:

difusão da escrita;

desvinculação da memória ao sagrado

(Platão);

a memória é uma função da capacidade

pelo qual compreendemos o tempo

(Aristóteles).

Page 6: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Idade Média:Idade Média:

detenção do conhecimento intelectual

pela Igreja;

absorção da memória pelo cristianismo

(Santo Agostinho);

divisão da memória – memória religiosa e

memória laica.

Page 7: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Tempos modernos:Tempos modernos:

a revolução da imprensa;

datas comemorativas – manutenção da memória nacional

arquivos nacionais – bibliotecas;

memória oral – retrato de um passado, sociedades sem escrita, classes populares.

Page 8: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Tempos Atuais:Tempos Atuais:

importância científica da memória como parte da história;

re-valorização da memória oral;

memória virtual.

Page 9: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Memória e HistóriaMemória e História

Page 10: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

História oral – relatos a respeito de fatos não História oral – relatos a respeito de fatos não

registrados por outro tipo de documentação, registrados por outro tipo de documentação,

ou cuja documentação se quer completar. ou cuja documentação se quer completar.

Colhida por meio de entrevistas – experiência Colhida por meio de entrevistas – experiência

de um indivíduo ou de vários indivíduos de um de um indivíduo ou de vários indivíduos de um

mesmo grupo.mesmo grupo.

Page 11: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

O “outro lado” da história, uma visão O “outro lado” da história, uma visão

diferente sobre fatos já descritos por outras diferente sobre fatos já descritos por outras

fontes.fontes.

Sujeitos que participam do fato – “sujeitos Sujeitos que participam do fato – “sujeitos participantes”.participantes”.

Complementação de fatores tradicionais. Complementação de fatores tradicionais.

Page 12: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Memória ColetivaMemória Coletiva

Page 13: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

As lembranças do grupo se afirmam umas nas As lembranças do grupo se afirmam umas nas

outras. outras.

Sobrevivência da memória do grupo.Sobrevivência da memória do grupo.

Page 14: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A memória é essencialmente coletiva. A memória é essencialmente coletiva.

É construída e “É construída e “re-construída” re-construída” a partir de a partir de

elementos da sociedade. elementos da sociedade.

A memória individual é representativa do A memória individual é representativa do

grupo social em que se insere.grupo social em que se insere.

Page 15: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A memória de um grupo social é fonte A memória de um grupo social é fonte

legítima de informação e reconstrução dos legítima de informação e reconstrução dos

acontecimentos que repercutem na história da acontecimentos que repercutem na história da

sociedade.sociedade.

Page 16: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

MetodologiaMetodologia

Page 17: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Etapas metodológicas Etapas metodológicas

Etapa 1: escolha da técnica de coleta a ser utilizada

1.Depoimento

2.História de vida

Page 18: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Etapa 2: escolha dos informantes, técnicas de

entrevista e de coleta

Critérios de seleção de informantes

Identificação – redes de informantes.

Número de informantes.

Esgotamento da amostragem.

Page 19: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Técnicas de abordagem:

informar sobre sua pesquisa;

nomes verídicos ou fictícios;

conforto do entrevistado;

utilização do gravador;

não insistir em obter informações;

saber ouvir;

saber conduzir a conversa.

Page 20: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Técnicas de coleta

As entrevistas gravadas devem ser

transcritas em seguida.

Anotar as emoções não verbalizadas.

Falas podem ser “reescritas” pelo

entrevistador – esclarecer

“explicitamente” – informantes e leitores.

Page 21: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Técnicas de coleta

Falas impressas em “itálico” e entre aspas.

O teor das entrevistas pode ser

complementado por outras fontes.

Page 22: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Memória e PaisagemMemória e Paisagem

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha

aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

(Fernando Pessoa)

Page 23: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Memória,

na paisagem ficam marcadas as tensões,

sucessos e fracassos da história de uma

sociedade.

na paisagem, marcas significativas da

evolução histórica de um povo.

na paisagem, o filtro do tempo, através dela

se pode “re-ler” o mundo.

Page 24: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Memória,

na paisagem, o espaço ocupado por um

grupo fica demarcado.

na paisagem, apagam-se as marcas, ficam os

rastros, a memória do grupo permanece.

A pesquisa em arquivos documentais e a

memória...

Confronto? Complementaridade? Novas leituras?Confronto? Complementaridade? Novas leituras?

Page 25: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

O conhecimento dos velhos moradores

permanece conservado em suas memórias.

Através da fala desses sujeitos a história das

relações econômicas, culturais e ambientais

circunscritas à cidade poderá ser recuperada.

A memória de uma população é uma forma

relevante de avaliação da qualidade dos seus

elos com seu espaço.

Page 26: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A amplitude do conhecimento da comunidade

sobre a trajetória sócio-econômica de seu

espaço.

E dos impactos ambientais decorrentes dessa

trajetória...

... diretamente relacionados com as

práticas/compromissos adotados em seu

cotidiano.

Page 27: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

São Carlos e a memória de

seus velhos

Page 28: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

Modelo de desenvolvimento...

decorrente da afirmação do modo de vida

urbano.

A memória coletiva pode trazer à tona o

quanto o desenvolvimento urbano acelerado

impactou à paisagem.

Page 29: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

A memória histórico-social é registro

cientificamente válido para a compreensão:

do processo de urbanização; dos impactos negativos ao meio

ambiente.

Page 30: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

O velho tem uma forte ligação com o seu lugar, O velho tem uma forte ligação com o seu lugar,

lembranças enraizadas no seu espaço, na sua lembranças enraizadas no seu espaço, na sua

paisagem habitual.paisagem habitual.

A modificação da paisagem da qual faz parte a sua A modificação da paisagem da qual faz parte a sua

vida...vida...

Page 31: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... a modificação da paisagem da qual faz parte a sua vida.

“O Monjolinho foi um rio que no começo ele

servia muito para lazer, quando as suas

águas eram limpas ainda. Ali, atrás da Santa

Casa, (...) era uma fazenda, (...), chácara do

Matos. Inclusive existia uma mata, (...), uma

mata grande com muitos pinheiros,

araucárias nativas. E a gente ia nadar no rio,

a água era limpa, a gente era molecada né,

(...).

Professor Mário Tolentino

Page 32: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... a modificação da paisagem da qual faz parte a sua vida.

“São Carlos era calçado de pedra, as pedras

compridas chamadas paralelepípedo. O

mercado era para cima do rio (...).

Ali na frente do mercado a cada distância

tinha um poste e cada poste era cheio de

argola, para amarrar os cavalos. Era cavalo

menina e aquelas carroça, blá, blá, blá... [faz

som com a boca], roda de ferro, trole de

quatro rodas.”

Sr. José de Queiroz Matos

Page 33: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... as velhas árvores que ofereciam sombra e descanso.

“... essa mata ciliar que tinha aqui atrás da

Santa Casa, as araucárias, isso aí desapareceu

faz muito tempo. Eu vi essa mata quando eu era

moleque, quando eu atingi os 18 já não tinha

mais. Quando a cidade expandiu-se para trás,

(...), já tudo isso foi destruído. Havia um

restinho de mata para o lado de lá do rio, que

depois foi destruído e plantado pinheiro, que

agora é da Castell (...) .Eu estou com 85 anos,

faz uns 70 anos que não tem mais mata.”

Professor Mário Tolentino

Page 34: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... as velhas árvores que se enfileiravam na rua de

sua casa, onde ao entardecer os pássaros faziam

algazarra.

“Aqui não existia, aqui Jardim Bandeirantes,

aqui era um campo. “(...) era tudo aquela

árvore lá, o trator arrancou um monte dessas

árvores “pra modo” de fazer o loteamento

sabe. (...) quantas vezes nós viemos apanhar

gabiroba, às vezes topava com veado sabe, o

veado saía correndo [imita som]. Tinha lobo,

muitas vezes o lobo esteve aqui. Tinha

jaguatirica.

Sr. José de Queiroz Matos

Page 35: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... o velho rio, hoje morto, que dava boas

pescarias e boas prosas com os amigos aos

finais de semana. “Aqui, eu pescava ali quando era moleque com

peneira nós pegávamos os peixinhos.

Qualquer lugar do Monjolinho dava peixe. Ele

era empoçado assim, cada distância ele

empoçava, fazia como uma lagoa, mais para

frente empoçava, mais para frente tornava a

empoçar, então era naquela poça que a gente

pescava, nadava também”.

Sr. José de Queiroz Matos

Page 36: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... o velho rio, hoje morto, que dava boas

pescarias e boas prosas com os amigos aos

finais de semana. “(...) dois colegas e nós íamos pescar aí no

rio Gregório, na Chácara do Petroni, Chácara

do Lazarini. Lá para frente tinha uma outra

chácara que tinha um lago para gente nadar.

Para lá tinha o pântano do Jardim Ricetti, por

ali a gente pescava (...). (...), dava lambari,

bagre, traíra.”

Dr. Hugo Colin Ferreira

Page 37: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

... o velho rio, hoje morto, que dava boas

pescarias e boas prosas com os amigos aos finais

de semana.

“Você matava o peixe com espingardinha, a

água tão limpa que estava.

Agora um dia está azul, outro dia está verde,

outro dia está vermelha, dá dó de ver. Tem

peixe, mais do jeito que está a água né.”

Sr. Luis Brevilhieri

Page 38: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

...lhe causam melancolia, indignação, resignação, mas as

lembranças continuam vivas, preservadas em sua memória.

“Mas São Carlos no meu tempo era bem mais

gostoso,

(...), a cidade era mais sossegada, mais tranqüila.

Antigamente não tinha supermercado, era tudo

armazém, (...), os supermercados engoliram os

armazéns.

Antes era mais saudável, a gente via as famílias

nas praças. Por exemplo, tinha esses “footing”, a

música antigamente era mais gostosa, mais

melodiosa. Eu acho que antigamente a vida era

mais saudável.”

Dr. Hugo Colin Ferreira

Page 39: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.

...lhe causam melancolia, indignação, resignação,

mas as lembranças continuam vivas, preservadas

em sua memória, na memória de seu grupo.

“Isso aqui, era muito mais bonito que uma

vila nova na cidade, todo domingo tinha

missa. Eh... aqui foi lugar bom, aqui foi lugar

bom. Agora hoje oh, está abandonado.”

Sr. Luis Brevilhieri

Page 40: A memória como ferramenta para o diagnóstico de mudança da paisagem.