Linguagem popular  Expressões Populares:

pega carestia da vida quebreiras de cabeça pobre diabo codilhassem jorna ....

Este conto tem uma linguagem popular, sendo que o conto baseia-se no povo.

Modos de expressão/Representação literária

Exemplo de excerto narrativo: "Ora um domingo, o Silvestre ensarilhou-se, sem querer, numa disputa colérica com o Ramos da loja."

Exemplo de excerto descritivo: "Até que o Perdigão dos Cabritos entrou pela ponte norte da aldeia, com o cavalo carregado de reses, num dia de feira, e se azedou com o taberneiro, quando trocava um borrego por vinho."

Num texto narrativo é contada uma situação, uma história, seja ela verdadeira ou ficção. Engloba personagens e desenvolve ações ao longo do tempo. Envolve um narrador, espaço e enredo.

Num texto descritivo é caracterizada uma situação, um personagem, uma época, um local, sem que haja alteração. É como se fosse uma fotografia traduzida por meio de palavras, com muitos detalhes, de forma ao leitor criar na sua mente a imagem ou situação que está a ser descrita.

A principal característica que diferencia estes dois tipos de texto é o movimento.

Narrador

Quanto à sua presença é:

Heterodiegético - A narração é feita na 3ª pessoa, não se identifica nem com o protagonista nem com as restantes personagens.

Exemplos: "Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém.";                  "Também o Ramos não via o fundo ao significado de inócuo.".

Quanto ao seu ponto de vista é de:

Focalização omnisciente - O narrador revela um conhecimento absoluto, quer dos acontecimentos, quer das motivações. É capaz de penetrar no íntimo das personagens, revelando os seus pensamentos e as suas emoções.

Exemplos: "Mas disse-o sem um desejo de discórdia (...)".;

                 "Silvestre já se dispusera a ouvir tudo com resignação.".

Personagens

Principal

Silvestre

Secundaria

Ramos Filho do Gomes Juiz

Figurantes

Paulino Mulher de Paulino Sujeito de gabardina Perdigão dos Cabritos Taberneiro Caldeireiro Freguês Ajudante do caldeireiro Mulher do Gomes Bernardino da Fábrica Advogado

Toda a ação se desenvolve à volta de Silvestre, personagem principal, os personagens secundários participam na ação mas não têm um papel tão importante quanto Silvestre. Os figurantes apenas contextualizam a ação no espaço social.

 Caracterização de Silvestre:

Silvestre era viúvo e não tinha filhos e era herdeiro de terrenos pequenos; Era  uma pessoa pacífica - "Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com

ninguém.";  Era benevolente - "Dar aliviava."; Era uma pessoa tambem paciente e conformada - "já se dispusera a ouvir tudo

com resignaçao". Mostra ainda ser um homem atento a questoes sociais - "no seu entender,

dada a carestia da vida, o trabalho de um homem de enxada não era...bem pago.".

Recursos Expressivos

Comparação: “… ferido de espora…”

Metáfora: “… aquele sabor redondo a moca grossa de ferro, cravada de puas.”

Hipérbole:  “ Era possível apanhar com o palavrão na cara e ficar cheio de peste.”

Perifrase: "Longos meses a palavra maldita andou por lá descarregando o ódio das gentes.(…) Vinha em farrapos…”

Personificação: " Toda a gente conhecia já a opinião do dicionário."

Resumo do Conto

Silvestre, um pacato viúvo sem filhos, vive numa vila onde todos usufruem da sua boa vontade. Um dia, envolve-se numa discussão com o Ramos da loja, que o trata de inócuo, palavra que ouvira num folhetim.

O rumor faz com que a palavra maldita se espalhe pela freguesia, conotada de sentidos pejorativos e pronunciada de maneiras diversas. Começa por significar vadio, passando a bêbedo na boca da mulher do Paulino. Mais tarde, quando um vigarista vendedor de drogas entra na aldeia, a palavra ganha o sentido de trampolineiro ou ladrão dos finos e, quando a Rainha mata o marido da amante, sendo catalogado com o mesmo termo, “inoque” já significa devasso e assassino.

Como uma bola de neve, a palavra transforma-se num insulto terrível, chegando ao Perdigão dos Cabritos e, meses depois, a um cabeleireiro que chegou à vila, adquirindo então novos significados como parricida, incendiário, pederasta ou escroque, sendo até utilizada para desabafos do género poça ou bolas.

Quando começaram a ser julgadas as primeiras queixas no tribunal da vila contra a injúria de “noque”, “inóque” ou “inóquo”, o juiz, apercebendo-se do verdadeiro significado da palavra, fica incrédulo perante a confusão gerada, pois inócuo significa “que não faz dano, inofensivo”. E foi assim que Bernardino, um dos primeiros queixosos, perdeu a causa.

Tempo / Espaço

TEMPO

Referentes temporais- Neste conto não existem referentes temporais pelo simples facto de ser um conto, um conto não tem referentes temporais.

ESPAÇO

Espaço físico - Uma pequena aldeia montanhesa portuguesa. Espaço social - Ambiente rural com uma população, maioritariamente, quase

analfabeta.

Se o espaço não fosse rural com uma população quase analfabeta não teria havido a questão linguística que dá origem ao conto. É este espaço social que permite criar uma história em torno de uma palavra mal entendida que provoca desavenças e mal-entendidos.