A poesia de José Craveirinha e sua relação intrínseca entre a negritude e a colonização...
-
Upload
mirella-de-carvalho -
Category
Documents
-
view
3 -
download
0
description
Transcript of A poesia de José Craveirinha e sua relação intrínseca entre a negritude e a colonização...
A poesia de José Craveirinha e sua relação intrínseca entre a negritude e a
colonização portuguesa.
Universidade de São Paulo
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa II
Mirella de Carvalho
Nº USP: 7613181
RESUMO: Este texto tem como objetivo analisar o poema “Grito Negro” de José Craveirinha,
poeta moçambicano militante na luta pela independência de seu país, relacionando-o com a questão da
negritude e da colonização.
PALAVRAS-CHAVE: José Craveirinha; Negritude; Colonização; Moçambique;
O colono só tem um recurso:
a força, quando esta ainda lhe sobra;
o indígena só tem uma alternativa:
a servidão ou a soberania.
(Jean-Paul Sartre)
Considerado um dos poetas mais importantes de Moçambique, José Craveirinha
transformou em arte sua inquietação diante das injustiças cometidas em seu país por
conta da colonização portuguesa. Através de sua obra, denuncia a realidade vivenciada
pelo povo moçambicano, bem como a busca de uma identidade nacional e a luta pela
liberdade. Apesar de sua linguagem simples, Craveirinha possui uma maneira original
de construção poética, utilizando-se de antíteses, vocativos e imagens marcantes,
resultando em versos repletos de metáforas, que expressam com fidelidade as
experiências vividas.
Publicado em 1964, o livro Xibugo se enquadra na fase intitulada “Negritude”,
onde o autor expressa sua revolta contra os brancos, ao mesmo tempo em que exalta
suas raízes e exprime o orgulho de ser africano. Estando ainda sob o domínio dos
portugueses, o povo moçambicano sofre com a exploração estrangeira e com a
discriminação, que não acontece somente por causa de sua condição social, mas também
pela cor de sua pele.
Fazendo parte deste livro, o poema “Grito Negro” denota a situação do
colonizado que está sob o jugo do colonizador português. É composto de 24 versos,
sendo 18 terminados em “ão”, que constroem a rima e o ritmo. Estão dispostos em 6
estrofes, não havendo métrica definida. Para intensificar o sentimento de revolta diante
da situação apresentada, o autor utiliza a exclamação (“Eu sou carvão!”) e o vocativo
(Patrão!).
Ao dizer “Eu sou carvão!” o sujeito lírico metaforiza, através de sua cor negra, a
força de trabalho que serve, assim como o carvão, de combustível gerador de todo o
lucro do patrão. De maneira irônica, se coloca a serviço do dominador, ironia que vai se
modificando ao longo dos versos, quando o sujeito lírico indica que é justamente a
exploração de seu trabalho que irá trazer a ruína do colonizador, ou seja, quanto mais o
branco tenta dominar e alienar o negro, mais este irá lutar por sua liberdade.
Nos versos “E tu acendes-me, patrão / Para te servir eternamente como força
motriz / Mas eternamente não / Patrão!”, a afirmação do “servir eternamente” e a seguir
a negação deste, caracteriza uma antítese entre o trabalho forçado e a luta do subjugado
por liberdade, demonstrando que estes estão intimamente ligados. Isto é confirmado nos
versos “Tenho que arder na exploração / Arder até às cinzas da maldição / Arder vivo
como alcatrão, meu irmão / Até não ser mais tua mina”, quando o sujeito lírico explicita
seu sofrer e enfatiza que este é necessário para que o patrão não tenha mais a mina de
carvão para si, porque assim que o negro conseguir sua liberdade através da luta pela
independência, o branco perderá seu poder. E ao final, toda essa ideia é salientada pela
última estrofe: “Sim! / Eu serei o teu carvão / Patrão!”
Referências bibliográficas:
BALTAZAR, R. Sobre a poesia de José Craveirinha. Via Atlântica, Revista da Área de
Pôs-Graduação em Estudos Comparados de Literatura Portuguesa, São Paulo, n.5, 2002.
MENDONÇA, F. O conceito de nação em José Craveirinha, Rui Knopfli e Sérgio
Vieira. Via Atlântica, Revista da Área de Pôs-Graduação em Estudos Comparados de
Literatura Portuguesa, São Paulo, n.5, 2002.
NOA, F. José Craveirinha: para além da utopia. Via Atlântica, Revista da Área de Pôs-
Graduação em Estudos Comparados de Literatura Portuguesa, São Paulo, n.5, 2002.
SILVEIRA, J. Impoética Poesia. Via Atlântica, Revista da Área de Pôs-Graduação em
Estudos Comparados de Literatura Portuguesa, São Paulo, n.5, 2002.