A polêmica em torno de Tilted Arc: um precedente perigoso ...

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Richard Serra, Tilted Arc,

1981, Nova YorkFoto: Anne Chauvet, cortesia de

Richard Serra

Para Burt, meu primeiro e últimoleitor, companheiro de vida

1 Encomenda, instalação, remoção

É necessária a combinação de dois ele-mentos críticos para que se manifesteuma polêmica em arte: é preciso haver apercepção de que valores foram amea-çados e, como reação, uma mobilizaçãodo poder para lidar com essa ameaça.

Steven C. Dubin

A encomenda

Durante todo o ano de 1979, a GSA (USGeneral Services Administration) foi assola-da por escândalos de corrupção, envolven-do propinas recebidas de empresas pri-vadas. Como repartição governamentaldesignada para aquisições, a agência gas-tava aproximadamente cinco bilhões dedólares anuais; mas havia suspeitas de rou-bo e corrupção, resultando em perdas demilhões de dólares por ano. Depois denumerosos processos por fraude, váriosfuncionários da GSA foram condenados àprisão.1 Parece que a arte, para a GSA, erao menor dos problemas.

A polêmica em torno de Tilted Arc:um precedente perigoso?

Harriet F. Senie

A polêmica história da escultura de Richard Serra, Tilted Arc, para a Federal Plaza

em Nova York é aqui reconstituída desde as discussões iniciais que levaram à enco-

menda em 1979, até o desfecho, 10 anos mais tarde, com sua remoção. A declara-

ção de Serra, para quem “remover a obra é destruir a obra”, marcou esse episódio

que impulsionou ampla reflexão e debate sobre a arte e o espaço público.

Richard Serra; Tilted Arc; arte e espaço público.

Quando encomendaram a Richard Serrauma escultura para a Federal Plaza, em 1979,Donald Thalacker, então diretor do progra-ma Arte na Arquitetura da GSA, havia aca-bado de escrever um livro documentandosuas realizações.2 Jay Solomon, indicado pelopresidente Jimmy Carter como administra-dor da GSA em 1977, era um fiel defensordo programa. E o apoio dado às artes porJoan Mondale, mulher do então vice-presi-dente, era tão flagrante, que era comum re-ferir-se a ela como “Joana d´arte”. QuandoJay Solomon deixou o cargo em 1979, opresidente Jimmy Carter o substituiu peloalmirante de reserva Roland G. Freeman III,que, final e aparentemente sob pressão,aprovou a escultura Tilted Arc para a Fede-ral Plaza.3

De acordo com os procedimentos de pra-xe da agência, o processo de encomendacomeçou com a recomendação, pelo arqui-teto construtor, de inclusão de uma escul-tura na praça.4 Três firmas de arquiteturaestavam envolvidas no projeto da FederalPlaza: Kahn and Jacobs, Alfred Easton Poore Eggers and Higgins. Em 1968, quando ter-minou a construção do edifício da US Courtof International Trade (Customs Court) e

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do Jakob K. Javitz Federal Office Building,quatro obras de arte foram planejadas paraos dois edifícios. Uma águia no lobby e umaparede de mosaico na ala sul foram enco-mendadas para o edifício da Court ofInternational Trade. Uma escultura deRobert Crombach para a fonte da praça eum emblema dos Estados Unidos por SallyAnn Carr foram cogitados para o lobby doFederal Office Building, mas não foram en-comendados.

Em 1973, Alfred Easton Poor recomendou“uma escultura abstrata” de aço ou bronzeque combinasse com a cor do metal usadona entrada frontal do edifício. A esculturadeveria ter entre nove e 11 metros de altu-ra e entre 2,5 e três metros de largura emseu ponto mais largo, e deveria apoiar-sesobre base sólida de granito. Ele sugeriu queAlexander “Caulder (sic)” fosse o escultor.5

Depois da morte de Calder em 1976, o ar-quiteto recomendou “uma escultura abstra-ta feita por um artista de igual prestígio eimportância”. Em 1977, Alfred Poor recla-mou com Thalacker que continuava aguar-dando a resposta a sua proposta. Naqueleano, as políticas de encomendas artísticas daGSA foram alteradas para incluir “especialis-tas em arte”, preferencialmente da comuni-dade local. Em 1978, os critérios de seleçãoforam mais uma vez modificados. Dessa vezos procedimentos especificavam que pelomenos um dos membros da comissão fosse“especialista em arte contemporânea e daregião em que o projeto seria realizado.”

Dez anos se passaram entre a finalizaçãodo edifício e a encomenda de uma escultu-ra. A comissão de seleção indicada pelo NEA(National Endowment for the Arts) era for-mada por Suzanne Delehanty, então dire-tora do Neuberger Museum de Suny, emPurchase; Ira Licht, então diretor do LoweMuseum da Universidade de Miami; eRobert Pincus-Witten, crítico e historiador

de arte de Nova York. Tanto Delehantycomo Licht já haviam participado de comis-sões de seleção da GSA. Licht fora diretordo Programa de Artes Visuais do NEA du-rante o confronto entre Serra e Venturi e oPADC (Pennsylvania Avenue DevelopmentCorporation), e Pincus-Witten escrevera ex-tensivamente sobre Serra.6 Joseph Colt repre-sentava os arquitetos do projeto e participouda comissão como membro não votante.

Em 20 de julho de 1979, a comissão de se-leção encontrou-se na Federal Plaza emNova York. Alguns questionaram se aqueleespaço, “meticulosamente planejado”, pre-cisaria de uma escultura.7 Examinaram slidesde cerca de 50 artistas e debateram se seriamais sensato escolher um escultor proemi-nente da década de 1960 ou algum impor-tante artista mais jovem. Delehanty lembrouque Nova York ainda não havia feito enco-mendas de obras de arte significativas deprodução recente. Pincus-Witten argumen-tou que a Federal Plaza era espaço de gran-de visibilidade pública e que a seleção deve-ria ser audaciosa, e não conservadora. Asargumentações mais convincentes,freqüentemente reiteradas, eram sobre aqualidade do trabalho e sua adequação aolocal. Tinha sido esse, e por tempo conside-rável, o princípio regulador da seleção deartistas para projetos de arte pública.

Cada membro da comissão manifestou suapreferência por certos artistas. Colt, repre-sentante dos arquitetos, apoiava inicialmen-te Ronald Bladen, Cristopher Wilmarth eNancy Holt; em uma segunda seleção, elevotou por Nancy Holt, Robert Irwin e Bladen.Os seis artistas indicados à GSA e classifica-dos em ordem de preferência foram RobertIrwin, Richard Serra, Donald Judd, RobertRauschenberg, Ronald Bladen e EllsworthKelly. Irwin, a primeira opção da comissãode seleção, foi eliminado por já ter aceitouma encomenda da GSA para a recente re-

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novação do prédio dos correios naPennsylvania Avenue, em Washington, D.C.,que abrigava, entre outras coisas, os escritó-rios do NEA e do National Endowment forthe Humanities – NEH. Irwin, artista daCalifórnia conhecido por seu interesse na luz,criou uma peça suspensa e transparente parao átrio. Serra, um tipo bastante diferente deescultor, tornou-se então, automaticamente,a primeira opção da comissão de seleção.

Em 16 de agosto de 1979, a comissão deexames de projetos da GSA – composta porDavid Dibner, comissário-assistente de pro-jetos e construção, Walter Roth, diretor doprograma Arte na Arquitetura e de preser-vação histórica, e Karel Yasko, conselheirado programa – acatou a decisão da comis-são de seleção e recomendou Serra. A reco-mendação foi aprovada por Freeman, admi-nistrador da GSA, em 31 de agosto.

Em 3 de março do ano seguinte, Serra apre-sentou sua proposta para Tilted Arc à co-missão de projetos da GSA, cujos membrosvotantes eram Mike Marshal (comissário deserviços de prédios públicos), David Dibnere Karel Yasko. As anotações de um dosmembros da comissão do programa Artena Arquitetura indicavam que “O senhorMarshal não gosta do projeto!”. Yasko ob-servou que “John Q. Public* vai achar que éum muro”. E Dibner assim o classificou: “sim-bolismo como barreira”.8

Serra, conhecido por seu temperamento emagoado por sua recente experiência comVenturi e a comissão do PADC, explodiu.Julia Brown, coordenadora do projeto naGSA, tranqüilizou o artista e tentou prote-ger o projeto. O administrador Freeman foiconvocado e conseguiu manter a proposta.Consta que, como engenheiro e almirante,Freeman teria ficado bem impressionado,tanto pelas referências da peça ao desenhode embarcações quanto pela qualidade téc-nica do projeto,9 o que mais tarde viria a

negar, alegando que Joan Mondale torceraseu braço para que ele aprovasse o projeto.Em 1985, assim se referiu ao episódio:

Havia total discordância em relação àcolocação da escultura naquele lugar.Eu também era contra. Mas fui envolvi-do em um problema político, e foi combase nisso que a decisão foi tomada.Eu já tinha bastantes problemas, estavatentando organizar as coisas na GSA enão precisava daquilo... Recebi uma re-comendação do NEA, e havia fortesentimento por parte de muita gentede que o senhor Serra faria um bomtrabalho. Para mim aquilo era um pe-daço de sucata. Jamais gostei de metalenferrujado. Sou um oficial graduado eodeio ferrugem! É algo que simplesmen-te não me agrada.10

Segundo a reconstituição dos fatos prepara-da em 1985 por Fran Hodsoll, então diretordo NEA, e por Richard Andrews, diretor doPrograma de Artes Visuais, a comissão deprojetos estava dividida, mas reticente emrelação à escultura de Serra. Freeman “con-cedeu uma aprovação provisória ao projetona época, condicionada à solução de pro-blemas técnicos, tais como pressão do ven-to, impermeabilização da praça, etc.” Se hou-ve algum contato com a Casa Branca – as-sim o relatório especulava – ele se deu du-rante o período de aprovação condicional,baseado em “um desejo de informar oualertar o vice-presidente, uma vez que o tra-balho se mostrava problemático e que seuescritório apoiara o programa Arte na Ar-quitetura da GSA.11

No entanto, apesar das fortes reservaspessoais, os membros mais influentes daGSA aprovaram o projeto de Serra. Na-quela época, esse parecia ser o caminhode menor resistência.

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A evolução artística de Tilted Arc

Numa entrevista ao crítico de arte DouglasCrimp publicada em 1980, um ano depoisda encomenda da escultura pela GSA masantes de sua instalação, Serra declarou:

No início, o espaço da Federal Plazanão me interessava. É um “pedestal es-pacial” em frente a um edifício público.Há uma fonte na praça, próximo à qualnormalmente se esperaria que houves-se uma escultura, de modo que o con-junto geral embelezasse o edifício. En-contrei um modo de deslocar ou alte-rar a função decorativa da praça e defazer as pessoas entrarem no contextoativo da escultura. Pretendo construiruma obra de aproximadamente 36metros de comprimento, em um largosemicircular. A escultura vai atravessaro espaço todo, bloqueando a vista darua para a Courthouse e vice-versa.Terá 3,70m de altura e uma inclinaçãode 30cm na direção da Courthouse edo Federal Building. Será um arco bas-tante suave que envolverá com seuvolume os transeuntes que caminhempelo espaço da praça.

Quando Crimp perguntou se sua intençãoera bloquear as vistas existentes, Serra res-pondeu: “Não. A intenção é trazer o especta-dor para dentro da escultura. O posi-cionamento da obra transformará o espaçoda praça. Depois que a peça for instalada, oespaço será compreendido fundamental-mente como uma função da escultura.”12

Serra via a Federal Plaza como uma repre-sentação do sistema judiciário americano, enão queria que sua peça se tornasse um sím-bolo daquele sistema.13 Ele estava conven-cido de que, para manter sua integridade, aarte tinha que ser de oposição.

A obrigação do escultor é definir o queseja escultura, e não ser definido poruma estrutura de poder que lhe pede,e isso enquanto você está construindosua escultura, que por favor faça esselugar ficar mais bonito. Para mim essa éuma noção totalmente falsa, porque anoção deles de beleza e a minha no-ção de ... escultura estão sempre, inva-riavelmente, em pólos opostos.14

Na época em que Serra criou Tilted Arc, eleestava apenas começando a trabalhar compeças curvas. Havia recentemente termina-do St. Johns´s Rotary Arc para um terrenopróximo dali, no sul de Manhattan, e estavadesenvolvendo uma nova escultura forma-da por dois arcos (Clara-Clara) para umaretrospectiva de sua obra, agendada para1983 no Beaubourg, em Paris. Na FederalPlaza ele estava explorando a diferença en-tre utilizar a inclinação de um plano ou umaseção de cone. Como sempre, Serra busca-va na prática suas soluções formais:

Tilted Arc é uma chapa retilínea do-brada 30 centímetros ao longo de suaelevação. Foi fincada no chão pelas duasextremidades, de modo que sua seçãocentral corre nivelada ao chão. Quan-do se curva a chapa sem cortá-la, o fatode o centro estar se desenvolvendocontinuamente ao longo do chão fazcom que o topo sirva de coroamento,de modo que a peça se eleve na partecentral. Outro modo de se conseguiro mesmo efeito sem essa elevação esem chumbar o trabalho no chão seriacortar a chapa. Você teria que cortá-lana base e no topo para então dobrá-la.O que se acaba obtendo com esse pro-cedimento é uma seção de cone. Sevocê pegar uma seção de um cone einvertê-la em uma direção, ela vai agircomo a borda de uma frigideira, e sevocê inverter essa mesma peça, elaentão vai funcionar como um vaso de

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flores de cabeça para baixo. Um resul-tado do trabalho com uma forma cônicaé a obra realizada em Paris (Clara-Cla-ra), em que se tem uma seção de coneafastando-se de você e uma inversãoda mesma seção inclinando-se em suadireção. Quando essas partes sãoposicionadas justapostas e próximasuma da outra, obtém-se uma torçãoparalela no centro.15

Serra freqüentemente trabalha em váriosprojetos simultâneos. Além de estabelecerrelações com seu lugar de implantação, cadapeça estabelece também um marco em suaevolução artística. Serra desenvolveu TiltedArc de forma semelhante a suas esculturassite-specific. Trabalhando a partir do terre-no e de fotografias, experimentou inicialmen-te modelos reduzidos construídos em umacaixa de areia em seu estúdio ali perto, paraentão testar suas idéias repetidamente noespaço real:

O mais demorado do processo é otempo para me familiarizar com o es-paço. Raramente você descobre umjeito de lidar com o espaço em umaprimeira visita. Geralmente é assimquando se concebe uma peça, é quasesempre um processo de visitar o terre-no, trabalhar com fotografias, trabalharcom modelos, distanciar-se, construirmaquetes, voltar e testá-las, confron-tando-as com aquilo que você achouque seria uma experiência coerente,para então descobrir que não era o casoe daí mudar o projeto.16

Quando achou que tinha a solução corretapara a Federal Plaza, Serra ergueu 10 esta-cas de três metros de altura no terreno edemarcou a curvatura do arco com fios, cer-tificando-se de que ela correspondia a suasintenções artísticas, sem interferir no tráfe-go de pedestres. Submeteu então sua pro-posta à GSA.

Nos dois anos seguintes, trabalhando como engenheiro Malcolm Graff, Serra conside-rou as preocupações da GSA com o fluxode pedestres, drenagem, iluminação, pres-são do vento e peso da peça.17 Em dadomomento de fevereiro de 1981, Dibner,comissário-assistente de projeto e constru-ção da GSA, determinou que o programaArte na Arquitetura retardasse a instalaçãoda escultura até o final do verão, quandoteriam terminado os cortes no orçamentoe de impostos pelo presidente Reagan.18 De-pois disso, quando os protestos começaram,a GSA quis apressar a instalação e terminá-la em 30 dias, em vez dos três meses pre-vistos no contrato. Dessa vez o contrato foimantido.

As primeiras reações

Serra nos lembra que “As manifestaçõesde protesto começaram durante a cons-

Richard Serra,Tilted Arc,

1981, Nova York

Fotos: Burt Roberts e Robert

Mcelroy, cortesia de Richard Serra

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trução da peça, daí que os operários [tra-balhando na instalação da escultura] esta-vam sofrendo muita pressão. Algumaspessoas, mais exatamente juízes, sentin-do-se ultrajadas, atiçavam o fogo dospopulistas”. Apesar dessa primeira reaçãopública negativa e de suas experiênciasanteriores, Serra ficou surpreso com aveemência da oposição à escultura:

Eu estava na Alemanha quando os pri-meiros protestos de fato começaram.Voltei a Nova York, revi a peça e, semquerer parecer excessivamente ingê-nuo, eu não compreendia muito bem arazão de toda aquela comoção. Querodizer, eu achei que estava sendo usadocomo bode expiatório por algum mo-tivo. É certo que a peça impõe sua pre-sença, mas ela possui também um cer-to lirismo, e eu realmente procuravaentender de que eles estavam falandoem relação a sua agressividade, porque apeça tem um caráter fortemente lírico.19

Depois que Tilted Arc foi inaugurada, em16 de julho de 1981, Richard Serra foi con-vidado pelo NEA à Casa Branca e congratu-lado pelo presidente Reagan por sua “con-tribuição ao patrimônio cultural dos EstadosUnidos”.20 Concomitantemente, e pratica-mente desde a inauguração, Edward D. Re,juiz presidente da US Court of InternationalTrade [Corte de Comércio Internacional],localizada na Federal Plaza, começou a re-clamar da escultura. Em carta datada de 27de julho e endereçada à GSA em Washing-ton, o juiz protestava que a escultura era umabarreira arquitetônica que destruía aespacialidade e a utilização da praça.

Em artigo de 7 de agosto no New York Ti-mes, a crítica de arte Grace Glueck classifi-cou Tilted Arc como “uma peça incomoda-mente agressiva, provavelmente a obra dearte pública mais feia da cidade”.21 O juiz Recitou o artigo de Glueck em sua próxima

carta à GSA, de 18 de agosto, pedindo pro-vidências no sentido de “evitar sua instala-ção na praça em caráter permanente (a peçajá estava instalada) e visando a sua remoçãodefinitiva”.22

Gerald P. Carmen, administrador da GSA,não respondeu à carta até o mês seguinte,quando recebeu duas petições de funcioná-rios federais que trabalhavam na Federal Plazae em suas imediações, solicitando a remo-ção da escultura. Uma das petições, assina-da por mil funcionários do Departamentode Habitação e Desenvolvimento Urbano,reclamava que a escultura bloqueava as en-tradas principais, tornando o acesso “incô-modo e confuso”, e que a peça “destruíabrutalmente as vistas e amenidades da pra-ça”, projetando “uma sombra agourenta eameaçadora”. Outra petição, esta com 300assinaturas recolhidas pela Agência de Pro-teção Ambiental (Environmental ProtectionAgency), protestava contra o uso do dinhei-ro de contribuintes para “desfigurar a pra-ça”, “bloquear a visão e perturbar o cami-nho dos pedestres”, e contra a esculturacomo um potencial “atrativo para grafiteiros”.

Charles LeDuc, administrador regional as-sistente em Nova York de serviços em edi-fícios públicos, não se mostrou particular-mente preocupado: “Há aproximadamente10 mil empregados no edifício, e se há 1.300assinaturas contra a escultura, provavelmen-te haverá também 1.300 a favor dela. Nãoconsideraríamos a remoção da obra, nãovemos nenhuma necessidade disso”.23 Con-tudo, as petições forçaram uma resposta deWashington. Carmen, administrador da GSA,assegurou ao juiz Re que visitaria a esculturaem sua próxima viagem a Nova York e quededicaria atenção às preocupações do juiz.24

Durante essas etapas iniciais da controvérsia,o juiz Re continuou a escrever à GSA, e osescritórios de arquitetura instalados no edifí-cio começaram a reclamar (indevidamente)de que não haviam sido consultados.

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Em 1982, provavelmente em função das re-clamações em relação a Tilted Arc, a GSAemitiu uma norma visando estabelecer co-missões mistas, formadas por cidadãos lo-cais e usuários dos edifícios, nos estágios ini-ciais do processo de encomenda de proje-tos de arte. Contudo, esse procedimentonão era claramente definido (quanto aonúmero de indivíduos envolvidos e aoscritérios de sua escolha), nem formalizado.Ainda que o procedimento não fizesse par-te do processo oficial de seleção na épocada comissão de Serra, a ausência de repre-sentantes da comunidade foi mais tardeapontada pelos administradores da GSAcomo fator especialmente importante nacontrovérsia a respeito de Tilted Arc.25

Durante grande parte de 1982 e todo o anode 1983, nada de novo aconteceu. Emborao escritório regional da GSA em Nova Yorktenha procurado Serra para consultá-lo so-bre como remover os grafites da escultura,pareceu por algum tempo que a enxurradainicial de protestos, uma ocorrência comumem casos de arte pública, havia de fato ter-minado. Então, em 1984, William Diamondfoi nomeado administrador geral da GSA emNova York, e as reclamações contra a escul-tura voltaram a ser orquestradas com a for-ça de uma escalada final.

A audiência pública

Decisões tomadas como parte de con-frontações de poder serão tomadas emfavor do lado mais poderoso, e os as-sim chamados critérios ou diretrizes queostensivamente formam a base dasdecisões serão curvados e distorcidos,quase sempre tornando-se irreconhe-cíveis ao longo do processo.

John J. Costonis

O conflito local tornou-se um espetáculomundial a partir da assim chamada audi-

ência pública em Nova York presidida porDiamond. As reclamações do juiz Re haviamficado restritas a correspondências entreagências e reuniões informais; as ações deDiamond foram mais públicas e agressivas.Ele começou solicitando ao programa Artena Arquitetura um procedimento de remo-ção da escultura.

Há dois relatos sobre o que ocorreu na reu-nião no escritório de Diamond em 16 denovembro de 1984.26 Segundo MarilynFarley, do programa Arte na Arquitetura,Diamond foi informado de que não haviaprecedentes para o que seria, para todos osefeitos, “um processo longo, extenso e com-plexo”; e ele, por sua vez, sugeriu e insistiuna realização de uma audiência pública. PaulChistolini, do escritório de Diamond (depoisindicado para a comissão da audiência), atri-buiu a Farley a sugestão de um fórum públi-co. Como Diamond estava determinado acontinuar, e como o programa Arte na Ar-quitetura dificilmente iniciaria um processode remoção sem uma política definida, orelato de Farley é mais plausível.

Em 5 de dezembro de 1984, Diamond ins-truiu Chistolini a anunciar uma audiênciapública agendada para primeiro de feverei-ro de 1985.27 Também requisitou uma esti-mativa de custos para a remoção (aproxi-madamente 86 mil dólares para removerTilted Arc, restaurar a praça e reinstalar aescultura a 160 quilômetros de Nova York).Ao mesmo tempo, Diamond enviou cartasa diversas instituições de arte, incluindo oMuseum of Modern Art (MoMA) e oCooper-Hewit Museum, perguntando seestariam interessados em receber a escul-tura.28 O Storm King Art Center, emMountainville, estado de Nova York, expres-sou interesse pela escultura, até ser informa-do de que Serra não havia sido consultado.

Em 13 de dezembro, Diamond encontrou-se com Donald Thalacker em Washington.

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Segundo Thalacker, Diamond elogiou o pro-grama e afirmou que Tilted Arc jamais seriaremovida com base no simples fato de aspessoas gostarem ou não da obra, e que paratodos os efeitos a escultura só seria removi-da se houvesse algum lugar mais favorável eapropriado. Reiterando sua imparcialidade,ele pediu a Thalacker que apoiasse a au-diência pública agendada para primeiro defevereiro de 1985. Thalacker, por sua vez,pediu que a audiência fosse adiada, uma vezque o programa Arte na Arquitetura tinhaum compromisso agendado para 30 de ja-neiro de 1985, quando receberia um prê-mio presidencial pelo apoio corajoso dadoa “tantos trabalhos de arte estimulantes emuitas vezes polêmicos, em espaços públi-cos por toda a nação.”

Em 29 de dezembro, Diamond foi citado noNew York Times: “Quero deixar bem claroque não se trata de um ataque à estética doartista... O que nos preocupa seriamente éo fato de que essa obra, ao longo de trêsanos e meio, tornou impossível o uso daFederal Plaza pelo público e pela coletivida-de.”29 Como resposta, Serra perguntou aDiamond se seria possível organizar umfórum educacional, para que ele pudesse“explicar sua arte e sua função para as pes-soas do Federal Office Building”.30 Diamondrecusou.

Notícias sobre a assim chamada audiência,marcada para os dias 6, 7 e 8 de março de1985, foram publicadas no New York Timese no Village Voice em 23 de dezembro de1984, e de novo em primeiro de janeiro de1985. Diamond distribuiu mais de mil cartas,declarando que “O propósito da audiênciaé decidir se a obra de arte conhecida comoTilted Arc, atualmente localizada na praçado lado leste do edifício Jacob K. Javitz emManhattan, deveria ou não ser removida,com o fim de melhorar a utilização públicado espaço”.31 No final de fevereiro, Serra,

mobilizando as forças do mundo da arte,distribuiu uma ampla correspondência pe-dindo aos que o apoiavam que se manifes-tassem a seu favor e que remetessem aDiamond uma declaração por escrito.

Antes da audiência, o escritório regionalda GSA também distribuiu panfletos (eminglês e em chinês) nos edifícios federaise em áreas próximas. Os panfletos mostra-vam um arauto público vestido com trajesde revolucionário, incitando o povo com apalavra MANIFESTE-SE! A audiência, afirmavao panfleto, iria considerar “meios de utilizarmais integralmente o largo do edifício volta-do para a Lafayette Street. Isso poderia in-cluir o remanejamento da grande esculturade metal conhecida como Tilted Arc”. À frasefinal – “Gostaríamos de ouvir você” – se-guia-se um número de telefone a fim demarcar horários para colocar em prática o“manifeste-se”.

Diamond também deixou petições e formu-lários no lobby do edifício federal. A peti-ção, intitulada “Pela realocação”, dizia “Nós,abaixo-assinados, entendemos que o traba-lho conhecido como Tilted Arc representauma obstrução da praça e que deveria serremovido para local mais apropriado. Osindivíduos cujos nomes na lista estão assina-lados com um asterisco não reconhecemqualquer mérito artístico na obra de Serra”.32

A outra petição, “Contra a realocação”, nãooferecia aos signatários a oportunidade deexpressar suas opiniões estéticas. A questãodo mérito artístico foi omitida em todas asdiscussões posteriores e declaradairrelevante, uma vez que qualquer argumen-tação com base no julgamento estético te-ria enfraquecido a ação da GSA em termoslegais, por levantar questões relativas à pri-meira emenda da Constituição.

Na carta-formulário dirigida a Diamond, osignatário declarava: “Eu gostaria de expres-

Speak out, panfleto

cerca de 1985, Federal

Plaza, Nova York

Manifeste-se! A GSA fará

realizar uma audiência pública

sobre as possibilidades de

melhor aproveitamento da

praça na Rua Lafayette vizinha

a esse edifício. Isso pode vir a

incluir a eventual remoção da

grande escultura de metal

conhecida como Tilted Arc. A

audiência pública acontecerá

no dia 6 de marco de 1985,

quarta-feira, às 10 da manhã,

na Corte de Comércio

Exterior, Federal Plaza, no 1

(adjacente ao Federal

Building). Gostaríamos de

ouvir você. Telefone para

264-4068 a fim de saber mais

detalhes e agendar uma hora

para “Manifestar-se”.

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sar minha opinião sobre a utilização da praçae, mais especificamente, sobre a realocaçãoda obra de arte conhecida como Tilted Arc.”Os eleitores votavam então a favor ou con-tra a realocação da escultura assinalando oquadro apropriado: o quadro para “Sou afavor” vinha antes daquele para “Sou con-tra”. Na base do formulário havia espaço paracomentários, assinatura e o nome da agên-cia do signatário.33 Na audiência, Diamondreferiu-se a esses formulários como simplescartas, dando a entender que eram respos-tas individuais e espontâneas.

Diamond presidiu a audiência e indicou osquatro membros da comissão que iriam con-duzir a reunião e julgar seus resultados. Doiseram integrantes de sua equipe, cujos car-gos na época não tinham caráter permanen-te: Gerald Turetsky, atuando como adminis-trador regional, e Paul Chistolini, como as-sistente administrador regional para serviçosem edifícios públicos. Os outros dois mem-

bros da comissão eram Thomas Lewin, só-cio majoritário da firma de advocaciaSimpson, Thatcher, Bartlett, de Nova York,que Diamond já conhecia, e Michael Findlay,vice-presidente da casa de leilões Christie´s(convidado pela mulher de Diamond emcarta datada de 15 de fevereiro) e únicomembro da comissão que mais tarde votoucontra a realocação da escultura de Serra.

Em um release divulgado na ocasião da au-diência, Diamond afirmava: “O painel não faráum julgamento estético da qualidade ou va-lor de Tilted Arc nem recomendará o esta-belecimento de qualquer precedente quevenha a afetar qualquer outra obra de arte.”Em vez disso, ele associou a escultura à ques-tão dos gastos excessivos do governo:

O governo dos Estados Unidos pagou175 mil dólares pela escultura deRichard Serra. Acreditamos fortemen-te que o público tem o direito de nosdizer o que pensa sobre como o go-verno dos Estados Unidos gasta seudinheiro. Cabe a nós governantes a res-ponsabilidade de fornecer essa opor-tunidade. O fato de estarmos promo-vendo esta audiência é prova de nossaboa-fé em relação a esse esforço. Acre-ditamos que os procedimentos de hojeencorajarão o diálogo futuro entre ar-tistas e seu público.34

Embora o discurso de Diamond indicasseque Serra recebera 175 mil dólares por TiltedArc, esta soma incluía o custo de criação ede instalação da obra. Fato é que Serra, comotantos outros artistas, não ganhara nenhumdinheiro com essa encomenda.

Durante três dias, o espetáculo – com direi-to a audiência completa, com repórteres eequipes de televisão – se desenvolveu noedifício da Corte Internacional na FederalPlaza. Serra começou fornecendo “algumas

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informações fundamentais sobre aquilo quefaço, por que faço e como construo minhasesculturas; sobre o que significa uma escul-tura site-specific e por que a especificidadedo lugar e a permanência neste lugar sãoinseparáveis”.35 Ele descreveu o programaArte na Arquitetura da GSA e o processoque cumpriu, sua certeza na permanência daobra e as implicações da audiência.

No total, 122 pessoas se manifestaram pelapermanência da escultura e 58 por sua re-moção.36 Os simpatizantes eram predomi-nantemente pessoas do mundo da arte ouprofissionais ligados à cultura. Artistas, dire-tores e administradores de museus, donosde galeria, curadores, alguns músicos e cine-astas, e colecionadores levantaram questõessobre a especificidade da escultura para aque-le local e sobre a violação, por parte da au-diência, dos procedimentos concordados,sobre o tema da liberdade de criação artísti-ca e sobre o tempo necessário para a devi-da apreciação da escultura (essas e outrasquestões são discutidas em detalhe no Ca-pítulo 2**).

Para os funcionários dos escritórios públi-cos e para a comunidade de residentes quese haviam manifestado contra a escultura(pela remoção), estavam em discussão oelitismo do mundo da arte e a imposiçãode gosto. Protestaram também por não tersido consultados, contra a obstrução da pra-ça e o bloqueio da visibilidade, os grafitos eos custos; e muitos simplesmente odiavama escultura.

Antes de encerrados os depoimentos, nanoite do último dia da audiência (7 de mar-ço), Diamond afirmou na televisão que acomissão se havia reunido em Washingtone que “Não se sabia que a escultura viria aseccionar a praça, tornando praticamenteimpossível a realização ali de qualquer even-to público, como costumava acontecer du-

rante anos no passado”.37 Isso era obviamen-te falso e claramente preconceituoso.

A despeito da reação “pública” (dois votos aum) a favor da permanência da escultura,em 10 de abril a comissão indicada porDiamond recomendou, com quatro votos aum, a remoção da obra da Federal Plaza. Emprimeiro de maio, em carta formal a DwightInk, diretor da GSA em Washington,Diamond declarou que não poderia recor-rer a numerologias para justificar suas deci-sões, que não poderia lidar com a questãode mérito artístico (isso se tornaria um pro-blema de censura) e que não conseguiu lo-calizar no contrato da GSA qualquer itemque garantisse a permanência da escultura.Em vez disso, defendeu sua remoção, combase na necessidade de liberar o espaço, noperigo que a obra representava e em seuconvite ao vandalismo:

Fiquei impressionado com as declaraçõesdas agências federais e dos funcionários,expressando, coletiva ou individualmen-te e de forma apaixonada, seu desejode devolver à praça seu espaço e suaamplidão originais; sua vocação originalpara abrigar eventos públicos; sua anti-ga liberdade de circulação e suas pers-pectivas visuais; e a tranqüilidade e aintegração características de seu dese-nho inicial. Deve-se assinalar que o pro-jeto básico da praça foi concebido demodo a contemplar e privilegiar a idéiade um espaço aberto ... Não restamdúvidas de que esses conceitos origi-nais ficaram severamente comprome-tidos com a instalação de Tilted Arc nocentro da praça. Não podem havercontrovérsias quanto ao seccionamentodo espaço, à obstrução da circulaçãofísica, à distorção das perspectivasvisuais, e à atmosfera da Plaza, que setornou uma afrontra. (sic).***

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Recorrendo a uma comparação jurídica,Diamond sugeriu a Ink que “corrigisse umerro restaurando um status quo – no caso, aobra de arte anteriormente ali existente, valedizer, a própria praça”.38

Depois da audiência

Embora a decisão quanto à remoção oumanutenção da escultura agora dependessede Washington, não havia precedentes oumodelos a serem seguidos, e a controvérsiarelativa a Tilted Arc prosseguiu, tratada comocaso isolado. A conselheira-geral da GSA,Allie B. Latimer, determinou que o adminis-trador da agência tivesse o poder de deci-são final sobre o resultado, mas aconselhouInk a “não atribuir qualquer peso especial àrecomendação/voto da comissão”, que apa-rentemente não haviam sido estabelecidosdentro das normas federais. Em vez disso,Ink “deveria começar tudo de novo com umcomitê consultor devidamente constituído”,que incluísse “pelo menos alguns membrosdo setor privado”. Ou ele poderia “ignorartotalmente a recomendação/voto da comis-são e tomar uma decisão baseada apenasno registro das audiências públicas e emoutros materiais produzidos sobre o caso.”Latimer aconselhou-o a antes elaborar uma“recomendação oficial independente”, comjustificativa detalhada.39

Enquanto isso, o Conselho Comunitário deManhattan I (grupo de cidadãos locais quediscutem e decidem sobre questões de in-teresse comum), recomendou que a escul-tura fosse removida. No entanto, Diamondaparentemente havia determinado de modoenfático aos 10 membros do subcomitê res-ponsável pela decisão que chegassem a talconclusão. Quando o processo de votaçãochegou ao Comitê Comunitário Geral, como total de 47 membros, apenas 22 estavampresentes. O assunto da escultura não haviasido incluído na pauta e não foi colocado

em debate. Serra, morador da área sob ju-risdição do conselho, não foi informado.Assim, embora Diamond tenha levado bas-tante em conta a recomendação do conse-lho comunitário, o resultado de 21 votos aum pode não ter sido representativo.40

Enquanto Diamond argumentava que a re-moção de Tilted Arc viria de fato a fortale-cer o programa Arte na Arquitetura, por-que muitos dos administradores regionais daGSA estavam retendo os recursos para pro-jetos de arte agendados até que a polêmicafosse solucionada,41 Thalacker apresentou aInk nove razões para manter a escultura naFederal Plaza.42 Argumentou que oremanejamento seria problemático, uma vezque nenhum outro espaço adequado foraencontrado, e que talvez não fosse possívelencontrá-lo (de fato, nenhum novo espaçofoi encontrado). Ele questionou a legitimi-dade da audiência de Diamond e a reco-mendação do Comitê Comunitário I, verifi-cou que nos 17 anos de existência da praçaanteriores a Tilted Arc não ocorreram quais-quer eventos públicos e reiterou a necessi-dade de tempo para a apreciação das qua-lidades estéticas da obra. Para ele, alémdos custos de remanejamento da escultura,sua remoção precipitaria perda de confian-ça no programa Arte na Arquitetura e nacredibilidade da GSA.

Ink foi pressionado por ambos os lados, in-cluindo uma carta assinada por dois senado-res e seis deputados, alertando-o de que “in-dependentemente da opinião que alguémpossa ter sobre arte abstrata, ou sobre essetrabalho em particular, a ação de desapro-priação e destruição da escultura represen-taria um alarmante precedente desubjetivismo crítico e desrespeito aos pro-cedimentos aplicáveis”.43

Pouco antes de deixar o cargo, Ink determi-nou que fosse encontrado um novo espaço

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para Tilted Arc.44 Como administrador, suasresponsabilidades eram limitadas. Se ele ti-vesse deixado a decisão nas mãos deTerence C. Golden, que o sucedeu comoadministrador da GSA, o resultado poderiater sido diferente. Ocorreu que Golden ado-tou uma estratégia conservadora envolven-do a NEA e ainda outra comissão (esseseventos são discutidos em detalhe no Capí-tulo 3, no tópico O contexto de políticaspúblicas).

A comissão consultora do NEA para avalia-

ção de terrenos

Como a GSA, o NEA estava operando emárea sem antecedentes. Por ter partido des-sa agência a sugestão da primeira comissãode seleção, Richard Andrews, diretor do Pro-grama de Artes Visuais, estava fortementeconvicto de que o NEA deveria continuarenvolvido com o projeto.45 Em longas dis-cussões e memorandos enviados a dirigen-tes de ambas as agências, Andrew contem-plou diversas possibilidades.

Inicialmente havia planos para melhorar tan-to a praça quanto a percepção pública deTilted Arc. Thalacker preparou uma brochurasobre a escultura, que por algum tempo fi-cou disponível no lobby do Federal Building.O NEA pensou em um “concurso imediatode projetos para a melhoria da Plaza”.46

Adele Chatfield-Taylor, diretora do Progra-ma de Projetos de Arte do NEA, foi encar-regada de determinar o que poderia ser fei-to “para melhorar temporariamente a áreade Tilted Arc”. Sentindo que algo precisavaser feito, uma vez que “o senhor Diamondtinha em mente quiosques de comida”, elarecomendou, como solução mais eficaz emenos custosa, que se pedisse um projetotemporário de melhoria da Plaza ao arquite-to paisagista Peter Walker, diretor daGraduate School of Design de Harvard.47

Depois de submeterem uma proposta ini-

cial para estudar o problema, Walker e suasócia Martha Schwartz (que mais tarderedesenharia a Federal Plaza) retiraram suaproposta, preocupados com a potencial pu-blicidade negativa.48 O NEA decidiu entãoconcentrar-se na constituição de uma co-missão consultora para avaliação de terre-nos, com o fim de considerar locações alter-nativas para Tilted Arc.49 Embora a GSA te-nha assumido os custos administrativos (quenão deveriam exceder os 46.000 dólares noano fiscal de 1986), além de operar comoúnico captador de propostas de realocação,a comissão foi autorizada pelo NEA a agiraté o momento em que se encontrasse umterreno apropriado, até que a GSA ou oNEA levassem isso a cabo ou até que o pró-

Remoção do Tilted Arc,

15 de março de 1989Fotos: Jennifer Cotter, cortesia

Richard Serra

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prio comitê chegasse a um impasse. Quan-do a comissão consultora para avaliação deterrenos foi oficialmente incorporada, emjunho de 1986, previu-se que ela funciona-ria por um ano, reunindo-se quatro vezesnos terrenos designados, conforme fossenecessário. Uma única reunião, porém, mos-trou-se suficiente.

Diamond enviou cerca de 150 questio-nários para instituições (museus, universida-des e organizações de arte) de todo o país,indagando se estariam interessadas em ad-quirir a escultura. Depois que duas universi-dades – Clemson University e Long IslandUniversity – responderam afirmativamente,o comitê reuniu-se na Federal Plaza. Em 17de dezembro de 1987, sob chuva torrencial,

Serra postou-se diante de Tilted Arc e ex-plicou o caráter site-specific da escultura paraTheodore Kheel, presidente da comissão,notório mediador em disputas trabalhistas,e para os arquitetos James Ingo Freed eJaqueline Robertson, o artista Robert Ryman,o historiador de arte Sam Hunter, a diretorado Baltimore Museum of Art, BrendaRichardson, e o vereador por Los AngelesJoe Wachs. Richard Andrews, do NEA, re-presentava o governo federal. Cada terrenoproposto foi representado por dois cidadãos,um deles pertencente à comunidade local.

Serra abriu os procedimentos declarandocategoricamente: “Eu não estou aqui paraparticipar de atividades de busca de novosterrenos, não existem locais alternativos paraTilted Arc ... remover a obra é destruir aobra.” Diante disso, os representantes daClemson University e da South Carolina ArtCommission retiraram suas propostas decriação de “uma escultura site-specific intei-ramente nova, com a realocação de TiltedArc em terreno a ser designado pelo artis-ta”.50 Eles não haviam sido informados deque Serra em nenhuma circunstância apro-varia outro espaço.

Os representantes da Long Island Universityforam menos explícitos. Judith Collischen VanWagner, curadora de sua coleção de artepública, manifestou seu desejo de que TiltedArc permanecesse na Federal Plaza, aindaque acolhesse de bom grado o projeto deuma escultura de Serra para o C.W. Post, ocampus universitário. Como os representan-tes oficiais de outras universidades foramreticentes em relação aos compromissosassumidos, Kheel concluiu que suas obser-vações eram condicionais, sem o caráter deinequívoca proposta.

As deliberações da comissão levantaram vá-rias questões significativas. Serra, depois deapontar o aspecto de desolação da FederalPlaza antes de Tilted Arc, declarou que nãoera contrário a que se equipasse a praça com

Federal Plaza, 1989,

Nova YorkFoto: Burt Roberts

Martha Schwartz, detalhe

da Federal Plaza, 1997Foto: Burt Roberts

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eventuais amenidades, desde que não pre-judicassem a escultura. A questão daespecificidade do lugar para sua implantaçãofoi em parte debatida. Um membro da co-missão observou que sem a posição da GSAseria difícil determinar se haveria “razões deordem urbana convincentes” para arealocação da escultura ou se a decisão deDiamond não seria “mal intencionada, obs-tinada e individualista”. Significativamente,Kheel observou que não estava claro se aGSA havia ou não tomado a decisão final deremover a obra.

Em seu papel de aconselhamento, a comis-são só podia arbitrar sobre a adequação dosterrenos propostos; não lhe cabia decidir sea escultura de Serra deveria permanecer naFederal Plaza. Como era de esperar, a deci-são foi unânime. Nenhum dos terrenos pro-postos foi considerado apropriado. Da par-te da Clemson University, porque haviaretirado sua proposta; e da Long IslandUniversity porque sua oferta não era su-ficientemente amarrada ou clara. Kheel de-clarou que Serra tinha o direito moral deretirar seu nome da escultura caso ela viessea ser removida. Tendo em vista a posiçãodo artista, Kheel concluiu que seria imprová-vel encontrar-se um espaço adequado paraa escultura e que, se a comissão desse pros-seguimento ao caso, isso seria “no mínimoacadêmico e no máximo um exercício defutilidade”. Em 5 de janeiro de 1988, Hodsoll,presidente do NEA, comunicou o resultadoa Golden, administrador da GSA.51

A seu modo, a recomendação era tão pre-visível quanto o resultado da audiência deDiamond. A comissão era composta porprofissionais e entusiastas do mundo da arte,todos conhecedores do trabalho de Serra,dos quais se poderia esperar com razão quehonrassem os desejos do artista. Era genteda arte falando sobre arte. Embora todos osenvolvidos tenham levado a comissão a sé-rio, ela não deixou de ter também certo as-pecto de farsa.

O resultado

Durante anos, Serra tomou medidas legaisrelativas a violações de contrato, de direitosautorais e de registro de marca, além de itensda primeira emenda da Constituição visan-do proteger sua escultura (questões legaissão comentadas em detalhe, no Capítulo 3,seção O contexto da política pública). De-pois de uma série de apelos malsucedidos,não mais de 10 anos decorridos desde suaencomenda e oito desde sua instalação,Tilted Arc foi removida da Federal Plaza. Nanoite de 15 de março de 1989, quando aGSA tinha outro administrador em Washing-ton (Richard Austin) e o NEA estava tam-bém sem diretor permanente, a esculturafoi desmontada “e guardada dividida em trêspartes empilhadas em um estacionamentopúblico ao ar livre, em Brooklyn, na esquinada 29th Street com a Third Avenue”. Emsetembro de 1989, “as três partes, cada umapesando cinco toneladas, foram levadas porum caminhão de carga para um depósito emMiddle River, Md., onde foram descarregadase empilhadas por um guindaste de 80 tone-ladas. A remoção teve o custo de 36.000dólares”. Recentemente, Renée Miscione,porta-voz da GSA, declarou que a agência“não destruirá nem descartará as partes daescultura. Contudo, honraremos os desejosde Richard Serra, e não a instalaremos emqualquer outro lugar”.52

Harriet F. Senie é professora de História da Arte e diretora domuseums studies na City University of New York – Cuny. Éautora de The ‘Tilted Arc’ Controversy: Dangerous Precedent?editado pela University of Minnesotta em 2002, do qual fazparte o artigo aqui traduzido.

Tradução: Milton Machado

Notas

* Expressão americana designando “o homem comum”. (NT)

** Este texto corresponde ao Capítulo 1 de The Tilted arccontroversy: dangerous precedent?, publicado pela edi-tora da Universidade de Minnesotta em 2002. (NT)

*** No original, “affrontry” – forma incorreta de “affront”(afronta) –, seguida pela observação (sic), da autora. (NT)

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1 Mais de 30 artigos apareceram no New York Times em1979 abordando os escândalos. O administrador da GSA,Jay Solomon, deparou-se pessoalmente com problemasao demitir Robert T. Griffin, administrador representan-te da agência e amigo próximo do presidente do Con-gresso, Thomas P. O’Neill Jr., sem informar este último.Foi essa gaffe protocolar que causou a perda de apoio aSalomon pelo presidente Jimmy Carter. Artigos a res-peito desses episódios apareceram no New York Timesem 24 e 27 de janeiro de 1979.

2 Donald W. Thalacker, The Place of Art in the World ofArchitecture. Nova York/Londres: Chelsea HousePublishers e R. R. Bowker Company, 1980.

3 Freeman, que tinha larga experiência nas áreas de controlee aquisição de armas pesadas, foi encarregado de darcontinuidade às investigações de Salomon sobre as frau-des na agência. O “tato superlativo” de Freeman foi cita-do como fator determinante para sua indicação. Ver“Admiral Called Likely G.S.A. Head”, New York Times,23 de março de 1979; Edward C. Burks, “New ManMinding Federal Store”, New York Times, 26 de marçode 1979.

4 As normas vigentes quando da encomenda a Serra pelaGSA foram estabelecidas em 1973 e posteriormentemodificadas. As normas operantes em 1979 eram: 1) Oarquiteto do projeto deve ser encorajado a submeteruma proposta de inclusão de arte na arquitetura comoparte do conceito de seu projeto geral. Essa propostainclui descrição da localização e da natureza das obrasde arte a serem encomendadas, tais como uma escultu-ra para a praça ou uma tapeçaria para a área de entrada;2) A GSA e o NEA indicam uma comissão de profissio-nais de arte qualificados para nomear de três a cincoartistas com relação a cada proposta de encomenda.Essa comissão é constituída em regime ad hoc para cadaprojeto específico. Os membros da comissão, dos quaispelo menos um deve ser residente na área geográficado projeto, devem reunir-se com o arquiteto e os re-presentantes da GSA e do NEA no local em questãopara examinar materiais visuais sobre os artistas cujo tra-balho seria apropriado para a proposta de encomenda;3) As indicações da comissão são submetidas à GSApor carta formal do NEA. Depois de avaliações dos tra-balhos existentes dos artistas indicados por uma comis-são de exame de projetos no PBS (Serviço de EdifíciosPúblicos), o administrador selecionará o artista; 4) Umcontrato prefixado é negociado com o artista para pro-jeto, execução, instalação e fotografia da obra. Os con-ceitos do artista são examinados e aprovados pela co-missão de avaliação.

5 Essa informação está incluída no arquivo referente ao pro-jeto de Tilted Arc em documento sem numeração depáginas intitulado Cronologia de eventos, daqui em di-ante referido como Chronology. Não há indicações dequem teria preparado esse detalhado documento. Émuito mais detalhado do que a cronologia que apareceno Anexo A ao documento de decisão final de DwightInk, Decision on the Tilted Arc (31 de maio de 1985,

não publicado, disponível na GSA). O arquivo do proje-to está no escritório do programa Art-in-Architecture,em Washington, D.C. No momento de produção destetexto, ele podia ser consultado mediante agendamento.

6 Durante o período em que foi diretor do Institute ofContemporary Art, na University of Pennsylvania,Delehanty participou de três comissões de seleção, umaem 1973 e duas em 1974. Licht também havia sidomembro de duas comissões em 1974, uma como histo-riador da arte na University of Rochester e outra, maistarde naquele mesmo ano, como curador do Museumof Contemporary Art em Chicago. No ano seguinte, eletambém esteve em duas comissões da GSA. O ensaiode Robert Pincus-Witten “Richard Serra: SlowInformation”, originalmente publicado em 1969, foi in-cluído em seu livro Postminimalism. Nova York: Out ofLondon Press, 1977.

7 As reuniões da comissão não são públicas. No entanto, oarquivo da GSA relativo a Tilted Arc contém notas to-madas por um membro do staff da GSA não identificado.

8 Arquivo de projeto da GSA; notas manuscritas tomadasna reunião.

9 Entrevista com Marilyn Farley, janeiro de 1992.

10 Ver Michael Weizenbach, “Ex-GSA Director Washes Handsof Rusty Sculpture”, Washington Times, 11 de junho de1985. Em entrevista ao autor em março de 1993, TerenceC. Colden, administrador da GSA depois de Dwight Ink,também declarou ter assuntos mais importantes a tratardo que as encomendas de arte pela agência.

11 Memorando do NEA, datado de 10 de junho de 1985, deRichard Andrews para Frank Hodsoll, sobre o processode seleção de Tilted Arc. Arquivos privados do NEA.

12 Richard Serra’s Urban Sculpture: An Interview, RichardSerra and Douglas Crimp (julho de 1980), in RichardSerra: Interviews, Etc., 1970-1980. Yonkers: Hudson RiverMuseum, 1980: 168.

13 Alfred Pacquement, Entretien avec Richard Serra. InRichard Serra. Paris: Centre Georges Pompidou, 1983:41. Traduzido por Todd in Richard Serra: WritingsInterviews, 157-64. Pouco depois da instalação de TiltedArc, Serra declarou: “Alguém recentemente me pergun-tou sobre a Federal Plaza. Devo dizer que era um terre-no problemático, excessivamente definido pela presen-ça do governo e representantes do sistema judiciárioamericano. Espero que o trabalho não venha a se tor-nar um símbolo daquela praça” (163). Essa tradução daentrevista omitiu uma referência à Federal Plaza comoum “lugar ridículo”, uma preocupação de que a escultu-ra viesse a servir ao capitalismo e ainda uma frase discu-tindo a característica do terreno como um ponto deentrada de todos os imigrantes para os Estados Unidos,que teriam que passar diante da escultura.

14 Conversa com a autora em 1983 [então] em preparaçãopara um perfil na Artnews.

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15 Ibid.

16 Ibid.

17 Um memorando datado de 19 de março de 1980, assi-nado por Cecilia Horovitz, oficial contratante de NovaYork, especificava tais preocupações (algumas das quaispreviamente assinaladas pela comissão de exame deprojetos):

1. A carga da escultura sobre a estrutura existente naPlaza requer análise estrutural completa da área. Sub-meta seus detalhes e cálculos à aprovação da GSA an-tes de avançar no desenvolvimento desse projeto.

2. Atenção extrema deve ser dedicada ao detalhamentoe à execução da impermeabilização durante a instalaçãoda escultura, de modo a evitar futuros problemas devazamento na praça.

3. Como propõe resolver o problema das manchas deferrugem que podem afetar o pavimento existente noentorno da escultura?

4. Um efeito crítico de canalização de vento já se verifi-ca em torno do edifício. Como deverá a escultura mo-dificar essa condição, que afeta a segurança do tráfegode pedestres?

5. Essa escultura representará uma grande superfície ver-tical que deverá atrair grafites e jogos de bola. Isso cria-ria problemas de segurança, manutenção, e até possi-velmente, danos irreparáveis à obra de arte. Os custosde limpeza e manutenção devem ser considerados, umavez que podem vir a ser substanciais, ao longo do tem-po de vida da escultura.

6. Essa escultura introduz uma barreira visual na praça,atualmente um espaço aberto. O controle visual nãomais será efetivo.

7. Submeta suas recomendações relativas a comoequacionar problemas de segurança e de controle docrime na área.

8. Ainda em relação à circulação segura de pedestres,vigilância e controle do crime, é necessário prover ilumi-nação adequada da escultura e seu entorno. Esse ele-mento crítico deve constar de seu projeto a ser subme-tido para aprovação da GSA antes de qualquer desen-volvimento.

Com a condição de anonimato, diversos indivíduos daGSA expressaram sua impressão de que Serra foi extre-mamente flexível em seu empenho para satisfazer asexigências de engenharia. Em carta dirigida a CeciliaHorovitz, datada de 18 de junho de 1980, Malcolm Graffatendeu com detalhes a suas preocupações, submeten-do desenhos e cálculos preliminares de engenharia. Eledemonstrou que, na realidade, a escultura viria a aper-feiçoar o escoamento de água na praça, e que atuariacomo uma barreira contra o vento que atinge os pedes-tres. Também demonstrou que Tilted Arc, se submeti-

da a uma pequena reorientação, não “interferiria nemalteraria nenhum dos padrões de circulação de pedes-tres existentes na praça”. Na época, pensava-se que oaço climatizado não demandaria qualquer manutenção.

18 Memorando manuscrito por Marilyn Farley, membro dostaff da GSA, em Tilted Arc, arquivo da GSA, datado de23 de fevereiro de 1981.

19 Conversa com a autora em 1983 para perfil na Artnews.

20 Richard Serra, Introduction, in The Destruction of TiltedArc: Documents, Clara Weyergraf-Serra e Martha Buskirk(eds.). Cambridge: MIT Press, 1991: 5 (daqui em diantereferido como Destruction).

21 Grace Glueck, “An Outdoor-Sculpture Safari in the City”,New York Times, 7 de agosto de 1981.

22 Destruction: 26.

23 Citado in Grace Glueck, “Serra Work Stirs DowntownProtest”, New York Times, 25 de setembro de 1981.

24 Chronology.

25 Dwight Ink, administrador da GSA, declarou: “O proces-so vigente na época da indicação e seleção do artistanão incluía a solicitação de opiniões do público ou dacomunidade e reações ao trabalho antes de sua enco-menda. Apesar de os representantes da comunidadeartística de Nova York fazerem parte da Comissão deIndicação de Artistas, não havia nenhuma relação per-ceptível entre a comunidade, os empregados do edifícioe os objetivos e procedimentos do programa Arte naArquitetura. Em função disso, a comunidade, cuja maio-ria não participava do processo de seleção, não estavadevidamente preparada para receber a obra nem paraoferecer sequer uma mínima compreensão ou aceita-ção do trabalho. A ausência de apoio da comunidadeficou evidenciada pela primeira vez quando a obra foiinstalada, e pode ter resultado, em parte, dessa ausên-cia.” (Decision on the Tilted Arc: 6). No entanto, osprocedimentos de seleção da GSA atualmente vigentes,nos quais o número de representantes da comunidadesupera o de profissionais da arte, não eliminaram as con-trovérsias.

26 Ambas as versões estão incluídas em Chronology. Essedocumento é a fonte primária dos eventos discutidosabaixo, a não ser quando diferentemente indicado.

27 Essa ocorrência está incluída na cronologia oficial, embo-ra abreviada, encontrável em Ink, Attachment A.

28 Cópias dessas cartas podem ser encontradas emDestruction: 33-40.

29 Susan Heller Anderson e David W. Dunlap, “Arc underScrutiny”, New York Times, 29 de dezembro de 1984.

30 US District Court, Southern District of New York (CorteDistrital Sul de Nova York), Richard Serra, Plaintiff, v.United States General Services Administration (RichardSerra, queixoso, versus Administração de Serviços Ge-

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rais dos Estados Unidos), 17 de dezembro de 1986,Docket n. 86 Civ., J. Pollack presidente, 21n79. Esse do-cumento foi revisto por diversos funcionários na épocae considerado consistente (daqui em diante citado comoSerra Complaint).

31 Destruction: 45.

32 Destruction: 48.

33 Destruction: 49.

34 Release da GSA Região 2, R2-85-M004, para a imprensa,datado de 5 de março de 1985.

35 Destruction: 65.

36 A lista completa dos oradores e exemplos de testemu-nhos estão incluídos em Destruction: 59-129. Para umsumário contemporâneo dos temas abordados na au-diência, ver a edição de Verão de 1985 de Public Art

Fund Newsletter, pela autora. Uma análise interessan-te da audiência encontra-se em “An Atmosphere ofEffrontery: Richard Serra, Tilted Arc and the Crisis ofPublic Art”, por Casey Nelson Blake, in The Power of

Culture: Critical Essays in American History. RichardW. Fox e T. J. Jackson Lears (eds.). Chicago: Universityof Chicago Press, 1993: 264-68.

37 Em Serra Complaint, 26n95, 33nl22, assinala-se que, ape-sar de Diamond ter declarado que mais de 20 eventospúblicos foram realizados na Federal Plaza entre 1976 e1981, ano de instalação da escultura de Serra, ele nãofoi capaz de documentar nenhum deles.

38 Destruction: 142-49.

39 Um memorando sem data de Latimer, conselheiro-geralda GSA, para o administrador Ink, informa: “Se vier adeterminar que a escultura, por alguma razão apropria-da, não é adequada para exibição continuada na praça,você terá a autoridade para requerer sua remoção paraalgum outro terreno oficial, ou para declarar que a pro-priedade ultrapassa as necessidades da GSA, podendovendê-la ou disponibilizá-la para entidades não governa-mentais.”

40 De uma conversa confidencial com um membro da Co-missão Comunitária 1 na época. Em Serra Complaint:33 assinala-se que Diamond “não esclareceu: que, antesdo voto da Comissão, houve discussões sobre Tilted

Arc apenas em uma subcomissão...; que subseqüente-mente questionou-se a presença de quórum para a vo-tação da Comissão; [que] essa Comissão Comunitáriatem poucos membros morando ou trabalhando na vizi-nhança da praça; que a praça fica nos limites da jurisdi-ção geográfica da Comissão; que as pessoas que mo-ram na comunidade raramente utilizam a praça; e queSerra, morador da jurisdição da Comissão, não foi infor-mado da resolução proposta, nem convidado a compa-recer diante da Comissão.

41 Um esboço de memorando intitulado Tilted Arc,Arguments for Relocation (Tilted Arc, argumentos paraseu remanejamento), datado de 17 de abril de 1985,declara: “1) A impopularidade de Tilted Arches [ArcosInclinados] vazou para o programa, fazendo com quetoda futura implantação de obra de arte moderna emedifícios federais se torne suspeita; e 2) A inconsistênciados regulamentos atuais... não permitiu a participaçãoda comunidade na seleção inicial de Tilted Arc. Tais re-gulamentos estão sendo reescritos visando à expansãoda participação das comunidades em futuros processosde seleção.”

42 Destruction: 152-56.

43 A carta, reproduzida em Destruction: 150-51, foi assina-da pelos senadores Howard M. Metzenbaum e EdwardM. Kennedy, e pelos vereadores Tom Downey, FrankHorton, Hamilton Fish Jr., e Jim Jeffords.

44 A íntegra da decisão de Ink está reproduzida emDestruction: 157-73.

45 Conversa com Richard Andrews, março de 1993.

46 Memorando intitulado “Encontro entre a GSA e o NEA”,datado de 5 de junho de 1985. Aparentemente nãohouve nenhuma tentativa de se considerar a oferta feitapor Serra de ajudar nas melhorias da Federal Plaza. Emuma conversa com o artista em 1983, ele lembrou quetinha em mente um diálogo mais aberto e a remoção dafonte sem função. A fonte foi removida em 1996.

47 Adele Chatfield-Taylor, “Re: The Tilted Arc – Next Steps”(memorando para Frank Hodsoll, 17 de junho de 1985).

48 Adele Chatfield-Taylor, “Re: Tilted Arc” (memorando paraFrank Hodsoll, 16 de setembro de 1985). Aparentemen-te, a idéia inicial era fazer essas mudanças sem fanfarras;mas, como Chatfield-Taylor assinalou, “Diamond aca-bou decidindo mais tarde que a publicidade era apro-priada para todo empreendimento que fosse relaciona-do a Tilted Arc”.

49 Memorando do Acordo entre a GSA e o NEA a Respei-to da Comissão de Aconselhamento sobre Exame deTerrenos para Tilted Arc (Arquivo de projeto da GSA).

50 Esse depoimento se baseia em notas pessoais tomadasna reunião da comissão do NEA em Nova York. Quan-do não indicada outra fonte, as citações da reunião dacomissão provêm dessas notas.

51 Destruction: 188-90.

52 Todas as citações nesse parágrafo são de “The HomelessArc” (O arco sem lar), de Daniel B. Schneider, New York

Times, 9 de abril de 2000. O Edifício Maryland tambémcontém um resumo da história de Tilted Arc, elaboradopara potenciais peregrinos da arte. Meus agradecimentosa William Caine da GSA por essa informação.

T E M Á T I C A S • H A R R I E T F. S E N I E

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