A Política No Pará Entre 1980 e 1990

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    A poltica no Par entre 1980 e 1990

    Jos Amrico do Canto Lopes socilogo, formado pela Universidade

    Federal do Par, e diretor de pesquisa doInstituto Acertar, de Belm - Pa.

    Silvanildo Baia estatstico, formado pela Universidade

    Federal do Par, e diretor de informao doInstituto Acertar, de Belm - Pa.

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    Introduo

    Este estudo no tem a veleidade de se autoconferir o rigor quese deve esperar, por exemplo, dos historiadores, cujas ferramentasno domino, mas de circunstancialmente contribuir para areconstituio de um perodo at aqui examinado de formafragmentada. Trata-se de um perodo sobre o qual os registros so,sobretudo, jornalsticos, ainda que para melhor preserv-lo seja

    indispensvel submergir nas reconstituies histricas mesmopontuais, mas de inquestionvel relevncia, dos ciclos queprecederam-no.

    No h como examinar a poltica paraense, entre 1980 e 1990,sem evocar, por exemplo, o baratismo, que irrompe com aemergncia de Joaquim de Magalhes Cardoso Barata, uma das maisexpressivas e longevas liderana da histria do Estado. Com um perfilcaudilhesto, Barata adentra no proscnio poltico do Par no bojo daRevoluo de 1930, inicialmente como interventor, paraposteriormente ter sua inquestionvel liderana legitimada pelo voto

    direto, ao ser eleito governador e morrer no exerccio do mandato. Oseflvios do baratismo e tambm do antibaratismoesto na gnese dociclo inaugurado no Par com o golpe militar de 1 de abril de 1964,que catapultou para o poder paroquial os coronis Jarbas Passarinhoe Alacid Nunes. Com a redemocratizao, a eles se sucede no poderJader Barbalho, o astro-rei da poltica no Par no perodo que o focodeste trabalho, entre 1980 e 1990.

    Antecedentes histricos

    Os principais protagonistas do perodo que objeto desteestudo, entre 1980 e 1990, emergem em circunstncias que tm suagnese poltica no cenrio que se desenha a partir da Revoluo de1930, com a emergncia do Estado Novo. Este corresponde aoperodo que vai de 1930 a 1945 e remete ditadura imposta pelasforas que levaram ao poder o ex-presidente Getlio Vargas. Aascenso de Joaquim de Magalhes Cardoso Barata (1), inicialmentecomo interventor, acabou por se constituir em um novo marco dabipolaridade do poder que caracteriza a poltica paraense. emblemtica dessa bipolaridade a disputa entre o intendente AntnioLemos (2), que entrou para a histria como responsvel pela reformaurbana que conferiu a Belm o status de Metrpole da Amaznia, sob

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    os ventos da prosperidade proporcionada pelo Ciclo da Borracha, eseu inimigo figadal, o governador Lauro Sodr (3), pelo qual acaboudefenestrado do poder em circunstncias humilhantes, sob o aoitede uma revolta popular, na esteira do ocaso da extrao ecomercializao da borracha (4).

    A ciranda do poder, a partir da ascenso de Magalhes Barata,passou a se fazer em torno das refregas entre baratistas eantibaratistas. A vanguarda do antibaratismo foi a Folha do Norte, o

    jornal do brilhante e respeitado jornalista Paulo Maranho, que foi poca, proporcionalmente, um dos jornais de maior tiragem do Brasil.Essa nova bipolaridade floresceu a partir da figura de Joaquim deMagalhes Cardoso Barata, um caudilho que, como tal, ficou clebrepela postura autocrtica, mas que tambm cultivou o populismo einovou, de forma pioneira, no exerccio do governo. Ele introduziu, narotina palaciana, audincias populares, quando abria o Palcio Lauro

    Sodr, ento sede do Executivo, populao humilde, algo at entoinimaginvel para os padres vigentes, e institui ainda ainteriorizao do governo, em um modus operandi absolutamenteinovador para a poca. Magalhes Barata sedimentou o poder dobaratismoem torno do PSD, o Partido Social Democrtico. No Par,como no Brasil, o PSD era uma legenda de perfil conservador, mas detintura populista.

    O baratismo sobreviveu ao prprio Magalhes Barata. Este,inclusive, teve o cuidado de preserv-lo, mesmo sob a perspectiva daprpria morte, ocorrida a 29 de maio de 1959. No exerccio do

    mandato legitimado pelas urnas, s vsperas da morte ele ditou umaemenda Constituio e facultou aos deputados a escolha do vice-governador. O escolhido foi o general Luiz Geols de Moura Carvalhoque, com Magalhes Barata morto, assumiu pela segunda vez ogoverno do Par, comandando um perodo de pacificao poltica noEstado. Moura Carvalho elegeu seu sucessor, o advogado Aurlio doCarmo, uma das mais promissoras revelaes do baratismo ecandidato pessedista. Posteriormente, Moura Carvalho elegeu-seprefeito de Belm. Os baratistas, porm, foram atropelados pelogolpe militar de 1 de abril de 1964, diante do qual o PSD, que no

    Par se confundia com o baratismo, tentou contemporizar,contribuindo inclusive para conferir ares de normalidade ascensode Jarbas Passarinho ao governo. Mas os baratistas acabaramtragados pelos golpistas, que instalados no poder deles trataram dese livrar, trombeteando um discurso moralista.

    emblemtico do esforo do PSD no Par em se adaptar anova ordem o episdio da cassao do ento deputado estadualBenedicto Monteiro, lder do PTB, o Partido Trabalhista Brasileiro,legenda que na poca evolua do discurso progressista para posturasmais esquerda do espectro ideolgico. Tomado por comunista,devido o discurso algo incendirio em defesa da reforma agrria,Benedito encontrava-se foragido, perseguido nas matas de Alenquer,quando teve seu mandato cassado pela Assemblia Legislativa do

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    Par, a 14 de abril de 1964, com os votos de todos os 34 deputadospresentes, em sesso cuja ata foi destruda. Mas O Liberal, ento um

    jornal que era o porta-voz do PSD, registrou que o lder da bancadapessedista, Hlio Gueiros, fora enftico ao defender a cassaodaquele a quem definiu como um elemento que no escondia sua

    crena na ideologia comunista e, portanto, subversiva ao regimedemocrtico. Mais tarde, em uma dessas ironias da histria, Gueirostambm viria a cassado.

    1964 A nova ordem

    O golpe militar de 1 de abril de 1964 permitiu o ingresso nocenrio poltico paraense daqueles que logo seriam as duas maiores

    lideranas do regime dos generais no Estado Jarbas Passarinho (5),feito governador, e Alacid Nunes (6), que se tornou prefeito deBelm. Ambos militares, eles polarizaram as disputas paroquiais,convivendo conflitivamente, na Arena, a Aliana RenovadoraNacional, o partido de sustentao parlamentar do regime militar, emcontraposio ao papel delegado ao MDB, o Movimento DemocrticoBrasileiro, ao qual cabia fazer oposio, dentro do figurino dobipartidarismo, imposto no rastro da extino de todos os partidospolticos existentes at o golpe militar.

    Em torno de Jarbas Passarinho e Alacid Nunes prosperaram,

    respectivamente, o jarbismo e o alacidismo, as duas vertentes depoder no Par, durante a vigncia do regime militar. Nenhuma dasduas tendncias exibiu, porm, a fora do baratismo, cuja pujanatranscendeu ao seu prprio inspirador, o ex-governador Joaquim deMagalhes Cardoso Barata. Jarbistas e Alacidistas retaliavam-semutuamente, de acordo com a circunstancial relao de foras.Coerentes com as idiossincrasias dos seus respectivos lderes, ojarbismo revelou-se refratrio a virtude dos matizes, na contramodo alacidismo, mais pragmtico e, por isso, mais tolerante, aindaque, por formao, Jarbas Passarinho e Alacid Nunes, ao fim e ao

    cabo, estivessem a uma distncia abissal de qualquer ideriodemocrtico.Com o claro objetivo de reunir adversrios histricos, aplacar

    divergncias e evitar defeces, o regime militar instituiu asublegenda, que no Par caiu como uma luva para a Arena e seusucedneo, o PDS, o Partido Democrtico Social. Importada doUruguai, a sublegenda permitia a qualquer partido apresentar maisde um candidato a um cargo majoritrio (presidente, governador,prefeito e senador). Assim, era facultado aos partidos apresentarmais de um candidato a cargos eletivos, computando-se os votos

    para a legenda, com a eleio do candidato mais votado. Como oregime militar suprimiu eleies diretas para presidente, governador

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    e prefeitos de capitais e municpios de rea de segurana nacional, asublegenda se aplicava s eleies para as demais prefeituras e aoSenado. No Par, ironicamente, o PMDB, o Partido do MovimentoDemocrtico Brasileiro, que sucedeu o MDB, lanou mo dasublegenda para derrotar Jarbas Passarinho na disputa pelo Senado,

    em 1982, ano das primeiras eleies diretas para governador, aps ogolpe militar de 1 de abril de 1964.

    Os coronis do Par

    Ao longo do regime militar, Jarbas Passarinho construiu umadas mais brilhantes biografias polticas da histria do Par. Ele foigovernador, senador e ministro - do Trabalho, da Educao e da

    Previdncia - e ganhou expresso nacional, inclusive pelo seu perfilintelectualizado. Tisnou sua biografia ao mandar os escrpulos sfavas, no episdio da decretao do AI-5, o Ato Institucional n 5,patrocinado pelo general-presidente Arthur da Costa e Silva edefinido como o golpe dentro do golpe, que mergulhou o Brasil noobscurantismo totalitrio. No plano nacional, Jarbas sobreviveu aosestigmas e se fez respeitar em Braslia, por sua probidade pessoal eas inegveis virtudes como orador, chegando a presidente doSenado. Mais tarde, j em plena democracia, foi ministro da Justiado governo Fernando Collor de Mello, o presidente destitudo por

    fora de um impeachment.Alacid Nunes, depois de prefeito de Belm, foi governador doPar por duas vezes, alm de deputado federal. Embora sem aprojeo nacional de Jarbas Passarinho, do qual se tornou inimigofigadal, revelou-se politicamente pragmtico e investiu pesadamente,em suas passagens pelo governo do Par, em uma polticamunicipalista. Os dividendos dessa poltica municipalista certamentecontriburam para ele impor uma derrota letal ao seu maioradversrio poltico, dentro da bipolaridade que tambm embutiu, emuma nova verso, o regime dos generais. As tenses entre Jarbas

    Passarinho e Alacid Nunes chegaram ao limite da ruptura j no ocasodo regime militar, cujo preldio foram as eleies diretas paragovernador, em 1982, sucedendo-se em 1985 a eleio de TancredoNeves para presidente, no colgio eleitoral, que assinala o surgimentoda Nova Repblica e o restabelecimento do regime democrtico.

    Vtima de uma diverticulite, uma inflamao dos divertculospresentes no intestino grosso, aps um sucesso de cirurgias, aprimeira das quais realizada ainda na noite de 14 de maro de 1985,vspera da sua posse, Tancredo morreu em 21 de abril de 1985, semassumir o cargo para o qual fora eleito. Em seu lugar assumiu o vice-

    presidente eleito no colgio eleitoral, Jos Sarney, uma das lideranascivis do regime militar, com o qual rompeu quando era presidente

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    nacional do PDS, sucedneo da Arena como partido de sustentaoparlamentar dos generais no poder. Por se opor imposio dacandidatura a presidente da Repblica de Paulo Maluf, ex-governadorde So Paulo, Sarney comandou a ruidosa e massiva defeco queminou o poder do PDS. Juntamente com seus correligionrios, ele

    migrou para a Aliana Democrtica, o conjunto de forasheterogneas que turbinou a candidatura a presidente de TancredoNeves pelo PMDB. Assim, tornou-se o candidato a vice-presidente nachapa de Tancredo Neves e, no impedimento deste, assumiu apresidncia, conduzindo o processo de redemocratizao. A ele coubelegalizar os partidos comunistas (o PCB, Partido Comunista Brasileiro,e o PC do B, Partido Comunista do Brasil) e ser sucedido porFernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito pelo voto diretoaps a deposio do ex-presidente Joo Goulart, o Jango.

    A miragem de um tertius

    Ambos, Jarbas Passarinho e Alacid Nunes, polarizaram asdisputas polticas paroquiais durante a ditadura militar e forampersonagens que estiveram no epicentro do jogo de presses econtra-presses que permeou a redemocratizao no Estado, naesteira da qual emerge Jader Barbalho (7). A despeito daanimosidade entre ambos, Jarbas e Alacid exibiam como

    denominador comum, at por fora da formao castrense dos dois,uma postura autocrtica, capaz de inibir a possibilidade de que umdeles viesse a ter a opo de dispor de uma alternativa com ummnimo de luz prpria.

    A alternncia de poder que pontua a sucesso estadual, aolongo do regime dos generais, se faz, invariavelmente, como reflexoda bipolaridade que opunha os dois coronis da poltica paraense.Quem exibiu gosto pelo poder, como o ex-governador AloysioChaves, no revelou densidade eleitoral capaz de torn-lo uma opode terceira via. Governador, Aloysio Chaves procurou manter uma

    postura de magistrado, eqidistante de Jarbas e Alacid, depois seelegeu senador, mas foi perdendo flego at ser compelido a secontentar com um mandato de deputado federal, com o qualencerrou sua carreira poltica.

    Dos prefeitos de Belm do perodo, invariavelmente submetidosa um dos coronis que pontificaram no Par durante o regime militar,nenhum sugeriu dispor de densidade eleitoral capaz de tornar algumdeles em um tertius e assim sepultar a bipolaridade protagonizadapor Jarbas e Alacid. Dentre os que tentaram prosperar politicamente,Osvaldo Melo ficou circunscrito a sucessivos mandatos parlamentares,

    orbitando em torno de Alacid Nunes e depois em volta do grupo decomunicao da famlia Maiorana, hoje ORM (Organizaes Romulo

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    Maiorana); Stlio Maroja acabou fulminado por um transtornomental; o coronel Nlio Dacier Lobato, definido comoirredutivelmente turro, no ultrapassou os limites da CmaraFederal; e Ajax Oliveira sequer conseguiu se eleger deputado.

    O racha que viabilizou Jader Barbalho

    Em 1980 ocorreu o que soava inimaginvel. Como corolrio desuas divergncias com Jarbas Passarinho, Alacid Nunes, entocumprindo seu segundo mandato como governador do Par, rompeuno s com seu inimigo figadal, mas com o prprio governo JooFigueiredo, o ltimo presidente do ciclo dos generais. Alacidsimplesmente fez seu bloco de sustentao parlamentar abandonar o

    PDS e migrar para o PMDB, viabilizando dessa forma a candidaturado ento deputado federal Jader Barbalho ao governo do Par, em1982. O racha entre os coronis exacerbou as retaliaes mtuasentre jarbistas e alacidistas. Os jarbistas passaram a dispor, ento,do calor do Palcio do Planalto e do monoplio dos cargos federais noPar. Os alacidistas, em contrapartida, passaram a controlar amquina administrativa estadual. As eventuais excees apenasconfirmavam a regra.

    A partir do rompimento com Jarbas Passarinho e de fazermigrar para o PMDB seu grupo parlamentar, Alacid Nunes, na poca

    governador, passou a ser hostilizado pelo Palcio do Planalto, sob aacusao de ter trado a confiana do presidente Joo Figueiredo.Segundo a verso disseminada pelosjarbistas, ele supostamente norespeitara um acordo pelo qual, ao ser escolhido governador em1978, acordara que seu sucessor seria indicado por JarbasPassarinho.

    As eleies de 1982

    Foi sob esse cenrio que em 1982 o PMDB lanou JaderBarbalho candidato ao governo, com o apoio do ento governadorAlacid Nunes, e Hlio Gueiros, Itair Silva e Joo Menezes para oSenado, valendo-se da sublegenda. O PDS apresentou o empresrioOziel Carneiro como candidato a governador, tendo como vice odeputado Zeno Veloso, e Jarbas Passarinho ao Senado. Ao dispensaro auxlio da sublegenda, aparentemente Jarbas superestimou seuprestgio e subestimou seus adversrios, pagando caro por isso,mesmo com o apoio ostensivo do jornal O Liberal, j ento depropriedade do jornalista e empresrio da comunicao Romulo

    Maiorana e, naquela altura, lder absoluto do mercado. Contempladocom a concesso de um canal de televiso pelo governo federal, a TV

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    Liberal, Romulo - que tinha vnculos histricos com o baratismo ecuja esposa, dona Da Maiorana, sobrinha de Magalhes Barata se viu compelido a renegar suas origens, passando a ser, por isso,virulentamente atacado por Gueiros, at ento um dos seus maisntimos amigos.

    Encerrada a apurao, Jader Barbalho fora eleito governador,pelo PMDB, que tambm elegeu Hlio Gueiros senador, graas aosvotos da sublegenda, com os quais derrotou Jarbas Passarinho,embora nominalmente este tivesse sido o mais votado. A eleio deJader Barbalho e de Hlio Gueiros teve um qu de vingana para osremanescentes do baratismo. No Par, extinto o PSD e os demaispartidos existentes, por imposio do golpe militar de 1 de abril de1964, a maioria dos baratistas buscou abrigo no MDB e, depois, noseu sucedneo, o PMDB, criado com o restabelecimento dopluripartidarismo, sob a exigncia de que todas as legendas fossem

    denominadas de partido. De resto, a genealogia poltica dos vitoriososremetia justamente ao baratismo. Larcio Barbalho, pai dogovernador eleito, fora baratista, como baratistatambm havia sido osenador eleito. Mas Jader Barbalho, pragmtico e sagaz, mesmoreverenciando os remanescentes do baratismo, tratou de impor sualiderana, sobrepondo suas convenincias s veleidades mandonistasdas vivas do PSD, a marca de fantasia dos baratistas. Alm deresgatar Hlio Gueiros do ostracismo poltico, ele costurou areabilitao do ex-governador Aurlio do Carmo, deposto pelosgolpistas de 1 de abril de 1964 e feito desembargador por Jader

    Barbalho, em seu primeiro mandato como governador do Par.Empossado, Jader Barbalho fez um governo pontuado pordenncias de corrupo, ao mesmo tempo em que j permitiaentrever a sagacidade poltica que viria a torn-lo clebre.Carismtico e com um perfil populista, evidenciou logo ter luz prpriae aparentemente frustrou as expectativas de seu principal caboeleitoral em 1982, o ex-governador Alacid Nunes, a quem eraatribuda nos bastidores inteno de se tornar a eminncia parda donovo governo. O primeiro acidente de percurso foi o confronto entreJader e o empresrio lojista Sahid Xerfan, indicado por Alacid e que,

    nomeado prefeito de Belm, passou a se movimentar com umaindependncia no limite da hostilidade em relao ao governadorpeemedebista. A queda de brao no durou muito e Jader logo tratoude defenestr-lo do Palcio Antnio Lemos, nomeando prefeito deBelm o mdico Almir Gabriel, que fora seu secretrio de Sade,cargo que ocupava desde o segundo governo de Alacid Nunes. Orompimento entre os dois, Jader e Alacid, soava assim a uma questode calendrio e se consumou com as articulaes para a sucessopresidencial de 1985, feita no colgio eleitoral e que o PMDB decidiradisputar com o ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves, sobum arco das mais variadas composies, etiquetado de AlianaDemocrtica. Em torno de Tancredo estava a leva de jovens

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    governadores eleitos pelo PMDB em 1982, dentre os quais figuravaJader Barbalho.

    O pretexto para Jader alijar politicamente Alacid foi a suspeitade que os deputados alacidistasviessem a votar em Paulo Maluf, ex-governador de So Paulo, candidato a presidente pelo PDS,

    fragilizado pelas disputas internas, que desembocaram emsignificativas defeces, a principal das quais a do ento presidentedo partido, Jos Sarney. Este se tornou vice na chapa de TancredoNeves e acabou presidente da Repblica, com a morte do ex-governador de Minas Gerais. Jader tratou de manter a situao sobcontrole e os delegados pinados na Assemblia Legislativa eramtodos do PMDB, supostamente descumprindo um acordo pelo qualmetade dos seis delegados seriam deputados alacidistas. Frustrado, oex-governador rompeu com Jader, que cumpriu integralmente seumandato, aparentemente por no confiar no seu vice, o alacidista

    Larcio Franco, a quem, porm, jamais hostilizou. Isso permitiu aojovem governador peemedebista manter a mquina administrativaestadual sob seu comando e utiliz-la para fazer seu sucessor HlioGueiros, um baratistahistrico, que ele ajudara a resgatar do limbopoltico, com a eleio para o Senado, em 1982.

    Jader d as cartas em 1986

    Cumprindo integralmente seu mandato como governador, JaderBarbalho deu as cartas nas eleies de 1986, ao somar as facilidadesoferecidas pelo uso da mquina administrativa estadual e a suareconhecida sagacidade poltica, potencializada pelo seuinquestionvel carisma. O aperitivo para as eleies de 1986 foi adisputa pela prefeitura de Belm, em 1985, vencida por FernandoCoutinho Jorge, o candidato do PMDB, partido que j naquela alturaconfundia-se com Jader Barbalho, desde ento lder inconteste dalegenda no Par. Aquele pleito marcou o retorno das eleies diretaspara prefeito e participaram da disputa Julio Viveiros, pelo PDS;Armando Soares, pelo PDT; Maria Lucia Penedo, pelo PTB; DionsioHage, pelo PFL; e Humberto Cunha, pelo PT. A vitria de CoutinhoJorge se deu com Jader absoluto, aps a derrota aniquiladora deJarbas Passarinho em 1982 e a corroso do prestgio eleitoral deAlacid Nunes, ao se ver desprovido de maior insero nos planosestadual e federal.

    Na presumvel inteno de pavimentar o caminho que levariaHlio Gueiros a ser eleito governador em 1986, Jader ressuscitoupoliticamente o adversrio da vspera e garantiu pessoalmente oretorno de Jarbas Passarinho ao Senado, pela coligao do PMDB como PDS, reservando a outra vaga em disputa para o ex-secretrioestadual de Sade e ex-prefeito de Belm Almir Gabriel, ento noPMDB. A eleio de Jarbas para o Senado, nas circunstncias em que

    se deu, representou uma inocultvel evidncia do prestgio poltico deJader. O compromisso foi honrado, mas a fatura foi apresentada em

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    1994, quando Jarbas Passarinho, a contragosto, se viu compelido asair candidato ao governo, deixando a vaga de senador para JaderBarbalho. Este foi eleito e Jarbas derrotado por Almir Gabriel, ocandidato do PSDB, no segundo turno.

    Na disputa pelo governo do Par, em 1986, a correlao de

    foras pendia claramente a favor de Jader Barbalho, como ilustrava oelenco de opacos adversrios do candidato do PMDB, Hlio Gueiros.Este disputou a eleio com Carlos Levy, pelo PMB; Joo Menezes(que era o suplente de Hlio Gueiros no Senado), pelo PFL; eNazareno Noronha, pelo PT. O resultado da eleio, como j eraesperado; foi vitria de Gueiros. Com o jarbismo destroado peladerrota de 1982, na qual tambm naufragou o prprio JarbasPassarinho, e o alacidismoagonizante, porque rfo das benesses dopoder que emanavam da figura de Alacid Nunes, cristalizava-se ojaderismo. De forte insero popular e com razes particularmente no

    interior, o jaderismo ainda se estende at Belm, apesar de serexpressiva na capital paraense a rejeio ao seu inspirador, JaderBarbalho.

    A vitria de 1990

    Eleito, Hlio Gueiros constatou que, sem aviso prvio, JaderBarbalho lhe ligara uma bomba-relgio, na forma de um emprstimo

    contrado s vsperas da transmisso de cargo. Ele tambm herdarado correligionrio um Banpar, o Banco do Estado do Par, emsituao catica, o que desembocou na interveno do Banco Central,a qual o novo governador reagiu tenazmente. Pelo prpriotemperamento, logo Gueiros comeou a se movimentar com umaindependncia ameaadora para o seu avalista eleitoral de 1982 e1986. J reconciliado com os Maiorana, tratou de compartilhar com ogrupo Liberal, hoje Organizaes Romulo Maiorana, o projeto de fazergovernador, em 1990, o mdico Henry Kayath, baratista histrico esimptico aos Maiorana e que Jader Barbalho fizera superintendente

    da Sudam, a Superintendncia de Desenvolvimento da Amaznia.O projeto de fazer Henry Kayath governador, na sucesso deGueiros, acabou fazendo gua. Kayath foi defenestrado da Sudam e oempresrio lojista Sahid Xerfan, eleito prefeito de Belm em 1988pelo PTB, surgiu assim como o plano B de Gueiros. Sob oescancarado apoio e estmulo do grupo Liberal, a candidatura deXerfan decolou, com o patrocnio do governador, em uma das maisacirradas refregas eleitorais da histria do Par. Isso tudo sob osinsultos pblicos entre Hlio Gueiros e Jader Barbalho, os aliados dopassado recente que as convenincias polticas tornaram inimigos

    aparentemente viscerais. Aparentemente, como se viu oito anosdepois, quando em 1998 Hlio Gueiros rompido com o ento

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    governador tucano Almir Gabriel, que ajudara a eleger em 1994 -estava reconciliado com Jader e de volta ao PMDB, juntamente com ofilho Hlio Gueiros Jnior, o Helinho, ex-vice-governador.

    A vitria de Jader Barbalho nas eleies de 1990 ratificou ahabilidade daquele que , incontestavelmente, o lder absoluto do

    PMDB no Par e hoje a mais longeva liderana da histria do Estado.Sagaz, mesmo aps uma srie de desditas, que sugeriam seu ocaso,ele ressurgiu com vigor na cena poltica paraense como o fiel dabalana, depois de ter sido o estrategista da eleio da petista AnaJlia Carepa para o governo do Par, em 2006. Alm de ser o autorda engenharia poltica que elegeu Ana Jlia, com a vitria desta, eledespachou para a histria o ex-governador tucano Almir Gabriel, quefez dele seu inimigo figadal, aps t-lo como patrono poltico, empassado recente.

    Antes disso, Jader j dera uma demonstrao de fora quando,

    mesmo politicamente debilitado, diante das vexatrias circunstnciassob as quais renunciou ao mandato de senador, descarregou votos notucano Simo Jatene, a quem ajudou a eleger governador, nosegundo turno da eleio de 2002. Na poca, por imposio desetores do PT, comandados pela ento senadora eleita Ana JliaCarepa, ele teve rejeitado seu apoio candidata petista ao governodo Par, a deputada Maria do Carmo Martins, hoje prefeita reeleita deSantarm, naquela altura derrotada por uma pequena margem devotos. Pragmtico, o tucano Simo Jatene, que tem suas origenspolticas no jaderismo, buscou e obteve o apoio de Jader, comeando

    a costurar um armistcio, inviabilizado pelo mandonismo de AlmirGabriel, que rejeitava toda e qualquer recomposio com aquele quej fora seu patrono poltico.

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    FONTES DE CONSULTA

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    CRUZ, Ernesto. Histria do Par. Volume II. Belm-Par, 1963.

    CRUZ, Ernesto. Histria do Poder Legislativo do Par, 1935 1967.Assemblia Legislativa. Belm-Par, 1978.

    SARGES, Maria de Nazar. Belm: riquezas produzindo a Belle-poque (1870- 1912). Belm: PAKA-TATU, 2002.

    PINTO, Lcio Flvio. Um episdio do passado e a histria verdadeira.Artigo publicado em O Estado do Tapajs Online,(http://blogdoestado.blogspot.com), em 12 de julho de 2008.

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    (www.oparanasondasdoradio.ufpa.br/index.htm).

    Wikipdia, a enciclopdia livre da internet(http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal).