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96 A PROFISSÃO DE SOCIÓLOGO: UMA ABORDAGEM SOBRE A FORMAÇÃO DO FUTURO CIENTISTA SOCIAL ENQUANTO ALUNO E ESTAGIÁRIO, RELACIONANDO A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS COMO COHAB-LD E PREFEITURA DE LONDRINA. Márcio Roberto Vieira Ramos (UEL), [email protected] Resumo: Esta pesquisa possui como proposta analisar a formação do profissional Sociólogo, na trajetória de estudante e estagiário em instituições públicas que disponibilizam estágios aos universitários de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ponderar a contribuição das atividades no estágio para a formação profissionalizante do acadêmico de Ciências Sociais, relacionando as diretrizes de estudos teóricos da grade curricular ao campo de atuação do cientista social nessas instituições. Partindo desse pressuposto, a atuação dos futuros cientistas sociais dentro das instituições públicas como estagiário, se torna o objeto de pesquisa, ou seja, buscar compreender como as atividades realizadas pelos estagiários estão contribuindo com sua formação acadêmica, quais as dificuldades enfrentadas pelos estudantes dentro desses espaços. Por fim, questionar: As atividades desempenhadas pelos estagiários enquadram-se com sua formação universitária ou servem apenas aos interesses institucionais das unidades concedentes de estágios. Palavras-chave: Sociólogo; estagiário; ciências sociais.

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A PROFISSÃO DE SOCIÓLOGO: UMA ABORDAGEM SOBRE A

FORMAÇÃO DO FUTURO CIENTISTA SOCIAL ENQUANTO ALUNO E

ESTAGIÁRIO, RELACIONANDO A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL EM

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS COMO COHAB-LD E PREFEITURA DE

LONDRINA.

Márcio Roberto Vieira Ramos (UEL),

[email protected]

Resumo: Esta pesquisa possui como proposta analisar a formação do profissional

Sociólogo, na trajetória de estudante e estagiário em instituições públicas que

disponibilizam estágios aos universitários de Ciências Sociais da Universidade Estadual

de Londrina (UEL). Ponderar a contribuição das atividades no estágio para a formação

profissionalizante do acadêmico de Ciências Sociais, relacionando as diretrizes de

estudos teóricos da grade curricular ao campo de atuação do cientista social nessas

instituições. Partindo desse pressuposto, a atuação dos futuros cientistas sociais dentro

das instituições públicas como estagiário, se torna o objeto de pesquisa, ou seja, buscar

compreender como as atividades realizadas pelos estagiários estão contribuindo com

sua formação acadêmica, quais as dificuldades enfrentadas pelos estudantes dentro

desses espaços. Por fim, questionar: As atividades desempenhadas pelos estagiários

enquadram-se com sua formação universitária ou servem apenas aos interesses

institucionais das unidades concedentes de estágios.

Palavras-chave: Sociólogo; estagiário; ciências sociais.

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1. INTRODUÇÃO

Quando pensamos o profissional Sociólogo, o cientista social, remetemos a

uma análise histórica e estrutural sobre esse ofício, refletindo a sua ação na sociedade.

No anseio de compreender sobre a formação profissional do Sociólogo, principalmente

na etapa acadêmica, analisar o estágio não obrigatório, se torna importante nesse

processo de entendimento, da relação entre conhecimento e prática adquiridas pelos

discentes. Assim, compreender essa relação dentro de instituições públicas como a

Companhia de Habitação de Londrina (COHAB-Ld) e da Prefeitura Municipal de

Londrina (PML), representados pelo Centro de Referência de Assistência Social

(CRAS) e o Gerência de Transferência de Renda (GTR), se torna relevante para

averiguar se as funções desempenhadas pelos estudantes de Ciências Sociais da

Universidade Estadual de Londrina (UEL), enquanto estagiários, se enquadram com as

ciências aprendidas através dos estudos acadêmicos.

A Sociologia, ciência da sociedade moderna, tem pois por categoria central o

social, diferenciado dos conceitos tradicionais do político e do econômico. (ARON,

1986, pág. 07). Partindo do pensamento de Aron, a Sociologia enquanto ciência

moderna, oriunda de grandes transformações científicas como as Revoluções:

Científica, Industrial, Francesa, movimentos como o Iluminismo, Renascentismo entre

outros, que colaboraram em uma nova forma de pensamento humano, mudanças sociais

e tecnológicas que transformaram a vida simples em uma vida complexa, juntamente

com ela, surge a profissão de Sociólogo. A Sociologia em seu aprendizado busca

entender as relações sociais entre indivíduos arraigados nas sociedades e os conflitos

nelas existentes.

Ao surgir novos conflitos da sociedade moderna, transformações advindas de

seu processo histórico, surgiram também grandes desigualdades sociais, colonizações,

dominações, extermínios, genocídios, preconceitos entre outros crimes impiedosos,

assim, passa a existir a Sociologia enquanto ciência e o Sociólogo enquanto profissional

para debater esses problemas sociais. A Ciências Sociais abrange o Antropólogo e o

Cientista Político, pesquisadores que amparam os estudos das sociedades para

compreendê-la.

A implicação deste trabalho é analisar a profissão de Sociólogo em relação as

atividades desempenhadas no estágio não obrigatório, que os universitários de Ciências

Sociais da UEL obtêm em instituições públicas do município, concebido pela

Companhia de Habitação de Londrina, pelo Centro de Referência de Assistente Social e

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também o Gerência de Transferência de Renda. Elas disponibilizam estágios

remunerado aos estudantes de ensino superior e de ensino médio (menor aprendiz),

gerenciam políticas públicas dirigidas à população de baixa renda participantes dos

programas do Governo Federal, cadastros nos sistemas eletrônicos das instituições1, ao

qual, a colaboração dos estagiários com os trabalhos desenvolvidos são de extrema

importância.

O foco principal desse trabalho, é investigar acerca das práticas exercidas no

estágio não obrigatório pelos acadêmicos do curso de graduação em Ciências Sociais da

UEL, no desígnio de examinar se a sua contribuição nas atividades desempenhadas nos

órgãos públicos de estágio, estão em afinidade com a formação do Bacharel,

relacionado com as diretrizes de estudos teóricos da grade curricular ao campo de

atuação do cientista social nessas instituições públicas, ponderando se os estagiários

estão exercendo a relação ensino e prática, ou seja, se eles estão operando nesse campo

de trabalho como um futuro cientista social ou estão apenas desempenhando atividades

não conexas com aquilo que aprendem na universidade, tornando-se assim apenas

“mão-de-obra barata”, representando funcionalmente apenas aos interesses dos

estabelecimentos onde atuam, podendo ser dispensados a qualquer momento.

A tese que: o estágio é o instante em que o estudante possui para exercer na

prática habitual institucional, seus conhecimentos científicos que a universidade sugere,

momento em que a realidade se apresenta de forma viva, ao qual, a relação ensino e

aprendizado se concretiza de certa forma, ou seja, o bacharelando possui a oportunidade

empírica de conhecimento de novos objetos de pesquisa, diagnosticar problemas sociais

segundo metodologias e conceitos estudados na acadêmia, sem contar a experiência de

vida. As 1 IRSAS (Informatização da Rede de Serviços de Assistência Social), Cadastro Único, GCI (Gerenciador de Crédito Imobiliário).

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autoras Pimenta e Lima na questão do estágio sugerem: “A finalidade do estágio é

proporcionar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará”. (PIMENTA e

LIMA, 2004, pág. 45).

O estágio disponibiliza ao discente uma visão ampliada e investigativa da

realidade social, no ambiente de trabalho, onde sua ação científica será aplicada.

Entretanto, não pode ser visto como um ambiente onde se desenvolve apenas a teoria,

reproduzindo o conhecimento instrumentalmente, pois como futuro profissional, o

estagiário deve ampliar capacidades próprias de seu ofício, interventor em questões

sociais, almejando refletir criticamente e cientificamente a sociedade em geral.

O curso de Ciências Sociais da UEL, proporciona ao aluno a escolha entre a

Licenciatura que estabelece estágios obrigatórios sem remuneração nos colégios

públicos de ensino médio e/ou o Bacharel tornando-se Sociólogo, Antropólogo ou

Cientista Político. Projetos de estudos2 que apoiam o desenvolvimento de técnicas,

metodologias de ensino e pesquisa de Sociologia, complementam a formação na

Licenciatura, assim, como o estágio não obrigatório complementa os estudos no

Bacharel.

Muitas das atividades desempenhadas pelos estagiários nas instituições

públicas, não enquadram com os conhecimentos obtidos na acadêmia. As atividades

realizadas em geral são iguais as dos técnicos administrativos ou técnicos de gestão, ou

seja, não estabelecem anos de estudos ou conhecimentos de ensino superior, mas apenas

de breve treinamento, pois o labor se determina repetitivo e mecânico. Existem também,

questões como alcançar determinadas metas “produtivas” constituídas por chefias das

instituições, que ordenam aos estagiários finalidades que não possibilitam a realização

de pesquisas científicas palpáveis.

Outro fator importante, está no fato de quando os estagiários não interessam

para as instituições públicas que disponibilizam estágios, eles são desvinculados, ou

demitidos antes do término do contrato. O fato do estágio não ser obrigatório, grande

parte dos estagiários cogitam o estágio por causa da remuneração, que sustentam suas

necessidades básicas. 2 PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), LENPES (Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia), entre outros.

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2 A INSTITUIÇÃO COHAB-Ld E SEUS EMPREENDIMENTOS.

É preciso conhecer as instituições públicas que oferecem estágios e seus

empreendimentos, onde o estudantes de Ciências Sociais da UEL, fazem estágios e

assim saber sobre suas atividades desempenhadas. Segundo o site da PML:

A Companhia de Habitação de Londrina (COHAB-Ld) é uma sociedade

composta por ações de economia mista e foi criada pela Lei Municipal nº

1.008, de 26 de agosto de 1965. A Companhia está vinculada, como entidade

de administração indireta, à Prefeitura do Município de Londrina. (PML,

2014).

A COHAB possui filiais em outros Estados do Brasil e tem por objetivos,

políticas de desenvolvimento urbano e social do município onde está situada, atendendo

as normas do Sistema Financeiro da Habitação e/ou Sistema Financeiro Imobiliário que

constrói e comercializa apartamentos e casas, segundo as normas e critérios

determinados pelo Governo Federal, pela Legislação Federal e também Municipal,

agenciando a urbanização nas áreas de ocupação3, em estado de precariedade. A Cohab

de Londrina também atua em outras cidades do Estado do Paraná que não têm essa

instituição pública. A Cohab em Londrina está localizada na Rua Pernambuco nº 1.002.

A Cohab-Ld, almeja atender famílias de baixa renda interessadas em seus

programas sociais de habitação como o Programa Minha Casa Minha Vida do Governo

Federal (PMCMV- Lei N° 11.977 de JULHO de 2.009), assim como, outros programas

proposto à um público com renda mais elevada, ou interessados em empreendimentos

de construtoras parceiras da instituição.

3. SOBRE O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)

E O GERÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA (GTR).

Na cidade de Londrina existem os CRAS’s4, eles possuem o papel de

integrar aos programas sociais do Governo Federal a demanda populacional

3 No site da instituição, associam ocupações como “invasões”.

4 CRAS Norte A e B, Sul A e B, Centro A e B, Leste, Oeste A e B.

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que necessita de seus benefícios, buscando sua proteção e inserção às políticas públicas

oferecidas. No site da PML sobre sua atribuição se descreve da seguinte forma:

Descrição: Trabalho social com famílias em vulnerabilidade social, com a

finalidade de fortalecer a situações de fragilidade social o acesso e usufruto

de direitos humanos e sociais e a melhoria. Compreende o conjunto de ações

desenvolvidas com famílias vulneráveis visando o desenvolvimento bem

como o atendimento das necessidades básicas e inclusão nas demais políticas

públicas; Realiza-se por meio de metodologias elaboradas considerando o

nível de vulnerabilidade atendidas e as especificidades territoriais. Oferece

atividades de convívio e trabalho sócio-educativo, com vistas ao

fortalecimento da sociabilidades e a prevenção e a atenção de situações de

risco social. Serviço incumbido da oferta de trabalho social de abordagem e

vigilância social em territórios vulnerabilidade e risco social. Encaminha a

resolução de necessidades imediatas, promove realiza a vigilância do risco,

da violência e da discriminação, mediante a observação e busca programada

e continuada. (PML, 2014).

O CRAS, é um órgão diretamente associado as Prefeituras e suas sedes

geralmente se localizam em locais acessíveis a população de uma região específica, ou

seja, envolvendo diversos bairros, sendo coordenado por um(a) Assistente Social.

Procura beneficiar através de seus programas as pessoas que sofrem com as

desigualdades sociais existentes, vulneráveis socialmente, integrando-as aos programas

sociais, outorgando benefícios assistenciais como o BPC (Benefício de Prestação

Continuada), cupom alimentação, auxílio natalidade, Bolsa Família entre outros.

Agregam o sistema de proteção social do Estado previstos em lei5, buscando a melhoria

de suas condições de vida.

As informações levantadas nos CRAS’s através do Cadastro Único do Governo

Federal e do IRSAS, são gerenciadas pelo GTR, que por meio dos dados levantados

pode designar os interessados aos benefícios que competem a sua condição social.

O quadro de funcionários do GTR é composta6 por uma Assistente Social

chefe e uma habilitada em Ciências Sociais, concursada em técnica em

5 Como a Lei nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004 do Bolsa Família, entre outras leis.

6 Até o momento da pesquisa.

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gestão, com função desviadas, técnicos administrativos, estagiários, terceirizados

contratados pelo PROVOPAR7 e zeladora.

4. AS ATIVIDADES DOS ESTAGIÁRIOS NAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS.

Nas instituições públicas analisadas, os estagiários em geral desempenham

atividades tais como: atendimento ao público, recepção, atendimento telefônico,

preenchimento, digitação e alimentação de dados nos sistemas de cadastros entre outras

tarefas designadas pelos superiores. Algumas atividades como a digitação de cadastros

possuem metas, similar a um “sistema produtivo”.

Essas tarefas desenvolvidas pelos estagiário, limita sua ação como cientista

social, pois, são de caráter mecânico, não exigem necessariamente de aprendizado de

ensino superior, e sim de um breve treinamento, portanto, transforma o estudante em

mero trabalhador que representa os interesses da instituição que apenas lhe proporciona

uma visão para a pesquisa e não uma ação para a pesquisa, tão necessário para seu

crescimento profissional.

5. SOBRE A CONDIÇÃO DE ESTAGIÁRIO.

Em definição do Dicionário Aurélio: estagiário sm. 1. Aquele que faz estágio.

Assim o mesmo define estágio: estágio sm. 1. Aprendizado, tirocínio8

(de qualquer

profissional). 2. Etapa, fase.

O significado de estagiário, qual as suas atividades em instituições públicas

que ofertam estágios e acrescentam ao seu funcionalismo o trabalho de estudantes de

ensino médio e superior, são temas importantes para entendimento sobre como o seu

trabalho gere aos órgãos públicos atividades de grandes valores para suas empreitadas9,

pois, os estagiários são

7 Programa do Voluntário Paranaense, que contrata trabalhadores para preenchimento de Cadastros Único do Governo Federal. 8 Tirocínio sm. 1. Primeiro ensino; aprendizado. 2. Prática em determinada profissão. 9 Exemplo, o Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal, desenvolvido pela COHAB-Ld.

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presentemente constantes em muitos estabelecimentos públicos e suas atividades

tornam-se primordiais para o adequado funcionamento da instituição.

Consequentemente, as condições de atuação desses estagiários nessas instituições

públicas, refletem no seu futuro profissional, ou seja, o estágio é o momento onde o

conhecimento se encontra com a realidade, ao qual, o cientista social pode cooperar

através de sua formação e de sua cientificidade, se preparar para as esfinges de seu

trabalho. Entretanto, é preciso analisar os estágios, investigando a coerência das

atividades desempenhadas pelo estagiário em consonância com a relação ensino e

prática.

A relação entre estagiário e instituição cedente de estágio, não é simples,

porque os estagiários devem corresponder aos seus interesses, “somente seus

interesses”, se não corresponderem as suas perspectivas, ocorre o cancelamento do

contrato de estágio, baseado em artigos ou decretos, como o que analisarei a seguir:

O artigo 20, inciso V e VIII do Decreto nº 1285 de 20 de Dezembro de 2010

do Município de Londrina diz:

Art.20 O desligamento do estágio ocorrerá: V- a qualquer tempo, a critério da Administração, especialmente se não forem observadas as disposições do

art. 1710

e ainda se verificada a falta de aproveitamento e rendimento. (PML,

2010).

Se o estagiário descumprir com as ordens e metas estabelecidas, a unidade

cedente de estágio fundamentado nesse documento, expõem como falta de

aproveitamento ou rendimento. Outra questão importante, está no fato que o artigo 20,

propõe ao estudante apenas aquilo que lhe é ordenado, ou seja, o impossibilita de agir

como um futuro cientista social, pois o objetivo principal são as metas. E mais, voltando

ao artigo 17, no item X articula: “promover manifestações de apreço ou desapreço da

repartição”. (PML, 2010).

10 Art. 17 – “É vedado ao estagiário”, ver documento em http://www.londrina.pr.gov.br/

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Portanto, nota-se o bloqueio aos estagiários, eles aceitam as condições atribuídas,

para manterem o estágio e terem uma renda sem o trabalho de oito horas diárias e assim

terem tempo para o desenvolvimento dos estudos.

O jovem estudante, aquele que aprende uma nova ciência, um profissional em

formação, deve ser ouvido, isto é, compreendido e respeitado, porque ele é parte de um

recinto de trabalho que o prepara para uma nova profissão, deve ser capaz de intervir e

transformar a realidade social em que atuará. Assim, não se pode tratar o estagiário

como um simples empregado11

que apenas cumpre simples tarefas, pois o mesmo possui

ciência específica de sua formação e pode colaborar com as instituições públicas que

cedem os estágios, desde que, respeitados as suas ações nesses órgãos públicos e seja

disponibilizado espaço para a sua ação científica. Florestan Fernandes destaca:

O aluno é um ser humano maduro e crítico, não é um “recipiente” vazio, não

deve fechar-se a “neutralidade institucional”, que só é neutra do ponto de

vista da irradiação das ideias e das ideologias consagradas pelas estruturas de

dominação vigentes. (FERNANDES, 1980, pág.10).

A proposta do autor compete aos espaços das instituições públicas que ofertam

estágios, principalmente quanto à neutralização institucional que elas exercem.

O estágio é efetivo para o universitário ou aprendiz exercitar seus

conhecimentos, período de contato com a realidade de sua carreira, emprego da teoria

na prática como aponta Pimenta e Lima: “O estágio sempre foi identificado como a

parte prática dos cursos de formação de profissionais, em contraposição à teorias”.

(PIMENTA e LIMA, 2004, pág. 33). Ou seja, é um período muito produtivo para

qualquer profissional, para o exercício de métodos e técnicas, pois é o momento do

contato com a realidade, momento de aprendizado na prática, as autoras ainda

complementam:

O exercício de qualquer profissão é técnico, no sentido de que é necessário a

utilização de técnicas para executar as operações e ações próprias. Assim, o

médico, o dentista necessitam desenvolver habilidades específicas para

operar os instrumentos próprios de seu fazer. (PIMENTA e LIMA, 2004,

pág. 37). 11 Sem sentido pejorativo ou menosprezo sobre qualquer profissão.

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O Sociólogo ou cientista social, não se encontra em situação antagônica, o

estágio é o embate com a realidade, encontro com possíveis perspectivas de objetos de

estudos, assim o estágio aproxima o estudante com a realidade em que ele atuará, não

podendo ser um espaço apenas de observação e sim de ação.

O estágio não obrigatório possui documentos como o “Termo de Compromisso

de Estágio” e “Legislação Do Estágio Não Obrigatório Da Universidade Estadual De

Londrina12

” que apontam sobre direitos e deveres do estagiário e da unidade concedente

de estágio, os documentos propõem sobre as atividades desenvolvidas, supervisão dos

estagiários, termos de compromissos, contratos e seguros, complemento educacional e

aprendizagem, grade curricular entre outros, visando à formação profissional. Algumas

cláusulas são importantes para entender a relação entre o estagiário e a unidade

disponibilizadora de estágio.

A questão a se tratar em relação aos documentos que regulamentam a função

de estagiários, está no fato que na prática não são cumpridas as propostas,

principalmente quando se analisa através das atividades desempenhadas, que nada

seguem os termos que são propostos nos documentos, para averiguar temos a exemplo,

o termo de compromisso de estágio da PML, criado pelo DEPARTAMENTO DE

GESTÃO DE PESSOAS (DGP), no item 2 - está organizado desta maneira: “O

estágio tem por objetivo proporcionar a complementação e prática profissional” (PML,

2013). Isso já mostra falha de proposta inicial. Pois, seu objetivo, está em proporcionar

complementação e prática profissional, as atividades desenvolvidas (citadas no acima),

pelos estagiários no CRAS e no GTR são contrárias a proposta do documento, pois, não

existe no trabalho realizado a aplicação específica de técnicas e teorias oriundo dos

aprendizados acadêmicos, ocorrendo uma visão científica e não uma ação científica.

12 Ver documento em: http://www.londrina.pr.gov.br/

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O Sociólogo promove métodos e técnicas próprias de sua profissão, necessitando

de estudos e pesquisas heurísticas, analisando as teorias científicas que existem, em

busca de soluções para os problemas que surgem socialmente, instrumentalizando-os

em análises sociológicas, rompendo com as pré-noções e o senso comum, buscando sua

cientificidade. Ele pode atuar em universidades públicas e privadas, administrações

públicas, eleitoral, setores de pesquisa em grandes empresas, terceiro setor como as

organizações não governamentais, institutos de pesquisa e opinião pública, e também

como professores de Ensino Médio e Superior. Segundo Florestan Fernandes: O

sociólogo precisa estar preparado para reconhecer, descrever e explicar as diferentes

formas e funções assumidas pela interação social nesses vários níveis de organização da

vida. (FERNANDES, 1976, pág. 15).

Importante ressaltar que a profissão do Sociólogo é regulamentada na Lei n°

6.888, de 10 de dezembro de 1980, que dispõe sobre o exercício da profissão do

Sociólogo e da outras providências, aborda sobre suas competências. Também o código

de ética, “Aprovado na plenária final de delegados do XIV Congresso Nacional de

Sociólogos realizada em 16 de abril de 2008, na cidade de Natal”, que diz respeito aos

princípios éticos e fundamentais da profissão.

Nas instituições públicas estudadas, Sociólogas trabalham em parceria com as

assistentes Sociais. 6. CONSIDERAÇÕES DOS ESTAGIÁRIOS.

Questionários13

realizados com estagiários atuantes ou que atuaram na

COHAB-Ld, CRAS e GTR14

, possibilitou compreender as aflições e expectativas no

âmbito das instituições públicas em discussão. Entre os entrevistados, a faixa etária

varia de 20 à 54 anos de idade, o tempo de

13 Questionário aplicado em 2014, para Trabalho de Conclusão de Curso. Para o artigo presente não foram feitos analises quantitativos.

14 Foram entrevistados dezesseis estagiários atuantes e quatro que já atuaram nas instituições públicas estudadas. Dez da COHAB-Ld, dez do CRAS ou GTR (3 estagiários atuaram nas duas instituições e uma estagiária atuou nas três).

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trabalho no estabelecimento público possui uma variável de 06 meses a 02 anos.

Questionado sobre a importância do estágio na relação formação e para além

da universidade, apontaram para a remuneração, experiência profissional,

conhecimentos e habilidades, tempo para os estudos, manter-se na cidade e permanência

na UEL,

Quanto as atividades desenvolvidas pelos estagiários nas instituições públicas

pesquisadas, eles citaram as seguintes tarefas: digitação, atendimento ao público,

preenchimento de cadastros, arquivamento, coleta e alimentação de dados,

planilhamento, organização de documentos, recepção, atendimento de telefone,

relatórios e visita social. Afirmaram que as atividades desenvolvidas no estágio não

contribuem diretamente para a sua formação.

As informações disponibilizadas pelos estagiários, brevemente analisadas

nesse trabalho, comprovam que eles necessitam do estágio pelo ordenado que os auxilia

nos estudos, na permanência na universidade e até mesmo em Londrina e também no

tempo para os estudos. Demonstram que as atividades desenvolvidas não contribuem

diretamente com a sua formação, pois, são de caráter mecânico e não colocam em

prática a relação ensino e aprendizado.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Esta pesquisa procurou compreender a situação dos estagiários nas instituições

públicas que empregam sua força de trabalho. Por meio das atividades desenvolvidas

como atendimento ao público, preenchimento de cadastros, atendimento de telefone

etc., corroborar que nesse meio não existe uma preocupação concreta com a formação

do estagiário pelos órgão público cedente de estágio, pois seus interesses particulares,

limitam a ação científica dos estudantes estagiários.

Os documentos15

alusivos as atividades do estágio, demonstram diversas

falhas no cumprimento das propostas desenvolvidas para regulamentar o trabalho do

estudante por parte das instituições públicas, pois

15 Brevemente analisado para este trabalho.

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na prática, não segue o que está disposto, esse fato compromete a formação do

estudante, que deveria ter no estágio um campo de atuação, onde pode pôr em prática

seus conhecimentos acadêmicos, ou seja, ele não realiza pesquisa de verdade, assim, o

estágio que deveria complementar o seu aprendizado, acaba tornando-se apenas uma

forma de possuir renda, onde o estagiário é oprimido por atividades dirigidas, sem

condições de mostrar seus conhecimentos científicos, pois apenas cumprem as ordens

de seus superiores.

A análise desenvolvida através de questionário direcionado aos estagiários, deu

uma lacônica noção de seus anseios, pois eles exercem estágios para terem rendas,

tempo para estudos, ou mesmo aprendizado prático, no entanto, as atividades

desenvolvidas demostram que tal fato não é concreto, eles não atuam como cientistas

sociais, apenas desenvolvem tarefas técnicas que não exigem o conhecimento de ensino

superior, apenas um curto treinamento. Sendo assim, a relação ensino e prática não

existe em sua plenitude.

Com a pesquisa averiguou-se que nas instituições públicas, os estagiários

geralmente desenvolvem atividades que não competem à um cientista social, que não se

harmoniza com o aprendizado universitário, ou seja, não corresponde a perspectiva da

relação teoria e prática. Realizam atividades como atendimento ao público, atendimento

de telefone, preenchimento de cadastros entre outros, que não enquadram direto com o

aprendizado universitário, ou seja, não corresponde a relação teoria e prática. O

estudante pode até ter uma visão científica dos fatos, mas ocorre o bloqueio das ações

do trabalho de cientista social.

Os estagiários se sujeitam à tais condições pelo fato de não possuírem outra

oportunidade de remuneração por seis horas de trabalho, que contribui com mais tempo

para os estudos. Em geral os estagiários entrevistados acordam que no estágio sofrem

pressão pelas chefias em relação as metas, também que as atividades não são coesas

com sua formação e limitam uma ação científica.

Importante para a pesquisa foram as análises dos documentos em relação ao

exercício dos estágios. Eles demonstram que em sua maioria, as

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propostas dos decretos e leis apropriadas a ação do estagiário, não se efetivam, pois, os

estagiários acabam se tornando um recurso barato para o preencher o quadro de

funcionários das instituições públicas analisadas.

A relação entre estagiários e Sociólogos nas instituições públicas abordadas,

fundamenta-se no quesito realização das tarefas determinadas pelas Assistentes Sociais,

que representam apenas aos interesses dos órgão públicos, não se preocupando com a

formação dos estudantes das Ciências Sociais e como a autonomia dos cientistas sociais,

mas apenas com as metas de atividades cumpridas.

Portanto, o estágio não obrigatório, deve ser analisado com cautela, para que

não seja um recurso institucional barato para suprir a demanda de funcionários, deve ser

analisado da perspectiva de ser um complemento da universidade, espaço onde se

realiza a teoria e prática. Para que esse fato se concretize, é preciso uma supervisão

direta dentro das instituições que oferecem estágio, para que seja cobrado dos superiores

uma adequação as normas e regulamentos sobre o estágio. Assim, o estágio contribui

com o futuro profissional, com a sua formação de cientista social e não apenas atende

aos interesses das instituições públicas, sendo uma opção trivial de trabalho.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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