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A PROFISSÃO DE SOCIÓLOGO: UMA ABORDAGEM SOBRE A
FORMAÇÃO DO FUTURO CIENTISTA SOCIAL ENQUANTO ALUNO E
ESTAGIÁRIO, RELACIONANDO A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL EM
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS COMO COHAB-LD E PREFEITURA DE
LONDRINA.
Márcio Roberto Vieira Ramos (UEL),
Resumo: Esta pesquisa possui como proposta analisar a formação do profissional
Sociólogo, na trajetória de estudante e estagiário em instituições públicas que
disponibilizam estágios aos universitários de Ciências Sociais da Universidade Estadual
de Londrina (UEL). Ponderar a contribuição das atividades no estágio para a formação
profissionalizante do acadêmico de Ciências Sociais, relacionando as diretrizes de
estudos teóricos da grade curricular ao campo de atuação do cientista social nessas
instituições. Partindo desse pressuposto, a atuação dos futuros cientistas sociais dentro
das instituições públicas como estagiário, se torna o objeto de pesquisa, ou seja, buscar
compreender como as atividades realizadas pelos estagiários estão contribuindo com
sua formação acadêmica, quais as dificuldades enfrentadas pelos estudantes dentro
desses espaços. Por fim, questionar: As atividades desempenhadas pelos estagiários
enquadram-se com sua formação universitária ou servem apenas aos interesses
institucionais das unidades concedentes de estágios.
Palavras-chave: Sociólogo; estagiário; ciências sociais.
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1. INTRODUÇÃO
Quando pensamos o profissional Sociólogo, o cientista social, remetemos a
uma análise histórica e estrutural sobre esse ofício, refletindo a sua ação na sociedade.
No anseio de compreender sobre a formação profissional do Sociólogo, principalmente
na etapa acadêmica, analisar o estágio não obrigatório, se torna importante nesse
processo de entendimento, da relação entre conhecimento e prática adquiridas pelos
discentes. Assim, compreender essa relação dentro de instituições públicas como a
Companhia de Habitação de Londrina (COHAB-Ld) e da Prefeitura Municipal de
Londrina (PML), representados pelo Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) e o Gerência de Transferência de Renda (GTR), se torna relevante para
averiguar se as funções desempenhadas pelos estudantes de Ciências Sociais da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), enquanto estagiários, se enquadram com as
ciências aprendidas através dos estudos acadêmicos.
A Sociologia, ciência da sociedade moderna, tem pois por categoria central o
social, diferenciado dos conceitos tradicionais do político e do econômico. (ARON,
1986, pág. 07). Partindo do pensamento de Aron, a Sociologia enquanto ciência
moderna, oriunda de grandes transformações científicas como as Revoluções:
Científica, Industrial, Francesa, movimentos como o Iluminismo, Renascentismo entre
outros, que colaboraram em uma nova forma de pensamento humano, mudanças sociais
e tecnológicas que transformaram a vida simples em uma vida complexa, juntamente
com ela, surge a profissão de Sociólogo. A Sociologia em seu aprendizado busca
entender as relações sociais entre indivíduos arraigados nas sociedades e os conflitos
nelas existentes.
Ao surgir novos conflitos da sociedade moderna, transformações advindas de
seu processo histórico, surgiram também grandes desigualdades sociais, colonizações,
dominações, extermínios, genocídios, preconceitos entre outros crimes impiedosos,
assim, passa a existir a Sociologia enquanto ciência e o Sociólogo enquanto profissional
para debater esses problemas sociais. A Ciências Sociais abrange o Antropólogo e o
Cientista Político, pesquisadores que amparam os estudos das sociedades para
compreendê-la.
A implicação deste trabalho é analisar a profissão de Sociólogo em relação as
atividades desempenhadas no estágio não obrigatório, que os universitários de Ciências
Sociais da UEL obtêm em instituições públicas do município, concebido pela
Companhia de Habitação de Londrina, pelo Centro de Referência de Assistente Social e
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também o Gerência de Transferência de Renda. Elas disponibilizam estágios
remunerado aos estudantes de ensino superior e de ensino médio (menor aprendiz),
gerenciam políticas públicas dirigidas à população de baixa renda participantes dos
programas do Governo Federal, cadastros nos sistemas eletrônicos das instituições1, ao
qual, a colaboração dos estagiários com os trabalhos desenvolvidos são de extrema
importância.
O foco principal desse trabalho, é investigar acerca das práticas exercidas no
estágio não obrigatório pelos acadêmicos do curso de graduação em Ciências Sociais da
UEL, no desígnio de examinar se a sua contribuição nas atividades desempenhadas nos
órgãos públicos de estágio, estão em afinidade com a formação do Bacharel,
relacionado com as diretrizes de estudos teóricos da grade curricular ao campo de
atuação do cientista social nessas instituições públicas, ponderando se os estagiários
estão exercendo a relação ensino e prática, ou seja, se eles estão operando nesse campo
de trabalho como um futuro cientista social ou estão apenas desempenhando atividades
não conexas com aquilo que aprendem na universidade, tornando-se assim apenas
“mão-de-obra barata”, representando funcionalmente apenas aos interesses dos
estabelecimentos onde atuam, podendo ser dispensados a qualquer momento.
A tese que: o estágio é o instante em que o estudante possui para exercer na
prática habitual institucional, seus conhecimentos científicos que a universidade sugere,
momento em que a realidade se apresenta de forma viva, ao qual, a relação ensino e
aprendizado se concretiza de certa forma, ou seja, o bacharelando possui a oportunidade
empírica de conhecimento de novos objetos de pesquisa, diagnosticar problemas sociais
segundo metodologias e conceitos estudados na acadêmia, sem contar a experiência de
vida. As 1 IRSAS (Informatização da Rede de Serviços de Assistência Social), Cadastro Único, GCI (Gerenciador de Crédito Imobiliário).
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autoras Pimenta e Lima na questão do estágio sugerem: “A finalidade do estágio é
proporcionar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará”. (PIMENTA e
LIMA, 2004, pág. 45).
O estágio disponibiliza ao discente uma visão ampliada e investigativa da
realidade social, no ambiente de trabalho, onde sua ação científica será aplicada.
Entretanto, não pode ser visto como um ambiente onde se desenvolve apenas a teoria,
reproduzindo o conhecimento instrumentalmente, pois como futuro profissional, o
estagiário deve ampliar capacidades próprias de seu ofício, interventor em questões
sociais, almejando refletir criticamente e cientificamente a sociedade em geral.
O curso de Ciências Sociais da UEL, proporciona ao aluno a escolha entre a
Licenciatura que estabelece estágios obrigatórios sem remuneração nos colégios
públicos de ensino médio e/ou o Bacharel tornando-se Sociólogo, Antropólogo ou
Cientista Político. Projetos de estudos2 que apoiam o desenvolvimento de técnicas,
metodologias de ensino e pesquisa de Sociologia, complementam a formação na
Licenciatura, assim, como o estágio não obrigatório complementa os estudos no
Bacharel.
Muitas das atividades desempenhadas pelos estagiários nas instituições
públicas, não enquadram com os conhecimentos obtidos na acadêmia. As atividades
realizadas em geral são iguais as dos técnicos administrativos ou técnicos de gestão, ou
seja, não estabelecem anos de estudos ou conhecimentos de ensino superior, mas apenas
de breve treinamento, pois o labor se determina repetitivo e mecânico. Existem também,
questões como alcançar determinadas metas “produtivas” constituídas por chefias das
instituições, que ordenam aos estagiários finalidades que não possibilitam a realização
de pesquisas científicas palpáveis.
Outro fator importante, está no fato de quando os estagiários não interessam
para as instituições públicas que disponibilizam estágios, eles são desvinculados, ou
demitidos antes do término do contrato. O fato do estágio não ser obrigatório, grande
parte dos estagiários cogitam o estágio por causa da remuneração, que sustentam suas
necessidades básicas. 2 PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), LENPES (Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia), entre outros.
100
2 A INSTITUIÇÃO COHAB-Ld E SEUS EMPREENDIMENTOS.
É preciso conhecer as instituições públicas que oferecem estágios e seus
empreendimentos, onde o estudantes de Ciências Sociais da UEL, fazem estágios e
assim saber sobre suas atividades desempenhadas. Segundo o site da PML:
A Companhia de Habitação de Londrina (COHAB-Ld) é uma sociedade
composta por ações de economia mista e foi criada pela Lei Municipal nº
1.008, de 26 de agosto de 1965. A Companhia está vinculada, como entidade
de administração indireta, à Prefeitura do Município de Londrina. (PML,
2014).
A COHAB possui filiais em outros Estados do Brasil e tem por objetivos,
políticas de desenvolvimento urbano e social do município onde está situada, atendendo
as normas do Sistema Financeiro da Habitação e/ou Sistema Financeiro Imobiliário que
constrói e comercializa apartamentos e casas, segundo as normas e critérios
determinados pelo Governo Federal, pela Legislação Federal e também Municipal,
agenciando a urbanização nas áreas de ocupação3, em estado de precariedade. A Cohab
de Londrina também atua em outras cidades do Estado do Paraná que não têm essa
instituição pública. A Cohab em Londrina está localizada na Rua Pernambuco nº 1.002.
A Cohab-Ld, almeja atender famílias de baixa renda interessadas em seus
programas sociais de habitação como o Programa Minha Casa Minha Vida do Governo
Federal (PMCMV- Lei N° 11.977 de JULHO de 2.009), assim como, outros programas
proposto à um público com renda mais elevada, ou interessados em empreendimentos
de construtoras parceiras da instituição.
3. SOBRE O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS)
E O GERÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA (GTR).
Na cidade de Londrina existem os CRAS’s4, eles possuem o papel de
integrar aos programas sociais do Governo Federal a demanda populacional
3 No site da instituição, associam ocupações como “invasões”.
4 CRAS Norte A e B, Sul A e B, Centro A e B, Leste, Oeste A e B.
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que necessita de seus benefícios, buscando sua proteção e inserção às políticas públicas
oferecidas. No site da PML sobre sua atribuição se descreve da seguinte forma:
Descrição: Trabalho social com famílias em vulnerabilidade social, com a
finalidade de fortalecer a situações de fragilidade social o acesso e usufruto
de direitos humanos e sociais e a melhoria. Compreende o conjunto de ações
desenvolvidas com famílias vulneráveis visando o desenvolvimento bem
como o atendimento das necessidades básicas e inclusão nas demais políticas
públicas; Realiza-se por meio de metodologias elaboradas considerando o
nível de vulnerabilidade atendidas e as especificidades territoriais. Oferece
atividades de convívio e trabalho sócio-educativo, com vistas ao
fortalecimento da sociabilidades e a prevenção e a atenção de situações de
risco social. Serviço incumbido da oferta de trabalho social de abordagem e
vigilância social em territórios vulnerabilidade e risco social. Encaminha a
resolução de necessidades imediatas, promove realiza a vigilância do risco,
da violência e da discriminação, mediante a observação e busca programada
e continuada. (PML, 2014).
O CRAS, é um órgão diretamente associado as Prefeituras e suas sedes
geralmente se localizam em locais acessíveis a população de uma região específica, ou
seja, envolvendo diversos bairros, sendo coordenado por um(a) Assistente Social.
Procura beneficiar através de seus programas as pessoas que sofrem com as
desigualdades sociais existentes, vulneráveis socialmente, integrando-as aos programas
sociais, outorgando benefícios assistenciais como o BPC (Benefício de Prestação
Continuada), cupom alimentação, auxílio natalidade, Bolsa Família entre outros.
Agregam o sistema de proteção social do Estado previstos em lei5, buscando a melhoria
de suas condições de vida.
As informações levantadas nos CRAS’s através do Cadastro Único do Governo
Federal e do IRSAS, são gerenciadas pelo GTR, que por meio dos dados levantados
pode designar os interessados aos benefícios que competem a sua condição social.
O quadro de funcionários do GTR é composta6 por uma Assistente Social
chefe e uma habilitada em Ciências Sociais, concursada em técnica em
5 Como a Lei nº 10.836 de 09 de janeiro de 2004 do Bolsa Família, entre outras leis.
6 Até o momento da pesquisa.
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gestão, com função desviadas, técnicos administrativos, estagiários, terceirizados
contratados pelo PROVOPAR7 e zeladora.
4. AS ATIVIDADES DOS ESTAGIÁRIOS NAS INSTITUIÇÕES PESQUISADAS.
Nas instituições públicas analisadas, os estagiários em geral desempenham
atividades tais como: atendimento ao público, recepção, atendimento telefônico,
preenchimento, digitação e alimentação de dados nos sistemas de cadastros entre outras
tarefas designadas pelos superiores. Algumas atividades como a digitação de cadastros
possuem metas, similar a um “sistema produtivo”.
Essas tarefas desenvolvidas pelos estagiário, limita sua ação como cientista
social, pois, são de caráter mecânico, não exigem necessariamente de aprendizado de
ensino superior, e sim de um breve treinamento, portanto, transforma o estudante em
mero trabalhador que representa os interesses da instituição que apenas lhe proporciona
uma visão para a pesquisa e não uma ação para a pesquisa, tão necessário para seu
crescimento profissional.
5. SOBRE A CONDIÇÃO DE ESTAGIÁRIO.
Em definição do Dicionário Aurélio: estagiário sm. 1. Aquele que faz estágio.
Assim o mesmo define estágio: estágio sm. 1. Aprendizado, tirocínio8
(de qualquer
profissional). 2. Etapa, fase.
O significado de estagiário, qual as suas atividades em instituições públicas
que ofertam estágios e acrescentam ao seu funcionalismo o trabalho de estudantes de
ensino médio e superior, são temas importantes para entendimento sobre como o seu
trabalho gere aos órgãos públicos atividades de grandes valores para suas empreitadas9,
pois, os estagiários são
7 Programa do Voluntário Paranaense, que contrata trabalhadores para preenchimento de Cadastros Único do Governo Federal. 8 Tirocínio sm. 1. Primeiro ensino; aprendizado. 2. Prática em determinada profissão. 9 Exemplo, o Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal, desenvolvido pela COHAB-Ld.
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presentemente constantes em muitos estabelecimentos públicos e suas atividades
tornam-se primordiais para o adequado funcionamento da instituição.
Consequentemente, as condições de atuação desses estagiários nessas instituições
públicas, refletem no seu futuro profissional, ou seja, o estágio é o momento onde o
conhecimento se encontra com a realidade, ao qual, o cientista social pode cooperar
através de sua formação e de sua cientificidade, se preparar para as esfinges de seu
trabalho. Entretanto, é preciso analisar os estágios, investigando a coerência das
atividades desempenhadas pelo estagiário em consonância com a relação ensino e
prática.
A relação entre estagiário e instituição cedente de estágio, não é simples,
porque os estagiários devem corresponder aos seus interesses, “somente seus
interesses”, se não corresponderem as suas perspectivas, ocorre o cancelamento do
contrato de estágio, baseado em artigos ou decretos, como o que analisarei a seguir:
O artigo 20, inciso V e VIII do Decreto nº 1285 de 20 de Dezembro de 2010
do Município de Londrina diz:
Art.20 O desligamento do estágio ocorrerá: V- a qualquer tempo, a critério da Administração, especialmente se não forem observadas as disposições do
art. 1710
e ainda se verificada a falta de aproveitamento e rendimento. (PML,
2010).
Se o estagiário descumprir com as ordens e metas estabelecidas, a unidade
cedente de estágio fundamentado nesse documento, expõem como falta de
aproveitamento ou rendimento. Outra questão importante, está no fato que o artigo 20,
propõe ao estudante apenas aquilo que lhe é ordenado, ou seja, o impossibilita de agir
como um futuro cientista social, pois o objetivo principal são as metas. E mais, voltando
ao artigo 17, no item X articula: “promover manifestações de apreço ou desapreço da
repartição”. (PML, 2010).
10 Art. 17 – “É vedado ao estagiário”, ver documento em http://www.londrina.pr.gov.br/
104
Portanto, nota-se o bloqueio aos estagiários, eles aceitam as condições atribuídas,
para manterem o estágio e terem uma renda sem o trabalho de oito horas diárias e assim
terem tempo para o desenvolvimento dos estudos.
O jovem estudante, aquele que aprende uma nova ciência, um profissional em
formação, deve ser ouvido, isto é, compreendido e respeitado, porque ele é parte de um
recinto de trabalho que o prepara para uma nova profissão, deve ser capaz de intervir e
transformar a realidade social em que atuará. Assim, não se pode tratar o estagiário
como um simples empregado11
que apenas cumpre simples tarefas, pois o mesmo possui
ciência específica de sua formação e pode colaborar com as instituições públicas que
cedem os estágios, desde que, respeitados as suas ações nesses órgãos públicos e seja
disponibilizado espaço para a sua ação científica. Florestan Fernandes destaca:
O aluno é um ser humano maduro e crítico, não é um “recipiente” vazio, não
deve fechar-se a “neutralidade institucional”, que só é neutra do ponto de
vista da irradiação das ideias e das ideologias consagradas pelas estruturas de
dominação vigentes. (FERNANDES, 1980, pág.10).
A proposta do autor compete aos espaços das instituições públicas que ofertam
estágios, principalmente quanto à neutralização institucional que elas exercem.
O estágio é efetivo para o universitário ou aprendiz exercitar seus
conhecimentos, período de contato com a realidade de sua carreira, emprego da teoria
na prática como aponta Pimenta e Lima: “O estágio sempre foi identificado como a
parte prática dos cursos de formação de profissionais, em contraposição à teorias”.
(PIMENTA e LIMA, 2004, pág. 33). Ou seja, é um período muito produtivo para
qualquer profissional, para o exercício de métodos e técnicas, pois é o momento do
contato com a realidade, momento de aprendizado na prática, as autoras ainda
complementam:
O exercício de qualquer profissão é técnico, no sentido de que é necessário a
utilização de técnicas para executar as operações e ações próprias. Assim, o
médico, o dentista necessitam desenvolver habilidades específicas para
operar os instrumentos próprios de seu fazer. (PIMENTA e LIMA, 2004,
pág. 37). 11 Sem sentido pejorativo ou menosprezo sobre qualquer profissão.
105
O Sociólogo ou cientista social, não se encontra em situação antagônica, o
estágio é o embate com a realidade, encontro com possíveis perspectivas de objetos de
estudos, assim o estágio aproxima o estudante com a realidade em que ele atuará, não
podendo ser um espaço apenas de observação e sim de ação.
O estágio não obrigatório possui documentos como o “Termo de Compromisso
de Estágio” e “Legislação Do Estágio Não Obrigatório Da Universidade Estadual De
Londrina12
” que apontam sobre direitos e deveres do estagiário e da unidade concedente
de estágio, os documentos propõem sobre as atividades desenvolvidas, supervisão dos
estagiários, termos de compromissos, contratos e seguros, complemento educacional e
aprendizagem, grade curricular entre outros, visando à formação profissional. Algumas
cláusulas são importantes para entender a relação entre o estagiário e a unidade
disponibilizadora de estágio.
A questão a se tratar em relação aos documentos que regulamentam a função
de estagiários, está no fato que na prática não são cumpridas as propostas,
principalmente quando se analisa através das atividades desempenhadas, que nada
seguem os termos que são propostos nos documentos, para averiguar temos a exemplo,
o termo de compromisso de estágio da PML, criado pelo DEPARTAMENTO DE
GESTÃO DE PESSOAS (DGP), no item 2 - está organizado desta maneira: “O
estágio tem por objetivo proporcionar a complementação e prática profissional” (PML,
2013). Isso já mostra falha de proposta inicial. Pois, seu objetivo, está em proporcionar
complementação e prática profissional, as atividades desenvolvidas (citadas no acima),
pelos estagiários no CRAS e no GTR são contrárias a proposta do documento, pois, não
existe no trabalho realizado a aplicação específica de técnicas e teorias oriundo dos
aprendizados acadêmicos, ocorrendo uma visão científica e não uma ação científica.
12 Ver documento em: http://www.londrina.pr.gov.br/
106
O Sociólogo promove métodos e técnicas próprias de sua profissão, necessitando
de estudos e pesquisas heurísticas, analisando as teorias científicas que existem, em
busca de soluções para os problemas que surgem socialmente, instrumentalizando-os
em análises sociológicas, rompendo com as pré-noções e o senso comum, buscando sua
cientificidade. Ele pode atuar em universidades públicas e privadas, administrações
públicas, eleitoral, setores de pesquisa em grandes empresas, terceiro setor como as
organizações não governamentais, institutos de pesquisa e opinião pública, e também
como professores de Ensino Médio e Superior. Segundo Florestan Fernandes: O
sociólogo precisa estar preparado para reconhecer, descrever e explicar as diferentes
formas e funções assumidas pela interação social nesses vários níveis de organização da
vida. (FERNANDES, 1976, pág. 15).
Importante ressaltar que a profissão do Sociólogo é regulamentada na Lei n°
6.888, de 10 de dezembro de 1980, que dispõe sobre o exercício da profissão do
Sociólogo e da outras providências, aborda sobre suas competências. Também o código
de ética, “Aprovado na plenária final de delegados do XIV Congresso Nacional de
Sociólogos realizada em 16 de abril de 2008, na cidade de Natal”, que diz respeito aos
princípios éticos e fundamentais da profissão.
Nas instituições públicas estudadas, Sociólogas trabalham em parceria com as
assistentes Sociais. 6. CONSIDERAÇÕES DOS ESTAGIÁRIOS.
Questionários13
realizados com estagiários atuantes ou que atuaram na
COHAB-Ld, CRAS e GTR14
, possibilitou compreender as aflições e expectativas no
âmbito das instituições públicas em discussão. Entre os entrevistados, a faixa etária
varia de 20 à 54 anos de idade, o tempo de
13 Questionário aplicado em 2014, para Trabalho de Conclusão de Curso. Para o artigo presente não foram feitos analises quantitativos.
14 Foram entrevistados dezesseis estagiários atuantes e quatro que já atuaram nas instituições públicas estudadas. Dez da COHAB-Ld, dez do CRAS ou GTR (3 estagiários atuaram nas duas instituições e uma estagiária atuou nas três).
107
trabalho no estabelecimento público possui uma variável de 06 meses a 02 anos.
Questionado sobre a importância do estágio na relação formação e para além
da universidade, apontaram para a remuneração, experiência profissional,
conhecimentos e habilidades, tempo para os estudos, manter-se na cidade e permanência
na UEL,
Quanto as atividades desenvolvidas pelos estagiários nas instituições públicas
pesquisadas, eles citaram as seguintes tarefas: digitação, atendimento ao público,
preenchimento de cadastros, arquivamento, coleta e alimentação de dados,
planilhamento, organização de documentos, recepção, atendimento de telefone,
relatórios e visita social. Afirmaram que as atividades desenvolvidas no estágio não
contribuem diretamente para a sua formação.
As informações disponibilizadas pelos estagiários, brevemente analisadas
nesse trabalho, comprovam que eles necessitam do estágio pelo ordenado que os auxilia
nos estudos, na permanência na universidade e até mesmo em Londrina e também no
tempo para os estudos. Demonstram que as atividades desenvolvidas não contribuem
diretamente com a sua formação, pois, são de caráter mecânico e não colocam em
prática a relação ensino e aprendizado.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Esta pesquisa procurou compreender a situação dos estagiários nas instituições
públicas que empregam sua força de trabalho. Por meio das atividades desenvolvidas
como atendimento ao público, preenchimento de cadastros, atendimento de telefone
etc., corroborar que nesse meio não existe uma preocupação concreta com a formação
do estagiário pelos órgão público cedente de estágio, pois seus interesses particulares,
limitam a ação científica dos estudantes estagiários.
Os documentos15
alusivos as atividades do estágio, demonstram diversas
falhas no cumprimento das propostas desenvolvidas para regulamentar o trabalho do
estudante por parte das instituições públicas, pois
15 Brevemente analisado para este trabalho.
108
na prática, não segue o que está disposto, esse fato compromete a formação do
estudante, que deveria ter no estágio um campo de atuação, onde pode pôr em prática
seus conhecimentos acadêmicos, ou seja, ele não realiza pesquisa de verdade, assim, o
estágio que deveria complementar o seu aprendizado, acaba tornando-se apenas uma
forma de possuir renda, onde o estagiário é oprimido por atividades dirigidas, sem
condições de mostrar seus conhecimentos científicos, pois apenas cumprem as ordens
de seus superiores.
A análise desenvolvida através de questionário direcionado aos estagiários, deu
uma lacônica noção de seus anseios, pois eles exercem estágios para terem rendas,
tempo para estudos, ou mesmo aprendizado prático, no entanto, as atividades
desenvolvidas demostram que tal fato não é concreto, eles não atuam como cientistas
sociais, apenas desenvolvem tarefas técnicas que não exigem o conhecimento de ensino
superior, apenas um curto treinamento. Sendo assim, a relação ensino e prática não
existe em sua plenitude.
Com a pesquisa averiguou-se que nas instituições públicas, os estagiários
geralmente desenvolvem atividades que não competem à um cientista social, que não se
harmoniza com o aprendizado universitário, ou seja, não corresponde a perspectiva da
relação teoria e prática. Realizam atividades como atendimento ao público, atendimento
de telefone, preenchimento de cadastros entre outros, que não enquadram direto com o
aprendizado universitário, ou seja, não corresponde a relação teoria e prática. O
estudante pode até ter uma visão científica dos fatos, mas ocorre o bloqueio das ações
do trabalho de cientista social.
Os estagiários se sujeitam à tais condições pelo fato de não possuírem outra
oportunidade de remuneração por seis horas de trabalho, que contribui com mais tempo
para os estudos. Em geral os estagiários entrevistados acordam que no estágio sofrem
pressão pelas chefias em relação as metas, também que as atividades não são coesas
com sua formação e limitam uma ação científica.
Importante para a pesquisa foram as análises dos documentos em relação ao
exercício dos estágios. Eles demonstram que em sua maioria, as
109
propostas dos decretos e leis apropriadas a ação do estagiário, não se efetivam, pois, os
estagiários acabam se tornando um recurso barato para o preencher o quadro de
funcionários das instituições públicas analisadas.
A relação entre estagiários e Sociólogos nas instituições públicas abordadas,
fundamenta-se no quesito realização das tarefas determinadas pelas Assistentes Sociais,
que representam apenas aos interesses dos órgão públicos, não se preocupando com a
formação dos estudantes das Ciências Sociais e como a autonomia dos cientistas sociais,
mas apenas com as metas de atividades cumpridas.
Portanto, o estágio não obrigatório, deve ser analisado com cautela, para que
não seja um recurso institucional barato para suprir a demanda de funcionários, deve ser
analisado da perspectiva de ser um complemento da universidade, espaço onde se
realiza a teoria e prática. Para que esse fato se concretize, é preciso uma supervisão
direta dentro das instituições que oferecem estágio, para que seja cobrado dos superiores
uma adequação as normas e regulamentos sobre o estágio. Assim, o estágio contribui
com o futuro profissional, com a sua formação de cientista social e não apenas atende
aos interesses das instituições públicas, sendo uma opção trivial de trabalho.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas – Petrópolis-RJ: Vozes, 1999.
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______. A condição de Sociólogo; São Paulo-SP, HUCITEC, 1978.
______. A natureza sociológica da sociologia, São Paulo-SP, Ática, 1980.
110
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KANTOR, Iris; MACIEL, Débora A.; SIMÕES, Júlio Assis; organizadores: A Escola Livre de Sociologia e Política: anos de formação 1933-1953, depoimentos - São
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MINAYO, Maria Cecília de Souza; GOMES, Romeu; DESLANDES, Suely Ferreira; /
PESQUISA SOCIAL- Teoria, método e criatividade. /MINAYO, Maria Cecília de Souza; Cap: 1- O Desafio da Pesquisa Social- Petrópolis- RJ: Vozes, 2011.
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BUENO, Aurélio; Dicionário de Língua Portuguesa. Editora FTD. 1993.
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Disponível em: http://www.fns-brasil.org/site/conduta.asp
BRASIL, Portal Legislação.
Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao
BRASIL, Câmara dos Deputados.
Disponível em:
http://www.camara.leg.br/internet/deputado/Dep_Detalhe.asp? id=524686
BRASIL, Prefeitura Municipal de Londrina.
Disponível em:
http://www.londrina.pr.gov.br/
Acessos desde 2011.
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