A Provisão do Espírito Santo no Aconselhamento Pastoral

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INTRODUÇÃO O aconselhamento pastoral é uma das práticas mais usadas no meio da igreja cristã. Normalmente esta prática dá-se especialmente através do pastor ou líder eclesiástico, devido a sua própria função de “mensageiro de Deus”. Porém, nos últimos anos, tem-se compreendido que o aconselhamento não é feito somente pelo pastor, mas também os leigos podem exercer esse ministério com eficiência, quando possuem sabedoria e conhecimento bíblico, orientados pelo Espírito Santo. Porém, o que se vê hoje, é que o aconselhamento pastoral 1 , tem se desassociado da compreensão dos recursos que o Espírito Santo fornece ao conselheiro. Isso gera um sentimento de insegurança ao conselheiro, que não pode garantir a eficácia da sua orientação ao aconselhado. Por outro lado, a falta de compreensão do aconselhado em relação à participação do Espírito Santo em sua vida tem gerado outra forma de insegurança: a solidão. Normalmente, o aconselhado crê que está sozinho em sua luta cotidiana, sabe teoricamente que 1 Este termo será explicado posteriormente. Não se refere ao aconselhamento feito pelo pastor, mas, sim, no sentido que é o aconselhamento que possibilita o encontro da verdade de Cristo para a vida humana.

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SEMINRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL SPBC

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INTRODUO

O aconselhamento pastoral uma das prticas mais usadas no meio da igreja crist. Normalmente esta prtica d-se especialmente atravs do pastor ou lder eclesistico, devido a sua prpria funo de mensageiro de Deus. Porm, nos ltimos anos, tem-se compreendido que o aconselhamento no feito somente pelo pastor, mas tambm os leigos podem exercer esse ministrio com eficincia, quando possuem sabedoria e conhecimento bblico, orientados pelo Esprito Santo.

Porm, o que se v hoje, que o aconselhamento pastoral, tem se desassociado da compreenso dos recursos que o Esprito Santo fornece ao conselheiro. Isso gera um sentimento de insegurana ao conselheiro, que no pode garantir a eficcia da sua orientao ao aconselhado.Por outro lado, a falta de compreenso do aconselhado em relao participao do Esprito Santo em sua vida tem gerado outra forma de insegurana: a solido. Normalmente, o aconselhado cr que est sozinho em sua luta cotidiana, sabe teoricamente que Deus se faz presente, porm no consegue ver a ao divina na direo de sua vida e histria pessoal.

Dessa forma, necessrio compreendermos, inicialmente, a prpria pessoa do Esprito Santo, bem como entendermos sua funo como conselheiro (parcletos), como selo (arrabon) e como presena.

A partir disso, deve-se tambm compreender algumas coisas especficas a respeito do aconselhamento tais como seus objetivos, causas e a participao da igreja nesse ministrio. Dessa forma, a compreenso de algumas caractersticas do conselheiro de grande importncia; bem como a respeito do aconselhado.

necessrio, entretanto, fazer-se entender que o objetivo desta monografia no demonstrar tcnicas de aconselhamento ou seus diversos estgios e mtodos psicolgicos. nosso objetivo aqui compreender a ao que o Esprito Santo possui no envolvimento do aconselhamento.

Assim, por ltimo, nesta monografia perceberemos que o Esprito Santo o doador de recursos e dons que permitem que um aconselhamento se torne eficaz, agindo tanto nas vidas da igreja, como da comunidade, como na vida do conselheiro e do aconselhado. Ainda, estudaremos a Sua agncia nos acontecimentos histricos particulares, que permite que o objetivo do aconselhamento seja alcanado, fornecendo consolo, restaurao de vida, e uma viso do cuidado e amparo de Deus a seus filhos em todos os momentos.

CAPTULO 1

O ESPRITO SANTO

A expresso Esprito Santo () s usada duas vezes no Velho Testamento (Sl 51.11; Is 63.10). A terminologia mudou de Esprito do Senhor para Esprito Santo (expresso tambm usada nos MMM*) durante o perodo intertestamentrio, talvez para evitar o emprego do nome sagrado. Entretanto, ela foi adotada pelos cristos como nome completo Esprito de Deus. Para todos os propsitos prticos, este passou a ser entendido como o nome cristo do Esprito. Paulo usa o nome completo mais ou menos na mesma proporo que usa o nome completo de Cristo, Senhor Jesus Cristo, em que nome e ttulo e nome se mesclam como uma nica realidade. Este uso em si mesmo, e especialmente numa passagem como 2 Corntios 13.14, indica mais tarde que distinto de e um com foi a pressuposio paulina sobre o Esprito.

Ento, a fim de compreendermos a relao existente entre o Esprito Santo e o aconselhamento pastoral, faz-se necessria uma compreenso a respeito do Esprito Santo. Nas sees a seguir, observaremos questes como quem o Esprito Santo, sua relao na trindade, sua funo como Consolador (parcletos) e como penhor (arrabon); alm disso, tambm importante analisar a presena do Esprito Santo, para compreendermos o porque sua noo imprescindvel para o aconselhamento eficaz.

1.1 Quem o Esprito Santo

A Bblia no apresenta ttulos diretos ou pessoais a respeito do Esprito Santo. E o primeiro e mais notvel aqui , naturalmente, o nome Esprito Santo ou Flego Santo. Um segundo ttulo nesse grupo o Esprito de santidade. L-se em Romanos 1.4: e que com poder foi declarado Filho de Deus segundo o Esprito de santidade, pela ressurreio dentre os mortos. Um ttulo adicional O Santo: Ora, vs tendes a uno da parte do Santo (1Jo 2.20). Em Hebreus 9.14, Ele referido como o Esprito eterno, e Paulo diz em Romanos 8.2: Porque a lei do Esprito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Em Joo 14.17, Ele chamado o Esprito da verdade, e os captulos 14,15 e 16 do Evangelho de Joo, Ele referido como o Consolador.

importante tambm ressaltarmos a questo da pessoalidade do Esprito Santo.

Primeiramente devemos reconhecer que o Esprito mais freqentemente mencionado em termos de agncia isto , o Esprito o agente da atividade de Deus. verdade tambm que tal expresso no leva a presumir necessariamente a pessoalidade. Entretanto, mesmo um lance de olhos casual sobre as passagens em que Paulo se refere ao Esprito (ou Esprito Santo) mostra como muitas vezes agncia encontra expresso pessoal. Por exemplo, a converso dos tessalonicenses pela obra de santificao do Esprito (2 Ts 2.13; cf. 1 Co 6.11; Rm 15.16), como sua conseqente alegria (1 Tss 1.6; cf. Rm 15.13). A revelao vem por intermdio do Esprito (1 Co 2.10; Ef 3.5); e a pregao de Paulo acompanhada pelo poder do Esprito (1 Tss 1.5). A fala proftica e o falar em lnguas resultam diretamente de falar pelo Esprito (1 Co 12.3; 14.2,16). Pelo Esprito os romanos devem condenar morte quaisquer prticas pecaminosas (Rm 8.13). Paulo deseja que os efsios sejam fortalecidos por meio do Esprito de Deus (Ef 3.16). Os crentes servem pelo Esprito (Fp 3.3), amam pelo Esprito (Cl 1.8), so selados pelo Esprito (Ef 1.13), e andam e vivem pelo Esprito (Gl 5.16,25). Finalmente, os crentes so salvos mediante o lavar regenerador e renovador do Esprito Santo, que ele derramou sobre ns (Tt 3.5).

O ponto a considerar que o que Paulo diz do Esprito em termos de agncia assemelha-se ao que ele diz em dezenas de lugares sobre Cristo, cuja agncia pode ser somente pessoal. Por implicao, a agncia do Esprito dificilmente pode ser menos pessoal que a de Cristo.

Alm disso, o pronome pessoal usado para referir-se a Ele. Em Jo 16.7,8,13-15, usado o pronome masculino Ele por doze vezes com referncia ao Esprito Santo. Ora, isso algo muitssimo notvel. Jesus diz: Quando vier, porm, aquele, o Esprito da verdade, ele vos guiar a toda a verdade (v. 13) e assim por diante. E isso, naturalmente, de particular importncia, quando lembramos que o prprio substantivo neutro, de modo que o pronome vinculado a ele deve ser igualmente neutro.

O Esprito Santo tambm identificado com o Pai e o Filho de tal forma que indica personalidade. H aqui dois argumentos: o primeiro baseia-se na frmula batismal: batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo (Mt 28.19). Aqui Ele associado com o Pai e com o Filho de uma forma que necessariamente O caracteriza como personalidade. E observa-se, incidentalmente, que essa frmula batismal no diz batizando-os nos nomes, e, sim, no nome. Ela usa a unidade das trs Pessoas, um s nome, um s Deus, mas ainda Pai, Filho e Esprito Santo. Outro argumento encontra-se na bno apostlica que se encontra em 2 Corntios 13.13: A graa do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo... obviamente, o Esprito Santo uma pessoa em sintonia com a Pessoa do Pai e do Filho.

Outra argumentao que, de uma forma muitssimo interessante, podemos provar a personalidade do Esprito, demonstrando que Ele est identificado conosco, com cristos, de uma tal maneira que indica ser Ele uma pessoa. Lemos em Atos 15.28: Porque pareceu bem ao Esprito Santo e a ns no vos impor maior encargo alm dessas coisas necessrias. Esse foi o consenso obtido pelos membros da Igreja Primitiva; e como eram pessoas, ento Ele deve ser uma pessoa.

Nas Escrituras, tambm, Lhe so atribudas qualidades pessoais. Diz-se dEle, por exemplo, que possui conhecimento. Paulo argumenta: Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, seno o esprito do homem que nele est? Assim tambm as coisas de Deus, ningum as compreendeu, seno o Esprito de Deus (1 Co 2.11). Mas Ele tambm possui vontade, uma voz soberana. Em 1 Corntios 12, onde Paulo est escrevendo acerca dos dons espirituais e a diversidade dos dons, nos diz o seguinte Mas um s e o mesmo Esprito opera todas essas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer (v. 11). O prximo ponto que, evidentemente, Ele possui mente. Em Romanos 8.27: E aquele que perscruta os coraes sabe qual a inteno do Esprito isso est conectado com a orao. Ele tambm algum que ama, porquanto lemos que o fruto do Esprito o amor (Gl 5.22); e funo Sua derramar abundantemente o amor de Deus em nossos coraes (Rm 5.5). E, igualmente, sabemos que Ele passvel de tristeza, porquanto em Efsios 4.30 somos advertidos a no entristecer o Esprito Santo.

As prprias Escrituras especificamente asseveram a deidade do Esprito Santo. No episdio de Ananias e Safira, Pedro, depois de perguntar: Ananias, por que Satans encheu teu corao para mentires ao Esprito Santo, e para reteres parte do valor da terra?, e Pedro prosseguiu: ... no mentiste aos homens, e sim, a Deus (At 5.3,4). Essa uma clara e especfica afirmao de que o Esprito Santo Deus Deus, o Esprito Santo.

Prosseguindo, descobrimos tambm que o nome do Esprito se encontra vinculado ao nome de Deus, e isso no s estabelece sua personalidade, mas tambm sua deidade. Isso se v na frmula batismal, na bno apostlica e, naturalmente, tambm em 1 Co, captulo 12, onde Paulo escreve: Ora, h diversidade de dons, mas o Esprito o mesmo. E h diversidade de operaes, mas o mesmo Deus que opera tudo em todos (vv.4,6). Em determinados pontos somos informados que o Esprito quem faz isso, e no momento seguinte somos informados que Deus o mesmo Deus que opera tudo em todos, e Ele o Esprito. Portanto, o Esprito Deus sua deidade est provada.

Em terceiro lugar, podemos ver claramente que o Esprito Santo Deus, pois descobrimos que certos atributos especficos Lhe so atribudos, atributo, estes, que so os do prprio Deus.

Somo informados que Ele eterno; isto significa que nunca houve um momento em que Ele no existiu e para ser eterno preciso ser Deus, pois somente Deus eterno. Em Hebreus 9.14, Ele referido como o Esprito eterno. Somos informados que Ele onipresente; Ele est presente em toda parte. Isso tambm s pode ser verdade em relao a Deus. O salmista no Salmo 139.7 clama: Para onde me irei do teu Esprito? Ou para onde fugirei da tua presena? Ele tambm onipotente; no h limite em Seu poder, e isso igualmente um atributo prprio da Deidade. Quando o arcanjo visitou Maria e lhe disse que conceberia aquele que ser chamado Santo, o Filho de Deus, ele lhe disse: Vir sobre ti o Esprito Santo, e o poder do Altssimo te cobrir com a sua sombra (Lc 1.35).

Da mesma forma somos informados que Ele onisciente; Ele conhece todas as coisas. Em 1 Corntios 2.10: O Esprito perscruta todas as coisas; e ainda mais: Assim tambm as coisas de Deus, ningum as compreendeu seno o Esprito de Deus (v. 11).

1.2 O Esprito Santo na Trindade

Ao investigarmos na Bblia a respeito da pessoa do Esprito Santo, descobriremos vrios modos pelos quais Ele chamado ou intitulado. Assim, o Dr. Martyn Lloyd-Jones o descreve:

Em primeiro lugar, h muitos nomes que O relacionam com o Pai. Vejamos alguns deles: O Esprito de Deus (Gn 1.2); O Esprito do Senhor (Lc 4.18); O Esprito de nosso Deus (1 Co 6.11). Ainda outro nome : O Esprito do Senhor Deus (Is 61.1). Em Mateus 10.20, nosso Senhor fala do Esprito do vosso Pai enquanto Paulo se refere ao Esprito do Deus vivente (2 Co 3.3). Em Gnesis 6.3, Deus diz: Meu Esprito, e o salmista pergunta: para onde fugirei do teu Esprito? (Sl 139.7). Em Nmeros 11.29, Ele referido como Seu Esprito o Esprito de Deus; e Paulo, em Romanos 8.11, usa a frase o Esprito daquele (Deus o Pai) que ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Todos esses so ttulos descritivos referindo-se ao Esprito Santo em termos de Sua relao com o Pai.

Nos escritos paulinos, duas passagens em particular do a compreenso primria deste relacionamento fundamental entre Deus (o Pai) e o Esprito. Em 1 Co 2.10-12 ele usa a analogia da conscincia interior humana (somente o esprito de algum conhece sua prpria mente) para reiterar que somente o Esprito conhece a mente de Deus. O interesse de Paulo nesta analogia com o Esprito que os corntios receberam, sendo Ele a fonte do nosso entendimento cristo da cruz, esta entendidacomo sabedoria de Deus. Somente o Esprito sonda todas as coisas, at mesmo as profundezas de Deus; e, por causa deste nico relacionamento com Deus, somente o Esprito conhece e revela a sabedoria de Deus outrora escondida.

Em Romanos 8.26,27 esta mesma idia expressa ao contrrio: Deus conhece a mente do Esprito. Entre outras questes, Paulo est aqui preocupado em mostrar como o Esprito, em presena de nossas fraquezas e incapacidade de falar por ns mesmos, capaz de interceder adequadamente em nosso favor. A eficcia da intercesso do Esprito est precisamente no fato de que Deus, que examina nossos coraes, do mesmo modo conhece a mente do Esprito, que est intercedendo por ns.

Esse profundo relacionamento entre o Esprito Santo e Deus Pai de importante compreenso, quando percebermos que a Trindade toda est agindo na vida do ser humano, de forma que, na economia santa, o Pai o Autor de todas as coisas, o Filho o Executor e o Esprito Santo o ativador de cada ato.

Mas, alm desses nomes ou ttulo em que o Esprito Santo empregado em relao com o Pai, tambm h ttulos que relacionam o Esprito Santo com o Filho. Novamente, o Dr. Martyn Lloyd-Jones faz uma boa explanao a respeito desses:

O primeiro: Mas, se algum no tem o Esprito de Cristo, esse tal no dele (Rm 8.9), que uma frase muitssimo importante. O termo Esprito aqui, refere-se ao Esprito Santo. Em Filipenses 1.19, Paulo fala do Esprito de Jesus Cristo; e em Glatas 4.6, ele diz: Deus enviou o Esprito de Seu Filho. Finalmente, Ele referido como o Esprito do Senhor (At 5.9).

Uma anlise cuidadosa de todos os textos nos quais Paulo identifica o Esprito, quer como o Esprito de Deus, quer como o Esprito de Cristo indica que ele costumeiramente preferia usar o qualificativo de Deus/Cristo quando queria enfatizar a atividade de Deus ou de Cristo que estava sendo transmitida aos crentes pelo Esprito. Para Paulo, portanto, Cristo d a mais completa definio do Esprito. Aqueles que tm o Esprito so filhos de Deus, herdeiros com o Filho de Deus (Rm 8.14-17); eles conhecem simultaneamente o poder da ressurreio de Cristo e a comunho dos seus sofrimentos (Fp 3.10); ao mesmo tempo Cristo o critrio absoluto para o que verdadeiramente atividade do Esprito (p. ex., 1 Co 12.3). Assim, apropriado dizer com alguns que a doutrina de Paulo do Esprito cristocntrica, no sentido de que Cristo e sua obra ajudam a definir o Esprito e sua obra na vida crist.

1.3 O Esprito Santo Como Parcletos

O Esprito Santo , especialmente em Joo, identificado como o outro Consolador, enviado para estar e habitar com os discpulos.

O termo parakletos um cognato do verbo parakaleo, cujos sentidos em grego clssico variam entre convocar, mandar, chamar, intimar, exortar, encorajar, confortar, consolar. O substantivo parakletos derivado do adjetivo verbal e significa chamado ( ajuda de algum). O emprego de parakletos para significar representante, porm, deve ser entendido luz da assistncia jurdica no foro, o pleitear da causa de outra pessoa. A etimologia de parakletos sugere que foi empregado originalmente no sentido passivo de algum chamado para ajudar. As passagens nas quais ocorre no Novo Testamento, porm, mostram que esse no o significado da palavra naqueles textos.

O parakletos no convocado e, sim, enviado (Jo 14.26; 15.26; 16.17), dado e recebido (Jo 14.16-17). No apenas fala uma palavra a favor de algum, mas, sim, traz ajuda ativa. O sentido de ajudador e intercessor apropriado em todas as ocorrncias da palavra.

As descries do parakletos em Joo vo alm da tarefa de um intercessor. Ele convencer o mundo do pecado, da justia e do juzo (16.8; cf. Vv. 9 e segs.). Ele vos ensinar todas as coisas e vos far lembrar tudo o que vos tenho dito (14.26). Embora o mundo no conhecer o parakletos, os discpulos O conhecem porque ele habita convosco e estar em vs (14.17). Dar testemunho de Jesus (15.26). Tudo isso indica que Seu papel continuar a obra reveladora de Jesus. O Esprito da verdade vos guiar a toda a verdade; porque no falar por si mesmo, mas dir tudo o que tiver ouvido, e vos anunciar as coisas que ho de vir. Ele me glorificar porque h de receber do que meu, e vo-los h de anunciar (16.13-14). O propsito no satisfazer curiosidade a respeito do futuro, mas, sim, continuar a obra do Jesus histrico no Cristo proclamado pela igreja.

digno de nota que o termo somente se acha nos escritos de Joo, e que, fora de 1 Jo 2.1, ocorre somente nos discursos (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7; cf. 16.12 e segs.). Na medida deste fato, os ditos do parcleto pertencem s questes levantadas pelo Quarto Evangelho e, de modo particular, pelos discursos. O termo no se acha em Paulo nem nos Sinticos. Romanos 8.26,34 (cf. Hb 7.25) no forma um paralelo exato no estilo ou no ensinamento. Mesmo assim, muito bem se pode perguntar se os demais evangelistas no expressam de outras formas os aspectos de ensino de Joo acerca do Parcleto.

Mateus, especialmente, fala da presena e ajuda contnua de Cristo em um modo que no exige Sua presena fsica (Mt 18.20). vinculado com o Pai e o Esprito Santo (Mt 28.19-20; Lc 24.48-49; cf. Mt 11.27; Lc 10.22). Como tal, no conhecido ao mundo em geral, mas somente por aqueles aos quais a revelao dada. Alm disto, Jesus prometeu a assistncia do Esprito Santo em capacit-los a falar ao serem processados (Mt 10.20; Mc 13.11; cf. Lc 21.15). Mateus e Lucas falam de um compromisso de Jesus para com Seus seguidores de tal tipo que todos os que os receberem recebem a Ele e quele que O enviou (Mt 10.40; Lc 10.16; cf. Jo 13.20). Isto tudo d vazo sugesto de que aquilo que Mateus e Lucas retratam como a contnua presena e obra de Jesus na igreja aps a ressurreio so retratadas como sendo a atividade do parakletos de Jesus.

1.4 O Esprito Santo Como Arrabon

A palavra arrabon (tomada por emprstimo do semtico, cf. hebraico erabon) um conceito legal da linguagem comercial. Acha-se apenas raramente, e significa: (1) uma prestao, mediante a qual algum garante seu direito legal a um objeto ainda no pago; (2) um sinal, um pagamento adiantado, mediante o qual um contrato se torna legalmente vlido; (3) numa passagem (Gn 38.17 e segs.) um penhor. Em todos esses casos, trata-se de um pagamento mediante o qual a pessoa se obriga a fazer mais pagamentos ao recipiente.

Em todas as passagens onde a palavra ocorre no Novo Testamento, h referncia ao Esprito Santo. Efsios 1.14 interpreta as outras duas passagens: o Esprito Santo, como penhor atual da nossa herana futura, garante a nossa salvao completa e final, i. , a comunho eterna com Deus. Esta declarao tambm em 2 Co 1.22, provavelmente se associa com o batismo. Ao selar o crente, o Esprito Santo dado ao corao (kardia) humano como garantia. A realidade futura que o penhor do Esprito representa aparece em 2 Co 5.5 como a casa que vir do cu, para substituir futuramente este tabernculo, nosso corpo terrestre. Assim, nos escritos de Paulo, o Esprito no o penhor de uma alma libertada do seu corpo terrestre, mas de uma existncia nova num corpo imortal (vestimenta celestial; vestir).

Semelhantemente, Rm 8.23 fala das primcias [aparche] do Esprito. Aqui, o genitivo do Esprito explica o significado de aparche (ddiva da primcia; cf. 2 Co 1.22; 5.5) E. Schweizer sustenta que aparche, como arrabon no significa uma participao preliminar do Esprito. A realidade presente do Esprito um sinal e penhor daquilo que h de vir. Em Policarpo 8:1, Jesus Cristo referido como sendo arrabon. O Novo Testamento, porm, evita esta aplicao, e O chama apenas engyos (garantia; aliana).

Em todas as trs passagens do Novo Testamento, no entanto, devemos evitar uma interpretao de arrabon que faria de Deus nosso devedor, legalmente falando, aos nos dar o penhor do Esprito. Mesmo a prestao do Esprito permanece sendo uma ddiva livre e no merecida da parte de Deus aos homens.

Como diz J. I. Packer, quando trata do testemunho do Esprito Santo na salvao do homem: sustento que o Esprito Santo que nos dado o penhor da nossa herana neste sentido exato capacitando-nos a ver a glria de Cristo glorificado, a viver em comunho com ele como nosso Mediador, e com seu Pai como nosso Pai, o Esprito nos introduz essncia mais pura da vida do cu. [...] . dessa relao que o ministrio atual do Esprito em nosso favor o pagamento inicial, a entrada. Ver a Deus e estar para sempre com Cristo so um aprofundamento experimental da nossa atual relao amorosa com ambos : esta a verdadeira definio de cu (veja Mateus 5.8; 2 Corntios 5.6-8; 1 Tessalonicenses 4.7; Apocalipse 22.3-5). Por meio do ministrio do Esprito que em ns habita, em nosso favor, o cu comea aqui para ns e agora, da mesma forma como atravs de Cristo e em Cristo somos feitos participantes com ele da vida e da ressurreio.

Assim, o conhecimento do Esprito Santo como penhor deve fazer com que os cristos compreendam que esto garantidos, pela presena do Esprito Santo, a uma vida futura na presena contnua de Deus e que, enquanto isso, essa garantia faz-se presente na Sua habitao nos crentes, os sustentando e preservando at o cumprimento escatolgico dos desgnios de Deus.

1.5 A Presena do Esprito Santo

No corao das coisas paulinas est sua compreenso da descida do Esprito como a vinda do Santo Esprito da promessa (Ef 1.13; Gl 3.14). Embora esta promessa inclusse especialmente a renovao da palavra proftica, para Paulo ela tambm significava a chegada da nova aliana, prevista pela circunciso do corao prenunciada em Deuteronmio 30.6 e profetizada explicitamente em Jeremias 31.31-34: ...e farei uma nova aliana... e a escreverei nos seus coraes. Esta profecia foi logo em seguida esposada por Ezequiel, que a ligou expressamente ao Esprito, o qual Deus estava pondo dentro deles (36.26,27; 37.14). Acima de todas as outras coisas, como cumprimento da nova aliana, o Esprito marcou o retorno da presena perdida de Deus.

A forma mais proeminente de Deus experimentada no Velho Testamento est no tabernculo e no templo. O tema de tal presena, cujo pice a glria de Deus descendo sobre o tabernculo, a chave estrutural do livro do xodo. E essa presena de Deus no meio do seu povo que faz de Israel uma nao distinta das demais naes existentes. Porm, eles compreendiam que o Deus que criou os cus e a terra no poderia ser contido numa estrutura terrena (Is 66.1-2); por conseguinte, por haver Deus escolhido ter sua presena concentrada ali, o tabernculo e o templo tornaram-se os primeiros smbolos da presena de Deus entre Seu povo.

Mas o malogro de Israel levou-o a afastar-se da presena de Deus. Isto o que faz a queda de Jerusalm e o exlio to cheios de sofrimento para os israelitas. O templo de Jerusalm, onde Deus decidiu habitar, foi destrudo; e no somente foi o povo levado cativo, mas os cativos e aqueles que permaneceram no eram mais distinguidos pela presena do Deus vivo em seu meio. A agudez de sua dor encontra expresso simblica mxima em Ezequiel 10, onde, tal como acontecera com a arca da aliana em 1 Samuel 4, a glria do Senhor se ausenta do templo em Jerusalm.

Entretanto, no estava tudo perdido. O fundamento da esperana proftica era o prometido retorno da presena de Deus. Por meio de Ezequiel, por exemplo, Deus promete: O meu tabernculo estar com eles; eu serei o seu Deus e eles sero o meu povo (37.27); e Malaquias profetiza: ... de repente vir ao seu templo o Senhor, a quem vs buscais (3.1).

Em consonncia com a histria antiga de Israel, o tema da presena renovada est diretamente ligado esperana de um templo restaurado. O tema encontra sua expresso metafrica mais poderosa na grande viso de Ezequiel (caps. 40-48), mas seu momento mais memorvel est no orculo de Isaas 2.2,3 (repetida em Miquias 4.1,2), em que a incluso dos gentios tambm um tema fundamental (cf. Zc 14.16-19).

Para Paulo, a questo mais crucial a respeito deste tema reside no fato de que, em Isaas 63.9-14, a presena divina na narrativa do xodo era especificamente equiparada ao Santo Esprito do Senhor.Quando nos voltamos para Paulo a partir destes antecedentes do Velho Testamento, fica claro que ele compreende a vinda do Esprito como cumprimento de trs expectativas que se relacionam: (1) a associao do Esprito com a nova aliana; (2) o uso da palavra habitar; e (3) a associao do Esprito com a imagem do templo. Pelo cumprimento dos temas tanto da nova aliana como do templo renovado, o Esprito se torna o meio pelo qual o prprio Deus est agora presente no planeta terra.

A imagem do templo especialmente significativa neste caso, uma vez que o templo era sempre compreendido como o lugar de habitao de Deus, o lugar de sua glria. Para Paulo, o Esprito como se Deus habitasse hoje em seu santo templo. De modo expressivo, tal habitao tem lugar tanto na comunidade reunida, como se pode naturalmente esperar ,dado o cenrio do Velho Testamento para seu uso, como especialmente no corao do crente.

Em harmonia com o restante da Igreja Primitiva, Paulo reconhece a morte de Cristo como a instituio da nova aliana de Deus com seu povo (1 Co 11.25). Ele v tambm no Esprito o meio como a aliana concebida neles e no meio deles, povo. Como resultado de sua prpria experincia do Esprito e de outrem , Paulo entende este papel especialmente nos termos de Ezequiel 36.26,27 e 37.14. Paulo combina temas destas duas passagens de tal maneira que, na vinda do Esprito para a vida do crente individualmente e da comunidade crente, Deus cumpriu trs dimenses da promessa:

1. Deus daria a seu povo um corao novo para substituir o corao de pedra tornado possvel porque Ele lhes daria um esprito novo (Ez 36.26). Em Paulo, esse tema encontra expresso em 2 Corntios 3.1-6, onde os corntios devem ser os recipientes da nova aliana que tero escrita pelo Esprito do Deus vivente, no em tbuas de pedra, mas em tbuas de carne, isto , nos coraes (v.3).

2. Este esprito novo no outro seno o Esprito de Deus que capacita o povo de Deus a seguir seus decretos (Ez 36.27). Como est evidente em Romanos 8.3,4 e Glatas 5.16-25, o cumprimento do Esprito deste tema a resposta de Paulo pergunta sobre o que acontece justia se abolirmos a observncia da Tora (a lei do Velho Testamento).

3. O Esprito de Deus significa a presena do prprio Deus no sentido de pr em vs o meu Esprito e vivereis (Ez 37.14). De novo, Paulo assimila este tema em 2 Corntios 3.5,6. Como o Esprito do Deus vivificante, o Esprito prov para o povo de Deus a realidade essencial acerca de Deus. O Esprito, diz Paulo no contexto da nova aliana, concede vida.

Dessa forma, para Paulo, Cristo tornou efetiva a nova aliana para o povo de Deus por meio de sua morte e ressurreio; mas o Esprito a chave para a nova aliana como uma realidade cumprida na vida.

Mas, tambm intimamente relacionados ao tema da presena divina e s passagens sobre a nova aliana no Velho Testamento , so os muitos textos de Paulo que falam do Esprito habitando em ou entre o povo de Deus. Este tema encontrado primeiramente nos textos que localizam o Esprito dentro do crente. O Esprito citado como estando em vs/ns (1 Ts 4.8; 1 Co 6.19; 14.24,25; Ef 5.18 [na imagem de encher]). A localizao em vs/ns no corao (2 Co 1.22; 3.3; Gl 4.6; Rm 2.29; 5.5). Esta, por sua vez, torna-se a expresso habitar em (1 Co 3.16; 2 Co 6.16; Rm 8.9-11; Ef 2.22).

Essas duas passagens (1 Co 14.24,25 e 2 Co 6.16) so especialmente instrutivas no sentido de que Paulo cita textos do Velho Testamento que falam de Deus habitando no meio de seu povo, que Paulo agora atribui presena do Esprito. Quando os pagos se voltam para o Deus vivificante, porque seus coraes foram expostos pelo Esprito proftico, Paulo fala disto na linguagem de Isaas 45.14: s contigo est Deus.

De modo semelhante, na imagem do templo em 2 Corntios 6.16, que pressupe a presena do Esprito na vida da comunidade de 1 Corntios 3.16, Paulo entende que Deus est presente no meio do seu povo. Assumindo esta posio, ele recorre linguagem da promessa da nova aliana citada em Ezequiel 37.27: Eu serei o seu Deus e eles sero o meu povo. Esta ltima passagem aponta para a suprema expresso da linguagem do habitar na imagem do templo.

especialmente com a imagem do templo que Paulo indica o Esprito como a presena renovada de Deus no meio do seu povo. Esta imagem ocorre quatro vezes em Paulo, trs vezes com base nos precedentes do Velho Testamento (1 Co 3.16,17; 2 Co 6.16; Ef 2.22), onde Deus habita no meio do povo por meio do tabernculo e do templo, e uma vez com base na nova aliana prometida (1 Co 6.19,20), onde o templo agora o corpo do crente, que est em vs, o qual tendes recebido de Deus.

Primeiramente, pois, Paulo especificamente liga o Esprito imagem do templo no contexto da presena do Esprito no meio do povo de Deus. como se o Deus vivificante estivesse agora presente com seu povo, o que expresso mais claramente em Efsios 2.22: a igreja est sendo edificada para tornar-se o templo santo no Senhor; edificados juntamente para habitao de Deus no Esprito. A igreja congregada o lugar da prpria presena pessoal de Deus, por meio do Esprito. isto que separa o novo povo de Deus de todos os povos da terra (Ex 33.16).

No h em todo Novo Testamento uma palavra mais importante com referncia natureza da igreja local do que esta! A igreja local o templo de Deus na comunidade onde ela est colocada; e ela assim somente pela presena do Esprito, por meio do qual Deus agora revisitou seu povo. No surpreende, portanto, que Paulo tenha considerado a expulso de um homem incestuoso da corporao crist como medida extrema conducente sua salvao (1 Co 5.1-13). Tendo sido afastado do lugar da presena de Deus seria o faltoso, aparentemente, levado ao arrependimento, de modo que pudesse ser salvo ao ser acolhido uma vez mais pelo povo da Presena.

Em 1 Corntios 6.19,20, Paulo faz a notvel transferncia desta imagem da igreja para o crente individual. Assim, Deus no somente habita no meio do seu povo pelo Esprito, mas tem igualmente feito residncia nas vidas de seu povo individualmente pelo mesmo Esprito doador de vida.

Em 2 Corntios 2.14-4.6 est o segredo da piedade pessoal de Paulo e da sua compreenso do Esprito em sua prpria vida. Em ambos os casos , os textos finalmente se voltam para o homem exterior; isto , o objetivo dessa dimenso na vida no Esprito no consiste simplesmente de contemplao, mas da vida tica que o Esprito produz. De modo algum a dimenso pessoal pode ser posta de lado. De fato, a primeira localizao da presena de Deus em sua nova aliana dentro das pessoas individualmente, santificando sua presente existncia e gravando nela sua eternidade.

O Esprito a prpria presena pessoal de Deus em nossas vidas e em nosso meio; Ele nos conduz nas sendas da retido por amor de seu nome, Ele est operando todas as coisas em todas as pessoas, ele se entristece quando seu povo no reflete seu carter para assim revelar sua glria, e Ele est presente em nossa adorao, quando cantamos louvor e honra e glria e poder a Deus e ao Cordeiro.

CAPTULO 2

ACONSELHAMENTO

O mundo vive, desde seus primrdios, os seus momentos de tenso, de dificuldades, desesperos e angstia em geral, e sempre no meio de tantos abalos e tenses se encontra o ser humano influenciado por tantas questes. Todas essas formas de dificuldades e ansiedades em que o homem se encontra, geram-lhe uma expectativa de suas reaes a determinadas situaes que sofre. Essas reaes, normalmente, so fruto de impulsos e reflexos inerentes ao prprio ser que age conforme estava preparado.

De fato, atravs do desenvolvimento natural do homem, cada pessoa vai aprendendo a lidar com as situaes que aparecem de acordo com circunstncias semelhantes j vividas anteriormente. Parece que os problemas que surgem na vida do ser humano vo aumentando de dificuldade gradativamente, como tambm se d com o amadurecimento fsico e intelectual de cada pessoa. Assim, quando o homem passa por uma certa dificuldade na vida adulta, normalmente este tenta resolv-la com base em suas experincias vividas, com situaes pelo menos semelhantes, de sua infncia at aquele momento, analisando os fatores positivos e negativos (os que deram certo e os que no deram, anteriormente) para tentar resolver a nova situao apresentada.

Porm, h momentos em que as situaes surgidas pegam o homem de surpresa, e este no encontra uma forma consciente de se safar do problema. Estes sentimentos de incapacidade so os responsveis por muitas formas de angstias e ansiedades que o homem atual tem, que o fazem procurar uma ajuda externa procura de uma soluo. E tem sido evidente que essas situaes tm se tornado cada vez mais presentes no mundo contemporneo.

Assim, dificilmente encontra-se no mundo atual quem no precise, numa ou noutra situao, de uma ajuda, de um auxlio, de uma orientao, de um aconselhamento.

2.1 Definio

Como, ento, poderia se definir um aconselhamento? Seria simplesmente uma sugesto prtica para a ao de uma pessoa diante de uma situao? Ou uma conversa informal, ou mesmo formal, sobre determinada realidade, para que se encontre a resposta procurada?

Paul Johnson define o aconselhamento como uma relao responsiva emergindo da necessidade expressa de vencer trabalhosamente as dificuldades, por meio de compreenso emocional e crescente responsabilidade. Dessa forma, Paul Johnson compreende o aconselhamento como uma ajuda do conselheiro em procurar respostas para determinadas dificuldades surgidas do aconselhado, e que urgem em ser solucionadas. Alm disso, para ele, essas respostas tm de vir atravs da compreenso emocional e responsvel do aconselhado; ou seja, uma atitude consciente de sua ansiedade e de sua necessidade, e que gere o envolvimento responsvel da prpria pessoa que procura auxlio para o entendimento claro de sua atual situao e da soluo proposta.

O aconselhamento, portanto, no apenas dar conselhos ou responder a perguntas. Est, ainda, longe de ser um ensinamento teolgico a respeito de determinado ponto de vista, nem mesmo apoiar ou desaprovar as atitudes de uma pessoa. Tudo isso no alcana o real sentido do aconselhamento; pois este tem o objetivo (como veremos no prximo tpico) de alcanar o mais ntimo do ser, onde a vida do indivduo realmente formada e desenvolvida. Como diz Edgar Jackson, o aconselhamento uma pesquisa do significado ltimo da vida da prpria natureza do indivduo e na mais profunda natureza dos outros. Ou seja, o estudo do que realmente importante na vida do indivduo e das demais pessoas.

Seward Hiltner define aconselhamento no como um processo mecnico, mas um relacionamento interpessoal em que duas pessoas se engajam no processo de esclarecer os sentimentos e problemas de algum, e concordam em que isto exatamente o que esto pretendendo fazer. Nesta concepo, fica claro que muito mais que uma simples sugesto para a soluo dos problemas, o aconselhamento primeiramente uma descoberta desses problemas, tambm uma anlise das conseqncias desses na vida do aconselhado, que faz com que estas duas pessoas, o conselheiro e o aconselhado, conscientemente compreendam suas necessidades e juntamente se empenhem em alcanar as solues.

At ento, temos discutido a respeito do aconselhamento em termos gerais, sem especificar-lhe o aspecto bblico, ou ministerial, como aconselhamento pastoral. Mas o que vem a ser pastoral? Ronaldo Sathler Rosa expe trs consideraes sobre o significado de pastoral. A primeira trata da pastoral como uma

ao terica e prtica que procura colocar em operao, no dizer de James Fowler, a relao entre a verdade mesma e a verdade articulada em meio relatividade da vida humana e da histria; assim, a pastoral, atravs da ao do laicato e de pessoas ordenadas, procura trazer para o concreto e provisrio da vida humana o efeito do encontro com a Verdade, o Cristo.

Em segundo lugar, a pastoral tambm considerada como uma ponte visando o relacionamento entre a religio e a vida, assim procurando buscar, para a vida e para os relacionamentos, atitudes e palavras congruentes ao que se afirma nos credos religiosos. E, por fim, por pastoral, entendemos um conjunto integrado de aes que objetivam restaurar no ser humano o senso de sua prpria dignidade derivada de sua criao imagem e semelhana de Deus.

Dessa forma, a fim de expressar o significado do termo pastoral exclusivamente, Ronaldo Sathler indica a ao da Igreja, clrigos e laicos, com o objetivo de que o Evangelho se concretize na vida das pessoas, nos mltiplos relacionamentos e na organizao social. Esta ao seja terica ou prtica, pode assumir diversas formas em funo das necessidades e da conjuntura de cada situao. Nesse sentido, o aconselhamento apenas mais uma forma de se promover a pastoral na vida das pessoas, ou seja, de relacionar a vida da pessoa a um relacionamento verdadeiro com o Evangelho e lev-la a solucionar seus problemas atravs de uma conversao entre uma pessoa que necessita de ajuda e um cristo que pode ajud-lo.

J W. Hulme concebe o aconselhamento como o meio para se cumprir o propsito essencial e tradicional da religio crist: ajudar o ser humano a estar em paz com Deus, consigo mesmo, com o prximo e com a natureza, e Ronaldo Sathler acrescenta que o aconselhamento pastoral o processo no qual as pessoas se encontram para repartir lutas e esperanas.

2.1.1 Conselho no Antigo Testamento e Novo Testamento

O termo vtero-testamentrio para a palavra conselho (yats) que significa sugerir, aconselhar, decidir, planejar. Em mais de 70 vezes a LXX traduz este verbo por bouleu ou algum de seus compostos, dar conselho, deliberar, decidir, determinar. A primeira ocorrncia de yats encontra-se em xodo 18:19. Jetro, vendo o imenso fardo que estava sobre Moiss, diz: Eu te aconselharei, e Deus seja contigo. Ele ento oferece a Moiss um plano organizacional e lhe sugere como dar conta das responsabilidades administrativas de governar e julgar o povo.

Neste texto, o aconselhamento , ento, uma sugesto prtica com o objetivo de se solucionar um problema existente, a fim de que os relacionamentos de uma estrutura organizacional sejam eficazes e eficientes.

Uma outra palavra utilizada por Paulo para refletir um tipo de aconselhamento, paramuqeomai, que significa encorajar, animar, consolar, confortar. O primeiro exemplo de emprego de paramytheisthai na literatura crist primitiva se acha em 1 Ts 2:12, onde se emprega, como em 5:14, em conjuno com parakalein, exortar (cf. tambm v. 3). Paulo relembra seus leitores (E sabeis, v. 11) de que, quando ele os visitou na Tessalnica (v. 1), os exortava e encorajava. Alm disto, indica o contedo do seu encorajamento com as palavras: para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glria (v. 12). Paulo empreendeu a tarefa de encorajar o povo, devotando-se totalmente a isto (como pai e seus filhos, v. 11) , tratando com cada pessoa individualmente (a cada um de vs, v. 11). Em 1 Ts 5:14, o apstolos insta os irmos (a igreja inteira, no somente os lderes) em Tessalnica, a consolarem (paramutheisthe) os desanimados.

2.1.2 O Aconselhamento Pastoral

Seward Hiltner distingue o termo aconselhamento pastoral, especificamente, do aconselhamento geral com a seguinte afirmao :

Em termos de atitude bsica, aproximao e mtodo, o aconselhamento pastoral no difere do aconselhamento eficaz realizado por qualquer outro tipo de aconselhador. Ele difere, sim, em termos da situao em que o aconselhamento realizado, nos recursos religiosos de que se pode lanar mo e na dimenso na qual o pastor precisa ver todo o crescimento humano e todos os problemas do homem.

Assim, ele observa que no aconselhamento pastoral, apesar das semelhanas da metodologia e aproximao com o aconselhado, alguns recursos que normalmente no so utilizados num aconselhamento geral, aqui se mostram freqentes. Por exemplo: a orao, a confisso e o perdo esto disponveis num aconselhamento pastoral, que normalmente no so utilizados num aconselhamento secular. Alm disso, o aconselhamento pastoral biblicamente e espiritualmente orientado quanto aos problemas bsicos da natureza humana, numa viso teolgica, o que tampouco acontece no aconselhamento secular.

Para James Reaves Farris, o aconselhamento pastoral o processo pelo qual um pastor, ou outro representante da igreja, trabalha com indivduos, grupos e famlias, num contexto relativamente estruturado, com um programa de conhecimento emocional, psicolgico e espiritual, tentando curar suas feridas. Nesse entendimento, James R. Farris tenta posteriormente resumir este conceito de aconselhamento pastoral como o processo do cuidado das almas.

O pastor metodista V. James Mannoia faz as seguintes propostas para a amplificao da definio de aconselhamento pastoral: 1) Auxiliar o indivduo a alcanar o conhecimento e a aceitao de si mesmo; 2) Auxiliar o indivduo a analisar rumos de ao alternativos; 3) Oferecer oportunidades ao indivduo de escolher um modo de proceder que seja vivel; 4) Oferecer ao indivduo uma situao na qual tome iniciativas e aceite a responsabilidade pelas mesmas (grifos do autor). Dessa forma, o aconselhamento pastoral seria a ajuda prestada pelo pastor, fazendo com que o aconselhado tenha um autoconhecimento de si mesmo, sua situao e seu valor, levando-o a encontrar possveis solues para seus problemas, escolher a melhor dentre essas solues e o incentivando a ser responsvel pelas suas iniciativas.

2.2 O Objetivo do Aconselhamento

Apesar das definies acima mencionadas j, em certo sentido, demonstrarem qual a procura final do aconselhamento pastoral, convm que especifiquemos e compreendamos mais explicitamente quais so os objetivos que devem ser alcanados na prtica do aconselhamento.

Conforme citado, para W. Hulme, o propsito principal do aconselhamento ajudar o ser humano a estar em paz com Deus, consigo mesmo, com o prximo e com a natureza. Nesta compreenso, a dimenso teolgica (o relacionamento com Deus), a psicolgica (relacionamento do homem consigo mesmo), social (relacionamento com o prximo) e ecolgica (relacionamento com a natureza) se unem em favor de uma paz completa ao ser humano.

Porm, essa tarefa no to simples quanto aparenta. No se trata simplesmente de o conselheiro fornecer interpretaes bblicas a respeito da necessidade e obrigao do homem em se relacionar nessas dimenses descritas. A procura da paz de forma completa nessas reas se torna complicada pois o ser humano vive em meio a situaes conflitantes que normalmente no esto sob seu completo controle, e que variam de acordo com a poca e condies existenciais do prprio homem.

A realidade talvez parea to diferente do que o texto bblico est ensinando, que talvez seja colocada em dvida a aplicabilidade desta Palavra nos dias atuais. Dessa forma, a imutvel misso pastoral adaptar a mensagem crist s mutveis condies histricas. Ou, em outras palavras, a tarefa perene da ao pastoral facilitar o contnuo processo humano de busca por sentido na jornada da vida em meio s mudanas, aos desesperos, s angstias, injustias e enfermidades. Isso no significa dizer que o texto bblico manipulado pelo conselheiro, mas sim que este pode encontrar exemplos e referncias bblicas aplicveis para os grandes problemas humanos que, seja em que poca estiver, sempre permanecem com a mesma base: o sofrimento e a procura da ajuda divina.

Seward Hiltner compreendeu aquilo que chamou de teologia pastoral como um ramo formal da teologia que expressava o processo de pastorado. Para Hiltner, a parbola do bom samaritano representava o processo de pastorado em sua plenitude. O pastorado envolve cura, sustento e guia para as almas em nome de Cristo. Quando o bom samaritano cuidou das feridas do viajante, estava curando-o. Quando deu ao homem um copo dgua, estava sustentando-o. Quando trouxe o viajante ferido para a hospedaria e solicitou a continuao de seus cuidados, estava guiando-o.

Dessa forma, para James R. Farris, o aconselhamento pode-se resumir nesses trs fatores: a cura, que ajudar as pessoas a se tornarem sadias fsica, mental e espiritualmente, ou seja, o cuidado pastoral no processo de sarar feridas.

O sustento, ou apoio, que implica em sustentar e nutrir as pessoas com amor, diariamente e na totalidade de suas vidas, dessa forma o sustento um processo de apoio, encorajamento de pessoas quando estas esto sedentas e famintas, necessitando de companhia e segurana. O sustento demonstrar a participao diria do conselheiro na luta do que necessita de ajuda. Conforme o prprio James Farris descreve: em termos prticos, o ministrio de apoio reconhecvel em meio a crises e implica em estar com o povo em condies ou circunstncias para as quais no h soluo [...] O ministrio de apoio consiste em ajudar as pessoas a encontrar a esperana imediata e ltima, em meio a situaes nas quais, pela lgica humana, h pouca ou nenhuma esperana. O ministrio de apoio o processo de nutrir a f de que a nossa esperana est em Deus que fez o cu e a terra.

Por fim, o terceiro fato ser guia, ou seja, um direcionador do caminho correto a seguir, como o processo de direo espiritual no sentido de ajudar as pessoas a verem as implicaes dos problemas da vida, ajudando-as a atingirem os recursos espirituais.

No texto de 1 Reis 12:1-15, vemos uma situao em que o aconselhamento de homens idosos era necessrio para guiar o novo rei de Israel. Roboo acabara de ser feito rei, e o povo lhe pedia alvio na carga que Salomo havia imposto sobre eles. Roboo, ento, solicita um prazo para pensar a respeito do assunto e, assim, pede conselho aos idosos que anteriormente ficavam na presena de seu pai. O conselho daqueles homens, se fosse seguido pelo novo rei, o colocariaem uma posio privilegiada e o levaria a se tornar um lder estimado entre o povo.

Como diz Ronaldo Sathler os resultados do processo do aconselhamento pastoral podem oscilar: curar algumas vezes, remediar freqentemente e confortar (tornar forte, animar, apoiar) sempre.

Gary Collins entende que o aconselhamento:

busca estimular o desenvolvimento da personalidade; ajudar os indivduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos ntimos e as emoes prejudiciais; prover encorajamento e orientao para aqueles que tenham perdido algum querido ou estejam sofrendo uma decepo; e para assistir s pessoas cujo padro de vida lhes cause frustrao e infelicidade. Alm disso, o conselheiro cristo busca levar o indivduo a uma relao pessoal com Jesus Cristo e seu alvo ajudar outros a se tornarem, primeiramente, discpulos de Cristo e depois discipularem outros.

Alm disso tudo, Gary Collins tambm reconhece que o prprio aconselhamento, quando feito a pessoas incrdulas, tambm serve como uma evangelizao. Assim a evangelizao e o discipulado so os objetivos ulteriores e abrangentes do conselheiro.

2.3 As Causas do Aconselhamento

Ao se ler livros que tratam a respeito de Aconselhamento, interessante observar que praticamente nenhum deles traz um captulo especfico que aborde sobre as causas do aconselhamento. bvio notar, entretanto, que vrias causas so mencionadas no decorrer de cada captulo tratado nos livros.

Larry Crabb, de forma inteligente, demonstra que no so os problemas que enfrentamos que nos deixam angustiados,

so os inexplicveis que nos apavoram. No somos perturbados tanto pelo tamanho dos problemas, quanto pelo grau do mistrio que ele apresenta. No saber o que nos assusta que nos causa mais medo. o mistrio que nos assusta porque nos coloca fora do controle e nos deixa com uma opo que no gostamos ter que confiar em algum que no seja ns mesmos.

Dessa forma, a causa do aconselhamento no seria tanto as situaes problemticas apresentadas, mas, sim, a provvel falta de controle sobre esta situao que faz com que pessoas se desesperem ou reconheam necessitar de ajuda para enfrentar suas dificuldades.

Alm disso, Larry Crabb sugere que os problemas psicolgicos so resultados de pensamentos ou idias inadequadas sobre a vida, padres ineficazes de comportamento e falta de envolvimento com outras pessoas.

a procura de uma estabilidade emocional e psicolgica que faz com que indivduos solicitem o auxlio de algum que parece ter a resposta para seus problemas. Assim, a causa maior do aconselhamento a incapacidade do indivduo de conseguir resolver por si mesmo os problemas que o rodeiam.

A origem desses problemas pode se encontrar em vrias reas relacionadas vida do indivduo. Quer sejam problemas fsicos, psicolgicos, emocionais ou espirituais, o fato que a pessoa precisa de uma soluo para todos esses problemas a fim de poder viver de forma, ao menos, estabilizada. E isso que o faz procurar ajuda, uma conversa, um conselho.

Gary Collins, quando trata a respeito dos alvos de Jesus quando veio terra (dar-nos vida em abundncia e em toda a sua plenitude Jo 10.10), procura demonstrar que por mais que existem cristos sinceros que possuem a vida eterna garantida, nem todos gozam de uma vida muito abundante na terra. Temos conscincia de que a vida cheia de problemas e dificuldades a serem enfrentadas. Apesar de tudo isso, no so os problemas em si a causa do aconselhamento, a falta de controle sobre esses problemas.

Howard J. Clinebell, ao falar do objetivo do aconselhamento pastoral e da poimnica, destaca que muitas pessoas que procuram a ajuda de uma pastora [sic] no fazem parte de nenhuma igreja ou de qualquer outra comunidade de assistncia. So as pessoas solitrias e alienadas em nossa sociedade, cuja necessidade de assistncia aguda.

Este outro fato que merece ateno: a solidariedade. Pessoas que procuram aconselhamento normalmente se encontram solitrias em suas lutas e conflitos, e isto o que as faz procurar companhia para suportar e, se possvel, algum para guerrear com elas contra as dificuldades.

De fato, a necessidade de ajuda, ou de um aconselhamento, no propriedade exclusiva de um grupo de pessoas. No so somente os cristos que precisam de ajuda; como tambm, de forma alguma, so somente os no-cristos. Os problemas da vida no atingem somente pessoas ricas ou pobres; pessoas inteligentes ou menos inteligentes; pessoas com sade perfeita ou com sade debilitada, etc. A necessidade de ajuda para enfrentar os problemas algo comum a todos os indivduos.

Claramente, tambm se pode observar que algumas pessoas passam pelas dificuldades com mais desembarao que outras. Porm, nem isto critrio para se definir quem precisa ou no de ajuda. Praticamente podemos afirmar que todas as pessoas tm motivos que as fazem procurar conselhos; e sejam estes motivos causados por problemas simples ou difceis, todos possuem uma caracterstica em comum: a incapacidade do indivduo de resolv-los sozinhos.

2.4 A Igreja Como Comunidade Teraputica

O termo Igreja (ekklesia no grego) designava uma assemblia pblica, e no Novo Testamento significa uma congregao local de cristos, chamada por Deus (Ef 1). A Igreja, para o apstolo Paulo, comparada a um corpo (1 Co 12.12-31; cf. Rm 12.3-8), no qual Cristo o cabea (Ef 1.22-23). Esse corpo a comunidade escolhida de Deus, (Jr 7.23; 31.33; cf. Ex 6.7), a famlia e o rebanho de Deus (Jo 10.16; Ef 3.15) e que possui um propsito duplo:

Deve ser um sacerdcio santo (1 Pe 2.5) e deve proclamar as virtudes daqueles que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9). A igreja deve exercer as tarefas do sacerdcio em relao ao mundo. Como sacerdcio, a Igreja tem confiada a responsabilidade de levar a Palavra de Deus humanidade e de interceder junto a Deus em favor dos homens. Alm da funo sacerdotal, a Igreja tambm tem a funo missionria de declarar os atos maravilhosos de Deus.

Mas, o que essa Igreja, como uma comunidade e um corpo, pode fazer em benefcio de pessoas que necessitam de ajuda? Ou o aconselhamento uma funo exclusivamente do pastor?

Quando trata a respeito do tema Ao pastoral em tempo ps-moderno, Ronaldo Sathler Rosa procura salientar a importncia da ao pastoral no mundo contemporneo. Por pastoral, deve-se entender o que j foi explanado anteriormente como a ao da Igreja, clrigos e laicos, com o objetivo de que o Evangelho se concretize na vida das pessoas, nos mltiplos relacionamentos e na organizao social. Esta ao, seja terica ou prtica, pode assumir diversas formas em funo das necessidades e da conjuntura de cada situao. Assim ele diz:

Qual a relevncia da ao pastoral nesse clima psicossocial? ...quando a ao pastoral pode ser considerada irrelevante? A ao pastoral irrelevante quando no corresponde s legtimas necessidades humanas; marcada por uma certa espiritualidade transcendental, sem conseqncias existenciais; no expressa sintonia crtica com as atuais tendncias da histria.

Ao contrrio, a ao pastoral, em suas diversas modalidades e especializaes, pertinente quando procura responder s autnticas aspiraes humanas por liberdade, auto-respeito e respeito pelos outros. A ao pastoral relevante reconhece e apia as lutas por trabalho digno, moradia, educao e outras formas atravs das quais as pessoas e povos procuram significado e valor.

Por outro lado, a ao pastoral, fundamentada nas Escrituras e afinada profeticamente com o seu tempo e condies histricas, deve contemplar a [sic] realidade do cotidiano; deve alicerar as perspectivas, as esperanas e a dedicao das pessoas que trabalham por um mundo de esperana e justia. No se trata, portanto, de espiritualidade alienada, mas sim, de expresso da f em meio s contingncias histricas.

Dessa forma, Ronaldo Sathler Rosa defende uma ao pastoral da Igreja em todas as reas existenciais da sociedade. Talvez fique sugerida aqui uma semelhana com a chamada teologia da libertao, por sua expresso da defesa da luta da Igreja nas lutas por estruturas econmicas, polticas e sociais mais justas. Mas convm destacar, como o faz Lothar Carlos Hoch, que mesmo a teologia da libertao no produziu um nico texto que refletisse sobre a importncia do aconselhamento pastoral e do ministrio da cura no contexto de sua preocupao com a libertao do povo. Dessa forma, Lothar continua descrevendo que foi essa negligncia dimenso da compaixo, da solidariedade e da cura no interesse do tratamento dos assuntos que trazem o sofrimento humano (no somente pela teologia da libertao, mas tambm das Igrejas histricas, catlicas e protestantes) que fizeram essas pessoas que passam por esses problemas duvidarem da capacidade da igreja de se solidarizar com elas em questes gerais e procurarem esse apoio junto ao pentecostalismo e s manifestaes de religiosidade afro e espritas.

Theodore Wedel tambm descreve a irrelevncia como o constante perigo com o qual a igreja se defronta. Conforme diz Howard J. Clinebell, esse perigo se torna cada vez maior quando os aspectos exteriores da igreja so bem sucedidos, enquanto as necessidades profundas das pessoas relevncia para os lugares de suas vidas em que elas sofrem e esperam, praguejam e oram, tm fome de sentido e sede de relacionamentos significativos vo se perdendo. Dessa forma, o aconselhamento pastoral um instrumento valioso atravs do qual a igreja permanece relevante para a necessidade humana.

Nesse aspecto, que dizer da ao do aconselhamento especificamente? Possui este aconselhamento uma caracterstica exclusivamente funcional para os assuntos espirituais ou religiosos? este aconselhamento exclusiva funo do pastor? Claramente reconhecemos que a resposta no!

O apstolo Paulo, quando escrevendo aos crentes em Colossos, diz: Habite, ricamente, em vs a palavra de Cristo; instru-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com Salmos, e hinos e cnticos espirituais, com gratido em vosso corao (Cl 3:16). Neste texto, tanto a palavra instru-vos (didaskontej) quanto aconselhai-vos (nouqetountej) se encontram no particpio presente ativo (e no no imperativo, como traduzido) que nesse caso indica meio, modo de emprego relacionado ao. Ou seja, a forma de a palavra de Cristo habitar no corao dos crentes instruindo e aconselhando.

Alm disso, inicialmente temos que reconhecer que estamos vivendo o que se pode chamar de mercantilizao das relaes pessoais. Ou seja, num momento em que o mundo conhece um crescente individualismo e isolamento, as relaes pessoais existentes normalmente no so motivadas por um desejo de autntico interesse na troca de amizades e ajuda. Ao contrrio disso, vemos relacionamentos firmados no interesse do que se pode adquirir da outra pessoa, ou do que aquele relacionamento pode me beneficiar.

Dessa forma, v-se a necessidade que a Igreja tem em agir no mundo, de ser uma agncia teraputica a fim de investir na capacitao de pessoas para se relacionarem de forma genuna. Pois no h nada mais teraputico do que relaes humanas sadias. Tendo isso em mente, a misso da Igreja, como agncia teraputica, procurar formar pessoas que sejam capazes de se relacionar com Deus, consigo mesma e com outras pessoas.

Assim, reconhecemos que aconselhamento pastoral s pode acontecer pela linguagem dos relacionamentos, na qual a mensagem do Evangelho traduzida para a vida do necessitado. Nessa linguagem, a pessoa aconselhada deve aprender a relacionar-se com Deus, e que sem Ele no h relacionamento genuno; deve aprender a relacionar-se consigo mesma, pois a Igreja expressa o homem como imagem e semelhana de Deus; e aprender a relacionar-se com os outros, pois a vida em comunidade um imperativo e desejo do prprio Deus, alm de ser uma prpria necessidade humana.

Neste sentido, a Igreja a agncia que deve promover a aplicao da mensagem do amor de Deus em favor do homem. A teologia protestante enfatiza a importncia da pregao verbal da palavra de Deus, e, nessa mensagem, a proclamao do amor de Deus. Os ouvintes da pregao reconhecem e compreendem a mensagem, porm raras vezes tm oportunidade de experiment-la de forma concreta, tambm no nvel emocional. Por isso, a misso da Igreja aplicar essa mensagem na vida de cada pessoa de forma vivencial e de forma pragmtica por cada pessoa necessitada de amor e compaixo.

J compreendido que o ser humano , por natureza, um ser social. Ele precisa viver em comunidade. Sociologicamente falando, a comunidade eclesial uma das diferentes formas de a pessoa humana viver sua comunitariedade. Teologicamente falando, a comunidade eclesial a nica forma legtima de se viver a f crist. A Igreja aqui tratada como comunidade teraputica, ao invs de igreja teraputica, porque as pessoas experimentam a igreja mais como instituio, enquanto o termo comunidade associa-se a um organismo vivo, constitudo de pessoas com sentimentos e reaes, que ajudam e questionam. A comunidade uma grandeza com a qual a gente pode se relacionar.

Para se explicar, ento, o melhor sentido dessa compreenso de comunidade teraputica, vejamos o que diz Lothar:

O termo teraputico, quando usado em conexo com comunidade, no implica tanto a conscincia de que estejamos doentes em sentido fsico ou psquico, ainda que este possa ser o caso. A busca por uma comunidade teraputica implica antes a conscincia de sermos pessoas carentes: de relaes humanas significativas, de ateno e afeto, de complementaridade. Esse sentido emerge da conscincia de que no somos auto-suficientes, pelo contrrio, de que precisamos uns dos outros. Comunidade teraputica a busca comunitria por vida, especialmente em momentos cruciais da nossa existncia.

Portanto, uma comunidade teraputica a tentativa de construir um acordo de complementaridade, a fim de criar uma identidade psicolgica social e individual, para que o indivduo seja capaz de viver num mundo massificado e, ao mesmo tempo, individualista. Essa atitude desliga a idia de solues milagreiras de pessoas que crem controlar o Esprito Santo como bem desejam, bem como tambm abdica do caminho da interiorizao, ou seja, da mobilizao solitria das foras espirituais interiores.

Trabalhar a Igreja como comunidade teraputica significa lembrar das palavras de Paulo em 1 Corntios 12, quando diz a respeito dos dons que pertencem igreja para agir como um corpo. Cada um tem uma funo, porm age em favor de todo o corpo. Cada membro deve dar ateno sade do outro, pois se um membro sofre, todos sofrem com ele (1 Co 12.26). Os dons da graa, do consolo, da solidariedade, bem como o dom da cura so concedidos comunidade, ao corpo de Cristo como um todo. Essa a base teolgica da comunidade teraputica. E se isso for verdade, o aconselhamento pastoral, antes de ser uma tarefa do pastor ou de outro obreiro qualquer, uma funo genuna da comunidade toda.

A Igreja evanglica reconhece e defende o que chama de sacerdcio universal de todos os santos, ou seja, que cada crente um sacerdote e profeta de Deus que tem como obrigao anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9). E o que vem a ser este anncio ?

Quais so as imagens bblicas da igreja que podem potencializar sua misso de ser um centro de cura, libertao, crescimento e potencializao para o cumprimento de nossa misso para com o mundo? O Novo Testamento v a igreja como o povo de Deus (2 Co 6.16) uma comunidade de cuidado mtuo unida por um pacto com Deus; como Corpo de Cristo (Rm 12.4s; 1 Co 10.17) uma unidade orgnica na qual cada membro, cada parte do corpo vivo, tem seus dons e seu ministrio peculiares; e como a comunidade do Esprito Santo (At 10.44-47) uma comunidade redentora e curativa, atravs da qual o Esprito vivo pode atuar num mundo grandemente necessitado.

2.5 O Conselheiro

J que temos visto a respeito do aconselhamento em seu aspecto tcnico e de seus objetivos, devemos lembrar que o que se envolve num processo de aconselhamento so as pessoas. Basicamente temos dois tipos de personagens num aconselhamento: o conselheiro e o aconselhado. Neste momento,trataremos a respeito da pessoa do conselheiro, para no prximo tpico tratarmos a respeito da pessoa do aconselhado.

A respeito da prpria funo sobre a qual falamos, precisa-se compreender que os conselheiros devem ser orientadores. Isto quer dizer que o conselheiro no aquele que apenas ouve (sendo que essa uma parte imprescindvel ao aconselhamento), mas que tambm sabe guiar o aconselhado a encontrar o melhor caminho para a soluo de seus problemas. Para que isso ocorra, o conselheiro deve conhecer os bons conselhos oferecidos nas Escrituras, e utiliz-los de forma eficiente e eficaz. Como diz Provrbios 13:10: Da soberba s resulta a contenda, mas com os que aconselham se acha a sabedoria.

E Wayne Oates escrevendo a este respeito diz:

O pastor, sem levar em conta seu treinamento, no tem o privilgio de escolher se ir ou no aconselhar o seu povo. Eles inevitavelmente levam-lhe os seus problemas, a fim de obter orientao e cuidado. No possvel evitar tal coisa caso permanea no ministrio pastoral. A sua escolha no feita entre aconselhar ou no aconselhar, mas entre aconselhar de maneira disciplinada e hbil ou aconselhar de modo indisciplinado e inbil.

Neste sentido, de vital importncia, ento, que o conselheiro possua certas caractersticas que estejam prontas a serem utilizadas para o benefcio do aconselhamento. Como dito por Wayne Oates acima, a escolha do pastor (ou do cristo em geral tendo em vista nosso conceito de pastoral), no entre aconselhar ou no aconselhar, mas, sim, fazer o aconselhamento de forma eficiente (disciplinada e hbil) ou de forma ineficiente (indisciplinada e inbil).

Temos um excelente exemplo bblico em 1 Reis 12.1-15 (cf. 2 Cr 10.1-15). Roboo, ao invs de ouvir conselho de pessoas sbias (conselho disciplinado e hbil), que o levaria a uma posio favorvel perante o povo, prefere ouvir conselho de pessoas sem qualificao (conselho indisciplinado e inbil). Isto traz a ele uma conseqncia terrvel, que o de ver seu povo ser dividido em duas partes.

importante tambm frisarmos o fato de que, em geral, o pastor-conselheiro possui certas qualificaes que os conselheiros (crentes normais) no tenham to bem desenvolvidas. Neste sentido, o aconselhamento efetuado por um pastor pode ser mais eficiente que um aconselhamento feito por outro crente.

Trataremos, neste momento, a respeito do que o conselheiro deve compreender a respeito da sua prpria pessoa, para que o aconselhamento seja mais eficaz.

Primeiramente, o conselheiro deve compreender que sua personalidade, os valores, as atitudes e as crenas que possui so de grande importncia no processo do aconselhamento.

a) Personalidade

Primeiramente, o conselheiro deve compreender que sua personalidade no o fator determinante por detrs do aconselhamento, pois a autoridade divina que deve exercer esse controle. Porm, isto no significa que essa personalidade tambm no influa, de alguma forma, no processo do aconselhamento.

Visto que a mensagem de Deus traz consigo a sua prpria autoridade, o conselheiro precisa acomodar sua personalidade mensagem, e no o contrrio. Agindo assim, o conselheiro perceber que quanto mais ele estiver ministrando a Palavra de Deus, mais ele ser transformado, conformando-se com ela. Como diz Jay Adams: Toda pessoa que houver sido chamada por Deus para a tarefa do aconselhamento bblico experimenta transformao.

importante notar tambm o que a prpria Escritura diz a respeito do resultado que o aconselhamento deve trazer ao conselheiro: H fraude no corao dos que maquinam mal, mas alegria tem os que aconselham a paz (Pv 12:20). A alegria deve ser a atitude de um conselheiro que sabe que seu aconselhamento est sendo orientado por Deus; isto, porque sabe que o resultado do seu aconselhamento tambm deve proporcionar a alegria e paz ao aconselhado.

b) Valores

O conselheiro cristo deve demonstrar que, primeiramente, tem por base o valor da Palavra de Deus como direcionador para qualquer forma de aconselhamento. Como diz Jay Adams:

Se existe alguma coisa que deve ser mantida a todo custo, a integridade das Escrituras como padro autoritativo para o aconselhamento cristo. Tm de ser abandonadas todas as idias de relativismo. somente com base em pressupostos bblicos que se pode entender o aconselhamento e, esses pressupostos, necessariamente, sero os mesmos para todo conselheiro cristo.

Alm disso, um conselheiro cristo que j tem por base a autoridade bblica para seu aconselhamento, deve tambm reconhecer que o Esprito Santo a pessoa mais importante. Estando Jesus prestes a deixar os Seus discpulos, Ele procurou acalm-los falando a respeito do outro Conselheiro que Ele enviaria (Jo 14.26; 16.7-14), semelhante a Ele mesmo, para que Ele os guiasse e ensinasse, tal como o prprio Jesus fizera. Lembremos que o termo parakletos, que traduzido por consolador, tambm pode ser entendido como advogado, conselheiro, assessor, ou mesmo intercessor. Cristo identificou esse Conselheiro como o Esprito Santo, o Esprito da verdade.

Outro valor ao qual o conselheiro cristo deve estar atento o da prpria pessoa humana. Tendo em vista o homem ter sido criado imagem e semelhana de Deus, por certo se deve atribuir valor e cuidado.

No que tange ao povo de Deus, vemos que o conselheiro de importncia reconhecida para a direo desse povo. Como diz o sbio: No havendo sbia direo, cai o povo, mas na multido de conselheiros h segurana (Pv 11.14). Na histria de Israel, por diversas vezes o povo caa em pecados e erros, porque lhes faltava conhecimento sobre a Palavra de Deus. E Deus responsabiliza justamente os lderes do povo por no lhe ensinarem a Palavra do Senhor (Seus conselhos Pv 8.12,14). Isto se torna claro especialmente no texto do profeta Osias (4.6):

O meu povo est sendo destrudo, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, tambm eu te rejeitarei, para que no seja sacerdote diante de mim; visto que se esqueceste da lei do teu Deus, tambm eu me esquecerei dos teus filhos

c) Atitudes

Jetro, em xodo 18, oferece aconselhamento a Moiss com base em sua idade e/ou experincia. Jetro, como conselheiro, apresenta um plano cuidadosamente elaborado juntamente com providncias para sua implementao. Em toda essa ao do sogro de Moiss, demonstrada a motivao e desejo de ajudar .

Como diz Jay Adams: a fim de pr em prtica o aconselhamento bblico, o conselheiro humano deve conhecer os bons conselhos oferecidos nas Escrituras, desenvolvendo ainda aquelas aptides pelas quais poder confrontar a terceiros diretamente, com profundo envolvimento.

d) Crenas

Talvez uma das coisas mais preciosas ao conselheiro cristo seja o fato de que ele deve demonstrar que suas palavras no so baseadas em simples tcnicas adquiridas com a psicologia, ou com a experincia de ouvir as pessoas atravs dos anos.

O primeiro passo do conselheiro cristo demonstrar ao seu aconselhado que todo o aconselhamento em processo est sendo fundamentado no ensinamento bblico; ou seja, na Palavra de Deus.

Essa conscincia por parte do conselheiro cristo deve vir da mesma conscincia que teve J quando estava sendo aconselhado (inabilmente) por seus trs amigos. Com essas palavras J retruca os falsos aconselhamentos de seus amigos: Est a sabedoria com os idosos e, na longevidade, o entendimento? No! Com Deus est a sabedoria e a fora; ele tem conselho e entendimento (J 12.12-13); e tanto demonstra ser verdades estas palavras que, ao final do livro de J, encontramos Eli, o mais jovens entre os presentes (J 32.6) dando as palavras reais de sabedoria no aconselhamento, as quais, posteriormente, Deus continua falando a J (J 38-41).

Dessa forma, se a crena do conselheiro no estiver na autoridade da Palavra de Deus como a fonte de toda a sabedoria e direcionamento para a vida humana, perde-se o valor do aconselhamento em si. Como tambm diz o salmista, a respeito da Lei (preceitos) de Deus: Com efeito, os teus testemunhos so o meu prazer, so os meus conselheiros (Sl 119.24).

2.6 O AconselhadoNeste momento tentaremos responder a algumas perguntas especficas a respeito da pessoa do aconselhado: Quem o aconselhado? Porque ele est precisando de ajuda? O que o faz buscar ajuda? No sendo possvel tratar a respeito dos diversos pontos necessrios para a explanao plena deste assunto, discutiremos somente os aspectos essenciais para o objetivo proposto.No possvel se fazer um tipo de parmetro no qual todo aconselhado se encaixa. Na verdade, h de ser compreendido que cada pessoa que precisa de aconselhamento nica. A individualidade da pessoa que procura ajuda deve ser entendida e compreendida pelo conselheiro, a fim de que este no pense que existem frmas criadas nas quais as pessoas se encaixam. Cada aconselhamento nico, mpar, porque cada pessoa aconselhada nica e mpar.

O aconselhado esse tipo de pessoa com sentimentos variados, reaes que podem surpreender, com interesses diversificados, mas com um objetivo especfico: a procura da paz na sua vida em todas as reas, seja fsica, psicolgica ou espiritual.Outro entendimento que se deve ter a respeito da pessoa que est sendo aconselhada que ela precisa de ajuda. O aconselhamento feito para pessoas que reconhecem que precisam de ajuda em alguma rea da sua vida que est lhe gerando algum tipo de instabilidade seja fsica, psicolgica ou espiritual.

Apesar de no podermos criar frmas nas quais as pessoas se encaixam, devido a sua individualidade, nos possvel observar algumas caractersticas comuns nas pessoas que procuram ajuda e aconselhamento.

Uma dessas caractersticas diz respeito ansiedade. A ansiedade pode ser definida como um sentimento ntimo de apreenso, mal estar, preocupao, angstia e/ou medo, acompanhado de um despertar fsico intenso. Normalmente esta ansiedade pode surgir em virtude de uma reao a um perigo identificvel, ou a um perigo imaginrio. Uma pessoa que procura ajuda geralmente se demonstra ansiosa, o que lhe gera impacincia, precisando assim de ajuda para tratar com realismo as suas presses e para compreender que o tempo, para soluo de seus problemas, pertence a Deus. Assim, necessrio que o conselheiro consiga entender as causas e efeitos da ansiedade que esteja persistindo e prejudicando.

Outra caracterstica comum aos aconselhados est ligada solido. Sentir-se solitrio tomar conscincia de que nos falta um contato significativo com outros. A solido envolve um sentimento ntimo de vazio que pode ser acompanhado de tristeza, desnimo, sensao de isolamento, inquietao, ansiedade e um desejo intenso de ser amado e necessrio a algum. As pessoas solitrias normalmente se sentem abandonadas e indesejadas pelos outros, e isto traz outras diversas formas de tristeza e ansiedade em sua vida, que as faz necessitar de aconselhamento. De fato, o aconselhamento a essas pessoas representa o encontro de algum que possa ouvi-las e se interesse em carregar o fardo juntamente com elas.

Poderia-se relatar vrias outras caractersticas que se encontram nas pessoas que buscam auxlio num aconselhamento, mas a ansiedade e a solido so as mais comuns. Desta forma deve-se compreender que a pessoa est precisando de ajuda porque no consegue encontrar, por si mesma, a soluo para seus problemas. As pessoas crem que algum, como o pastor ou um amigo cristo, pode ajud-las e isto o impulso que as leva a procurar um conselheiro.

Esta confiana, ou esperana, que a impulsiona a tomar uma posio de procura de ajuda j um ponto positivo que deve tambm ser levado em considerao pelo conselheiro.

Na realidade, essas pessoas procuram algum que se interesse em ouvi-las e ajud-las. Algum que demonstre que se importa com sua situao e que se dedique a acompanh-la nesse trajeto at a soluo de seus problemas. Enfim, o aconselhado uma pessoa necessitada de ateno, cuidado e ajuda. Uma pessoa que quer ouvir no somente conselhos soprados pelo vento, mas, sim, um conselho sbio vindo da parte de Deus.

CAPTULO 3

A PROVISO DO ESPRITO SANTO NO ACONSELHAMENTO PASTORAL

Aps, ento, terem sido observado aspectos especficos a respeito do Esprito Santo (como pessoa, como presena, como parcletos e como arrabon) e a respeito do Aconselhamento (definio, objetivos, causas, o envolvimento da igreja, do conselheiro e do aconselhado); faz-se necessrio observar qual o relacionamento existente entre o Esprito Santo no aconselhamento.

Como diz Gary Collins: No centro de toda ajuda crist, particular ou pblica, acha-se a influncia do Esprito Santo. Ele descrito como um consolador ou ajudador que ensina todas as coisas, nos faz lembrar das palavras de Jesus, convence as pessoas do pecado, e nos guia a toda a verdade.

No somente devemos compreender o Esprito Santo como o ajudador que age no aconselhamento, mas, principalmente como o faz Jay Adams, considerar que o aconselhamento pertence ao ministrio do Esprito Santo. De fato, no se pode realizar aconselhamento eficaz parte dEle.

Jay Adams afirma, ainda, que deixar de lado o Esprito equivale a negar a depravao humana e afirmar a bondade inata do ser humano. Suprime-se a necessidade da graa e da obra expiatria de Cristo. Entende-se, assim, que o Esprito Santo a fonte principal para que um aconselhamento seja eficaz, e no somente mais um recurso que o cristo tem s suas mos. Na realidade, deve-se compreender o conselheiro como um recurso do Esprito Santo, para promoo do cuidado das pessoas.

3.1 O Relacionamento do Esprito Santo no Velho e Novo Testamentos

Em Isaas 9:6 encontramos a referncia do Messias como um conselheiro: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo est sobre os seus ombros; e o seu nome ser: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Prncipe da Paz.

A palavra utilizada neste versculo (conselheiro) que designa o Messias como um conselheiro maravilhoso que guia seu povo atravs de seus propsitos, desgnio, decretos e planos maravilhosos. No cap. 11, versculo 2, o profeta diz: Repousar sobre ele o Esprito do Senhor, o Esprito de sabedoria e de entendimento, o Esprito de conselho e de fortaleza, o Esprito de conhecimento e de temor do Senhor. Dessa forma v-se assim o relacionamento ntimo entre o ministrio do Messias e do Esprito Santo.

Este relacionamento novamente demonstrado por Jesus Cristo quando disse a seus discpulos: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dar outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (Jo 14.16). O prprio Cristo era um Conselheiro, Advogado, Consolador e Fortalecedor sempre presente em seu ministrio terreno. O Esprito Santo , ento, descrito como o outro Consolador, demonstrando que o prprio Jesus j estava exercendo esse ministrio.

Assim, como dito no captulo 1, o consolador descrito como aquele que est ao lado para ajudar, tal como um advogado, dando conselhos e orientaes. Neste sentido, o Esprito Santo exerce essa funo de orientador e guia do povo de Deus.

3.2 O ministrio do Esprito Santo no Aconselhamento

Analisando esta questo mais propriamente com referncia ao ministrio do aconselhamento, entende-se que o Esprito Santo o guia que orienta o conselheiro em como este deve proceder no aconselhamento, dando a este capacidade de anlise e percepo da situao das pessoas necessitadas de ajuda, de forma que ele tambm possa fornecer palavras de sabedoria, a fim de que as pessoas sejam guiadas pela Palavra de Deus.

Da mesma forma, o Esprito Santo age na vida do aconselhado, demonstrando sua presena e seu controle soberano sobre todos os eventos histricos da vida da pessoa, a fim de que esta compreenda que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito (Rm 8:28).

Alm disso, o Esprito Santo age tambm na vida da Igreja, como uma comunidade, dando-lhe condies para que ela exera a sua funo teraputica atravs dos relacionamentos interpessoais.

Infelizmente, uma abordagem usualmente utilizada para o aconselhamento a chamada humanstica-secular que no leva em conta lugar algum para Deus e visa somente o bem-estar do aconselhado. Por outro lado, h ainda uma abordagem chamada de Deus como ajudador, em que o alvo continua sendo o mesmo, porm Deus simplesmente ajuda o conselheiro e o aconselhando em seu trabalho.

Ao contrrio dessas, a abordagem teocntrica bem diferente. Esta pressupe a existncia de Deus e que Ele tem propsitos finais para a humanidade. Dessa forma, o conselheiro um instrumento para transformao na vida do aconselhado; transformao esta que visa trazer o aconselhado a uma restaurao da relao entre o aconselhado e Deus, melhorar seu relacionamento com os outros, reduzir conflitos interiores, e derramar aquela paz que ultrapassa todo entendimento.

3.3 A Ao do Esprito Santo Para Com a Igreja

A Confisso de F de Westminster declara o seguinte a respeito da Igreja:

Todos os santos que pelo seu Esprito e pela f esto unidos a Jesus Cristo, seu Cabea, tm com Ele comunho nas suas graas, nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreio e na sua glria, e, estando unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos dons e graas e esto obrigados ao cumprimento dos deveres pblicos e particulares que contribuem para o seu mtuo proveito, tanto no homem interior como no exterior.

Neste artigo, declarado, portanto, que a comunho dos crentes com Cristo, atravs do Esprito Santo e da f, proporciona aos membros, tanto algumas bnos quanto algumas responsabilidades.

Um pouco dessas bnos so demonstradas em Jo 1.16: Porque todos ns temos recebido de sua plenitude, e graa sobre graa e tambm em Ef 3.16-19:

Para que, segundo a riqueza de sua glria, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Esprito no homem interior; e assim habite ricamente Cristo nos vossos coraes, pela f, estando vs arraigados e alicerados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e reconhecer o amor de Cristo que excede a todo o entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.

Mas, alm disto, essas bnos geram tambm responsabilidade que so demonstradas no sentido de que tudo o que outorgado por Cristo, pelo Esprito Santo, para sua Igreja, para edificao mtua.

A Igreja como uma comunidade do Esprito Santo, em comunho com Cristo e com os irmos, possui um dever de interesse mtuo: a edificao de todo o corpo.

No artigo seguinte, a Confisso de F de Westminster continua:

Os santos so, pela sua profisso, obrigados a manter uma santa sociedade e comunho no culto de Deus e na observncia de outros servios espirituais que tendam sua mtua edificao, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas habilidades e necessidades; esta comunho, conforme Deus oferecer ocasio, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome do Senhor Jesus.

Neste artigo se entende que a edificao vem pela comunho da igreja para com Deus, bem como na observncia do cumprimento de seus deveres espirituais. Alm disso, o socorro s pessoas necessitadas tambm descrito como um dever de cada crente. No se deve entender, porm, que essas necessidades refiram-se somente a questes materiais.

Como faz A. A. Hodge, em seu comentrio sobre a Confisso de F de Westminster:

alguns desses deveres mtuos so, naturalmente, pblicos como se d entre as diferentes igrejas evanglicas e outros tantos so privativos e pessoais. Muitos deles se relacionam com as almas, e outros tantos com os corpos dos santos. A regra consiste na lei do amor do corao...

Dessa forma, Hodge reconhece que as necessidades materiais so parte de um exemplo da regra maior a lei do amor do corao. De fato, a igreja no cuida somente de corpos fsicos, nem somente deve cuidar tambm de seu aspecto espiritual ou psicolgico. Ela cuida e trata pessoas num sentido completo, o homem como um ser por inteiro e no repartido.

Essa a Igreja em que o Esprito Santo age. A Igreja em que impera a lei do amor. Uma igreja que ajudadora, est ao lado dos necessitados, compartilhando no somente das alegrias, mas tambm das dores e sofrimentos. uma igreja que instrumento do Esprito Santo para consolar, confortar e socorrer. Uma Igreja conselheira.

Gary Collins demonstra que o aconselhamento bblico eficiente envolve esclarecimento (ajudar as pessoas a pensarem certo), exortao (ajudar as pessoas a agirem certo), e encorajamento atravs de uma comunidade que se importa (ajudar as pessoas a viverem certo).

Dessa forma Crabb acredita que a igreja deve fornecer esses trs elementos. O encorajamento deve ser responsabilidade de todo o membro de igreja. Os que esto envolvidos e possuem o conhecimento de tcnicas bsicas de ajuda devem aconselhar com exortao (auxiliando os aconselhados a resolverem todos os conflitos de acordo com as Escrituras).

James Montgomery Boice, afirma acertadamente que a grande necessidade dos nossos dias que a igreja se torne uma comunidade genuna comunidade, porque s como comunidade que podemos dar o modelo de relacionamentos; crist, porque o que queremos mostrar as qualidades de vida que ser cristo traz consigo.

Anthony T. Evans tambm diz: A Igreja antes de tudo uma famlia espiritual, uma comunidade. por isso que a Bblia se refere igreja como famlia da f, famlia de Deus, e irmos. Foi feita para funcionar como famlia, para servir de modelo para a vida em famlia, e para cuidar das famlias que rene.

dessa forma que compreendemos a igreja. Uma comunidade em que, pela ao do Esprito Santo, as pessoas esto unidas num mesmo vnculo a participao nos sofrimentos, morte, ressurreio e glorificao de Cristo formando assim um corpo ou, melhor ainda, uma famlia espiritual.

Nessa famlia, cada irmo responsvel pelo cuidado do outro irmo, procurando resgatar o que Caim desprezou em relao a seu irmo Abel: Disse o Senhor a Caim: Onde est Abel, teu irmo? Ele respondeu: No sei; acaso sou eu tutor de meu irmo? (Gn 4.9).

Em Rm 15.5-7, Paulo reconhece que Deus a fonte da pacincia e da consolao, e que pode conceder aos cristos o sentimento fraterno do cuidado. Assim, os irmos deviam acolher uns aos outros, da mesma forma que Cristo nos acolheu. Essa palavra significa levar junto (At 17.5), chamar parte, introduzindo uma intensa conversao pessoal (Mc 8.32; cf. Mt 16.22; At 18.26).

Esse cuidado mtuo na igreja demonstrado e enfatizado vrias vezes no Novo Testamento. Logo no incio da Igreja primitiva, vemos o cuidado que uns tinham com os outros vivendo em comunho e possuindo tudo em comum (At 2.42-47; 4.32-35;); quando nas dificuldades, a igreja orava junta em favor do atribulado (At 4.23-31; Fl 4.10-14) e cada pessoa era exortada a ter cuidado do outro (1 Co 12.25; 1 Tm 5.8; Jd 17-23). Assim ela tem significao teolgica quando significa admitir comunho Rm 14.3; 15.7).

O cuidado, portanto, era exercido de vrias formas na comunidade crist: era atravs do sustento material s pessoas necessitadas (At 2.45; 6.1-3; 2 Co 9.10-12; Tg 2.14-18), a ajuda pela prtica de oraes (At 21.4-5; 2 Co 9.12-15; Ef 6.18; Cl 1.9; 1 Ts 5.17,25; 1 Tm 2.1-8; Tg 5.16), ao apoio na perseverana diante das dificuldades (Lc 21.7-19; At 13.43; Rm 5.3-5; 12.12; Cl 1.9-11; Hb 10.35-36; 12.1; Tg 1.2-4,12) , e pela exortao e admoestao vida crist autntica (At 14.22; 20.31; Rm 12.8; 15.14; 1 Co 4.14; 14.3; 1 Ts 2.12; 3.2; 5.12-14).

A admoestao (noutheteo) como forma de aconselhamento espiritual tambm tarefa de cada membro da igreja, um para com o outro (Cl 3.16), na condio de ser espiritualmente apto para assim fazer, como a igreja de Roma (Rm 15.14).

O texto de Ef 4.1-16 nos traz algumas informaes e ensinos de mxima importncia para tratarmos a respeito da ao do Esprito Santo na Igreja.

Primeiramente, entre tantas informaes, ao observamos o versculo 4 (h um s corpo e um Esprito, como tambm fostes chamados numa s esperana da vossa vocao), temos que perceber que o vnculo da unidade da Igreja o Esprito Santo. Como diz Martyn Lloyd-Jones: A unidade na qual o apstolo est interessado aqui produzida e criada pelo prprio Esprito Santo. Somente ele pode produzir esta unidade; e somente Ele produz esta unidade.

Dessa forma, pensar e imaginar que possa existir unidade na Igreja sem uma ao direta do Esprito Santo obter uma noo errnea a respeito da natureza dessa Igreja.

Os trs primeiros captulos dessa epstola aos Efsios procuram demonstram que a natureza da Igreja divina. Deus escolheu seus filhos desde antes da fundao do mundo (Ef 1.3-5), atravs da redeno obtida pelo sangue de Jesus Cristo (vv. 6-12) selando-os com o Esprito Santo (vv. 13-14). Dessa forma, os cristos, como uma unidade, obtm acesso ao Pai e ao Esprito (2.18), tornando-se assim famlia de Deus (2.19). Neste entendimento, os cristos tomam o nome de Deus (3. 14-15), para serem fortalecidos pelo Esprito (3.16), atravs do qual a habitao de Cristo se faz presente no corao (3.17).

Porm ser uma famlia, uma comunidade em unidade debaixo do mesmo nome (3.15), exige um propsito para o qual foi criada. Assim, necessrio que cada membro dessa famlia, juntamente com os demais, compreenda a razo desse chamamento divino (3.18-19).

Assim, Paulo, no captulo 04 dessa epstola, comea a demonstrar o propsito de Deus para sua Igreja, essa comunidade familiar. No v. 7 fala que a graa (xarij) foi concedida a cada cristo, demonstrado que todos possuem dons (que no grego tambm xarij) concedidos por Cristo (e distribudos pelo Esprito Santo; cf. 1Co 12.4-11).

A partir do v. 11 lista-se, ento, alguns desses dons e ministrio que tm por objetivo o aperfeioamento dos santos, tendo em vista que cada um desempenhe seus servios para a edificao do corpo (v. 11-12).

Tambm como diz Gary Collins:

Ora, o que que tudo isso tem a ver com o ser um autntico ajudador de pessoas? Apenas isto: um dos propsitos principais do corpo de Cristo ajudar pessoas. Deus coordenou o corpo... para que no haja diviso no corpo; pelo contrrio, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles honrado, com eles todos se regozijam. Ora, vs/ou seja, os crentes/ sois corpo de Cristo e, individualmente, membros desse corpo (1 Co 12.24-27). Segundo o plano de Deus, a igreja deve ser um corpo unido de crentes que recebem poder do Esprito Santo, que crescem maturidade, e que ministram (i., ajudam) pessoas dentro e fora do corpo.

A ao do Esprito Santo, assim, gera comunho na igreja. Isso o que o apstolo Joo tambm procura demonstrar em sua epstola:

o que temos visto e ouvido anunciamos tambm a vs outros, para que vs, igualmente, mantenhais comunho conosco. Ora, a nossa comunho com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. [...] Se, porm, andarmos na luz, como ele est na luz, mantemos comunho uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado (1 Jo 1.3,7).

Para o entendimento dos apstolos, impossvel que algum possa afirmar que est em comunho com Deus, porm desassociado dos irmos (cf. 1 Jo 1.9-11; 3.15; 4.7-8). Da mesma forma, a igreja deve enfatizar o carter da comunho e ajuda recproca entre seus membros, como demonstrao da ao do Esprito Santo. Portanto, o significado bsico transmitido pelo termo grego koinonia o da participao.