A Punhalada 2

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Indice: Capítulo 1: Não Atenda o Telefone Capítulo 2: Sangue Novo Capítulo 3: Não é Uma Sequência Capítulo 4: Alfa Gamma Tem que Morrer Capítulo 5: Ele é Meu Capítulo 6: O Legado de Brandon Capítulo 7: Assombrada Capítulo 8: A Nossa Morte Capítulo 9: Morrendo por Você

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Indice:

Capítulo 1: Não Atenda o TelefoneCapítulo 2: Sangue NovoCapítulo 3: Não é Uma SequênciaCapítulo 4: Alfa Gamma Tem que Morrer

Capítulo 5: Ele é MeuCapítulo 6: O Legado de Brandon

Capítulo 7: AssombradaCapítulo 8: A Nossa MorteCapítulo 9: Morrendo por Você

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CAPITULO 1

Um toque sutil de telefone era a única coisa que seouvia no andar de baixo. Vazia e silenciosa, a salafazia o toque parecer mais alto. Mas a casa dosCarson não era a única vítima do silencio, o bairrointeiro parecia parado. As pessoas mais velhas iamse deitar cedo na vizinhança enquanto seus filhoscurtiam uma noitada de festa na casa dafraternidade feminina Alfa Gamma. Elas eramfamosas por dar festas de arromba, metade dosjovens da cidade sempre marcavam presença, e aoutra metade não ia por falta de convite.

Só que os mais velhos tinham um motivo paradeitar cedo, mesmo motivo pelo qual nãoconseguiam dormir, já que só pensavam nasegurança de seus filhos. Eles temiam que algo deruim acontecesse como ao do ano passado, ondedoze pessoas foram massacradas na cidade pelosassassinos Brandon Rush e Sarah Richards, quetentavam imitar os filmes da Quadrilogia “Pânico”.Os moradores ainda não se sentiam seguros, acomunidade ainda estava de luto pelas pessoasmortas, e isso acabou deixando a cidade marcada.Ela era chamada pelos noticiários de “Capital daMorte do país”. Pessoas se mudaram, com medo,espantadas, temendo que qualquer dia algum

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lunático por sequencias quisesse massacrar osjovens, exatamente como nos filmes.

Ashley Carson não pensava assim. Ela não viaporque temer, já que tudo acabara. Os assassinosforam mortos e os sobreviventes estão seguindosuas vidas, ela achava besteira dar tantaimportância a uma coisa que já passou.

Sentada em sua cama, ela pintava as unhas dos pésde vermelho enquanto ouvia um rock feminino norádio. Ela amava as musicas que Chloe Fieldcolocava, seu programa de rádio era o melhor.Passava o esmalte cuidadosamente nas unhas,enquanto sua boca repetia as estrofes da musica,em sussurros, odiava sua voz.

Seu lençol roxo ao lado estava sujo de esmalte, elahavia derramado segundos antes numa distração,mas não estava preocupada em levar bronca dospais, eles sempre passavam a mão em sua cabeça,fechavam os olhos para suas burrices e abriam amão para seus caprichos.

Num movimento sexy, jogou seus cabelos longos eloiros para trás, eles estavam empatando sua visãodos pés, queria que ficasse perfeito, pra causarinveja nas amigas e seduzir algum jogador de

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futebol, antes que ela vá pra faculdade, era como sefosse uma meta a seguir. Quando a musica parou,ela fez uma careta de reclamação, Chloe haviacortado a musica na metade para falar.

- Muito bem pessoal – Disse Chloe, pela radio,Ashley decidiu prestar atenção no que ela dizia, jáque sempre tinha os melhores bordões – É quasemeia noite, estamos perto do aniversário de umano do massacre de New Britain. Sei que tem muitagente com medo, mas também muita gente triste.Então, peço que as pessoas se solidarizem ecompareçam ao memorial de amanhã no AlbertPark, ao meio dia, vamos mostrar pras famíliasprejudicadas que podem contar conosco sempre. Eé isso aí pessoal, quando der meia noite faremosum minuto de silencio na rádio, mas enquanto isso,fiquem com My Chemical Romance, Helena.

Quando a musica começou a tocar, Ashley deu umgrito, adorava aquela musica e era uma das poucasdaquela banda que achava que valia a pena. Masentão, ouviu o telefone tocar novamente. Ela bufou,estava tentando ignorar o toque há dez minutos,mas quem quer que fosse ligando, estava insistentedemais.

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- Mas que saco! – Reclamou, assim que decidiu iratender.

Levantou-se da cama, deixando o travesseiro rosacair no chão e saiu do quarto. Andou pelo chão demadeira do segundo andar e desceu as escadascorrendo.

- Já vai! – Ela gritou, dobrando pra sala – Alô? –Disse, quando atendeu.

- Alô – Disse uma voz macabra do outro lado dalinha.

- Quem é?

- Com quem estou falando?

- Ashley. Com quem quer falar? – Ela trocou otelefone de mãos e começou a andar com ele nosouvidos em direção a cozinha.

- Não sei... Você quer falar comigo?

- Não tenho tempo pra brincadeiras – Ela desligouassim que chegou à cozinha e deixou o telefoneencima do balcão central.

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Abriu a geladeira e fitou as opções. Não tinha muitacoisa, além do que ela não comia. Poderia pegar oqueijo e o presunto e fazer um sanduiche, traindoassim sua divina dieta, acrescentando-a uma cocacola bem gelada que estava quase vencendo navalidade. Ou, poderia simplesmente pegar um copodo suco de laranja sem açúcar a sua frente,continuando seu severo regime, e torcer pra nãosentir fome mais tarde.

- Que se dane – Ela disse, mordendo o lábio eolhando pro queijo – É só colocar pra fora depois –Ela tirou o queijo e o presunto da geladeira.Colocou encima do balcão atrás de si e pegou umpão ao lado.

Não era o lanche perfeito, mas era o que tinha, eera gostoso. Cortou o pão com a faquinha e enfioutrês fatias de queijo, duas fatias de presunto, estavalhe dando água na boca só de preparar. Pegou osuco na geladeira de novo e caminhou pra sala.Colocou o copo encima da mesinha em frente aosofá bege onde se sentou. Pegou o controle remotoao seu lado e ligou a TV, assim que deu umamordida no sanduiche que havia preparado. Com aspernas encima da mesa, tomava cuidado para nãoencostar no suco e derramá-lo como da ultima vez.

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Na TV, a repórter Casey Andrews estava ao lado daatriz Neve Campbell, a protagonista dos filmes“Pânico”. Parecia ser uma entrevista, poderia serinteressante.

- Então Casey – Disse Neve, parecia estarcontinuando alguma coisa – Eu nem sabia se eufaria outra sequencia. Ficamos anos sem fazer nada,e várias especulações surgiram ao longo dos anos,mas nada concreto. Eu também não sabia se iriaquerer fazer outro. Achava a trilogia o bastante,mesmo porque eu me conectei a personagemSidney de uma maneira muito forte, e comecei asentir pena dela por tudo o que passou. Não viacomo o estúdio podia trazê-la no quarto filme semfazê-la querer dar um tiro na cabeça.

- Entendo – Disse Casey – E o que você acha dosassassinatos que aconteceram na cidade de NewBritain, Connecticut, baseados nos filmes?

- Ah, merda – Reclamou Ashley no sofá, não queriaaquele papo de novo.

- Bom, como eu disse, comecei a me sentir muitodesconfortável com a história de Sidney nos filmes,até pra mim que sabia que aquilo tudo não era real.Então, nem consigo imaginar o que aquelas pessoas

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de New Britain sentiram vivendo todo aqueleterror. Não consigo imaginar como ficou a cabeçadas pessoas que sobreviveram, e nem como ficaramas famílias dos jovens, sabendo que seus filhosforam brutalmente assassinados, vítimas da loucurade duas pessoas completamente perturbadas e queusaram nosso trabalho pra matar inocentes.

- Eu sei, Brandon Rush e Sarah Richards já foramconsiderados os maiorias serial killers da América.Mas, uma pergunta. O que o estúdio pretende fazera respeito dos filmes? Farão um quinto filme ounão? – Casey observava Neve como se quisessecomê-la, e talvez quisesse isso, afinal, era umaentrevista exclusiva e quente sobre os assassinatosque chocaram o mundo, a credibilidade queganharia com isso seria enorme.

- Por enquanto, não – respondeu Neve, olhando praplateia. Logo depois voltou seu olhar a Casey – Euconversei com Wes, Courtney e David a respeitodisso. Também falamos com Kevin, nosso roteirista,e preferimos não fazer uma quinta parte agora.Ficamos muito chocados com o que aconteceu emNew Britain, Courtney disse que estava com medode fazer outro filme e David temia que outro filmegerasse outro massacre, além de acharmos umaofensa enorme aos moradores de New Britain fazer

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outro filme agora. Estaríamos brincando de ganhardinheiro com a desgraça deles. Então, se no futurotudo der certo, nós faremos outro filme, mas porenquanto é uma péssima ideia.

- Então, Neve, só para concluir. O que você tem adizer às famílias das vítimas do Massacre de NewBritain?

- Só queria dizer que eu sinto muito. Me sintomoralmente culpada, já que protagonizei os filmesda franquia “Pânico”, e se eu pudesse fazer algumacoisa para ajudá-los, eu faria. E espero que elesconsigam se recuperar da tragédia. Sei que não éfácil, mas... Creio que algum dia todos estarão bem.

Ashley parecia enojada. Achou o discurso da atrizmuito falso, começou a pensar que com certezanem o estúdio e nem os atores davam a mínimapara o que havia acontecido, era só mais uma formade aparecer.

Pegou o controle remoto de novo e mudou decanal. Estava passando um filme de faroeste naoutra emissora, parecia ser mais divertido que ouviras pessoas falando sobre tragédias. Foi aí que otelefone tocou de novo. Ashley suspirou, aquilo lhe

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pareceu o fim do mundo. Deu um gole no seu sucoe se levantou, caminhou direto pra cozinha.

- Alô? – Ela disse ao atender, tinha plenaconsciência que sua voz parecia entediada.

- Filha, você está bem? – Perguntou a mãe dela, aotelefone.

- Ah, mãe. É você. Estou sim.

- Liguei só pra saber, e também pra avisar quevamos chegar um pouco atrasados. O pneu do carrofurou. Mas estamos há três quarteirões de casa, seupai não quer largar o carro aqui por nada.

- Nossa, isso sim que é aniversário de casamento –Ashley deu um meio sorriso – Ano passadoaconteceu um massacre e agora isso, que azar hein.

- Ashley, não brinque com isso! – Repreendeu suamãe e isso fez Ashley suspirar – Pessoas morreramminha filha.

- Ok, mãe. Não brinco mais com isso.

- Tudo bem. Bom...

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- Alô? – Ashley olhou pro telefone, a ligação pareciater caído. Ela jogou o telefone no balcão e se virou.

Nem havia dado meia volta e ele tocou de novo. Elaparou, mais uma vez, emburrada. Olhou para otelefone, a luz vermelha que iluminava os númerosestava piscando em sincronia com o toque.

- Alô? – Ela atendeu.

- Olá. Com quem eu falo?

Ashley reconheceu a voz do trote de ainda pouco eficou com mais raiva ainda.

- Você não tem o que fazer?

- Não. Se você me deixasse te matar, eu teria.

Ashley parou. Achou aquilo estranho demais, masainda não estava com medo. A primeira coisa emque pensou foi que poderia ser alguém que elaconhecia, já que não era a primeira vez que recebiaum trote de algum de seus amigos tentando fazê-laficar com medo tentando imitar a voz do assassino.

- Kate? É você? – Ela perguntou - Se for, para debrincadeira.

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- Como uma garota como você pode ficar sozinhaem casa com a porta destrancada? – A voz macabrano telefone era de deboche.

Ashley estranhou mais ainda, e começou a ficar commedo. Afinal, como ele sabia que a porta estavadestrancada? Ela andou até a sala, ainda com otelefone no ouvido, que não fazia barulho nenhum.Era como se a pessoa que estava ligando, tivessedesligado.

Ela foi até a porta e logo a trancou. Observou peloolho mágico, mas não via ninguém, apenas avistavasua varanda branca e a estrada vazia e escura emfrente a sua casa.

- Bom, agora ela está trancada – Ashley queria quesua voz saísse firme, pra não demonstrar o medo –Ta bom pra você?

Após terminar de falar, ficou esperando umaresposta, mas não ouviu nada. Nenhum barulho,nenhum ruído, começou a pensar que realmenteera um trote e a pessoa que o fez havia desligado.

- Alô? Você ta aí? – Ela perguntou, mas não obteveresposta novamente.

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Apertou o botão para encerrar a ligação, já estavamais calma, foi aí que ouviu um barulho na cozinha.Era parecido com o de uma panela caindo no chão.Isso a fez dar um pulo, o medo havia voltado. Nãopodia ser seu gato, já que as panelas ficampenduradas em ganchos, mas ela estava maispreocupada com a teoria de ser um fantasma.

Abaixou o telefone, mas continuou com ele emmãos. Devagar, andou até a cozinha, tomandomuito cuidado, rezando para não ser nenhumfantasma, ela morreria se fosse um.

Quando passou pela porta da cozinha, viu uma dasfrigideiras jogadas no chão, ela ainda estavabalançando devagar. Ela olhou para o resto daspanelas penduradas em ganchos encima do balcãocentral, realmente estavam altas e presas demaispara ter sido coisa do seu gato. Andou até afrigideira no chão, mas tomando cuidando, fitandotodos os lados. Levantou-se também fazendo isso.

- Buh! – Disse sua amiga Chelsea Tedesco, escoradano balcão, e isso fez Ashley soltar um grito e dar umpulo.

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Chelsea começou a rir, sabia que conseguiriaassustar Ashley, ela ficava em pânico fácil demais.

- Ai meu Deus, Chelsea sua vadia! Eu quase baticom essa frigideira em você! – A voz de Ashley saiualta, estava praticamente gritando.

- Hahaha! – Chelsea gargalhou – Você é tão fácil deassustar.

- Droga! Logo agora que recebi um trote superestranho...

- Quem era? – Chelsea deu as costas para a amiga eabriu a geladeira.

- Eu sei lá, só sei que disse que queria me matar –Ashley se escorou no balcão central. Deixou afrigideira encima dele e olhou para Chelsea, queparecia procurar algo em sua geladeira.

- Deve ter sido o Gary, você sabe como ele adoraessas brincadeiras sem graça. Ele assusta a próprianamorada, imagina você, que deu um fora nele –Chelsea remexia nas coisas, estava tentandoencontrar algo gostoso e que não engordasse, masisso parecia ser impossível, pois as duas coisasnunca vinham juntas.

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- É, pode ser. Enfim. O que você está fazendo aqui?

- Simples – Chelsea tirou uma fatia de queijo efechou a geladeira. Ela olhou para Ashley e continuofalando, enquanto mastigava – Teve briga na festada Alfa Gamma. Pessoas saíram feridas, chamarama policia, e antes que os tiras chegassem, eu vazei.

- Isso é bem a sua cara mesmo...

- É óbvio. Quem ficaria ali sabendo que pode serpreso? Eu sei o que as lésbicas fazem com garotascomo eu na cadeia, eu realmente não estoupreparada pra deixar de encarar o pepino e servirde luva humana para dedos de presidiárias.

- Isso foi nojento, Chelsea – Ashley fez uma careta,não sabia como a amiga teve coragem de dizer umacoisa daquelas.

- Você sabe que me ama... – Chelsea fez uma poseenquanto comia o ultimo pedaço de queijo, ficourealmente sexy. Ela andou em direção a sala, Ashleya estava seguindo.

- Você já vai? – Ashley perguntou.

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- Sim, preciso chegar em casa antes que meupadrasto acorde. Ele vai me matar.

- Não quer dormir aqui? – Perguntou Ashley, equando percebeu que estava transparecendomedo, tentou disfarçar – Claro, se quiser...Podemos fazer uma noite das garotas...

Chelsea olhou para ela, tinha sacado que ela queriaque ela ficasse apenas porque estava com medo.

- Hey, Ash. Você não vai morrer hoje a noite. E anão ser que Brandon Rush ou Sarah Richardsqueiram dar uma de Jason Voorhees e ressuscitarpara fazer uma matança Zumbi numa sequenciadesesperada pra render dinheiro ao estúdio, vocêestá a salvo. Mesmo assim, se eu ficasse, eu apenasmorreria com você, não posso ser consideradaproteção. Duas loiras morrem mais rápido que umasó.

- Você é uma vadia – Disse Ashley, dando umsorriso.

- Aprendi com a melhor – Chelsea deu outro sorriso– Agora tenho que ir. Se cuide, e durma bem – Eladestrancou a porta a sua frente e saiu – Namastê,Vadia.

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- Namastê – Sussurrou Ashley.

Ela continuou olhando pra porta, não sabia mais oque fazer do resto da noite, já que não iria dormirde jeito nenhum. Suspirou e andou até o banheiro,logo depois de jogar o telefone encima do sofá.

Acendeu a luz e se sentou no vaso. Olhou pro nadaenquanto esperava terminar o que havia ido fazer.Estava cantarolando a musica que ouvira antes,fitando a cortina azul clara do banheiro. Quandoterminou, se levantou e foi até a pia. Abriu atorneira e começou a lavar as mãos, usou seu sabãoliquido na cor vermelha.

Quando terminou, fechou a torneira e se olhou noespelho. A primeira coisa que notou foi que seuscabelos loiros e longos estavam com mais vida queantes. Logo depois reparou em sua pele, brancacomo neve, ela parecia um experimento real dephotoshop. Se sentia uma estrela de cinema, estavacada vez mais linda de acordo com que ia seolhando no espelho.

- Vadia – Ela disse pra si mesma.

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Só parou de reparar em sua beleza quando ouviu otelefone tocar de novo. Outra ponta de medo lhesubiu, mas ela preferiu ficar apenas com raiva pelainsistência e achar que era Gary quem a estavaatormentado. Correu até a sala e atendeu aotelefone.

- Alô?

- Qual seu filme de terror preferido?

- Gary, para! – A voz de Ashley saiu rígida, o medo jáestava virando pavor.

- O meu é aquele em que a loira burra atende otelefone e morre segundos depois, só para umamaior contagem de corpos no final – A vozmacabra, de debochada, passou a ser séria, isso fezAshley ficar pior.

- Seja lá quem for você, vá pro inferno! – Ashleygritou.

- Se você queria morrer mais rápido, era só terfalado...

- Eu não vou morrer esta noite, e apesar de terconseguido me assustar, não vou acreditar em suas

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ameaças. – Ashley falava caminhando pela sala,tentando parecer convicta.

- E por que não?

- Todo mundo sabe que sequencias só existem pramanchar a reputação do original. Pânico 2, Eu AindaSei, A hora do pesadelo 2 , nenhum deles conseguiusuperar o original, ou seja, ninguém se atreveria atentar superar Brandon e Sarah. Não agora, nãonesta cidade. Então, você já sabe onde pode enfiarsuas perguntas.

- Eu acho que não – A voz macabra soltou umarisadinha – Você quer sentir o sabor da minhasequencia?

- Não obrigada, eu sei que tem gosto de remake –Ashley sorriu.

- Não foi isso que seus pais disseram.

Ashley fitou o nada, quase paralisada. O jogo tinhaacabado de ficar mais grave. O que ele queria dizercom aquilo? Se ela começasse a acreditar queaquilo era real, a chamariam de louca. Todosdaquela cidade já receberam esse trote, muitos até

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bem melhores que este, era impossível aconteceralguma coisa, certo?

- Meus pais? – Ela perguntou, tentando sorrir – Elesacabaram de me ligar, estão bem.

- E você teve tempo pra dizer tchau? Se não teve, émelhor correr pra varanda. E não desligue essetelefone por nada...

Ashley olhou pra porta que levava a cozinha, econsequentemente, a varanda. Ela abaixou otelefone da orelha e caminhou até lá, bem devagar.Estava querendo que um de seus amigos pulasseem sua frente e lhe desse um susto, pois aquiloestava macabro demais.

Quando chegou à cozinha, olhou pra varanda,estava tudo escuro, não estava desse jeito da ultimavez que ela checou. Com a mão direita, e bemdevagar, ela apertou no interruptor que ligava a luz,e teve uma surpresa. Seu pai estava se arrastandopelo jardim, com a garganta cortada, era uma longaestrada de sangue desde a entrada.

- Pai! –Ela gritou, desesperada e tentou abrir aporta.

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- Se você abrir a porta ele morre, vadia maluca! –Gritou o assassino, no telefone.

Ashley parou de forçar a tranca, mas continuou coma mão nela. De seus olhos escorriam lágrimas ao vera dor do pai, nem sabia onde ele tinha sido ferido,só sabia que ele estava clamando por ajuda, masnão podia arriscar. Ela viu os filmes, soube dashistórias, precisa jogar o jogo dele e só assimconseguiria se salvar.

- Agora você vai brincar comigo, Ashley? -Perguntou o assassino - Ou eu preciso matar logoseu pai? Foi uma pena ter chego até este ponto,eles são boas pessoas, não merecem morrer porcausa de uma vadia sem coração como você.

- O que você quer? – Chorava Ashley, ao telefone.

- Você sabe o que eu quero. Você viu os filmes.Você sabe o que tem que fazer pra sobreviver...

- Por favor, não... – Implorou ela, estava quasevomitando de tanto nervosismo.

- Apenas responda. Cite uma sequencia em quetentaram dar um novo rumo a uma franquia.

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- O que?

- Responda a pergunta! – O assassino gritou – Éfácil, o mundo do terror está tão cheio de franquiasque deveriam ter terminado, mas a ganância foimaior. Responda, e talvez eu não mate o pobreSenhor Carson.

- Eu não sei... – Ashley olhou pro pai de novo, nãopodia deixá-lo morrer – Sexta-Feira 13 Parte 5... –Ela se escorou na parede, não conseguia parar dechorar.

- Excelente. A resposta certa lhe custou mais algunsminutos de uma vida que você não merecia. Sótenho mais uma pergunta a fazer...

- Por favor, não... Eu não quero morrer... – Ashleysaiu da cozinha e andou até o corredor para oquarto de hóspedes no andar de baixo, em silencio,olhando pra todos os lados.

- Anda, só mais uma. Eu sei que você consegue.

- O que? – Ela gritou, estava farta.

- Adivinha quem já está do lado de dentro da casa.

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Ashley nem teve tempo para pensar, apenas ouviuo barulho da porta ao seu lado se abrindo e oassassino mascarado saindo de lá. Ele já estava comsua faca em mãos, pronto para matá-la. Ashleygritou, mas sabia que fazer apenas isso não adeixaria viva. Correu pela porta que cortava para ocorredor e deu de encontro com a porta da frente.Com a mão direita, Mexeu na maçaneta, mas aporta não abria.

Correu na direção da escada, sabia que não dariatempo de destrancar a porta da frente. Ghostfaceestava bem atrás dela, quase tocando seu corpo,mas com rapidez, ela pegou o vaso de cima damesinha do segundo andar e jogou na cabeça doassassino, que caiu do ultimo degrau da escada. Elao observou caindo, e ele parecia desmaiado assimque chegou ao chão.

Ashley se dirigiu para a pequena entrada no tetoque dava pro sótão. Ela puxou a corda e a escadadesceu. Rapidamente subiu os degraus, mas umdeles acabou quebrando. Ela fez mais força, mesmocom o ombro machucado e conseguiu subir. Logopuxou a escada, dando ainda tempo de ver que oassassino estava chegando. Empurrou o sofá velhoao seu lado para tapar o buraco, e logo viu oassassino forçando-o pelo lado de baixo. Ela correu

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até a janela triangular de vidro do sótão e viu a ruadeserta.

- Me ajudem! Me ajudem! – Ela gritava enquantobatia na janela, alguém precisava ajudá-la.

Mas notou que continuando assim, acabariamorrendo. Pegou um disco voador de brinquedo dochão e quebrou a janela, tomando cuidado paratirar todos os cacos que ficaram para não se cortar.Ela colocou a primeira perna no telhado, mas foipuxada pelo cabelo pelo assassino. Deu um grito ecomeçou a arranhar o assassino, que lhe deu trêsfacadas na costa antes de jogá-la pela janela.

Ela caiu pelo telhado do primeiro andar e rolou atéo jardim, onde seu pai estava jogado, ele já tinhadesistido de lutar.

Ela ficou um tempo parada, a queda havia lhecustado uma fratura externa na perna, que não adeixava ir a lugar nenhum. Quando olhou prafrente, com seus olhos cheios se lágrimas, viu seupai jogado na grama, cheio de sangue. Ela prendeuo choro, mas ele saia assim mesmo.

- Pai! – Ela gritou, tentando se arrastar – Não!

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Seu pai conseguiu levantar a cabeça e olhou pra ela,os olhos cheios de lágrimas também. Ela já podiaver que sua garganta havia sido cortada, ele estavamorrendo aos poucos. Ela olhou pro lado e viu suamãe jogada no meio da rua, cheia de sangue norosto, mas só percebeu que era o fim quando ouviuos passos do assassino atrás dela.

Ela olhou pra trás e o viu por completo, a fantasiaera a mesma, a faca que ele tinha nas mãos aindaestava com seu sangue e ele parecia estar decididoa observar seu sofrimento antes de matá-la.

- Não! – Ela gritou, tentando se arrastar novamente.

O assassino acompanhou a garota, ela conseguiu searrastar até onde seu pai estava. Eles estenderamas mãos para se tocar, mas antes queconseguissem, Ashley foi virada de peito pra cima elevou sua ultima facada, em seu rosto, enquantoseu pai a assistia morrer.CAPITULO 2- Bom dia vadios e vadias que não estão acordadospara o meu programa – Disse Chloe, na rádio –Apesar da data macabra, a manhã está linda. Seique a ressaca é das piores graças as misturasafrodisíacas e altamente alcoólicas da Alfa Gamma ,mas são oito da manhã. É hora de levantar seus

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traseiros de classe média da cama pra mais um diatedioso e cheio de obrigações na cidade maisfamosa do país.

Assim que Amanda ouviu as ultimas palavras deChloe, abriu os olhos. Já estava acordada, mastentava ignorar a voz de sua melhor amiga, quesempre fazia questão de lhe acordar. Ela se virou,ainda deitada na cama, e fitou o rádio encima desua penteadeira, queria ouvir mais de Chloe.

- Mas não se esqueçam – Continuou Chloe –Precisamos de vocês hoje ao meio dia no memorial,estamos contando com a presença de todos. Vamossair desse buraco, eu prometo. Mas agora... Voucolocar uma musica super rilex pra vocês enquantovejo as fotos do Cam Gigandet sem camisa. E issonão é uma brincadeira, é uma verdade, que éapenas engraçada.

Amanda deu outro sorriso. Quando a musicacomeçou a tocar, percebeu que não queria sair dali.Estava perfeito. A musica, a cama, o sono, elaestava sentindo uma paz enorme.

Virou de peito pra cima na cama e fitou o tetoamarelo da mesma cor das paredes. Aquilo lheparecia uma terapia. Acordar, olhar pro teto e

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pensar em tudo o que iria fazer no dia. Nadamudava, ela fazia exatamente o que pensava demanhã. Mas o problema era que só estavapensando no memorial, se deveria ir ou não. Aindatentava evitar pensar em Brandon, sentir saudades,ou simplesmente acordar e perceber que tinhaapenas 18 anos, mas já tinha visto pessoas demaismorrendo.

Mas, tinha que começar pelo mais importante.Suspirou e se sentou na cama, de frente para oberço de seu filho Matty. Não sabia como podiaamar tanto alguém como amava aquela criança.Deu outro suspiro quando se lembrou mais uma vezdo amor que sentia por ele. E foi só ouvir seugemido que ela levantou da cama. Andou até oberço e o fitou. Sua roupinha azul clara era linda,combinava com seus olhos grandes e azuis queolhavam também para o teto.

Amanda deu um sorriso bobo e tocou em seu rosto,logo quando ele havia olhado pra ela. Ele deu ummeio sorriso e isso fez Amanda feliz. Ele estava felizem vê-la. Tinha apenas quatro meses de vida, mas aconexão entre os dois era enorme.

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De repente, alguém abriu a porta. Amanda olhoupro lado e percebeu que se tratava de BrookeStone, a babá de Matty.

- Oi... – Ela sussurrou, estava com medo de falaralto e acordar o bebê. Aproximou-se devagar, comum sorriso, que aumentou quando viu o rostinho deMatty – Own, como ele consegue ficar mais fofo acada dia que passa?

- Eu não sei... – Disse Amanda, e lançou um olhar demãe orgulhosa para o filho.Depois, ficou olhando para Brooke enquantobrincava com Matty fazendo caretas. Mas, mesmocom a aparência amigável e gentil de Brooke, aindanão confiava nela. Lembrou-se da mini câmera queinstalou secretamente em seu quarto e ainda lheparecia uma boa ideia. Amanda havia cansado desurpresas.

- Bom, estou aqui – Brooke olhou para ela – Vocêpode ir, vou cuidar bem dele.

- Tudo bem. Qualquer coisa, me ligue.

- Ok. Vou levá-lo pra tomar banho, já preparei aágua – Brooke pegou Matty do berço, que levou seuchocalho colorido com ele.

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-Tchau, Matty – Amanda deu um beijo no rosto delee assistiu ele saindo junto de Brooke.

Ainda parada e olhando pra porta, ela suspirou.Brooke e Matty já haviam saído de sua vista, maspor algum motivo, ainda estava olhando. E ela sabiaexatamente qual motivo era esse. Mais uma vez, elanão queria viver o dia. Queria que fossem cortadasmetade de suas 24 horas só pra não ter tempo livre,mas era impossível.

Com um suspiro despertou-se e deu a volta na camapra chegar até sua penteadeira. Abriu a primeiragaveta e de lá tirou sua blusa preta favorita, iriausar na faculdade. Olhou pra blusa e depois para oporta-retratos ao lado do rádio. Nele havia umafoto dela e Erin juntas no parque de diversões,abraçadas, sorrindo. Ela se lembrou da amiga, assimcomo acontecia todos os dias.

A saudade era enorme, Amanda sentia um buracose abrindo no peito toda vez que olhava para a foto.E sempre lembrava desse dia, em que Erin haviatido um ataque de pânico na montanha russa e teveque ser tirada do carrinho. Amanda ficou apenasrindo da amiga, mas sabia que se algo acontecessecom ela, seria o fim.

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As gargalhadas de depois que chegaram do parquefizeram Amanda sorrir, foi um dos melhores dias,era uma lembrança que nunca poderia se perder.

Amanda fechou a gaveta e saiu do quarto. A fotobrilhava com a luz do sol batendo nela, eironicamente, a parte onde Erin estava não apareciacom tanta luz refletindo.

Quando entrou no banheiro, seu celular tocou.Jogou a blusa preta encima da pia e atendeu, logoapós olhar pro visor e saber que era Miley Potter.Miley era o tipo de garoto que sempre estava comela e Chloe, ouvindo seus problemas, fazendo partedas risadas, mas nunca conseguia ligar numa boahora.

- Hey A, acordei você?- Perguntou Miley, pareciaanimada.

- Não, não. Pode falar – Amanda se olhou noespelho em frente a pia.

- Você vem pra aula hoje?

- Sim, por que?

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- Não se esqueça, hoje à noite tem o “Clube doMedo”. Você é novata junto daquela garota Mag,hoje é a iniciação de vocês!

Amanda fechou os olhos, derrotada. Não acreditavaque Chloe havia lhe obrigado a entrar nessa com adesculpa que ela precisa superar seus medosenfrentando-os. Ela sabia que se isso fosse verdade,ela conseguiria visitar o túmulo dos amigos mortose o de Brandon, isso sim era enfrentar seus medos.

- Ah... Ta legal. Vou avisar que não vou dormir aquiessa noite.

- Ok. Ai – Gritou Miley, de felicidade- Vai sertãããããão divertido ter você lá, Erik vai amar!

- Claro que vai... – Concordou Amanda, sesegurando pra não voltar a ser a Amanda de antes ehumilhar Miley a ponto dela querer se suicidar porcausa da aparência.

- Enfim, vejo você daqui a pouco. Beijos. Haha –Miley ainda estava comemorando.

Amanda desligou. Colocou seu celular na pia eolhou de novo para si mesma no espelho. Estava sesentindo a sub-celebridade mais cretina que já

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existiu. E apesar de sempre ter ganho a atenção detodos, aquilo era ridículo pra ela. Ela não queria serconvidada para um clube do medo só porque foiuma das sobreviventes de um massacre. Tambémnão queria ser convidada pra uma festa só porquealguma garota da Alfa Gamma sentiu pena por elater quase sido morta pelo irmão que amava. Queriaapenas ser Amanda Rush, rainha do baile, a garotamais desejada e invejada do colégio, mas agorasentia como se a palavra “massacre” estivesseescrita com sangue em sua testa em letras deforma.

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Megan acordou. Fitou o teto branco como neve doquarto de Aaron e soltou um suspiro feliz,acompanhado de um sorriso sem barulho. Aquiloera normal, já que fazia um ano que se sentiarealizada, apesar da data lhe fazer lembrar quequase foi brutalmente assassinada por pessoas cujoúnico propósito era se vingar das irmãs. Mas,tentou não pensar nisso, fazendo valer aquela suapromessa de que deixaria tudo pra trás.

Ela se sentou na cama e olhou pra portaentreaberta, logo depois de perceber que Aaron

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não estava ao seu lado. Viu sua minúscula cadelaChihuahua deitada ao lado da porta.

-Muffy, vem cá, preciosa! – Ela disse, fazendo umgesto de mão pra cadela.

Muffy obedeceu rapidamente, mas ao chegar pertoda cama percebeu que era pequena demais parapular ali encima. Megan colocou as pernas pra forada cama e pegou Muffy no colo. Começou a fazercarinho nela, e a tratar como se fosse um bebê.Muffy lambeu seu rosto, e ao mesmo tempo emque Megan achava nojento, achou fofo demais prarecuar.

- Você ta com fome? – Ela perguntou a cadela, comuma voz infantil – Maurrice te deu comida?

Apesar de não ter uma resposta falada, Megansabia que a cadela estava com fome, já a conheciasuficientemente pra saber disso. Se levantou dacama e saiu do quarto, ainda com Muffy em eucolo, estava fazendo carinho na cabeça dela.

Entrou na enorme sala da casa de Aaron e viu aempregada limpando a mesa.

- Katherine? – Megan chamou.

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- Sim, senhora? – Respondeu a empregada.

- Quero que você prepare comida para Muffy,Maurrice deve ter esquecido... Ou comido a comidadela de novo, mas enfim. Não se esqueça, ela sócome coisas lights. E depois prepare seu banho deespuma com sais, estou achando ela muito tensa.

-Sim senhora – A empregada prendeu um riso, masMegan não percebeu.

-Onde está Aaron?

- Ele saiu senhora, disse que chega pro almoço.

Megan fitou Katherine de um jeito estranho, masnem percebia que estava olhando para ela, pois seupensamento estava em outro lugar. Ela estavaimaginando porque Aaron que só acorda ao meiodia teria saído de manhã cedo e sem deixar umbilhete. Eles não moravam juntos ainda, mas issonão queria dizer que Megan não estava ali.

Katherine já estava se sentindo um poucointimidada. Ela era tímida, sempre ficava vermelhacom os olhares dos patrões. No colo de Megan,

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Muffy começou a se debater, até Megan não teroutra escolha a não ser colocá-la no chão.

Muffy correu pela sala, passando por Katherine edeitou-se embaixo da estante da enorme TV deplasma da sala, ao mesmo tempo em que otelefone tocou. Katherine imediatamente atendeu,estava ao lado dele.

- Residência de Aaron Estwood, pois não?

Megan, agora, estava prestando atenção emKatherine de verdade, ela queria saber quem era aotelefone.

- Sim, ela está aqui –Disse Katherine, pra quem querque fosse ao telefone – É pra senhora – Elaestendeu o telefone a Megan, que pegougentilmente.

- Alô? – Megan disse, curiosa.

- Megan! – Gritou sua amiga de Yoga Laura, aotelefone – Você já sabe o que aconteceu? Ai meuDeus! Estou assustada!

- Laura? Mas o que? Você flagrou Richard com ababyssiter de novo?

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- Liga a TV no canal 13! Agora!

Megan olhou pra TV de plasma desligada à suafrente, com uma cara de paisagem sem tamanho, jáque não aguentava mais os chiliques de Laura, queem sua opinião conseguia até ser mais insuportávelque ela mesma.

- Katherine, ligue a TV no canal 13 – Pediu Megan,bufando, quase revirando os olhos.

Katherine pegou o controle de cima do sofá e ligouno canal 7. Foi apertando os botões até chegar no13, onde estava passando um noticiário urgente.Uma repórter loira que Megan odiava estavafazendo uma reportagem do que a legenda na teladizia ser outro assassinato brutal em New Britain.

- [...] A polícia não tem pistas, mas as autoridadespuderam divulgar a imprensa que esta é apenasuma tragédia isolada, sem ligação alguma com asmortes do ano passado, apesar do que pensa apopulação. Tendo ligação ou não, o crime foi tãobrutal quanto os criados por Brandon Rush e SarahRichards, deixando a jovem de 17 anos AshleyCarson com fraturas e ferimentos de faca, além deter sido cruelmente pendurada por ganchos na

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cozinha de sua casa. Será que está acontecendo denovo? Será que New Britain não é mais segura?Hoje vamos falar com um especialista em assassinosem série, que vai nos revelar o que se passa namente de [...]

- Ai meu Deus... – Sussurrou Megan, em choque.

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- Então, este foi Green Day, em sua mais belaessência – Disse Chloe, na rádio, apertando algunsbotões no enorme painel a sua frente – Parece queos caras nunca vão ser como eram no AmericanIdiot, então é bom dar uma trela pro passado.

Chloe colocou a enorme franja loira que caia emseu rosto atrás da orelha, estava atrapalhando suavisão. Na pele branca e pálida havia uma tatuagem,bem no ombro, um coração com uma flecha lhearrancando sangue, que dizia muito bem como erasua personalidade. Quando os olhos azuis bateramnos de sua amiga Miley Potter bem a sua frente, elafez uma careta de desgosto, sua amiga estavazoando de novo seu jeito de falar.

E enquanto Chloe esbanjava uma beleza loira ebastante reconhecida, Miley já era diferente. Ela

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tinha cabelos pretos e longos, um piercing no narize uma tatuagem ainda mais provocante que foicoberta por sua calça jeans. Os olhos bemcastanhos debochavam de Chloe e não sepreocupavam em disfarçar isso.

- Então, vocês sabem que hora é essa? – Disse Chloenovamente, tentando ignorar Miley – Sim, é horado intervalo, que vocês conhecem muito bem.Deixo uma lista de reprodução aleatória tocandoenquanto eu finjo que estou fazendo alguma coisa.

Ela olhou pro enorme vidro à sua direita, GabrielPierce estava acenando com a mão direitaenquanto a esquerda segurava apenas uma alça damochila que ele tinha nas costas.

- Idiota – Sussurrou Miley.

- Vejo vocês mais tarde – Chloe se levantou dacadeira logo após colocar sua lista de reproduçãoem execução.

Ela andou até a porta ao lado de Miley, Gabrielolhou pros sapatos enquanto esperava pelas duas.

- Cheguei numa hora ruim de novo? – Eleperguntou.

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- Não, dessa vez você acertou – Chloe olhou prauma mulher que passara do lado deles e depoisvoltou sua atenção para Gabriel, cruzando os braços– O que você quer? Não falo com Amanda há trêsdias, não posso mais dar seus recados.

- Não é sobre Amanda. Quer dizer, é sobre ela, masnão exatamente.

Miley soltou uma risadinha severa quando Gabrielse atrapalhou. Ela se perguntava como um garototão lindo podia ser tão atrapalhado. Será que elesabia que desse jeito nunca ganharia o coração deAmanda Rush?

- Desembucha – Disse Chloe.

- Ta uma loucura lá embaixo, vocês têm que ver.Tem repórteres pra todo lado, a polícia estáentrevistando os alunos.

- O que? – Chloe olhou pra porta, um policial tinhaacabado de entrar no estúdio – Por quê? Da ultimavez que essa cidade ficou assim, começaram amatar os alunos do terceiro ano...

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Gabriel ficou olhando para Chloe, esperando elaentender. Era loira, mas era esperta, não demoroumuito pra perceber o que o garoto estava querendodizer.

- Nem brincando... – Ela passou por ele, disposta aver o porquê da confusão.

Miley e Gabriel foram atrás dela, mas apenas elesabia o que estava acontecendo. Elas iriam ter umataque quando soubessem.

Eles desceram as escadas brancas do edifício,olhando para toda aquela aglomeração. Chloecolocou a franja de novo atrás da orelha e ficouolhando, aquela universidade estava como numfilme de terror. Polícia por todos os lados,repórteres também, era como se o mundo inteirotivesse se reunido ali.

- O que aconteceu? – Perguntou Miley.

- Não sei, acho que temos que chegar mais perto –Disse Chloe, começando a andar.

- Mas e se alguém estiver morto?

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- Miley, seu namorado já tem algo morto dentro dascalças e você não reclama. Agora vem.

Chloe tomou á frente novamente, os dois seguiramela, mas apenas Gabriel de boa vontade. Quandoeles chegaram mais perto da grama, puderamreconhecer as pessoas. Zoe Pierce, a irmã mais novade Gabriel com os cabelos castanhos mais bonitosque Chloe já vira estava conversando com suaamiga, um pouco próxima de Ellie Harrington, agarota gótica mais legal daquele campus.

E por mais que tentasse, Chloe não conseguia ouviro que as pessoas estavam falando, por isso tentouse focar nas matérias ao vivo que os repórteresfaziam.

- Por favor, diga que estão assim por causa doconcurso Miss New Britain e não porque alguémmorreu – Chloe cruzou os braços o observou amultidão com desesperança.

- Vocês não assistem televisão? – Perguntou ErikMets, atrás deles, a franja emo pelo rosto, as mãosno bolso, a roupa preta chamando atenção.

- Não, eu sou loira, você sabe – Chloe sorriu.

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- Ashley Carson foi assassinada em sua casa. Seuspais também foram atacados, estão esperando seupai recobrar a consciência pra poder saber o querealmente aconteceu.

- E a mãe dela?

- Ela disse que não viu nada, recebeu uma pancadana cabeça e apagou. Quando acordou ela viu a filhamorta e o marido ferido, foi ela quem chamou apolicia.

- Você não consegue parar de ser estranho? –Perguntou Miley, com um a cara de nojo.

Erik olhou pra ela e sorriu com malícia, não seimportava com sua opinião, ou a de qualquer outrapessoa.

- Ok – Chloe pensou – Uma garota foi assassinada eseus pais estão feridos, isso acontece, não é?

- Nossa, você é loira mesmo – Erik sorriu – Ou cegademais...

Chloe olhou pra frente quando Zoe chamou seuirmão. Ele correu até ela, deixando Chloe e Miley naduvida sobre o que iriam falar. Mas isso deu tempo

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pras duas pensarem. Uma garota que não estudavanaquela universidade tinha sido assassinada em suacasa exatamente um ano depois do massacre. E anão ser que a policia tenha um suspeito que estudeali, só pode significar uma coisa: Alguém querrecriar o massacre, e o alvo com certeza é Amanda.

Mas isso seria clichê demais, Ou até mesmo,impossível. Porque assassinos em série não apareceaos montes, certo? Não é como se a vida dosmoradores de New Britain fosse um filme e detempos em tempos alguém quisesse matar Amandae quem estivesse ao seu lado.

- Gabriel, você soube? – Perguntou Zoe, assim quesua amiga se afastou.

- Quem não soube? Uma garota assassinada em suacasa exatamente um ano depois de todas aquelasmortes?

- Isso não pode ser aleatório... – Zoe olhou ao redor,sentia que não conseguia mais respirar com tantagente ali – E parece que todos acham isso. Ondevocê estava ontem?

- Em casa – O tom de Gabriel era acusador –Assistindo TV enquanto você tomava todas na Alfa

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Gamma. Você chegou bêbada ao extremo, te leveiaté o banheiro, segurei seu cabelo pra você vomitare depois te coloquei na cama antes que a mamãenotasse.

- É, isso é bem a minha cara – Ela sorriu.

Zoe olhou por trás do ombro de Gabriel, era aentrada da universidade, Amanda estava saindo deseu carro. Ela sorriu com malícia, sabia que a coisaia pegar fogo quando ela chegasse.

- Olha lá sua amada. Acha que ela é a próxima ou aprotagonista dessa vez?

- Para, Zoe – Pediu Gabriel, mas sua irmã manteve osorriso.

Assim que Amanda saiu do carro, ela notou umamultidão vindo em sua direção. Ela foi protegidapor policiais que estavam lá perto, eles a ajudarama entrar na universidade sem se machucar. O piorera que ela não sabia o porquê de tudo aquilo,pensava que tudo tinha terminado quando seu filhonasceu e os jornais locais se cansaram de suahistória.

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Quando a porta de vidro da universidade se fechou,ela olhou, alguns policiais estavam impedindo queos repórteres entrassem.

- Ai meu Deus! – Exclamou ela – O que foi isso?

- Saiam da frente! – Gritou Megan, lá atrás – Saiamda frente! Sobrevivente branca passando!Sobrevivente branca passando! – Quando elaconseguiu entrar, fitou Amanda, que ainda nãosabia o que estava acontecendo.

- Megan? – Ela perguntou, incrédula, fazia tempoque não se viam.

- Ai meu Deus! – Megan correu até ela e lheabraçou – Ai meu Deus eu sinto tanto! Amanda, eusinto muito! Ai meu Deus!

Amanda aceitou o abraço cômico, mas ainda nãosabia de nada. Megan segurou em seu rosto com asduas mãos, as unhas pintadas de vermelho chegueilembravam algo que Amanda rezava para esquecer.

- Nós vamos sair dessa! Nós vamos!

- Ok Megan, é claro que vamos. E eu vou pra minhasala agora...

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- Espera! Você pode falar comigo, sou uma ótimaouvinte. Ainda terei meu próprio talk show, vamosescrever um livro juntas.

- Megan, o que ta acontecendo?

- Você não sabe? – Megan se afastou, com cautela.

- Não – Amanda cruzou os braços.

- Querida, você não assiste TV? Que vidamiserável... Não que o que seu irmão fez tenha sidomelhor, mas...

- Megan, me deixa em paz – Amanda deu as costaspra ela.

Megan ficou gritando coisas sem nexo lá atrás, atéperceber que precisava ser direta ou então seriaignorada.

- Alguém morreu! – Ela gritou, fazendo Amandaparar.

Amanda olhou pra trás, Megan parecia mais calma.Ela tentou raciocinar, mas antes que pudesse, o

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delegado Estwood chamou por seu nome. Ela olhoupra ele, em choque.

- Precisamos conversar com você, Amanda.

Ela olhou pro lado, os olhos cheios de lágrimas.Então, o que temia estava acontecendo? Alguémmorreu de novo e estão atrás dela novamente,assim como nos filmes?

- Diga que ninguém morreu...

- Amanda – O delegado pegou em seu ombro emanteve a expressão séria, provando a Amanda queaquela era uma situação delicada - Precisamosconversar.

Ela balançou a cabeça positivamente antes deentrar na sala ao lado. Deu uma ultima olhada emMegan, antes de sentar na cadeira e ouvir o quetinham a lhe dizer.

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Com a mão na nuca e a outra no bolso da calça,Craig caminhava pela delegacia, esperando umaresposta. Fazia muitas horas que Amanda estava ládentro conversando com os policiais, temia que ela

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pudesse estar em perigo, ou que o bebê pudesseestar em perigo.

Desde que aceitara ter um relacionamento comAmanda e criar seu filho que as coisas começaram air mal. Primeiro, por causa de seu irmão Kyle. Elenão gostava nada de sua futura esposa e semprereclamava do que ela fazia. Depois por seus pais,estavam achando o filho louco por querer criar umbebê dentro de casa junto da irmã de um psicopata.

Mas para Craig, Amanda era a única, e vê-lapassando por todo esse horror de novo era nomínimo desesperador.

Quando viu a porta da sala se abrindo, ele parou deandar. Viu Amanda saindo de lá, o rosto sereno, elaparecia bem pro que ele esperava que estaria.Então, tinha ocorrido tudo bem? Pois ela estavasorrindo como se tivesse recebido uma boa notícia.

- Qualquer coisa me ligue, Amanda – Disse odelegado Estwood.

- Pode deixar – Amanda suspirou quando ele fechoua porta. Ela olhou para Craig, ao lado, ele estavaincrédulo. Rapidamente ela correu até ele e oabraçou – Ainda bem que você está aqui.

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- Está tudo bem?

- Sim, eu acho – Ela olhou pro pingente do cordãodele, aquele símbolo japonês sempre chamou suaatenção– Acho que vou ficar bem.

- E o que eles disseram?

- Eles me disseram o que aconteceu com a garota edepois me mostraram algumas fotos. Depoisficamos discutindo sobre os assassinatos do anopassado até chegarmos a conclusão de que ele nãose encaixa. Parece que o pai dela acordou e disseque tentaram assaltá-los, algo assim.

- Ai caramba – Craig suspirou – Que susto. Penseique você e Matty estavam em perigo.

- Mas não estamos...

Amanda olhou bem nos olhos dele, era impossívelnão se apaixonar. Ele tinha o cabelo castanho caídona frente numa franja que ela mesma havia feito sópra não namorar alguém de cabelo espetado. Seusolhos eram castanhos, e se olhassem bem, oformato de seu rosto era bem parecido com o deMatty.

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Ela o beijou, bem devagar, sentindo sua barba malfeita roçar em sua pele, aquilo não incomodavamais e tinha ficado até prazeroso.

- Podemos ir? Matty deve ter deixado a babá loucade novo.

- Meus pais estão lá ajudando, mas você precisamesmo dormir. Foi um dia longo.

- Muito, muito longo, e ainda tem mais – Amandasorriu com malícia e o beijou , deixando claro o queiriam fazer quando chegassem em casa.

- Kyle ta lá fora com o carro – Craig olhou pra ela,não estava vendo suas coisas – Onde está suabolsa?

- Merda – Amanda olhou pra trás, num reflexo –Devo ter deixado dentro da sala.

- Vou pegar pra você, me espere no carro – Ele abeijou.

- Certo.

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Amanda saiu da delegacia, logo avistou o enormecarro preto de Kyle. O loiro de olhos castanhosestava com a mão na boca, mordendo seu anelenquanto olhava pro lado oposto ao qual Amandaestava.

Ela entrou no carro, ao lado do banco do motorista.O barulho da porta chamou a atenção de Kyle.

- Cadê o Craig? – Ele perguntou, sem tirar a mão dovolante.

- Foi pegar minha bolsa – Amanda olhou pro lado,estava tentando não falar com Kyle o máximo queconseguia.

- E você, o que disseram?

- Não quero falar sobre isso - Ela colocou o cabeloatrás da orelha, um pouco constrangida.

- Justo – Ele olhou pra frente e sorriu, sabia o queela estava fazendo – Sobre o que você quer falarentão? Sobre a noite passada quando Craig pensouque você estava na Alfa Gamma, mas você estavacomigo dentro desse carro?

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- Kyle, não – Amanda mudou seu tom, estava quasesussurrando, mas ainda era de alerta – A gentecombinou que não ia falar sobre isso... Não é justo.

- Comigo, com você ou com o meu irmão?

- Com nós três. Por favor, vocês são minha únicaesperança. Minha única esperança do Matty teruma vida normal depois de tudo. Eu te imploro...Pelo meu bebê...

- Amanda eu te...

- Hey – Disse Craig, quando abriu a porta. Ele sentoudo lado de Amanda, os três ficaram alinhados nafrente – Desculpe a demora, eles quiserem trocarumas palavras comigo.

- É, eles disseram que iam fazer isso... – Amandaolhou pras pernas, coçando a nuca, constrangida.

- Obrigado por pegar a gente aqui, Kyle – Disse Craig– Te devo uma.

- Acho que sim – Kyle pisou no acelerador e empoucos segundos eles já tinham saído dali.

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Quando chegaram em casa, Kyle pulou do carro ebateu a porta bastante irritado. Apenas Amandasabia o motivo real, e Craig já tinha parado de sepreocupar com a bipolaridade do irmão. Kyle tinhasempre sido assim, irritado, arrogante, o bad boy dafamília, que usa uma jaqueta de couro e seduzgarotas virgens quando não está brigando comalguém. Mas Amanda sentia que a vergonha dafamília tinha sido dividida entre os irmãos, já queCraig namorar a irmã de um psicopata também eravergonhoso.

De mãos dadas, Amanda e Craig entraram na casa.A senhora Fuller estava com Matty no colo,brincando com ele perto da escada. Quando notoua chegada de Craig e Amanda, olhou pra eles, umpouco preocupada.

- Eles só liberaram vocês agora? – Ela perguntou,nem ligava por Matty estar balançando seuchocalho bem na sua frente.

- Sinto muito – Amanda andou até ela e pegou seufilho – Senti tanto a sua falta, meu coelhinho...

- Ele está sujo – Disse a senhora Fuller – Vocêsprecisam ver isso.

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- Deixa comigo – Craig pegou Matty em seu colo –Eu cuido disso – Ele subiu as escadas enquantobrincava com a criança.

Agora, sozinhas, Amanda e Maisy se fitaram.Amanda colocou as duas mãos nos bolsos de trás desua calça jeans enquanto Maisy, a eterna SenhoraFuller elegante, apenas lhe olhava com o desprezode sempre.

- Obrigada por ficar com ele – Começou Amanda –Sei que não é sua responsabilidade, então agradeçomuito.

- Eu adoro o pequeno Matty, não seja boba. Mas ababá foi embora cedo, tive que pagar do meudinheiro.

- Não tem problema, eu pago de volta, masobrigada.

- Querida, você sabe que não precisa, não tentefingir que é uma boa moça agora, ok? – Maisy sorriude um jeito falso – Agora suba, você tem um filho,lembra?

Maisy se retirou, deixando Amanda olhar pro chão,derrotada. Mas ela sabia que se quisesse que Matty

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tivesse um futuro melhor que o seu, tinha queaguentar tudo isso. Ela então, lembrou de quandosaiu de casa, três dias depois de ter decapitado seuirmão. Sua mãe não conseguia mais olhar pra suacara enquanto seu pai tinha preferido afogar asmágoas na bebida, como sempre.

Era demais pra eles, e ela sabia, por isso saiu decasa, só para não atrapalhá-los. Mas vê-los semudar da cidade há sete meses tinha sido mortal.Agora sua casa estava ao léu, completamentedesabitada. A grama tinha crescido e a placa devende-se tinha caído, ninguém queria morar ali.

Ainda com a cabeça abaixada, subiu as escadas.Passou pelo quarto do bebê onde Craig estavatrocando suas fraldas e ficou olhando da porta, atéque um sorriso brotou em seu rosto. Craig eraperfeito em todos os sentidos e estava sendo umótimo pai, era bem mais do que ela merecia.

- Olha ali a mamãe – Ele disse, assim que colocououtra fralda no bebê. Ele o pegou no colo e chegoubem perto de Amanda – Você sabia que o tio Craigama a mamãe, sabia? Ele ama ela e o neném maisdo que eles pensam.

- Você é um doce.

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- Posso fazê-lo dormir hoje? Você está cansada...

- Craig, você não...

- Amanda, eu te amo. E se eu quiser ficar com você,esse bebê também vai ter que ser meu.

- Você tem razão – Amanda suspirou – Vou dormirum pouco. Se ele quiser mamar, me avise.

- Ok – Craig saiu do quarto.

Amanda olhou pra trás, viu Craig passando pelafrente do quarto de Kyle. O garoto estava sentadoem sua cama, escorado na cabeceira, com fones deouvido e seu celular nas mãos.

Quando seu olhar encontrou o de Amanda, ele seesticou pra fechar a porta. Ela entendeu, afinal, elaera a culpada de tudo aquilo.

Com passos lentos, ela caminhou pelo quarto dobebê. Fitou o teto decorado e as paredes, fitou ascoisas de seu filho, que havia ganhadomilagrosamente de Maisy. Mas ainda tinha algoerrado, algo que ainda incomodava.

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Ela caminhou até a penteadeira azul e abriu aprimeira gaveta, ela tinha um fundo falso. Dentrodele havia uma carta de um teste de paternidadeque havia pedido para Matty quando nasceu, masnunca teve coragem de abrir. Não seria fácil saberquem realmente era o pai de seu filho quandopoderia ser um psicopata.

Por isso ela ficou olhando pra carta, pensativa.Querendo e não querendo abrir. Mas quem seria opai? E se fosse Brandon, Matty poderia ter uma vidanormal?CAPITULO 3- Vadia Gamma batendo na porta – Disse Zoe, apósduas batidas.

- Pode entrar – Disse Gabriel, sem animação.

Zoe abriu a porta do quarto dele, toda sorridente,ele estava deitado em sua cama com as duas mãosembaixo da cabeça, apenas fitando o teto brancode seu quarto enquanto a beleza de Amanda Rushdava voltas em sua cabeça.

Ela cruzou os braços e ficou olhando, ele costumavafazer aquela brincadeira de irmãos com maisanimação.

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- O que foi? Já cansou?

- Desde a sua segunda semana na Alfa Gamma... –Ele deu um leve suspiro.

- Ok senhor ranzinzo, quer me dizer no que tapensando? – Ela sentou ao lado dele na cama eolhou em seus olhos, ainda pensativos – Se for emtoda essa confusão do assassinato da Ashley, émelhor parar. Você viu os noticiários, foi um casoisolado.

- Não vi, mas... Não estava pensando nisso... Hey –Ele olhou pra ela – E a festa?

- Vou distribuir os convites hoje. Por quê? Vocêquer me ajudar?

- Não, só perguntando...

- Amanda vai estar lá... Sei que você gosta dela.

- Quando você fala em voz alta eu fico parecendoum ridículo...

- Claro que não. Imagine que isso aqui é um filme,certo? – Zoe tentou prender o riso antes determinar de falar, Gabriel percebeu que estava

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prestes a ouvir mais uma pérola de sua irmã – Ela éa sobrevivente, isso faz dela a Sidney. E já que estaé uma sequencia e você persiste nesse amorplatônico por ela, isso faz de você o Randy. Elemorre, mas é uma lenda, e não é nada vergonhososer ele.

- Podemos parar de falar sobre filmes de terror?

- Desculpa, só tava querendo te animar. Hey, sousua irmã legal. E a não ser que você seja adotado eesteja disposto a me matar, estamos bem.

- Muito sutil – Gabriel levantou da cama. Pegou suacamisa ao lado e vestiu – Preciso de uma carona prafacul.

- Ai, não posso – Zoe se levantou – Preciso pegar ospanfletos na gráfica. Você se incomoda de irandando?

- Sim, eu me incomodo.

- Que bom que você entende! – Zoe sorriu, fingindoque não tinha ouvido nada – Vá com Deus, melhorirmão do mundo! Beijos – Ela mandou beijos com asmãos e fechou a porta.

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Gabriel sorriu de um jeito sem graça e assentiu.Pegou sua mochila do chão e desceu as escadas.Passou pela cozinha, sua irmã estava inventandouma mentira para sua mãe pra poder dar a festa daAlfa Gamma.

Gabriel saiu de casa e começou a andar na direçãodo ponto de ônibus, não iria andando pra faculdadenem se lhe pagassem. E se tivesse que ir, seriamelhor ter ficado em um dormitório como amaioria dos alunos faziam.

Quando chegou, percebeu que estava sozinho nolocal. Havia uma bolsa no banco, alguém tinhaesquecido, mas ele não se meteria nisso. Olhou prafrente, nenhum ônibus estava vindo, ele só via umcarro prateado vindo em alta velocidade, mas issoera um problema, porque bem a sua frente estavauma poça d’água.

Antes que ele pudesse evitar, o carro passou,deixando ele cheio de lama. Ele fechou os olhos,sabia que tinha engolido um pouco daquilo.

- Kappa Zeta, idiota! – Gritou Trent, de dentro docarro, mostrando o dedo do meio pela janela.

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Miley, que estava ao lado dele, logo o repreendeu.Lhe deu um soco no ombro e lhe chamou de idiota.Quando olhou pra trás, viu Gabriel se limpando.

- Droga Trent, você não precisava ter feito isso.

- Claro que precisava, o cara é um idiota – Trentaumentou o volume do rock que estava tocando narádio, deixando Miley desconfortável.

- Você quer abaixar isso?

- Não, é AC/DC, ta maluca?

- Idiota – Ela virou pro lado, tentando ignorar todoaquele barulho, pensando em onde estava com acabeça quando se deixou gostar daquele garoto.

Mas Trent não era só o idiota que ouvia AC/DC enão ligava pra namorada, ele era o valentão dosKappa, o garoto mais rico entre eles e achava quepor isso podia fazer o que quisesse, com quemquisesse.

- Não custava ser mais gentil... – Disse Miley.

- O que você disse? – Ele não tinha ouvido por causada musica.

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- Nada – Ela ficou com a cara emburrada, olhandopelo vidro embaçado do carro. Tinha chovidoontem a noite.

Após alguns minutos, Trent estacionou o carro.Miley olhou pela janela, nem tinha percebido que játinham chegado ao campus. Desceu do carro semanimação e seguiu o namorado, que foi direto falarcom os amigos da Kappa.

Ela segurou na alça de sua mochila e suspirou, omesmo dia parecia ter começado de novo.

- Hey Garota – Disse Chloe, tinha acabado dechegar. Ela segurava seus cadernos contra o corpocom as duas mãos como se estivesse com frio e seucabelo loiro, geralmente amarrado num rabo decavalo, estava solto.

- E aí?

- Nossa, que animação. Deixa eu adivinhar, vocênão conseguiu falar com o Trent de novo?

- Não... – Miley olhou pra ele, estava rindo como sealguém tivesse contado uma piada – Ele é meioegocêntrico...

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- Mas bom de cama, eu sei, você já me falou – Chloeficou na frente dela, fazendo-a parar de andar –Miley, uma hora ele vai ter que descobrir. E vocêdeveria fazê-lo saber de tudo antes da sua barrigacrescer e ele te chamar de gorda.

- Não me pressione, vou falar quando eu achar quedevo. Ainda não é a hora...

- Podemos pelo menos escolher um nome probebê?

- Cala a boca! – Miley sorriu e bateu em Chloe comsua bolsa.

Elas continuaram andando, até entrarem no prédio.Passaram pelos ginásios e pelas piscinas,conversando sobre bastante coisa, até chegarem aoassunto que queriam conversar desde ontem. Elasviram Craig Fuller na quadra externa, com um shortapertado e uma camiseta, ele estava jogando tênis.

- Olha lá, o marido perfeito – Disse Miley – Bem queeu queria um desses...

- Você falou com Amanda?

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- Não – Miley se escorou na parede – Liguei duasvezes, mas ninguém atendeu. Acho que ela ta bem.Já disseram que o assassinato não tem nada havercom ela.

- É, mas fizeram uma bagunça e tanto por aquiontem... Acho que sempre que alguém morrer vãoligar isso a Amanda.

- Falando nisso, cadê ela?

--

- O que ele quer de mim? – Perguntou Amanda,desnorteada, segurando a cabeça com as suasmãos.

Matty deu mais um grito histérico, como se alguémestivesse machucando-o. Não importava quantasbrincadeiras Brooke inventasse, quantos gestoscarinhosos ela fizesse, ou quantas vezes ela obalançasse, nada o fazia parar de chorar. E elas játinham tentado de tudo. Ele não estava sujo, nãoqueria banho, não queria mamar, estavapraticamente chorando sem motivo.

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- Eu não sei o que está acontecendo – Disse Brooke– Já tentei de tudo. Tem certeza que ele não quismamar?

- Não, ele me mordeu e começou a chorar mais – Avoz de Amanda era depressiva e sem vida, não sabiahá quantas horas aquele garoto estava chorando.

- Calminha, bebê – Pediu Brooke, mais uma vezbalançando-o – Você tem certeza que não esqueceude nada?

- Eu tenho...

- E os remédios dele pra cólica? Você deu tudocertinho?

- Oh... – Amanda pensou. Olhou para Brooke comuma cara de culpada – Não fique com raiva...

- Amanda, deve ser isso então. Ele deve estar comdor. Vou preparar o remédio agora – Ela passou porAmanda, decepcionada.

Amanda, apesar de se sentir aliviada por aquelechoro que começou quatro da manhã ter parado,estava se sentindo mal, porque era sua culpa. Elaestava achando que não tinha nascido pra ser mãe,

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até uma babá que ela encontrou nos classificadosconseguia ser melhor que ela.

Quando lembrou que precisava estar no campus,olhou pro relógio, estava definitivamente atrasada.

- Merda! – Ela gritou – Brooke! Preciso ir! Estouatrasada!

- Ok, eu cuido dele por aqui! – Gritou Brooke devolta.

Amanda desceu as escadas correndo e pegou suascoisas que estavam encima do sofá da sala, masainda faltava algo. Ela olhou pra tudo, tentando selembrar, todas aquelas horas de choro acabaramfazendo ela esquecer.

Quando olhou pra mesinha do centro, viu otrabalho que fez do senhor Lee. Ele estava molhado,amassado, parecia ter sido coisa de seu filho. Eagora, como se não bastasse ter tido tanto trabalho,ela tinha que entregar vinte folhas todas amassadase pedir pro Senhor Lee ignorar toda aquela baba.

- Ok, eu sou muito feliz – Ele disse pra si mesma,antes de pegar o trabalho e colocar na bolsa.Sempre fazia isso quando achava que iria explodir.

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Saiu pela porta da frente e andou até a garagem,mas não tinha nenhum carro lá. Ela nem lembravaque nas quintas Craig saia cedo pro treino de tênis eos senhores Fuller iam visitar os amigos.

- Droga, Craig!

- Hey – Disse Kyle, atrás dela, assim que tirou ocapacete da cabeça. Ele estava encima de umamoto, com uma jaqueta de couro e um sorrisomalicioso no rosto – Seu noivo tem treino de tênisnas quintas, pensei que você soubesse.

- Merda... – Ela olhou pro horizonte, mas não viunenhum táxi.

- Se quiser chegar logo na sua aula, é bom sentarlogo aqui atrás.

- Não, obrigada – Amanda fingiu um sorriso – Euvou andando – Ela segurou na alça da bolsa ecomeçou a andar.

Kyle sorriu. Começou a acompanhá-la devagar emsua moto, sabia que ela estava fazendo de tudopara fingir que ele não estava ali.

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- Qual é Amanda? É só uma carona, eu prometo.

- Já disse que não, agora me deixa em paz.

- Prometo que não conto pro Craig, prometo quenão faço piadinhas, nem nada.

- Como se eu confiasse em você – Ela deu um ar derisos.

- É sério, só quero que você não chegue maisatrasada do que está – Ele parou a moto – Eu sóquero ajudar, ser útil em alguma coisa.

Amanda parou e ficou olhando pra ele, pareciaestar sendo sincero. Mas o problema não era esse.Ela sabia que Kyle era um bom garoto, mesmotendo uma moto e sendo o macho alfa e grosso quesempre fora. Porque no final, ele só é um garotoassustado que se sentiu rejeitado pela família eacabou se tornando um bad boy.

O problema era que estar com ele fazia bem a ela, eela não podia se dar a este luxo. Se aceitasse ir comele e sentasse na garupa daquela moto , poderiaacontecer uma tragédia. Ela sentiria seu cheiro -aquele mesmo que ele deixou dias atrás em suasroupas – e sentiria seu corpo arrepiar ao segurar em

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sua cintura. Mas ela conseguia resistir àquele olharde cachorro pidão?

- Por favor, não tente nada – Ela pediu, ao seaproximar, logo um sorriso de felicidade brotou norosto do garoto.

- Não vou, eu prometo – Ele estendeu o capacetevermelho pra ela.

- Obrigada – Ela prendeu um sorriso, não queriaparecer feliz. Colocou o capacete quase ao mesmotempo que ele e sentou na garupa da moto.

Quando segurou nele pela cintura, pensou emCraig, isso amenizaria as coisas.

- Se segura – Disse Kyle, antes de partir.

--

- Gabriel! – Gritou Chloe, acenando.

- O que você ta fazendo? – Repreendeu Miley, aolado.

- Sendo gentil, você deveria tentar qualquer diadesses.

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Gabriel olhou pra elas, estavam sentadas nochafariz do campus. Ao lado de Miley estava seunamorado Trent, deitado, com a mão na água. Já aolado de Chloe, estavam Ellie e Erik, quase fazendoum par perfeito gótico. A garota estava de pernascruzadas, sua roupa era provocante ao extremo,assim como seu piercing no umbigo e sua mecharoxa no cabelo.

Gabriel andou até eles e se sentou, logo foirecebido por Chloe com um sorriso.

- Chloe Field me chamou pra sentar com o grupo...Alguma coisa está errada.

- Será? – Chloe se apoiou com as duas mãos pra tráse de sua boca fez brotar um sorriso malicioso.

- Só pode ser.

- Eu gosto de você, Gabriel. Eu sinceramente gosto,só não gosto quando você persegue minha melhoramiga que definitivamente nunca vai olhar pravocê, porque ela é quase casada. Então, desencana,senta aqui com a gente e seja normal.

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- É cara, seja normal – Disse Trent, sentando-se –Quem sabe em outra vida você consegue ser umKappa.

- Cala a boca Trent – Pediu Chloe. E quando elapede, todos obedecem. Ninguém quer ser difamadonuma rádio local numa cidade como aquela pelagarota mais inteligente do campus – Desculpe porisso, e pelo banho de lama que ele deu em você.Miley me contou.

- Não tem problema – Gabriel tentou sorrir, masnão conseguiu, ainda não estava acreditandonaquela atitude simpática de Chloe.

- Então, ouvi que sua irmã vai dar uma festa hoje anoite com a Alfa Gamma...

- Ah... – Gabriel percebeu o que estavaacontecendo. Então era isso, a festa de sua irmã.

- Nem precisamos de convites, só queremos saberonde vai ser.

- Ué, ninguém te contou? Pensei que você fosse osolhos e os ouvidos desse lugar, não Chloe Field, agarota que está prestes a me implorar convites.

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- Olha isso... – Sussurrou Ellie para Erik, GabrielPierce estava prestes a dar um chega pra lá emChloe Field.

- Quem disse que vou implorar por convites? –Chloe tentou parecer forte.

- Se você não for implorar, você não vai tê-los.

- Eu falo com a Zoe e a Chris, Chloe – Disse Trent –Vou tentar convencê-las a deixar você ir.

- Não estou afim, prefiro ser penetra. – Ela sorriupara Gabriel – Me diz onde é a festa e eu falo praAmanda sobre você...

- Ah, esquece... – Gabriel fitou o horizonte – Vouajudar você, mas esquece esse lance de Amanda...Como você disse, não vai rolar...

- Vocês podem culpá-lo? Amanda Rush é o sonho deconsumo de qualquer fã do terror – Disse Ellie,chamando a atenção de todos – Ela é a rainha davida real, uma Jamie Lee Curtis ao vivo, a cores echeia de curvas. Os fãs de Sexta-Feira 13 devem terum altar só pra ela dentro do closet.

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- Ela tem razão – Concordou Trent – A garota não ésó uma das sobreviventes do massacre que marcoua nossa cidade como também é o pecado empessoa.

- Obrigada pela parte que me toca – Disse Miley,enciumada.

- Você sabe que só tenho olhos pra você, meuamor.

- Dane-se.

- Agora uma pergunta de rotina... Quem matouAshley Carson? – Chloe olhou pra todo mundo,ninguém parecia ter uma resposta – Pelo que eusei, nenhum ladrão pode se dar ao luxo de penduraruma vítima em ganchos na cozinha. Quer dizer, issonão é uma coisa que se vê muito por aí. ‘Hey meentrega sua bolsa e deixa eu fazer um cosplay domassacre da serra elétrica com seu corpo’. Não fazsentido.

- Você deveria dizer isso na rádio, aposto que nãovai conseguir mais sair na rua de tanta vergonha –Disse Erik, lá atrás.

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- Mas essa é a verdade. Se você fosse roubar umacasa, assassinaria brutalmente uma garota prapolicia se preocupar mais com o crime? Claro quenão, sequestros relâmpagos ainda funcionam.

- Acho que o que a Chloe insensível está tentandodizer é que não parece ter sido um simples roubo –Concluiu Ellie.

- Chloe, para com isso – Pediu Miley – Não estamosnum filme de terror.

- Claro que não – Chloe sorriu – Porque seestivéssemos, você seria a próxima.

- Acho que seria você, Chloe – Disse Trent – Vadia echata, morre no começo do segundo ato. Você écomo a Sarah Michelle Gellar dessa nossa versãocaipira de terror implementada por Brandon Rush eSarah Richards.

- Claro que não, eu sou a melhor amiga, tenho umamorte sofrida no terceiro ato e por pouco nãoparticipo da batalha final.

- Talvez se você fosse negra – Disse Erik – Loirasnunca chegam tão longe. Vide Ashley Carson.

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- Tanto faz... – Chloe cruzou as pernas e fitou ohorizonte – Não morri antes dos créditos inicias,estou feliz por isso...

Quando se focou bastante na multidão, ela notouAmanda chegando de moto no campus. Elaconhecia aquele bad boy, era Kyle, seu cunhado,Amanda tinha falado dele algumas vezes, mas paraChloe, ele parecia ser bem melhor pessoalmente.

Ela viu Amanda entregando o capacete a ele edizendo tchau. Logo seu sorriso malicioso veio atona.

Amanda caminhou pelo gramado, pensando navolta que deu pela cidade com Kyle. Sabia que eletinha ido pelo caminho mais longo, mas fingiu quenão tinha percebido. Quando chegou perto dochafariz, olhou pros amigos. Miley gritou seu nomee acenou.

E foi só ver onde eles estavam que ela se sentiumal. Eram como seus antigos amigos, mesmasexpressões, as mesmas posições, parecia que elapodia ver seus outros amigos ali, e isso lhe deu faltade ar.

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- Por que vocês estão aqui? – Ela perguntou,tentando controlar a respiração.

- Os pombos fizeram cocô nas escadas e daí viemospra cá – Respondeu Chloe, percebendo comoAmanda estava – Você ta sentindo alguma coisa?

- Não, é que eu gosto daquelas escadas...

Chloe trocou um olhar desconfiado com Miley eTrent, não estavam entendendo nada. Porqueafinal, como iriam ligar o novo trauma de Amandacom um chafariz? Não era como se fosse uma fobia,e não era como se ela já tivesse falado sobre seusproblemas antes.

- Enfim – Amanda colocou o cabelo atrás da orelhae tentou se acalmar – Acho que perdi a aula doSenhor Lee...

- Ele faltou – Chloe fez uma careta, o sol estavabatendo em seu rosto – Problemas na operação dabexiga. Ele vai ser o tema do meu próximo ‘Noveperguntas para Chloe Field’ na rádio. Sabia que temmuita gente que tem duvidas sobre dor de urina?

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- Que maldade... – Amanda suspirou, já estava maiscalma. Falar com Chloe a deixava estranhamentecalma.

Ela era sempre divertida e falava o que pensava,além de ser a garota mais bonita e inteligente queela conhecia. Ela lembrava bastante Erin, masAmanda tentava não pensar nisso.

- Hey, por que você não trouxe seu filho? –Perguntou Miley – Você sempre promete, queroconhecer aquela coisa fofa. Qual o nome delemesmo?

- Aaron – Disse Chloe, olhando pra frente.

- Não, o nome dele é Matty – Corrigiu Amanda.

- Não, querida. Você tem visitas...

Amanda não estava entendendo, até ver Chloeapontando com a cabeça na outra direção. Elaolhou pra trás e viu Aaron. A mesma franja, omesmo sorriso, o mesmo olhar, o mesmo jeito deriquinho impecável que não foi tirado dele nemquando estava à beira da morte.

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Ele estava com as mãos dentro do bolso de suacalça Calvin Klein, olhando pra ela, pensando emquanto tempo não se viam. Era quase épico.

- Aaron – Amanda sorriu, incrédula. Correu praabraçá-lo, quase o derrubou com seu entusiasmo.Pensou que aquilo estava bastante parecido comalgo que aconteceu no filme “Pânico 2”, mas erabesteira pensar naquilo.

- Ow, pega leve – Ele disse, mas tinha gostado doabraço.

- Nossa, Aaron. Você não faz ideia do quanto é bomver você... Faz quanto tempo?

- Eu não sei... – Ele hesitou – E você continua lindacomo sempre...

- Nem tanto... Tenho um filho agora, não ta sendofácil...

- Eu sei, estou com Megan agora, também não tasendo fácil.

- Posso imaginar – Eles sorriam. Ficaram se olhandopor algum tempo, apenas pra matar a saudade –Então, o que trouxe você aqui?

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- Ashley Carson. Me desculpe, não pude deixar denão vir. Depois que seu irmão provou que tudo épossível naquela noite há um ano, fico preocupado.Mas também estava sentindo sua falta.

- Sei como é... – Amanda olhou pro gramado, umpouco tímida.

- Então, quando vou conhecer o pequeno Matty?

- Eu diria a qualquer hora, mas eu tenho uma sogra,então... – Amanda fez uma careta, deixando claroque não se dá bem com Maisy.

- Que horas você sai daqui?

- Às quatro. Mas a gente podia jantar lá em casa àssete. Você ainda é celebridade, não é?

- Acho que sim – Ele deu um ar de risos.

- Bom, é só você elogiar Maisy e seus enormesbrincos que você vai poder até morar lá se quiser. Anão ser que você seja irmã de um psicopata, daínunca vai ter regalias.

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Os dois sorriram. Aaron nunca pensou que veriaAmanda fazendo piada de sua desgraça tão cedo.Mal ele sabia que ela pensava naquilo todas asnoites e ainda tinha pesadelos. Se não fosse pelochoro de seu filho em algumas noites, ela ficariapresa pra sempre naquela realidade do sono ondenão consegue ver mais nada além do rosto doentiode Brandon.

- Tudo bem então. Te vejo às sete, na casa dosFuller.

- Você está bem informado.

- É né... – Aaron deu alguns passos pra trás, estavaquase saindo – Meu pai é o delegado, então... Seitudo o que quero.

- Conveniente.

- Sempre – Ele sorriu – Até mais.

Amanda apenas acenou. A ação foi seguida de umlongo suspiro, ela estava feliz. Aaron tinha voltadopra cidade e ela finalmente teria por perto alguémque a entendesse, alguém com quem pudesse seabrir de verdade. E com o passar do tempo, elehavia se tornado um irmão pra ela.

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CAPITULO 4- Alfa Gamma, sejam bem vindos! – Gritaram asgarotas com roupa de baixo ao abrir a porta.Elas estavam com armar de brinquedo nas mãos edentro delas havia cervejas. Os garotos nemtiveram tempo de ficar hipnotizados, elas lançaramum jato em seus rosto que os fez pensar queestavam no paraíso.

- Eu amo vocês Alfa Gamma! – Um deles gritou, oresto acompanhou.

Quando entraram no prédio, perceberam queaquele hospital abandonado já não parecia mais tersido um manicômio. O local estava completamentedecorado com as cores vinho e branco, acombinação oficial da Alga Gama. Havia uma jacuzzibem no meio do enorme hall onde os garotospodiam ver as outras garotas se refrescando só debiquíni.

Mas estas eram as únicas coisas que não tinhamhaver com a cultura grega daquele local. Porque eraeste o tema da festa. Perto das escadas e das portashavia estátuas de deuses e perto do bar, um localpar ao sacrifício final onde a chefe da Alfa Gammairia ser jogada dentro do caldeirão de mentira sópra apimentar mais as coisas.

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No pátio do prédio havia uma cama elástica, bemperto da sacada onde os mais corajosos searriscavam do segundo andar. Era lá que Zoeestava, preste a pular, com uma garrafa de cervejanas mãos e possivelmente mais bêbada quequalquer pessoa naquela festa.

- Eu vou pular, vadias! – Ela gritou e ergue a garrafa.

Lá embaixo, as pessoas pararam pra fazer um coroespecialmente para seu salto. Todos estavamgritando que queriam que ela pulasse, menos Mileye Trent, que estavam ocupados demais dançandoDavid Guetta ali perto.

- Eu vou pular! Zoe gritou de novo, antes de jogarsua garrafa pro lado e saltar encima da camaelástica.

A adrenalina foi tanta que ela logo saiu de lá pravomitar ao lado. Suas amigas foram ajudar, aindaera cedo e ela aprecia ter tomado muitas enquantoorganizava a festa.

Ainda na pista, Miley encarava a multidão ao seuredor com dúvidas. Trent estava passando a mãopelo seu corpo, como sempre fazia quando

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dançavam, mas ela não estava ligando. Só queriater um tempo só pra eles pra poderem conversar,ela não podia mais adiar a notícia. Mas o que elefaria quando soubesse que ela está grávida?

- Trent... – Ela virou pra ele – Vamos sair daqui?

- Por que? – Trent bebeu um gole da cerveja quetinha nas mãos – Suas irmãs estão aqui. Não mediga que não gostou da festa.

- Não, só quero ir pra um lugar mais calmo, estoucom um pouco de dor de cabeça.

- Você ta legal? A semana inteira você reclamou queestava se sentindo mal. O que foi, eu fiz algumacoisa?

- Não, claro que não... – Ela olhou pra camisa pretaque ele usava, com tristeza. Só de pensar que elenem lembra que estava com essa camisa quando seconheceram, era triste – Ta acontecendo muitacoisa ultimamente. Você sabe, eu meu pai, as coisasestão difíceis.

- Quer que eu chute a bunda desse velho babão? –Trent sorriu.

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- Bom, eu quero, mas você não deve. Só o que euquero agora é conversar com você...

- Ok. Então fale.

- Eu... – Miley foi interrompida quando sentiu seucelular vibrando no bolso. Ela olhou no visor, erauma mensagem de Chloe, que dizia “To quasechegando, preciso de ajuda pra entrar.”

Miley guardou o celular, o rosto ainda triste. Maisuma vez ela tinha sido interrompida e nem sabiaquando teria outra chance de dizer a verdade proseu namorado.

- Quem é? – Ele perguntou, bebendo outro gole decerveja.

- Chloe. Preciso ajudá-la a entrar. Podemosconversar depois?

- Claro – Trent lhe deu um beijo e correu pra ondeos amigos estavam.

Miley saiu de lá, foi direto pro portão. Lá estavamalguns seguranças da Alfa Gamma, preparados prabarrar qualquer um sem um convite. Ela passou poreles e dobrou na esquina escura, onde viu o carro

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vermelho de Chloe, com os faróis mais fortes queela já vira na vida.

Ao lado dela no carro estava Gabriel, parecia queeles iriam fazer uma boa dupla por bastante tempo.

- Hey garota – Disse Chloe, assim que Miley sedebruçou na janela do carro, ficando bem próxima aGabriel – Vou pular o muro, vai uma ajudinha?

- Estou com dois convites no meu bolso, seja normalChloe e pare de procurar sarna pra se coçar.- Não posso ser convidada, assim seria previsível.Mesmo assim, quero ver a cara da Zoe quando virque mesmo ela me odiando, ainda conseguiparticipar da melhor festa do ano sem precisar deum convite. É disso que o povo da rádio gosta.

- Zoe está mais bêbada que nossos pais juntosdepois de um churrasco no domingo – Miley revirouos olhos – Nem vai perceber que você está lá.

- O que? Ela bebeu? – Gabriel parecia surpreso – Elaprometeu que não faria isso.

- Ela prometeu que não iria mais enfiar o dedo nagarganta e de repente estava cabendo numa calça36 – Chloe desligou o carro e abriu a porta – Mas

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acredite, ela ainda está na vantagem. Você nãovem?

- Vou – Gabriel saiu do carro e bateu a porta.

Eles fitaram o muro da propriedade, Chloe com asmãos na cintura, enquanto Gabriel e Mileypareciam desinteressados.

- Não é tão alto. Acho que consigo – Chloe olhoupara Miley, querendo uma resposta.

- Ta legal, eu ajudo – Miley se aproximou dela – Masse você quebrar um braço, não vou assinar no seugesso.

Ela e Gabriel se prepararam para ajudar Chloe apular o muro, sem saber que de longe, outrapenetra assistia tudo. Ela estava com um cigarroentre os dedos, com as unhas pintadas das cores deuma onça.

Sua roupa preta a fazia parecer uma espiã,exatamente como ela queria. Quando viu que Chloeestava conseguindo pular o muro, soltou a fumaçade sua boca e apagou o cigarro no poste de luz aolado, dizendo:

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- O que Megan Bower quer, Megan Bowerconsegue.--- Tem certeza que quer ir andando? – PerguntouAaron à Amanda, tentando não demonstrar queestava com medo daquelas ruas escuras e vazias.

Amanda olhou pra ele e sorriu, percebendo o jeitoque estava por causa do silencio daquelas ruas. Elacolocou as mãos no bolso do casaco preto econtinuou andando ao lado dele, mas não estavacom medo.

Ver as ruas de New Britain daquele jeito era comumdesde os assassinatos. As pessoas tinham medo desair, mas não havia perigo, já que não havia maisassassinos. Mas como Aaron iria saber se ele semudou antes mesmo que Amanda pudesseagradecer a ajuda daquele há um ano?

- A festa fica há poucos quarteirões daqui, e o ar friovai me fazer bem.

- Então... Você é uma nova mulher? – Aaron olhoupra trás, só pra ter certeza que não estavam sendoseguidos.

- Sim, eu sou mãe, esqueceu?

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- Estou falando sobre medo. Você anda por essasruas como se não tivesse corrido por elas há umano atrás pra se salvar... Às vezes não consigo nematender ao telefone sem sentir um arrepio.

- Eu tenho identificador de chamadas. Isso ajudamuito – Ela sorriu ao lembrar do ultimo trote quepassaram pra casa dos Fuller, o garoto imploroupara Amanda não chamar a policia e dizer que oaplicativo com a voz do assassino que fora proibidoestava sendo comercializado de novo por umadolescente.

- Sabe, eu adorei essa noite. Conheci sua novafamília, seu filho, e sua sogra foi até simpáticacomigo.

- Mas você viu a cara que ela fazia quando você meelogiava, não é?

- É, vi sim. Aquela mulher te odeia, mas ama seufilho. Acho que você teve sorte.

- É, eu tive... – Amanda olhou pro lado e ficoupensativa.

- Mas onde está seu cunhado? Não o vi no jantar.

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- É, ele evita tudo o que é normal e tudo o que suamãe quer que ele faça. Kyle é... Diferente.

- Vocês têm algum problema? – Aaron olhou prafrente e depois pra ela, Amanda parecia ter ficadodesconfortável com a pergunta – Quando Craigfalou dele no jantar, você ficou estranha...

- Se você encontrar alguém que não tem umproblema com Kyle, é só me avisar... – Ela olhou prolado de novo, não sabia se conseguiria disfarçar.

Aaron apenas assentiu e ficou calado, não tinhapercebido que o problema de Amanda e Kylepoderia arruinar tudo o que ela construiu até agora.

Eles andaram calados os quarteirões que faltavamaté chegarem nos portões do hospital abandonado.Amanda bateu palmas, logo os seguranças que seescondiam nas sombras apareceram. Eles eramenormes, provavelmente tinham dois metros dealtura e freqüentavam uma academia todos os dias.

- O que deseja, senhorita? – Perguntou o careca,estava com um auto falante nas mãos.

- Ashton Kutcher na minha cama – Disse ela.

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Logo os portões estavam sendo abertos. Elaentregou dois convites aos seguranças enquantoAaron estava confuso ao seu lado.

- O que você disse?

- É a senha, uma garota rica e mimada criou.

- Não diga – Ironizou Aaron.

Eles andaram até a entrada, passando por todos oscarros dos convidados que estavam lá dentro, jápodiam ouvir a musica alta que tocava lá. Mas,outra coisa estava chamando a atenção de Aaron.Ele olhou pro lado e viu Megan pulando o muro. Nocomeço não tinha certeza se era ela e cerrou maisos olhos, até perceber que só uma pessoa teriacoragem de usar aquele esmalte de unha.

- Vai na frente, Amanda. Preciso fazer uma coisa.Vai ler cinco minutos.

- O que? – Amanda estranhou.

- Você pode ir, eu já venho, te encontro lá dentro.

- Ok – Ela assentiu e entrou.

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Aaron olhou pros seguranças, eles pareciamdistraídos olhando pro portão. Tomando cuidadopra não fazer barulho, correu até Megan, ela estavase levantando do chão e limpando a sujeira da suaroupa.

- Megan – Ele sussurrou – O que você ta fazendoaqui?

- Amorzinho, é você? – Megan lhe abraçou – O quevocê ta fazendo aqui? Pensei que iria jantar com aFuller cabeça de parafuso.

- Eu estou aqui com Amanda – Ele olhou pra ela,sabia como ela era extravagante se tratando deroupas – E por que você está vestida como a LadyGaga?

- Ah não – Ela olhou pra sua roupa – Tem bife nomeu vestido?

- Não – Aaron segurou na mão dela e a puxou maispras sombras, com medo que os seguranças vissem– Fale baixo Megan, se te pegam como penetra tejogam na calçada.

- E por que eu não tenho um convite? Amanda não

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gosta mais de mim? Pensei que éramos amigas.Sobrevivemos juntas, e eu não fui nada pra ela?

-Você ta drogada?

- É claro! Agora sai da minha frente que essa músicaé minha! – Megan correu dele – Eu te amo, bebê.

Aaron quase gritou, mas se prendeu. Não sabiacomo alguém tão louca podia lhe fazer tão bem. Senão fosse hilário, seria trágico.

Lá dentro, Amanda caminhava por entre a multidão,desejando ter uma brecha para dançar. Nemlembrava da ultima vez em que tinha feito isso, suavida tinha mudado completamente. Também nãosabia se deveria. O que as pessoas iriam dizer sevissem a sobrevivente do massacre de New Britainse divertindo como se nada tivesse acontecido?

Perto do bar, estavam Chloe e Miley, observando aestátua de Dionísio. Elas nem notaram que a amigaestava ali, por isso não se aproximaram. Entãoestava dando certo para Amanda passardespercebida como sempre quis.

Como se ninguém tivesse ali, ela começou a dançar.Começou tímida, bem devagar, mas depois foi se

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soltando. Fechou os olhos e não ligou pra maisnada. Era incrível como dançar podia fazê-laesquecer dos problemas. Esquecer que existia, queseu irmão era um psicopata, que se filho podia tersido gerado num estupro ou que todos que elaamava morreram ou foram embora.Mas quando abriu os olhos, ela percebeu que adança nem sempre a livraria dos problemas. Ela viuKyle dançando com uma garota perto da Jacuzzi, elaestava só de biquíni e ele aproveitava para passar amão em seu corpo.

Talvez fosse egoísmo, mas ela não queria que elefizesse aquilo com alguma garota. Era errado, masela sabia que aquele sentimento era ciúmes, equanto mais cedo admitisse isso, era melhor.Ele olhou pra ela, já parada, e logo afastou a garotacom quem dançava. Se aproximou dela, que viroupro outro lado e ficou olhando a janela.

- Que bom que você está aqui... – Ele disse – Penseique ainda estivesse naquele jantar deprimente coma minha família.

- É a minha família também – Ela cruzou os braços.

- Ainda não, mas em breve será. Pra quando é ocasamento mesmo? Setembro?

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- Setembro.

- Ótimo mês pra casar – Ele chegou mais perto,podia sentir o cheiro do cabelo dela – SabeAmanda, se eu não te conhecesse, iria dizer queisso que está sentindo agora é ciúmes. Mas você meobrigou a isso, não quer se render porque quer afamília perfeita e eu não posso te dar isso. Nemimagina que é exatamente nisso que eu pensoquando vou dormir... Eu, você... – Ele pegou nacintura dela, que tremeu – o pequeno Matty, umacerca branca e um cachorro chamado Bob... Ou umgato chamado JJ...

Amanda suspirou, era verdade o que ele estavadizendo ou ele só queria ter o prazer de destruiruma família? Ela não podia correr esse risco, nãoquando Kyle Fuller era o partidor de coraçõesnumero um daquela cidade.

- Me solta – Ela tirou a mão dele de sua cintura esaiu andando.

- Cadê a Amanda de antes que não tinha medo deser feliz? – Ele gritou, fazendo-a parar – Você vaideixar seu irmão te impedir de viver até depois demorto?

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Ela olhou pra ele, desejando poder estar mais pertosó para lhe dar um soco. Mas sabia que ele nãoestava errado. Desde que tudo aconteceu ela estavacom medo de viver, dançar, se soltar, ser elamesma por alguns minutos, porque tinha medo demachucar alguém. Medo de ser a pessoa horrívelque pagou muito caro por tudo o que fez.

Ela se aproximou dele bem devagar, mas ele nãorecuou, mesmo sabendo que podia levar um tapa.- Então, você gosta da Amanda de antigamente?Então olha – Amanda empurrou uma garota quepassava do seu lado após pegar sua bebida.

Tomou aquele copo cheio enquanto Kyle aobservava, incrédulo. Depois deu um grito ecomeçou a dançar no ritmo da música, como seninguém tivesse olhando. E para Kyle, aquela era acoisa mais incrível que ele já vira.

Um pouco afastada deles, estavam Zoe e as amigas,nem todas tão bêbadas como ela. Estavam rindo dogaroto que se machucou na cama elástica, até ocelular de Zoe começar a tocar. Ela atendeu, comuma alegria bêbada sem tamanho.

- Quem fala?

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- Oi Zoe – Disse uma voz macabra.

- Eu conheço você?

- Não. Você quer conhecer?

- Ui – Zoe olhou pro lado – E se eu disser que sim?

- Você está linda esta noite, Zoe. Eu quero brincarcom você.

- Brincar comigo? – Ela sorriu, já estava pensandobesteira – Mas eu nem sei quem você é...

- Você não quer me conhecer?

- Me dê um bom motivo pra isso... – Ela se escorouna parede e fechou os olhos.

- Se você quiser saber quem eu sou, vá pro segundoandar, tenho uma surpresa pra você.

- Eu aaaaaaamo surpresas, você não tem ideia – Elaolhou pras escadas – Você quer que eu suba praencontrar você? Que garoto levado...

Da outra linha, Zoe não ouviu mais nada. Ela

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caminhou na direção das escadas brincando, comose fosse uma criança, era a bebida que fazia ela agirdesse jeito.

De longe, Gabriel olhou. Viu sua irmã subindo asescadas e indo pra um lugar onde não tinhaninguém. Achou estranho e gritou seu nome, masela não ouviu, a musica estava alta demais.

- Estou subindo as escadas senhor misterioso... –Disse Zoe, no celular – Estou indo pra um lugaronde ninguém vai ver o que vamos fazer...

- Você gosta de filmes de terror, Zoe? – Perguntou avoz macabra do outro lado da linha.

- O que? – Ela riu e fez uma careta – Você é dessetipo que se excita com coisas estranhas, é?

Ela olhou ao redor, estava numa sala velha eimunda cheia de plásticos e madeiras espalhadas.Ficou olhando o local por algum tempo, não ouviunada além da respiração de quem estava do outrolado da linha.

Lá embaixo, Amanda continuava dançando etomando cerveja enquanto Kyle a observava. De vezem quando olhava pra ele, só pra ver aquele sorriso

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perfeito em seu rosto, que dizia que ela era apessoa mais incrível que ele já conheceu na vida.

A aquela altura, Amanda já tinha chamado aatenção de todos. Chloe e Miley, no canto, estavamde boca aberta pra amiga. Era a primeira vez que aviam daquele jeito. E de repente, ela deu um beijoem um dos garotos que estavam perto do caldeirão.

- Meu Deus! – Exclamou Chloe – É como se elativesse nascido pra ser vadia!

- Nem me fale... – Miley estava com inveja, mas nãoconseguia ficar com raiva, Amanda era uma dasmelhores pessoas que ela conhecia.

Quando a música acabou, Amanda fez uma pose, sópra terminar bem. As pessoas aplaudiram, inclusiveKyle. E ela estava feliz, não como antes, mas já eraum começo. Olhou pra frente e o sorrisodesapareceu assim que ela viu Craig na porta,olhando pra ela, decepcionado.

Ele estava com as mãos no bolso, olhando pra ela,culpando-a por ela ter feito aquilo como se tivessealgo errado em se sentir bem. Ele pensou que elatinha mudado, mas agora achava que não. Saiucorrendo pela porta, Amanda atrás dele.

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Ela gritava seu nome, mas ele não ligava. Saiu pelosportões, entrou sem eu carro e o ligou.

- Craig, me deixa explicar!

- Sinto muito Amanda, você teve sua chance – Elepartiu.

- Merda! – Ela gritou, enquanto observava o carrodele.

- Amanda! – Kyle gritou, estava com sua moto –Sobe aqui! A gente pode alcançá-lo!

Ela não pensou duas vezes, pulou na garupa semnem lembrar de usar o capacete.

Enquanto isso, no segundo andar, Zoe passavapelos enormes plásticos que estavam ali, tentandoencontrar o misterioso homem com quem falavapelo celular.

- Onde você está homem misterioso? Já estou nosegundo andar... Será que você não quer maisbrincar comigo? Pensei que você ia se aproveitar demim porque estou Bêbada... – Ela viu ratospasseando por lá e tomou um susto – Que nojo,

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tem ratos aqui. Apareça logo.

- Você disse que gostava de surpresas... –Respondeu a voz macabra, finalmente.

- Eu gosto, mas estou ficando preocupada. Eu nemsei como você é... Mas se for um Kappa, não voume arrepender.

- Acho que hoje é seu dia de sorte...

- Sério? – Ela gargalhou, tudo pra ela era motivo derisada – E como você é? Loiro? Moreno? Negro?Alto baixo?

- Como um fantasma...

- O que? – Zoe gargalhou de novo? – Você estábêbado como eu? – Ela fez um bico.

Quando não obteve resposta, olhou pra frente. Viuque já tinha saído de perto dos plásticos e estavanuma área plana. Não havia ratos, mas ainda erasujo e grotesco, ninguém passava por ali há anos.Mas o que lhe chamou mais atenção foi o queestava escrito na parte de cima, encima das janelasde vidro ainda intactas. Ela leu “BrinquedoAssassino”, estava escrito em letras vermelhas que

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escorriam na parede como sangue.

- Mas que porra é essa? – Ela deu um ar de risos efoi abaixando o celular bem devagar.

Ele vibrou e ela se assustou, deixando cair no chão.Era Gabriel ligando. Ela se abaixou para pegá-lo, nomomento em que o assassino se aproximou e suaimagem ficou embaçada pelos plásticospendurados. Ele se aproximou mais dela, quejuntou o celular do chão rapidamente e se virouassim que percebeu o barulho.

Ao olhar para aquela fantasia, sua única reação foirir. Aquilo não era nada, Trent e Gabriel já tinhamassustado ela com uma fantasia parecida certa vez.E se a faca que tivessem em mãos não fosse deborracha, ela teria morrido.

- Ok, deixa eu adivinhar – Ela disse – Você mechamou até aqui porque quer me matar. Hahaha –Ela fingiu uma risada – E deixa eu adivinhar denovo, eu sou a vadia bêbada que morre no começo.Uuuuuh, que medo. Corta essa Trent, estamos em2012. Não só é um a nova década como um novoano.

Ela esperou por uma resposta, mas nada aconteceu.

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O assassino continuou olhando pra ela, mas dessavez, já estava mostrando a faca que tinha nas mãos.Ela olhou pra faca, mas isso não lhe deu medo,estava certa de que era apenas uma brincadeira.

- Você não vai me responder? Tudo bem, não voufazer parte dessa brincadeira, sinto muito – Elavirou e atendeu a chamada de Gabriel – Alô?

O assassino correu até ela e lhe deu uma facada nascostas. Ela deu um grito, mas ninguém ouviu, nãocom aquela musica alta demais. Ela caiu no chão eseu celular bem ao lado. Gabriel conseguiu ouvirseus gritos do outro lado da linha.

- Socorro! – Ela gritou, antes de ser puxada pelocabelo.

O assassino a jogou contra a parede, ela machucouo rosto. Depois ele andou até ela e continuou a darfacadas, uma seguida da outra, sempre nas costas,seguidas por gritos de dor e pavor da garota. Osangue dela espirrava nos plásticos suspensos e nasjanelas de vidro.

E enquanto ela estava sendo esfaqueada a sanguefrio no andar de cima, lá embaixo, a festa rolava. Aspessoas dançavam sem se importar, sem saber o

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que realmente estava acontecendo.Depois de tantas facadas, o assassino a jogou nochão. Ela ficou de peito pra ele, dando seus últimossuspiros enquanto se entalava com o sangue quesaia de sua boca. Ela nem tinha mais forças pragritar.

Olhou pra frente, ghostface estava se abaixando praficar mais perto dela. Eles ficaram se olhando, elaimplorava com os olhos cheios de lágrimas.

- Por favor, não...

Ele preparou a faca pra cravar em seu peito e elagritou. Ele lhe deu várias facadas, sem parar,mesmo sabendo que ela não estava mais semexendo. Era do barulho da faca entrando em seupeito que ele gostava.

Lá embaixo, Chloe tinha acabado de abrir a porta deentrada. Miley estava ao seu lado, elas estavamindo embora, queriam saber como Amanda estavadepois daquilo.

- Vou ver se Amanda está bem – Disse Chloe,andando na direção dos carros estacionados – Vocêpode ir sozinha pra casa? – Perguntou a Miley, queainda estava triste.

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- Posso sim, tudo bem.

- Ótimo – Quando Chloe se virou, chamaram seunome.

Gabriel correu até ela com o celular nas mãos,sendo seguido por Megan e Aaron. O garoto pareciadesesperado, alguma coisa tinha acontecido.

- É a Zoe! – Ele disse – Eu vi ela subindo e depoisliguei pra ela e ouvi gritos. Acho que aconteceualguma coisa!

- Ai meu Deus eu sabia! – Gritou Megan.

- O que? – Chloe fez uma careta – Não aconteceunada, ela está bêbada demais. Você ta pirando.- A gente precisa chamar a polícia! – Gabriel olhoupara Aaron, o olhar do garoto lhe dava aprovação.

Afinal, qualquer ligação estranha naquela cidadedeveria ser notificada, mesmo que não significassenada.

- Gabriel, para com isso, na boa – Chloe se afastou –Sua irmã está bem, você está bem, nós estamosbem. Brandon Rush está morto, e ninguém mais vai

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morrer.

Quando ela parou de falar e virou pra enormepicape prata à sua frente, o corpo de Zoe foiarremessado do segundo andar. Ele caiu encima dapicape, quebrando logos seus vidros e fazendo umbarulho estrondoso. As pessoas que estavam lá foraprotegeram seus rostos com os braços por algunssegundos, até perceberem que o impacto já tinhaacabado.

Chloe tinha cacos de vidro no cabelo, assim comoGabriel, estavam perto demais. Olharam pra frentee viram o corpo de Zoe, ela tinha sido esfaqueada,dava pra perceber, mas a queda tinha piorado asituação.

Miley e Megan soltaram gritos de pavor quandoperceberam o que tinha acontecido. Aaron abraçouMegan e tentou não olhar, mas não conseguia.Chloe olhou para Gabriel, o garoto estava com arespiração ofegante e completamente em choque,assim como Aaron. Mas nenhuma expressão podiavencer a dela. Era medo, pânico, incredulidade earrependimento ao mesmo tempo, pois ela sabiaque aquela morte significava o retorno do ciclo, eela com certeza fazia parte daquela seqüência.CAPITULO 5

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Ellie observava bem de perto o liquido que saia deseu conta-gotas. Há apenas alguns centímetros dedistância, seus olhos subiam e desciam de acordocom que as gotas iam caindo no recipiente e novasgotas iam surgindo. Estava tão concentrada quenem tinha visto a hora, talvez fosse a ultimanaquele campus escuro e vazio. Ou pelo menos, aultima no prédio.

Quando pingou a ultima gota, seu recipientecomeçou a borbulhar. Era a quantidade perfeita prafazer o que ela queria. Olhou pro lado, mexendonos óculos que só colocava quando iria ler ouprestar bastante atenção nas coisas. Sua tarântulade estimação Katrina estava correndo de um ladopro outro dentro do retângulo de vidro.

- Hum... – Ellie tirou o jaleco e jogou pro lado. Seaproximou do vidro tirando o óculos, ficando cara acara com a aranha – Você ta com fome, sua vadia?Aposto que ta. Espero que aranhas não morram defome.

Ellie olhou para seu recipiente de novo, aindaestava borbulhando. Dele saia uma fumaçavermelha engraçada, que desaparecia com o ar.

- Dane-se – Ela pegou sua bolsa ao lado e saiu.

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Bateu a porta com força e girou a chave que tinhaacabado de tirar da bolsa. Quando o vento bateuem seus cabelos e fez a pequena franja roxa voar,ela olhou ao redor. As folhas mortas do campusestavam se movendo, as árvores balançando. Elaparecia estar completamente sozinha ali. Por issoaproveitava quando tinha festa nas fraternidades, ocampus ficava só pra ela.

Quando o vento cessou, ela tirou um cigarro dedentro da bolsa e o acendeu com o isqueiro queestava no bolso da sua saia jeans preta. Deu umaforte tragada e prendeu o máximo que conseguiu,enquanto fitava o horizonte. Seria clichê demaisachar que tinha algo errado ou não?

Quando ouviu um barulho ao lado, ela quase pulou.Olhou e riu de si mesma quando viu que uma janelaestava aberta e que o vento forte tinha voltado parafazê-la se balançar de um lado pro outro.

- Merda – Ela reclamou, mas correu pra ajeitar.

Deixou o cigarro na boca e com as duas mãosforçou a janela. Riu de si mesma de novo quandopercebeu que ela só podia ser fechada por dentro.

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Deu outra tragada em seu cigarro e soltou afumaça, cerrando os olhos.

- Boa, Ellie – Ela virou, dando de encontroimediatamente com Erik.

E o susto foi tão grande que ela nem soubedisfarçar. Erik estava há poucos centímetros dela,parado, o enorme peitoral batendo no rosto dela,fazendo-a se odiar por ser tão baixinha. E ele estavasorrindo, com malícia, estava esperando por estemomento há muito tempo.

- Assustei você? – Ele perguntou, todo irônico.

- Eu poderia ter te matado – Contra atacou Ellie,nunca daria o braço a torcer.

- Com seu cigarro? – Ele apontou pro chão, o cigarrodela tinha caído e ela nem tinha percebido.

- Não, com o meu hálito – Ela passou por ele ecomeçou a andar, tentando ignorar todas as folhasmortas que voavam em sua direção por causa dovento.

Erik foi atrás dela, com as mãos no bolso. Começoua andar com ela, apenas um passo de distância.

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- O que você faz sozinha aqui a essa hora da noite?Não tem medo do perigo?

- Não, disse pra não tirarem o veneno da minhatarântula.

- Nossa, você é hardcore – Ele sorriu.

- Há – Ela parou e virou pra ele, obrigando-o a parar– E você está dando encima de mim só porquetenho camisas com rostos de caveiras. Você poderiaser mais previsível?

- Acho que não...

Eles ficaram se olhando por alguns instantes, atéum barulho ensurdecedor acabar com a magia.Eram viaturas de policia, várias delas, uma atrás daoutra. Ellie, que estava de costas pro portão, teveque olhar pra trás. Elas passaram em frente aaquele portão do campus, em alta velocidade. Asluzes do carro piscavam freneticamente.

Erik deu um sorrisinho, mas não sabia como Ellietinha conseguido ouvir.

- O que foi? Isso te excita?

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- Não... É tipo deja vu...

- Certo – Ela sorriu – Você é o cara que sempreachou que a morte de Ashley Carson não tinha sidoaleatória e ver todos esses carros de policia te fazpensar que você estava certo.

- Algo desse tipo...

- Então, quem você acha que matou a pobre einocente loira siliconada Ashley Carson?

- Pode ser qualquer um. Pode ter sido você,Amanda, Chloe, a garota egocêntrica da rádio quemetade do campus odeia, ou até mesmo, eu.

- Você sabe que não pode ser você, seria óbviodemais. O garoto gótico do campus que adorafilmes de terror se junta com a órfã gótica de franjaroxa para iniciar um massacre a espera de sangue –Ela riu de novo, debochando – Você sabe que ascoisas não funcionam desse jeito. Não se você querser um assassino bem sucedido. Então, a perguntacontinua, quem é o assassino da nossa sequenciahilária que vai desprestigiar o original?

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Erik apenas riu. Seu celular tocou e isso o fezesquecer do assunto. Ellie olhou pro lado, não tinhagostado do clima ter sido interrompido e ficou seperguntando quem mais seria amigo de Erik Mets.

Ele tirou o celular do bolso e olhou em seu visor, erauma mensagem. Ele ficou estranho depois que leu,Ellie percebeu.

- O que foi?

- Mensagem coletiva – Ele colocou o celular nafrente dela, para ler a mensagem.

Estava escrito: “Garota morta na festa da AlfaGamma!!!”

Ellie engoliu em seco quando leu e se sentiuimediatamente arrependida pelo que tinha dito.

- Acho que temos uma sequencia – Ela disse,mesmo não querendo acreditar.

--

A moto de Kyle parou de fazer barulho. Eleestacionou em frente a sua casa, Amanda aindaestava na garupa. Ela desceu assim que a moto

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parou. Colocou as mãos no bolso de trás comosempre fazia quando estava tímida e ficou olhandopara Kyle.

- Vocês vão se acertar – Disse ele – Eu sei disso.

- Obrigada – Ela assentiu e olhou pra casa – Vocêacha que ele já chegou?

- Bom... – Kyle se debruçou na moto – Pra ondemais ele iria?

- Eu não sei... Algum bar de quinta pra afogar asmágoas porque sua noiva é uma vadia?

- Hey, não fale isso de si mesma. Foi minha culpa,eu provoquei tudo isso.

- Foi sua culpa também a gente ter dormido juntos?– Ela olhou pro lado, envergonhada.

- Você não deveria se culpar por isso, nós doisestávamos lá...

- Me desculpe por ter metido você nessa, Kyle...Acho que no fim Craig está certo, eu nunca voumudar...

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- Você já mudou – De repente, a voz de Kyle tinhaentusiasmo – Eu lembro de você ano passado, agarota mais popular do colégio, o sonho dequalquer garoto dessa cidade. Você acha queaquela garota estaria se importando pra umadultério agora? Amanda, você cresceu. Vocêevoluiu. E é isso que eu acho mais incrível...

- Acho melhor a gente entrar e ver se ele já chegou– Amanda se virou e caminhou na direção da casa.

Kyle deu um longo suspiro, era de derrota. Quandoele pensava que iria conseguir se aproximar deAmanda, algo desse tipo acontecia e ele nãodeixava de se culpar. Mas será que seria assim prasempre? Craig iria perdoá-la porque a ama deverdade, eles iriam se casar, criar Matty juntos eviver felizes para sempre como num conto de fadasenquanto o ogro vai assistir só de longe.

Mas, ele não era tão ogro assim. Sabia o queAmanda sentia por ele e sabia que se ficassemjuntos, eles iam destruir tudo, e era isso que elaestava evitando. Acabar com tudo o que ela lutoupra conquistar depois que perdeu tudo.

Quando tirou a chave da moto, ele saiu e seguiuAmanda até a porta. Subiram as pequenas escadas

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até a varanda e pararam. Kyle não sabia porque,afinal, por que Amanda pararia?

- O que foi?

- A porta está aberta – Ela olhou pra ele, cheia dedúvidas.

- Talvez ele esteja em casa.

- Talvez... – Amanda colocou a mão na porta e aarredou devagar, fazendo um leve barulho.

Olhou pras escadas da casa, tudo parecia emordem, nada estava fora do lugar. Mas se Craigestivesse ali, então, as coisas não deveriam estartodas quebradas?

- Senhor Fuller? – Ela gritou – Senhora Fuller?

- Amanda, tudo bem?

- Ta sim – Ela respondeu, colocando o cabelo atrásda orelha – É só... Uma neura minha, você entende?

- Você passou por muita coisa Amanda, é claro queeu entendo – Kyle entrou na casa e aos gritoschamou seus pais e seu irmão, mas ninguém

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respondeu – Eles têm que estar aqui em algumlugar, a porta estava aberta. Vou ver no quintal.

- Ok – Amanda assentiu e ficou olhando Kyle sairdali.

Ela andou devagar até a sala, ainda com as mãos nobolso. Observou os porta retratos da família Fuller eos quadros que Maisy gostava. Ela era uma chata,mas pelo menos tinha bom gosto pra decoração.

Então, Amanda foi tirada de seu devaneio quandoouviu o telefone ao lado do sofá tocar. Ela olhou praele, um pouco nervosa. Tinha aprendido a andarpor ruas escuras, mas ainda ficava tensa quando otelefone tocava.

Kyle reapareceu bem à tempo. Ele ficou olhandopra ela, sabendo o que ela estava sentindo. Masprecisava forçar, ou então ela nunca iria serecuperar.

- Você pretende atender?

- Atender? – Ela olhou pra ele, e sabia exatamente oque tinha que fazer pra parecer forte – É claro – Elaandou até o telefone e o colocou na orelha – Alô?Alô?

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Ela esperou alguns segundos por resposta, mas nãose ouvia nada do outro lado da linha. Kyle ficouobservando, será que ela estava mentindo? Talveztivesse cancelado a chamada só pra parecer forte.

- Acho que a ligação caiu – Ela deixou o telefone devolta no lugar – O que você acha da gente pediruma piz... – Amanda não conseguiu terminar defalar, o telefone tocou novamente.

Ela não pensou duas vezes, colocou o telefone naorelha como se não estivesse com medo.

- Alô?

- Olá Amanda, se lembra de mim?

Quando reconheceu a voz macabra no telefone, elaficou em choque. Um frio lhe subiu na espinha,deixando Kyle preocupado.

- Quem é você?

- Você sabe quem eu sou. Nos divertimos muito anopassado...

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- Se isso for uma brincadeira eu juro por Deus... –Seus olhos começaram a se encher de lágrimas.

- Amanda, o que ta acontecendo? – Kyle seaproximou.

- Você sentiu a minha falta, Amanda? – Perguntou avoz macabra ao telefone, debochando.

- Vai se ferrar! – Ela gritou.

- Deixei um presente pra você na Alfa Gamma,espero que goste.

- Você não é ele...

- Amanda, quem é? Me passa o telefone! – ExigiuKyle.

- Eu o matei, ele está morto...

- Não nesta sequencia. Você não está mais a salvo,Amanda. Você não está mais segura. Eu sei onde teencontrar, eu sei onde você está e neste momento,estou com uma coisa que te pertence...

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Amanda ficou confusa, mas depois ouviu um chorode neném. Era o choro de Matty, ela sabiareconhecer.

- Ele é meu agora...

- Matty! – Ela exclamou, correndo na direção daescada.

Kyle correu atrás dela, mas não sabia acompanharseu ritmo frenético, ela era rápida demais.

Já no andar de cima, ela abriu a porta do quarto deMatty e fitou o berço. Não fez suspense algum,tirou os lençóis da frente só pra checar se o filhoestava ali. Mas no lugar de Matty, só havia umafrase escrita com sangue. Ela sabia que era sangue,conhecia o cheiro muito bem. E quando conseguiuentender o que estava escrito, se desesperou aindamais. Estava escrito “A mão que balança o berço”.

- Não! – Ela gritou e colocou a mão na boca. Seafastou devagar pro corredor, olhando pro berço.

Kyle estava há poucos metros dela, olhando. Nãosabia o que tinha acontecido. E se fosse umabrincadeira dela?

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- Amanda, o que aconteceu?

- Ele pegou Matty!

- O que?

Amanda olhou pra ele, viu o momento em que oassassino se aproximava dele por trás, bemdevagar.

- Kyle cuidado! – Ela gritou.

O assassino atacou Kyle, que com o aviso deAmanda, conseguiu desviar de uma facada certeira.A faca o acertou de raspão no braço e ele caiu nochão. Mal conseguia ouvir os próprios gritos detanto que Amanda gritava.

O assassino se abaixou para lhe acertar mais umafacada, mas Amanda não deixou. Correu na direçãodele e pulou. Eles se debateram no corredorestreito, Amanda estava tentando tirar suamáscara. Mas de tanto tentar, eles acabaramperdendo o equilíbrio e caindo da escada.

Amanda machucou o rosto e as pernas, mas não foitão grave. Ela caiu encima do assassino, ambosconscientes. Correu direto pra cozinha, mas

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ghostface conseguiu alcançá-la. Puxou ela pelocabelo e a arremessou por cima do balcão centralda cozinha, derrubando no chão toda comida quetinha ali.

Ao gritos, Amanda caiu no chão, toda suja decomida. Cometeu o erro de colocar a mão encimano balcão para se apoiar e levantar, levou umafacada que atravessou sua mão e rachou o azulejodo balcão. Ela gritou de dor e pegou a primeiracoisa ao lado que sua mão encontrou. Era umafrigideira, ela acertou o assassino no momento emque ele retirou a faca de sua mão.

Ele caiu pro lado, no chão, a faca também caiu.Amanda, então, decidiu que aquele era o momentocerto pra correr. Com a mão sangrando pela casainteira, ela correu, passando pela escada. Quasecaiu na escadas da varanda descendo depressa.

Olhou pra trás só pra ter certeza que ghostfaceestava longe e não viu nem sinal dele. Mas comoestava distraída, acabou dando de encontro comCraig. Ele a segurou, tentando controlar seus gritoshistéricos.

- Amanda! Amanda! – Ele gritou – O queaconteceu?

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Ela, mais calma por vê-lo ali, parou de gritar.

- Você ta sangrando, Meu Deus!

Ela olhou por cima do ombro de Craig, Frank Fullere sua esposa estavam lá, perto do carro, brincandocom Matty. Ela nem acreditou que aquele era seufilho, nas mãos de quem o iria proteger.

- Matty! – Ela gritou e correu para pegá-lo.

Ela o tomou a força do colo de Maisy e o abraçoubem forte enquanto chorava. Só Deus sabia oquanto ela estava feliz por ter tido a chance deabraçar seu filho de novo quando pensou que nãohavia mais esperança. E de tanto abraçá-lo, acaboudeixando o bebê cheio de sangue.

- Ai meu Deus! – Exclamou Maisy quando viu Kylepassando pela porta com um ferimento no ombro –É o Kyle!

- Meu Deus! – Frank correu até o filho, Maisy estavabem atrás.

Craig fitou o irmão com desespero nos olhos, masainda não sabia o que estava acontecendo. E

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naquele momento, Amanda e o bebê eram bemmais importantes.

- Amanda – Ele se abaixou pra ficar da altura dela –O que aconteceu?

- Ele está lá dentro!

Frank sentou Kyle num dos degraus da escada davaranda, ele estava gemendo de dor. Segurou oombro do filho, o sangue começou a escorrer pelassuas mãos. Ele olhou para Amanda e Matty nogramado, eles estavam bem e era isso queimportava, mas ainda estava tentando entender oque tinha acontecido.

- Quem está lá dentro?

Amanda não conseguiu falar, virou o rostopensando em seu irmão.

- Ghostface... – Respondeu Kyle, fazendo o irmãoarregalar os olhos e ficar num estado crítico quemisturava medo e preocupação.

--

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- O que você ta fazendo, Chloe? – Perguntou Miley,sentada numa cadeira marrom em volta de umamesa de ferro na delegacia.

Mas ela estava realmente chocada. Sua amiga Chloetinha acabado de se levantar da mesa pra ir semaquiar no espelho duplo de onde os policiaspodem vê-las como se fosse normal.

- O que foi? – Perguntou Chloe, passando pócompacto.

- Você sabe que eles podem ver a gente por esseespelho, não sabe?

- Claro que sei, tenho 170 de QI, por Deus, Miley –Ela tirou o batom da bolsa e começou a se passar –É desse jeito que eu protesto. Eles querem nosintimidar nos deixando nessa salinha só pra vercomo nos comportamos. Se a gente provar que nãotem nada a temer, eles nos liberam rápido.

- Você pode esquecer esses seus gestos pseudo-revolucinários por um só segundo? Alguém morreunaquela festa. Não era alguém que você gostava,mas você poderia pelo menos fingir que estáabalada...

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- Miley – Ela se virou – Eu estou abalada – Elasentou na ponta da mesa - Eu vi alguém morrer eGabriel, nosso amigo, está sofrendo com isso. Maseu não quero mais ficar aqui, não quero ter nadahaver com a morte de Zoe Pierce.

- Continue falando assim e vão achar que você éuma suspeita – Miley olhou pro espelho, comreceio, enquanto Chloe revirava os olhos.

Quando a porta se abriu, Chloe deu um pulo decima da mesa. Ela ficou olhando o delegadoEstwood entrar na sala, estava esperando que ofato de ter se maquiado no espelho duplo pudessetirá-las de lá o mais rápido possível.

- Bom, vocês estão liberadas.

- Obrigada, delegado – Disse Chloe, antes de sairjunto de Miley.

Quando a porta foi fechada, elas sentiram alívio.Ajeitaram suas bolsas e saíram dali, passando peloscorredores estreitos da delegacia.

Na porta, estavam Megan e Aaron, sendo cercadospor paparazzi. Eles estavam tentando chegar até ocarro com a ajuda dos policiais, mas a rua havia

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parado com tanta gente querendo fazer perguntase olheiros curiosos que circulavam pelasredondezas.

Quando chegaram ao carro, trancaram as portas erespiraram aliviados. Megan colocou o cinto desegurança e esperou Aaron partir, mas ele nãoparecia estar disposto a ligar o carro e sair dali, nãocom aquele olhar pensativo que fitava a multidãode repórteres evacuando.

- O que foi, amor? – Ela perguntou.

- Nada, é só... Eu pensei que isso tinha acabado...

- Por isso tremia de medo sempre que o telefonetocava?

- Ah – Ele deu um ar de risos – Você me entendeu...Pensei que nunca mais veria alguém morto naminha vida e de repente isso acontece – Ele olhoupra ela, em busca de um olhar compreensivo – Vocême entende?

- Perfeitamente.

Ele deu outro ar de risos e olhou pra frente de novo,a rua já estava mais limpa. Megan ficou olhando pra

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ele, tentando encontrar as palavras certas pra falarcom ele ou então arruinaria tudo. Aaron erasensível e precisava de alguém compreensível aoseu lado.

Mas ela também tinha suas duvidas. Ela tambémera uma sobrevivente do massacre de New Britain etambém estava com medo. Precisava de alguémque dissesse que iria ficar tudo bem, mas ao invésdisso, tinha que reconfortar o namorado.

- Você acha que tudo isso tem haver com Amandade novo? – Ela perguntou, fazendo-o olhar pra elanovamente.

- Eu não sei... Duas pessoas estão mortas. Uma foienganchada em casa e a outra jogada de uma alturade mais de vinte metros... Queria poder ter umpadrão, mas não tenho.

- Então a loira peituda e burra é assassinada na suaprópria casa e depois a bêbada vadia é jogada deum prédio... – Megan fez uma cara de pensativa –Adivinha onde já vimos isso?

- Na Quadrilogia ‘Pânico’?

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- Não, quer dizer, também, mas isso está em todolugar. ‘Pânico’ já jogou pessoas de cara no chãomais de duas vezes. E acredite, quando SarahMichelle Guellar atingiu o concreto, doeu em mim.E eu nem era fã de Buffy nem nada.

- Você está dizendo que temos um padrão?

- Não, você tem um padrão, estou bem comoprimeira dama.

- E eu te amo... – Aaron sorriu.

-Eu também...

Eles se beijaram, bem devagar. Depois ficaram bemperto, se olhando nos olhos. Como num reflexo,Aaron olhou pro lado e viu um carro seaproximando. Os faróis quase o cegaram. Megantambém olhou, curiosa.

- Aquele não é o carro da Amanda? – Ela perguntou.

- Não... Mas ela está lá dentro.

- O que ela está fazendo numa delegacia?

- Acho que a gente sabe a resposta.

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Eles trocaram um olhar cauteloso antes de assistirde camarote Amanda saindo do carro ferida pra irprestar sua primeira queixa do filme do novomaníaco de New Britain.CAPITULO 6Craig parou o carro em frente a sua casa. Amanda,que fitava as pernas ao seu lado, parecia hesitantequanto a sair. Craig olhou pra ela, tirando as chavesdo carro. Ele colocou suas mãos encima das pernase deu um leve suspiro, sabia muito bem o queestava acontecendo com ela. A conhecia há poucotempo, mas era o suficiente pra saber.

- Você quer ficar aqui por um tempo? Se quiser,tudo bem...

- Ok... – Ela ergueu a cabeça e olhou pra rua escuraà sua frente – Está acontecendo de novo... Eu rezeitanto pra que isso não acontecesse...

- Me desculpe...

- Não é sua culpa...

- Eu não deveria ter te deixado só, me desculpe...

- Isso não importa mais – Ela olhou pra ele – As

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pessoas que ficam perto de mim, vão apenasmorrer.

- O que isso significa?

- Que se você for esperto, você vai ficar longe.

- O que? Amanda, para com isso – Craig hesitou,estava prestes a gaguejar tudo o que estavapassando pela sua cabeça – Você não podesimplesmente fugir...

- Pegue Matty e saia da cidade com sua família, é omelhor que você faz.

- Eu não posso deixar você – Ele pegou no ombrodela, era um gesto de carinho – Isso é loucura...

- Então você está disposto a morrer por mim? Isso éloucura – Ela olhou pra frente, sentindo um apertono peito.

- Se eu fugir e você morrer aqui eu nunca vou meperdoar...

- Ele quase pegou o Matty... Eu nem sei o que seriade mim sem ele...

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- Vamos superar isso juntos, você vai ver... – Ele abeijou, segurando seu rosto com uma mão.

Amanda fechou os olhos e aceitou o beijo, eraexatamente do que ela estava precisando. Segurouno braço dele com força com sua mão enfaixada,como se estivesse prestes a perdê-lo, e eraexatamente como ela se sentia.

Eles ficaram perto um do outro, a testa colada, osolhos fechados, ambos sentindo que poderiam ficardaquele jeito pra sempre.

- Eu não quero morrer... – Sussurrou Amanda –Preciso ficar viva pra fazer o certo pelo menos umavez na minha vida...

- Você não vai morrer...--Aaron olhou pro enorme quadro de policia a suafrente. O policial Bill fechou as cortinas, a luz do solestava invadindo a delegacia, deixando todosincomodados. O delegado estava perto do filho,observando o mesmo quadro, assim como Megan,sentada na cadeira de ferro com as pernascruzadas.

No enorme quadro bege havia uma porção de fotos.

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O olhar de Aaron ia das fotos onde Ashley Carsonaparecia morta até as de Zoe Pierce. Inclusive ascoisas deixadas pelo assassino. No caso de Zoe,apenas as palavras “Brinquedo Assassino” escritascom sangue de animal enquanto para Ashley, nada,como se os crimes não tivessem ligação. Mas apolícia sabia que tinha. Seu pai podia ter dito quefoi apenas um assalto, mas estava possivelmentesob ameaças, e as inúmeras ligações pra casa davítima naquela noite provam que ela morreu numjogo doentio iniciado por Brandon Rush e SarahRichards um ano atrás.

- Então, os crimes têm ligação? – Perguntou Aaron.

- Sim – Respondeu seu pai, num tom cauteloso –Ouvimos as chamadas que o assassino fez pra casade Ashley Carson. Seu pai mentiu porque estavasendo ameaçado.

- Eu não entendo – Aaron se aproximou do quadro,ficou bem perto das fotos de Brandon e Sarah –Com Brandon Rush e Sarah Richards as coisas foramdiferentes. Eles exibiam os corpos como se fossemtroféus, não tinham tempo pra ameaçartestemunhas. Aliás, por que os assassinos deixariamos pais vivos?

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- Se eu pensasse como psicopata não exerceria estaprofissão – O delegado andou mais pro lado,sentindo raiva.

Aaron não ligou, sabia como seu pai era, usariaqualquer desculpa para culpá-lo por ter virado umasub-celebridade de quinta e ter esquecido suasorigens.

- E o que significa ‘brinquedo assassino’? – Meganolhou pro quadro, estava mascando um chiclete – Éum filme, não é?

- Claro que é – Aaron olhou novamente as fotos –Chucky, o brinquedo assassino. Não sei como issose encaixa nessa morte. Talvez já estivesse lá, algumvândalo escreveu aquilo, talvez não tenha nadahaver com a morte em si.

- Pouco provável – Disse o policial Bill – Eu fuichamado pra juntar alguns corpos do ano passado euma coisa posso afirmar, esses caras são bons equalquer detalhe é importante.

- Não é como se estivessem recriando as mortes doano passado... Queria só qualquer pista que nosdissesse quem é o próximo...

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- Vocês não assistem TV? – Megan se levantou dacadeira, cuspiu sem chiclete pro lado. Andou atéonde Aaron estava, decidida – Por Deus, parem deser tão amadores. A loira burra morre sozinha emcasa, a bêbada recebe uma ligação numa festalonge da cidade e vocês não sabem quem é opróximo?

- Não – Respondeu Aaron, de imediato.

- A sub-celebridade!

- Ela tem razão – Disse Amanda, entrando na sala.

Todos olharam pra ela, não esperavam que fosseaparecer. Estava tão perturbada na noite passada,como ela poderia parecer tão forte? Era sófingimento?

- A sub-celebridade é o próximo – Ela olhou proquadro – Drew Barrymore, Sarah Michelle Gellar,Lucy Hale, Anna Paquin, todas apareceram comoparticipações especiais nos filmes ‘Pânico’. São asdivas. Fazem um papel pequeno, mas marcam parasempre.

- Quer dizer que eu estou em perigo? – Aaron seassustou, ele era a única sub-celebridade que

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alguém poderia querer matar, considerando queera um dos sobreviventes.

- Depende, você não é uma diva – Disse Bill – Opúblico gosta de elenco feminino nessas horas,ninguém torceria por você se fosse um filme.

- Então alguma garota famosa vai ser a próxima? –Perguntou o delegado, ajeitando seu cinto – Váriasgarotas são famosas por aqui. É o ano do Miss NewBritain e do bicentenário.

- Que é um prato cheio pra esse doente... – Amandapassou o dedo pela foto de Ashley pendurada nosganchos da cozinha, ela já tinha visto aquilo emalgum lugar. Depois que viu as fotos, se virou –Precisamos de um plano. Precisamos ficar atentos.Se ele realmente está seguindo as regras dessa vez,não vai deixar nenhum evento de fora.

- Temos que cancelar – Disse o delegado.

- Não, precisamos de uma isca e muitos policiais adisposição – Amanda olhou para Megan – O quevocê acha de ser a nova Miss New Britain?

- O que? – Megan arregalou os olhos.

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- Eu sei, não é certo – Disse Aaron.

- É claro que eu quero ser a nova Miss New Britain!

- O que? – Aaron olhou pra ela, estava eufórica.

- Pode ser o começo da minha carreira comojornalista! – Megan andou até a janela, estavamaravilhada imaginando a hora de receber oprêmio – Megan Bower, Miss New Britain 2012.Preciso de tempo pra criar um slogan. Que tal 'Asobrevivente número 1 da América'?

- Megan, você não pode fazer isso. E se ele tepegar?

- Amorzinho, se acalma – Megan pegou no rostodele com as duas mãos – Eu sou uma sobrevivente,ele não vai se atrever e aquela faixa vermelha vaidestacar a cor da minha pele.

- Não, arrumem outro plano – Aaron cruzou osbraços – De preferência, um que não coloque a vidade mais ninguém em risco.

- Aaron, isso foi o que aconteceu comigo por eu nãoter um plano – Amanda levantou a mãoesfaqueada, estava enfaixada – Eu tenho um filho,

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que por acaso, também está nessa lista. Eu não seivocê, mas quero acabar com isso antes de ganharoutra cicatriz.

- Senhor – Disse um policial, abrindo a porta – Aautópsia do corpo de Zoe Pierce saiu, encontraramuma coisa. O senhor precisa vir comigo.

Amanda e Aaron trocaram um olhar cauteloso, quetambém era, ao mesmo tempo, de espanto. Odelegado olhou pra eles, com medo. Da ultima vezque um policial abriu a porta dizendo isso,encontraram um pen drive dentro do corpo de TrishPeterson.

Todos correram na direção daquele policial, eleestava indo na direção da sala de vídeo. Quandoentraram, viram um detetive mexendo em umnotebook. Ele estava com um pen drive nas mãos,tentando acessar o conteúdo.

- Outro Pen Drive? – Perguntou Aaron.

- Só tem um arquivo de vídeo aqui – Disse odetetive, dando play.

Quando a tela ficou cheia e o rosto de Brandonapareceu, Amanda sentiu um calafrio. Ela abriu a

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boca pra respirar melhor, mas não conseguiu. Era oirmão que estava naquele computador.

No vídeo, Brandon ajeitava a câmera no que pareciaestar num quarto recheado de pôsteres de filmesde terror. Não era seu quarto, então, onde eleestava?

- Oi, todo mundo – Ele disse – Se vocês estãoassistindo a este vídeo, quer dizer que meu filmenão terminou como eu esperava e que você,Amanda, está enfrentando uma sequencia. Isso éinadmissível pra mim, não posso deixar qualqueramador manchar a imagem do original.

Amanda segurou o choro e olhou pro lado. Meganolhou pra ela, estava se compadecendo de seusofrimento.

- Pelo menos agora, eu virei uma lenda. Não estoumais atrás de você, Amanda, não estou mais emsegundo plano. Não era exatamente o que euqueria, mas me contento em saber que podem sepassar até 100 anos, mas as pessoas vão lembrar demim e do que eu fiz com todos aquelesadolescentes fúteis que tinham a vida perfeita –Brandon sorriu, fazendo uma lágrima escorrer pelosolhos de Amanda enquanto ela tremia – Mas, não

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gosto de ver nenhuma imitação barata de tudo oque eu já fiz. Então, pense Amanda, pensar vaiajudá-la a sobreviver. Pense porque alguém, alémde mim, iria querer matá-la. Que pontas eu deixei?Quem poderia estar querendo matar todos dessacidade? Pense, porque no final, tudo tem ligação, eé tudo culpa sua.

Quando o vídeo terminou, Amanda olhou pro lado,os olhos cheios de lágrimas. Todos naquela salaolharam pra ela, temendo que fosse desabar, masnão foi isso que aconteceu. Ela ergueu a cabeça,enxugou as lágrimas e disse:

- Vamos pegar esse filho da mãe.--

- Chloe Field, com quem eu falo?

- Oi, aqui é a Denise, da Alfa Gamma – Disse umavoz feminina, fazendo Chloe revirar os olhos.

Mas, isso era bom, desde a morte de Zoe as pessoasligavam para sua rádio perguntando o queaconteceu e como ela estava se sentindo. A verdadeera que, ela estava com medo, e receber esse tipode ligação só piorava mais a situação.

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Miley, sentada bem a sua frente com as pernasencima da mesa, apenas ria. Ela se balançava nacadeira giratória como se fosse uma criança.

- Hey Denise – Disse Chloe, fingindo ser simpática –O que posso fazer por você?

- Eu só queria saber, é verdade que os assassinatoscometidos por Brandon Rush e Sarah Richard estãoacontecendo de novo?

- Bom, é uma coisa que você deveria perguntar apolícia.

- Err... – A garota hesitou – Mas você estava lá evocê é a melhor amiga da Amanda.

- O problema, Denise, é que não sabemos. Mas nãose preocupe, quando aparecer o próximo corpo euligo pra você imediatamente. Tchau, tenha uma boanoite – Chloe encerrou a chamada e desligou omicrofone – Por Deus, esse programa é pra ajudaras pessoas em duvidas sexuais, sentimentais efamiliares, não pra responder se eu estou na lista donovo massacre ou não.

- Isso não é nada, eu recebi trotes o dia inteiro.“Qual seu filme de terror preferido?” – Miley fez

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uma careta – As pessoas falam isso como se aindafosse original e engraçado. Perdeu a graça desdeque Sidney Prescott transou com um assassino.

- É, tanto faz – Chloe olhou pro relógio na parede dasala, marcava dez da noite – E falando em ajudasentimental, o que você acha de conversar de umavez com seu namorado?

- Eu sei, vou falar com ele... – Miley parou de girar acadeira.

- É, mas quando? Quando você tiver com a barrigaenorme ou começar a vomitar por todo o lindocarro dele?

- Ele vem me pegar, deve estar chegando. Vou dizerno carro.

- Você pode treinar comigo – Chloe levou suacadeira até onde Miley estava e se sentou de umaforma estranha, fazendo Miley sorrir.

- O que você ta fazendo?

- Anda, treina comigo. Finja que eu sou o futuropapai. Isso funciona.

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- Não, você é feminina demais...

- Não sou não, por que você acha que chamaram agente de lésbicas no Halloween? – Chloe colocou afranja atrás da orelha e novamente ficou numaposição reta, tentando ser máscula – Agora, treinacomigo.

Antes que Miley pudesse falar alguma coisa, seucelular tocou. Chloe deu um suspiro e relaxou nacadeira. Olhou pra Miley assim que ela tirou ocelular do bolso da saia jeans curta e olhou provisor. Como ela não sorriu, Chloe logo adivinhouque deveria ser Trent.

- É ele – Miley guardou o celular no bolsonovamente – Está aqui na frente. Tenho que ir.

- Já chegou? Mas não ouvi nenhuma buzina – Chloese levantou e foi até a janela de vidro, ao lado daporta azul. Olhou pro gramado do campus, nãotinha nem sinal de Trent. Ele deveria estar umpouco mais pra esquerda – Ele não ta aqui.

- Ele disse que está, não dá pra ver o campus inteirodessa janela – Miley se levantou a cruzou os braços.

- Mas aqui é a entrada, ele deveria estar aqui...

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- Você só ta querendo me assustar pra eu ficar. Sevocê ta com tanto medo, por que não vem com agente?

- Não posso – Chloe saiu da janela – Tenho que ficaraqui até 11 e atender mais ligações.

- Você que sabe... – Miley pegou sua bolsa ecaminhou na direção da porta, sendo observada porChloe.

- Te vejo amanhã no Vulcanical’s?

- Até mais – Miley fez um gesto com a mão semolhar pra amiga enquanto saia. Chloe colocou amão na cintura e observou a porta fechandosozinha.

Miley olhou pro enorme corredor branco ondeestava, com duvidas sobre onde ficava a saída. Eratudo muito igual, poderia ser qualquer um doslados, mas ela não esperou pra raciocinar, foi peladireita, seus saltos pretos faziam barulho no chão.Andou até o elevador e apertou o botão pra elesubir.

Com um tédio absurdo, ela observou o quadro

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encima do elevador que mostrava em qual andarele estava. Ele estava subindo tão devagar que elaapertou o botão várias vezes, mesmo sabendo queisso não o faria ir mais rápido.

Quando o elevador chegou, ela entrou e apertou obotão pra ele descer. A porta se fechou e elecomeçou a descer, tocando uma musica derelaxamento que ela odiava.

Lá encima, Chloe saiu da sala pra pegar um poucode água no filtro do corredor. Ela parou assim quepegou um copo descartável. Antes que o copoenchesse, ouviu um barulho vindo do ladoesquerdo. Pensou que fosse Miley, ela sempre seperdia naquele prédio, mas não tinha ninguém.

- Miley, é você? – Ela gritou, mas nada aconteceualém da água de seu copo ter transbordado –Merda! – Ela se afastou. Olhou pra esquerdanovamente, enquanto andava de volta pra sua sala.

Quando chegou, deixou o copo encima da mesa esentou na sua cadeira. Colocou o fone e parou amusica que tinha deixado tocando.

- Então, se divertiram com o Coldplay? Aposto quesim, mas, estou de volta, e mais inspirada do que

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nunca. Aposto que vocês estão se perguntando oque diabos está acontecendo nessa cidade e porqueas pessoas estão morrendo. Isso, eu obviamentenão sei, e não é pelo fato de ser loira, eu garanto.Tudo o que sei é que há três dias, Ashley Carson foiassassinada em sua própria casa e pendurada porganchos em sua cozinha. E ontem, mais uma vítimafoi feita. Zoe Pierce recebeu vinte facadas antes deser jogada do segundo andar do hospitalpsiquiátrico abandonado onde sua fraternidadeestava dando uma festa particular. Coincidência ounão, as duas garotas morreram próximo a data deum ano do massacre de Brandon Rush e SarahRichards. Está acontecendo de novo? Estamoscorrendo perigo? É isso o que os moradores de NewBritain querem saber – Chloe olhou pro relógio naparede – Então, se alguém tiver mais algumaduvida, vocês sabem pra quem perguntar.

Assim que terminou de falar, percebeu que tinhaalguém ligando. Ela sorriu, vangloriada,antigamente ela tinha que esperar séculos praalguém ligar e agora mal terminava de falar e játinha alguém na linha, mesmo que o horário nãoajudasse.

- Chloe Field, com quem eu falo? – Ela hesitou,esperando uma resposta – Alô? Olha, você não

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precisa dizer seu nome se não quiser, é só me dizerqual sua dúvida...

- Você está sozinha?

- Como é? – Chloe sorriu, ainda não tinhareconhecido a voz – Se eu estou sozinha? Querdizer, se eu estou namorando? Por que você quersaber?

- Vai ser mais fácil te matar se não estiver comninguém.

O sorriso de Chloe desapareceu.

- Olha, eu vou desligar, esse tipo de trote não élegal.

- Por que não?

- Amanda é minha amiga, e brincar com o que elapassou não é bom. Então adeus, idiota... – QuandoChloe ia encerrar a chamada, ouviu uma risada dooutro lado da linha.

- Você sabe onde eu estou?

- Como eu vou saber? – A voz de Chloe tinha ficado

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dura, até ela olhar pra um visor na mesa a suafrente e perceber que a ligação estava vindo dedentro do prédio.

- Estou mais perto do que você imagina...

Chloe olhou pro vidro a sua frente, não tinha nadaanormal. E depois olhou pras duas portas, tudoestava normal. Será que Miley estava fazendoaquilo só pra lhe irritar? E mesmo que fosse alguémque não conhecesse, estava usando o aplicativocom a voz do assassino que não era mais permitido,quem usasse poderia ir pra cadeia, além de estarnuma rádio que todos escutam.

- Quem está falando?

- Aquele que vai te cortar em pedacinhos e exibirpro mundo inteiro como prova de que ninguémpode me parar.

- Você pode ir se ferrar agora! – Exclamou Chloe,levantando-se.

- Avise seus amigos, avise a mídia, avise a polícia.Diga que todos fazem parte da minha sequencia, eninguém vai escapar.

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- Eu quero te ver tentar, idiota! – Gritou Chloe.Ficou imediatamente mais assustada com a risadamacabra do assassino.

- Melhores amigas sempre morrem – Ele desligou.

Chloe ficou parada por um tempo, ainda estava nalinha, ouvindo os apitos que lhe diziam que aligação tinha terminado. Ela não conseguiaraciocinar direito, pela primeira vez algo a tinhaassustado num nível tão grande que finalmentetinha perdido o ar.

Quando a ficha caiu, ela correu pra sua bolsa epegou seu celular. Discou o numero da policia e seencostou na parede, esperando ser atendida.

Lá embaixo, Miley ainda caminhava peloscorredores, pensando que talvez tivesse ido pelolado errado. Ela começou a ficar enjoada, era o piorsintoma de sua gravidez indesejada.

Ouviu um barulho atrás de si e virou. Ficou olhandopor um tempo, sem coragem de perguntar se tinhaalguém ali.

O silencio do local acabou fazendo-a ficar commedo. Andou rápido, ainda olhando pra trás. Deu

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um grito quando deu de encontro com Trent. Elesorriu, adorava quando ela ficava assustada.

- Merda! – Reclamou ela.

- Calma, sou eu. Você ta legal?

Por estarem de lado no corredor, nem perceberamo assassino correndo de um lado pro outro epassando por uma porta na ponta da direita.

- Sim – Miley engoliu em seco. Olhou pra baixo,precisava urgentemente de um banheiro – Sópreciso ir ao banheiro.

- Tem um no final do corredor... Eu te levo lá.

- Ok... – Miley tentou segurar o enjoo até chegaremna porta do banheiro.

Eles andaram abraçados, Trent fazia carinho noombro dela. Quando chegaram, ele a beijou, elanem lembrou do que estava sentindo já que sempreficava hipnotizada com aquilo.

- Eu não demoro...

- Você vai entrar num banheiro com um assassino a

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solta? Que corajosa – Ele sorriu.

- Para Trent – Ela lançou um olhar severo pra ele eentrou.

Não perdeu tempo se olhando no espelho, correupro vaso sanitário e despejou tudo o que tinhalanchado com Chloe. Era por isso que odiavagravidez, nunca tinha se imaginado sendo mãe ousofrendo aquelas mudanças no corpo. O pior eraque em alguns minutos teria que contar aonamorado que ele iria ser pai e que isso estragariasua vida.

Ela respirou aliviada depois de tudo, parecia quetinha se livrado de um grande peso no estomago.Puxou a descarga e correu pra pia. Ligou a torneirae lavou a boca e o rosto, estava pensando naspalavras certas que usaria com Trent mais tarde.

Se olhou no espelho, estava pálida, os olhos fundose bastante magra, como se sua barriga não tivessecrescido. Ela teve que levantar a blusa e se olhar delado no espelho pra ter certeza.

Um barulho estranho vindo de uma das inúmerascabines chamou sua atenção. Ela olhou pra trás,com duvidas, não poderia ter ninguém ali àquela

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hora.

- Olá? Dane-se – Ela se olhou novamente noespelho, mas o barulho se repetiu – Trent se forvocê, juro que te mato.

O barulho se repetiu novamente, ela achava queestava vindo da cabine numero três. Andou devagaraté lá, fungando, não estava sentindo medo algum.Quando chegou na frente da cabine, ficou olhandopor um tempo, o barulho se repetiu de novo, elatinha certeza que vinha daquela cabine.

- Você ta bem? – Ela perguntou, mas ninguémrespondeu.

Devagar, se ajoelhou no chão e olhou por debaixoda porta, via apenas dois sapatos pretos.

De repente, o assassino chutou a porta encima dela.Ela levantou e foi levada pela porta até a pia. Gritouimediatamente, mas foi calada com duas facadas nopeito. O sangue começou a jorrar no chão e na pia,ela estava quase morta.

O assassino a puxou pelo cabelo e bateu sua cabeçano enorme espelho, no exato momento em queTrent entrou para socorrê-la. Ele viu Miley sendo

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jogada no chão e depois olhou pro assassino,sabendo que precisava correr, porque não podiafazer mais nada por sua namorada.

Ele não foi longe, ghostface o alcançou rapidamentee o esfaqueou nas costas, bem perto do ombro,logo depois dele abrir a porta da sala ao lado natentativa de fugir. Ele caiu, mas estava resistindo.Olhou pro assassino, sabia que a pessoa por trásdaquela máscara estava adorando aquilo.

O assassino se preparou para dar uma punhaladaem seu rosto, mas Trent segurou seu braço. Elesficaram medindo força por alguns momentos, seTrent largasse, levaria uma facada certeira no rostoque resultaria em sua morte. Como um milagre,Chloe apareceu por trás deles e bateu no assassinocom um extintor de incêndio. Ele caiu pro lado, masnão inconsciente.

Ela se preparou para bater nele mais uma vez, masele foi mais rápido e desviou. Com a guarda baixa,Chloe foi atacada, levou um soco no nariz e caiu nochão, sangrando. O assassino andou até ela e apuxou pelo cabelo. Lançou ela pela janela de vidroda sala ao seu lado, ela caiu encima dos cacos, aolado de uma mesa marrom.

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Olhou pro lado com esforço, estava um pouco fracapor causa da pancada. Com a porta aberta, a paredeao lado a deixava ver apenas a cabeça de Trent, eleainda estava jogado no corredor. Ele olhava prafrente com medo, ela não sabia o que estavaacontecendo até ouvir o barulho das inúmerasfacadas que o amigo recebia. Ele gritava, o sanguede seu peito espirrava em seu rosto, estavamorrendo aos poucos. Estava sentindo a facapenetrar seus órgãos, fazendo inúmeros buracosque doíam como se estivessem pegando fogo.

Ela ficou horrorizada, e só de pensar que não podiafazer nada, se sentia como uma inútil. Se tentasseajudar Trent, também seria esfaqueada. Por isso,antes mesmo que visse o amigo morrer, se levantoue correu pela porta azul da direita. Ficouprocurando a tranca, mas não havia nenhuma.Tentando controlar o choro, ela se afastou da porta,não queria tirar os olhos dela, pois se o assassinoentrasse, seria por ali.

Quando tentava procurar um local pra se esconder,notou a janela de vidro. Ela correu até lá e a abriu.Colocou sua primeira perna pra fora, estava pisandono telhado, mas parou quando ouviu um barulho naoutra sala. Olhou pra trás, o barulho não se repetiu,mas ela estava nervosa, temia que o assassino

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abrisse aquela porta e fizesse com ela o mesmo quefez com Trent. Porque naquele momento, até obarulho dos grilos parecia estranho e eraassustador, já que seria difícil de acreditar que oassassino a deixaria escapar.

O barulho não se repetiu, então ela virou pra frente.Colocou a segunda perna pra fora e olhou pro chão.Ghostface abriu a porta com fúria e correuimediatamente até a janela. Chloe não teve tempode fazer nada, apenas tentou segurá-lo para quenão pudesse lhe machucar. Aos gritos, ela foiempurrada de lá e caiu no meio das árvores doprimeiro andar.

O assassino olhou pra baixo, Chloe já tinhadesaparecido em meio àquela escuridão.CAPITULO 7Amanda passou sua mão devagar pelo pequenorosto de Matty, seus olhos estavam com um brilhoespecial. Sua boca se mexia suavemente paracantarolar uma canção de ninar para o filho, combastante pausas, pois olhar nos olhos dele fazia elaesquecer de tudo.

O bebê tirou a mão da boca devagar e foi fechandoos olhos, estava quase adormecendo. Amandasorriu quando viu que ele estava lutando pra não

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dormir e não conseguia segurar, ela achava queaquela era uma demonstração de que no futuro eleseria um homem forte. Ou pelo menos, era isso oque ela queria. Só não sabia o que ele iria dizerquando soubesse que sua mãe não sabe quem éseu pai pelo medo da certeza. Ou ele seria filho deseu namorado do colégio que parecia ser comoqualquer outro garoto, ou ele seria filho de umpsicopata sem coração que destruiu a vida de suamãe. Como a criança iria reagir se tivesse a certezaque foi concebida num estupro?

Um dia Matty iria crescer e iria se perguntar porqueos amigos dele têm pais e ele não. Talvez ele atéfosse excluído, zoado pelos colegas. Se Amandaparasse pra pensar um pouquinho, poderia ouvir osgritos de crianças maldosas rindo de Matty por eleser filho de um psicopata. Mas, ela não tinhacerteza. Aquela carta ficaria lacrada até ela tercerteza de que a verdade não vai destruí-la.

- Amanda, eu estou indo... – Disse Brooke, entrandono quarto. Ela estava colocando o cachecol em voltado pescoço.

- Shh, ele está dormindo.

- Desculpe – Sussurrou Brooke. Ela se afastou e

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esperou Amanda sair de perto do berço pra falarcom ela.

Amanda deu uma ultima olhada em seu filho antesde sair do quarto. Fechou a porta e ficou cara a caracom Brooke.

- Já estou indo, tenho que vir amanhã?

- Sim, eu e Craig vamos sair – Amanda colocou amão no bolso e tirou de lá algumas notas – Estáaqui.

- Obrigada – Brooke pegou o dinheiro da mão dela ecolocou dentro de seu casaco – Até amanhã, tenhauma boa noite.

- Obrigada – Amanda assentiu.

Brooke saiu andando, mas voltou assim quelembrou o que queria falar.

- Os policiais vão estar aqui, não vão?

- Vão sim, não se preocupe, mas entendo se vocênão quiser vir. Quer dizer, eu não viria, então...

- Não, pode deixar – Brooke tentou demonstrar

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segurança – Eu venho sim.

- Então, boa noite.

- Boa noite – Brooke desceu as escadas enquantoAmanda olhava pra ela.

Amanda entrou no quarto de Matty novamente.Olhou pro filho no berço por alguns segundos edepois foi até a janela. De lá ela via a viatura depolicia que o Delegado Estwood havia mandado,tinha dois policiais lá dentro dividindo comida.Próximo a eles estava Brooke, parada na calçada debraços cruzados. Ela olhava pros dois lados da ruacomo se estivesse procurando alguém.

Segundos depois um carro vermelho apareceu, eraseu namorado Logan que ia buscá-la na porta dacasa todas as noites. Com uma inveja sem tamanho,ela observou Brooke e Logan se beijando, sorrindoum pro outro, fazia tempo que ela não se sentiaassim. Até quando beijava Craig sentia que umaparte dela ainda estava amedrontada por tudo oque aconteceu.

Ela fechou a cortina assim que Brooke e onamorado partiram. Tirou seu celular do bolsojunto com seu fone de ouvido e deitou na cama.

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Fechou os olhos e deixou a musica tomar conta desi, era disso que ela precisava, uma distração.

Mas não demorou muito pra ela ouvir o primeirobarulho e perceber que não iria ter sossego. Pareciaque alguém tinha derrubado alguma coisa, mas nãotinha ninguém ali além de Craig que estava nobanheiro.

Ela se sentou na cama e tirou um lado dos fones.Olhou pra porta e esperou o barulho se repetir.

- Kyle? É você? – Ela perguntou num grito, ninguémrespondeu – Craig?

Devagar, ela levantou da cama e andou até a porta.Olhou no corredor, não tinha ninguém. Olhou pratrás, pro berço de Matty, ele não tinha acordado,parecia estar bem. Talvez fosse apenas suaimaginação lhe pregando uma peça, o assassino nãoseria louco de entrar ali com dois policiais na portavigiando e Craig dentro de casa.

Ela suspirou, estava cansada, mas precisava descere comer alguma coisa. Quando deu um passo,parou e deu um grito. O senhor Fuller estava paradobem a sua frente, com aquela expressão de pedófilode sempre que dava arrepios em Amanda.

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- Meu Deus! – Ela disse, mais aliviada – Que susto...

- Desculpe.

- Não sabia que vocês já estavam em casa...

- Acabamos de chegar, só vim dar um beijo de boanoite no meu neto.

- Bom... – Amanda olhou pro berço – Ele estádormindo, então...

- Nossa – Ele olhou por cima do ombro de Amanda,não conseguia ver o bebê – Acho que cheguei tarde.Tudo bem.

- Tenha uma boa noite, Senhor Fuller.

- Você também, Amanda.

Amanda sorriu sem graça, não sabia como agirperto dele. Fechou a porta fazendo uma careta dealívio e discórdia, aquela tinha sido uma situaçãoconstrangedora, ele era estranho demais.

Ela andou até o berço, Matty estava bem, mas nãoconseguia controlar sua compulsão em checar se

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ele estava com algum problema. Depois que ficoualguns minutos pensando que o havia perdido, todocuidado era pouco.

Com o celular nas mãos, ela andou até a cama esentou. Esperou alguns segundos pra se deitar.Quando colocou a cabeça no travesseiro, Brandonpulou encima dela e segurou seus braços. Elaarregalou os olhos com o susto, como aquilo erapossível? Ele estava com a roupa do ghostface, massem a máscara. Seu rosto estava sangrando, um deseus olhos estava machucado, Amanda lembra quefoi ela quem fez isso quando eles lutaram. Além detudo, ele ainda tinha uma faca nas mãos, estavacheia de sangue, como se ele tivesse acabado dematar alguém.

- Você pensa que pode fugir de mim? – Brandonolhou nos olhos dela.

- Não! – Ela gritou, tentando livrar seus braços –Não é real!

- Não é real? Olha pra mim, Amanda! Eu sou real!

- Você não é real! – Amanda começou a chorar.

- Olha pra mim! – Brandon virou a cabeça dela –

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Isso foi o que você fez comigo! Com o seu próprioirmão! É por isso que as pessoas morrem perto devocê, Amanda. Você é podre! Você deveria termorrido no meu lugar!

- Não! – Amanda gritou o mais alto que pôde.

Levantou da cama suada, com a respiraçãoofegante. Olhou ao redor, Brandon não estava ali,tudo estava normal. Tinha sido apenas umpesadelo, como aqueles que ela costumava ter nosprimeiros meses após quase ter morrido.

Então, o assassino voltou. Pessoas inocentes estãomorrendo de novo e os pesadelos recomeçaram.Àquela altura, ela já estava acreditando que nuncairia ter fim.

Olhou pro seu celular, ainda estava com os fones deouvido. Tinha alguém ligando no visor, era umnumero desconhecido.

- Alô? – Ela disse, ao atender.

- Amanda? – Perguntou Gabriel, do outro lado dalinha, a ligação estava péssima – Amanda?

- Estou aqui...

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- Chloe está no hospital, ela foi atacada.

Os olhos de Amanda pairavam do chão a parede,ela estava em choque com a noticia e não sabiacomo reagir a aquilo se não se culpar por tudo estaracontecendo de novo.--

Aaron olhou para trás assim que o vento friodaquela manhã fez as árvores se mexerem. Algumasfolhas mortas caiam no gramado do cemitério epassavam por ele, chegando até o caixão de Mileybem a sua frente. Ao lado, havia o caixão de Trent,com uma decoração diferente. Eles estavamrealizando o desejo da garota, ela sempre disseraque queria ser enterrada ao lado do amor da suavida.

Do outro lado estava Ellie e Erik, de braçoscruzados. Ela olhava pro caixão de Miley como sequisesse pular nele e fazer de tudo pra amiga voltara respirar, mesmo que isso parecesse insano. JáErik, não aparentava estar chocado ou triste, estavaali apenas para dar apoio a Ellie.

Aaron olhou pra ele e parou de prestar atenção nascoisas que o padre dizia quando o garoto lhe olhou

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de volta. Se perguntou quem era aquele gótico eporque ele tinha um olhar de dar arrepios.

- Dane-se – Ellie deu meia volta e enxugou a lágrimaque escorria pelo olho direito – Vamos emboradaqui.

- Você tem certeza?

- Sim – Ellie passou por ele e começou a andar nadireção do portão do cemitério.

Erik não teve outra escolha a não ser ir atrás dela,estava preocupado, nunca tinha visto ela dessejeito. Ellie sempre lutou pra parecer forte,autossuficiente, nunca se dava por vencida oudemonstrava fraqueza. Se ela estava chorando, eraporque aquilo a estava afetando de verdade.

Aaron olhou pro outro lado, viu a tia de Mileychorando inconsolavelmente, além de várias outraspessoas que ele sequer conhecia. Mas, entre tantosrostos que passam despercebidos facilmente, eleencontrou alguém que não esperava ver naquelelugar. Chelsea Tedesco estava com um vestidopreto que passava dos joelhos e uma pequena bolsaque levava no ombro. Seus olhos azuis epenetrantes olhavam pro caixão sem piscar, como

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se estivesse hipnotizada.

Aaron sabia que conhecia aquela garota, mas sódepois de algum tempo foi conseguir lembrar. Elatinha aparecido na televisão após o assassinato deAshley Carson, como uma possível testemunha.Disse que tinha ido na casa da amiga naquela noitee que Ashley reclamou de alguns trotes queestavam passando. Foi o primeiro indício de que opai de Ashley estava mentindo sobre ser umassalto, a primeira coisa que fez a policia desconfiarque existia um motivo psicótico por trás daquelamorte.

Chelsea olhou para Aaron, sentiu que estava sendoobservada. E ao encontrar seu olhar, ela pirou. Suarespiração ficou ofegante e em seu rosto formou-seuma expressão de medo. Aaron continuou olhando,achando estranho, eles não se conheciam, como elapoderia ficar daquele jeito apenas por olhá-lo?

Ela saiu correndo do cemitério, dando de encontrocom alguns homens de paletó que estavam atrásdela. Aaron achou mais estranho ainda, por issoduvidou de que ela tenha ficado assim por suacausa. Mas, quando ela olhou pra trás, ele tevecerteza que era com ele. Ela olhou bem na suadireção, só pra ver se ele a estava seguindo.

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A primeira vista, ele só achou que aquela garotaestava louca. Como podia correr de alguém que nãoconhecia, ainda mais sendo uma celebridade tãoquerida naquela cidade? Ela agiu como se suapresença significasse perigo, ou como se soubessede alguma coisa que ninguém poderia saber. E seela viu o assassino?

Quando seu celular tocou, ele parou de olhar. Seafastou da multidão ao redor do caixão e colocou ocelular no ouvido.

- Sou eu – Disse Amanda.

- Amanda? Onde você está?

- Com Chloe, no hospital.

- Ela está bem?

- Sim, está – Amanda olhou Chloe pela janela devidro do quarto onde estava, a garota parecia estarse recusando a comer a comida que a enfermeiratinha levado – Ela conseguiu escapar. Onde vocêestá?

- Com Miley – Aaron olhou pra trás – E Trent. Acho

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melhor você não vir.

- Eu sei, posso deixar alguém nervoso, e eu não iriaconseguir... – Amanda deu um leve suspiro edecidiu mudar de assunto – Megan está com você?

- Não, ela foi fazer a inscrição pro Miss New Britain,graças a você.

- Entendo – Ela engoliu em seco, já estava sesentindo culpada por estar colocando Megan emperigo – Acho que vou pedir pra ela desistir...

- A gente conversa sobre isso depois, preciso falarcom você. Se você tiver tempo, é claro.

- Eu tenho tempo. Pode ser as quatro no Kroks?

- Está marcado. Se cuida.

Amanda hesitou por alguns instantes. Olhou prabaixo, um pouco envergonhada. Sabia queprecisava apenas dizer o mesmo, mas por ummomento, ela se perguntou se isso era possível.Não podia cuidar dela, do filho, da nova família edos amigos, por isso desde que descobriu queBrandon era um psicopata, escolheu cuidar detodos, menos de si mesma.

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- Você também – Ela sussurrou, antes de desligar.

Ela colocou seu celular no bolso e se levantou dosofá onde estava. Entrou no quarto de Chloe,olhando pra amiga, só queria se certificar de queera bem vinda.

Chloe olhou pra ela e não fez nada, ficou esperandouma atitude. Estava com um curativo que cobriametade de sua testa por causa do enorme arranhãoque sofreu na queda. Também estava com o braçoesquerdo enfaixado, por pouco não o quebrou. Etodos esses machucados só pioravam a culpa deAmanda. Sua perna estava quebrada e sua barrigadoía como se estivesse perfurada, mas Chloesempre estava radiante.

- Estou viva, a propósito – Disse Chloe – Entra, aquinão é o mundo dos mortos – Ela olhou em volta,parecia tudo muito morto – Bom, eu acho.

- Chloe, eu sinto muito... – Amanda se aproximou.

- Eu estou bem, não foi nada. Acho que ele pegouleve comigo.

- É sério, eu sinto muito mesmo, eu deveria saber

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que isso iria acontecer, eu podia ter evitado...

Chloe ficou olhando pra ela, tentando entender oque estava dizendo e toda aquela expressão degarota depressiva que ela tinha. E não pôde chegara outra conclusão se não achar que ela se sentiadiretamente culpada por tudo aquilo.

- Não foi culpa sua, não se atreva a se culpar. Eunão vou deixar.

- O que?

- Eu estou bem, olha – Chloe tirou a atadura de seubraço e mostrou a Amanda – Aconteceu ontem,mas já estou melhor. E meu corte na testa vai sararmais rápido que o inchaço na testa da Rihanna,então... Não se preocupe.

- Chloe, você quebrou a perna e teve a barrigaperfurada por um galho de árvore.

- São só detalhes, não ligue pra isso, eu estou bem.

- Você está bem, mas Miley e Trent não estão.

- Não é sua culpa, você não os esfaqueou até amorte, você não negligenciou ajuda, você não

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mandou ninguém fazer isso. Amanda, você não temcontrole sobre a vida e a morte, você acha que aspessoas estão morrendo por sua causa, quando naverdade estão morrendo porque um doente demerda acha que pode tirar vidas só porque temuma existência infeliz. Nada disso é culpa sua, atéonde eu sei, você também está tentando sobreviver– Chloe olhou pra mão dela, ainda estava com umaatadura.

Amanda olhou para sua mão, era inevitável terlembranças da noite em que tiveram coragem decolocar seu filho em perigo por causa de um jogodoentio. Não era justo que Matty tivesse algumacoisa haver com isso, ele não tinha culpa de nada,era só uma criança.

- Viu só? – Continuou Chloe – Você é como nós,apenas mais uma vítima.

- As pessoas costumam morrer perto de mim...

- 100 mil pessoas morrem todos os dias, estandoperto de você ou não. Amanda, sai dessa, você éuma das melhores coisas que já aconteceram naminha vida. Sua amizade vale mais que tudo isso.

- Sua idiota – Amanda deu um ar de risos e a

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abraçou – Sempre falando a coisa certa pra meanimar...

- Estou aqui pra isso – Chloe sentiu o abraço deAmanda ficar mais apertado e gemeu de dor.

- O que foi?

- Minha costela. Ela não quebrou, juro que saiu dolugar por teimosia – Chloe pegou no abdome,estava inchado.

Amanda sorriu, não acreditava naquilo. Mesmotendo sido perseguida, mesmo quase tendomorrido, mesmo tendo sido obrigada a ver umamigo morrer, ela continuava com bom humor eotimismo. Nunca se daria por vencida, era umaguerreira, Amanda já se sentia com sorte por tê-laem sua vida, pois sabia que ela ficaria do seu ladoaté o fim.

- Quando você sai daqui?

- Queria sair amanhã, mas é o idiota do médico quedecide isso – Chloe se ajeitou no travesseiro atrásdela – Tenho minha rádio, preciso comparecer, eledeveria entender.

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- Chloe, você não pode voltar. Você quase morreu,sem falar que voltar ao local do crime seria bizarro.

- Pra você, eu tenho que voltar. Aquela rádio é tudopra mim, eu não seria eu mesma se desistisse dacoisa mais importante da minha vida porque euquase morri. Sem falar que voltar ao lugar ondetudo aconteceu pode me ajudar a superar, a gentetem que enfrentar nossos medos, e eu sou legaldemais pra ser depressiva.

Amanda hesitou, ficou pensando nas palavras daamiga. Alguns terapeutas já tinham lhe dito coisaparecida, mas naquela época, era cruel demaisenfrentar a realidade, pois a certeza de melhoranão era certa, além de existir coisas muitoperturbadoras a ponto de piorar o quadro. Mas e seChloe estivesse certa? Ela nunca tinha se atrevido aenfrentar seus medos e seus monstros, deve ser porisso que eles têm força o suficiente pra continuarvoltando.

- Isso funciona?

- Eu tenho certeza – Chloe tossiu – Aquela rádioprecisa de mim, a gente deve lutar por aquilo peloque vale a pena viver, não é?

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- Acho que sim – Amanda tentou assimilar o restodas coisas que Chloe dissera e só no que conseguiapensar era em Matty. Valia a pena viver por ele, elanão podia deixar seu passado interferir a vida deseu filho, nem lhe dar uma mãe doente – Eu tenhoque ir, venho te ver amanhã.

- Ok – Chloe assentiu – Aonde você vai?

- Eu conto amanhã – Amanda saiu correndo pelaporta, deixando Chloe imaginando o que faria suamelhor amiga agir daquele jeito.

Amanda correu até seu carro e saiu do hospital.Dirigiu rapidamente até encontrar a casa ondemorava. Seu coração acelerava de acordo com quechegava mais perto do local onde queria parar.

Ela desceu do carro bem na frente de sua antigacasa. O bairro estava morto, uma parte dosmoradores tinha se mudado há algum tempo porcausa dos assassinatos. E também porque aquelacasa trazia agouro. Ela estava velha, acabada, agrama tinha crescido e a pintura estavadesbotando, parece que estava desabitada hámuitos anos.

Só de olhar pra sua entrada, Amanda sentia

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calafrios. Começou a se aproximar devagar dojardim, as lembranças já tinham consumido suacabeça. Estava lembrando de quando era pequenae brincava com Brandon naquele gramado.Lembrou de quando ela insistiu para que seus paisdeixassem ela, Erin e Samantha acamparem ali, foiuma noite assustadora, mas não tanto como o queestava por vir.

Ela sentia que podia ouvir a risada de Brandon, eaté seu choro, quando ela sem querer o derruboudas pequenas escadas do pátio. Era tanta coisa pralembrar apenas olhando pro jardim, que se tornouainda mais difícil entrar. Mas ela sabia queprecisava, já estava na hora de enfrentar seusmedos e colocar um fim em todo aquelesofrimento, já estava na hora de deixar Brandon ir eaceitar a morte de seus amigos. Estava na hora deviver por seu filho e fazer dele um grande homem.

Devagar, ela foi entrando na propriedade, tentandonão pensar em nada. Abriu a porta e observou tudo.Os móveis não estavam mais ali, a casa pareciamaior, mas estava tudo muito velho. Ela andou pelasala, não deixando passar nenhum detalhe, estavacrente de que aquela sensação horrível iria passar edepois ela iria ficar bem.

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Depois de olhar a sala, ela subiu as escadas,levantando a cabeça pra olhar melhor. Caminhoulentamente até o quarto que pertencia a Brandon eabriu a porta, dando de cara com sua cama. Elaainda estava ali, ninguém tinha mexido, comcerteza por ser perturbador demais. Tãoperturbador que por um segundo ela pensou tervisto o irmão deitado ali com um dos livros da sérieTrue Blood, como sempre fazia.

O choro foi inevitável, mas seus olhos foramenchendo de lágrimas aos poucos. Ela sentia quepodia ouvir sua voz, estava lembrando das ultimasconversas, quando seu irmão mais novo juravaprotegê-la de todo mal que estava acontecendonaquela cidade há um ano. Quando ele mentiudizendo que não deixaria ninguém lhe tocar e queiria superar tudo aquilo algum dia. Ela só nãoentendia o porquê de tantas mentiras.

Quando foi se aproximando mais da cama, ela nãoaguentou ficar de pé e caiu de joelhos no chão.

- Por quê? Por que você teve que fazer isso? Porquê? – Ela gritou, dando socos no chão sujo – Eunão entendo!

Ela continuou a chorar, sabia que ali ela podia,

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ninguém iria ouvir, ninguém iria aparecer, eraapenas ela e seus fantasmas do passado, queassombravam-na o tempo inteiro.

Quando olhou pra cama dele, com a vistaembaçada, percebeu uma coisa estranha. Elaparecia estar cortada e havia a ponta de algumacoisa. Tinha algo lá dentro? Era difícil ver com osolhos cheios de lágrimas.

Ela foi até lá e rasgou o colchão. Havia algumasfotos lá dentro junto de alguns papeis. Ao pegaruma por uma das fotos, ela viu do que se tratavam.Eram dela e seus amigos, foram tiradasaleatoriamente por alguém que provavelmente osestava seguindo. E tinha de todo mundo, Chloe,Miley, Trent, Ellie, Gabriel, Erik, Zoe, tinha uma deAshley Carson com a roupa em que morreu, talveztenha sido tirada na noite em que ela foiassassinada.

Mas, o que aquelas fotos significavam? Só podiamser do próprio assassino. Então, aquele era seuesconderijo? Era lá que ele ficava pra planejar ascoisas?

- Ai meu Deus... – Ela levantou do chão e saiucorrendo.

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Desceu as escadas rapidamente e correu pro seucarro. Quando entrou, girou a chave para ligá-lo.Pisou no acelerador, mas o carro não andava.Estava ligado, mas não se mexia. Ela olhou peloretrovisor e viu que tinha algo no banco de trás. Erauma frase, escrita com sangue, ela dizia “OláAmanda”.

Imediatamente, Amanda saiu do carro. Olhou paraos pneus, eles estavam furados, os quatro, era porisso que o carro não saia do lugar. Mas ela estavamais preocupada com a frase escrita com sangue nobanco de trás do seu carro. Isso significava que oassassino estava lá, e que ele sempre vai estar umpasso a sua frente.

Segurando firme as fotos em suas mãos, ela correudali, sabendo exatamente o que fazer com elas.Primeiro as usaria para identificar as pessoas quenão estão nas fotos para tentar saber quem é oassassino. Depois daria ao senhor Estwood para elemandar verificar as digitais. Ela estava mais pertode descobrir a verdade, mas sempre um passo atrásdaquele que quer vê-la morta.CAPITULO 8Da cama do hospital, Chloe olhou pela janela devidro da esquerda e percebeu que a sua enfermeira

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ruiva favorita estava conversando com um dosmédicos. E ela não entendia suas palavras, masouvia sua risada, parecia estar enfeitiçada pelocharme do jovem médico.

- Que oferecida... – Sussurrou Chloe quando aenfermeira sorriu e deu um leve toque no peitodele.

Quando a conversa terminou, ela entrou no quarto.Um sorriso malicioso brotou no rosto de Chloe, aenfermeira não tinha entendido.

- O que foi?

- Você está linda hoje, Meredith, aposto que oDoutor Farber pensa o mesmo.

- Cala a boca – Meredith deu um leve sorriso,adorava aquele bom humor de Chloe. Se aproximoudela e começou a ajeitar seu travesseiro.

- Olá – Gritou Megan, da porta, chamando aatenção das duas.

- O que você está fazendo aqui? O horário de visitasjá acabou, você não pode ficar aqui.

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- Claro que posso! – Exclamou Megan – Eu possoestar nos lugares onde eu quiser, mas não aomesmo tempo, eu meio que estou trabalhandonisso ainda... – Ela fez uma pose superior e colocouos cabelos castanhos pra trás da orelha.

Chloe deu uma olhada nela, ela era tão estranhaque chegava a ser simpática apenas por isso. Estavausando um casaco vermelho por cima da roupapreta, mas o que chamava mais atenção era a corde suas unhas. Havia um desenho de cartas emcada uma dela, seria uma incrível obra de arte senão fosse tão careta. E a bolsa também não ficavaatrás, era do tipo extravagante que apenasinteressaria aos mais curiosos. O que completava olook era o salto vermelho de cano alto, e era delonge a coisa mais normal que ela estava usando.

- Ela é Megan Bower – Disse Chloe – Ela pode ficar.

- Eu posso me meter em problemas – Disse aenfermeira, usando um tom cauteloso.

- É só você vigiar a porta, por favor, cincominutinhos.

- Tipo dez – Megan entrou no quarto – O dobro ounada.

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- Cinco minutos, nada mais que isso – A enfermeirase retirou. Fechou a porta e ficou na frente,vigiando, depois desse favor o mínimo que Chloepoderia fazer era dar um jeito de arrumar umencontro para ela e o Doutor Farber.

- Qual o problema dela? – Megan olhou pra porta.

- Bom, eu... – Chloe não teve a chance de terminarde falar, Megan a interrompeu.

- Cabelo ruivo é tão Nárnia... Enfim – Megan virou esorriu –Estou aqui para falar de negócios – Ela tirouseu casaco e jogou na poltrona verde, onde sesentou com as pernas cruzadas.

- Ok... – Chloe fez uma careta, não tinha entendidomuito bem.

- Estou aqui por causa da entrevista.

- Que entrevista?

- Aquela que você vai fazer na sua rádio quando eume tornar a nova Miss New Britain.

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- Você vai concorrer? Uau – Chloe abaixou a cabeça,um pouco tensa.

- O que?

- Nada, é que... Eu sempre achei que você fossemelhor que isso. Você é uma sobrevivente, nãoprecisa de um concurso municipal ridículo pra teruma entrevista comigo.

Megan ficou olhando pra ela, incrédula. A línguadava voltas em sua boca só porque ela gostava desentir aquele gosto do chiclete de cereja que haviacolocado embaixo do banco do carro, mas isso nãofazia jus ao que ela estava sentindo naquelemomento. Ela tinha acabado de conhecer alguémque gostava dela depois do massacre? Porque eradifícil de acreditar que as pessoas simpatizassemcom ela num mundo onde só lembram de Aaron eAmanda.

- Me desculpe, o que? – Ela perguntou.

- O que você ouviu. É claro que eu quero entrevistara garota que tem coragem de sair com desenhosdesse tipo nas unhas, e se ela sobreviveu a doisserial killers, é melhor ainda.

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- O que tem de errado com minhas unhas? – Meganestendeu as mãos e olhou para as unhas, pareciaestar tudo perfeito – É poker, tem aquele aroitentista de “máfia”... – Ela hesitou por algunsinstantes, entortou a cabeça pra olhar suas mãos deoutro ângulo – Meus dedos são tão pequenos...

- Megan, foque-se.

- Ok – Ela ajeitou o cabelo e olhou para Chloe –Então, eu estava pensando em responder minhaspróprias perguntas, quem inventou esse lance deque entrevista tem que ser a dois? Estamos numanova geração, quem não segue carreira solo brigaem talkshow quando chega na menopausa.

- Você pode levar o Aaron também? Soube quevocês estão namorando, seria épico ter vocês doislá.

- O que você está fazendo aqui? – Perguntou aenfermeira Laurie, Chloe logo tratou de lhe olharcom desprezo – O horário de visitas já acabou, saiadaqui imediatamente!

- Ela está falando comigo? – Perguntou Megan –Chloe, não trouxe minhas lentes de contato e a vozdela está saindo meio abafada.

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- Agora!

- Ta bom, já vou! – Megan levantou da poltrona esaiu correndo. Quando chegou até a porta, olhoupra enfermeira – Eu tenho o creme perfeito pra suapele, ele...

A enfermeira não quis ouvir, fechou a porta, mesmocom os gritos da garota. Chloe sorriu, aquela cenatinha recuperado seu humor pra noite, mesmo quea atitude de Laurie tenha sido ridícula.

A enfermeira saiu assim que percebeu que Chloeestava confortável. Após alguns segundos, Meredithentrou no quarto, parecia espantada, mas aomesmo tempo, sentindo-se mal por ter deixadoLaurie entrar.

- Me desculpe, me desculpe mesmo. Ela é minhasuperior, você entende, né?

- Relaxa, Mads. Mas, eu quero um favor.

- Qual?

- Pode me emprestar seu celular? Preciso fazer umaligação pra matar meu tédio e a vontade de cortar

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meus pulsos que esse lugar me dá – Chloe estendeua mão pra ela, Meredith parecia hesitante – Porfavor? Posso te conseguir o número do DoutorFarber...

- Cinco minutos, ou posso perder meu emprego –Meredith colocou a mão no bolso.

- Você sabe que sempre vai ter um lugar reservadopra você ao meu lado na rádio – Chloe sorriu, maspor dentro estava dando gargalhadas com o seupoder de manipular todos ao redor.

- Está aqui – Meredith entregou-lhe o celular.

- Você é um amor, Mads... – Chloe fez uma carafofa.

- Ta certo... – Meredith saiu, completamentedesconfiada.

Chloe não perdeu tempo e discou o numero deAmanda. Colocou o celular na orelha e esperou aamiga atender, mas acabou indo pra caixa demensagens. Era típico, Amanda nunca estavadisponível, e com certeza não era por causa dofilho. Ela discou o numero de Amanda mais umavez, porém, o azar parecia estar ao seu lado.

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- Vadia, atenda o telefone, estou entediada. Nãosuma – Após mais alguns segundos na linha, Chloedesligou.

Olhou pro nada, segurando o celular com a mãodireita. Se Amanda não entendia, ela precisava ligarpra outra pessoa, e a única com quem poderia falarnaquele momento era Ellie. Rapidamente discouseu número.

Ellie estava no corredor do campus, prestes a entrarem seu quarto, quando seu celular tocou. Na mãodireita ela carregava uma sacola de compras quevariavam entre refrigerante e batata frita, além dastintas pra terminar a pintura da parede do seuquarto.

- Alô?

- Ellie, oi – Chloe pareceu animada, Ellie estranhou –Estou no hospital, me ajude.

- Ajudar? Tipo, fugir? – Ellie fez uma careta. Abriu aporta do quarto e a fechou com o pé, pois as mãosestavam ocupadas.

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- Não tenho nada pra fazer, me traga um videogame, onde você está?

- No campus, acabei de chegar do shopping, foi aúnica coisa que me distraiu depois de você sabe oque – Ellie jogou a sacola na cama e sentou ao ladodela. teve que apoiar o celular entre o ombro prapoder tirar os sapatos que estava usando.

- Você pode vir aqui?

- Ta maluca? Sabe que horas são?

- Hora do seu sono de beleza? Vai dormir em umcaixão? Fazer um sexo épico e centenário com oDrácula?

- Exatamente – Após tirar seus sapatos, Elliecaminhou até o espelho, ficava ao lado da cama dasua colega de quarto.

- Você pode vir amanhã, então?

- Tudo bem, eu passo aí com Amanda e finalmentevocê vai se libertar do corredor da morte.

- Ainda bem que você me entende... – Chloe sorriu.

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- Eu sempre entendo...

Chloe ficou sem falar por alguns instantes, estavaolhando pra baixo com um rosto tristonho. Elafitava sua roupa quadriculada de hospital e sua mãodireita, ligada ao aparelho ao lado que mostravaseus batimentos cardíacos. Estava pensando emtudo o que aconteceu. Com tantos planos na cabeçae tantas teorias que ela havia criado depois de darde cara pela primeira vez com o cara de fantasma,ela nem teve tempo pra avaliar as perdas.

Ela estava sentindo saudade da rádio, mas tambémdos amigos. E o fato dela nunca mais poder verTrent e Miley era o que mais pesava. Não tevetempo nem de se despedir, e a ultima vez que osviu foi pouco antes de serem as próximas vítimas.

- Estou com saudades... – Sussurrou ela.

Ellie parou de se olhar no espelho e hesitou poralguns instantes. Ela estava sentindo o mesmo, esabia que Chloe estava triste. Ela nunca diz coisasdo tipo “te amo” ou “estou com saudade”, a não serque isso seja verdade a um nível extremo.

- Também estou com saudades...

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- A gente pode sair quando eu receber alta? Tipo,assistir algum filme, o que você acha? – Chloefungou.

- Acho uma ótima ideia.

- Então, está marcado.

- Preciso desligar, vou tomar uma ducha, te vejoamanhã.

- Certo – Chloe finalizou a chamada.

Ellie jogou seu celular na cama e se olhou noespelho mais uma vez. A franja roxa estava perfeita,seu piercing na sobrancelha era destacado pela corpálida de sua pele. Mas, ela estava longe de serfútil. Não se achava a garota mais ridícula domundo, mas também não chegava a ter complexonarcisista.

Depois de se olhar, pegou a toalha branca queestava encima de sua cama. Saiu do quartocorrendo, foi direto ao banheiro coletivo no fim docorredor. Tirou a roupa e colocou encima de umdos banquinhos de maneira que havia ali.

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Entrou em uma das cabines e ligou o chuveiro.Esperou a água ficar quente antes de se meterdebaixo dela. E de repente, esqueceu todos os seusproblemas. Era incrível como apenas um banhopodia lhe trazer tanta paz, a sensação era tão boaque ela queria ficar ali a noite toda, apenasrelaxando.

Passou o sabonete que estava ao lado em todo seucorpo, ficava olhando as poucas tatuagens quetinha espalhadas, eram todas pequenas, mastinham muito haver com ela. A da perna era umaestrela com a letra “B”, por causa de seu pai Ben, ohomem mais incrível que ela já conheceu. A dobraço era um símbolo chinês que significava “Paz”,era seu lema, mas lhe rendeu um tapa de sua mãepor ser sua primeira tatuagem. Ela nunca tinhaficado tão feliz por ter escolhido “Paz” ao invés donome de sua mãe.

Seu devaneio foi interrompido por um barulho naporta do banheiro, parecia ter sido aberta e fechadacom força segundos depois. A preocupação passoulonge, Ellie sabia que não era a única precisando deuma ducha quente naquela noite frio.

Alguns segundos depois, ela ouviu o mesmobarulho, ficou mais atenta, já que não podia ser

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coincidência. Olhou da porta da cabine, estavacolocando seu cabelo pra trás e tirando a água deseu rosto pra poder enxergar melhor. Não pareciater ninguém ali.

Seu banho, então, continuou normalmente.Quando olhou pra baixo pra lavar a perna, percebeuque tinha um liquido vermelho vindo pela água dacabine do outro lado. Ela se afastou, com medo doque poderia ser. Aquilo parecia sangue, só que eradifícil de dizer. As garotas daquele dormitórioviviam pregando peças uma nas outras, ela mesmajá tinha sofrido com uma dessas. Nunca esqueceriaa mistura de groselha e chocolate que colocaram nasua cama pra parecer sangue ao lado de umaboneca. Era típico daquelas garotas brincarem comos assassinatos do ano passado, quando ninguémimportante tinha morrido.

Mas, mesmo que o humor das garotas do campuscontinuasse aguçado, ainda era estranho. Ellieestava com medo, queria saber de onde vinhaaquilo. Colocou sua toalha e se abaixou devagar praver quem estava na cabine ao lado. Apoiou suasmãos no chão e abaixou a cabeça, seu cabeloacabou tocando o líquido estranho.

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Seus gritos de pavor exalaram o banheiro inteiroquando ela percebeu o que tinha na outra cabine.Erik estava sentado no chão, com a gargantacortada, os olhos ainda abertos. O sangue escorriapela água e ia até a cabine de Ellie, e parecia não terfim.

Como louca, Ellie se levantou e abriu a porta dacabine. Correu de lá, mas caiu na enorme poça desangue que foi formada pelo sangue de Erik. Ela nãopôde conter o desespero quando percebeu seucorpo inteiro coberto por sangue. Suas mãos, suaspernas, seu rosto, o sangue de Erik escorria pelosseus lábios. O assassino estava ali, com certezaesperando por ela, e apenas correndo ela teria umachance de se salvar.

Tentando não escorregar, ela correu pra fora dobanheiro. O assassino abriu a porta do quarto emfrente e a atacou. Ellie desviou, a faca acertou aparede cor de vinho do corredor.

Segurando a toalha, ela continuou correndo, oassassino atrás dela, com a faca preparada pracravar em suas entranhas e deixá-la exposta aopublico como fez com Erik, só pro terror continuar.

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Ela abriu a primeira porta que encontrou e entrouno quarto . Tentou fechá-la, mas o assassinoimpediu que se fechasse com seu corpo. Ela correuaté a cama e pegou a guitarra de sua amiga Betty,acertou ghostface com ela no rosto, fazendo-o cair.

Aproveitando que o havia machucado, ela correupor ele e teve os pés segurados. Rapidamente, sesoltou, correu pelo corredor na direção das escadas.

- Alguém me ajude! – Ela gritou, antes deescorregar e cair.

Olhou pra trás desesperadamente, o assassinoestava saindo do quarto e correndo em sua direção.Ela levantou e correu novamente, lágrimas jáescorriam por seu rosto e se misturavam com osangue de Erik. Mesmo que escapasse daquilo,nunca iria esquecer aquela imagem, e nuncaesqueceria a sensação de estar de cara com amorte.

Quando chegou perto da janela de vidro ao lado daescada, viu um grupo de garotas no jardim docampus, ela poderia gritar por ajuda. Mas isso nãoaconteceu, ghostface pegou a ponta do tapetevermelho onde ela pisava e o puxou. Ellie caiu como rosto no assoalho, tinha machucado o nariz.

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Agora o sangue que manchava sua boca não eraapenas de Erik, também era dela.

Com o forte baque, ela revirou os olhos. Conseguiaraciocinar, sabia que tinha que fazer alguma coisapra não morrer. Por isso se levantou e se preparoupra correr, mas já era tarde demais. O assassino deuduas facadas em sua costa e depois a imprensou naparede, de frente pra ele. Deu duas facadas em seupeito e ficou olhando pra ela, estava vomitando opróprio sangue, tão fraca que gastou as ultimasforças pra dar um ultimo grito.

O assassino enfiou a faca dentro de seu olhaesquerdo, Ellie perdeu os sentidosinstantaneamente. Mesmo já estando morta, ele apuxou pelo cabelo e a jogou escada abaixo. Seucorpo caiu sentado, sendo recostado pela parede.Ela estava torta, parecia ter quebrado algum ossona queda, e seu único olho ainda estava aberto.Quem a encontrasse, teria pesadelos pelo resto davida.CAPITULO 9Kyle olhou para seu celular encima do balcão, Craigestava ligando, ele podia ver sua foto piscando novisor. Mas, o irmão era a ultima pessoa que elequeria encontrar, estava tentando fugir de tudo oque lembrasse seu amor não correspondido e tudo

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o que estava acontecendo com Amanda. Pareceque a melhor maneira de fazer isso é dar encima dagarçonete loira que o estava atendendo, seria umaótima oportunidade pra sair da rotina e esquecerpor um tempo o que não deveria lembrar.

Ele olhou pro lado, a outra garçonete estavaatendendo um casal apaixonado que estavasentado no balcão ao lado dele. Estava sorrindo praele há vários minutos, mas ele nunca gostou dasfáceis, adorava um desafio.

- Posso te trazer mais alguma coisa? – Perguntou agarçonete loira. Ele leu seu nome no uniforme, elase chamava Carly.

- Sim, Carly. Estava pensando no seu numero detelefone.

- Claro que estava – Ela cerrou os olhos,demonstrando desconfiança, achava que ele era dotipo que não ligava no dia seguinte.

- Ok, você tem razão... –Kyle abaixou a cabeça esorriu – Estava pensando em qual restaurante televaria se você aceitasse meu convite e qual filmevocê iria querer ver quando fossemos ao cinema.

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- Não vou cair nessa –Carly pegou o guardanapo ecomeçou a limpar o balcão – Você não é o primeiroque acha que vou ceder porque pensa que acantada foi inteligente.

- É casada?

- Não, solteira.

- Imaginei, você é autossuficiente demais pra serforte apenas ao lado de algum homem, sinto issoem você.

- Sério? – Ela sorriu, debochando, então seu clienteera do tipo insistente – O que eu tenho que dizerpra você desistir?

- Que você é homem, basicamente. Sinta-se avontade pra recusar o meu convite da forma maiscruel possível, eu ainda quero levar essa garçonetenervosinha pra jantar comigo mesmo que isso custeminha dignidade.

- Você não tem dignidade.

- Por que você acha que ela está em jogo? – Kyledeu um meio sorriso, Carly acabou sorrindo domesmo jeito.

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Ela não acreditava naquilo, recebia cantadas todosos dias, mas aquele garoto parecia ser diferente osuficiente pra ela querer que o papo continuasse.Ela sabia que todo aquele charme poderia lhecustar caro, mas era um risco que estava sendoobrigada a correr.

- Eu saio às onze – Ela disse.

- Perfeito – Kyle se levantou – As onze estarei aqui.

- Chegue um minuto atrasado e eu não olho mais nasua cara.

- Se eu chegar dois minutos adiantado, você mebeija?

- Até mais, cliente desconhecido – Carly virou,sorrindo.

- É Kyle – Ele começou a andar pra trás, não queriaparar de olhá-la.

Ele deu meia volta e saiu pela porta, no momentoexato em que Chelsea estava entrando. Eles deramde encontro, a garota parecia estar com pressa.

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Kyle se desculpou, mesmo Chelsea não tenha seimportado com aquilo.

Ela passou pelas mesas da lanchonete e tirou seucasaco atrás do balcão. Quando deu de cara comCarly, logo preparou uma expressão desconcertadano rosto.

- Eu sinto muito – Ela disse – Meu padrasto viajou,tive que segurar as pontas sozinha em casa.

- Sei... – Carly cruzou os braços e olhou pra ela comdesprezo, não acreditava em nada do que estavadizendo.

- Eu juro que não vou mais me atrasar, essa foi aultima vez.

- Você sabe quantas garotas tive que dispensar pracolocar você nessa lanchonete? Elas tinham atéexperiência. E você, parece que não dá valor aotrabalho.

- Mas eu dou, eu juro –Suplicou a garota, estavatemendo ser demitida – Só me dê mais uma chance,eu prometo que vou melhorar. Faço hora extra degraça, qualquer coisa.

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- Ponha seu uniforme –Carly balançou a cabeça, nãoqueria mais ouvir aquela ladainha.

- Obrigada – Chelsea correu pro banheiro.

Lá dentro, abriu sua bolsa e tirou seu uniforme delá. Em menos de um minuto conseguiu vesti-lo. Seolhou no espelho, viu que seus lábios estavamferidos e era ridículo, quem consegue bater o joelhono próprio rosto?

Depois que passou batom para disfarçar omachucado, saiu do banheiro, esquecendo suabolsa. Caminhou até o balcão e se preparou praatender, mais uma noite difícil iria começar noKroks.

Ela olhou em volta, um grupo de três garotos tinhaacabado de chegar. Eles sentaram onde Kyle estavae ficaram conversando, Chelsea não conseguia ouviro que estavam falando, e acabou considerando issocomo uma vantagem.

- O que posso trazer por vocês? – Ela perguntou, jácom papel e caneta nas mãos.

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- Você está no menu? –Disse o garoto de boné. Osoutros dois riram e bateram as mãos enquantoChelsea revirava os olhos.

- Carly – Chelsea gritou –Machistas idiotas estãoaqui.

- Uh, meus favoritos –Carly andou até ela – Atendaaquele rapaz – Ela parou na frente dos garotos, comum olhar cínico – Então, qual de vocês pediu asalsicha pra ver como é ter uma grande?

Os garotos se olharam, constrangidos. Chelsea deuuma risadinha, adorava o jeito que Carly colocavaordem naquilo, ela era a mulher que Chelsea queriaser daqui a cinco anos.

- Hey, o que posso trazer pra vo... – As palavrassumiram de sua cabeça quando percebeu quemteria que atender.

- Hey, lembra de mim? –Aaron sorriu – Você fugiude mim hoje de manhã no enterro de Miley Potter eTrent Bellfleur. E eu nem imagino por que...

Chelsea abaixou a cabeça, sem graça, aquela er aultima coisa que estava esperando. E aquele era seu

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local de trabalho, não podia lidar com aquilo nafrente daquelas pessoas.

- Aqui não – Ela disse, a voz firme.

- Onde então?

- Eu saio as onze –Sussurrou ela.

- É uma pena que até lá vou estar dormindo. Então,por que não me diz agora o que você estáescondendo antes que o delegado Estwood, meupai, se interesse pelo que você tem a dizer? Eu sei,eu não presto, prerrogativa de celebridade fútil.

- Vem comigo até os fundos– Chelsea fez um sinalcom a cabeça para Aaron segui-la.

Ele olhou o ambiente, só pra ter certeza de queninguém iria segui-los. Passou pela mesma portaque Chelsea e andou até uma porta vermelha deferro, ela estava aberta. Chelsea já estava do ladode fora, tirando um maço de cigarros do bolso doavental.

Aaron chegou perto, mas não disse nada. Esperouela acender seu cigarro e dar a primeira tragada.

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- Quantos anos você tem?

- O que foi? Vai me dar lição de moral por fumar?Não se preocupe, meu padrasto faz isso todos osdias, talvez queira que eu seja alcoólatra igual a ele– Chelsea deu mais uma tragada, soprou a fumaçacom desprezo.

- Então... O que você tem a me dizer?

- Eu já contei tudo a policia.

- Então por que você fugiu de mim hoje de manhãno cemitério?

- Você não entende... –Ela se afastou.

- Entender o que? Você viu alguma coisa?

- Não... Mas ele acha que eu vi.

- Ele quem?

- Eu fico... Eu fico recebendo essas ligações... –Chelsea fitou o nada, parecia estar afetada, ocigarro entre os dedos só deixava suas palavrasmais dramáticas – Desse cara... E ele diz que vai me

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matar como fez com Ashley... Que vai me cortar emostrar pro mundo inteiro...

- O que isso tem haver comigo?

- Não é só com você... Não posso ficar perto de vocêe Amanda, não posso...

- O que você sabe? – Aaron esperou uma resposta,mas a garota não parecia não estar disposta àquilo.Então, ser rude poderia funcionar – Chelsea, o quevocê sabe? – Aaron a segurou pelos ombros esacudiu – Me diz! O que você sabe?

- Eu não sei! – Ela gritou– Eu vi o carro!

Aaron a soltou, ela quase caiu no chão. Estava tãonervosa que tinha começado a chorar sem terpercebido. Aaron arregalou os olhos e ficoupensando no que ela tinha dito. Então, ela tinhamesmo visto alguma coisa?

- Você viu o carro? Quem estava dentro?

- Eu não sei! – Ela gritou, numa voz de choro – Nãosei quem estava lá, só vi o carro! Quando saí da casada Ashley eu vi um carro preto lá perto, nunca tinhavisto antes, ele não era da vizinhança – Chelsea

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parou por um momento, estava lembrando da cenaque viu, o carro preto estacionando em frente acasa ao lado.

- Você viu a placa?

- Não, mas era um Honda civic preto...

- E como você sabe que era do assassino?

- Ele disse que eu sei demais... – Chelsea enxugou aslágrimas – E essa foi a única coisa que eu vi.

--

- Você tem certeza que não lembra de mais nada? –Perguntou o delegado Estwood a Amanda.

- Eu já disse tudo - Ela suspirou e olhou pra mesamarrom a sua frente.

Se tivesse um relógio, iria olhar pra ele só pra saberquantos séculos havia passado ali dentro. Mas eranecessário, qualquer detalhe poderia ajudar a pegaro assassino e tirar o nome de seu filho da lista.

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- Vamos analisar as fotos, não se preocupe, nemmesmo o mais esperto dos assassinos poderia fugirdas impressões digitais.

- E se ele queria que eu visse? – Amanda esperoualguns segundos antes de voltar a falar. Olhou prodelegado, ele parecia interessado no que ela tinha adizer – Quer dizer, ele sabia que eu estava ali, sabiaque eu poderia encontrar aquelas coisas, maspreferiu deixar um recado no meu carro.

- O que você quer dizer?

- Ele poderia ter me impedido, poderia ter meatacado ali mesmo. Eu estava vulnerável, sequisesse me matar, seria o momento perfeito.

- Talvez ele queira guardar você pro final – Disse opolicial Bill, estava no canto da sala, de braçoscruzados.

Amanda e o Delegado olharam pra ele, por algumarazão, ele parecia sempre estar certo.

- Você sabe, esses psicopatas pensam que isso é umfilme de terror – Continuou ele – Não ficariasurpreso se eles quisessem deixar a mocinha profinal.

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- Eu não sou a porra de uma mocinha – CuspiuAmanda, tinha se sentido ofendida.

- Diga isso pra quem está matando todas essaspessoas. Pra eles você é.

- Já chega, oficial Bark –Disse o Delegado.

- Tudo bem, já vou indo –Bill saiu de perto daparede e deu alguns passos, segurando a arma nasua cintura – Todos já foram embora, apenas nósestamos aqui.

- Que horas são? –Perguntou Amanda – Eu tenhoum filho, preciso voltar.

- Eu liguei pro seu noivo, ele está chegando, vocêpode sair. –O delegado virou para Bill – O senhorestá dispensado, oficial Bark.

- Obrigado, senhor – Bill se retirou.

Amanda suspirou, mas dessa vez, de satisfação. Empoucos minutos sairia dali e estaria em casa, pertodas pessoas que mais ama, perto de seu pequenoMatty e seu noivo Craig, para enfim, tentar dormir

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um pouco. Isso se ela conseguisse, pois o medo deter pesadelos com Brandon poderia lhe tirar o sono.

Acompanhada pelo delegado, ela saiu da sala. Viuque Gabriel ainda estava no corredor esperando,como dissera que iria fazer. Gabriel roia as unhas deansiedade, queria saber porque prenderam Amandapor todas aquelas horas dentro de uma sala.

Quando notou ela andando em sua direção, elelevantou. Amanda olhou pra ele surpresa, nãoesperava que ainda estivesse ali, se todos já tinhamido embora, inclusive os policiais.

- Gabriel? Você esperou por mim?

- É claro – A voz de Gabriel soava preocupada –Você já pode sair?

- Sim, mas vou esperar por Craig, ele vem mebuscar. Então você pode ir tranquilo.

- Você tem certeza?

- Sim – Amanda colocou as mãos no bolso eassentiu – Eu falo com você amanhã no campus.

- Tem certeza que não quer carona pra casa?

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- Sim, ela tem – Disse Kyle, lá atrás.

Kyle estava com sua velha jaqueta de couro e umolhar intimidador. Não estava gostando nada de teralguém dando encima do amor da sua vida.

- Onde está Craig? –Perguntou Amanda.

- Ocupado, vim pegar você. Vamos?

- Ok – Amanda olhou para Gabriel – Obrigada porme esperar – Amanda o abraçou, deixando o garotocara a cara com a expressão de macho alfa de Kyle.

- Te vejo amanhã – Ele disse.

Amanda caminhou na direção da porta. Kyle ficouolhando para Gabriel por um tempo até perceberque precisava ir embora. Entrou no carro junto deAmanda e deu a partida, sem dizer uma só palavra.

Amanda ficou olhando pra ele, parecia irritado,afinal, ele nunca perdia uma oportunidade deles asós pra falar alguma besteira ou tentar algumacoisa. O pior era que ela estava com saudade detoda aquela insistência, todos aqueles olhares,estava com saudade daquele sorriso perfeito que

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ele dava sempre que ela fazia cara de sonsa. Eleestava diferente, por algum motivo.

Os dois passaram a viagem inteira calados, Amandaaté tentou falar alguma coisa, mas Kyle fez questãode ser o mais monossilábico possível. E quandochegaram em casa, ele saiu do carro primeiro,praticamente pulou e correu até a entrada. Ela ficoulá, parada, sem entender nada. Ou até mesmo, sementender a si mesma.

Fechou a porta do carro devagar e entrou na casa.Só de olhar para aquele hall ela lembrava dequando foi atacada e pensou que seu filho tinhamorrido. Ainda estava com uma atadura na mão,ainda doía, e ainda sentia medo, seria difícilesquecer uma coisa dessas sentindo tanta coisa.

Ela subiu as escadas e caminhou até o quarto deKyle, ele tinha deixado a porta aberta. Estavadeitado em sua cama, selecionando algumasmusicas no celular pra ficar escutando.

- Posso entrar? –Perguntou ela, após dar duasbatidas na porta.

Kyle olhou pra ela, intrigado. Amanda nunca ia àseu quarto, principalmente depois do que

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aconteceu entre eles dois. Tinha tanto medo deficar desconcertada na frente dele, que evitava oquanto podia.

- Pode.

- Onde Craig está?

- Foi comprar algumas coisas pro Matty – Kylevoltou a atenção para seu celular, estava apenasfingindo que suas musicas eram mais importantesque falar com Amanda.

- E a Senhora Fuller?

- Saiu com Matty e a babá, pensei que vocêsoubesse.

- Bom, eu não sabia.

- Que tipo de mãe não sabe onde seu filho está? –Ele hesitou por um segundo - Quer saber? Esquece–Depois de falar, colocou seus fones de ouvido.

- Eu sei o que você está tentando fazer, me dar ogelo pra ver se eu corro atrás, não vai funcionar.

- Não me diga... – Kyle deu um sorrisinho irônico.

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Eles não sabiam, mas Craig estava andando pelocorredor, chegando próximo o suficiente para ouviro que estavam falando. Estava com uma sacola decompras na mão e um sorriso nos lábios, queria sóver a cara de Amanda quando visse o que ele tinhacomprado. Ele parou quando ouviu a voz deAmanda, não sabia o que ela podia estarconversando com seu irmão se eles se odiavam.

- Kyle, a gente não pode ficar junto, eu já expliqueiporque – Amanda se aproximou dele – Aquilo foium erro, nunca deveria ter acontecido.

- Amanda, eu sou o erro, eu sou a ovelha negra dafamília, lembra? Então não se preocupe, seusegredo está guardado comigo.

- Isso não é justo...

- Sabe o que não é justo?– Kyle levantou – Você meolhar o tempo todo, você pensar em mim, vocêolhar nos meus olhos e dizer que não sente nadaquando eu sei que você sente. Isso é injusto,Amanda. Não comigo, não com Craig, mas também,com você mesma.

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- Vocês dormiram juntos? –Perguntou Craig, daporta, estava com uma expressão de choque.

As expressões de Amanda e Kyle mudaramcompletamente. Eles também pareciam em choque,nem acreditavam que Craig estava ali, diante deles,querendo uma resposta. E se Kyle bem conhece seuirmão, sabe como ele vai reagir. Era melhor tirá-lodali, fazê-lo se acalmar e depois conversar numaboa, antes que aquilo custasse o futuro de Amandanaquela casa.

- Craig, não é assim, você precisa ficar calmo... –Kyle se aproximou, Craig olhava pra ele com nojo.

- Isso é verdade, Amanda?– Craig olhou pra ela – Éverdade que vocês dormiram juntos?

- Foi tudo minha culpa, Craig, eu que insisti, elaestava bebendo, não sabia o que estava fazendo.

Craig não ligou pras palavras do irmão, ele estavafitando a expressão de vítima de Amanda, tambémcom nojo. Não podia acreditar que a garota porquem ele fez tudo estava dormindo com seu irmão.Era uma traição sem perdão que ela não tinha comonegar, seu olhar dizia muito. Ele não dizia apenasque ela tinha dormido com Kyle, também dizia que

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ela sentia alguma coisa por ele e por isso elesficaram juntos.

- Eu não acredito em você...

- Craig...

- Eu não acredito em você!– Craig gritou e atirousua sacola de compras na parede.

Amanda tremeu com o susto, Kyle apenas fechou osolhos, era realmente o fim.

- Como você pôde fazer isso comigo, Amanda?Depois de tudo o que eu fiz você transa com oprimeiro que aparece!

- Para! – Pediu ela, já tinha começado a chorar.

- Ah, você quer que eu pare? – Ele riu, parecia umpsicopata histérico – O que mais você quer, já quetransar com meu irmão não foi o suficiente?

- Craig, já chega! – Pediu Kyle, estava se sentindoobrigado a bater no irmão só pra ele parar de fazerescândalo.

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Craig olhou pra ele, ainda com o sorriso irônico quenão fazia jus as lágrimas presas nos olhos. Estavaindignado com a situação, pois de algum jeito,Amanda e Kyle pareciam não ser os vilões.

- Querem saber? Vocês se merecem. Eu vouembora daqui – Craig saiu bufando pela porta,Amanda correu atrás dele, implorando para eleouvi-la.

Só no que ela conseguia pensar era em como suavida iria ficar. Sem Craig, ela não tinha mais nada.Ele era o único que a aceitava, o único que poderiaamar Matty como se fosse seu filho, ele era a únicaesperança dela finalmente colocar seu sofrimentono passado e começar uma vida nova, e tudo foiestragado porque ela se apaixonou por seu irmão.Estava achando que merecia tudo o que lheaconteceu por ser uma pessoa tão ruim.

Kyle correu atrás deles, estava com medo queAmanda sofresse mais do que já havia sofrido, nãoera justo. Estava pensando em assumir toda aculpa, até mesmo, dizer que a drogou para quepudesse se aproveitar dela. Só assim as coisasvoltariam ao normal. Ele era ovelha negra dafamília, e não tinha nada a perder. Amanda, porém,tinha muito.

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- Craig, espera! – Gritou Amanda, já no andar debaixo.

Craig parou, estava em frente a porta, contando deum até dez pra não fazer uma besteira, sabia quenão podia fazer nada mesmo que estivessemagoado demais.

- Por favor, apenas me escuta! – Amanda fungou,tentou prender o choro pra conseguir falar – Porfavor, eu preciso de você...

- Você precisa de mim... –Craig deu um ar de risos.

Kyle desceu as escadas e ficou ao lado de Amanda,olhando pro irmão. Percebeu quando ele se virou,seus olhos estavam vermelhos, era a força queestava fazendo pras lágrimas não caírem.

- Você não precisa de mim, Amanda, você quer seaproveitar do que eu sinto pra fazer sua históriamudar, pra poder ter um futuro depois que tudoaquilo aconteceu. E quer saber? Agora eu entendoporque você passou o que passou, você fazqualquer ser humano ter nojo de olhar pra você –Craig abriu a porta pra sair de casa, mas parou.

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Então, tudo aconteceu muito rápido. Ghostfacecortou a garganta de Craig num movimento rápido,da esquerda pra direita. O garoto colocou a mãopro sangue parar de jorrar, mas era tarde demais.Ele caiu pro lado, tentando falar alguma coisa,estava dando seus últimos suspiros enquantoAmanda gritava e chorava por sua causa.

- Não! – Ela gritou.

O assassino a atacou, Kyle teve que defendê-la ouentão a faca iria acertar seu rosto. Ele deu um socono assassino e depois pegou um vaso da mesinhaao lado para jogar nele. Antes que pudesse acertá-lo, o assassino avançou, fazendo-os cair no chão.

Amanda se afastou, conseguiu se levantar com aajuda da parede. Correu até a sala pra pegar algumacoisa e se defender.

O assassino, encima de Kyle, tentou esfaqueá-lo nopeito, mas o garoto segurou sua mão. Eles ficarammedindo forças até Amanda acertar o telefone nacabeça do assassino. Ele caiu pro lado, mas teveforças o suficiente para cravar a faca na coxa deKyle antes que ele levantasse.

- Merda! – Ele gritou.

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Amanda o puxou pra sala quando a faca foi retirada.Ela o jogou no chão e correu até onde o senhorFuller guardava as armas. Quando virou pra porta, oassassino estava correndo em sua direção. Elaapontou a arma e disparou no peito dele. As balasacabaram e mesmo assim ainda estava puxando ogatilho.

Ghostface caiu no chão, sua faca foi parar perto deonde Craig estava morto. Amanda aproveitou paraajudar Kyle, ele estava segurando a coxadesesperado porque não parava de sangrar.

- Vem comigo – Ela colocou seu braço em volta doombro e o levantou.

Olhou pro local onde vira o ghostface jogado, elenão estava mais lá. Mas como, se ela tinha acabadode esvaziar uma arma em seu peito?

- O que foi? – Perguntou Kyle.

- Ele não está mais ali, ele estava ali...

Como se fosse um milagre, eles ouviram as sirenesdos carros de polícia. Olharam pela janela de vidro

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da sala, os carros estavam parando no jardim dacasa.

- Você chamou a policia? –Perguntou Kyle.

- Não... Vamos – Ela andou com ele pendurado atéa porta.

Dois policiais entraram na casa e apontaram asarmas pra eles pensando que poderiam sercriminosos. Eles pararam de andar e ficaramolhando, um dos policiais correu pra avisar aalguém que tinha gente morta dentro da casa. Ooutro policial correu até Kyle e Amanda.

- Delegado, tem um cadáver dentro da casa! –Gritou um policial.

- O que? É Amanda? – O delegado correu até aporta.

- Não senhor, é um homem. Deve ter uns 20 anos,está na porta da casa.

O delegado entrou na casa e viu um policialcolocando Amanda e Kyle no chão. Ele foi até lá,comovido pelo olhar de Amanda. Ele conheciaaquele olhar, já tinha visto muitas vezes na mesma

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garota e era cruel demais vê-lo novamente. Ela játinha passado por tanta coisa que parecia estar seperguntando porque merecia tudo aquilo.

- Amanda, você está bem?

- Ele matou Craig...

O delegado olhou pra trás, viu Craig no chão, estavacom os olhos abertos.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo, vamos pegar essedesgraçado...

- Como você sabia?

- Recebemos uma ligação de um vizinho dizendoque alguém estava rodeando a casa, quandopercebi que era a sua vim o mais rápido que pude.

- Obrigada... – Amanda limpou suas lágrimas erecostou sua cabeça na parede da escada, estava sesentindo cansada.

Cansada daquela vida, não queria mais ter que lutarpra sobreviver como estava fazendo, não queriamais ver ninguém machucado por sua causa, sóqueria uma vida normal como a de qualquer outra

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pessoa, mas parece que a morte vai sempre segui-la.

- Vamos chamar uma ambulância para Kyle, vai ficartudo bem, Amanda...

- Não vai... – Disse ela, a voz sem vida, o olharperdido – Eu sou o anjo da morte... Nunca vai ficartudo bem.