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A resposta dos oceanos o papel principal dos oceanos nas mudanças do clima corresponde a uma acção de inércia térmica. Enquanto a atmosfera reage muito rapidamente, nalgumas dezenas de dias, a uma perturbação brusca do equilíbrio radiactivo, o oceano, dada a sua capacidade para absorver o calor, retarda a resposta do sistema por várias décadas. Tal atraso da resposta significa que o aquecimento resultante do exce- dente de gases de efeito de estufa, que nós já injectá- mos na atmosfera, só se manifestará plenamente dentro de 20, 30 ou 40 anos. Supõe-se que um conhecimento preciso deste retardamento será da maior importância para as estratégias de decisão preventivas. Os modelos do oceano dão-nos uma estimativa deste tempo que, para além de depender da circulação oceânica no seu conjunto, difere con- soante as regiões. Assim, é no Norte do Atlântico e no oceano Austral, locais onde a água de superfície mergulha em profundidade, que o retardar do aque- cimento é mais longo. Todavia, a capacidade que o oceano possui para difundir o calor em profundidade permanece difícil de validar a priori de forma verdadeiramente quan- titativa. Por um lado, sabemos medir a maneira

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A resposta dos oceanos

o papel principal dos oceanos nas mudanças doclima corresponde a uma acção de inércia térmica.Enquanto a atmosfera reage muito rapidamente,nalgumas dezenas de dias, a uma perturbação bruscado equilíbrio radiactivo, o oceano, dada a suacapacidade para absorver o calor, retarda a respostado sistema por várias décadas. Talatraso da respostasignifica que o aquecimento resultante do exce-dente de gases de efeito de estufa, que nós já injectá-mos na atmosfera, só se manifestará plenamentedentro de 20, 30 ou 40 anos. Supõe-se que umconhecimento preciso deste retardamento será damaior importância para as estratégias de decisãopreventivas. Os modelos do oceano dão-nos umaestimativa deste tempo que, para além de dependerda circulação oceânica no seu conjunto, difere con-soante as regiões. Assim, é no Norte do Atlântico eno oceano Austral, locais onde a água de superfíciemergulha em profundidade, que o retardar do aque-cimento é mais longo.

Todavia, a capacidade que o oceano possui paradifundir o calor em profundidade permanece difícilde validar a priori de forma verdadeiramente quan-titativa. Por um lado, sabemos medir a maneira

como os elementos radioactivos produzidos pelasexperiências nucleares intensivas dos anos 50 e60 se difundiram nas profundidades oceânicas;por outro, sabemos quantificá-los, pelo que é possí-vel introduzir estes elementos em modelos de cir-culação oceânica e comparar os resultados obtidoscom as observações. No entanto, a analogia entre ocalor e estes marcadores passivos é uma analogiaparcial, pois o calor, ao difundir-se, reage sobre oescoamento por forma a criar efeitos de expansãoe de flutuabilidade. É, pois, impossível validarcompletamente os modelos de difusão do calor nooceano, através da quantificação da difusão dosmarcadores passivos.

O retardamento da resposta oceânica resultanteda inércia térmica dos oceanos tem outras conse-quências que, também.elas, não facilitam a valida-ção, nem dos modelos de clima, nem dos modelosde mudança climática. Já vimos atrás, que o climada Terra apresenta flutuações naturais por períodosna ordem do meio século e mais. Ora, períodosdesta ordem não chegam para o oceano profundoatingir o equilíbrio; a sua circulação varia sem ces-sar através de sucessivos estados transitórios, talcomo a atmosfera varia em alguns dias. Tal capaci-dade natural e permanente de variação, sobrepon-do-se a uma tendência lenta para o aquecimento,torna muito difícil a detecção deste. Suponhamos,por exemplo, que o oceano se encontra actualmentenuma fase de arrefecimento; se isto acontecer, estafase vai mascarar durante um tempo - até que ela seinverta - o impacte climático do efeito de estufaantrópico.

A lenta variabilidade do oceano torna igualmentemais difícil a previsão de uma mudança climática.Para prever a evolução do clima no futuro, é precisodispor de modelos interactivos do sistema atmos-fera-oceano-gelos marinhos; mas é preciso, igual-mente, conhecer o estado inicial deste sistema. Noque diz respeito à atmosfera, o seu estado inicial nãotem importância, na medida em que possui temposde resposta muito breves - de alguns dias a algumasdezenas de dias. A circulação oceânica, pelo contrá-rio, varia naturalmente por períodos de algumasdezenas de anos, variações estas que são do domí-nio da previsão climática. Para as prever, será poisnecessário conhecer de maneira precisa o estado ini-cial do oceano. Ora, nós ainda conhecemos bastantemal o oceano profundo. Apesar dos satélites nosterem ensinado muito sobre a circulação atmosfé-rica, o oceano mantém-se impenetrável às observa-ções espaciais. Uma grande campanha internacionalde quantificação, como a da World Ocean Circula-tion Experiment (WOCE),apesar de possuir enormesmeios de actuação, até agora, ainda só nos trouxeinformações fragmentadas, incapazes de nos daremum conhecimento coerente e completo da circulaçãoglobal do oceano, absolutamente necessário parapodermos prever a evolução climática no futuro.

o CLIMA DA TERRA! ROBERT SADOURNY; TRAD. ANA MARIA NOVAlS

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PUBLICAÇÃO:DESCR. FlsICA:

COLECÇÃO:

NOTAS:

ISBN:

Sadourny, Robert; Novais, Ana Maria, trad.Lisboa: lnst. Piaget, D.L. 1995

143 p. : il. ; 21 cm

Biblioteca básica de ciência e cultura; 18

Til. orig.: Le climat de la terre

972-8245-18-1