À Tabela 75

4
Os trabalhadores começam a estar fartos de ser iludidos: Os partidos que se têm sucedido na governação, servindo-se da boa fé dos trabalhadores, prometem tudo em cam- panha eleitoral, para fazerem o contrário logo que se apanham no poleiro. Na rua, nos locais de trabalho, em toda a parte, ouvem-se as piores acusações ao actual governo, por ter traído as suas promes- sas eleitorais. Asseverou, a pés juntos, que não aumentaria os impostos. E foi a primeira coisa que fez. Jurou, a pés jun- tos, que revogaria o Código de Trabalho do Bagão Félix, mas agora está a conso- lidá-lo e agravá-lo, com os aplausos acalorado do grande patronato e a mule- ta habitual da UGT. Mas não se fica por aqui a quebra escandalosa dos compromissos assu- midos pelo PS na última campanha elei- toral. O sigilo bancário, de que Portugal é o grande campeão, mesmo à frente dos Estados Unidos, acaba mais uma vez de ser adiado pelo governo, depois de prometer que acabaria com ele em seis meses. E por aí além, seria um não mais acabar no desbobinar das mentiras deste governo. Mas vamos fixar-nos no problema dos impostos. Prometeu o Sócra- tes que aumento dos impostos não seria com ele. Mas depois, tratou de aumentar o IVA, que é o imposto mais cego, que sobrecarrega fun- damentalmente os mais pobres. Depois há a piedosa hipótese, acei- te por alguns, segundo a qual o governo deparou com uma situa- ção financeira muito mais grave do que esperaria. Ora, como todos sabemos, esta vergonhosa e ignó- bil mentira até deveria pagar direi- tos de autor ao Durão Barroso, que foi o seu inventor, há três anos atrás Já para não falarmos dos “boys” e do assalto aos “tachos” oficiais, porque aí as diferenças são apenas numéricas. Um partido diz que só meteu mil e tal e o outro responde que encaixou menos 234 “boys”... Um roubo e uma vergonha para o País. Ao que parece ninguém tem mão nesta “ladroagem”. Basta ver o que se passa no cami- nho de ferro, onde as soluções dos verdadeiros problemas do sector vão sendo sucessivamente adiados, enquanto a situação se agrava, ao som patético de hinos triunfais dos futuros mais risonhos para todos... Aqui, como em todo o País, sobra propaganda onde escasseiam medi- das concretas para resolver os pro- blemas. Mas enquanto os verdadei- ros problemas não se resolvem, vão- se arrumando os amigos dos ami- gos, dos ministros e dos secretários de estado, porque não há nada como ter uma porta aberta nos gabinetes que colocam os “bois”. Quanto a nós, que estamos fora da jogada, resta-nos gritar: BASTA! E lutar por uma mudança a sério. ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 75 EDITORIAL

description

Orgão da Comissão de Trabalhadores da CP

Transcript of À Tabela 75

Os trabalhadores começam a estar

fartos de ser iludidos: Os partidos que se têm sucedido na

governação, servindo-se da boa fé dos trabalhadores, prometem tudo em cam-panha eleitoral, para fazerem o contrário logo que se apanham no poleiro. Na rua, nos locais de trabalho, em toda a parte, ouvem-se as piores acusações ao actual governo, por ter traído as suas promes-sas eleitorais. Asseverou, a pés juntos, que não aumentaria os impostos. E foi a primeira coisa que fez. Jurou, a pés jun-tos, que revogaria o Código de Trabalho do Bagão Félix, mas agora está a conso-lidá-lo e agravá-lo, com os aplausos acalorado do grande patronato e a mule-ta habitual da UGT.

Mas não se fica por aqui a quebra escandalosa dos compromissos assu-midos pelo PS na última campanha elei-toral. O sigilo bancário, de que Portugal é o grande campeão, mesmo à frente dos Estados Unidos, acaba mais uma vez de ser adiado pelo governo, depois de prometer que acabaria com ele em seis meses. E por aí além, seria um não mais acabar no desbobinar das mentiras deste governo.

Mas vamos fixar-nos no problema

dos impostos. Prometeu o Sócra-tes que aumento dos impostos não seria com ele. Mas depois, tratou de aumentar o IVA, que é o imposto mais cego, que sobrecarrega fun-damentalmente os mais pobres. Depois há a piedosa hipótese, acei-te por alguns, segundo a qual o governo deparou com uma situa-ção financeira muito mais grave do que esperaria. Ora, como todos sabemos, esta vergonhosa e ignó-bil mentira até deveria pagar direi-tos de autor ao Durão Barroso, que foi o seu inventor, há três anos atrás Já para não falarmos dos “boys” e do assalto aos “tachos” oficiais, porque aí as diferenças são apenas numéricas. Um partido diz que só meteu mil e tal e o outro responde que encaixou menos 234 “boys”...

Um roubo e uma vergonha para o País. Ao que parece ninguém tem mão nesta “ladroagem”.

Basta ver o que se passa no cami-nho de ferro, onde as soluções dos verdadeiros problemas do sector vão sendo sucessivamente adiados, enquanto a situação se agrava, ao som patético de hinos triunfais dos futuros mais risonhos para todos...

Aqui, como em todo o País, sobra propaganda onde escasseiam medi-das concretas para resolver os pro-blemas. Mas enquanto os verdadei-ros problemas não se resolvem, vão-se arrumando os amigos dos ami-gos, dos ministros e dos secretários de estado, porque não há nada como ter uma porta aberta nos gabinetes que colocam os “bois”.

Quanto a nós, que estamos fora da jogada, resta-nos gritar: BASTA!

E lutar por uma mudança a sério.

ORGÃO DA COMISSÃO DE TRABALHADORES DA CP Nº 75

EDITORIAL

Para os senhores que estão à frente dos destinos da

CP, a propaganda parece ser tudo e todo o resto é paisa-gem. Na verdade, os senhores que, por obra e graça das influências políticas, se encontram ao leme desta empre-sa pública, parece terem tomado o freio nos dentes e par-tido numa correria desenfreada em busca de uma fama que lhes foge cada vez mais.

Agora foi o negócio da promoção da marca Comboios de Portugal junto das camadas mais divertidas da juven-tude, que não abrange, como está bem de ver as dezenas de milhares de jovens desempregados.

MIL E UM BILHETES

DO MUSICard CP

Seria bom, já que mais não fosse em nome da transpa-rência, que o CG fizesse um balanço objectivo dos resul-tados (positivos ou negativos), desta operação mediática.

Seria bom que fosse apurado o custo real da operação, incluindo a formação de comboios, a automotora VIP, o aluguer de autocarros, a compra de tendas, a publicidade radiofónica, etc. Isto para não falarmos já dos beberetes e dos jantares que a CP ofereceu na campanha de lança-mento da operação.

Mas admitindo mesmo (o que está longe de ser verda-de) que a operação fora um êxito, quem é que, no seu perfeito juízo, pode aceitar que se faça tanto estardalhaço para atrair passageiros, ao mesmo tempo que se ponta-peiam os que já cá estão. Como é que se faz tanta força supostamente para atrair passageiros, ao mesmo tempo que os comboios são obrigados a parar em certas esta-ções, para os utentes irem à casa de banho, em virtude das que existem a bordo estarem fora de serviço.

Na verdade, enquanto o CG se empenha nas suas gran-des campanhas de propaganda ou “marketing”, como agora de diz, no terreno, isto é, ao longo da linha, nos comboios, nas estações, as coisas funcionam precisa-mente no sentido inverso. Se nos festivais de verão se gastam milhares de euros para atrair mais passageiros para a CP, no terreno faz-se, em simultâneo, precisamen-te o contrário. Empurram-se os passageiros para o trans-porte individual e para a rodoviária privada.

Está neste momento em pleno funcionamento na CP um novo plano de atirar os utentes para o colo das rodoviá-rias. Por decreto, o CG a CP só garante os enlaces quan-do a diferença entre a chegada de um comboio e a parti-da do outro for superior a vinte minutos. Quer dizer que um utente que vai de Lisboa para a Régua por exemplo pode estar sujeito a chegar ao Porto e por motivo de atra-so do comboio em que viajou, ter de esperar algumas horas pelo próximo comboio que o deve levar até à Régua. E os próprios trabalhadores que vendem os bilhe-tes têm de pôr no bilhete a informação ao utente que não é garantido o enlace. 2

E o pior disto tudo é que, se a propaganda é feita com enternecedores acordes de violino, no terreno os passa-geiros, ou utentes, ou clientes como o CG prefere, são tratados abaixo de cão. Poderíamos referir aqui centenas de casos em que o desprezo pelos passageiros se mete pelos olhos dentro, só não sendo visto por quem não quer ver, que são, como todos sabemos, os piores cegos. Mas porque o espaço não abunda e a paciência dos nossos leitores também não é inesgotável, vamos ater-nos apenas a uma meia dúzia de situações que se nos afiguram clara e inequivocamente demonstrativa de que a propaganda do CG, onde a CP está a gastar o que tem e o que não tem, anda afastada da sua realidade centenas, talvez milhares de anos luz.

Em Campolide estão paradas há algum tempo dez UQEs, por falta de rodados...

Noutros pontos da linha há a registar vários casos de máquinas a diesel, que estão paradas por falta de areia...

Ainda noutro ponto da linha mais a Sul, deixa-se uma máquina a trabalhar 24 horas por dia, porque, se se parar, fica logo sem bateria para arrancar de novo o motor die-sel... É que não há verba para comprar uma bateria nova...

Nas oficinas da EMEF no Entroncamento, logo ali à entrada, podem ver-se dezenas de motores de tracção que aguardam reparação há mais de um ano...

Na Linha da Beira Baixa, se as obras de modernização, em curso, não incluírem a correcção de alguns pontos do percurso, a electrificação não vai impedir que os comboios continuem a circular com velocidades do princípio do século passado. Ou as curvas mais apertadas são corrigi-das, ou a electrificação de pouco servirá...

Com a crescente supressão de comboios regionais e Inter-Regionais os Alfas e os Inter-Cidades andam numa roda viva, não dando tempo sequer para a limpeza e des-pejo dos dispositivos sanitários. Uma porcaria...

E o que dizer das ligações para Évora? Quando uma motora avaria os passageiros são transportados por táxis, a partir de Casa Branca, e as ligações para Beja e para o Algarve ficam comprometidas...

Estes são apenas alguns exemplos da situação de des-leixo e desorganização que se vive ao longo da linha, ao mesmo tempo que a propaganda mais desabrida nos aponta um futuro risonho para 2010, quando a CP já for a empresa ferroviária mais próspera e mais equilibrada da Península…

É caso para dizer, em jeito de remate, que estamos mais uma vez perante uma situação em que nos falam duma grande vindima, mas que, afinal, se resume a uma miserá-vel colheita com muita parra, mas com muita pouca uva.

Para que o novo sistema de empurrar passageiros para longe do caminho de ferro se torne ainda mais eficaz, a CP inventou um processo de aviso, que consiste de um “A” desenhado pelo factor no próprio bilhete. Com este “A” dá-se a CP por cumpridora das suas obrigações como concessionária de um serviço público.

A CT já contactou o CG para pedir explicações sobre o caso.

Esta medida do CG, para se furtar às suas obrigações face aos passageiros, pode até ser bem intencionado, mas o que dela resulta é o abandalhamento mais descarado das regras a que está vinculada.

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

A VERDADE DA CP

MUITA PARRA E POUCA UVA

CP DEIXA UTENTES PENDURADOS

1

EM ESPINHO DINHEIRO MAL GASTO

Em carta enviada ao CG a CT questionou o facto de se ter deixado de vender bilhetes internacionais na estação de Espinho. Esta decisão, que os trabalhadores não com-preendem, foi tomada depois da empresa ter gasto milha-res de euros na montagem de todo o equipamento para permitir a venda que, de imediato, foi eliminada.

Chama-se a isto gastar mal o dinheiro do erário público, com a agravante de que a venda de bilhetes para percur-sos internacionais agradava bastante aos utentes, os quais têm agora de se deslocar ao Porto para fazer o que podiam fazer na sua terra.

É assim que querem fazer da CP, agora no prazo de qua-tro anos, a ferroviária mais equilibrada da península?

Deixem-nos rir!

PASSES MAGNÉTICOS PARA CONCESSÕES

A CT solicitou ao CG que adopte com urgência as medi-das que julgar convenientes para que o direito às conces-sões, por todos os trabalhadores no activo e seus familia-res seja assegurado em toda a rede, incluindo os serviços de longo curso e no Lisboa Viva e Andante (Porto).

Nesta diligência a CT não esqueceu os reformados e suas famílias com direito a concessões.

Na carta que enviou ao CG a CT sugeriu ainda que o car-tão magnético a distribuir aos utilizadores permita o carre-gamento e a respectiva descarga da quilometragem a que os beneficiários tenham direito, quando for o caso. Pou-par-se-ia assim muito trabalho e papel.

VAGÕES FOGEM DAS ESTAÇÕES

Num pequeno espaço de tempo registaram-se duas “fugas” de vagões, os quais acabaram por descarrilar e sair da linha, evitando assim, por mera sorte, consequên-cias bem mais graves.

O primeiro caso verificou-se na estação da Barquinha e o segundo na do Setil.

No primeiro caso estava para ser expedido pelo Entron-camento o Intercidades da Beira Baixa, pelo que se pode dizer que foi um milagre não se ter ali dado um desastre de consequências imprevisíveis.

Logo que teve conhecimento destes incidentes, que não são isolados, a CT questionou o CG para se inteirar das circunstâncias em que os mesmos ocorreram e, acima de tudo, para obter informação acerca das medidas concretas que foram (ou não foram) adoptadas, para que casos tão graves como estes não voltem a repetir-se.

Esperemos que a culpa não morra solteira pois que ao que se nos afigura, no caso da Barquinha aqueles vagões ali foram deixados estacionados, sob a coordenação e supervisão de um quadro superior da CP Carga do Entron-camento e que por “mero acaso” também é quem tem feito os inquéritos respectivos.

MAIS DE UM ANO PARA ELABORAR UM HORÁRIO...

Não deixa de parecer estranho, mesmo muito estranho, que o CG não seja capaz de pôr um horário cá fora em menos de 14 ou 15 meses.

Bem sabemos que as famosas unidades de negócio, que serviriam para resolver todos os problemas e acabar com o défice de exploração, afinal só tem servido para arranjar dezenas de lugares de administradores e mangas de alpa-ca, como está a ver-se com a elaboração dos horários, transformaram a rede numa verdadeira Babilónia, em que todos falam, falam (mas baixinho, não se vá acabar o tacho), mas ninguém se entende

E ISSO DOS VAGÕES PARA A BÓSNIA?

Ao fim de muitos meses de silêncio sobre o negócio do fornecimento de algumas dezenas de vagões para a Bósnia, parece-nos ser oportuno que o CG da CP dê algumas expli-cações públicas sobre o que está a passar-se.

Seria natural que uma operação desta envergadura tivesse sido precedida de estudos sérios. Foi? E em que pé encon-tram as coisas neste momento?

Será que a CP vai ter algum lucro com esta operação, ou, antes pelo contrário, o estranho silêncio que tem rodeado tudo isto nos últimos tempos começa a indiciar o receio de estarmos perante uma operação mal estudada e eventual-mente ruinosa?

A CT deseja que tudo isto seja esclarecido e com resulta-dos positivos para a CP (EMEF) e para o País. Oxalá assim aconteça.

Está a começar a ser conhecida em toda alinha a redu-

zida preocupação que os responsáveis pela CP Carga têm com a legalidade laboral. A juntar a muitos e variados abu-sos nomeadamente com as escalas de serviço, agora até chega ao desplante de as chefias exigirem dos trabalhado-res para fazerem dez e doze horas consecutivas de traba-lho diário.

Ainda na CP Carga, apareceu uma nova raça de chefe

hierárquico, ao qual se pode dar a Denominação de Ori-gem Protegida, de “Mau Mau”. Isto porque ao que conse-guimos apurar, já passámos das ameaças disciplinares às ameaças físicas se o trabalhador não fizer o serviço que o “senhor” quer impor.

E não foram só um ou dois trabalhadores os alvos. Já se ouvem alguns slogans como: “Volta Zé da Pólvora,

que estás perdoado”.

Consta também que a CP Carga regista um número de

processos disciplinares levantados a trabalhadores da área de produção, que ultrapassa em muito o conjunto de todos os restantes trabalhadores da CP. Será que não têm mais nada que fazer ou estão a tentar manter os trabalha-dores aterrorizados para assim poderem fazer a sua dita-durazinha pessoal.

Por esta banda muito se tem falado dos negócios

escuros de um certo taxista que tem engordado e muito à custa da CP. O qual recentemente teria de ser obrigado a devolver umas centenas de contos que teria cobrado a mais à CP. Mas, ao que consta nos corredores, depois do empenho de um amigalhaço a devolução foi reduzida substancialmente, tendo o valor não devolvido sido dividi-do irmãmente entre os dois.

Continua no segredo dos “Deuses”, o desaparecimen-

to de milhares de sacos de cimento Sécil, da estação de Praias do Sado. De certeza que não estão interessados em mexer no assunto, uma vez que ao que consta, aquilo é uma espécie de um ninho de vespa que não convém aba-nar e muito menos abrir.

3

“À TABELA” Nº 75

OUTUBRO DE 2005

Orgão da Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Redacção - Secretariado da Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Composição e Impressão - Comissão de Trabalhadores da CP-EP

Calçada do Duque, 14 1249-109 LISBOA

Tel: 213215700 Ext: 23 739 Fax: 213430738

ECOSECOS DA CALÇADADA CALÇADA

DA VIA NOTÍCIAS DA VIA NOTÍCIAS DA VIA

O CAMINHO DE FERRO E AS AUTÁRQUICAS

A minha Teresa, que de parva, como

sabemos, tem mesmo muito pouco, por vezes chega a parecer-me estra-nha, ou melhor, esquisita, com as coi-sas que inventa, ou melhor ainda, com as coisas que lhe vêm à cabeça.

Calculem lá que um dia destes foi visitar uma prima, a Alzira, que mora ali para os lados de Alhos Vedros. E quando voltou a casa trouxe-me esta grande novidade:

Aquilo lá na CP está cada vez melhor... Agora quando não querem cumprir as suas obrigações para com os utentes basta-lhes escrever uma letra no bilhete e fica tudo em dia...

- Estás a falar de quê, mulher? - Estou a falar do “A”... - Do “A”, mas qual “A”? - Então não sabes que nos bilhetes

dos comboios regionais e inter-regionais é agora desenhado pelo fac-tor, um “A” como prova de que o uten-te foi avisado de que os enlaces só são garantidos se entre a chegada de um comboio e a partido do outro decorrer mais de vinte minutos?

- Isso não pode ser, Teresa... Então não vês que se trata de um serviço público, com percursos, tarifas e obri-gações legalmente estabelecidas no contrato de concessão da CP?

- Eu sei isso tudo, Zé, mas, pelos vistos, quem não sabe são os senho-res administradores da CP e das suas estrambólicas unidades de negócio, que só serviram, pelo que se vê, para inventar problemas e, por que não dizê-lo, para multiplicarem por seis ou por sete o número de gestores, sem contar com o batalhão de secretárias, acessores, correligionários e outros

apêndices que todos conhecemos… - Mas, afinal, conta lá o que se pas-

sou com a Alzira... - Foi só isto: Ao comprar o bilhete

para ir à terra, num trajecto que tem um enlace com outro comboio, foi-lhe dito que a ligação só seria asse-gurada se o comboio inicial não tivesse um atraso superior à hora de partida do outro, uma vez que não era assegurado o enlace, por que entre os dois comboios a diferença entre chegada e partida era inferior a vinte minutos... E para que não haja dúvidas da força e da imperatividade desta lei de trazer por casa, o factor para parecer mais moderno, é obri-gado a desenhar no bilhete um gran-de “A”, para que o utente não possa dizer que não foi avisado...

- Então e se o comboio chegar com mais atraso que a diferença entre os dois?

- Aí o passageiro, porque é de pas-sageiros que se trata, fica tramado. A CP sacode pura e simplesmente a água do capote e está-se pura e sim-plesmente borrifando para os proble-mas que a sua quebra de compro-misso causar às vítimas da sua irres-ponsabilidade... Há casos em que os passageiros, por vezes são obriga-dos a esperar uma noite inteira, pelo próximo comboio...

- Mas aí, Teresa, as pessoas não podem dizer que não foram avisa-das...

- Na verdade, Zé, lá está o tal “A” a dizer que o aviso foi feito, pelo que os utentes só caíram na esparrela porque quiseram... Mas será mesmo assim? Será que tinham alternativa?

Será que um concessionário de um serviço público, ao qual a lei exige lealdade com os utentes e fiabilidade nos serviços prestados, se pode des-cartar dos seus deveres com a facili-dade que representa o desenho de um simples “A”, no verso do bilhete...- Mas a verdade é que ninguém pode dizer que não foi avisado...

- Lá estás tu? Então não sabes que os avisos que cada um faz para se livrar das suas obrigações legais não têm qualquer valor, porque são nulos para todos os efeitos legais?

- Não me digas, Teresa... - É o caso, por exemplo, das gara-

gens, que fixam nas paredes grandes cartazes a avisar que os donos não se responsabilizam por quaisquer danos causados nos veículos dos clientes, por exemplo em caso de incêndio.

- Nesse caso que significado tem o “A” que os factores, são obrigados a escrever nos bilhetes?

- Isso depende da imaginação de cada um. A minha prima Alzira, que não é parva de todo, atribui-lhe o sig-nificado de AZAR. Azar por ter caído nas mãos de gente tão irresponsável. Mas já o marido dela, que é do Benfica mas não é trouxa, prefere dar-lhe o significado de AUTOCARRO. Isto é, um apelo quase irresistível para que as pessoas fujam dos comboios para as camionetas...

- Olha que nunca tinha pensado nis-so, mas és capaz de ter razão, Tere-sa...

- Alto lá, Zé... Não sou eu que tenho razão. Quem disse isso foram a minha prima Alzira e o marido.

- Mas eles têm duas explicações diferentes para o “A” de que estamos a falar...

- Parece que são explicações dife-rentes mas, no fundo o que elas são é convergentes. Não te parece, Zé?... - Confesso que não percebi lá muito bem, mas como a minha Teresa sem-pre teve destas tiradas de grande pro-fundidade filosófica, acho que o melhor é mesmo ficar por aqui, não vá ainda espalhar-me…

Zé Ferroviário

“A”“A”

No próximo dia 9 de Outubro os portugueses vão ser de novo chamados às urnas para escolherem os seus repre-sentantes nas autarquias. Poder-se-á perguntar o que tem as autarquias a ver com o caminho de ferro e com os tra-balhadores ferroviários. A resposta é bem simples.

Por um lado devemos lembrar-nos de quais foram as forças políticas que, ora uma, ora outra, foram nomeando os seus homens de mão para os CG’s da CP.

Foram estes homens de mão que reduziram os postos de trabalho a um terço, sem com isso terem reduzido os pre-juízos da CP, antes pelo contrário.

Mas também não podemos ignorar quais foram as forças políticas que mandaram encerrar mais de mil quilómetros de via, muitas vezes com a cumplicidade de autarquias que assinaram o encerramento de linhas e ramais à custa 4

de uma rotunda, um chafariz, um ginásio ou até mesmo do roubo das pedras das paredes da estação da capital de dis-trito, para ornamentar a casa do cunhado do presidente da câmara lá do burgo.

No momento em que se abrem perspectivas para a reaber-tura de alguns ramais, bom será que à frente das câmaras municipais se encontrem homens e mulheres que não ven-dam os interesses das populações e dos trabalhadores.

Também será conveniente lembrar-nos do escandaloso processo de afastamento da CP do concurso à concessão da travessia do Tejo. Está hoje provado que tal operação serviu deliberadamente a FERTÁGUS, em prejuízo das populações, dos trabalhadores, da CP, e fundamentalmente do País, para engordar e encher o ... a meia dúzia de pançu-dos que só sabem comer à conta.