A TV e o Instagram: como os jornalistas usam a rede social...
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A TV e o Instagram: como os jornalistas usam a rede social para ampliar a
visibilidade e seduzir o público1
Christina Ferraz MUSSE2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG
Mariana Ferraz MUSSE3
Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Espanha
Resumo: A necessidade de estabelecer maiores vínculos com o público e diminuir a
concorrência estabelecida pelas redes sociais têm mobilizado profissionais da televisão.
Não mais apenas as emissoras compartilham o seu conteúdo na web, mas os profissionais
utilizam a rede para se aproximar de sua audiência, criando uma relação, que vai muito
além da notícia. Investigar o por quê e a forma utilizada para alcançar este vínculo, é o
objetivo deste artigo. Para tanto, utilizam-se os conceitos de autorrepresentação de
Goffman, e performance, de Paula Sibilia, dentre outros, que tentam explicar como são
tecidas as novas relações entre repórteres e apresentadores de TV e seu público.
Palavras-chave: Telejornalismo; Instagram; GloboNews; autorrepresentação; performance
Introdução
Houve um tempo em que jornalista de TV que se prezasse tinha que manter
distância das revistas de fofocas, deixar a vida pessoal sempre longe dos holofotes e jamais
ofuscar a notícia, chamando a atenção para si próprio. Pouquíssimos dentre nós
descobririam alguma particularidade da existência de Gontijo Teodoro, a “cara” do
“Repórter Esso”, ou um detalhe mais picante da vida de Luiz Jatobá, apresentador do
“Primeiro Plano”, ao lado de Cid Moreira, na antiga TV Tupi. Mas a evolução da
linguagem televisiva, o intenso aprimoramento tecnológico, e a centralidade da TV na vida
do brasileiro mudariam para sempre a relação da audiência com os telejornalistas. Aos
poucos, foram caindo as barreiras entre os noticiários e os programas de entretenimento, e,
assim, apresentadores e repórteres passaram a ser valorizados por atributos que iriam além
do bom texto e da boa voz. Nos anos 1980, locutores como Cid Moreira e Sérgio Chapelin,
da Rede Globo, já tinham virado celebridades e, nas campanhas para a primeira eleição
1 Trabalho apresentado no GP de Telejornalismo, no XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa da Intercom, evento integrante
do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Christina Ferraz Musse é jornalista, mestre e doutora em Comunicação e Cultura, pela UFRJ, professora do
PPGCOM/UFJF e líder do Grupo de Pesquisa/CNPq Comunicação, Cidade e Memória. E-mail: [email protected]. 3 Mariana Ferraz Musse é jornalista, mestre em Comunicação e Sociedade pela UFJF e doutoranda da UPF, Barcelona,
Espanha. E-mail: [email protected].
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presidencial pós-ditadura, políticos procuravam jornalistas de TV para ancorarem a
propaganda eleitoral. Na Bandeirantes, Joelmir Betting e Marília Gabriela; no SBT, Boris
Casoy; na TV Cultura, Carlos Nascimento, cada vez mais valorizados, os apresentadores
que davam palpites inauguraram um novo formato de telejornal. Repórteres
“participativos”, como Glória Maria e Francisco Dornelles, na Rede Globo, viraram
personagens de suas histórias. E a vida privada invadiu a telinha, quando Leila Cordeiro e
Eliakim Araújo se tornaram apresentadores do “Jornal da Globo” e inspiração para o quadro
“Casal Telejornal”, atração do humorístico “TV Pirata” da mesma emissora. Mas nada se
assemelharia ao cenário atual, em que repórteres e apresentadores de televisão têm trocado
com frequência o telejornalismo pelos programas de auditório, e a liberdade de atuarem em
publicidade, comercializarem produtos e se tornarem figurinhas fáceis nas revistas de
celebridades. A discrição deu lugar à espetacularização. Os limites entre a vida
profissional e a vida privada tornaram-se tênues. Com a invasão da internet, dos
dispositivos móveis e dos aplicativos para as redes sociais, jornalistas celebrizados por atuar
na TV começam a compartilhar com o público aspectos da vida privada, ao mesmo tempo,
em que utilizam as redes sociais para mostrar os bastidores de seu trabalho profissional, ou
convidar os espectadores a ver a próxima edição do telejornal. Neste artigo, procuramos
discutir essas novas formas de autorrepresentação e como elas modificam as relações entre
telejornalistas e seu público.
As redes sociais e o telejornalismo
A partir de 2003, surgiram as chamadas redes sociais ou redes sociais na internet
com diferentes propostas e ferramentas personalizadas para o funcionamento de cada rede
em específico. Essa nova forma de conexão e interação entre indivíduos culminou também
em novas formas de representação de si, outros modos de relacionar-se entre indivíduos,
novos meios de produzir e guardar memórias, de mobilizar-se e socializar. “La herencia
arquitectónica de Internet y nuevos códigos han permitido que la comunicación
interpersonal colectiva se reorganice y conforme dando lugar a los medios sociales como
‘una nueva forma de comunicación interactiva - la autocomunicación de masas’”
(CASTELLS apud GARCIA, 2014, p. 166).
A partir desse “novo” contexto das relações humanas, das formas de comunicação
em rede e das diferentes estratégias de representação de si, compreendemos a construção
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das identidades dos sujeitos no ambiente virtual como um novo espaço que deu autonomia
para o indivíduo gerir sua própria imagem e publicizar seus discursos. Esses sujeitos não
mais atendem unicamente à lógica da cultura de massa dentro da qual as diferentes vozes
deveriam fazer parte de uma massa unívoca, talvez maior que a própria individualidade.
Acreditamos que a web e em especial a web 2.0 (responsável por uma maior interatividade
on-line entre os sujeitos) colocou o indivíduo comum, que antes ocupava apenas o papel de
receptor na lógica comunicacional baseada em emissores de um lado e receptores de outro,
em um novo lugar onde ele ocupa ao mesmo tempo as duas posições: emissor e receptor,
revezando constantemente seu papel. As consequências no ambiente televisivo são
notáveis:
Hoje em dia, como as relações de comunicação e interação social estão
cada vez mais pautadas dentro da lógica da internet, há uma remodelação
das estratégias de produção na televisão, e mais especificamente, nos
telejornais. Com o público extremamente vinculado e familiarizado com
os espaços virtuais, o jornalismo passou por um processo de hibridação ao
lançar em cibermeios as extensões de seus produtos na TV. Desta forma,
sites, fanpages no Facebook, perfis no Twitter e Instagram e até mesmo
aplicações para os sistemas Android e Ios levam ao público informações
por meio de múltiplos formatos e telas (CAJAZEIRA, 2015, 201).
A produção colaborativa de conteúdo muda a lógica de confecção dos produtos
televisivos, da mesma forma que o consumo dos mesmos não obedece mais ao padrão da
hora e lugar marcados, antes justificados pela adoção de uma engessada “grade” de
programação e pelo uso de equipamentos analógicos, que impediam a recepção em
movimento ou deslocamento. Hoje, a TV e seus personagens fazem parte da vida da
audiência, em qualquer lugar e a qualquer horário, criando uma relação muito mais íntima
com cada telespectador.
As narrativas de si
Na nova ordem vigente em que é necessário estar e ser em diferentes ambientes (real
e virtual), o sujeito descobre que é possível assumir diferentes identidades em cada um
deles. Simultaneamente e paradoxalmente a essa liberdade de “ser muitos”, o sujeito passa a
buscar alguma característica que seja autêntica e própria de si mesmo para sentir-se único e
diferente dos demais. Por isso, entendemos que a contemporaneidade inaugura um
momento onde o “eu” importa mais que o “nós”. O sujeito, por conta própria, passa a falar
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sobre si, fazer imagens de si, escrever sobre si, criando narrativas e histórias que possam
dar sentido a sua própria existência. Ao mesmo tempo, o faz desesperadamente (vide a
quantidade de publicações sobre si nas redes sociais), pois é acometido por um vazio
avassalador quando percebe que ele é como “outros” dos quais tenta se diferenciar e,
portanto, busca dentro de si algo que possa ser esse diferencial criando formas de expressar
o que julga ser uma característica muito autêntica de sua personalidade.
A exposição da intimidade junto ao narcisismo e ao exibicionismo formam
atualmente a pauta da vez e nos parece que a internet e as novas configurações nas formas
de se comunicar vêm enaltecendo essas características nos sujeitos que necessitam expor a
si mesmos e a própria intimidade – aquilo que estaria mais arraigado a nós mesmos – como
uma tentativa de se diferenciar dos demais e em algum sentido criar uma autêntica forma de
mostrar-se para os interlocutores como ele é único e “especial”.
Lo que Narciso ve en el reflejo de sí mismo en el agua es el yo objeto, la
identidad reflejada en esa nueva tecnología, adaptada a las proporciones
que propone el nuevo medio. Así, en las redes sociales digitales el sujeto
queda fascinado al observar la propia imagen deformada que le devuelve
la herramienta, pensar que controla su creación y analizar cómo podría,
desde ella, modelar las impresiones sobre los otros, cómo traducir su
identidad en el nuevo entorno (CASTAÑO, 2012).
Se, para o sujeito comum, anônimo, o acesso às redes sociais significa
empoderamento, porque ele produz mensagens, e se individualiza, o que significa, para um
jornalista, que já é reconhecido como alguém que ocupa um lugar de referência na estrutura
social, criar histórias nas redes sociais? Para Musse, C. e Thomé: “[…]o telejornalismo
veicula também narrativas migrantes, que deslizam de um suporte a outro, e que não podem
ignorar as outras telas que convivem com a TV na era trans e crossmidiática, isto é, em que
a mesma informação é compartilhada em vários suportes” (2015, p. 108). Isto significa que
a TV se espraia por outros suportes, outras telas, e utiliza a interatividade que esses suportes
permitem, como a participação colaborativa da audiência na geração de conteúdos, mas
parece indicar também que a relação entre jornalista e espectador/usuário não prescinde
mais da humanização do relato e do recurso à emoção, à intimidade como elemento para
garantir o estabelecimento e a manutenção do contato. A conformação da web simula o
sentimento de uma nova relação, não mais de um para muitos, mas de um para um,
comunicação customizada, singular, que se assemelha àquela mantida em privacidade, torna
mais rápido e eficiente o intercâmbio entre os usuários e cria a ilusão de uma cumplicidade
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nem sempre inexistente. Antes, era a carta, a conversa telefônica, agora, compartilhando
instantaneamente, a qualquer tempo e lugar, conteúdos públicos e privados, parecemos estar
muito próximos de nossos ídolos e eles de nós.
O mis-en-scène nas telas e nas redes
Para obter “sucesso” nessa nova relação de exposição de si fomentada pelas redes
sociais o sujeito passou a pensar e a trabalhar a sua própria imagem não mais de forma
despretensiosa e natural, porém, de forma consciente e pensada. Por “imagem de si” nos
referimos às fotografias e aos vídeos postados, mas também aos textos, itens
compartilhados e comentários que são, na maior parte das vezes, pensados, antes de serem
publicados nas redes, afinal, hoje, para além do poder para se autorrepresentar, os sujeitos
têm consciência da força e da eficiência da construção de suas identidades nas redes.
Passaram, então (pela disponibilidade tecnológica e conhecimento de quem se quer ser), a
gestores das suas próprias imagens, cuidando para que cada texto e imagem digam algo
para seus seguidores e isso não passe despercebido.
Nas novas relações advindas do contato e da sociabilidade mediada pelas redes
sociais, o indivíduo ficou cada vez mais exposto ao olhar do outro em uma via de mão
dupla: pode-se mostrar o que se quer a quem se quer. Em algumas redes sociais como
Facebook e Instagram (ainda que de forma distinta), é possível se controlar a própria
privacidade dentro da rede, ou seja, o usuário pode escolher com quem compartilha seus
conteúdos. No caso do Facebook, para que os “amigos” vejam suas publicações, eles têm
que ser previamente aceitos pelo dono do perfil como amigo. No Instagram, o usuário pode
ter um perfil público ou privado.
A intenção de tornar-se popular e famoso na internet é o que leva muitos usuários a
assumirem a própria vida como se fossem uma celebridade. Muitos buscam tornar-se uma,
já que atualmente as celebridades ocupam um lugar que vai muito além da simples aparição
nos veículos de comunicação. Elas hoje se tornaram referência de comportamento modelo
que deve ser seguido pelos indivíduos (possíveis fãs) na moda, na vida socia, nas opiniões.
Afinal, ser celebridade virou sinônimo de alguém bem sucedido em nossa sociedade.
The term celebrity is not simply a noun but an adjective that signifies that
someone possesses the quality of attracting attention. So we have celebrity
chefs, celebrity authors, celebrity fiction, celebrity diets, celebrity
workouts, celebrity psychiatrists, celebrity therapists and celebrity doctors.
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Success in virtually every profession is associated with a celebrity status
(FUREDI, 2010, p. 493).
Dessa forma, podemos também entender as celebridades jornalísticas, que ganham a
admiração e o carinho de milhares de seguidores. Essa admiração e projeção têm a ver com
o modelo de comunicação da internet que permitiu “humanizar” e tornar as celebridades
mais próximas da vida comum, ou seja, daquilo que também pode-se ser/ter. Muitos artistas
e jornalistas gerem suas próprias contas na internet e as utilizam para emitir suas visões
particulares sobre determinado assunto e se mostrar (a todo instante através de posts no
Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat) como uma pessoa comum que tem uma vida
“normal”.
Uma sociedade onde as celebridades se tornam modelos exemplares
porque são elas que aprenderam como roubar a cena, independentemente
do que tiveram de fazer para roubá-la. E, num nível mais pessoal, é uma
sociedade na qual os indivíduos aprenderam a valorizar habilidades
sociais que lhes permitem, como atores, assumir seja qual for o papel que
a ocasião exija “interpretar” sua vida, em vez de simplesmente vivê-la. O
resultado é que o Homo sapiens está se tornando rapidamente o Homo
scaenicus – o homem artista. (GABLER, 1999, p. 16).
A fama ou o status de celebridade estava, anteriormente, ligado à aparição do sujeito
na mídia já que se imagina que praticamente qualquer pessoa que seja noticiada, vira
celebridade, pois se sobressai da massa anônima ainda que a “fama” dure apenas alguns
segundos ou minutos. A televisão virou máquina de fazer celebridades que poderiam
desaparecer com a mesma rapidez com que surgiam, porém, todos desejavam ter seus dez
segundos de fama. De fato, o sujeito sentia-se visível para os outros, quando aparecia na
TV, pois teria algo a dizer para uma multidão que nem sequer o conhecia. Com a internet,
outros mecanismos foram se reinventando na lógica das celebridades, pois não é mais
necessário que a mídia tradicional determine quem pode ou não ter seus segundos de fama.
Os sujeitos por si só podem alcançar a fama por meio de seus discursos via texto, foto ou
vídeo publicados na rede, que podem agradar a muitos usuários, tornando-se um conteúdo
várias vezes divulgado e compartilhado nas redes sociais, ou seja, um conteúdo viral. Eles
podem inverter o processo, isto é, ganhar fama na rede e, daí, serem catapultados para a
televisão.
No ambiente digital e das redes sociais, essa necessidade de impressionar “os
outros” se torna cada vez maior já que, neste sentido da dinâmica dessas redes, a aceitação
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de si e de sua própria identidade, está diretamente ligada ao sucesso de suas publicações, o
que se daria pelo número de likes, compartilhamentos e comentários que determinada
publicação receberia. Ousamos dizer que no ambiente virtual as formas de o indivíduo se
expressar ganharam tantas recursos narrativos e uma incalculável possibilidade de alcance,
que ele acentua determinadas características de sua personalidade que julga serem
favoráveis para sua imagem na busca por aceitação, o que os leva a se comportarem como
se, não só “atuassem”, como propõe Goffman (1956), mas fizessem uma performance de si
no ambiente virtual como sugere a autora Paula Sibilia:
Então, se viver se assemelha a atuar ou encenar, se “ser alguém” equivale
a interpretar um personagem, e se a vida tende a se parecer cada vez mais
com uma narrativa midiática, isto ocorre porque costumamos sublinhar
nossos gestos e ações “para aqueles que assistem”, retomando as palavras
de Richard Schechner. Como se estivéssemos o tempo todo fazendo
performances (SIBILIA, 2014, p. 45).
Essa forma de relacionar-se com o outro, que implica em encenar ou performatizar,
começou a ser instituída nas emissoras de televisão, na década de 1980. Equipamentos
mais leves e sensíveis, que permitiam acompanhar os movimentos do repórter, e a geração
de reportagens ao vivo, a partir das antenas de micro-ondas, aproximaram os jornalistas do
espectador. A gravação em plano-sequência e a narração mais coloquial humanizaram de
vez o repórter, que se aproximou do cidadão que, a partir de então, é caracterizado como
“personagem”, fonte indispensável à narrativa telejornalística. A partir dos anos 2000, as
mudanças se acentuam: caem as bancadas das redações, o infotenimento ganha espaço, a
emoção, a opinião, as narrativas de si invadem o espaço público da televisão. Não é só a
adoção da linguagem cada vez mais coloquial que ganha as redações, onde a expressão “a
gente” substitui o “nós”, mas é a confissão do estado de ânimo do repórter numa
transmissão ao vivo ou a discussão sobre o último corte de cabelo no Instagram. O
comportamento intimista, o detalhe da vida privada convergem para as múltiplas telas e se
misturam sem pudor às cenas do espaço público. Tudo numa grande performance.
A onipresença do celular
O acesso à mobilidade e à conectividade que oferecem os celulares hoje transformou
a relação dos sujeitos com os registros do cotidiano. A frequência com que eles são feitos e
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o imediatismo com que podem ser compartilhados configuram mudanças na perspectiva
sobre como narra-se a si mesmo e ao próprio cotidiano nas redes sociais e na internet. A
praticidade e a agilidade alcançadas com aplicativos para celular como é o caso do
Instagram – criado em 2010 e inicialmente dedicado somente à publicação de fotos e que
conta com mais de 200 milhões de usuários cadastrados – modificou a forma de narrar o dia
a dia e de sociabilizar com outros indivíduos.
Stephen Marche has argued that the ease of taking and disseminating
selfies prevents these images from entering the rarified field of art: “We
still think of photographs as if they require effort, as if they were
conscious works of creation. That's no longer true. Photographs have
become like talking. The rarity of imagery once made it a separate part of
life. Now it's just life. It is just part of the day (TIFENTALE, 2014, p. 14).
Apesar de o tempo de publicação de um vídeo no Instagram ser de um minuto, é
notório o êxito da ferramenta e a possibilidade de compartilhar ainda com mais factualidade
o momento que se está vivenciando. Há muitos tipos de usuários e nem todos “dominam”
as técnicas de filmagem ou de fotografia, mas este não parece ser empecilho para que um
vídeo não seja publicado na rede. Parece importar mais o “mostrar a experiência vivida no
momento”, do que a beleza ou a reflexão sobre o momento que está sendo vivido, ou a
qualidade técnica da captação do mesmo. “For the most part, however, our everyday photos
are not intended as art. They are a way of heightening our own daily experiences and
making them special to ourselves.” (RETTBERG, 2014, p. 26).
A possibilidade de fotografar com os aparelhos celulares modificou a forma de se
fazer fotografia, hoje, fotografa-se muito e fotografa-se de tudo um pouco. A foto em si
deixou de ser um evento ou necessariamente a captura de um momento extremamente
curioso, diferente ou mesmo programado e ensaiado pelo fotógrafo. Ao contrário, passou-
se, pela rapidez e facilidade de visualização do material registrado, a fotografar aquilo que
antes poderia ser considerado banal ou sem importância, como, por exemplo, fotografias da
comida do almoço. Houve, portanto, um deslocamento da temática daquilo que é
fotografado, e a fotografia atual feita por pessoas comuns passou a registrar e guardar os
momentos mais banais do dia-a-dia de qualquer um, graças à instantaneidade e rapidez da
fotografia feita por celulares.
O celular tornou-se objeto de desejo e um dos aparelhos tecnológicos que mais
funções conseguem exercer dentro de um único sistema: chamadas de voz, mensagens de
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texto, câmera fotográfica, câmera de vídeo, cartão de crédito, rádio, televisão, entre tantas
outras funções. Foi-se o tempo em que o celular era um aparelho exclusivamente usado para
realizar chamadas telefônicas. Ele se se tornou um objeto essencial da vida cotidiana, pois,
através dele, podemos olhar para nós mesmos e nos reconhecermos por meio de todos os
aplicativos e acessórios que usamos para identificá-lo e customizá-lo na tentativa de torná-
lo único, como também nos sentimos. Segundo Gerard Goggin (2004, p. 2) “the decoration
and modification of cell phones have become an important way that people express their
identity”.
[...] Nonetheless, it is safe to observe that in the more two and a half
decades since it was first market commercially, the cell phone has become
much more than a device for voice calls – it has become a central cultural
technology in its own right. Telecommunications has undergone a radical
shift from being about voice (or fax) communications to becoming:
mobile, flexible and customizable; associated with a person rather than a
household (at least in some societies and situations); and communications
and services hub (GOGGIN, 2004, p. 2).
A cultura do celular modificou e vem modificando as novas formas de sociabilidade,
as formas de estar no mundo de cada indivíduo, pois, de fato, a rápida conexão com outras
pessoas acabou privilegiando a troca de experiências e as diferentes formas de construir
identidades no mundo contemporâneo. Afinal, hoje, toda experiência é passível de ser
compartilhada, pois ela é única e inigualável, já que existe a possibilidade de individualizar
cada uma delas por meio do relato ou do registro visual ou audiovisual, através do ponto de
vista particular de cada indivíduo, que se torna singular.
Essa necessidade atual de estar on-line e dividir suas próprias experiências foi
possível através do compartilhamento das redes de internet sem fio e das conexões
oferecidas para celular em 3G ou 4G. Busca-se e paga-se por uma internet nos celulares que
possibilite o maior acesso e o maior compartilhamento de dados por menores preços, o que
interessa é estar conectado independente do lugar onde se esteja. Quando a comunicação
entre pessoas distantes era feita pelo telefone fixo, era comum que a pessoa saísse de férias,
viajasse e optasse por ficar “desligada”. Hoje por mais distante que se esteja (e se de férias
ou não), o celular acompanha cada indivíduo que carrega um número pessoal, e não mais o
número coletivo do telefone fixo da residência, que era compartilhado por todos os
moradores daquele local. O celular individualizou, além do aparelho – cada um tem o seu –,
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os números de contato ou o que hoje virou quase o registro da identidade, afinal, cada um
deve ter sua própria conta de celular e seu próprio número.
Instagram e os registros do quotidiano
O Instagram foi lançado no dia 6 de outubro de 2010 como aplicativo exclusivo para
telefones com o sistema iOs – sistema operacional dos produtos da Apple – e foi concebido
pelo brasileiro Mike Krieger e pelo norte-americano Kevin Systrom. Antes de ganhar o
nome de Instagram, a dupla já havia desenvolvido um outro aplicativo chamado Burbn que,
na época, Kevin Systrom caracterizou como um aplicativo “muito complicado”. Nele era
possível fazer check-ins, fotos e planos para os finais de semana. Com uma análise mais
esmiuçada sobre o comportamento dos usuários do Burbn, ambos perceberam que “[...]
people weren't using Burbn's check-in features at all. What they were using, though, were
the app's photo-sharing features. They were posting and sharing photos like crazy”.
(GARBER, 2014).
Então, no dia 6 de outubro de 2010, foi postada a primeira imagem do aplicativo
Instagram pelo seu fundador Kevin Systrom. Uma foto que diz bastante sobre a proposta e
o significado dessa rede social: mostrar momentos cotidianos, comuns em que o usuário
narra detalhes do seu dia a dia através do seu próprio olhar e da sua câmera. Ele vira
fotógrafo e editor de suas próprias imagens e dá a ferramenta para que milhares de
indivíduos passem a se narrar através de sua subjetividade para aqueles com quem está
conectado. “The shift to the visual on the Internet and especially in social media has
increased a lot since then. Facebook was originally created to show photos of people’s
faces, and today shared images are central to most social media. Our bodies are no longer
hidden online”. (RETTBERG, 2014, p. 12-13)
Cada usuário do aplicativo tem uma página própria onde estão disponíveis todas as
fotografias que foram publicadas por ele ao longo do tempo em que utilizou o aplicativo.
Essas fotos ficam disponíveis em ordem cronológica sempre partindo da publicação mais
recente até a mais antiga. Neste perfil, o usuário coloca uma foto de si próprio para ser
identificado por outras pessoas. Além disso, qualquer outro internauta, que entre no perfil
do usuário, pode ter informações sobre quantas fotos já foram publicadas, quantos
seguidores ele tem e quantas pessoas ele segue. Há ainda, visível por todos que entrarem na
página, uma breve biografia escrita pelo usuário sobre o que ele achar relevante constar
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como informação sobre si em seu perfil, podendo, inclusive, conter links para outras
páginas ou sites da internet.
Enquanto todas as informações descritas ficam visíveis para qualquer usuário que
entre na página de outro (a não ser que ele esteja bloqueado), isso não funciona para as
fotografias. O usuário pode eleger se deseja ter um perfil público ou privado. Caso o perfil
seja público, as fotos postadas estarão passíveis de serem vistas por qualquer um que entre
em seu perfil, porém, se sua conta for privada, só terão acesso a suas fotos aqueles que
foram “aceitos” para entrar em sua rede. Isso serve, inclusive, para a página de perfil onde
nenhuma foto pode ser vista enquanto o dono do perfil “autoriza”, caso a opção seja de ter
um perfil privado.
Os jornalistas de TV e a autorrepresentação no Instagram
Neste artigo, procuramos acompanhar como os jornalistas de televisão, utilizam o
Instagram para se autorrepresentar, entendendo que existem formas diversas pelas quais
cada um deles pode usar a rede social. Para facilitar a abordagem, procuramos delimitar a
amostra apenas àqueles que aparecem no vídeo, sejam apresentadores e/ou repórteres, e
selecionar dez nomes que estejam atuando no telejornalismo diário do canal de notícias
GloboNews4. A amostra foi aleatória, e envolveu jornalistas de diferentes gêneros e
idades, que mantinham um perfil público; a outros jornalistas, foi pedida permissão para
seguir o perfil, mas não houve retorno ao pedido. Entre os jornalistas selecionados,
observamos dez perfis: Carolina Cimenti (@carolinacimenti), Christiane Pelajo
(@chrispelajooficial), Denise Barbosa (@denisebarbosa), Dony De Nuccio
(@donydenuccio), Guga Chacra (@gugachacra), Leila Steremberg (@leilasteremberg),
Leilane Neubarth (@leilaneneubarth), Mara Luquet (@maraluquet), Sérgio Aguiar
(@sergioaguiar07) e Thais Herédia (@thais.heredia). Para analisar estes usuários, levamos
em conta: i) foto e descrição do perfil; ii) número de publicações, seguidores e seguidos; iii)
formato das fotografias ou vídeos; iv) conteúdo das postagens.
O primeiro objetivo da análise foi saber se a foto e a descrição do perfil
contemplavam algum aspecto relacionado à profissão e à atuação na GloboNews ou outro
veículo. Quanto às fotos de perfil, identificamos que apenas 40% fazem menção explícita
ao local de trabalho, como aquelas de Carolina Cimenti, que aparece com o microfone da
4 A parte empírica desta pesquisa está sendo iniciada, e será destinada, em um segundo momento, à análise do uso do
Instagram pelos jornalistas de outras TVs pagas, e, em um terceiro momento, aos jornalistas das TVs abertas.
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emissora, e Dony De Nuccio, que mostra o estúdio. As outras fotos de perfis, geralmente
em primeiro plano, são da vida privada, e a de Leila Sterenberg, inclusive, dificulta a
identificação, porque é uma foto dela quando criança. Nas descrições dos perfis, 80%
identificam-se como jornalistas, mas apenas metade menciona a empresa para a qual
trabalha. Assim, Denise Barbosa, por exemplo, se identifica como apresentadora e repórter
da GloboNews e dá o link do site da emissora: www.globonews.com.br. Guga Chacra se
identifica como comentarista da GloboNews e blogueiro do portal do “Estado de São
Paulo”, em Nova York. Já Leilane Neubarth se apresenta apenas como jornalista brasileira
e diz que não tem Facebook, mas usa o Twitter: @leilaneneubarth. Apenas dois jornalistas
não fazem menção à vida profissional, são eles Leila Sterenberg e Dony De Nuccio, mas,
no caso deste último, a fotografia do perfil já revela onde ele trabalha.
O segundo objetivo da análise foi observar a quantidade de publicações, de
seguidores e quantas pessoas eram seguidas pelos jornalistas. Neste caso, escolhemos o
dia cinco de julho de 2016 para contabilizar os dados. Neste dia, o campeão de
publicações, feitas até a data, foi Guga Chacra, com 1741 publicações; Christiane Pelajo
teve o menor número de publicações, 185. Estes dados são influenciados não apenas pela
frequência de publicação, como também pela data em que o usuário começou a utilizar o
Instagram. Com relação ao número de seguidores, o mais seguido, até a data de 5 de julho,
foi também Guga Chacra5, contabilizando 39.500 seguidores, seguido por Christiane Pelajo,
com 22.700, e Mara Luquet, com 18.600. Aqueles que tinham menos seguidores, por
ordem crescente, foram Leila Sterenberg, com 938, Denise Barbosa, com 2.399, e Carolina
Cimenti, com 3.036. O fato do jornalista ser mais atuante em publicações no Instagram e
trabalhar em outros veículos pode afetar este resultado. Outro dado curioso é que o número
de seguidores aumenta muito de um dia para o outro. Por exemplo, uma semana depois,
Guga Chacra já tinha mais 500 seguidores. Com relação ao número de pessoas que eles
seguem, temos, em primeiro lugar, Guga Chacra, seguindo 886 pessoas, Denise Barbosa,
78, e Carolina Cimenti, 613. Aqueles que seguem menos pessoas, em ordem crescente, são
Sérgio Aguiar, 78, Leila Sterenberg, 210, e Thais Herédia, 265. O dono do perfil pode
seguir quem ele quiser, alguns são mais ativos, outros, menos. O interessante é que, se você
segue alguém, você pode ter acesso à lista de gente que esta pessoa segue, adicionando-os,
5 Para efeito de comparação, podemos citar a situação do pefil de um jornalista que atua na TV aberta, como é o caso de
Zeca Camargo (@zecacamargomundo); no dia 5 de julho de 2016, ele tinha 288 mil seguidores. Mesmo um jornalista que
não atue em São Paulo ou Rio de Janeiro, pode ter um número muito elevado de seguidores. Vejamos o caso de Bruno
Sakauê (@brunosakaue), da TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo, na Paraíba, ele tinha, na mesma data, 78.500
seguidores.
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se lhe interessar, à sua própria lista. Jornalistas costumam seguir colegas de trabalho, além
de amigos e parentes. E, normalmente, têm perfil público, portanto, é fácil adicioná-los e
começar a segui-los6. Outro dado interessante é que o número de seguidores do jornalista é
muito maior do que o número de pessoas que ele segue. Vamos pensar no caso de Guga
Chacra: no dia 5 de julho, ele era seguido por 39.500 pessoas e ele próprio seguia 886, isto
é, o número de seguidores é 44,5 vezes maior que o de seguidos. Certamente, este dado
reflete o fato do jornalista ter notoriedade, ser praticamente uma celebridade, em
comparação com a maioria das pessoas comuns7.
Com relação aos tipos de postagem dos dez jornalistas que estamos seguindo, nosso
terceiro objetivo8, procuramos identificar o que eles tinham exibido, analisando-se uma
sequência de dez postagens, a partir de uma data pré-fixada. Nosso resultado mostrou que
40% postaram metade das fotos fazendo menção ao trabalho e a outra metade à vida
pessoal; 90% postaram pelo menos uma imagem que fazia menção ao trabalho, sendo que
esta imagem poderia ser de uma campanha institucional da emissora. Apenas uma
jornalista não dava pistas mais diretas sobre o que estava postando, apenas dava para se ver
que eram fotos de viagem, todas veiculadas com as hashtags #cartadebessarábia e
#documentario. Mais à frente, o mistério se desfaria: em foto de uma entrevista
(#philostv@globonews), confirmaríamos que Leila Staremberg estava a trabalho.
Nas postagens relativas ao mundo profissional, imperam as fotos, apenas duas eram
de vídeos: Mara Luquet nos bastidores, mostrando o cabelo, e Thais Herédia, gravando uma
chamada para o “Em Pauta”, ambas fora do estúdio. Nem sempre as fotos que têm relação
com o trabalho mostram o jornalista atuando. Três das fotos de Mara Luquet, por exemplo,
a mostram nos estúdios do “Programa do Jô”, isto é, na Rede Globo, mas não na redação da
GloboNews em São Paulo. Quando o jornalista está no local de trabalho, estúdio ou
redação da emissora, ele sempre aparece na imagem, que pode ter vários formatos (o total
de fotos tiradas em estúdio somou 16, um sexto do total): i) ele aparece sozinho - 3 ; ii) ele
aparece com a equipe - 2; iii) ele aparece com um convidado – 1; iv) ele tira a foto (selfie) -
6; v) alguém tira a foto - 1 ; vi) ele fotografa a equipe no estúdio – 1; vii) ele aparece em
algum telão do estúdio, durante a exibição do telejornal – 2; viii) ele aparece na tela de um
aparelho de TV– 4. Neste breve levantamento, concluímos que um terço das fotos são
6 Os perfis no Instagram podem ser públicos ou privados. Aqueles que são públicos podem ser seguidos por qualquer um;
aqueles que são privados, o “dono” do perfil tem que autorizar o seguidor. 7 A título de comparação, geralmente, pessoas comuns têm menos seguidores. O perfil @cfmusse, por exemplo, usado por
Christina Ferraz Musse, tinha, em 12 de julho de 2016, 270 seguidores e seguia 471 pessoas. 8 Neste artigo, não vamos analisar um quarto aspecto, que é aquele da interação com os seguidores, por não
haver espaço suficiente para incluirmos este quesito.
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selfies, tiradas pelo próprio jornalista; e é o jornalista quem também mais aparece em telas
de TV, correspondendo a um quarto das imagens.
Considerações finais
A redação deste artigo trouxe à tona várias questões que desafiam aqueles que
estudam o telejornalismo. É indiscutível a convergência entre os vários conteúdos
midiáticos, como também a crescente utilização dos dispositivos móveis, cada vez com
cardápio mais variado de opções de uso. O telejornalismo vive um momento de transição,
de mutação, mas que, certamente, não o enfraquece, ao contrário, parece lhe oferecer novas
chances de se configurar, em ambiente que privilegia a simultaneidade e a interatividade.
Novos conteúdos tomam contam das telas, com formatos inusitados. Os profissionais que
atuam em TV sabem disso e procuram estabelecer novos vínculos com o público, o que
pode resultar em maior e mais fiel audiência.
Ao estudar os perfis no Instagram de dez jornalistas da GloboNews, podemos
perceber como eles têm utilizado esse dispositivo como forma de reforçar os seus laços de
reconhecimento com os espectadores internautas. Os jornalistas de TV já são celebridades,
eles dominam o jogo de cena, mas, agora, eles oferecem ainda algo a mais à sua audiência.
Eles postam em seus perfis imagens do seu cotidiano, da casa, dos filhos, dos amigos, dos
cachorros, dos restaurantes, das férias... Histórias comuns que não apenas os
individualizam, como também promovem empatia imediata com a audiência. Assim, se
torna tão fácil estar perto, comentar alguma imagem, mandar um recado. As celebridades
instantaneamente estão a um clique de seu teclado, e elas passam a reconhecê-lo, a trocar
ideias com você. Pode-se argumentar que as cartas tinham a mesma função, ou mesmo as
conversas telefônicas, mas, nunca, os olimpianos estiveram tão “perto”, nunca
compartilhamos tantos detalhes pequenos da vida profissional ou doméstica, criando laços
afetivos que parecem anunciar o que poderá ser o futuro da televisão.
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