A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

download A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

of 17

Transcript of A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    1/17

    A UTOPIA COMO PROJETO DE COLONIZAO DA AMRICA

    Geraldo Witeze [email protected]

    Universidade Estadual de Gois / Universidade Federal de GoisMestre em Teoria e Histria Literria (Unicamp)

    Resumo

    Neste trabalho pretende-se apresentar o projeto de Vasco de Quiroga para a colonizaoda Amrica. Quiroga foi para o Mxico na dcada de 1530 e se inseriu nos debates arespeito da colonizao. Foi contrrio s violncias cometidas contra os ndios, sempredenunciando os abusos dos colonizadores espanhis. Lutou para que houvesse umalegislao favorvel colonizao pacfica, centrada sobretudo na catequese e naconverso voluntria. Fundou comunidades de ndios inspiradas na Utopiade Morus edefendeu que elas se tornassem o modelo para a colonizao. Seus argumentos contra omodelo violento que se consolidava e a defesa do seu projeto utpico esto numa obraintituladaInformacin en derecho, cujas duas primeiras partes sero abordadas aqui.

    Palavras-chave:Utopia; Colonizao da Amrica; Vasco de Quiroga

    Abstract

    This paper aims to present the project conceived by Vasco de Quiroga for thecolonization of America. Quiroga went to Mexico in the decade of 1530 and entered thedebates about the colonization. He was opposed to the violences committed against theindians, always denouncing the abuses of the Spanish colonizers. He fought for lawsfavorable to peaceful colonization, mainly focused on catechesis and voluntaryconversion. He founded indigenous communities inspired on Mores Utopia anddefended them as a model to the colonization. His arguments against the model whichwas consolidating and the defense of his utopian project are in a work called

    Informacin en derecho. The first and the second parts of this work will be discussedhere.

    Keywords: Utopia; Colonization of America; Vasco de Quiroga.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    2/17

    Assim, penso nas instituies sbias e sagradas de Utopia, onde um mnimo de leis

    assegura um mximo de eficincia, e onde o reconhecimento do mrito individual

    vem somar-se a uma prosperidade igual para todos. Compara Utopia com tantos

    pases que fazem leis sem cessar, e no obstante so sempre incapazes de solucionar

    seus problemas.

    Rafael Hitlhodeu, na Utopiade Morus

    Introduo

    Explicar a Amrica como entrar num labirinto. Do norte ao sul do continente

    ecoam evento paradoxais e fantsticos. Vemos grandeza e decadncia: a opulncia da

    natureza e as suas armadilhas, a virtude dos povos nativos e sua derrocada, a glria das

    viagens e a baixeza da violncia colonial, esperana e desiluso. Na poca da chegada

    dos europeus, a Amrica foi para eles um lugar de sonhos, de vida nova. Logo depois

    veio a conquista violenta, a colonizao e a crtica.

    Se quisermos pensar nos nomes mais conhecidos desse perodo, cada um

    representando uma etapa, podemos falar de Cristvo Colombo, de Hernan Cortez e de

    Batolom de Las Casas. O primeiro foi o descobridor que possibilitou o sonho, o

    segundo, o conquistador por excelncia que abriu as portas para a colonizao e o

    terceiro assumiu o papel de crtico das violncias e defensor dos ndios.

    Graas a Las Casas e sua Brevssima relao1difundiu-se na Europa a leyenda

    negra, sobre a crueldade dos espanhis e a extrema violncia colonial. Apesar disso no

    houve muitos efeitos prticos e a violncia contra os ndios continuou sendo a regra

    naquele perodo. E nem podemos dizer que essa regra tenha sido alterada hoje. A obra

    de Las Casas tem o grande mrito de criticar a colonizao no momento mesmo em que

    ocorria. Por outro lado permite que se construa a ideia equivocada de que s havia um

    nico projeto para a Amrica, justamente aquele que saiu vencedor: o das encomiendas,

    da escravido negra e indgena, do genocdio, da degradao ambiental pela

    1 Brevsima relacin de la destruccin de las Indias, publicada no Brasil sob o ttulo de O parasodestrudo(2011).

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    3/17

    superexplorao, da fome de ouro e prata. Ao ler a Brevssima relaopodemos pensar

    que no havia alternativas.

    Apesar disso, Las Casas permite entrever, em outros escritos, que ele mesmo

    pensava a colonizao de outra forma. Basta lembrar do seu projeto fracassado de

    estabelecer camponeses junto com os ndios. Alm de Las Casas outros tambm

    desenvolveram propostas e projetos de colonizao da Amrica que eram bastante

    diferentes da forma que se consolidava. importante mostrar esses projetos e propostas

    para que no caiamos na iluso de que a histria colonial uma via de mo nica, de

    que no havia outras possibilidades ou de que crticas s violncias coloniais so

    anacrnicas.

    Aqui surge Vasco de Quiroga com seus projetos utpicos no Mxico, ainda no

    sculo XVI. Quiroga organizou comunidades de ndios baseadas na Utopia de Thomas

    Morus e, alm disso, criticou a colonizao baseada na guerra justa e nas

    encomiendas, enviando ao rei uma proposta de colonizao pacfica centrada na

    evangelizao. Essa proposta est na obra intitulada Informacin en derecho (2002),

    escrita em 1535.

    I nf ormacin en derecho Captulo I

    O objetivo principal da Informacin combater o retorno da permisso

    escravizao dos ndios. A legislao sobre a questo mudou alternadamente, ora

    permitindo, ora vedando a escravido indgena. Assim como Las Casas, Vasco de

    Quiroga se inseriu nesse debate. Para Quiroga a escravido indgena s voltara a serpermitida por causa da inexperincia dos que a demandavam e dos que legislavam. Ele

    pretendia ento esclarecer os legisladores, explicar-lhes o que de fato ocorria no Novo

    Mundo. As paixes humanas, a cobia e os interesses particulares resultavam no

    posicionamento favorvel escravido, o que era una ilusin del antiguo adversario

    (QUIROGA, 2002, p. 71).

    Quiroga pretendia defender a coroa e os ndios, sendo contrrio a interesses

    particulares. possvel ver nisso a influncia da Utopia, com seu coletivismo visceral, epelo menos um embrio da ideia de interesse pblico em detrimento do privado. Para

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    4/17

    ele a escravido dos ndios era contrria aos interesses da prpria coroa, que s teria a

    ganhar com a evangelizao e a colonizao pacfica. Sua argumentao baseada no

    direitoera j um jurista experiente quando veio para a Amricae na teologia.

    Ele se compara aos pastores verdadeiros do evangelho (Lucas 2, 8). Se ele era o

    pastor, semelhana de Jesus, e o rei era um apstolo, os outros s poderiam ser lobos

    espreitando as ovelhas. interessante que as ovelhas so os ndios e no os espanhis. A

    aluso aos fariseus evidente: os colonos espanhis poderiam ser, no mximo, lobos em

    pele de cordeiro, o joio misturado ao trigo.

    Sobre a escravido, afirma que los verdaderos pobladores, cierto soy, ven claro

    lo que es: la total perdicin de toda la tierra (QUIROGA, 2002, p. 73). O uso da

    palavra perdio no ingnuo. Por um lado tem uma carga material, referindo-se

    destruio da terra, das riquezas que poderia gerar; por outro lado tem sentido espiritual,

    da perdio das almas dos espanhis. Ou seja, Quiroga entendia que a escravido

    resultaria em decadncia material e espiritual, que impediria a coroa de realizar seus

    dois principais objetivos: a evangelizao e a prosperidade.

    Comparando os proprietrios das minas com os que chama de verdadeiros

    povoadores, Quiroga (2002, p. 73) afirma o seguinte: Porque, aunque a aqullos hincha

    las bolsas y pueble las minas, a estos verdaderos pobladores destruye y despuebla los

    pueblos; y a estos miserables que por ella, como rebaos de ovejas, han de ser herrados,

    quita las vidas con las libertades. As vilas despovoadas no serviriam ao projeto

    colonial evangelizador. Aqui se contrapem duas vises: aquela que queria apenas

    extrair a riqueza das minas usando a mo-de-obra gratuita dos ndios, e a daqueles que,como Quiroga, pretendiam efetivamente colonizar a Amrica. Futuramente a percepo

    de Quiroga se mostraria verdadeira, pois as colnias espanholas enfrentaram problemas

    de escassez de alimentos e tiveram que usar o ouro e a prata extrados para comprar

    vveres. Essa foi uma das razes da decadncia da Espanha e do fracasso de seu projeto

    colonial.

    Quiroga (2002, p. 73) manifesta tambm uma grande preocupao com a

    evangelizao dos ndios, como se v nesta passagem: digo a aquellos probrecillosmaceoales, que son casi toda la gente, comn, que de tan buena gana entran en esta gran

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    5/17

    cena, que en este Nuevo Mundo se apareja y guisa, sin se excusar nin fingir

    cristiandad. Seriam esses ndios sinceros, pessoas comuns prontas a aceitar o

    evangelho, que construiriam a nova sociedade. Eles so contrapostos aos oportunistas

    que queriam enriquecer sem esforo, s custas dos outros. Quiroga estava preocupado

    com os pobres, os comuns, acreditava que os ndios se converteriam facilmente se

    ficassem longe dos caciques e lderes religiosos e poderiam, assim, ser sditos da

    Espanha.

    Temos ento a mesma ordem de acontecimentos proposta por Las Casas: em

    primeiro lugar viria a converso, voluntria, e s depois disso se tornariam sditos.

    Disso decorre que sem a evangelizao no seria possvel aumentar os domnios do rei

    espanhol, o que tornaria a evangelizao o centro das preocupaes coloniais. E ainda

    mais, estaria anulada toda justificativa para as guerras contra os ndios, fossem por

    motivos religiosos ou polticos, pois no poderiam ser hereges sem ter aceitado o

    cristianismo e, no sendo sditos, no podiam ser considerados rebeldes (BRUIT,

    2003).

    O argumento de Quiroga que, com a permisso da escravido, justamente os

    que aceitavam o cristianismo, as ovelhas, estariam sendo punidos. Os caciques e

    principaismuitas vezes fingiam a converso, e esses eram a quien se da ahora por esta

    nueva provisin facultad que los vendan e hierren, lo que fuera mejor empleado que en

    ellos se hiciera (QUIROGA, 2002, p. 73). Trata-se de uma cdula real de 1534, que

    revogava a proibio da escravizao dos ndios. Haveria aqui uma inverso da justia,

    algo abominvel para Quiroga, tanto do ponto de vista jurdico quanto do teolgico.Alm disso, se a escravido fosse lcita, o poder desses principais estaria sendo

    reforado, o que poderia por em risco a prpria obra colonial.

    Havia uma disputa pelo poder de influenciar os ndios ditos comuns. Os

    missionrios catlicos rivalizavam com os lderes nativos e pensavam ser necessrio

    fundar novos povoados para os ndios convertidos, onde estariam livres da autoridade

    de seus antigos guias. Isso mostra que Quiroga no tinha uma viso idealizada dos

    ndios, como pode parecer num primeiro momento. Diferente de Montaigne, eleconvivia com os povos da Amrica, lidava com eles na sua vida cotidiana.

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    6/17

    claro que os lderes indgenas tambm poderiam ser convertidos, mas isso

    seria mais difcil. Quiroga parece mostrar certa averso aos grandes homens, tanto

    ndios quanto europeus, e d mais ateno aos que v como pequenos e simples. Dessa

    perspectiva, enxerga a existncia de rivalidades entre os ndios comuns e os principais.

    Estes fingiriam a converso e se vingariam dos demais que, por serem cristos

    verdadeiros, desvelariam a representao. Essa a leitura de Quiroga.

    Desde Cortez e Pizarro vemos os conquistadores e colonizadores explorarem as

    divises entre os nativos para domin-los mais facilmente a velha mxima de dividir

    para conquistar. Ainda que Quiroga no seja um conquistador nem pretenda subjugar os

    ndios, participa do processo de colonizao. Seu projeto diferente, mas no deixa de

    ser colonial. Se, por um lado, Quiroga demonstra compaixo e projeta um mundo novo

    e melhor pra os ndios, por outro simplifica a realidade numa diviso binria entre

    principaise comunsque no corresponde nenhuma constituio social conhecida.

    Devemos analisar Quiroga alm do campo das ideias. No adianta conden-lo

    por ser colonial sem compreender a historicidade e a natureza do seu projeto. No

    falamos de algo concebido priori, fora da histria, mas de uma resposta concreta ao

    mundo em que vivia. Dito de outra forma, os projetos so formulados com o processo

    de colonizao em curso, interagem com realidade experimentada, com os colonos

    gananciosos, a escravido indgena, a explorao das minas, os interesses da coroa

    espanhola e da Igreja Catlica.

    Quiroga parece compreender o movimento de colonizao como irreversvel e

    procura, dentro das possibilidades que tinha, torn-lo o menos danoso possvel.Diferente de Las Casas, ele atua menos no campo das ideias e mais na prtica. No

    adiantaria apenas reconhecer a humanidade dos ndios e proibir formalmente a

    escravido enquanto os colonos seguissem escravizando, matando e destruindo os

    ndios.

    Era preciso harmonizar os poderosos interesses em jogo, sobretudo os da coroa e

    da Igreja, mas tambm os dos colonos e dos ndios. Essa no era uma tarefa fcil.

    Quiroga no se ope colonizao, o que quela altura j seria um esforo intil, masluta com todas as foras em duas frentes: primeiro, procura informar a coroa sobre o que

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    7/17

    de fato se passava e tenta mostrar que a superexplorao das colnias no era benfica

    sob nenhum ponto de vista; segundo, busca efetivamente construir as comunidades que

    idealizou, com ndios de verdade, para mostrar a viabilidade do seu projeto.

    AInformacin se insere no primeirofronte atesta a importncia do debate sobre

    a escravido indgena. Quiroga no pode se opor colonizao, pois isso anularia todos

    os seus esforos junto a coroa, ento procura mostrar que a escravizao dos ndios no

    contribua para o projeto colonial. A diviso dos ndios entre principaise comuns, ainda

    que imprecisa, parte dessa estratgia de argumentao: os principais dos ndios,

    fortalecidos justamente pela permisso da escravido indgena, rivalizavam com a

    autoridade dos missionrios, e a coroa, vinculada Igreja, no podia compactuar com

    isso. Afinal, o alicerce da colonizao era a evangelizao, como dito anteriormente.

    Disso tudo decorre a importncia de informar a coroa, o que tambm uma

    estratgia argumentativa, pois isenta o governo espanhol de qualquer culpa sobre o que

    vinha acontecendo. Se o rei desconhecia a realidade das colnias, era dever de Quiroga

    inform-lo sobre isso e combater as mentiras relatadas ao rei. Dessa forma, depois de

    informado, o rei teria o dever de agir, caso contrrio teria sua autoridade solapada, pois

    estaria aceitando com a mentira e no cooperando com a evangelizao. Como todos

    sabiam, o diabo o pai da mentira (Joo 8,44).

    Quiroga (2002, p. 74) prossegue em sua defesa da gente comum, dizendo que

    los maceoales, que son la gente comn [...] han de ser herrados y vendidos y

    comprados [...] sin ninguna piedad, para que mueran mala muerte en las minas, y no

    para ser doctrinados, como all siniestramente se informa [...]. Seu raciocnio vai se

    completando: ao invs de evangelizar os ndios base da colonizao estavam

    escravizando-os injustamente e levando-os morte, o que tambm privava a coroa de

    braos para o trabalho.

    Os ndios no aceitavam tudo passivamente e mesmo a passividade pode ser

    vista como ltima forma de resistncia (BRUIT, 1995). Quiroga entendia as reaes dos

    ndios como uma busca por seus direitos naturais: vida, liberdade e justia. E os

    admirava: y en la notoria justicia y derecho que en ello, a mi ver, tienen, pretenden ypiden, con tan buenos modos y maneras y medos, repozo y razonamientos que tienen en

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    8/17

    lo pedir, que cierto es, a mi ver, gran vergenza y confusin para la soberbia nuestra

    (QUIROGA, 2002, p. 75).

    Tenta mostrar que os ndios se submetiam coroa e demandavam do rei a justia

    devida. A ele dirigiam suas demandas e queixas, com boa argumentao e humildade.

    Os colonos espanhis, ao contrrio, eram arrogantes e no se submetiam ao rei,

    preocupavam-se apenas com seus interesses particulares e imediatos e no se

    interessavam nem pela evangelizao nem pela justia. Eram piores sditos que os

    ndios e no viviam de acordo com a razo.

    A argumentao de Quiroga apela para a razo, mas podemos ver aqui um outro

    componente importante: o corte racial. Era mais fcil para a coroa confiar nos colonos

    no porque fossem bons sditos, mas simplesmente por serem espanhis. Os ndios, ao

    contrrio, tinham dificuldade em obter a confiana do rei, a despeito de sua lealdade e

    razo, pelo fato de serem ndios. Entre o que j se conhece e o novo, parecia melhor

    coroa ficar com a primeira opo.

    Para converter os ndios e transform-los em bons sditos, necessariamente

    nessa ordem, era preciso cessar com a escravido, afinal um escravo nunca um sdito.

    Quiroga (2002, p. 75) sutil na crtica ao rei: y tambin porque no se estn ni

    perseveren en sus tiranas pasadas en tiempo de Majestad tan catlica. Com a

    permisso da escravido o rei se igualaria aos tiranos indgenas. Quiroga procura

    deixar claro que o rei catlico no poderia fazer o mesmo que era condenvel para os

    gentios.

    Adiante a crtica de Quiroga chega a um ponto culminante e se torna explcita:as coisas iriam bem si el antiguo conturbador Satans as ahora con esta nueva

    provisin todo no lo contaminara y conturbara (QUIROGA, 2002, p. 75). A permisso

    da escravido era obra do diabo, e uma majestade to catlica no poderia seguir os

    passos do enganador.

    Podemos at mesmo pensar que as tiranias indgenas anteriores conquista

    eram menos agressivas que a escravido implantada pelos espanhis esta era

    praticamente um sentena de morte. Quiroga (2002, p. 75) fala sobre la confusin y

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    9/17

    infierno de las minas, donde no hay orden alguno, sino habita un horror sempiterno2,

    donde estos probrecillos miserables, que as han de ser herrados, han de ir a maldecir el

    da en que nacieron. A escravido tirava qualquer esperana que os espanhis

    pudessem ter dado aos ndios, por exemplo, ao libert-los de seus antigos senhores.

    Quiroga cita o Eclesiastes (4, 1-3) para afirmar que, ante a impossibilidade de obter

    justia, seria melhor estar morto do que vivo. Com isso diminua tambm a esperana

    de sucesso na colonizao.

    Para mostrar qual devia ser a nfase da coroa, Quiroga menciona a bula do papa

    Alexandre VI e da obrigao de levar a cabo a misso cristianizadora. um constante

    esforo de mostrar para a coroa qual deveria ser a prioridade. A permisso da escravido

    s podia ser resultado de um olhar apressado sobre a questo, mas Quiroga (2002, p. 77)

    alertava: no basta mediana diligencia, ni mirarlo as como quiera y como de paso,

    porque de este poco miramiento y recatamiento nace el error en las cosas.

    Mesmo que a permisso da escravido fosse resultado de decises apressadas e

    da falta de informao (ou de informaes falsas) era uma flagrante violao do direito.

    Primeiro, do direito dos ndios; segundo, do direito cannico, pois no se estava

    respeitando as bulas papais. Somente dando prioridade para a evangelizao e

    respeitando as normas jurdicas e religiosas seria possvel que a colonizao fosse

    benfica tanto para os espanhis quanto para os ndios, ao menos era essa a viso de

    Quiroga.

    I nf ormacin en derechoCaptulo II

    O segundo captulo comea com uma severa crtica da cobia dos espanhis:

    Que los inconvenientes que parece que hay en estas partes en losesclavos de guerra son, en los yapacficos, la codicia desenfrenada denuestra nacin; y, en los por pacificar, su defensa natural, que pareceque naturalmente tienen contra nuestras violencias, fuerzas,opresiones y mala manera que tenemos con ellos en su pacificacinpor nuestra codicia, para que, vistos, se vea cmo no se deben permitiren esta tierra ni esclavos de guerra ni de rescate, estaba muy bien santa

    2 A citao feita em latim: Ubi nullus ordo sed sempiternus horros inhabitat.

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    10/17

    y justamente prohibido por la Primera Provisin3. (QUIROGA, 2002,p. 79, grifos meus)

    Na tradio cobia reconhecidamente um pecado e h muitas referncias

    bblicas a esse respeito4. Quiroga estabelece uma relao entre o pecado da cobia e a

    colonizao: a cobia atrapalhava, ao invs de beneficiar, as pretenses dos espanhis,

    na medida em que despertava reaes contrrias dos ndios. A tentativa vincular os

    campos espiritual e social, mostrando que o pecado tinha consequncias danosas j na

    vida presente, na sociedade, e no somente no alm.

    interessante tambm que as reaes dos ndios sejam vistas como naturais,

    como resposta s agresses dos espanhis. Com isso, mesmo que aceitasse a ideia de

    guerra justa, Quiroga deixa claro que no era cosa ali. Os sujeitos da violncia eram os

    espanhis cristos, e no os ndios pagos. Era a cobia dos espanhis e no a

    barbaridade dos ndios que provocava os conflitos. As aes dos ndios eram de defesa,

    no de ataque. Ademais, sendo natural, era legtima, por isso a nica opo aceitvel era

    eliminar as causas: a cobia e a violncia dos espanhis. Nisso residia a importncia daatuao dos religiosos, tanto no campo missionrio quanto na argumentao legal e

    teolgica.

    Para Quiroga a proibio da escravido era santa e justa, ou seja, unia o campo

    espiritual com o social, seguindo a ideia da chegada do Reino de Deus contida nos

    evangelhos. A cobia dos espanhis, seu desejo desenfreado de escravizar os ndios para

    mand-los trabalhar nas minas resultava no seguinte: a los ya pacficos y asentados los

    levantan, y siempre han de levantar que rabian, y los han de hacer levantadizos, aunqueno quieran ni les pase por pensamiento [...] (QUIROGA, 2002, p. 79).

    Os ndios naturalmente queriam conservar suas vidas, de forma que resistiam

    escravido e bastante provvel morte nas minas. Quiroga mostra que a ordem das

    coisas estava invertida nas narrativas enviadas coroa: os ndios no eram escravizados

    por serem rebeldes, mas se rebelava, por serem escravizados injustamente se que

    alguma escravido pode ser justa, por sofrerem violncias da parte dos espanhis.

    3 A Primera Provisin a que se refere Quiroga era a que havia proibido a escravido.4 Por exemplo: Salmo 119, 36; Eclesiastes 6, 9; I Timteo 6, 10; Tiago 1, 15; I Joo 2, 16.

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    11/17

    Quiroga (2002, p. 80) prossegue, afirmando o seguinte:

    [] la buena conversin de esta tierra, que yo no s cmo sta en ellase haga, ni como crezcan y convalezcan, ni vengan en conocimientode ella, si en nosotros no hallan fe ni seguridad alguna para con ellos,y, se de vosotros estas gentes no se fan, por nuestro poco sosiego ydesenfrenada codicia, ni sienten que nos fiamos de ellos.

    Como os ndios poderiam se converter ao catolicismo se os espanhis, os

    catlicos, no se mostravam nem um pouco confiveis? Essa uma pergunta importante

    pois Quiroga, ao que parece, tinha uma preocupao verdadeira com a converso dos

    ndios. Ele no era apenas um arauto da colonizao fingindo religio. claro que se

    pode contestar a inteno de converter outros sua religio, mas nesse caso entraremos

    em outro debate que deve resvalar no anacronismo, na medida em que essa ressalva

    com relao aos processos de converso muito mais de nossa poca, depois que j

    vimos as atrocidades coloniais e o massacre dos povos nativos, do que do sculo XVI. A

    questo aqui que Quiroga no aceitava a colonizao a qualquer custo, tentava impor-

    lhe limites. E o trabalho sagrado e primordial de converso dos ndiosque considerava

    til tambm para a prpria Espanha, para o rei e os colonos de boa f estava dentro

    desses limites aceitveis.

    Se considerarmos que Quiroga apenas usava a religio para atender os interesses

    coloniais estaremos fazendo dele um retrico cnico. Alm disso estaremos ignorando

    ou tratando de forma superficial o fenmeno da f religiosa. Uma abordagem

    meramente materialista deixaria passar muitos aspectos essenciais para a compreenso

    desse perodo. Sem dvida a f um deles.

    A interpretao de que Vasco de Quiroga apenas usava a religio para levar a

    cabo um outro projeto ingnua e s pode ser proposta se assumirmos uma srie de

    pressupostos: que a f religiosa, como um fenmeno humano, no existe

    verdadeiramente; que todos os que professam alguma f no caso colonial, o

    catolicismoesto mentindo de forma consciente e deliberada; que a f no serve como

    fenmeno explicativo para os fenmenos histricos. Muitas vezes esse ltimo

    pressuposto aparece como uma concluso quando na verdade um ponto de partida.

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    12/17

    Por outro lado no o caso de simplesmente tratar Quiroga como um heri e

    ignorar seus vnculos com o projeto colonial espanhol. O aspecto religioso se vinculava

    a questes filosficas, econmicas, polticas, a diversas relaes de poder que se

    entrecruzavam o tempo todo. Se quisermos compreender o perodo precisamos ao

    menos tentar observar esses variados aspectos.

    Para que consigamos fazer isso precisamos, antes de mais nada, ler com cuidado

    nossas fontes, de onde tiraremos nossas informaes e interpretaes. Aceitar uma

    formulao terica antes de dar ateno para as fontes cair numa armadilha: teremos

    as respostas antes das perguntas e faremos um trabalho de identificao na fonte do que

    preconiza a teoria. O conhecimento, no entanto, produzido a partir de perguntas.

    Dessa forma a nossa formao terica deve dialogar com nossas fontes, de forma que

    possamos aceit-la, reformul-la ou rejeit-la e, a partir disso, propor uma nova

    formulao terica que poder dialogar com outros estudos. A ideia de que a teoria

    anterior e se sobrepe a tudo apenas mais um pressuposto no declarado por muitos.

    Aqui ele rejeitado.

    Adiante, Quiroga cita a primeira carta de Pedro (5, 8) para explorar uma

    metfora. Nesse texto bblico o leo associado ao diabo, rondando os cristos para

    devor-los. Para Quiroga os espanhis eram como esse leo, rugindo e devorando os

    ndios, que reagiam apenas porque o leo insistia em atacar. Essas inverses de Quiroga,

    tratando os espanhis, pretensamente cristos, como se na verdade estivessem

    associados ao diabo, importante para entendermos seus argumentos, feitos dentro da

    lgica da religio. Algo semelhante aparece tambm em Las Casas (BRUIT, 2003) eGuaman Poma de Ayala (DUSSEL, 2008).

    A seguir Quiroga (2002, p. 83) comea a mostrar as vantagens de seu projeto de

    hospitales-pueblo:

    Aprovecholes mucho la idea que all fui, y el pueblo-hospital de SantaFe que yo all dej comenzado, al cual ha dado y da Dios talacrecentamiento de cristiandad, que, en la verdad, no parece obra dehombres, sino de slo El, como yo creo cierto que lo es, puesque El

    solo lo sustenta, al parecer maravillosamente, y aquello pienso que esgran parte de la bondad no creda ni pensada, antes muy desconfiada

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    13/17

    de la gente de aquella tierra. A Dios se den las gracias de todo, pues aEl solo se deben.

    Os hospitales-puebloeram, para Quiroga, uma obra divina. Essa compreenso

    muito importante para sua defesa, j que era um argumento forte na perspectiva da

    Igreja Catlica. O bom funcionamento dos hospitais tambm era um fundamento para

    validar as propostas, pois mostraria que era possvel e vivel uma outra forma de

    colonizao. Justamente o contrrio do bom funcionamento que se via nos hospitales

    ocorria quando se deixava livre a cobia dos espanhis.

    Alm dos desgnios divinos, um elemento essencial para o sucesso do

    empreendimento era a bondade dos ndios. Essa bondade certamente atraa o favor

    divino e a juno desses dois fatores resultava no sucesso descrito. Os espanhis

    podiam negar a bondade dos ndios, tratando-os como brbaros, mas ela era evidenciada

    pelo bom andamento dos hospitales. Ou seja, a direo da argumentao que os

    espanhis estavam indo contra a vontade de Deus. Essa concluso, se verdadeira, rompe

    com a ideia de um sentido nico da colonizao, em que a coroa espanhola, a IgrejaCatlica e os colonos espanhis estavam todos unidos e preocupados somente em

    conquistar e explorar os ndios. O processo de colonizao tem muitas vozes, muitos

    sentidos, e Quiroga nos ajuda a entender isso.

    Um outro argumento importante de Quiroga (2002, p. 83) est na seguinte

    passagem:

    En cuanto a los que nunca fueron sujetos ni requeridos ni pacificados,

    si queremos tambin en esto estar recatados y mirar bien en lo quepasa, no hay duda sino que aqustos no nos infestan, ni molestan, niresisten a la predicacin del santo Evangelio, sino defindense contralas fuerzas y violencias y robos, que llevan delante de s, por nuestrasy por adalides, los espaoles de guerra, que dicen que los van apacificar.

    Aqui est derrubado o argumento da guerra justa. Os ndios no pacificados

    no atacavam os espanhis, afirma Quiroga, e tampouco resistiam pregao do

    evangelho. Como j dissera antes, os ndios apenas se defendiam das violncias dos

    espanhis. A crtica da violncia e da hipocrisia dos espanhis clara, mas restam

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    14/17

    questes: apesar de aceitarem bem o evangelho, os ndios teriam o direito de rejeit-lo e

    de permanecer vivendo em suas sociedades, mantendo sua religio?

    Em sua argumentao Quiroga parece desconsiderar essa possibilidade, j que

    sempre destaca a boa aceitao do cristianismo por parte dos ndios. Isso pode significar

    que, percebendo o movimento inexorvel da colonizao, ele entendia que era

    impossvel os ndios continuarem em seu mundo, da forma como era antes, e que a

    melhor forma de conduzir essa movimento imparvel era atravs da pregao do

    evangelho. Como dito antes, Quiroga lidava com o movimento concreto da histria, no

    apenas com ideias abstratas.

    Por outro lado podemos entender que Quiroga simplesmente no reconhecia o

    direito dos ndios de recusar o cristianismo. uma interpretao mais difcil, dada a sua

    constante defesa do direito de resistncia s violncias coloniais. Essa posio traz

    consigo uma necessria ausncia de alteridade, uma incompreenso dos ndios em si

    mesmos. Ouvindo o evangelho, no haveria possibilidade de recusarem, parece pensar o

    bispo de Michoacn.

    De fato a resposta no est nesse escrito de Quiroga. A possibilidade de os ndios

    no aceitarem a mensagem crist parece inconveniente para a sua argumentao, pois se

    isso acontecesse tanto a igreja quanto a coroa teriam os seus interesse prejudicados.

    Assim, ao que tudo indica, ele omite um assunto espinhoso para no prejudicar sua tese.

    Da a nfase na aceitao do evangelho.

    O argumento parece apontar para o seguinte: a evangelizao no trazia inimigos

    para a cora e a igreja, ao passo que as violncias dos colonos espanhis provocavamlevantes de ndios. De qualquer forma est claro que Quiroga no , nesse sentido, to

    radical quanto Las Casas, que deixa explcito o no reconhecimento da autoridade da

    igreja e da coroa sobre os ndios, a no ser que estes a aceitassem.

    Seguindo seu argumento, Quiroga (2002, p. 84) defende as obras de misericrdia

    con que, sin duda alguna, muy mejor vendrn al conocimiento de Dios, y se allanaran

    y pacificaran sin otro golpe de espada ni lanza ni saeta ni otros aparatos de guerra que

    los alborota y espanta. Essas boas obras, como as que estava fazendo nos hospitales,ainda que no tivessem como objetivo atrair os ndios para a autoridade da coroa,

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    15/17

    seriam mais eficazes para isso do que a guerra e a escravido.

    E prossegue: Porque a las obras de paz y amor responderan con paz y buena

    voluntad, y a las fuerzas y violencias de guerra, naturalmente, han de responder con

    defensa; porque la defensa es de derecho natural, y tambin les compete a ellos como a

    nosotros (QUIROGA, 2002, p. 84). O argumento segue a linha do humanismo cristo e

    equipara os ndios aos espanhis, o que no pouca coisa numa poca em que se

    discutia a humanidade dos nativos da Amrica.

    Alm de criticar as violncias dos colonos espanhis, Quiroga enfatiza que isso

    atrapalhava a obra missionria.Tratando da dificuldade de compreenso dos ndios, por

    causa da barreria do idioma, diz:

    Y, aunque lo entiendan, no creen sino que es engao y ardid de guerra,viendo la gente en el campo tan apercibida y a punto para dar sobreellos, y las obras y muestras tan contrarias a la paz que les dicen yrequieren. Y, aunque lo crean, tienen mucha razn de no se fiar asluego de gente tano extran a ellos y tan brava y que tantos males y

    daos les va haciendo. (QUIROGA, 2002, p. 84)

    Podemos ver aqu uma demonstrao de alteridade: a tentativa de compreender o

    estranhamento dos ndios com relao aos espanhis. Essa pode ser tambm uma chave

    interpretativa do perodo, pois enquanto os colonos espanhis estavam interessados no

    ouro, os ndios faziam um duro esforo para entender o que se passava. Quiroga mostra

    a incoerncia de exigir a paz quando se oferece a guerra. Alm do choque cultural, as

    aes dos espanhis justificavam plenamente a desconfiana, de forma que mesmo

    quando aceitavam o cristianismo no podiam confiar plenamente nos cristos.

    Consideraes finais

    Os argumentos prosseguem no terceiro captulo, mas as bases j esto dadas

    aqu. Vasco de Quiroga mostra o imbrglio da colonizao, tentando convencer as

    autoridades espanholas da necessidade de cessar com as violncias, de proibir a

    escravido e de tratar os ndios bem para receber em troca uma boa aceitao. A

    compreenso da Informacin en derecho no to simples, da mesma forma que operodo colonial. A sua leitura, a despeito da complexidade, importante para

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    16/17

    entendermos o processo de colonizao e as diversas possibilidades no tenso jogo de

    poder do sculo XVI.

    Mais do que concluses, aqu possvel apenas oferecer algumas perguntas que

    podem nortear o futuro desta investigao. Quiroga pretendia efetivamente converter os

    ndios? A resposta a essa pregunta norteia a interpretao de sua obra,

    independentemente de considerarmos boa ou m a possibilidade de converso. Ao que

    tudo indica, dentro de sua lgica, Quiroga entendia que estava oferecendo liberdade aos

    ndios, livrando-os das tiranias dos antigos chefes nativos. Era o reino de Deus

    chegando at os ndios!

    Seria Quiroga um cnico, estaria apenas usando o trabalho missionrio para

    favorecer outros objetivos, ou ele de fato acreditava na centralidade do trabalho

    missionrio? Ele amava os ndios, procurava o seu bem? Como a dificuldade de

    compreender o outro afetou a obra de Quiroga? A alteridade , sem dvida uma outra

    chave interpretativa sem a qual no compreenderemos as relaes estabelecidas no

    nicio da colonizao da Amrica.

    Podemos dizer, claro, que o trabalho de Quiroga junto aos ndios cooperou

    para a colonizao espanhola. Isso independe das respostas que dermos para as

    perguntas anteriores. Podemos pensar que seu trabalho serve a outros propsitos que

    no os seus, ou ento teremos que aceitar que ele simplesmente trabalhou em prol da

    colonizao, em detrimento dos interesses dos ndios e da sua prpria f. No parece ser

    o caso.

    A obra de Quiroga desperta muitas perguntas a respeito do sculo XVI naAmrica. Desvela tambm uma polifionia de vozes e de possibilidades interpretativas

    que vo muito alm de uma percepo esquemtica da realidade. A Amrica um

    labirinto, mas vamos caminhando. A despeito de cometermos erros, preciso caminhar,

    pois se ficarmos parados teremos apenas a certeza da cegueira e da solido.

    REFERNCIAS

    BRUIT, Hector H. Uma utopia democrtica do sculo XVI. Revista Eletrnica daAnphlac. n. 3, 2003, p. 5-23.

  • 7/25/2019 A Utopia Como Projeto de Colonizacao Da America

    17/17

    DUSSEL, Enrique. Meditaciones anti-cartesianas. Tbula Rasa. BogotColombia, n.9, p. 153-197, 2008.

    LAS CASAS, Bartolom de. Brevsima relacin de la destruccin de las Indias.

    Barcelona: Ediciones Orbis, 1986.

    ______. O paraso destrudo: a sangrenta histria da conquista da Amrica Espanhola.

    Porto Alegre: LP&M, 2011.

    MORE, Thomas. Utopia. Organizada por George M. Logan e Robert M. Adams.

    Traduo Jefferson Luiz Camargo e Marcelo Brando Cipolla. So Paulo: MartinsFontes, 1999.

    QUIROGA, Vasco de. La utopa en Amrica. Edicin de Paz Serrano Gassent. Madri:Dastin, 2002.