a verdade sobre as coisas de verdade que não são contadas verdadeiramente final issuu

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dades ascoi everd uenão ontad rdade ente

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relato de um suicida urbano.

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averdadesobreascoisasdeverdadequenãosãocontadasverdadeiramente

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luizmatheus

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início

por ora, em alguns ínterins, ainda ouço o caos sonoro...

em primeira instância, não fui totalmente sincero. eu menti. não verbalmente, porém, estariam prontos para a verdade? me entre-gariam? não sei. não detive-me em pensar nisso. havia pensado demais, fazendo com que tudo acontecesse, dissonante desse caos urbano. lentamente. tudo o que se passou, passou-se lenta-mente. não sinto minhas mãos sujas de sangue, sinto-as cheias de ódio. eles nunca entenderiam, nunca me entenderão. são muitos lentos, nunca chegarão a pensar. nunca me entenderão.

vós, únicos e ínfimos leitores desse relato, peço-lhes encarecida-mente que dele cuidem, protejam--no, preservem-no, pois agora que sinto-me preparado. não me sinto totalmente preparado, nunca se está preparado para confessar um crime. agora não faço confis-sões, apenas vós narrarei o que fiz, para que me entendam. todo criminoso, que não se tem como criminoso, não diz que cometeu crime. todo criminoso só quer que entrem no âmago de seus pensa-mentos e entendam-no.

todo aquele que agiu como anarquista, antes de qualquer cerne criminoso – mesmo que

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para esse não exista crime além da moral, pois não segue estatuto algum – queria ter-se como herói.

espero tê-los causado surpresa, espero tê-los rompido os tendões da pressa cotidiana. ainda atentam-se a isso? ainda pensam que correm almejando algo que vós será inú-til? não há paz na cidade. a paz na cidade é o caos. e quando correm atrás da paz, fazem justamente o contrário, não há paz no correr. não há paz na cidade. a paz na cidade é o caos. esse escrito, ante tudo, é para tirar-lhes da cidade, é para tirar-lhes a paz. já não estou eu na cidade, já não almejo nada. não tenho objetivos. se não escrevo na cidade, não escrevo em paz, e sin-to-me justamente flanar, por não ter mais a paz da cidade. sinto-me flanar.

numa segunda feira de janeiro. encontrava-me ali, no coletivo, no ônibus. era um jovem. sentado ren-te ao sol, sentia meu corpo supera-quecer. soltava os botões da camisa. suava. milhões de falas e odores. vocês passam por isso ainda nos dias hodiernos. suava. milhões de falas e odores. pensava, eu paguei por essa porra! nesses dias quentes, afastam-se os pensamentos ruins sobre o cotidiano, os problemas de casa, da escola, somos tomados de raiva no transporte público. eu

paguei por essa porra, que inferno! somos tomados de raiva pelo trans-porte público.

são caldeiras. os coletivos urba-nos são grandes caldeiras. cada molécula de água tende aquecer nas caldeiras. diversos elementos são jogados nas caldeiras. somos elementos. as caldeiras ficam sobre o fogo, as caldeiras urbanas ficam dentro do forno. todos os dias, somos submetidos à andar em caldeiras, não há saída, as ruas são império dos donos das caldeiras, que inferno!

dali, almejava realizar uma troca. meu pai precisava da tro-ca. o cartão-único quebrou. em três dias úteis você tem um novo cartão mediante troca, dinheiro pelo cartão, nada mais, apenas três dias úteis após o dinheiro, vem o cartão. ia buscá-lo! maldito cartão--único, privatiza meu direito de ir e vir. meus caros, choquem-se, não possuem vós o direito de ir e vir, e já nisso, tem princípio minha cólera. na caldeira pensando, eu paguei por essa porra, que inferno, maldito cartão-único, maldito direito de ir e vir, que inferno!

cheguei, niilista, negativista, tudo daria errado! grande terminal de coletivos, muitos coletivos, pou-co espaço, muitas pessoas. primeiro passo, a fila, marca de todo proces-

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por ora, em alguns ínterins, ainda ouço o caos sonoro...

em primeira instância, não fui totalmente sincero. eu menti. não verbalmente, porém, estariam prontos para a verdade? me entre-gariam? não sei. não detive-me em pensar nisso. havia pensado demais, fazendo com que tudo acontecesse, dissonante desse caos urbano. lentamente. tudo o que se passou, passou-se lenta-mente. não sinto minhas mãos sujas de sangue, sinto-as cheias de ódio. eles nunca entenderiam, nunca me entenderão. são muitos lentos, nunca chegarão a pensar. nunca me entenderão.

vós, únicos e ínfimos leitores desse relato, peço-lhes encarecida-mente que dele cuidem, protejam--no, preservem-no, pois agora que sinto-me preparado. não me sinto totalmente preparado, nunca se está preparado para confessar um crime. agora não faço confis-sões, apenas vós narrarei o que fiz, para que me entendam. todo criminoso, que não se tem como criminoso, não diz que cometeu crime. todo criminoso só quer que entrem no âmago de seus pensa-mentos e entendam-no.

todo aquele que agiu como anarquista, antes de qualquer cerne criminoso – mesmo que

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para esse não exista crime além da moral, pois não segue estatuto algum – queria ter-se como herói.

espero tê-los causado surpresa, espero tê-los rompido os tendões da pressa cotidiana. ainda atentam-se a isso? ainda pensam que correm almejando algo que vós será inú-til? não há paz na cidade. a paz na cidade é o caos. e quando correm atrás da paz, fazem justamente o contrário, não há paz no correr. não há paz na cidade. a paz na cidade é o caos. esse escrito, ante tudo, é para tirar-lhes da cidade, é para tirar-lhes a paz. já não estou eu na cidade, já não almejo nada. não tenho objetivos. se não escrevo na cidade, não escrevo em paz, e sin-to-me justamente flanar, por não ter mais a paz da cidade. sinto-me flanar.

numa segunda feira de janeiro. encontrava-me ali, no coletivo, no ônibus. era um jovem. sentado ren-te ao sol, sentia meu corpo supera-quecer. soltava os botões da camisa. suava. milhões de falas e odores. vocês passam por isso ainda nos dias hodiernos. suava. milhões de falas e odores. pensava, eu paguei por essa porra! nesses dias quentes, afastam-se os pensamentos ruins sobre o cotidiano, os problemas de casa, da escola, somos tomados de raiva no transporte público. eu

paguei por essa porra, que inferno! somos tomados de raiva pelo trans-porte público.

são caldeiras. os coletivos urba-nos são grandes caldeiras. cada molécula de água tende aquecer nas caldeiras. diversos elementos são jogados nas caldeiras. somos elementos. as caldeiras ficam sobre o fogo, as caldeiras urbanas ficam dentro do forno. todos os dias, somos submetidos à andar em caldeiras, não há saída, as ruas são império dos donos das caldeiras, que inferno!

dali, almejava realizar uma troca. meu pai precisava da tro-ca. o cartão-único quebrou. em três dias úteis você tem um novo cartão mediante troca, dinheiro pelo cartão, nada mais, apenas três dias úteis após o dinheiro, vem o cartão. ia buscá-lo! maldito cartão--único, privatiza meu direito de ir e vir. meus caros, choquem-se, não possuem vós o direito de ir e vir, e já nisso, tem princípio minha cólera. na caldeira pensando, eu paguei por essa porra, que inferno, maldito cartão-único, maldito direito de ir e vir, que inferno!

cheguei, niilista, negativista, tudo daria errado! grande terminal de coletivos, muitos coletivos, pou-co espaço, muitas pessoas. primeiro passo, a fila, marca de todo proces-

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so burocrático. onde encontramos mais filas, vemos ainda menos soluções. a justiça da fila é ouvir, não podemos fazer nada senhor. as filas são venenos para nossa pressa interior, não há quem não delire.

balcão 1, fila do caralho! final-mente. crescem as expectativas que estou ali para nada, com a pressa ferida, a cólera iniciada. se não desse certo, como voltaria? coleti-vos públicos são privados. balcão 1, finalmente. boa tarde, vim retirar esse bilhete, entrego a balconista a permissão por escrito junto à documentos, a burocracia precisa alimentar-se. aguarde um instante senhor, as assinaturas não bateram, você não pode retirar o cartão. os documentos provam que é de meu pai senhora, faça obséquio, faça favor porra, preciso desse cartão para voltar. não podemos fazer nada senhor.

nisso explodi. vingança contra atendente? xin-

gamentos? não parecia esse o viés. o princípio de todo processo burocrá-tico é a organização em pirâmides, sistema com diversos subordina-dos, e nisso, a balconista é apenas a base. no dia seguinte meu pai faltaria ao trabalho, enfrentaria a fila, enfrentaria a burocracia e retirar-se-ia para ser engrenagem em outra vertente burocrática. os

atendentes, os gerentes, os subordi-nados não são culpados da pirâmi-de burocrática, são vítimas.

pensava nisso enquanto andava lentamente para casa. não sei quan-tos passos. todos os botões soltos. corpo superaquecido. a cada passo, pensamento, ínterim, um aumento na cólera. justo? não é justo a pirâ-mide burocrática? não é natural. calos no pé, suor no corpo, dor de cabeça. banho gelado. permitam o vocabulário, totalmente puto, puto com a burocracia.

como todas nossas revoltas, esfriam-se e continuamos a percorrer os mesmos caminhos, a utilizar os mesmos coletivos, ver as mesmas pessoas com as mesmas cóleras, mas não fazemos nada, sempre endossando que também somos nada. a pirâmide burocrática prevalece.

passou-se o tempo, muitos anos desde de aqueles acontecimentos, por ora, ainda passando por cóleras. agora mais velho, também incluso na pirâmide burocrática, onde, sobem-se ínfimos degraus à diplo-

meio

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meiomas conquistados. não dá-se valor qualquer a inteligência, ao saber, na burocracia a expertise é o único teor de conquista, a experiência de trabalho faz os criminosos de colarinho.

um dia me veio a reflexão acer-ca daquele terminal de coletivos. lugar de grande movimentação, de apertos, de brigas, de comércios. aqueles que entram nos coletivos almejam algo. entram com algum querer. do que são feitos os termi-nais? os terminais são as grandes resistências do ir e vir, grandes centros de detenção dos direitos do cidadão. os terminais são os portos modernos e os coletivos os navios negreiros. os terminais na periferia são a atualização do transporte dos escravos. a pirâmide burocrática é a monarquia burguesa.

cabe uma ressalva não somen-te à aquele terminal, mas em um âmbito geral, de que sempre são acompanhados de grandes aveni-das, por um motivo de urbanidade óbvio. porém, é assertivo vós dizer que o encontro dos coletivos com os

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so burocrático. onde encontramos mais filas, vemos ainda menos soluções. a justiça da fila é ouvir, não podemos fazer nada senhor. as filas são venenos para nossa pressa interior, não há quem não delire.

balcão 1, fila do caralho! final-mente. crescem as expectativas que estou ali para nada, com a pressa ferida, a cólera iniciada. se não desse certo, como voltaria? coleti-vos públicos são privados. balcão 1, finalmente. boa tarde, vim retirar esse bilhete, entrego a balconista a permissão por escrito junto à documentos, a burocracia precisa alimentar-se. aguarde um instante senhor, as assinaturas não bateram, você não pode retirar o cartão. os documentos provam que é de meu pai senhora, faça obséquio, faça favor porra, preciso desse cartão para voltar. não podemos fazer nada senhor.

nisso explodi. vingança contra atendente? xin-

gamentos? não parecia esse o viés. o princípio de todo processo burocrá-tico é a organização em pirâmides, sistema com diversos subordina-dos, e nisso, a balconista é apenas a base. no dia seguinte meu pai faltaria ao trabalho, enfrentaria a fila, enfrentaria a burocracia e retirar-se-ia para ser engrenagem em outra vertente burocrática. os

atendentes, os gerentes, os subordi-nados não são culpados da pirâmi-de burocrática, são vítimas.

pensava nisso enquanto andava lentamente para casa. não sei quan-tos passos. todos os botões soltos. corpo superaquecido. a cada passo, pensamento, ínterim, um aumento na cólera. justo? não é justo a pirâ-mide burocrática? não é natural. calos no pé, suor no corpo, dor de cabeça. banho gelado. permitam o vocabulário, totalmente puto, puto com a burocracia.

como todas nossas revoltas, esfriam-se e continuamos a percorrer os mesmos caminhos, a utilizar os mesmos coletivos, ver as mesmas pessoas com as mesmas cóleras, mas não fazemos nada, sempre endossando que também somos nada. a pirâmide burocrática prevalece.

passou-se o tempo, muitos anos desde de aqueles acontecimentos, por ora, ainda passando por cóleras. agora mais velho, também incluso na pirâmide burocrática, onde, sobem-se ínfimos degraus à diplo-

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meiomas conquistados. não dá-se valor qualquer a inteligência, ao saber, na burocracia a expertise é o único teor de conquista, a experiência de trabalho faz os criminosos de colarinho.

um dia me veio a reflexão acer-ca daquele terminal de coletivos. lugar de grande movimentação, de apertos, de brigas, de comércios. aqueles que entram nos coletivos almejam algo. entram com algum querer. do que são feitos os termi-nais? os terminais são as grandes resistências do ir e vir, grandes centros de detenção dos direitos do cidadão. os terminais são os portos modernos e os coletivos os navios negreiros. os terminais na periferia são a atualização do transporte dos escravos. a pirâmide burocrática é a monarquia burguesa.

cabe uma ressalva não somen- te à aquele terminal, mas em um âmbito geral, de que sempre são acompanhados de grandes aveni-das, por um motivo de urbanidade óbvio. porém, é assertivo vós dizer que o encontro dos coletivos com os

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so burocrático. onde encontramos mais filas, vemos ainda menos soluções. a justiça da fila é ouvir, não podemos fazer nada senhor. as filas são venenos para nossa pressa interior, não há quem não delire.

balcão 1, fila do caralho! final-mente. crescem as expectativas que estou ali para nada, com a pressa ferida, a cólera iniciada. se não desse certo, como voltaria? coleti-vos públicos são privados. balcão 1, finalmente. boa tarde, vim retirar esse bilhete, entrego a balconista a permissão por escrito junto à documentos, a burocracia precisa alimentar-se. aguarde um instante senhor, as assinaturas não bateram, você não pode retirar o cartão. os documentos provam que é de meu pai senhora, faça obséquio, faça favor porra, preciso desse cartão para voltar. não podemos fazer nada senhor.

nisso explodi. vingança contra atendente? xin-

gamentos? não parecia esse o viés. o princípio de todo processo burocrá-tico é a organização em pirâmides, sistema com diversos subordina-dos, e nisso, a balconista é apenas a base. no dia seguinte meu pai faltaria ao trabalho, enfrentaria a fila, enfrentaria a burocracia e retirar-se-ia para ser engrenagem em outra vertente burocrática. os

atendentes, os gerentes, os subordi-nados não são culpados da pirâmi-de burocrática, são vítimas.

pensava nisso enquanto andava lentamente para casa. não sei quan-tos passos. todos os botões soltos. corpo superaquecido. a cada passo, pensamento, ínterim, um aumento na cólera. justo? não é justo a pirâ-mide burocrática? não é natural. calos no pé, suor no corpo, dor de cabeça. banho gelado. permitam o vocabulário, totalmente puto, puto com a burocracia.

como todas nossas revoltas, esfriam-se e continuamos a percorrer os mesmos caminhos, a utilizar os mesmos coletivos, ver as mesmas pessoas com as mesmas cóleras, mas não fazemos nada, sempre endossando que também somos nada. a pirâmide burocrática prevalece.

passou-se o tempo, muitos anos desde de aqueles acontecimentos, por ora, ainda passando por cóleras. agora mais velho, também incluso na pirâmide burocrática, onde, sobem-se ínfimos degraus à diplo-

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meiomas conquistados. não dá-se valor qualquer a inteligência, ao saber, na burocracia a expertise é o único teor de conquista, a experiência de trabalho faz os criminosos de colarinho.

um dia me veio a reflexão acer-ca daquele terminal de coletivos. lugar de grande movimentação, de apertos, de brigas, de comércios. aqueles que entram nos coletivos almejam algo. entram com algum querer. do que são feitos os termi-nais? os terminais são as grandes resistências do ir e vir, grandes centros de detenção dos direitos do cidadão. os terminais são os portos modernos e os coletivos os navios negreiros. os terminais na periferia são a atualização do transporte dos escravos. a pirâmide burocrática é a monarquia burguesa.

cabe uma ressalva não somen- te à aquele terminal, mas em um âmbito geral, de que sempre são acompanhados de grandes aveni-das, por um motivo de urbanidade óbvio. porém, é assertivo vós dizer que o encontro dos coletivos com os

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carros é a representação da cidade. a paralisação de todos os meios de transporte no centro urbano é representativo, é sublime e há nisso uma mensagem de opressão diária. aqueles que tentam fugir da escravidão dos coletivos, segura-mente não fugiram da escravidão do trânsito em geral. todos os dias os centros urbanos comunicam que não há um plebeu que não será atingido pelo coletivismo, que só os que estão no topo da pirâmide burocrática não fazem parte de tal opressão, pois a eles pertence a cidade. a monarquia burguesa impera, aumenta a cólera, que inferno!

protestos, houve princípio de confusão na pirâmide.

o que antecedeu ao meu dizer que vos confessaria algo parte desse momento, de uma falha, uma bre-cha que o sistema abre para aqueles que, insatisfeitos com algo, possam lutar. possam pensar que lutam. falsa sensação. greve dos que traba-lhavam para a empresa detentora dos coletivos, barulho de moscas para os que estão no topo, barulho de moscas.

eu precisava trabalhar justamen-te nesse lugar? alguns anos perdi-dos estudando, não aprendendo, para chegar aqui, onde já havia passado raiva. mais um fiscal. mais

fim8/9

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fimuma carteira assinada. organizei a greve, reuni moscas, mas não seria só, queria derrubar a pirâmide, que-ria derrubar a burocracia, queria derrubar tudo e todos, queria ape-nas vingança, queria apenas fogo.

mesmo janeiro, anos depois: um fiscal revoltado. “agradeça porque tem emprego”, “agradeça porque tem convênio”, “décimo terceiro”. mal agradecido, tomado de imbeci-lidade e achando-se herói implanta uma bomba num duto subterrâneo de gás localizado embaixo de um terminal de coletivos em um grande centro urbano. quando reúnem-se o maior número de funcionários no local uma explosão mata todos,

afeta todos os coletivos e prejudica a avenida. foram os patrões? foram os que estão no topo? confusão, trânsito, muito fogo. que audácia, quem faria tal coisa?

meus caros, fui eu. não me arrependo. sinto-me agora vingado. nada melhorará. tudo voltará ao normal. irão reformar o terminal. compadecer-se-ão das vítimas, farão homenagens. tudo continuara como era antes. cóleras. caldeiras. meu suicídio. a pirâmide burocrá-tica continua. no mundo, uma bom-ba a menos. um desperdício, todos se foram. não me arrependo. tudo continuou como estava.

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fimcarros é a representação da cidade. a paralisação de todos os meios de transporte no centro urbano é representativo, é sublime e há nisso uma mensagem de opressão diária. aqueles que tentam fugir da escravidão dos coletivos, segura-mente não fugiram da escravidão do trânsito em geral. todos os dias os centros urbanos comunicam que não há um plebeu que não será atingido pelo coletivismo, que só os que estão no topo da pirâmide burocrática não fazem parte de tal opressão, pois a eles pertence a cidade. a monarquia burguesa impera, aumenta a cólera, que inferno!

protestos, houve princípio de confusão na pirâmide.

o que antecedeu ao meu dizer que vos confessaria algo parte desse momento, de uma falha, uma bre-cha que o sistema abre para aqueles que, insatisfeitos com algo, possam lutar. possam pensar que lutam. falsa sensação. greve dos que traba-lhavam para a empresa detentora dos coletivos, barulho de moscas para os que estão no topo, barulho de moscas.

eu precisava trabalhar justamen-te nesse lugar? alguns anos perdi-dos estudando, não aprendendo, para chegar aqui, onde já havia passado raiva. mais um fiscal. mais

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fimuma carteira assinada. organizei a greve, reuni moscas, mas não seria só, queria derrubar a pirâmide, que-ria derrubar a burocracia, queria derrubar tudo e todos, queria ape-nas vingança, queria apenas fogo.

mesmo janeiro, anos depois: um fiscal revoltado. “agradeça porque tem emprego”, “agradeça porque tem convênio”, “décimo terceiro”. mal agradecido, tomado de imbeci-lidade e achando-se herói implanta uma bomba num duto subterrâneo de gás localizado embaixo de um terminal de coletivos em um grande centro urbano. quando reúnem-se o maior número de funcionários no local uma explosão mata todos,

afeta todos os coletivos e prejudica a avenida. foram os patrões? foram os que estão no topo? confusão, trânsito, muito fogo. que audácia, quem faria tal coisa?

meus caros, fui eu. não me arrependo. sinto-me agora vingado. nada melhorará. tudo voltará ao normal. irão reformar o terminal. compadecer-se-ão das vítimas, farão homenagens. tudo continuara como era antes. cóleras. caldeiras. meu suicídio. a pirâmide burocrá-tica continua. no mundo, uma bom-ba a menos. um desperdício, todos se foram. não me arrependo. tudo continuou como estava.

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as coisas de verdade que não são contadas verdadeiramente

vieira, Luiz Matheus

Projeto EditorialEdição de Fotográfica

Capapor Luiz Matheus

trabalho apenas para fins pessoais, as fotografias foram retiradas de pesquisas banais no google imagens, sem qualquer intenção de

apropriação comercial.

São Paulo, 2016

composto em Alegreya 11/13e Bloveltica 88/98

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