A via Analogica No Pensamento de Simmel

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Neste artigo, trato do papel do raciocínio analógico no pensamentode Georg Simmel (1858-1918), um dos fundadoresda sociologia alemã. Meu objetivo principal aqui é apreenderas relações entre o procedimento analógico como recursocognitivo e o estilo de pensamento a que Simmel adere.Como primeiro passo rumo a isso, recolho os fragmentos dahistória do conceito de analogia que considero mais relevantespara a recepção da parte de Simmel. Em seguida, proponhoum breve mapeamento das ocorrências de analogia quepodem ser identificadas naquelas obras de Simmel que maisteriam influenciado a sociologia, a saber: a Philosophie desGeldes (1900) e a Soziologie (1908). Finalmente, ataco a questãoquanto ao modo como Simmel manejou suas analogias nasua busca por articular tais projetos intelectuais – visandoexpor o nexo entre esse recurso e o ideal cognitivo da plasticidade,concebido como princípio orientador dominante dopensamento sociológico e filosófico de Simmel.

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  • A VIA ANALGICA NO PENSAMENTO DE GEORG SIMMEL1

    Lenin Bicudo Brbara I

    I Universidade de So Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e

    Cincias Humanas, Brasil

    [email protected]

    INTRODUO AO PROBLEMA

    Kracauer abre sua monografia sobre Simmel (ver Kracauer, 2004)2 expondo a

    dificuldade peculiar imposta ao intrprete que pretenda rotular o campo das

    ref lexes simmelianas. Como posteriormente outros intrpretes de Simmel

    enfatizariam, por trs dessa dificuldade est a plasticidade de seu estilo filo-

    sfico, que o dispunha a abordar temas os mais inusitados, explorar vrias

    linhas de argumentao distintas e no raro contraditrias num mesmo ensaio,

    e transpor os limites costumeiros entre os vrios domnios do conhecimento.

    Se essa plasticidade deslumbrou vrios ouvintes e leitores, incomodou

    profundamente outros, que viam nela incoerncia e falta de rigor. Assim,

    entender melhor essa plasticidade tornou-se o grande desafio para seus in-

    trpretes, que precisaram transcender tais impresses de leitura, localizan-

    do, na obra de Simmel, o ncleo problemtico que alimenta impresses afinal

    to diversas.

    No presente artigo, esse problema mais geral ser encarado de uma

    perspectiva bem especfica. Proponho examinar uma das principais ferra-

    mentas de que Simmel se serviu para imprimir em sua obra a marca da plas-

    ticidade: a analogia. Para tal, trao um panorama geral dos vrios usos e

    funes que o procedimento analgico assumiu no pensamento de Simmel,

    tal como este consolidou-se em seus livros de maior interesse sociolgico:

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    a Philosophie des Geldes (1900) e a Soziologie (1908)3 buscando identificar como,

    e com que fins, Simmel valeu-se desse recurso para articular esses dois pro-

    jetos intelectuais.

    Os leitores de Simmel decerto tero na memria alguma de suas ana-

    logias, pois, s nas duas obras mencionadas, encontramos centenas delas.

    Dentre os que, alm de leitores, tambm fizeram as vezes de comentadores

    de Simmel, no foram poucos os que se referiram analogia como compo-

    nente relevante de seu pensamento. Weber, Kracauer, Freyer, Tenbruck, Wolff,

    Levine, Frisby, Lichtblau, Vandenberghe, Dodd e Waizbort todos ao menos

    tocaram no assunto,4 e alguns chegaram a problematiz-lo, indicando o vn-

    culo do recurso analogia com aquela plasticidade que o prprio Simmel

    buscava. Voltaremos a alguns desses autores ao longo deste artigo.

    Antes de tomar em mos esse problema, gostaria que o examinssemos

    mais detidamente. Esse exame ocupar as duas primeiras sees do artigo.

    Na primeira, procuro expor o que eram as analogias para Simmel, recons-

    truindo os fragmentos da histria do conceito mais pertinentes ao seu caso.

    Na segunda, trato das analogias tal como aparecem no texto simmeliano,

    mapeando suas ocorrncias e funes bsicas na Philosophie des Geldes e na

    Soziologie. Isso nos dar uma imagem mais precisa do problema, que nos per-

    mitir confront-lo com maior propriedade. Reservo esse confronto seo

    final do artigo, em que trato de vasculhar a relao do procedimento anal-

    gico com o tipo de pensamento a que Simmel adere.

    A ANALOGIA AOS OLHOS DE SIMMEL

    Em seu Sistema de Lgica, Stuart Mill afirmou no haver palavra usada de

    forma mais vaga ou com tamanha variedade de sentidos do que analogia

    (Mill, 1961: 361).5 Apesar do exagero, o termo possui mesmo um amplo espec-

    tro semntico, adquirindo sentidos marcadamente distintos nos vrios con-

    textos em que utilizado. Por isto, o primeiro passo deste artigo consiste em

    selecionar o leque de sentidos mais pertinentes ao nosso caso. Para tal, em

    vez de propor uma definio fechada do conceito, reconstruirei o quadro de

    referncias de que Simmel dispunha para formar sua prpria ideia do que era

    uma analogia e de como us-la adequadamente. Essa opo justifica-se pela

    circunstncia de que o prprio Simmel no operava com um conceito perfei-

    tamente fechado de analogia6 embora possamos discernir dois pares de

    designaes bsicas do conceito que de certa forma orientaram os vrios usos

    verificados na sua obra. Como, de resto, Simmel no inventa nenhuma dessas

    definies, mas apenas apropria-se delas, podemos, para chegar a tal recons-

    truo, consultar algumas das fontes que ele mesmo consultara um esforo

    que, embora fragmentrio, crucial para evitarmos imputar ingenuamente

    a Simmel a nossa concepo de analogia.

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    artigo | lenin bicudo brbara

    Encontramos na filosofia grega a primeira definio do conceito rele-

    vante para Simmel. Nesse contexto, a analogia aparece como um esquema

    cognitivo que se deixa expressar na seguinte frmula: A est para B, assim

    como C est para D. Encontramos instncias desse esquema peculiar em textos

    to antigos como os poemas de Safo (ver Snell, 1992: 253), mas os primeiros

    registros de que se tem notcia do nome analogia ocorrem mais tarde, em

    particular em Architas de Tarento e Plato.7 Em Plato, que nos interessa por

    ser um autor com quem Simmel tinha certa familiaridade, encontramos in-

    meros argumentos estruturados na forma de analogia; pensemos aqui na

    conhecida passagem da Repblica em que Scrates, visando demonstrar que

    a busca pela verdade depende da ideia do bem, argumenta que o Sol estaria

    para a viso (e seus objetos), assim como o bem para o intelecto (e seus ob-

    jetos), concluindo que aquilo que difunde a luz da verdade sobre os objetos

    do conhecimento e confere ao sujeito conhecedor o poder de conhecer a

    ideia do bem (Plato, 1965: 94).8

    Embora tenha usado a palavra analogia e empregado inmeras vezes

    a frmula correspondente em seus dilogos que Simmel, por apresentar-se

    como filsofo, no podia ignorar , caberia no a Plato, mas a Aristteles

    compor a primeira definio mais explcita do conceito. Aristteles concebe

    a analogia como uma identidade de razes, em que a razo concebida como

    uma relao entre dois termos. Tal modelo admite expresso aritmtica e

    geomtrica, trazendo consigo uma srie de implicaes: pois, se A est para

    B assim como C para D, ento A est para C assim como B para D; e, se atri-

    buirmos valores a trs desses termos, podemos encontrar o quarto, contanto

    que a relao entre essas duas razes seja mesmo de identidade.9 Nesta cha-

    ve matemtica, analogia equivale a proporcionalidade.10

    Aristteles apresenta essa definio do conceito em sua tica nicoma-

    queia, em que explicita sua origem matemtica (ver Aristteles, 1984: 1785-

    1786).11 Apesar dessa origem, Aristteles empregava analogias em vrios

    contextos discursivos, como na Potica, em que fala da analogia como um dos

    princpios possveis para a formao de metforas. O exemplo clssico que

    fornece para isso que reaparece na Retrica este: se o escudo est para

    Ares, assim como a taa para Dionsio, ento o poeta pode dizer que o escu-

    do a taa de Ares, ou ento, mais elipticamente, que o escudo uma taa

    sem vinho (Aristteles, 1984: 2332-2333).12 O que confere sentido a essas cons-

    trues poticas o que nos faz lembrar do escudo mesmo quando o poeta,

    em vez de cham-lo pelo nome prprio, menciona apenas a taa de Ares ,

    a proporcionalidade acima mencionada, trivial no imaginrio grego.

    No texto de Simmel, podemos identificar inmeras comparaes que

    se encaixam perfeitamente nessa frmula, que ele reconhecia como a frmu-

    la da analogia. Assim, logo no primeiro captulo da Soziologie, ele afirma que

    a sociologia est para as demais cincias especializadas assim como a geo-

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    metria para as cincias fsico-qumicas da matria, e chama isso de analogia

    (Simmel, 1992: 25).

    Mas nem todas suas analogias encaixam-se perfeitamente nessa fr-

    mula, pois Simmel tambm chamava de analogia outro tipo de relao en-

    tre termos que, embora derive da proporcionalidade, no se resume a ela.

    Para acess-la, passaremos da filosofia grega cincia moderna, e mais es-

    pecificamente ao texto de Darwin, que teve um impacto importante na for-

    mao intelectual de Simmel.

    Trata-se, aqui, do conceito de analogia como semelhana funcional. A cer-

    ta altura dA origem das espcies, Darwin distingue dois tipos de semelhana

    ou afinidade entre os traos dos animais (por exemplo: entre os braos dos

    seres humanos, as nadadeiras das baleias e as nadadeiras dos peixes). Darwin

    reserva o termo homologia s semelhanas estruturais hereditrias; neste

    sentido, os braos dos seres humanos so homlogos s nadadeiras das ba-

    leias.13 O conceito de analogia definido por oposio ao de homologia: Dar-

    win s considera dois traos anlogos caso a semelhana aparente entre eles

    seja devida no descendncia comum, mas, sim, ao que hoje chamamos de

    adaptao convergente. Como exemplo, Darwin menciona a semelhana en-

    tre as nadadeiras dos cetceos e a dos peixes, semelhana esta que nos induz

    a cham-las pelo mesmo nome, e devida circunstncia de que, para sobre-

    viver, tanto peixes como cetceos acabaram desenvolvendo estruturas ana-

    tomicamente adequadas para a locomoo eficiente dentro dgua (ver Darwin,

    1964: 427-428).

    O importante no contexto da recepo simmeliana das ideias de Dar-

    win que, enquanto o conceito de homologia prescinde da ideia de funo

    (dois traos homlogos no precisam ter a mesma funo), o de analogia

    ainda depende dela, ainda que num sentido especfico. Pois parte da soluo

    de Darwin para o problema da existncia de membros similares, mas cuja

    semelhana no herdada, consiste em referir tais estruturas a uma funo

    comum, identificando para que servem. Essa estratgia ao menos to ve-

    lha quanto Aristteles, mas Darwin vale-se dela num registro diferente do

    aristotlico. A diferena que Darwin no se contenta em identificar a funo

    comum que explica a semelhana de forma, mas avana com a explicao

    ao conceb-la como resposta adaptativa a certas presses ecolgicas pres-

    ses essas de natureza sistmica, ou melhor, oriundas de uma teia de rela-

    es em que se unem plantas e animais distantes na escala da natureza

    (Darwin, 1964: 63). Em suma, o que afinal explica a semelhana formal e

    funcional que Darwin chama de analgica sua remisso a certas condies

    de vida tambm semelhantes, a sua posio relativa na cadeia da vida.

    Simmel, como alis outros socilogos, lana mo de um modelo simi-

    lar para relacionar formaes sociais concretas. Assim, a certa altura de sua

    Soziologie, ele chama a ateno para a semelhana de funo entre uma lei de

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    Tebas, que fixaria o nmero de proprietrios de terra, e uma lei de Corinto,

    que fixaria o nmero de famlias indicando como nos dois casos o que es-

    taria em jogo seria a sobrevivncia das aristocracias locais (Simmel, 1992:

    67).14 Simmel se referia a esse tipo de convergncia formal como analgica;

    e assim como, para Darwin, tal convergncia no pressupunha nenhuma for-

    ma de transmisso hereditria, assim tambm, para Simmel, tal correlao

    entre formaes sociais no pressuporia necessariamente mecanismos de

    transmisso histrica, de modo que tais formaes poderiam desenvolver-se

    independentemente uma da outra.

    H vrias diferenas importantes entre essas verses do conceito de

    analogia. Aqui destaco apenas duas delas. Noto, primeiramente, que a fr-

    mula da analogia proporcional implica, no limite, uma identidade de razes,

    enquanto a segunda modalidade de analogia pressupe apenas uma seme-

    lhana geral de forma e de funo sendo este, portanto, um conceito mais

    vago do que aquele. Em segundo lugar, enquanto a analogia na acepo ma-

    temtica uma equivalncia puramente abstrata de relaes (ou seja, uma

    relao de relaes), a analogia na segunda acepo refere-se a entidades em-

    pricas ou concretas (ou seja, uma relao mais aparente, uma relao

    entre coisas).

    Isto basta para passar uma ideia bsica do que era uma analogia aos

    olhos de Simmel. Porm, se tanto Aristteles como Darwin estipularam cer-

    tas normas para o uso adequado da analogia, tais normas pesavam, no con-

    texto intelectual em que Simmel estava metido, muito menos do que aquelas

    prescritas por Kant e Goethe a que devemos nos voltar para formar uma

    ideia mais precisa do leque de designaes que o conceito de analogia adqui-

    re para Simmel.

    Kant, que conhecia bem o conceito de analogia, uma vez chamou a

    ateno para que seu uso na filosofia era vlido apenas como recurso heurs-

    tico ou regulador. Grosso modo, isto significa que uma analogia tem certo valor

    quando fornece parmetros formais para a descoberta e conceituao de fe-

    nmenos novos, tornando conhecido algo at ento desconhecido. Nas pala-

    vras de Heidegger, com a analogia, obtemos apenas a indicao para uma

    relao de algo dado com algo no dado, ou seja, a indicao de como ns

    temos de procurar, a partir de algo dado, algo no dado, e de onde temos de

    ach-lo caso se apresente (Heidegger, 1987: 177).15 Esta funcionalidade heu-

    rstica ou reguladora pode ser pensada como uma qualidade cognitiva, como

    um recurso que, se adequadamente explorado, pode resultar em ganho cog-

    nitivo e esse ganho que Simmel teve em vista quando, por exemplo, su-

    geriu aplicar sociologia o princpio dos efeitos infinitamente mltiplos e

    infinitamente pequenos [...], que se mostrou eficaz nas cincias diacrnicas

    da geologia, da teoria biolgica da evoluo e da histria (Simmel, 1992: 33-

    34). A ideia, neste caso, que a analogia com essas cincias orientaria o so-

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    cilogo a prestar ateno mesmo s formas mais sutis e volteis de

    socializao16 (como a troca de cartas, a inveja, o segredo, a gratido etc.),

    pois pode ser que elas desempenhem algum papel na manuteno da socie-

    dade como um todo.

    Goethe tambm fornece pelo menos duas prescries que merecem

    destaque. Primeiro, sugere que a analogia deva ser usada com comedimento:

    Tudo que existe um analogon de todo o resto; da que a existncia aparea para

    ns sempre ao mesmo tempo ligada e separada. Se perseguirmos a analogia longe

    demais, tudo acaba por coincidir na identidade; se passarmos ao largo dela, tudo se

    dissipa na infinitude. Em ambos os casos, cessa a reflexo: num caso por viver em

    excesso, noutro caso, morta (Goethe apud Simmel, 2003: 95).

    A leitura atenta dos textos de Simmel revela que ele tambm evitava

    ir longe demais com suas analogias ora apontando os limites de determi-

    nada analogia, ora desmontando uma falsa analogia, ora enfatizando que

    certa particularidade no admite analogias.

    Dodd recentemente chamou a ateno para um segundo aspecto da

    inf luncia de Goethe sobre Simmel (e Benjamin) no tocante analogia. Em

    seu artigo, ele compara as analogias que Goethe estabelece nos seus estudos

    de botnica quelas empregadas por Simmel (Dodd, 2008). Isto indica que

    Goethe, cujas pesquisas nesta e em outras reas eram marcadas por uma ten-

    tativa de fuso entre arte e cincia, pode ter sugerido a Simmel algo como um

    valor expressivo da analogia ressaltando o imperativo de preservar uma qua-

    lidade esttica da analogia mesmo ao empreg-la em contextos cientficos.17

    possvel reconstruir em maior detalhe esse quadro de referncias,

    mas o que temos at aqui basta para os nossos fins. Nas sees seguintes,

    veremos como Simmel manejou esses vrios fragmentos da histria da ana-

    logia, examinando primeiro o que resultou desse manejo, para depois bus-

    carmos pela lgica por trs desses resultados.

    A ANALOGIA NO TEXTO DE SIMMEL

    Nesta seo, tentarei passar uma ideia da variedade de formas que a analogia

    assume no texto de Simmel, focando nos dois livros que se mostraram mais

    significativos para a sociologia.

    Para o leitor interessado em identificar as analogias de Simmel, ins-

    trutivo considerar as duas verses do conceito que acabei de expor (ou seja,

    analogia como proporcionalidade e como semelhana funcional). Pode-se

    tambm prestar ateno aos recursos expressivos empregados por Simmel

    para sinalizar suas analogias. H toda uma gama de meios de expresso que

    podem, com maior ou menor preciso, imprimir no texto a marca do proce-

    dimento analgico; deles, o mais trivial a palavrinha como.18

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    Observando este tipo de coisa, temos uma ideia do quo numerosas

    so as analogias presentes no texto de Simmel. S na Philosophie des Geldes

    h mais de uma analogia a cada duas pginas; em nmeros brutos, possvel

    identificar mais de 700 analogias nessas duas obras somadas (ver Brbara,

    2012: 535). Mas, alm de numerosas, as analogias simmelianas tambm so

    especialmente variadas. A seguir, exponho dois eixos bsicos em que podemos

    registrar tal variao.

    O primeiro o eixo temtico. Depreende-se da leitura de Simmel que

    ele busca articular o tema central das duas obras aqui em pauta (num caso

    o dinheiro e, no outro, a sociologia e as formas de socializao) a temas per-

    tencentes aos mais diversos contextos cognitivos. Para passar uma ideia do

    ponto, basta observar que, na Soziologie, Simmel estabelece analogias entre

    essa forma emergente de conhecimento e todos estes domnios cientficos e

    culturais: mecnica, geometria, biologia, lingustica, teatro, psicologia, geo-

    grafia, aritmtica, astronomia, msica, filosofia, poesia, pintura, tica, lgi-

    ca, direito e economia. Evidentemente, algumas destas analogias recebem

    um destaque maior que outras; no primeiro captulo da Soziologie, por exem-

    plo, Simmel pe em jogo analogias geomtricas e biolgicas, empregando-as

    para elucidar certas questes ligadas aos fundamentos da sociologia. J na

    Philosophie des Geldes, Simmel compara o dinheiro a deus e ao diabo, bem como

    obra de arte, palavra falada, lei natural, fasca, ao conceito de tempe-

    ratura, ao mar, energia, ao ter luminoso, ao sangue etc.

    Essa grande envergadura temtica crucial para o estilo simmeliano,

    que preza tanto pela capacidade de adaptao ao maior nmero possvel de

    contedos e objetos distintos como pela capacidade de transpor as fronteiras

    convencionais entre os vrios domnios do conhecimento duas facetas do

    ideal da plasticidade. Nessa chave, fica claro que a analogia o mecanismo

    predileto de Simmel para realizar essas passagens de um domnio a outro.

    O segundo eixo de variao das analogias de Simmel diz respeito sua

    contribuio para a soluo dos problemas cognitivos que ele se props a

    enfrentar. Podemos chamar esse eixo de funcional, por dizer respeito fun-

    o da analogia na realizao das metas intelectuais de Simmel. Para carac-

    terizar as vrias contribuies especficas da analogia, precisamos apreciar

    as diferenas entre a proposta bsica que orienta os esforos de Simmel como

    socilogo e aquela que orienta seus esforos filosficos. O fato de que essas

    duas propostas esto interligadas, sendo como dois papis interpretados

    pelo mesmo ator, no nos impede de distinguir o que Simmel almejava ao

    atuar como socilogo do que almejava ao atuar como filsofo, e gostaria de

    propor que suas analogias adquirem funes distintas em cada um desses

    contextos cognitivos.19

    Comecemos pela Soziologie. Grosso modo, podemos aqui distinguir as

    analogias mais ilustrativas daquelas com maior valor cognitivo para a socio-

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    logia.20 Quando Simmel, por exemplo, sugere que as ondas esto para o mar,

    assim como os indivduos, para a sociedade (Simmel, 1992: 14), ou quando

    compara a nobreza a uma ilha (Simmel, 1992: 826-827), temos uma analogia

    de orientao mais puramente ilustrativa. Nesses casos, Simmel vale-se de

    uma imagem familiar (isto , j presente no repertrio do senso comum) como

    expediente retrico para chamar a ateno para um aspecto que julga perti-

    nente do problema sob exame (a sociedade, a nobreza). Cerca de um quarto

    das analogias presentes na Soziologie encaixam-se nessa classe.21

    As analogias de maior valor cognitivo para a sociologia admitem maio-

    res subdivises. Podemos, primeiro, separar analogias que operam dentro

    do domnio que Simmel destina sociologia das que operam para fora dele,

    articulando-o a outros contextos cognitivos. Para classificar essas analogias

    que transcendem a sociologia (cujo conjunto corresponde a quase um tero

    das analogias presentes na obra em questo) podemos nos valer da diviso

    do trabalho cientfico proposta por Simmel, para quem a sociologia, como

    toda cincia exata, possuiria certos limites inferiores, em que se cairia na

    epistemologia, e certos limites superiores, que seriam da alada da metaf-

    sica (ver Simmel, 2006: 35-36). As inmeras analogias entre a sociologia e

    outros domnios cientficos que mencionei encaixam-se no primeiro caso;

    mas Simmel tambm se serve de analogias para extrapolar a sociologia.

    Este o caso de suas analogias entre fenmenos psicolgicos e sociolgicos,

    como aquelas entre nossos conflitos internos ou individuais, e os conflitos

    sociais. Simmel reserva todo um excurso discusso deste tipo de analogia,

    que, nas suas palavras no em si e para si de natureza sociolgica, mas

    sim de natureza social-filosfica, j que seu contedo no um conhecimen-

    to da sociedade, mas um nexo geral que encontra na forma social apenas um

    de seus exemplos (Simmel, 1992: 850).

    Implcito a isso que h certas analogias de natureza sociolgica, ou

    seja, que operam dentro dos limites que Simmel estipula para a sociologia.

    H mesmo grande nmero delas: cerca de duas em cada cinco analogias da

    Soziologie enquadram-se a. A maior parte delas segue o modelo da semelhan-

    a funcional, ligando duas ou mais formaes sociais concretas, como no

    caso das leis de Tebas e Corinto. Simmel utiliza suas analogias no s para

    comparar formaes sociais acabadas, como tambm para comparar pro-

    cessos scio-histricos de escala variada.22 Por fim, ele tambm recorre

    analogia para mapear certas correlaes entre formas depuradas de sociali-

    zao, que diferem das formaes sociais concretas por seu maior grau de

    estilizao e de abstrao histrica (sendo, por isso mesmo, mais fceis de

    encaixar no modelo proporcional de analogia do que as correlaes entre

    formaes histricas concretas, que via de regra seguem o modelo da seme-

    lhana funcional). Este o caso de suas analogias entre o adorno e o segredo

    (Simmel, 1992: 414), ou entre a luta esportiva e as disputas jurdicas (Simmel,

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    1992: 305). No grosso dos casos em que Simmel constri analogias de natu-

    reza sociolgica, seu objetivo capturar certo padro ou regularidade comum

    aos casos comparados buscando, assim, ordenar o material da experincia.

    Passemos agora Philosophie des Geldes. Temos aqui uma importante

    mudana de nfase. Para comear, observo que sua filosofia pretende incor-

    porar os resultados do desenvolvimento cientfico, ou, para ficarmos com

    uma imagem mais simmeliana: passar por eles em seu percurso filosfico.

    Por isto, h aqui tambm um bom nmero de analogias de natureza socio-

    lgica, a que possvel somar algumas de natureza psicolgica (que, alis,

    tambm aparecem na Soziologie), histrica, econmica e mesmo biolgica23

    que so da mesma famlia das analogias sociolgicas, com a diferena de que,

    aqui, servem ao propsito de ampliar o alcance de sua aventura filosfica.

    Em linha com a classificao proposta para a sociologia, podemos ima-

    ginar que essas analogias, embora levem filosofia simmeliana, no so ain-

    da de natureza filosfica; teramos, alm delas e das propriamente

    filosficas, algumas com valor apenas ilustrativo. Mas, no contexto da Philo-

    sophie des Geldes, temos de lidar com a complicao de que Simmel explci-

    to em sua pretenso de operar num registro em que as dimenses esttica e

    cognitiva devem funcionar em conjunto.24

    Como resultado disto, os limites entre analogias ilustrativas e filos-

    ficas acabam se borrando no contexto da filosofia simmeliana. O que podemos

    fazer aqui distinguir entre analogias que ilustram diretamente o objeto

    especfico dessa filosofia (no caso, o dinheiro e a economia monetria) da-

    quelas que ilustram objetos distintos, de importncia mais indireta nesse

    contexto.25 Nesta ltima categoria encaixa-se, por exemplo, a analogia segun-

    do a qual a finalidade de uma ao propositiva parece amide estar para o

    agente, assim como o horizonte para algum que caminha em terra firme

    (Simmel, 1989b: 303). A ideia aqui elucidar um aspecto da relao entre o

    agente e suas aes propositivas (a saber: a circunstncia de que muitas

    vezes parecemos perseguir um fim inatingvel), cuja relao com o dinheiro

    explorada em outro ponto do percurso filosfico de Simmel.

    Da mesma forma, vrias das analogias que tm como um de seus ter-

    mos o dinheiro ou a economia monetria visam ilustrar cada qual um aspec-

    to particular do objeto de sua filosofia, como nos casos das analogias entre

    deus e o dinheiro (Simmel, 1989b: 305) e entre este e o diabo (Simmel, 1989b:

    276-277). Contudo, algumas delas destacam-se por exprimir algo que Simmel

    considera ser uma conexo intrnseca ou essencial entre este objeto particu-

    lar e a existncia em geral. A diferena que, nestes casos, a pretenso de

    Simmel desvelar uma regularidade mais elementar, identificando a razo

    que outorgaria verdade e expressividade s analogias mais particulares com

    o dinheiro. o caso da seguinte passagem sobre a proporcionalidade funda-

    mental da economia, que Simmel considera ser uma condio de possibili-

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    dade do mundo econmico: Pressupondo o equilbrio perfeito de todas as

    oscilaes e irregularidades acidentais na formao do preo, ento, num

    dado circuito de dinheiro, mercadoria e troca, cada mercadoria estaria para

    seu preo, assim como o total das mercadorias economicamente ativas num

    dado momento para o total de dinheiro ativo nesse mesmo momento (Simmel,

    1989b: 144). Para os nossos fins, o que interessa que esse tipo de analogia

    concebida como uma conexo universal entre as coisas, que transcende a

    realidade imediata e lhe confere congruncia, sendo, por conseguinte, o

    alvo de suas consideraes filosficas. No h dvidas da forte carga me-

    tafsica ou especulativa destas ideias, que as torna questionveis, se toma-

    das ao p da letra. Seja como for, o prprio Simmel apresenta suas razes

    para insistir no potencial exploratrio da especulao filosfica, como ain-

    da veremos.

    Isto basta para passar uma ideia da variedade de funo que as ana-

    logias tm no texto de Simmel. Porm, assim compreendidas, as analogias

    so apenas registros literrios do procedimento analgico. Tais registros in-

    teressam menos por si mesmos, e mais por dizerem algo sobre o processo

    que os gerou mais ou menos como os fsseis dizem ao paleontlogo algo

    sobre a vida que povoou a Terra num passado remoto. Pois ainda h algo

    entre o quadro de referncias para o conceito de que Simmel dispunha e as

    analogias que foram parar no seu texto, e a isso que voltaremos agora nos-

    sa ateno.

    A ANALOGIA NAS MOS DE SIMMEL

    Em sua monografia sobre Simmel, concluda em 1919, Kracauer forneceu al-

    guns dos elementos bsicos para compreendermos a relao do procedimen-

    to analgico com o tipo de pensamento buscado por Simmel. Por isto,

    tomarei esse texto como ponto de partida da presente discusso.

    Como eu havia adiantado, Kracauer introduz este texto tratando da

    dificuldade envolvida na tarefa de classificar o pensamento de Simmel di-

    ficuldade esta que Kracauer prope superar sublinhando alguns problemas

    bsicos alheios a Simmel, para em seguida reconstruir o mundo de coisas em

    que viveria seu pensamento (ver Kracauer, 2004: 143-144). A seguinte passagem

    resume bem este ltimo ponto: O que est sempre no centro de seu campo

    visual a pessoa como portadora de cultura e como entidade espiritual ama-

    durecida, que atua e avalia em plena posse de suas energias anmicas, jun-

    tando-se a seus semelhantes no agir e sentir comuns (Kracauer, 2004: 144).

    Kracauer detalha esse panorama subdividindo-o em trs crculos te-

    mticos, que correspondem (1) s situaes e formaes sociais; (2) ao ser

    humano como indivduo; e (3) ao mundo dos valores e das realizaes huma-

    nas objetivas.26 Em seguida, prope reconstruir a maneira como Simmel abor-

  • 85

    artigo | lenin bicudo brbara

    da este material, buscando caracterizar os principais modos de relao entre

    coisas a que Simmel voltava sua ateno ao embrenhar-se nesses domnios

    temticos sendo a analogia um destes modos de relao.

    Kracauer desde o comeo enfatiza o papel da analogia no trato com

    problemas ligados cultura humana no sentido amplo. Antes mesmo de de-

    finir o conceito, busca situ-lo como resposta ao que podemos chamar de

    empedernimento conceitual; a ideia aqui que o aspecto prtico dos conceitos

    acabaria sobrepondo-se aos demais, levando a uma espcie de esquecimento

    das relaes entre coisas que no digam respeito a esse aspecto dos conceitos.

    Reduzido ao que tm de til, os conceitos tornar-se-iam no s inf lexveis,

    como ainda incomparveis entre si (Kracauer, 2004: 152). Este tpico, que

    teria vrios desdobramentos no pensamento alemo, no nem um pouco

    estranho a Simmel, como vemos na seguinte analogia:

    [...] no domnio puramente intelectual, mesmo as pessoas mais conhecedoras e refle-

    xivas operam com um nmero sempre crescente de representaes, conceitos e sen-

    tenas, cujo sentido e contedo exatos s entendem de forma inteiramente imperfei-

    ta. A tremenda ampliao do material do saber que temos objetivamente disposio

    permite, at mesmo obriga o uso de expresses que verdadeiramente passam de mo

    em mo como recipientes fechados, sem que o contedo da reflexo efetivamente

    ali condensado seja desdobrado diante do usurio particular (Simmel, 1989b: 621).27

    O ponto de Kracauer (condizente com o universo conceitual simmelia-

    no, como mostra a passagem acima) que, com suas analogias, Simmel con-

    seguiria desdobrar o contedo reflexivo dos conceitos, at ento comprimido

    pela fora dos constrangimentos prticos. Assim, Simmel livraria as coisas

    de seu isolamento (Kracauer, 2004: 153).

    Para Kracauer, isto dependeria de que tais analogias no fossem meros

    frutos da imaginao simmeliana, ou seja, relaes meramente inventadas.

    Ao contrrio: dizer que Simmel estabelece ou constri analogias equivaleria

    a dizer que ele descobre certas relaes encobertas pela fora do hbito.

    Assim, [...] por mais espirituosa e surpreendente que possa ser uma analogia,

    crucial para ela que seja objetivamente verificada; ela algo que conhece-

    mos, uma relao dos prprios fenmenos (Kracauer, 2004: 154-155).

    Esta passagem integra um longo pargrafo em que Kracauer distingue

    a analogia da metfora esta que, ao contrrio daquela, concebida como

    uma criao da fantasia subjetiva, sendo regida por critrios de ordem est-

    tica, e no mais cognitiva (Kracauer, 2004: 153-155). Em nossos termos, po-

    demos dizer que, pela proposta de Kracauer, o valor expressivo das analogias

    de Simmel teria, na melhor das hipteses, menos peso que seu valor heurs-

    tico ou que as analogias de Simmel estariam mais para as de Kant do que

    para as de Goethe.

    H um problema nessa leitura: neste ponto, Kracauer acaba perdendo

    de vista a relao entre o aspecto esttico e o cognitivo da analogia, para o

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    qual Simmel insistentemente aponta (sobretudo em suas obras de orientao

    mais filosfica). Sintomtico disso que o que Simmel chama de metfora

    no se ope ao que chama de analogia. Para ele, a relao entre uma coisa e

    outra mais prxima da concepo que parte de Aristteles, segundo a qual

    as analogias dariam o substrato para a formulao e compreenso das me-

    tforas; assim, se compreendemos expresses como egosmo de grupo,

    porque estabelecemos uma analogia segundo a qual certo fenmeno X es-

    taria para o grupo, assim como o egosmo, para o indivduo.28 Nesta chave,

    uma metfora como a do egosmo de grupo no mais uma simples fantasia

    subjetiva concebida como exposio das relaes entre sujeito e objeto (Kra-

    cauer, 2004: 155), ou seja, no mais apenas uma tomada de posio frente

    ao mundo. Pois ela no s depende da referncia a um conhecimento inter-

    subjetivamente consolidado (no caso, acerca do que seria o egosmo indivi-

    dual), que transcende e pe em perspectiva a relao entre sujeito e objeto,

    como tambm fornece parmetros para a formulao de algo at ento no

    formulado formulao essa que j no est apenas sujeita a critrios de

    avaliao esttica. Assim, podemos manipular o tipo de imagem que Kracauer

    associaria metfora para mostrar como, e de que modo, ela diz algo acerca

    das analogias de Simmel: se estas afinal tambm so frutos da imaginao,

    trata-se a de frutos cultivados com a finalidade especfica de nutrir certas

    pretenses de conhecimento.

    Mesmo concedendo que a leitura de Kracauer acaba desconsiderando

    a conexo entre o aspecto esttico e o cognitivo da analogia, cumpre admitir

    que ela informada por uma intuio correta. Pois a questo que esses dois

    aspectos no se encaixam sem mais. H uma tenso sistemtica entre eles, que

    Simmel precisa o tempo todo administrar. No caso de seu projeto de uma

    sociologia cientfica, ele tentou resolv-la fora, buscando conter tanto

    quanto possvel a dimenso esttica em favor da cognitiva.29 Pensemos nas

    analogias propriamente sociolgicas: nelas, o objetivo sempre apanhar al-

    gum padro ou regularidade comum aos casos comparados. Podemos enqua-

    drar perfeitamente tais analogias no conceito proposto por Kracauer, j que,

    com elas, Simmel busca apontar para relaes que podem ser descobertas e

    verificadas. A definio de Kracauer, pautada pela oposio metfora como

    atitude ou tomada de posio da fantasia, cai muito bem nesses casos justa-

    mente porque, ao construir tais analogias, Simmel buscou despoj-las de todo

    carter subjetivo, por considerar isso necessrio para que sua sociologia pu-

    desse reivindicar o estatuto de cincia.

    Mas, como vimos, h uma diferena crucial entre seu projeto socio-

    lgico e seu projeto filosfico, que diz respeito ao modo como Simmel pro-

    pe encaixar aquelas duas dimenses presentes no seu conceito de analogia.

    neste ponto que a distino proposta por Kracauer se mostra insuficiente.

    A ideia de que sua filosofia do dinheiro marcada por um colorido esttico

  • 87

    artigo | lenin bicudo brbara

    est colocada com todas as letras no Prefcio a tal obra. Nesse contexto, em-

    bora a pretenso de conhecimento ainda ponha rdeas no galope da imagi-

    nao (concebida como meio para realizar a ambio filosfica de ampliar o

    repertrio do conhecimento humano), esta que na prtica leva Simmel de

    um lado a outro, sendo como o corcel sem o qual as rdeas no passariam de

    um punhado de tiras de couro e argolas metlicas sem funo.

    claro que essa dimenso esttica tambm est presente no projeto

    sociolgico de Simmel; mas a ela se impe a despeito de sua tentativa de

    suprimi-la, enquanto que no seu projeto filosfico ela articulada de modo

    explcito. Por sua vez, a especificidade dessa articulao nos fornece uma

    chave para dar conta daquelas analogias de orientao filosfica que apon-

    tam para certa regularidade ao mesmo tempo que lhe conferem um colorido

    particular colorido este que j no est vinculado a pretenses de verdade

    to fortes como aquelas que seriam de se esperar de uma cincia exata (ver

    Simmel, 1989b: 9-14; Waizbort, 2000: 83 ss.).

    Este colorido com que Simmel pretende pintar a realidade ao atuar

    como filsofo o colorido da interpretao. Tanto na Philosophie des Geldes

    como no seu Probleme der Geschichtsphilosophie,30 Simmel prope que a tarefa

    do intrprete, seja filsofo ou historiador, guardaria certa analogia com a do

    artista, na medida em que ambos reconstruiriam uma imagem da realida-

    de que traria a marca de uma tomada de posio frente a ela uma imagem

    que no espelha a realidade, mas, sim, projeta-se sobre ela, que algo cons-

    trudo e no pode, neste sentido, ser simplesmente descoberto. Nesta chave,

    assim como dois artistas podem produzir pinturas completamente diferentes

    a partir de um mesmo tema, sem que nenhuma delas esteja necessariamen-

    te errada, assim tambm um historiador poderia construir duas interpre-

    taes histricas diferentes, mas igualmente vlidas, de um mesmo evento.

    Da no decorre, claro, que baste propor uma interpretao histrica para

    valid-la. Embora essa margem de interpretao pressuponha um gesto do

    arbtrio e uma tomada de atitude, no se resume a tal pressuposto. A preten-

    so de Simmel ao discutir os problemas da filosofia da histria precisamen-

    te articular a dimenso objetiva e a subjetiva do conhecimento histrico,

    mostrando como seria possvel que uma criao da fantasia tenha como

    resultado um incremento cognitivo, como uma imposio da imaginao cria-

    tiva sobre realidade seria capaz de nos dizer algo verdadeiro a seu respeito.

    Encontramos aqui outra face da discrepncia entre o projeto sociol-

    gico e o filosfico de Simmel. Ainda que reconhea que as formas de socia-

    lizao por ele investigadas tm algo de construdo (Simmel, 1992: 178-179),31

    ele no apresenta sua sociologia como uma sociologia interpretativa. Isso no

    o impediu de fazer uma sociologia que pode ser corretamente interpretada

    nessa chave. Mas ainda precisamos remeter ao seu projeto filosfico para

    efetuar tal interpretao, pois seu projeto sociolgico no traz esse compo-

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    nente interpretativo no plano da explicitao terica como fariam Weber e,

    com maior grau de elaborao, Schtz. Da que o caminho mais direto para

    ilustrar a aplicao sociolgica do procedimento interpretativo em Simmel

    se encontre no na sua Soziologie, mas, sim, na teoria do moderno contida

    em obras que ele mesmo considerava filosficas. Tambm aqui, certo tipo

    de analogia ganha destaque, como fica claro na ltima seo do captulo

    final da Philosophie des Geldes em que Simmel recorre s analogias da dis-

    tncia, do ritmo e da velocidade para destacar certos aspectos do estilo de

    vida moderno e, assim, construir uma interpretao do presente que at hoje

    continua frutfera.32

    * * *

    Este , alis, apenas um exemplo dentre inmeros outros de como Simmel

    recorre analogia para articular alguma ideia ou linha argumentativa impor-

    tante para sua empresa intelectual. Essa estratgia to frequente que no

    h como evitar a concluso de que a analogia, a princpio concebida como

    meio para a realizao de fins cognitivos como, no caso da sociologia sim-

    meliana, a fundamentao de uma nova forma do conhecimento, que se pre-

    tende capaz de articular de maneira indita toda uma gama de contedos

    cognitivos ligados ao domnio mais geral da cultura humana,33 e, no caso da

    filosofia, a aplicao da ref lexo a contedos at ento em geral ignorados

    pelos filsofos34 tenha se convertido numa espcie de fim em si mesmo.

    Para termos uma ideia de quo indispensvel a analogia tornou-se

    para Simmel, podemos imaginar como ficariam sua Soziologie e sua Philosophie

    des Geldes, caso apagssemos as mais de 700 analogias que podem ser ali

    encontradas. No teramos, ento, obras simplesmente mais curtas, mas, sim,

    obras sem sentido. Afinal, como Simmel, no primeiro captulo da Soziologie, fez

    para demarcar o campo de atuao e a especificidade da cincia que preten-

    dera fundar? Trabalhando sobre a analogia de mtodo entre a sociologia e a

    geometria. Como que encarou os problemas de definio implicados nessa

    mesma tentativa? Explorando uma analogia biolgica. Como em geral coor-

    denava os inmeros exemplos apresentados ao longo da Soziologie? Juntando-

    -os por analogia. Como fazia para extrapolar as concluses obtidas em suas

    investigaes sobre as formas de socializao, para aplic-las a questes de

    escopo metafsico? Apoiando-se em analogias. Como descreveu a filosofia

    em geral e a particularidade da sua filosofia no prefcio Philosophie des Gel-

    des? Combinando uma analogia espacial com outra esttica. Como descrevia

    o objeto dessa filosofia? Em inmeros casos, por meio de analogias, quando

    no enquanto uma variedade de analogia (a proporcionalidade). Como, nesse

    mesmo contexto, resumia e reutilizava os produtos da filosofia sua dispo-

    sio? Elaborando analogias. Como relacionava fenmenos aparentemente

  • 89

    artigo | lenin bicudo brbara

    to diversos como o segredo e o adorno ou deus e o dinheiro? Fazendo ana-

    logias. Como amide se referia peculiaridade das coisas? Afirmando que,

    para tal, no havia nenhuma analogia. Como buscou articular sua interpre-

    tao do estilo de vida moderno na sua Philosophie des Geldes? Acionando trs

    analogias capazes de exprimir, nessa ordem, o seu conceito metafsico de

    espao (cuja analogia a distncia), o de tempo (cuja analogia o ritmo) e o

    da ligao entre ambos (cuja analogia a velocidade). Como acabou con-

    cluindo a Soziologie e a Philosophie des Geldes, obras por natureza inconclusivas

    ou fragmentrias? Fechando-os com uma analogia.35

    Assim, cumpre observar que a analogia, graas qual Simmel pde se

    realizar intelectualmente, de fazer uma filosofia do dinheiro e uma sociologia

    como a do segredo, por outro lado igualmente se imps como limite alm do

    qual sua imaginao no chegava, como obstculo para o acesso a partes

    desse mundo que ele no ousaria (ou conseguia) tomar em mos; em suma:

    como o fim propriamente dito de suas investigaes, o ponto a que elas che-

    gavam, ou no qual o movimento de seu pensar achava termo. Dessa forma,

    tambm elas, embora orientadas pelo ideal da plasticidade e apesar de per-

    mitirem que ele livrasse as coisas de seu isolamento, em muitos sentidos

    tambm limitaram o desenrolar de suas ideias. Podemos pensar na analogia

    como uma espcie de sada a que Simmel se habituou para solucionar pro-

    blemas cognitivos especialmente difceis e que talvez pudessem ter sido so-

    lucionados com outros meios conceituais que, porm, permaneceram

    inexplorados por Simmel.

    Ele mesmo sabia que suas aventuras pela filosofia, pela arte e pela

    sociologia envolviam todo tipo de risco, e foi precisamente para evitar o pe-

    rigo do empedernimento conceitual que Simmel se orientava pelo ideal da

    plasticidade. Vejamos o que ele escreve a Marianne Weber, a quem dedicaria

    seu livro sobre Goethe (tema da carta):

    Para mim, o livro uma espcie de concluso, uma aplicao derradeira das forma-

    es conceituais que vim aplicando. Agora vou trocar as velas e buscar terras inex-

    ploradas. Pode muito bem acontecer que a viagem termine antes da costa. Mas ao

    menos no deve ocorrer comigo o que ocorre com muitos dos meus colegas, que se

    acomodam no prprio barco como se estivessem em casa, a ponto de acreditarem que

    o prprio barco seria a terra nova (Simmel, 1959: 240; grifo no original).

    Aqui, o resultado da atividade intelectual de Simmel, o ponto de che-

    gada do conhecimento que corresponde explorao de pores do real at

    ento desconhecidas , ainda figurado como o principal objetivo de sua

    aventura nutica. Mas esta nfase preliminar no resultado logo d lugar

    nfase no processo, precisamente diante da constatao de que essas terras

    podem muito bem no ser encontradas, ou, em termos menos metafricos,

    da falibilidade do conhecimento. Ao cabo, o que importa , ainda, produzir

    novos conhecimentos, ampliar o estoque de conhecimento disponvel sobre

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    o mundo mas significativo que, caso isso no seja alcanado, Simmel

    ainda prefira assistir ao prprio naufrgio a ceder ao que vnhamos aqui

    chamando de empedernimento conceitual. Se, como prope Blumenberg, as

    apropriaes desse tipo de metfora bsica dizem algo sobre o mundo da vida

    em que estava inserido aquele que dela se apropriou,36 ento podemos con-

    ceber o ideal de plasticidade que aqui no um ponto de chegada (esse

    ainda a ampliao do estoque de conhecimentos), mas, sim, uma referncia

    orientadora, como as estrelas para os navegadores como um ideal talhado

    para lidar com um perigo que avulta depois de iniciada a aventura do pensa-

    mento. Pois nesse instante que a possibilidade de que a aventura no o leve

    a lugar nenhum ganha peso e concretude, abrindo espao para que a nfase

    no resultado (sempre presente nos planos de Simmel) ceda nfase no pro-

    cesso, corretamente identificada por seus intrpretes como caracterstica-

    -chave de seu estilo de pensamento, tal como reconheceria o prprio Simmel

    (ver Waizbort, 2000: 11-34). E precisamente nessa chave, o ideal sublime e

    inatingvel da plasticidade deixa de ser algo desatrelado realidade (ou seja,

    algo que s podemos contemplar distncia), para tornar-se uma atividade

    propositiva bem pragmtica: diante de um pensamento que ainda no alcan-

    ou seu propsito, nada mais apropriado do que a exigncia de seguir em

    movimento. A contrapartida disso clara: por fora das circunstncias, o

    que antes era possibilidade agora aparece como necessidade, de modo que a

    analogia se torna indispensvel para Simmel.

    Esse tipo de ajuste de expectativas pode ser detectado com muita cla-

    reza na sociologia de Simmel. Estava nos seus planos fazer da sociologia uma

    cincia exata, mas eventualmente Simmel reconhece que pode ser que se

    trate aqui apenas de um princpio e da indicao de um rumo para um cami-

    nho interminavelmente longo, e, nesse caso, toda completude sistematica-

    mente fechada seria, quando muito, uma autoiluso (Simmel, 1992: 31; grifo

    conforme o original) uma iluso anloga quela de seus colegas, ao confun-

    dir o novo mundo com o navio que devia conduzir a ele.

    Mas o mesmo ajuste tambm est presente na sua concepo filosfi-

    ca, em que aparece assentado na sua teoria do conhecimento. Pois o ponto

    de partida de Simmel a ideia de que o conhecimento falvel e mesmo

    assim possvel, de que a possibilidade do conhecimento depende de sua sele-

    tividade, que , por sua vez, um tipo de limitao.

    , portanto, o prprio Simmel quem nos obriga a encarar as limitaes

    desse que era um dos seus recursos prediletos para produzir conhecimento,

    a analogia. Vejamos o que ele tem a dizer sobre um livro do psiclogo Wil-

    liam Stern, cujo prefcio assinado por Moritz Lazarus, inf luente professor

    de Simmel:

  • 91

    artigo | lenin bicudo brbara

    Este livro interessante e engenhoso prope a tarefa de investigar o papel desempe-

    nhado pela analogia no pensamento, no sentimento e na vontade cotidianas. Aponta

    inmeros casos em que a criana e o homem ingnuo, em vez de representar direta-

    mente a coisa, serve-se desse rodeio peculiar, alis precisa dele se servir para obter

    uma imagem de mundo coerente; e ento, de um ponto aparentemente situado

    sua margem, recai uma luz cristalina sobre a totalidade do ser espiritual do homem

    (Simmel, 2005: 298).

    inevitvel colocarmos essa passagem da obra de Simmel ao lado

    desta, mais famosa:

    Caso a histria das cincias efetivamente mostre que o modo filosfico de conhe-

    cimento primitivo, sendo meramente uma especulao sobre os fenmenos com

    base em conceitos gerais mesmo nesse caso, tal procedimento provisrio ser ainda

    incontornvel frente a vrias questes, especialmente as que dizem respeito s valo-

    raes e aos nexos mais gerais da vida espiritual, que, at agora, no podemos nem

    nos furtar a responder, nem responder de forma exata (Simmel, 1989b: 9).

    Que fique claro: no se trata aqui de acusar Simmel de infantilidade

    ou ingenuidade, tampouco de ceder fantasia romntica segundo a qual o

    pensador (seja poeta, filsofo ou socilogo) deve ser como uma criana eter-

    namente deslumbrada com o mundo ao redor. Trata-se, antes, de enfatizar

    que Simmel sabia que sua tcnica predileta para a articulao de suas ideias

    era intrinsecamente limitada, no passando de um expediente precrio, mas

    no por isso dispensvel, para suprir certas insuficincias de seu pensamen-

    to. Trata-se mesmo de ir alm da dicotomia entre a intransigncia de uma

    acusao v de imaturidade e a condescendncia idealizadora. Se, no primei-

    ro caso, falharamos em compreender Simmel por ignorar a situao em que

    ele se achava, no segundo abdicaramos de critic-lo, sob a presso de aco-

    modar nossa interpretao s limitaes do seu pensamento perdendo com

    isso a referncia sem a qual no podemos mais identific-las, muito menos

    confront-las. Num caso como no outro, cairamos nos erros que Simmel

    pretendeu evitar, nem sempre com sucesso: pintando ou uma figura empe-

    dernida demais de suas ideias, ou uma excessivamente f loreada.

    Essa , claro, outra face daquele dilema enfrentado pelos intrpretes

    de Simmel um dilema que, embora no esteja colocado apenas para os seus

    intrpretes, especialmente agudo no seu caso por nascer de uma tenso

    interna ao seu pensamento. Eis como podemos resumir essa tenso: em suas

    aventuras pela filosofia, pela sociologia e pela esttica, Simmel eventual-

    mente encontrou pores do real que escapavam s suas pretenses de co-

    nhecimento, ou seja, com coisas desconhecidas que ele no conseguia

    converter em objetos do conhecimento. Para exemplificar o ponto, podemos

    nos ater ao caso de sua sociologia: Simmel nunca soube apreciar o valor cog-

    nitivo das generalizaes de base estatstica para a sociologia, mesmo escre-

    vendo numa poca em que j dispunha dos trabalhos de um Durkheim;37 na

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    mesma linha, sua dependncia bem mais radical do ideal da plasticidade, e,

    portanto, dos recursos cognitivos talhados para alcanc-lo, est diretamente

    relacionada sua desvalorizao de estratgias mais sistemticas de forma-

    o conceitual, num franco contraste com um Weber, que, se, por um lado,

    tambm favorecia a construo de conceitos maleveis o bastante para dar

    conta das f lutuaes do real, por outro nunca se furtou a examin-los de

    forma sistemtica, com inegveis ganhos para a sociologia.38 Tudo isso, claro,

    s foi se configurando como problema medida que Simmel ia avanando

    no seu projeto inicial para a sociologia. Digamos que, a essa altura, ele esta-

    va em pleno mar, assim como os seus colegas na academia alem; e que

    sabia que os instrumentos que tinha mais mo para chegar aonde pretendia

    (afinal os mesmos disponveis para os seus colegas) talvez no bastassem.

    Diante disso, ele apostou no instrumental que lhe pareceu o mais verstil

    dentre os disponveis no seu tempo, o que parecia melhor se ajustar a todo

    tipo de circunstncia, o que parecia lhe dar a maior margem de manobra.

    Como tentei mostrar, a analogia foi, nas suas mos, o principal desses ins-

    trumentos uma aposta em muitos sentidos adequada, considerando a va-

    riedade de usos que esse instrumento em particular recebeu ao longo da

    histria do pensamento ocidental. Hoje, estamos em condies de ponderar

    que, se esse instrumento mostrou-se til em diversas ocasies, como queria

    Simmel, tambm o inibiu, apesar de todas as suas intenes em contrrio, de

    explorar tantos outros recursos, como os desenvolvidos naquela poca por

    Durkheim e Weber.

    Recebido em 22/11/2014 | Aprovado em 10/02/2015

    Lenin Bicudo Brbara doutorando em Sociologia pela

    Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da

    Universidade de So Paulo (FFLCH-USP). Suas principais reas de

    interesse acadmico so: teoria social, pensamento alemo,

    teoria do conhecimento em geral, filosofia e histria das cincias,

    e os estudos de gnero. Recentemente, traduziu a Cultura filosfica

    (no prelo), de Georg Simmel, e a coletnea Histrias de fantasma

    para gente grande: escritos, esboos e conferncias (2015),

    com ensaios do historiador da arte alemo Aby Warburg.

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    artigo | lenin bicudo brbara

    NOTAS

    1 Este artigo uma derivao de minha pesquisa de mes-

    trado, financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa

    do Estado de So Paulo (FAPESP). Incorporo aqui trechos

    da dissertao que produzi ao fim do mestrado, ainda que

    revistos e rearticulados. As tradues de todas as obras que

    no esto em portugus foram feitas por mim. Agradeo

    aos pareceristas annimos a interlocuo sobre o artigo.

    2 Dcadas depois, a primeira parte desta monografia seria

    includa na coletnea de ensaios O ornamento da massa,

    traduzida para o ingls e, recentemente, para o portugus.

    3 Filosofia do dinheiro e Sociologia, respectivamente.

    4 Para um levantamento com pelo menos uma referncia

    de cada autor ao tema, ver Brbara (2012: 7).

    5 Sistema de Lgica, livro III, cap. XX, 1. Sempre que fizer

    uma referncia a obras clssicas ou com vrias edies

    (como a de Mill), acrescentarei no rodap as informaes

    necessrias para localizar a passagem independentemen-

    te da edio utilizada.

    6 O que est em conformidade ao tipo de conhecimento que

    Simmel busca, que se pretende malevel e visa apanhar

    a realidade em suas nuances, em vez de aferr-la a defi-

    nies ptreas.

    7 Para uma reconstruo da histria do termo no seu con-

    texto de origem, ver Szab (1978). Observo que Szab no

    se concentra na recepo platnica do conceito.

    8 A Repblica, 508b-508c.

    9 Assim, se 10 est para 5 assim como 6 est para x, ento

    o nico valor possvel para x 3; e, nesse caso, ento

    10 tambm est para 6, assim como 5 para 3.

    10 Por isso, termos como (analogia) e (an-logo) muitas vezes so traduzidos como proporo ou

    proporcional nas verses em portugus das obras aris-

    totlicas.

    11 tica nicomaqueia, 1131a29-1131b12.

    12 Potica, 1457b15-1457b35.

    13 A semelhana em questo ntida quando comparamos

    a estrutura ssea de ambos os traos. Para uma definio

    mais precisa do conceito de homologia, ver Mayr (1998: 62-63).

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    14 A linguagem de Simmel aqui carregada de metforas

    biolgicas; ele mesmo fala em condies de vida e num

    instinto aristocrtico.

    15 Heidegger comenta aqui Kant (2010: 210, Crtica da razo

    pura, B 222).

    16 Socializao aqui traduz Vergesellschaftung, conceito-

    -chave da sociologia de Simmel. H quem prefira verter o

    termo por sociao ou associao, visando evitar con-

    fuses com verses distintas do conceito de socializao,

    que em geral possuem um sentido mais restrito do que a

    Vergesellschaftung de Simmel. Considero essas opes

    vlidas, de modo que meu objetivo aqui no desautori-

    z-las; h, contudo, certa controvrsia a respeito do as-

    sunto, e, como me foi apontado, mais de uma vez, a im-

    portncia em justificar essa opo, exponho aqui minhas

    razes. A principal delas que a palavra socializao

    parece-me transmitir bastante bem a ideia bsica do con-

    ceito de Simmel, isto , a nfase no processo formativo

    da sociedade. verdade que essa opo pode levar a con-

    fuses, mas no me parece que as outras opes sejam

    vantajosas neste quesito, especialmente no caso de as-

    sociao. Quanto a sociao, o uso do neologismo pode

    induzir o leitor a imaginar que se trata de um conceito

    original de Simmel, ou mesmo de um termo por ele in-

    ventado, o que no o caso.

    17 Este ltimo ponto mais uma interpretao minha sobre

    os achados de Dodd, embora ele mesmo fale em algo pa-

    recido ao destacar a capacidade de revigorar a discus-

    so prpria de algumas das analogias de Simmel. Diga-

    -se que, em minha pesquisa, no fiz o confronto com o

    texto de Goethe para investigar em detalhe o que Simmel

    aprendeu com ele acerca da analogia (como fiz com Aris-

    tteles, Kant e Darwin). Parece-me que tal confronto

    revelaria aspectos ainda mais centrais do que aqueles

    apontados por Dodd, sobretudo considerando os pontos

    de contato entre Goethe e Simmel discutidos em Waiz-

    bort (2000: 75 ss.).

    18 Em alemo: wie. Kracauer (2004: 155) foi quem primeiro

    chamou a ateno para isso, embora tenha exagerado ao

    qualificar esse sinal como indispensvel. Wolff tambm

    especificou alguns desses recursos expressivos (ver Sim-

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    artigo | lenin bicudo brbara

    mel, 1959: ix). No trabalho em que se baseia este artigo,

    elaborei uma lista mais completa (Brbara, 2012: 97-115).

    19 No caso da Philosophie des Geldes, devemos ponderar que

    essa obra apanha uma poro mais restrita de sua atuao

    como filsofo, ao passo que a Soziologie condensa a maior

    parte de sua produo sociolgica. Escolhi a Philosophie

    des Geldes precisamente por seu impacto e interesse para

    o socilogo contemporneo.

    20 O que entendo por analogia ilustrativa algo prximo do

    que Dodd (2008: 432) tinha em mente ao utilizar a mesma

    expresso; contudo, Dodd contrasta isso com o que chama

    de analogias substantivas, algo distinto das analogias com

    valor cognitivo para a sociologia a que me refiro.

    21 Para mais detalhes, ver Brbara (2012: 117-159 e 534). A

    referncia vale para todas as menes ao nmero das

    analogias de Simmel apresentadas nesta seo.

    22 Para alguns exemplos, ver Brbara (2012: 133-134). No livro

    sobre as Questes fundamentais da sociologia, Simmel expli-

    cita o ganho cognitivo que espera de analogias entre pro-

    cessos scio-histricos de larga escala (ver Simmel, 2006:

    24-25; comento a passagem em Brbara, 2012: 264-267).

    23 Para exemplos disso, ver Brbara (2012: 151-157). Somadas,

    temos a cerca de um quarto das analogias da Philosophie

    des Geldes.

    24 Sobre isso, ver Waizbort (2000: 75 ss.). Convm acrescentar

    que, em alguma medida, a dimenso esttica e a cognitiva

    tambm acabam vinculadas na sociologia simmeliana. Po-

    rm, ao contrrio do que se passa com seu projeto filos-

    fico, Simmel busca, ao fazer sociologia, suprimir o fundo

    esttico do seu pensamento, por considerar isto necessrio

    dadas as pretenses cientficas de sua sociologia e essa

    busca que fundamenta a distino entre as dimenses es-

    ttica e cognitiva com que opero.

    25 O que segue uma verso simplificada da tipologia pro-

    posta em Brbara (2012: 141-160).

    26 Kracauer (2004: 144-148) dedica um pargrafo a cada uma

    dessas dimenses. Sua proposta um claro aceno teoria

    da cultura simmeliana: se (2) e (3) correspondem, respec-

    tivamente, aos mundos da cultura subjetiva e objetiva, (1)

    corresponde ao plano das interaes e processos que in-

    tegram os vrios portadores de cultura.

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    27 Pensemos no conceito de analogia: quantas vezes o re-

    passamos, sem nos darmos conta, por exemplo, de sua

    origem matemtica?

    28 Esta metfora (baseada, como vimos, numa analogia) apa-

    rece no texto de Simmel (1992: 411).

    29 Esta tendncia foi enfraquecendo com o tempo, mas o

    ponto que, em algum grau, ela sempre esteve presente.

    30 Problemas da filosofia da histria. A analogia com a arte

    percorre boa parte do primeiro captulo do livro, em que

    me baseei para elaborar o pargrafo a que se liga esta

    nota. Ver, especialmente, Simmel (1997: 286-290).

    31 Escolhi esta passagem por ter sido reproduzida e comen-

    tada em Cohn (2003: 63 ss.), em que Cohn discute o car-

    ter construdo das formas de socializao em Simmel no

    contexto de uma comparao com Weber.

    32 Diga-se que o prprio Simmel (1989b: 657), ao introduzir

    o assunto, estabelece o vnculo entre tais analogias e o

    procedimento interpretativo.

    33 Simmel formula a questo nesses termos j em 1892, no

    seu livro sobre a diferenciao social, ao falar na pos-

    sibil idade de uma cincia da sociedade (ver Simmel,

    1989a: 116-117).

    34 Algo semelhante pode ser detectado na sociologia sim-

    meliana, que eventualmente amplia seu escopo visando

    formalizar ou pelo menos assimilar fenmenos como a

    troca de olhares, o perguntar ao outro pelo caminho, o

    adornar-se para os outros, a gratido etc.

    35 Desenvolvi todos esses pontos em Brbara (2012).

    36 Para quem as transformaes nas metforas bsicas in-

    dicam mudanas na compreenso do mundo e na com-

    preenso de si (Blumenberg, 2001: 140; 1993: 31). Ao in-

    vestigar a metfora bsica da viagem nutica, o mesmo

    Blumenberg (1997: 24) comenta a carta de Simmel que

    acabamos de ler.

    37 E, neste contexto, convm apontar que foi com base num

    argumento de analogia que Simmel questionaria o valor

    de tais generalizaes para a sociologia. Ver Simmel

    (1992: 631-632).

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    artigo | lenin bicudo brbara

    38 Podemos comparar a discusso de Simmel sobre o proble-

    ma da ao no comeo do terceiro captulo da Philosophie

    des Geldes (Simmel, 1989b: 254 ss.), toda pautada por ana-

    logias e metforas, com a discusso weberiana sobre o

    tema. Ou, ento, a discusso de ambos acerca do proble-

    ma da dominao. Weber tinha grandes reservas relati-

    vamente ao tratamento que Simmel dispensaria a esse

    problema no terceiro captulo da Soziologie (Simmel, 1992:

    160 ss.; Weber, 1991: 12). Isto porque, para ele, a noo

    simmeliana de interao ou inf luncia recproca (Wech-

    selwirkung) seria demasiado inespecfica, a ponto de

    induzir o socilogo a desconsiderar os casos de imposio

    unilateral da vontade de um sobre o outro (o que, alis,

    Simmel ilustra por meio de analogias), algo que Weber

    no podia admitir. Diga-se que essa questo em particu-

    lar bem complicada, e merece ser tematizada num ar-

    tigo parte; mas no geral me parece que, neste caso, a

    crtica de Weber acerta o alvo, e que sua discusso con-

    segue incorporar sociologia uma dimenso do mundo

    social que Simmel, quase que por definio, tendia a ne-

    gligenciar: a violncia. Claro est que tambm as propos-

    tas de Weber e Durkheim tinham seus pontos cegos; mas

    como, neste artigo, estamos tratando da proposta simme-

    liana, s cabe explicitar as limitaes desta, e para isso

    a comparao com esses autores, que afinal trataram de

    pores do real de que Simmel no tratou com tanto de-

    talhe, parece instrutiva.

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    A VIA ANALGICA NO

    PENSAMENTO DE GEORG SIMMEL

    Resumo

    Neste artigo, trato do papel do raciocnio analgico no pen-

    samento de Georg Simmel (1858-1918), um dos fundadores

    da sociologia alem. Meu objetivo principal aqui apreender

    as relaes entre o procedimento analgico como recurso

    cognitivo e o estilo de pensamento a que Simmel adere.

    Como primeiro passo rumo a isso, recolho os fragmentos da

    histria do conceito de analogia que considero mais relevan-

    tes para a recepo da parte de Simmel. Em seguida, propo-

    nho um breve mapeamento das ocorrncias de analogia que

    podem ser identificadas naquelas obras de Simmel que mais

    teriam influenciado a sociologia, a saber: a Philosophie des

    Geldes (1900) e a Soziologie (1908). Finalmente, ataco a questo

    quanto ao modo como Simmel manejou suas analogias na

    sua busca por articular tais projetos intelectuais visando

    expor o nexo entre esse recurso e o ideal cognitivo da plas-

    ticidade, concebido como princpio orientador dominante do

    pensamento sociolgico e filosfico de Simmel.

    THE ANALOGICAL PATH IN THE

    THOUGHT OF GEORG SIMMEL

    Abstract

    In this paper I deal with the role of analogical reasoning in

    the thought of Georg Simmel (1858-1918), one of the found-

    ers of German sociology. My main goal here is to grasp the

    relations between analogy-making as a cognitive resource

    and the style of thought to which Simmel clings. As a first

    step towards this, I gather the fragments of the history of

    the concept of analogy that I consider to be the most rele-

    vant to Simmels reception of it. After that, I put forward a

    synoptic survey of the instances of analogy that can be iden-

    tified in those of his works deemed to be the most influen-

    tial to sociology, viz., his Philosophie des Geldes (1900) and his

    Soziologie (1908). Finally, I face the question regarding how

    Simmel handled his analogies as he set out to articulate

    such intellectual undertakings aiming to lay bare the con-

    nections between this resource and the cognitive ideal of

    plasticity, conceived as a pervasive guiding principle of Sim-

    mels sociological and philosophical thought.

    Palavras-chave

    Georg Simmel (1858-1918);

    Analogia;

    Pensamento alemo;

    Histria da sociologia;

    Imaginao

    Keywords

    Georg Simmel (1858-1918);

    Analogy;

    German thought;

    History of sociology;

    Imagination.

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