A Vida de Jung e o Nascimento Da Psicologia Analítica

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O texto é a transcrição de uma entrevista na qual o autor procura articular o surgimento e o desenvolvimento da Psicologia Analítica com os registros biográfico de Carl Gustav Jung

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  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    CIP Catalogao na publicao

    Elaborada por Gabriela Faray (CRB7-6643)

    J95 Jung, as terapias e o Novo Milnio! [livro eletrnico] / Andr

    Rodrigues (org.). - Piracicaba : Nous Caminhos do Saber,

    2015.

    2v. : il. col. ; pdf.

    ISBN 978-85-69979-00-5

    ISBN 978-85-69979-01-2

    Transcries das palestras do 1 Congresso Online: Jung,

    as terapias e o Novo Milnio.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    Nada podemos mudar se no o aceitamos. Condenao no liberta, oprime... se um mdico quer

    tratar um ser humano, precisa aceit-lo como . E s pode fazer isso quando j viu a si mesmo

    e se aceitou. Isso pode parecer simples, mas o simples sempre o mais difcil. Na vida real

    preciso muita arte para ser simples, por isso a aceitao de si mesmo a essncia do problema

    moral e a prova real da concepo da vida de uma pessoa.

    Que eu d comida a um mendigo, que perdoe uma ofensa, que ame meu inimigo em nome de

    Cristo - tudo isso so sem dvida, grandes virtudes. O que eu fizer ao mais nfimo de meus

    semelhantes estarei fazendo a Cristo.

    Mas e se eu descobrir que o mais nfimo de meus semelhantes, o mais pobre dos mendigos, o mais

    atrevido de todos os ofensores, o prprio demnio esto todos dentro de mim, e que eu mesmo

    preciso das esmolas da minha bondade, que eu mesmo sou o inimigo que precisa ser amado - que

    acontecer comigo? Fosse o prprio Deus que se tivesse chegado a ns nessa forma desprezvel,

    ns o teramos renegado mil vezes antes que um nico galo cantasse.

    Carl Gustav Jung

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    APRESENTAO

    Esse livro resultado de um maravilhoso trabalho que aconteceu em julho de 2015 e

    que foi um marco na Psicologia Analtica no Brasil, o 1 Congresso Brasileiro Online Jung,

    as Terapias e o Novo Milnio (www.congressojungterapias.com.br). Esse evento, sendo

    inteiramente online e Gratuito, conseguiu reunir alguns dos maiores especialistas em

    Psicologia Analtica do Brasil e pde difundir o fantstico conhecimento deixado por Carl

    Gustav Jung para um grande nmero de pessoas. Foram cerca de 11.000 inscritos e uma

    mdia de 1.500 pessoas vendo cada uma das palestras. Recebemos cerca de 4.000 emails e

    a grande maioria foi agradecendo a oportunidade em participar do congresso.

    No livro voc encontrar as transcries de todas as palestras exibidas no congresso, as

    quais foram divididas em dois volumes. Neste Volume 1 concentram-se as bases tericas

    da teria Junguiana e no Volume 2, as entrevistas que abordam terapias com base junguiana

    e tambm a relao da teoria com aspectos da atualidade.

    Sinto-me profundamente grato pela participao desses grandes especialistas e todos

    foram sempre muito generosos, contribuindo para elaborar o evento que tornou-se um

    marco para a Psicologia Junguiana no Brasil.

    Gostaria por fim de demonstrar minha gratido a minha equipe, Bianca e Brbara que

    realizaram um trabalho primoroso na elaborao deste grande projeto. Tambm a meu

    filho, grande motivador da minha vida.

    Andr Rodrigues

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    SUMRIO

    Jorge Miklos

    A vida de Jung e O Nascimento da Psicologia Analtica.........................................................09

    Guilherme Scandiucci

    O Inconsciente e os Arqutipos. Saiba como Esses Potenciais so fundamentais para a

    Vida ................................................................................................................................................35

    Joel Sales Giglio

    Os Complexos e o Ego: Entenda Como estes conceitos Funcionam e Como Ampliar

    seus Limites ...................................................................................................................................51

    Malena Segura Contrera

    A Energia Psquica e os Smbolos Portais para a Transformao .....................................82

    Carlos Byington

    Compreenda a Si Mesmo e aos Outros Atravs dos Conceitos de Sombra e Persona

    ........................................................................................................................................................107

    Edna G. Levy

    Anima e Animus Atravs do Sandplay Jogo de Areia ...................................................127

    Joo Rafael Torres

    Sincronicidade: Esteja Aberto para Perceber e Captar as Mensagens do Inconsciente

    atravs dos Acontecimentos Dirios .......................................................................................149

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    Cludia Rabelo

    Tipos e Funes Psicolgicas As Vrias Maneiras de Perceber o Mundo e a Si

    Mesmo ..........................................................................................................................................164

    Walter Boechat

    O Self e o Processo de Individuao... Compreenda o Processo de Realizar a Si

    Mesmo ..........................................................................................................................................176

    Renata Whitaker

    Alquimia - A Arte que busca trazer a Essncia, o Ouro de Cada Ser Humano

    Tona ..............................................................................................................................................192

    Reinalda Melo da Matta

    Entenda Como Funciona o Processo de Anlise ..................................................................217

    Irene Gaeta

    Tcnicas Expressivas Coligadas ao Trabalho Corporal ........................................................231

    Henrique de Carvalho Pereira

    Sonhos: Entenda a sua Importncia e Saiba como Us-los no Dia-a-Dia ........................251

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    Jorge Miklos

    A Vida de Jung e o Nascimento da Psicologia Analtica

    Andr: Ol, pessoal! Eu sou Andr Rodrigues, estou aqui em So Paulo com o meu amigo Jorge

    Miklos.

    Jorge: Ol, pessoal!

    Andr: Ele historiador e tem toda uma titulao doutor, etc., alm de analista junguiano. E ele vai

    falar hoje para gente, sobre a vida e obra de Jung. Isso para gente comear esse congresso com vocs tendo

    fresca a teoria dele e tambm como ele chegou a desenvolver o pensamento dele, acerca da psicologia analtica.

    Ento eu gostaria que voc se apresentasse, Jorge. Tudo bem?

    Jorge: Tudo bem. Bom dia, Andr, estou muito honrado com esse convite e, ao mesmo

    tempo, com essa responsabilidade de apresentar a vida e a obra do Jung. Espero que

    consiga faz-lo de uma maneira a honrar o prprio pensamento do Jung e os junguianos

    que por ventura estiverem nos escutando. No sei se vou trazer coisas to originais, mas,

    pelo menos, vou trazer aquilo que mais me tocou, mais me marcou.

    Andr: Voc pode falar um pouquinho da sua formao? S para o pessoal te conhecer rapidinho?

    Jorge: Claro! Eu posso dizer que tenho uma formao mestia, minha primeira

    formao se deu na rea da Histria, eu fiz um curso superior de Histria e, logo depois

    que terminei, eu namorei com a Antropologia. Namoro que dura at hoje na verdade. E a

    essa Antropologia acabou me empurrando para o mestrado na PUC em Cincias da

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    Religio. Ento eu sou mestre em Cincias da Religio, estudei durante 4 anos e meio os

    fenmenos religiosos a partir de vrias perspectivas.

    A partir da eu continuei na minha carreira na rea das Cincias Sociais e me doutorei

    em Comunicao Social. Pode at achar estranho o que tem a ver Cincias da Religio,

    Histria e Comunicao Social. Mas eu me Doutorei dentro de uma famlia epistemolgica

    que entende a comunicao no apenas como um suporte tcnico, mas fundamentalmente

    como um elemento imprescindvel para relaes interpessoais e para as relaes humanas.

    Que a isso chamada escola de So Paulo, o CISC Centro Interdisciplinar de Semitica da

    Cultura e da Mdia, que aqui em So Paulo est na figura do professor Norval Baitello

    Junior como seu fundador. uma rvore frondosa, que gerou muitos frutos e eu sou uma

    frutinha desta rvore, mas que pensa a comunicao.

    Nesse sentido eu aproveitei a minha bagagem, meu percurso na rea de religio, e estudei

    dentro da comunicao a cibercultura (cultura digital), essa cultura que emerge no mundo

    contemporneo a partir do uso massivo das mdias digitais e, eu estudei a transposio a

    migrao das experincias religiosas contemporneas para o mundo digital.

    Hoje o mundo digital praticamente abarcou, se tornou totalizante e tambm totalitrio.

    Ele abarcou a educao, abarcou a vida cotidiana, as relaes, o mercado, a economia, o

    comrcio e tambm as religies, as experincias religiosas. As igrejas perceberam na internet

    um meio de divulgar, de fazer seus proselitismos. E muitas pessoas, muitas igrejas, muitas

    associaes religiosas, comearam a utilizar a internet para experimentar novas relaes,

    dentro dessa esfera chamada de ciberespao que um depositrio dos bens simblicos

    contemporneos, ento eu fui analisar isso. Eu criei uma expresso que eu chamo de Ciber-

    religio as experincias religiosas no ciberespao. Ento eu caminho por a.

    Mas, como eu estudava Jung desde 85, eu me encontrei com Jung em 1985, eu decidi

    fazer uma formao em Psicologia Junguiana. Que o Jung desde a poca que eu fazia

    Histria estava presente nas minhas reflexes, na minha vida. Difcil eu olhar para alguma

    coisa, ouvir alguma coisa e o Jung no se manifestar. muito difcil, s vezes uma questo

    que aparentemente no tem nada a ver, o Jung parece que ele convocado ali.

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    Ento eu tinha um estudo quase que individual, quase que como um autodidata da obra

    do Jung. Mas, eu senti necessidade de formalizar, de ter uma orientao desses estudos, um

    aprofundamento e principalmente uma maturidade maior, principalmente nos conceitos

    junguianos que no so to fceis assim, como a gente imagina: sincronicidade, energia

    psquica, complexo, arqutipo. Voc tambm foi meu colega sabe disso, que aparentemente

    no to simples assim.

    Ento eu acabei junto com voc, me inscrevendo l na FACIS (Faculdade de Cincias

    da Sade de So Paulo). Fomos procurar o IJEP e o IJEP durante dois anos deu essa

    formao. E na verdade quando termina a formao a gente se sente um pouco mais seguro

    para poder organizar o pensamento, poder falar. Mas, ao mesmo tempo, a gente fecha uma

    porta e abre mais 50 mil, porque ali a gente se sente mais seguro para comear a estudar

    melhor pensamento de Jung. Ento a minha presena no Jung estava a.

    Tanto que no prprio doutorado, embora seja sobre ciber-religio, cibercultura, ela nasce

    a partir do desenvolvimento de uma obliquidade tecnolgica. O prprio doutorado, eu abro

    ele com uma epgrafe, e na epgrafe o Jung est l presente. "Conhea todas as teorias

    domine todas as tcnicas, mas diante de uma alma humana seja to somente outra alma

    humana." Essa foi a mensagem que eu quis comear e quis terminar dentro desse universo.

    Ento isso, assim rapidamente.

    Andr: Muito bom Jorge, muito bom! Ento, agora que o pessoal j te conhece, vamos comear a nossa

    conversa e acho que a primeira coisa : Quem foi o Jung? Eu acho que a gente pode localizar ele em tempo

    e espao.

    Jorge: Perfeito. Vamos localizar ele no tempo e no espao. Jung nasceu no Canto, num

    vilarejo na Sua; Jung era suo. Interessante isso, no ? A Sua uma regio na Europa

    muito particular, ser suo algo assim, muito interessante, de certa forma isso marcou

    tambm o pensamento do Jung (ser suo). Ele nasceu na segunda metade do sculo XIX,

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    mais precisamente em 1875. Ento ele era um pensador da passagem do sculo XIX e ele

    vai ter uma vida longeva. Ele vai vir a falecer em 1961, tambm na Sua.

    Ele viajou muito, conheceu os EUA, inclusive com Freud, visitou a frica, visitou a

    ndia. Mas, ele era um homem da Sua, ele era um campons universal, pode-se dizer

    assim. Ele era um homem da terra, ele era um campons, mas era um campons do mundo,

    ele j era um cosmopolita.

    Ele estava muito antenado com as foras do mundo, no s acho que deste mundo, mas

    dos outros mundos tambm. (Risos). Mas, era ali na Sua, no silncio, na tranquilidade, na

    serenidade, nos lagos suos, nas montanhas e que ele conseguia auscultar a alma humana,

    auscultar a alma do mundo. Ento, o Jung era uma personalidade central ao meu ver para

    entender o ser humano, tanto do ponto de vista diacrnico quanto do ponto de vista

    sincrnico, ou seja, tanto do ponto de vista do seu tempo, quanto do ponto de vista de

    todos os tempos.

    E muito interessante localizar o Jung nessa poca, n Andr? Porque eu comeo

    dizendo isso, eu acho que todo junguiano sabe essa passagem, mas sempre bom repetir.

    No Memrias, Sonhos e Reflexes quando ele abre o livro ele diz: A minha vida a

    histria de um inconsciente que se realizou. Tudo que nele repousa, aspira a tornar-se

    acontecimento e a personalidade ao seu lado quer evoluir a partir de suas condies

    inconscientes e experimentar-se como totalidade, a fim de descrever esse desenvolvimento

    tal como se processou em mim, no posso servir-me da linguagem cientfica, no posso me

    experimentar como um problema cientfico.

    Aqui j tem nesse primeiro pargrafo, ele j diz muita coisa. O que ele quer dizer com

    isso? Que voc no pode separar, para entender o Jung, voc no pode separar a vida da

    obra dele, em primeiro lugar. A obra dele se constituiu e se construiu a partir da experincia.

    No por acaso, o Jung a todo momento, ele na obra, faz sempre questo de frisar: Sou

    um emprico, um experimento comum, sou um emprico.

    Claro que ele no est usando a expresso emprico no sentido que a Filosofia v o

    empirismo, no sculo XVII e XVIII, de Hume e Locke. Ele disse emprico no sentido de

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    experincia, ele se experimenta. Na verdade a Psicologia Junguiana nasce a partir da prpria

    experincia do Jung, que ele teve com ele mesmo, com a sua vida externa, com sua vida

    interna principalmente, a histria de um inconsciente que se realizou, com o mundo, com

    as pessoas, com seus amigos, com sua famlia, com seus pacientes, com suas amantes, com

    todas as pessoas que cercaram a vida dele.

    O que significa isso? Quer dizer, essa passagem do sculo XIX para o sculo XX, os

    paradigmas da cincia comearam a desmoronar. E qual paradigma que vai desmoronar?

    Quando eu falo desmoronar, embora ele ainda esteja muito presente at nos cursos de

    Psicologia, at nos cursos que se dizem cientficos, mas existe um paradigma que se

    construiu na modernidade do sculo XVI, XVII, XVIII e XIX, principalmente, que a

    cincia se ergue a partir da separao entre o sujeito e o objeto. Ento o sujeito est aqui o

    objeto est aqui. Aqui est o psiclogo, aqui est o paciente.

    Ontem mesmo eu escutei de um aluno da psicologia, ele falou assim: No! Ns temos

    que ser neutros, ns somos imparciais quando estamos diante dos nossos clientes, dos

    nossos pacientes.. E eu falei: Voc acredita nisso? Voc acredita nesse mito da

    imparcialidade?. Interessante como ele sobrevive. Mas, a partir do Jung a partir de outros

    pensadores que o Jung vai tambm dialogar, voc comea a ter uma conscincia.

    Emerge-se uma conscincia de que esse paradigma cartesiano moderno ele foi

    importante num determinado momento para a cincia, mas ele no d conta da

    complexidade, da diversidade e da indeterminao, que a condio humana. Ento, na

    obra do Jung, o sujeito e o objeto, no existe essa separao.

    A obra do Jung nasce a partir do momento que ele se experimenta como realidade

    psquica, enquanto fenmeno psquico. A obra do Jung marcadamente uma obra que

    nasce a partir da sua vivncia interior da coragem de descer as profundezas do inconsciente

    e da coragem que ele teve de romper esses paradigmas cartesianos, de que separa e, que vai

    colocar essa clivagem entre sujeito e objeto. Como ele diz: Eu no posso me experimentar

    como problema cientfico., o que ele quer dizer que no pode se colocar, como algo fora

    dele mesmo.

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    Ento assim, eu no sei se quem est nos ouvindo j conhece a obra do Jung ou vai ainda

    conhecer, mas muito importante que, ao adentrar o pensamento junguiano, se tenha

    clareza disso. preciso desmontar, desconstruir esse paradigma cientifico do sculo XIX,

    esse paradigma positivista que vai se erguer em torno do mito da neutralidade da cincia,

    da ideia de que o cientista e o fenmeno observado, seja ele qual for, devem estar

    absolutamente separados e, deve se ter claro, que no caso do Jung isso no acontece.

    Pode-se dizer que a obra do Jung, os 18 livros que esto publicados, a obra completa,

    mais as cartas de Freud, mais O Homem e Seus Smbolos, mais O Livro Vermelho e

    o prprio Memrias, Sonhos e Reflexes, tudo autobiogrfico. Costuma-se dizer assim,

    Memrias Sonhos e Reflexes uma obra autobiogrfica. E eu tenho a ousadia de dizer

    aqui para vocs que toda a obra de Jung autobiogrfica.

    Ele fez, ele deixou, ele ordenou que Memorias Sonhos e Reflexes no entrasse nas

    obras completas, nas obras cientficas, que fosse publicada como uma obra parte, mas

    pode se dizer que toda a obra do Jung autobiogrfica. uma obra que nasce a partir de

    uma experincia pessoal.

    Ele um homem do sculo XIX, campons, que viveu na Sua, como ns j dissemos.

    Ele era filho de um pastor protestante, Luterano e de uma me que tinha experincias

    msticas e relaes com o numinoso, isso marcou muito a vida do Jung; pode-se dizer assim.

    E nisso eu no vejo um demrito, como muitos poderiam ver, Jung era um mstico, um

    gnstico; medida que ele experimentava para alm de uma realidade superficial.

    Quando ele descobre o inconsciente coletivo, ele est descobrindo um aspecto da

    existncia humana, que vai para alm daquilo que o nosso mundo ousa perceber. Como diz

    a msica do Milton Nascimento: Alma vai alm de tudo o que o nosso mundo ousa

    perceber.

    Ento, ele era um mstico gnstico. Gnoses, o gnosticismo uma corrente que est

    presente em todas as religies praticamente, e ela entende que o caminho da redeno o

    autoconhecimento. preciso adquirir conscincia de si mesmo, para adquirir conscincia

    do Deus que vive em voc, porque s assim possvel fazer o resgate, ento o gnosticismo

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    uma... O Jung era um gnstico nesse sentido, um mstico nesse sentido, porque ele levava

    em considerao, para compreender a existncia humana e para compreender os tormentos

    humanos, justamente a dimenso espiritual da existncia.

    claro que isso num ambiente positivista muito mal compreendido. Outro dia eu

    escrevi, terminei de escrever um livro e no ltimo pargrafo, eu escrevi a palavra ALMA e

    a revisora mandou para mim dizendo, assim, que essa palavra era muito piegas, usando

    essa expresso: Isso muito piegas para um livro cientfico.. Ento por a voc j percebe

    que ns ainda temos um resqucio muito forte dessa viso.

    Ele nasce e, portanto, filho de um pastor luterano, isso marcou profundamente a vida

    dele. Eu acredito que, se voc fosse perguntar, assim, quando que o Jung comea a

    constituir a sua obra: a partir do momento que ele tem os primeiros sonhos, a partir do

    momento que ele tem os primeiros insights, a partir do momento que a conscincia dele

    comea a desabrochar. A obra do Jung comea a nascer nesse momento.

    Momento em que ele nasce, momento em que ele comea a ter conscincia, as primeiras

    lembranas dele, em Memrias, Sonhos e Reflexes ele deixa claro que as primeiras

    lembranas dele so quando ele tem trs, quatro anos de idade, ali ele j comea a se

    alimentar como psique, viva. Ali comeam a surgir as primeiras, essas primeiras

    experincias que vo ser marcantes na vida dele.

    Nesse livro ele deixa muito claro que o que mais marcou a vida dele so as experincias

    internas, no as experincias externas. Tanto que no Memrias, Sonhos e Reflexes ele

    deixou muito claro, ele diz isso: Em ltima anlise, s me parece indignos de ser narrados

    os acontecimentos da minha vida, atravs dos quais o mundo eterno irrompeu no mundo

    efmero..

    Andr: Poxa vida! Fantstico!

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Jorge: Por isso falo principalmente das experincias interiores, entre elas figuram meus

    sonhos e fantasias, que constituram matria original do meu trabalho cientfico. Foram

    como que uma lava ardente e lquida a partir da qual se cristalizou a rocha que eu devia

    talhar. Diante dos acontecimentos interiores., diz o Jung, as outras lembranas

    empalidecem, as viagens, as relaes humanas, os ambientes. Muitos conheceram a Histria

    do nosso tempo e sobre ela escreveram, ser melhor buscar em seus escritos ou ento ouvir

    em seu relato. A lembrana dos fatos exteriores da minha vida, em sua maior parte

    esfumou-se em meu espirito ou ento desapareceram. Mas, os encontros com a outra

    realidade, o embate com o inconsciente se impregnara de maneira indelvel na minha

    memria. (JUNG, Memrias, Sonhos e Reflexes p.20, 1963)

    Ento parece assim, que a constituio de toda obra do Jung, a matria-prima para a

    constituio do pensamento junguiano essa abertura para o numinoso. Essa abertura para

    a transcendncia, que no est para alm, somente de si mesmo, mas esse alm de si mesmo

    que est dentro de si. Ele fala que esse mundo eterno irrompeu no mundo efmero.

    Ento, quando que comea a obra do Jung? Quando ele nasce, quando ele comea a ter

    os primeiros sonhos, quando ele tem os primeiros lampejos de conscincia, quando ele

    descobre que ele tem duas personalidades, que existe um menino inseguro e medroso

    dentro dele, mas tambm o velho sbio dentro dele e que ele vai conviver com essas duas

    personalidades na vida toda dele.

    nesses momentos que aparecem, a infncia dele muito marcada por essas relaes,

    com as relaes com o pai, relaes com a me. Ento isso a matria-prima fundamental

    para entender o pensamento dele.

    Andr: Ele at observa isso na me, tambm. A me hora reage de uma forma, hora age de outra.

    Jorge: Exatamente. Isso marca muito ele. Enfim, ele acaba, ele tem um momento que

    ele tem uma inclinao muito forte pela Filosofia, pela Teologia, pelas chamadas cincias

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    humanas puras e uma inclinao tambm pelas cincias naturais. E muito interessante

    perceber no Memrias, Sonhos e Reflexes que ele estava oscilante entre uma formao

    e outra formao e ele opta pela medicina.

    Pensando em qual foi a deciso fundamental, foi o elemento que o levou a decidir, foi

    um sonho que ele teve. Ento, Jung sempre se pautou, a vida dele era pautada pela realidade

    interna, realidade interior. E, ele vai como mdico, descobrir mais tarde, que boa parte das

    doenas psquicas e fsicas que a humanidade carrega, justamente por conta dessa

    dissociao que a maior parte das pessoas carrega entre o mundo externo e o mundo

    interno, elas no ouvem a voz interior.

    A maior parte das pessoas, principalmente aqui no ocidente, principalmente depois da

    modernidade, do desencantamento do mundo, a maior parte das pessoas procuram

    respostas nas imagens exteriores, as respostas esto aqui no mundo de fora, e elas ignoram

    ou desconhecem completamente sua realidade interior. Ento, ele vai inclusive constatar

    como mdico que, a maior parte dos males esto ali. Esto nessa dissociao, e que

    portanto, o processo de cura comea a partir do momento em que voc se reconecta

    com o Si Mesmo com o Self.

    Nesse sentido o Jung vai deixar claro. A turma tem uma frase, eu me lembro do Magaldi

    repetir essa frase vrias vezes, ele dizia que o Jung falava que os homens abandonaram os

    deuses e os deuses voltaram e se transformaram em doenas, em outras palavras, dizer

    que aquilo que voc abandona, isso exige e replica e requer ateno. E essa ateno vem

    muito por a.

    Andr: Jorge, uma dvida que talvez o pessoal, que principalmente no conhece o Jung tenha, qual

    a relao dele com o Freud?

    Jorge: Perfeito. Ento, eu vou entrar nesse ponto. Ele vai cursar medicina. Ele termina

    o curso de medicina no ano de 1900. bem interessante porque o termino do Jung, o Jung

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    se forma mdico no ano de 1900 que justamente o mesmo ano que o Freud publica a

    interpretao dos sonhos.

    Interessante essa virada, justamente na virada do sculo, o Jung est l na Sua

    terminando o curso de medicina e ele faz a opo pela psiquiatria e no por outras reas,

    considerando que a psiquiatria no era nesse momento uma rea que pudesse trazer grande

    fama ou dinheiro. Mas, mesmo assim ele ouve um chamado interior e ele teimosamente,

    eu digo que teimosamente, o Jung parece que ele nunca obedeceu muito s vozes exteriores,

    ele ouvia a voz interior.

    Ento, ele era muito teimoso em relao aos apelos externos e muito obediente aos

    apelos internos. Ento, ele vai para a psiquiatria e ele casa com a Emma Jung em 1903, esse

    casamento a ele foi fundamental, porque alm de dar estabilidade econmica para ele

    Emma , na vida dele, essa estabilidade, a rocha, o pilar da vida dele, era casa, era a

    famlia, era aquilo que no deixava se cotizar.

    Porque o Jung comea a trabalhar, Andr, j no hospital psiquitrico com algumas

    experincias nos seus pacientes com um mtodo que ele inventa, que o mtodo da livre

    associao; e dali que vai nascer o conceito de complexo. Ou seja, ali ele trazia os pacientes

    e ele pedia para os pacientes responderem a partir de um grupo de palavras que eram dicas.

    Ento ele falava casa e a pessoa tinha que dizer o que lhe vinha em mente a partir da

    palavra casa. Dizia casamento, a pessoa tinha que dizer uma outra palavra. E, a partir desse

    processo de livre associao o Jung conseguia distinguir onde estava aquilo que ele vai

    chamar de complexo.

    Justamente porque a excitao, taquicardia, determinados sintomas e as reaes fsicas e

    mesmo o tempo de resposta para a fala, que dava evidncia para o Jung que ali que estava

    o n. Ali que estava alguma coisa. Era uma maneira que o Jung encontrou de fazer, se

    comunicar com o inconsciente que ele ainda no conhecia. A que est a questo, a partir

    da ele vai ler o Freud vai conhecer a obra do Freud e vai se interessar muito. O Jung, nesse

    processo da livre associao, vai encontrar na obra do Freud talvez aquilo que a gente

    chama: Aonde esto esses complexos? Onde eles reinam? Onde eles esto? E o Freud deu

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    19

    a resposta. O encontro com Freud foi fundamental. Ento, alm da infncia que a

    experincia dele, o nascimento da obra do Jung est no encontro com Freud.

    Andr: O Freud estudou o inconsciente tambm?

    Jorge: Estudou sim. Na verdade, ele nasceu com Freud.

    Andr: Depois, o Jung, ele...

    Jorge: , o encontro com Freud foi decisivo. Para que o Jung pudesse compreender.

    Andr: Tem at uma histria que eles ficaram muito tempo conversando.

    Jorge: Exatamente. Eu marquei aqui. Ento, na verdade essa relao com Freud, vai

    acontecer entre 1906 a 1913. E, so quase 7 anos de amizade. Uma amizade em que eles

    trocaram nesse meio tempo 359 cartas. Eu imagino se a gente trocaria tantos e-mails assim

    entre ns hoje, 359 cartas... O primeiro encontro deles se deu em 1907 e, eles conversaram

    durante 13 horas ininterruptas.

    Andr: Em 1906 ou em 1907?

    Jorge: Em 1907. O primeiro contato por cartas se deu em 1906 e em 1907 o Jung foi a

    Viena encontrar-se com Freud. E a eles conversaram durante 13 horas, e ali nasceu uma

    amizade fantstica, em que eles trocavam sonhos, trocavam ideias, angstias, dvidas, casos

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    20

    de pacientes, trocavam muita coisa, era uma amizade mesmo muito forte, muito grande e

    com muita sinergia.

    O Freud tinha uma admirao imensa pelo Jung. Freud chegou a acreditar que o Jung

    seria o prncipe da psicanlise, no sentido em que ele era o pai e o Jung era o filho. Porque

    o Freud achava que as pessoas que o cercavam elas eram muito interessantes, tudo, mas as

    julgava medocres, do ponto de vista intelectual. E, interessante porque essa mediocridade

    se manifesta a partir do momento em que eles eram muito obedientes ao que o Freud dizia.

    E era uma obedincia que tambm o Freud cobrava muito deles. Obedincia, obedincia,

    obedincia. Isso normal dentro dos crculos acadmicos.

    E o Jung, ele no era to obediente assim, Jung tinha suas ideias prprias, o Jung trazia

    as suas angstias e os seus contrapontos com as ideias do Freud e isso ao mesmo tempo

    que criava conflitos, criava admirao, era um sentimento de ambiguidade. O Freud ficava

    contrariado, ao mesmo tempo, mas tambm admirava Jung porque ele era um sujeito

    brilhante do ponto de vista intelectual e tinha suas prprias ideias.

    E qual era o principal ponto de discordncia entre eles, apesar da grande amizade e da

    admirao recproca? A origem dos conflitos estava na represso da libido. E o Jung

    considerava que tambm estava ali, mas, existiam outras questes na espiritualidade. E o

    Freud no admitia isso, achava que se essa questo fosse colocada na psicanlise, a

    psicanlise no seria levada a srio.

    Ela j enfrentava muito preconceito, o crculo psicanaltico j enfrentava muito

    preconceito, porque at hoje voc ouve isso nas escolas de psicologia... Ah, o inconsciente

    no pode ser provado cientificamente. Hoje ns estamos no sculo XXI, hoje voc fala

    o inconsciente no pode ser provado cientificamente, e a a gente pergunta: De qual

    cincia voc est falando? Tudo bem, mas qual cincia voc fala?. Ento Freud tinha muito

    receio de que trazendo essas coisas, para dentro da psicanlise, a psicanlise fosse

    considerada... A sim os inimigos teriam mais armas pra questionar.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    21

    Andr: Existe alguma ideia de que, e at se procurar na internet voc acha, em muitos lugares,

    especificamente dizendo que Jung era discpulo de Freud. Isso correto?

    Jorge: Eu no sei, Andr. Eu realmente no... Eu acho que essa pergunta... No sei se

    ela vai ser respondida. Eu vou dizer o meu ponto de vista. Eu sou muito franco em dizer,

    e sei que muita gente pode no concordar comigo. At o momento em que eu comecei a

    estudar a Psicologia Junguiana do ponto de vista mais formal, isso para mim estava meio

    que naturalizado, Jung foi um discpulo de Freud, ponto. Depois que eu estudei de forma

    mais rigorosa, de forma mais assertiva a Psicologia Junguiana, eu comecei a duvidar disso.

    claro que o inconsciente algo que os une, do ponto de vista terico, no h dvida.

    E claro que o encontro com Freud decisivo para o Jung em vrios aspectos, em muitos

    aspectos, tericos e existenciais e no clivagem ou separao entre eles. Mas eu no vejo,

    hoje, a Psicologia Junguiana como uma espcie de desdobramento da psicanlise como foi

    Lacan, como foram outros ramos da psicanlise, Melanie Klein. Eu acredito que a

    Psicologia Junguiana ela tem uma autonomia epistemolgica.

    O que no significa que o Freud no tenha sido decisivo. O prprio Jung reconhece, isso

    aqui um captulo inteiro dedicado a Freud na Psicologia do Inconsciente, existe um

    captulo dedicado a Freud, existe um livro do Jung: Freud e a Psicanlise que no significa

    isso, mas, at ento dizer que a Psicologia Junguiana um ramo da psicanlise, eu no sei.

    Eu acho que isso seria tema de um encontro entre psicanalistas e tal. O que eu escuto de

    alguns psicanalistas, eles rechaam Jung, pelo menos o que eu percebo. Nos meios

    psicanalticos eles no gostam nem de falar do Jung, alguns ou no. Isso a no tem nada a

    ver com a gente. J nos meios junguianos falam com naturalidade dessa relao com

    Freud... Que eu circulo, pelos cursos de psicologia, dou palestras, dou aulas, dou cursos e

    isso para mim fica evidente.

    Quando voc pergunta para um psicanalista sobre Jung ele diz no tem nada a ver, um

    discpulo rebelde um Lutero, rompeu daqui. Voc pergunta para os junguianos eles falam

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    com muita naturalidade e at com gratido ao Freud. Ningum tem um encontro e troca

    359 cartas e depois mesmo com o rompimento da amizade Jung nunca deixou de expressar

    sua admirao. isso, n, Andr? O pai e o filho.

    Andr: O Jung j era diretor no instituto de psicanlise, antes mesmo de se encontrar com Freud, ele

    j tinha um caminhar, n?

    Jorge: Sim! Exatamente. E esse caminhar era um caminhar muito forte e um caminho

    muito promissor. E esse encontro foi decisivo, assim como outros encontros, o pai e o

    filho. E a o filho carrega a herana do pai, mas segue. Isso na histria muito comum.

    Jesus era judeu Lutero era catlico, as extenses, elas so muito comuns ao longo da

    histria. No verdade?

    Andr: Eu me lembrei agora de uma fala do Jung. Eu no me lembro se est anotado no Memrias,

    Sonhos e Reflexes ou em algum outro livro Natureza da Psique. Mas que ele fala que mantinha

    uma reserva mental aos conceitos do Freud.

    Jorge: Exatamente, porque o Freud era absolutamente assim incisivo e rigoroso. Na

    medida que ele vai dizer que a origem dos conflitos a origem das neuroses estava na

    represso de um contedo de natureza sexual. E o Jung vai dizer que no. Tambm est

    na natureza sexual, mas existe outras questes da psique humana.

    Ento eu vejo na verdade, assim, o Jung com uma grande admirao ao Freud, o Freud

    tambm, e o rompimento da amizade entre eles foi muito duro, tanto pra um quanto para

    o outro. Eles sofreram muito. Mas h momentos que no d para fazer omeletes sem

    quebrar os ovos.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Andr: E o que que aconteceu para haver esse rompimento?

    Jorge: O que aconteceu que chegou um momento em que essa reserva mental comea

    a ficar cada vez maior. Ou seja, ela comea se tornar insustentvel para o Jung ele ia

    esconder ou disfarar, ou fazer de conta que isso no pertencia a ele, ou seja, ele teria que

    se sacrificar. Para manter a amizade e a parceria intelectual com o Freud ele teria que

    sacrificar a ele mesmo. E h um momento que ele no suporta isso e, portanto, expe

    publicamente as suas divergncias com Freud.

    Expe, publicamente, no circuito cientfico que a raiz dos conflitos no so apenas

    sexuais e o Freud no admite. No posso admitir algum no meu grupo que pense dessa

    maneira como voc pensa. A o rompimento inevitvel, a eles rompem. Esse rompimento

    foi muito duro para ambos.

    Porque o que que acontece depois, n Andr? O Freud vive na ustria vem a primeira

    guerra mundial o imprio Austro-hngaro se esfacela, a Alemanha punida pelo tratado

    de Versalhes. Vem a dcada de 20 uma crise econmica sem precedentes em toda a Europa

    e o nazismo. O antissemitismo cresce durante os anos 20. Freud era judeu, e a o Freud

    acaba caindo em desgraa, vai ser expulso de Viena, por conta da sua origem semita e por

    conta da anexao da ustria, e junto com ele, os livros dele foram queimados, em praa

    pblica.

    E j o Jung, eles rompem, portanto em 1913. E o Jung entra num processo de depresso

    profunda, um desmoronamento. poca que o Jung chama de desmoronamento, e vai

    sucumbir, ele vai passar todo o perodo da primeira guerra mundial num enclausuramento,

    numa depresso que ele no conseguia sair de casa, no conseguia atender, no conseguia

    clinicar. E, o que ele chama de confronto com o inconsciente. A outro momento

    decisivo, voc j v que o terceiro momento.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    24

    Aps o rompimento com o Freud essa amargura, essa angustia toda vem tona, mas, ao

    mesmo tempo, vem esse confronto com o inconsciente quando ele vai criar o conceito de

    Imaginao Ativa. Que quando vai nascer depois.

    Andr: Mostra para a turma.

    Jorge: O Livro Vermelho, que o resultado dessa experincia que ele tem com ele

    mesmo, aps o encontro com suas imagens interiores. Ento, as imagens que vo brotar

    do inconsciente, a maneira que ele encontrou para no sucumbir, foi ilustrar essa relao.

    Ele vai dizer que as imagens jorravam. E, era preciso dar uma expresso a essas imagens.

    E, a partir da, o Jung vai conseguir sair desses processos mais forte, mais altivo e, a partir

    da ele vai seguir o caminho e vai construir o pensamento dele.

    O pensamento prprio, j no mais ligado ao Freud, j no mais amparado pelo Freud.

    Porm sem, nunca, bom isso ser repetido: sem nunca desconsiderar o pensamento do

    Freud. Ou seja, o Jung vai estruturar que existe um inconsciente, mas existe o inconsciente

    coletivo. E, esse inconsciente coletivo no implica negar a existncia do inconsciente

    pessoal, mas existe o inconsciente coletivo que alm das questes sexuais, da libido, fora

    da libido, existe uma energia psquica.

    Essa energia psquica ela mais complexa, ela mais diversa e totalmente determinada

    e, nesse sentido, o pensamento dele vai ganhar. E a o Jung vai escrever os tipos

    psicolgicos, um livro que vai colocar ele numa cena cientifica muito interessante. Um livro

    que vai ser lido apropriado para muitos at hoje, at pelo povo da administrao de

    empresas, o pessoal que trabalha com RH, muitos se apropriam disso.

    E, ele vai ter um caminho, vai estudar alquimia, vai estudar religies, vai estudar gnose,

    ele vai ter dilogos com o circuito da fsica quntica, que ele vai elaborar o conceito de

    sincronicidade. Ele vai mergulhar no universo da pintura, universo dos sonhos, vai criar

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    um grupo em torno dele que, eram os pacientes. interessante isso, quem foram os

    junguianos?

    Andr: Da primeira fase.

    Jorge: , os junguianos eram todos pacientes dele. Que foram l procura-lo, ter a

    psicoterapia com ele e o prprio processo da psicoterapia. S se torna um analista

    junguiano aquele que foi capaz de enfrentar a si mesmo; Jung dizia, para alm de questes

    e fronteiras corporativistas e institucionais que as vezes fundamentam regulamentam nossa

    atividade no mundo social.

    Jung dizia: bom o que eu preciso fazer para ser um analista junguiano, um processo de

    anlise junguiano. S se torna um analista junguiano aquele que passar por um processo de

    anlise junguiana. Isso est claro e isso volta ao primeiro ponto de nossa fala. Ou seja, voc

    precisa experimentar a si mesmo, voc precisa viver. A vida que viver, a vida que

    brotada, a vida que jorrada e preciso que voc permita que isso acontea. Ento, Jung

    vai ter um caminho com um dilogo com a alquimia, com as religies, com a histria das

    religies, com os mitos, com a astrologia.

    Andr: Inclusive ele viaja para frica.

    Jorge: Viaja para frica, para o Oriente. E tomando contato com essas culturas arcaicas

    e com sonhos, smbolos, comea perceber a existncia da recorrncia desses smbolos, do

    simblico em vrios. Ento, Jung teve assim um dilogo enorme com muitos setores da

    sociedade. Ele no tinha preconceitos epistemolgicos. Ele estudou os mitos, estudou as

    religies, estudou o simblico.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    26

    O simblico era para ele a recorrncia desses smbolos, das mandalas aqui, na frica, na

    sia, nas catedrais gticas medievais a prova da presena dos arqutipos, do inconsciente

    coletivo. Estudou alquimia, estudou dilogos com Linus Pauling com a fsica quntica, o

    desenvolvimento da sincronicidade, o desenvolvimento de toda uma teoria que no se

    engalinhava, no ficava restrita a si prpria, no ficava querendo provar para os outros, no

    ficava se autorreferencializando.

    Eu vejo a teoria junguiana como a teoria que sempre sai de si mesma, que se extrapola,

    que no tem medo de se enfrentar e dialogar com outros pontos. E interessante porque

    o Jung vai escrever, e vai produzir muito, muito, muito. Ele chega aos 80 anos onde est

    escrevendo O Homem e Seus Smbolos, o prprio Memrias, Sonhos e Reflexes,

    essas obras que depois se tornaram as grandes vanguardas, as grandes obras que vo

    popularizar o pensamento do Jung, foram feitas j quando ele era um octogenrio.

    O Homem e Seus Smbolos, Memrias Sonhos e Reflexes so obras produzidas

    colaborativamente, quer dizer, hoje se fala muito na academia em construo do

    conhecimento de uma maneira colaborativa. O Jung na dcada de 60, passados os anos 50,

    j fazia isso com seu grupo. Quer dizer construo colaborativa do conhecimento

    Memrias, Sonhos e Reflexes, O Homem Seus Smbolos, so obras colaborativas. O

    Segredo da Flor de Ouro, com Richard Wilhelm que ele vai prefaciar, que na verdade

    quase que metade do livro.

    Ento, um pensamento dinmico, um pensamento que sempre me atraiu muito por

    conta disso, porque nunca ficou restrito a um aspecto ou outro, nunca ficou preocupado

    em se institucionalizar e se auto-referencializar como o nico pensamento como algo

    totalizante. Porque tudo que procura ser um pensamento totalizante, ou seja, de querer dar

    conta de toda realidade sempre acaba se tornando tambm totalitrio, na medida em que

    se fecha, e renega todos os outros tipos de conhecimento.

    Ento o Jung faz da sua vida e da sua obra, uma possibilidade de sair de si mesmo, dos

    limites do prprio ego e de ir alm disso tudo e de aprofundar-se, nesse caldo que a

    humanidade.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Andr: Jorge, voc falou que o Jung mergulhou no inconsciente num determinado momento, aconteceram

    isso mais duas vezes, no ? Ao longo da vida dele. Que ele fica um tempo grande.

    Jorge: Acontece um tempo longo de recolhimento em que ele atende os chamados. Ele

    vai buscar e ouvir aquilo que o mundo dos sonhos, aquilo que as imagens, as vises traziam

    para ele e ele vai mergulhar. O livro, por exemplo, Resposta a J que o livro que ele

    escreveu como uma espcie de cartarse que ele teve. Tambm foi um momento de

    mergulho, momento de aprofundamento. Esse recolhimento, na verdade ele acontecia

    justamente para poder ter esse espao maior com a dimenso do inconsciente, e permitir

    que esse inconsciente se manifestasse nele e trouxesse para ele essa dinmica.

    Ento, ele carregava essa caracterstica. Essa era uma caracterstica do Jung, era um cara

    sorridente, s vezes bem-humorado, dizem que s vezes mal-humorado, que falava na lata

    aquilo que ele estava pensando que ele estava dizendo, no era dado muito s hipocrisias

    sociais. Mas, ele tinha sim um compromisso maior dele era com essa realidade interior.

    Eu diria para voc, Andr que essa a grande diferena do Jung e de muitos dos

    pensadores que a gente conhece. Que tambm so vlidos e que tem o seu valor. De jeito

    nenhum a gente est tirando o valor, a importncia, a relevncia e a pertinncia que tem as

    outras escolas de pensamento mesmo dentro da psicologia. Mas, o compromisso mais

    importante da Psicologia Junguiana com a realidade interior. No existe nenhuma

    possibilidade de voc avanar no caminho do autoconhecimento se voc no olhar para

    dentro de voc. E, essa foi sempre uma caracterstica do Jung.

    E, eu queria at aproveitar a tua fala, queria mostrar, e quem est nos escutado

    pacientemente, uma imagem que me chamou muita ateno deste livro, que uma imagem,

    pelo menos na minha leitura, ela ilustra isso que ns estamos querendo dizer, esse

    compromisso com a realidade interior, sem, contudo, desmerecer e desprezar a realidade

    exterior. Essa imagem aqui (mostra).

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Vou tentar colocar aqui de uma maneira que as pessoas consigam enxergar. Essa imagem

    aqui, me parece uma imagem que para mim pelo menos sintetiza um pouco da prpria

    psique humana, da prpria dimenso que a vida e a obra de Jung. O que voc v aqui,

    a zona do inconsciente. Aqui voc tem a zona do inconsciente, essa zona do inconsciente

    uma zona mais escura, mais sombria, que voc nunca vai conhecer na sua integralidade.

    O inconsciente nunca vai se tornar totalmente consciente. Isso necessrio, ter essa

    humildade de reconhecer. Nosso ego no pode achar que ele domina tudo, que ele controla

    tudo. Aqui est o mundo dos arqutipos. Aqui que circula os arqutipos, e o ego no d

    conta do arqutipo, eu diria que o ego dar conta do arqutipo seria a mesma coisa que

    tentar colocar o oceano pacifico dentro de um copo dgua. No possvel. E aqui est o

    barco que a nossa conscincia. E, no centro desse barco tem o ego.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Ento, me parece que a vida do Jung foi uma vida que possibilitou a emergncia da sua

    obra a partir do momento em que ele se d conta dessa realidade interior, ele permite que

    essa realidade interior se manifeste. E, quando voc fala que ele se recolhia para permitir

    que isso acontecesse, quer dizer, a vida do Jung no destruir o ego, no destruir o barco,

    justamente o contrrio.

    Para voc garantir a existncia desse ego, deste barco, preciso que este barco e este ego

    estejam em sintonia com essa realidade interior, para que isso daqui no se transforme

    numa tempestade que acabe naufragando e levando ao naufrgio dessa realidade

    consciente. A realidade consciente, ela deve servir ao Self e no o Self estar a servio do

    ego. A inverso disto que leva ao naufrgio. preciso colocar a o ego a servio.

    Quando o Jung se recolhe, e ele diz bom, agora o momento que o meu Self, o meu

    inconsciente quer se manifestar, ele se permite isso. Isso garante a sobrevivncia, garante

    que voc no adoea, garante que voc no tenha distrbios, garante que o teu ego se

    coloque a servio de uma realidade interior. Ento, esse movimento de recolhimento que

    o Jung faz, so movimentos que inclusive as religies tradicionais elas estimulam seus

    membros a fazerem.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Veja, os mulumanos rezam 5 vezes por dia, eles esto l no meio de sua atividade, eles

    param o que eles esto fazendo e eles durante 5 vezes por dia, durante 5 minutos eles se

    voltam para Al. E o que voltar-se para Al? Voltar-se para Al voltar-se para Deus,

    voltar-se para o Self, para o si mesmo, voltar-se para a Imago Dei para imagem de Deus

    na alma humana. E essa imagem parece que bem emblemtica.

    O barco s sobrevive se estiver em sintonia com as guas. S os bons mareantes so

    aqueles que conhecem as guas em que eles navegam. E, conhecendo as guas que eles

    navegam, significa permitir-se banhar-se, permitir que ela te massageie, permitir que elas

    existam.

    Talvez o grande problema da incompreenso da teoria junguiana ela advenha no de um

    preconceito contra o Jung, mas talvez seja uma intolerncia em relao a caracterstica que

    da prpria da civilizao ocidental que muito centrada no ego, que muito centrada na

    conscincia, muito centrada naquilo que a gente chama de critrio de cientificidade da

    verdade. Que, desconsidera completamente aquilo que o numinoso.

    Jung teve uma vida longa, uma vida prspera, uma vida boa. Ele morreu, a Emma Jung

    faleceu antes dele, e ele morreu em paz. Quando se pergunta como foi a morte de Jung, ele

    morreu em paz. Ele morreu em paz porque ele estava provavelmente muito consciente de

    que a vida dele se colocou a servio de uma realidade que ia para alm dele mesmo.

    Andr: Tem uma frase na lpide dele, voc lembra qual ?

    Jorge: Bom. Tinha uma frase na porta da casa dele que dizia assim: Invocado ou no

    invocado, Deus est presente.

    Andr: Muito Bom! Jorge, a gente j est estourando o tempo, a gente poderia ficar conversando horas,

    sobre isso.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    31

    Jorge: Claro, claro. Mas, tem que ler o Jung, n?!

    Andr: tem que ler o Jung. Mas eu queria aproveitar s para conversar rapidinho com voc sobre

    uma questo que para muitos que esto assistindo a gente e no so psiclogos. E, muitos podem at

    confundir o Jung ou o pensamento junguiano com um misticismo no cientfico. Ento, eu queria s

    aproveitar para frisar essa questo, para que fique muito claro que esse autoconhecimento no um

    autoconhecimento etreo, nesse sentido.

    Jorge: No. Claro que no. Na verdade, o Jung confundido por isso, mas, se voc

    acompanha as obras completas do Jung, so obras cientficas. Ele faz questo de dizer.

    Tudo que est ali escrito partiu de uma experincia com os sonhos dos seus pacientes, as

    experincias onricas de seus pacientes. Portanto, tudo aquilo est fundamentado, tudo

    aquilo est declaradamente comprovado. S que de um ponto de vista de uma cincia que

    no cartesiana.

    A modernidade construiu uma cincia positivista, uma cincia cartesiana, cartsius de

    Rene Descarte, estabelecia esse critrio de validao cientfica, esses critrios de validao

    cientfica significam tomar o homem como ser racional, apenas, homo sapiens sapiens. E,

    a descoberta da psicanlise e da Psicologia Junguiana diz olha ns somos sapiens mas

    somos demiens.

    Andr: Inclusive ele fala: Somos homos religiosos.

    Jorge: Homo religiosos, homo artsticos. Isso historicamente est l, a partir do Jung

    do Freud as prprias expresses artsticas, as vanguardas artsticas europeias elas vo

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    sinalizar isso. Se voc pegar essas telas surrealistas, o impressionismo, o surrealismo, os

    expressionistas, os cubistas. Elas comeam se a voltar para essa realidade interior.

    Pega a obra artstica do Salvador Dali, a obra artstica do Duchamp, as obras artsticas

    do Ren Magritte. Ali tem uma expresso, j so artistas que esto dando uma outra

    expresso para o seu trabalho e, uma expresso que leva em considerao. Ento, da

    mesma maneira voc poderia dizer isso no arte. Porque essa tela no representa a

    realidade, tal qual a realidade se apresenta para os meus sentidos. Ento voc vai dizer isso

    no arte. Ento o que que arte? Porque os surrealistas iam buscar na realidade onrica,

    na realidade interior que anacrnica, no lgica, analgica, atemporal, aespacial. Outras

    formas de representao.

    Existe um ramo da psicologia, que pensa apenas a realidade exterior e, existe um campo

    da psicologia que pensa as realidades que vo alm dos exteriores. Uma no melhor que

    a outra, uma no pior que a outra, elas se complementam.

    Andr: Jorge, para finalizar, se voc tiver alguma coisa que voc queira colocar, que voc ache que

    importante e que a gente no falou, fique vontade se no a gente pode encerrar.

    Jorge: A gente pode encerrar. Eu vou s encerrar agradecendo a pacincia. Espero que

    eu tenha conseguido dar incio a uma conversa. Acho que isso aqui nunca o final de uma

    conversa; o incio de uma conversa. Espero que vocs que esto nos ouvindo se

    interessem em ler a obra do Jung. E possam depois at debater conosco sobre essas coisas

    que foram aqui debatidas, algumas polmicas, por exemplo, essa relao com Freud. Que

    eu acho que no est terminado ainda. Eu gostaria de terminar citando o prprio Jung, se

    voc me permite?

    Andr: Claro!

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

    33

    Jorge: Uma frase que ele diz aqui no Memrias, Sonhos e Reflexes em que ele diz

    assim: A vida sempre me afigurou uma planta que extrai sua vitalidade do rizoma. A vida,

    propriamente dita, no visvel pois jaz no rizoma. O que se torna visvel sobre a terra

    dura, um s vero depois fenece. Apario efmera. Quando se pensa no futuro e no

    desaparecimento infinito da vida e das culturas, no podemos nos furtar a uma impresso

    de total futilidade. Mas, nunca perdi o sentimento da perenidade da vida sobre a eterna

    mudana. O que vemos a florao e ela desaparece, mas o rizoma persiste. .

    Andr: Muito Obrigado Jorge!

    Jorge: Isso, de certo modo. Obrigado voc! De certo modo o Jung ele faleceu, mas o

    rizoma est vivo entre ns.

    Andr: Certeza! Com certeza. Permanece vivo.

    Jorge: Permanece em ns. E, alterando mudando. H outras escolas da Psicologia

    Junguiana, psicologia arquetpica do James Hillman que tem criado uma escola tambm.

    Ento, isso a vida: ela vai, as flores vo mudando de cor a partir do movimento do mundo.

    Andr: Que bacana. Muito obrigado!

    Jorge: Obrigado voc, Andr.

  • Jung, as Terapias e o Novo Milnio 1.0 Vol. 1

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    Andr: Obrigado por tudo. Pela disponibilidade de tempo, inclusive, que eu sei que precioso.

    Jorge: No, imagine. Tudo bem, muito prazeroso para mim. Eu acho que o encontro

    com o Jung para mim foi gratuito, foi me dado gratuitamente. E aquilo que a gente recebe

    de graa, a gente deve devolver ao mundo de graa.

    Andr: Plenamente concordado. Obrigado

    Jorge: Muito bom, querido.