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    Tecnologias e novas educaes

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 19

    O momento histrico contemporneo especial,

    porque vivemos uma era de profundas transformaes

    em todas as reas do conhecimento, da cultura e da

    vida social. Os ataques terroristas s torres gmeas

    nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, fo-

    ram marcantes em todo o planeta, e introduziram umdivisor de guas nas discusses sobre o mundo con-

    temporneo. Mais do que nunca, questes ticas, po-

    lticas e sociais tornam-se presentes, necessitando

    outros enfoques de anlise.

    Desde a metade do sculo passado, as teorias

    vigentes vm sendo postas em questo e a cincia

    vive um momento de grande ebulio, experimen-tando um movimento de transformao, na busca de

    novos paradigmas (ser que ainda podemos falar em

    paradigmas?) que possibilitem explicar os fenme-

    nos naturais e sociais de maneira mais ampla. As for-

    mas de organizao da sociedade tambm foram

    mudando. Desde o xodo dos judeus do Egito, em-

    preitadas, empresas, guerras e a maioria das ativida-

    des humanas vm sendo organizadas do modo hie-

    rrquico, vertical e de comando, geralmente

    representadas pelo organograma (Chiavenatto, 1999).Os princpios desse modelo, que aqui chamaremos

    de organizao vertical de comando, esto impreg-

    nados na sociedade: as mes apelam para os pais

    ( Quando o seu pai chegar...); os vizinhos em lit-

    gio, para o sndico; os motoristas, para os guardas, e

    assim por diante, envolvendo-se sempre uma instn-

    cia mediadora superior.

    Tecnologias e novas educaes*

    Nelson Pretto

    Cludio da Costa Pinto**Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educao

    * Este texto foi construdo como parte da pesquisa que o

    Grupo de Pesquisa Educao, Comunicao e Tecnologias vem

    desenvolvendo ao longo dos anos e, especificamente, como parte

    da pesquisa Polticas pblicas brasileiras em educao e tecnolo-

    gia da informao e comunicao, apoiada pelo Conselho Na-

    cional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). Es-

    pecial agradecimento a Mary Arapiraca, pelas preciosas contri-buies para a verso final.

    ** Este artigo, concludo recentemente, comeou a ser pro-

    duzido em parceria com Cludio da Costa Pinto, doutorando da

    Faculdade de Educao (FACED) da Universidade Federal da

    Bahia (UFBA), que nos deixou, com saudades. Tnhamos o hbito

    de trocar idias, textos e imagens pela Internet, com a inteno de

    produzir artigos. Conclui o texto, infelizmente sem ele.

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    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

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    Os processos decorrentes da chamada globaliza-

    o estimularam o desenvolvimento de uma forma

    alternativa de organizao, caracterizada pela distri-

    buio (do planejamento, da produo, das vendas)

    com uma pseudo-horizontalizao de parte significa-

    tiva do processo decisrio. Agora no localizamos

    facilmente uma pessoa no topo do organograma. Pas-

    samos a referirmo-nos s empresas multinacionais,

    ao sistema financeiro que passou a ser internacio-

    nal , ao comrcio, aos servios, sempre numa pers-

    pectiva planetria, e a prpria produo de conheci-

    mento parece estar seguindo esse modelo que

    poderamos denominar de organizao horizontal em

    rede. Um dos exemplos mais lembrados na nossa his-

    tria recente sobre esse modo de organizao veio do

    Departamento de Defesa dos Estados Unidos, duran-te a guerra fria, que, ao solicitar Advanced Research

    Projects Agency (ARPA) uma rede de computadores

    capaz de continuar funcionando na ausncia de um

    n ou quebra de uma conexo, deu origem, em 1969,

    rede Internet (ISOC, 2000), que se constitui na cha-

    mada rede das redes. H muitos exageros sobre a im-

    portncia e o poderio da Internet, mas vale salientar

    que ela posterior inveno da organizao social

    em redes, que, essencialmente, no depende dos apa-

    ratos telemticos para se constituir, uma vez que seorganiza atravs de outros cdigos, como o caso do

    trfico nos morros do Rio de Janeiro e de muitos ou-

    tros exemplos (Castells, 1999).

    No entanto, as redes de computador podem ofe-

    recer suporte propcio para que essa organizao ho-

    rizontal funcione de forma mais ampla envolvendo

    recursos distribudos em regies muito extensas, como

    a totalidade do planeta, e um grande nmero de pes-

    soas, a exemplo dos projetos Genoma e GNU, este

    ltimo buscando o desenvolvimento de sistemas emsoftwares no-proprietrios.

    Quando a Internet alastrou-se no mundo como

    um ambiente de comunicao confivel, ponto a pon-

    to, bilateral e acessvel at mesmo para indivduos, a

    partir das suas residncias, estabeleceu-se um ambien-

    te global muito mais favorvel s organizaes em

    rede do que para as organizaes verticais de coman-

    do, implicando, claro est, que, para a sua viabilizao,

    precisamos considerar a democratizao do acesso

    Internet como pea-chave para que a populao pos-

    sa ter a possibilidade de organizar-se de modo hori-

    zontal. Nesse sentido, so de fundamental importn-

    cia polticas pblicas que garantam esse acesso,

    entendendo-o como urgente, o que implica pensar-

    mos em solues coletivas e pblicas, e no apenas

    no acesso individualizado nas residncias.

    Os dados sobre a penetrao da Internet no Bra-

    sil e no mundo so suficientemente divulgados para

    que gastemos tempo e espao reproduzindo-os. Mes-

    mo assim, alguns merecem ser analisados. Por um

    lado, percebe-se um crescimento acelerado no nme-

    ro de internautas e, mesmo sabendo que em 2001 o

    Brasil possua apenas 23 milhes de conectados (me-nos de 19% da populao), pode-se perceber um au-

    mento de conexo daqueles que esto nas classes so-

    cioeconomicamente menos favorecidas (C, D e E),

    conforme dados de pesquisa realizada pelo Datafolha

    em parceria com a Folha Online e com o iBest.1 Des-

    se total, segundo a pesquisa, 9,5 milhes conectavam-

    se de suas casas, 8,3 milhes acessavam a web a par-

    tir do trabalho, outros 9,5 milhes acessavam a rede

    na casa de parentes, e 3,5 milhes ficavam on-line

    nas escolas ou universidades.No entanto, apesar desses dados indicarem um

    crescimento do acesso e, principalmente, um aumento

    da presena dessas classes na Internet, ainda percebe-

    mos a manuteno de uma lgica que privilegia aque-

    loutros sempre favorecidos pelo sistema econmico.

    Na distribuio por regies, o que se observa da pes-

    quisa que o Sul do pas a regio que mais acessa a

    rede, com 24% de pessoas on-line, seguido do Sudeste

    1 Segundo o Datafolha, a pesquisa foi realizada nos dias

    23, 24 e 27 de agosto de 2001. Foram ouvidas 11.201 pessoas,

    com mais de 14 anos, de 137 municpios do pas. A margem de

    erro do levantamento de dois pontos percentuais para mais ou

    para menos, dentro de um intervalo de confiana de 95%. Dispo-

    nvel em: . Acesso em: 20 jun. 2003.

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    (23%), Norte e Centro-Oeste (17%) e, finalmente, do

    Nordeste, com 10% (Folha de S.Paulo, 2001).

    A ampliao do acesso s classes C, D e E atri-

    buda muitas vezes implantao de telecentros e

    infocentros, alm da conexo de escolas pblicas

    rede. Nesse caso, os nmeros indicam 35% das esco-

    las do ensino mdio e 6,7% do ensino fundamental j

    conectadas. Parece um quadro animador se no esti-

    vssemos falando em mdias, porque, no fundo, ain-

    da vemos uma forte tendncia excluso agora,

    excluso digital , que refora, mais uma vez, uma

    situao de privilgios. No ensino fundamental, dos

    35 milhes de alunos, somente seis milhes teriam,

    em tese, acesso Internet. No ensino mdio, dos 8,1

    milhes de alunos, cerca de trs milhes esto em

    escolas conectadas (Folha de S.Paulo, 2001), sabe-dores que somos de que, ao falarmos em escola

    conectada, podemos estar a nos referir a um compu-

    tador que partilha a linha telefnica de uso adminis-

    trativo da escola.

    De outra parte, mas que no vamos tratar neste

    texto, acompanhamos um movimento intenso de con-

    centrao na propriedade dos meios de comunicao

    de massa, estando o Brasil seguindo uma tendncia

    mundial em termos de concentrao de grupos que

    comandam a produo simblica mundial. No Brasil,apenas seis redes nacionais de televiso (Globo, SBT,

    Record, Bandeirantes, Rede TV! e CNT) controlam

    667 veculos do pas: 309 canais de televiso, 308

    canais de rdio e 50 jornais dirios, segundo o Insti-

    tuto de Estudos e Pesquisas em Comunicao.2 Insta-

    la-se um sistema de comunicao broadcasting, com

    produtos, culturas e informaes sendo produzidos de

    forma centralizada e distribudos pas afora. Essa con-

    centrao possibilita o estabelecimento de uma

    pseudoligao entre as pessoas de todo o mundo, atin-

    gindo praticamente toda a extenso do territrio bra-

    sileiro, j que todos, na mesma hora, so receptores

    das mesmas imagens e informaes.

    Mesmo sendo apenas receptor, o cidado comum

    vive a sensao de estar integrado a todo o planeta,

    to-somente porque sabe o que est acontecendo lon-

    ge de seu prprio contexto de vida local.

    Preocupa-nos, claro, o processo de unificao,

    associao, megafuses entre as diversas empresas

    de comunicao que j so dominantes nesta rea, e

    que, alm disso, ampliam os seus tentculos para di-

    versos outros ramos no tradicionalmente associados

    mdia, abrigando, agora, emissoras de rdio, televi-ses, produo de revistas, jornais, livros, grficas,

    multimdia, cinema, Internet, telecomunicaes, m-

    sica, parques temticos, e mesmo instituies finan-

    ceiras (Pretto, 2000, p. 30).

    Esse movimento de concentrao e distribuio

    de imagens e informaes tem introduzido em nosso

    cotidiano uma perspectiva consumidora de ser, com

    reflexos em praticamente todos os setores, inclusive

    na educao e na cultura, trazendo para essas duas

    reas uma perspectiva individualista de atuao so-cial. As pessoas no esto acostumadas a atuar de

    forma colaborativa, e ainda impera a lgica da hierar-

    quia vertical, com delegao plena de poderes a re-

    presentantes. Recorre-se sistematicamente media-

    o da instncia superior e, em instncias como a da

    poltica, observa-se indiferena em relao s deci-

    ses e a seus efeitos sociais.

    Os movimentos associados ao que est sendo

    denominado de ciberespao tm trazido para a cena

    contempornea algumas novas reflexes sobre as pos-sibilidades de superao dessas perspectivas, com

    estudos que apontam para novas possibilidades de

    utilizao de mtodos, estruturas e estratgias de co-

    operao na Internet, luz das ferramentas dispon-

    veis para o desenvolvimento de aplicaes para a rede.

    Particularmente, tm-se destacado nessa questo os

    movimentos voltados para adoo de softwares no-

    2 O Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicao esta-va vinculado ao projeto AcessoCom, dirigido pelo jornalista Daniel

    Hertz, que teve suas atividades encerradas em 2003 por problemas

    financeiros. Os dados aqui apresentados foram divulgados pela As-

    sociao Brasileira de Imprensa (ABI) para a promoo da Jornada

    pela Democratizao da Mdia, promovida pela ABI em 2003. Dis-

    ponvel em: .

    Acesso em: 20 jun. 2004.

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    proprietrios, conhecidos mais fortemente a partir do

    crescimento do movimento GNU/Linux em todo o

    mundo. Para a educao, libertar-se dos softwares

    proprietrios um grande desafio, uma vez que a pos-

    sibilidade de independncia no acesso aos cdigos-

    fontes est intimamente associada s inmeras possi-

    bilidades de independncia de fornecedores

    centralizados que dominam o mercado, possibilitan-

    do a ampliao de uma rede de produo colaborati-

    va, dimenso fundamental para a educao. Ainda vol-

    taremos a isso mais adiante, mas j podemos adiantar

    que devem estar merecendo especial ateno nossa

    os sistemas de produo colaborativa que hoje ocu-

    pam grande espao no movimento do software livre

    mundial, denominados wikis, que possibilitam a pu-

    blicao de pginas na web, estando sua edio aber-ta para todos os usurios. Os termos wiki e wikiwiki,

    que em havaiano significam rpido e rapidinho, fo-

    ram adotados nesse tipo de software e ferramenta exa-

    tamente porque possibilitam que, onde quer que este-

    ja, o usurio possa editar o contedo da pgina que

    est lendo e, com isso, acrescentar a sua contribuio

    mesma. Uma das maiores experincias no wiki a

    Wikipdia, criada em 2001 na Flrida (Estados

    Unidos) e que hoje j est traduzida para cerca de 80

    idiomas.3Por agora, acreditamos ser importante retomar a

    idia de que, mesmo com todas essas possibilidades,

    percebemos que o processo de informatizao da so-

    ciedade, fortemente articulado com todos os sistemas

    miditicos de comunicao, no se estabeleceper se,

    como se fosse apenas mais uma atualizao dos meios

    tradicionais de comunicao, de envio e recebimento

    de dados, informaes e imagens. Tais sistemas cons-

    tituem-se em elementos estruturantes (Pretto, 1996)

    de uma nova forma de ser, pensar e viver. A dimensoestruturante das tecnologias da informao, que Pierre

    Lvy (1993) denomina de tecnologias coletivas ou

    tecnologias da inteligncia, tem mexido muito com

    todos ns, especialmente os educadores. Isso porque

    essas tecnologias, antes entendidas como meras ex-

    tenses dos sentidos do homem, hoje so compreen-

    didas como algo muito mais profundo, que interfere

    com o prprio sentido da existncia humana. A rela-

    o homem-mquina torna-se uma relao fundada

    em outros parmetros, no mais de dependncia ou

    subordinao, mas uma relao que implica o apren-

    dizado dos significados e significantes inerentes a cada

    um, e tambm o imbricamento desses elementos. Isso

    significa um encadeamento do homem e da mquina,

    que, segundo Marcondes Filho (1994), tem a ver com

    o momento da superao da razo (da cincia e do

    progresso) pela imaginao e pelos meios de comu-

    nicao e informao. Poderamos pensar na maqui-nizao do ser humano, como tambm na humaniza-

    o das mquinas. Acompanhamos um aumento

    significativo de pessoas com prteses artificiais que

    tanto modificam seus corpos quanto suas possibilida-

    des de atuao na sociedade. Edvaldo Couto (2000),

    no interessante O homem satlite: esttica e muta-

    es do corpo na sociedade tecnolgica, traz essa dis-

    cusso para o nosso cotidiano e analisa a presena

    dos cyborgs, que passam a ocupar espaos na socie-

    dade contempornea. Pode parecer que no falamosde ns mesmos, que no estamos imersos nesse mun-

    do de tecnologias inteligentes (algumas, nem tanto,

    bem verdade!4), rodeados de aparatos tecnolgicos que

    acabam determinando o nosso comportamento coti-

    diano. No entanto, se olharmos em volta, percebe-

    mos, entre tantas outras coisas, que vivemos contro-

    lados por cmeras de vigilncia em todos os lugares.

    Sorria, voc est sendo filmado, o jeito irnico,

    quem sabe cnico, de imposio desse processo de

    vigilncia permanente. Nossos corpos esto sendoguardados, registrados, para controles posteriores ou

    3 Disponvel em: . Aces-

    so em: 21 set. 2004. Para conhecer melhor o sistema, visite o stio

    ou .

    4 Nada mais irritante, por exemplo, do que a maquinizao

    das pessoas nos chamados call centers, que hoje ocupam um tem-

    po considervel do nosso cotidiano sofrido de consumidores para

    a resoluo de problemas que antes no tnhamos...

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    no quem saber em dezenas de bancos de dados

    informacionais.

    Pessoas com prteses implantadas, com suas ex-

    tenses ampliadas e seus sentidos exacerbados, viven-

    do plenamente a cultura super ciber, como afirma

    Couto (2000). Seres hibridizados, mas no s eles, co-

    meam a perceber a possibilidade de uma ampliao

    das comunicaes por sistemas telemticos, que se uti-

    lizam de modernas e velozes redes de cabos e de trans-

    misso de dados. Obviamente, quando falamos nessa

    ampliao, mais uma vez estamo-nos a referir a con-

    dies potenciais. Exatamente por isso no podemos

    continuar a imaginar que a implantao desses mo-

    dernos e velozes complexos de comunicao digital

    se dar com a funo nica de transmitir dados dos

    grandes centros para as periferias de menor valor, quenada teriam a contribuir para a construo planetria.

    Voltamos, mais uma vez, ao ponto central deste nosso

    trabalho: a necessidade de deslocar o centro de produ-

    o de culturas e conhecimentos do centro!

    No podemos continuar a pensar que as redes se

    instalam sobre espaos vazios. Ao contrrio, afirma

    Leila Dias, as redes se instalam sobre uma realidade

    complexa, e no em espaos virgens (1995, p. 148).

    Isso significa que no podemos nos contentar com

    simples apropriaes dessas tecnologias, como se elasfossem, por si ss, capazes de reverter situaes.

    por isso que precisamos enxergar que, com essas po-

    tencialidades, pululam elementos que, longe de se-

    rem unificadores, constituem-se em diferenciadores

    dos seres e de suas culturas,passando a plos gera-

    dores de novas articulaes. A inteligncia coletiva,

    como afirma Lvy (1993), passa a ser o elemento mais

    significativo a ser perseguido.

    A educao em crise

    Pode-se afirmar que a educao, hoje em dia,

    deve, idealmente, preparar as pessoas para a vida, ci-

    dadania e trabalho. Mas, em realidade, o que isso vem

    a ser? A que trabalho, cidadania e vida estamos a nos

    referir? Necessrio faz-se pensarmos um pouco mais

    sobre o contexto social, que permanentemente mo-

    dificado e modifica simultaneamente os diversos

    vetores que incidem sobre a sociedade, dentre os quais

    podemos destacar:

    a) a obsolescncia das competncias pessoais e

    profissionais repetindo-se mais de uma vez

    ao longo da vida de uma pessoa (Lvy, 1999);

    b) as novas formas de organizao do trabalho e

    da produo baseadas em equipes e na gera-

    o de conhecimento (Drucker, 1999);

    c) o avano na automao da produo;

    d) as novas relaes sociais com o saber, desen-

    volvidas no ciberespao (Lvy, 1999);

    e) as novas tecnologias da inteligncia e a inte-

    ligncia coletiva (idem);

    f) as competncias estratgicas da era da infor-mao (Castells, 1999).

    A obsolescncia das chamadas competncias, re-

    petidas mais de uma vez, possivelmente muitas ve-

    zes, durante cada vida profissional, uma experin-

    cia nova para humanidade. Decorre da velocidade com

    que o avano tecnolgico interfere diretamente na vida

    e no trabalho de todos. H 15 anos, eram poucos os

    usurios de celulares, e somente parte da comunida-

    de acadmica tinha acesso Internet que, alis, eraoutra, pois ainda no havia sido implantada a web!

    Hoje, pode-se conectar Internet a partir dos celula-

    res, algo impensvel at bem pouco. As demandas do

    mercado profissional induzem-nos a uma requalifi-

    cao permanente para nos manter ativos em esta-

    do permanente de aprendizado! , particularmente

    num mundo no qual impera o desemprego. Alm da

    atualizao permanente e quase personalizada, cada

    indivduo precisa estar orientado para a demanda, que

    tambm mutante. As proposies menos apocalp-ticas para os prximos vinte ou trinta anos prevem

    arranjos flexveis de trabalho (Laubacher & Malone,

    1997), e as mais radicais, o fim do trabalho como o

    conhecemos hoje, atribuindo educao o papel de

    suprir o sentido para a vida, a exemplo do que, em

    grande parte, se obtm hoje da realizao no trabalho

    (Schaff, 1995). Para os que conservam os seus em-

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    pregos, mudanas relevantes entraram em cena a par-

    tir da dcada de 1980, quando o trabalho organizado

    por equipes (toyotismo) se impe diante da secular

    nfase no cargo e na estrutura linear da esteira (taylo-

    rismo+fordismo). Trabalhadores desqualificados pou-

    co tm a fazer no toyotismo: de um lado, so substi-

    tudos pelo computador e por robs; de outro, no

    podem contribuir para a produo de equipes razoa-

    velmente autnomas, que precisam muito aprender

    para dar conta do resultado mais esperado da sua pro-

    duo: a gerao de conhecimento. Combinando-se

    obsolescncia com personalizao e, agora, a gera-

    o de conhecimento no local de trabalho, temos o

    aprendizado permanente, interesses profissionais mais

    amplos e um desafio: aprender e produzir ao mesmo

    tempo e sem sair do local, j que o aprendizado contnuo.

    A palavra local ganha especial dimenso por in-

    meras razes, das quais destacamos o fato de que,

    desde a dcada de 1990, com a intensificao do uso

    da Internet, o trabalho potencialmente passou a ser

    remoto, de casa, e por rede, sendo elemento definidor

    de novos mercados. Associado a isso, passamos a as-

    sumir diversas outras funes, que antes demanda-

    vam um posto de trabalho especifico. Somos hoje, ao

    longo do dia, caixas de bancos, operadores de segu-ros, vendedores e compradores de produtos, simulta-

    neamente, operadores de bolsas, entre tantos outros.

    Na web, trabalhar e estudar so atividades que po-

    dem ser realizadas em qualquer lugar. Para o profes-

    sor, com os contratos de trabalhos mantidos inaltera-

    dos, foram acrescidas tarefas e funes antes no

    pensadas. Construmos home pages e respondemos a

    e-mails pela manh, tarde e, principalmente, noi-

    te. Temos que operar computadores, televises e

    vdeos o tempo todo!Paralelamente, desde 1980, os computadores

    pessoais e o desenvolvimento de tcnicas computa-

    cionais, como a simulao e os jogos, definem novos

    significados para o computador: de agente da auto-

    mao da burocracia e controlador de processos, sur-

    ge o computador como extenso das capacidades cog-

    nitivas humanas, beneficiando o pensar, o criar e o

    memorizar. Essas tecnologias passam a operar, por-

    tanto, em uma dimenso diferente das antigas, de ex-

    tenso dos sentidos do homem, passando a operar com

    as idias. Em outras palavras, mquinas que no mais

    esto apenas (apenas?!) a servio do homem, mas que

    com ele interagem, formando um conjunto homem-

    mquina pleno de significado.

    Isso tudo possibilita a socializao dessas capa-

    cidades, dando origem inteligncia coletiva, encar-

    nada em um novo lugar, o ciberespao (Lvy, 1999).

    Durante os anos de 1980, os da era acadmica da

    Internet, estabeleceu-se uma nova forma de aprendi-

    zado que resultou na proposio de novas relaes

    sociais com o saber, favorecendo percursos bastante

    personalizados, mas construdos, em larga medida,

    atravs da socializao e da colaborao. Era o incioda experincia de uma potencial troca permanente.

    Formaram-se novas tribos e abriu-se, ao mesmo

    tempo, espao fecundo para as relaes plurais e, em

    todos os aspectos, multirreferenciais. A escola, e vol-

    tamos aqui a falar dela, passa a ter que conviver com

    uma meninada que se articula nas diversas tribos, que

    opera com lgicas temporais diferenciadas, uma ju-

    ventude que denominamos, em outros textos, de ge-

    rao alt+tab,5 uma gerao de processamentos simul-

    tneos...Obviamente, intensifica-se dessa forma o traba-

    lho do professor, j que a escola e todo o sistema edu-

    cacional passam a funcionar com outros tempos e em

    mltiplos espaos, diferenciados. No deixa de ser,

    no entanto, esse um rico momento para repensarmos

    as polticas educacionais na perspectiva de resgatar a

    dignidade do trabalho do professor, com a retomada

    de sua autonomia e, com isso, experimentar novas

    possibilidades com a presena de todos os novos ele-

    mentos tecnolgicos da informao e comunicao.A despeito disso, ainda estamos inseridos numa pers-

    5 Alt+tab a combinao de teclas (atalho) em um compu-

    tador que possibilita ao usurio abrir diversas janelas em diversos

    stios ou programas e passar de uma para outra de forma muito

    rpida.

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    Tecnologias e novas educaes

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 25

    pectiva monoculturista de educao.6 As tecnologias,

    a relao homem-mquina tambm impregnada de

    dimenses polticas e sociais, fazem com que o ele-

    mento caracterstico mais importante do momento

    contemporneo seja a sua no completude. Ser incom-

    pleto , pois, uma das caractersticas peculiares do

    momento contemporneo. A instabilidade como ele-

    mento fundante, no lugar da busca pela estabilidade,

    pelo equilbrio. Isso gera, sem dvida, uma demanda

    por novas educaes, no plural.

    O computador, a Internet e as novas educaes

    Fala-se muito sobre o potencial educacional das

    tecnologias da informao e comunicao. Alguns so

    apocalpticos, e outros, integrados (Eco, 1993), e osdesafios para a rea no so pequenos e no nos permi-

    tem escolhas maniquestas tipo ou isto ou aquilo. Ape-

    sar disso, aps quarenta anos de tentativas nessa rea,

    os resultados esto muito aqum das expectativas, para

    no se falar em frustrao. Segundo Holmes (1999), o

    problema no est no computador, mas nas imposies

    dos sistemas educacionais, fiis a toda sorte de objeti-

    vos, nem sempre educacionais, e, muitas vezes, dedi-

    cados a concepes utilitrias da educao.

    Com a exploso da Internet a partir de 1995, pas-sou-se a poder compartilhar as capacidades cogniti-

    vas expandidas, aliadas a um poder de expresso sem

    precedentes, tanto em escala individual como em co-

    letividade, reunindo um nmero grande de pessoas

    que antes s se articulavam como receptores ante os

    meios de comunicao por difuso (broadcasting

    systems) como jornais, rdio e TV. A populao civil

    pode herdar uma construo do perodo acadmico

    da rede: as prticas de aprendizado reconhecidas por

    Lvy (1999) como fundantes de novas relaes so-

    ciais com o saber, uma comunidade de aprendizes

    autnomos, dedicados a percursos personalizados,

    mas praticantes sistemticos da colaborao.

    A rapidez com que a Internet se alastrou pelo mun-

    do foi um fenmeno surpreendente para todos. Dados

    apresentados no Livro verde do Programa Sociedade

    da Informao no Brasil demonstram que o rdio le-

    vou 38 anos para atingir um pblico de 50 milhes de

    telespectadores nos Estados Unidos, enquanto o com-

    putador levou 16 anos, a televiso, 13 anos, e a Internet,

    em apenas quatro anos, atingiu a marca de 50 milhes

    de internautas (Takahashi, 2000).

    Rapidamente se intensificaram as pesquisas so-

    bre as inmeras possibilidades para uso da rede na

    educao, merecendo destaque a euforia com que fo-

    ram anunciadas as novas possibilidades de seu usopara a educao distncia (EAD), que seria a salva-

    dora dos desafios de pases que ainda lutam com a

    falta de universalizao da educao bsica, como

    o caso do Brasil.

    De um lado, algumas iniciativas aproveitam-se

    dos recursos de aplicao geral disponveis na rede

    (e-mail, listas, fruns, chats, home pages etc.) (Le-

    mos et al., 1999). De outro, surgem diversos softwares

    gerenciadores de cursos on-line. Outros se aventuram

    na agregao dos recursos da rede ao dia-a-dia da salade aula (Pinto & Teixeira, 2000), formando, em con-

    junto, uma ampla frente experimental que j comea

    a dar sinais de novas possibilidades. Na Faculdade de

    Educao da UFBA experimentamos a criao de

    novas possibilidades de acesso a partir do desenvol-

    vimento dos tabuleiros digitais,7 uma contribuio

    para a construo da chamada sociedade da informa-

    o, com o desenvolvimento de um mvel prprio,

    com forte marca de cultura local, para afastar do fu-

    turo professor formado nessa instituio a idia deque essas tecnologias so coisas para e do futuro.

    Paralelamente, alm da perspectiva de formao

    de professores com base em projetos experimentais

    7 A respeito dos tabuleiros digitais, consultar

    6 Alfredo Veiga-Neto (2003), em interessante artigo no n-

    mero especial daRevista Brasileira de Educao que trata da re-

    lao das culturas, no plural, com a educao, analisa a questo da

    multiculturalidade, que nos til para a compreenso desta pro-

    blemtica.

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    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    como o curso de extenso realizado com o Centro

    Federal de Educao Tecnolgica (CEFET) da Bahia,8

    implantamos o Programa de Licenciatura em Peda-

    gogia para os municpios de Irec9 e Salvador,10 in-

    troduzindo uma outra perspectiva curricular que tem

    nas tecnologias da informao e comunicao (TIC)

    elemento fundante do processo.

    Esse programa de formao em exerccio tem

    como eixo articulador fundamental a prxis pedag-

    gica, como espao-tempo no qual ocorrem as refle-

    xes e as aes que do sentido ao cotidiano de cada

    escola, ao trabalho de cada professor, que repercutem

    no processo de formao e produo de conhecimen-

    to desenvolvido pelo conjunto da comunidade esco-

    lar (FACED, 2003b).

    Para tanto, as atividades esto sendo desenvol-vidas de forma sncrona e/ou assncrona num ensino

    semipresencial, com uso intensivo e convergente das

    tecnologias da informao e comunicao que esto

    estruturando o programa. O objeto de estudo dos pro-

    fessores ser o prprio processo educativo nos diver-

    sos espaos da prtica social em que ele se processa,

    com indicadores compreendidos como elementos

    basilares da proposta. Esses indicadores foram aper-

    feioados ao longo do processo de construo dos dois

    subprojetos de formao de professores (Irec e Sal-vador).

    O projeto Irec considera indicadores: proces-

    sos horizontais, processos coletivos, centros instveis,

    currculo hipertextual, participao efetiva, formao

    permanente e continuada, simultaneidade entre a es-

    crita e a oralidade, cooperao e sincronicidade na

    aprendizagem, os quais a seguir descrevemos, com

    texto do prprio projeto:

    Processos horizontaisA hierarquia e a verticalidade, prprias de uma

    certa cultura pedaggica, so incompatveis com

    a lgica e as pedagogias introduzidas pelas Tec-

    nologias da Informao e Comunicao em virtu-

    de do seu funcionamento em rede. Teramos o que

    podemos chamar de profundidade horizontal.

    Processos coletivos

    Sendo uma dinmica de rede com a participao

    de todos, a produo coletivizada.

    Centros instveis

    Os processos tm uma centralidade instvel. Con-

    forme essa condio, ora o professor o centro,

    ora o aluno, ora outro ator ou mesmo um elemen-

    to fsico que possa ocupar o lugar central de um

    dado momento pedaggico.

    Currculo hipertextual

    Os sujeitos do conhecimento podem/devem cons-

    truir seus percursos de aprendizagem em exerc-

    cios de interao com os outros atores do processo,

    com as mquinas e com os mais diversos textos.

    Participao Efetiva

    Todo sujeito, para vivenciar o processo pedaggi-

    co, convocado a participar na/da rede, sendo im-

    praticvel um mero assistir.

    Formao permanente e continuada

    O movimento acelerado transforma a todo instante

    as relaes que so estabelecidas no espao/tempo.

    A contemporaneidade exige um processo contnuode tratamento de informaes e, simultaneamente,

    uma relao com a produo permanente de novos

    conhecimentos diante de realidades mutantes.

    Simultaneidade entre a escrita e a oralidade

    As dinmicas comunicacionais em rede, mesmo

    com o uso da escrita, expressam-se com uma alta

    dimenso de oralidade. No se entenda aqui como

    um puro e simples resgate da oralidade tpica do

    perodo da pr-escrita, mas o desenvolvimento de

    uma oralidade contempornea.Cooperao

    Para o sistema de rede funcionar, os participantes

    necessariamente so convocados a cooperar, con-

    tribuir com o processo de produo coletiva.

    Sincronicidade na aprendizagem

    importante que sejam estabelecidas conexes

    laterais, e no apenas seqenciais, ou seja, a pre-

    8

    9

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    Tecnologias e novas educaes

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 27

    sena de relaes e de sentidos simultneos. Na

    verdade, o espao sincrnico e o tempo

    espacializado. (FACED, 2003b)

    O subprojeto Salvador considera os indicadores

    pontos de ancoragem que, enquanto na superfcie, na-

    vegam junto com o coletivo, e quando baixados aju-

    dam a aprofundar as reflexes. Os pontos so: atitude

    investigativa, diferena como fundante, compreenso

    planetria, postura solidria e processos cooperativos,

    autonomia com base na crtica reflexiva, processos

    horizontais: centros instveis, leitura: uma prtica ine-

    rente a todas as prticas e currculo hipertextual. Tam-

    bm com o texto do prprio projeto, descrevemos em

    detalhes esses pontos; por isso, perdo, leitor, pelo

    tamanho da citao.

    Atitude Investigativa

    O movimento acelerado da sociedade em funo

    das transformaes tcnico-cientficas modifica,

    a todo instante, as relaes que so estabelecidas

    no espao/tempo. As instituies educativo-

    formativas, na contemporaneidade, demandam um

    processo contnuo de tratamento das informaes

    e, simultaneamente, uma relao com a produo

    permanente de novos conhecimentos diante de rea-lidades mutantes.

    A atitude investigativa traduz-se, no professor,

    por um modo de estar permanentemente atento

    s manifestaes da dinmica sociocultural e tam-

    bm das dinmicas apreendidas com os indiv-

    duos com os quais est em constante interao.

    O professor de atitude investigativa colocar-se-

    diante de seus alunos na condio de poder ser

    sempre surpreendido e, como tal, sempre estimu-

    lado a desvendar facetas do processo educativo,social e cultural. No haveria, portanto, ponto de

    chegada, no processo de conhecer, sendo cada

    momento de conhecimento um ponto novo de par-

    tida para uma nova investigao. Nesse entendi-

    mento, ele seria, ao mesmo tempo, ousado e hu-

    milde, ignorante e sbio. Colocar-se- diante de

    seus alunos, tambm, disponvel para investigar

    e compreender seus modos de ser e suas peculia-

    res situaes de vida.

    Diferena como Fundante

    Entende-se diferena como fundante como uma

    postura do professor tendente a conduzir sua ao

    no mundo para alm dos parmetros niveladores

    nos modos de pensar e interpretar os processos

    educativos, sociais e culturais. Dessa forma, o pro-

    fessor capaz de estimular a diferena, conside-

    rando-a como fundante do processo, estar pau-

    tando o seu fazer pedaggico pela busca inces-

    sante do que, em cada aluno, traduz o seu jeito

    singular de compreender, de estabelecer relaes,

    de produzir respostas s demandas de natureza

    diversa que lhe so dirigidas, de inventar, enfim,

    solues. No haveria, portanto, condies de

    prever formas de interveno pedaggica que no

    fossem a expresso firme do reconhecimento de

    que cada aluno faz seu caminho de aprendizagem

    percorrendo as vias singulares do modo atravs

    do qual constitui sua subjetividade, nas dinmi-

    cas intersubjetivas.

    Compreenso Planetria

    Expressa-se compreenso planetria atravs de

    uma atitude de abertura diante do mundo, mediante

    a qual o local o ponto privilegiado onde o indi-vduo encontrou as primeiras razes para construir

    suas referncias. Nessa perspectiva, local e no-

    local interagem de modo permanente e interde-

    pendente. O professor planetrio colocar o seu

    fazer pedaggico a servio da quebra de barreiras

    epistemolgicas, culturais, institucionais, geogr-

    ficas, levado pelo propsito de vincular seu traba-

    lho a um movimento cada vez mais amplo de re-

    organizao da produo cientfica capaz de in-

    cluir o seu aluno numa rede cada vez mais ampla

    de relaes. Desse modo, ele seria crtico de ati-

    tudes preconceituosas, aberto ao novo, ao impon-

    dervel, militante da provisoriedade.

    Postura Solidria e Processos Cooperativos

    Pem-se pela necessidade da prpria sobrevivn-

    cia do indivduo, num estgio da civilizao que

    viu esgotadas as possibilidades da prtica indivi-

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    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    dualista, em todos os seus matizes. No h dvida

    de que a educao tem um papel inquestionvel

    na constituio de processos cooperativos e de uma

    postura solidria, sendo a escola, em seus diferen-

    tes nveis, chamada a oferecer a sua contribui-

    o. Para tanto, cabe assegurar ao professor, so-

    bretudo aquele que trabalha nas sries iniciais do

    Ensino Fundamental e na Educao Infantil, um

    espao, na sua formao, para que os processos

    coletivos de produo de conhecimento e as prti-

    cas de relaes solidrias se constituam em ponto

    de vivncia, incorporando-se ao seu fazer cotidia-

    no na sala de aula. Assim formado, ele traduziria

    essa incorporao atravs de atitudes cooperati-

    vas, de generosidade intelectual, de postura de-

    mocrtica, porque a prtica das relaes solidri-

    as se constri na igualdade da diferena.

    Autonomia com Base na Crtica Reflexiva

    Acredita-se que o processo ao reflexo ao

    reflexo... constri o pensamento e o organiza a

    partir de um modo de ver e interpretar os proces-

    sos educativos, sociais e culturais, o que, sem d-

    vida, favorece o desenvolvimento do comporta-

    mento autnomo. Atingir a autonomia em qual-

    quer forma de interveno na realidade est no

    horizonte de concepes contemporneas. A ex-propriao do professor do que lhe confere esta-

    tuto de especificidade e legitimidade no que labora

    socialmente, arrancou-lhe, brutalmente, as con-

    dies de um exerccio autnomo de seu fazer,

    pelo que se torna urgente abrir, no seu processo

    de formao, a brecha privilegiada para uma dis-

    cusso sobre a importncia de adquirir autono-

    mia de pensar, de planejar, de executar, de fazer,

    enfim, mltiplas escolas numa s escola. Nessas

    condies, espera-se que ele venha a se tornar cadavez mais reflexivo, crtico e dialgico, com rela-

    o aos outros e ao poder, tambm e sobretudo

    em relao a si mesmo, conhecedor de seus limi-

    tes e tambm de suas possibilidades. Se na auto-

    nomia estiver ancorado, por certo ser, mais fa-

    cilmente, um incentivador da autonomia de seus

    alunos.

    Processos Horizontais: Centros Instveis

    A hierarquia e a verticalidade, prprias de uma

    certa cultura pedaggica, so incompatveis com

    a lgica e as pedagogias contemporneas favore-

    cidas pelas Tecnologias da Informao e Comuni-

    cao, em virtude, basicamente, do seu funciona-

    mento em rede. Ter-se ia o que se pode chamar de

    profundidade horizontal em intercruzamentos in-

    cessantes, com momentos de verticalidade relati-

    va, intercambiveis. Os processos pedaggicos,

    tendo uma centralidade instvel, permitem que os

    implicados nesses processos atuem de forma dife-

    renciada ao longo de todo o tempo. O centro se

    desloca, movimenta-se incessantemente, ora sen-

    do ocupado pelo professor, ora pelo aluno, ora por

    outros envolvidos ou mesmo por um elemento f-

    sico. importante que sejam estabelecidas cone-

    xes mltiplas, laterais e no apenas seqenciais,

    ou seja, trata-se da presena de relaes de senti-

    dos simultneos, do espao sincronizado e do tem-

    po espacializado. Nessa perspectiva, afirma-se o

    papel do professor centrado permanentemente nas

    diferenas.

    Leitura: uma prtica inerente a todas as prticas

    Produzir atos de leitura individual e compartilha-

    da com o outro, colega de curso e de trabalho, as-sim como com o prprio texto e com seu autor, na

    perspectiva de pensar e sentir criticamente as ques-

    tes fundamentais da humanidade, da guerra paz,

    da violncia esperana, da competio solida-

    riedade, da corrupo probidade, do dissabor ao

    sabor, do medo ousadia, do desamor ao amor, na

    perspectiva de conhecer questes relativas ao mun-

    do sociocultural e s tantas iniciativas bem ou mal-

    sucedidas a favor da humanidade da criana e do

    adulto e contra a barbrie e a injustia. O movi-mento pedaggico que compreende a leitura a par-

    tir desse olhar desenvolve polticas culturais ca-

    pazes de disponibilizar livros a mancheia e de criar

    espaos e tempos para leituras que sejam feitas

    como experincia. Nessa perspectiva, espera-se

    que o professor-cursista mova-se em direo aos

    livros e a outros suportes textuais, circule nos es-

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    Tecnologias e novas educaes

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 29

    paos nos quais se encontram, para lidar e situar-

    se neles com proficincia.

    Currculo Hipertextual

    O currculo antes uma construo scio-histri-

    ca que envolve diferentes autores sociais, deven-

    do constituir-se/construir-se como uma permanen-

    te negociao dentro das diversas comunidades

    de interesses. preciso pens-lo como uma rede

    de significados, um processo de ligao entre a

    vida social e a vida dos sujeitos. Uma rede cons-

    truda pelos homens, onde cada n , em si mes-

    mo, uma rede. Nesse sentido, o currculo destina-

    do a responder mediao entre o indivduo e a

    sociedade precisa ser hipertextual, capaz de dar

    conta da multiplicidade cultural e tnica sem per-

    der de vista a qualificao para o trabalho. Enfim,

    um currculo que atenda s especificidades da mul-

    tiplicidade cultural, racial, religiosa, fazendo-as di-

    alogarem entre si.

    Assim entendendo, acredita-se que os sujeitos do

    conhecimento podero construir seus percursos de

    aprendizagem em exerccios de interao com os

    outros implicados no processo, com as mquinas

    e com os mais diversos textos e contextos.

    (FACED, 2003a)

    A viabilizao de um programa com essa nature-

    za exige uma gesto necessariamente descentraliza-

    da, flexvel, abrangente, com colorao local e com

    ressonncia nos municpios, no apenas nas redes

    educacionais. Sendo assim, ele est dividido em ci-

    clos, nos quais so oferecidas atividades curricula-

    res, com determinadas cargas horrias, que devero

    contemplar uma ou mais reas do conhecimento, de-

    finidas por eixos temticos.11

    Questes postas, precisamos pensar na monta-

    gem dessas redes, que em grande parte j esto mon-

    tadas. Outra, significativa, encontra-se em constru-

    o conceitual e aplicada. nessa segunda dimenso

    faltante que precisamos atuar para intensificar a rela-

    o das educaes com as culturas, ambas no plural,

    e que, agora, ainda precisam ser acrescidas das tec-

    nologias, o que para ns pode vir a se constituir num

    movimento de transformao radical da formao do

    povo brasileiro. Permitam-nos encerrar com um tex-

    to do ministro da Cultura do Brasil, o compositor

    baiano Gilberto Gil (2004):

    [...] o que est implicado aqui que o uso de tecnolo-

    gia digital muda os comportamentos. O uso pleno da internet

    e do software livre cria fantsticas possibilidades de demo-

    cratizar os acessos informao e ao conhecimento.

    Maximizar os potenciais dos bens e servios culturais, am-

    plificar os valores que formam o nosso repertrio comum

    e, portanto, a nossa cultura, e potencializar tambm a pro-

    duo cultural, criando inclusive novas formas de arte.

    A tecnologia sempre foi instrumento de incluso

    social, mas agora isso adquire novo contorno, no mais

    como incorporao ao mercado, mas como incorpo-

    rao cidadania e ao mercado, garantindo acesso informao e barateando os custos dos meios de pro-

    duo multimdia atravs das novas ferramentas que

    ampliam o potencial crtico do cidado. Somos cida-

    dos e consumidores, emissores e receptores de saber

    e informao, seres ao mesmo tempo autnomos e

    conectados em redes, que so a nova forma de coleti-

    vidade.

    Irresistvel! Nada melhor do que o espao da es-

    cola para essa revoluo.

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    nistrao. So Paulo: Campus, 1999.

    11 Mais detalhes sobre toda a estrutura dos programas po-

    dem ser encontrados nas home pages deles, nas quais inclusive

    possvel acompanhar as atividades em andamento e as produes

    de alunos e professores: e

    .

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    30

    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

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    ANPEd, n. 23, p. 5-15, maio/ago. 2003. Nmero especial.

    NELSON PRETTO doutor em comunicao pela Escola de

    Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo, professor e

    diretor da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia.

    Publicaes: Uma escola sem/com futuro: educao e multimdia

    (Campinas: Papirus, 1996); SMOG crnicas de viagens (Salva-

    dor: Arcdia, 2005). Criador do projeto Tabuleiros Digitais (http://

    www.tabuleirodigital.org). E-mail: [email protected]

    CLUDIO DA COSTA PINTO, engenheiro eltrico pela

    Universidade Federal da Bahia, analista de sistema da Petrobras,

    mestre em administrao de empresas pela Pontifcia Universida-de Catlica do Rio de Janeiro, cursava o doutorado em educao

    na Universidade Federal da Bahia quando faleceu em 2002.

    Recebido em setembro de 2005

    Aprovado em novembro de 2005

  • 8/7/2019 a03v11n31

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    Resumos/Abstracts/Resumens

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 195

    Resumos/Abstracts/Resumens

    Bernard Charlot

    A pesquisa educacional entre

    conhecimentos, polticas e prticas:

    especificidades e desafios de uma

    rea de saber

    Ser que pode ser definida e construda

    uma disciplina especfica, chamada edu-

    cao ou cincias da educao? O autor

    apresenta trs respostas possveis. Pri-

    meira: os departamentos de educao

    no passam de um agrupamento admi-

    nistrativo de matrias interessadas pela

    educao. Segunda: esse prprio agru-

    pamento gera uma especificidade das

    pesquisas, entre conhecimentos, polti-

    cas e prticas. A terceira resposta con-

    siste em apostar em uma disciplina es-

    pecfica. Nessa ltima perspectiva, so

    analisados sete tipos de discursos

    atuais sobre educao: espontneo, dos

    prticos, dos antipedagogos, da peda-

    gogia, das cincias humanas, dos mili-

    tantes e das instituies internacionais.

    Nesse campo j saturado de discursos,

    qual lugar para um discurso cientfico

    especfico? Para responder a essa per-

    gunta, o autor apresenta algumas pro-postas tericas e prticas.

    Palavras-chave: educao; cincias da

    educao; pesquisa em educao

    Educational research amid

    knowledge, policies and practice:

    specificity and challenges of an area

    of knowledge

    Is it possible to define and construct a

    specific discipline called education or

    science of education? The author

    presents three possible replies. First,

    departments of education are no more

    than mere administrative groupings of

    subjects interested in education.

    Second, this very grouping generates a

    specificity of research amid knowledge,

    policy and practice. The third reply

    consists of betting on a specific discipli-

    ne. In this last perspective, seven types

    of current discourse on education are

    analysed: spontaneous, practical,

    antipedagogic, pedagogic, human

    science, militant and of international

    institutions. In this field alreadysaturated with discourses what space is

    there for a specific scientific discourse?

    In order to respond to this question, the

    author presents some theoretical and

    practical proposals.

    Key-words: education; science of

    education; educational research

    La pesquisa educacional entre

    conocimientos, polticas y prcticas:

    especificaciones y desafos de una

    rea del saber

    Ser que puede ser definida y constru-

    da una disciplina especfica, llamada

    educacin o ciencias de la educacin?

    El autor presenta tres respuestas

    posibles: Primera: los departamentos

    de educacin no pasan de un

    agrupamiento administrativo de

    materias interesadas por la educacin.

    Segunda: ese propio agrupamiento

    genera una especificacin de las pes-

    quisas, entre conocimientos, polticas y

    prcticas. La tercera respuesta consiste

    en apostar en un mtodo especfico. En

    esta ltima perspectiva, son analizados

    siete tipos de discursos actuales sobre

    educacin: espontneo, los prcticos,

    los antipedaggicos, de pedagoga, de

    ciencias humanas, de militantes y de

    instituciones internacionales. En este

    campo ya saturado de discursos, cul

    es el lugar para un discurso cientfico

    especfico?. Para responder a esta

    pregunta, el autor presenta algunas

    propuestas tericas y prcticas.

    Palabras claves: educacin; ciencias dela educacin; pesquisa en educacin

    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

    Tecnologias e novas educaes

    O artigo analisa a sociedade contem-

    pornea, a partir das transformaes

    do mundo cientfico, tecnolgico, cul-

    tural, social e educacional, com o obje-

    tivo de fazer uma crtica a este. Consi-

    dera importante a re-aproximao

    entre a cultura e a educao, entendi-

    das no plural, e destas com as tecno-logias da informao e comunicao

    (TIC). Aborda os avanos das TIC e

    os movimentos de concentrao na

    propriedade dos meios de comunica-

    o de massa, faz a sua crtica, e apre-

    senta as propostas em andamento na

    Faculdade de Educao da UFBA para

    a formao de professores, conside-

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    Resumos/Abstracts/Resumens

    196 Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    rando a necessidade de se repensar o

    sistema educacional, principalmente

    no que diz respeito s questes curri-

    culares. Destaca a importncia do mo-

    vimento do software livre, enquanto

    portador de filosofia centrada na coo-perao e no trabalho coletivo, ressal-

    tando a importncia desse movimento

    para a educao.

    Palavras-chave: tecnologia educacio-

    nal; educao e comunicao; informti-

    ca educativa; Internet; tecnologias da

    informao e comunicao (TIC);

    software livre.

    Technologies and new educations

    This article analyses contemporary

    society considering the transformations

    that have taken place in the realms of

    science, culture and education. It is

    considered important to bring culture

    and education back together and

    incorporate information and

    communication technologies (ICT) into

    them. We examine the progress of ICT

    as well as the movement towards the

    monopolisation of the mass media and

    present work being carried out in the

    Faculty of Education at UFBA in

    training teachers. We consider it

    necessary to rethink the educational

    system, curricular issues in particular.

    We highlight the importance of the open

    source movement as promoting a

    philosophy based on co-operation and

    collective work and therefore of great

    importance to education.

    Key-words: teaching technology;

    education and communication;

    computer education; Internet;

    information and communication

    technology (ICT); open source software

    Tecnologas y nuevas educaciones

    El artculo analiza la sociedad

    contempornea, a partir de las

    transformaciones del mundo cientfico,

    tecnolgico, cultural, social y educati-

    vo, con el objetivo de hacer una crtica

    a este. Considera importante la

    reaproximacin entre la cultura y la

    educacin, entendidas en el plural, y

    de stas con las tecnologas de la

    informacin y comunicacin (TIC).

    Aborda los progresos de las TICs y

    los movimientos de concentracin en

    la propiedad de los medios decomunicacin de masa, hace su crti-

    ca, y presenta las propuestas en

    estudio en la Facultad de Educacin de

    UFBA, para la formacin de

    profesores, considerando la necesidad

    de repensar en el sistema educacional,

    principalmente lo referente a las

    cuestiones curriculares. Destaca la

    importancia del movimiento del

    sofware libre, en cuanto portador de

    filosofa, centrada en la cooperacin y

    en el trabajo colectivo, mostrando loimportante que es este movimiento

    para la educacin.

    Palabras claves : tecnologa educacio-

    nal; educacin y comunicacin; infor-

    mtica educativa; Internet; tecnologas

    de la informacin y comunicacin

    (TIC); sofware libre

    Raquel Goulart Barreto,

    Glaucia Campos Guimares,

    Ligia Karam Corra de Magalhes e

    Elizabeth Menezes Teixeira LeherAs tecnologias da informao e da

    comunicao na formao de

    professores

    O artigo discute os modos de objetiva-

    o das tecnologias da informao e co-

    municao (TIC) na formao de pro-

    fessores. Com base em teses e

    dissertaes defendidas entre 1996 e

    2002, analisa elementos e relaes vi-

    sando ao mapeamento de trs tendn-

    cias de incorporao educacional das

    TIC: como estratgia para o desenvol-

    vimento de diversas propostas de ensi-

    no a distncia; como possibilidade de

    aperfeioamento do ensino presencial; e

    como elemento-chave para a constitui-

    o de um ensino virtual.

    Palavras-chave: tecnologias; formao

    de professores; modalidades de ensino

    The technologies of information

    and communication in the training

    of teachers

    This text aims to discuss how

    technologies of information and

    communication (ICT) are used in theteachers education. Based on theses

    and dissertations, defended between

    1996 and 2002, it analyses discrete

    elements and relations with the aim of

    mapping three trends in the

    incorporation of ITC: (1) as a strategy

    to develop diverse distance learning

    programmes; (2) as a possibility for

    improving teaching-learning proces-

    ses; and (3) as the key to e-learning.

    Key-words: technologies; teachers

    education; teaching modes

    Las tecnologas de la informacin y

    de la comunicacin, en la formacin

    de profesores

    El artculo discute los modos de

    objetividad de las tecnologas de la

    informacin y comunicacin (TIC) en

    la formacin de profesores. Con base

    en tesis y disertaciones defendidas entre

    1996 y 2002, analiza elementos y rela-

    ciones, direccionado a la descripcin

    de tres tendencias de incorporacin

    educativa de las TICs: como estrategia

    para el desenvolvimiento de diversas

    propuestas de enseanza a distancia;

    como posibilidad de perfeccionamiento

    de la enseanza presencial; y como ele-

    mento clave para la constitucin de una

    enseanza virtual

    Palabras claves: tecnologas; forma-

    cin de profesores; modalidades de la

    enseanza

    Tania Porto

    As tecnologias de comunicao e

    informao na escola; relaes

    possveis... relaes construdas

    Estamos diante de novas maneiras de

    compreender, de perceber, de sentir e

    de aprender, nas quais a afetividade, a

    imaginao e os valores no podem dei-

    xar de ser considerados. Apesar de a es-