Abrente nº 53

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIV • Nº 53 • Segunda jeira • Julho, Agosto e Setembro de 2009 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega Contra Espanha e o Capital, Greve Geral!! Sumário Editorial 3 Algo novo ou mais do mesmo? Algumhas reflexons sobre o V Congresso da CIG Berta Lopes Permui 4 No 90º aniversário da Internacional Comunista André Seoane Antelo 5-6 Crise sistémica, ofensiva adulta e poder juvenil Alexandre Rios Bergantinhos 7 O governo Lula e a crise mundial: os desafios da esquerda brasileira Valério Arcary A ofensiva da burguesia contra a classe trabalhadora está a provocar, lo- gicamente, um aumento das luitas operárias na Galiza. O patronato pretende aproveitar a actual e profunda crise do capitalismo que ele mesmo provocou polo seu apetite insaciável e predador para assim reduzir ainda mais os direitos colec- tivos impondo novos retrocessos nas conquistas adquiridas. Perante os EREs e as deslocalizaçons em marcha em muitas empresas e sectores da nossa economia fabril, milhares de operários e operárias estám a defender com firmeza e deci- som os seus postos de trabalho. Seaga, Caramelo, Pascual, Bunge, Galfrio, ABB, Vidreiras Atlántica, Urbaser, Trèves, sector da pedra e o mármore… constatam a importáncia decisiva da organizaçom, resistência e luita para fazer frente a burguesia. Naqueles conflitos em que o sindicalismo de classe é inexistente ou pouco influente e, portanto, desde o primeiro momento só opta por negociar, a derrota está praticamente assegurada. Porém, naqueles outros em que a corre- laçom de forças é diferente e a luita é o caminho escolhido, as possibilidades de evitar retrocessos e despedimentos em massa som proporcionalmente menores, existindo amplas garantias de derrotar a burguesia. Sem pressom, sem combate organizado, nom há a mais mínima possibilidade de atingir vitórias. Quanto mais unitária e firme for a luita mais capacidade de ga- nhar tem a nossa classe. É no fragor do conflito que as trabalhadoras e trabalha- dores se descobrem colectivamente como classe, quando superam a resignaçom e as superstiçons alienantes, tomam consciência da opressom que padecem, da necessidade de se organizarem. As vitórias sindicais, por parciais e limitadas que forem, som fundamentais para injectar auto-estima colectiva, para preparar novos desafios, para avançar nas conquistas, mas também som insuficientes se nom forem acompanhadas de umha concepçom mais ampla e integral que só proporciona a política revolucio- nária. O sindicalismo pode regular e evitar retrocessos parciais, tácticos, ganhar batalhas decisivas, mesmo às vezes algumhas de carácter estratégico, mas está esterilizado para acabar por si só com a exploraçom capitalista. Isto só será pos- sível quando o proletariado organizado em partido comunista, como vanguarda do conjunto do povo trabalhador, ganhar hegemonia e gerar a suficiente confian- ça entre as massas populares da possibilidade real, da necessidade de tomar o poder derrotando séculos de infámia. Daí a importáncia decisiva de construir sólidas e poderosas organizaçons revolucionárias, com umha composiçom genui- namente proletária. Só a Revoluçom Socialista poderá deixar para trás a permanente dor e in- timidaçom a que nos submetem tantos séculos de opressom. Frente à lógica do legalismo parlamentarista que promove o reformismo, frente à abstracçom movimentista do pós-marxismo, a intervençom comunista nas luitas operárias e populares tem que enquadrar-se numha estratégia insurreccional.

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Publicaçom periódica da organizaçom comunista e independentista galega Primeira Linha, correspondente a Julho, Agosto e Setembro de 2009.

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIV • Nº 53 • Segunda jeira • Julho, Agosto e Setembro de 2009

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a g a l e g a

Contra Espanha e o Capital, Greve Geral!!

Os direitos

Sumário

Editorial

3 Algo novo ou mais do mesmo?Algumhas reflexons sobre

o V Congresso da CIGBerta Lopes Permui

4 No 90º aniversário da Internacional Comunista

André Seoane Antelo

5-6 Crise sistémica, ofensiva adulta e poder juvenil

Alexandre Rios Bergantinhos

7 O governo Lula e a crise mundial: os desafios da esquerda brasileira

Valério Arcary

A ofensiva da burguesia contra a classe trabalhadora está a provocar, lo-gicamente, um aumento das luitas operárias na Galiza. O patronato pretende aproveitar a actual e profunda crise do capitalismo que ele mesmo provocou polo seu apetite insaciável e predador para assim reduzir ainda mais os direitos colec-tivos impondo novos retrocessos nas conquistas adquiridas. Perante os EREs e as deslocalizaçons em marcha em muitas empresas e sectores da nossa economia fabril, milhares de operários e operárias estám a defender com firmeza e deci-som os seus postos de trabalho. Seaga, Caramelo, Pascual, Bunge, Galfrio, ABB, Vidreiras Atlántica, Urbaser, Trèves, sector da pedra e o mármore… constatam a importáncia decisiva da organizaçom, resistência e luita para fazer frente a burguesia. Naqueles conflitos em que o sindicalismo de classe é inexistente ou pouco influente e, portanto, desde o primeiro momento só opta por negociar, a derrota está praticamente assegurada. Porém, naqueles outros em que a corre-laçom de forças é diferente e a luita é o caminho escolhido, as possibilidades de evitar retrocessos e despedimentos em massa som proporcionalmente menores, existindo amplas garantias de derrotar a burguesia.

Sem pressom, sem combate organizado, nom há a mais mínima possibilidade de atingir vitórias. Quanto mais unitária e firme for a luita mais capacidade de ga-nhar tem a nossa classe. É no fragor do conflito que as trabalhadoras e trabalha-dores se descobrem colectivamente como classe, quando superam a resignaçom e as superstiçons alienantes, tomam consciência da opressom que padecem, da necessidade de se organizarem.

As vitórias sindicais, por parciais e limitadas que forem, som fundamentais para injectar auto-estima colectiva, para preparar novos desafios, para avançar nas conquistas, mas também som insuficientes se nom forem acompanhadas de umha concepçom mais ampla e integral que só proporciona a política revolucio-nária.

O sindicalismo pode regular e evitar retrocessos parciais, tácticos, ganhar batalhas decisivas, mesmo às vezes algumhas de carácter estratégico, mas está esterilizado para acabar por si só com a exploraçom capitalista. Isto só será pos-sível quando o proletariado organizado em partido comunista, como vanguarda do conjunto do povo trabalhador, ganhar hegemonia e gerar a suficiente confian-ça entre as massas populares da possibilidade real, da necessidade de tomar o poder derrotando séculos de infámia. Daí a importáncia decisiva de construir sólidas e poderosas organizaçons revolucionárias, com umha composiçom genui-namente proletária.

Só a Revoluçom Socialista poderá deixar para trás a permanente dor e in-timidaçom a que nos submetem tantos séculos de opressom. Frente à lógica do legalismo parlamentarista que promove o reformismo, frente à abstracçom movimentista do pós-marxismo, a intervençom comunista nas luitas operárias e populares tem que enquadrar-se numha estratégia insurreccional.

conquistam-se na rua

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Nº 53. Julho, Agosto e Setembro de 20092

O exemplo de VigoEntre as luitas que salpicam o mundo do Traba-

lho da Galiza contra os efeitos mais letais da crise em curso, sem lugar a dúvidas o metal da ria de Vigo tem atingido umha refencialidade indiscutível ganhando a pulso o mais elevado orgulho de pertencermos à clas-se obreira galega.

O proletariado metalúrgico do sul da Galiza já possuía umha dilatada tradiçom de combate desde inícios da década de setenta, após a incorporaçom de milhares de labregos à industrializaçom acelerada promovida polo regime franquista. Primeiro a históri-ca greve de Setembro de 1972, que complementou a revolta ferrolana de Março e permitiu as posteriores rupturas com o reformismo espanholista e a consti-tuiçom o sindicalismo genuinamente galego; depois a enorme resistência contra a reconversom naval umha década mais tarde, saldada com umha rotunda derrota obreira; posteriormente as luitas intermiten-tes mas cíclicas por melhorar o convénio colectivo desde os noventa, fôrom lavrando no subconsciente colectivo de amplas camadas proletárias da comarca viguesa umha identidade combativa fraguada a lume entre o aço fabril e as bolas de borracha das forças repressivas.

O enorme crescimento experimentado nos úl-timos anos, derivado da mais recente industrializa-çom atribuída à Galiza polo capitalismo espanhol na divisom internacional do trabalho, foi convertendo o metal desta regiom da nossa pátria num poderoso destacamento operário difícil de dobrar. A rebeldia juvenil da intensa renovaçom geracional foi ajeitada-mente complementada com a experiência de dúzias de luitadores fraguados em trinta anos de constante combate contra umha burguesia tam endurecida e vo-raz como é a viguesa que, cumpre nom esquecer, foi

Editorial

Isto permite entender a decisiva batalha que a classe operária galega trava com a burguesia nas fá-bricas e nas ruas de Vigo.

O incremento de 0.50€ por hora trabalhada que solicitam @s operári@s do metal aparentemente nom justifica a enorme dureza com que está a agir o patronato que infrutuosamente lançou contra os metalúrgicos o mais importante contingente de forças policiais empregadas na nossa história para esmagar umha luita operária, e a chantagem de despedimen-tos maciços e mesmo o encerramento de factorias;

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o terrorismo mediático para criminalizar a legitimi-dade dos métodos consubstancias à luita de classes; forçando a adesom com diversos graus de apoio das forças políticas do regime: desde o apoio indiscutível do PP, passando polo oferecido polo PSOE facilitan-do a utilizaçom da maquinaria repressiva espanhola coordenada por Antón Louro, assim como as decla-raçons contantes de condena de Abel Caballero; até as manifestaçons de condena à luita obreira de Santi Domínguez, o líder municipal do BNG.

A batalha do metal de Vigo e do sul da Galiza con-tra o patronato supera a reivindicaçom laboral especí-fica do sector. Está em jogo algo muito mais transcen-dental: a derrota da vanguarda obreira galega frente o braço de ferro a que foi submetida pola burguesia para disciplinar o metal e deste modo facilitar umha ofensiva sem precedentes contra o conjunto da classe trabalhadora galega fazendo-nos pagar a sua crise. Querem, e vam fracassar, erradicar definitivamente o exemplo que dele emana para todas as luitas que ham de vir. O patronato procura esmagar a sua ou-sadia, impor o derrotismo, encenar a vulnerabilidade, para assim restaurar no sector as condiçons laborais anteriores a 2007 e facilitar a imposiçom da reforma laboral ineludível que embarateça ainda mais o des-pedimento que está a solicitar aos gritos a burguesia europeia por meio de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central europeu-, e Miguel Ángel Fernández Ordoñez, governador do Banco de Espanha.

O proletariado metalúrgico do sul da Galiza está deixando claro qual é o único caminho. É necessário pois, radicalizar as luitas, manter posiçons ofensivas, afastar a corrupta e pactista burocracia da direcçom sindical, aprofundar na democracia operária, fazer convergir as luitas, lançar para o Outono umha greve geral.

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o mais importante núcleo no seu pioneiro desenvolvi-mento neste país.

Todos estes factores tenhem contribuído para gerar umha sólida subjectividade onde as posiçons capitulacionistas inerentes às burocracias sindicais encontram sérias dificuldades de arraigo, e onde os donos de Barreras, Vulcano, Freire, Rodman, etc, unido aos interesses específicos de Citröen, e das centenas de pequenas empresas auxilares do naval e da automoçom, som um poderoso inimigo difícil de bater.

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Page 3: Abrente nº 53

3Nº 53. Julho, Agosto e Setembro de 2009

Acabou de ter lugar, nos dias 20 e 21 de Junho em Compostela, o V Congresso Confederal da CIG. Um encontro que de-via culminar um longo processo de debate para reflectirmos sobre o nosso modelo sindical e introduzirmos as mudanças oportunas. E nom dizemos devia por aca-so, porque como costuma acontecer desde há tempo na central sindical, a distáncia entre o que devia ser e o que realmente é, torna cada vez mais insalvável.

Mesmo nuns tempos caracterizados por umha inflaçom informativa provocada polo importante quantidade de portais que abrolham na rede, som escassas, para nom dizer inexistentes, as leituras críticas do acontecido de portas para dentro da sala do Palácio de Congressos da capital da Galiza. O interesse informativo do que lá acontece nom passa da análise, mais ou menos sisuda, da repartiçom de poder en-tre as correntes que concorrem, derivada da eleiçom da nova Executiva Confederal. Até aí chega o interesse polo que lá acon-tece. Salvo as crónicas oficiais fornecidas, que nom costumam trancender o sítio web do sindicato, ninguém parece realmente interessad@ em avaliar as conseqüências do debatido e aprovado.

No Congresso, mais do mesmo?

Umha análise a fundo do acontecido durante o processo pré-congressual e no próprio Congresso Confederal seria su-ficiente para detectar as muitas doenças que ameaçam o projecto nacional e de classe que, apesar da burocracia que a maneja, representa hoje a CIG.

A ausência de debate político e ideoló-gico, susbstituído e reduzido a umha vulgar batalha entre listas de candidat@s a con-gressistas, a escasa, para nom dizer nula, participaçom da filiaçom e umha cada vez mais abafante carência de democracia in-terna fôrom, achamos, as principais notas de umha cita congressual desenhada polo oficialismo para se perpetuar à frente da central e impedir qualquer reflexom críti-ca sobre o seu agir em todo o relacionado com os quatro anos de gestom do biparti-do à frente da Junta da Galiza.

Nada de novo, diredes. Mas por reite-rada, nom cremos que a denúncia perda a sua eficácia.

Por habitual, a alarmante baixa par-ticipaçom no debate dos documentos propostos para debate polo Conselho Con-federal nem sequer foi motivo de análise. Muito mais foi motivo de alívio ao se con-verter numha útil barreira para que che-gassem um maior número de emendas ao Congresso. Mas nom é este um problema cingido aos processos orgánicos. A esa-cassa assistência às sucessivas convo-catórias sindicais, tanto do 10 de Março e do 1º de Maio, como a última convocada contra a crise, é mais do que preocupante e som prova de que estamos a construir um gigante com pés de barro. A irrespon-sabilidade de umha direcçom unicamente preocupada por se autoperpetuar fica em evidência quando nem sequer se preocupa com reflectir sobre os motivos que a pro-vocam.

Este modelo organizativo, imposto porque nunca foi votado, que gira arre-dor de liberad@s e delegad@s, tem uns limites bem estreitos que hoje sofremos. Que a filiaçom nom participa e já perdeu qualquer interesse polo que acontece no sindicato é umha realidade que nos amea-ça e que foi motivo de debate neste quinto encontro congressual graças a algumhas das emendas apresentadas. Falamos da tentativa para evitar a liquidaçom defini-tiva da CIG-Mocidade e para recuperar a auto-organizaçom das mulheres no seio da central.

No que se refere à mocidade, a buro-cracia que detém a direcçom do sindicato, supomos que molesta polo empenho de um grupo de filiad@s jovens em fomentar a participaçom na central e que desafia-va umha e outra vez os inumeráveis obs-táculos que se empenhavam em colocar,

duas delas o faziam a partir de posiçons críticas com a dependência do sindicato com o regionalismo e da sincronizaçom da actividade sindical em funçom dos interes-ses políticos eleitorais e institucionais do BNG/UPG. @s três membros que faziam parte destas listas e resultarom eleit@s para a nova Executiva, dous deles na lista em que participava e apoiava o indepen-dentismo organizado em NÓS-Unidade Po-pular, som umha muito boa notícia.

E depois do Congresso? É necessário um novo sindicalismo

O V Congresso Confederal foi cenário da confrontaçom contra aqueles que fam da pluralidade e da democracia princípios que nom passam de simples retórica. Sem dúvida, o balanço é positivo, mas isto nom basta.

À nossa frente acumulam-se as tare-fas e os desafios, multiplicados exponen-cialmente pola crise sistémica que está a sofrer o capitalismo e que dia após dia está a agravar as condiçons de vida da classe obreira galega. Nesta conjuntura, é urgente alargar a batalha pola pluralidade, a democracia e a independência da central

análisE

com respecto ao regionalismo representa-do no BNG, para articular umha corrente que a partir de parámetros nacionais e an-ticapitalistas coloque a emancipaçom e a independência da classe obreira no centro do seu discurso e do seu agir diário.

A magnitude e exemplaridade da luita que protagoniza o proletariado do metal no Sul da Galiza nom deve fazer-nos es-quecer numerosos conflitos, pequenos e grandes, que surgem por toda a nossa geografia e que ponhem de manifesto a enorme capacidade de combate da classe obreira galega. Infelizmente, devemos re-conhecer que hoje em dia nom existe um projecto sindical à sua altura. A situaçom actual exige um compromisso com um sindicalismo de combate que a UPG, junto com o resto de forças que conformam o oficialismo na CIG, nom estám dispostas a assumir e praticar.

Nom devemos deixar-nos enganar polo oportunismo de umha UPG que pre-tende ocultar a vergonhante passividade em que mantivérom à CIG frente às medi-das neoliberais aplicadas polo PSOE e polo BNG quando governárom a Junta, com discursos pretensamente incendiários. O patronato nom há que ameaçá-lo, há que combatê-lo sem trégua.

É urgente organizar respostas globais aos desafios globais que nos apresenta a crise capitalista e às suas conseqüências. A greve geral deve deixar de ser motivo decorativo para o lucimento do secretário-geral perante os meios de comunicaçom, para se converter em realidade na agenda do sindicato.

A CIG deve radicalizar os confli-tos, multiplicá-los e alargá-los para que transcendam à sectorialidade que os caracterizam, para que confluam numha imponente resposta aos planos do capital. Eis as tarefas mais urgentes, convertidas em inadiáveis pola ofensiva do patronato contra a classe trabalhadora. Mas nem muito menos acabam aí. Estamos ao co-meço do que será um longo e duro cami-nho. As doenças que ameaçam o projecto estám detectadas. Som horas de pôr-se a trabalhar para as superarmos. Devemos dar passos firmes e claros face a confor-maçom de umha ampla corrente anticapi-talista, combativa e nom pactista no seio da CIG. Umha corrente comunista e inde-pendentista que promova um sindicalismo democrático, assemblear e participativo. Que gere luitas para atingir vitórias. Que recupere entre a classe operária a con-fiança nas nossas forças, a necessidade de ultrpassar o capitalismo e avançar na transformaçom deste modelo esgotado que tam só pretende seguir aprofundando na exploraçom e no retrocesso dos direi-tos que tantos anos de sofrimento custou atingir. É necessário afastar da direcçom e do aparelho as privilegiadas burocracias corruptas, o oportunismo, o reformismo, os que pretendem converter a central num apêndice do regionalismo neoliberal. A CIG tem que ser sinónimo de honradez e entrega à causa do proletariado galego. Nós, em colaboraçom com quem estiver disposto a avançar nesta direcçom, fare-mos o possível para que isto, mais cedo que tarde, comece a ser umha emergente realidade.

Berta Lopes Permui é sindicalista da CIG e fai

parte do Comité Central de Primeira Linha

em evidência o escasso e ridículo argu-mentário dos encarregados de defender a liquidaçom da participaçom da filiaçom no sindicato, como também para criar inte-ressantes e produtivos espaços de debate entre @s que nos resistimos à liquidaçom da democracia no seio da central.

Nom fôrom o debate sobre a CIG-Mo-cidade ou a Comissom da Mulher os únicos desafios ao abafante controlo da burocra-cia que detém a direcçom do sindicato. Os estreitos limites que para a participaçom d@s congressitas reservárom os gesto-res deste V Congresso, exemplar quanto ao seu carácter antidemocrático, fôrom suficientes para que se ouvissem vozes críticas que ainda reclamam as essências deste projecto sindical nacional e de clas-se que continua a representar a CIG.

O contingente de quadros do sindicato cindidos da UPG, as dinámicas comarcais em que se tem relaxado o submetimento da CIG ao ritmos e interesses do BNG e que permitírom salvar o histórico veto à participaçom da esquerda independentis-ta, tem provocado umha ligeira, mas posi-tiva, modificaçom na correlaçom de forças que se reflecte na nova Executiva Confe-deral. Das quatro listas que concorriam,

Nova Executiva da CIG

Berta Lopes Permui intevindo no V Congresso Confederal da CIG

Algo novo ou mais do mesmo?

Algumhas reflexons sobre o V Congresso da CIG

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decidiu dar o passo definitivo: liquidar a CIG-Mocidade como espaço diferenciado para a integrar como responsabilidade nos organismos federais e confederais. Nuns organismos, diga-se claramente, em que a participaçom da juventude é quase inexistente.

Nom há que botar mao de futuríveis para que a coarctada utilizada fique em evidência, já que foi a mesma utilizada no IV Congresso Confederal com a Comissom da Mulher. Os espaços de auto-organi-zaçom das mulheres fora susbtituído na altura pola eleiçom directa em cada orga-nismo de umha responsável para a área. As funestas conseqüências desta decisom estám à vista de tod@s.

As emendas, umhas para evitar que a CIG-Mocidade fosse eliminada articulando mecanismos para a sua constituiçom nas comarcas e, outras, para recuperar os es-paços para o trabalho feminista, depará-rom com o muro infranqueável levantado pola burocracia sindical, empenhada em cercear qualquer debate ou reflexom crí-tica d@s que assistimos ao Congresso. Mesmo assim, e apesar de nom resultar aprovadas as emendas, a sua elaboraçom e apresentaçom serviu nom só para deixar

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4 Nº 53. Julho, Agosto e Setembro de 2009análisE

Na primeira semana do mês de Março de 1919, a cidade de Petrogrado, a mesma que dous anos antes vi-vera os acontecimentos fundamentais do triunfo revolu-cionário bolchevique, acolhia as sessons do I Congresso da Internacional Comunista.

Com esta reuniom, punha-se a andar a reconstruçom da coordenaçom internacional do movimento obreiro re-volucionário, rota no passado imediato daquele tempo pola deriva chauvinista dos partidos socialistas que in-tegravam a Internacional Obreira. A chamada II Inter-nacional recebera a sua sentença de morte ao estalar a I Guerra Mundial, momento em que os grandes partidos social-democratas dos estados enfrentados alinharam com os “seus” respectivos governos.

Precisamente, foi o POSDR(b)1, liderado por Leni-ne, o principal partido federado à Internacional Obreira que mantivo umha posiçom de radical oposiçom à deriva belicista e conseguiria aplicar com habilidade a táctica de apoiar-se na oposiçom popular à guerra imperialista para ajudar na detonaçom do movimento revolucionário que derivou na configuraçom da RFSSR2. Foi assim o úni-co a aplicar com sucesso a palavra de ordem aprovada pola II Internacional nos anos prévios à Grande Guerra e demonstrou em simultáneo a plena validez desta orien-taçom.

No contexto de 1917, e nos anos imediatamente pos-teriores, a nengum dos comunistas que na Rússia e nas restantes naçons ocupadas polo Império Czarista se es-forçavam em fazer avançar a Revoluçom até a sua vitória definitiva poderia ter-lhes ocorrido que o combate polo comunismo nom fosse umha luita a nível internacional. @s bolcheviques eram plenamente conscientes de que o fortalecimento e permanência da sua revoluçom pas-sava pola internacionalizaçom. A vitória na Rússia era só um primeiro degrau que se subia num caminho que tinha por objectivo o de impor em todo o mundo a sociedade comunista.

Nom pode surpreender entom que no ano 1919, num momento em que o nascente Estado soviético passava por graves dificuldades derivadas da intervençom militar imperialista e da desfeita económica gerada pola boico-tagem burguesa e os estragos da guerra, o POSDR(b) tomasse como umha das suas mais importantes linhas de actuaçom o impulsionamento de umha nova Interna-cional.

Umha III Internacional que pretendia constituir-se como o partido da revoluçom mundial, recuperando o es-pírito que animara as suas predecesoras no tempo, tanto a extinta AIT como a apodrecida II Internacional.

A aparente pequenez inicial desta iniciativa, já que em 1919 praticamente nom há mais partido comunista que o bolchevique e no resto dos países existem som apenas grupos de simpatizantes, é rapidamente supe-rada polo efeito de atracçom do exemplo revolucionário soviético. Tal obriga a que no II Congresso da IC sejam aprovadas as famosas “21 Condiçons” em que se esta-blecem os requisitos precisos para um partido ser re-conhecido como secçom da IC, medida com a qual se tenciona evitar a contaminaçom de elementos reformistas.

Lamentavelmente, o peso do POSDR(b) no seio da IC vai vir a constituir um lastro no futuro da organizaçom mundial dos comunistas. Em especial a raiz do avanço do burocraticismo no seio do partido soviético.

Assim, a organizaçom que nascia em 1919 para impulsionar a revoluçom mundial vai ver mudado o seu objectivo de facto polo de salvaguardar o Estado nascido da primeira revoluçom obreira vitoriosa na história da humanidade. Esta evoluçom atingirá o seu apogeu em meados da dé-cada de 30 do século passado, quando o VII Congresso da IC aprova a táctica das frentes populares, pola qual o objectivo da revoluçom socialista passa a um segundo plano em benefício da aliança com o reformismo e a bur-guesia progressista contra o fascismo.

Este VII Congresso, decorrido em 1935, será o últi-mo da IC como tal, já que a organizaçom será sacrificada em 1943 para evitar os receios das potências aliadas. Ora, a deriva burocratizante vinha de atrás, enquanto o dinamismo da década de 20, na qual se convocam os seis primeiros congressos, fora aniquilado pola repressom da dissidência no seio do próprio movimento comunista.

Porém, a herança da IC merece ser resgatada e dig-nificada. Com todas as suas limitaçons e erros, nom po-demos negar a capital importáncia que a articulaçom de umha organizaçom internacional tivo para a expansom do comunismo a nível mundial.

Tam só lembrarmos o exemplo dalguns nomes que fôrom delegados da IC, como Farabundo Martí ou Ho-Chi-Minh, fundamentais na expansom do ideário e a or-ganizaçom comunista em países afastados da Europa, tem-nos que fazer compreender a releváncia desta es-trutura. Centenas de quadros dirigentes fôrom formados

1 Partido Obreiro Social-Democrata Russo (Bolchevique)2 República Federativa Socialista Soviética de Rússia

pola IC e esse esforço foi o que possibilitou que num período de escassamente vinte anos existis-sem partidos comunistas com implan-taçom real na maioria das naçons do planeta.

Ainda nos períodos mais negros da degeneraçom burocrática a URSS, e já desaparecida a IC como tal, as práticas internacionalistas herdadas do espirito que im-pulsionara a sua criaçom continuárom a fornecer recur-sos e formaçom a movimentos revolucionários em todo o mundo. Nom é um exagero afirmar que experiências posteriores, como a da Conferência Tricontinental de Havana (1966), na qual se funda a OSPAAAL3, estám di-rectamente inspiradas polo mesmo espírito que animou a fundaçom da Komintern em 1919.

Mas o correcto seria perguntar-se o que é que fica do exemplo da IC na actualidade, e o que é que se fai necessário ajustar e recuperar.

As derrotas do movimento revolucionário, especial-mente quando estas suponhem a prática desapariçom das organizaçons que existírom num periodo determina-do, adoitam implicar um esquecimento de noçons e con-ceitos que noutra altura se tinham considerado básicas.

Possivelmente o melhor exemplo deste fenómeno

3 Organizaçom de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina

acontecesse no nosso contexto na década de 90 do passado século, com a emergência do movimento

antiglobalizaçom. Um movimento que pretendia abrolhar como algo novo e superador das experiências fracassa-das, entendo que estas eram as do chamado “socialismo real”.

Assim, na década de 90 e nos primeiros anos deste século, foi habitual encontrar por toda a parte a ideia de que a coordenaçom mundial das luitas contra o capital era umha novidade enorme, ignorando questons tam ele-mentares como que a procura dessa organizaçom inter-nacional foi umha realidade já desde meados do século XIX, ou que acçons tam supostamente novas como a con-vocatória de mobilizaçons simultáneas por todo o mundo vem-se fazendo quando menos desde 18894.

Afortunadamente, parece que esse período inicial do movimento antiglobalizaçom foi ultrapassado, quando menos parcialmente, e que o efeito inicial de reanimar umha esquerda derrotada foi atingido dando passagem a umha nova fase.

Agora torna-se evidente que os iniciais sucessos das convocatórias mundiais da antiglobalizaçom som um sim-

4 Ano em que a Internacional Obreira fai um apelo mundial de luita para a reivindicaçom da jornada de 8 horas à volta da data do 1º de Maio

No 90º aniversário da Internacional Comunista

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ples patamar a superar e que a luita passa a umha outra fase, na qual o protesto diante das cimeiras dos grandes organismos do aparelho político e económico capitalista toma um papel secundário.

No tempo da emergência da grande crise do capita-lismo já nom se trata de ir protestar às portas do FMI ou a OMC, e sim de dar passos avante na edificaçom de um sistema social mais justo.

Além do mais, a deriva tomada por alguns dos prin-cipais actores e cenários desse movimento antiglobali-zaçom obrigam a avançar na definiçom de novos planos. Se há umha década era justificável prestar atençom ao

que determinados elementos diziam nos Foros Sociais Mundiais, e mesmo caminhar ao lado de determinadas organizaçons e movimentos que nom faziam mais que reivindicar a reforma do

sistema, hoje a conjuntura obriga a ir mais além. Realidades como o exemplo da Venezuela boli-

variana e o ascenso das correntes revolucionárias na América do Sul voltárom a pôr na agenda a pala-

vra socialismo como substituto desse descafeinado “um outro mundo possível” de meados de 90.

Do mesmo jeito que a praxe vai conseguindo situar cada qual no seu sítio, ordenando o balbordo inicial do altermundismo, também é momento de ir avante no aspecto orga-nizativo. Superados estám já os tempos

das “contra-cimeiras” e das plataformas amplas, a questom do dia volta a situar-se na estruturaçom e coordenaçom de um movimento revolucionário a nível mundial que trabalhe pola derrocada do capitalismo.

Um movimento revolucionário que tem que ser eminentemente político, entendendo isto no seu sentido estrito. Quer dizer, que procure

a conquista do poder por parte de organizaçons revolucionárias que luitem pola edificaçom da so-

ciedade socialista no caminho do comunismo.Evidentemente, a conjuntura dos nossos dias é

diferente da de 1919, e dentro das nossas limitaçons muito é o que temos aprendido.

A inexistência de um aparelho político tam especial como era a URSS no seu momento fai difícil que se repro-duzam situaçons semelhantes, mas nom sobeja reparar-mos nos erros cometidos no passado para nom voltar a cair neles.

Assim na necessária reorganizaçom de umha estru-tura revolucionária mundial haverá que ter em conta, tal

como o sabiam os bolcheviques em 1919, que a revo-luçom socialista é um processo de umha dimensom mundial. Processo no qual a protecçom dos avanços

atingidos em determinadas realidades nacionais nom pode condicionar o freio ou aceleraçom artificial das di-námicas em realidades com processos mais atrasados.

Do mesmo jeito haveria que tomar boa nota, e sem entrar em contradiçom com o anteriormente escrito, de que as possibilidades abertas pola existência de diferen-tes ritmos nacionais na revoluçom mundial devem ser aproveitadas. Assim, as experiências mais avançadas devem prestar apoio e cobertura às que se encontrarem em fases mais discretas, e estas devem tomar o exem-plo das outras no sentido de que a melhor ajuda para o trunfo da revoluçom noutro país é o desencadeamento da revoluçom no próprio.

Estamos conscientes de que a situaçom ainda pare-ce estar um tanto imatura para começarmos a falar nuns níveis de articulaçom equiparáveis aos atingidos no seu momento pola IC, mas achamos que iniciativas como a da CCB5 vam no caminho correcto.

Trata-se pois de continuar nessa via, a de coordenar organizaçons a um nível político e superar as limitaçons meramente reivindicativas dos movimentos sociais. Nom queremos que os governos dos estados existentes na actualidade modifiquem as suas políticas num sentido menos injusto e predador, queremos é derrocá-los e substitui-los por governos e estados ao serviço dos inte-reses das classes populares.

5 Coordenadora Continental Bolivariana

André Seoane Antelo forma parte do Comité Central de Primeira

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Crise sistémica, ofensiva adulta e poder juvenilAl

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ameaça de a exercer, quer por parte do professor, gerente, encarregado, capataz, segurança privado, polícia, porteiro, pai, companheiro, marido, noivo, etc.

Merece especial atençom o papel do poder adulto na assunçom do autoritarismo por parte d@s jovens, que já desde a in-fáncia e sobretodo nas mulheres consegue imprimir as formas em que encaixarám as futuras estruturas de dominaçom. Esta su-peditaçom ao líder da família patriarcal é fulcral para a criaçom de futuros obreiros dóceis, mulheres submissas, jovens men-talmente castrados que aceitarám sem se rebelar qualquer agressom, seja esta um ERE, umha admoestaçom do encarregado, pressons do companheiro para ter relaçons sexuais, imposiçons paternas para conse-guir um trabalho que nom permite a mili-táncia, etc. O alargamento do poder adulto é imprescindível para curtocircuitar a res-posta juvenil à crise em curso.

Também devemos falar da crescente militarizaçom social, que é especialmente importante nas naçons oprimidas do Es-tado espanhol, que desde a reformulaçom do franquismo na transiçom tinha como um dos principais objectivos apagar das novas geraçons a memória do genocídio e

das torturas perpetradas polo exército e a polícia durante quarenta anos. A paulatina lavagem de cara, unida a umha multimi-lionária campanha de marketing deu em que na actualidade um sector importante da juventude galega nom veja o militar, o polícia, o funcionário de prisons, o porteiro ou o segurança privado como um mercená-rio a soldo de um Estado ocupante, ou nos dous últimos casos como um simples mer-cenário. Outros sectores nom politizados abrigam certas renuências e desconfianças intuitivas, mas que em muitas ocasions som vencidas pola falta de um discurso social suficientemente amplo que denun-cie o papel do exército, das polícias local e nacional, do funcionariado de prisons, e a tentativa do Estado espanhol de integrar a juventude trabalhadora nestas funçons re-pressivas pola via da miséria e a impossibi-lidade de atingir umhas condiçons de vida material dignas.

Os factores mencionados, além dou-tros sobre os quais agora nom podemos fa-zer umha análise em profundidade, como o negócio do desporto de massas, o ócio alie-nante ligado às drogas e à evasom, a ofen-siva do espanholismo fanático contra os po-vos oprimidos ou os ataques do integrismo

cristao-católico contra os direitos democrá-ticos da mulher ao aborto livre; favorecem a penetraçom do fascismo e o neofascismo entre a juventude, o que neste contexto de crise tem um papel impagável como vacina reaccionária que evite a propagaçom da “epidemia” da emancipaçom juvenil. O au-mento do racismo, a homofobia e o machis-mo entre a juventude galega nom é mais do que umha conseqüência deste proces-so, produto de umha estratégia planeada tempo atrás que agora em tempo de crise é selvagemente acelerada para amortecer possíveis efeitos nom desejados, como o avanço da alternativa socialista.

A segunda das vias para invisibilizar os efeitos da crise é a externa ou, o que é o mesmo, carregar à juventude que na expansom neoliberal só viu o crescimento económico nos telejornais com o grosso dos custos da crise, mas disfarçando-o com diferentes métodos através das televisons, rádios, Internet, jornais, revistas, declara-çons institucionais, publicidade empresa-rial, estudos económicos pseudo-científi-cos, produçom universitária ao serviço do sistema, etc.

É central o papel das empresas de comunicaçom, que estám a diminuir o des-contentamento social e sobretodo difundir a insustentável teoria burguesa da crise passageira, que defende que a economia já está a mostrar sintomas de recuperaçom. O exemplo mais evidente é o do pequeno re-pontar da contrataçom no Verao, ligado ao sector turístico e ao trabalho temporário amplamente ocupado por jovens, mas que nom modifica em modo nengum a realidade dum desemprego em acelerado ascenso. Assim, recordes históricos de desemprego som maquilhados nas estatísticas excluíndo dos números parte d@s desempregad@s, emitem-se hipócritas comparaçons com o resto do Estado passando por alto o peso de-

III Congresso de BRIGA, 17 de Janeiro de 2009

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classes trabalhadoras, com o intuito de as manter anuladas e sumidas na aceitaçom da derrota; incapazes de cheirar os suores frios dos burgueses e reagir.

No ámbito europeu, que já era baluarte e berço da opressom e a violência moder-nas quando os EUA eram apenas um chaval a brincar às torturas, é fulcral incrementar a repressom e opressons de todo o tipo sobre os sectores mais agredidos pola dominaçom do Capital: A juventude e as mulheres. Mas, ao mesmo tempo, é im-prescindível torná-los imperceptíveis. Isto consegue-se por duas vias simbioticamente complementares.

A primeira, elevando de um modo bru-tal a potência dos mecanismos que con-vertêrom as mentes de amplas massas de jovens em enormes macro-cárceres, invisi-bilizando assim a sua opressom cada vez mais violenta.

É esta a razom de que se reforce o cul-to ao autoritarismo reproduzido e fomenta-do nas escolas, institutos, universidades, centros de trabalho, nos bares e zonas de marcha, nas ruas, na casa, na família, nas relaçons pessoais, etc. O submetimento ao poder reflecte-se na aceitaçom acrítica do mandato imposto pola violência ou pola

Em diversos meios de contra-informa-çom tem-se reflectido muito sobre as novas perspectivas que abre a crise do capitalis-mo em curso, que por umha parte rubricou o fim de um ciclo dourado para a expan-som do Capital e pola outra elevou a sua predaçom violenta a quotas inimagináveis até há só umhas décadas. Nestes artigos e ensaios há um claro consenso em várias questons, especialmente na que agoira umhas convulsons traumáticas e brutais cujas conseqüências a longo prazo som polo de agora extremamente incertas. A realidade demonstrável que constatamos é que o capitalismo atravessa umha crise de proporçons desconhecidas, sem ante-cedentes na história deste modo de pro-duçom e que, previsivelmente, conformará cenários de luita (e portanto de violência e opressom) desconhecidos até a data.

Um dos factos que descobre mais clara-mente que a situaçom é esta é que os pró-prios instrumentos da Ditadura do Capital se tenhem pronunciado com verdadeiro medo sobre esta trovoada que ameaça com afun-dir o barco capitalista, que da singradura para o fim da história passou sem transiçom aparente a sulcar mares desconhecidos so-bre simas abisais, onde espreitam terrores inomeáveis. Neste senso, realizárom-se as declaraçons de Paul Volcker, ex-presidente da Reserva Federal estado-unidense duran-te os mandatos de Jimmy Carter e Ronald Reagan, que afirmou que a profundidade da crise actual supera com muito a desatada com o crack de 1929. Esta afirmaçom, além de enfrentar-se de pleno com as vozes dos “especialistas” dos diferentes governos, ra-cha com a tónica habitual do capitalismo de mentir e escamotear a gravidade dos acon-tecimentos através das suas empresas de comunicaçom. E isto só se entende porque a alta burguesia, esse reduzidíssimo clube conformado polos amos do mundo, está as-sustada. Esta tese foi recentemente confir-mada polas declaraçons de umha outra peça basilar do capitalismo, esta vez do FMI, que através do seu director gerente Dominique Strauss Kahn comunicou ao mundo que a actual situaçom económica mundial é “ex-tremamente grave”, prognosticando umha “recessom global” e advertindo do “perigo de distúrbios sociais que ameacem às demo-cracias e degenerem em conflitos”.

Nom há tempo nem espaço para nos es-tendermos sobre como os governos do cen-tro capitalista, nomeadamente EUA, UE e Ja-pom (além da China, Índia e outros países), se lançárom a tentar encher o vazio que deixou a gigantesca bolha de especulaçom parasita (valorizada em mais de 20 vezes o Produto Bruto Mundial) com um incessante desvio de fundos públicos para as arcas de bancos, empresas, sociedades de investi-mento, seguradoras e outros especuladores artífices da bolha financeira, cujo estourido concorreu em gravidade com outras crises simultáneas (militar, tecnológica, ecológica, política, social, alimentar, etc.) que provo-cárom o “caos levemente ordenado” actual. Baste assinalar que no Estado espanhol este accionar tomou a forma do Plano E, que além de repetir o esquema citado, está a investir a maioria dos esforços em manter com vida o agónico sector da especulaçom imobiliária durante mais uns meses, também pola via da injecçom de liquidez do erário público a fundo perdido.

Ofensiva do Capital contra a juventude e as mulheres

Neste contexto de grande risco de ex-plosividade social, o Capital e os seus ges-tores políticos precisam de exercer umha quádrupla estratégia: Insuflar oxigénio ao decrépito coraçom do sistema pola via de potencializar a economia submersa (tráfico de armas, prostituiçom, drogas, escravidom, especulaçom), reactivaçom económica atra-vés da guerra (as principais potências impe-rialistas já estám a tomar posiçons para um possível confronto); socializaçom dos custos da crise que a burguesia provocou, e redo-bro dos mecanismos de violência contra as

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cisivo da economia submersa na Galiza, ou ignorando que a percentagem de desocupaçom nom sofreu umha subida tam forte como a espanhola, ao ser já das mais altas do Estado previamente à crise, para nom mencio-nar as dúzias de milhares de jovens galeg@s que se vírom obrigad@s a abandonar a Galiza para encontrar trabalho, e que em caso de viverem no País engrossa-riam as filas do INEM. Outras notícias como a “queda dos acidentes laborais na Galiza” som tam fáceis de explicar como que a menos número de trabalhadores/as, menos possibilidades de ter acidentes laborais.

Se quigermos comparar dados com certo rigor, ha-verá que lembrar que a Galiza é a segunda comunidade autónoma com um maior número de desempregad@s que nom cobra ajudas de nengum tipo, em concreto 40% (face aos 28% espanhóis). Quer dizer, que quase umha em cada duas pessoas no desemprego esgo-tou já o subsídio ou nom quotizou o suficiente para o cobrar, e vive na actualidade desprovist@ dos meios mínimos para assegurar a subsistência. Mas nom só: Para os optimistas subsidiados de Sam Caetano e a Moncloa, haverá que dizer também que essas 84.000 pessoas (na realidade muitas mais porque tomamos as estatísticas trucadas) tenhem poucas ou nulas pos-sibilidades de encontrar emprego. E neste contexto, a juventude e sobretodo as jovens, som as vítimas mais desprotegidas: A nossa taxa de desemprego duplica a global, sendo @s primeir@s a sermos despedid@s e @s que mais dificuldades temos para encontrar novos trabalhos, muito mais as jovens que além disso cobram muito menos polas mesmas horas.

O panorama é, pois, desolador; as previsons de agravamento da incertidom vital ligada a umha queda brutal das condiçons de vida, com grandes massas de jovens que nos veremos arrastadas à pobreza absolu-ta e relativa e que engrossaremos as superpovoadas prisons por delitos que já estám a proliferar no País (pequenos furtos de comida, combustível e assaltos de pouca importáncia). Começa também a repontar a prostituiçom de jovens galegas nom ligada às drogo-dependências e sim à miséria, e com certeza amplos sectores destas mulheres vam ver-se forçados a se-guir este caminho no futuro ou a entregar a sua liber-dade e aceitar a dependência económica do marido/noivo/companheiro e a sua violência. O retorno d@s jovens emigrad@s que estám a perder o seu posto de trabalho e nom o recuperarám e a caducidade a curto prazo do emprego fictício que criou o Plano e acabam de completar o quadro. As portas estám a fechar-se

Crise sistémica, ofensiva adulta e poder juvenil

Xosé SestoLo gallego de Simón BolivarConsulado da República Bolivariana da Venezuela na Galiza e AGARB, Vigo, 2009. 40 páginas

A AGARB, a pedido do cônsul David Nieves, coordenou a ediçom facsimilar de um caderno editado pola “Hermandad Gallega de Venezuela” em 1982.

Há que agradecer a Xurxo Fernandez Crespo, galego-venezuelano, que figesse chegar às maos do Consulado da República Bolivariana de Venezuela um original do docu-mento, que permitiu a co-ediçom de “Lo gallego de Simón Bolívar”. A obra é da autoria de Xosé Sesto (1909-1998), um galego de Ponte-Vedra que nunca esqueceu o assassinato polo fascismo do patriota Alexandre Bóveda, vítima do geno-cídio galego. Sesto, apaixonado pola Galiza e pola Venezue-la, escreve convenientemente como filho a quem interessa por orgulho, mais que legítimo, demonstrar o sangue galego de Bolívar. O texto do polifacético artista tem mais valor ao ser escrito por um galego que emigra à Venezuela no tempo e no “país dos ananos”, como antídoto contra o auto-ódio propugnado polos adventios fugidos da própria história. Sem memória.

Com a apresentaçom de César Portela e o prólogo de Carlos Morais, que pom em valor o projecto universal eman-cipador de Bolívar e a importáncia para o imaginário colecti-vo para um povo como o galego, negado e desprezado polos mesmos opressores: “consideramos que as origens geo-gráficas dos indivíduos nom condicionam nem determinam a sua biografia”, “polemizar sobre a sua ascendência é algo absolutamente insignificante frente à necessária prioridade de aprofundar a difusom e estudo do seu ideário e projecto”.

A história da Pátria Grande já era também nossa, agora é também mais familiar com o imaginário revolucionário des-se “espírito indomável” de que decerto contemplou “o nosso mar bravo a bater contra as arribas da Torre de Hércules” e contra a injustiça. Agora ficamos na genética revolucionária ainda mais perto de Simón e de quem escreva para dignificar a história contra todo poder que tentar manipular ou silen-ciar a vigência do Libertador. (Xavier Moreda)

Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Meneses (orgs.)Epistemologias do SulEdições Almedina, Coimbra 2009, 532 páginas.

14 autores, que provenhem na quase totalida-de do Sul geográfico, de África, da América Latina e da Ásia, e que se posicionam do lado dos oprimidos polas diferentes formas de dominaçom colonial e ca-pitalista, denunciam a supressom de muitas formas de saber de povos e naçons e valorizam as que re-sistiram com êxito, ao tempo que indagam nas condi-

çons para um diálogo horizontal entre conhecimentos, o que Boaventura Santos designa como ecologia de saberes.

As perguntas que se fam som três: porque de dous séculos a esta parte de-saparece da reflexom epistemológica o contexto cultural e político da produçom e da reproduçom do conhecimento?; que conseqüências se derivam do anterior?; há epistemologias alternativas? E verificam que a epistemologia hegemónica é a do mundo, nomeado como moderno, cristao ocidental, o mundo colonizador e imperialista. E também que a regra do saber dominante inculca “nos povos e práticas dominadas a ilusom credível de serem auto-governados”. Os saberes e as práticas desses povos seriam considerados inferiores e assim os seus possui-dores. Está-se a assistir, já que logo, a um epistemicídio etnocéntrico.

Pensam que a revoluçom da informaçom e da comunicaçom permite hoje visualizar melhor a diversidade cultural – talvez ajude a isto o facto de que o capitalismo está a reduzir à lei do valor mais e mais dimensons da natureza, da sociedade e do campo simbólico, o que está a provocar novas contradiçons e resistências.

E acautelam de que a pluralidade epistemológica do mundo nom compromete a um relativismo cultural, aliás obriga a análises e interpretaçons mais complexas.

A primeira parte do livro, Da Colonialidade à Descolonialidade, patenteia como a dominaçom económica, política e ideológica véu de se traduzir numha construçom de hierarquias entre conhecimentos.

A segunda parte, As Modernidades das Tradiçons, centra-se no estudo da dicotomia tradiçom/modernidade e critica os que reputam os saberes nom-oci-dentais como “resíduos de um passado sem futuro”.

A terceira parte, Geo-políticas e a sua Subversom, leva à pluralizaçom de lugares e contextos, permite identificar a diversidade de saberes e dar valor a conhecimentos até agora ocultados ou minorizados como locais.

E na última parte, A Reinvençom dos Lugares, tornam saliente como o domínio epistemológico conduziu a um empobrecimento tanto do Norte global como do Sul, por mais que as conseqüências som bem distintas para um e para outro. E proponhem reinventar esses lugares encobertos. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Associaçom Cultural A CepaAs mulleres da conservaCangas, AC A Cepa, 2009, 151 páginas

A Associaçom Cul-tural A Cepa de Cangas apresenta-nos este livro que nos permite achegar-nos à história das tra-balhadoras da indústria

conserveira. Se bem a obra está mui centrada no caso concreto desta vila do Morraço, a sua situaçom poderia ser extrapolada à das 363 fábricas de salgadura, 106 conserveiras e 38 de escabeche que chegou a haver nas nossas costas, com 15.000 trabalhadoras e trabal-hadores directos.

A maior parte do texto compom-se de testemun-hos orais de pessoas, na sua maioria mulheres, vincu-ladas a esta indústria. Nelas reflectem-se muitos dos aspectos vinculados ao trabalho na indústria conser-veira, entre eles a dureza das condiçons laborais. Aliás, nom há que esquecer que a jornada laboral das mulhe-res nom acabava com o trabalho na fábrica, pois que a este se acrescentava o trabalho da terra, o trabalho no lar ou o cuidado de filh@s e idos@s.

O livro também nos permite conhecer algo mais o passado da indústria da salgadura e da conserva na Galiza. Umha das primeiras indústrias capitalistas cria-das no nosso país, em muitos casos por emigrantes cataláns e polos seus descendentes progressivamen-te assentes na costa galega desde o século XVIII. É o caso dos Massó, cuja fábrica em Cangas chegou a ser a maior da Europa no seu momento, trabalhando nela mais de 1.500 pessoas, na sua imensa maioria mulheres.

É de destacar também o importante material grá-fico que compila este livro, com fotografias e também com documentos que abrangem etapas diversas, des-de começos do século passado até a década de noven-ta do mesmo, quando o declínio desta indústria levou também à clausura da fábrica de Massó em Cangas. (Anjo Torres Cortiço)

LIVROS WEB

A Rosa Blindada, novo portal contra-informativo internacional

O panorama revolucionário inter-nacional enriquece-se na frente infor-mativa com um novo portal, La Rosa Blindada, que recolhe informaçons dos principais meios internacionais junto a trabalhos teóricos e artigos de opiniom dos principais autores e au-toras marxistas do palco mundial ac-tual. Tendo maior peso a componente latino-americana de fala hispana, o espanhol é o principal idioma do por-tal, se bem inclui textos em português, italiano, inglês e outros idiomas.

Entre as colaboradoras e cola-boradores, há também intelectuais e militantes da esquerda revolucio-nária europeia. A Galiza está repre-sentada num Conselho Assessor de mais de 30 integrantes através do secretário-geral do nosso partido, Carlos Morais. Os conteúdos de ac-tualidade das luitas no continente americano e no mundo alternam com análises e estudos de fundo sobre teoria e praxe revolucionária numha altura histórica marcada pola crise sistémica e pola necessidade de ar-ticular a dissidência anticapitalista para possibilitar a derrota histórica do capitalismo.

Entre as assinaturas que cola-boram habitualmente com a Rosa Blindada, podemos referir Néstor Kohan, Michael Löwy, Narciso Isa Conde, Mónica Baltodano, Reinaldo Carcanholo, Belém Gopeghi, Jor-ge Berstein ou Alfonso Cano, entre outros e outras.

Juventude operária luitando na rua

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umha após outra, e o desespero provocado pola crise está a criar um trauma psicológico colectivo, que pe-rante este beco sem saída elevou o consumo de an-siolíticos ao segundo posto no ranking de drogas far-macêuticas mais consumidas pola juventude galega.

O poder juvenil como autodefesa contra a crise capitalista

Todo conceito tem o seu contrário que o define, e o poder adulto, esta opressom propriamente juvenil com os seus conteúdos de sexo-género, nacional, e de classe; nom é umha excepçom. Frente a umha estru-tura de dominaçom que ancora os nossos processos conscientes e inconscientes à lógica da submissom, a juventude nom tem outro caminho que defender-se com o contra-poder juvenil.

A auto-organizaçom e autogestom da juventude, o combate na casa contra a imposiçom do pai e a famí-lia, a resposta nos centros do ensino ao todo-poderoso professorado, a reivindicaçom da validez das apostas juvenis no seio das próprias organizaçons revolucioná-rias “adultas”, a criaçom de um movimento social den-tro das massas obreiras que visibilize a gravidade es-pecífica dos ataques à juventude, da sua precarizaçom vital estrutural, a entrada da juventude em espaços de decisom política, e a estruturaçom de um movimento juvenil de massas que supere a actual fragmentaçom e sectarismo e que atinja um degrau de desenvolvimento superior que a mera soma das partes som alguns dos reptos que a criaçom desse poder juvenil requer.

Este poder d@s jovens vai além da denúncia, e incluso da defesa da juventude diante das agressons

provocadas pola crise. Para tal, precisamos nom só de um movimento juvenil criativo, vivo e emergente, auto-organizado e com capacidade de intervençom, simbioticamente relacionado com o tecido social e político, autoconsciente das forças próprias e da ne-cessidade de as usar, nom só umha presença deci-siva de organizaçons revolucionárias que assumam a necessidade deste poder e o apliquem na prática, mas umha aposta estratégica na ruptura em todos os ámbitos com o poder adulto, ligado a umha pro-posta revolucionária que tenha na independência nacional, a alternativa socialista e a destruiçom do patriarcado as suas linhas de força. Só cumprindo estas premissas é possível o início de umha contra-ofensiva que nos devolva o papel que temos como o futuro da revoluçom neste país. Só assim existirá a possibilidade real de impedir umha reforma laboral, de exigir e atingir êxito na reivindicaçom de umha vivenda digna, de combater o terrorismo machista com a sua mesma medicina, de conquistar espaços auto-geridos por e para a juventude, emancipados da supervisom adulta.

Estas devem ser algumhas das metas a médio prazo. Nom devemos esquecer que a iminente queda das condiçons de vida podem favorecer saltos quali-tativos no nível de consciência das massas, na auto-percepçom que @s jovens temos do que é possível e nom é possível conseguir com luita. Mas este cenário necessário nom vai a cair do céu. O capitalismo nom vai derrubar-se sobre ele próprio e a crise pode ser prelúdio de umha era de exploraçom como ainda nom se viu na história da humanidade. A possibilidade do avanço do fascismo e do neofascismo é umha realida-de palpável a que a juventude trabalhadora deve fazer frente. A nossa criminalizaçom crescente polo poder adulto inerente ao patronato, aos corruptos partidos políticos governantes, à polícia e ao exército é um ata-que constante que chega de todas as frentes; e que mina a nossa capacidade de intervençom.

É obrigaçom nossa deixar de lado lastros que só nos condenam a umha miséria certa nos próximos anos, como som o individualismo egoísta, a comodi-dade militante ou a desonestidade na hora de enca-rarmos a luita. Nom podemos priorizar os nossos de-sejos e ritmos ao pulso da história e, nesta altura, as jovens e os jovens organizados na Galiza enfrentamos um repto enorme, do qual só @s jovens que venham depois de nós poderám avaliar se estivemos à altura.

Alexandre Rios Bergantinhos forma parte da Mesa Nacional

de BRIGA

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7Nº 53. Julho, Agosto e Setembro de 2009 intErnacional

No Brasil, apesar de umha longa estag-naçom económica de vinte e cinco anos, e de umha crise social crónica, as duas gran-des crises políticas dos últimos trinta anos, em 1984 e 1992, fermentadas polo choque externo de duas crises mundiais, fôrom su-peradas sem maiores sobressaltos: a solu-çom da crise de 1984 enterrou a ditadura militar e deu origem ao regime democrá-tico-liberal, em formato presidencialista, sem umha ruptura com os vinte anos de di-tadura militar; e a soluçom da crise de 1992 que levou à derrubada de Collor de Melo, o primeiro presidente eleito desde 1961, com a posse do vice-presidente, fortaleceu o regime, com a colaboraçom de Lula e do PT. Nom obstante, nengumha destas duas crises do regime teriam sido possíveis sem o mal-estar social gerado polas crises eco-nómicas.

Quando aconteceu o terceiro choque recessivo da economia internacional, em 2000, o país nom foi atingido pola onda de mobilizaçons revolucionárias que sacudiu a Argentina, Equador, Bolívia e Venezuela. O descontentamento foi canalizado para as eleiçons de 2002 e garantiu a eleiçom de Lula. Desde 1985, a democracia-liberal tem demonstrado umha capacidade elás-tica de absorver o mal-estar político no limite das instituiçons. Mas, a democracia liberal na periferia, mesmo num país com umha inserçom privilegiada como o Brasil, que cumpre um papel de submetrópole, tem limites mais estreitos que nos países centrais. O tema parece significativo, se considerarmos a gravidade desta última crise mundial, e a realizaçom das primei-ras eleiçons presidenciais –em que Lula nom será candidato– em 2010. As opor-tunidades para a esquerda revolucionária aumentarám no mesmo compasso em que a gravidade da crise se manifestar.

Nom podemos antecipar em que me-dida o impacto da crise será mais imedia-to, em que proporçom será a capacidade de resposta dos trabalhadores e da juven-tude. Mas, já sabemos que a orientaçom do governo Lula será a administraçom da crise descarregando sobre o povo o custo dos ajustes: o socorro dos Bancos estatais às grandes corporaçons, como o grupo Votorantim, isençom de impostos para a indústria automobilística, e a de-fesa de acordos sindicais com reduçom salarial. Umha estratégia revolucionária deve ter no seu centro a construçom da resistência da classe operária e dos seus aliados sociais contra o governo Lula no terreno da acçom directa, sem esperar polas eleiçons.

Quem nom sabe contra quem luita nom pode vencer, di a sabedoria popular. O desafio estratégico da esquerda marxis-ta revolucionária será ajudar os trabalha-dores a confiar nas suas próprias forças, na sua independência, na sua luita. O PSTU estivo engajado nos últimos sete anos de mandato de Lula na construçom de novos instrumentos de luita, a Coordenaçom Nacional de Lutas (Conlutas) e a Assem-bleia Nacional de Estudantes Livre (Anel), organismos de frente única que surgírom da ruptura de centenas de sindicatos com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e dos Directórios Centrais de Estudantes (DCE’s) das mais importantes universida-des com a Uniom Nacional dos Estudantes (UNE), porque ambas passárom a ser bra-ços do governo Lula contra o movimento operário, popular e estudantil.

Esta perspectiva de impulsionar a au-to-organizaçom independente da CUT e da

2005, cumpriu o triste papel de chamar as massas à rua para defender Lula –com o apoio do MST e da UNE– quando do es-cándalo do mensalão. Formárom a Inter-sindical, mas depois rompêrom entre si diante da perspectiva de unificaçom da Intersindical e a Conlutas. Este permane-ce o primeiro grande desafio da esquerda: unificar o movimento sindical e popular, os movimento de mulheres e os movimentos negros, e o movimento estudantil num ter-reno independente do governo.

Há que evitar, também, que nas elei-çons do próximo ano só existam dous campos burgueses, o dos defensores de Lula e sua candidata, Dilma Roussef, e o da oposiçom de direita burguesa, com José Serra do Partido da Social Demo-cracia Brasileira (PSDB), o mesmo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Precisa ser construída, como nas eleiçons de 2006, umha oposiçom de esquerda, que resultou da aliança do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), da candidata Heloísa Helena, com o Partido Socialista dos Tra-balhadores Unificado (PSTU), e o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Mas umha perspectiva eleitoralista seria fatal. Umha esquerda acomodada ao calendário eleito-ral favorecerá o direccionamento do des-gaste do governo Lula para as eleiçons, ou seja, para um terreno desfavorável. É pre-ciso retirar liçons de 2006: a gravidade da crise capitalista exige umha candidatura que seja porta-voz das luitas e de um pro-grama anti-imperialista e anticapitalista.

Valério Arcary forma parte da direcçom do PSTU

O governo Lula e a crise mundial: os desafios da esquerda brasileira

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dalos geram umha indignaçom passiva das massas populares. Além disso, está colocada a data de 14 de Agosto, definida polas Centrais sindicais (incluindo a CUT, Força Sindical e Conlutas) como um dia de luitas, que inclui um acto central em São Paulo e paralisaçons. Esta data ainda é umha incógnita, e pode significar um pon-to de apoio para as campanhas salariais como para as luitas contra o desemprego. Mas, serám, também, umha batalha con-tra as direcçons das Centrais burocráticas e governistas. Umha luita tanto para que o dia de luita aconteça, efectivamente, como para que se enfrente com o governo.

unir a Conlutas e a Intersindical, preparar umha Frente de Esquerda

Em contra-partida, a maioria da es-querda brasileira que nom aderiu ao go-verno Lula passou os últimos sete anos hesitando. Uns, como o Movimento Sem Terra (MST) e a Consulta Popular, hesitan-do entre romper ou nom com o governo, defendendo que o inimigo principal seria a burguesia, abstraindo da realidade o facto, grande do tamanho do Pão de Açú-car, que os grandes capitalistas apoiá-rom, incondicionalmente, o governo Lula, e nom se pode luitar contra o latifúndio e as grandes corporaçons sem denunciar o governo que os defende. Outros, como o PSOL e o PCB, hesitando entre a perma-nência ou na CUT e na UNE. Felizmente, a maioria dos sectores do PSOL e do PCB terminou por romper com a CUT, ao final do primeiro mandato, quando a CUT, em

UNE respondeu à necessidade de unificar as luitas. O papel da Conlutas em greves como a dos trabalhadores da Previdência social em curso, ou na resistência às de-missons na Embraer em Março, e da Anel na greve da Universidade de São Paulo actual, som exemplos de que a vocaçom da oposiçom de esquerda é ser um instru-mento para a luita.

A crise económica abrirá umha etapa de desgaste do governo

O desgaste de Lula já começou: o endividamento das famílias nom para de aumentar, e pola primeira vez desde que este indicador começou a ser calculado já supera 30% dos lares; o desemprego vol-tou a subir pola primeira vez desde 2004 e já está superior a 10% da populaçom eco-nomicamente activa (PEA) nas dez maiores cidades do país; o salário médio inverteu a tendência de recuperaçom entre 2004 e 2008 e voltou a cair; e a inadimplência –a proporçom de pessoas que nom som capa-zes de pagar suas dívidas– aumentou. Es-tas quatro variáveis económicas sinalizam fragilizaçom do governo e aceleraçom da experiência com o governo Lula.

Entretanto, é preciso saber que a campanha “o pior já passou” do Governo Lula tivo reflexos políticos na consciência das massas. Chegamos ao mês de Junho de 2009 com a maior recessom desde o início dos anos 80, porém, muitos traba-lhadores se iludem com a propaganda oficial. Na verdade, o pior ainda está por vir. A compreensom dos trabalhadores so-bre a crise económica retrocedeu, e isso

expressa-se nos índices de popularidade do governo que voltárom a crescer. Estas oscilaçons das pesquisas som transitó-rias, e nom devem enganar-nos. Lembre-mos que o início do desgaste do governo coincidiu com as notícias da gravidade da crise, acompanhando o aumento do de-semprego do final de 2008. Agora, a cam-panha “o pior já passou” vem associada à divulgaçom de alguns índices parciais de estabilizaçom económica. O que estamos a ver é, todavia, só umha conjuntura me-nor. Nom terá fôlego e será curta. O que a sustentou, no Brasil, foi um fluxo especu-lativo de dólares nas Bolsas nos últimos dous meses.

As ilusons em Lula podem atrasar a percepçom da crise por algum tempo, mas nom indefinidamente. Estamos perante a maior crise internacional desde os anos trinta do século XX. Os anos de auge da globalizaçom (da década de 90 e início deste século) já se fôrom. Entramos num novo período da economia, que pode de-sembocar numha depressom igual ou até pior que em 1929. Isto nom exclui a possi-bilidade de conjunturas de estabilizaçons momentáneas, períodos de recuperaçom relativa.

O regime como um todo –executivo, legislativo e judiciário– segue a tónica de escándalos atrás de escándalos, agora no Senado com os mais de seiscentos actos secretos, que “contornárom” a exigência de publicaçom no Diário Oficial. Sarney, representante das velhas oligarquias equilibra-se na presidência do Senado somente com o apoio de Lula. Os escán-

Lula sempre amigável com o imperialismo

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