Abrente numero 54

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIV • Nº 54 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2009 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega Sumário Editorial 3 Pinheiro entre nós André Seoane 4-5 A regressom das liberdades públicas sob mandato do PSOE no Estado Ramiro Vidal Alvarinho 4-6 Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária Maurício Castro 7 Contra-ofensiva imperialista e resposta dos povos da nossa América Narciso Isa Conde 8 Nom podemos fazer-nos nengumha ilusom de lograr a liberdade sem combater Che Guevara Como parte do imaginário estival do panorama desinfor- mativo que os meios de comunicaçom da burguesia impugérom nas derradeiras décadas, acrescentou-se mais um recurso à táctica de deformar, ocultar e maquilhar a realidade como efi- caz mecanismo para adormecer as consciências. Referimo-nos à promoçom, durante as férias de Verao, de intranscendentes e banais sucessos que contribuem para edificar a tam edulcorada como virtual harmonia social intrínseca ao sistema. Porém, nesta ocasiom nom vamos seleccionar, e portanto abordar, as mais destacadas pérolas da vulgaridade com que fomos bombardeados nos meses recentes. Muito ao contrário, queremos denunciar as repugnantes declaraçons realizadas publicamente por duas figuras destacadas do actual regime espanhol. Nos primeiros dias de Agosto, o actual inquilino do Palá- cio Real solicitou, sem matizes e com o sublime estilo que o caracteriza, a utilizaçom da força bruta para acabar com a esquerda independentista basca. Juan Carlos I de Bourbon e Bourbon manifestou no interior de umha base militar que “há que dar-lhes na cabeça e acabar com eles”. Assim de claro, preciso e contundente, o rei espanhol dava luz verde para que o autodenominado “Estado de direito” continue a empregar os métodos herdados dos piores manuais e práticas dos estados terroristas e criminosos, na hora de combater a dissidência. Desconhecemos se esta ideia é dele ou foi escuitada da boca do seu amigo Bush a partir das receitas implementadas pola CIA em Guantánamo e Abu Ghraib. O que sim sabemos é do silên- cio de Rubalcaba e dos super-juízes da “Audiência Nacional”. Semelha que os esgotos do regime nom som constitutivos de delito de apologia do terrorismo. Dias depois, o presidente desse sindicato do crime chama- do CEOE solicitava sem rubor a reduçom dos salários submeti- dos aos convénios colectivos. Gerardo Díaz Ferrán, quem tam- bém se atreveu a afirmar que os incrementos salariais entre 0% e 1% som “generosos”, contribuia assim para procurar singula- res soluçons à grave crise económica capitalista. O patrom dos patrons, com o seu estilo incisivo, gélido e politicamente incor- recto, nom se somava assim ao hipócrita corifeu de decla- raçons em prol de aplicar medidas de austeridade com que políticos e altos cargos pretendem arrefecer a indignaçom popular, nem às operaçons propagandísticas contra a cor- rupçom municipal imprescindíveis para legitimar o sistema. A teórica moderaçom ou congelaçom salarial, que aca- bou de aprovar o parlamentinho autonómico seguindo as dinámicas acordadas em Madrid, é umha autêntica estafa. A reduçom de 1% do salário de um/umha trabalhadora média numha conjuntura caracterizada polos baixos salá- rios e a perda acelerada de direitos laborais é umha burla quando o número “dous” do BBVA acaba de abandonar o seu posto directivo em troca de umha pensom vitalícia de 3 milhons de euros anuais! Na Galiza, o cerca de meio milhom de pensionistas, –após terem deixado a saúde e os melhores anos da vida a trabalhar para a burguesia– recebe umha reforma média de 704 euros. Que José Ignacio Goirigolzarri, como ex-alto directivo da grande banca espanhola, ganhe por ano 334 vezes mais que do um pensionista galego nom é um caso isolado. É a berrante realidade desta sociedade injus- ta onde a grande burguesia quer manter os seus obscenos lucros empobrecendo ainda mais a classe trabalhadora, ba- sicamente as suas fracçons mais vulneráveis. Embora tímidas vozes governamentais tenham questio- nado esta jubilaçom dourada para simplesmente aparentar coincidir com a indignaçom geral, os salários da casta polí- tica continuam situados em realidades inatingíveis para a classe trabalhadora. Entre 90 e 120.000anuais recebem Zapatero, Feijó, os seus ministros e conselheiros, vogais do CGJP, do Tribunal Constitucional, director de SOGAMA, da CRTVG, assim como presidentes de Cámara de cidade e vilas deste país. Todo funciona com base numha lógica muito simples: som os sectores intermédios da burguesia os que açambar- cam a prática totalidade da representaçom institucional, e portanto legislam para favorecer a sua classe, quem a sua

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Publicaçom periódica da organizaçom comunista e independentista galega Primeira Linha, correspondente a Outubro, Novembro e Dezembro de 2009.

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XIV • Nº 54 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2009

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a g a l e g a

Apologia do terrorismo?

SumárioEditorial

3 Pinheiro entre nósAndré Seoane

4-5 A regressom das liberdades públicas sob mandato do PSOE no Estado

Ramiro Vidal Alvarinho

4-6 Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionáriaMaurício Castro

7 Contra-ofensiva imperialista e resposta dos povos da nossa América

Narciso Isa Conde

8 Nom podemos fazer-nos nengumha ilusom de lograr a liberdade sem

combaterChe Guevara

Como parte do imaginário estival do panorama desinfor-mativo que os meios de comunicaçom da burguesia impugérom nas derradeiras décadas, acrescentou-se mais um recurso à táctica de deformar, ocultar e maquilhar a realidade como efi-caz mecanismo para adormecer as consciências. Referimo-nos à promoçom, durante as férias de Verao, de intranscendentes e banais sucessos que contribuem para edificar a tam edulcorada como virtual harmonia social intrínseca ao sistema.

Porém, nesta ocasiom nom vamos seleccionar, e portanto abordar, as mais destacadas pérolas da vulgaridade com que fomos bombardeados nos meses recentes. Muito ao contrário, queremos denunciar as repugnantes declaraçons realizadas publicamente por duas figuras destacadas do actual regime espanhol.

Nos primeiros dias de Agosto, o actual inquilino do Palá-cio Real solicitou, sem matizes e com o sublime estilo que o caracteriza, a utilizaçom da força bruta para acabar com a esquerda independentista basca. Juan Carlos I de Bourbon e Bourbon manifestou no interior de umha base militar que “há que dar-lhes na cabeça e acabar com eles”. Assim de claro, preciso e contundente, o rei espanhol dava luz verde para que o autodenominado “Estado de direito” continue a empregar os métodos herdados dos piores manuais e práticas dos estados terroristas e criminosos, na hora de combater a dissidência. Desconhecemos se esta ideia é dele ou foi escuitada da boca do seu amigo Bush a partir das receitas implementadas pola CIA em Guantánamo e Abu Ghraib. O que sim sabemos é do silên-cio de Rubalcaba e dos super-juízes da “Audiência Nacional”. Semelha que os esgotos do regime nom som constitutivos de delito de apologia do terrorismo.

Dias depois, o presidente desse sindicato do crime chama-do CEOE solicitava sem rubor a reduçom dos salários submeti-dos aos convénios colectivos. Gerardo Díaz Ferrán, quem tam-bém se atreveu a afirmar que os incrementos salariais entre 0% e 1% som “generosos”, contribuia assim para procurar singula-res soluçons à grave crise económica capitalista. O patrom dos patrons, com o seu estilo incisivo, gélido e politicamente incor-

recto, nom se somava assim ao hipócrita corifeu de decla-raçons em prol de aplicar medidas de austeridade com que políticos e altos cargos pretendem arrefecer a indignaçom popular, nem às operaçons propagandísticas contra a cor-rupçom municipal imprescindíveis para legitimar o sistema.

A teórica moderaçom ou congelaçom salarial, que aca-bou de aprovar o parlamentinho autonómico seguindo as dinámicas acordadas em Madrid, é umha autêntica estafa.

A reduçom de 1% do salário de um/umha trabalhadora média numha conjuntura caracterizada polos baixos salá-rios e a perda acelerada de direitos laborais é umha burla quando o número “dous” do BBVA acaba de abandonar o seu posto directivo em troca de umha pensom vitalícia de 3 milhons de euros anuais!

Na Galiza, o cerca de meio milhom de pensionistas, –após terem deixado a saúde e os melhores anos da vida a trabalhar para a burguesia– recebe umha reforma média de 704 euros. Que José Ignacio Goirigolzarri, como ex-alto directivo da grande banca espanhola, ganhe por ano 334 vezes mais que do um pensionista galego nom é um caso isolado. É a berrante realidade desta sociedade injus-ta onde a grande burguesia quer manter os seus obscenos lucros empobrecendo ainda mais a classe trabalhadora, ba-sicamente as suas fracçons mais vulneráveis.

Embora tímidas vozes governamentais tenham questio-nado esta jubilaçom dourada para simplesmente aparentar coincidir com a indignaçom geral, os salários da casta polí-tica continuam situados em realidades inatingíveis para a classe trabalhadora. Entre 90 e 120.000€ anuais recebem Zapatero, Feijó, os seus ministros e conselheiros, vogais do CGJP, do Tribunal Constitucional, director de SOGAMA, da CRTVG, assim como presidentes de Cámara de cidade e vilas deste país.

Todo funciona com base numha lógica muito simples: som os sectores intermédios da burguesia os que açambar-cam a prática totalidade da representaçom institucional, e portanto legislam para favorecer a sua classe, quem a sua

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Nº 54. Outubro, Novembro e Dezembro de 20092

vez financia os seus partidos alimentando assim esta pseudodemocracia.

Esta atmosfera facilita que Díaz Fer-rán lance esta declaraçom de guerra con-tra a nossa classe perante a pasmosa nor-malidade de um sindicalismo entreguista e corrupto.

Tempos revoltosA derrota do proletariado metalúrgi-

co do sul da Galiza no conflito que duran-te meses mantivo com o patronato tem contribuido para gerar mais desánimo e pessimismo na nossa classe. Porém, o proletariado mais consciente, o que se bateu durante semanas na rua contra a polícia, que está a sofrer as represálias nas empresas e que agora se vai ter que enfrentar com a maquinaria repressiva do sistema judicial burguês e espanhol, tem que tirar umha liçom de um conflito em que partia com recursos e forças suficien-tes para lograr umha vitória.

Nom se pode continuar a confiar em dirigentes sindicais alheios às fábricas, a individuos de gabinetes, que com discursos e retóricas aparentemente combativas tam só agem como eficazes peons do Capital. Os funcionários dos aparelhos burocráti-cos da CIG nom só estám limitados polas dependências políticas com o regionalismo, com os compromissos e pactos ocultos de que formam parte, polas desconfianças com a coerente luita obreira. Polas limita-çons ideológicas do reformismo, sempre acabam por ceder, por capitular e conduzir

Editorial

de dar passos para diante, com firmeza e audácia, de abandonar posiçons timoratas e tatejantes. Caso contrário, estaremos condenados à aceitar com naturalidade a derrota. Os sectores mais avançados do proletariado galego devem reformular obsoletos posicionamentos que já só se

PublICIdAdE

Santiago - A Coruña

mantenhem pola inércia, pois a realidade constata os nossos erros colectivos.

umha batalha prioritáriaApós os quatro anos de concessons

e políticas pactistas que caracterizárom o governo PSOE-BNG a extrema-direita es-panhola passa a ofensiva contra o idioma e os sinais medulares da Pátria. Dessas águas paradas do bipartido procedem as actuais lameiras que os ultras agitam con-tra a Galiza.

Novamente, nom há termos médios, nom se podem manter posicionamentos vacilantes: há que defender com intransi-gência umha Galiza monolíngüe. Mas nom chega. O reintegracionismo lingüístico é a única aposta estratégica que evitará a espanholizaçom morna da nossa cultura, a crioulizaçom do idioma, a perda constan-te de falantes. A defesa coerente destes princípios nom se pode separar da opres-som nacional que padece a Galiza. Sem independência, sem um Estado galego, nom é possível normalizar a nossa cultura e o nosso idioma. Espanha nom cede, nom afrouxa, nom abandona o seu objectivo de destruir a Galiza.

É necessário pois participar nas res-postas amplas, unitárias e firmes, mas com voz própria, com base nos nossos princípios, mantendo a imprescindível au-tonomia e independência frente à miopia do isolacionismo regionalista e a ingenui-dade de quem considera ainda aproveitá-vel o actual quadro jurídico-político.

Panorámica do bloco reintegracionista na manifestaçom em defesa do idioma de 18 de Outubro

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tutelar. Só a nós mesm@s compete a nos-sa emancipaçom. Só nós devemos dirigir e orientar as luitas.

Som tempos difíceis, nos quais se ne-cessitavam fortes ferramentas defensivas de que hoje carecemos. Mas, apesar de serem horas amargas, também som as

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à derrota o que teria sido umha vitória da vanguarda proletária galega imprescindível para impulsionar um ciclo de luitas, para iniciar a ofensiva de classe contra a direita, o patronato e a burguesia.

A classe obreira necessita involucrar-se na suas reivindicaçons, nom deixar-se

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Abrente recomenda

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3Nº 54. Outubro, Novembro e Dezembro de 2009

A oficialidade cultural galega decidiu dedicar este ano 2009 a celebraçom do Dia das Letras a umha figura da nossa cultura de evidente importáncia, mas que desperta sentimentos enormemente con-trapostos. Ramom Pinheiro foi um perso-nagem com um papel central na rearticu-laçom da consciência cultural e política da afirmaçom da galeguidade após o golpe de estado do 1936, mas o papel jogado por ele nom suscita consensos e sim abre um azedo confronto entre quem se reclama seguidor e quem rejeita abertamente a via impulsionada por Pinheiro, o que se deu em chamar o pinheirismo.

Porém, nom é a nossa intençom fazer-mos aqui umha analise serôdia do papel jogado por Pinheiro durante a sua dilata-da actividade como criador e dinamizador dum determinado tipo de galeguismo, cen-tenas de artigos e dúzias de livros publica-dos ao longo do presente ano cumprírom sobejamente com essa tarefa, mas sim incidir na sobrevivência do pinheirismo na actualidade e em especial na aparen-temente paradoxal influência das análises desta corrente de pensamento num cená-rio supostamente tam afastado no ideo-lógico como é o independentismo galego do presente, entendido este no seu senso mais amplo. Daí o título elegido para en-cabeçar este artigo: “Pinheiro entre nós”, onde o “nós” inclui apenas aqueles que dizemos defender a segregaçom de Galiza do Estado espanhol.

Para centrar a questom, deveríamos especificar os traços substanciais de aquilo que entendemos como pinheirismo, para o qual escolhemos como método nom só a análise do pensamento de Ramom Pinheiro, facilmente rastejável na sua relativamente escassa obra escrita, mas fundamentalmente na realidade da sua actividade prática que evidentemente vai dar-nos umha imagem mais acertada. No fim de contas, o essencial, em especial no tocante à actividade política, o importante nom é o que se di, e sim o que se fai1.

Assim, do repasso da actividade do esgrévio vulto de Láncara podemos tirar como conclusom duas características fudamentais das quais derivam outras secundárias que também nos interesará ressaltar.

A primeira destas características é a do “elitismo”. Se repassarmos a activida-de de Ramom Pinheiro, em especial des-de que é libertado de prisom e retoma a sua actividade como líder do galeguismo do interior na década de 50, temos que concluir que nunca mostrou umha mínima preocupaçom por atingir umha grande in-fluência no nível de massas. Muito ao con-trário, as iniciativas por ele impulsionadas dirigiam o seu alvo face reduzidos núcleos de pessoas que se situavam em lugares estratégicos, em especial entre as novas geraçons de universitários.

O objectivo de Pinheiro nom era o de que o seu galeguismo fosse adoptado e assimilado directamente polo maior nú-mero possível de pessoas, pois que essa visom ideológica era destinada em exclu-siva a um reduzido e selecto grupo, com destaque para aqueles que se sentárom na famosa “mesa-camilha”, e que umha vez impregnados deveriam ser os que, a partir dos mais diversos postos diri-gentes da sociedade, expandiriam a sua influência. Umha das conseqüências lógi-cas desta estrategia foi a famosa ideia de abandonar qualquer actividade destinada a reorganizaçom do nacionalismo político num partido e a posterior tese de “ga-leguizaçom” de todas as forças políticas actuantes na Galiza a apartir do seu in-terior.

Em resumo, seguindo este esquema, seriam os eleitos doutrinados por Pinhei-ro os encarregados de levar à sociedade essa noçom de galeguismo por ele de-fendida. Lamentavelmente para ele, a realidade demonstrou a inutilidade desta

1 Em esta tarefa foi de grande ajuda a obra de recente publicaçom do historiador Carlos Velasco Piñeiro e o Piñeirismo em perspec-tiva histórica. Laiovento, 2009

potencialidade de criar umha nova realida-de onde a comodidade pequeno-burguesa também se veria seriamente atacada.

O pinheirismo é pois um facto do seu tempo e o seu lugar mas que guarda re-laçom directa com umha “atitude social” própria dumha fracçom de classe, a pe-quena-burguesia intelectual, que podemos encontrar por toda parte e em todos os tempos em que este grupo social existiu. Umha atitude que se caracteriza polo re-sentimento duplo face a outras fracçons da burguesia que exercem o dominío polí-tico efectivo numha sociedade e contra as camadas populares que podem alterar a plácida mediocridade onde “o intelectual” está tam cómodo.

Possivelmente seja esta realidade, a do pinheirismo como expressom con-creta da ideologia da pequena-burguesia intelectual na Galiza, a que explique a sua sobrevivência e mesmo o abrolhar de neo-pinheirismos incluso em espaços ideoló-gicos tam afastados da matriz como pode ser o independentismo galego.

Nom seríamos nós os primeiros a re-velar que já há tempo que o pinheirismo pareceu renascer precisamente entre os filhos pródigos do próprio Dom Ramom. Entre aqueles que na década de 60 fôrom embora da “mesa-camilha” e incluso pre-tenderom matar o pai, embora só fosse literariamente. Os mesmos que agora se acobilham na trincheira da CULTURA com

análisE

maiúsculas ou dos mais diversos tipos de respeitáveis gabinetes, ao tempo que atacam o aventureirismo de quem conti-nua na rua e afirma, com a palavra e os factos, que o labor de libertar este país e este povo nom vai nem pode ser cómoda nem respeitável, quando menos segundo as convençons da ideologia dominante.

Mas nom é só entre os derrotados e entregados de geraçons passadas que o espírito de Pinheiro conseguiu abrigo, mas mesmo entre gente que nunca tivérom contacto com Dom Ramom por questons meramente cronológicas.

Assim, há um tempo que cada vez é mais habitual ler e escuitar comentários que criticam a marginalidade que acompa-nha a existência da esquerda independen-tista como movimento. Comentários que surgem de pessoal relativamente próximo de nós e que nalguns casos mesmo che-gam a afirmar cousas como que coincidem com as nossas propostas políticas, mas discrepam dos nossos métodos. Gente que di manifestar a sua incomodidade diante de atitudes “violentas”, tais como boicotes ou pintadas, que rejeitam o inde-pendentismo organizado por considerá-lo impregnado da sordidez da repressom (como se a repressom fosse algo criado por nós e nom imposto).

Pessoal que afirma que o independen-tismo tem de ser um movimento “sério”, mas entendendo como “sério” nom um movimento político esforçado realmente na transformaçom revolucionária dum país com todas as suas conseqüências, mas um movimento ou organizaçom políti-ca totalmente homologável às do sistema vigorante. Um independentismo que nom ponha medo e que inspire “respeito”.

Curiosamente, com muitas destas afirmaçons ou demandas @s comunistas galeg@s poderíamos estar de acordo, mas como em todo a questom está na fo-cagem relativa.

Sabemos perfeitamente que essas vozes que reclamam seriedade e respec-tabilidade estám é a dizer-nos o mesmo com que nos bombardeia o espanholismo quando nos qualifica de “radicais”. Que-rem que o independentismo nom passe de ser umha postura mais da “pluralida-de” política da realidade espanhola, umha postura que atinga a cobertura que atingiu o pinheirismo no seu tempo. Vozes que es-tám a reclamar construir a sua Galaxia, o seu ILG, a sua Real Academia e, porque nom, sentar um par de “sérios e respetá-veis” independentistas numha cadeira do Paço do Hórreo.

Lamentamos pois informar que nom estamos interessad@s neste tema.

Quando nós falamos da nossa von-tade de construir um movimento político sério estamos a referir-nos a que quere-mos construir ferramentas organizativas e políticas que funcionem correctamente de acordo aos objectivos que nos marcamos, nom a que aos dirigentes das organiza-çons da esquerda independentista com-padreiem com os empresários e as forças vivas do País.

Para nós, fugir da marginalidade é simplesmente deixar de ser umha força minoritária e atingir umha ampla base social, nom que se nos abram as portas dos gabinetes universitários e consigamos colocar peças estratégicas em instituiçons e empresas.

E, sobretodo, somos bem conscien-tes de que se a esquerda independentista quer ser respeitada, em especial polos seus inimigos mais directos, deve ser quem de pôr medo. Realmente tem que conseguir causar terror ao capitalismo espanhol.

A nossa atitude é a mesma que a de aqueles que na década de 60 pugérom a andar a nova onda do nacionalismo gale-go. Sabemos que da “torre de marfim” ou da “mesa-camilha” nom se pode mudar nada, e o nosso objectivo é mudá-lo todo.

André Seoane forma parte do Comité Central de

Primeira Linha

melhores. Tempos que so poderiam che-gar se alguém ia procurá-los.

Elitismo e cobardia som pois as ca-racterísticas fundamentais que, do nosso ponto de vista, definem ao pinheirismo e deles derivam-se toda umha série de questons que em maior ou menor grau fôrom ressaltadas por críticos e seguido-res de Dom Ramom como o culturalismo ou o anticomunismo.

Certamente, o pinheirismo nom é mais que a expressom concreta num mo-mento e num lugar determinados dumha outra cousa que tem umha dimensom mais global. O pinheirismo nom passa de ser a expressom galaica dumha forma concreta da ideologia e a praxe da pequena-burgue-sia levada a umha situaçom de incerteza no abalar das tensons sociais. Pinheiro nom fijo mais que formular as soluçons próprias do pensamento pequeno-burguês às condiçons dum país oprimido submeti-do na altura ao pé de ferro do fascismo.

Nessa situaçom concreta a pequena-burguesia galeguista tem em Pinheiro a um guia que oferta um caminho cómodo que a afastará tanto da liquidaçom absolu-ta que provocaria a plena asimilaçom cul-tural, conseguindo-lhe um acubilho como elemento colateral e por veces meramen-te folclórico do sistema establecido, como da vorágine revolucionária do novo na-cionalismo de matriz marxista nascido na década de 60 que guardava no seu seio a

Subsiste o ideário de Ramón Pinheiro na Galiza actual?

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estratégia que parecia nom ter avaliado adequadamente as resistências a esta “galeguizaçom” a partir de dentro por parte de estruturas coma as dos diferen-tes partidos de ámbito espanhol.

Mas, atrás desta dimensom elitista, aparece umha outra característica nom menos importante e ainda mais vergonho-sa: a cobardia.

E arriscamo-nos a qualificar de co-barde a actividade de Pinheiro embora sejamos plenamente conscientes de que mesmo lhe supujo nalgum momento ser vítima da repressom, porque, como bem sabemos, o estabelecimento de avalia-çons absolutas só nos leva a afastarmo-nos da compreensom da realidade quando o que queremos e conhecê-la e avaliá-la. E Pinheiro foi um cobarde se abordarmos a sua praxe numha dimensom relativa.

Assim, a actividade de Pinheiro caracterizou-se por praticar-se em trin-cheiras bem guarnecidas onde rara vez chegavam as balas do inimigo, atitude que nom teria nada de criticável a nom ser pola insuficiência para conseguir avanços se o único que se fai é guardar a posiçom. Mas o realmente cobarde da atitude de Pinheiro foi o de ficar nessa posiçom entrincheirada enquanto muitos outros saíam a campo aberto a comba-ter, para além de criticar abertamente e atacar todo aquele que nom seguia a sua agónica estratégia de aguardar tempos

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4 Nº 54. Outubro, Novembro e Dezembro de 2009opiniom

Na nossa memória recente permanece o recordo do segundo mandato de José Ma-ria Aznar à frente do governo do Estado (o mandato dos famosos 183 deputados, umha maioria certamente esmagadora e nom habi-tual no hemiciclo da metrópole) como umha etapa especialmente difícil no que di respeito às liberdades públicas. A brutal repressom contra o movimento operário e diferentes movimentos sociais, a criminalizaçom e perseguiçom em todas as frentes dos na-cionalismos e até as tentativas de golpismo institucional, como as argalhadas legais para suspender a autonomia basca ou encarcerar o entom Lehendakari Juan José Ibarretxe representam quotas de involuçom democrá-tica dificilmente igualáveis. De qualquer ma-neira, PSOE e PP, em matéria de repressom e contra-insurgência, estám em grandes tra-ços de acordo. Eu poria como exemplo disto três casos que, além do mais, som revelado-res de por onde vam as pautas da política de estado nesta matéria.

Como primeiro exemplo, o caso GAL, um dos cavalos de batalha eleitoral principais de Aznar nas eleiçons que o levárom à Moncloa pola primeira vez, do que se passou página aos poucos dias de tomar posse como pre-sidente o político valhisoletano. Famosa é a frase de Álvarez Cascos sobre a nom re-velaçom de dados que até aquele momento permaneceram no segredo porque “segredo obriga”. A lealdade em questons de estado ficava acima da luita partidária.

Como segundo caso, poderíamos citar a contestadíssima Lei Corcuera, também conhecida naqueles tempos como “a lei do pontapé na porta”. Também o PP aderira naquela altura aos protestos contra essa lei, passando a assumi-la no fundamental umha vez chegados à Moncloa.

desde o franquismo tanta sanha na perse-guiçom e criminalizaçom do mesmo. Fazendo umha retrospectiva desde o mais recente, nom podemos evitar lembrar as muitas cenas de repressom surda e brutal que se dérom no 8 de Fevereiro de 2009 em Compostela, coincidindo com a manifestaçom de Galicia Bilingüe. Cenas que, a meu juízo, representam todas o nível de Estado policial e a política de toleráncia zero com os movimentos sociais do PSOE. Desde a constante que dominou a mani-festaçom ultra de perfeita sintonia do serviço de segurança da manifestaçom com a polícia de choque espanhola, até o eloqüente álbum de fotos que nos deixou a jornada: a malheira em plena rua a um camarada por gritar “na Galiza em galego” (pendentes estamos ainda de saber de que crime é constitutivo o facto de proferir tal palavra de ordem), a detençom de pessoas por cometerem o seica enorme acto vandálico de se disfarçarem de vacas ou o escorrentamento a base de cacetadas de umha repichoca que tocava pasodobles espanhóis. Apesar dos enormes esforços de um autonomismo doente por fazer uso da sua pretensa autoridade moral, cheio de ira pola notoriedade ganha por outras siglas e pesso-as ao terem sofrido a repressom, por catego-rizar entre represaliados, o certo é que qual-quer iniciativa de protesto, protagonizada por quem quer que fosse, tinha o mesmo destino.

Já houvo antecedentes na Corunha de repressom violenta por tentar responder a provocaçons fascistas: as duas grandes de-monstraçons de força da também organiza-çom linguófoba Mesa por la Libertad Lingüís-tica fôrom replicadas com diferentes iniciati-vas por parte de diferentes organizaçons e colectivos. Mas especialmente eloqüente foi o caso da primeira concentraçom da referida organizaçom ultra, contestada espontanea-

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E, como terceiro caso, vamos citar um exemplo em sentido inverso, ainda que nesta ocasiom nom se dê umha diferença de ati-tude no principal partido da oposiçom, umha vez que passa ao poder: falo da Lei de Parti-dos, aprovada com Aznar na presidência do governo da Espanha e ainda vigorante e apli-cada, às vezes com tentativas de “esticar” o seu espírito para alargar ainda mais a lista de atingid@s pola mesma.

Mas neste artigo pretendo analisar o mais tangível no referente à política repres-siva do governo espanhol. Como já demons-tramos, é bastante ingénuo pensar que no fundamental o PSOE se poda diferenciar muito do PP. Em todo o caso, temos avondo material para certificar a forte marcagem policial e judicial que se lhes está a infringir aos movimentos sociais.

Começando polo mais recente, pode-ríamos referir a dura repressom contra as últimas greves do metal no sul do País, sobre a qual há numerosa documentaçom gráfica e testemunhal. O movimento operário tem umha poderosa capacidade mobilizadora que o PSOE bem conhece, já que som várias as greves gerais e os conflitos laborais secto-riais de notável dureza aos quais se tivo que enfrentar durante os seus diferentes man-datos. A repressom é brutal e implacável, porque tem umha finalidade exemplarizante: que aqueles que algum dia se puderem ver ao outro lado da barricada saibam aonde os pode conduzir a aposta em certos meios. Evi-dentemente, os cenários de luita de classes som cenários que estorvam a funçom que qualquer governo social democrata tem na gestom do capitalismo.

Mençom especial mereceria a repressom ao movimento lingüístico-cultural, certamen-te sem precedentes, porque nom se recorda Polícia de choque à caça de trabalhadores do metal em Vigo

maioritária do nacionalismo galego, ligada na sua última etapa ao Partido Galeguista, continuará a sustentar o ideal federalista ou confederal ibérico, cuja concreçom Castelao etiqueta no seu Sempre em Galiza com o nome de ‘Hespaña’, incluindo umha unida-de de tipo federal das naçons submetidas à soberania espanhola mais a posterior con-federaçom com Portugal. Entretanto, a cor-rente minoritária identificada com o jornal A Fouce mostra mais preocupaçom com a re-cuperaçom da integridade territorial galega, mediante a reincorporaçom das comarcas do leste toradas da Galiza por arbitrárias decisons tomadas em Madrid. Rompe, de maneira visionária, com o federalismo iberis-ta, considerando-o um ópio do nacionalismo minimalista face ao verdadeiro desafio que enfrenta a Galiza: a recuperaçom da sobera-nia usurpada por Espanha.

Entretanto, forças republicanas portu-guesas e espanholas, junto a organizaçons anarquistas, manterám ao longo do século XX algumha forma de reivindicaçom iberista nos seus programas, junto à maior parte das organizaçons nacionalistas periféricas. Des-tacam na etapa anterior ao golpe fascista de 1936 dous factos jurídico-políticos significa-tivos da sobrevivência desse ideal no Estado espanhol: por umha parte, o artigo 23 da

Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária

Mau

rício

Cas

tro

O domínio económico espanhol em Portugal é já um facto, apesar do período de crise que enfrenta o capitalismo hispano

o republicano Teófilo Braga, ambos portu-gueses; intelectuais e/ou políticos cataláns como Prat de la Riba, Ignasi Ribera i Rovira, Joan Maragall ou Pi i Margall, com diferen-tes posiçons ideológicas e interpretaçons do que entendiam por iberismo; espanhóis como o político Emilio Castelar ou o escritor e filósofo Miguel de Unamuno.

No caso galego, contamos no século XIX com umha das tendências do galeguismo de orientaçom federalista (frente à tradiciona-lista e à liberal), com o político republicano Aureliano J. Pereiro e escritores como Ma-nuel Leiras Pulpeiro, António Noriega Varela e o editor Andrés Martínez Salazar. Outros, como o liberal Manuel Murguia ou o tradi-cionalista Benito Vicetto, nom ocultavam a sua simpatia por Portugal e a aspiraçom a algum tipo de reencontro. Esse foi, de facto, um tema recorrente em toda a história do nosso nacionalismo, incluída a corrente ar-redista que, nos anos 20 e 30 do século pas-sado, rompeu com qualquer ilusom iberista e proclamou a necessidade de defender a independência da Galiza: um Estado galego.

A primeira vaga federal a que figemos rá-pida referência nas linhas anteriores esmo-receu com o fim de século, tanto no Estado espanhol como em Portugal. Porém, durante a primeira metade do século XX, a corrente

Deixando agora de parte a tradiçom ane-xionista castelhano-espanhola em relaçom a Portugal (que conquistou a independência no século XVII pola força das armas enquanto a Catalunha, País Basco e Galiza ficavam submetidas), o sonho de umha uniom das na-çons ibéricas num único Estado parte já dos séculos XVIII e sobretodo XIX. Conta com te-óricos tanto do lado espanhol, como do por-tuguês, do catalám e do galego, se bem nom sempre com os mesmos objectivos. O iberis-mo espanhol aspira a um engrandecimento de Espanha, inspirando-se nos processos de unificaçom alemám e italiano, reforçando as-sim um projecto histórico de carácter expan-sionista. No caso português, está imbuído de consideraçons sobre arelas de progresso comum aos povos ibéricos. Quanto à Galiza, Catalunha e País Basco, o iberismo, de ca-rácter mais ou menos federalista, costuma fazer parte de um programa de conquista de direitos nacionais e de enfraquecimento do imperialismo espanhol por parte das forças progressistas e republicanas das naçons sem Estado da periferia peninsular. Contodo, também existírom teóricos do iberismo de tradiçom socialista utópica, tradicionalista e até libertária.

Podemos salientar nesse iberismo deci-monónico o socialista Antero de Quintal ou

Se nom tem nada de novo que, periodica-mente, vejamos ressuscitar o velho debate do chamado iberismo, nos últimos anos a hi-pótese tem sido alimentada por um capitalis-mo português mergulhado numha profunda crise e um capital espanhol cada vez mais presente e com mais força no mercado do país vizinho. Isto é assim apesar de também nom ser pequena, neste momento, a crise atravessada pola burguesia dominante es-panhola.

Se em 2006 umha sondagem dava o re-sultado de um terço da populaçom portu-guesa a querer integrar-se na “próspera” Espanha, neste mesmo Verao foi difundido um outro inquérito ainda mais concluden-te, segundo o qual 40% do povo português e 30% do “povo espanhol” queriam essa unificaçom. Desta vez, incluso se ofereceu o dado de que até 50% da populaçom por-tuguesa considera que o ensino do espanhol devia ser “obrigatório” em Portugal e acres-centava-se que 97% achava que a anexaçom por parte de Espanha iria supor um benefí-cio económico para o conjunto da sociedade portuguesa. Um outro terço de portugueses e portuguesas (34%) seria contrário a qual-quer ideia federal em relaçom a Espanha. Quer dizer, umha minoria em relaçom aos 40% favoráveis!

mente por centenas de pessoas; podemos dizer que pola primeira vez na Corunha umha contramanifestaçom quase triplicava em número de assistentes à manifestaçom. Foi umha derrota para o movimento galegófobo, para a qual apenas achárom consolo aplau-dindo as pancadas que a polícia espanhola repartiu entre a concorrência e lançando todo o tipo de insultos nas “Cartas ao Di-rector” dos jornais. Há que dizer que a im-prensa, ainda que nom pudesse em nengum momento ocultar a superioridade numérica d@s que defendíamos o galego, sim tentou a posteriori de colaborar com a repressom, assinalando várias siglas como possíveis ins-tigadoras da contramanifestaçom. Cumpre assinalar também a colaboraçom da Admi-nistraçom local nesta repressom, bem como o assédio policial-administrativo aos centros sociais, como parte de todo isso.

Nom devemos esquecer a despiadada perseguiçom que sofrem os movimentos vicinais, como por exemplo o imenso movi-mento que se configurou em torno da cau-sa contra o porto desportivo de Cangas ou como no caso dos protestos contra as obras do campo de tiro da BRILAT em Ponte Vedra. Há que dizer que, para além das contínuas cargas policiais com pessoas detidas e con-tusionadas, a repressom tenta ser selectiva, também centrando-se nos elementos mais combativos para rapidamente serem identifi-cados com sectores incontrolados, aderidos de maneira “para-quedística” à causa.

Por último, poderíamos assinalar os as-pectos mais “permanentes” dessa repres-som. Na capital do País temos o sintoma mais palpável. Ao ser o centro de decisom da política autonómica, converte-se também no cenário de qualquer manifestaçom que se convocar a nível nacional, ou entom o lugar

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5Nº 54. Outubro, Novembro e Dezembro de 2009 opiniom

A regressom das liberdades públicas sob mandato do PSOE no Estadoa que muitos colectivos transladam as suas reivindicaçons. Isto converte Compostela nu-mha urbe policialmente blindada. Em datas tradicionalmente muito movimentadas nesta cidade, a tensom policial multiplica-se e, como paradigma disso, poderíamos pôr o 25 de Ju-lho, que é Dia da Pátria para todo o nacionalis-mo galego e também dia de numerosos actos institucionais e religiosos. Dous mundos que coexistem e que colidem de quando em vez. O caso é que as cargas policiais, os cortes ar-bitrários de acesso a espaços públicos, os re-gistos, identificaçons e detençons arbitrárias som já umha estampa associada ao 24 e ao 25 de Julho de maneira inevitável.

E contrastando com a muito habitual imagem dos cacetes a espancar as costas e as cabeças de jovens independentistas, ac-tivistas pola língua, vizinhança que protesta contra obras ilegais, público de eventos des-portivos, pecuários que protestam contra a política agrária do Estado, trabalhadores que defendem os seus direitos... está a per-missividade com que o fascismo desabafa cada vez que sai do armário. Nas manifes-taçons linguófobas, os assistentes agredí-rom e provocárom de maneira impune. Mas como summum de intimidaçom e violência fascista, podemos lembrar o acontecido no ano passado com motivo da vitória da selec-çom espanhola absoluta de futebol na euro 2008. Em todas as cidades do Estado, sem excepçom, houvo manifestaçons alentadas mesmo desde os media públicos para exibir os símbolos do império, ocasiom que o fas-cismo aproveitou para “confundir” entre a massa símbolos neonazis ou franquistas e para, abrigados por essa massa, cometer actos vandálicos, agressons e provocaçons impunemente. Podo relatar casos concretos de insultos, ameaças e provocaçons por nom

passa à página 6

Polícia de choque à caça de trabalhadores do metal em Vigo

Constituiçom espanhola da II República in-cluía o direito dos cidadaos portugueses re-sidentes em Espanha à cidadania espanhola, se assim o solicitavam; por outra, o indepen-dentismo catalám incluirá, na proclamaçom da República Catalá em Abril de 1931, por ini-ciativa do presidente catalám Frances Macià, a afirmaçom de um “Estado Catalám integra-do na Federaçom de Repúblicas Ibéricas”.

A existência de arelas iberistas dos lados centralista, periférico e português respon-de a duas concepçons do que se pretendia com esse iberismo. Para Espanha, Portugal é umha regiom irredenta que deve ser rein-tegrada, podendo servir o iberismo de cilada para o que nom passa do mesmo expansio-nismo espanhol de sempre. No caso dos na-cionalismos defensivos peninsulares, o ideal iberista responde à dialéctica entre a von-tade de ser e o medo à ruptura total com a potência imperialista espanhola, através de umha fórmula amical que garanta umha su-posta co-soberania que a história tem mos-trado, até hoje, como ilusom irrealizável. Já a independência política plena, essa sim foi demonstrada como possibilidade real pola mesma existência do Estado português, que na actualidade volta a enfrentar a tentativa assimilacionista espanhola.

Pode-se discutir, naturalmente, a conve-niência ou nom de um modelo de ‘soberania partilhada’ como a que hoje defende o BNG face à mais coerente defesa da soberania nacional plena, defendida polo arredismo desde polo menos a década de vinte do sé-culo passado e hoje, no caso galego, pola minoritária esquerda independentista. No entanto, o debate actual ressuscitado por interesses económicos ligados à potente presença espanhola em Portugal nom tem nada a ver com isso. De facto, nom está em causa a redistribuiçom do poder económico, político e institucional entre as diferentes nacionalidades peninsulares, o que torna o

actual debate num sucedáneo reaccionário das aspiraçons iberistas portuguesas do sé-culo XIX e dos nacionalismos periféricos ao longo do século XX.

Falamos de um sucedáneo reaccionário porque parte unicamente do interesse eco-nómico do capital espanhol, aliado ao subsi-diário português, umha vez que este parece disposto a ceder quotas de soberania em tro-ca das prebendas da burguesia espanhola. Entretanto, nengum partido político formula ainda a disposiçom a umha unidade política ibérica, o que constitui a melhor emenda à validade dos inquéritos que referíamos no início destas linhas.

Em diferentes ocasions, temos nestas mesmas páginas analisado as quiméricas pretensons do nacionalismo galego conver-tido em autonomista, quando propom umha mudança no aparelho de poder espanhol que ceda umha soberania compartilhada com as burguesias territoriais periféricas. Porém, o debate sobre o iberismo que promovem personagens como o luso-espanhol José Sa-ramago e também reaccionários escritores espanhóis como Arturo Pérez Reverte ou Arcadi Espada, nada tenhem de progressista nem de igualitário. Defendem abertamente que Portugal se converta na autonomia nú-mero 18 de Espanha, e seu idioma numha das línguas “cooficiais” espanholas.

Som agentes económicos como o Grupo Prisa, institucionais como o actual presiden-te direitista português Aníbal Cavaco Silva e, em definitivo, o grande capital de ambos estados os que estám a promover um debate “espontáneo” em que, através de estudos de campo periódicos, transmitem um supos-tamente crescente apoio português à ideia da Grande Espanha, acompanhando os seus resultados de dados estonteantes sobre o grande potencial territorial, demográfico e

se unirem à “festa” geral e obrigatória. Aí, nem houvo especiais medidas de segurança nem represálias, nem julgamentos em chave sumaríssima. Pode dizer-se que essa foi a última manifestaçom de fascismo desboca-do, só superada provavelmente por algumha manifestaçom convocada polo Ministério es-panhol do Interior, dessas às quais se cheira a intencionalidade de caçaria a milhares de quilómetros. Ainda que haja outros exemplos mais recentes fora da Galiza: por exemplo quando poucos dias depois do assassinato do antifascista Carlos Palomino, o Governo espanhol seguia autorizando manifestaçons da extrema-direita e proibia manifestaçons de grupos de esquerda.

Evidentemente pretende-se a invisibili-zaçom daquelas correntes e colectivos que pugerem a ordem vigorante em causa a par-tir da esquerda. Provavelmente com a que-bra do capitalismo a social-democracia ache mais motivos para temer a mobilizaçom da esquerda. Por isso há que criar um clima de rejeitamento da mobilizaçom popular como meio de participaçom na vida sociopolítica do País. Essa crise do capitalismo vai acen-tuar as contradiçons e essa agudizaçom das contradiçons pode levar por diante o PSOE como projecto político e também pode varrer o mesmo projecto nacional em que nasceu e cresceu: Espanha. Um projecto nacional que apenas se explica como enquadramento no qual se defendem os interesses de umha determinada oligarquia fortificada na me-trópole e que, na hora de defender os seus símbolos, apenas pode achar como aliada a extrema-direita nas suas mais marginais e variadas expressons.

Ramiro Vidal Alvarinho forma parte da Direcçom

Nacional de NÓS-UP

O domínio económico espanhol em Portugal é já um facto, apesar do período de crise que enfrenta o capitalismo hispano

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económico que essa nova potência teria no palco internacional do século XXI.

Voltam as reflexons “objectivas” so-bre a inviabilidade das naçons pequenas, salienta-se o aumento da influência da unidade política resultante no ámbito da Uniom Europeia... na verdade, trata-se de argumentos favoráveis à classe dominan-te espanhola, que graças ao alargamento do seu mercado “nacional” a Portugal e à usurpaçom da sua representatividade terá efectivamente maior poder como força sub-imperialista europeia face aos restan-tes estados embarcados na mesma aven-tura mercantilista que gostam de chamar “europeísta”. Tal como as burguesias ga-lega, basca e catalá fôrom historicamen-te cooptadas (em diferente medida) pola força militar e económica espanhola, todo indica que agora a burguesia portuguesa está em disposiçom de iniciar um proces-so de aproximaçom do poder espanhol re-correndo ao mito iberista.

Podemos estar, afinal, diante de umha segunda transiçom que, em lugar de abor-dar o reconhecimento das naçons sem Estado como a Galiza, pretende reforçar o Estado espanhol com a conquista de um novo território, o que romperia umha tendência que está a fazer com que Espa-nha nom deixe de perder territórios des-de o século XIX, aquando dos primeiros processos de independência das colónias americanas.

O domínio económico espanhol em Portugal é já um facto, apesar do perío-do de crise que enfrenta o capitalismo hispano. Toca é avançar na parte jurídica-institucional do processo, daí a moda de um debate tam tendenciosamente dirigido por meios de comunicaçom de capital es-panhol ou afins ao mesmo, dado o fascínio que os capitalistas espanhóis conseguírom transmitir na classe dirigente portuguesa, ainda mais subsidiária do que a espanhola em relaçom a poderes e factores externos ao próprio mercado nacional.

A ninguém mais do que ao povo gale-go convém um incremento nas relaçons

Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária

Gaita ArmadaCompostela,

Estaleiro do Som, 2009

C o i n -cidindo com

o Dia da Pátria deste ano, acabou de ser apresen-

tada umha compilaçom musical q u e , sob o título de Gaita Armada, quer re-colher umha parte da música que o nosso povo foi criando (ou adoptando, como no caso das composi-çons portuguesas) para animar festas e trabalhos e dar aços nos combates.

Gaita Armada, que de maneira explícita reco-lhe a herança do disco Guitarra Armada (editado no contexto da luita sandinista na Nicarágua), com-pom-se de duas partes. A primeira delas (Gaita) recolhe composiçons populares ou de inspiraçom popular. A segunda (Armada) reúne temas mais relacionados com a luita nacional e popular e que fam parte do imaginário de geraçons de militan-tes nacionalistas, desde Sementeira dos primeiros Fuxan os Ventos até o Grândola do Zeca Afonso, passando por cantoras e cantores como Maria Ma-nuela ou Suso Baamonde. Também podemos en-contrar peças bem curiosas e menos conhecidas, como a versom do poema Em pé! de Ramom Caba-nilhas feita por Juan Pardo na década de setenta.

Um outro aspecto que cumpre destacarmos é o da informaçom que acompanha cada peça musical, explicando o seu contexto, e que supom um trabalho que vai muito além de umha simples compilaçom de temas mais ou menos conhecidos. Também a apresentaçom desta compilaçom é des-tacável pola sua originalidade e feitura artesanal.

Animamos todos e todas a conhecê-lo mais a fundo e, como da própria editora nos convidam, a copiá-lo, difundi-lo, cortá-lo e colá-lo, fotocopiá-lo ou pirateá-lo. Mas sobretodo a seguir cantando estas e outras cançons que fam parte da nossa identidade colectiva e que nos convidam a conti-nuarmos semeando, erguendo a esperança, face a liberdade. (Anjo Torres Cortiço)

Guilherme da Fonseca-StatterOs erros de Marx e as asneiras dos outrosEdições Zéfiro, Sintra 2009, 259 páginas

De uns anos a esta parte, o sistema capita-lista está a viver, mália às aparências poderem ser outras, umha longa crise de estagnaçom (as estatísticas do crescimento nas últimas décadas som muito claras e nom atribuíveis à conjuntu-ra). Tampouco é certa a filosofía neoliberal de “menos Estado, melhor Estado”, pois o desen-volvimento imperialista está a ser orquestrado polos estados nacionais – o senso autêntico de

tal máxima bem poderia ser: menos Estado do povo e melhor Estado para a burguesia - . Os factos, como diria Lenine, som teimosos e indicam que o siste-ma prevalecente, no qual estamos, fijo rebentar a maior bolha especulativa, ao passo que muitos economistas (ou haveria que dizer “ideólogos do capital”?) que pouco há estavam calados, andam a declarar agora que estamos na maior crise desde 1929. E vai ser que Karl Marx, esse profeta maldito, ja tinha aler-tado disso, e de maneira exaustiva.

Agora que este sistema de ámbito planetário lança na miséria mais mi-lhons de pessoas as palavras de O Capital estám mais vivas que nunca e há que tirar o livro do “caixote do lixo”.

E também convém recordar que O Capital é um estudo meticuloso do fun-cionamento do sistema capitalista e fala muito pouco de socialismo. Marx tem pouco de utópico e muito de etnógrafo do liberalismo e as suas exposiçons sobre como viviam as classes operárias, como eram tratados os nenos, as condiçons de habitaçom, et cetera, fam com que as obras de Émile Zola ou de Charles Di-ckens quase semelhem romances cor-de-rosa. Os que querem, sem o conhecer, enterrar a sua crítica da economia política no século em que viveu, descobrirám com surpresa, sempre que estejam dispostos a analisar o que desconhecem, a pertinência das suas teses sobre o industrialismo, também hoje.

O livro está dividido em três partes: umha primeira em que se debate sobre a ciência, a filosofia da história, as contradiçons do capitalismo e como deturpar Marx (umha caste de apresentaçom esquemática do pano de fundo); umha segunda em que se fai inventário das ideias que é usual atribuir-lhe, por mais que muitas delas sejam retomadas de autores anteriores, e também um exame de alguns dos eventuais ou alegados erros e profecias que com freqüencia se lhe imputam (assim o problema do determinismo, o Estado como instrumento de coerçom, as luitas de classes, a questom das revoluçons ou, o tema fulcral, a determinaçom do valor); e umha terceira dedicada às asneiras dos outros: a conversom dos valores em preços, um modelo universal de evo-luçom da História, a queda tendencial da taxa de lucro...

Um livro, em conclusom, que reabilita a actualidade de Marx e, de modo especial, de O Capital. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Héitor Picallo FuentesXohán Xesús González: un precursos do soberanismo galegoEdicións Laiovento, Bertami-rans 2008. 256 páginas

Da mesma terra natal que Xohán Xesús Gonzalez (Cuntis, 9/11/1895), Héitor Picallo, o autor, fornece com o seu trabalho à recupera-çom da Memória do genocí-

dio galego e da história política e cultural de Galiza do século vinte, de um achado de grande valor, a biografia de um homem chave na história do soberanismo galego, um independentista convicto: “Nom me importam os vo-tos.... para manter em pé esta ideia nacionalista galega que eu defendo sem mais aspiraçons que acadar, com os bons e generosos, umha independência completa da nos-sa terra...”. No livro fica presente a paixom que impulsou a X. X. González a ser precursor independentista no meio de muitas dificuldades. Mestre, dramaturgo, jornalista, advogado, novelista... fundador com outros da Asociación de Escritores de Galiza e organizador do Terço de Calo em 1936, vítima da barbárie fascista: capturado e fusila-do no cimetério de Boisaca.

Activista político e cultural, precursor da restituiçom de valores com traduçom essencialmente política e em grande parte da recuperaçom de valores transformado-res da sociedade do seu tempo, e da recuperaçom da consciência social, de povo: “Os países que hoje ainda formam docilmente a triste realidade da Espanha unitária sentem a tirania como imposta por umha potência es-trangeira, qual é o Estado centralista espanhol...”. Héitor Picallo descobre-nos o compromisso de um homem, que a partir da esquerda marxista, vivera naturalmente a ne-cessidade e a construçom do nacionalismo com traduçom conseqüentemente política dos direitos do povo galego. Um grande contributo que vem esclarecer de umha ma-neira radical a história de um tempo ofuscado. Um antído-to contra nostálgicos das cousas e das histórias que nom fôrom e contra a ideia funesta e funerária da memória do genocídio galego, diluído interessadamente na história da chamada “guerra civil”. (Xavier Moreda)

LIVROS WEB

http://www.abpnoticias.com/

A Agencia Bolivariana de Prensa (ABP) é um portal infor-mativo que tem como objectivo integrar as luitas dos povos da América Latina num meio de co-municaçom alternativo e ao ser-viço da libertaçom do continente. A perspectiva globalizadora das luitas vê-se logo na presença de informaçons sobre todos os países americanos e nom só. O processo revolucionário colom-biano, as agressons imperialistas contra esse e os restantes povos, o acompanhamento da resistência hondurenha ao golpe oligárquico-militar, a dialéctica do desenvolvi-mento revolucionário na Venezue-la e na Bolívia... Todas as iniciati-vas populares pola emancipaçom do continente estám presentes dia a dia no site da ABP.

Além do dito, também a Eu-ropa e, concretamente, a Galiza, estám presentes no portal, que in-forma das iniciativas políticas da nossa esquerda independentista e anticapitalista, bem como das campanhas solidárias do Capítulo Galego da Coordenadora Conti-nental Bolivariana (CCB).

Em defintivo, a ABP é já umha referência imprescindível para o conhecimento da luita so-cial e política na América Latina, o continente que constitui, na actualidade, o principal palco do combate pola revoluçom mundial.

As quatro principais figuras institucionais actuais dos regimes espanhol e português: Sócrates, Cavaco, Juan Carlos I e Zapatero

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de todo o tipo com o vizinho Portugal, um país nascido de um pedaço de nós. O seu povo mantivo a nossa língua viva e tornou-na oficial, ao ponto de permitir que o imperialismo português a levasse a nu-merosos lugares do mundo, num proces-so colonizador paralelo ao protagonizado polo expansionismo castelhano-espanhol. Hoje, quando o Estado espanhol enfrenta graves problemas de fundo na Catalunha e no País Basco, onde os projectos inde-pendentistas crescem e só som sufocados

com medidas repressivas, a Galiza precisa de reforçar o seu sentimento colectivo de naçom, para o qual contribuirá o enfra-quecimento do poderoso vizinho do leste. Nessa estratégia, um Portugal soberano e nom intimidado por Espanha poderá vir a ser um aliado directo da Galiza no objecti-vo comum de enfraquecer o nacionalismo expansionário espanhol.

Porém, julgar que servirá a esse objectivo a adesom à moda iberista fo-mentada por certa “progressia” do sis-

vres, nom apenas da Península Ibérica, mas também do continente europeu e do mundo, no quadro de um novo sistema mundial nom subordinado ao lucro, nem ao domínio político e económico. Um novo sistema mundial que respeite o direito à diferença como melhor garantia da uniom voluntária de todos os povos do mundo: o socialismo.

Maurício Castro forma parte do Comité Central

de Primeira Linha

tema financiada polos grandes poderes económicos espanhóis e portugueses, únicos interessados objectivamente no projecto, é umha ingenuidade no melhor dos casos. A igualdade nacional na Penín-sula Ibérica só poderá chegar da derro-ta histórica do supremacismo espanhol, que dê passagem a um reordenamento partindo da independência de todos os povos peninsulares. Só a partir daí é que poderá abrir-se a possibilidade de umha posterior unidade voluntária de povos li-

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ser mais eficazes nesse propósitoA CCB tem sido coordenaçom de par-

tes, de capítulos nacionais e dos compo-nentes dentro de esses capítulos.

O Movimento procurará que a diver-sidade se exprima numha torrente mais coesionada e coerenciada como já dixem, mais compacto, mais continentalmente conduzido.

No Movimento o conjunto predomina-rá mais sobre as partes e os seus com-ponentes provenientes da Coordenadora e/ou incorporados a raíz do próximo Con-gresso Constitutivo e no seu devir.

O Movimento reforçará as caracterís-ticas político-social e político-cultural da sua composiçom e as suas definiçons.

Nele deverá predominar a democra-cia que emana dos consensos produ-zidos polos seus diversos componen-

tes nacionais, sociais, cultu-rais, lideratos sociais

América La-tina e as Caraíbas som cenários de umha “primavera democrática” a partir da vaga transformadora que desde fi-nais do século XX -e no que vai do século XXI- tem percorrido o Sul e o centro do continente.

A dialéctica reformas-contrarrefor-mas e revoluçom-contrarrevoluçom estám presentes em nom poucos países da área submetidos à impronta capitalista-neoli-beral hoje em franca decadência.

Os processos de mudanças tenhem diferentes profundidades e alcance. Um evidencia vocaçom revolucionária e outros vem-se freados polo peso reformista no interior dos mesmos.

Reformas face a mudança revolucio-nária e reformas funcionais na ordem do-minante coabitam nesses processos, que como um todo tenhem enfraquecido o do-mínio tradicional dos EUA, as oligarquias e as partidocracias corrompidas nesta regiom.

A resposta ao neoliberalismo par par-te dos povos tem sido densa e crescente em toda a regiom, ao ponto de situar a nossa América à vanguarda da luita contra a globalizaçom do neoliberalismo.

Da resistência passou-se à ofensiva e a ofensiva produziu resultados concretos plasmados em processos tam avançados como os da Venezuela, Equador e a Bolí-via e outros governos e situaçons desfa-voráveis à hegemonia estado-unidense e os poderes oligárquicos; vigente ainda o tránsito revolucionário de orientaçom an-ticapitalista em Cuba.

Essa tendência crescente determinou a concertaçom de umha grande conjura contra esses avanços e a perspectiva da sua expansom.

A contraofensiva iniciu-se com o golpe de Estado nas Honduras.

Continuou com a instalaçom de cinco novas bases militares estado-unidenses o relançamento do Plano Colômbia.

Retomou com novo sopro a sediçom desestabilizadora contra os processos face a Revoluçom na Venezuela, Equador e a Bolívia.

Propujo-se fazer da Colômbia umha espécie de Israel da América, com pla-taforma de sete bases militares estado-unidenses, que junto à proximidade da IV Frota Naval, aponta face a conquista mili-tar da Amazonia.

E está a fraguar um outro golpe mi-litar no Paraguai, país em condiçons pa-recidas com as das Honduras antes do despregamento golpista.

Neste contexto, aprofunda-se a ne-cessidade de vertebrar mais e melhor a esquerda política, social e cultural do continente, em especial a esquerda anti-imperialista e anticapitalista. A que tem entre as suas metas nom só dar seiva popular aos governos progressistas e às iniciativas integradoras tipo ALBA, PETRO-AMÉRICA, PETROCARIBE…, com além disso quer potencializar o sujeito popular e continentalizar o seu agir a fim de con-trarrestar a estratégia de dominaçom dos EUA.

A contraofensiva exige fortalecer a

e políticos, científicos e

intelectuais… sob umha direcçom central que a

respeite e assuma a conduçom em termos continentais e interna-

cionais.O projecto Pátria Grande Liberta-

da será ainda mais dominante.Os partidos conhecidos som de cir-

cunscripçom nacional, expressons polí-ticas classistas (boas e mas, revolucio-nárias e reaccionárias), em nom poucos casos organicamente separadas dos mo-vimentos e organizaçons sociais e cultu-rais. O nosso movimento será continental e mais alá, e à vez político-social e pluri-cultural.

Os partidos do sistema, de resto, som forças cada vez mais privatizadas, seqües-tradas por partidocracias corruptas, gran-des empresários e grupos mafiosos. Nada que ver terá o nosso com essa deriva, mas todo o contrário.

É um grande desafio porque vai mui-to além dos ensaios deste tipo dentro das fronteiras nacionais, para propor umha construçom transnacional, trans-continental.

O propósito é ambicioso e apenas começa esta nova experiência. A vida ensinará-nos, em permanente provas de-rivadas dos erros e os acertos, a ajustar e corrigir rumo, a avançar persistentemente con a ideia de fazer posível o aparente-mente imposivel mas absolutamente ne-cessário.

Narciso Isa Conde é dirigente da esquerda revo-

lucionária dominicana e forma parte da Presi-

dência Colectiva da CCB

umha crise de governa-bilidade ao regime golpista e conformar um movimento político-social alternativo que nom existia.

Só o défice na acumulaçom de forças militares alternativas e a coesom das for-ças militares golpistas tem podido impedir a viragem.

A crise tem-se prolongado até forçar um pacto mediatizado, que singelamente poderia dar-lhe umha saída o conflito para plantejar a confrontaçom noutro nível e

contraparti-da popular-revo-lucionária.

O processo necessita ser pensado cada vez mais em termos continentais e nom só em funçom das políticas progressistas e integradoras dos governos que em dife-rentes graus se tenhem independizado dos desígnios de Washington, mas fundamentalmente em relaçom com a insubmissom dos povos e sujeitos explorados, oprimidos, excluídos ou discriminados.

A Coordenadora Continental Bolivariana tem acumulado umha importante experiência de articula-çom de diversidades revolucionárias e tem ensaiado formas de coordenaçom dos diversos capítulos nacionais que logrou conformar, incluídas as brigadas interna-cionalistas criadas noutros continentes, como é o caso do seu capítulo galego.

Apesar dos duros ataques recebidos, perduramos e crescemos. Além de con-siderar importantes mas insuficientes os graus de articulaçom e acçom já atingidos, sentimo-nos compelidos a avançar peran-te os desafios que coloca a nova contra-ofensiva imperial.

A coordenaçom de capítulos -com for-te acento nos espaços nacionais e com in-suficiências na internacionalizaçom e con-tinentalizaçom das acçons e propostas- deve ser superada em sentido ascendente por umha dinámica mais coerente e umha estrutura mais ágil, em que consciente-mente, sobre a base das coincidências nos eixos programáticos e de acçom consen-sualizados, as partes se subordinem mais ao todo continental e extra-continental, assumindo a forma de movimento e dando primacia às acçons transnacionais que ba-tam mais contudentemente na estratégia e a contra-ofensiva imperialista.

Por isso é o do passo de CCB a movi-mento, por isso o do Congresso Constitu-tivo do Movimento Continental Bolivariano em Dezembro em Caracas.

Isso é o que se espera de esse con-gresso que já conta com mais de 700 de-legados e delegadas de 25 países e mais de dous mil participantes em iniciativas conexas.

Além disso, tem programado aprofun-dar a análise de temas cruciais e desenhar um plano de acçom consoante o que exige esse avanço em qualidade e quantidade de um espaço definidamente revolucio-nário como será o MCB, o fantasma de Bolívar percorre o continente estimulado o avanço face um novo Ayacucho, esta vez chamado a derrotar a recolonizaçom neo-liberal e abrir caminho à nova democracia e ao novo socialismo.

A contra-ofensiva imperialista tem encontrado obstáculos maiores nas Hon-duras. O suposto “elo fraco” véu a ser um osso duro de roer.

A resistência do povo hondurenho tem sido formidável e tem possibilitado criar

outros cenários.Igual pinta qualquer

fórmula golpista, pseudo-institu-cional ou nom, em outros países. É muito difícil que nom concite umha reacçom popular de alto nível.

No centro da onda transforma-dora, mais alá dos contributos mais

ou menos avançados nos governos, está a impugnaçom popular aos poderes reaccionários existen-tes. E isso motiva a sua resistên-

cia frente a qualquer tentativa de ocultar o conquistado à custa de eles.A contra-ofensiva imperialista tem

esse grande obstáculo mas necessita mais do que umha resposta ao interior das sociedades vítimas dela e mais que iniciativas intergovernamentais da cadeia dos governos progressistas.

A continentalizaçom das luitas a par-tir das bases populares contra todos os componentes dessa contraofensiva é um imperativo no contexto desta situaçom.

Com o passo de CCB a MCB queremos

intErnacional

Contra-ofensiva imperialista e resposta dos povos da nossa América

Narc

iso

Isa

Cond

e

Page 8: Abrente numero 54

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.orgConselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 15 de Novembro de 2009Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.

Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Nom podemos fazer-nos nengumha ilusom de lograr a liberdade sem combater

Coincidindo com o 42 aniversário do assassinato do Che, a 9 de Outubro, publicamos umha selecçom da “Men-sagem aos povos do mundo através da Tricontinental”. É a modesta homenagem de Primeira Linha a um dos mais destacados combatentes e vigentes teóricos comunistas.

Este manifesto foi difundido em Abril de 1967 embora fosse escrito antes da sua partida para a Bolívia em Novembro de 1966.

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“Há que levar em conta que o imperialismo é um sistema mundial, última etapa do capitalismo, e há que batê-lo numha grande confrontaçom mundial. A finalidade estratégica desta luita deve ser a destruiçom do imperialismo. A participaçom que nos toca a nós, explorados e atrasados do mundo, é a de eliminar as bases de sustentaçom do imperialismo: os nossos povos oprimidos, donde extraem

capitais, materias-primas, técnicos e operários baratos e aonde exportam novos capitais -instrumentos de dominaçom-, armas e toda a classe de artigos, sumindo-nos numha dependência absoluta. O

elemendo fundamental dessa finalidade estratégica será, portanto, a libertaçom real dos povos: libertaçom que se produzirá através da luita armada, na maioria dos casos”.

“E se todos fôssemos capazes de unir-nos, para que os nossos golpes fossem mais

sólidos e certos, para que a ajuda de todo o tipo aos

povos em luita fosse ainda mais efectiva,

que grande seria o futuro, e que

próximo!”

“Poderá ser ou nom o momento actual o indicado para iniciar a luita, mas nom podemos criar nengumha ilusom, nem temos direito a isso, de lograr a liberdade sem combater. E os combatentes nom serám meras luitas nas ruas de pedras contra gases lacrimogénios, nem de greves gerais pacíficas; nem será a luita dum povo enfurecido que destrói em dous ou três

dias a estrutura repressiva das oligarquias governantes; será um luita longa, cruenta, que terá a sua frente nos refúgios guerrilheiros, nas cidades, nas casas dos combatentes -onde a repressom irá à procura de vítimas fáceis entre os seus familiares- na populaçom camponesa

massacrada, ou nas aldeias e cidades destruídas polo bombardeamento inimigo.Empurram-nos para essa luita; nom há mais remédio que prepará-la e decidir-se a

empreendê-la”.

“O ódio como factor

de luita: o ódio intransigente ao

inimigo, que

impulsiona mais

além das limitaçons

naturais do ser humano

e o converte numha efectiva,

violenta, selectiva e fria

máquina de matar. Os nossos

soldados tenhem que ser assim; um povo sem ódio

nom pode triunfar sobre um inimigo brutal”.

“Toda a nossa acçom é um berro de guerra contra o imperialismo e um clamor pola unidade dos povos contra o grande inimigo do género humano: os Estados

unidos da América do Norte. Em qualquer lugar que nos surpreender a morte, bem-vinda seja, sempre que esse, o nosso berro de guerra, tenha chegado até um ouvido

receptivo e outra mao se tenda para pegar nas nossas armas, e outros homens se aprontem para entoar os cantos lutuosos com rajadas de metralhadoras e novos

berros de guerra e vitória”.

“Como poderíamos olhar o futuro de luminoso e próximo, se dous, três, muitos Viet-Nam florescessem na superfície do globo, com a sua quota de morte e as suas tragédias

imensas, com o seu heroísmo quotidiano, os seus golpes repetidos ao imperialismo, com a obrigaçons que entranha para este dispersar as suas forças, sob o embate do ódio crescente

dos povos do mundo!”