Abrente numero 55

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XV • Nº 55 • Segunda jeira • Janeiro, Fevereiro e Março de 2010 Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega Sumário Editorial 3 A economia ortodoxa como ideologia Domingos Antom Garcia Fernandes 4 Crise mundial e emancipaçom da periferia Desligaçons ilusórias, ligaçons libertadoras Jorge Beinstein 5-6 Somos e queremos ser assim Carlos Morais 7 Porto Rico, colónia em dous tempos Salvador Tió O governo da Junta presidido por Alberte Nuñez Feijó tem atingido nos seus primeiros meses o discutível mérito de levar avante a linha política mais agressi- va contra o nosso idioma nacional desde o começo da etapa autonómica. Umha linha política que foi anunciada desde o momento em que o anterior governo tomou a iniciativa de pôr em andamento tímidas e isoladas medidas que se afastavam do que vinha sendo a praxe habitual dos diferentes gestores que passaram por Sam Caetano a respeito das políticas de normalizaçom lingüística. Bastou apenas com que o bipartido propugesse ideias como a das Galescolas ou pugesse um mínimo de ênfase em fazer cumprir umha tímida legislaçom sobre o galego para que a reacçom por parte do PP fosse a de denunciar a “imposiçom” do idioma, calcando no nosso país o discurso já habitual para se referir a este tema na Catalunha. Ao longo dos últimos meses do governo do bipartido, a questom lingüística converteu-se no fetiche da labor política de oposiçom do PP. Um fetiche que era agitado polas mais diversas tribunas públicas numha das mais amplas manobras de manipulaçom propagandística que recorda o nosso país, e que contou com o inestimável apoio da caverna mediática espanhola. Deste jeito, a organizaçom do PP na Galiza adoptou como próprias as agen- das e dinámicas marcadas polo aparelho propagandístico da direita espanhola ra- dicado em Madrid, rompendo assim com umha tendência prévia baseada numha certa singularidade da posiçom que este partido desenvolvia no país a respeito da linha marcada a partir de Génova. Este pregamento aos desenhos dos think-tanks da direita madrilena repercu- tiu na forma em que a polémica lingüística adoptou na cena mediática uns termos de realidade invertida durante os últimos anos do bipartido. Agora que já temos umha certa perspectiva, nom resulta difícil avaliar como por parte do PP e o seu aparelho mediático se promoveu a referencialidade públi- ca dumha entidade como Galicia Bilingüe, constituída às pressas partindo de um reduzido feixe de minúsculas entidades da extrema-direita social. Esta organizaçom, inexistente há três anos, passou de um dia para outro de ser umha anedota sociopolítica a receber o tratamento público dumha entidade referencial, embora fosse evidente que o seu discurso estava prenhado de meias verdades e mentiras inteiras. Assim, a campanha levada avante por esta orga- nizaçom, que acabou na “tumultuosa” mobilizaçom de 8 de Fevereiro de 2009, marcou em boa medida o discurso sobre o idioma com que o PP focou a campanha eleitoral prévia às eleiçons de 1 de Março. Porém o resultado das eleiçons autonómicas foi surpresivo para todos. Tanto para o PSOE e o BNG que nom contavam com a derrota, como para o PP que também nom confiava na sua vitória e em boa medida nom avaliara os riscos da campanha de intoxicaçom sobre o idioma que pugera em andamento. Deste jeito a anunciada política lingüística do novo governo recebeu a sua contestaçom na rua já às poucas semanas dos comícios. Na Galiza só galego

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Jornal comunista de debate e formacom ideologica para promover a Independencia Nacional e a Revolucom Galega

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Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano XV • Nº 55 • Segunda jeira • Janeiro, Fevereiro e Março de 2010

J o r n a l c o m u n i s t a d e d e b a t e e f o r m a ç o m i d e o l ó g i c a p a r a p r o m o v e r a I n d e p e n d ê n c i a N a c i o n a l e a R e v o l u ç o m S o c i a l i s t a g a l e g a

Sumário

Editorial

3 A economia ortodoxa como ideologiaDomingos Antom Garcia Fernandes

4 Crise mundial e emancipaçom da periferia

Desligaçons ilusórias, ligaçons libertadorasJorge Beinstein

5-6 Somos e queremos ser assimCarlos Morais

7 Porto Rico, colónia em dous temposSalvador Tió

O governo da Junta presidido por Alberte Nuñez Feijó tem atingido nos seus primeiros meses o discutível mérito de levar avante a linha política mais agressi-va contra o nosso idioma nacional desde o começo da etapa autonómica.

Umha linha política que foi anunciada desde o momento em que o anterior governo tomou a iniciativa de pôr em andamento tímidas e isoladas medidas que se afastavam do que vinha sendo a praxe habitual dos diferentes gestores que passaram por Sam Caetano a respeito das políticas de normalizaçom lingüística. Bastou apenas com que o bipartido propugesse ideias como a das Galescolas ou pugesse um mínimo de ênfase em fazer cumprir umha tímida legislaçom sobre o galego para que a reacçom por parte do PP fosse a de denunciar a “imposiçom” do idioma, calcando no nosso país o discurso já habitual para se referir a este tema na Catalunha.

Ao longo dos últimos meses do governo do bipartido, a questom lingüística converteu-se no fetiche da labor política de oposiçom do PP. Um fetiche que era agitado polas mais diversas tribunas públicas numha das mais amplas manobras de manipulaçom propagandística que recorda o nosso país, e que contou com o inestimável apoio da caverna mediática espanhola.

Deste jeito, a organizaçom do PP na Galiza adoptou como próprias as agen-das e dinámicas marcadas polo aparelho propagandístico da direita espanhola ra-dicado em Madrid, rompendo assim com umha tendência prévia baseada numha certa singularidade da posiçom que este partido desenvolvia no país a respeito da linha marcada a partir de Génova.

Este pregamento aos desenhos dos think-tanks da direita madrilena repercu-tiu na forma em que a polémica lingüística adoptou na cena mediática uns termos de realidade invertida durante os últimos anos do bipartido.

Agora que já temos umha certa perspectiva, nom resulta difícil avaliar como por parte do PP e o seu aparelho mediático se promoveu a referencialidade públi-ca dumha entidade como Galicia Bilingüe, constituída às pressas partindo de um reduzido feixe de minúsculas entidades da extrema-direita social.

Esta organizaçom, inexistente há três anos, passou de um dia para outro de ser umha anedota sociopolítica a receber o tratamento público dumha entidade referencial, embora fosse evidente que o seu discurso estava prenhado de meias verdades e mentiras inteiras. Assim, a campanha levada avante por esta orga-nizaçom, que acabou na “tumultuosa” mobilizaçom de 8 de Fevereiro de 2009, marcou em boa medida o discurso sobre o idioma com que o PP focou a campanha eleitoral prévia às eleiçons de 1 de Março.

Porém o resultado das eleiçons autonómicas foi surpresivo para todos. Tanto para o PSOE e o BNG que nom contavam com a derrota, como para o PP que também nom confiava na sua vitória e em boa medida nom avaliara os riscos da campanha de intoxicaçom sobre o idioma que pugera em andamento. Deste jeito a anunciada política lingüística do novo governo recebeu a sua contestaçom na rua já às poucas semanas dos comícios.

Na Galiza só galego

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Nº 55. Janeiro, Fevereiro e Março de 20102

Milhares fomos os que no 17 de Maio manifestamos em Compostela que nom estávamos dispost@s a tolerar a tentativa de acelerar a aniquilaçom do nosso idio-ma, milhares voltamos ser no 18 de Ou-tubro e mais umha vez no 21 de Janeiro.

A prepotência do PP autonómico, e em especial do sector mais ligado à estrutura central deste partido, topou de trombas com um amplíssimo movimento social que nom está disposto a ceder nos insuficien-tes avanços legais que se atingírom nos 30 anos de autonomia, e parece que já iniciou as manobras destinadas a atenuar a sua agressividade e conseguir voltar ao “con-senso lingüístico” da época Fraga.

Mas a unidade atingida na rua entre os diversos sectores que nos opomos à ofensiva espanholista liderada polo PP nom nos pode levar a confusons. Tam-bém neste caso, como em tantos outros, o fantasma do “unitarismo” pode ser um entrave para conseguir um avanço nas posiçons e no programa da esquerda in-dependentista.

Devemos lembrar em todo o momento que a plataforma Queremos Galego, con-vocante das diversas mobilizaçons contra o novo decreto, está a demandar-se a vol-ta à anterior normativa legal, que estabe-lecia um mínimo de 50% para a docência em galego, e nom a oficialidade única do nosso idioma, tal como propomos as or-ganizaçons da esquerda independentista, em sintonia com o programa histórico do nacionalismo galego.

Para a esquerda independentista, as

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proclamas de Calhom som insuficientes e suponhem um retrocesso inassumível no processo de normalizaçom lingüística.

Porém, somos sabedores de que, com esse discurso o BNG nom pretende atrair para as suas teses os elementos mais conscientes e comprometidos com a defesa do idioma, e sim todo o contrário. O alvo que busca o autonomismo é o de reforçar a sua aliança estratégica com o PSOE para afrontar um possível retorno às cadeiras de Sam Caetano.

Curiosa forma esta de defender o idioma quando se prefire ir da mao do par-tido de Paco Vasques, e do seu sucessor Xavier Losada, que da esquerda indepen-dentista ou do movimento cultural reinte-gracionista.

Assim, nom devemos surpreender-nos que de aqui a uns meses os mesmos que pugérom a conflituosidade à volta da questom lingüística na rua tentem levá-la de novo aos gabinetes e salons das instituiçons governativas, espaços muito mais acaídos para atingir compo-nendas e “construir consensos”. Polo que se pode extrair do publicado na imprensa, essa é a vontade do PP e do PSOE, o que provocará que o BNG vaia detrás de contado.

Diante dessa tessitura, as organi-zaçons, colectivos e pessoas que neste país temos umha real preocupaçom pola situaçom do nosso idioma, e nom con-seguimos ter preferência entre a morte rápida que oferece o PP ou a lenta agonia que supom a via do consenso que na ac-

tualidade assumem PSOE e BNG, temos a obrigaçom de continuar activos na luita pola consecuçom do objectivo estratégi-co de fazer do galego a única língua ofi-cial no nosso país.

Na actualidade, num momento em que a tensom mobilizadora está num nível elevado, é tempo para que os diferentes agentes realmente interessados na recu-peraçom e normalizaçom do galego como

idioma da Galiza fagamos um esforço para evitar retiradas que podem ser letais para a nossa língua.

O caminho do mero legalismo e a con-fiança nas instituiçons públicas demons-trou ser absolutamente insuficiente para tam sequer proteger o galego dos emba-tes do espanhol. Hoje, a efeitos práticos, o idioma está numha situaçom pior que há trinta anos.

Diante da previsível tentativa de vol-tar a afastar o conflito lingüístico das ruas, o nosso objectivo tem que ser mantê-lo, embora ressituando o discurso nos seus justos termos. Isto é, denunciando que o único idioma imposto neste país tem sido o espanhol durante os últimos quinhentos anos, e ligando a recuperaçom do galego com o avanço da consciência nacional.

Eis um repto que a esquerda indepen-dentista está disposta a assumir e para o que temos plena disposiçom a colaborar com todos aqueles sectores realmente preocupados pola defesa da nossa língua nacional, o único idioma próprio da Galiza.

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Compostela, 21 de Janeiro de 2010

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3Nº 55. Janeiro, Fevereiro e Março de 2010

Vamos assumir que a palavra ideologia de-signa a ilusom de autonomia da consciência por mor da divisom entre trabalho manual e trabalho intelectual. E oferece como resultado a represen-taçom invertida da realidade e a propagaçom das ideias da classe social dominante, isto é, a justi-ficaçom da dominaçom. Ou, tentaremos de o dizer de modo mais simples, um conjunto de crenças falsas das quais se servem as classes dominan-tes de cara a manter a sua situaçom privilegiada. De certo que há outras acepçons (cosmovisons, ismos políticos, et cetera) e mesmo nom possui para muitos a categoria de conceito pola sua am-bigüidade. Ainda assim, vamos sustentá-lo como sinónimo de especulaçom, de visom deturpada do real, de falsa consciência, de engano (intenciona-do ou nom).

E antes de tornarmos explícito o título, recor-daremos que Marx e Engels aderem à Liga dos Justos, que mudam em Liga dos Comunistas, na década de quarenta do século XIX, para a qual escrevem o Manifesto do Partido Comunista. A ta-refa de ambos é abandonarem as quimeras e ace-derem à compreensom científica do real. Faga-se memória da tese XI sobre Feuerbach: Os filósofos apenas interpretárom o mundo de maneiras di-ferentes. Agora é preciso transformá-lo.

A teoria deve percorrer o caminho da prática, mas cumpre nom esquecer que há que elaborar essa teoria cientí-fica da sociedade. E a economia política clássica (os fisiocratas, Petty, Smith, Ricardo) ten-ciona esse conhecimento: a lei do juro nom é para eles algo semelhante ao que acontece em Física com as leis de Newton? Qual é, para Marx, um dos grandes proble-mas da Economia Política? Que recusa o carác-ter histórico do modo de produ-çom capitalista e apresenta como natu-ral e eterno o que nom é ou-tra cousa que umha etapa de um processo. Há, já que logo, que ir além da crítica da filoso-fia idealista alemá para se centrar na crítica da economia política. Os manuscri-tos do 44 som aponta-mentos para tal crítica, porém Marx está ainda pri-sioneiro da maneira especu-lativa própria dos jovens hege-lianos. Um dos primeiros passos dessa empresa, que ocupará toda a sua vida, será a crítica de Proudhon em 1847 (Miséria da Filosofia). Em 1849 presenteia umha primeira aproximaçom em Trabalho assalariado e capital. Em 1857 escreve umha introduçom geral à devandita crítica, mas, preocupado em nom apresentar resultados antes de os ter justificados, com ocasiom da publicaçom em 1859 da Contribuiçom para a crítica da Econo-mia Política, inclui um simples prefácio que resume os princípios do materialismo histórico e dará lugar a fortes polémicas a respeito de determinismos, economicismos, fatalismos, filosofias da história... Muita hermenêutica para um texto de poucas pági-nas que se perde nos milhares e milhares da sua basta obra. En Junho de 1865, retoma os pontos mais salientes da sua economia em Salário, preço e mais-valia. E será em 1867 quando publique o li-vro primeiro de O Capital, enquanto os outros três livros (as Teorias sobre a mais-valia seriam o livro IV) ficarám em situaçom de esboços.

Porque Marx? Porque a sua tarefa e as suas análises estám em vigor. Na vez de contabilidade económica do sistema capitalista e de justifica-çom ideológica da sua inelutabilidade cumpre tor-nar à crítica.

A actual “ciência” económica isolou-se no mundo dos valores monetários e deitou fora as inquietaçons originárias dos pais da disciplina

para dizer que há análises rigorosas em

Naredo, Martínez Alier, e outros, que nom mencionamos por nom sairmos dos dous que se costuma considerar pioneiros no Estado espa-nhol).

E ao regressar a umha maior concreçom, cum-pre assinalar o conformismo com o universalismo do sistema capitalista (umha caste de fatalismo a-histórico), o que leva a que sejam poucos os cientistas críticos radicais. O velho corpo doutri-nal resiste-se a mudar e as apologéticas propor-cionam pingues benefícios económicos.

A metáfora da produçom de riqueza nucleou a disciplina económica e acabou por eclipsar outros modos de focar o processo. A mitologia do cresci-mento ocupa a quase totalidade do discurso.

Outra das mitologias (ideologias) presente na economia convencional é a do trabalho. A activi-dade mercantil orientada ao lucro e a actividades penosas e dependentes, nom livres. E sempre

opiniom

localizados na desigualdade social. Um trabalhar compulsivo sem tempo para o lazer. Isso que tam bem explicou Marx em o feitichismo da merca-doria: os produtos tenhem vida independente do produtor, tornam-se em autónomos, e o produtor transforma-se em adorador e escravo do seu pro-duto. Seria preciso, como indica repetidas vezes Naredo, fugir da fé beata no progresso. E já se-ria hora de olhar além do trabalhar capitalista, provocador de fractura social e frustraçom dos indivíduos.

E seguirá-se com Naredo para denunciar umha nova ideologia do capital, a do desenvolvi-mento. Um país desenvolvido é no panorama co-mercial o que procura um intercámbio favorável à frente do resto do mundo; no panorama financeiro atrai capitais, assim mesmo do resto do mundo, e tenta emitir passivos nom exigíveis; no panorama físico será deficitário em recursos e excedentário em resíduos; e no panorama demográfico atrairá povoaçom do resto do mundo. Em resumo: desen-volvimentisto é sinónimo de predaçom.

Há outras mitologias, ideologias. Contodo o que se visava era chamar a atençom sobre o dis-curso económico dominante como ideologia mas-

caradora.E já para acabar, esse capitalismo defen-

dido polos intelectuais orgánicos do siste-ma, também com demasiada freqüência

é considerado de modo fatalista polos que se dim de esquerda.

A modo de exemplo: a teoria do colapso possui para eles

umha funçom exculpatória. Nom importam as der-

rotas, o fim do inimigo está perto (funciona toda umha religiom da esperança!). Cri-

ticar tal teoria nom é capitular face ao capitalismo, pois a ausência de discursos proféticos e apoca l íp t i cos nom fai melhor o sistema em que vivimos. De certo que Marx pudo ver nos movimentos re-volucionários de 1848/49 umha consequência da crise económica

desses anos e ge-neralizar de modo

precipitado e mesmo estar à espera dumha

próxima revoluçom, nom obstante, por mais

que fale no livro III de O Capital sobre os limites do

modo de produçom capitalista, nom está a se referir a um final

no tempo. Tal limite há de enten-der-se como um desenvolvimento das

forças produtivas ao serviço unicamente da valorizaçom do capital. O conflito perma-

nente entre o desenvolvimento ilimitado das devanditas forças e o fim limitado da produçom

capitalista nom significa nengum colapso. Somen-te numha passagem dos Grundisse, anteriores a O Capital, há umha observaçom que se poderia inter-pretar em tal senso, quando di que o plustrabalho da massa deixou de ser a condiçom para o desen-volvimento da riqueza geral, do mesmo modo que o nom-trabalho duns poucos deixou de ser a condiçom para o desenvolvimento dos poderes gerais da men-te humana, e com isso colapsa a produçom fundada no valor de troca. Nom é o momento para explicar a ciência em Marx, mas sim de dizer que a separaçom desas potências espirituais e o trabalho manual, que figuram por vezes em O Capital, dim relaçom a um incremento do poder do capital sobre o traba-lho. E que se gaste menos trabalho no processo de produçom das mercadorias nom tem de entender-se como tendência ao colapso, e sim como fundamento da produçom de mais-valia relativa.

Assim pois, nom há que esperar com placidez que o sistema se derrube, como esperou certa es-querda que a revoluçom vinhera do Terceiro Mun-do, o capitalismo tem de ser abanado.

Domingos Antom Garcia Fernandes é filósofo

A economia ortodoxa como ideologia

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que se encaminha-vam a acomodar a ges-tom às condicionantes do mundo físico, ao meio ambiente. O reducionismo do discurso económico cataláctico (em expressom de Polanyi) encobre a problemática ecológica e social ligada ao comportamento da civilizaçom industrial. Dian-te da maior sensibilidade da povoaçom de cara a estes temas visam incorporar toda umha retórica formalista ecoverdosa em que prolifera a ideia de sustentabilidade. Mas está-se a banalizar e a des-viar a atençom dos verdadeiros conflitos. A ques-tom nom é enfeitar o sistema para que aparente o que nom é, mas substituir o mesmo.

O metabolismo da sociedade industrial afas-tou-se do modelo da biosfera e limitou-se à ex-tracçom e deterioramento dos recursos da crosta terrestre.

As teses anteriores teriam de ser demons-tradas, e nom somente mostradas, porém nom é o objectivo desta reflexom, nem há espaço (sim

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4 Nº 55. Janeiro, Fevereiro e Março de 2010análisE

A começos de ano, os meios globais de comunicaçom anunciárom a concreçom do maior tratado de livre comércio do mundo entre os países da ASEAN (Associaçom de Países do Sudeste Asiático) e a China, que somam uns 1.900 milhons de habitantes, alguns meses atrás foi anunciada a assina-tura de um tratado similar entre a ASEAN e a Índia (1.700 milhons de habitantes), se su-perpugermos ambos tratados, chegaremos a quase 3.100 milhons de habitantes, algo menos da metade da populaçom mundial. A isto costumam ser agregados a emergência do chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) mais algum outro caso de dinamismo rejuvenescedor do sistema. Agências de in-formaçom e especialistas assinalam a esses factos como passos concretos na supera-çom, a partir da periferia, da crise mundial, a mensagem é simples: perante a estagnaçom ou declinaçom das economias das potências centrais (Estados Unidos, Uniom Europeia, Japom) aparecem desde os espaços do de-senvolvimento, concorrendo, crescendo e integrando-se os vigorosos tigres, dragons, ursos, jaguares e outras ferozes capitalistas. O mito da renovaçom do velho capitalismo declinante volta à cena no meio da maior cri-se da história da civilizaçom burguesa.

Crise, decadência, começo do fim da unipolaridade

Para perceber o que realmente acontece, atravessando o ruído mediático, é necessário fazer referência ao contexto mais amplo da crise mundial. A começos de 2010 encontra-mos-nos à espera de umha próxima segunda queda recesiva global seguramente bem mais forte que a desatada no último trimestre de 2008. Os salvatajes financeiros de 2008-2009 desacelerárom a queda económica mas ge-rárom enormes desajustamentos e bolhas: o súper endividamento público e os maiores dé-fices fiscais nos Estados Unidos e outros paí-ses, as ameaças inflacionárias, a declinaçom do dólar (sem que se enxergue substituto à vista no curto prazo), a possibilidade de umha próxima nova crise imobiliária nos Estados Unidos, a crescente fragilidade do mercado de produtos financeiros derivados, etc.

Nom se trata só de umha “crise econó-mica”, outras “crises” estám à vista e em qualquer momento poderiam golpear com força o sistema: a crise energética e alimen-tar (que se figérom presentes durante o ano 2008), a degradaçom do Complexo Militar-Industrial dos Estados Unidos envolvendo o conjunto de aparelhos militares da OTAN atolados nas guerras coloniais da Ásia, o rá-pido avanço da crise ambiental, etc.

Em aparência, encontramos-nos diante da convergência de numerosas “crises”, na realidade trata-se de umha única crise gi-gantesca com diversos rostos, de dimensom planetária, envolvendo a desenvolvidos e a subdesenvolvidos apontando para um muito longo período futuro. Trata-se da fase de-clinante de um super ciclo histórico iniciado há mais de dous séculos com a descolagem da revoluçom industrial e a arremetida im-perialista final de Ocidente sobre o resto do mundo.

Por outra parte, desde o fim da Segunda Guerra Mundial o capitalismo estruturou-se em torno dos Estados Unidos, espaço funda-mental de todos os grandes negócios, a sua degradaçom desde começos dos anos 1970 e a sua descida actual expressa umha doen-ça universal, o parasitismo estado-unidense nom tem sido outra cousa que a sua manifes-taçom central acelerada pola crise crónica global de sobreproduçom. O que agora pre-senciamos nom é a substituiçom da unipola-ridade por algumha forma de multipolaridade eficaz, por umha partilha completa do mundo entre grandes potências, mas um processo

nante tem estado estreitamente associada ao avanço da hegemonia parasitária sobre o conjunto do sistema: as redes financeiras e a hipertrofia militarista, a predaçom am-biental, a expansom cancerosa dos espaços urbanos, o consumismo desenfreado nos pa-íses ricos, etc. A dita “globalizaçom”, a sua degeneraçom parasitária, a sua unificaçom imperial e a sua posterior decadência som todos eles fenómenos interdependentes e irreversíveis.

Em conseqüência, a despolarizaçom, en-tendida como processo durável, fai parte do fenómeno mais amplo, sobre-determinante de decadência do capitalismo como civiliza-çom universal.

A despolarizaçom avança de maneira irregular, heterogénea, complexa, obede-cendo a diferentes ritmos regionais a partir do nascimento de autonomias periféricas mais ou menos audazes que carregam sobre as suas costas o enorme peso negativo dos submetimentos económicos, militares e cul-turais.

Quando enfrenta de maneira radical a declinante ordem mundial do Império, por exemplo na América Latina nos casos da Venezuela ou Bolívia, rapidamente tem que enfrentar as agressons externas (imperialis-tas), mas também as internas dos sistemas burgueses nacionais de poder (altamente transnacionalizados), ambos inimigos estám estreitamente ligados, em última instáncia constituem um só inimigo.

Na medida em que a crise se aprofun-da, umha ampla variedade de países do Sul e do Leste vam procurando, tentando reali-zar “desacoplamentos periféricos” que lhes permitam afastar-se das potências centrais, motor decisivo do parasitismo financeiro, a predaçom ambiental, as recessons, as guer-ras. Desenvolvem-se acordos energéticos,

Crise mundial e emancipaçom da periferia

Desligaçons ilusórias, ligaçons libertadoras Jorg

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inst

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concorrência ruinosa para as indústrias têx-til, de produtos electrónicos, etc, desse país, trazendo ali desocupaçom e miséria. Mui-tos desses benefícios inter-asiáticos serám seguramente reciclados na especulaçom financeira global e a marginalidade social e a super-exploraçom dos pobres da China e Indonésia continuarám a expandir-se.

Todo isto coloca no primeiro plano a re-flexom (e a prática) pós-capitalista, isto é a irrupçom de ligaçons libertadoras que visto a partir da periferia aparecem como a com-binaçom necessária entre os afrouxamentos e rupturas das estruturas opressivas exter-nas e o avanço de transformaçons internas radicais tendentes a superar as fronteiras, as armadilhas do capitalismo local, real, glo-balizado.

Essa religaçom emancipadora apresen-ta-se a dous níveis, o dos estados apoiados na mobilizaçom popular; é o caso do projecto de integraçom regional da ALBA na Améri-ca Latina, e depois o das bases oprimidas que estendem a sua solidariedade, confor-mam identidades para além das fronteiras estatais, é o caso das resistências na área árabe-islámica da Ásia e África com centro nos combates anti-imperialistas da Pales-tina, Iraque, Afeganistám-Paquistám..., outro exemplo é o da América Latina onde fenómenos como a recente constituiçom do Movimento Continental Bolivariano mostram que essas religaçons tendem naturalmente a ir para além das batalhas regionais esten-dendo a sua dinámica para outras forças li-bertadoras extra-regionais de países desen-volvidos e subdesenvolvidos. Desse modo re-aparece a figura da religaçom emancipadora universal contra a dominaçom imperialista (capitalista) do mundo.

Jorge Beinstein é economista marxista argentino

de despolarizaçom onde se vam abrindo múltiplos espaços nos quais os controlos imperialistas (a organizaçom capitalista do mundo) estám a enfraquecer-se ao ritmo da crise. E os antecedentes históricos, sobreto-do se pensarmos no que aconteceu a partir da Primeira Guerra Mundial, assinalam que se isso acontece, se a hierarquia mundial do capitalismo entra em crise, entom irrompem as condiçons objectivas e subjectivas para as rebelions das vítimas do sistema.

Nom se trata de um processo ordenado, inclui tentativas de redespregamento im-perialista, de reconversom estratégica dos mecanismos de dominaçom (como o actual-mente em curso nos Estados Unidos sob a presidência de Barak Obama), de aproveita-mentos por parte de outras grandes potên-cias que tencionam apropriar-se de espaços onde o poder imperial norte-americano se debilitou, de autonomizaçons periféricas às vezes bem sucedidas e outras muito ensari-lhadas e condenadas ao fracasso.

Despolarizaçom, capitalismo e pós-capitalismo

A prolongada história da modernidade ensina-nos que o capitalismo na sua ascen-som e consolidaçom de escala global consti-tui um sistema organizado do ponto de vista económico, militar, cultural, etc, a partir de pólos imperialistas. A unipolaridade norte-americana foi-se impondo desde o fim da Se-gunda Guerra Mundial ao interior do mundo capitalista e chegou à sua coroaçom global ao concluir a Guerra Fria, foi o resultado da mundializaçom dos negócios e em conse-qüência da necessidade sistémica de contar com um centro articulador global, primeiro consumidor e superpotência militar.

Mas a gradual unificaçom imperialista do mundo em torno de um único pólo domi-

comerciais, tecnológicos, militares... regio-nais e trans-regionais, processos de inte-graçom regional, etc, que vam tecendo umha complexa rede Sul-Sul e Sul-Este: Mercosul, Organizaçom de Cooperaçom de Shangai, ASEAN-Chinesa, estreitamento de relaçons no BRIC, etc...

Trata-se de escudos defensivos frente à desordem global crescente e às agressons militares do Império e dos seus aliados, da geraçom de espaços económicos face às estagnaçons e recessons provenientes dos países centrais.

No entanto as ligaçons Sul-Sul e Sul-Este tenhem duas caras: a do caminho de saída do desastre e a da ilusom condenada ao falhanço como foi por exemplo o dos nacio-nalismos desenvolvimentistas periféricos do século XX. Isso é assim porque a chamada “globalizaçom neoliberal”, a mutaçom pre-dadora-parasitária do capitalismo, é ao mes-mo tempo umha realidade externa e interna das naçons da periferia. Expressa-se como opressom imperialista, como dependência económica e cultural mas também como do-minaçom das burguesias locais globalizadas. A China depende do seu potencial industrial exportador que depende por sua vez da capa-cidade de compra dos mercados dos Estados Unidos, Japom e outras potências centrais, a Rússia depende das suas exportaçons ener-géticas à Uniom Europeia, e tanto na Rússia como na China as elites económicas estám densamente interrelacionadas com as redes financeiras globais articuladas a partir dos países centrais, situaçons similares encon-traremos na Índia, Brasil e em quase todos os países periféricos. Pior ainda, a concre-çom do acordo Asean-Chinesa, por exemplo, brindará segurança energética a esta última e bons benefícios para os exportadores de petróleo da Indonésia, mas gerará umha

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passa à página 6

demos concluir que carecêrom de identidade suficiente para poder resistir a enorme pres-som simbólico-material de umha enraizada cultura política proclive à conciliaçom de clas-se, empapada do patriotismo essencialista, que no seu cerne considerou a teoria marxista como um fenómeno sedutor e exótico, mas es-tranho à nossa realidade, portanto passageiro e “ineficaz para aplicar” numha formaçom so-cial tam anómala como a galega.

A metaformose que experimentárom os processos aludidos e a actual mutaçom na qual se acha parte dos restos do naufrágio dos noventa derivam de incorrectas trans-

Somos e queremos ser assimCarlo

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Reimundo Patinho: Fusquenlha, 1963

Afirmam que somos inflexíveis. Julgam que a defesa dos nossos princípios se apro-xima do comportamento de umha seita. Que a rigidez que nos caracteriza impossibilita acordos. Que mantemos umha linha discursi-va hipertrófica e grandiloqüente. Consideram que nom somos dos seus. Que pertencemos a um ente estranho, alheio, infiltrado, que gera turbulências inadmissíveis que questionam a harmonia de umha “comunidade nacional” em que existem divergências mas ao fim e ao cabo som consubstanciais às que se produ-zem em todas as famílias. Desqualificam-nos de ideologistas, extremistas, com os mais or-dinários epítetos, na maioria dos casos caren-tes de originalidade, mais alá de modismos enxebristas encaixáveis com os que habitu-almente o reformismo definiu universalmente as forças populares mais coerentes.

Nom nos referimos ao inimigo e sim às fracçons que disputam similar espaço e corpo social.

Parte de todo isto é verdade. Nom pode-mos negá-lo pois fai parte do nosso patrimó-nio e legado, da nossa indelével contribuiçom para a cultura rebelde e combativa deste país.

Algumhas destas opinions aparentemen-te negativas confirmam que vamos polo cami-nho correcto. Embora fagam parte de um ce-nário que nom buscamos e portanto nom nos agrade, nom podemos nem devemos negar que parte destas apreciaçons som parado-xalmente reconfortantes. A nossa trajectória constata que nunca pretendemos imitar o que consideramos superado por arcaico, o que desconsideramos por obsoleto e fundamen-talmente por insuficiente. Nunca foi a nossa intençom reproduzir modelos adulterados a partir da sua raiz.

Com humildade revolucionária, mas com voz firme, olhar claro e testa ergueita, reconhecemos que a(s) causa(s) de que de-rivam estas percepçons –além de um oculto e inconfesável corporativismo– reduzem-se fundamentalmente a duas: a nossa origem autónoma do tronco comum e, basicamente, um reconhecimento implícito de que somos a única corrente da esquerda independentista dotada de um projecto político-ideológico coe-rente e definido, além da mais coesa e melhor organizada. Esta superioridade provoca ad-miraçom, mas também pánico disfarçado dos velhos tópicos anticomunistas.

Além das naturais vacilaçons da nossa génesse, levamos três lustros inenterrup-tos a construir um projecto revolucionário, a combinar originalidade e fusom de tradiçons emancipadoras. O resultado é umha modesta, mas vigorosa, identidade própria na esfera política, ideológica, social e cultural.

Temos cometido erros de apreciaçom, de cálculo, mas frente às habituais linhas er-ráticas e instabilidade orgánica dos outros, temos umha trajectória forjada na tenacidade e constáncia, centralizada na procura de um globalizante objectivo prioritário: contribuir para criaçom de forças obreiras e populares imprescindíveis, rumadas para o sucesso da Revoluçom Socialista Galega.

Temos experimentado diversos caminhos e vias, ensaiado novas formas de interven-çom, nom sempre com os resultados previs-tos. Porém, nom temos complexos e devemos estar francamente orgulhosos e orgulhosas de aquilo que somos e representamos. Nom devemos nada a ninguém que nos questiona e muito a quem tem acreditado em nós e no pro-jecto que representamos. “Nom se trata de levar a revoluçom nos lábios para viver dela, trata-se de levá-la no coraçom para morrer por ela”, como nos ensinou o Che.

No entanto, devemos reconhecer sem pudor que nom sempre temos demonstrado a suficiente habilidade para transmitir e fazer compreensível o que somos e o que quere-mos. Devemos pois introduzir melhoramentos na nossa capacidade de comunicaçom, mas

fusons de seiva contaminada que reprodu-zírom a incapacidade de aplicar a dialéctica da destruiçom-construçom. Superar paradig-mas erróneos e/ou desactualizados, substi-tuindo-os por novas reinterpretaçons da ve-lha opressom ou opressons que padecemos como povo, classe e género, simbiotizadas polos novos mecanismos de dominaçom e, portanto, com as novas rebeldias que gerá-rom. Sem incorporarmos à nossa mochila de combate, sem truques nem malabarismos, a pluralidade das insurgências anticapitalis-

nunca ceder na defesa intransigente dos prin-cípios do marxismo-leninismo.

Umha dissecçom superficial dos progra-mas e projectos políticos das diversas cor-rentes da esquerda independentista galega constata enormes similitudes entre as cisons e a matriz de que procedem. A inspiraçom e o aroma que despreendem nom deu corrigido e muito menos ultrapassado a errónea orienta-çom que se pretendia superar. Aqui radica a enorme vulnerabilidade que apresentam bem intencionadas aspiraçons de reestruturar um espaço político-ideológico. Mas isto nom é viável a base de espasmos, voluntarismo e

receitas gastas, sem a introduçom dos com-ponentes científicos genuínos que permitiriam afastar-se do velho e simultaneamente cons-truir o novo. Sem umha depuraçom integral da génese e umha crítica implacável às causas que provocárom a actual derrota da estraté-gia regionalista nom é possível evitar a repro-duçom, em pequena escala, da desfeita para a emancipaçom nacional e social de género a que conduziu a linha conciliadora e pactista do autonomismo.

De umha exumaçom das goradas tentati-vas de reorganizar o movimento de libertaçom nacional a partir de parámetros de classe, po-

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tas, o projecto socialista ou bem se esgota em derivas esterelizantes ou é devorado pola história. Um pensamento que se afir-ma revolucionário, mas com umha acçom teórico-prática cativa de grandes princí-pios enferrujados, ou desprovido da teoria marxista, acaba instalado no imobilismo ou nesse difuso campo da complexada e contemplativa esquerda de que tanto gos-ta a burguesia. A indecisom e as atitudes vacilantes som companheiras de viagem nom recomendáveis.

A única garantia para podermos cons-truir na Galiza um projecto revolucionário marxista de libertaçom nacional, que vaia além do simples testemunhalismo e mar-ginalidade, passa por nos dotarmos de umha identidade completamente autónoma da nefasta escola emanada de 1964. Sem cumprir este requisito, toda tentativa está inexoravelmente condenada ao fracasso. A catástrofe das últimas três décadas assim o constata. Todo o que se inspirou nesse referente nunca pudo deixar de ser umha magmática crisálida incapaz de voar sem a inércia do impulso do parto, para de ime-diato estrelar-se na inaniçom ou deixar-se fagocitar pola casa matriz.

Mas, sendo umha conditio sine qua non, para ter algumha possibilidade de sucesso, nom é mais que o princípio para poder arrancar. Necessita acompanhar-se de um conjunto de ingredentes objectivos e subjectivos que permitam um rearmamento permanente da militáncia no plano ideológi-co que possibilite esse crecimento susten-tado, essa procura de introduçom social, de enraizamento popular, de referencialidade e prestígio entre a classe trabalhadora. Mas também de umha dimensom espiritual que permita superar os desabores, os in-gratos e amargos dias de ferro que acom-panham a militáncia revolucionária perante as dificuldades da adversa quotidianidade, essas permanentes incompreensons que padecemos por nadar contra a corrente, essa sensaçom de “desarraigo” a que nos vemos submetid@s polas leis invisíveis da

Somos e queremos ser assim

Jean SalemLenin y la revoluciónBarcelona, Península, 2010, 156 páginas

Temos aqui umha nova obra arredor do pensamento a da acçom do principal dirigen-te da Revoluçom Bolchevique de 1917 e das primeiras eta-pas da URSS. Nesta ocasiom o autor, professor de Filosofia

na Sorbona e director do Centro de História dos Sis-temas do pensamento moderno, centra-se na análise das posiçons de Lenine em relaçom à questom da re-voluçom.

Jean Salem apresenta as que ele considera seis teses principais de Lenine sobre as revoluçons, mer-gulhando-se nos escritos do revolucionário russo e reivindicando a actualidade das mesmas para qualquer projecto que realmente se quiger bater por umha alter-nativa emancipadora à podridom capitalista.

Entre estas teses, recolhem-se ideias como a da consideraçom da revoluçom como umha forma de guerra, “a única guerra justa e legítima”, com múl-tiplas batalhas e que nom é linear nem recta, sem sobressaltos, sacrifícios e violências. Refutava Lenine essa “ideia infantil da história” e a concepçom da re-voluçom como um acto único, sem contradiçons nem dificuldades.

Também resgata do seu pensamento a importán-cia do factor subjectivo para o triunfo de umha revolu-çom e, portanto, o papel que joga o partido revolucio-nário e o das massas organizando a nova sociedade, a questom do poder e do Estado ou a necessidade prática do internacionalismo frente ao capitalismo organizado em escala planetária.

Para finalizar, cumpre destacarmos, também, a necessidade expressada polo autor de superar o silen-ciamento de Lenine, ligado à interesseira criminaliza-çom do comunismo e para o qual também contribuiu a “autofobia” de grande parte da esquerda dita marxista, que se retirou das trincheiras e assumiu a propaganda burguesa que sataniza Lenine e a Revoluçom de Outu-bro para negar a possibilidade de que as revoltas do futuro ponham finalmente em questom o seu domínio. (Anjo Torres Cortiço)

Antonio Miguez MachoXenocidio e represión franquista en GaliciaLóstrego, Compostela 2009, 171 páginas

Finalmente alguém: Anto-nio Miguez Macho, entre tantos e tantas que escrevem sobre a história do genocídio galego, fai este exercício necessário de auto-afirmaçom pública, nomeando-o

como tal, como crime interpretado a partir da própria nature-za eliminacionista sem cair na linguagem manida, cansativa, funerária e guerracivilista.

Escolhe, sem dúvida, genocídio, como nome para de-signar o que outros chamam, “simplesmente”, repressom. Fala do “factum genocida” considerando e argumentando “o caso galego” como “unidade cronológica, espacial e tempo-rária...”. Além dessa trindade, o genocídio galego é indiscuti-velmente tratado polo historiador como um exercício de auto-consciência inédito na Galiza, fundamental para a recostru-çom da nossa história, para a análise de muitos aspectos que nos afectam directamente pola “acçom da violência que estudamos” para situá-lo no contexto geopolítico e histórico e as lógicas que levam aos próprios assassinos a perpetrar os crimes, nas quais subjaz o mapa genético genocida com muitas etiquetas, mas com as mesmas lógicas predadoras: eclesiástica, burocrática, da compaixom e mesmo da vingan-ça armada como santa cruzada.

Define a orfandade, o vazio que convergem no que chamamos Memória, os assassinatos; a morte física e da identidade perpetrada sem fim por políticas derivadas do assimilacionismo, da institucionalidade: herança franquista assumida com normalidade nas historietas recriadas com a “pomposidade da transiçom”. A falsa história.

Diferencia claramente a violência experimentada na Galiza, ainda hoje em dia, utilizada e designada como mera retaguarda e o genocídio galego que nom tivo relaçom di-recta com a guerra civil espanhola, ainda sendo fenómenos paralelos e relacionados, mas que agem com umha lógica absolutamente independente e carecem da ligaçom causa-efeito. Analisa “a trama narrativa dos perpetradores” e o pa-radoxal negacionismo à galega, como argumento justificativo que nom esconde a necessária violência exterminadora. O eliminacionismo assumido como um mau menor: “nós (eles, elas) nom figemos nada”. (Xavier Moreda)

Karl MarxO Capital (livro segundo)Edições Avante, Lisboa 2009, tomo IV e V, 598 páginas

Umha boa nova para os que pensamos que o essencial de Marx está nos 8 volumes de O Capital. O livro primeiro em 3 volumes, que foi o que se edi-tou em vida de Marx, aparecera em 1990 numha ediçom dirigida

por José Barata-Moura e Francisco Melo e traduzida por um colectivo integrado polo referido Barata-Moura, Joaõ Pedro Gomes, Pedro de Freitas Leal, Manuel Loureiro e Ana Portela. Mas agora, numha cuidada traduçom de José Barata-Moura, chegam estes dous novos volumes e a pro-messa de editar em breve os 3 que restam, que entre-mentes podem ser lidos na Editora Civilização Brasileira sob o título de O Capital. Crítica da Economia Política. O Processo global de produção capitalista.

Nom resta de sobejo recordar que o plano da presen-te ediçom é o que se segue:

Livro I. O processo de produçom do capital. Ocupa-se no tomo I de mercadoria e dinheiro; a transformaçom do dinheiro em capital; e a produçom da mais-valia absoluta. No tomo II de a produçom da mais-valia relativa; a produ-çom da mais-valia absoluta e relativa; e o salário. No tomo III o processo de acumulaçom do capital.

Livro II. O processo de circulaçom do capital. No tomo IV estuda as metamorfoses do capital e o seu ciclo; e a ro-taçom do capital. E no tomo V a reproduçom e circulaçom do capital social total.

Livro III (como se indicou, a editar muito logo). O processo total de produçom capitalista. No tomo VI ana-lisa a transformaçom da mais-valia em lucro e da taxa de mais-valia em taxa de lucro; a transformaçom do lucro em lucro médio; a lei da baixa tendencial da taxa de lucro; e a transformaçom de capital-mercadorias e capital-dinheiro em capital de comércio de mercadorias e capital de co-mércio de dinheiro (capital mercantil). No tomo VII, a ci-som do lucro em juro e ganho de empresário. O capital que rende juro. No tomo VIII, a transformaçom de sobrelucro em renda fundiária; e os rendimentos e as suas fontes.

Eis esse míssil que lança Marx ao modo de produçom capitalista e ao qual há que fincar dente. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

LIVROS DVD

Diego RiveraFARC-EP, a insurgência do século XXI (A cámara na selva)

R a r a m e n t e temos ocasiom de conhecer em pri-meira mao, sem os media da grande burguesia como

intermediários, a voz dos povos organizados e em luita. Dentre eles, o colombiano tem umha longa trajectória de incontornável com-promisso com a verdadeira democracia: a das grandes maiorias excluídas, a dos activistas sociais, sindicais, políticos... que nom tenhem mais alternativa que enfrentar a violência do Estado com guerra popular.

Neste recomendável documentário de 112 minutos, temos, com efeito, a possibilida-de de conhecer o conflito armado colombiano do ponto de vista da guerrilha rebelde que durante décadas liderou Manuel Marulanda. Vendo-o, conhecemos como vivem as colom-bianas e colombianos que formam a guerrilha em activo mais antiga do continente america-no e as fortes convicçons de justiça social que a inspiram.

Formaçom teórica, trabalho no campo, exercício físico, relaçons pessoais... todo é abordado com a perspectiva das próprias pessoas que integram as FARC. Em paralelo, conhecemos a história da sua luita, as tenta-tivas de paz abortadas pola violência estatal e paraestatal, a resposta às mentiras oficiais sobre umha suposta “narco-guerrilha”.

Já conhecemos a opiniom do Matrix que aspira a dominar todo, incluído o pensamento e o acesso à informaçom. De facto, existem ameaças abertas do governo Uribe e de jor-nais como El País contra quem ousar difundir esta “perigosa” obra audiovisual. Tomemos isso como mais um motivo para optarmos pola pílula vermelha e conhecermos a realidade: a versom da guerrilha marxista.

Moncho Reboiras, referente ineludível

Vem da página 5 namente para a eternidade com a sua pis-tola-metralhadora; o proletariado ferrolano nas ruas de Março de 1972 a peito aberto contra as forças de ocupaçom que tingiram as ruas com o sangue dos abatidos Amador e Daniel; a contundente resposta dos seus camaradas de Vigo a paralisar a cidade em Setembro, também de 72, em defesa dos seus direitos e a denunciar a ditadura as-sassina; o último latejo do imenso coraçom de Moncho Reboiras antes de parar polas balas espanholas no Agosto ferrolano de 1975; a contagiosa alegria de viver que projecta o feixe de luz do infinito sorriso de Lola Castro na única fotografia publicada, nom som fugazes episódios das melhores páginas da nossa recente história nacional, som fontes de energia para o combate diá-rio, para nom desfalecer, para se levantar cada vez que caímos, para prosseguir após repor forças à beira do caminho. Som os nossos heróis, as nossas heroinas. Traçá-rom as linhas dos caminhos do futuro. Sem elas, sem eles Galiza já nom existiria. Sem os contributos de generosidade e marca re-belde, o MLNG careceria de amanhá.

A nossa identidade comunista bebe do fluir destas experiências, que nunca pedírom autorizaçom a ninguém, que nun-ca se perdêrom polo caminho, que jamais procurárom o aplauso dos de cima, nem o reconhecimento dos colaboracionistas. Avançar contra vento e maré, superando as adversidades, os mais elevados obstáculos, combatendo sem descanso, é como se forja um partido comunista sem os complexos da pequena-burguesia, orgulhoso do seu rol emancipador.

Sem umha épica e umha mística nom é possível argamassar um movimento sub-versivo nem avançar fazendo retroceder o inimigo.

Sem realmente acreditar em que todo é possível, que nada é imodificável, que nom existem inimigos invencíveis, nem ci-meiros insuperáveis, nom há probabilidade de atingir a vitória.

Carlos Morais é secretário-geral de Primeira

Linha

ideologia dominante, o desánimo por falta de resultados mais tangíveis e imediatos, a impotência por sacudir consciências e desvendar os mecanismos da exploraçom e dominaçom capitalista.

Necessitamos fontes de inspiraçom para afastar o fatalismo da inviabilidade da Revoluçom. Fé na elevada dimensom e su-blime beleza da causa do Comunismo com maiúsculas, pola que entregárom todo o que tinham milhons de seres humanos nas mais recónditas latitudes e nos mais adver-sos contextos.

Para que podam fertilizar os nossos anseios e sonhos de “tomar o céu por as-salto” temos que acreditar na excepcional missom a que temos consagradas as nos-sas vidas; devemos ter disposiçom a rea-lizar sacrifícios por umha causa superior, um imenso amor à humanidade explorada, polo único que realmente vale a pena viver e morrer. Sem essa “emoçom revolucioná-ria” de que falava Carlos Mariátegui, sem essa paixom por transformar, sem a místi-ca que envolve as páginas mais brilhantes das biografias de Lenine e o Che, sem se estremecer de emoçom com o brilho das estrelas rutilantes que iluminam os povos nos combates de noites escuras, sem vi-brarmos contra a mais insignificante injusti-ça padecida polos mais fracos e desvalidas, sem se comover frente à opressom, nom se pode ser um verdadeir@ revolucionári@ comunista. Poderemos ser militantes de esquerda, honestos activistas, mas nunca poderemos aproximar-nos do degrau mais elevado da espécie humana a que aludia o comandante heróico dous meses antes da sua morte nas selvas bolivianas.

Devemos ter presentes e nunca esque-cer os risos e as lágrimas, a juventude e a madurez, as dúvidas e as certezas, o valor e o medo, superados pola tenacidade e deci-som de milhares de anónimos compatriotas

que em situaçons limites nom se arrugárom e sim engradecérom desafiando a lógica do exigível. O limpo olhar de Antolim Faraldo, de Miguel Solis e dos companheiros suble-vados, fusilados a 26 de Abril de 1846 polas tropas realistas espanholas por pegarem nas armas para que a Galiza abandonasse

umha “existência oprobiosa, convertida numha verdadeira colónia da corte”; a co-ragem de Benigno Álvares no derradeiro combate contra o frio Inverno de 1937 na serra de Sam Mamede; o sereno e trans-cendental gesto de um orgulhoso José Castro Veiga “O Piloto”, a posar clandesti-

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Cuba e Porto Rico som de um pássaro as duas asas recebem flo-

res e balas no mesmo coraçomLola Rodríguez de Tió

A luita do povo portorriquenho por sua Independência é desde os seus começos um projecto bolivariano, martiano e hostosiano, irmanado com a luita do povo de Cuba e da República Dominicana pola Independência das Antilhas. Além de ser um movimento pola independência, foi um projecto pola aboliçom da escravatura e pola integraçom de Cuba, Dominicana e Porto Rico numha Confederaçom Antilhana.

Os homens e mulheres que forjárom o movimento pola Independência de Porto Rico vírom-se forçados a conspirar a partir do exílio. O decadente império espanhol ti-nha perdido as suas colónias na América a princípios do século XIX. As ideias da Revo-luçom Francesa tinham já raízes no pensa-mento bolivariano.

Homens e mulheres como Sucre, O’Higgins, San Martín, Artigas, Manuela Sáenz, Alfaro e o próprio Bolívar conseguírom mobilizar exércitos insurgentes populares que derrotárom as tropas imperiais espa-nholas seguindo o exemplo de L’Ouverture, Dessalines e Petion, que já tinham derrotado às tropas de Napoleom sob o comando do Ge-neral Leclerc, no Haiti, em 1804.

É precisamente Petión quem financia a expediçom do libertador Bolívar que teria de acender o lume das guerras de independên-cia que libertárom a Venezuela, Colômbia, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Equa-dor e Peru, pondo fim ao pesadelo de quase três séculos de domínio e saque espanhol na América do Sul.

Já desde as primeiras décadas de sua independência a flamante república das tre-ze colónias tinha dado mostras da sua voca-çom imperialista. A aliança forjada entre as oligarquias latifundiárias na Grande Colôm-bia com os EUA e o sucesso desta República do Norte em separar o Panamá da Colômbia e a activaçom da Doutrina Monroe preconi-zavam a futura história de invasons, golpes de estado e alianças com as oligarquias apátridas da Nossa América.

Esta incipiente concupiscência imperial nom tinha escapado ao agu-do olhar de Bolívar. Esta percepçom tinha-o levado à convicçom de que a liberdade da Antilhas era parte de sua agenda emancipadora e integra-dora para a Nossa América. Cuba, Quisqueya e Porto Rico seriam, por essa mesma razom, cobiçadas peças a ser conquistadas polos EUA como parte de sua agenda colonizadora. As Caraíbas seria para eles o que o Mediterráneo tinha sido para o Império Romano.

O controlo das Antilhas seria essencial a sua visom de um canal in-teroceánico que seria ao império ianque o que o Canal de Suez tinha significado para o império británico. A partir delas, a marinha de guerra estado-unidense garantiria a Washington e ao capital financeiro e indus-trial o controlo do que viriam a chamar o seu pátio das traseiras.

A agenda de Bolívar ficou inconclusa. A quinta coluna santanderista que o perseguiu até a morte e o levou a pensar que tinha arado no mar, apropriou-se das terras libertadas e submeteu o povo insurgente que ven-ceu o Império na Campanha Admirável. Assim impediu que a sua visom emancipadora se estendesse nas campanhas de libertaçom das Antilhas.

O impulso e o génio desta gesta de liberdade encontrárom eco nas Antilhas na segunda metade do século XIX. Cuba e Porto Rico fôrom alia-dos fraternais na sua luita pola independência que rebentou em 1868 com o Grito de Yara na Cuba mambisa e no Grito de Lares. Ramón Emete-rio Betances, José Martí, Antonio Maceo, Juan Rius Rivera, Pachín Marín, Máximo Gómez e outros teriam de organizar a guerra de independência das duas asas do pássaro antilhano.

Em Porto Rico o grito de Lares seria sufocado depois que os patriotas tomárom a vila de Lares e proclamárom a Independência de Porto Rico. O Grito de Yara seria o lançamento da Guerra dos 10 anos até 1878. Os patriotas portorriquenhos unírom-se aos mambises, escravos libertos e cimarrons na guerra pola independência das Antilhas. Depois da trégua de 17 anos, o exército revoluciónario retoma a luita libertadora em 1895 no que véu ser o Vietname do gasto e decrépito império espanhol.

Nom chegariam a ver o resultado dos seus esforços. O capitalismo monopolista que já regia nos EUA provocou o incidente do Maine em Ha-bana como operaçom de falsa bandeira para justificar sua intervençom na guerra cubano espanhola em 1898 e nas Filipinas integrando-se assim ao muito selecto clube do capitalismo imperialista que com tanta preci-som expugérom em toda a sua selvagem rapina Marx, Engels e Lenine.

A lida imperial nom seria um projecto exclusivo da Marinha de Guer-ra e os Marines. Duas imensamente milionárias corporaçons, a United

com salários de fame numha safra que se es-tendia durante escassos 5 meses do ano. Vi-viam como agregados nas quintas dos colonos sob risco de serem expulsos polos patrons. As mulheres trabalhavam na indústria da agulha nas suas casas e recebiam paga por peça, sen-do a sua compensaçom de aproximadamente 30 centavos de dólar por um dia de trabalho.

Durante os primeiros 50 anos da ocupaçom ianque os governadores de Porto Rico eram designados directamente polo presidente dos Estados Unidos. Leste nomeava um gabinete de governo no qual os ministros eram usamerica-nos ou portorriquenhos assimilistas. Nom exis-tiam escolas públicas em Porto Rico durante os quatro séculos de domínio espanhol.

O analfabetismo era a norma em Porto Rico. Os dous principais educadores portor-riquenhos tinham tido que ir ao exílio a San-to Domingo e Cuba. Ali tinham organizado os sistemas escolares. Eugenio María de Hostos, figura fundamental do pensamento latino-ame-ricano, tinha desenhado e implantado o siste-ma de escolas normais de República Domini-cana. Lola Rodríguez de Tió, poeta e patriota emblemática da luita pola liberdade de Porto Rico tinha sido a encarregada da organizaçom e supervisom das escolas em Cuba.

Os norte-americanos, que tinham chega-do a Porto Rico com a intençom de nos civili-zarem e nos fazerem dignos da sua ilustrada capacidade intelectual e política (sic), orga-nizárom um sistema de educaçom pública na ilha. O inglês era entom a língua obrigatória no sistema educativo. Queriam assimilar os portorriquenhos; convertê-los em piti-ianques. O povo portorriquenho resistiu, negando-se a aprender inglês.

Também chegárom as igrejas pentecos-tais, luteranas, episcopais, bautistas, metodis-tas, discípulos de Cristo, testemunhas de Jeo-vá em todas as suas possíveis variaçons para propagarem as bondades do capitalismo e a cultura usamericana. Os padres e freiras norte-american@s chegárom como tropas de assalto a ensinar a falsa mitologia da história de suas egrégios líderes e suas imelhoráveis virtudes.

A imposiçom de um modo de produçom, a montagem dos sistemas de educaçom e a penetraçom das seitas religio-sas anglos-saxónicas representam o aspecto civil da colonizaçom ianque. Mas a mais constante forma de penetraçom ianque na vida, a cultura e a sociedade portorriquenha tem sido a montagem de umha estrutura militar que permeia todos os aspectos da psicologia dos portorriquenhos.

Nom podemos deixar de parte o facto de que a razom principal que tem sustentado a vontade de perpetuar o colonialismo em Porto Rico tem sido seu papel preponderante na geopolítica militar dos EUA. A defesa do Canal do Panamá tem sido historicamente a principal funçom da pre-sença militar em Porto Rico. Quem controlasse o Canal do Panamá tinha a chave para luitar numha guerra multioceánica contra o Terceiro Reich no Atlántico e o Império do Sol no Pacífico. A principal guerra imperial da história da Humanidade foi a Segunda Guerra Mundial.

A base de Roosevelt Roads em Ceiba e seu polígono de tiro em Vieques fôrom cruciais para que a Marinha de Guerra dos EUA vencesse em ambas as guerras. FDR, que tinha sido ao igual que seu tio Teodoro, Secretário da Marinha de Guerra ianque, conseguiu que o Congresso financiasse essa base durante a década dos trinta quando prevalecia umha atitude isola-cionista no electorado desse país. A oposiçom mais coerente aos planos imperiais de FDR e a oligarquia pentagonista foi articulada polo principal dirigente independentista de Porto Rico na década de trinta: Pedro Albizu Campos.

Dom Pedro é, sem dúvida, a primeira figura anti-imperialista da po-lítica em Porto Rico. Foi sua denúncia das intençons imperiais ianques ao começar a estabelecer a base de Roosevelt Roads a principal razom que levou o Departamento de Justiça dos EUA a acusar de conspiraçom sediciosa em 1936. Na Tribuna do Partido Nacionalista Portorriquenho, denunciou veementemente os planos imperiais nas Caraíbas e o verda-deiro carácter imperialista do projecto do Novo Trato. A resposta nom se fijo esperar. O sistema de justiça federal encarregou-se de tirar Dom Pedro de circulaçom por 11 anos até 1947.

Isto facilitou o caminho para os EUA darem todo o seu considerável apoio à figura de Luis Muñoz Marín e seu Partido Popular Democrático (PPD). O PPD consegue o controlo das cámaras legislativas nas eleiçons de 1940 com a Independência na sua Plataforma. A grave crise dos trinta tinha movi-do a Porto Rico para a Independência. Os últimos setenta anos tenhem mar-cado a etapa da mais intensa perseguiçom do movimento independentista e o movimento para o socialismo. Sobre isso falaremos na seqüela deste artigo.

Salvador Tió forma parte do independentismo portoriquenho e é membro da Pre-

sidência Colectiva do MCB

Fruit e a South Porto Rico Sugar, seriam as artífices da montagem do modo de produçom capitalista que converteria a ambas ilhas e à Repúbli-ca Dominicana em um imenso canavial. Da dialéctica da luita pola inde-pendência e na contramao da escravatura surgiria umha nova forma de domínio imperial montada sobre o trabalho assalariado capaz de extrair lucros de exponencial volume.

No caso de Cuba, os Marines iriam retirar-se depois de constituírem um governo asimilista e impor a emenda Platt à Constituiçom Cubana mediante a qual atribuíam a eles próprios o direito a invadirem a ilha a sua conveniência, com o consentimento expresso dos colonos da cana que dominavam o aparelho de Estado em conluio com os invasores.

Em Porto Rico teriam de permanecer como exército de ocupaçom polos próximos 111 anos e contando. O próprio império espanhol tinha-lhes facilitardo o caminho ao forçar o exílio dos principais dirigentes independentistas comprometidos com a visom bolivariana, martiana e betanciana.

Betances morreria em Paris em 1899. Hostos morreria em Santo Domingo antes de que os EUA imporam a cidadania usamericana aos portorriquenhos. Ali está enterrado, no Panteom Nacional. Juan Rius Ri-vera recusou o oferecimento que lhe figeram de ser Presidente de Cuba em virtude de ter sido General do Exército Revolucionário Cubano desde 1868 até 1898.

A morte e o exílio dos patriotas e o terrível furacám de San Ciriaco em 1899, que devastou os cafeeiros da ilha, destruindo a principal activi-dade económica do país, contribuírom para o debilitamiento do indepen-dentismo e ajudárom a marcar um caminho político com predomínio de duas formaçons políticas: a autonomia em relaçom aos Estados Unidos e o anexionismo à Uniom desse país.

Era tam profundo o ressentimento e rejeiçom à tirania espanhola na ilha que muitos dos portorriquenhos vírom na invasom ianque a promes-sa de instauraçom de um regime de direitos democráticos que ilusamen-te associavam com a suposta democracia americana. Nom demorou a se converter em decepçom a euforia inicial de muitos que vírom os ianques como libertadores.

A exploraçom foi feroz. Umha imensa massa de trabalhadores da cana trabalhava 12 horas abaixo do inclemente sol por um salário equi-valente a 60 centavos ao dia. A populaçom de Cuba em 1898 era de um milhom e meio de habitantes. Tinha perdido três milhons devido às cruen-tas guerras de independência. Porto Rico, com um território treze vezes menor que o de Cuba, tinha em 1898 um milhom de habitantes.

Este imenso exército proletário foi forçado a trabalhar nos canaviais

intErnacional

Porto Rico, Colónia em Dous TemposSalv

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Tió

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