«Acção Socialista» n.º 1380

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150 CÂMARAS VITÓRIA HISTÓRICA MELHOR RESULTADO DE SEMPRE DE UM PARTIDO www.ps.pt N. O 1380 DIRETOR MARCOS Sá SETEMBRO|OUTUBRO 2013

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Edição Setembro / Outubro 2013

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150CÂMARAS

VITÓRIAHISTÓRICA

MELHOR RESULTADO DE SEMPRE DE UM PARTIDO

www.ps.pt

N.o 1380 dIReToR MARCoS Sásetembro|oUtUbro 2013

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ACÇÃo SoCIALISTA Há 30 ANoS

6 outubro 1983

V CoNGReSSo NACIoNAl

“Pacificação interna, apoio maciço a soares”, titulava o “As” na primeira página de 6 de outubro de 1983, onde o V Congresso Nacional do Ps ocupava lugar de destaque.Com o Governo do bloco Central como pano de fundo, o órgão oficial do Ps dava conta desta “nova fase na vida do partido”, marcada pela “reconciliação da grande família socialista.e o secretário-geral, mário soares, escrevia um editorial no jornal, onde sublinhava que deste congresso “o partido sai pacificado, mais consciente dos seus objetivos patrióticos, mais atualizado na sua doutrina, mais renovado nos quadros dirigentes”. ^ jCCb

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A eSCAldARMaior vitória de sempre

o Ps obteve no dia 29 de setembro a sua maior vitória nas autárquicas. o Ps teve o maior número de votos, maior número de mandatos e maior número de câma-ras municipais ganhas. e reconquistou a presidência da ANmP. e os três maiores concelhos do país são agora socialistas: Lisboa, sintra e Gaia. Nesta sua primeira prova de fogo eleitoral, António José seguro passou com distinção. e porque as autárquicas têm sempre uma leitura na-cional, o Ps é cada vez mais a alternativa credível para dar um novo rumo ao país.

QUeNTeTSU dos viúvos(as)

Passadas algumas dezenas de horas de ter garantir o abandono da tsU sobre as pensões, eis que mota soares, seu colega de Governo e correligionário, anuncia, preto no branco, que as pensões de sobrevivência irão sofrer cortes. Nem no luto os pensionistas estão a salvo deste Governo. “Inaceitável” e “enorme indignidade”, foi como o Ps classificou esta medida. Afinal a linha vermelha foi passada.

FRIoo penta de Portas irrevogável

Igual a si próprio. esquecendo as es-trondosas derrotas que as coligações de direita sofreram no país, em especial nos grandes centros urbanos, eis que Portas surge no Largo do Caldas eufórico e pro-clama vitória do CDs/PP. e, usando um jargão futeboleiro, proclama : “temos penta!”, numa alusão às cinco câmaras ganhas pelo seu partido. está tudo dito. Unidos mas pouco, tanto no Governo como nas autarquias.

GelAdoManchetes de manchete

Desde que entrou para o Governo, rui manchete ocupou sempre lugar nas manchetes dos jornais pelos piores motivos. Primeiro, com as suas de-clarações sobre a participação como acionista no bPN e na sLN. e agora o responsável máximo da nossa diploma-cia, jurista de renome, em entrevista à rádio Nacional de Angola pôs em causa a separação de poderes e autonomia na investigação criminal. em causa está um pedido de desculpas do ministro a Angola por investigações do ministério Público português a dirigentes angola-nos. Por isso, o líder do Ps exige que o Presidente da república “não fique de braços cruzados” e que “exija ao primei-ro-ministro a demissão do ministro dos Negócios estrangeiros”. Aguardemos o desfecho de mais este caso. ^ jCCb

COMISSãO POLíTICA

Seguro anuncia Convenção Novo RumoO secretário-geral do PS, An-tónio José Seguro, realçou a vitória histórica nas eleições autárquicas e anunciou a rea-lização da Convenção Novo Rumo.Na intervenção que fez pe-rante a Comissão Política, no dia 3 na sede nacional, Seguro disse que a Convenção Novo Rumo, que será lançada ain-da este mês, tem por objeti-vo de ser um espaço de prepa-ração para o programa do fu-turo Governo. “A Convenção não será um momento, mas um processo que começa em outubro, com um texto aber-to à subscrição e participa-ção de todos os cidadãos por-tugueses que se identifiquem com o nosso projeto”, disse.O líder socialista salientou o caráter histórico da vitória do

nosso partido, mas pediu que não haja uma “atitude de des-lumbramento” face aos resul-tados alcançados. E isto por-que, explicou, “reconhecemos o desencanto e a desilusão que muitos portugueses sen-tem face à política, os que fi-caram em casa e os que foram votar em branco”.E defendeu que para comba-ter esta indiferença crescen-te face à participação na vida política é preciso criar instru-mentos de aproximação aos cidadãos.

Não trocamos princípios por votosAntónio José Seguro reiterou a importância da estratégia, de acordo com princípios éti-cos, de não recandidatar, nas autárquicas de 29 de setem-

bro, presidentes de câmaras com mais de três mandatos consecutivos a concelhos vizi-nhos ou pessoas com proces-sos judiciais. “Não trocamos princípios por votos. Mas te-mos que fazer mais para apro-ximar as pessoas da política”, disse.O líder do PS alertou ainda os camaradas da Comissão Po-lítica Nacional para a gran-de responsabilidade do par-tido face aos resultados e ao que pôde constatar ao longo da campanha junto das popu-lações de norte a sul do país. “Jamais esquecerei o que ou-vi de muitos portugueses ao longo desta campanha au-tárquica, ouvi relatos cho-cantes. Com esta vitória as nossas responsabilidades aumentam”.

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150CÂMARASo melhor

resultado de sempreo Ps alcançou a maior vitória conseguida por um partido em eleições autárquicas. obteve mais votos, mais câmaras, mais mandatos e recuperou a liderança da Associação Nacional de municípios.

marcos.sa.1213@marcossa5

eDItorIAL VITÓRIA de PoRTUGAl

Marcos Sá

No seu primeiro teste eleitoral como secretário-geral do Ps, António José seguro passou com distinção. o Ps obteve a 29 de setembro a maior vitória de sempre, de um só parti-

do, em eleições autárquicas. o Ps teve mais votos, mais manda-tos, mais câmaras e mais freguesias. e reconquistou a presidên-cia da Associação Nacional de municípios Portugueses (ANmP). estes resultados mostram que o eleitorado reconheceu o mérito dos candidatos socialistas e das suas propostas, centradas numa nova geração de políticas autárquicas, tendo no centro a promo-ção do desenvolvimento sustentado, a criação de emprego e o re-forço da ação social.

e revelaram ainda o profundo descontentamento do eleitorado com a política dogmática do atual Governo da austeridade do cus-te o que custar e do empobrecimento geral do país e dos portu-gueses, em especial os estratos mais desfavorecidos.

obviamente que uma vitória do Ps de tal dimensão tem que ter uma leitura nacional. e essa leitura revela que os eleitores mos-traram de forma inequívoca o seu descontentamento, dando um cartão vermelho aos partidos do Governo.

e ao mesmo tempo mostraram que o Ps e o seu secretário-geral são cada vez mais uma alternativa capaz de dar um novo rumo de esperança e de progresso ao país. Com uma política que tenha no centro as pessoas e que faça a síntese harmoniosa entre conso-lidação orçamental e políticas de promoção do crescimento e do emprego.

No entanto, temos pela frente um grande desafio. Perceber as ra-zões que levaram ao aumento significativo da abstenção, assim como o aumento assustador do número de votos brancos e nulos. sem essa reflexão estaremos unicamente a adiar o inadiável. ^

Obviamente que uma vitória do PS de tal dimensão tem que ter uma

leitura nacional. E essa leitura revela que os eleitores mostraram de forma inequívoca o seu descontentamento, dando um cartão vermelho aos partidos do Governo

Um resultado que veio provar o que há muito já se sabia, se-gundo António José Seguro, que “há uma renovada relação de confiança entre os portu-gueses e o Partido Socialista, e uma inequívoca recusa das po-líticas erradas protagonizadas pelo primeiro-ministro de sis-temático e metódico empobre-cimento do país”.Para Seguro, as eleições do passado dia 29 de Setembro caracterizaram-se, para além da indesmentível vitória do PS, por um “imenso terramo-to no poder local”, traduzido numa “copiosa derrota para o PSD”.O líder socialista não tem dú-vidas de que o PS confirmou--se como o grande partido au-tárquico e nacional, o que foi aliás já corroborado pelo pri-meiro-ministro quando este assumiu na noite das eleições a derrota salientando tratar-

-se “de um dos piores resulta-dos para o PSD”.Não sendo expectável que es-te trambolhão da maioria pos-sa provocar de imediato a que-da do Governo, António José Seguro não deixa contudo de assegurar que foi claro o des-gaste eleitoral dos partidos da direita, sobretudo do PSD, que sofreu uma forte erosão no eleitorado urbano, parti-cularmente nos municípios do litoral.

PSd perde câmaras na MadeiraSe a vitória do PS nestas elei-ções autárquicas, no Conti-nente e nos Açores, não ofe-rece qualquer contestação, na Região Autónoma da Madeira, o PS fez História. Aqui, o ter-ramoto eleitoral do PSD tradu-ziu-se na perca para a oposição de sete das onze câmaras que dominava. Com o PS a ven-

cer sozinho em Machico, Por-to Santo e Porto Moniz e a li-derar a coligação vencedora no município do Funchal.Na capital do arquipélago, a coligação proposta e lidera-da pelo PS, infligiu a primei-ra derrota, em regime demo-crático, às hostes de Alberto João Jardim, levando o no-vo líder da autarquia funcha-lense, Paulo Cafôfo, a afirmar que “o 25 de abril chegou à Região”.Também nas freguesias hou-ve uma hecatombe eleitoral do PSD-Madeira, com a oposição ao regime de Jardim a passar de cinco freguesias, conquis-tadas em 2009, para 23 em 2013.Cenário que para o líder do PS--Madeira, Victor Freitas, veio dar um sinal claro de que os madeirenses e porto-santen-ses “querem também uma mu-dança na Região”. ^ R.S.A.

Há uma renovada relação

de confiança entre os portugueses e o Partido SocialistaAntónio José Seguro

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150 CÂMARAS SoCIALISTAS

VITÓRIAHISTÓRICA

secção

CÂMARASNÚMERO DECONQUISTAS

150

86

34

16

13

5

CONTINENTE

VALENÇA

CAMINHA

ESPOSEN DE

PORTO SANTOPORTO MONIZ

CALHETA

PONTA DO SOLRIBEIRA BRAVA

CÂMARA DE LOBOSFUNCHAL

SANTA CRUZ

MACHICO

SANTANASÃOVICENTE

AÇORES

CORVO

SANTA CRUZ DA GRACIOSA

VILA DA PRAIA DA VITÓRIA

ANGRA DO HEROÍSMO

VELAS

CALHETA

SANTA CRUZ DAS FLORES

LAJES DAS FLORESHORTA

MADALENA

LAJES DO PICO

S. ROQUE DO PICO

RIBEIRA GRANDE

PONTA DELGADA

NORDESTE

POVOAÇÃOVILA FRANCA

DO CAMPO

VILA DO PORTO

LAGOA

PÓVOA DE VARZIM

PAÇOS DEFERREIRA

CASTANHEIRADE PÊRA

FIGUEIRÓDOS VINHOS

VILA NOVA DA BARQUINHA

SOBRAL DE MONTE AGRAÇO

ARRUDA DOS VINHOS

ODIVELASAMADORA

OEIRAS

MOITABARREIRO

ENTRONCAMENTO

MATOSINHOS

PORTO

V. N. DE GAIA

ESPINHO

S. JOÃO DA MADEIRA

MURTOSAESTARREJA

ALBERGARIAA-VELHA

AVEIRO

ÁGUEDA

ANADIA

MEALHADA

MIRA

CANTANHEDE

ÍLHAVO

VAGOS OLIV. DO BAIRRO

BARCELOS BRAGA

GUIMARÃESV. N. DE

FAMALICÃO

VILA DO CONDE SANTO

TIRSO

GONDOMAR

TROFA

MONÇÃOMELGAÇO

VILA NOVADE CERVEIRA

VIANA DOCASTELO

PONTE DE LIMA

VILAVERDE

AMARES VIEIRA DOMINHO

PÓVOA DE LANHOSO

CABECEIRASDE BASTO

MONTA LEGRE

MESÃO FRIO

BOTICAS

CHAVES

VALPAÇOS

VINHAIS

BRAGANÇA

VIMIOSO

MIRANDA DO DOURO

MOGADOUROALFÂNDEGADA FÉ

MACEDO DE CAVALEIROS

MIRANDELA

CARRAZEDA DE ANSIÃES

FIGUEIRA DE CASTELO

RODRIGO

ALMEIDA

PINHEL

VILA NOVADE FOZ CÔA

S. JOÃO DA PESQUEIRA

MEDA

TRANCOSO

GUARDA

SABUGAL

GOUVEIA

CELORICO DA BEIRA

FORNOS DEALGODRES

AGUIAR DA

BEIRA

MANTEIGASSEIA

ARGANIL

TÁBUAPENACOVA

VN DE POIARESCOIMBRA

MONTEMOR--O-VELHOFIGUEIRA

DAFOZ

SOURECONDEIXA-

A-NOVA MIRANDADO CORVO

LOUSÃ GÓIS PAMPILHOSADA SERRA

COVILHÃ

BELMONTE

FUNDÃOPENAMACOR

IDANHA-A-NOVA

CASTELO BRANCO

OLEIROS

SERTÃ

ANSIÃO

PENELA

ALVAIÁZERE

LEIRIA

BATALHA

PORTODE MÓS

NAZARÉ

ALCOBAÇA

ALCANENA

GOLEGÃ

SANTARÉM

ALPIARÇA

ÓBIDOSPENICHE

LOURINHÃ

BOMBARRAL

CADAVAL

ALENQUERTORRESVEDRAS

AZAMBUJASALVATERRA

DE MAGOS

MAFRA

SINTRALOURES

VF DE XIRA

LISBOACASCAIS

CORUCHE

ALCOCHETE MONTIJO

CUBA VIDIGUEIRAMOURA BARRANCOS

SERPABEJA

ALJUSTREL

CASTRO VERDE

OURIQUE

ODEMIRA

ALMODÔVAR

MÉRTOLA

ALCOUTIM

CASTROMARIM

TAVIRA

V. R. DES. ANTÓNIO

OLHÃOFARO

LOULÉS. BRÁS

DE ALPORTEL

ALBUFEIRA

SILVES

MONCHIQUE

ALJEZUR

VILA DOBISPO

LAGOSLAGOA

PORTIMÃO

PALMELA

SETÚBAL

SESIMBRA

SEIXAL

ALMADA

BENAVENTE

ALMEIRIMCARTAXO

CHAMUSCA

CONSTÂNCIA

ABRANTESCALDASDA RAINHA

RIOMAIOR

OURÉM

TOMAR

TORRESNOVAS

FERREIRADOZÊZERE VILA

DE REI

MAÇÃOSARDOAL

NISA

CASTELO DE VIDE

MARVÃO

PORTALEGRE

CRATO

AVIS

SOUSEL

FRONTEIRAMONFORTE

ELVAS

CAMPOMAIOR

MORA

ARRAIOLOS

ESTREMOZ

REDONDO

BORBAVILA VIÇOSA

ALANDROAL

ÉVORA

ALVITO

VENDAS NOVAS

VIANA DOALENTEJOALCÁCER DO SAL

GRÂNDOLA

SINES

SANTIAGODO CACÉM

FERREIRA DOALENTEJO

MONTEMOR--O-NOVO

PORTEL

MOURÃO

REGUENGOSDE

MONSARAZ

PONTE DE SORALTER

DO CHÃO

GAVIÃO

ARRONCHES

MARINHAGRANDE

POMBAL

PROENÇA--A-NOVA

VILA VELHA DE RODÃO

PEDRÓGÃOGRANDE

OLIVEIRA DOHOSPITAL

TORRE DEMONCORVO

FREIXODE ESPADA

À CINTA

VILA FLOR

VILA POUCADE AGUIAR

RIBEIRADE PENA

MONDIM DE BASTO

VILA REAL

SABROSAAMARANTE

MAIAVALONGO

PAREDES

PENAFIEL

STA. MARIADA FEIRA

AROUCA

CASTELODE PAIVA

VALE DECAMBRA

SEVER DOVOUGA

OLIV. DEAZEMÉIS

OVAR

BAIÃO

MARCO DE CANAVEZES

SANTA MARTADE PENAGUIÃO

PESO DA RÉGUA

MURÇA

ALIJÓ

TABUAÇO

TAROUCAMOIMENTADA BEIRA PENEDONO

SERNANCELHE

LAMEGORESENDE

CINFÃES

CASTRO DAIRE

S. PEDRO DO SUL

VOUZELA

OLIVEIRA DE FRADES

VISEU

SÁTÃO

TONDELA

CARREGALDO SAL

SANTA COMBA

DÃOMORTÁGUA

NELAS

MANGUALDE

PENALVA DO CASTELO

V. N. DE PAIVA

ARMAMAR

CELORICODE BASTO

FAFE

VIZELA

FELGUEIRAS

LOUSADA

PONTE DA BARCA

PAREDES DE COURA

ARCOS DEVALDEVEZ

TERRAS DE BOURO

PS

PSD

PCP-PEV

CDS

BE

PS (COLIG)

PSD (COLIG)

INDEP

REGIÃOAUTÓNOMA

MADEIRAREGIÃOAUTÓNOMA

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5

secção

LISBOA

Maioria absolutaO PS, pelas mãos de António Costa, obteve uma maioria ab-soluta histórica em Lisboa, al-cançando o melhor resultado de sempre de um partido na capi-tal, e infringindo uma derrota colossal à direita.No discurso de vitória, Antó-nio Costa, que na sua lista in-tegrava os movimentos inde-pendentes de Helena Roseta e

Sá Fernandes, manifestou o seu “orgulho” por ser eleito pela ter-ceira vez consecutiva, salientou que este resultado não foi con-seguido na campanha, mas sim em “quatro anos de trabalho, no dia a dia, que fez na cidade”.E considerou que o sentido de voto na cidade de Lisboa “tem um significado muito claro: o apoio a uma gestão que revelou

ser possível, em Portugal, uma política alternativa àquela que tem vindo a ser seguida” pelo atual Governo, que passa, como aconteceu na capital, por medi-das em “contraciclo” como re-dução de impostos e da dívida e aumento do investimento.Costa disse ainda que esta vo-tação em Lisboa e no PS a nível nacional permite ao atual Go-

verno tirar “ilações várias” co-mo a possibilidade de “governar de forma diferente”.Depois de prometer continuar a trabalhar “melhor” para pros-seguir o objetivo de conseguir “mais emprego, mais pessoas e melhor cidade”, o autarca socia-lista sublinhou ainda que os re-sultados mostram também que os lisboetas querem que o poli-

ciamento e os transportes públi-cos passem a ser da competência do município.Na sua intervenção, o reeleito presidente da Câmara de Lisboa afirmou que “os eleitores tam-bém mostraram, quer de forma passiva quer ativa, que estão cá para mandar no seu país e para não deixar que outros mandem por nós”. ^ J. C. C. B.

50,91%11 MANDATOS

SINTRA

Vitória muito saborosaO novo presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, afir-mou estar emocionado com o resultado eleitoral, adiantando tratar-se de uma vitória "muito saborosa".Segundo o recém-eleito autar-ca socialista, “com a vitória em Sintra são 150 câmaras que o PS ganha, o que é um recorde absoluto em Portugal" em re-lação ao número de câmaras conquistadas.Mas a vitória é também saboro-sa por se tratar de uma recon-quista passados mais de dez anos de gestão laranja.Durante o discurso de vitória, Basílio Horta afirmou que as "grandes vitórias são sempre re-

nhidas", referindo-se ao longo período de espera pelos resulta-dos eleitorais.Numa disputa voto a voto, o re-sultado só se conheceu por vol-ta das duas da madrugada. “É uma vitória muito saboro-sa, que me emociona e que que-ro partilhar humanamente com todos aqueles que estiveram na campanha, ao meu lado, dias e dias, a calcorrear ruas e ruas, a dar conta do nosso projeto", afirmou.O também deputado socialis-ta agradeceu aos sintrenses pe-la vitória alcançada, adiantando que, ao fim de 12 anos de lide-rança do social-democrata Fer-nando Seara, a Câmara de Sin-

tra regressa ao PS."Sabemos para onde queremos ir e sabemos com quem quere-mos ir”, garantiu Basilio Horta, visivelmente emocionado, para desde logo esclarecer o caminho que vai trilhar.“O nosso projeto é claro, pri-meiro combater o desempre-go, fixando o investimento e atraindo novo investimento,

o que implica abrir Sintra ao país e ao mundo. E isso será a base da política social susten-tada", disse Basílio Horta aos jornalistas.A aposta na distribuição de bens alimentares, apoio às cre-ches, cuidados continuados e preservação da costa são ou-tros pontos importantes des-ta missão política, para a qual,

sublinhou, conta com todos, “desde que acreditem no sis-tema de partidos, essencial à democracia”.No fim, o novo presidente da Câmara de Sintra teve palavras de agradecimento à estrutura do PS que o apoiou desde a pri-meira hora. ^ M.R.

26,83%4 MANDATOS

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COIMBRA

Regresso ao encantoO PS conquistou a Câmara de Coimbra ao eleger com maioria relati-va (cinco em 11 eleitos) Manuel Machado, que presidiu ao municí-pio entre 1989 e 2001.No discurso de vitória, depois de sublinhar que é “uma grande hon-ra ter sido eleito” para uma função que bem conhece, Manuel Ma-chado apelou à “disponibilidade de todos para que colaborem, com as suas propostas e com a sua vigilância democrática e construtiva, no governo do concelho e da cidade”.Coimbra é “um tesouro de todos” e que “a todos incumbe preservar, potenciar e valorizar”, salientou Machado, sustentando que “as no-vas exigências que se colocam hoje aos autarcas passam pela criação de condições favoráveis ao investimento e à inovação, conseguindo assim combater o desemprego, criar novos postos de trabalho e pro-mover riqueza socialmente útil”.“O nosso projeto é atrair investimento, captar inovação, fomentar empresas. Nós, autarcas dos próximos anos, teremos que ser exí-mios em transformar o talento e a criatividade em negócios”, sa-lientou o presidente da Câmara eleito, assegurando que, para isso, irá “baixar os impostos municipais”. ^ M.R.

MADEIRA

Fez-se abril!“Hoje fez-se Abril no Funchal”, disse Paulo Cafôfo, o primeiro autarca, desde 1976, a conse-guir ser eleito por uma coligação liderada pelo PS para presidir à câmara funchalense.Perante a euforia instalada nu-ma praça da cidade, cheia de apoiantes, o professor de His-tória de 42 anos, escolhido pa-ra encabeçar a coligação “Mu-dança”, de seis partidos (PS, BE, PND, MTP, PAN e PTP), afirmou que nestas eleições au-tárquicas os funchalenses “fi-zeram a democracia acontecer na capital da Madeira” e “de-monstraram o que é a cultura democrática”.“Esta é uma mudança tranquila para todos os funchalenses sem exceção”, declarou Cafôfo, que referiu ter já “cumprimentado todos os adversários que passa-ram a ser parceiros para um no-vo Funchal”.O eleito sublinhou que esta can-didatura foi “uma bandeira con-tra a frustração, o conformis-mo, a inibição e a autocensura”.“Não acreditamos no determi-nismo político e que tudo es-tá decidido independentemen-te do que façamos. Acreditamos convictamente que os homens e mulheres podem mudar o mun-do e agir sobre a sociedade bus-

cando a sua transformação”, acrescentou.Paulo Cafôfo assume assim a presidência de um municí-pio governado desde 1976 por maiorias absolutas do PSD.Mas a hegemonia laranja foi também varrida pelo PS nou-tros três concelhos da Região Autónoma da Madeira.No Porto Moniz venceu Ema-nuel Câmara, naquela que se-rá a estreia desta localidade do norte da ilha como autarquia socialista.Já o Porto Santo voltou a dar a vitória ao PS, mais de uma dé-cada depois de ter sido conquis-tada pelo PSD, o que signifi-ca “um novo rumo para a ilha”, disse o presidente eleito, Filipe

Menezes.Igualmente, Machico, que du-rante muito tempo foi conside-rado o “bastião da resistência” ao PSD na Madeira, viu o PS re-gressar à presidência da Câmara Municipal com a eleição de Ri-cardo Franco, 16 anos depois, derrotando a maioria laranja.Em declarações à Imprensa, o lí-der regional do PS, Vítor Frei-tas, frisou que “esta reviravol-ta eleitoral na Madeira expressa uma mudança que os madeiren-ses desejavam”.“A Madeira a partir de hoje é completamente diferente: pas-sará a conviver em várias cores e o resultado representa uma grande derrota do PSD”, con-cluiu. ^ M.R.

35,51%5 MANDATOS

AçORES

Maioria reforçadaO PS ganhou claramente as elei-ções autárquicas nos Açores, re-forçando a vitória que já tinha alcançado há quatro anos, ten-do ainda visto o PSD ficar redu-zido a apenas quatro câmaras.De salientar a vitória do cama-rada Carlos Mendonça, no mu-nicípio Nordeste, ilha de São Miguel, como conquista de um dos mais antigos bastiões laran-ja desta Região Autónoma.O presidente do PS/Açores, Vasco Cordeiro, considerou que o partido obteve uma “vitória muito saborosa”, somando mais um concelho aos 12 ganhos em 2009.“Desse ponto de vista, é tam-bém ela uma vitória muito sa-borosa”, disse o presidente do PS/Açores, sublinhando que cumpriu os objetivos para estas

eleições que tinha estabelecido em janeiro, quando assumiu a liderança do partido.“Os resultados saldam-se numa grande vitória do PS/Açores”, sublinhou.

Estas foram as primeiras elei-ções que Vasco Cordeiro enfren-tou desde que tomou posse co-mo presidente do Governo Re-gional, em novembro passado, e como líder do PS/Açores. ^ M.R.

LAGOA

Histórica conquistaO camarada Francisco Martins classificou co-mo uma "vitória his-tórica" a conquista da Câmara de Lagoa, no Algarve, garantindo a maioria absoluta com quatro mandatos con-tra três do PSD.“É uma vitória históri-ca, pois conseguimos ganhar em todas as frentes: a Assembleia Municipal e todas as freguesias do conce-lho”, disse Francisco Martins, para quem os resultados “demons-tram a vontade de mudança da população”.Segundo o novo presidente da Câmara de Lagoa – enfermeiro de 45 anos e até agora presidente da Junta de Freguesia de Lagoa e da Concelhia do PS –, esta vitória assentou numa “política de pro-ximidade com as pessoas, desgastadas com os sacrifícios a que es-tão sujeitas”.“Estamos preparados para esta grande responsabilidade, com a cer-teza de que iremos fazer tudo em prol da população e do desenvol-vimento do concelho. Abre-se um novo ciclo político cujo desafio é o de manter os princípios de proximidade", sublinhou.De destacar que a vitória do PS em Lagoa põe fim a um ciclo de 28 anos consecutivos de gestão laranja. ^ M.R.

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GAIA

Um novo cicloApós 16 anos de Luís Filipe Menezes, o PS volta a gover-nar a Câmara de Gaia. É um “novo ciclo” num dos conce-lhos mais populosos do país e onde o desemprego atinge taxas insuportáveis.O socialista Eduardo Vítor Rodrigues, que será o pre-sidente nos próximos qua-tro anos, promete “uma no-va forma de fazer política”, adiantando que os desafios que se colocam para o futu-ro frente exigem um “amplo

consenso”.“Este é um novo ciclo em Gaia, não porque ganha um novo partido. Este é um novo ciclo porque ganha uma nova forma de fazer política mais próxima das pessoas e a pen-sar na resolução dos proble-mas e dos interesses das pes-soas de Gaia”, disse o novo presidente da autarquia.E acrescentou: “Tenho bem noção do sentido de respon-sabilidade desta vitória. O que vos prometo é que até à

última gota do meu suor farei tudo para não vos desiludir”.Na sua intervenção na se-de de candidatura, depois de uma nota de agradecimen-to ao secretário-geral do PS, António José Seguro, pelo seu empenhamento na cam-panha em Gaia, Eduardo Ví-tor Rodrigues prometeu uma luta sem tréguas junto do Governo para reivindicar um programa de emergência contra o desemprego no con-celho. ^ J. C. C. B.

38,15%5 MANDATOS

GONDOMAR

Concelho devolvido aos cidadãosO socialista Marco Martins ganhou, por maioria absoluta, a Câma-ra Municipal de Gondomar, reconquistando assim para o PS esta au-tarquia, após 20 anos de consulado de Valentim Loureiro. O conce-lho foi devolvido aos gondomarenses.“Esta é uma vitória histórica, como nunca aconteceu. Para a Câma-ra, ganhámos em todas as freguesias. E conquistámos seis das sete juntas de freguesia, faltando apenas a de São Pedro da Cova, que foi para a CDU”, afirmou o novo presidente da Câmara.No fundo, sublinhou Marco Martins, “as pessoas revelaram grande vontade de mudança, o forte desejo pelo fim de um ciclo de 20 anos que governou Gondomar. O concelho foi devolvido aos gondoma-renses, que o governarão a partir de agora”. ^ JCCB

46,41%7 MANDATOS

VILA NOVA DE POIARES

Vitória expressivaApós 39 anos de gestão laranja, os eleitores de Vila Nova de Poiares deram um cartão vermelho ao PSD e elegeram como novo presiden-te da Câmara o antigo árbitro de futebol e professor de Educação Fí-sica João Miguel Henriques. O PS é assim chamado a dirigir os destinos de Vila Nova de Poiares pela primeira vez e com maioria absoluta.O presidente eleito afirmou que o seu principal desafio será enfren-tar “a situação muito complicada” herdada das gestões do PSD.E adiantou que sabia que “estas eleições seriam disputadas taco a ta-co com o PSD, mas não esperava uma vitória tão expressiva”.João Miguel Henriques salientou ainda que “as pessoas já estavam cansadas” da preponderância “do mesmo partido e da mesma pes-soa”, há 37 anos, numa alusão ao “dinossauro” Jaime Soares, que li-derou a autarquia durante décadas, tendo nestas eleições acolhido “as propostas responsáveis” do PS para fazer face a uma “situação fi-nanceira complicada”. ^ JCCB

55,56%3 MANDATOS

VILA REAL

Mudança forteAo fim de 38 anos de domínio da direita, “fizemos história” em Vila Real, afirmou Rui San-tos, o novo presidente da au-tarquia na noite das eleições perante uma plateia de mi-litantes e simpatizantes que festejavam a vitória socialista.“É a vitória de todos os vila--realenses. De todos aqueles que decidiram confiar em nós, que decidiram confiar nes-te projeto, decidiram dar-nos uma oportunidade”, afirmou, acrescentando que “a partir de agora Vila Real terá uma mu-dança, uma mudança forte”.Revelando desde logo uma postura ética e de serieda-

de política, Rui Santos disse que irá cumprir os compro-missos do PS de baixar a fatu-ra da água, de lançar políticas

de promoção do emprego e de fazer regressar já em 2014 as corridas de automóveis a Vila Real. ^ J. C. C. B.

44%

5 MANDATOS

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UMA VITÓRIA DE TODOS OS PORTUGUESES

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UMA VITÓRIA DE TODOS OS PORTUGUESES

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10 SIGA-NoS No TWITTeR @PsoCIALIstASIGA-NoS No TWITTeR @PsoCIALIstA

Rui SolheiRo SECRETáRIO NACIONAL PARA AS AUTARqUIAS

“estes resultados eleitorais têm também uma leitura nacional”o Ps alcançou o maior resultado autárquico da história da nossa democracia. em entrevista ao “Acção socialista”, rui solheiro não tem dúvidas que a política de austeridade cega que este Governo prossegue está a destruir a economia e criar problemas sociais enormes, salientando que os socialistas têm feito uma oposição construtiva com a apresentação de alternativas sérias. RUI SolANo de AlMeIdA

Que leitura faz destas elei-ções autárquicas?As eleições autárquicas de 29 de Setembro constituíram uma vitória histórica do PS e uma verdadeira derrocada do PSD e do Governo.

A vitória do PS, alcançando mais votos, mais câmaras e freguesias, tem apenas uma leitura local e regional, ou também nacional?Além da maioria dos vo-tos, o PS conseguiu a presi-dência de 150 câmaras e com

uma diferença de 44 câmaras em relação ao segundo parti-do (PSD+coligações) obteve o maior resultado autárquico da história da nossa democracia. Com estes resultados e com a vitória em 1274 juntas de fre-guesias, o PS conquistou a pre-sidência da ANMP e da ANA-FRE. Obviamente, que uma vi-tória desta dimensão tem que ter uma leitura nacional.

Nestas eleições o eleitorado quis premiar o PS ou penali-zar os partidos do Governo?

O eleitorado reconheceu o mé-rito dos candidatos e dos com-promissos do PS com as po-pulações e com a participação do secretário-geral na campa-nha os temas que mais preocu-pam os portugueses estiveram na ordem do dia com a conse-quente penalização dos parti-dos do Governo.

Como reage às análises que tentam desvalorizar a vitó-ria socialista quando acen-tuam que o PS perdeu algu-mas câmaras municipais?

Uma boa parte dos analistas desconhece a realidade do país, o que leva a cometerem erros grosseiros de previsão e análise dos resultados eleitorais.

Com estes resultados o PS fortalece a sua posição pa-ra poder reivindicar outras políticas junto do Governo?O PS tem feito uma oposi-ção construtiva com a apre-sentação de alternativas sé-rias às políticas do Governo. Este resultado eleitoral con-firma o mérito da oposição do

PS e mostra como os portugue-ses veem na liderança de Antó-nio José Seguro e do PS a espe-rança de um Novo Rumo para Portugal.

o PS foi penalizado por ter cumprido a lei ao não ter re-candidatado ninguém com mais de três mandatos?O PS, ao não permitir a can-didatura a outras câmaras de presidentes com três ou mais mandatos exercidos no mesmo município, opôs-se à profissio-nalização do cargo de presiden-

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qUATRO PERGUNTAS A MiGuel lARANJeiRo

“o resultado destes dois anos de governação é desastroso”Como interpreta, do ponto de vista político, o resultado destas eleições autárquicas?Trata-se da maior vitória de sempre, de um só partido, em eleições au-tárquicas. O Partido Socialista obteve mais votos, mais mandatos, mais freguesias e mais câmaras municipais. Num número: o PS ganhou 150 câmaras, muito mais do que qualquer uma das previsões. Este resulta-do traduz a escolha dos cidadãos, mas sobretudo marca uma derrota das políticas da coligação de direita e reforça a relação de confiança dos portugueses com o PS. Há um Novo Rumo de esperança e de confian-ça que se reforça e que é protagonizado pelo PS e pelo Secretário-geral, António José Seguro.

os partidos do Governo sofreram uma pesada derrota sobre-tudo nos grandes centros urbanos. Que leitura faz deste facto?O Governo afastou-se dos portugueses, virou as costas aos proble-mas das pessoas, das famílias e das empresas. O PSD e o CDS-PP es-tão alheados dos dramas dos cidadãos e os eleitores aproveitaram estas eleições para dizer basta a uma política de austeridade e de cortes. Era altura do Governo ouvir os portugueses e mudar de políticas, mas o pri-meiro-ministro já disse que vai continuar a insistir nos mesmos erros. Terá a oposição dos portugueses e do Partido Socialista.

É expectável que este tombo autárquico da maioria possa trazer consequências imediatas para o Governo?O Governo tem demonstrado uma insensibilidade gritante a tudo o que está a ocorrer em Portugal: ao desemprego, às falências, ao aumento da pobreza e das desigualdades, aos cortes das pensões e das reformas, à di-minuição do apoio social e à destruição das funções sociais do Estado.Infelizmente, este Governo de direita já nos habituou a não ouvir os ci-dadãos e os seus problemas e não sabe tirar as ilações da realidade que está à vista de todos. Este Governo falhou e os portugueses deram a sua resposta nestas eleições. O resultado da governação destes dois anos é desastroso, empurra todos os dias portugueses para o desespero e só mesmo o Governo é que não percebe que o país exige mudança. Mas esta necessidade é cada vez evidente.

Como interpreta a dissonância de leituras que os dois partidos do Governo fazem destas autárquicas?Assistimos ao assumir, por parte do líder do PSD, da estrondosa derro-ta do seu partido, enquanto o líder do CDS-PP tentou uma demarcação do resultado catastrófico. Esse é um problema da coligação de direita, que mostra bem a falta de coesão do Governo. O Partido Socialista es-tá ainda mais mobilizado e empenhado em apresentar as melhores so-luções para os problemas das pessoas. É essa a nossa missão e conta-mos com todos os cidadãos para construir um Novo Rumo de esperan-ça para Portugal. ^

Rui SolheiRo SECRETáRIO NACIONAL PARA AS AUTARqUIAS

“estes resultados eleitorais têm também uma leitura nacional”

te de câmara, apostou na re-novação e assumiu que a ética deve estar acima da lei.

o segundo lugar alcança-do no Porto pode reservar ao PS um papel decisivo na gestão da autarquia?Depende de um eventual acordo que garanta a defesa dos interesses do Porto, da área Metropolitana e do pró-prio país.

o que pode mudar na ges-tão da ANMP com a re-conquista pelo PS da presidência?A direção tem que se reapro-ximar dos seus associados, criando condições para uma maior e melhor participação dos autarcas nas decisões da Associação. A ANMP tem que

ter ideias claras para o país, defendendo políticas no sen-tido de um desenvolvimento sustentável e equilibrado em todo o território nacional.

o PSD sofreu uma forte erosão no eleitorado ur-bano. Que leitura faz des-te cenário?A política de austeridade cega que este Governo está a pros-seguir destrói a economia e cria problemas sociais enor-mes, que se sentem com maior incidência nos centros urba-nos. Estes resultados mos-tram o divórcio dos portugue-ses com o Governo e eviden-ciam o caminho alternativo que o PS tem apresentado de aposta no crescimento econó-mico e emprego, criando ri-queza que permita respeitar

os compromissos assumidos com os nossos credores, sem custos sociais dramáticos pa-ra as famílias e empresas. Es-te resultado eleitoral é um não rotundo à política de insensi-bilidade social deste Governo.

A vitória esmagadora do PS nestas eleições refor-ça a projeção do secretá-rio-geral socialista a nível nacional?A participação do secretário--geral na campanha foi ver-dadeiramente extraordinária. Foi incansável no contacto com as pessoas e com os seus problemas. Com a empatia que estabeleceu com os por-tugueses, António José Segu-ro foi o suplemento de alma que garantiu ao PS esta vitó-ria histórica. ^

Estas eleições constituíram uma vitória para o PS e uma verdadeira derrocada

do PSD e do Governo

A política de austeridade cega que este Governo está a prosseguir destrói a

economia

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12 ACoMPANHe-NoS No FACebooK seDeNACIoNALPArtIDosoCIALIstAACoMPANHe-NoS No FACebooK seDeNACIoNALPArtIDosoCIALIstA

Universidade republicana e plural

Évora foi de novo palco da Uni-versidade de Verão do PS, que este ano, de 28 a 31 de Agos-to, debateu os novos desafios do poder local, centrando-se em temas como Economia Social, Municípios Verdes, Reabilita-ção e Regeneração Urbana e Or-denamento do Território.Para além dos habituais janta-res-debate, este ano a Univer-sidade de Verão teve também Cafés Literários, que pretende-ram criar uma discussão acer-ca de um romance ou um ensaio num ambiente de descontração e informalidade.álvaro Beleza e Jorge Seguro Sanches foram mais uma vez os reitores da Universidade de Ve-rão do PS, que é já uma referên-cia de excelência como espaço de debate e reflexão, com per-sonalidades de grande relevo da vida política e académica nacio-nal, sobre os grandes temas da nossa vida coletiva, na procura de um novo rumo progressista para o país.

RENTRÉE

Contra a destruição do estado Social custe o que custaro Ps lutará contra a destruição do estado social, que demorou 40 anos a construir e que é obra e património dos portugueses, garantiu António José seguro no discurso de encerramento da Universidade de Verão, que assinalou a rentrée política do partido.

“Aqui sim, custe o que custar, es-taremos onde for preciso para defender o Estado Social, como em 1975 defendemos a liberda-de”, realçou o secretário-geral so-cialista, em Évora, salientando de seguida ser esta “uma questão que divide de forma clara aqueles que assumem uma visão neolibe-ral, daqueles que, como nós, têm uma visão progressista e solidá-ria do país”.Na ocasião, o secretário-geral do Partido Socialista conside-rou “absolutamente inaceitável”, num Estado de Direito, que Pe-dro Passos Coelho ataque, amea-ce ou queira fazer do Tribunal Constitucional o bode expiatório dos fracassos do Governo.

É preciso dizer com frontalida-de ao primeiro-ministro que is-so é inaceitável num Estado de Direito", frisou, colhendo fortes aplausos na sala.De seguida criticou veemente-mente o Executivo da coliga-ção de direita por não gostar da Constituição da República.Já a ameaça de um segundo res-gate a Portugal, a que Passos Coe-lho periodicamente se tem referi-do, “nada tem a ver com o Estado Social”, frisou o líder do PS, subli-nhando a este propósito que “é a incompetência e são as políticas erradas do Governo que nos co-

locam sob o risco de um segun-do resgate”.António José Seguro assumiu ainda o compromisso de, no pró-ximo ano, apresentar as bases do programa do futuro Governo de Portugal que incidirá na reforma sustentável do Estado e no apoio à Economia e ao Emprego, com uma visão e uma estratégia para Portugal.No encerramento da Universida-de de Verão, Seguro deixou cla-ro que há dois caminhos para o país: um que é "o do Governo e da troika", outro aquele que de-fende o PS.

“O primeiro tem falhado redon-damente”, pelo que admite que a troika possa vir a mexer nas me-tas do memorando de entendi-mento, “sobretudo na da receita fiscal, de que é corresponsável”.Numa referência ao Orçamento do Estado para 2013, deixou três mensagens concretas três. Pri-meira: "O PS não participou nem participará na elaboração" do OE. Segunda: "O Governo tem maio-ria absoluta para aprovar" as suas propostas, logo, "o PS não [o] chumba nem aprova". E, tercei-ra: "Não cedo a pressões, venham de onde vierem", concluiu. ̂ M.R.

Nota: As quatro propostas socialistas foram debatidas no dia 3 de outubro na Assembleia da república, mas apenas uma, relativa à descida de IrC, foi aprovada.

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FoGoS FloReSTAIS: CRISe e ReSCAldo

Miguel Freitas

mais um ano infernal na floresta portuguesa, mais um ano de descontrolo nos incêndios, com consequências dramá-ticas, perda de vidas humanas, destruição de património e

elevados prejuízos para a economia nacional.Dois anos consecutivos com área ardida superior a 100 mil hecta-res. o que não acontecia desde 2006, após as alterações no dis-positivo legislativo e operacional. Foram anos difíceis, com condi-ções climatéricas excecionais. mas isso não justifica tudo. o que aconteceu então?Faltou investimento na prevenção estrutural, com redução de 20% em dois anos. os Planos municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios não avançam ao ritmo desejado, estando exe-cutados em cerca de 35%. A rede primária prevista de 2000 quiló-metros está concretizada em apenas 20%. esta é a realidade que o Ps denunciou e o Governo não quis ouvir.entretanto, em junho, há uma alteração orgânica na Proteção Civil a nível regional e local. Foram criadas novas estruturas de coordenação técnica, excêntricas às regiões-plano. Foram subs-tituídas as chefias em período avançado de fogos. Criticámos a alteração e a mudança fora de tempo nas estruturas de comando operacional.entretanto, o ICNF passou a ter uma dupla tutela, agravando-se a deriva institucional dos serviços florestais que não favorece a sua atuação eficaz.No rescaldo de mais uma crise, a resposta não passa por mais legislação, mas pelo seu integral cumprimento.o estado tem de investir na conclusão da rede primária, em arti-culação com as autarquias e com as associações de produtores florestais. são precisos 150 milhões de euros, com recurso a fi-nanciamento de fundos comunitários. o estado tem de garantir meios operacionais com níveis de profissionalização e formação para o combate aos fogos, trabalhando de perto e valorizando os bombeiros portugueses. e tem de assegurar estabilidade institu-cional e uma efetiva coordenação política dos incêndios florestais.A floresta é privada, deve ter uma gestão cuidada. As políticas devem incentivar o associativismo e novas formas de gerir a flo-resta, particularmente na pequena propriedade. e devemos, a par da simplificação dos procedimentos, manter uma orientação clara em matéria de ordenamento florestal.A cada um a sua responsabilidade. ^

dINAMIzAR eCoNoMIA e AlIVIAR SACRIFíCIoSo Partido socialista apresentou no dia 3 de outubro quatro propostas à Assembleia da república que têm como denominador comum estimular o crescimento e o emprego, aliviando também os sacrifícios dos portugueses. As propostas centram-se na redução do IrC para as pequenas e médias empresas, do IVA na restauração, do ImI, bem como na recomendação ao Governo para que não se atrase mais o apoio social aos idosos que não estão a conseguir pagar os aumentos das rendas de casa.Com o objetivo de melhor informar, o “Acção socialista” esclarece neste espaço, de forma simplificada, possíveis dúvidas relacionadas com estas propostas.

A redução da taxa do iRC para as PMe foi a única das quatro propostas do PS que foi

aprovada pelo Parlamento. o que significa em concreto esta vitória para a melhoria da situa-ção das PMe?Trata-se de um passo à frente, importante, justo e necessário, uma vez que assegura a equidade nos sa-crifícios e beneficia as empresas de menor dimensão que se debatem com maiores problemas.No caso concreto das empresas portuguesas, tem havido um conjunto de circunstâncias que penaliza fortemente a sua atividade e as condições financei-ras: redução da procura interna, aumento de impos-tos, aumento da burocracia, atraso nos reembolsos do IVA, redução abrupta das condições de crédito e limitação dos limites de crédito.O alívio fiscal, agora aprovado por iniciativa do PS, acautela as PME e garante a sustentabilidade de mi-lhares de empregos.

o que mudará realmente em sede de iRC?As alterações ao IRC não poderão consistir ape-

nas num bónus para as grandes empresas que atual-mente suportam a receita deste imposto sem que tal tenha efeito real de incentivo ao crescimento e ao emprego.

A proposta do PS foi aprovada. o que vem a seguir?

O projeto de lei apresentado pela bancada parlamen-tar socialista segue para discussão na especialidade, na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

o agravamento do iVA na restauração foi um erro consciente por parte do Governo?

Desde que foi tornado público que o Governo iria propor, no Orçamento de Estado para 2012, o au-mento do IVA de 13% para 23% para o setor da res-tauração – indo além do que ficara contratualizado no Memorando de Entendimento de 17 de Maio de 2011 – que se tem chamado a atenção para o efei-to contraproducente que esta medida iria produzir: por um lado, a quebra no consumo das famílias, que dispõem de menos rendimento disponível iria redu-

zir a receita fiscal de IVA esperada pelo Governo; por outro, levaria a uma cascata de insolvências e à des-truição em massa de postos de trabalho, que, para além das terríveis consequências sociais, colocaria em causa a execução orçamental do lado da despesa em subsídios de desemprego.

Que impacto socioeconómico teve este au-mento do iVA? no sector da restauração de

23% para 13%?Estima-se que entre 2012 e 2013 tenham encerrado cerca de 39 mil empresas, das quais sete mil encer-ram como resultado da conjuntura macroeconómi-ca, e a extinção de mais de 99 mil postos de trabalho, sendo que 16 mil empregos se perdem como resulta-do da contração do consumo privado.O resultado do aumento da taxa de IVA dá lugar a um efeito negativo ao nível da segurança social e efeitos indiretos. O impacto financeiro negativo pa-ra o Estado, em 2013, estima-se em 854 milhões de euros.

A maioria de direita chumbou na Assem-bleia da República a descida do iVA de 23 pa-

ra 13% proposta pelo PS. e agora?O Governo não ia a tempo de recuperar as empre-sas e o emprego destruído com o letal agravamento do IVA na restauração. Mas, se a maioria parlamen-tar que o sustenta tivesse votado favoravelmente es-ta proposta, ainda ia a tempo de corrigir parcialmen-te o erro grosseiro que cometeu.Assim sendo, a manutenção da taxa de IVA em 23% em 2013 traduzir-se-á numa receita adicional de apenas 399 milhões de euros, manifestamente insu-ficiente para compensar as perdas de 854 milhões, continuando a provocar pressão significativa nas empresas do sector.

os deputados socialistas exigiam a redução do iMi. De que modo?

A redução proposta no Imposto Municipal sobre Imóveis seria feita de modo a ter em conta o valor de mercado das habitações.Propunha-se, pois, uma atualização da fórmula de cálculo do valor patrimonial fiscal, introduzindo ne-la um índice de mercado, calculado com base no va-lor médio de avaliação bancária publicado pelo INE, nos termos de uma portaria a publicar.

e uma avaliação automática não pode resul-tar em injustiças?

Sim, é uma possibilidade. Por isso, os deputados do PS propunham também a criação de uma comissão de peritos com a missão de analisar as reclamações que viessem a ser apresentadas pelos proprietários.

o Partido Socialista recomendou ao execu-tivo que não atrasasse mais o apoio social

aos idosos sem recursos para suportar o au-mento das rendas, provocadas pela nova lei. Por quê?A lei de arrendamento é injusta, tendo sido pro-mulgada com a garantia pública e formal da prote-ção social dos arrendatários em situação de maior vulnerabilidade.Como é sabido, em devido tempo o GPPS apresen-tou uma série de propostas que poderiam mitigar os efeitos perniciosos da nova lei em termos dos inqui-linos de menores recursos, mas a maioria PSD/PP rejeitou, de forma liminar e insensível, as medidas e os argumentos apresentados.Assim, o PS entende que o Governo, que aprovou de forma pouco dialogante a metodologia do au-mento das rendas, não pode eximir-se de agir com o álibi de que aguarda um estudo sobre o impacto da nova lei.

mjpfreitas

Faltou investimento na prevenção estrutural, com redução de 20% em dois

anos. Os Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios não avançam ao ritmo desejado, estando executados em cerca de 35%. A rede primária prevista de 2000 quilómetros está concretizada em apenas 20%. Esta é a realidade que o PS denunciou e o Governo não quis ouvir

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14 SIGA-NoS No TWITTeR @PsoCIALIstASIGA-NoS No TWITTeR @PsoCIALIstA

Fogos florestais combatem-se com mais prevençãoo custo anual com os incêndios ascende a perto de mil milhões de euros. 150 milhões por prejuízos diretos nas matas e florestas e cerca de 750 milhões em produtos que deixaram de ser fabricados em Portugal devido à falta de madeira.

Estas foram as conclusões a que che-gou um grupo de personalidades, en-tre as quais se destacam o ex-Presiden-te da República Jorge Sampaio, Fran-cisco Avilez e João Ferreira do Amaral. Até finais do passado mês de agosto, os incêndios florestais consumiram perto de 95 mil hectares, reeditando o drama de 2012 em que arderam 100 mil hectares de matas e florestas. Para além da origem criminosa ou ne-gligente que representam, segundo fontes policiais e dos próprios bombei-ros, as principais causas de incêndio nas florestas e matas portuguesas, ou-tros fundamentos são ainda aponta-dos como sementes deste flagelo. Ausência de uma verdadeira políti-ca florestal nacional, alheamento dos proprietários florestais em relação á limpeza e ordenamento do seu territó-rio e a inexistência de um efetivo pla-neamento e gestão do espaço flores-tal por parte do Estado. A estes fatores devem ainda adicionar-se o despovoa-mento rural e os inúmeros conflitos de interesses, para além da reduzida par-ticipação dos proprietários nos proces-sos de decisão.O Partido Socialista, através do secre-

tário-geral, António José Seguro, so-licitou já ao Governo esclarecimentos sobre os motivos que levaram a que nove bombeiros tenham perdido a vi-da este verão no combate às chamas, exigindo também explicações quanto às falhas na prevenção e no escasso re-curso aos meios aéreos, recordando o líder socialista que estas mortes cons-tituem mais um recorde infeliz no pal-marés do atual Governo de direita.Para Seguro, foram demasiadas as vi-das perdidas e os feridos para serem apenas contabilizados como “simples acidentes de percurso” ou em “lamen-tos institucionais”, garantindo que o país não pode continuar a aceitar que se encare esta tragédia, ano após ano, como uma inevitabilidade.

PS exige explicações Por isso, o Partido Socialista vai cha-mar ao Parlamento a ministra da Agri-cultura, para se saber das razões por-que o Governo tem investido pouco na prevenção, apenas cerca de 18 mi-lhões de euros, contra os já anunciados 78 milhões que serão gastos este ano no combate aos fogos florestais. Cená-rio que, na perspetiva dos socialistas,

contribui para gerar ainda “maior ins-tabilidade em todo o sistema”, reivin-dicando uma aposta mais expressiva na prevenção.A par do anúncio desta audição parla-mentar a Assunção Cristas, o deputa-do Miguel Freitas anunciou que a ban-cada socialista irá apresentar na As-sembleia da República um projeto de resolução em matéria de prevenção e combate a incêndios florestais, tendo em vista encontrar os mecanismos que contribuam para estancar o que os so-cialistas consideraram ser “uma inver-são clara de prioridades” deste Gover-no, que em dois anos aumentou em 15% a verba destinada ao combate e diminuiu em idêntica proporção o in-vestimento em prevenção estrutural.Também o vice-presidente da banca-da socialista, José Junqueiro, defen-deu que a Justiça deverá assumir uma atitude de maior protagonismo em to-da esta problemática dos incêndios flo-restais, passando a ter “mão pesada” para os incendiários a par da necessi-dade de se encontrarem métodos mais eficazes para uma maior agilização en-tre os vários mecanismos de fiscaliza-ção e de investigação criminal. ^ R.S.A.

PS considera inaceitáveis cortes nas pensões de sobrevivência

o Ps, pela voz do seu deputado e ex-secretário de estado da segurança social, Pedro marques, pediu ao Governo explicações sobre os anunciados cortes nas pensões de sobrevivência, prestação social atribuída a viúvas e viúvos, considerando a medida “inaceitável” e “de enorme indignidade”.

Uma medida que surge passados ape-nas três dias depois de Portas ter es-condido esta proposta, em conferência de Imprensa onde falava sobre as 8º e 9ª avaliações da troika), e garantindo que a TSU dos pensionistas estava en-terrada e não havia novas medidas de austeridade. Segundo Pedro Marques, “há uma ne-cessidade de explicação por parte do Governo, porque o primeiro-ministro nada referiu sobre esta matéria no de-bate quinzenal e o vice primeiro-minis-tro, na conferência de Imprensa de 3 de outubro, até disse que não havia novas medidas de austeridade e falou no fim da TSU dos pensionistas”.O deputado socialista afirmou que es-ta proposta “é imoral do ponto de vista social”, considerando “inaceitável a fal-ta de verdade e de clareza do Governo”.“É profundamente errado que o Gover-no, em particular Paulo Portas, tenha escondido esta medida dos portugueses quando disse que ia acabar com a TSU dos pensionistas”, disse, acrescentan-do que “afinal a TSU sobreviveu para os viúvos e viúvas”.Para o ex-secretário de Estado da Segu-rança Social, é de “uma enorme indig-nidade” o Governo querer cortar nas pensões.

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veu este “A arte da guerra”, um clássico oriental que perspetiva as relações de poder e influência entre partes opostas de modo acutilante.A obra é dividida em 13 capítulos que exploram diversos aspetos da estratégia militar durante os “Estados Belicosos”, período bastante con-turbado da história da China.É, por tudo isto, um clássico da guerra para pensar a estratégia em geral.

PoRQUe FAlHAM AS NAçõeSDaron Acemoglu e James A. Robinson

Publicado recente-mente por dois aca-démicos norte-ame-ricanos, Acemoglu do MIT e Robinson de Harvard, este livro é o resultado de um

amplo estudo que contemplou séculos da his-tória humana nas suas diferenças fases e trans-formações, bem como as causas do seu desen-volvimento ou atraso económico.Os autores analisam várias civilizações e deze-nas de países e de regiões dos cinco continen-tes, em diferentes fases da história, para de-monstrar que a mesma evolução e as mesmas causas estão na origem de avanços e recuos ci-vilizacionais em diferentes épocas.Da mesma forma, analisam as diferenças entre a Europa Ocidental e Oriental, entre a França e a Inglaterra e entre estes países e a Espanha e Portugal.Livro do ano segundo a “Financial Times”, é uma obra a não perder!

TRATAdo SobRe A ToleRâNCIAFrançois Marie Arouet (Voltaire)

Escrito no Castelo de Fer-ney e publicado em 1763, após a morte de Jean Ca-las – injustamente acusa-do e executado pela morte do seu filho, que se havia convertido ao catolicismo

–, este clássico da modernidade assinado por Vol-taire convida à tolerância, atacando diretamente o fatalismo religioso e apresentando um requisitório contra as superstições ligadas aos religiosos.Depois do suicídio do seu filho, Jean Calas foi acu-sado de homicídio voluntário. A família é presa, e Calas, a pedido da população e segundo ordem de oito juízes, é condenado à pena de morte mesmo na ausência de provas.De salientar o contexto histórico durante o qual se realiza o processo, então profundamente mar-cado pela guerra das religiões francesas dos sécu-los anteriores.Assim, nesta obra incontornável, Voltaire faz uma das defesas mais radicais da tolerância enquanto valor social de alcance universal.

AUSTeRIdAde: UMA IdeIA PeRIGoSAMark Blyth

A austeridade é uma ideo-logia fracassada que é es-grimida pelos ricos para repassar o custo das cri-ses para os pobres. Histo-ricamente tem provoca-do desemprego, conflitos sociais, guerras. Esse é o

cerne de Austeridade: Uma Ideia Perigosa, de Mark Blyth, professor de política econômica internacional na Universidade Brown e doutorado em ciência po-lítica pela Universidade Columbia, ambas nos EUA.Dedicado ao estudo da política das ideias, este aca-démico escocês navega pela história, pela filosofia, pela economia. Vasculha as origens da ideologia da austeridade nos escritos de John Locke (1632-1704), David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790), feitos num tempo em que a noção de défice público estava associada a gastos de reis e suas cortes.Trata-se, pois, de uma obra central no presente de-bate sobre a austeridade.

A ARTe dA GUeRRASun Tzu

Sun Tzu foi um general chinês que viveu no sécu-lo IV aC e que no coman-do do exército real de Wu acumulou inúmeras vitó-rias, derrotando exérci-tos inimigos e capturan-do seus comandantes.Tzu foi, assim, um pro-

fundo conhecedor das manobras militares e escre-

Um LIVro Por semANAsUGestões De ÁlVARo belezA bIbLIoGrAFIA UV2013

o PoemA DA VIDA De...

VICToR FReITAS

Flor da Liberdade Miguel Torga

Sombra dos mortos, maldição dos vivos.Também nós... Também nós... E o sol recua.Apenas o teu rosto continuaA sorrir como dantes,Liberdade!Liberdade do homem sobre a terra,Ou debaixo da terra.Liberdade!O não inconformado que se dizA Deus, à tirania, à eternidade.

Sepultos, insepultos,Vivos amortalhados,Passados e presentes cidadãos:Temos nas nossas mãosO terrível poder de recusar!E é essa flor que nunca desesperaNo jardim da perpétua primavera.

In "Orfeu Rebelde", 1958

A deSTRUIção dA eSColA PúblICA CoMo oPção IdeolÓGICA!

Susana Amador

Nuno Crato afigura-se como um verdadeiro “Anti midas” no atual Governo, dado o efeito arrasador que cada uma das suas medidas comporta. As reorganizações curriculares,

o reordenamento da rede pública de ensino e a constituição de mega-agrupamentos, o fim das Novas oportunidades e da qualifi-cação de adultos, a redefinição dos Quadros de Zona Pedagógica, os atrasos nos concursos de contratação e o despedimento em massa de docentes, a suspensão da requalificação do parque es-colar, a sobrelotação das salas de aula e a diminuição do tempo de permanência das crianças na escola, são apenas alguns dos muitos exemplos de matérias onde a intervenção de Nuno Crato se revelou nefasta e demolidora.o Ps tem vindo a alertar para o grave risco desta introdução de me-didas casuísticas e avulsas na estrutura e organização do sistema educativo, preocupações aliás partilhadas pelo Conselho Nacional de educação (CNe), através de diversas recomendações e pareceres.No entanto, contra tudo e contra todos, Nuno Crato e este Gover-no vêm insistindo na sua ação destruidora do sistema e da organi-zação das escolas, que vem gerando um clima de desorganização e situações de verdadeiro caos na gestão, bem como de instabili-dade nos profissionais do sector, provocando um clima generaliza-do de apreensão, intimidação e medo.tudo isto põe em sério risco os avanços conseguidos nos últimos anos pelos governos Ps, que fizeram de Portugal um caso de sucesso para várias instituições internacionais, nomeadamente a oCDe, pelo que não pode deixar de colocar a questão: porquê então mudar?É o próprio CNe a “suspeitar” dos verdadeiros motivos quando afir-ma que “o legislador está mais centrado numa lógica de redução dos recursos do que na melhoria do sistema”. o Ps há muito que vem também denunciando e alertando para este mesmo facto.No entanto, apesar de todo o desinvestimento na educação e desca-racterização da escola pública com vista ao seu desmantelamento, advinham-se no próximo ano novas investidas do Governo contra aquilo que parece ter definido como o principal inimigo ideológico a abater: o estado social, onde a escola pública se inscreve.No Ps é bem consciente a ideia de que o conhecimento está na base de todo o progresso, seja social, económico, cultural, cien-tífico ou qualquer outro e é condição sine qua non para o desen-volvimento do país e de cada uma das suas regiões. Igualmente o Ps tem vindo há vários anos a adotar a educação como pilar fun-damental das suas políticas. esta boa prática que desde há muito rege o Ps deve-se ao facto de entendermos a educação como um processo dinâmico. e desse entendimento o Ps e o seu secretário-geral nunca abdica-rão, em prol de um Portugal mais competitivo, coeso e justo, em que a educação é um “ passaporte para o futuro”. ^

susana.amador.37

Advinham-se no próximo ano novas investidas do Governo

contra aquilo que parece ter definido como o principal inimigo ideológico a abater: o Estado Social, onde a escola pública se inscreve

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diretor marcos sá // conselho editorial Joel Hasse Ferreira, Carlos Petronilho oliveira, Paula esteves, Paulo Noguês // redação J.C. Castelo branco, mary rodrigues, rui solano de Almeida // colunistas permanentes maria de belém presideNte do ps, Vasco Cordeiro presideNte do ps açores, Victor Freitas presideNte do ps madeira, Carlos Zorrinho presideNte do grupo parlameNtar do ps, rui solheiro presideNte da aNa ps, Ferro rodrigues deputado, Isabel Coutinho presideNte das mulheres socialistas, João Proença teNdêNcia siNdical socialista, Jamila madeira secretariado NacioNal, eurico Dias secretariado NacioNal, Álvaro beleza secretariado NacioNal, João torres secretário-geral da juveNtude socialista // secretariado Ana maria santos // layout, paginação e edição internet Gabinete de Comunicação do Partido socialista - Francisco sandoval // redação, administração e expedição Partido socialista, Largo do rato 2, 1269-143 Lisboa; telefone 21 382 20 00, Fax 21 382 20 33 // [email protected] // depósito legal 21339/88 // issn 0871-102Ximpressão Grafedisport - Impressão e Artes Gráficas, sA

Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos autores. O “Acção Socialista“ já adotou as normas do novo Acordo Ortográfico.

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antonioseguro

ACoMPANHe-NoS No FACebooK seDeNACIoNALPArtIDosoCIALIstAACoMPANHe-NoS No FACebooK seDeNACIoNALPArtIDosoCIALIstA

FoTogRAFIAS CoM HISTÓRIA

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eSQUeRdA GoVeRNA lISboA1989

Depois de liderar com suces-so a coligação “Por Lisboa”, que incluía toda a esquer-da, desde o Ps à UDP, Jorge sampaio toma posse como presidente da Câmara de Lis-boa, em 1989. então secre-tário-geral do Ps, sampaio tinha derrotado nas urnas marcelo rebelo de sousa que encabeçava uma coligação de direita. Na foto, para além de sampaio, podem ver-se Vasco Franco e rui Godinho, que viriam a fazer um grande

eM deFeSA do INTeRIoR

António José Seguro

o interior do país só terá futuro com emprego. Assistiu-se nos últimos anos a fenómenos de migração e emigração porque as pessoas não encontram oportunidades de emprego nas suas terras. entramos

no ciclo vicioso de empobrecimento, desertificação, perda de atratividade, deslocalização de serviços públicos. o Primeiro ministro olha para esta si-tuação e vê o interior como um fardo e um encargo. Não tem que ser assim, nem pode ser assim. Portugal não pode abdicar de uma parte importante (e valiosa) do seu território e as gentes do interior merecem ser tratadas com a mesma dignidade de todos os outros concidadãos.É preciso agir. mudar a atual situação exige determinação política e um pro-jeto. Dar prioridade ao interior é valorizar todo o país.

As potencialidades do interior são incomensuráveis. Produtos de ex-celência, turismo de património, história e natureza. energias reno-váveis que contribuem para me-lhorar a balança energética. Uma agricultura de exportação que usa tecnologia e inovação. o interior tem capacidade de mostrar como se pode crescer com sustentabi-lidade e aproveitando os recursos naturais.Nesse sentido, proponho um Plano de Desenvolvimento do Interior (PDI), que será financiado por fundos comunitários (2014-2020) e terá como objetivo a criação de emprego. o PDI deve ter mecanis-

mos de apoio ao investimento público e ao investimento privado, desde que o mesmo crie postos de trabalho. Há que estruturar subsídios reembolsá-veis para projetos no interior, com taxa de juro muito baixa (até 2%), prazos alargados de acordo com o projeto (10-15 anos) e prazos de carência.esta é a forma correta e eficiente de aplicar os fundos disponibilizados a Portugal. Colocados ao serviço da criação de emprego, do desenvolvimento do país e de uma política de coesão territorial. só apoiando a criação de emprego povoaremos de novo o interior.este Plano de Desenvolvimento do Interior deve ser complementado por políticas como a descentralização dos serviços públicos, em contraponto com os encerramentos cegos que o Governo tem feito. também defendo uma verdadeira utilização da fiscalidade nacional em função do território e outras medidas que façam justiça ao interior. olho para o interior como uma oportunidade. e não aceito que o interior de Portugal seja um imenso lar de idosos de norte a sul, rodeado por uma multidão de desempregados sem esperança. temos a enorme responsa-bilidade de lutar por um país justo, onde os idosos tenham presente e os jovens tenham futuro.este é o meu compromisso com as pessoas que vivem no interior. De igual para igual. o compromisso de quem aprendeu no interior de que a palavra vale tanto como uma escritura.

Alberto Martins vai liderar bancada socialistaO secretário-geral do PS consi-dera que o novo líder da ban-cada parlamentar, Alberto Martins, que sucederá neste cargo a Carlos Zorrinho, “é um político de enorme competên-cia” e “com uma grande expe-riência parlamentar”.António José Seguro fez es-tas afirmações no dia 9 de ou-tubro, quando falava aos jor-nalistas no final da reunião do Grupo Parlamentar do PS, após ter indicado o nome de Alberto Martins para suceder a Carlos Zorrinho como líder da bancada socialista.“Entendi convidar Alberto Martins, que já foi líder par-lamentar [entre 2005 e 2009]. Fiquei satisfeito por ele ter aceitado o meu convite, por-que é um político de enorme competência, com uma gran-de experiência parlamentar e capaz de mobilizar todo o gru-po parlamentar para uma mis-são essencial que é a oposição a este Governo e de continua-ção de apresentação de pro-postas alternativas para resol-ver os problemas dos portu-gueses”, disse.O líder do PS salientou a gran-de experiência política de Al-berto Martins, lembrando, a propósito, as suas passagens

como ministro durante os go-vernos liderados por António Guterres e por José Sócrates.E acrescentou: “Alberto Mar-tins também já foi líder parla-mentar, conhece bem os depu-tados que tem no grupo parla-mentar e, portanto, não será difícil mobilizar todos os de-putados para essa função de oposição, de combate políti-co, mas também de proposta, que é essa a responsabilidade do PS”, afirmou.

zorrinho coordenar lIPPAcerca do convite a Carlos Zorrinho para coordenador do Laboratório de Ideias e de Propostas para Portugal (LI-PP), António José Seguro su-blinhou que o PS tem uma

prioridade “bem definida pa-ra os próximos tempos”, prio-ridade que passa pela “elabo-ração do programa do próxi-mo Governo”.Para isso, acrescentou, “o PS necessita de ter alguém com qualidades e competências, al-guém profundamente envol-vido no desenho do programa nacional para a agenda 20/20. Nesse sentido, convidei Carlos Zorrinho para a coordenação do Laboratório de Ideias, uma plataforma em que partici-pam cinco mil portugueses en-tre militantes e simpatizantes do PS, e para trabalhar direta-mente comigo na coordenação da elaboração do programa do Governo na Convenção Novo Rumo para Portugal”. ^

trabalho como vereadores, e o cessante presidente da edilidade, Kruz Abecassis.

era o início de um novo ciclo, com um projeto progressis-ta para a cidade. ^ j. C. C. b.

É preciso agir.

Mudar a atual situação exige determinação política e um projeto. Dar prioridade ao interior é valorizar todo o país

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António Correia de Campos A poeira eleitoral come-ça a assentar. Na Ale-

manha, Angela Merkel foi uma formidável vencedora, progredindo oito pontos. O SPD progrediu apenas dois pontos, ficando muito abaixo das expectativas. Paradoxalmente, a direita perdeu representação no Bundestag, pelo facto de nem os liberais nem o novo par-tido extremista e anti-europeu terem logrado os 5% de votação mínima.Sendo remota a hipótese de coligação entre a CDU-CSU e os Verdes, resta a grande coli-gação com o SPD. Vão começar as negocia-ções que se anunciam longas e não fáceis. O presidente do SPD já antecipou os receios do abraço de urso, lembrando que Merkel tinha deixado o SPD em pantanas, nas últimas elei-ções, após coligação em que o CDU retirou os proveitos e o SPD as perdas, tal como na agora defunta coligação com os liberais, onde

Angela os sugou até abaixo dos 5%. Se impe-rar o bom-senso, a grande coligação far-se-á. Martin Shultz poderá vir a ser, direta ou indire-tamente, o candidato alemão a presidente da Comissão Europeia. A mudança qualitativa na Europa seria sensível. O otimismo e o respeito pelos valores e princípios comuns seriam ga-rantidos, a Europa Social poderia aguentar-se e a economia teria condições para ser mode-radamente relançada, atenuando-se a crença irracional nas virtudes absolutas de um mer-cado cheio de falhas. É sobre as Europeias que devemos concen-trar-nos, a partir de agora. Serão mais im-portantes que nunca. Ocasião soberana para nos libertarmos do jugo de uma direita fria e incompetente, incapaz de lutar de forma esclarecida contra a crise que ela própria ajudou a criar ou a ampliar, prolongando mais que o devido o estado de insensibilida-de financeira que levou ao financiamento, para além do sensato, de quase todas as pequenas economias da Europa. Recusando depois outras terapias que não fossem as de

choque, de resultados deletérios bem à vista em toda a Zona Euro. Uma Comissão decente e uma diferente composição do Parlamento Europeu (PE), com reequilíbrio de votos e perda de peso dos pequenos partidos dos extremos reforçaria a Europa, tornando os vagos desenhos do ideal europeu em reali-dades do século XXI. Se houve matéria onde nos últimos cinco anos se progrediu, foi no reconhecimento, dentro dos estados mem-bros, da importância da Europa. As próximas eleições serão pois algo diferentes das ante-riores. Primeiro, pela dominância dos temas onde a Europa tem um papel decisivo, como as finanças públicas, o controlo do sistema bancário, a economia digital, o comércio ex-terno, o emprego associado ao desenvolvi-mento regional e à reindustrialização, a Ciên-cia, Tecnologia e Inovação. Depois, porque face aos ataques aos sistemas sociais (pre-vidência, saúde e educação), embora se trate de matérias de subsidiariedade, a influência do modelo social europeu pode ser um fio condutor de interesse comum. Finalmente,

por que o País tem de se saber colocar bem no palco europeu, sem arroubos de bom alu-no, nem subserviências, nem desinteresse acéfalo.Com apenas sete parlamentares, a delega-ção socialista portuguesa ao atual PE acu-mulou responsabilidades e experiência que são valioso capital. Não é sem admiração que outras delegações, bem mais numerosas, se surpreendem de termos uma presidência e vice-presidência de comissão, três coor-denações do grupo parlamentar em outras tantas comissões, duas vice-presidências de assembleias parlamentares mistas, as presi-dências de uma comissão parlamentar mista e de um painel de especialistas. Embora al-guns países, com eleições legislativas reali-zadas ou próximas, já tenha decidido sobre a composição das suas candidaturas, após o rescaldo das autárquicas e se nada de impre-visto ocorrer na política nacional, será a altu-ra de quem de direito se preocupar com este tema. Um futuro que quadre ao País deve ser preparado com tempo.

Nº 93 • SETEMBRO DE 2013Suplemento Informativo dos Deputados Socialistas no Parlamento Europeu

Europeias: as próximas eleições

O grupo socialista no Parlamento Europeu, representado pela De-legação Portuguesa, associou-se, uma vez

mais, ao PS na realização da Universidade de Verão na histórica cidade de Évora. Sob o lema “Novo rumo para Portugal”, os par-ticipantes, nacionais e estrangeiros, debate-ram o futuro das cidades e o papel do poder local no desenvolvimento sustentável do país. Nesta segunda edição do novo ciclo, para além das aulas, dos trabalhos de grupo e dos jantares-debate, houve também lugar para a tertúlia nos cafés literários. Os eu-rodeputados socialistas participaram ativa-mente nas diferentes iniciativas. Coube-me, de novo, fazer o discurso de abertura, junta-mente com Carlos Zorrinho, líder do grupo parlamentar, e Manuel Melgão, presidente da Câmara Municipal de Évora e nosso anfi-trião. A participação de autarcas de cidades europeias enriqueceu a iniciativa, permitin-do a troca de experiências e de boas práti-cas. Destaco a interessante intervenção do alcaide de Vigo, Abel Caballero, advogando que “a forma de recuperar a política é a proximidade, ou seja, poder andar na cidade

sem escolta e dizer bom dia às pessoas”. O que devia ser normal está a tornar-se raro, contribuindo para alargar o fosso entre elei-tos e eleitores.Debateu-se o governo da cidade e da parti-cipação das pessoas na definição das polí-ticas municipais. Questionou-se a qualidade de vida nos grandes centros urbanos. Valo-rizou-se o trabalho em rede e a cooperação entre cidades europeias. Sublinhou-se a im-portância da dimensão ambiental no cresci-mento económico e dos municípios verdes. A Carta europeia e segurança urbana e a Carta europeia para a igualdade das mu-lheres e dos homens na vida local serviram de mote para a partilha de boas práticas no planeamento e gestão da cidade. Em suma, realçou-se o papel do poder local na cons-trução da cidade. Falar das cidades é falar da vida das pes-soas. No sentido etimológico e mais restriti-vo do termo, cidadão é o que vive na cidade. Baudelaire escreveu que «a forma de uma cidade muda mais depressa do que o co-ração de um mortal». De facto, as cidades vão-se transformando, algumas desfigu-ram-se, outras perdem pessoas e qualidade de vida. A concentração urbana potencia o cres-

cimento, a criatividade e a inovação e cria o ambiente propício ao florescimento do comércio e da economia. Mas há também os problemas urbanos, relacionados com a degradação ambiental e com a exclusão social. A cidade influencia a vida das pes-soas fora e dentro de casa. Uma cidade bem planeada, com bons transportes pú-blicos e com os necessários equipamentos socioculturais, proporciona bem-estar aos seus habitantes, pelo que será uma cidade menos violenta, mais segura e geradora de felicidade. O parque habitacional privado e público, existente em alguns núcleos urbanos, é de grande interesse histórico e exige verbas avultadas que sobrecarregam os orça-mentos municipais. O governo português deveria aproveitar o quadro comunitário de apoio (2014-2020) para lançar um vasto programa de requalificação urbana. O que contribuiria também para impulsionar a economia portuguesa e travar as crescen-tes desigualdades sociais. As pessoas acei-tam fazer sacrifícios se estes forem equita-tivos e partilhados por todos sem exceção. Mas revoltam-se, legitimamente, perante situações de privilégio e iniquidade. Faz sen-tido que alguém receba uma boa reforma,

acumulando com um principesco ordenado, e continue a trabalhar no mesmo setor? Faz sentido que um reformado do Banco de Por-tugal, ao fim de escassos anos, receba uma reforma superior ao ordenado do Presiden-te da República? Faz sentido que alguém possa auferir uma reforma choruda ao fim de uns meses de trabalho numa instituição bancária? Faz sentido que alguém se refor-me por doença, receba a reforma e continue a desenvolver atividade remunerada? Não, nada disto faz sentido. Nunca fez e faz ain-da menos no atual contexto. Este governo é forte com os pobres e fraco com os po-derosos. Mantém estes privilégios e corta nas baixas pensões dos que já não recebem o suficiente para comer e para os remédios. Assim se aumenta a pobreza e se aprofun-dam as injustiças sociais. Mais do que nunca, precisamos de gover-nantes competentes e com sentido de Es-tado, qualidades que os líderes dos partidos da coligação governamental provaram não ter. As infantilidades de Paulo Portas e Pas-sos Coelho já custaram muitos milhões de euros ao país, que as vítimas do costume, os contribuintes, vão ter de suportar. Também por isto, precisamos de um novo rumo para Portugal.

Universidade de Verão debate novo rumo para Portugal

Edite Estrela

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O eurodeputado Capoulas Santos con-cedeu, em nome do Parlamento Euro-peu (PE), o aval político sobre o pacote da reforma da Política Agrícola Comum (PAC), na reunião interinstitucional que terminou na passada noite de terça-feira dia 24 de setembro. Capoulas Santos foi o relator desta instituição nesta matéria e conseguiu, na reta final da maratona negocial, aumentar em 10% a taxa de cofinanciamento do desenvolvimento ru-ral até 2020 para grande parte do terri-tório português, permitindo, segundo as contas do eurodeputado, poupar cerca de 250 milhões de euros aos cofres do Estado. “Não é um fator negligenciável para os interesses de Portugal o facto de ter sido um relator português a conduzir esta negociação e foi preciso travar um verdadeiro braço de ferro com o Conse-lho de Ministros para forçar determina-das cedências”, afirmou o eurodeputado que assim justifica que “esta reforma contêm mais do que nunca marcas pró-prias da agricultura mediterrânica e por-tuguesa”. A política agrícola comum tem 51 anos e foi criada pelos 6 países fun-

dadores à luz da realidade da sua própria produção agrícola - cereais, bovinos - o que tornou difícil o reconhecimento, em termos de medidas de política concretas, da especificidade da agricultura dos paí-ses que se foram acrescentando - vinha,

olival, fruteiras, no caso de Portugal. A futura política agrícola comum para o período entre 2014 e 2020 reverte esta tendência a favor de Portugal, segundo Capoulas Santos, ao incluir uma atenção particular a estas culturas permanentes

nomeadamente através da majoração dos seus atuais níveis de ajudas, possi-bilidades de investimento na irrigação, o que adquire uma especial importância na Europa do Sul. “Não tenho dúvidas de que tal é obra da codecisão e da facul-dade que o PE tem de decidir em pé de igualdade com as outras instituições e do que neste contexto me foi proporciona-do como negociador português”, afirmou o eurodeputado que referiu ainda que o Conselho de Ministros tem que ser “acul-turado” pela codecisão já que este proce-dimento significa que as “suas posições jamais serão absolutamente soberanas, ao contrário do que acontecia antes do Tratado de Lisboa”. Capoulas Santos concluiu referindo que esta reforma é também, graças à participação do PE, a reforma mais verde e a que mais serve os interesses não apenas dos agricultores mas também dos contribuintes e dos ci-dadãos, ao incluir mecanismos claros de redistribuição das ajudas e de discrimina-ção positiva das pequenas explorações e ao reforçar a componente ambiental das ajudas aos agricultores.

AtUAlidAdENº 93 | SETEMBRO 2013 | 2

Capoulas Santos conclui acordo político sobre a reforma da PAC com benefícios

para Portugal

No rescaldo da crise o que ficará: a União Bancária?

Elisa Ferreira De todas as iniciativas políticas tomadas pela União Europeia em reação à crise de 2008, a União Bancária parece ser a que se afigura mais útil e de mais provável concretização. A agenda inicial pós-crise incluía quatro eixos principais:• O primeiro, sobre o relançamento da economia, sofreu metamorfoses: come-çou por ser uma “estratégia europeia” de competitividade assente na ciência, am-biente, tecnologia..., que soçobrou à nas-cença perante a exiguidade do orçamento comum; seguiu-se a recomendação de estratégias de relançamento nacionais rapidamente substituídas pelo seu opos-to – a austeridade – logo que os operado-res financeiros começaram a duvidar da capacidade de os Estados Membros mais frágeis reembolsarem a dívida que tinham contraído... Ficámos pelo que temos: uma crise violenta, com custos sociais e eco-nómicos insuportáveis e que ainda vai durar...• O segundo eixo surgiu na sequência do primeiro, ou talvez do seu falhanço, e materializou-se num conjunto de inicia-tivas de salvação da zona Euro. Foram iniciativas ad-hoc imaginadas no meio da crise; de uma assentada a Comissão Eu-ropeia desapareceu de cena e a condução política passou para os Estados Membros (EM), ou melhor, para alguns Estados mais fortes, e nalguns países os credores impuseram uma espécie de democracia

em intervalo prolongado com a invenção das “troikas”. A zona Euro continuou a desagregar-se até que Mario Draghi deci-diu interpretar de forma lata o mandato do Banco Central Europeu (BCE) e, no ve-rão de 2012 estabilizou transitoriamente, com o anúncio das OMT,(“Outright Mone-tary Transactions”), a especulação sobre a dívida soberana...• Esta intervenção do BCE só foi possí-vel politicamente (isto é, autorizada pela Alemanha) porque estava em constru-ção o terceiro eixo da agenda: a chamada “coordenação das políticas económicas” a qual, sendo, em si mesma, essencial ao

funcionamento da União e da zona Euro, redundou, na prática, numa atualização do Pacto de Estabilidade, que, apesar das suas várias virtudes não permitiu corrigir o seu enviesamento original ao privilegiar a convergência nominal (valores de défice e dívida) em detrimento da convergência real (aproximação da competitividade da economia real). • Resta o quarto eixo, o do reforço da regulação e supervisão financeira. Este tema que, durante tanto tempo, foi uma bandeira dos socialistas europeus, teve de aguardar pelo eclodir desta imensa cri-se para ser reconhecido como prioridade

política europeia. Claro que a iniciativa e ação de Obama, trabalhando paralela-mente do outro lado do Atlântico (Frank Dodd Act), impulsionou definitivamente a agenda internacional. Teremos de re-conhecer, no entanto, que com todas as dificuldades que lhe são próprias, a União Europeia tem feito, nesta matéria, pro-gressos importantes. Só o tempo permiti-rá concluir se a intenção que justificou os textos legislativos corresponde à eficácia da respetiva aplicação, mas inquestiona-velmente há evolução. De entre todos, talvez o mais importante e difícil seja o da União Bancária: se o projeto chegar a bom termo, os bancos da zona Euro passarão a estar sujeitos a uma supervisão úni-ca liderada pelo BCE e a sua “resolução” gerida, também a nível europeu, por uma entidade de resolução única. As perdas serão imputadas aos acionistas e credo-res e os meios financeiros a utilizar na sua reorganização sairão de um fundo co-mum, financiado pela própria banca. São claramente propostas ambiciosas que se espera venham a poupar os contribuintes em crises futuras e, se as negociações em curso correrem bem, permitirão oferecer garantias adicionais aos depositantes. Quando e se a crise acabar, convém, no entanto, voltar a refletir séria e desapai-xonadamente não só sobre o que a Europa fez de bem em reação à crise mas tam-bém (e sobretudo) sobre o que podia ter feito infinitamente melhor e sobre quais as razões porque não o fez...

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AtUAlidAdE Nº 93 | SETEMBRO 2013 | 3

Nem tudo está bem quando acaba bem

Vital Moreira 1. Na que terá sido a sua última comuni-

cação ao Parlamento Europeu sobre o estado da União, enquanto presidente da Comissão Europeia antes das elei-ções europeias de 2014, Durão Barro-so procurou, como esperado, fazer o balanço dos últimos 4 anos de gover-no e apontar caminhos para o futuro da União, mas errou na análise das causas da prolongada crise europeia. Com efeito, o presidente da Comissão persistiu numa tese de que os Esta-dos em dificuldades económicas e fi-nanceiras são os únicos culpados pela sua situação e que a União não é para aí chamada. Não reconhecer os erros cometidos no passado não é uma boa base para projetar o futuro.

Importa, pois, mais uma vez contes-tar esta narrativa distorcida sobre a partilha de culpas nos efeitos devas-tadores da crise de 2008 sobre vários Estados membros, incluindo Portugal.

É evidente, à partida, que a crise, vinda dos Estados Unidos, não teve a mesma gravidade em todos os Es-tados-membros da União Europeia, tendo afetado mais duramente um pequeno número deles (Grécia, Irlan-da, Portugal, Espanha, Chipre), que ti-veram de recorrer à assistência finan-ceira da União e do FMI. Sem dúvida que esses Estados são, antes de mais, vítimas de si próprios, nomeadamente de políticas menos prudentes (em al-guns casos manifestamente irrespon-sáveis) de gestão das finanças públi-cas (défices orçamentais, excessivo endividamento público e privado) e de gestão económica (perda de com-petitividade, desequilíbrios externos, “bolhas imobiliárias”, etc.), que os tor-

naram muito vulneráveis à crise.

2. Dito isto, não é possível esquecer as falhas por omissão e por ação da pró-pria União Europeia.

Em primeiro lugar, há a registar as insuficiências da arquitetura do Euro, desprovida de mecanismos de disci-plina do setor financeiro, de controlo dos desequilíbrios externos e de coor-denação das políticas económicas. A união monetária não foi acompanhada das necessárias medidas no sentido de uma união orçamental, de uma união bancária (incluindo um meca-nismo de regulação ao nível da União) e de uma genuína união económica.

Em segundo lugar, a União foi cúm-plice no movimento de desregulação do setor financeiro, na base das teses neoliberais da “regulação light” e da “principles-based regulation” (opos-ta à “rules-based regulation”), com a agravante de que a criação de um mercado integrado e globalizado de serviços financeiros, com poderosos operadores transfronteiriços, não foi acompanhada pela criação de autori-dades e de mecanismos integrados de regulação e de supervisão, tanto ao nível da União como ao nível global.

Em terceiro lugar, a União deixou mul-tiplicar sem a devida sanção situações de violação da disciplina orçamental estabelecida pelo Pacto de Estabi-lidade e de Convergência, e assistiu sem reação nem correção à criação de “bolhas imobiliárias” (Irlanda, Espanha), de “bolhas bancárias” (Ir-landa, Chipre), ou de volumosos dese-quilíbrios externos (Portugal), que a crise fez estoirar com estrondo e com profundos “efeitos colaterais”.

Em quarto lugar, uma vez declarada

a crise bancária, a União começou por apoiar políticas de estímulo orça-mental (Reino Unido, Espanha, Portu-gal), para tentar travar ou atenuar a consequente crise económica, o que levou ao agravamento da situação orçamental de alguns países e do seu endividamento externo.

Em quinto lugar, a União foi lenta e in-suficiente na sua reação à agudização da crise orçamental na Grécia, tendo deixado contaminar imparavelmente outros países mais frágeis; durante algum tempo chegou a pairar sobre a União a ameaça de desagregação da moeda única.

Por último, tendo imposto aos países que tiveram de recorrer a assistência financeira duros programas de “ajus-tamento” orçamental e económico, a União não manifestou o mínimo zelo em contrabalançar os efeitos recessi-vos desses programas com ações de estímulo ao crescimento e à criação de emprego ao nível da União; o pró-prio pacto de crescimento e emprego aprovado tardiamente em 2012 con-tinua em grande parte sem sair do papel.

3. O Presidente da Comissão Europeia pode com toda a razão regozijar-se com a superação da crise do euro e manifestar confiança nos progressos na resposta à crise orçamental e à crise económica. Os progressos na re-gulação financeira, na integração or-çamental, na coordenação das políti-cas económicas, na união bancária, na criação da taxa sobre as transações financeiras, etc. são indubitavelmen-te de levar a crédito da União. O pa-pel da Comissão foi essencial nessas medidas.

A União venceu o teste da crise mais grave da história da integração euro-peia e sai dela mais integrada e mais preparada para enfrentar novas cri-ses no futuro. Mas, a União, e o pre-sidente da Comissão, não podem es-quecer a grave crise social ainda sem resposta (desemprego maciço, au-mento da pobreza e da desigualdade social, enfraquecimento dos direitos sociais). Talvez por ter consciência dessa assimetria no ataque à crise, Durão Barroso veio anunciar agora que o reforço da dimensão social será uma prioridade para a Comissão nos próximos meses e que já em outubro emitirá uma comunicação sobre a di-mensão social da união económica e monetária. Mais vale tarde que nunca! A necessidade premente de atacar os efeitos devastadores que esta crise provocou no plano social e de firmar um “pacto social” ao nível da União é uma reivindicação dos socialistas eu-ropeus, e em especial dos socialistas portugueses, há mais de um ano.

4. Sem deixar de enaltecer os esforços e os sucessos no ataque à crise, a União e os seus dirigentes não podem esque-cer nem alienar as suas responsabili-dades, quer nas causas que estiveram na origem da crise, quer no ataque insuficiente às suas consequências sociais. Esse seria o pior exemplo e a pior lição que podia ser retirada desta fase da construção europeia. A histó-ria desta crise é também a história da corresponsabilidade da União na sua origem e desenvolvimento. Em vez de ser enjeitada, essa responsabilidade deve ser devidamente assumida pelos dirigentes da União, e lembrada pelos europeístas como lição para o futuro.

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FICHATÉCNICA

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AtUAlidAdENº 93 | SETEMBRO 2013 | 4

desemprego jovem – possíveis soluções

luís Paulo Alves Foi aprovado na última sessão plenária em Es-trasburgo um relatório sobre desemprego jo-vem – soluções possíveis. Sobre o assunto, fui responsável pelo relatório de opinião, no âmbi-to da Comissão de Desenvolvimento Regional.Trazer milhões de jovens que estão afastados - pelo desemprego ou pela precariedade - para o mundo do trabalho, devolver-lhes a esperança num projeto de vida a que têm direito é um dos maiores desafios que enfrentamos hoje e que não podemos deixar de vencer.Como tal, é crucial estimular a economia, corrigir políticas de educação e de emprego, adotando uma nova geração de estratégias pedagógicas mais apelativas e de uma maior inserção regional. Simultaneamente, precisa-mos de uma abordagem prospetiva que ante-cipe as evoluções do mercado do trabalho, de uma forte interligação escola e trabalho com uma transição mais eficiente para a vida ativa e precisamos que esta abordagem seja desen-volvida com uma base regional, cuja dimensão permite mecanismos mais eficientes de per-ceção e de solução dos problemas e onde são mais percetíveis as necessidades de qualifica-ção. Temos de fazer isto pelos nossos jovens e

pelo futuro da Europa.Com estas contribuições, o Parlamento Eu-ropeu apresentou algumas soluções, entre as quais: Agir contra os cortes orçamentais efetuados pelos Estados-Membros no domí-nio da educação, da formação e da juventude; Visar prioritariamente os NEET (jovens sem emprego, fora do sistema de educação ou sem estarem a realizar um estágio), com o apoio da Comissão; Tomar todas as medidas neces-sárias para evitar o abandono escolar precoce; Relevar o papel das regiões nas políticas de formação, emprego e mobilidade; Reforçar da educação e a formação profissionais do pessoal docente; Promover a ciência, as tecnologias, a engenharia e a matemática nos programas de ensino; Criar um sistema comum de indi-cadores de resultados e de impacto para ava-liar os progressos alcançados no âmbito dos diferentes programas que inclua medidas de emprego em termos da sua eficácia e eficiên-cia e não, unicamente, da sua execução finan-ceira; Promover a participação dos jovens na definição das políticas setoriais; Utilizar mais os sistemas de ensino duais de qualidade, que combinam ensino teórico e prático; Requerer ativamente apoio, iniciativas e outras formas de cooperação com o setor privado na luta contra

o desemprego dos jovens; Adotar um quadro de qualidade para os estágios, formações e apren-dizagens; Melhorar a cooperação entre Estados Membros e a reforçarem as parcerias entre as empresas e o setor da educação a todos os ní-veis; Eliminar os obstáculos existentes aos con-tratos de aprendizagem, estágios de formação e estágios profissionais a nível transfronteiriço; Promover a qualidade no Ensino Profissional (EFP) no intuito de garantir um justo equilíbrio entre ensino e procura do mercado de trabalho; Melhorar os padrões de qualidade no ensino su-perior e no EFP bem como os respetivos aces-sos; salienta também a importância da apren-dizagem de línguas estrangeiras nas escolas e no EFP como requisito prévio para o reforço das capacidades, da mobilidade e da maior realiza-ção pessoal dos jovens no mercado único; exor-ta os Estados-Membros a incentivar a inclusão do estudo de línguas estrangeiras nos seus sis-temas de ensino; Apoiar o reconhecimento da aprendizagem não-formal; Promover a aquisi-ção de competências gerais, como competên-cias no domínio das TIC, capacidades de lide-rança, pensamento crítico, conhecimento de línguas e competências empresariais; Apoiar o trabalho independente entre os jovens, melho-rando a educação empresarial; Por em prática

a transparência e a harmonização no reconhe-cimento das qualificações na União; Adotar o instrumento Garantia para a Juventude, apoia-do pelo Fundo Social Europeu e de outros fun-dos estruturais da UE, definindo objetivos e indicadores claros, para medir e avaliar com eficácia o impacto desta iniciativa; Salientar a importância dos programas de mobilidade es-tudantil; Incluir em todos os programas da Co-missão medidas especificamente destinadas a combater o desemprego dos jovens; Garantir um melhor acesso dos jovens às ofertas de emprego e de estágio e a integrarem nos seus cursos universitários uma formação de base em matéria de procura de emprego; Promover sempre o princípio da equidade e da igualdade de oportunidades.

Egito e Síria: Primavera e inverno árabes

Ana Gomes O Egito e a Síria são muito mais do que apenas países vizinhos na outra margem do Mediter-râneo: são determinantes no Médio Oriente e referências civilizacionais para todo o mundo islâmico. E se a Primavera Árabe nos ensinou alguma coisa é que os povos a sul e a leste do Mediterrâneo perderam o medo de se levantar contra ditaduras e injustiças. Porém, as no-tícias que nos chegam do Egito e da Síria são alarmantes. Como se pode construir um Egito democrá-tico e respeitador dos direitos humanos sem incluir todas as forças políticas em torno de um processo de reconciliação nacional? Tenho reiterado amiúde junto de interlocutores ára-bes que não há democracia sem inclusão. Uma força política com a representatividade da Ir-mandade Muçulmana (IM) no Egito não pode ficar fora do jogo democrático, deve ser pu-xada para o jogar. Levar a julgamento os seus filiados acusados de cometer crimes reforça o Estado de direito. Mas perseguir cegamente todos os seus apoiantes e condenar uma orga-nização como a IM à clandestinidade equivale a fomentar o radicalismo político e religioso e, do mesmo passo, a subversão contra o Esta-do: é liquidar a democracia. (Tenho invocado Melo Antunes a explicar, em 1975, que se se fizesse o PCP expiar as culpas do 11 de mar-ço votando-o à clandestinidade, perderíamos a democracia em Portugal).

O Egito precisa urgentemente de um roteiro político com um calendário para a redação de nova Constituição e para a organização de eleições presidenciais e parlamentares com garantias de transparência e pluralismo. Aniquilar a participação da IM é inviabilizar a organização de eleições livres e justas. O go-verno de transição tem de libertar o Presidente Morsi, acabar com a perseguição a membros e simpatizantes da IM e tem de respeitar e fazer valer as liberdades de expressão, de associa-ção e de imprensa. O fecho de quatro canais de televisão e de mesquitas e a recente decisão do tribunal administrativo do Cairo de tornar ilegal a Irmandade Muçulmana nada auguram de democrático no futuro do Egito.Já na Síria, todos atualmente pretendem pôr em prática a proposta russa (que muito boa gente diz ser originalmente americana, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Sikorsky, pelo caminho...). Como pode, no en-tanto, Bashar al Assad garantir a destruição de todo o arsenal químico sírio, se o seu regi-me não controla a integralidade do território? Mais, como é que se conduz um processo de desarmamento eficaz no meio de uma guerra civil e das duas “guerras por procuração” (en-tre chiitas e sunitas e entre a Rússia e o Oci-dente) que se desenrolam na Síria?O ultimato a Damasco tem de começar rapi-damente a produzir alguns efeitos. E não pode substituir a há muito devida (mas bloqueada pela Rússia e China) resolução do Conselho de

Segurança das Nações Unidas sobre o confli-to na Síria, ancorada nos princípios e valores da Carta das Nações Unidas – como frisámos numa resolução aprovada este mês no Parla-mento Europeu. É precisa uma resolução do Conselho de Segu-rança que firmemente intime Assad a destruir, sob verificação internacional, o arsenal quími-co que acabou por admitir possuir. E a parar de massacrar o seu povo e a negociar uma solu-ção política que ponha fim ao conflito. A meu ver, é indispensável que uma tal resolução do Conselho de Segurança refira também os cri-minosos de guerra na Síria ao Tribunal Penal Internacional – todos, da banda massacran-te do regime de Assad e da banda dos grupos terroristas que, com financiamentos sauditas e qataris, entretanto se infiltraram no terreno e são responsáveis por ataques sectários mise-ráveis como o que há semanas golpeou a aldeia cristã-aramaica de Maloula.Sobretudo, importa não reduzir a Síria a uma “guerra de maus contra maus”: não se pode nunca esquecer que, no meio, está um povo que se rebelou contra um regime opressor. A proteção desse povo tem de estar no centro da ação internacional. Por isso, a resposta da co-munidade internacional – e da UE, em particu-lar – não pode limitar-se à “boa consciência” da contenção da crise humanitária na Síria e nos países vizinhos, destabilizados pela avalanche de milhões de refugiados sírios e os proble-mas que transporta: da pressão económica e

social na Jordânia à conflitualidade no Líbano, no Iraque e até na Turquia (a questão curda complica-se).É urgente focarmo-nos na procura de uma so-lução política negociada para pôr fim à guerra. Há muito que o Representante do Secretário--geral da ONU tenta reunir as partes sírias e potências envolvidas numa Conferência, desig-nada de Genebra II. Que, para ter resultados, tem que chamar todos à mesa. Incluindo uma potência regional incontornável, até por ser apoiante de Assad: o Irão. E a nova presidên-cia iraniana parece oferecer uma oportunidade imperdível, como se retira da troca de corres-pondência com Obama e do discurso de Rou-hani na Assembleia-geral da ONU. Não apenas para pôr fim à guerra na Síria, mas também para se ultrapassarem as preocupações com o programa nuclear iraniano. As repercussões por todo o Médio Oriente seriam poderosas, in-cluindo no controlo do cancro centrado no con-flito Israelo-Palestino. O que me leva a ponde-rar que, mesmo depois do mais brutal Inverno, pode sempre voltar a florir a Primavera Árabe. E não só...