Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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: A Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), através de ensino especial, pesquisa, reabilitação, capacitação profissional, produção de material pedagógico adaptado, visa à inclusão de todos os portadores de deficiência em todos os níveis de educação e do mercado de trabalho. Portanto, sua sede, localizada no município de São José, deve criar condições de acessibilidade espacial a todos os seus usuários. O projeto de extensão, uma parceria entre a FCEE e o PET/ARQ, busca eliminar as barreiras arquitetônicas, tornar o espaço legível e compreensível. Dessa forma, todo usuário poderá se descolar com conforto, autonomia e segurança.

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Acessibilidade e Inclusão nas Instalaçõesda Fundação Catarinense de Educação Especial

2005 - Grupo PETC

Arquitetura e UrbanismoUniversidade Federal de Santa Catarina

Universidade Federal de Santa Catarina

Lúcio BotelhoReitor

Marcos LaffinPró-reitoria de ensino de Graduação

Centro Tecnológico

Júlio Felipe SzeremetaDiretor de Centro

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Almir Francisco ReisChefe de Departamento

Maria Inês SugaiCoordenação do Curso

Grupo PET - Arquitetura e Urbanismo

Vera Helena Moro Bins ElyTutora

Marta DischingerOrientadora

Elom Alano GuimarãesMilena de Mesquita Brandão

Walmir RigoBolsistas

Fundação Catarinense de Educação Especial

Pedro de SouzaPresidente

Eduardo Carneiro SchutzJosé Carlos RodriguesNeiva Maria Passos MiguelSérgio SoaresZita Catarina MiglioranzaComissão de Acessibilidade Espacial

Acessibilidade e Inclusão nas Instalaçõesda Fundação Catarinense de Educação Especial

Coordenação e TextosMarta Dischinger

TextosElom Alano Guimarães

Milena de Mesquita BrandãoWalmir Rigo

FotosElom Alano Guimarães

Milena de Mesquita BrandãoWalmir Rigo

IlustraçõesElom Alano Guimarães

Milena de Mesquita BrandãoWalmir Rigo

EdiçãoElom Alano Guimarães

Milena de Mesquita BrandãoWalmir Rigo

CapaElom Alano Guimarães

Milena de Mesquita BrandãoWalmir Rigo

Agradecimentos

Ao Grupo PET - Arquitetura e UrbanismoA todos os funcionários da Fundação Catarinense de Educação Especial

1. Introdução ......................................................1.1. Apresentando o Projeto de Extensão ............................................................1.2. Objeto de estudo: a Fundação Catarinense de Educação Especial ............................

1.2.1 Setores e Atividades da FCEE .....................................................1.3. Objetivos do projeto .............................................................................

1.3.1 Objetivo central ..........................................................................1.3.2 Objetivos específicos .....................................................................

1.4 Metodologia ........................................................................................1.4.1 Análise documental ..................................................................1.4.2 Observação direta: levantamento físico-arquitetônico e observação dos usos ........1.4.3 Entrevistas ................................................................................1.4.4 Passeios Acompanhados ..................................................................1.4.5 Textos explicativos .......................................................................

2. Conceitos .......................................................2.1 Acessibilidade espacial e cidadania ..........................................................

2.1.1 Deficiência X Restrição ...................................................................2.1.2 Orientabilidade ...........................................................................2.1.3 Deslocamento ............................................................................2.1.4 Comunicação .............................................................................2.1.5 Uso ........................................................................................

2.2 Entraves à Acessibilidade espacial e à cidadania ................................................

3. Leitura Espacial ...............................................3.1 Entrevistas .........................................................................................

3.1.1 Entrevista com J., funcionária com deficiência auditiva .............................3.1.2 Entrevista com professora das pessoas com deficiência auditiva .....................3.1.3 Entrevista com fonoaudióloga ...........................................................

3.2 Passeios Acompanhados .........................................................................

Sumário

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2122222325262626

272828303032

3.2.1 Passeio Acompanhado com visitante que desconhecia o local ..........................3.2.2 Passeio Acompanhado com funcionários com deficiência visual ........................3.2.3 Passeio Acompanhado com pessoas com deficiência motora ..........................

4. Problemas .......................................................4.1 Problemas de Orientabilidade ................................................................4.2 Problemas de Deslocamento ......................................................................4.3 Problemas de Comunicação .......................................................................4.4 Problemas de Uso ..................................................................................

5. Diretrizes Projetuais .........................................5.1 Diretrizes de Orientabilidade .....................................................................5.2 Diretrizes de Deslocamento ......................................................................5.3 Diretrizes de Comunicação ........................................................................5.4 Diretrizes de Uso ..................................................................................

6. Considerações Finais .........................................

7. Bibliografia.........................................................

Segue em anexo CD com este caderno no formato digital pdf, e os artigos apresentados emeventos científicos resultantes deste projeto.

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1INTRODUÇÃO

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1.1Apresentação

É direito de todo cidadão o acesso à educação, ao trabalho e ao lazer (1).Para criar as condições necessárias à inclusão social é fundamental garantiracessibilidade espacial permitindo a todos os usuários: acesso à informação,deslocamento e uso de equipamentos com conforto, segurança e autonomia.Apesar de ser assegurada por lei, a acessibilidade espacial dificilmente éalcançada devido à falta de conhecimento sobre as necessidades específicasdas pessoas com deficiências, desenvolvendo-se muitas vezes apenassoluções parciais.

Para reverter esta situação e estudar a questão através da compreensãodos problemas concretos enfrentados por diversos grupos de pessoas comnecessidades especiais a Fundação Catarinense de Educação Especialsolicitou auxílio à Universidade Federal de Santa Catarina representadapelo Grupo PET (2), o qual é referencia nacional no campo de DesenhoUniversal e desenvolve trabalhos de pesquisa e extensão sobre o tema emespaços relevantes para a cidade de Florianópolis.

O grupo foi representado pelos bolsistas Elom Alano Guimarães, Milena deMesquita Brandão e Walmir Rigo, acadêmicos do curso de Arquitetura eUrbanismo da UFSC, sob orientação da professora Marta Dischinger. Aelaboração do trabalho também contou com a participação de técnicos daFundação Catarinense de Educação Especial.

1 Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 (estabelece as diretrizes e bases da educaçãonacional) e Portaria do MEC nº 1679 de 2 de dezembro de 1999 (dispõe sobre requisitos deacessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos deautorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamentos e instituições).2 O Programa de Ensino Tutorial (PET), mantido pela SESu (Secretaria de Educação Superior),é formado por grupos de alunos que demonstrem potencial, interesse e habilidadesdestacadas no seu curso de graduação. Seu principal objetivo é garantir uma formaçãoglobal do aluno, através de atividades extracurriculares - de ensino, pesquisa e extensão- que favoreçam e enriqueçam a sua formação acadêmica, melhor preparando o bolsistapara o mercado de trabalho e estudos de pós-graduação. O Grupo PET/ARQ/UFSC existehá doze anos e há aproximadamente seis anos vem desenvolvendo diversos trabalhos depesquisa e extensão na área de Desenho Universal.

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A instituição desenvolve atividades de ensino, pesquisa, atendimentosespecíficos e reabilitação. Dada a relevância de sua atuação para asociedade, é premissa fundamental que seu campus seja um local inclusivoe referencial em termos de inclusão social e espacial.

Paradoxalmente à sua função de inclusão, a falta de acessibilidade espacialtorna a FCEE um local excludente. Além de áreas de circulação externascom inúmeras barreiras para pessoas com restrições motoras, o espaço éde difícil compreensão e orientação para pessoas com restrições sensoriaise cognitivas.

Apresentamos nesta publicação os resultados do projeto de pesquisa eextensão “Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da FCEE”, o qual incluiuma breve fundamentação teórica e a descrição detalhada dos métodosempregues para o desenvolvimento de estudos preliminares de análise eelaboração de diretrizes espaciais de projeto.

1.2 Objeto deestudo, a FCEE

A Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE) situa-se no BairroNossa Senhora do Rosário, município de São José, na grande Florianópolis,próximo ao Shopping Itaguaçu e BR-101. Atende às pessoas com necessidadesespeciais de todo o estado de Santa Catarina. (Ver Fig.1)

A instituição, de caráter beneficente, instrutivo e científico, sem finslucrativos, foi criada em 1968 e desde então, desenvolve atividades diversascomo ensino especial, pesquisa, reabilitação, capacitação profissional,produção de material pedagógico adaptado, atendimentos específicos,reabilitação entre outras atividades.

O complexo da FCEE está disposto em um terreno bastante extenso comcerca de 48m de frente, 96 de fundos e x 629m de profundidade, totalizandouma área de 52.018m². O acesso principal localiza-se na Rua Paulino PedroHermes e o acesso dos fundos dá para a Rua Alfredo José de Amorim. (VerFig. 2).

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Fig. 2 - Complexo da FCEE (A área edificada está hachurada). Sem escala. Fonte: Autores.

Fig. 1 - Foto aérea de situação. Sem escala. Fonte: INFOARQ.

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Fig. 3 - Mapa de Setores da FCEE. Sem escala. Fonte: Autores

Entretanto, seu planejamento arquitetônico não considerou as restriçõese potencialidades de seus usuários, visto que na época de sua construçãonão havia conhecimento e preocupação dos planejadores com as pessoascom restrições. Dessa forma, as instalações da FCEE conformam um espaçode difícil compreensão exigindo o emprego de diversos instrumentos deestudo para que pudéssemos compreender primeiramente sua organização,seus usos, seu público, suas carências e potencialidades não exploradas.

1.2.1.1 Guaritas

A entrada principal da Fundação Catarinense de Educação Especial, que dáacesso a Rua Paulino Pedro Hermes é marcada por uma guarita e umgrande portão projetado para a entrada de carros. Próximos a ela existemdois pontos de ônibus. A guarita funciona 24 horas por dia e serve comoponto de informações. Os automóveis, caminhões e vans passam por esseportão, assim como o lixo.

Pela Rua Alfredo José de Amorim temos acesso à entrada secundária daFCEE, que fica aberta apenas nos horários de entrada e saída dos centros(8h, 12h, 13h, 17h). Essa é bastante utilizada por pedestres moradores dobairro e por todos os ônibus pra própria fundação.

1.2.1 Setores eAtividades da FCEE

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1.2.1.2 Setor 1

Este setor abriga as funções administrativas e gerenciais da instituiçãodispostos em cinco blocos. No bloco A temos as funções de protocolo,recepção, central telefônica, cozinha e cartão ponto, este utilizado portodos os funcionários. No protocolo, devido a visibilidade e a presençaconstante de funcionários, os visitantes solicitam informações para sedeslocarem na FCEE.

No bloco B encontram-se o gabinete da direção gera da casa, a acessóriajurídica da FCEE, que atende as causas próprias e também de todas asAPAES do estado de Santa Catarina. Também encontramos uma sala dereunião destinada à diretoria da Instituição e também as APAES do estadocatarinense.

No bloco C se encontram as diretorias de educação especial e de assistênciaao educando. Ainda, a gerência de supervisão e a gerência das unidadesde atendimento.

O bloco D abriga a gerência administrativa com as funções de contabilidade,tesouraria e prestação de contas.

Por último, o bloco E abarca a diretoria de administração e setor pessoal.

1.2.1.3 Setor 2

Este setor da FCEE congrega a associação dos pais dos alunos, a associaçãodos servidores da FCEE. Ambos usam o ambiente para reuniões e encontros.

Também encontramos um alojamento para os usuários das clínicas, osquais provém de outras cidades do estado e permanecem hospedados atécumprirem as rotinas de atendimento. Ocorre também a hospedagem deprofessores e ministrantes que irão proferir cursos ou realizar atividadesna instituição. Existem duas salas e aulas no setor, utilizadas para diversosfins.

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O GECAP, Órgão que Administra o alojamento, é designado para abrigartodos os deficientes do estado e seus familiares que se dirigem a FCEEpara serem atendidos.

O alojamento também dispõe de uma cozinha e refeitório, que sãoutilizados pelos hospedados de forma coletiva.

Ressaltamos a presença neste setor de um Auditório, o qual é o único dainstituição e é utilizado pelos diversos centros com freqüência. Eles fazemapresentações em datas comemorativas ou realizam seminários de interessepara a FCEE e sociedade em geral.

1.2.1.4 Setor 3

Este congrega inúmeros centros e equipamentos da Instituição, tais como:

GETEC: Gerência de pesquisas, orientação de profissionais e estudantes,recursos tecnológicos para equipamentos adaptados. O setor recebe visitasde estudantes e pesquisadores, de todo o estado. Na mesma edificaçãodo GETEC, está a complementação do CEADS. Ali se encontram salas deatendimento e avaliação nas áreas de: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Surdo-cegueira, reabilitação auditiva, orientação-mobilidade, serviço de audiologiae enfermaria. Conta com: material pedagógico adaptado, onde sedesenvolvem brinquedos adaptados e especiais, áreas de pesquisa, serviçode apoio pedagógico, audiometria (faz parte do CEADS), enfermaria,arquivos dos alunos (fichário dos atendimentos), cozinha e salas deatendimento na área de psicologia e pedagogia.

CENAE: Centro de avaliação e encaminhamento, onde ocorre a triagemdos indivíduos de todas as idades vindos de todas as regiões do estado.Técnicos avaliam e fazem a triagem para determinar o grau e o tipo dadeficiência, para posterior encaminhamento aos centros específicos oupara a liberação do paciente.

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CEADS: Centro de atendimento aos deficientes sensoriais, auditivos, visuaise mentais. Todos são encaminhados para esse centro onde são atendidospor médicos. Recebe deficientes visuais de todo o estado de SC promovendoalfabetização em Braille.

CENET 2: Atende aos casos de deficiência mental severa associada àdeficiência física, tornando, muitos dos indivíduos, dependentes. O CENET2 atende em dois turnos: pela manhã das 8 às 12hs e a tarde das 13 às 17hs. Dois professores se incumbem de guiar e orientar um grupo de 30alunos por turno. Conta com uma série de atividades: artes, terapiaocupacional, pedagogia e serviço social, atividades de vida prática, salapara educação física, refeitório e 6 salas de grupo de trabalho, cada umacom BWC adaptado e chuveiro.

CENAP: Centro de ensino e aprendizagem - educa os indivíduos em termoshigiênicos, objetivando garantir sua independência em relação a tarefaspessoais; visa socializar e aculturar os alunos. No prédio existem salas deartes, música, educação física, informática, atividades diárias ebrinquedoteca.

CEMI: Centro educacional municipal - está desativado passando poradaptações. Opera no CEMI a sala de recursos e a S.A.P.(Sala de ApoioPedagógico) que atende à deficientes mentais leves. Quem usa o espaçosão os funcionários e os alunos da escola Nossa Senhora da Conceição deSão José. Os alunos atendidos são de sete anos até os que cursam osegundo grau, provenientes de toda a comunidade, seja das escolasparticulares, estaduais e municipais. Na escola, trabalha-se com deficientesvisuais e indivíduos com baixa visão ocorrendo a alfabetização deles emBraille.

CEI: Centro de Educação Infantil- Atualmente a escola Estadual de SãoJosé utiliza o espaço atendendo a alunos da comunidade e filhos defuncionários da FCEE de 0 a 6 anos. Alguns são deficientes com Síndromede Down, Deficientes Visuais e Auditivos.

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CENET I: Centro de educação e trabalho - Responsável pelo atendimentode educandos portadores de deficiência mental e/ou associada, com idadea partir de 14 anos. Objetivando a preparação e encaminhamento para omercado de trabalho oferecendo também atividades laborativasocupacionais. Opera nas seguintes modalidades de atendimento:Iniciação, oficinas de convivência, iniciação, oficinas pedagógicas, oficinasprofissionalizantes, oficinas adaptadas, oficinas estruturadas, auto-gestão.

BIBLIOTECAO órgão está subdividida em biblioteca escolar, contendo livros didáticos eliteratura em geral e biblioteca especializada com publicações técnicassobre deficiências.

CENER: Contempla atendimentos nas áreas de Fisioterapia, Fonoaudiologia,Estimulação Essencial, Psicologia, Equoterapia e Reabilitação. Fazatendimentos a alunos matriculados na FCEE e também exteriores a ela. Afaixa etária do público alvo é indeterminada. Os atendidos são na maioriasurdos, deficientes motores, deficientes cognitivos, hiperativos, altistas,deficientes cognitivos e físicos ou multíplos.

LAVANDEDERIA: Utilizada por funcionários e alunos. Na parte da manhã alavanderia trabalha com dois funcionários da FCEE e higieniza as roupasde toda a casa. Na parte da tarde a lavanderia recebe os alunos do CENETI atuando como função pedagógica neste período. Os alunos permanecempor um ano neste ofício sendo que alguns saem para prestarem estágioprofissionalizante e de convivência.

REFEITÓRIO: recinto onde funcionários e alunos se alimentam. Os horáriossão:11:00h às 13:00h para os setores administrativos e das 11:45h às13:00h para os alunos que ficam o dia todo. Também é utilizado para olanche da tarde.

CULINÁRIA / HORTA: nesse setor os alunos aprendem noções de cozinha.

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GINÁSIO DE ESPORTES: é utilizado por todos os educandos da FCEE etambém pela comunidade. As atividades são diárias e se extendem até às21:00h. Varias modalidades esportivas se desenvolvem no ginásio, taiscomo a iniciação ao vôlei, o basquete, futsal, boliche adaptado, bochadentre outros.

1.3 Objetivosdo Projeto

Realizar estudo analítico das condições de acessibilidade das instalaçõesatuais da Fundação Catarinense de Educação Especial considerando ashabilidades e restrições de seus distintos usuários e enfocandoprincipalmente nos aspectos de: orientabilidade, conforto e segurança. Aanálise dos problemas é voltada para o desenvolvimento de parâmetros deprojeto que apóiem tanto o desenvolvimento de soluções técnicas futuras,como contribuam para uma maior compreensão do problema e de suassoluções possíveis. Os conhecimentos gerados durante este processo deavaliação e projeto serão objeto de campanha informativa junto àcomunidade da FCEE visando sua conscientização, e os resultados finaisem forma de Manual serão objeto de publicação por parte da FCEE.

Num segundo momento poderá ser desenvolvido, através de consultoriatécnica com a UFSC, projeto arquitetônico para os espaços externos daFCEE, ou outras áreas a serem definidas durante o processo de avaliação,implementando os parâmetros e as soluções propostas. Caso seja realizadoprojeto arquitetônico futuro, mesmo que este não seja realizado pelapresente equipe, as soluções propostas deverão ser acompanhadas ediscutidas pelos coordenadores deste projeto de extensão. Para permitir aavaliação das soluções técnicas é fundamental tanto o acompanhando desua implementação em obra, como a realização de avaliação pós-ocupaçãode seu uso pelos distintos usuários. Além disso, cada novo projeto deacessibilidade deve considerar características e problemas locais, evitandoa reprodução tipo carimbo de soluções que podem comprometer aacessibilidade desejada.

Proceder ao levantamento expedito do campus da FCEE avaliandocaracterísticas de sua implantação, centros de interesse, hierarquia etratamento dos acessos e percursos, presença de usuários portadores dedeficiência, nº de alunos, sistema de orientação adicional existente, etc.;

1.3.1 Objetivo Central

1.3.2 ObjetivosEspecíficos

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Identificar os problemas existentes relacionando-os com os diferentes tiposde deficiência;

Proceder à análise e diagnóstico dos problemas, classificando-os e buscandosuas causas;

Propor diretrizes de desenho arquitetônico que permitam a acessibilidadeem função dos problemas classificados;

Realizar a discussão e avaliação das propostas junto à FCEE;

Promover a divulgação do estudo teórico e prático para a comunidadeatravés da realização de palestras, encontros e publicação de resultados;

Promover o intercâmbio e troca de conhecimentos entre as instituições eprofissionais da área de ensino, arquitetura e engenharia;

Formar estudantes de arquitetura na área do Desenho Universal atravésdo desenvolvimento de um estudo concreto.

1.4 MetodologiaO planejamento arquitetônico da FCEE não considerou as potencialidadese restrições de seus usuários incluindo portadores de necessidades especiaisem variadas faixas etárias e diferentes graus de comprometimento. Dessaforma suas instalações conformam um espaço de difícil compreensãoexigindo o emprego de diversos instrumentos de estudo para que pudéssemoscompreender primeiramente sua organização, seus usos, seu público, suascarências e potencialidades não exploradas e a partir daí apontarmossoluções universais de projeto.

Apresentamos a seguir uma breve descrição dos métodos e instrumentosempregados na pesquisa de forma cronológica, sendo que sua descriçãomais detalhada será apresentada no capítulo 3.

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1.4.1 Análise Documental Consiste no estudo de bibliografia específica na área de Acessibilidade eOrientabilidade contextualizando as informações para a realidade local;estudo de leis e normas como a NBR 9050; leitura das plantasarquitetônicas da FCEE. Também, consulta a relatórios de pesquisasanteriores desenvolvidas pelo Grupo PET, o qual é referência nacional notema Acessibilidade e que puderam servir de embasamento para a atualpesquisa.

As primeiras vistas à FCEE possuíam caráter exploratório. A equipe foiestimulada a compreender o espaço apenas com as informaçõesarquitetônicas e gráficas que lá estão. Na seqüência, criamos mapasmentais - elaborados a partir da impressão que se tem do espaço - quepermitem avaliar a legibilidade do espaço em questão. Os mapasmentais foram as primeiras imagens geradas do local. A partir daobservação, especulamos os usos de cada setor.

Na seqüência, conduzidos por um funcionário antigo, conhecemosformalmente todos os setores, agora conhecendo seus usos específicos.Posteriormente, procedemos à atualização das plantas das edificações(cedidos pela FCEE) e confeccionamos uma planta geral abarcando todoo complexo da Instituição.

Como a leitura do espaço físico não foi suficiente para compreendê-lo,fizemos entrevistas abertas (conversa informal com a maioria das perguntaselaboradas no decorrer do diálogo) com funcionários de todos os setoresda FCEE, com o objetivo de aprofundarmos o entendimento sobre ofuncionamento e os problemas de cada setor.

Inicialmente, perguntávamos quais as atividades que ali ocorriam e quaiseram os usuários mais freqüentes. No quadro funcional da FCEE, constamalguns funcionários portadores de algum tipo de deficiência. Esse fatoenriqueceu bastante o processo, pois os entrevistados sempre descreviamsituações e problemas enfrentados pela falta de acessibilidade nos espaçosda instituição.

1.4.2 Observação Direta:Levantamento FísicoArquitetônico eObservação dos Usos

1.4.3 Entrevistas

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Após essas duas primeiras etapas, a equipe dispunha alguns mapastemáticos, transcrições das entrevistas (que foram gravadas em fitacassete), assim como uma grande quantidade de fotos.

Com o intuito de alcançar uma percepção do espaço mais próxima à dousuário a partir de situações reais de uso dos espaços e para poder avaliarsuas condições de acessibilidade espacial utilizou-se o método investigativodesenvolvido por DISCHINGER (2000), denominado “passeiosacompanhados”.

A aplicação do método consiste em escolher um entrevistado, após édeterminado um percurso de interesse de acordo com o estudo realizado.Os percursos devem possuir um ponto de partida e objetivos a alcançar.Durante o passeio acompanhado o interlocutor deve seguir, mas nãoconduzir ou ajudar o entrevistado na realização das atividades. O processoé registrado pela equipe através de anotações, gravações e fotografias.As conversas gravadas são transcritas, e os assuntos são selecionados eseparados por temas. Os eventos significativos do passeio são fotografadose organizados de modo a ilustrar aspectos relevantes, além de seremlocalizados espacialmente em mapas sintéticos dos percursos percorridos.Dificilmente poderíamos obter estas informações se apenas perguntássemosaos usuários sobre seus problemas, ou tentássemos nos imaginar comoportadores de alguma restrição, ou ainda simulássemos prováveis situações.

Os resultados obtidos nas etapas anteriores, principalmente durante ospasseios acompanhados e observação direta, foram organizados em textosexplicativos nos quais identificamos problemas e apresentamos possíveissoluções que podem também aparecer de forma representativa (croquis).

1.4.4 PasseiosAcompanhados

1.4.5 Textos Explicativos

20Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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2CONCEITOS

22Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

2.1AcessibilidadeEspacial eCidadania

A inclusão do indivíduo na sociedade se dá em diversos níveis: no nívellegal, assegurado pelas leis, normas e dispositivos vigentes; no nível médico,garantido pelo atendimento qualificado ao cidadão; no nível de ensino ereabilitação, através da capacitação do indivíduo; e por último no nívelespacial, no qual é necessário garantir o acesso pleno aos mais diversoslocais e atividades, considerando suas habilidades e restrições. Apesar deser assegurada por lei, a acessibilidade espacial dificilmente é alcançadadevido à falta de conhecimento sobre as necessidades específicas das pessoascom algum tipo de restrição, desenvolvendo-se muitas vezes apenas soluçõesparciais.

Para entender melhor a acessibilidade espacial é importante ressaltar adiferença entre deficiência e restrição. A deficiência é um problema deorigem fisiológica do indivíduo, mas que não necessariamente implica emincapacidade de realizar tarefas. Por exemplo, uma pessoa com oito grausde miopia possui baixa visão, entretanto se utilizar lentes corretoras, podeenxergar perfeitamente. Ou então, uma pessoa com deficiência motorapossui restrições de movimento, mas pode enxergar perfeitamente, pensare exercer qualquer atividade sentada (ver Fig. 4). Já, uma pessoa comrestrição está impossibilitada de realizar uma tarefa, temporária oupermanentemente. Uma pessoa que quebrou a perna, um idoso ou umagrávida, por exemplo, possuem restrições de movimento, mas nenhum tipode deficiência. Um cadeirante possui uma deficiência motora que acarretouem uma restrição de movimento, apenas (ver Fig. 5).

A acessibilidade espacial está intimamente ligada ao conceito de cidadania.Um lugar acessível é aquele de fácil compreensão, que permite o usuário,independente de suas habilidades e restrições, ir e vir, assim como fazerparte de todas as atividades que esse lugar proporcione com segurança,conforto e autonomia (ver Fig. 6). Por lugar, entendemos qualquer espaçoou ambiente onde atividades possam ocorrer. Um lugar pode ser uma rua,um shopping, uma feira que ocorre numa praça qualquer. Para poder teracesso e poder participar do que o lugar oferece, são necessários quatrorequisitos:

2.1.1 Deficiência XRestrição

Fig. 4 - Cadeirante. Fonte:DISCHINGER, et al, 2001.

Fig. 5 - Mãe com carrinho debebê. Fonte: DISCHINGER, et al,2001.

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· ter informações sobre os lugares e as atividades;· deslocar-se com conforto e segurança;· utilizar os equipamentos e ambientes sem que seja preciso terconhecimento prévio de sua utilização.

Logo, é principalmente através do acesso à informação e da mobilidade –movimento de ir e vir – que o indivíduo participa dos lugares e das atividades,estabelecendo contato com as demais pessoas, exercendo seu direito decidadão. Enfim, prover acessibilidade espacial é condição primordial para acidadania, oferecendo alternativas de acesso e uso a todas as pessoas.

De acordo com DISCHINGER (2000), para garantir a acessibilidade énecessário, então, tanto a eliminação de barreiras físicas e arquitetônicas(desníveis, escadas, rampas inadequadas) quanto as que impedem o acessoà informação (falta de sinalização visual, tátil e sonora). De acordo comesta definição mais ampla barreiras são aqueles elementos, presentes noambiente, que impedem, restringem ou dificultam:

· a circulação dos usuários nos percursos para atingir lugares e atividades;· a percepção, compreensão e apropriação por parte dos usuários dosespaços e atividades, impedindo seu uso efetivo.

Para avaliar as condições de acessibilidade espacial da FCEE, utilizaram-sequatro componentes de estudo: orientabilidade, deslocamento, comunicaçãoe uso, especificados a seguir. A plena inclusão é garantida através dessesfatores, que na maioria das vezes, são interdependentes.

2.1.2 OrientabilidadePoder definir seu próprio deslocamento, saber onde se está em relação aotempo e espaço significa estar orientado. A orientação é condicionada pordois fatores: primeiramente à percepção do espaço por parte indivíduo,obtida através de seus sentidos, e posteriormente às informações potenciaisexistentes no ambiente.

Fig. 6 - Acessibilidade Espacial.Fonte: Autores.

24Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

A orientação espacial está associada tanto à habilidade dos indivíduos emrepresentar mentalmente as características espaciais, extraídas através dapercepção do espaço em questão, e de situar-se nesta representação(conhecida como mapa mental ou cognitivo), quanto à capacidade do espaçoou ambiente de evidenciar estas informações. Como exemplo da habilidadedo indivíduo, podemos citar um deficiente visual, que na ausência da visão,se vale de outros sentidos, como a audição e o olfato, para perceber e seorientar em determinados locais. Já o ambiente, pode transmitir informaçõesque auxiliem a orientação dos seus usuários com a setorização das atividades,aplicação de pisos com diversas texturas, distintas cores e texturas dasedificações, emprego de tipologias variadas, emprego de desníveis,informações adicionais etc.

Quando um determinado espaço ou arranjo físico não facilita suacompreensão, legibilidade ou uso, ou seja, não prioriza a percepção doespaço e de sua informação, acaba prejudicando a capacidade do indivíduode extrair as informações necessárias para situar-se ou deslocar-seespacialmente.

· Tratamento da informação – envolve a percepção ambiental e acognição, para obter a informação necessária para o desenvolvimento dosdois processos seguintes;· Tomada de decisão – desenvolvimento de planos de ação para alcançarum determinado destino;· Execução da decisão – transformando os planos de decisão em açõesfísicas no tempo e no lugar correto ao longo do percurso.

Desorientar-se ou se perder são experiências extremamente frustrantes.Tornam-se ainda mais constrangedoras para deficientes, pois acentuam suasituação de dependência e reduzindo de fato sua acessibilidade e inclusãosocial.

Sistema de informação A habilidade do indivíduo em orientar-se em um dado lugar depende dosistema de informação presente no próprio ambiente. Este sistema é formadopor três diferentes elementos que estão relacionados com o deslocamentodas pessoas e com suas habilidades em situar-se mentalmente num arranjofísico.

Fig. 7 - Sinalização (informaçãoadiconal) indica o sanitário.Fonte: Autores.

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São eles:· a configuração espacial: inclui todas as características do espaçoarquitetônico, tais como a forma do arranjo físico, princípio de organizaçãoespacial, hierarquia dos caminhos, zoneamento funcional, marcosreferenciais etc.· a informação adicional: diz respeito a toda informação gráfica (placasde sinalização e informação - ver Fig. 7), incluindo displays auditivos (avisossonoros), as mensagens táteis (mapas táteis, texturas no piso etc.);· a comunicação verbal: informação que é dada pelos funcionários e/ouusuários dos lugares.· a informação sonora: após a informação visual, esta é a segunda numaescala de importância/quantidade disponível e de percepção. Para usuárioscom baixa visão ou perda visual total, a informação sonora toma lugar dedestaque no processo perceptivo.

Quando há coerência nas informações do ambiente – dadas pelos doisprimeiros elementos descritos acima – o visitante se guia facilmente, pois épossível referenciar-se de forma autônoma no espaço. Porém, muitas vezes,as informações ambientais não formam um conjunto coerente, conseqüênciaem sua maioria da falta de informação, de informação ambígua ou atémesmo sobrecarga de informação. Em qualquer um desses casos, ainformação emitida pelo ambiente é difícil de ser percebida ou tratada,acarretando dificuldade de orientabilidade.

Quando a orientabilidade é deficitária a manifestação mais freqüente é aproliferação de perguntas do tipo “onde se localiza tal lugar?” e “comofaço para chegar lá”. A demanda por informação verbal atesta o insucessoda comunicação do ambiente (configuração espacial e informação adicional).

2.1.3 DeslocamentoDeslocar-se é ter condições ideais de movimento nos percursos horizontaise verticais e suas continuidades (salas, escadas, corredores, rampas,elevadores). O deslocamento é garantido através da supressão de barreirasfísicas, assim propiciando segurança, conforto e autonomia a todos osusuários (ver Fig. 8).

Fig. 8 - Deslocamento. Fonte:Autores.

26Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

2.1.4 Comunicação Comunicação é como se dão as condiçõesde troca e intercâmbio de informaçõesinterpessoais, e entre pessoas eequipamentos de tecnologia assistiva, quepermitem o ingresso e o uso da edificaçãoou espaço livre (ver Fig. 9).

2.1.5 Uso O uso é dado pela possibilidade departicipação do indivíduo nas atividadesdesejadas, utilizando os ambientes eequipamentos, sem que seja necessárioum conhecimento prévio, e de formaautônoma, confortável e segura (ver Fig.10).

2.2 Os entravesà acessibilidadeespacial e àcidadania

Dentre outros fatores, também ocorrem os obstáculos de ordem social epsicológica que impedem a participação efetiva do indivíduo na sociedade.Em suma, as barreiras podem ser sintetizadas em três categorias:

Fig. 9 - Telefone para pessoas comdeficiência auditiva. Fonte: Autores

Fig 10 - Orelhão com duas alturas, possibilitando ouso por crianças, adultos em pé, ou cadeirantes.

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Barreiras atitudinais são aquelas estabelecidas na esfera social, em que asrelações humanas centram-se nas restrições dos indivíduos e não em suashabilidades, dificultando sua participação na sociedade. Esse tipo de atitudepode, ainda, produzir barreiras de ordem física e informativa no momentoem que a sociedade não considera relevante tornar os ambientes acessíveis,ou as pessoas com restrições sintam-se constrangidas em solicitar informaçõesou realizar alguma atividade (Ver Fig. 11).

Barreiras físicas são aquelas de origem arquitetônica originárias de elementosfísicos ou de desenho espacial que dificultam ou impedem a realização deatividades desejadas de forma independente causando diversos tipos derestrições. Para a identificação das barreiras físicas, além do estudo dascaracterísticas arquitetônicas dos espaços construídos, é necessária a análisedas necessidades específicas dos usuários em relação ao uso do espaço.(Ver Fig. 12).

Barreiras de informação são aquelas ligadas á legibilidade de um espaço. Aacessibilidade espacial está diretamente ligada à capacidade de orientaçãoespacial que depende da informação ambiental existente. O excesso deanúncios e propaganda nos espaços urbanos constitui uma barreira porcausar poluição visual dificultando o acesso às informações urbanasnecessárias para a orientação tais como nomes de ruas, número de prédio,etc. (Ver Fig. 13).

Fig. 11 - BarreiraAtitudinal.Fonte: Autores.

Fig. 12 - Mãe com dificuldades nodeslocamento pela falta derampas. Fonte: Arquivo deimagens Grupo PET/ARQ/UFSC.

Fig. 13 - Pessoa com deficiênciavisual desorientada devido à faltade informações do espaço.Fonte: Autores.

28Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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3LEITURA ESPACIAL

28Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

3.1 Entrevistas

3.1.1 Entrevista com J.Funcionário comdeficiência auditiva

O campus da FCEE é bastante complexo, assim foram necessários contatoscom funcionários de diferentes setores da instituição. Assim, sendoacompanhada por um dos funcionários mais experientes, a equipe conheceutodos os coordenadores de centro, além de outros . Esses, de maneirainformal, relatavam as atividades ali realizadas, os usuários e seus principaisproblemas. Essas entrevistas nos ajudaram a elaborar o primeiro capítulo,assim como o item “Problemas” descrito a seguir.

Este item “Entrevistas”, portanto, apresentará apenas algumas dessasentrevistas, que não serão apresentadas em outros capítulos.

Para entender as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiênciaauditiva. Houve várias tentativas de marcar um passeio acompanhado,outro método descrita na seqüência desse capítulo, com deficientesauditivos. Entretanto, devido a problemas de comunicação, o passeio acabounão acontecendo.

As opiniões em relação à comunicação dos surdos são bastante divergentes.Alguns acreditam que os surdos podem se comunicar apenas acompanhadopor intérprete de libras, outros crêem que os surdos devem se comunicaratravés da escrita e devem ser oralizados.

Tentamos entrar em contato com dois pesquisadores com deficiênciaauditiva da FCEE, W. e J. Não tivemos acesso ao telefone celular (paramantermos contato através de mensagem escrita) de nenhum dos dois enem a seus endereços de correio eletrônico. Depois de alguns desencontros,contamos com auxílio de uma intérprete de libras, para nos comunicarmoscom J.. Além disso, entrevistamos três fonoaudiólogas, duas que trabalhamno CENER com deficientes múltiplos e uma que trabalha no CEADS avaliandoo grau de surdez dos atendidos.

A entrevista com J., pesquisadora da FCEE com deficiência auditiva, foiintermediada por intérprete de libras e serão transcritos alguns trechos aseguir:

I – InterpreteW – Walmir

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I: As placas (informação visual) deveriam conter a linguagem dos sinais,porque muitos surdos não conhecem a palavra, deveria ter o desenho dosinal. A informação para o surdo é visual. O pessoal de dentro da casa(FCEE) que entende a linguagem dos sinais ajudaria. Chegar lá na guaritae perguntar a alguém que pode se comunicar, entender e auxiliar o surdoé importante.W: se chegar algum “visitante” será que tem alguém lá capaz de entendere auxiliar?I: hoje não teria alguém capaz de auxiliá-lo, de informar. Então eleteria de procurar uma fonoaudióloga. Falta intérprete lá. Hoje tenhodificuldades em me orientar, isso que sou experiente e conheço a casa.Mas falta informação. Um surdo que não é alfabetizado (não conheceportuguês) vai olhar as placas e não vai entender. Eu me comunico maispor mímica. Precisa ter na placa alguma coisa que tenha um desenho.Como nos banheiros. Sabemos qual é o masculino e qual é o femininopelo desenho (pictograma).(...)I: para um surdo não alfabetizado precisa ter sinal. Por exemplo, sinalde banheiro, ônibus, de rua. Pela questão visual, do uso, do costume.Para o surdo que não lê é difícil a orientação. Cada palavra para o surdotem um sinal, por isso ele reduz muito a sua escrita, tem uma escritaprópria, mas deveria escrever o português certo. Nós vivemos num mundo“ouvintizado” e esses surdos vêm de berços ouvintes (filhos de pais queouvem),. Nem todo mundo vai ter pena e deixar que eles passem de nívelnos estudos sem saber ler ou escrever. Ele tem que saber reconhecer aescrita: cognitivamente ele é normal. Existe agora uma educação especialpara eles, eles exigiram e têm força para reivindicar.Nem todos são iguais. Tem surdo que é oralizado e não quer libras, querfalar. Nem tudo são libras.A J. tem 27 anos e é alfabetizada. (linguagem própria do surdo) comalgumas dificuldades no português. Faz pedagogia na UDESC.W: aqui da FCEE, ela conhece somente a área onde trabalha ou asdemais edificações? Como seria mais fácil para ela se orientar e localizaraqui na FCEE? Cores, nomes?I: Ela não conhece a sigla. Entende pelo espaço físico, pela estrutura. Agrande maioria dos surdos já conhece a casa. Seja os daqui, ou os dointerior do estado.

30Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

3.1.2 Entrevista comprofessora das pessoascom deficiência auditiva

W: ela entende as placas? Guia-se por elas?I: ela disse que quando vê a plaqueta que vai pra algum lugar ela perguntaa alguém ou escreve num papel, faz qualquer coisa pra entenderem ela.J. escreve, lê, olha, enxerga a mesma coisa que nós; muita gente vemde fora aqui e é analfabeto. Ele sente mais dificuldades que um surdo.Eles namoram, vão a lojas, cinema, tem vida normal.

Os trechos em itálico foram transcritos das entrevistas. Ver a legendaabaixo:M-MilenaE-ElomP-ProfessoraW-Walmir

Ela acredita que utilizar as libras (Linguagem Brasileira de Sinais) nassinalizações são desnecessárias. A professora acredita que não se deve nãoutilizar os códigos (nome + sinal + escrito), surdos perguntam muito,desenham, escrevem, enfim, vão atrás da informação para chegar ondequiserem. Chamam a atenção.Abaixo os trechos mais relevantes da entrevista.M: o desenho auxilia os surdos?P: sim, usar esses recursos de desenho ajuda. Mas acho que é primário,por que o surdo tem condições de aprender o português.E: mas a integração entre linguagem pictórica e gráfica é para osdeficientes cognitivosP: sim, é claro! Aqui na FCEE tem exemplos disso com alunos surdostambém. Mas daí eles tinham o cognitivo abalado. E era difícil gravar ossinais, assim como é para nós.W: e se o surdo não for alfabetizado?I: é a mesma coisa que um ouvinte analfabeto.

Serão transcritos, a seguir, alguns trechos da entrevista com aFonoaudióloga J., que trabalha no CENER, Centro de Reabilitação. Verlegenda:

W-WalmirM-Milena

3.1.3 Entrevista comFonoaudióloga

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F: Fonoaudióloga

F: Tenho 20 anos de experiência, já trabalhei com toda a FCEE. Quemtem maior dificuldade em se orientar é o DV (deficiente visual), masnunca trabalhei com um “cego puro”, com baixa visão e outrasdeficiências.W: o principal problema é o translado dos alunos do veículo para a macaou cadeira de rodas em dia de chuva...F: no CENER, entra muita gente de fora para ser atendido pelos inúmerosserviços como Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, piscina... aí lota deveículos. O principal problema é às 19h: a iluminação é ineficiente(...). A coisa não piorou muito porque começamos, neste ano, a trabalharaté às 19h. Antes era até às 17h. Aqui tem muita demanda. Às 17h issoaqui (a FCEE) é um transtorno.Estou ensinando os alunos adolescentes a irem até o ponto de ônibussozinhos (para irem embora). Eu não os levo. Ensino! Mas é muito maisperigoso porque eles não escutam a movimentação dos ônibus que égrande. E os ônibus param em distintos pontos, tenho que ficar de olho!Eles pegam ônibus da FCEE e alguns o coletivo.W: Eles se dirigem pela rua principal ou pelo caminho interno?P: não, os que usam o transporte coletivo vão pela principal. Tem muitoaluno que está há vários anos aqui, que vai pelo interno: ele já conhecee já está acostumado.W: então o fluxo intenso de veículos impede que os alunos se desloqueme embarquem com segurança?F: Às 8h, meio dia, uma hora (13h) e às 17h, acho que deveria ter umguarda ali na frente (na frente da FCEE). Tem pessoas que têm queatravessar a via para pegar ônibus para a Serraria e os condutores nãorespeitam o limite de velocidade. No exterior não tem placa que indiqueque aqui é uma escola. Na hora de pegar o ônibus (17h) é um caos. , acalçada é estreita, o ponto de ônibus é pequeno, os alunos ficam nachuva, brigam ali fora. (...)M: o pessoal é treinado pra saber libras na FCEE?F: recursos têm. Mas é necessária a prática. É como uma língua!M: e se chegar algum surdo, alguém vai atender? Saber se comunicarcom ele?

32Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

3.2 PasseiosAcompanhados

F: Tem que ter, as pessoas que trabalham na recepção deveriam saber eestar bem preparadas. Tem cursos internos e até pra comunidade, queensinam libras. O que falta é boa vontade, ocorre muita acomodação porparte das pessoas.

O método dos passeios acompanhados, já apresentado no Capítulo 1, vemsendo aplicado pelo Grupo PET em diversos projetos de pesquisa e extensão.No entanto, a presente pesquisa demandou número expressivo deentrevistados, uma vez que necessita soluções universais para os problemasde acessibilidade na FCEE, já que o público atendido na instituição éformado por pessoas com restrições variadas. Foram realizados sete passeiosno total: quatro com portadores de deficiência visuais, dois com portadoresde deficiência motora, e um com um visitante que desconhecia o campusda FCEE.

O arranjo físico da FCEE é bastante complexo. Usuários sem qualquer tipode restrição ou deficiência possuem enorme dificuldade em se orientar nolocal. A comprovação se efetivou com a realização de um passeioacompanhado com um visitante, que desconhecia a instituição. Este abaixoserá chamado de L. tem 20 anos, é acadêmico de Arquitetura e Urbanismo,sem restrições e conhecedor da FCEE no âmbito da fachada externa apenas.

3.2.1 PasseioAcompanhado comVisitante que desconheciao local

Fig. 14 - Trajeto realizado por L. durante o método. Sem escala. Fonte: Autores.

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Pedimos para ele chegar ao CENER (Centro de Reabilitação) da maneiraque ele achasse mais conveniente. Então o entrevistado solicita informaçõesna guarita. A funcionária dá como referência às bandeiras próximas aoauditório e as lixeiras posicionadas ao longo do percurso “É logo após as”bandeirinhas “, depois de três lixeiras”. L, é acadêmico do curso dearquitetura e urbanismo, logo concluiu que o caminho principal conectavatodas as edificações. (Ver Fig.14).

Dessa forma se deslocou por esta via, lendo todas as placas informativasexistentes, até encontrar a que se referia ao setor que procurava (VerFig. 15). No entanto, saindo desse caminho, não havia mais sinalização,então L. sentiu-se inseguro ao tomar outras decisões (Ver Fig. 16). Oentrevistado acabou encontrando o local procurado ao acaso, pois ainformação inexiste (Ver Fig. 17). “todos os centros são designados porsiglas, como na UFSC, são várias siglas, é complicado, não ocorresetorização, nem zoneamento, não tem informação geral”.

Posteriormente, a L. foi designado o objetivo de encontrar a marcenariado CENET I. Devido à carência de informações adicionais e aodesconhecimento da instituição, L. opta por pedir informações aosfuncionários que não conseguem verbalizar ou citar pontos referenciaispara que o entrevistado chegasse à marcenaria. Assim, a informante saiude seu local de trabalho para o meio externo e apontou a direção a sertomada por L (Ver Fig.18). O estudante de arquitetura se desloca conformeas orientações recebidas, mas devido à complexidade de leitura do espaçoe a falta de informação não encontra o objetivo, novamente ficandodesorientado (Ver Fig. 19): “é difícil porque a tipologia arquitetônica éa mesma, as cores são idênticas, não tem como dizer vai ao verde e nemas placas são coloridas”. Após alguma reflexão, ele decide adentrarentremeio as edificações e finalmente atinge seu objetivo, a marcenaria.Esta dispõe da informação gráfica apenas em sua porta de entrada.

Em seguida, propomos a L. que localizasse o Auditório. “Para chegar aoauditório devo sair daqui, pois estou num lugar fechado. Há indícios deque é fechado, tem prédio nos dois lados”. Saiu por onde entrou, mas seconsiderava perdido, decidiu pedir informações a uma funcionária (VerFig. 20).

Fig. 15 - Sinalização: pequena,com pouco contraste, muitasvezes passa desapercebida.Fonte: Autores.

Fig. 16 - Grande espaço semreferenciais deixa L.desorinentado. Fonte: Autores.

Fig. 17 - L. encontra o CENER aoacaso, e vê a sinalização do localnão padronizada e com muitoreflexo. Fonte: Autores.

34Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 18 - L. precisa pedirinformações a funcionários daFCEE para se localizar. Fonte:Autores.

Fig. 19 - Em um espaçodensamente edificado, L. nãoencontra o local procuradodevido à falta de sinalizaçãoadequada nas portas do ateliêsdo CENET I. Fonte: Autores

Fig. 20 - L. novamente recorre àinformação verbal. Fonte:Autores.

A informante disse que o auditório “fica ondetem os mastros e as bandeiras” (Ver Fig.21). Então ele toma o caminho principal,“porque o auditório deve ficar na viaprincipal”. Caminha em direção as bandeirase diz que o auditório deve ficar no hallprincipal (era o hall do GEAD) então visualizaa placa em cima da porta de entrada doAuditório. O objetivo é concluído.

Propomos que L. encontre o CEI (Centro deEducação infantil). Ele decide pedirinformação a um aluno da FCEE que por alipassava. Este informou que a “creche” ficadepois da “quadra”. Ele não lembrou do nomeCEI.

O estudante se dirige ao ginásio de esportes(edificação referencial devido à forma) logoo avista. L. visualiza duas placas, não sendoúteis a ele. Pela existência de crianças e pelobarulho conclui que ali é a creche. “Acheicomo creche e não como CEI”.

Por último, L. deveria encontrar oalmoxarifado. Assim, caminha em direção aguarita lendo todas as plaquetas. Constataque as informações estão dispostas somentepara quem vem da frente da FCEE (VerFig.22). Acha a placa do almoxarifado, dobraa direita e não sabe aonde ir. Pedeinformações no Setor Arquivo. Osfuncionários apontam a porta doalmoxarifado. Ele vai até lá e constata quesua localização foi dificultada porque a portado almoxarifado estava aberta e escondia ainformação adicional.

Fig. 21 - Pequenos referenciaisatuam como pontos marcantes,como as bandeiras, por exemplo.Fonte: Autores.

Fig. 22 - As placas estão voltadasapenas para um sentido. Fonte:Autores.

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3.2.2 PasseioAcompanhado comFuncionários comDeficiência Visual

A maior parte das referências de um local é visual. Assim, quem possuiqualquer limitação na capacidade de enxergar - desde baixa visão atécegueira total - possui muitas dificuldades para se orientar. Para tanto,associações, como a ACIC (Associação Catarinense para a Integração doCego), ensinam essas pessoas a se deslocarem de forma autônoma, com oauxílio de recursos como a bengala e o cão-guia. Tanto a bengala, como ocão guia, servem apenas para alertar a presença de algumas barreirasfísicas. O percurso utilizado é previamente decorado (mapa mental) e oespaço é percebido através de seus outros sentidos, como a audição, oolfato e o háptico.

Foram realizados quatro passeios durante a pesquisa, dois com Z. e doiscom J.C. Onde, a bengala, e posteriormente, o cão-guia foram utilizadoscomo auxiliares no deslocamento. Z. possui deficiência visual congênita.J.C. perdeu sua visão aos vinte e um anos em uma cirurgia de glaucoma.Ambos são funcionários da FCEE atuando no campo de pesquisa.

3.2.2.1 Passeio de Z.- com uso da bengala (funcionária com deficiênciavisual congênita)

O percurso está na Fig. 23. O passeio com Z. iniciou no ponto de ônibus.Ela toma o poste da rede elétrica como referencial no momento deatravessar a rua. Faz a travessia com nosso auxílio pela faixa de segurançae busca um poste como referência no outro lado da via. Devido à experiênciasabe que a próxima direção a tomar é à direita. Para se aproximar daentrada da FCEE se vale da bengala que toca o muro constantemente. Zreconhece o acesso da Instituição no momento em que o passeio acaba(Ver Fig.24), neste ponto ela pára. “é... ...eu parei porque assim oh,acabou o muro, né? Então eu sei que a calçada vai acabar aqui”. Oportão de entrada, que serve tanto para pedestres como para veículos, éreconhecido por Z. com o uso da bengala.

Dois trechos de passeio público da FCEE foram construídos para seremavaliados pelos deficientes visuais que por ali circulam. O primeiro, quecompreende o percurso da guarita até o setor administrativo, possui pisoalerta na borda entre o passeio e a via de carros – solução adotada na

Fig. 24 - Fim do passeio naentrada da instituição. Fonte:Autores.

Fig. 25 - Pequenos desníveispodem passar desapercebidospela bengala, gerando acidentes.Fonte: Autores.

36Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 23 - Trajeto realizado por Z. durante o método. Sem escala. Fonte: Autores.

maior parte da cidade de Florianópolis. O piso alerta deve avisar o cegoonde se localizam pontos de perigo. Entretanto Z. ignorou a existênciadesse material. Para chegar ao cartão ponto, Z. utiliza como referenciallocal o meio-fio dos canteiros existentes em todo o percurso. Degrausirregulares e pequenos desníveis ao longo do caminho causariam acidentes,caso Z. não andasse com bastante cuidado. No entanto, sua maiorpreocupação são as janelas ‘maxi-ar’, não detectadas pela bengala. Quandotermina o meio fio do jardim Z. sabe que é o momento de dobrar aesquerda e subir a escada rumo ao seu objetivo. Z. executa a atividade nocartão ponto (Ver Fig. 25) e prossegue se orientando pelo meio fio dojardim.

Z. continua não utilizando o piso guia: “aqui não tem porque usar o pisoguia, né? Se eu posso me orientar de outra forma... fico insegura de usaro piso guia, sem a bengala fico com receio”. O canteiro, existente emtoda a extensão dos passeios, continua sendo o referencial local favoritode Z. “vou observar onde vai acabar o desenho do jardim, porque quandoele acaba já é hora de eu dobrar a esquerda, que daí vou pro meu setor”.A entrada para o GETEC, setor de Z., é um trecho bastante crítico. Há umgrande espaço aberto sem referenciais. Para tanto, ela também se valeda sensibilidade sonora para tomar as decisões no seu deslocamento: “Eusinto eu falando, que tem alguma coisa ali, uma parede, eu sinto quetem algo ali pela mudança de som. Daí vou me orientar pelo meio fio

Fig. 26 - Z. não utiliza o piso-guiacomo referência. Ela sente-seinsegura pela falta decontinuidade dos passeios.Fonte: Autores.

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de novo e agora vou achar a entrada aqui... (som de bengala) ta aqui eume oriento muito pelas paredes, pelo som e ta, agora no caso eu sentique ta tudo aberto, abriu, não tem mais som do lado de cá, não tem maisparede do lado de cá (esquerdo) agora é hora de entrar a esquerda echegamos.”Z., então, simula a entrada no local de trabalho, a ação ocorre semproblemas devido à prática. Ela retoma o caminho externo com o objetivode chegar ao refeitório. Esta opção se deve à complexidade do caminhointerno. Ela continua o percurso agora se valendo do piso guia. Apesquisadora Z. cita a passagem pelo CENAE – a clínica, um dos maiorespontos de referência por possuir um toldo verde em sua entrada (Ver Fig.26) – “porque tinha um piso de entrada (piso guia), senti que tem umdesnível, é uma entrada ali de um setor (som de bengala)...”.

A entrevistada passa próxima a um bueiro e não o percebe através dabengala, porém, ele não é obstáculo a Z (Ver Fig. 27). No momento emque finaliza o passeio, ela busca outro referencial, que seria a parede dabiblioteca. Em seguida, se desloca em diagonal num espaço sem referenciasem que ocorre a mistura de fluxos de veículos e pedestres. O términodeste momento de tensão ocorre quando ela toca com a bengala o meiofio do passeio (Ver Fig. 28), já dobrando a esquerda. Este caminho tomadopor ela não é o único, às vezes ela segue pelo caminho principal, que émenos complexo. Z. dobra novamente à direita e sente dificuldades emencontrar o acesso ao refeitório demarcado por uma rampa, seu referencial.“Aí, acho que me perdi!... eu me distraí, acho que na verdade eu nãodetectei a rampa, ó ta aqui ó...”. Nos horários de maior utilização, orefeitório é facilmente percebido por Z. pelo cheiro da comida.

Z., após concluir o objetivo, retorna ao caminho principal passando porum caminho estreito ao lado do refeitório. Ela sabe que deve dobrar adireita quando o jardim acaba. Na seqüência, sente dificuldades naorientação: “aqui daí tem que cuidar por que eu não tenho como meorientar, às vezes eu posso ir à rua sem querer, então eu tenho que pegarum pouco mais para a direita, mesmo que ali adiante eu volte para acalçada...” (Ver Fig. 29). O retorno ao seu local de trabalho ocorre semproblemas.

Fig. 27 - O bueiro, perigosoobstáculo, também passadesapercebido por não serdetectado pela bengala. Fonte:Autores.

Fig. 28 - O meio fio indica umatrajetória segura. Fonte: Autores.

Fig. 29 - Pela falta de passeios, Z.tem que percorrer pela via deautomóveis e fica tensa. Fonte:Autores.

38Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

3.2.2.2 Passeio de Z. com auxílio de seu cão-guia

O segundo passeio, agora com o cão iniciou no ponto de ônibus. Após Z.seguiu para o cartão ponto sem nenhuma dificuldade. Depois se deslocouem direção ao refeitório pelo caminho principal. Concretizou sua intençãosem problemas e voltou ao local de trabalho. As barreiras e a falta dereferenciais, existentes no primeiro passeio, não atrapalharam Z., umavez que o cão ajuda a superar estes obstáculos.É importante salientar que os D.V utilizam o mapa mental como instrumentopara se locomoverem pelos espaços. O cão guia atua como uma “bengalaviva” detectando os obstáculos presentes no ambiente, desviando deles ereduzindo a velocidade de deslocamento diante de desníveis, degraus e natravessia de vias.

Mas ela não descarta o uso de outros sentidos para detectar uma paredeou elemento volumétrico que também pode ser verificado com o uso dabengala. Z. não sente dificuldades ao localizar as construções se valendodo cão guia (Ver Fig. 30) porque habilmente utiliza a audição captando osruídos – através da reverberação do som- e o do háptico – através dosdeslocamentos de ar.

Z. comenta a respeito da utilização do cão. “Se tiver um obstáculo ele vaiachando o caminho onde devo entrar e passar”. O cão conhece apenas oscaminhos mais utilizados: “alguns ele sabe, se mudar o caminho eu tenhoque orienta-lo e mesmo os caminhos que uso diariamente, tenho queorienta-lo”. Comandos passados por Z. ajudam o cão-guia a se orientar ea encontrar obstáculos mais facilmente. Quando Z. sabe que está próximaa uma mudança de direção pede para o cão a conduzir até o local: “aí eleacha o caminho da direita porque eu mandei, mas eu sei mais ou menosa altura do caminho para dizer para ele pegar a direita ou à esquerda...”.Ou seja, as tomadas de decisão são todas feitas por ela. O cão apenasauxilia na busca de barreiras físicas.

O cão guia dinamiza o deslocamento de Z (Ver Fig. 31). “Quando euchego num obstáculo eu tenho que procurar uma saída e cão já vaidesviando antes que eu chegue no obstáculo, assim fico sempre no meiodo passeio, nunca fico na beira da calçada... é mais rápido, eu fico

Fig. 30 - Z. percebe a edificaçãopróxima pela reverberação dosom. Fonte: Autores.

Fig. 31 - O cão segue oscomandos de Z. e dinamiza opercurso por desviar dosobstáculos. Fonte: Autores.

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livre, tenho mais segurança, eu sei que ele vai me indicar mais facilmenteos obstáculos, aí tem uma escada, ele vai me segurando, ele não desceaté eu não descer.”.

Em caminhos com muitos obstáculos e mudanças de direção, o cão andacom mais pressa: “num caminho diferente ele tem feito isso de ir maisrápido, não sei porque, ai tenho que mandar ele dar um freada”. Já emlocais estreitos, o cão privilegia a passagem de Z, reduzindo sua velocidade.

A experiência de Z. em se deslocar pela Instituição fez com que ela realiza-se a atividade sem problemas e de forma rápida. Ela comentou que énecessário aprender a se deslocar com a bengala para configurar ummapa mental dos lugares para depois estar apta a fazer o uso do cão guia.

A Fig. 23 mostra os dois percursos feitos por Z. O vermelho com a bengalae o azul foi realizado com o cão-guia e localiza as fotos no mapa.

3.2.2.3 Passeio com J.C. com auxílio da bengala (Funcionário da FCEEcom deficiência visual proveniente de Glaucoma)

J.C. inicia o percurso em direção à guarita, atravessando a rua parasimular uma situação de chegada do D.V. por meio de transporte coletivo.

A parada de ônibus se encontra anterior à faixa de segurança de pedestres(Ver Fig.32). Para chegar até ela, J.C. prossegue fazendo a varreduracom a bengala e identificando primeiramente o poste e logo depois osdesníveis da calçada para localizar a faixa de segurança. Em seguida,atravessando a rua, chega até a calçada que dá acesso ao portão deentrada da FCEE. J.C. adota o muro como referencial principal, o poste epor último o desnível da calçada, localizando assim o portão de acesso.

Os fluxos simultâneos de carros e pedestres no portão principal gerammuita insegurança aos D.Vs. Nesse ponto J.C. fica atento aos ruídosproduzidos pelos automóveis para identificar a provável aproximação dealgum veículo.

Fig. 32 - Início do passeio:estreito, irregular e cheio deobstáculos. Fonte: Autores

40Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Passado o portão principal, J.C. segue em direção à calçada guiando-sepelos desníveis existentes no piso. Chegando ao passeio, guia-se peloscanteiros. Ao seu fim, J.C. sabe que deve mudar de direção para ir aocartão ponto, onde se depara com a rampa de acesso ao pátio central daárea administrativa. A rampa, além de ser um obstáculo ao passeios gerandoacidentes, direciona o fluxo em direção ao canteiro central desse pátio ;desse forma J.C. é obrigado e adotar as laterais do canteiro comoreferencial até identificar a porta de entrada do cartão ponto.

J.C. segue se orientando pelas paredes até chegar a porta de entrada.Nesse meio tempo se depara com as janelas do tipo maxi-mar (Ver Fig.33) as quais não podem ser detectadas pela bengala – diz-se que sãoobstáculos aéreos – e cuja projeção está na área de livre circulação.

É imprescindível o uso da bengala para a leitura do espaço, detectando asbarreiras físicas que condicionam o deslocamento de J.C. (Ver Fig. 34).

Ao longo do percurso principal exterior, os principais problemas encontradospor J.C. foram, por exemplo: a descontinuidade da calçada (Ver Fig. 35)periodicamente interrompida para dar acesso às vagas de estacionamentopresente nos interstícios dos blocos da FCEE, assim como a falta dereferenciais ao longo do percurso – pontos de tomada de decisão- comopor exemplo a falta de piso podo-tátil.

Nos acessos secundários, J.C. encontrou dificuldades de orientação devidoà ausência de qualquer circulação para pedestres – calçadas. Os espaçospara estacionamentos e circulação de pedestres, na maioria das vezes,não são demarcado por altura diferenciada ou por qualquer outro sistemaque os diferencie.

Nos percursos secundários, J.C. se depara com vários outros problemas,como banco em áreas de circulação, calçadas estreitas e irregulares, dentreoutros. Na seqüência, estão transcritas as partes mais relevantes do passeio:

J.C. se deslocou pelos dois caminhos principais (em vermelho e azul abaixo)percorrendo-os com o auxílio da bengala e posteriormente com a ajuda

Fig. 33 - Janelas maxi-ar sãoperigosoas pois não sãodetectadas pela bengala. Fonte:Autores.

Fig. 34 - Bengala auxilia nodeslocamento em desníveis, comoos degraus. Fonte: Autores.

Fig. 35 - Fim do passeio deixa J.C.sem referenciais para continuar opercurso.

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do cão guia. J.C. descreve de forma bastante clara e objetiva a maneiracomo se orienta e se desloca pela fundação. “Há sete anos trabalhandoaqui, praticamente; eu não tenho problemas!”. J.C. segue o percursointerno da FCEE com o objetivo de chegar ao CENER pelo caminho interno.Antes disso se depara com alguns obstáculos “Quando ele (portão) estáfechado a gente acaba chocando a bengala com o portão e faz aidentificação com o tato, neh! (...) então aqui imagino um espaço aberto,gramado à esquerda...à direita também...da pra perceber que existe umespaço em que as pessoas se encontram. É um parquinho neh?!”

O parquinho serve como um importante referencial para todos os tipos depessoas, independente se elas possuem algum tipo de deficiência ou não.Para visitantes, o espaço é bem marcante uma vez que se diferencia emmeio aos blocos homogêneos da fundação; para D.Vs. o som produzidopelas crianças quando o estão utilizando orientam a pessoa com deficiênciavisual quanto à sua situação no espaço bem como fazem compreender afunção do espaço que o serve como referencial. “A gente vai incluídoelementos no mapa mental. E todas essas informações são importantespor, não só para nossa deambulação, mas também para informações neh!”

Ele comenta sobre o sentido da audição num ponto em que esta entreedificações e depois num local aberto: “Então... aqui é tudo aberto, jádá pra perceber que o espaço vai se fechando, tem uma cobertura aqui; eaté pelo som da voz; olha só como o som da voz aqui é diferente...”

J.C. aborda o problema das calçadas. O piso é todo homogêneo e nãopossuí um tratamento especial com piso guia nem alerta para orientarquanto às decisões de direção que deve efetivar. A ausência dos pisospodo-táteis induzem o D.V. a utilizar o desnível existente entre o a calçadae a grama para se orientar durante a maioria do percurso. Neste pontoele se desorienta e retorna até onde possuía referências. “quando não setem um ponto de referencia exato isso pode se tornar um complicadorporque você pode não fazer o enquadramento adequado do teu corpo eacaba saindo numa diagonal...’

42Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

“Aqui tem um espaço aberto. Da pra perceber que existe uma coberturatotal, pela circulação, aí também já tem o sol... ali fazia sombra... euvou sempre buscar uma extremidade da calçada, quando eu não tenhooutro referencial. Entretanto, se houvesse nessa calçada um piso guia ena entrada de centro ou de cada serviço, enfim, houvesse um piso quepossibilitasse a tomada de decisão, eu não me preocuparia em buscar asextremidades dessa calçada; que queira ou não pode ter elementos quesejam desagradáveis e até causar algum tipo de acidente. (...) essa éuma grande diferença do cão guia e da bengala. A tensão gerada pelabengala... ela se dá... dessa forma. Por quê? Porque com a bengala tufazes um trabalho de rastreamento, certo? Então tu nunca sabes realmenteo que tu vais encontrar... Eu sei que aqui existem obstáculos permanentes,mas também podem existir obstáculos dinâmicos...”.

No parágrafo acima J.C. relata sobre as dificuldades encontradas nodeslocamento com a bengala que se baseia num trabalho de rastreamento.Apesar de identificar elementos acima do nível do piso até mais ou menosna altura da cintura, ela não deixa ciente ao portador de deficiência visuala presença de prováveis obstáculos aéreos. “O cão antecipa os obstáculos.Agora com relação à referência, a dificuldade pode ser a mesma (...) Écomo qualquer pessoa. Você tem que ter o ponto de saída e o ponto dechegada. Então, quando eu sair daqui, que eu quero ir a um determinadocentro já vou visualizando todo esse trajeto. Com o cão guia é a mesmacoisa... vocês também... vocês quando saem pra caminhar, vocês quandosaem de carro, enfim; vocês já vão visualizando o trajeto né... Masmuitas vezes eu poderia querer vir aqui... fazer esse trajeto aqui portrás da fundação pra chegar a um determinado lugar. Porém eu evitoporque a questão da acessibilidade é complicada pela falta de elementosque me dêem uma boa referência pra chegar onde eu quero comsegurança.”

O entrevistado comenta sobre um caminho próximo e o funcionárioresponde “Eu não percebi esse caminho por quê? Porque a gente vempelo meio da calçada. Olha só isso aqui: é tudo cimento... aqui eu nãotenho referencial nenhum. Se eu venho contornando aquilo dali eu vouter o mesmo referencial e não sei aonde isso aqui vai me levar.” Esse

Fig. 36 -J.C. fica desorientado pornão compreender a bifurcaçãodo caminho. Fonte: Autores.

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ponto foi um dos mais problemáticos do percurso. Caminho largo, sempisos podo - táteis, que podem deixar o D.V. perdido. (Ver Fig. 36)

Comenta-se sobre a casa de bonecas, um obstáculo grande no caminho eJ.C coloca “Então vamos até lá. Já mudou o piso... olha só o perigo queé isso aqui. Pontas. (Comenta sobre a casainha de bonecas se referindoas telhas da mesma que ficam na altura da cabeça de J.C). Quando tu fazum trajeto desse, que tu sai do teu caminho – ou tu pode estar distraídoou buscando determinada coisa e tu não encontra ou tem uma surpresadesagradável como essa aqui que pode me causar um acidente... issopode também fazer com que eu me desoriente e não permita mais que euache o caminho de volta. (... para voltar) Eu vou virar 180º e procurovoltar ao mesmo trajeto que eu fiz.”

J.C se encontra perdido ao procurar seu ponto de partida (antes de tomara direção para a casinha de bonecas). Nesse momento ele já está seguindono caminho principal em direção ao CENER. “Então tu já visse que issoaqui é uma coisa muito labirinto. Viu como é; o piso é o mesmo, então tuperde o teu referencial, não tem!! Ali eu peguei uma calçada, fui até umlocal...é...hipoteticamente, se eu voltasse poderia me levar a calçadaprincipal.”

Esse ponto do percurso foi um dos que J.C. encontrou maior dificuldadeem se orientar. Havia momentos em que se encontrava completamenteperdido e sem referenciais.

A descontinuidade da calçada com seus recortes (Ver Fig. 37), tornado-aora mais larga, ora mais estreita faz com que J.C. crie uma imagemmental equivocada do seu percurso caracterizando-o como sinuoso apesarde ser retilíneo, “A impressão que dá é porque ela é meio sinuosa.(...) Vêque esses espaços amplos, acabam dificultando um pouco. Quando tu nãotem referencial pra ti tomar uma decisão num determinado local...olhaisso aqui...se vem rápido... eu to batendo aqui ó (Ver Fig. 38)” - sereferindo aos inúmeros pilares que ficam no decorrer do seu trajeto.

J.C. identifica o percurso para o CENER através da mudança do som,

Fig. 37 - Os recortes no piso dãoa impressão que o caminho ésinuoso. Fonte: Autores.

Fig. 38 - J.C. tem dificuldade decompreensão pela complexidadedo local. Fonte: Autores.

44Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

amplificado pela cobertura. Essa tomada de decisão, porém, não teriasido feita caso o usuário não tivesse experiência prévia do trajeto.Eu sei que ele fica a minha direita, então eu vou tentar buscar umreferencial aqui. Vozes por perto...lixeiro..então vou tentar buscar aentrada do centro...ó.. achei a porta.

Nesse momento J.C. acha a porta de entrada do CENER (Ver Fig. 39). Emseguida busca referenciais para achar o seu trajeto de volta, mas perdido(Ver Fig. 40), J.C. passou direto da entrada que o tinha levado em direçãoao CENER. Guiado pelas vozes, já se encontrava próximo à entrada doCENET II.

O entrevistador dá pistas sobre o espaço onde J.C. se encontra. “Sim.Vocêtem um espaço aberto aqui que tem horas que chega a irritar neh. Vocênão tem um ponto certo pra caminhar com segurança”.

Nesse ponto J.C. não se encontra sobre uma circulação, mas sobre umpátio amplo, desprovido de quaisquer referenciais que o indiquem ocaminho a seguir. “Agora deixa eu me achar. Tem cheiro decomida...cheiro de pão...aqui é o CENAP? Não!...tem criança aqui!”

Novamente J.C. associa a função do lugar pelos elementos que este oferecepara sua orientação: o barulho. Um visitante jamais poderia se orientarpor tais referenciais uma vez que desconhecem totalmente o espaço.“Não tem como saber! Isso aqui é pra matar. Deixa eu achar a calçadaaqui. Vamos embora. Caramba, o que é isso?”

J.C. se encontra novamente perdido sem nenhum referencial (Ver Fig.41).

Os entrevistadores auxiliam J.C. porque este se encontra perdido e começaa ficar tenso com a situação.

J.C. retoma o caminho anterior fazendo um giro de 180° tentado situar-se no seu mapa mental para dar continuidade a percurso. “É

Fig. 39 - Entrada do CENER.Fonte: Autores.

Fig. 40 - Espaço sem referenciaisem frente ao CENER. Fonte:Autores.

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mais ou menos intuitivo né?. É um espaço livre onde param os carrosaqui... aqui: já encontrei o relógio ponto. Ali na frente o banheiro...aqui tem um carro bem aqui né?”

O estacionamento se encontra no mesmo nível da calçada que está apenasdemarcada por tinta. A parede que atuaria como elemento imprescindívelà orientação é bloqueada pelos carros fazendo com que o usuário tenhaque adotar a área central do estacionamento para o seu deslocamento(Ver Fig. 42). Os carros próximos à parede eliminam a área que seriauma aprovável circulação. A colisão do D.V. com um veículo estacionado éinevitável (Ver Fig. 43). Após estes percalços ele finalmente encontra oseu objetivo, ou seja, o refeitório. “É aqui né?... chegando aqui, agente busca a rampa (que dá acesso à porta de trás do refeitório). É ocaminho secundário é bem mais difícil. Deu pra perceber o grau dedificuldade!”

3.2.2.4 Passeio Acompanhado José Carlos Com Auxílio do Cão Guia (Ben)

Antes de tudo, é importante colocar que a pessoa com deficiência visualprecisa conhecer o espaço pelo qual percorre tanto com a bengala quantocom o cão guia. Ela depende dos referenciais. “O importante é mostrarpra vocês o seguinte: aqui não é o fato de ir encontrar ou não. É que eunão tenho um ponto de referencia mesmo com o cão pra que eu possachegar num local e fazer com que ele tome uma decisão adequada.”,coloca o funcionário com deficiência visual. O cão apenas a ajuda aencontrar os obstáculos com maior rapidez. No caso, J.C. deslocou-secom facilidade justamente por conhecer os espaços da FCEE.

O cão foi treinado em língua estrangeira (inglês); isso exige que o cegosaiba alguns comandos básicos para orientar o cão durante o seudeslocamento. “Com o cão é tudo mais tranqüilo; inclusive você tem queandar mais rápido, neh. Aqui ele já conhece o caminho”, comenta J.C.

Fig. 42 - Estacionamento.Fonte: Autores.

Fig. 41 - Estacionamento emfrente ao CENER.

Fonte: Autores.

Fig. 43 - Colisão com ônibus.Fonte: Autores.

46Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Apesar de existirem desníveis ao longo do trajeto, o cão facilita odeslocamento uma vez que J.C. não precisa realizar o rastreamento coma bengala. Ele sente os movimentos do cão pela alça e pelo próprio caminhar.

“... encontre o caminho, encontre o caminho.” ordena J.C. ao cão.Nesse instante, ele encontra a porta do posto onde trabalha guiado pelocão guia. Faz esse trajeto sem muitas dificuldades e num intervalo detempo muito menor que o passeio acompanhado com o auxílio da bengala.

J.C. encontra a porta do CENET II sem muitas dificuldades. Isso por quejá tem experiência no percurso e sabe onde tomar as decisões e ordenarao cão para que prossiga, mas sempre é necessário o espaço oferecerreferências.

O cão zela pela segurança e conforto do deficiente visual mantendo-o nomeio dos passeios e evitando passar por caminhos estreitos (Ver Fig. 44):“Você vê a facilidade que é com o cão guia lá naquelas rampas, ele jávai evitando todas as rampas. Vai tranqüilo, né?”. J.C. ressalta que pormuitas vezes Bem desvia até dos obstáculos aéreos, um dos grandes perigosdurante o deslocamento dos cegos.

Entretanto, segundo o funcionário, o cão-guia pode se desorientar, sedistrair: “se ele está se distraindo, se é teimosia dele (Ver Fig.45 e 46).Tem essas coisas também. Tem que ficar atento. Como eu convivo muitotempo com o cão, consigo fazer todas essas leituras”.

O passeio acompanhado com o cão guia é efetivado de forma mais rápidae mais segura. J.C. não encontra maiores dificuldades no trajeto e encontraseus objetivos com muita eficiência.

Fig. 44 - Caminhos estreitos.Fonte: Autores.

Fig. 46 - Ben passando pelarampa. Fonte: Autores.

Fig. 45 - J.C. deslocando-se comfacilidade e rapidez com Ben.Fonte: Autores.

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3.2.3 PasseioAcompanhado com Pessoas

com Deficiência Motora

As pessoas com deficiência motora enfrentam muitas dificuldades nodeslocamento, principalmente pela falta de espaços planejados para o seuacesso, assim como o mau estado de conservação dos passeios, ou o usoindevido de certo materiais na pavimentação. Fizemos dois passeiosacompanhados com pessoas com deficiência motora. O primeiro passeiofoi com M., 26 anos. O cadeirante foi atingido por um disparo acidentalde arma de fogo, sofrendo a perda dos movimentos nos membros inferioresporque o projétil atingiu sua medula. O segundo passeio foi realizado como menino D., de sete anos de idade e com sua mãe M. D. sofreu paralisiacerebral ao nascer e tem bastante dificuldade para caminhar devido aproblemas relacionados à sua coordenação motora. Por estar fazendotratamento na FCEE desde os dois anos de idade, D. consegue se deslocar,mas apresenta cansaço, necessitando o auxílio de cadeira de rodas.

3.2.3.1 Passeio Acompanhado com Cadeirante

M. desconhecia o campus da FCEE. No entanto, seu passeio acompanhadofocava mais as condições de deslocamento, por isso, não havia tantaspreocupações relacionadas com a orientabilidade. O cadeirante demonstramuita vitalidade e preparo físico, pois é jogador de basquete. Certamenteé um caso excepcional, pois a grande parcela dos cadeirantes não dispõede tais predicados. Desta forma, M. superou os diversos obstáculosencontrados em seu deslocamento se valendo de habilidades especiais,força física e experiência com a cadeira de rodas. Os propósitos lançadosa M. eram encontrar o CENER, o refeitório e o auditório.

O passeio iniciou no ponto de ônibus defronte a FCEE. A qualidade dopasseio público neste local é ruim, a sua largura é insuficiente, existemburacos e o piso é irregular. A situação é agravada pela inexistência derampa em ambos os lados da rua, assim, M. é obrigado a empinar acadeira de rodas ao descer o meio fio e também ao subir ele no outrolado da via (Ver Fig. 47). O passeio público em frente a FCEE é estreito, oentrevistado passa rente a um poste para chegar a portaria. Neste ponto,o passeio acaba e M. pratica uma manobra que requer esforço físico ehabilidades. Além do esforço adicional, ele tomou cuidados com os veículos,que concorrem com o pedestre na entrada principal da FCEE (Ver Fig.48).

Fig. 47 - Meio-fio sem rampa.Fonte: Autores.

Fig. 48 - Meio-fio sem rampa,novamente na entrada da FCEE.

Fonte: Autores.

48Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 49 - Rampa em péssimoestado de conservação.Fonte: Autores.

Fig. 51 - Passeio estreito. Fonte: Autores.

Fig. 50 - M. recorre à informaçãoverbal para se orientar. Fonte: Autores.

Passada estas situações, M. toma o caminho principal e comenta a respeitodas rampas ali existentes. “É, tem alguns probleminhas aqui. Esses ‘dentes’criados pela falta de acabamento dificultam a subida da rodinha, aítenho que empinar. Também na descida, empino para não virar a cadeira,porque a rodinha trava em qualquer obstáculo” (Ver Fig. 49).

M. não encontra informações de onde se localiza o CENER e decide pedirinformações a funcionários da Instituição. Então ele entra no CENAI /CEADS e solicita auxílio. A funcionária não consegue verbalizar referênciaspara auxiliar M. e decide apontar a localização do centro solicitado (VerFig. 50). Para chegar ao CENER, se defronta com passagens por portõese caminhos estreitos que não comportam um cadeirante e um pedestre.Se o portão estivesse fechado, M. não teria condições de deslocamento;“aí eu teria que me aproximar muito dele pra abrir, este é de empurrar,fica difícil empurrar o portão se for pesado e a cadeira ao mesmo tempo,eu deveria pedir ajuda então. Esses passeios são estreitos, se tivessemais alguém passando complicaria, principalmente cadeirante” (Ver Fig.51).

M. chega até o CENER. Então pergunta onde fica o refeitório para osentrevistadores. De posse das informações, transita do CENER ao caminhoprincipal passando novamente por passeios estreitos e com pavimentaçãoinadequada, a cadeira trepida muito e M. novamente empina a cadeirapara garantir a continuidade de seu deslocamento: “Nossa Senhora! Senão for assim não dá, é muito desconfortável, esse piso é para rua eaqui tá na calçada e ainda muito irregular... (Ver Fig. 52)”

M. avista o refeitório, decide testar o acesso secundário, pouco utilizadona FCEE. O cadeirante comenta sobre a situação da rampa durante suaentrada e saída no recinto: “aqui tenho que sair do passeio e pegar a ruapara entrar. Nossa Senhora! Para entrar até que é acessível”. Por terforça nos membros superiores, M. consegue vencer o desnível, mascomenta dos perigos de cair: “se descer com a rodinha ela pode travar evirar a cadeira, então empino. Essa rampa é bem íngreme e não temacabamento lateral”. Agora, M. entra no refeitório pela entrada maisutilizada pelos estudantes e funcionários da FCEE. Ele comenta sobre a

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Fig. 52 - Piso irregularFonte: Autores.

inclinação da rampa, a largura da passagem e o acabamento: “Ela éíngreme. Nossa Senhora! Acaba sendo melhor que a anterior porque temesse acabamento do lado e acaba na calçada, a outra acabava na rua. Orisco de trancar a rodinha aqui é menor. Mas a passagem é estreita, sevocê não entrar direto tem a chance de voltar e pode até cair” (Ver Fig.53).

M., após atingir o segundo objetivo, vai em direção ao caminho principal.Novamente é obrigado a passar por um caminho muito estreito que malcomporta a cadeira de rodas: “aqui tem que cuidar para a mão nãoraspar na parede” (Ver Fig. 54).

Ao cruzar pela entrada de veículos entre a lavanderia e o CENEP, elecomenta a falta de passeio: “aqui tem um espaço muito grande semcalçada. Para o cadeirante e o DV é complicado. (...) é aqui tem queempinar a cadeira para poder andar, senão não dá! Mas a minoria daspessoas consegue fazer isso. Tem que ter habilidade” (fig.9). Após passadaesta situação M. testa a rampa de acesso ao CENAP, a qual não esta deacordo com as normas: “essa aqui é mais suave, mas mesmo assim temque fazer uma forcinha” (Ver Fig. 55).

O terceiro objetivo de M. é localizar e acessar o auditório. Ele percebe aedificação de tal uso e tenta ingressar nela. Ele se depara no acessoprincipal com uma escadaria, que impede seu acesso. O auditório daFCEE possui uma entrada para cadeirantes próxima ao palco. Esta foiuma adaptação posterior e se configura como excludente, pois segrega ocadeirante dos demais usuários (Ver Fig. 56).

M. agora decide usar o bebedouro do GECAP, e o faz sem problemas.Também simula o uso do telefone público com sucesso, pois este está emaltura correta.

Após a concretizar seus objetivos, M. retorna a entrada principal, ondedeixou seu veículo adaptado. M. desmonta rapidamente sua cadeira derodas e comenta sobre este processo. Diz que a rua sendo tranqüila, ouvaga especial para o cadeirante pode desmontar a cadeira sem maiorescomplicações. Entretanto, se a rua for movimentada: “aí é mais

Fig. 53 - Porta estreita dorefeitório.

Fonte: Autores.

Fig. 54 - Junto ao refeitório:passeio subdimensionado.

Fonte: Autores.

50Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 55 - Rampa íngreme doCENAP.Fonte: Autores.

Fig. 56 - Acesso principal aoauditório possui escadas. Fonte: Autores.

complicado. A vaga tem que ser perpendicular à via se for paralela temque ter um espaço a mais para poder montar a cadeira. Aquelas vagasvoltadas para o cadeirante e com rebaixamento de meio-fio para facilitara subida ou descida”.

Depois, em conversa informal, M. comenta sobre seus maiores problemas:“os principais problemas enfrentados são as portas de banheiro, que sãoestreitas, se tiver uma rampa, independente da inclinação, já é positivo.Alguém pode te empurrar. Mas a falta delas é que não pode acontecer.Até um degrau já complica”. M. ainda comenta que as pessoas são bastanteatenciosas e sempre oferecem ajuda aos cadeirantes. E ressalta suasdificuldades em dia de chuva: “se eu tiver a opção de ficar em casa émelhor. Desde montar, até andar com a cadeira... só se for obrigado,senão não vou”. Os espaços freqüentados por M. ainda apresentam muitasbarreiras, mas ele não se queixa: “em geral sim, (os espaços apresentambarreiras), mas está melhorando. Posso ir ao cinema, em casas noturnas,etc.”.

O percurso de M. pelo campus da FCEE está indicado na Fig. 57.

Fig. 57 - Percurso de M. Sem escala. Fonte: Autores.

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3.2.3.2 Passeio Acompanhado com criança com P.C. e sua mãe

O passeio acompanhado de D. com sua mãe N. iniciou no CENER, localonde o menino de sete anos recebe atendimento de fisioterapia,fonoaudiologia, terapia ocupacional e piscina. D. pela manhã tem aulasno Colégio Interativo aonde chega de ônibus. A senhora N. traz o meninoandando do referido colégio até a FCEE. O percurso testado na pesquisa éo mesmo que os entrevistados fazem diariamente, porém, nestaoportunidade D. se deslocará sobre cadeiras de rodas para evitar suafadiga. Eventualmente a senhora N. transporta seu filho no colo, pois elese queixa de dores nas pernas. Após cinco anos de fisioterapia ele adquiriuautonomia e passou a andar ao lado de sua mãe.

A partir do CENER, o menino seguiu pelo caminho interno (Ver Fig. 58)devido às “facilidades” em comparação ao caminho externo segundo N:“Por que aqui eu chego mais rápido, não tem sol, lá é mais longe (serefere ao caminho principal)”.

Ela também comenta sobre as dificuldades em andar por passeios íngremes:“na ladeira do colégio, que é forte, tem que andar devagar porque eleescorrega, então o carrego no colo (...) é dificulta. Estou pensandoaqui por dentro porque em dias de chuva é melhor. (passar por debaixodos beirais). Lá por fora nos molhamos muito”.

Após o término do caminho interno, seguiu pelo caminho principal até aportaria onde comentou sobre o sub-dimensionamento do passeio e doabrigo para ônibus: “é, ali é ruim. Até com ele no colo, porque o pessoalse concentra ali e também não tem calçada larga”. (Ver Fig. 59)

A senhora diz não ter dificuldades em se orientar e localizar na FCEEdevido a experiência, porém critica a falta de cadeiras de roda na portaria:“não, é difícil ter (cadeira de rodas). O caminho é longo e ele cansa acada pouco, aí carrego no colo”. E a qualidade do piso: “com a cadeira écomplicado e a pé ele tropeça muito”.

Após chegar a portaria (Ver Fig. 60), a senhora N. tomou a esquerda, deonde vem diariamente. Após esta ação, N. não está mais no campus da

Fig. 58 - Caminho Interno.Fonte: Autores.

Fig. 59 - Passeio da via públicamuito estreito.Fonte: Autores.

Fig. 60 - Portaria da FCEEFonte: Autores.

52Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

FCEE. As situações encontradas referentes ao deslocamento se agravam,pois não existem passeios nivelados e os pedestres concorrem com osveículos.

A mãe ainda comenta ainda que o passeio externo, em más condições, écortado pelo fluxo de veículos: “é bem perigoso, outro dia uma motoquase nos atropelou”. (Ver Fig. 61)

Na seqüência, N e seu filho retornam a Instituição pelo caminho principalobjetivando chegar ao CENER. Nas proximidades da biblioteca N. comentasobre a situação dos pisos: “É horrível aqui indo pro CENER! Vou pelomeio aqui porque tem os ônibus da FCEE estacionados”. (Ver Fig. 62).

O percurso de D. com sua mãe está ilustrado na Fig. 63.

Fig. 61 - Mau estado deconservação da via pública.Fonte: Autores.

Fig. 62 - Piso irregular trepida acadeira. Fonte: Autores.

Fig. 63 - Percurso de D. Sem escala. Fonte: Autores.

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4PROBLEMAS

54Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

4.1 Problemasdeorientabilidade

Fig. 64 - Falta de conexãointerior X exterior. Fonte: Autores.

A avaliação de um espaço tão complexo quanto uma instituição pública,construída sem planejamento, e que abriga funções diversas, reunindouma variedade de pessoas, requer uma aproximação de seus usuárioscotidianos. Através da observação, das entrevistas e dos passeiosacompanhados foram sintetizados e mapeados os principais problemasreferentes à acessibilidade espacial, para que assim fosse possível proporsoluções de projeto. Seguem os principais problemas encontrados,organizados segundo as componentes da acessibilidade espacial.

Orientar-se no campus da FCEE exige do usuário muito esforço. Os blocosedificados não são alinhados e não tiveram um projeto geral de implantação,sendo muitos inseridos posteriormente com critérios diversos. Além disso,o projeto executado na década de 70 não considerava a filosofia dodesenho universal, pois esta área da Ergonomia não era conhecida.

A má implantação dos blocos resultou em conformação de caminhosestreitos, labirínticos e conseqüentemente na desconexão entre os doiscaminhos mais utilizados na FCEE. Verifica-se a impossibilidade derelacionar a frente da edificação, acessada pelo caminho principal (externo)e o fundo da mesma, acessada pelo caminho secundário (interno), não háevidencias que seja a mesma construção. Também não ocorre orelacionamento entre espaços internos (arquitetônicos) e espaços externos(paisagísticos) pela falta de permeabilidade visual e ou física entre ambos.Deste modo os espaços externos deixam de atuar como referencias (VerFig. 64.)

A leitura do espaço é dificultada principalmente por que as edificaçõesapresentam apenas uma tipologia (mesma linguagem arquitetônica). Estaé representada por edificações em sua maioria térreas, com telhado emfibrocimento, vedação em blocos cerâmicos à vista, ainda, as aberturassão janelas basculantes do tipo maxiar. Também não ocorre diferenciaçãocromática entre as edificações que são de usos diversos. A forma volumétricatambém é semelhante para todo o complexo de edifícios (Ver Fig. 65, 66e 67). As edificações que deveriam se sobressair são o auditório e oginásio, por suas dimensões e gabaritos avantajados. Porém isto não severifica, elas passam desapercebidas em meio a um conjunto tão

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Fig. 65 - Administração Fonte: Autores.

Fig. 66 - CEADS Fonte: Autores.

Fig. 67 - CENER Fonte: Autores.

homogêneo. Tais aspectos eliminam grandes possibilidades de referenciaisarquitetônicos no local haja vista a carência de edificações contrastantes.Desta maneira, os elementos que atuam como referencias não verdadeiros:são os mastros com as bandeiras coloridas defronte o auditório, a coberturaem policarbonato de cor verde que protege os usuários do CENAI/CEADS euma rampa com revestimento de piso preto em frente ao CENAP.

Sobre a informação adicional, a denominação dos diversos setores porsiglas também dificulta a orientação dos usuários (Ver Fig.68). Estesgeralmente conhecem os centros pelas funções que exercem e não peladenominação utilizada nas placas informativas que são de difícil leitura ecompreensão devido a abreviaturas complexas, nomes extensos e de fontescom caixa muito baixa (Ver Fig.69 e 70). Elas por sua vez não apresentamuma boa “gestalt”, deixando de se destacarem no espaço, passando muitasvezes desapercebidas. As placas não estão inseridas corretamente nospontos de tomada de decisão e muitas ficam escusas detrás de veículosestacionados (Fig.71). Também existe muita distância entre elas e oreferido centro que querem informar. A informação do centro inexiste oué muito discreta, não é perceptível à distância. O estado atual preconizaapenas uma linguagem, a alfabética, não há qualquer tipo de informaçãosonora, pictórica, luminosa e a tátil fica restrita ao início da FCEE.Evidencia-se o descompromisso com os inúmeros usuários com diversosgraus de comprometimentos que freqüentam a instituição, muitos delesanalfabetos.

Todo o sistema de informação prioriza o fluxo que entra pelo acessoprincipal em detrimento ao acesso secundário utilizado por usuáriosimediatos a FCEE. As placas estão orientadas somente para estes usuários(Ver Fig. 72), assim como o piso guia e piso alerta implantados, comodito anteriormente, do acesso principal até o auditório. Após este, aalternativa para os deficientes visuais é utilizar o meio fio como referência.Porém, em alguns locais o passeio é interrompido pelo cruzamento comfluxo de veículos. Conseqüentemente a referência (meio fio) se perde,conformando espaços abertos extremamente inseguros para o acesso deD.V.s. que se dirigem a biblioteca ou refeitório.

A má conformação do arranjo arquitetônico, aliado ao sistema de

56Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 68 - Sinalização predominantena FCEE Fonte: Autores.

Fig. 69 - Sinalização CENER. Fonte: Autores.

Fig. 70 - Sinalização banheiro. Fonte: Autores.

Fig. 71 - Sinalização escondida. Fonte: Autores.

informação adicional deficitário, resulta em dificuldades de orientação. Oindivíduo perde a autonomia, sente o desconforto pela sensação de estarperdido, pode ficar tenso e inseguro principalmente se for deficientevisual.

O sintoma da ineficiência dos sistemas de informação adicionaldiagnosticado na FCEE é a recorrência usual a informação verbal,principalmente aos funcionários presentes na guarita, protocolo e GECAP.Portanto, problemas com a orientação se traduzem em demandas porinformação e comunicação.

Fig. 72 - Sinalização voltada paraapenas um lado. Fonte: Autores.

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4.2 Problemasde

deslocamento

Os problemas com deslocamento iniciam nos pontos de ônibus, o passeioé estreito, irregular, com desníveis e presença de obstáculos como postese placas (Ver Fig. 73). Também inexistem rampas que conduzam até afaixa de segurança e esta está posicionada de forma errônea na via, poisnão conduz o fluxo de pedestres diretamente à entrada da FCEE, obrigaprincipalmente o D.V. a fazer um percurso em diagonal sem ter referênciaalguma.

Na entrada principal ocorre o cruzamento de fluxo de veículos e pedestres.Estes compartilham a mesma passagem. O estreito passeio público findae o usuário é obrigado a andar pelo leito da via. Portanto, o caminhoprincipal da FCEE não esta articulado com o passeio público, não existecontinuidade. A situação é mais grave no acesso dos fundos, neste somenteencontra-se a via para veículos, assim os pedestres são obrigados a sedeslocar por ela para atingirem o interior da instituição.

A falta de continuidade dos passeios internos é um dos problemas maisgraves, eles deveriam formar uma rede articulando, principalmente, ocaminho externo (principal) e o caminho interno (menos utilizado). Emmuitos locais, o passeio é interrompido pelo cruzamento de fluxo deveículos, como por exemplo, em frente ao auditório e próximo à biblioteca.Esta situação expõe principalmente os D.V.s a situações delicadas eperigosas no seu deslocamento.

Os caminhos na maior parte são estreitos, com pavimentação inadequadaou danificada gerando o acúmulo de água em dias chuvosos. Em algunscasos o mobiliário esta mal implantado diante desses (Ver Fig. 74).

O caminho interno não é dotado de pisos podotatéis e possui barreirasfísicas como portões e grades que põem em risco a integridadeprincipalmente dos D.Vs.

A localização da rampa de acesso ao bloco administrativo é incorreta poissitua-se no meio de um canteiro. Sua inclinação é muito íngreme e omaterial não é anti-derrapante. Ainda neste setor, encontram-se degrausirregulares, onde não estão diferenciados os desníveis, nem tátil, nemvisua

Fig. 73 - Passeio da via públicasubdimensionado.

Fonte: Autores.

Fig. 74 - Passeio ao lado dorefeitório também com tamanho

inadequado. Fonte: Autores.

58Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Os problemas com as rampas se relacionam com a inclinação exagerada,largura inadequada, material não aderente, inexistência de acabamentolateral, falta de marcação de início e fim das mesmas, presença de desníveisconformando “dentes” no início delas, dentre outros (Ver Fig. 75 e 76). ORefeitório é uns dos locais que necessita melhoria nas condições deacessibilidade de forma urgente, pois a rampa com inclinação elevada,largura reduzida e a porta estreita leva aos professores a auxiliarem seusalunos no deslocamento e acesso à edificação. Eles não fazem uso doacesso secundário, o qual se apresenta condições mais favoráveis de entradae saída.

A Biblioteca sofre pela carência de passeios ao seu redor, não hácontinuidade e interligação com os outros caminhos, a rampa não estaconforme a norma, e conduz o fluxo de pedestres para o estacionamento(conflito de fluxos - Ver Fig. 77).

No CENET II inexiste ligação física por caminhos entre a edificação e oscanteiros criados com fins pedagógicos.

No auditório, o acesso principal é por escadas (barreira física). O acessolateral é descoberto e não há sinalização de vaga exclusiva para deficientes,que é ocupada para outros fins. A rampa interna adaptada ao auditóriopossui inclinação inadequada, demandando demasiado esforço docadeirante. O acesso aos BWCs do auditório é somente por escadas.

Ainda, relacionado com o deslocamento é a inacessibilidade à lavanderia,a qual tem função pedagógica e deve possibilitar o acesso a todos. Paraagravar a situação o muro camufla a entrada e a pracinha com piso debrita dificulta o ir e vir.Na Culinária / Horta existem desníveis e barreiras que não permitem oacesso de cadeirantes e também a altura dos canteiros não permite queeles manipulem a terra ou as plantas. O piso irregular e sua falta dequalidade também dificulta o acesso e uso.

Todos os desníveis deveriam ser marcados por diferença cromática como,por exemplo, os desníveis entre o leito das vias e o do passeio.

Fig. 75 - Piso e rampasinadequados. Fonte: Autores.

Fig. 76 - Rampa mal acabadainviabiliza deslocamento docadeirante. Fonte: Autores.

Fig. 77 - Biblioteca. Fonte: Autores.

59

A implantação das edificações somadas ao formato do terreno resulta empercursos extensos, sem pontos de descanso a distâncias confortáveis(Ver Fig. 78).

A abertura das janelas basculantes maxiar põe em risco a integridadefísica de todos, mais uma vez, principalmente dos D.V.s, pois a bengalaou o cão guia não detectam obstáculos aéreos (Ver Fig. 79).

Também se constatou bueiros sem grade de fechamento, canalização deágua superficial, desníveis e descontinuidade de piso, acúmulo de águanos passeios, vegetação fechada, má implantação de mobiliário dentreoutros, constituindo-se barreiras físicas para o bom deslocamento (VerFig. 80).

Fig. 78 - Ausência de locais dedescanso.

Fonte: Autores.

Fig. 79 - Janela maxiar. Fonte: Autores.

Fig. 80 - Boeiro. Fonte: Autores.

60Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 81- TDD, próximo aoalojamento. Fonte: Autores.

Conforme foi constatado, os locais de maior demanda de informaçõessão na portaria principal, no GECAP e no protocolo. Uma vez que o sistemade informação adicional não é suficiente para promover o acesso a umdeterminado lugar faz-se necessário recorrer à informação verbal.

São solicitadas informações na portaria porque é a primeira oportunidadede contato entre o visitante e a FCEE. No protocolo é devido àpermeabilidade visual entre exterior e interior e pela presença constantede funcionários. No GECAP a solicitação de informação ocorre porque é olocal onde visitantes do interior do estado de Santa Catarina desembarcam,quando chegam através de ônibus e vans.

Exige-se pessoal qualificado nestes locais, que dominem além da linguagemverbal a língua dos sinais (LIBRAS). Também é necessário que eles saibamalguns dos referenciais que os deficientes visuais utilizam para se deslocar.Assim podem informar estes quando fizerem o uso da instituição e nãopossuírem conhecimento prévio. Pode-se até sugerir a criação de centraisde informações nestes locais com a presença constante de funcionáriostreinados.

Fato muito positivo na Instituição é a presença de um TDD(Telecommunications Device for the Deaf - Ver Fig. 81). Este é um aparelhode comunicação telefônico-digital semelhante a uma máquina de escrever,através do qual as pessoas surdas ou com dificuldades de dicção podemcomunicar-se com outras pessoas escrevendo suas mensagens em umteclado e lendo na tela as mensagens que lhe são enviadas.

Um TDD pode comunicar-se com outro TDD diretamente ou pode-se utilizaro Serviço de Intermediação Surdo-Ouvinte para realizar a conversação. OTDD, fornece a possibilidade de comunicação através de um aparelho queé composto de um teclado acoplado a um visor de cristal líquido, onde ousuário pode ler a mensagem que está sendo recebida. Estes telefonesrealizam ligações para outro TDD ou de TDD para telefone convencional evice - versa, via mediação por uma central telefônica. Ele funciona comum cartão telefônico comum e possui teclado alfa-numérico.

4.3 Problemasde comunicação

61

Atualmente as pessoas surdas podem contar com muitos aparelhos quefacilitam suas vidas. Hoje temos: despertadores e relógios com alarmesvibratórios, campainhas que quando acionadas piscam luzes por todoambiente, babá eletrônica que converte o choro do bebê em sinaisluminosos, alerta luminosos para telefone, que pisca logo que otelefone toca, telefones celulares que enviam mensagens de texto.

Os problemas levantados na categoria de usos se relaciona à apropriaçãodos espaços, sub-dimensionamento de elementos, cruzamento de fluxos,zoneamento dentre outros.

O complexo da FCEE dispõe de grandes áreas verdes, mas a maioria delasserve apenas para contemplação (Ver Fig. 82), tornando-se ociosas comoa praça defronte ao CENER e a da lavanderia (Ver Fig. 83 e 84). Entretanto,muitos de seus usuários, dentre eles pessoas com diferentes deficiênciasnão se apropriam desses espaços para estar e lazer de forma digna.Sugere-se a adequação desses pontos para que possam ser apropriados eutilizados por seus usuários. São exemplos desses espaços as adjacênciasdo CENET II, a área entre o CENAP e o CENAI / CEADS.

As edificações não conformam espaços e não condicionam usos externosa elas devido à falta de integração física e visual entre exterior e interior.A transição entre essas esferas é brusca (Ver Fig. 85 e 86).

4.4 Problemasde uso

Fig. 82 - Espaço ocioso. Fonte: Autores.

Fig. 83 - Praça CENER. Fonte: Autores.A grande área disponível nos fundos da FCEE (próxima ao CEMI) possuí

grandes potencialidades, porém é sub-utilizada (Fig. 87).

Os estacionamentos se encontram dispersos entre os vários setores (fig.17),resultando em vias secundárias que penetram em espaços frágeis, comoé o caso da horta.

A horta é usada para fins didáticos e pedagógicos, mas não garante aacessibilidade a todos os usuários, assim os canteiros não podem sermanipulados por cadeirantes principalmente.

62Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Fig. 84 - Praça em frente àlavanderia. Fonte: Autores.

Fig. 85 - CENET I. Fonte: Autores.

Fig. 86 - Pátio interno CENAP. Fonte: Autores.

Fig. 87 - Pista de atletismo. Fonte: Autores.

Sobre os estacionamentos, a agravante é a localização deles, pois, seencontram entre as edificações e cortam os passeios de pedestres gerandoconflito de fluxos e suas conseqüências. As vagas de estacionamento paradeficientes devem ser marcadas no solo e indicadas por placas conformea NBR 9050.

O ponto de ônibus situado defronte a FCEE é sub-dimensionado nãoabrigando o público adequadamente em dias chuvosos. O passeio estreitoagrava ainda mais a situação. Do outro lado da via, o ponto de ônibus éapenas marcado por uma placa e não possuí abrigo para passageiros.

A cobertura utilizada pelos centros CENAP, CENET, e CENER para transbordode alunos também é sub-dimensionada não atendendo a demanda ecumprindo sua função de amparo e proteção. O ponto de transbordositua-se longe dos centros.

O canal sobre o córrego drenado apresenta obstáculos para o deslocamentoimpedindo desta forma que seja utilizado como caminho e que o espaçoao seu redor seja apropriado, tornando-se apenas com função decontemplação.

Constata-se a presença de espaços residuais e segregados entre asedificações. A presença de grades ou obstáculos impedem que as áreasabertas sejam utilizadas. A inutilização destes locais também é devido àcarência de mobiliário e tratamento adequado. Muitas vezes a vegetaçãoatua como barreira impedindo o fluxo humano para os espaços livres.

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5DIRETRIZES DE PROJETO

64Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Os resultados do levantamento espacial e dos passeios foram sintetizadosatravés da elaboração de mapas temáticos. Estes mapas permitiram:integrar os vários níveis de conhecimento dos problemas estudados; e seuconseqüente aprofundamento. A partir deste instrumento de análise foramdesenvolvidas as diretrizes espaciais de projeto para apoiar soluções futuras.Estes parâmetros espaciais seguem a classificação dos problemas jáformulados os quais apresentamos a seguir:

Criar hierarquia para os caminhos de forma clara e simples, demarcandoos dois caminhos principais através de sua linearidade, homogeneidade econtinuidade;

Ligar os dois caminhos principais, o interno e o externo por caminhossecundários lineares e com alcance visual;

Criar áreas de estar (praças) em locais de tomada de decisão de formaque interliguem o caminho externo e o interno gerando referenciaisverdadeiros. Dotar o caminho principal de referenciais sensitivos (que sãopercebidos por vários sentidos como a visão e o olfato) com arbustos queapresentem floração;

5.1 Diretrizesdeorientabilidade

Fig. 88 - O mapa explicita a estruturação dos caminhos e a marcação do percurso comreferenciais como as praças. Sem escala. Fonte: Autores

Criar locais de estar, descanso e de lazer ao longo do caminho principalvisando atenuar sua distância excessiva e criar referenciais paraorientação (Ver Fig. 88 e 89);

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Utilizar referenciais sonoros nas praças criadas como, por exemplo, osom proveniente do movimento da água para auxiliar os D.Vs quantoa sua localização;

Integrar visualmente os espaços internos com os espaços externos queo cercam, através de aberturas ao nível dos olhos;

Inserir informações adicionais em Braille, mapas táteis, pictogramascom contraste de cor entre fundo e figura, fonte legível parainformações escritas; implantação de totens informativos nos pontosde tomada de decisão (Ver Fig. 90);

Fig. 90 - Proposta de Placa de Informação com informações gráficas, pictóricas e emBraille Fonte: Autores

Fig. 89 - Fonte de água servindocomo referencial sonoro. Fonte:Autores

66Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Dividir o campus em setores que reúnam centros de atividades semelhantese identifica-los por cores distintas (Ver Fig. 91);

Pintar as esquadrias de cada setor com sua respectiva cor;

Dotar os principais centros com um painel que contenha a cor do setor emque está inserido e seu nome de forma legível (Ver Fig. 92);

Deixar claras as entradas de cada edificação, através de um posicionamentoclaro dos caminhos, ou através de sinalizações;

Os passeios devem possuir pisos táteis (guia, atenção e alerta) auxiliandona orientação de pessoas com deficiência visual sempre mantendo percursoscontínuos (Ver Fig. 92).

Fig. 91 - Mapa de Setorização.Fonte: Autores

Fig. 92 - Tóten de Identificação dosSetores. Fonte: Autores

Priorizar o fluxo de pedestres criando condições para sua autonomia,independência e segurança separando-o do fluxo de automóveis econsiderando as dificuldades de pessoas com restrições motoras e visuais;

Prover de passeios para pedestre à entrada principal garantindo segurançano acesso e continuidade de desenho entre os mesmos e os passeios daárea pública desde os pontos de ônibus (Ver Fig. 93);

Os passeios devem ter largura mínima de 1,80m para livre-circulação, ouseja, não deve haver obstáculos edificados, verticais e horizontais. Alémdisso, devem possuir pisos regulares antiderrapantes e com desnível mínimo

SETOR 1 SETOR 2 SETOR 3

SETOR 4 SETOR 5 SETOR 6

5.2 Diretrizesdedeslocamento

67

de 2% no sentido transversal;

Os desníveis entre os passeios e a via de automóveis devempossuir altura máxima de 18 cm estando marcada por meio-fio pintado em cor contrastante;

Os passeios devem possuir rampas em todas as mudanças denível com largura mínima de 1,50m e inclinação de 6,25 %com bordas laterais (vide NBR9050/04) permitindo a passagemsimultânea de um cadeirante e um pedestre (Ver Fig. 94);

Os locais de estar, descanso e de lazer ao longo do caminhoprincipal devem estar recuados para não interferir na faixade livre-circulação (Ver Fig. 95);

Criar passeios interligados a rede principal de passeiospossibilitando o acesso às entradas principais e secundarias atodas as edificações promovendo maior integração entre ocaminho principal e o caminho interno através de acessossecundários generosos.

Fig. 94 - Rampa e pisos táteis. Fonte:Autores

Fig. 95 - Àrea de estar recuado esinalização podo-tátil. Fonte:

Autores

Fig. 93 - Passeio Contínuo eponto de ônibus recuado. Fonte:

Autores

68Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

Os estacionamentos devem ser centralizados, ao longo da via principal oulocalizados em áreas específicas permitindo a criação de mais áreas deestar e evitando o conflito pedestre x veículo;

Os espaços ociosos devem ser aproveitados com a implantação deequipamentos para a utilização do público especial da FCEE;

O estacionamento próximo à horta deve ser relocado evitando acontaminação dos alimentos por metais pesados provenientes da combustãodos automóveis;

As janelas do tipo maxi-ar devem ser substituídas, pois são obstáculosaéreos extremamente perigosos;

Prover a área próxima do CENET II, CENER, CENAP de estacionamentocoberto para a transposição dos portadores de deficiência graves dos veículosaté os centros de interesse (Ver Fig. 96);

Construir um abrigo de ônibus em ambos lados da via pública com capacidadepara a demanda de alunos e funcionários da FCEE;

Oferecer centrais de informação em pontos estratégicos, como a portaria,protocolo GECAP, CENAE e demais centros em que são requisitadasinformações verbais. Estes locais devem estar aptos a atender a todo tipode usuário, assim deve-se incluir intérprete de libras ou aparelho detecnologia assistiva como o telefone em língua de sinais;

Os funcionários destas centrais devem possuir conhecimento sobre asmaneiras e elementos que pessoas com diferentes restrições usam para seorientar;

Colocar o telefone para surdos em um local mais visível ou prover oscaminhos principais com informações que levem o usuário a ele;

Nas duas portarias deve haver dispositivo sonoro e luminoso de entrada esaída de veículos para alertar aos pedestres que por estes locais transitam.

Fig.96- Cobertura paraTransposição. Fonte: Autores.

5.4 Diretrizesde uso

5.3 Diretrizesde comunicação

69

Fig. 97- Largura mínima docaminho. Fonte: Autores.

Humanizar o percurso interno que liga o CENET II e CENER ao campo defutebol, pois este é extremamente utilizado pelos alunos para finsterapêuticos e recreativos. Para tanto, dotar de pavimentação adequada,largura mínima de 1,80m para livre-circulação, onde não deve haverobstáculos verticais (arbustos e árvores). Além disso, deve possuir pisoregular antiderrapante e com desnível mínimo de 2% no sentido transversalpara evitar o acúmulo de água (Ver Fig. 97).

Por fim, o desenvolvimento de soluções de projeto, baseadas nos parâmetrosapresentados, assim como a possibilidade de execução futura das propostasdepende não só da FCEE como da realização de experimentação e suaavaliação conjunta entre pesquisadores, arquitetos, técnicos e usuáriosda FCEE. A execução de intervenções no espaço físico da FCEE é urgentepara possibilitar a melhoria das condições de acessibilidade espacial parausuários e funcionários, promovendo a inclusão dos mesmos.

70Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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6CONSIDERAÇÕES FINAIS

72Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

A aplicação dos diversos métodos de pesquisa e levantamentos de dadospermitiram concluir que urge intervir no espaço físico externo da FCEEpossibilitando a melhoria das condições de acessibilidade espacial paratodos os usuários, pois a acessibilidade espacial é condição fundamentalpara a integração e participação dos deficientes à sociedade. Desta formaa Instituição estará exercendo melhor a função social a que se destina.

Após esta avaliação das condições de acessibilidade dos espaços externos énecessário o aprofundamento das análises, passando num segundo momentopara a investigação dos espaços arquitetônicos (internos) e o seurelacionamento com o exterior. Assim, a integração das soluções eintervenções para os dois casos enfocados resultará num local que sirva demodelo de acessibilidade para as demais instituições públicas. Esta projeçãoé possível devido às condições do sítio da FCEE, o qual é praticamenteplano e as edificações em maior parte são térreas, não demandando o usode elevadores e equipamentos que encareceriam o projeto. Ainda,verificam-se grandes potenciais paisagísticos e de uso nos vários espaçosexistentes entre as edificações. Sob o aspecto humano é fundamentalsalientar que as barreiras atitudinais, presentes na sociedade, não semanifestam na Instituição, pois todos os funcionários, atendentes e paisestão envolvidos com a causa das deficiências.

O desenvolvimento de soluções de projeto, baseadas nas diretrizes deprojeto anteriormente apresentadas, assim como a possibilidade deexecução futura das propostas depende não só do interesse da FCEE comoda realização de experimentação e sua avaliação conjunta entrepesquisadores, arquitetos, técnicos e usuários da FCEE.

No que tange ao aspecto pedagógico, foi de suma importância àaproximação, interação e o conhecimento dos problemas enfrentados pelosdeficientes. Os métodos práticos utilizados, além de alimentarem oconhecimento técnico, serviram para a sensibilização e a consideraçãodos envolvidos sobre esta parcela da sociedade que reivindica direitosigualitários. O conhecimento adquirido torna apto os pesquisadores paralevar em conta, desde o momento da concepção de projetos, a diversidadehumana. Este é um dos importantes compromissos sociais dos arquitetos.Também instrumentaliza os acadêmicos para efetivarem melhorias,

73

intervenções e adaptações em outros espaços existentes. Somado aisso, espera-se também colaborar na difusão do conhecimento, vistoque o trabalho de pesquisa será veiculado e apresentado para acomunidade acadêmica e sociedade em geral. Assim, pretende-sesensibilizar e informar a todos sobre este tema relevante, o qual não éincluído nos currículos dos cursos de arquitetura, design e engenharia.

74Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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7BIBLIOGRAFIA

76Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial

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Observação: Todas as fotos foram tiradas pela equipe durante odesenvolvimento da pesquisa, com a autorização dos entrevistados. Osmapas temáticos foram elaborados pelos autores.

78Acessibilidade e Inclusão nas Instalações da Fundação Catarinense de Educação Especial