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3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina Pr - ISSN 2175-960X 525 ACESSIBILIDADE EM ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS EM ESCOLAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: PONTOS DE PERIGO EXISTENTES Priscila Moreira CORRÊA 1 , Eduardo José MANZINI 2 . Programa de Pós-graduação em Educação, Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP Campus de Marília. Agência Financiadora FAPESP. 1 Introdução As condições de acessibilidade física das escolas de Educação Infantil podem estar comprometidas pelos espaços ou equipamentos que facilitam a ocorrência de acidentes. Os fatores determinantes para a ocorrência de acidentes na infância são o próprio desenvolvimento infantil e a condição ambiental na qual a criança está inserida. Esta condição ambiental envolve tanto as condições da estrutura físicas do espaço quanto os recursos humanos disponíveis (CORTEZ, 2002). De acordo com a pesquisa de Cortez (2002) e de Oliveira (2003), os locais das Escolas de Educação Infantil que mais oferecem risco para a ocorrência de acidentes são os parques, a sala de aula e as áreas externas. É necessário destacar que tanto a falta de adequação e adaptação dos espaços e dos equipamentos quanto à conservação inadequada destes faz com que estes sejam um fator de risco constante para todos que circulam pela escola. Esta conservação inadequada foi identificada como elemento facilitador para a ocorrência de acidentes em uma escola da Educação Infantil na pesquisa de Cortez (2002), cujos equipamentos eram: 1) os bancos de madeira, que possuíam pregos enferrujados e pontiagudos; 2) a floreira; 3) o revestimento do chão, que era de madeira, irregular e estava quebrado; 4) os brinquedos, que estavam enferrujados e a sua localização era muito próxima um do outro; 5) as escadas que não eram constituídas por material antiderrapante, suas muretas não possuíam grades ou telas de proteção, eram estreitas, curvadas e estavam com o piso quebrado e 6) a irregularidade do chão do parque infantil. Além destes elementos com conservação inadequada, também foram identificados outros elementos que facilitam a ocorrência de acidentes, como a caixa de água localizada a uma altura próxima do chão e com mureta de proteção baixa e, também, os portões de ferro, que davam acesso às escadas e que eram mantidos abertos com freqüência. As estruturas físicas das escolas de Educação Infantil devem ser constituídas de modo a prevenir a ocorrência de acidentes. Para isto, destaca-se a adequação dos espaços e dos equipamentos, que são identificados como elementos facilitadores para a ocorrência de acidentes. Na pesquisa de Elali (2002), os espaços e os equipamentos identificados em cinco escolas da Educação Infantil foram: 1) os locais, que são constituídos por material áspero e não por material antiderrapante, entre eles as rampas centrais, o corredor de acesso a piscina e o pátio; 2) as escadas; 3) os pequenos desníveis das áreas livres e 4) a altura dos extintores. Os espaços e os equipamentos identificados na pesquisa de Oliveira (2003) em seis escolas da Educação Infantil foram: 1) as árvores altas, que possibilitam a criança escalar; 2) piso com buracos; 3) brinquedos com partes pontiagudas, enferrujados e amarrados com arames; 4) brinquedos sob a superfície de terra dura; 5) piso de grama sintética; 6) equipamento de escalar e de escorregar sobre o cimento; 7) o banheiro; 8) os corredores e as salas de aulas. 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp campus de Marília Bolsista FAPESP - [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp campus de Marília [email protected]

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ACESSIBILIDADE EM ESPAÇOS E EQUIPAMENTOS EM ESCOLAS DA EDUCAÇÃO

INFANTIL: PONTOS DE PERIGO EXISTENTES

Priscila Moreira CORRÊA1, Eduardo José MANZINI2. Programa de Pós-graduação em

Educação, Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP – Campus de Marília. Agência

Financiadora – FAPESP.

1 Introdução

As condições de acessibilidade física das escolas de Educação Infantil podem estar

comprometidas pelos espaços ou equipamentos que facilitam a ocorrência de acidentes.

Os fatores determinantes para a ocorrência de acidentes na infância são o próprio

desenvolvimento infantil e a condição ambiental na qual a criança está inserida. Esta condição

ambiental envolve tanto as condições da estrutura físicas do espaço quanto os recursos

humanos disponíveis (CORTEZ, 2002).

De acordo com a pesquisa de Cortez (2002) e de Oliveira (2003), os locais das Escolas de

Educação Infantil que mais oferecem risco para a ocorrência de acidentes são os parques, a

sala de aula e as áreas externas.

É necessário destacar que tanto a falta de adequação e adaptação dos espaços e dos

equipamentos quanto à conservação inadequada destes faz com que estes sejam um fator de

risco constante para todos que circulam pela escola. Esta conservação inadequada foi

identificada como elemento facilitador para a ocorrência de acidentes em uma escola da

Educação Infantil na pesquisa de Cortez (2002), cujos equipamentos eram: 1) os bancos de

madeira, que possuíam pregos enferrujados e pontiagudos; 2) a floreira; 3) o revestimento do

chão, que era de madeira, irregular e estava quebrado; 4) os brinquedos, que estavam

enferrujados e a sua localização era muito próxima um do outro; 5) as escadas que não eram

constituídas por material antiderrapante, suas muretas não possuíam grades ou telas de

proteção, eram estreitas, curvadas e estavam com o piso quebrado e 6) a irregularidade do

chão do parque infantil. Além destes elementos com conservação inadequada, também foram

identificados outros elementos que facilitam a ocorrência de acidentes, como a caixa de água

localizada a uma altura próxima do chão e com mureta de proteção baixa e, também, os

portões de ferro, que davam acesso às escadas e que eram mantidos abertos com freqüência.

As estruturas físicas das escolas de Educação Infantil devem ser constituídas de modo a

prevenir a ocorrência de acidentes. Para isto, destaca-se a adequação dos espaços e dos

equipamentos, que são identificados como elementos facilitadores para a ocorrência de

acidentes. Na pesquisa de Elali (2002), os espaços e os equipamentos identificados em cinco

escolas da Educação Infantil foram: 1) os locais, que são constituídos por material áspero e

não por material antiderrapante, entre eles as rampas centrais, o corredor de acesso a piscina e

o pátio; 2) as escadas; 3) os pequenos desníveis das áreas livres e 4) a altura dos extintores.

Os espaços e os equipamentos identificados na pesquisa de Oliveira (2003) em seis escolas da

Educação Infantil foram: 1) as árvores altas, que possibilitam a criança escalar; 2) piso com

buracos; 3) brinquedos com partes pontiagudas, enferrujados e amarrados com arames; 4)

brinquedos sob a superfície de terra dura; 5) piso de grama sintética; 6) equipamento de

escalar e de escorregar sobre o cimento; 7) o banheiro; 8) os corredores e as salas de aulas.

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp –

campus de Marília – Bolsista FAPESP - [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp – campus

de Marília – [email protected]

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A construção de um equipamento recreativo requer cuidados, pois estes equipamentos devem

ser utilizados por todos os alunos da escola, independente das condições físicas e sensoriais

que possam apresentar e, também, devem ser construídos sem oferecer riscos a estes alunos

na sua usabilidade e não devem limitar as possibilidades de exploração do universo infantil

(BRASIL, 2006a).

Os equipamentos recreativos dos parques infantis necessitam estar em boas condições e

devem: 1) atender a normas de segurança; 2) passar por manutenções periódicas; 3) não

possuir danos permanentes e 4) ser fixados em área gramada ou coberta com areia e não sobre

área cimentada (BRASIL, 1998, 1999, 2006a). Os parafusos, as porcas, os pinos ou outros

materiais salientes devem ter acabamentos de proteção, para que não permaneçam cantos

afiados, agudos ou protuberâncias (PORTUGAL, 1997; BRASIL, 1999). O balanço deve

possuir barreiras de proteção ao seu redor e a borda do seu assento deve ser constituída por

algum material adequado para amortecer o choque, caso este equipamento atinja algum aluno

ou outra pessoa (PORTUGAL, 1997; BRASIL, 1999; DAHROUJ, 2006). Alguns

equipamentos, como o balanço e a gangorra devem ser constituídos por faixas de segurança,

acopladas em seu assento (LAUFER, 2001).

Para que os espaços, os equipamentos e as situações que oferecem risco para a ocorrência de

acidentes nas escolas sejam identificados é imprescindível também identificar a opinião dos

profissionais desta instituição.

Um dos objetivos da pesquisa de Oliveira (2008) foi analisar as opiniões dos profissionais da

Educação Infantil em relação à ocorrência de possíveis acidentes nestes espaços. Para isto

foram entregues questionários para os profissionais de duas classes de duas escolas da

Educação Infantil. De acordo com os resultados obtidos, a gaiola foi o brinquedo mais citado

pelos profissionais como propício para a ocorrência de acidentes, seguidos pelo gira-gira,

balanço, escorregador, gangorra. Para estes profissionais, as quedas são os tipos de acidentes

que ocorrem com mais freqüência nas escolas pesquisadas, seguido pelos choques com os

brinquedos e/ou com outros alunos; lesões/cortes; escorregões; pancadas/contusões; fraturas e

outros. Foram citados como causas para a ocorrência dos acidentes: a falta de atenção dos

alunos, porque eles correm, por serem ativos, por trombarem/tropeçarem com outros alunos e

devido ao grande número de aluno no parque/brinquedo. Segundo a informação da maioria

dos entrevistados, os brinquedos recebiam manutenção periódica.

Na pesquisa de Dahrouj (2006) foram entregues 51 protocolos para as diretoras de Escolas da

Educação Infantil e nove para Creches Municipais para a identificação dos equipamentos

recreativos mais perigosos, o índice de acidentes nestes equipamentos e o tipo de ferimentos

que eles ocasionavam. Destes 60 protocolos, 31 retornaram para a pesquisadora e de acordo

com os resultados encontrados, os equipamentos mais perigosos são a gaiola e o gira-gira. A

gaiola também foi o brinquedo que mais obteve registro de acidentes com ferimentos nestas

escolas. O tipo de ferimentos ocorrido com mais freqüência foram às escoriações, seguidas

das fraturas e dos cortes.

Na pesquisa de Oliveira (2003), foram entrevistados 36 professores de seis escolas da

Educação Infantil, que relataram como medidas preventivas para a diminuição de acidentes

nestas escolas: 1) a reposição da areia sob os brinquedos, 2) trocar o piso da escola, 3) cortar

as raízes expostas das árvores, 4) substituir os brinquedos de madeira e os que são

considerados perigosos, 5) a orientação sobre a prevenção de acidentes para os alunos, como

as palestras, as campanhas/programas e os teatros.

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Com as argumentações apresentadas, este trabalho objetiva identificar a opinião de sete

profissionais das escolas de Educação Infantil sobre os pontos de perigo existentes nos

espaços físicos destas instituições.

2 Método

O trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado, que se encontra em andamento e objetiva

elaborar um protocolo para avaliar as condições de acessibilidade física, em termos de

locomoção, das escolas da Educação Infantil. Para a realização desta pesquisa, foi enviado um

ofício e o projeto para o Núcleo de Apoio Psicopedagógico de uma Secretaria Municipal da

Educação de uma cidade do interior paulista e a execução da pesquisa foi autorizada por meio

de um oficio. Posteriormente, este mesmo projeto foi submetido ao Comitê de Ética da

Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília para ser avaliado. Este projeto foi

aprovado sob o parecer Nº 2207/2008.

Foram selecionadas oito escolas da Educação Infantil para a participação na pesquisa e foram

nomeadas de Escolas A, B, C, D, E, F, G e H. A Escola D precisou ser eliminada da amostra,

pois só atendia ao berçário e este tipo de atendimento não fazia parte da coleta de dados. Esta

informação foi obtida pessoalmente, após a visita da pesquisadora nesta escola, pois no site da

Secretaria Municipal da Educação, esta escola não estava nomeada como berçário e sim como

escola da Educação Infantil.

O procedimento metodológico utilizado para a coleta de dados foi à entrevista

semiestruturada que se caracteriza pela elaboração prévia de um roteiro (MANZINI, 2003).

2.1. Elaboração do roteiro de entrevista

O roteiro foi elaborado durante as aulas da disciplina Coleta de Dados por Meio de

Entrevistas e Diálogos. Os objetivos da entrevista e o roteiro proposto foram apresentados e

discutidos em uma aula desta disciplina juntamente com os outros alunos. Estes alunos,

juntamente com o professor que ministrou a aula, foram os juízes deste roteiro, que ajudaram

na adequação da linguagem, na forma das perguntas, na retirada de perguntas manipulativas,

na seqüência das perguntas, na elaboração de perguntas complementares e no formato do

preâmbulo.

2.2 Projeto Piloto

O projeto piloto da entrevista ocorreu na escola A. Após a sua realização, as informações

foram transcritas na íntegra, de acordo com as normas de Marcuschi (1986). Com esta

transcrição foi possível identificar que o roteiro elaborado precisava ser adequado. Estas

adequações se referiram a: 1) a estrutura das perguntas, algumas delas precisaram ser

retiradas, adequadas ou adicionadas; 2) a retirada de uma palavra que possuía um conceito

muito amplo, difuso e manipulava a resposta do entrevistado. Além das adequações, foi

possível também perceber com a transcrição, que o vocabulário utilizado no roteiro, com

exceção de uma palavra que já foi explicada anteriormente, possibilitava a compreensão pelo

entrevistado e o fornecimento de uma representação precisa da sua opinião (REA, PARKER,

2000). Além disso, o tamanho das perguntas não atrapalhou a memória de trabalho do

entrevistado (MANZINI, 2003) e nem a sua elaboração mental. De acordo com as sugestões

de Manzini (2003), estas perguntas foram elaboradas de forma simples e direta, além do que a

sua redação contemplava o contexto em que a entrevista se desenvolvia e foi adequada à

situação em que o entrevistado se encontrava.

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Em relação às perguntas pessoais, foram tomados os devidos cuidados. Estas perguntas

devem ser feitas após o entrevistado estabelecer uma relação de confiança com o

entrevistador, quando aquele se sentir mais a vontade para dar a sua opinião (GUNTHER,

1999). Durante a entrevista, as perguntas pessoais foram feitas no final e com a transcrição

pode-se perceber que o entrevistado se sentiu a vontade para dar a sua opinião.

2.3 Entrevistas realizadas

Anteriormente a realização da entrevista foi pedido para que os sujeitos entrevistados lessem

o termo de consentimento livre e esclarecido e assinasse este documento caso concorda-se

com os termos propostos.

O Quadro 1 apresenta informações sobre as sete escolas entrevistadas, como os sujeitos

entrevistados, o local de realização da entrevista e o seu tempo de duração:

Escola Sujeito entrevistado Local de realização Tempo de duração

Escola A Diretora Por toda a escola 17minutos e 18 segundos

Escola B Coordenadora Pedagógica Sala da Coordenação 12minutos e 33 segundos

Escola C Diretora Sala da Direção 09 minutos e 16 segundos

Escola E Diretora Sala da Direção 08 minutos e 15 segundos

Escola F Coordenadora Pedagógica Sala da Coordenação 10 minutos e 36 segundos

Escola G Auxiliar de Direção Corredor da escola 05 minutos e 49 segundos

Escola H Diretora Sala dos professores 05 minutos e 18 segundos

Quadro 1 – Informações sobre as sete escolas entrevistadas.

As entrevistas foram realizadas em dias diferentes e foram gravadas com um aparelho

eletrônico chamado Mp4.

2.4 Procedimento de Análise

As informações obtidas foram transcritas na íntegra, de acordo com as normas de Marcuschi

(1986). Posteriormente a esta transcrição, os dados foram analisados por meio de uma análise

temática, que é uma técnica utilizada pela análise de conteúdo e, que foi proposto por Bardin

(2002). A análise de conteúdo se caracteriza como “[...] um conjunto de técnicas de análise

das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2002, p. 38).

A unidade de registro escolhida para a classificação dos dados foi à divisão dos relatos em

temas e subtemas. Para Bardin (2002), este tipo de categorização é geralmente mais utilizado

para estudar opiniões, atitudes, entrevistas individuais ou em grupo, dentre outros tipos.

3. Resultados e discussão

Com a classificação dos dados, foram estabelecidos quatro temas. O Tema 1 se refere a

situações de perigo relacionadas ao ambiente e os seus subtemas são: a) aparelhos recreativos,

b) quadra, c) equipamentos que constituem o ambiente e d) distância entre os espaços da

escola. O Tema 2 se refere a situações de perigo relacionadas à forma acidental e os seus

subtemas são: a) queda acidental em qualquer lugar da escola e b) parque. O Tema 3 se refere

aos locais da escola que são adaptados e os seus subtemas são: a) o banheiro, b) os

equipamentos recreativos, c) as rampas de acesso e d) as salas de aulas. O Tema 4 se refere

aos locais da escola que precisam de uma adequação ou uma reforma e os seus subtemas são:

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a) a entrada da escola, b) os equipamentos recreativos, c) a quadra de esporte, d) o campo de

futebol, e) o banheiro, f) nenhum local e g) equipamentos que constituem o ambiente.

3.1 Situações de Perigo relacionadas ao ambiente

Todos os sete entrevistados relataram que as situações de perigo envolvem os aparelhos

recreativos; os entrevistados das Escolas B e F relataram que estas situações envolvem a

quadra e os entrevistados das Escolas B, F, G e H relataram os equipamentos que constituem

o ambiente. Conforme foi encontrado na pesquisa de Cortez (2002) e de Oliveira (2003), os

parques e as áreas externas foram considerados como os locais das escolas de Educação

Infantil que oferecem risco para a ocorrência de acidentes.

Os aparelhos recreativos mencionados pelos entrevistados, que podem criar situações de

perigo para os alunos foram: 1) os brinquedos em geral (Escolas A, B e E); 2) o escorregador

devido a sua altura (Escola B); 3) os balanços porque os alunos atravessam na frente dele,

quando este se encontra em movimento (Escolas B, E e F); 4) a rodinha porque os alunos

descem dela, quando esta se encontra em movimento (Escola E); 5) a gangorra porque os

alunos não se seguram (Escolas E e H ) e 6) a gaiola (Escola C). Desta forma, ressalta-se que

alguns destes equipamentos recreativos podem não estar atendendo a algumas normas de

segurança estabelecidas por alguns documentos (BRASIL, 1998, 1999, 2006a), como a falta

barreiras de proteção ao redor do balanço e a altura do escorregador. Na gangorra poderiam

ser colocados faixas de segurança em seu assento, como foi observado no trabalho de Laufer

(2001). Assim como na pesquisa de Dahrouj (2006) e de Oliveira (2008), a gaiola foi citada

como um equipamento recreativo propício para a ocorrência de acidentes com os alunos.

O entrevistado da Escola F relatou a quadra como um local propício para as situações de

perigo, pois esta é constituída por uma moldura de tijolos e fazia com que os alunos caíssem

muito (Figura 1).

Figura 1 – Moldura de tijolos da quadra da Escola F.

Nas situações de perigo que se referem aos equipamentos que constituem o ambiente foram

relatados: 1) o asfalto da escola, que está danificado e cheio de buracos e que possibilita o

acesso aos parques, blocos de salas de aulas, piscina, quiosques, horta, casa da boneca (Escola

B – Figura 2); 2) a passarela que é alta demais para os alunos menores e dá acesso ao parque

infantil e a casa de boneca (Escola F – Figura 3); 3) a rampa de acesso do bloco de sala de

aula para o parque (Escola G – Figura 4); 4) a escada que dá acesso para o bloco de sala de

aula (Escola F – Figura 5); 5) o piso do banheiro que não é antiderrapante e é liso (Escola F –

6); 6) os corredores da escola que são lisos e dão acesso ao bloco de sala de aula e parque

(Escola H – Figura 7) e as rachaduras da escola, que formam degrau e fazem os alunos

tropeçarem (Escola F – Figura 8).

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Figura 2 – Asfalto escola B. Figura 3 – Passarela escola F. Figura 4 – Rampa escola G.

Figura 5 – Escada escola F. Figura 6 – Piso do banheiro escola F.

Figura 7 – Corredor escola H. Figura 8 – Rachadura escola F.

Com os relatos descritos anteriormente verifica-se que cada escola apresentou um tipo

diferente de equipamento facilitador para a ocorrência de acidentes e estes estão ligados a sua

estrutura física e a sua conservação. Alguns destes equipamentos relatados também foram

identificados em outras pesquisas, como a escada (ELALI, 2002), o corredor (ELALI, 2002;

OLIVEIRA, 2003) os buracos e o piso do banheiro (OLIVEIRA, 2003).

A distância entre os espaços da escola foram mencionados pelos entrevistados das Escolas B e

F como propícios para a ocorrência de situações de perigo com os alunos.

3.2 Situações de Perigo relacionadas à forma acidental

Os entrevistados relataram que as situações de perigo também podem se referir as quedas que

ocorrem de forma acidental em qualquer lugar da escola (Escola A) e no parque (Escola G),

pois as crianças na Educação Infantil estão formando a noção de perigo. Para o entrevistado

da Escola A é preciso que os profissionais desta instituição orientem os alunos em relação a

estes aspectos nesta fase e este aspecto também pode ser verificado em outra pesquisa

(OLIVEIRA, 2003).

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Na pesquisa de Oliveira (2008), as quedas também foram relatadas pelos profissionais das

escolas de Educação Infantil entrevistados.

3.3 Locais da escola que são adaptados

Os entrevistados relataram que os locais da escola que são adaptados são o banheiro (Escola

A), alguns equipamentos recreativos (Escola B), algumas rampas de acesso (Escolas A e C) e

as salas de aulas (Escola C).

Os equipamentos recreativos adaptados relatados pelo entrevistado da Escola B são: um

balanço (Figura 9), uma rodinha (Figura 10) e a areia (Figura 11), que possuem encosto com

cinto de segurança para os alunos sentarem e brincarem, conforme foi proposto por Laufer

(2001).

Figura 9 – Balanço. Figura 10 – Rodinha. Figura 11 – Areia.

Deve ser ressaltado que todas as escolas da Educação Infantil devem ser constituídas por

equipamentos recreativos acessíveis a todos os alunos, independente das condições físicas e

sensoriais que possam apresentar para que não ofereçam riscos a estes alunos na sua

usabilidade e não limitem as possibilidades de exploração do universo infantil (BRASIL,

2006a).

O entrevistado da Escola A mencionou a rampa de acesso ao banheiro adaptado (Figura 12),

como uma dos locais da escola que são adaptados e o entrevistado da Escola C mencionou as

rampas de acesso para o quiosque e para os brinquedos (Figuras 13 e 14).

Figura 12 – rampa escola C. Figura 13 – Rampa escola C. Figura 14 – Rampa escola C.

As salas de aulas foram mencionadas como locais adaptados pelo entrevistado da Escola C,

pois possuem portas de ampla largura e um desnível baixo (Figuras 15 e 16).

Figura 15 – Porta escola C. Figura 16 – Porta escola C.

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3.4 Locais da escola que precisam de uma adequação ou uma reforma

Os entrevistados relataram diversos locais da escola que precisam de uma adequação ou

reforma, como: a entrada, os parques infantis, a quadra, a sala de aula, o campo de futebol e o

banheiro; assim como também relataram alguns equipamentos que constituem o ambiente.

Apenas o entrevistado da Escola H relatou que nenhum local da escola precise de uma

reforma ou adequação, embora tenha relatado que considera o corredor da sua escola como

um local propício para a ocorrência de situações de perigo para os alunos.

Para o entrevistado da Escola A é preciso colocar corrimão na entrada dos alunos que vão

para a escola com transporte escolar.

Em relação às adaptações que devem ocorrer no parque infantil, o entrevistado da Escola G

relatou que o seu espaço precisa ser ampliado e os entrevistados das Escolas A e B relataram

que os seus brinquedos devem ser adaptados para os alunos deficientes. Com isto, pode-se

observar uma preocupação destes profissionais de todos os alunos terem acesso ao parque

infantil, como é proposto por alguns documentos que enfatizam que este local deve ser

acessível (BRASIL, 2006a, 2006b, 2006c).

A quadra foi relatada como um local que precisa de uma reforma ou adequação nas Escolas A

e E, pois naquela a sua arquibancada tem formato de escada e na Escola E o seu acesso é por

meio de escada, o que dificulta o acesso dos alunos cadeirantes e este mesmo problema foi

relatado por este entrevistado em relação ao seu campo de futebol. No trabalho de Audi e

Manzini (2006) é proposto que o acesso a quadra de esporte deve ser feito por meio de

rampas.

O banheiro foi considerado o principal local que precisa de uma reforma ou adequação pelo

entrevistado da Escola C. Para o entrevistado da Escola F, o banheiro é inadequado, pois o

seu piso não é antiderrapante e é muito escorregadio para os alunos que tomam banho (Figura

17) e quando chove, o telhado goteja (Figura 18).

Figura 17 – Piso do banheiro da Escola F

Figura 18 – Telhado do banheiro da Escola F.

Em relação aos equipamentos que constituem o ambiente foram relatados: 1) a construção de

passarelas em todos os locais em que os alunos desenvolverão atividades, como nos parques

(Escolas A e C); 2) recapeamento do asfalto, que se encontra esburacado (Escola B – Figura

2); 3) ampliação da cobertura da escola (Escola B – Figura 19); 4) colocar corrimãos nas

escadas (Escola E – Figuras 20); 5) sinalização para a locomoção de alunos com deficientes

visuais (Escola C) e 6) colocar algo na rampa, como um emborrachado, para diminuir seu

impacto (Escola G – Figura 4).

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Figura 19 – Cobertura escola B. Figura 20 – Escada escola E.

4 Conclusão

Com os relatos dos profissionais das escolas de Educação Infantil pesquisadas pode-se

observar que estas escolas apresentam diversos tipos de elementos facilitadores para a

ocorrência de acidentes com os alunos.

De acordo com o resultado encontrado, estes elementos estão ligados às condições da

estrutura física dos espaços, a presença de equipamentos que dificultam a circulação na escola

e, também, pela falta de conservação desta estrutura.

Considera-se importante que os espaços e os equipamentos identificados como elementos

facilitadores para a ocorrência de acidentes nas escolas da Educação Infantil pesquisadas

sejam adequados e adaptados para que as situações de perigo para os alunos e para as outras

pessoas que circulam pelo seu espaço possam ser prevenidas e evitadas. Esta adequação e

adaptação, também, favorecerão que estas pessoas utilizem estes espaços de forma mais

autônoma e segura.

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