ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR E SUA … · FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO...

115
Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR E SUA RELAÇÃO COM RISCOS PROFISSIONAIS CLÁUDIA SOFIA BARROS VIEIRA Porto, 30 de Setembro de 2009

Transcript of ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR E SUA … · FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO...

Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR E SUA RELAÇÃO COM RISCOS

PROFISSIONAIS

CLÁUDIA SOFIA BARROS VIEIRA

Porto, 30 de Setembro de 2009

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

Cláudia Sofia Barros Vieira

ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR E SUA RELAÇÃO COM RISCOS

PROFISSIONAIS

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia

da Universidade do Porto para a obtenção do grau de

Mestre em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais.

Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Joaquim Góis do Departamento

de Engenharia de Minas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Porto, 30 de Setembro de 2009

ii

AGRADECIMENTOS

______________________________________________________

A apresentação desta tese é o culminar de uma longa sequência de acontecimentos e são

muitos aqueles que merecem o meu agradecimento. A conquista tem que ser dividida com

muitas pessoas e a ajuda de todos foi importante para que concluísse este trabalho. Alguns,

no entanto, foram fundamentais:

Ao Professor Doutor Joaquim Góis, o profundo reconhecimento pela sua disponibilidade e

orientação fundamental à realização desta tese, sempre alicerçada em rigor e exigência

crescente que permitiram aprimorar o trabalho e aprofundar os meus conhecimentos.

Aos meus pais e ao Pedro Teixeira, o meu profundo agradecimento pelo apoio, incentivo e

contributo para a concretização deste trabalho e, principalmente pelo amor, carinho e

atenção manifestada. À minha irmã pelo companheirismo, apoio, amizade e incentivo.

Ao Engenheiro Emanuel Silva pelo apoio indispensável e contribuição essencial para o

despoletar deste estudo.

À D. Maria Fernanda Ferreira pela disponibilidade e contribuição essencial à concretização

desta tese, em especial na fase de recolha de dados.

A todos os meus colegas de trabalho e amigos, em especial à Dr.ª Marina Pistachinni, à

Beatriz Almeida e ao Pedro Silva que contribuíram com incentivo e apoio.

Finalmente, a todos que de uma forma mais indirecta colaboraram na execução desta tese e

que de alguma forma a tornaram possível.

iii

RESUMO

______________________________________________________

Nas instituições de saúde, os profissionais estão expostos a uma diversidade e

multiplicidade de riscos ocupacionais que, por vezes, culminam com a ocorrência de

acidentes de trabalho (AT). Estes acidentes de diferentes naturezas, apresentam reflexos na

actividade dos vários serviços, uma vez que acarretam implicações internas (instituição e

funcionário) e, externas (comunidade em geral).

Numa fase em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional

do Trabalho (OIT) apelam ao desenvolvimento de uma cultura de segurança preventiva,

face ao aumento do número de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, torna-se

fundamental analisar as causas que levam à ocorrência dos acidentes de trabalho para,

posteriormente, serem propostas medidas que visem reduzir e/ou eliminar os acidentes.

Neste sentido, o presente trabalho é um estudo descritivo e analítico que aborda os AT

ocorridos numa unidade hospitalar, procurando caracterizá-los e relacioná-los com os

riscos profissionais.

A população alvo do estudo, é constituída pelos profissionais que exercem actividade

numa instituição hospitalar do Norte de Portugal. A amostra compreende todos os

funcionários que efectuaram a participação dos AT no período de 1 de Outubro de 2007 a 1

de Outubro de 2008.

A recolha de informação processou-se por análise dos modelos internos de participação e

de investigação de higiene e segurança no trabalho dos AT e através da observação dos

locais de ocorrência dos acidentes.

O tratamento exploratório da informação recolhida foi efectuado com o recurso a técnicas

estatísticas no domínio da estatística multivariada, em particular através do uso da Análise

Factorial das Correspondências (AFC). Procura-se, com esta metodologia, ir um pouco

mais longe do que a simples enumeração dos AT por categoria profissional, género, tipo de

acidente, risco associado, parte do corpo atingida, local de ocorrência, dia da semana, etc.

A abordagem preconizada, abandona a tradicional caracterização dos AT de “per se”,

iv

procurando a visão conjunta, simultânea e necessariamente mais realista do sistema de

inter relações das diferentes variáveis consideradas e o seu papel na ocorrência dos AT.

Palavras – Chave: Acidentes de trabalho; Riscos ocupacionais; Hospitais, Profissionais de

saúde; Análise factorial das correspondências.

v

ABSTRACT

______________________________________________________

In Health Institutions, professionals are exposed to a variety of occupational risks that may

culminate in accidents in the workplace (AW). These accidents are different in nature and

they reflect the activity of the services, as they cause problems both internally (institution

and worker) and externally (community in general).

At a time when the World Health Organization (WHO) and International Labor

Organization (ILO) called for the development of a culture of preventive security, with the

increased number of accidents and occupational diseases, it is important to analyze the

causes that lead to the occurrence of accidents at work, then propose measures to reduce or

even eliminate accidents.

In this sense, the present work is a descriptive and analytical study that addresses AW that

occurred in hospitals, trying to characterize them and to relate them to occupational

hazards.

The population target of the study consists of professionals that provide services in a

hospital in northern Portugal. The sample includes all employees who were in juried at

work between 1 October 2007 to 1 October 2008.

The information was collected using internal models of workplace injuries by observing

the work environment and administering a questionnaire to the injured victims, and if

necessary, to the witnesses.

A multivariate statistical study of the collected information was performed using Factorial

Analysis of Correspondence (FAC). The purpose of this methodology was to broaden the

analysis rather than performing a simple enumeration of the accidents by profession,

gender, type of accident, associate risk, part of the body injured, place of accident, day of

the week, etc.

This approach abandons traditional characterization of AW per se, and looks for the a

simultaneous more realistic system of relationships between the different variables and

their role in the occurance of AW.

vi

Keywords: Accidents in the workplace; Occupational risks; Hospitals; Health care professional; Correspondence Analysis.

.

vi

ÍNDICE GERAL

______________________________________________________

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12

PARTE I -ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL.………………………………………………….....…15

CAPÍTULO II – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ENQUADRAMENTO DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................... 16

2.1. Breve evolução histórica da segurança, higiene e saúde no trabalho em Portugal................................... 16

2.2. Enquadramento jurídico da SHST na administração pública (serviços de saúde) ..................................... 18

CAPÍTULO III – RISCOS EM MEIO HOSPITALAR............................................................................. 20

3.1. Introdução.................................................................................................................................................. 20

3.2. Risco biológico.......................................................................................................................................... 21

3.3. Risco químico............................................................................................................................................ 24

3.4. Risco ergonómico...................................................................................................................................... 27

3.5. Risco físico ................................................................................................................................................ 30

3.6. Risco mecânico.......................................................................................................................................... 35

3.7. Risco eléctrico ........................................................................................................................................... 36

CAPÍTULO IV – ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR ...................................... 37

4.1. Enquadramento legal ................................................................................................................................. 37

4.2. A realidade portuguesa dos acidentes de trabalho em meio hospitalar...................................................... 38

4.3. Acidentes de trabalho por exposição ao risco biológico............................................................................ 40

4.4. Acidentes de trabalho por exposição a agentes químicos .......................................................................... 41

4.5. Acidentes de trabalho associado ao risco ergonómico .............................................................................. 42

4.6. Acidentes de trabalho associado ao risco mecânico .................................................................................. 43

PARTE II - DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO………………………………………………………45

CAPÍTULO V – MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 46

5.1. Definição do problema e pertinência do estudo......................................................................................... 46

vii

5.2. Objectivos do estudo ................................................................................................................................. 46

5.3. População alvo e amostra do estudo.......................................................................................................... 47

5.4. Instrumentos de recolha de dados.............................................................................................................. 48

5.4.1. Descrição das variáveis ................................................................................................................. 48

Modelo de participação clínica dos acidentes em serviço (anexo A): ................................................. 49

Modelo de participação dos acidentes em serviço (anexo B): ............................................................. 50

Modelo de investigação de HST dos acidentes em serviço (anexo C): ............................................... 50

5.5. Recolha de dados.............................................................................................................................. 51

CAPÍTULO VI – TRATAMENTO ESTATÍSTICO E ANÁLISE DOS DADOS ................................... 52

6.1 Análise exploratória de dados..................................................................................................................... 52

6.2 Análise Factorial das Correspondências ..................................................................................................... 63

PARTE III - CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………………...92

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES.............................................................................................................. 93

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................... 97

ANEXO A …………………………………………………………………………………………………..107

ANEXO B …………………………………………………………………………………………………..110

ANEXO C …………………………………………………………………………………………………..112

viii

ÍNDICE DE FIGURAS

______________________________________________________

FIGURA 1 - EXISTÊNCIA DE SERVIÇOS DE SAÚDE OCUPACIONAL (SSO) EM UNIDADES HOSPITALARES (FONTE:

DURÃO, 2009).......................................................................................................................................... 18

FIGURA 2 - EXISTÊNCIA DE PROGRAMAS OU PLANOS DE SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO (FONTE: DURÃO, 2009).......................................................................................................................................... 19

FIGURA 3 - PERCENTAGEM DE TRABALHADORES EXPOSTOS A LESÕES MÚSCULO-ESQUELÉTICAS (FONTE: OFFICE FOR OFFICIAL PUBLICATIONS OF THE EUROPEAN COMMUNITIES, 2004)...................................... 28

FIGURA 4 - ACIDENTES RADIOLÓGICOS COM EFEITOS CLÍNICOS OBSERVÁVEIS EM SERES HUMANOS OCORRIDOS

A NÍVEL MUNDIAL EM 1945-2000 (FONTE: IRSN, FRANÇA)..................................................................... 32

FIGURA 5 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ATENDENDO À CATEGORIA PROFISSIONAL E AO GÉNERO ............ 47

FIGURA 6 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO EM ESTUDO ATENDENDO À FAIXA ETÁRIA ..................................... 48

FIGURA 7 – NÚMERO TOTAL DE ACIDENTES PARTICIPADOS.............................................................................. 52

FIGURA 8 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR GÉNERO.............................................................. 53

FIGURA 9 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR FAIXA ETÁRIA DOS PROFISSIONAIS ..................... 53

FIGURA 10 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO SEGUNDO AS HABILITAÇÕES LITERÁRIAS ................ 54

FIGURA 11- DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR CATEGORIAS PROFISSIONAIS ............................. 54

FIGURA 12 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR VÍNCULO À INSTITUIÇÃO .................................. 55

FIGURA 13 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO ........................ 55

FIGURA 14 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES POR SERVIÇOS ............................................................................. 56

FIGURA 15 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR LOCAL DE OCORRÊNCIA.................................... 56

FIGURA 16 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TAREFA A EXECUTAR NO MOMENTO DO ACIDENTE

................................................................................................................................................................. 57

FIGURA 17 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR MESES DO ANO ................................................. 57

FIGURA 18 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR DIA DA SEMANA ............................................... 58

FIGURA 19 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR HORA DO DIA.................................................... 58

FIGURA 20 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NÚMERO DE HORAS DE TRABALHO CUMPRIDAS NO

MOMENTO DO ACIDENTE .......................................................................................................................... 59

FIGURA 21 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO FACE AO ÚLTIMO DIA DE DESCANSO ........................ 59

ix

FIGURA 22 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE LESÃO ................................................. 60

FIGURA 23 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR PARTE DO CORPO ATINGIDA ............................. 60

FIGURA 24 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE RISCO .................................................. 61

FIGURA 25 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR TIPO DE INCAPACIDADE .................................... 61

FIGURA 26 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NECESSIDADE DE INTERNAMENTO .................... 62

FIGURA 27 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES EM SERVIÇO POR NECESSIDADE DE CONSULTA MÉDICA............... 62

FIGURA 28 - MATRIZ DE PARTIDA PARA A ANÁLISE DE DADOS (AFC)............................................................. 63

FIGURA 29 - RETROACÇÃO EM ANÁLISE FACTORIAL (SEGUNDO GARCIA PEREIRA, 1990)............................... 64

FIGURA 30 - PLANO GERAL DOS ENSAIOS DESTINADOS A EXPLORAR OS DADOS INICIAIS EM TERMOS DE AFCB................................................................................................................................................................. 74

FIGURA 31 - AFCB - PROJECÇÕES DAS VARIÁVEIS NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 1................................ 75

FIGURA 32 - AFCB - PROJECÇÕES DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 1 .............................. 75

FIGURA 33 - AFCB - PROJECÇÕES DAS VARIÁVEIS NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 2................................ 79

FIGURA 34 – AFCB - PROJECÇÕES DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,3 - ENSAIO 2......................... 81

FIGURA 35 – AFCB - PROJECÇÃO DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,4 - ENSAIO 2 .......................... 82

FIGURA 36 - AFCB - PROJECÇÕES DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 2 .............................. 83

FIGURA 37 - AFCB - PROJECÇÃO DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIOS 3 ......................... 84

FIGURA 38 – AFCB - PROJECÇÃO DOS INDIVÍDUOS NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 3 .............................. 84

FIGURA 39 – AFCB - PROJECÇÃO DAS MODALIDADES NO PLANO FACTORIAL 1,2 - ENSAIO 4.......................... 86

x

ÍNDICE DE TABELAS

______________________________________________________

TABELA 1 – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CASOS DE TUBERCULOSE EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA REGIÃO

NORTE DO PAÍS (2000-2004).................................................................................................................... 22

TABELA 2 - RISCOS MECÂNICOS E RESPECTIVAS LESÕES .................................................................................. 35

TABELA 3 - DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO ASSOCIADOS AO RISCO MECÂNICO NA UNIDADE

LOCAL DE SAÚDE DO BAIXO ALENTEJO (2007/2008) ............................................................................... 43

TABELA 4 - ACIDENTES DE TRABALHO ASSOCIADOS AO RISCO MECÂNICO (2000-2004) .................................. 44

TABELA 5 – QUADRO COM AS VARIÁVEIS, MODALIDADES, OS CÓDIGOS DAS MODALIDADES E SEUS

SIGNIFICADOS. .......................................................................................................................................... 66

TABELA 6 – EXEMPLO DO QUADRO DE DESCRIÇÃO LÓGICA (PRESENÇA - AUSÊNCIA), MATRIZ DE INPUT DE

DADOS CODIFICADA EM DISJUNTIVA COMPLETA UTILIZADA NA AFCB .................................................... 72

TABELA 7 - RELAÇÕES DE PROXIMIDADE/OPOSIÇÃO ENTRE AS MODALIDADES, NOS EIXOS FACTORIAIS

CONSIDERADOS ........................................................................................................................................ 76

TABELA 8 - COORDENADAS E CONTRIBUIÇÕES ABSOLUTAS DAS MODALIDADES NOS EIXOS FACTORIAIS -

ENSAIO 2 .................................................................................................................................................. 77

TABELA 9 - TESTE DE χ2 APLICADO AO NÚMERO DE ACIDENTES POR MÊS........................................................ 89

TABELA 10 - TESTE DE χ2 APLICADO AO NÚMERO DE ACIDENTES POR DIA DA SEMANA ................................... 90

xi

SIGLAS E ABREVIATURAS

______________________________________________________

AAM – Auxiliares de Acção Médica

ADN – Ácido Desorribonucleico

AFC – Análise Factorial das Correspondências

AFCB – Análise Factorial das Correspondências Binárias

AT – Acidentes de Trabalho

dB – Decibéis;

DGS – Direcção Geral de Saúde

ICL – Índice de Capacidade Laboral

LME – Lesões Músculo-Esqueléticas

LMELT – Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho

MCDT – Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica

mSV - Sub-Múltiplo o Milisievert;

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMS – Organização Mundial de Saúde

SHST – Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

SNS – Serviço Nacional de Saúde

SSO – Serviço de Saúde Ocupacional

HST – Higiene e Segurança no Trabalho

VHB – Vírus da Hepatite B

VHC – Vírus da Hepatite C

VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana

Capítulo I - Introdução

12

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

Os hospitais como unidades prestadoras de cuidados de saúde caracterizam-se por serem

organizações complexas, que envolvem profissionais de saúde, com o intuito de

desenvolverem acções de promoção, protecção e recuperação da saúde da população em

geral, assistindo o ser humano, avaliando as suas necessidades de forma holística e

implementando a assistência nas condições e no local em que se encontram. Envolvem

igualmente profissionais que executam actividades que, embora não estejam directamente

relacionadas com a prestação de cuidados, são fundamentais para que as mesmas possam

ocorrer de forma adequada (com perícia técnica e ética), valorizando as relações humanas

entre os utentes e os membros da equipa de saúde, bem como a importância da relação

homem/máquina e posto de trabalho.

Há cerca de 15 a 20 anos, a visibilidade da existência de factores de risco de natureza

profissional em hospitais e outros serviços de saúde, tornou inadiável, mesmo para os mais

cépticos, a urgente criação de serviços de higiene, segurança e saúde dos trabalhadores,

indispensáveis à gestão desses riscos. Lopes et al. (1996), citado em Faria, afirma que, por

mais paradoxal que possa parecer, o ambiente em que estes profissionais se inserem tem

como objectivo promover o bem-estar dos doentes é, em si mesmo, rico em factores de

risco (Faria, 2008).

Nos últimos 10 anos, têm vindo a ser organizados alguns serviços de saúde ocupacional

(SSO) ou serviços de higiene, segurança e saúde dos trabalhadores em várias unidades de

saúde, ainda que desde o início dos anos 90, fizesse parte do âmbito do enquadramento

legal independentemente da sua dimensão ou de pertencerem aos sectores público ou

privado.

Apesar dos profissionais de saúde estarem expostos a uma multiplicidade de riscos

inerentes às tarefas que executam, a maioria apenas identifica e considera o biológico como

um dos principais riscos geradores de situações de insalubridade, senão mesmo como sendo

o único factor de risco destes trabalhadores. Segundo alguns autores, vários são os factores

de risco de natureza profissional subdividindo-se, de acordo com a sua origem, em factores

de risco de natureza física, química, mecânica, ergonómica, eléctrica, psicossocial e

estrutural. A estes acrescentam-se o trabalho por turnos, os ritmos de trabalho, a

organização do trabalho, a ausência de comunicação, entre outros.

Capítulo I - Introdução

13

Os acidentes de trabalho representam um problema grave para aqueles que desenvolvem a

sua actividade profissional, condicionando sobretudo os próprios funcionários, interferindo

muitas vezes na sua qualidade de vida, afectando igualmente os colegas de trabalho e

originando custos por vezes elevados para as instituições e para a economia do país. Neste

sentido, é de extrema relevância que as instituições e os seus trabalhadores tenham

conhecimento da real situação, no âmbito da higiene e segurança no trabalho (HST) para

que sejam adoptadas medidas preventivas, com o objectivo de reduzir e/ou eliminar a

ocorrência dos AT.

Esta dissertação tem como propósito geral a caracterização e análise dos acidentes de

trabalho1 ocorridos com os profissionais de uma instituição hospitalar, relacionando-os

com os riscos a que estes se encontram expostos.

Para a concretização deste objectivo geral foram definidos os seguintes objectivos

específicos:

• Caracterizar os AT participados no período de 1 de Outubro de 2007 a 1 de

Outubro de 2008, segundo as variáveis constantes nos modelos de participação e de

investigação de higiene e segurança dos AT;

• Evidenciar os riscos profissionais a que os trabalhadores de uma instituição

hospitalar se encontram expostos.

O eventual interesse por este estudo poderá fundamentar-se na quase inexistência de

estudos sobre esta temática que consideramos tão significativa, o que justifica a

necessidade de estudar as causas dos acidentes de trabalho em contexto hospitalar. Deste

modo, procurar-se-á traçar um plano de orientação para prevenir e combater a ocorrência

dos AT, minimizando não só as lesões físicas e psicológicas dos profissionais como os

custos para a instituição. Este estudo justifica-se também pela ausência de estimativas

oficiais, organizadas e declaradas em relação à incidência de AT em meio hospitalar a

nível nacional.

O estudo apresentado encontra-se organizado em três partes, que permitem situar a

problemática em questão e enquadrá-la metodologicamente.

1 Na administração pública os acidentes de trabalho são designados por acidentes em serviço. No entanto, e apesar desta investigação incidir numa instituição pública, optou-se por utilizar o termo de acidentes de trabalho para uma melhor percepção deste estudo. No contexto deste trabalho, sem prejuízo do correcto entendimento jurídico, por acidente de trabalho entende-se todo o evento e/ou ocorrência não desejado causadora de AT.

Capítulo I - Introdução

14

Na primeira parte do trabalho é efectuado o enquadramento conceptual, onde se procede à

revisão científica existente sobre o tema desta investigação a nível nacional e internacional.

Esta parte divide-se em três capítulos. No segundo capítulo aborda-se a evolução histórica

e o enquadramento jurídico da segurança, higiene e saúde no trabalho (SHST) na

Administração Pública, particularizando a situação vivida em Portugal. No terceiro

capítulo são identificados e descritos os riscos ocupacionais presentes em meio hospitalar.

Finalmente no quarto e último capítulo, desta primeira parte, abordam-se os acidentes de

trabalho em contexto hospitalar, no qual são referidos aspectos tais como, o

enquadramento legal, o panorama nacional dos acidentes e a sua relação com os riscos

profissionais.

Na segunda parte da dissertação, composta por dois capítulos é efectuado o

desenvolvimento do caso de estudo. São apresentados os materiais e métodos utilizados no

estudo, descreve-se o desenho da investigação, abordando o contexto em que a mesma foi

realizada, apresentam-se as variáveis do estudo, descreve-se a recolha de dados e

respectivo instrumento de recolha de dados. O sexto capítulo diz respeito, à apresentação

do tratamento estatístico e análise dos dados referentes aos AT participados na unidade

hospitalar em estudo.

Na terceira e última parte desta tese, é efectuada a apresentação das conclusões. São, ainda

propostas algumas perspectivas futuras em função dos resultados obtidos.

A investigação termina com a bibliografia, assim como com os anexos necessários para

melhor compreender o estudo efectuado.

15

Parte I –

Enquadramento Conceptual�

Capítulo II – Evolução histórica e enquadramento da segurança, higiene e saúde no trabalho na administração pública

16

CAPÍTULO II – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ENQUADRAMENTO DA SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO NA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.1. Breve evolução histórica da segurança, higiene e saúde no trabalho em Portugal

Na Constituição da República Portuguesa, promulgada em 1976, em substituição da de

1933, o trabalho deixa de ser visto como uma mera fonte de rendimento ou meio de

subsistência, reconhecendo-se o direito dos trabalhadores à "… organização do trabalho

em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal…", bem

como à " … prestação do trabalho em condições de higiene e segurança …" (art. 59º, na

revisão de 1982).

Desde 1962 que os serviços médicos eram obrigatórios para as empresas com riscos de

silicose, no entanto, apenas com a legislação de 1967 as empresas industriais com 200 ou

mais trabalhadores, além das que apresentavam "riscos de silicose", ficavam na prática

obrigadas a criar serviços privativos de medicina do trabalho, dispondo para esse efeito de

um prazo de dois anos.

A criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979, a reforma do Ministério da

Saúde e a publicação da Lei de Bases da Segurança Social em 1984, não foram

acompanhadas de quaisquer inovações no domínio da SHST, quer a nível legislativo e

regulamentar, quer técnico e organizativo, continuando, nomeadamente, o reconhecimento

e a reparação dos danos provenientes da exposição a riscos profissionais a não estarem

integrados num sistema geral e universal da segurança social.

Em 1990 era aprovada a nova lei de bases da saúde, que vem apontar como prioridades da

política de saúde do país, a promoção da saúde e a prevenção da doença, bem como a

garantia da equidade, entendida como igualdade de oportunidades no acesso aos cuidados

de saúde, na distribuição dos recursos e na utilização dos serviços. No entanto, este novo

diploma não faz, qualquer referência à SHST.

Em 1991, o Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro que estabeleceu o regime jurídico

do enquadramento da SHST (Lei-Quadro da SHST) abrangeu toda a população activa,

Capítulo II – Evolução histórica e enquadramento da segurança, higiene e saúde no trabalho na administração pública

17

incluindo os trabalhadores independentes e o funcionalismo público. Este diploma legal,

vem reconhecer inequivocamente o direito à saúde no local de trabalho, até então apenas

implícito na nossa ordem jurídico-constitucional, adaptando, assim o normativo interno à

Directiva n.º 89/391/CEE (Graça, 2000; Nunes, 2006).

Os princípios normativos constantes do citado Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro,

e demais legislação complementar, exigem que se adaptem conceitos e se explicitem

algumas das obrigações e inerentes responsabilidades dos empregadores e funcionários no

âmbito da administração pública. Este é o objectivo do diploma supramencionado, que

pressupõe a garantia da avaliação e registo actualizado dos factores de risco, da

planificação e orçamentação das acções conducentes ao seu efectivo controlo, bem como a

existência de recursos humanos com competência e qualificações adequadas, em

conformidade com o regime consagrado na referida lei-quadro (Decreto-Lei n.º 441, 1991).

Pretende-se ainda assegurar a formação, informação, participação e consulta dos

funcionários e estabelecer o regime de responsabilização pelo não cumprimento dos

normativos legais sobre segurança, higiene e saúde no trabalho.

Neste contexto, o diploma obteve o acordo da Frente Sindical da Administração Pública e

do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, tendo a Frente Comum dos Sindicatos da

Administração Pública manifestado a sua indisponibilidade para o negociar.

No entanto, no desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pelo Decreto-Lei n.º

441/91, de 14 de Novembro, e nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º da

Constituição, o Governo decreta, para valer como lei geral da República, o Decreto-Lei n.º

488/99, de 17 Novembro que definiu as formas de aplicação do regime jurídico de

segurança, higiene e saúde do trabalho aos Serviços e Organismos da Administração

Pública, abrangendo assim as entidades prestadoras de cuidados de saúde (hospitais,

centros de saúde, entre outros), apesar da Lei-Quadro da SHST, de 1991, ser aplicável a

este tipo de serviços (Graça, 2000).

Capítulo II – Evolução histórica e enquadramento da segurança, higiene e saúde no trabalho na administração pública

18

2.2. Enquadramento jurídico da SHST na administração pública (serviços de saúde)

A saúde dos funcionários nos locais de trabalho é, para além de uma matéria laboral,

económica e de saúde, um assunto que exige responsabilidade social e de cidadania, pelo

que implica uma maior atenção e envolvimento de diversos parceiros sociais, incluindo a

administração pública. A aplicação do enquadramento legal da SHST à administração

pública foi primeiro estabelecida e regulada pelo Decreto-Lei n.º 488/99, de 17 de

Novembro. No entanto, apesar deste enquadramento legal ter entrado em vigor a 1 de

Janeiro de 2000, poucos foram os serviços públicos que implementaram medidas para o

seu cumprimento (Sindicato dos quadros técnicos do estado, 2005).

Segundo os dados da Direcção Geral de Saúde (DGS) as informações sobre a organização

de serviços de saúde ocupacional são insuficientes. No ano de 1994, em 18% das

instituições de saúde existiam serviços de segurança e saúde no trabalho, em 1997 este

número aumentou para 21%. Entre 2007/2008 verificou que 65% dos estabelecimentos

hospitalares estavam cobertos por serviços de segurança e saúde no trabalho; 30%

informaram não ter estes serviços e 5% não responderam a esta questão (figura 1) (Durão,

2009).

Figura 1 - Existência de serviços de saúde ocupacional (SSO) em unidades hospitalares (Fonte: Durão, 2009)

Capítulo II – Evolução histórica e enquadramento da segurança, higiene e saúde no trabalho na administração pública

19

Outro aspecto pertinente, evidenciado em estudos recentes sobre a existência ou não de

programas ou planos de prevenção de SHST, revela que independentemente dos

estabelecimentos hospitalares apresentarem serviços de saúde e segurança no trabalho,

67% possuem programas ou planos de prevenção de riscos profissionais e de vigilância e

promoção da saúde dos funcionários, 27% não têm programas ou planos nestas áreas e 6%

não responderam a esta questão. (figura 2) (Durão, 2009).

Figura 2 - Existência de programas ou planos de segurança, higiene e saúde no trabalho (Fonte: Durão, 2009)

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

20

CAPÍTULO III – RISCOS EM MEIO HOSPITALAR

3.1. Introdução

Os hospitais são entidades que se caracterizam por serem organizações complexas e

cujo propósito “… cuidar/tratar o ser humano, em situação de doença e sofrimento…”,

tem direccionado a sua concepção e a alocação de recursos na satisfação das

necessidades dos utentes, traduzida na ampliação dos cuidados a prestar e na introdução

de novas tecnologias e práticas. Em alguns dos casos, estas alterações são

implementadas sem serem garantidas as condições de segurança e saúde dos

funcionários e a qualidade ambiental interior, são portanto relegadas para segundo plano

as condições de trabalho dos profissionais. Contribuem também para esta situação, o

facto da maioria dos profissionais de saúde considerar que é capaz de assegurar

autonomamente a manutenção do seu estado de saúde (acesso facilitado a consultas

médicas informais), reduzindo desta forma a utilização de serviços organizados de

saúde ocupacional e o facto de toda a hierarquia hospitalar estar vocacionada para a

vertente curativa, colocando menos ênfase na perspectiva da prevenção (Cabral e Veiga,

2008).

Os hospitais são constituídos por um conjunto de serviços muito diversificados e

especializados, que englobam as actividades que conduzem ao diagnóstico médico e ao

tratamento de doentes, ao qual está frequentemente associado a obtenção de um

conjunto de informações fornecidas por serviços especializados, designadamente pelos

meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT). O tratamento do doente

pode exigir o internamento e portanto, a necessidade de prestar cuidados de base -

alimentação e higiene - e o recurso a técnicas diferenciadas. Existe ainda um conjunto

de serviços que, sem desenvolverem tarefas específicas na área da saúde, são

fundamentais para o funcionamento de um hospital, destacando-se: os serviços de

instalações e equipamentos; os serviços farmacêuticos, as centrais de esterilização, os

serviços de sistemas de informação, os serviços de limpeza, entre outros.

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

21

Face ao exposto, podemos inferir que o ambiente hospitalar oferece múltiplos e variados

riscos profissionais, específicos do tipo de actividade desenvolvida, das características

inerentes ao desempenho profissional e da potencial má qualidade do ar interior. Para

Funden (1996), citado em Silva, “…Os riscos ocupacionais são todas as situações de

trabalho que podem romper o equilíbrio físico, mental e social das pessoas, e não

somente as situações que originem acidentes e doenças…” (Silva, 2008).

Neste contexto, podem destacar-se, como principais os seguintes riscos profissionais em

meio hospitalar no âmbito da higiene e segurança no trabalho:

• Risco biológico;

• Risco químico;

• Risco ergonómico;

• Risco físico;

• Risco mecânico;

• Risco eléctrico;

• Risco de incêndio e de explosão (Mayan, 2004; Cabral e Veiga, 2008).

Apesar da enumeração dos riscos presentes em meio hospitalar acima mencionados, será dado, neste e no próximo capítulo maior destaque aos riscos que são mais susceptíveis de serem causadores de AT na unidade hospitalar em estudo.

3.2. Risco biológico

Segundo Bulhões, referido em Faria, os principais riscos de exposição dos profissionais

a agentes biológicos são as infecções causadas por bactérias, vírus, fungos, clamídias e,

em menor grau, pelos protozoários, artrópodes, todos eles provenientes num local de

trabalho como os hospitais, do contacto com os doentes e da manipulação de produtos

biológicos (sangue, urina e outros fluídos biológicos) (Faria, 2008; Cabral e Veiga,

2008).

Estes microrganismos podem causar determinadas doenças mundialmente reconhecidas

para os profissionais de saúde, nomeadamente a tuberculose, as hepatites virais, o vírus

da imunodeficiência humana (VIH) (Jansen, 1997). Por vezes, os funcionários podem

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

22

ser atingidos por outras doenças infecciosas como a rubéola, meningites, difteria, herpes

simplex, varicela, herpes-zoster, febre tifóide, gastroenterites, constipações, gripes,

pneumonias, entre outras, não faltando as doenças causadas por bactérias envolvidas nas

infecções hospitalares, algumas das quais resistentes a diversos antibióticos como:

Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Salmonella, Streptococcus, Pseudomonas, e

Proteus (Faria, 2008).

Estudos conduzidos nas décadas de 1960 e 1970 mostraram que o risco de infecção por

tuberculose entre profissionais de saúde expostos a doentes contaminados pelo

Mycobacterium tuberculosis era 4 a 6 vezes superior ao apresentado pelos profissionais

não expostos. Verificou-se ainda a existência de uma relação entre o número de doentes

com a doença admitidos nas instituições e o número de trabalhadores das mesmas

(Franco et al., 2004).

O contágio ocorre principalmente por via aérea, a partir de aerossóis libertados durante

o acto de tossir, falar ou espirrar dos doentes. Outras possíveis vias de transmissão,

embora sejam raras e com pouca importância epidemiológica, são a digestiva, a cutânea,

entre outras. (Bloom, 2002).

Segundo Resende, referido em Faria, o risco de infecção está relacionado com os

seguintes factores: prevalência da doença, perfil dos casos atendidos, áreas de trabalho,

categoria profissional, tempo de trabalho e medidas de prevenção e protecção

implementadas (Faria, 2008).

A título de exemplo, poder-se-á indicar que a evolução da tuberculose em profissionais

de saúde tem aumentado (tabela 1), apesar do número total de casos ter sofrido uma

diminuição.

Tabela 1 – Evolução do número de casos de tuberculose em profissionais de saúde da Região Norte do País

(2000-2004)

Ano Total de casos declarados Casos em profissionais de saúde

2000 1718 24

2001 1688 26

2002 1710 65

2003 1594 60

2004 1500 65

Fonte: SGIV- TB

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

23

Igualmente ilustrativo do risco biológico a que estão sujeitos os profissionais de saúde

temos a infecção por hepatite B (VHB) que constitui um elevado risco ocupacional para

estes profissionais. O VHB é transmitido por via sanguínea, após exposição percutânea

ou da mucosa a sangue ou fluidos biológicos de um doente com infecção por VHB,

aguda ou crónica (Cunha et al., 2006).

Nos Estados Unidos, estimou-se a ocorrência anual de 8700 infecções e de 200 mortes

pelo vírus da hepatite B, por acidente de trabalho, entre profissionais de saúde. A

incidência da infecção na população em geral dos Estados Unidos, foi de 0,1%,

enquanto nos profissionais da saúde foi de 0,5% ao ano. Quanto à prevalência de anti-

HBsAg, foi da ordem de 10 a 15% nos profissionais de saúde e de 4% na população

geral (Faria, 2008).

O risco de transmissão da hepatite B, em funcionários não vacinados é elevado,

estimando-se que seja 5 vezes superior ao da população em geral.

No que concerne à hepatite C (VHC) existe uma taxa de transmissão entre profissionais

de saúde na ordem dos 3 a 4%, o que torna a transmissão importante entre estes

profissionais (Vieira et al., 2003).

Estudos em profissionais de saúde expostos a sangue infectado por VHC, em

consequência de lesões percutâneas, mostram existir uma baixa incidência de

seroconversão (média: 1,8%; variação: 0-7%) (Cunha et al., 2006).

A transmissão do VIH (vírus da imunodeficiência humana) entre profissionais de saúde,

pode ocorrer devido a exposições cutâneas, resultantes de acidentes com materiais

perfurantes e cortantes, as recomendações actuais, para esse fim, ainda não são capazes

de prevenir tais acidentes (Faria, 2008).

Em estudos prospectivos em profissionais de saúde, a média do risco de transmissão do

VIH foi estimada em 0,3% após lesão percutânea e em 0,09% após exposição da

mucosa. Embora tenham sido referidos casos de transmissão depois de uma exposição

de pele não intacta, calcula-se que esse risco é menor do que após uma exposição da

mucosa (Cunha et al., 2006).

De acordo com Guadalupe Simões, citado em Faria, “… não existem dados em

Portugal…” sobre o número de profissionais de saúde infectados por via mucosa. Nos

Estados Unidos, por exemplo, estima-se que nove em cada dez profissionais de saúde

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

24

infectados com o VIH contraíram a doença acidentalmente devido a picada acidental

com uma agulha no local de trabalho (Faria, 2008).

3.3. Risco químico

Os principais riscos de exposição dos profissionais de saúde a produtos químicos são

gerados pela manipulação e armazenamento de uma variedade de substâncias químicas

e também pela preparação e administração de medicamentos que podem provocar,

desde simples alergias até importantes neoplasias (Xelegati e Robazzi, 2003). As

substâncias químicas podem penetrar no organismo por via respiratória, serem

absorvidos pela pele ou muito raramente por ingestão, podendo originar, em geral,

lesões imediatas (Cândido et al., 2005).

Da panóplia de produtos químicos utilizados em ambientes hospitalares, cuja a

exposição aos mesmos acarreta riscos para a saúde humana, podemos mencionar: os

gases anestésicos, outros gases (hidrogénio, oxigénio, azoto, acetileno), citostáticos,

desinfectantes (álcool, hipoclorito de sódio, formaldeído, glutaraldeído), solventes

orgânicos (acetona, éter, clorofórmio, metanol, etanol, entre outros) e outros produtos

químicos (Mayan, 2008).

Os gases anestésicos mais frequentes são: o sevoflurano, o haloetano, o isoflurano, o

metoxiflurano e o óxido nitroso. A exposição a gases anestésicos, verifica-se nas salas

de cirurgia e de apoio à cirurgia e os profissionais expostos são, essencialmente todos os

funcionários que fazem parte das equipas de cirurgia. Os efeitos agudos da exposição a

estes gases caracterizam-se por tonturas, alterações do humor, náuseas, fadiga e falta de

coordenação dos movimentos.

No grupo de outros gases destacam-se: o oxigénio (utilizado na prestação de cuidados

aos doentes); o hidrogénio, o azoto e o acetileno (utilizado em actividades laboratoriais

e em oficinas); o fréon (utilizado na esterilização, em mistura com o óxido de etileno,

em laboratórios, para a congelação rápida de tecidos) e o óxido de etileno (utilizado na

esterilização em particular de instrumentos médicos que não podem ser expostos ao

calor). O oxigénio e o acetileno são gases que podem originar graves riscos de incêndio

e/ou explosão. O fréon e óxido de etileno têm efeitos irritantes nas mucosas, aparelho

respiratório e no sistema nervoso central. O óxido de etileno apresenta também

propriedades mutagénicas e é considerado um provável carcinogéneo.

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

25

Os citostáticos e drogas antineoplásicas caracterizam-se pela sua acção nas células

cancerígenas, impedindo o seu crescimento. Contudo, a sua acção tóxica também se

verifica nas outras células e tecidos, destacando-se os efeitos mutagénicos,

teratogénicos, carcinogénicos, a acção hepatotóxica, nefrotóxica e a acção irritante na

pele e membranas mucosas. No universo dos funcionários hospitalares, a exposição a

citostáticos ou outras drogas utilizadas na quimioterapia, destacam-se os técnicos

(farmácia ou farmacêuticos), enfermeiros responsáveis pela preparação e administração

daquelas substâncias e os auxiliares de acção médica (AAM) que manipulam os

resíduos e efectuam a higienização das instalações. A exposição pode ocorrer por

contacto e/ou por inalação de aerossóis.

No que concerne ao grupo dos desinfectantes temos o álcool isopropílico, o hipoclorito

de sódio, o formaldeído e o glutaraldeído. O álcool isopropílico é um anti-séptico e

desinfectante, muito utilizado na limpeza de pequenos materiais de enfermagem e de

laboratório (termómetros, equipamentos de anestesia, equipamento laboratorial, entre

outros). Os efeitos da exposição a este composto são: irritação na pele, nas vias

respiratórias e nos olhos. No contexto hospitalar, os enfermeiros, os auxiliares de acção

médica (AAM) e os técnicos são os que mais utilizam este produto, pelo que são os

profissionais para os quais poderá existir um potencial risco de exposição a álcool

isopropílico. O hipoclorito de sódio, em solução de diferentes concentrações, é eficaz

contra bactérias e vírus, sendo por isso muito utilizado para a higienização de

pavimentos e instalações sanitárias, (este produto não deve ser misturado com produtos

amoniacais, porque a reacção pode libertar grande quantidade de gás tóxico). O

manuseamento de soluções de hipoclorito de sódio pode provocar queimaduras e

irritação da pele. Face à sua utilização, os profissionais com risco acrescido de

exposição a estes produtos são essencialmente os auxiliares de acção médica. O

formaldeído é uma substância muito reactiva, que se utiliza principalmente como

fixador de tecido celular em anatomia patológica e laboratórios de histopatologia.

Também pode ser utilizado como desinfectante em unidades de diálise e como

esterilizante, nos processos de esterilização a frio de instrumentos diversos. Esta

substância é irritante para os olhos e vias respiratórias, provoca alterações

neurocomportamentais e é um potencial carcinogénico para o homem. De entre os

profissionais, para os quais existe um maior risco de exposição a formaldeído, constam

os técnicos de laboratório (anatomia patológica e histologia), e os profissionais das

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

26

unidades de diálise responsáveis pela desinfecção e esterilização do material e

instrumentos. Por fim, o glutaraldeído que sendo uma substância com uma potente

acção biocída, eficaz para bactérias, vírus, fungos e esporos é utilizado na esterilização a

frio, aplicada em instrumentos termo-sensíveis, nomeadamente drenos, cateteres,

enxertos acrílicos e tubos de poliestireno. Também é manipulado na desinfecção de

equipamentos de terapia respiratória, endoscópios, tubos de espirometria e

equipamentos de diálise e odontológicos. Face à sua utilização são particularmente

vulneráveis à exposição a glutaraldeído, todos os profissionais, de saúde e outros, com

actividades nas áreas de desinfecção e esterilização. O glutaraldeído é tóxico, com acção

irritante dos olhos e vias respiratórias, o contacto prolongado pode provocar alergias e

dermatoses.

No grupo dos solventes orgânicos e outros produtos químicos estão incluídos um

conjunto de reagentes manipulados em laboratórios. Nos solventes orgânicos destacam-

se os hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, acetonas e álcoois e, no grupo de outros

produtos químicos, os reagentes da biologia molecular, em particular a acrilamida, o

brometo de etídeo utilizados na extracção do ácido desorribonucleico (ADN). Os

principais efeitos da exposição profissional situam-se ao nível do sistema nervoso

central e fígado; alguns destes produtos estão classificados como carcinogéneos ou

potenciais carcinogéneos (Mayan, 2004).

As publicações que contextualizam a protecção dos profissionais de saúde,

particularmente em relação aos riscos químicos que eles enfrentam, é ainda muito

reduzida e o que existe publicado concentra-se em poucos estudos internacionais.

Existem, no entanto, alguns factores de risco químico referenciados a nível

internacional associados sobretudo à manipulação de drogas citostáticas, à exposição a

gases anestésicos, à exposição a vapores e gases esterilizantes, aos agentes químicos em

geral, à manipulação de antibióticos, à exposição a vapores do cimento de ossos, à

manipulação de mercúrio, bem como outros agentes químicos (Faria, 2008).

Relativamente aos profissionais que manipulam citostáticos, a literatura evidencia casos

de aparecimento de tumores secundários e de maior probabilidade de aparecimento de

cancro, mutagenicidade, alterações genéticas e efeitos colaterais nesses funcionários

(Rocha et al., 2007).

As publicações sobre a exposição a gases anestésicos referem a influência destes gases

na ocorrência de malformações congénitas, abortos espontâneos, diminuição da

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

27

capacidade de trabalho e da produção de ADN entre os profissionais de enfermagem. A

poluição do ar das salas de cirúrgicas pelos gases anestésicos (óxido nitroso) produzem

efeitos adversos nos funcionários, uma vez que o óxido nitroso oxida a vitamina B12 e

diminui a produção de ADN. A poluição dos gases anestésicos existe e preocupa até os

governos, como o Reino Unido, que publicou um relatório afirmando que a

problemática da poluição para os profissionais da área de saúde ainda não se encontra

resolvida (Xelegati e Robazzi, 2003).

Outro dos estudos publicados refere-se à manipulação de xilol em laboratórios e no qual

se concluiu que a ausência de formação e informação dos profissionais de saúde agrava

o risco de exposição ocupacional e ambiental ao xilol (Costa et al., 2007).

3.4. Risco ergonómico

Os hospitais estão constantemente a remodelar os espaços físicos, com o objectivo de

implementar novos serviços e de responder às exigências impostas pelos avanços

técnico-científicos. Inversamente, não existe uma preocupação em melhorar as

condições de trabalho dos profissionais de saúde, no que diz respeito à adequação da

concepção das infra-estruturas, da organização do trabalho e dos equipamentos e

materiais em uso (Faria, 2008).

Segundo Marziale et al., referenciado em Faria, os riscos ergonómicos em meio

hospitalar estão principalmente associados à movimentação e ao transporte de doentes,

ao manuseamento e transporte de equipamentos e materiais, a posturas prolongadas e

inadequadas nos diferentes postos de trabalho, ao tipo de mobiliário (na maior parte dos

casos não regulável e inadequado para os utilizadores), aos movimentos repetitivos,

além das deslocações frequentes e desnecessárias realizadas durante a jornada de

trabalho e da existência de doentes com graus de dependência múltipla. Tudo isto,

contribui para aumentar, de forma exponencial, a ocorrência de lesões que afectam os

ossos, os músculos e os tendões, devido à sobrecarga ou má utilização dessas estruturas

(2008).

Algumas das condições ergonómicas inadequadas verificadas em unidades hospitalares

são a inexistência de dispositivos mecânicos auxiliares para a movimentação dos

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

28

doentes e cargas, a ausência de manutenção periódica dos equipamentos existentes e a

utilização de mobiliários improvisados e inadequados, que leva os profissionais a

adoptarem posturas inadequadas para a realização das suas actividades (Comélio e

Alexandre, 2005).

Segundo os dados das publicações oficiais da comunidade europeia de 2004, os

profissionais da área da saúde e trabalho social estão expostos a uma elevada

percentagem de factores de risco de lesões músculo-esqueléticas (LME), relacionados

com o transporte de cargas pesadas e posições inadequadas.

De acordo com a figura 3, podemos constatar que depois dos sectores da agricultura e

pesca e da construção, o sector da saúde e trabalho social encontra-se em terceiro lugar

no que se refere ao transporte de cargas pesadas (28%) e em quinto lugar no que se

refere à exposição a posições dolorosas (38%). Referência, ainda para a exposição a

movimentos repetitivos da mão e do braço, que representa o maior factor de risco de

LME para este sector (41%) (Silva e Aparício, 2005).

Figura 3 - Percentagem de trabalhadores expostos a lesões músculo-esqueléticas (Fonte: Office for Official

Publications of the European Communities, 2004)

Diversos estudos internacionais, sobretudo no contexto da actividade dos enfermeiros

corroboram de forma irrefutável o impacto das lesões músculo-esqueléticas em termos

de produtividade, absentismo e decréscimo da qualidade de vida dos profissionais

envolvidos (Martins, 2008).

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

29

Num estudo sobre a utilização de cadeiras de banho na actividade de higienização

corporal dos doentes, constatou-se que existe um elevado nível de esforço em relação ao

comprometimento do sistema osteomuscular durante a utilização da mesma, afectando

sobretudo os auxiliares de acção médica e os profissionais de enfermagem (Comélio e

Alexandre, 2005).

Segundo Marziale, mencionado em Silva, na sua pesquisa subordinada à temática

“Condições ergonómicas do trabalho da equipa de enfermagem em unidade de

internamento de cardiologia” refere que o frequente levantamento de peso para

mobilização e transporte de doentes e equipamentos, a postura inadequada e flexões de

coluna vertebral em actividades de organização e assistência podem causar problemas à

saúde dos trabalhadores, tais como fracturas, lombalgias e varizes (2008).

O estudo, realizado por Paschoarelli et al., mencionado em Ribeiro e Diniz nas

enfermarias de um hospital de uma faculdade de medicina, verificou níveis de

desconforto na região da coluna lombar, nos membros inferiores, nas extremidades dos

membros inferiores, nos ombros, na região da coluna cervical e da coluna torácica, entre

outros (2005).

Monteiro et al. (2004), citado em Martins, relatam, a partir de estudos efectuados com

profissionais de enfermagem de uma instituição hospitalar numa, unidade de

internamento com elevado grau de dependência física, queixas na região lombar, na

região cervical, nos ombros, joelhos, mãos e punhos, além de problemas relacionados

com factores psicológicos (2008).

Recentemente, têm surgido em Portugal, vários estudos direccionados para os

profissionais de enfermagem (Maia, 2002; Fonseca, 2005; Cotrim et al., 2006; Barroso

et al., 2007). O estudo realizado por Maia (2002) ao quantificar o Índice de Capacidade

Laboral (ICL) em enfermeiros, registou valores de risco de lesões músculo-esqueléticas

ligadas ao trabalho (LMELT), considerados muito elevados para as actividades de

movimentação, transferência e posicionamento de doentes. Fonseca (2005),

referenciado em Martins, no estudo que realizou sobre a prevalência de sintomatologia

músculo-esquelética auto-referida pelos enfermeiros, refere que os níveis de

desconforto, incómodo ou dor, com origem no sistema músculo-esquelético estão

relacionados com a actividade de trabalho e as condições em que esta é exercida.

Movimentações de cargas, frequentemente sem auxílio a equipamentos mecânicos e

posturas extremas, concretamente a rotação do tronco e a flexão do pescoço e membros

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

30

superiores, são alguns dos aspectos verificados pela autora aquando da observação das

posturas adoptadas pelos enfermeiros durante a prestação de cuidados aos doentes.

(2008)

Aspectos como posturas incorrectas, carga física, manipulação de cargas pesadas,

mobiliários e equipamentos e espaços de trabalho inadequados são referenciados em

vários outros estudos, citado em Martins, como factores preponderantes no

desenvolvimento de patologia músculo-esquelética (Marziale e Robazzi, 2000; Maia,

2002; Silva e Alexandre, 2002; Trinkoff et al., 2002; Alexopoulos et al., 2003; Estryn-

Behar et al., 2004, Sherehiy et al., 2004; Fonseca, 2005; Murofuse e Marziale, 2005;

Alexopoulos et al., 2006; Barroso et al., 2007; Baumann, 2007) (2008).

Um estudo recente incidindo sobre 420 enfermeiros de seis hospitais distritais gregos

revelou que, 64% dos enfermeiros referiam o levantamento frequente de materiais com

peso superior a 5 kg. O mesmo estudo constatou serem igualmente frequentes o

empurrar e puxar cargas com mais de 50 kg e o transporte de cargas acima de 25 kg.

Correlações significativas foram encontradas entre o manuseamento manual de

materiais, posturas extremas e percepção de esforços extremos (Martins, 2008).

Poucos são os estudos associados a outras categorias profissionais que desenvolvem

actividades em contexto hospitalar, no entanto, relativamente à classe médica refere-se

o estudo sobre a prática cirúrgica, que exige aos profissionais muitas horas em posições

desconfortáveis e inadequadas para a saúde. Muitas cirurgias são longas e exigem a

presença de uma quantidade substancial de cirurgiões, dada a necessidade de ficar em

pé em posturas estáticas, com a atenção voltada para o campo cirúrgico e com a cabeça

voltada para baixo, movimentando cuidadosamente as mãos e os dedos. Essa posição é

prejudicial à circulação sanguínea, podendo gerar problemas de varizes e

consequentemente dores nas pernas, além de ser prejudicial para a coluna, podendo

provocar dores e deformidades irreversíveis (Filho, 2002).

3.5. Risco físico

Os riscos de natureza física em meio hospitalar estão representados pelas radiações

(ionizantes e não ionizantes), ambiente térmico, iluminância, ruído e vibrações que

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

31

contribuem de forma decisiva para a ocorrência de diversas doenças profissionais e

acidentes de trabalho.

A exposição a radiações ionizantes relaciona-se em contexto hospitalar com as áreas de

tratamento de doentes nomeadamente na radioterapia, radiologia e na medicina nuclear.

No entanto, estes riscos também estão presentes noutras áreas que utilizam

equipamentos de diagnóstico e de imagens médicas em tempo real, como os blocos

operatórios, as unidades de cuidados intensivos e as enfermarias, nos casos de

impossibilidades de locomoção dos doentes (Faria, 2008).

As radiações ionizantes produzem efeitos que afectam o próprio indivíduo exposto à

radiação e pode manifestar efeitos nos descendentes do profissional de saúde que esteve

exposto. Os efeitos imediatos após exposição a radiações ionizantes em doses

excessivas são: irritação da conjuntiva ocular, da córnea e lesão da retina (Faria, 2008).

Segundo Carvalho, a exposição às radiações ionizantes durante um certo período de

tempo, à dose correspondente ao limite de dose ocupacional para radiações ionizantes

(20 mSv durante 1 ano), implica um risco de morte por cancro 10 vezes superior à que

se verificaria se se tratasse de uma exposição ao amianto durante o mesmo período de

tempo. Apesar disso, actualmente são raros os trabalhadores que estão expostos a doses

de radiação próximas dos 20 mSv/ano (Carvalho, 2009).

De acordo com os dados da figura 4, referentes ao número de acidentes com radiação

por sector de actividade a nível mundial, podemos constatar que apenas 11% dos casos

dizem respeito ao sector da Medicina (Carvalho, 2009).

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

32

Figura 4 - Acidentes radiológicos com efeitos clínicos observáveis em seres humanos ocorridos a nível mundial em

1945-2000 (Fonte: IRSN, França)

Em meio hospitalar, a emissão de radiações não ionizantes (laser, infravermelho,

ultravioleta, entre outras) ocorre em diversas técnicas de diagnóstico, de tratamento e

cirúrgicas. Os profissionais com maior risco de exposição são os técnicos que realizam

exames complementares de diagnóstico e os enfermeiros que executam tratamentos aos

doentes (Cabral e Veiga, 2008).

A exposição a radiações não ionizantes tem efeitos imediatos no profissional de saúde, e

pode contribuir para o envelhecimento prematuro da pele, e o eventual aparecimento de

cataratas e cancro de pele. Os efeitos térmicos sobre os tecidos em exposição

prolongada, podem produzir um desequilíbrio do sistema de termo-regulação,

denominado por "golpe do calor" que pode revelar-se mortal (Faria, 2008).

Os níveis de ruído, em ambiente hospitalar, variam consoante o local, na medida em que

este pode integrar serviços com características e equipamentos diferentes. Existem áreas

que estão expostas a níveis de ruído elevados, nomeadamente as centrais de compressão

de ar e geração de vácuo, as oficinas de manutenção, as centrais térmicas, podendo

ocorrer nestes locais problemas de saúde, designadamente a surdez profissional.

Nas unidades de cuidados intensivos, nos serviços de urgência, bem como em outros

serviços, existe ruído de menor intensidade, que pode, no entanto, tornar-se incómodo

devido aos alarmes sonoros presentes e contínuos dos equipamentos de monitorização

dos doentes. Outro factor a ter em conta é o ruído presente no ambiente hospitalar

resultante quer, do desenvolvimento normal das actividades terapêuticas, quer o que

resulta das visitas, o qual também contribui para um ambiente não terapêutico, muitas

vezes descuidado nas diversas instituições hospitalares (Faria, 2008).

De acordo com um estudo realizado por Afonso e Dias num hospital central, onde

foram avaliados os níveis de ruído numa unidade de internamento, numa unidade de

cuidados especiais, num serviço de apoio e num hall de entrada de grandes dimensões,

concluiu-se que os turnos de trabalho têm influência no ruído produzido, sendo o turno

da manhã o mais ruidoso e aquele cujos os valores ultrapassaram largamente os níveis

sonoros recomendados (2001).

Benavides, citado em Faria, refere tendo em conta o conforto acústico nos diversos

ambientes, os seguintes níveis de ruído: (nos hospitais os valores de ruído medidos em

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

33

decibéis devem estar compreendidos entre os 30 e os 35 dB), nas enfermarias, berçários

e serviços de cirurgia deverá situar-se entre os 35 e os 40 dB; nos laboratórios e áreas de

acesso ao público entre os 40 a 50 dB e nas áreas de serviço entre os 45 e os 55 dB.

Considera que o valor inferior de cada um destes intervalos representa o nível sonoro

para conforto, enquanto que o limite superior significa o nível aceitável para aquela

finalidade. Níveis superiores aos mencionados são tidos como de desconforto (2008).

Outro factor de risco de natureza física é a vibração. Os seus efeitos para além de

atingirem os profissionais que exercem funções num hospital, os doentes e as estruturas

da edificação, atingem também um determinado tipo de equipamentos sensíveis,

impedindo o seu adequado funcionamento. Felizmente este tipo de risco é pouco

frequente a nível das instituições hospitalares, afectando sobretudo as áreas dos

laboratórios e das oficinas (Faria, 2008).

A literatura existente sobre as vibrações em meio hospitalar é escassa, contudo, existe

um estudo realizado sobre a exposição a vibrações induzidas pela utilização de

instrumentos rotatórios pelos cirurgiões dentistas. Este estudo demonstra que não existe

risco ocupacional em termos das vibrações transmitidas às mãos, mesmo operando

continuamente ao longo de seis horas de trabalho. Por outro lado, o conjunto de efeitos

fisiológicos das vibrações, leva a crer que, fortes oscilações mecânicas diminuem a

capacidade de desempenho e em muitas situações aumentam o risco de acidentes de

trabalho (Toscano, 2008).

Um outro factor de risco físico é a iluminação. Num hospital os diferentes tipos de

utilizadores e as diversas actividades realizadas requerem cuidados particulares e

especializados, no sentido de ser proporcionado o adequado bem-estar visual. Assim, a

questão da iluminação, deve ter em conta as salas de cirurgia dos blocos operatórios, as

salas de trabalho de enfermagem, as enfermarias e os laboratórios. A iluminação

insuficiente nestes casos pode dar origem a consequências graves quer para o

profissional quer para o doente. Para diminuir os riscos nas salas de cirurgia, a

iluminação eléctrica deve ser feita com focos de 24 volts. A adequação da iluminação

nas salas de preparação dos doentes para cirurgia ou mesmo para a realização de um

simples exame, como por exemplo um electrocardiograma, contribui muito para a

redução de acidentes de trabalho (Faria, 2008).

O reconhecimento dos riscos referentes à iluminação pode, entre outros factores, ser

identificado quer pelas queixas dos profissionais, quer pela investigação e análise dos

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

34

acidentes ocorridos por iluminação deficiente, inadequada, ou ainda pela verificação de

áreas sombreadas nos locais de trabalho (Faria, 2008).

Uma das funções da arquitectura é garantir ao homem condições térmicas compatíveis

com o conforto ambiental humano no interior dos edifícios, independentemente das

condições climatéricas exteriores. No entanto, a intervenção humana, no acto da

construção dos edifícios, altera as condições climáticas locais, das quais também

depende a resposta térmica do edifício (Ribeiro, 2007). Em contexto hospitalar, apesar

de ser dado grande ênfase ao conforto ambiental para a recuperação dos doentes,

existem serviços onde o ambiente térmico pode originar situações de stress térmico

(Silva e Corrêa, 2008). Para além disso, existem determinados locais nos hospitais, por

exemplo, as centrais térmicas, as centrais de esterilização, que são particularmente

susceptíveis a situações de stress térmico (Cabral e Veiga 2008).

Oliveira e Costa (2004), citados em Costa et al. mostraram, através de um estudo do

conforto térmico em ambiente hospitalar, que as condições térmicas eram totalmente

inadequadas para a recuperação e o restabelecimento da saúde dos doentes e

provocavam stress para os diversos profissionais das enfermarias. Concluiu-se que as

unidades estudadas necessitariam de uma reestruturação em termos de circulação do ar

interior. O aumento do número de ventiladores em funcionamento e a permanência por

longos períodos de tempo das janelas abertas, certamente facilitariam uma maior

circulação de ar nestes ambientes e, consequentemente, a diminuição das sensações de

desconforto térmico (2006).

Algumas das variáveis que interferem no problema do conforto térmico são aquelas que

regulam os intercâmbios térmicos e pertencem ao espaço habitado: a temperatura do ar;

a temperatura das paredes circundantes; a radiação solar; a velocidade do vento e a

humidade relativa do ar (Costa et al., 2006).

Segundo, a publicação de Santos, citado em Faria, no que diz respeito à qualidade do

ambiente hospitalar, a OIT, recomenda que nos locais de trabalho onde são executadas

actividades que exijam solicitação intelectual e atenção constante, como é o caso dos

hospitais, devem verificar-se as seguintes condições de conforto:

• Índice de temperatura efectiva no inverno entre 20 a 24°C, e no verão entre 23 e

26°C;

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

35

• Velocidade do ar no inverno 0,12 m/s (metros por segundo), e no verão 0,25

m/s;

• Humidade relativa do ar entre 40% a 65%;

• Renovação do ar deve ser de 25 m3 por pessoa e por hora (2008).

3.6. Risco mecânico

As lesões mecânicas estão directamente relacionadas com as condições de trabalho dos

profissionais de saúde e sendo muito frequentes em contexto hospitalar, abrangem as

diversas categorias profissionais.

Os riscos mecânicos estão sobretudo associados aos perigos que resultam das condições

das instalações, da disposição dos espaços e do seu estado de conservação, da

manipulação de equipamentos ou máquinas, da utilização de ferramentas inadequadas

ou defeituosas e do armazenamento de materiais.

Faz-se notar que os riscos mecânicos podem originar lesões, do tipo cortes ou picadas,

que não se encontram associadas ao risco biológico ou ao risco químico.

No quadro seguinte apresentam-se alguns dos riscos mecânicos presentes em meio

hospitalar e as respectivas lesões a que os profissionais se encontram expostos:

Tabela 2 - Riscos mecânicos e respectivas lesões

Riscos Mecânicos Alguns exemplos de lesões mecânicas

Espaço exíguo (entre camas, entre máquinas) Contusões;

Luxações.

Super-aproveitamento dos espaços (armazenamento de materiais em altura)

Contusões;

Esmagamento;

Luxações.

Manipulação de objectos ou equipamentos com saliências e esquinas

Contusão;

Traumatismos;

Luxações.

Capítulo III – Riscos em meio hospitalar

36

Riscos Mecânicos Alguns exemplos de lesões mecânicas

Manipulação de objectos cortantes e perfurantes (sem agentes biológicos ou químicos)

Cortes;

Picadas;

Amputações

Transporte de materiais, máquinas, equipamentos em espaços insuficientes

Esmagamento;

Traumatismo.

Manipulação de materiais com temperaturas elevadas

Queimaduras.

Pavimento húmido ou em mau estado de conservação – Quedas ao mesmo nível

Entorses;

Fracturas;

Traumatismos.

Utilização de ferramentas inadequadas Cortes;

Esmagamento.

3.7. Risco eléctrico

A electricidade estática é outro dos riscos ocupacionais a que os profissionais de uma

instituição hospitalar estão expostos, e que decorre de um fenómeno associado à

acumulação de cargas eléctricas em qualquer material condutor, semicondutor ou

isolante.

A justificação para a ocorrência deste tipo de choques é normalmente atribuída a

excessiva quantidade de ar seco (com baixo teor de humidade relativa), o qual sendo

isolador, não permite que as descargas eléctricas se façam de forma contínua.

O aparecimento de electricidade estática em unidades de saúde deve-se, em grande

parte, à presença de diversos equipamentos eléctricos e a uma deficiente manutenção

dos mesmos e condução dessas cargas à terra. Por outro lado, a acumulação de cargas

eléctricas no corpo humano (e posterior descarga) pode ocorrer devido ao atrito entre o

pavimento e o calçado isolador, com solas sintéticas, como acontece, por exemplo, com

os socos utilizados em inúmeros serviços assistenciais e blocos cirúrgicos (Arrabaço,

2008)

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

37

CAPÍTULO IV – ACIDENTES DE TRABALHO EM MEIO HOSPITALAR

4.1. Enquadramento legal

Os acidentes de trabalho têm ao nível da legislação nacional um bom suporte legal,

encontrando-se definidos os conceitos de acidente, bem como a respectiva reparação

dos danos.

O Decreto-Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro é uma lei-quadro que aprova o regime

jurídico dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais e abrange todos os

funcionários por conta de outrem.

Posteriormente, devido à necessidade de clarificação do regime legal dos acidentes em

serviço (designação utilizada na administração pública para acidentes de trabalho) e das

doenças profissionais na administração pública, é publicado o Decreto-Lei n.º 503/99 de

20 de Novembro que estabelece o regime jurídico dos acidentes ocorridos e das doenças

profissionais ao serviço da administração pública, uma vez que a última publicação era

de 1965 e encontrava-se perfeitamente ultrapassada e desenquadrada das novas

exigências.

Conforme o Decreto-Lei n.º 503/99 de 20 de Novembro, o conceito de acidente em

serviço é considerado como “… o acontecimento não intencional inesperado que se

verifique no local e no tempo de trabalho. Acidente que se verifique no local de

trabalho e produza directa ou indirectamente: lesão corporal, perturbação funcional,

doença e que cause a morte, ou redução da capacidade de trabalho ou de ganho…” no

capítulo II, secção I, no artigo 7 a qualificação do acidente em serviço é “(...) todo o que

ocorre nas circunstâncias em que se verifica o acidente de trabalho, nos termos do

regime geral, incluindo o ocorrido no trajecto de ida e de regresso para e do local de

trabalho…”

A Lei n.º 99/2003 de 27 de Agosto que aprova o código do trabalho, no artigo 284º

define o acidente de trabalho como “(...) o sinistro, entendido como acontecimento

súbito e imprevisto, sofrido pelo trabalhador que se verifique no local e no tempo de

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

38

trabalho.” e no seu artigo 285º alarga este conceito ao acidente que ocorra no trajecto de

ida e de regresso do local de trabalho.

4.2. A realidade portuguesa dos acidentes de trabalho em meio hospitalar

Apesar de historicamente a categoria dos profissionais de saúde não ser considerada de

alto risco para acidentes de trabalho, essa situação tomou novo rumo mediante diversos

estudos e estatísticas que confirmaram que esses profissionais, especialmente em

unidades hospitalares, estão expostos a um maior número de riscos ocupacionais do que

outros profissionais considerados habitualmente mais susceptíveis (Castro et al., 2008).

A realidade em Portugal no que se refere ao número de acidentes de trabalho registados,

tomando como base os inquéritos preenchidos pelas instituições do Ministério da Saúde,

tem vindo a aumentar desde o ano de 1991 não só em valores absolutos mas também

nos valores globais de incidência, registando-se em 1999 um total de 3693 ocorrências o

que corresponde a uma taxa de incidência que se traduz em cerca de 31 acidentes de

trabalho por cada 1000 trabalhadores.

Para este aumento global da sinistralidade poderão ter contribuído diversos factores,

nomeadamente as modificações ocorridas nas características do trabalho, associadas à

introdução de novas tecnologias ou o conhecimento do risco associado a determinadas

doenças infecciosas. Neste contexto, deve referir-se, por exemplo, o aumento

progressivo de casos participados de acidentes de trabalho provocados por picada,

situação que há alguns anos atrás não assumia o significado que hoje se lhe atribui.

Em matéria de evolução dos acidentes de trabalho, em meio hospitalar, deve salientar-

se, ainda, que as maiores taxas de crescimento se verificaram nos sectores e grupos que

têm registado maior aumento do número de profissionais, como são os casos dos

hospitais distritais e dos profissionais com actividade mais associada à prestação de

cuidados de saúde aos doentes (Mota, 2002).

Tendo por base o já mencionado relatório, acidentes de trabalho em 1999, da Direcção

de Serviços de Estudos e Informação do Departamento de Recursos Humanos do

Ministério da Saúde é possível concluir o seguinte:

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

39

• De entre os grupos de profissionais com maior expressão, as maiores taxas de

incidência verificaram-se com os auxiliares de acção médica e com os

profissionais de enfermagem (57,8 e 45,9 por mil). No conjunto, estas duas

categorias profissionais registaram cerca de 65% do total dos acidentes de

trabalho;

• A grande maioria dos acidentes (80,5%) ocorreu em indivíduos do sexo

feminino, os quais, em 1999, representavam 73% dos efectivos;

• Os hospitais centrais, onde se integravam cerca de 40% dos efectivos totais,

registaram 50,9% do total das ocorrências;

• O grupo etário situado entre os 25-29 anos regista a maior percentagem de

ocorrências (15,3%), seguindo-se o grupo dos 30-34 anos, com cerca de 14,3%

dos casos;

• No que diz respeito aos locais de trabalho, o serviço de internamento registou a

maior percentagem de ocorrências (36,6%);

• Ao longo dos meses do ano, o maior número de acidentes ocorreu no mês de

Março;

• A segunda-feira foi o dia da semana que registou maior frequência de acidentes.

Cerca de 46,1% dos casos verificaram-se no primeiro dia de trabalho após o

descanso semanal;

• A maior percentagem de acidentes ocorreu no período entre as 8 e as 12 horas,

registando-se, no momento da ocorrência, 1 a 3 horas após o início do trabalho;

• Relativamente à acção que conduziu à lesão, a picada assume o valor percentual

mais significativo (36,7%), seguido da situação de queda ao mesmo nível do

funcionário com 20,8%;

• Os instrumentos, enquanto agentes da lesão, revelaram-se como sendo a situação

mais frequente com 38,2% das ocorrências;

• As mãos constituem a parte do corpo mais atingida, com 48,9% das situações

notificadas;

• Do total de acidentes, 29,1% resultaram em incapacidade temporária (absoluta

ou parcial) e cerca de 3,8% em incapacidade permanente;

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

40

• O número de dias de trabalho perdidos ascendeu a 44162, tendo-se registado 49

situações de recidiva, com um total de 3845 dias de baixa (Mota, 2002).

A exposição a riscos ocupacionais varia consoante a categoria profissional, a actividade

realizada e a área de especialização dentro dos respectivos serviços de saúde.

4.3. Acidentes de trabalho por exposição ao risco biológico

A nível nacional são escassos os dados referentes aos acidentes de trabalho associados ao

risco biológico. Referência para um estudo do Centro Hospitalar de Gaia em 2003, onde

se evidencia que os acidentes com produtos biológicos e picadas acidentais são

frequentes e que mais de 1/3 destes acidentes ocorreram com enfermeiros (Vieira et al.,

2003).

A investigação sobre a “caracterização e análise dos acidentes de trabalho com

profissionais de enfermagem numa instituição hospitalar” permitiu constatar que 57, 6%

dos acidentes ocorreram por picada com agulha, sendo o serviço de Urgência aquele que

regista maior número de ocorrências (Faria, 2008).

Um estudo sobre o risco biológico das lesões perfurantes em profissionais de saúde no

Hospital de Santo António, permitiu constatar que, no ano de 2000, dos 252 acidentes de

trabalho avaliados segundo a natureza da lesão, 78 (30,9%) ocorreram devido a lesões

perfurantes através de picadas por agulhas, sendo preponderantes em três categorias

profissionais: enfermeiros, auxiliares de acção médica e médicos (Mota, 2002).

Do trabalho “acidentes de serviço em profissionais de saúde: identificação,

representações e comportamentos face à exposição microbiológica acidental” no Centro

Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. e no Hospital de São José, no período de tempo de

2002 a 2006, obteve-se como principal ocorrência a picada (67%), principalmente com

agulhas (41,6%) e lâminas de bisturi (13,1%) (Arrabaço, 2008).

Numa incursão pela literatura internacional foram encontrados diversos estudos sobre

esta temática realizados em vários países, com particular ênfase para alguns estudos

efectuados nos Estados Unidos.

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

41

Referência para a investigação dos acidentes de trabalho, com material biológico em

profissionais de saúde de hospitais públicos do Brasil, que permitiu concluir que as

categorias profissionais mais afectadas são os cirurgiões dentistas, médicos e os técnicos

de laboratório (Caixeta e Branco, 2003). Contrariamente ao constatado no estudo

realizado no Hospital de Santo António, (acima mencionado) onde se destaca como

categorias profissionais mais afectadas, os auxiliares de acção médica, enfermeiros e

médicos.

Na ocorrência de acidentes de trabalho associados a um serviço de cuidados intensivos,

no período de Fevereiro de 2000 a Janeiro de 2001, foi encontrado um índice de risco

biológico de 50% para o contacto da pele e mucosa com sangue e secreções, seguindo-se

40% de ferimentos por material perfurante, tendo sido a principal causa as agulhas, os

tubos de secreções, os tubos de cateteres e as sondas (Nishide et al., 2001).

Através da investigação dos acidentes biológicos entre profissionais de saúde constatou-

se que as categorias profissionais mais acometidas a este tipo de acidentes são os

auxiliares de acção médica e os enfermeiros (Silva et al., 2009).

4.4. Acidentes de trabalho por exposição a agentes químicos

No que concerne aos acidentes de trabalho por exposição ao risco químico raros foram os

trabalhos publicados neste âmbito, sendo escassos os dados disponíveis a nível nacional e

internacional.

Segundo Giroux (1992), citado em Faria, a existência de aparentemente poucos casos de

acidentes de trabalho relacionados com factores de risco químico, poderá estar

relacionado com o facto dos profissionais de saúde não estarem particularmente

sensibilizados e alertados para este factor de risco. Alguns dos AT associados ao risco

químico ocorrem e os profissionais não os relacionam com a actividade que estão a

desempenhar (2008).

Segundo Costa e Felli, a ocorrência de acidentes de trabalho com exposição a produtos

químicos sucede devido à existência de locais de trabalho mal ventilados, espaços

físicos inadequados, equipamentos com problemas, ritmos de trabalho acelerados,

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

42

utilização inadequada dos equipamentos de protecção individual, ausência de medidas

de protecção colectiva, ausência da rotulagem e da ficha de dados de segurança dos

produtos (2005).

Referência para o estudo sobre acidentes de trabalho envolvendo os olhos o qual refere a

avaliação de riscos ocupacionais com trabalhadores de enfermagem, sendo a principal

causa do trauma o contacto com substâncias químicas, nomeadamente com hipoclorito de

sódio (Almeida et al., 2005).

4.5. Acidentes de trabalho associado ao risco ergonómico

No que concerne ao risco ergonómico uma panóplia de estudos foram realizados ao

longo dos últimos anos, sobretudo associados à categoria profissional de enfermagem.

Um estudo realizado na Universidade de Campinas, no Estado de São Paulo, revela que

as causas mais frequentes da ocorrência de acidentes de trabalho são: o levantamento ou

transferência de peso excessivo, associados à presença de doentes obesos e/ou

dependentes durante a tarefa de higienização do doente na cama, bem como o transporte

de equipamentos e macas (Silva e Marziale, 2002).

Da investigação sobre as lesões que afectam a coluna vertebral nos profissionais de

enfermagem, verificou-se que dos 531 acidentes notificados por estes profissionais,

durante um período de oito anos, 37 afectaram a coluna vertebral. Destes, 30,5%

ocorreram devido à movimentação de equipamentos e materiais, 13% durante a

transferência de doentes e na tarefa de amparar o doente na queda e 4,3% no transporte

de doentes em macas, na realização dos cuidados de higiene aos doentes na cama e na

movimentação de mobiliário (Parada et al., 2002).

A análise dos acidentes de trabalho com profissionais de enfermagem permitiu conhecer

que dos 192 acidentes notificados entre 2000 e 2005, numa unidade hospitalar

brasileira, 80 foram provocados por riscos ergonómicos (lombalgias) (Moreira, 2007).

A nível nacional referência, uma vez mais para o estudo sobre a”caracterização e análise

dos acidentes de trabalho com profissionais de enfermagem numa unidade hospitalar”,

no qual se verifica que do total de 158 acidentes notificados entre 2000 e 2004, 28

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

43

ocorreram devido a esforços excessivos/movimentos inadequados, o que representa

17,7% dos acidentes (Faria, 2008).

4.6. Acidentes de trabalho associado ao risco mecânico

O estudo sobre os “Acidentes de trabalho envolvendo os olhos: avaliação de riscos

ocupacionais com trabalhadores de enfermagem”, verificou-se que um dos traumas

oculares foi provocado por um agente mecânico, ao colocar o suporte de soro fisiológico

(Almeida et al., 2005).

De acordo com a investigação dos “Acidentes de trabalho: um estudo sobre a ocorrência

em um hospital geral”, dos 861 acidentes estudados, 290 (33,7%) ocorrem devido a

quedas e traumas. Evidencia ainda a ocorrência de 3 acidentes por entrada de corpos

estranhos nos olhos (Ruiz, et al., 2004).

Referência, ainda para a investigação dos acidentes de trabalho com os profissionais de

enfermagem ocorridos no período compreendido entre 1999 e 2000 que conclui que 47%

dos acidentes em ambiente hospitalar ocorre devido a quedas ao mesmo nível (Nicolete e

Robazzi, 2000).

A nível nacional, os dados da unidade local de saúde do Baixo Alentejo, E.P.E. revelam

que entre 2007 e 2008 ocorreram, respectivamente, 73 e 56 acidentes de trabalho, que

associados ao risco mecânico apresentam a seguinte distribuição (Ruivo, 2009): Tabela 3 - Distribuição dos acidentes de trabalho associados ao risco mecânico na unidade local de saúde do Baixo

Alentejo (2007/2008)

Risco Mecânico 2007 2008

Cortes 12,5% 2,7%

Quedas ao mesmo nível 3,6% 8,2%

Quedas a diferentes níveis 0% 2,7%

Entalamentos 1,8% 1,4%

Queda de objectos 1,8% 2,7%

Adaptado: Ruivo, 2009

Capítulo IV – Acidentes de trabalho em meio hospitalar

44

A caracterização e análise dos acidentes de trabalho com profissionais de enfermagem

num hospital público, revela a seguinte distribuição em termos de risco mecânico:

Tabela 4 - Acidentes de trabalho associados ao risco mecânico (2000-2004)

Risco Mecânico 2007

Cortes 3,2%

Quedas ao mesmo nível 10,1%

Quedas a diferentes níveis 0%

Entalamentos 3,2%

Queda de objectos 1,9%

Adaptado: Faria, 2008

Da análise dos estudos nacionais acima apresentados, constata-se que os acidentes de

trabalho associados ao risco mecânico mais frequentes são, os cortes e as quedas ao

mesmo nível.

45

Parte II –

Desenvolvimento do

Estudo�

Capítulo V – Materiais e Métodos

46

CAPÍTULO V – MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. Definição do problema e pertinência do estudo

A carência de estudos reais e efectivos sobre acidentes de trabalho em meio hospitalar,

sobretudo a nível nacional, constitui um dos maiores problemas da temática em estudo.

A pertinência deste estudo justifica-se, pela necessidade de traçar um plano de

orientação para prevenir e combater a ocorrência dos AT em contexto hospitalar,

minimizando desta forma as lesões físicas e psicológicas dos profissionais de saúde e os

custos directos e indirectos dos AT para as instituições. Assim como a importância da

criação de linhas de orientação gerais para as instituições de saúde, que permitirá obter

estimativas oficiais, organizadas e declaradas dos AT.

5.2. Objectivos do estudo

Este estudo pretende apresentar a caracterização e análise dos acidentes de trabalho

notificados pelos profissionais de uma instituição hospitalar, relacionando-os com os

riscos ocupacionais. Para a concretização deste objectivo geral definiram-se os

seguintes objectivos específicos:

• Recolher de informação relativa aos acidentes de trabalho participados no

período compreendido entre 1 de Outubro de 2007 a 1 de Outubro de 2008, na

unidade hospitalar seleccionada;

• Analisar e caracterizar a informação recolhida sobre os acidentes de trabalho

participados no período de tempo seleccionado;

• Evidenciar os riscos profissionais a que os funcionários de uma instituição

hospitalar se encontram expostos.

Capítulo V – Materiais e Métodos

47

5.3. População alvo e amostra do estudo

A população alvo foram todos os funcionários de uma instituição hospitalar localizada

no Norte do País, com internamento e atendimento em diferentes especialidades na área

da saúde que têm como finalidade a prestação de assistência e o ensino.

O hospital em estudo tem cerca de 5202 funcionários distribuídos por diversos serviços,

dos quais 3762 são de sexo feminino e 1440 são do sexo masculino. No que concerne,

às categorias profissionais existem 1884 enfermeiros, 1075 auxiliares de acção médica,

1311 assistentes hospitalares (médicos), 380 administrativos, 552 técnicos e outros

(vidé figura 5).

Figura 5 - Caracterização da população alvo atendendo à categoria profissional e ao género

Relativamente à distribuição da população em estudo atendendo à faixa etária, o maior

número de profissionais de saúde encontra-se distribuído entre os 25 e os 54 anos de

idade (vide figura 6).

Capítulo V – Materiais e Métodos

48

Figura 6 - Distribuição da população em estudo atendendo à faixa etária

A amostra do estudo é constituída por todos os profissionais de saúde que participaram

a ocorrência de AT, nos modelos de participação de acidentes de trabalho no período de

tempo compreendido entre 01 de Outubro de 2007 a 01 de Outubro de 2008.

A consulta dos dados referentes aos acidentes em serviço foi realizada manualmente,

tendo sido consultados todos os modelos de participação e de investigação de acidentes

de trabalho.

5.4. Instrumentos de recolha de dados

De acordo com os objectivos deste estudo efectuou-se a consulta dos modelos de

participação dos acidentes de trabalho – modelo de participação clínica do acidente em

serviço (anexo A) e modelo de participação do acidente em serviço (anexo B) no

período de tempo de 01 de Outubro de 2007 a 01 de Outubro de 2008.

A recolha de informação processou-se, igualmente por análise do modelo de

investigação de HST dos acidentes de trabalho (anexo C) e através da observação dos

locais de trabalho dos profissionais de saúde.

As variáveis utilizadas para caracterizar os acidentes de trabalho ocorridos no período

5.4.1. Descrição das variáveis

Capítulo V – Materiais e Métodos

49

de tempo seleccionado, são baseadas na informação a seguir apresentada, contudo, nem

todas as variáveis necessitam de descrição:

Modelo de participação clínica dos acidentes em serviço (anexo A):

a) Género (feminino ou masculino);

b) Data de nascimento;

c) Serviço - serviço a que pertence o sinistrado;

a) Categoria profissional - engloba os seguintes grupos profissionais:

• Auxiliares de acção médica: grupo profissional integrado em

unidades ou estabelecimentos de saúde que colaboram, sob

orientação dos enfermeiros e demais profissionais qualificados, em

termos de apoio técnico;

• Enfermeiros;

• Médicos ou assistentes hospitalares;

• Técnicos: abrange os técnicos de diagnóstico e terapêutica (análises

clínicas, fisioterapeutas, radiologia, cardiopenumologia, etc.), os

técnicos superiores de saúde (farmacêuticos), os técnicos superiores

(higiene e segurança no trabalho, gestores, engenheiros, etc.);

• Outros: todos os profissionais não inseridos nas categorias acima

mencionadas, designadamente aos operários, administrativos, entre

outros.

d) Relação jurídica de emprego – refere-se ao tipo de vínculo do funcionário

com a instituição (quadro ou contrato);

f) Data de início de funções na instituição – permite obter informações sobre

a antiguidade do funcionário na instituição;

g) Data do acidente - dia da semana, mês e ano da ocorrência do acidente;

h) Tipo de ocorrência - tipo de acidente ocorrido (queda, lesão por esforço,

entre outros);

i) Localização da lesão - parte do corpo atingida no acidente;

Capítulo V – Materiais e Métodos

50

j) Incapacidade – após a ocorrência do sinistro, o funcionário pode

apresentar:

•••• Incapacidade temporária absoluta: situação que se traduz na

impossibilidade temporária do sinistrado comparecer ao serviço, por não

se encontrar apto para o exercício das suas funções;

•••• Incapacidade temporária parcial: situação em que o sinistrado pode

comparecer ao serviço, embora se encontre ainda impossibilitado para o

pleno exercício das suas funções habituais;

•••• Sem incapacidade: sinistrado encontra-se apto para o exercício da

actividade profissional;

k) Seguimento após o acidente: o funcionário tem acompanhamento médico

posterior à ocorrência (internamento, consulta, médico de pessoal).

Modelo de participação dos acidentes em serviço (anexo B):

a) Hora do acontecimento

b) Local do episódio: diz respeito ao local onde ocorreu o acidente,

nomeadamente:

• MCDT: serviços onde são realizados exames aos doentes,

nomeadamente, radiologia, fisioterapia, laboratórios, entre outros;

• Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

c) Descrição: o funcionário descreve as circunstâncias em que ocorreu o

acidente, indicando se foi acidente de trabalho ou em itinerário. Por acidente

em itinerário entende-se o acidente de trabalho ocorrido no trajecto de ida e

de regresso para e do local de trabalho.

Modelo de investigação de HST dos acidentes em serviço (anexo C):

a) Habilitações literárias;

b) Local do acidente;

c) Hora de entrada na instituição no dia do acidente;

d) Último dia de folga antes da ocorrência do acidente;

Capítulo V – Materiais e Métodos

51

e) Análise das causas: investigam-se as causas da ocorrência do acidente de

trabalho;

f) Medidas propostas para eliminar ou reduzir os acidentes em serviço.

O processo de recolha de dados iniciou-se com o requerimento do consentimento do

Conselho de Administração, da Comissão de Ética e do Director de Serviço da

instituição de saúde onde se realizou a investigação.

Os dados dos acidentes em serviço participados no período da investigação, foram

obtidos através da consulta manual dos modelos de participação e de investigação HST

dos acidentes de trabalho.

Sempre que ocorre um acidente de trabalho, o funcionário dirige-se ao Serviço de

Urgência, onde é preenchido o modelo de participação clínica do acidente em serviço.

Posteriormente, e com o modelo acima mencionado, o sinistrado dirige-se ao serviço de

medicina no trabalho para efectuar o levantamento e preenchimento do modelo de

participação de acidente em serviço que deve ser entregue, juntamente com o modelo de

participação clínica no serviço de gestão de recursos humanos.

O modelo de investigação HST dos acidentes de trabalho aborda aspectos de higiene e

segurança importantes para a compreensão das causas da ocorrência dos acidentes

estudo.

5.5. Recolha de dados

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

52

CAPÍTULO VI – TRATAMENTO ESTATÍSTICO E ANÁLISE DOS DADOS

6.1 Análise exploratória de dados

Neste capítulo será apresentado o tratamento estatístico utilizado neste estudo, bem

como os resultados obtidos através dos dados recolhidos pelos modelos de participação

dos acidentes em serviço e de investigação de HST.

No período de estudo ocorreram cerca 300 de acidentes de trabalho.

Relativamente ao tipo de acidentes de trabalho constata-se, na representação gráfica

número 7, que a quase totalidade dos acidentes ocorreram dentro da unidade hospitalar,

sendo que, somente uma pequeníssima percentagem, pode ser contabilizado como

acidente em itinerário.

Figura 7 – Número total de acidentes participados

De acordo com a figura 8, a esmagadora maioria dos acidentes em serviço verifica-se

em funcionários do sexo feminino, a este facto não será estranho, por um lado a maior

percentagem de trabalhadores do sexo feminino na instituição hospitalar em estudo e

por outro lado (como a diante se verificará) a prevalência do género feminino nas

categorias profissionais mais susceptíveis a acidentes de trabalho.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

53

Figura 8 - Distribuição dos acidentes em serviço por género

A variável faixa etária foi agrupada em cinco escalões. A figura 9 indica que os

profissionais que mais sofreram e participaram acidentes de trabalho foram os que se

situam nas faixas etárias dos 25 aos 44 anos. Os profissionais na faixa etária superior a

55 anos e entre os 18 e 24 anos foram os que menos acidentes sofreram.

Figura 9 - Distribuição dos acidentes em serviço por faixa etária dos profissionais

O gráfico seguinte sugere que, inequivocamente, os funcionários com escolaridade mais

elevada são os mais susceptíveis à ocorrência de acidentes de trabalho (vide figura 10).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

54

Figura 10 - Distribuição dos acidentes em serviço segundo as habilitações literárias

A figura 11 mostra a distribuição das categorias profissionais afectadas por acidentes de

trabalho, onde se verifica que os enfermeiros são os que mais sofrem acidentes,

seguidos dos auxiliares de acção médica e dos médicos, factor que pode estar associado

ao facto de serem os profissionais em maior número nas instituições hospitalares.

Figura 11- Distribuição dos acidentes em serviço por categorias profissionais

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

55

A visualização do gráfico seguinte permite-nos, numa primeira análise, verificar que os

acidentes de trabalho não dependem directamente da relação contratual do profissional

com a unidade de saúde.

Figura 12 - Distribuição dos acidentes em serviço por vínculo à instituição

A figura 13, representa a distribuição dos acidentes de trabalho notificados por

antiguidade na instituição, sendo que os funcionários com antiguidade superior a 10

anos e inferior a 2 anos foram os que respectivamente mais notificaram acidentes.

Figura 13 - Distribuição dos acidentes em serviço por antiguidade na instituição

A figura 14 destaca que os serviços mais afectados pela ocorrência de acidentes são os

internamentos e os blocos operatórios, provavelmente associado ao tipo de actividades

desenvolvidas nestas áreas.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

56

Figura 14 - Distribuição dos acidentes por serviços

No que se refere ao local de ocorrência dos acidentes de trabalho, verifica-se que nas

enfermarias, salas cirúrgicas e salas das unidades de cuidados intensivos ocorrem mais

acidentes.

Figura 15 - Distribuição dos acidentes em serviço por local de ocorrência

As tarefas mais associadas à ocorrência de acidentes são a prestação de cuidados aos

doentes, seguidos da movimentação de doentes (figura 16).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

57

Figura 16 - Distribuição dos acidentes em serviço por tarefa a executar no momento do acidente

Da análise do número de acidentes, durante o período em estudo, observa-se que não

existe uma significativa prevalência de um mês ou de meses em relação aos demais.

Salienta-se o facto do período a que se reportam os dados ser demasiado pequeno para

concluir acerca de uma eventual periodicidade mensal dos acidentes de trabalho.

Figura 17 - Distribuição dos acidentes em serviço por meses do ano

A diminuição do número de acidentes de trabalho verificada, sobretudo, ao fim-de-

semana poderá estar relacionada com uma eventual diminuição (em média) do número

de profissionais de saúde a desempenhar funções na unidade hospitalar durante o

período de tempo referido e, por consequência, a verificada diminuição do número de

acidentes (ver figura 18).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

58

Figura 18 - Distribuição dos acidentes em serviço por dia da semana

O presente gráfico demonstra que os acidentes ocorrem mais entre as 8h e as 12h.

Figura 19 - Distribuição dos acidentes em serviço por hora do dia

Podemos constatar através do gráfico abaixo apresentado que após uma hora de trabalho

e até às seis horas de trabalho correspondem ao momento em que são notificados mais

acidentes de trabalho (ver figura 20).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

59

Figura 20 - Distribuição dos acidentes em serviço por número de horas de trabalho cumpridas no momento do acidente

Os acidentes de trabalho são despoletados entre o 1º e o 3º dia após o descanso semanal

dos funcionários e raramente ocorrem ao 7º e 8º dia após o descanso semanal,

provavelmente associado ao facto de a maioria dos profissionais não execerem

actividades mais de seis dias seguidos (figura 21).

Figura 21 - Distribuição dos acidentes em serviço face ao último dia de descanso

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

60

Relativamente ao tipo de lesão verifica-se que a picada é a lesão que origina mais

acidentes seguida do esforço excessivo/movimento inadequado.

Figura 22 - Distribuição dos acidentes em serviço por tipo de lesão

A figura 23 indica a distribuição dos acidentes de trabalho relativamente à parte do

corpo atingida, onde se constata que os dedos das mãos são os mais atingidos, em

resultado do elevado número de picadas.

Figura 23 - Distribuição dos acidentes em serviço por parte do corpo atingida

Os acidentes de trabalho participados estão associado sobretudo ao risco biológico,

devido ao tipo de actividade exercida nas instituições de saúde, seguido do risco

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

61

mecânico (figura 24).

Figura 24 - Distribuição dos acidentes em serviço por tipo de risco

Na maioria dos acidentes de trabalho os sinistrados ficaram sem incapacidade, apenas

uma pequena parte resultou em incapacidade temporária absoluta.

Figura 25 - Distribuição dos acidentes em serviço por tipo de incapacidade

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

62

No gráfico 26, verifica-se que os acidentes de trabalho raramente deram origem a

episódios de internamento.

Figura 26 - Distribuição dos acidentes em serviço por necessidade de internamento

Contrariamente ao gráfico anterior, a maioria dos acidentes de trabalho despoletaram

um episódio de consulta em diversas especialidades.

Figura 27 - Distribuição dos acidentes em serviço por necessidade de consulta médica

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

63

6.2 Análise Factorial das Correspondências

A análise factorial das correspondências (adiante simplesmente designada por AFC)

sendo um dos métodos factoriais da análise de dados integrados no domínio da

estatística multivariada, é uma técnica essencialmente descritiva e adaptada por

excelência ao tratamento de dados contidos em quadros muldimensionais de grandes

dimensões (os princípios teóricos da AFC encontram-se fundamentados em disciplinas

como a Álgebra Linear e a Estatística Multivariada). A AFC possui como objectivo a

descrição das estruturas relacionais subjacentes aos dados de partida2.

Sobre uma matriz de input constituída por 0 e 1 (ver adiante a descrição dos dados de

partida3), é possível encontrar os “factores” (características estruturais básicas) que

melhor explicam as relações de proximidade e oposição no interior do conjunto das Q

variáveis (e p modalidades), no interior do conjunto das n amostras e nos dois conjuntos

em simultâneo.

Q Variáveis

1 j p modalidades

p - nº total de modalidades

n - nº total de amostras

n

Figura 28 - Matriz de partida para a Análise de Dados (AFC)

Inerente à aplicação prática dos métodos factoriais, está a definição de uma estratégia

recursiva, baseada na confrontação entre a codificação dos dados iniciais e a posterior

interpretação dos resultados obtidos em função da codificação adoptada. Entende-se,

neste trabalho, por codificação dos dados de partida, toda uma série de operações de

transformação e rearranjo dos dados, até se obter as matrizes de input que, submetidas à

AFC, conduzem a resultados interpretáveis. As codificações utilizadas foram:

2 A propósito dos métodos factoriais observam Garcia Pereira e Jorge de Sousa, (1988, pág. 9) «…O objectivo dos métodos descritivos é encontrar, com um mínimo de hipóteses, à priori, uma representação aproximada do quadro de partida que garanta o máximo de conformidade geométrica com os dados…».

3 O entendimento que neste trabalho fazemos sobre os conceitos de variável e/ou modalidade poderá ser, em parte, esclarecido no capítulo anterior e poderá agora ser complementado pela visualização da Tabela 5.

Zij Amostras i

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

64

consideração de códigos identificadores para as amostras e modalidades; definição de

limites de classes para as diferentes modalidades; agregação (na mesma variável) de

diferentes modalidades; desdobramento da matriz inicial dos dados de partida em sub-

matrizes; eliminação de algumas variáveis e/ou amostras; projecção de modalidades em

suplementar, etc. A justeza dos resultados só pode ser avaliada e validada caso a caso,

face à clareza das interpretações sugeridas pela projecção da nuvem de pontos, o que

implica muitas vezes "voltar atrás" para que, numa perspectiva retroactiva, figura 29, se

possam ensaiar novas codificações, analisando-se em seguida as eventuais melhorias

que essas modificações produziram no esclarecimento do fenómeno em estudo.

Figura 29 - Retroacção em Análise Factorial (segundo Garcia Pereira, 1990)

Em AFC, os factores, hierarquizados por ordem decrescente da sua importância para a

explicação da tabela de partida, constituem um sistema de eixos ortonormais (espaço de

dimensão compatível com a interpretação) onde é possível visualizar, sob a forma

gráfica, as projecções da matriz de dados. A interpretação das projecções baseia-se num

conjunto de regras que pretendem evidenciar as relações mais importantes existentes

nos dados de partida “...a interpretação dos gráficos faz apelo a conceitos topo-

morfológicos, ligados à posição relativa das projecções da nuvem inicial no espaço dos

factores retidos e à própria forma sugerida pelo conjunto dessas projecções...”, (Garcia

Pereira, 1990).

A AFC permite-nos visualizar, através de gráficos bidimensionais (planos factoriais),

conseguidos à custa de uma redução na dimensionalidade espacial dos dados de partida,

não só o sistema de relações no interior de cada um dos conjuntos formados pelas

DADOS

DE

PARTIDA

CODIFICAÇÃO

MATRIZ

DE

INPUT

MÉTODO

FACTORIAL

EIXO 1

INTERPRETAÇÃO

Modalidades

Amostras

n

p EIXO 2

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

65

modalidades (colunas da matriz) ou pelos indivíduos (linhas da matriz), mas também os

sistemas de relações conjuntos existentes entre modalidades e indivíduos. Embora uma

das vantagens na aplicação da AFC resida na possibilidade de se visualizarem

simultaneamente as estruturas entre as modalidades e os indivíduos, o uso que dela

faremos neste trabalho resumir-se-á à descrição da estrutura relacional entre

modalidades. É ainda possível, no âmbito da AFC, conduzir o tratamento de dados

através da análise factorial das correspondências binárias (AFCB) que, sendo uma

variante da AFC, é aplicada com particular propriedade aos dados de questionários

(vidé trabalhos de C. Burt - 1950). A AFCB, desenvolvida por Benzécri (1973) e por

Lebart (1975), constitui uma simples extensão da AFC e cujos objectivos iniciais se

destinavam ao tratamento de questionários. Este método, que privilegia as formulações

dos dados de partida em quadros disjuntivos completos, considera simultaneamente um

conjunto multidimensional de variáveis tendo em conta o sistema de interdependências

entre as diferentes modalidades de todas as variáveis.

Considerando que a matriz de dados inicial continha variáveis de diferentes naturezas

(haja vista as métricas em que se exprimem, por exemplo, a variável idade, medida

numa escala intervalar ou a variável categoria profissional, medida numa escala

nominal), foi necessário assegurar a homogeneidade das variáveis através de uma prévia

codificação dos dados de partida. Esta codificação, que passou pela transformação de

algumas variáveis mensuráveis em variáveis ordinais subdivididas em várias classes

(aqui designadas por modalidades da variável), contou com a intervenção da autora

deste trabalho, com a participação do Prof. Joaquim Góis, com a colaboração do Sr.

Eng. Emanuel Silva e com um certa praxis estabelecida na classificação deste género de

variáveis. Finalmente interessa realçar que o processo final de codificação das

variáveis/modalidades, tendo sido um processo dinâmico, implicou a análise de

resultados obtidos por diversas pré-codificações ensaiadas em fases preparatórias e que

serviram de teste à aplicação da AFCB aos dados em estudo. A subdivisão das variáveis

nas diferentes modalidades bem como os respectivos histogramas de frequências podem

ser observados nas páginas iniciais deste capítulo.

Na tabela 5 reproduz-se um quadro com as variáveis e indicação do respectivo nome, o

número de modalidades (sub-variáveis ou categorias nas quais se dividem as variáveis),

as designações das diferentes modalidades e as respectivas codificações, as frequências

absolutas e respectiva percentagem em relação ao total de acidentes.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

66

Tabela 5 – Quadro com as variáveis, modalidades, os códigos das modalidades e seus significados.

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

Acidente Ac 271 90,3 1

Acidentes em serviço

2 Acidente Itinerário Aci 29 9,7

Feminino F 238 79,3 2 Género 2

Masculino M 62 20,7

< 24 anos I1 31 10,3

25 - 34 anos I2 121 40,4

35 – 44 anos I3 64 21,3

45 – 54 anos I4 53 17,7

3 Faixa etária 5

>55 anos I5 31 10,3

< 9º ano Ne1 61 20,3

9º ao 12º ano Ne2 48 16,0 4 Nível de

escolaridade 3

Licenciatura Ne3 191 63,7

Enfermeiros Enf 141 47,0

Auxiliares de Acção Médica

Aam 94 31,4

Médicos Med 37 12,3

Técnicos Tec 13 4,3

5 Categoria

profissional 5

Outros Out 15 5,0

Quadro Q 162 54,0 6

Relação jurídica no

trabalho 2

Contrato C 138 46,0

< 2 anos A1 87 29,0

2 a 5 anos A2 36 12,0

5 a 10 anos A3 51 17,0 7

Antiguidade na

instituição 4

>10 anos A4 126 42,0

Itinerário Sit 29 9,7

Consultas Sco 22 7,3

8 Serviço onde ocorre o Acidente

8

Bloco operatório Sbo 39 13,0

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

67

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

Internamento Sin 94 31,3

UCI Suci 33 11,0

MCDT Mcdt 23 7,7

Urgências Surg 32 10,7

Oficinas, áreas comuns e outros serviços

Sout 28 9,3

Enfermarias Lef 67 22,3

Salas cirúrgicas Lsc 32 10,7

Salas de emergências de UCI

Lsem 31 10,3

Gabinetes consultas / Gabinetes exams

Lgb 28 9,4

Itinerário Lit 29 9,7

Corredor Lcor 22 7,3

Salas de Enfermagem (tratamento, trabalho)

Lsef 11 3,7

Sala pequena cirurgia Lspc 7 2,3

Laboratórios Llab 6 2,0

Sala de colheitas Lsco 7 2,3

Sala de lavagem de material Lslm 10 3,3

Escadas Lesc 9 3,0

Instalações sanitárias Lis 8 2,7

Copa Lco 8 2,7

Armazém de material Lam 6 2,0

Oficinas, áreas comuns, gabinetes

Locg 13 4,3

9 Local do acidente

17

Não preenchido Lnp 6 2,0

Prestação de cuidados aos doentes

Dcdo 108 36,0 10 Descrição da tarefa

13

NP / NA Dpa 45 15,0

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

68

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

Manipulação de dispositivos corto-

perfurantes Dcp 22 7,4

Movimentação manual de doentes

Dmmd 30 10,0

Movimentação manual de cargas

Dmmc 12 4,0

Lavagem de material Dlm 6 2,0

Armazenamento do material Dam 11 3,7

Transporte de residuos Dtr 8 2,7

Higienização do doente Dhd 10 3,3

Transporte de doentes Dtd 7 2,3

Transporte de cargas e produtos

Dtcp 10 3,3

Manipulação de máquinas e equipamentos

Dmeq 10 3,3

Outras Dout 21 7,0

Outubro Out 31 10,3

Novembro Nov 23 7,7

Dezembro Dez 24 8,0

Janeiro Jan 26 8,7

Fevereiro Fev 29 9,7

Março Mar 19 6,3

Abril Abr 24 8,0

Maio Mai 20 6,7

Junho Jun 23 7,7

Julho Jul 32 10,6

Agosto Ago 25 8,3

11 Mês de

ocorrência do acidente

12

Setembro Set 24 8,0

12 Dia da 7 2ª Feira 2F 45 15,0

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

69

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

3ª Feira 3F 49 16,3

4ª Feira 4F 53 17,7

5ª Feira 5F 54 18,0

6ª Feira 6F 46 15,3

Sábado Sab 30 10,0

semana

Domingo Dom 23 7,7

0h – 4h H1 14 4,7

4h – 8h H2 23 7,7

8h – 12h H3 111 37,0

12h – 16h H4 86 28,6

16h – 20h H5 49 16,3

13

Hora de ocorrência

do acontecimen

to

6

20h – 24h H6 17 5,7

< 1h Ht1 41 13,7

1h até 3h Ht2 100 33,3

3h até 6h Ht3 98 32,7

6h até 8h Ht4 33 11,0

14

N.º de horas de trabalho cumpridas

no momento do acidente

5

>8 h Ht5 28 9,3

1º dia 1d 79 26,3

2º dia 2d 70 23,3

3º dia 3d 60 20,0

4º dia 4d 32 10,7

5º dia 5d 35 11,7

6º dia 6d 17 5,7

7º dia 7d 6 2,0

15

Dia do acidente face ao

último dia de descanso

semanal

8

8º dia 8d 1 0,3

Queda ao mesmo nível Tlqn 28 9,3

Queda de objectos Tlqo 21 7,0

16 Tipo de Lesão

(agente de lesão)

11

Entalamento / corte / golpe Tlcg 15 5,0

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

70

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

com objectos

Queda em altura / esmagamento / queimadura

Tleq 6 2,0

Corte – biológico Tlcb 14 4,7

Picada – biológico Tlpb 94 31,4

Salpicos / contacto / biológico

Tlsb 35 11,6

Esforço excessivo Tlee 39 13,0

Itinerário Tlit 27 9,0

Salpicos / contacto / químico

Tlsq 13 4,3

Agressão Tlag 8 2,7

Cabeça Pcab 13 4,3

Coluna Pcol 20 6,7

Olhos Polh 36 12,0

Tronco Posterior Ptpo 10 3,3

Braços Pbra 20 6,7

Mãos Pmao 27 9,0

Dedos das mãos Pded 105 35,0

Pernas Pper 17 5,6

Pés e dedos dos pés Ppes 15 5,0

Pescoço Ppeç 5 1,7

Tronco anterior Ptan 6 2,0

17 Parte do

corpo atingida

12

Outros (nariz, orelhas, localização múltipla)

Pout 26 8,7

Biológico Rbio 164 54,6

Mecânico Rmec 77 25,7

Ergonómico Rerg 44 14,7 18 Risco 4

Químico Rqui 15 5,0

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

71

Variável

n.º Nome

N.º de Modalidade

s Modalidades Codificação Frequência %

Sem incapacidade Isin 195 65,0

Incapacidade temporária absoluta

Inca 86 28,7 19

Tipo de incapacidad

e 3

Incapacidade temporária parcial

Intp 19 6,3

Sim Isim 4 1,3 20

Internamento

2 Não Inao 296 98,7

Sim Csim 181 60,3 21 Consulta 2

Não Cnao 119 39,7

Seja Q o número total de variáveis e rj o número de modalidades em que se subdivide a

variável de ordem j, o número total de colunas da matriz de dados (leia-se o número

total das modalidades das Q variáveis) é dado por:

�=

=Q

jjrp

1

Se designarmos agora por X a matriz de n linhas (n indivíduos ou amostras) por p

colunas (p modalidades, preenchida em termos de presença - ausência através da

seguinte codificação binária;

���

−−

=contráriocasono

jalidademodnaocorreiindivíduoosexij 0

1 , ∀ xij ∈ X

é possível construir o quadro de descrição lógica (matriz codificada em disjuntiva

completa, ver tabela n.º 6) de tal forma que

X = [ X1 | X2 | … XQ]

onde o sub-quadro Xj com n’ linhas e rj colunas é tal, que a i-ésima linha contêm (rj – 1)

zeros e uma vez o valor 1 correspondente à modalidade da variável j onde ocorre o

indivíduo i. Dando propriedade aos comentários anteriormente tecidos, apresenta-se um

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

72

pequeno exemplo, limitado no número de amostras e no número de

variáveis/modalidades, da matriz de dados tratados (tabela 6).

Tabela 6 – Exemplo do quadro de descrição lógica (presença - ausência), matriz de input de dados codificada em disjuntiva completa utilizada na AFCB

Q variáveis (Q = 21) e p modalidades (p = 133)

Variável Acidente

em Serviço Género Faixa Etária …. Internamento Consulta

Modalidade (Código) ����

Indivíduo����

Ac Aci F M I1 I2 I3 I4 I5 …. Isim Inao Csim Cnao

i1 1 0 1 0 1 0 0 0 0 …. 0 1 0 1

I2 1 0 1 0 0 0 1 0 0 …. 0 1 1 0

i3 1 0 1 0 0 0 1 0 0 …. 0 1 1 0

… … … … … … … … … … … … … … …

i298 1 0 1 0 0 0 0 0 0 …. 0 1 0 1

i299 1 0 1 0 1 0 0 0 0 …. 0 1 1 0

i300 1 0 1 0 0 1 0 0 0 …. 0 1 1 0

n indivíduos (n = 300)

Como refere Garcia Pereira (1987, pág. 738), este sistema de codificação assegura que,

seja qual for a natureza das variáveis, a soma em linha dos valores que surgem na tabela

é constante e igual ao número de variáveis Q, o que se traduz numa homogeneidade

estatística necessária para o processamento subsequente.

No caso dos dados em estudo a tabela construída e codificada em disjuntiva completa

para o primeiro ensaio (na figura 30 dá-se conta não só do plano de ensaios geral

estabelecido no sentido de explorar os dados originais, mas também das estruturas das

diferentes matrizes de input utilizadas), apresenta-se como uma matriz de 133 colunas

cuja soma em linha é sempre igual a 21 (número de variáveis) e cuja soma em coluna dá

a frequência absoluta de cada modalidade das diferentes variáveis. Para cada variável, a

soma das frequências absolutas das suas modalidades é sempre igual ao número de

indivíduos amostrados n, e portanto o total em linha e em coluna reproduz nQ. Esta

propriedade é importante, visto que, deste modo, a tabela de dados pode ser tomada

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

73

como justaposição de tabelas de contingência. As diferentes matrizes de informação

utilizadas nos diferentes ensaios foram sujeitas a tratamento pelo software ANDAD4.

As condições e um certo modus faciendi para cada ensaio são sintetizados

seguidamente:

- O Ensaio 1 é efectuado sobre o ficheiro de dados inicial, considerando-se todas

as 21 variáveis, as respectivas 133 modalidades e a totalidade dos 300 acidentes

registados. Com este primeiro ensaio procura-se ter uma ideia geral das

estruturas relacionais mais fortes que sobressaem da complexa profusão de

projecções quer ao nível do gráfico da projecção das modalidades, quer ao nível

do gráfico da projecção dos indivíduos (vidé figuras 31 e 32). Este facto, que

torna ilegível e indiscernível a associação entre as diferentes variáveis (a menos

das referidas estruturas relacionais fortes), obriga-nos a efectuar outros ensaios

com o objectivo de conseguir planos susceptíveis de poderem interpretar as

associações entre as restantes variáveis. Estes novos ensaios são efectuados

sobre sub-matrizes da matriz original de dados e face às suas menores dimensões

(um menor número de modalidades envolvidas nos diferentes ensaios) tornam os

resultados de mais fácil interpretação;

- Ensaio 2 é efectuado sobre o ficheiro de dados inicial, considerando-se apenas

as 7 primeiras variáveis (acidentes de trabalho, género, faixa etária, nível de

escolaridade, categoria profissional, relação jurídica no trabalho e antiguidade na

instituição), as respectivas 23 modalidades e a totalidade dos 300 acidentes

registados. Procura-se neste ensaio a caracterização da população em termos das

variáveis em estudo. Fazendo emergir as associações mais fortes entre as

diferentes modalidades.

- Ensaio 3 é efectuado sobre o ficheiro de dados inicial, considerando-se agora

as variáveis faixa etária, categoria profissional, descrição da tarefa, parte do

corpo atingida, risco, tipo de incapacidade, internamento, consulta e a totalidade

das 300 observações. Nalgumas das variáveis mencionadas foram projectadas

em suplementar parte das suas modalidades que análises prévias mostraram ser

irrelevantes na descrição das estruturas relacionais;

4 Software utilizado neste trabalho e desenvolvido por Jorge Sousa e colaboradores, CVRM/IST, Versão 7.1 de 2000.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

74

- Ensaio 4 recai sobre o ficheiro de dados onde são considerados um conjunto de

cinco variáveis, que pela análise do sub-capítulo 6.1. se revelaram susceptíveis

de uma análise mais pormenorizada. Foram ainda consideradas a totalidade das

300 observações;

Ensaio 1

300 Indivíduos vs 133 modalidades

Ficheiro inicial dos dados considerando-se a totalidade da informação disponível

Ensaio 2

300 Indivíduos vs 23 modalidades

Ficheiro inicial dos dados considerando-se apenas as primeiras 7 variáveis

Ensaio 3

300 Indivíduos vs 36 modalidades

Ficheiro inicial dos dados considerando-se as variáveis Faixa Etária, Categoria Profissional, Descrição da

Tarefa, Parte do Corpo Atingida, Risco, Tipo de Incapacidade, Internamento e Consulta e em suplementar

as modalidades (I2, I3, I4, Tec, Out, Dpa, Dam, Dtr, Pout, Inao)

Ensaio 4

300 Indivíduos vs 22 modalidades

Ficheiro inicial dos dados considerando-se as variáveis Categoria Profissional, Hora de Ocorrência do

Acidente, N.º de Horas de Trabalho Cumpridas no Momento do Acidente, Dia do Acidente face ao Último

Dia de Descanso Semanal e Tipo de Lesão. Em suplementar as modalidades (Tec, Out, H3, H5, Ht2, Ht3,

Ht4, 2d, 3d, 4d, 5d, 8d, Tlit)

Figura 30 - Plano Geral dos Ensaios destinados a explorar os dados iniciais em termos de AFCB

Para o primeiro ensaio - Ensaio 1- Plano factorial (1,2), é possível observar (figura 31) o

“cluster” formado pela forte associação entre as modalidades directamente ligadas aos

acidentes em itinerário Aci, tais como as modalidades Sit, Lit, Tlit, a modalidade Dpa

(modalidade que indica como tarefa associada ao acidente a NP/NA), Ht1 (modalidade

que indica menos de uma hora de trabalho cumprida no momento do acidente), Ppeç

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

75

(modalidade que indica o pescoço como a parte do corpo atingida) e em parte a

modalidade H2 (modalidade que indica o período do acidente entre 4h – 8h);

Figura 31 - AFCB - Projecções das variáveis no plano factorial 1,2 - Ensaio 1

A projecção da nuvem de indivíduos (figura 32) sugere uma clara individualização dos

acidentes em itinerário dos outros acidentes pelo que, feita a referência aos acidentes em

itinerário e assinaladas as modalidades associadas a este tipo de acidentes, os ensaios

posteriores da AFCB implicarão a projecção em suplementar destas mesmas

modalidades.

Figura 32 - AFCB - Projecções dos indivíduos no plano factorial 1,2 - Ensaio 1

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

76

Os resultados obtidos em cada ensaio encontram-se resumidamente sintetizados na

tabela 7 para os primeiros eixos obtidos pela AFCB. A importância de cada um dos

eixos é analisada pela coluna %EXP (taxa de inércia transportada). Verifica-se por

exemplo que, para o ensaio 2, os dois primeiros factores explicam no seu conjunto mais

de 30% da variabilidade contida na matriz inicial de dados. Neste estudo considerou-se

que uma modalidade estaria relacionada com o eixo sempre que a sua contribuição

absoluta fosse superior a 100/p modalidades5. A título meramente explicativo poder-se-

á referir que, relativamente ao ensaio 2, consideraram-se somente as modalidades cujas

contribuições absolutas eram superiores a 5 (100/23≈4.35). A consideração dos factores

(eixos) a reter na análise, leva em linha de conta o poder explicativo que determinado

factor tem para uma dada modalidade, embora a variabilidade explicada por esse factor

possa ser reduzida.

Tabela 7 - Relações de proximidade/oposição entre as modalidades, nos eixos factoriais considerados

Eixo 1 Eixo 2 Ensaio

n.º

Número

de

modalidades

%

EXP Modalidades Relacionadas

%

EXP Modalidades Relacionadas

1

Fig. 31 133 5,8 Aci, Sit, Lit, Tlit, Ht1, Ppeç, Dpa e H2 4,5 Aci, Sit, Lit, Tlit, Ht1, Ppeç, Dpa e H2

Eixo 1 Eixo 2 Ensaio

n.º

Número

de

modalidades

%

EXP Modalidades Relacionadas

%

EXP Modalidades Relacionadas

17,7

I4, I5, A4, Q, Ne1, Tec e Out

����

A1, I2, C, A2 e I1

12.6

Ne2, Aam, Out e Ne1

����

I3, Enf, Ne3, Tec e Med

Eixo 3 Eixo 4

%

EXP Modalidades Relacionadas

%

EXP Modalidades Relacionadas

2

Fig. 33,

34 e 35

23

9.0

Tec, F, I1

����

Med, M, A3, Ne2, I3 e Out

7.7

A2, Ne2, Aci, I3, Tec

����

Ne1, I5, Out

Eixo 1 Eixo 2 Ensaio

n.º

Número

de

modalidades

%

EXP Modalidades Relacionadas

%

EXP Modalidades Relacionadas

3

Fig. 37

36

11.0

Aam, I5, Dtd, Dmeq, Dmmc, Pper, Ptan,

Ptpo, Rmec, Inca, Csim, Dtcp, DOut,

Ppes, Pcol, Dmmd, Rerg, Intp e Out

����

Med, Enf, I1, Dcp, Dcdo, Polh, Pded,

Rbio, Isin, e Cnao

7.0

Dtcp, Dout, Dlm, Dhd, Pmao, Ppes, Pcab e

Rqui

����

Dmmd, Pbra, Pcol, Intp e Rerg

5 Como regra prática, pode dizer-se que uma modalidade é retida se a sua contribuição absoluta for superior a 100/p (modalidades). Este limite é dado pela distribuição uniforme das contribuições pelas diferentes modalidades.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

77

Eixo 1 Eixo 2 Ensaio

n.º

Número

de

modalidades

%

EXP Modalidades Relacionadas

%

EXP Modalidades Relacionadas

4

Fig. 39

22

8.6

Aam, 6d, Tlee, Tlqn, Tlecg e Tlqo

����

Med, Enf, H1, H2, Ht5, 7d, Tlpb e Tlsb

7.1

Tlsq, Tlag, Tlcb, H6, e Tlcg

����

Tlqo, 6d e Tlee

Legenda:

- ���� - Representa a oposição das modalidades no eixo factorial

- No quadro resumo os códigos assinalados a vermelho negrito procuram representar as modalidades correlacionadas com o semi-eixo factorial

(positivo ou negativo) em análise. Por vezes estas modalidades são mostradas a cor azul indiciando igualmente uma relação da modalidade com o

semi-eixo respectivo, embora não tão forte como a assinalada anteriormente.

Para além das análises acima expostas, apresenta-se para o ensaio 2 (e também aqui

somente a título de exemplo), a tabela 8, na qual se indicam as coordenadas e

contribuições absolutas das modalidades nos eixos factoriais.

Tabela 8 – Coordenadas e contribuições absolutas das modalidades nos eixos factoriais - Ensaio 2

Coordenadas Contribuições Absolutas Variáveis

Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3 Eixo 4 Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3 Eixo 4

Ac -0.04 0.02 0.05 -0.13 0.00 0.00 0.10 1.20

Aci 0.34 -0.16 -0.44 1.19 0.40 0.10 1.30 11.10

F 0.03 -0.10 0.33 0.12 0.00 0.40 6.10 0.90

M -0.11 0.37 -1.28 -0.46 0.10 1.40 23.50 3.50

I1 -1.20 0.90 0.92 0.30 5.30 4.10 6.00 0.80

I2 -0.71 -0.01 -0.17 -0.27 7.20 0.00 0.80 2.50

I3 0.38 -0.74 -0.52 1.06 1.10 5.70 4.00 19.30

I4 1.08 0.27 0.23 -0.45 7.20 0.70 0.70 2.90

I5 1.33 0.21 0.40 -0.65 6.50 0.20 1.20 3.50

Ne1 1.16 0.87 0.36 -0.52 9.60 7.70 1.80 4.40

Ne2 0.01 1.39 -0.61 1.13 0.00 15.40 4.10 16.70

Ne3 -0.37 -0.63 0.04 -0.12 3.10 12.50 0.10 0.70

Enf -0.46 -0.56 0.24 -0.26 3.50 7.20 1.80 2.60

Aam 0.55 1.11 0.22 0.40 3.40 19.10 1.00 4.20

Med -0.42 -0.65 -1.00 -0.18 0.80 2.60 8.50 0.30

Tec 0.82 -1.37 0.89 1.59 1.00 4.10 2.40 8.90

Out 1.18 1.09 -1.92 -1.03 2.50 2.90 12.70 4.30

Q 0.73 -0.39 -0.07 -0.03 10.20 4.20 0.20 0.10

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

78

C -0.86 0.46 0.08 0.04 12.00 4.90 0.20 0.10

A1 -1.00 0.56 0.39 -0.29 10.30 4.50 3.10 2.00

A2 -0.83 -0.14 -0.18 0.99 2.90 0.10 0.30 9.60

A3 -0.01 -0.08 -1.23 -0.19 0.00 0.00 17.90 0.50

A4 0.93 -0.32 0.28 -0.01 12.90 2.10 2.30 0.00

Legenda: A negrito, assinalam-se as coordenadas e as contribuições absolutas das modalidades que podem serem interpretadas nos eixos factoriais respectivos.

Dada a enorme profusão de outputs produzidos optou-se pela reprodução, no corpo

principal da tese, dos planos factoriais mais importantes (no seguimento da metodologia

adoptada e que se ilustra na figura 29 os ensaios referidos são aqueles, de entre as várias

dezenas de ensaios efectuados, que produziram resultados consentâneos com

interpretações plausíveis).

A leitura e consequente interpretação dos planos factoriais tem que atender à relação

dos eixos com as modalidades, à maneira como o eixo separa as modalidades (critérios

geométricos de proximidade e afastamento) e, quando pertinente, aos aspectos

morfológicos da nuvem das projecções das amostras nos planos factoriais.

A análise dos outputs gráficos obtidos a partir da aplicação da AFCB – Ensaio 2

(figuras 33 a 36) obedece ainda a algumas regras de interpretação que passam pela

escolha do número de eixos de inércia a reter (procuram-se taxas de inércia explicada

com percentagens aceitáveis), pela simplicidade da interpretação, pela posição e

contribuição absoluta das modalidades para a construção do eixo factorial, pela forma

da nuvem de projecções cuja distribuição espacial pode dar indicações sobre a estrutura

subjacente ao quadro de partida, etc. “…A interpretação dos resultados de uma AFC

consiste em atribuir um significado aos eixos de inércia em termos de propriedades –

(ou indivíduos) que os explicam, num segundo passo, as proximidades e oposições entre

indivíduos e propriedades são interpretadas com base no significado conferido aos

eixos no primeiro passo…” Garcia Pereira e Jorge de Sousa (1988, pág. 72).

Chama-se à atenção para o facto de que, a proximidade das projecções não é por si só

critério suficiente para inferir da qualidade da representação, há ainda que assegurar a

representatividade da entidade projectada no plano factorial.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

79

Em seguida passaremos a analisar os resultados finais da AFCB, considerando

conjuntamente a informação veiculada pela tabela 7, tabela 86 e pela visualização e

interpretação das projecções nos planos factoriais (vidé figuras seguintes).

Figura 33 - AFCB - Projecções das variáveis no plano factorial 1,2 - Ensaio 2

Ensaio 2 – Plano factorial (1,2). Ao longo do eixo1 (semieixo positivo) projectam-se,

em correlação positiva (poder-se-á ler, as modalidades estão fortemente associadas), as

modalidades correspondentes aos indivíduos mais velhos (I4 e I5), mais antigos na

instituição (A4), pertencentes ao quadro da instituição (Q) e cujos níveis de

escolaridade são os mais baixos (Ne1). As categorias profissionais associadas às

modalidades anteriormente referidas são as categorizadas como Outros (Out) e em parte

os técnicos (Tec). Ainda no eixo 1 (semieixo negativo) projectam-se em associação

positiva as modalidades correspondentes aos indivíduos mais novos (I1 e I2), recentes

na instituição (A1 e A2) e cuja relação jurídica com a instituição passa pela figura do

contrato de trabalho (C).

Os dois grupos de modalidades identificados (aqueles grupos de modalidades que se

projectam respectivamente no semieixo positivo e negativo) encontram-se em oposição

o que traduz uma forte correlação negativa entre eles. O Eixo 1 pode ser interpretado

6 Esta tabela (Coordenadas e contribuições absolutas das modalidades nos eixos factoriais) é específica do ensaio 2, naturalmente que para os outros ensaios realizados foram tidas em consideração tabelas análogas mas que consideravam as variáveis/modalidades do respectivo ensaio.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

80

como sendo o factor que individualiza (no sentido de uma separação em duas

populações distintas) os indivíduos atendendo às variáveis idade, antiguidade na

instituição e relação jurídica no trabalho

Ao longo do eixo 2 (semieixo positivo) projectam-se, em correlação positiva as

modalidades correspondentes aos indivíduos com um nível de escolaridade intermédio

(Ne2 e em parte Ne1), cuja categoria profissional é consubstanciada nos auxiliares de

acção médica (AAM) e também, em parte, pela categoria profissional definida como

outros (Out). Ainda no eixo 2 (semieixo negativo) projectam-se em associação positiva

as modalidades correspondentes às categorias profissionais dos enfermeiros, médicos e

técnicos (Enf, Med e Tec), que se encontram associados às modalidades que

representam o nível de escolaridade mais elevado (Ne3) e uma idade intermédia (I3).

Os dois grupos de modalidades identificados (aqueles grupos de modalidades que se

projectam respectivamente no semieixo positivo e negativo) encontram-se em oposição

o que traduz uma forte correlação negativa entre eles. O Eixo 2 pode ser interpretado

como sendo o factor que individualiza essencialmente as observações em função da sua

categoria profissional e nível de instrução. Pelo facto destas duas variáveis estarem

naturalmente (no sentido estatístico, i. e., em média) correlacionadas, optou-se, em fase

posteriores da AFCB, pela projecção em suplementar dos níveis de instrução uma vez

que, as modalidades desta variável, são traduzidas pelas modalidades das categorias

profissionais. Faz-se notar que um raciocínio idêntico é extensível às variáveis relação

jurídica no trabalho, antiguidade na instituição e respectivas modalidades, as quais

podem ser inferidas pelas modalidades correspondentes à faixa etária.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

81

Figura 34 - AFCB, Projecções das modalidades no plano factorial 1,3 - Ensaio 2

Ensaio 2 – Plano factorial (1,3). Neste plano factorial incidir-se-á a análise

relativamente às projecções das modalidades, consideradas significativas, ao longo do

eixo3 (a interpretação das modalidades projectadas ao longo do eixo 1 já foi objecto de

análise anterior). No eixo 3 (semieixo positivo) é possível associar positivamente a

modalidade correspondente á categoria profissional dos técnicos (Tec), associada aos

indivíduos do sexo feminino (F) e cuja modalidade representativa da idade é a mais

baixa (I1). Ainda no eixo 3 (semieixo negativo) projectam-se em associação positiva as

modalidades correspondentes aos médicos (Med), associada aos indivíduos do sexo

masculino (M) e que apresentam uma relativamente alta antiguidade na instituição (A3).

Em parte a categoria profissional classificada como outros (Out) também está associada

positivamente ás modalidades M e A3.

Os dois grupos de modalidades identificados encontram-se em oposição o que traduz

uma forte correlação negativa entre eles. O Eixo 3 pode ser interpretado como sendo o

factor que individualiza dois grupos caracterizados pelas suas categorias profissionais,

sexo, idade e antiguidade na instituição (Med, M e A3 versus Tec, I1 e F).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

82

Figura 35 – AFCB - Projecção das modalidades no plano factorial 1,4 - Ensaio 2

No eixo 4 (semieixo positivo) é possível associar positivamente as modalidades

correspondentes à ocorrência de acidentes em itinerário (Aci), à categoria profissional

dos técnicos (Tec), com um nível de escolaridade intermédio (Ne2), com a modalidade

representativa de uma idade intermédia (I3) e cuja antiguidade na instituição não é

muito grande (A2). Ainda no eixo 4 (semieixo negativo) projectam-se em associação

positiva as modalidades correspondentes à categoria profissional classificada como

outros (Out), que apresentam um nível de escolaridade baixo (Ne1) e cuja idade

corresponde à categoria dos mais velhos (I5).

Os dois grupos de modalidades identificados encontram-se em oposição o que traduz

uma forte correlação negativa entre eles. O Eixo 4 pode ser interpretado como sendo o

factor que associa as características dos indivíduos que tiveram acidentes em itinerário.

Poder-se-á concluir7 que, com base nos dados analisados, os acidentes em itinerário

estão associados aos técnicos, com um nível de escolaridade intermédio, relativamente

recentes na instituição e cuja idade está situada entre os 35 - 44 anos. Os acidentes em

itinerário não estão associados aos indivíduos mais velhos, com baixo nível de

escolaridade e cuja categoria profissional está classificada com Outros.

7 Esta conclusão terá que ser devidamente enquadrada não só pelo diminuto número de acidentes em itinerário (cerca de 10 % do total dos acidentes registados), mas também pela baixa taxa de explicação associada ao eixo 4 (8%).

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

83

Interpretados os eixos e as estruturas relacionais entre as modalidades procedeu-se à

análise das projecções dos indivíduos nos planos factoriais. “…A forma da nuvem dos

indivíduos projectados dá também indicações sobre a estrutura subjacente ao quadro

de partida…”

Figura 36 - AFCB - Projecções dos indivíduos no plano factorial 1,2 - Ensaio 2

São facilmente identificáveis duas nuvens de projecções de indivíduos o que traduz

claramente o efeito de separação que as modalidades anteriormente associadas ao plano

factorial 1,2 (vidé figura 33) exercem na caracterização dos acidentes ocorridos. Desta

forma é possível associar uma grande parte dos acidentes ocorridos (nuvem superior das

projecções das observações) aos indivíduos com níveis de instrução mais baixo, mais

velhos (em média aqueles que estão há mais tempo na instituição, pertencentes ao

quadro) e às categorias profissionais composta essencialmente pelos auxiliares de acção

médica e outros. Por outro lado, um substancial número dos acidentes registados

(nuvem inferior das projecções das observações), está associado aos indivíduos mais

novos, recentes (em termos contratuais) na instituição, aos médicos, enfermeiros e

técnicos (que obviamente apresentam os níveis de escolaridade superior).

Conseguida uma identificação das principais associações entre as diferentes

modalidades que caracterizam a população sob o ponto de vista das variáveis invocadas,

procurou-se, no terceiro ensaio, relacionar as principais estruturas emergentes

detectadas com outras variáveis que directamente possam caracterizar o tipo de acidente

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

84

quanto à descrição da tarefa, parte do corpo atingida, risco, tipo de incapacidade,

internamento e consulta. Os planos factoriais e a análise aos resultados obtidos podem

ser observados no seguimento das figuras 37 e 38.

Figura 37 - AFCB - Projecção das modalidades no plano factorial 1,2 - Ensaios 3

Figura 38 – AFCB - Projecção dos indivíduos no plano factorial 1,2 - Ensaio 3

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

85

Ensaio 3 – Plano factorial (1,2). No eixo1 (semieixo positivo) projectam-se, em forte

associação positiva, as modalidades correspondentes aos Auxiliares de Acção Médica

(AAM), mais velhos (I5) e cujas descrições associadas aos acidentes ocorridos podem

ser associadas às modalidades Dmmc, Dtd e Dmeq (Dmmc – movimentação manual de

cargas, Dtd – transporte de doentes, Dmeq – manipulação de máquinas e

equipamentos). Associado a este grupo de modalidades e em forte correlação positiva,

ocorrem ainda as várias modalidades que especificam a parte do corpo atingida (Pper,

Ptan e Ptpo), a modalidade de risco mecânico (Rmec) como estando igualmente

associada aos acidentes tipificados neste grupo de modalidades e o facto destes

acidentes implicarem uma incapacidade temporária absoluta (Inca) com recurso a uma

consulta de especialidade (Csim). Em associação positiva com as variáveis/modalidades

atrás apresentadas podemos identificar ainda, agora de forma um pouco mais ténue, as

modalidades Dout, Dtcp, Dmnd, Ppes, Pcol, Pbra, Rerg, Intp.

No eixo 1 (semieixo negativo) projectam-se em associação positiva as modalidades

correspondentes às categorias profissionais dos médicos e enfermeiros (Med e Enf),

mais novos (I1), cuja tarefa no momento do acidente passa pela que é descrita pelas

modalidades Dcp e Dcd. O risco destes profissionais passa essencialmente pelo risco

biológico (Rbio), com os olhos e os dedos como sendo as partes do corpo que são

particularmente atingidas (Polh e Pded). Os acidentes ocorridos com estes

profissionais, normalmente não implicam uma incapacidade (Isin) e raramente são

objecto de uma consulta formal por parte do acidentado (Cnao).

Os dois grupos de modalidades identificados (aqueles grupos de modalidades que se

projectam respectivamente no semieixo positivo e negativo) encontram-se em oposição

o que traduz uma forte correlação negativa entre eles. O Eixo 1 pode ser interpretado

como sendo o factor que individualiza (no sentido de uma separação em duas

populações distintas) o tipo de risco a que estão sujeitos os médicos e enfermeiros

versus os auxiliares de acção médica, as tarefas associadas aos acidentes e a parte do

corpo atingida nesses mesmos acidentes. O primeiro factor separa ainda os acidentes em

função da incapacidade produzida e a necessidade de consulta após acidente.

As projecções das modalidades ao longo do eixo 2 (semieixo positivo e por oposição no

semieixo negativo) mostram, essencialmente, a associação entre algumas tarefas, partes

do corpo atingida e o risco associado. Assim, no (semieixo positivo) encontramos a

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

86

associação das modalidades Dout, Dtcp, Dlm, Dhd, Pmao, Ppes, Pcab e Rqui por

oposição ao conjunto de modalidades Dmnd, Pbra, Pcol, Intp, e Rerg.

Os dois grupos de modalidades assinalados parecem, por um lado reflectir uma clara

oposição entre as características dos riscos ergonómicos versus riscos químicos e por

outro lado parecem sugerir quais as tarefas e as principais partes do corpo que estão

envolvidas nos acidentes cujos riscos foram os identificados.

Também para este ensaio é possível, através da análise da projecção dos indivíduos

(vidé figura 38), identificar os acidentes associados aos diferentes grupos de

modalidades associadas entre si.

No quarto ensaio (figura 39), já com algumas pistas sobre o sistema de inter-relações

entre as diferentes variáveis8, procurou-se averiguar as associações entre outras

variáveis ainda não pormenorizadas. Utilizaram-se algumas das modalidades das

variáveis categoria profissional, hora de ocorrência do acidente, n.º de horas de

trabalho cumpridas no momento do acidente, dia do acidente face ao último dia de

descanso semanal e tipo de lesão.

Figura 39 – AFCB - Projecção das modalidades no plano factorial 1,2 - Ensaio 4

8 Face à extensão e quantidade de informação dos dados iniciais, uma vez mais se assinala que os ensaios apresentados neste trabalho são a selecção do resultado de algumas das inúmeras combinações possíveis entre diferentes variáveis, modalidades, indivíduos, etc…. (aqueles que pelo seu resultado mereceram maior atenção). Eventuais pesquisas que envolvam interesses particulares e que impliquem novas combinações variáveis/modalidades poderão ser sempre efectuados com recurso à metodologia proposta.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

87

Ensaio 4 – Plano factorial (1,2). As projecções no eixo1 (semieixo positivo) indiciam

uma forte associação entre a modalidade Auxiliares de Acção Média (AAM), a

modalidade 6d (6º dia do acidente face ao último dia de descanso semanal) e os tipos de

lesões descritos pelas codificações Tlqn, Tlee, Tlcg e em parte Tlqo. No eixo 1

(semieixo negativo) projectam-se em associação positiva as modalidades

correspondentes às categorias profissionais dos médicos e enfermeiros (Med e Enf),

com as modalidades que indicam a ocorrência do acidente entre as 0h e 8h (modalidades

H1 e H2), quando os profissionais em causa já cumpriram mais de 8h de trabalho (Ht5)

e cujo o data do acidente dista 7 dias face ao último dia de descanso semanal (7d). De

referir ainda que o grupo de modalidades anteriormente descrito está associado ao tipo

de lesão descrito pelas modalidades Tlsb e Tlpb (Salpicos/contactos/biológicos e Corte

biológico)

O Eixo 1 realça e permite caracterizar o tipo de acidentes das classes profissionais

analisadas, atendendo principalmente ao tipo de lesão e a influência que as variáveis

directamente relacionadas com o número de horas/dias de trabalho ininterrupto ou

mesmo a hora a que ocorre o acidente, podem exercer no acidente de trabalho.

As projecções das modalidades ao longo do eixo 2 (semieixo positivo e por oposição no

semieixo negativo) mostram, essencialmente, a associação entre alguns tipos de lesões.

Na tentativa de investigar uma hipotética periodicidade semanal e/ou mensal dos

acidentes, foi concebida uma abordagem baseada essencialmente numa visão

frequêncista do fenómeno em estudo.

Relativamente ao número de acidentes por mês, a hipótese de investigação estabelecida

prevê uma confrontação, discriminando os meses, entre o número de acidentes

registados num determinado mês e o número de acidentes esperado na hipótese de

independência (leia-se equiprobabilidade de um acidente num determinado mês) do

número de acidentes em relação ao mês em estudo. A existirem diferenças

estatisticamente significativas entre os valores observados e os valores esperados,

podemos inferir pela existência de um desvio à “normalidade” do número de acidentes

por mês, eventualmente atribuível ou não a uma qualquer causa exterior ao(s) mês(es)

em estudo.

O primeiro passo conducente à implementação desta análise, consistiu na construção de

pequenas rotinas em EXCEL que permitiram a criação das diferentes matrizes dos

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

88

dados de partida as quais foram, posteriormente, sujeitas à contagem do número de

acidente por mês.

Foi então possível definir:

- OOtu = número de acidentes observado no mês de Outubro;

- ONov = número de acidentes observado no mês de Novembro;

- ….

- OSet = número de acidentes observado no mês de Setembro.

- Oacidentes = OOtu + ONov +… + OSet = número total observado de acidentes (300)

no período em análise (365 dias),

e ainda, na hipóteses de igual probabilidade de ocorrência de acidentes em qualquer mês

do ano:

- EOut = Oacidentes / 12 = número de acidentes esperado no mês de Outubro;

- EOtu = ENov = … = ESet = número de acidentes esperado, em qualquer mês do

ano;

- Eacidentes = EOtu + ENov +… + ESet = número total esperado de acidentes (300) no

período em análise (365 dias).

Uma vez na posse dos valores observados e dos valores esperados é agora possível

sujeitar a hipótese formulada a um teste de hipóteses através de uma simples prova de

χ2,

( )�

=

−=n

i i

iiCalculado E

EO

1

22χ

com (i = Otu, Nov, …, Set)

sempre que o valor de χ2calculado for superior, atendendo ao erro de primeira espécie α,

ao valor do χ2tabelado , a hipótese nula formulada é rejeitada. O número de graus de

liberdade necessário para a determinação do valor de p é definido pelo número de meses

menos um, g.l.= (i-1). A tabela 9 exemplifica a aplicação da metodologia acima descrita

para o caso da totalidade dos registos disponíveis.

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

89

A observação dos resultados obtidos permite identificar o resultado do teste de

hipóteses (Não rejeição da hipótese H0 – “ Igual probabilidade de acidente em qualquer

mês do ano” ou, na hipótese alternativa, aceitação de H1 – “Existem meses do ano com

diferentes probabilidades na ocorrência de acidentes”).

Tabela 9 - Teste de χ2 aplicado ao número de acidentes por mês

Totalidades dos Acidentes observados em 365 dias

Registos totais durante 1 ano individualizados por mês

Mês Nº. de acidentes

Observados

Nº. de acidentes

Esperados (em H0)

Outubro 31 25

Novembro 23 25

Dezembro 24 25

Janeiro 26 25

Fevereiro 29 25

Março 19 25

Abril 24 25

Maio 20 25

Junho 23 25

Julho 32 25

Agosto 25 25

Setembro 24 25

N.º total de acidentes observados/esperados = 300

Teste de χ2

H0 - " As diferenças entre Obs. e Esp. não são significativas"

Nível de significado → 0.05; N.º de Graus de liberdade → 11

χ2Calculado → 6.96 χ2 Tabelado → 19.68

Resultado do Teste

Não Rejeito H0 – Os acidentes são estatisticamente independentes do mês de ocorrência.

Um raciocínio análogo, mas agora focalizado no número de acidentes em função do dia

de semana, permitiu a construção da tabela 10. Na execução do teste propõe-se

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

90

igualmente a verificação de uma hipótese de igual probabilidade de ocorrência de

acidentes independentemente do dia da semana em análise. Esta hipótese, testada

através da confrontação entre os dados observados e os valores esperados no

pressuposto enunciado, é rejeitada em função do nível de significado adoptado. Faz-se

notar que a aplicação deste tipo de teste de hipóteses apenas nos permite a Rejeição ou

não Rejeição de uma hipótese formulada, nada nos dizendo acerca de uma eventual

relação de causa-efeito entre as variáveis em estudo.

Tabela 10 - Teste de X2 aplicado ao número de acidentes por dia da semana

Totalidades dos Acidentes observados em 365 dias

Registos totais durante 1 ano individualizados por dia da semana

Mês Nº. de acidentes

Observados

Nº. de acidentes

Esperados (em H0)

2ª Feira 45 42.86

3ª Feira 49 42.86

4ª Feira 53 42.86

5ª Feira 54 42.86

6ª Feira 46 42.86

Sábado 30 42.86

Domingo 23 42.86

N.º total de acidentes observados/esperados = 300

Teste de χ2

H0 - " As diferenças entre Obs. e Esp. não são significativas"

Nível de significado → 0.05; N.º de Graus de liberdade → 6

χ2Calculado → 19.57 χ2 Tabelado → 12.59

Resultado do Teste

Rejeito H0 – Os acidentes são estatisticamente dependentes do dia da semana.

A conclusão deste último teste é totalmente oposta à relativa ao teste de

equiprobabilidade do mês de ocorrência do acidente. Este facto poderá dever-se,

provavelmente, a um maior número de doentes atendidos durante os dias úteis da

semana. Em trabalho futuros poder-se-á testar, com maior propriedade, os resultados

Capítulo VI – Tratamento estatístico e análise dos dados

91

agora apresentados para os exemplos anteriores, caso seja possível confrontar o número

de doentes em cada um dos períodos temporais analisados por forma a relativizar o peso

que o número de doentes poderá ter no número de acidentes de trabalho dos

profissionais de saúde.

92

Parte III –

Considerações Finais

Capítulo VII - Conclusões

93

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES

O principal objectivo deste estudo, consistiu na caracterização e análise dos acidentes de

trabalho ocorridos com profissionais de uma unidade hospitalar, relacionando-os com os

riscos ocupacionais.

A melhor forma de reduzir o número de acidentes de trabalho é conhecer e controlar os

riscos a que os profissionais estão expostos, tendo sido esta pesquisa importante no

sentido de identificar os riscos profissionais para promover a melhoria contínua dos

locais de trabalho.

Os escassos estudos nacionais existentes sobre esta temática, reveste esta investigação

de interesse adicional e de um contributo fundamental, uma vez que permite conhecer

melhor a realidade dos acidentes de trabalho ocorridos na àrea da saúde.

De modo a atingir os objectivos estabelecidos inicialmente, serão comparados os

resultados obtidos nesta investigação com o relatório dos AT (1999) mencionado e

apresentado no capítulo IV do presente estudo. Posteriormente, abordam-se os

resultados obtidos na relação entre as diferentes variáveis e, em última análise, a

elaboração de algumas propostas ou sugestões que conduzam a um melhor

entendimento desta temática.

Comparando os acidentes de trabalho notificados durante o período de um ano (01 de

Outubro de 2007 a 01 de Outubro de 2008), com o relatório de acidentes de trabalho,

apresentado no capítulo IV, de 1999 destacam-se os seguintes aspectos:

• Verificou-se num total de 300 acidentes notificados, sendo que 29 foram

acidentes em itinerário;

• Em ambos os casos as categorias profissionais com maior número de acidentes

participados são os enfermeiros, seguidos dos auxiliares de acção médica. Na

unidade hospitalar estudada estas são as classes mais representativas. As duas

categorias perfazem cerca de 78,4% do total dos acidentes;

• Em ambos os casos a maioria das ocorrências afectou o sexo feminino, sendo o

género mais predominante na instituição estudada;

• Constatou-se que em ambos os casos, que a faixa etária dos 25 aos 34 anos é

Capítulo VII - Conclusões

94

aquela que regista uma maior percentagem de acidentes;

• Quanto ao vínculo à instituição não se registou uma diferença significativa entre

os profissionais do quadro e os contratados. Já no que respeita à antiguidade na

instituição são os profissionais com mais de 10 anos de antiguidade (42%),

seguidos dos com vínculo inferior a 2 anos (29%) aqueles que apresentam

maior número de participações;

• Os serviços onde ocorrem mais acidentes são os internamentos (31,3%) (tal

como acontece no relatório dos AT de 1999) e os blocos operatórios (13%). Os

locais de trabalho mais afectados por sinistros, mediante os serviços atrás

mencionados, são as enfermarias (22,3%), salas cirúrgicas e as salas de

emergência ou cuidados intensivos;

• A maioria dos acidentes ocorreu durante a prestação de cuidados aos doentes

(36%) e na movimentação de doentes (10%);

• O mês de Julho foi o mês do ano em que ocorreram mais acidentes (10,6%),

contrariamente ao relatório dos AT de 1999 que refere o mês de Março como o

que registou maior sinistralidade;

• A quinta-feira foi o dia da semana com maior sinistralidade (18%) e o domingo

o dia em que ocorreram menos acidentes (7,7%);

• A maior percentagem de acidentes foram participados no período das 8h-12h

(37%), registando-se, no momento da ocorrência de 1 até 3 horas de trabalho

cumprido. Os mesmos dados são apresentados no relatório de AT de 1999;

• O agente da lesão mais frequente foi a picada (31,4%), seguida do esforço

excessivo/movimentos inadequados. O relatório dos AT de 1999 refere a picada,

seguida da queda ao mesmo nível;

• Em ambos os casos as zonas do corpo mais atingidas foram os dedos das mãos

(35%), consequência do número de picadas, seguidos dos olhos (12%), tendo

sido os riscos mais frequente o biológico, seguido do mecânico;

• Do total dos acidentes registados, 65% não deram origem a incapacidade e 35%

resultaram em incapacidade temporária (absoluta ou parcial);

• A maioria dos sinistrados teve seguimento na consulta de especialidade após o

Capítulo VII - Conclusões

95

episódio (60,3%), mas raros foram os casos que originaram internamento

(1,3%).

Dos dados supra mencionados, pode constatar-se que a maioria dos acidentes de

trabalho em meio hospitalar está associado ao risco biológico, tendo como lesão a

picada, que atinge sobretudo os dedos das mãos, como consequência necessária das

tarefas que a maioria dos profissionais de saúde desenvolve, nomeadamente os

enfermeiros e os auxiliares de acção médica.

Para além das conclusões parcelares, tenta-se criar uma retrospectiva do estudo

anteriormente desenvolvido e, com base nos resultados obtidos, tecer algumas reflexões

acerca dos mesmos:

• Um comentário vai no sentido da plena propriedade que demonstram ter os

tratamentos estatísticos uni e bidimensionais sobre este tipo de dados, enquanto

aplicações que permitem uma análise exploratória de dados. Assim, foi possível

identificar e caracterizar não só as variáveis de per se, como, paralelamente,

conseguiu-se formar uma ideia acerca dos comportamentos tendenciais dessas

variáveis quando relacionadas com uma segunda. Destas análises salienta-se o

importante papel que podem desempenhar os estatísticos básicos enquanto

elementos que permitem um rápido enquadramento e apreciação comparativa de

novas amostras a introduzir em posteriores estudos. Embora necessários,

conclui-se pela insuficiência dos tratamentos estatísticos básicos, porquanto

apresentam visões necessariamente limitadas no jogo das relações entre

variáveis e/ou amostras;

• Embora por vezes as explicações fenomenológicas tenham sido um pouco

descuradas, em detrimento da explanação nua e crua dos resultados obtidos (uma

metodologia essencialmente orientada para um “data driven approach” assim o

justifica), sempre que se julgou pertinente avançaram-se algumas tentativas

interpretativas. O recurso a métodos no âmbito da Análise de Dados veio provar,

neste caso particular, quão justas e proveitosas se podem revelar estas

ferramentas enquanto instrumentos que conseguem “concentrar” as estruturas

fortes emergentes dos dados de partida, procedendo a desbastes no acessório

sem perda significativa de informação;

Capítulo VII - Conclusões

96

• Os acidentes em itinerário, no contexto deste estudo, evidenciam características

diferenciadoras dos demais tipo de acidentes;

• É claramente possível estabelecer uma diferença entre os acidentes, atendendo à

idade, nível de escolaridade, categoria profissional, relação jurídica no trabalho e

antiguidade na instituição, do profissional de saúde envolvido num acidente de

trabalho;

• Existe uma evidente associação entre a tarefa que estaria a ser realizada no

momento do acidente, a parte do corpo atingida, a categoria profissional e a

gravidade do próprio acidente (esta última medida de forma indirecta pelas

variáveis tipo de incapacidade, internamento e consulta);

• O tipo de risco associado a um acidente está intimamente associado a algumas

das categorias profissionais identificadas;

• Também em relação às categorias profissionais estudadas, é possível tipificar

não só o tipo de lesão, como associar igualmente a estas, algumas modalidades

que pretendem avaliar o excesso de dias/horas de trabalho “ininterrupto” na

presumível causa do acidente de trabalho;

• Não existe um mês do ano em particular que se seja estatisticamente relevante

destacar em termos do número de acidente;

• O número de acidentes não é estatisticamente independente do dia da semana.

A realidade actual da higiene, segurança e saúde no trabalho nas instituições de saúde é

um facto em desenvolvimento. No entanto, esta investigação permite a elaboração de

hipóteses de estudos a nível nacional, na área dos acidentes de trabalho em ambiente

hospitalar. O crescimento de estudos neste âmbito acompanhados de um maior número

de dados oficiais e declarados, mesmo nas próprias instituições de saúde pode

possibilitar, no futuro, novos contributos para um melhor conhecimento sobre os riscos

associados a ocorrência dos acidentes de trabalho.

Esta investigação permitiu uma tomada de consciência e um alertar para factos

importantes da realidade, que de certa forma pode contribuir para uma melhor

orientação de intervenção nesta área tão específica.

Bibliografia

97

Bibliografia

A

Afonso, J. L., Dias M. (2001) – Noise Levels in the hospital environment – Tecno

hopital – Revista de instalações e equipamentos de saúde, Junho, n. 8.

Almeida, C, B; Pagliuca, L. M. F; Leite, A. L. A. (2005) – Acidentes de trabalho

envolvendo olhos: Avaliação de riscos ocupacionais com trabalhadores de Enfermagem.

– Rev. Latino-Americana, Setembro-Outubro, 13(5): 18-76.

Arrabaço, M. de F. dos S. R. (2008) – Acidentes de serviço em profissionais de saúde:

identificação, representações e comportamentos face à exposição microbiológica

acidental – Mestrado em Comunicação em Saúde, Fevereiro – Universidade Aberta.

B

Benzécri, J.P., (1973) - L’Analyse des Données, Dunod, 2 Vols, Paris.

Bloom, B. R. (2002) – Tuberculose – Uma visão global - New England Journal of

Medicine - Vol. 346; Setembro, nº. 19: pp.1434-1435.

Burt, C., (1950) - The factorial analysis of qualitative data, Journal of Statistical

Psychology, 3, 166 – 185.

Bibliografia

98

C

Cabral, F., Veiga, R: (2008) – Higiene, segurança, saúde e prevenção de acidentes de

trabalho – Verlag Dashofer. v. 2, 3.

Caixeta, R. de B.; Branco, A. B. (2002/2003) – Acidentes de trabalho, com material

biológico, em profissionais de saúde de hospitais públicos do Distrito Federal, Brasil –

Caderno de Saúde Pública – Rio de Janeiro – pp. 737-746.

Carvalho, F. P. (2009) – Prevenção e minimização do risco de exposição ocupacional a

radiações ionizantes – Colóquio internacional sobre segurança e higiene ocupacionais –

pp. 123-129.

Castro, D. M. B.; Pinto E. R.; Coutinho, G. A. G.; Bugari L. F.; Jesus M. do S. B. (2008)

– Acidente de trabalho entre profissionais de enfermagem de um hospital público do

porto velho, rondônia – Saúde Colectiva Editorial Bolina, v. 5, n.25 - pp. 206-211.

Comélio, M. E.; Alexandre, N. M. C. (2005) – Avaliação de uma cadeira de banho

utilizada em ambiente hospitalar: uma abordagem ergonómica – Revista Brasileira de

Enfermagem, (Junho- Agosto), pp. 405-410.

Costa, K. N. S.; Pinheiro, I. O.; Calazans, G. T.; Nascimento, M. S. (2007) – Avaliação

dos riscos associados ao uso do xilol em laboratórios de anatomia patológica e citologia

– Revista Brasileira Saúde Ocupacional, São Paulo, – pp. 50-56;

Costa T. F.; Felli V. E. A. (2005) – Exposição dos trabalhadores de enfermagem às

cargas químicas em um hospital público universitário da cidade de São Paulo – Revista

Latino Americana de Enfermagem, (Julho – Agosto), pp. 501-508.

Bibliografia

99

Costa, M. da S.; Filho, M. da R. T.; Calheiros, A. F.; Santos, E. V. (2006) – Avaliação

do conforto térmico em enfermarias do Hospital Universitário – Universidade Federal

de Alagoas, Julho, pp.3.

Cunha, T. M.; Gomes, H. M.; Miranda A. M.; Carvalho, J. F. C.; Felino, António

(2006) – Princípios de actuação na exposição ocupacional ao VHC, VHB e VIH –

Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxiofacial – Vol.

47, nº 4.

D

Decreto–Lei nº 441/91 de 14 de Novembro. Ministério do emprego e da segurança

social. Lisboa.

Decreto–Lei nº 488/99 de 17 de Novembro. Presidência do conselho de ministros.

Lisboa.

Decreto–Lei nº 503/99 de 20 de Novembro. Presidência do conselho de ministros.

Lisboa.

Decreto–Lei nº 100/97 de 13 de Setembro. Presidência do conselho de ministros.

Lisboa.

Diday, E., Pouget, J., Lemaire, J. et Testu, F., (1982) – Éléments d’analyse de données,

Dunod, Paris.

Directiva n.º 89/391/CEE., de 12 de Junho de 1989. Directiva de Conselho – Comité

Económico e Social.

Bibliografia

100

Durão A. (2009) – O Sector saúde e o impacto da prevenção na saúde dos seus

profissionais e pacientes – Colóquio Internacional sobre segurança e higiene

ocupacionais – pp. 199-203.

F

Faria, A. M. C. (2008) – Caracterização e Análise dos Acidentes de Trabalho com

Profissionais de Enfermagem numa Unidade Hospitalar – Dissertação de Mestrado.

Escola de Engenharia da Faculdade do Minho, Janeiro, pp. 146.

Filho, W. W. (2002) – Análise postural no trabalho de um cirurgião oncológico

abdominal: estudo de caso – Universidade Federal de Santa Catarina – Pós graduação

em engenharia de produção, Abril;

Fonseca, R., Serranheira, F. (2004) – Sintomatologia musculoesquelética auto-referida

por enfermeiros em meio hospitalar – Mestrado de Saúde Pública. Faculdade de

Medicina do Porto, pp.8.

Franco, C.; Zanetta, D. M. T. (2004) – Tuberculose em profissionais de saúde: medidas

institucionais de prevenção e controle – Arq. Ciências da Saúde, Out-Dez, pp 244-252.

G

Graça, L. (2000) – História da saúde no trabalho. Após 25 de Abril de 1974:

democratização, integração europeia da legislação sobre SHST – pp.5-11.

Bibliografia

101

Góis, J. E., (1993) - Técnicas Geomatemáticas Aplicadas ao Tratamento de Dados da

Prospecção Sísmica de Petróleos, Tese de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

J

Jansen, A. C. (1997) - Um novo olhar para os acidentes de trabalho na enfermagem: a

questão do ensino – Dissertação. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.

L

Lei Constitucional nº 1/1982, de 30 de Setembro. Constituição da República

Portuguesa.

Lei nº 99/2003, de 27 de Agosto. Código do Trabalho.

Lei nº 35/2004, de 29 de Julho. Comissão da Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Lebart, L. 1975. Validité des résultats en analyse des données (pp. 1–157). Centre de

Recherches et de Documentation sur la Consommation, Paris, L.L/cd No. 4465.

M

Maia, A. D. M. (2002) – Riscos Ocupacionais em Trabalhadores de Banco de Sangue –

Campo Grande, Março, pp. 61.

Bibliografia

102

Martins, J.M.C. (2008) – Percepção do risco de desenvolvimento de lesões músculo-

esqueléticas em actividades de enfermagem – Universidade do Minho; pp.28-31.

Mayan O. (2004) – O hospital e o seu ambiente. Riscos químicos no contexto hospitalar

– Simpósium: Riscos profissionais em hospitais e instituições de saúde – Ordem dos

Médicos, Fevereiro, pp. 3.

Mayan O. (2008) – Gestão dos riscos químicos em ambiente hospitalar. O caso dos

anestésicos – Conversas de fim de tarde 2008, Fevereiro – Beja.

Moreira, B. (2007) – Acidentes de trabalho entre profissionais de enfermagem: uma

análise do processo de trabalho – Universidade Brasília – Faculdade de Ciências da

Saúde – Pós – Graduação em Ciências da Saúde – pp 31.

Mota, A. P. G. (2002) – Riscos biológico das lesões perfurantes em profissionais de

saúde – Mestrado em Saúde Pública – Universidade do Porto –pp.20-22.

Murteira, B., Black, G., (1983) – Estatística Descritiva, Mc Graw Hill, Lisboa.

N

Nicolete, M. das G. de P.; Robazzi, M. L. do C. C. (2000) – Acidentes de trabalho entre

trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário de Natal/RN, (Outubro de

1999 a Abril de 2000) – Brasil.

Bibliografia

103

Nishide, V. M.; Benatti M. C. C.; Alexandre, N. M. C. (2001) – Ocorrência de acidentes

de trabalho em uma unidade de terapia intensiva – Revista Latino Americana

Enfermagem - pp. 204-211.

Nunes, F. M. D. O. (2006) – Segurança e Higiene do Trabalho. - Manual Técnico. 1.ed.

Lisboa – Edições Gustave Eiffel.

P

Parada, E. de O.; Alexandre, N. M. C.; Benatti, M. C. C. (2002) – Lesões ocupacionais

afectando a coluna vertebral em trabalhadores de enfermagem – Revista Latino-

Americana de Enfermagem, Janeiro – Fevereiro, 2002, pp.6.

Pereira, H. G. e Sousa, A. J., (1988) - Análise de Dados para Tratamento de Quadros

Multidimensionais, Centro de Valorização de Recursos Minerais, Lisboa.

Pereira, H. G., (1990) - Análise de Dados Geológico-Mineiros. Aplicações e Estudo

Metodológico, Tese de Agregação, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

R

Ribeiro, G. P. (2007) – Conforto ambiental, sustentabilidade, tecnologia e meio

ambiente: estudo de caso Hospital Sarah Kubitschek – Brasília – pp. 13.

Bibliografia

104

Ribeiro, G. S.; Diniz, R. L. (2005) – Apreciação ergonómica na enfermaria da clínica

cirúrgica de um hospital – 5º Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de

Interfaces, Junho, Rio de Janeiro.

Rocha, F.L.R.; Marziale, M.H.P.; Robazzi, M.L.C.C.(2007) – Perigos potenciais a que

estão expostos os trabalhadores de enfermagem na manipulação de quimioterápicos

antineoplásicos: conhecê-los para preveni-lo - Ribeirão Preto, v.12, n.3, Março, p.511-

517.

Ruivo, R. (2009) – A gestão da higiene e segurança na unidade local de saúde do Baixo

Alentejo, Março, E.P.E. – Seminário: Segurança na Saúde.

Ruiz, M. T.; Barboza, D. B.; Soler, Z. A. S. G. (2004) – Acidentes de trabalho: um

estudo sobre esta ocorrência em um hospital geral – Arquivo Ciências Saúde, (Outubro

– Dezembro, 2004), pp.219-224.

S

Silva, J. A.; Almeida A. J.; Paula, V. S.; Villar, L. M. (2009) – Investigação de

acidentes biológicos entre profissionais de saúde – Escola Anna Nery Revista de

Enfermagem – pp. 508-516.

Silva, L. M. R. M. M da (2008) – Riscos Ocupacionais e qualidade de vida no trabalho

em profissionais de enfermagem – Universidade Aberta – Mestrado em Comunicação

em Saúde, Agosto, pp.168.

Silva L.; Aparício, P. (2005) – Ergonomia Hospitalar – Metodologias da Intervenção

Ergonómica III – pp. 8-9.

Bibliografia

105

Silva, D. M. P. P., Marziale M. H. P. (2002) – O adoecimento da equipa de enfermagem

e o absentismo doença – Ciências Cuidados de Saúde – pp. 35-39.

Silva, T. F.; Corrêa, M. P. (2007) – Avaliação do conforto térmico em um ambiente

hospitalar – Universidade Federal de Itajubá – pp. 6

Sindicato dos quadros técnicos do estado (2005) – Segurança, higiene e saúde no

trabalho na administração pública. Acedido em 14 de Julho de 2009, em

http://www.ste.pt/destaques/shstap/indexshstap.html.

T

Toscano R. (2008) – Exposição ocupacional do cirurgião dentista à vibração mecânica

transmitida através das mãos – um estudo de casos – Universidade de São Paulo,

Dezembro.

Tukey, J., (1977) – Exploraty Data Analysis, Addison-Wesley, Reading, Massachusetts.

V

Vieira, F. R.; Mota M.; Valente J.; Eiras, E.; Moreira J.; Aguiar A., I. (2003) –

Acidentes com produtos biológicos no Centro Hospitalar Gaia. Unidade de Doenças

Infecciosas – Hospital de Dia – Centro Hospitalar de Gaia, pp.6.

Bibliografia

106

X

Xelegati, R.; Robazzi, M. L. C. C. (2003) - Riscos químicos a que estão submetidos os

trabalhadores de enfermagem: uma revisão de literatura. - Rev. Latino- Americana

Enfermagem, (Maio - Junho), pp.11-50.

107

Anexo

A

108

Modelo de participação clínica de acidente de trabalho

Anexo

I

Modelo de participação clínica dos acidentes em serviço

109

110

Anexo

B

111

Modelo de participação dos acidentes de trabalho

112

Anexo

C

113

Questionário de investigação de HST dos acidentes de trabalho