Adoção de acordo ortográfico em Portugal continua indefinida

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Adoção de acordo ortográfico em Portugal continua indefinida Enquanto o Brasil avança na adoção das novas regras da escrita, Portugal ainda não conseguiu definir um cronograma para a aplicação do acordo ortográfico no país. Existe apenas a promessa de que o período de transição comece ainda no primeiro semestre deste ano. Isso significa que os editores portugueses não sabem quando devem ter seus livros escritos de forma diferente da atual e não existe indicação de quando os estudantes vão começar a aprender a escrever de acordo com as novas regras. Segundo Rui Nunes, assessor de imprensa do Ministério da Educação, ainda não foi tomada nenhuma medida para o ensino das novas regras ortográficas. Ele afirma que deverá ser feita a formação dos professores para se adaptarem às mudanças, mas não há previsão de quando isso vai ocorrer. No Ministério da Cultura, as preocupações são de natureza política. O governo quer que Portugal publique as normas do acordo em diário oficial junto com São Tomé e Príncipe e Cabo Verde e que se forme a prometida comissão que vai elaborar o vocabulário ortográfico comum. ‘Brasil foi precipitado' A necessidade da existência de uma comissão responsável por elaborar um vocabulário ortográfico comum - que normatize as mudanças previstas no acordo - foi acertada entre os países de língua portuguesa, mas não foi levada adiante. O Brasil, que saiu na frente na adoção do acordo, decidiu produzir um vocabulário ortográfico próprio, que está sendo feito pelo gramático Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras. Veja as principais mudanças na ortografia Principais mudanças na ortografia Glória Tupinambás - Estado de Minas 1 - Alfabeto: entram k, w e y 2 - O trema desaparece: frequente, tranquilo, lingueta, linguiça 3 - Sai o circunflexo do ditongo ôo: voo, abençoo, perdoo

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Adoção de acordo ortográfico em Portugal continua indefinida

Enquanto o Brasil avança na adoção das novas regras da escrita, Portugal ainda não conseguiu definir um cronograma para a aplicação do acordo ortográfico no país. Existe apenas a promessa de que o período de transição comece ainda no primeiro semestre deste ano. Isso significa que os editores portugueses não sabem quando devem ter seus livros escritos de forma diferente da atual e não existe indicação de quando os estudantes vão começar a aprender a escrever de acordo com as novas regras.

Segundo Rui Nunes, assessor de imprensa do Ministério da Educação, ainda não foi tomada nenhuma medida para o ensino das novas regras ortográficas. Ele afirma que deverá ser feita a formação dos professores para se adaptarem às mudanças, mas não há previsão de quando isso vai ocorrer. No Ministério da Cultura, as preocupações são de natureza política. O governo quer que Portugal publique as normas do acordo em diário oficial junto com São Tomé e Príncipe e Cabo Verde e que se forme a prometida comissão que vai elaborar o vocabulário ortográfico comum.

‘Brasil foi precipitado'

A necessidade da existência de uma comissão responsável por elaborar um vocabulário ortográfico comum - que normatize as mudanças previstas no acordo - foi acertada entre os países de língua portuguesa, mas não foi levada adiante. O Brasil, que saiu na frente na adoção do acordo, decidiu produzir um vocabulário ortográfico próprio, que está sendo feito pelo gramático Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras.

Veja as principais mudanças na ortografia

Principais mudanças na ortografiaGlória Tupinambás - Estado de Minas 1 - Alfabeto: entram k, w e y

2 - O trema desaparece: frequente, tranquilo, lingueta, linguiça

3 - Sai o circunflexo do ditongo ôo: voo, abençoo, perdoo

4 - Circunflexo do hiato êem desaparece: veem, creem, deem, releem

5 - Agudo do u tônico dos verbos some: apaziguar (apazigue), averiguar (averigue), arguir (arguem)

6 - O i e u antecedidos de ditongo perdem o grampo: feiura, baiuca

7 - Ditongos abertos éi, ói viram ei, oi: ideia, joia (o acento permanece nas palavras oxítonas e monossílabos: papéis, herói, dói)

8 - Os acentos diferenciais somem: pelo, para, polo, pera (mantém-se o circunflexo de pôde e do verbo pôr)

Exigem hífen sempre: Os prefixos seguidos de h: anti-higiênico, super-homem, micro-história, extra-humano, co-herdeiro,

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proto-história, sobre-humano, ultra-heróico

Exceção: subumano Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice: Além-mar, aquém-muros, ex-presidente, pós-graduação, pré-primário, pró-reitor, recém-chegado, sem-terra, vice-presidente

Prefixos terminados em vogal seguidos por palavra começada pela mesma vogal: anti-inflamatório, auto-observação, contra-ataque, micro-ondas, semi-internato

Exceção: co- se junta ao segundo elemento mesmo quando ele começa com o:coordenar, coobrigação

Prefixos terminados por consoante seguidos de palavra começada pela mesma consoante: hiper-rico, inter-racial, sub-bloco, super-resistente, super-romântico

Sub usa mais um hífen - com a palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça

Os sufixos de origem tupi-guarani açu, guaçu, e mirim: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu

Rejeitam o hífen Prefixos terminados em vogal diferente da vogal que se inicia o segundo elemento: aeroespacial, agroindústria, antieducação, autoescola, coedição, coautor, infraestrutura, plurianual, semiopaco

Nos prefixos terminados em vogal que se juntam a palavras começadas por r ou s, duplicam-se o r e o s para manter a pronúncia: antirrábico, antirrugas, antissocial, biorritmo, contrassenso, infrassom, microssistema, minissaia, neossocialismo, semirrobusto, ultrarrigoroso, ultrassom

Para José Mário Costa, coordenador do Ciberdúvidas - um site na Internet que há 12 anos responde dúvidas de português - o Brasil foi precipitado ao adotar a norma sem esperar pelos portugueses e sem criar estruturas comuns para resolver os casos deixados em aberto.

"É natural que o Brasil esteja mais avançado nesta questão, porque tem mais dinamismo e interesse pela língua. Mas o acordo não especifica uma série de grafias. Falta um vocabulário comum da língua portuguesa, em cruzamento com o que se fala e se escreve hoje nos países africanos", diz Costa. Segundo ele, além dos termos não explicitados detalhadamente no acordo (como no caso dos hífens) uma área que pode gerar divergências e duplas grafias é a dos termos científicos e médicos.

"Acredito que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa deveria coordenar esse esforço, como é feito com o espanhol, com a participação de várias instituições através do Fundeón. Isso para não termos casos como o de paralímpico e para-olímpico". Para o linguista João Malaca Casteleiro - que negociou o acordo por parte de Portugal - já que o propósito é unificar a ortografia, o ideal seria que todos os países tivessem implementado as mudanças simultaneamente.

"Creio que do ponto de vista da política da língua, é uma pena que não entre em vigor nos vários países ao mesmo tempo. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa elegeu como central a política da língua. Como se pode promover a língua portuguesa sem resolver esse problema (da divergência ortográfica), que está pendente há um século?"

Impulsionador do movimento contra o acordo ortográfico, o deputado do Parlamento europeu Vasco Graça Moura acredita que o Brasil está aplicando primeiro o acordo porque para os brasileiros é mais fácil. "O acordo para o Brasil não implica grandes alterações e também não terá grandes problemas", argumenta.

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Livros e jornais

O presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, Rui Beja, tem uma posição de cautela em relação às mudanças. "Temos que aguardar para ver o que será feito. Na África, os grandes países de língua portuguesa (Angola e Moçambique) não ratificaram o acordo e eles seguem a norma do português europeu".

Os editores portugueses esperam que haja um apoio governamental para a adaptação dos livros para as novas regras ortográficas. Até agora, três jornais portugueses adotaram o acordo. O mais importante deles é o diário esportivo Record, o terceiro maior jornal do país com 75 mil exemplares vendidos diariamente. Segundo o diretor adjunto António Magalhães, não tem havido problemas.

"Estamos utilizando as novas normas desde o começo do ano e até agora não tivemos nenhuma queixa de leitores por aplicarmos o acordo. Estamos aplicando o acordo de forma gradual, procuramos evitar nas manchetes palavras que possam causar estranheza ao leitor como espetacular sem c ou ótimo sem p", conta Magalhães.

Ele considera que a falta dessas letras faz com que os títulos fiquem mais feios. "A falta do c em espetacular ou do p em exceção retira qualidade estética às palavras". No entanto, ele relata que mesmo o colunista Artur Agostinho, de 88 anos, adaptou-se à nova forma de escrever.

Acordo ortográfico ainda desperta polêmica no exterior

O acordo ortográfico entrou em vigor no Brasil no início do ano, sem muito alarde e sem muita discussão, antes de qualquer outro país lusófono. Mas a reforma ainda gera polêmica em outros países de língua portuguesa. Em Portugal, um manifesto digital "em defesa da língua portuguesa, contra o acordo ortográfico" já reuniu quase 100 mil assinaturas e foi discutido em uma audiência com o presidente Cavaco Silva.

Mas mesmo com um movimento contrário à adoção da reforma que uniformiza a escrita nos oito países de língua portuguesa, as mudanças na ortografia devem começar a ser implementadas ainda este ano em Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Moçambique, Guiné-Bissau, Angola e Timor-Leste ainda não ratificaram o texto.

A BBC Brasil decidiu investigar como o acordo ortográfico, que ganhou o pontapé inicial no Brasil, está sendo visto nos outros países envolvidos, além de discutir o impacto das mudanças e analisar que outros fatores influenciam a evolução da língua. Nos próximos dias, publicaremos um especial multimídia sobre o assunto, começando nesta quarta-feira com um vídeo sobre o segundo idioma oficial de Portugal: o mirandês. A língua pouco conhecida ganhou status e venceu importantes batalhas nos últimos anos, mas seu futuro ainda é incerto.

No domingo, dia 1º de março, às 13 horas, a rádio CBN vai apresentar um Panorama BBC especial sobre o acordo ortográfico, gravado na Biblioteca Nacional, em Lisboa, que conta com comentários enviados por leitores do nosso site e com a participação do linguista Malaca Casteleiro, que trabalhou na elaboração do acordo representando Portugal; da professora da Universidade de Lisboa Maria Alzira Seixo, uma das signatárias da petição contra a reforma; do escritor angolano José Eduardo Agualusa e da diretora da Associação Nacional de Editores de Livros do Brasil, Sonia Machado.

Na semana seguinte, será a vez dos jovens de países lusófonos discutirem as mudanças na escrita do português e como eles serão afetados.

O que muda com a reforma ortográfica do português

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Nova regra entra em vigor no começo de 2009, fechando as negociações iniciadas em 1990. Além do Brasil, sete países vão aderir às modificações na escritaGlória Tupinambás - Estado de Minas Marcos Michelin/ EM/ D.A Press

O estudante Johner Zorzo Dornelles acha que o acordo complicou tudo e só quer saber das alterações depois de fazer vestibular

Ano novo, língua nova. Já no primeiro dia de 2009, quem esquentar o restinho da ceia no micro-ondas vai ter que levar o hífen junto. Os que vão passar as férias na praia, com certeza vão pegar um voo sem acento. Com todo cuidado para não ter enjoo. E nas cidades do interior, toda a atenção é pouca: pão com linguiça mantém o sabor mineiro, e agora vem sem trema. A ideia de reformar o idioma português é boa, mas nem por isso o leitor deve ficar tranquilo. Na hora de escrever, é preciso observar as regras em vigor para encontrar uma boa saída, palavra essa que continua com a mesma grafia.

As mudanças da língua passam a valer a partir de 1º de janeiro, embora haja um período de adequação às normas até dezembro de 2012. Até lá, as duas formas vão conviver em harmonia e as modificações não poderão ser cobradas em vestibulares, concursos e provas escolares. A reforma ortográfica vai afetar cerca de 3 mil palavras, o que eqüivale a 0,5% dos verbetes reconhecidos oficialmente no idioma brasileiro. Entre as principais alterações estão o aumento do alfabeto de 23 para 26 letras, com a inclusão do k, w e y; a extinção do trema; e a criação de novas regras de acentuação (veja arte).

Veja as principais mudanças na ortografia

O ponto mais polêmico da reforma, o hífen, é o único que ainda não está completamente definido. Apenas em fevereiro, quando a Academia Brasileira de Letras (ABL) deve divulgar um documento oficial, é que as regras de uso do famigerado tracinho serão esclarecidas. Até a publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), vão permanecer as dúvidas e as controvérsias sobre quais expressões e verbetes devem ser separados por hífen e quais prefixos vão exigir sempre a presença do sinal gráfico.

ACORDO

As modificações fazem parte de um acordo ortográfico firmado em 1990 pelos integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)– Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Anos mais tarde, o Timor Leste também assinou a unificação da língua. Mas os prazos de implantação das novas regras nunca foram cumpridos e o governo brasileiro sempre adiou as mudanças por falta de adesão de Portugal. Essa situação mudou em março, quando Lisboa anunciou o desejo de fazer parte da reforma. Em setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou decreto com o cronograma de aplicação do acordo no país.

As novidades, fundamentadas em 20 bases de mudanças, interferem apenas na grafia das palavras. Portanto, atingem em cheio as letras, acentos e sinais gráficos, como o hífen e o trema, mas não alteram em nada a pronúncia, a conjugação, a semântica e a didática da língua. A expectativa é de que a reforma favoreça a união entre os países de língua portuguesa e facilite a publicação de documentos oficiais em

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fóruns internacionais.

“O português é a única língua que, nos encontros da Organização das Nações Unidas (ONU), produz duas versões: uma no idioma do Brasil, outra no de Portugal. Mas a reforma mantém critérios de flexibilidade, ou seja, os portugueses vão continuar escrevendo ‘sector’, ‘acto’, ‘António’, enquanto nós usamos ‘setor’, ‘ato’ e ‘Antônio”. Portanto, não conseguimos padronizar, uniformizar a grafia das línguas”, diz a especialista em língua portuguesa Dad Squarisi, jornalista e autora de uma série de livros, entre eles o Manual de Redação e Estilo dos Diários Associados.

Segundo Dad, que também assina a coluna Dicas de Português do Estado de Minas e é editora de Opinião do jornal Correio Braziliense, os países lusófonos perderam uma boa oportunidade de realmente unificar o idioma. “Seria preciso mais negociação, discussão e entendimento entre as nações. Soube que, antes de assinar qualquer documento, o presidente Lula pergunta em que isso beneficia os pobres. Digo que a reforma não beneficia a língua, por não ter atingido seu objetivo, e ainda prejudica o pobre. Pais de família que fizeram enorme sacrifício para comprar um dicionário ou uma gramática para os filhos agora vão ter que jogar tudo no lixo”, lamenta.

Mudança nas escolas vai demorar um anoGlória Tupinambás - Estado de Minas Marcos Michelin/ EM/ D.A Press

Raquel Elizabete informa que educadores da rede estadual vão receber o Guia do Alfabetizador, com as regras atualizadas

A reforma da língua portuguesa vai chegar com pelo menos um ano de atraso às salas de aula de todo o Brasil. Isso porque as novas regras ortográficas só aparecerão nos livros didáticos a partir de 2010. Segundo cronograma do Ministério da Educação (MEC), os alunos das séries iniciais (1ª a 5ª) do ensino fundamental vão receber o material escolar reformulado em janeiro de 2010. Os estudantes dos anos finais (6º ao 9º) serão contemplados com a mudança em 2011, e os de nível médio terão que aguardar até 2012.

De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC, o prazo de entrega do material didático foi calculado com base na necessidade de adaptação das editoras. “Os livros são comprados para durar três anos. Portanto, estamos seguindo o calendário normal de aquisição e distribuição para as instituições públicas de ensino. Apesar disso, acredito que a reforma deve chegar antes aos alunos, pois todos os meios de comunicação vão adotar as novas regras a partir de janeiro do ano que vem”, explica o diretor de Ações Educacionais do FNDE, Rafael Torino.

Já os novos dicionários, adaptados à reforma ortográfica, serão distribuídos ainda em 2009. Segundo Rafael, o MEC estima investir R$ 90 milhões na compra do material, que vai ser entregue a 1 milhão de salas de aula em todo o país, contemplando um universo de 37 milhões de alunos da rede pública. Em Minas, a nova coleção deve chegar às mãos de 3,8 milhões de estudantes dos ensinos fundamental e médio. A compra depende do lançamento de um edital pelo FNDE e o processo licitatório deve ser aberto

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depois da publicação, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), da versão final das mudanças ortográficas.

O governo federal planeja adquirir três kits diferentes de glossários. Um para crianças de 6 a 8 anos, em fase de alfabetização, com descrições simples dos significados e um número máximo de 3 mil verbetes. Outro para alunos de até 10 anos, com até 10 mil palavras. E um terceiro, para ser usado dessa idade em diante, contendo de 19 a 35 mil expressões.

CAPACITAÇÃO

Para receber os livros didáticos em 2010, com todas as mudanças na ponta da língua, os professores da rede estadual de Minas Gerais vão ser treinados a partir de fevereiro do ano que vem. Segundo a Secretaria de Estado de Educação, a capacitação faz parte da Rede de Formação dos profissionais de ensino. “Vamos trabalhar os conceitos básicos e, para os professores dos anos iniciais, foi elaborado o Guia do Alfabetizador. Na prática, a nova ortografia será adotada em 2010, quando chega o material didático, mas já começamos a preparação. Acredito que a adaptação será lenta, pois os alunos ainda vão ter que lidar com muitas obras literárias escritas de acordo com as regras antigas”, afirma a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Raquel Elizabete Souza Santos.

A Secretaria Municipal de Educação informou que a implantação do acordo ortográfico nas escolas de Belo Horizonte será discutida pela nova equipe de administração da capital, que toma em posse em janeiro.

Os problemas com o hífenGlória Tupinambás - Estado de Minas No Brasil, são 190,3 milhões de pessoas. Em Portugal, outros 10,5 milhões. E mais 20 milhões em países africanos e comunidades da Ásia. Ao todo, mais de 220 milhões falam o português e fazem do idioma o quinto mais falado do planeta, segundo o Ministério da Educação (MEC). Em outras palavras, quase 5% da população mundial está diante de uma encruzilhada: as mudanças na escrita, ainda uma grande interrogação na cabeça de estudantes, professores e até de especialistas no assunto.

A reforma ortográfica vai exigir esforço e dedicação dos interessados em aprender 20 novas regras e mais de uma dezena de exceções. A ampliação do alfabeto e a extinção do trema dão para tirar de letra. O fim do acento circunflexo nos hiatos êem e ôo também não é complicado, basta se acostumar à nova grafia de veem, creem, releem e voo, abençoo, perdoo. Já o fim dos acentos diferenciais de pelo, para, polo e pera, por exemplo, gera confusão. “A frase ‘Trânsito para BH’ agora tem sentido duplo. Não sabemos se um grande número de veículos congestiona a cidade ou se há fluxo de carros direcionados à capital”, alerta a especialista Dad Squarisi.

Mas o grande trava-línguas da reforma é mesmo o hífen. E não adianta tentar entender a lógica de uso do tracinho. Para escrever no padrão das novas regras do acordo ortográfico a única solução é decorar cada uma das normas. “O brasileiro já tem, de maneira geral, dificuldade no português. Agora, ele vai ter que entender as mudanças em algo que não conhece bem. Isso vai ser um caos. O lado positivo é que a reforma vai estimular, ou melhor, quase obrigar as pessoas a aprenderem mais sobre a língua. Mas o hífen, que sempre foi o grande complicador do idioma, não foi beneficiado em nada com a reforma”, critica o professor de português José Nani Júnior, com mais de 35 anos de experiência na área.

Segundo o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do MEC (Colip), Godofredo de Oliveira Neto, os pontos mais polêmicos só serão esclarecidos com a publicação do documento oficial da Academia Brasileira de Letras (ABL). “O acordo ortográfico é como uma lei. Depois de aprovada, ela precisa ser regulamentada e pode estar sujeita a emendas. A reforma tem alguns pontos sujeitos a dupla interpretação e a academia está reunida para bater o martelo sobre as dúvidas. Acredito que o acordo será importante par ajudar a reduzir o analfabetismo, pois os livros passarão a ter maior tiragem e preços mais acessíveis”,

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afirma Godofredo.

OPINIÃO DIVIDIDA Nas salas de aula, as mudanças dividem a opinião dos alunos. Johner Zorzo Dornelles, de 17 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, critica as novas regras de acentuação. “O nosso português quer ficar igual ao inglês, sem acentos? É tão bom quando a grafia das palavras nos ajuda a saber qual é a sílaba tônica. Isso facilita a pronúncia correta. A reforma complicou tudo e, por enquanto, estou evitando estudar as novidades. Vou prestar vestibular agora e as mudanças podem me confundir”, lamenta o candidato a uma vaga em medicina.

Já para a colega dele Patrícia Andrade de Menezes, também de 17, o acordo ortográfico pode ajudar as crianças em fase de alfabetização. “Para os que estão começando a aprender a língua, a mudança vai ser boa. Mas, para quem já está num estágio mais avançado de aprendizado, escrever é um ato automático e vai ser um custo aprender as novas regras. Acredito que será necessário um bom tempo para todo mundo se adaptar”, diz Patrícia. (GT)

Marcos Michelin/ EM/ D.A Press

O hífen, que sempre foi o grande complicador do idioma, não foi beneficiado em nada com a reforma

José Nani Júnior, professor de português